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Realidade do Sistema Carcerário Brasileiro

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Uma visão critica sobre o sistema carcerário brasileiro visto sob a 
ótica constitucional 
 
 Marciano Almeida Melo1 
Fernanda Mallmann Pacheco2 
 
Qualquer um dirá que eu vejo a advocacia sob o perfil da poesia. Pode ser. 
A poesia do seu ministério é qualquer coisa que um advogado sente em 
dois momentos da vida: quando veste pela primeira vez a toga ou quando, 
se mesmo não depôs, está a depô-la: ao amanhecer ou no entardecer. Ao 
amanhecer, defende a inocência, fazer valer o direito, fazer triunfar a justiça: 
esta é a poesia. Depois, pouco a pouco caem as ilusões, como as folhas da 
árvore, depois do fulgor do verão; mas, através do emaranhado dos ramos 
cada vez mais despidos, sorri o azul do céu. Agora não estou mais seguro 
nem de haver defendido a inocência, nem de haver feito valer o direito, nem 
de ter feito triunfar a justiça; contudo se o Senhor me fizer renascer, 
recomeçarei. Malgrado os insucessos, as amarguras, os desenganos, o 
balanço é ativo; se destes faço a análise me dou conta de que a ocasião 
capaz de suprir todas as minhas deficiências consiste justamente na 
humilhação de dever me encontrar, ao lado de tantos desgraçados, contra 
os quais se lança o vitupério e se açula o desprezo, sobre o último degrau 
da escada. (Francesco Carnelutti) 
 
Resumo: A finalidade deste trabalho é apresentar parte de uma realidade que atinge brutalmente os 
direitos fundamentais, especialmente, a dignidade do ser humano. Sabemos que um dos objetivos 
da pena é punir o condenado por sua conduta delitiva, e consequentemente, ressocializá-lo para que 
possa voltar à conviver na sociedade. No entanto, não é o que se observa em nossas prisões, onde 
o detento vive absoluta miserabilidade material e moral, ferindo todos os preceitos constitucionais 
estabelecidos na Constituição Federal de 1988. Procuramos em pesquisa bibliográfica conhecer a 
existência do descaso e desrespeito do Estado referente à aplicação da Lei de Execução Penal, 
principalmente o disposto no art. 3º, da Lei nº 7.210/84. Esta pesquisa objetiva, portanto, uma 
abordagem critica acerca da inobservância, pelo Estado, de condições mínimas para preservação da 
dignidade humana à pessoa encarcerada. 
 
Palavras-chave: Dignidade humana – Execução penal – Prisão – Estado – Direitos humanos - 
Direitos fundamentais. 
 
Abstract: The purpose of this study is parto f a reality that affects roughly fundamental rights, 
especially, the dignity of human beings. We know one goal of punishment is to punish convicted for 
his criminal conduct and, therefore, re-socialize him so you can return to live in society. However, it is 
not what is observed in our prisons, where the prisoner lives absolute moral and material misery, 
injuring all constitutional principles established in the Constitution of 1988. We search the literature to 
know the existence of neglect and disrespect of the rule regarding the application of criminal law 
enforcement particularly the provisions of Article 3 of Law No. 7.210/84. This research aims, 
therefore, a critical approach regarding the failure by the state of minimum conditions for presertion of 
human dignity to the person incarcerated. 
 
Keywords: Human dignity - Criminal Enforcement - Prison - State - Human Rights - Fundamental 
rights. 
 
 
 
1 Bacharelando em Direito VII semestre pela Faculdade Cenecista de Osório Facos – Osório/RS. 
2
 Professora orientadora. 
138 
 
1. Introdução 
 
O principio da dignidade humana é a origem dos direitos humanos3 consagrados em 
nossa Carta Magna. Desse modo, ele se reflete em todos os ramos do direito, mas 
pode-se dizer que de um modo especial está atrelado ao direito penal. 
 
Percebemos que o amplo rol dos direitos fundamentais consagrados na Constituição 
da República Federativa do Brasil de 1.988, tem sua base de construção regida no 
princípio da dignidade humana, expressamente previsto no art. 1º, inciso III, como 
um dos fundamentos da República brasileira e do Estado Democrático de Direito. 
Dignidade humana constitui a norma fundamental do Estado de Direito. Dentro desta 
lógica, seria então desnecessário buscar, ainda, dentre os direitos fundamentais, 
aqueles que devem ser considerados mínimos para uma existência digna da pessoa 
humana.4 
 
De acordo com Fábio Luís Mariani de Souza “a questão não é tão simples, isto 
porque, os direitos fundamentais que garantem o respeito à dignidade humana, são 
em sua maioria, direitos sociais prestacionais, portanto, implicam em uma atuação 
positiva por parte do estado para sua efetivação.” 
 
A finalidade deste trabalho é relatar uma realidade vivida pelos detentos nos 
presídios brasileiros, onde a promiscuidade e o caos são as principais notas desse 
instrumento, que em tese, deveria primeiramente punir, prevenir e finalmente 
recuperar o condenado, reeducando-o de tal maneira que ele possa retornar ao 
estado social e não tornar a infringir a lei, além de adquirir estrutura psicológica 
necessária e uma qualificação profissional que o torne capaz de produzir sua própria 
subsistência.5 
 
 Não discordamos em nenhum desses critérios pontuais: punição, prevenção e 
reintegração do preso à sociedade. Entretanto, não podemos aceitar as graves 
 
3
 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Holocausto. Tradução Marcus Penchel. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 1998. 
4
 SOUZA, Fábio Luis Mariani de. A Defensoria Pública e o Acesso à Justiça Penal. Porto Alegre/RS. Ed. Nuria 
Fabris. , 2011. 
5
 NUNES, Rizzatto. O principio constitucional da dignidade da pessoa humana. São Paulo. Saraiva. 2002. 
139 
 
falhas e desleixo que apresenta o sistema carcerário brasileiro, submetendo os 
detentos que cumprem pena em estabelecimentos prisionais, a situações que, sem 
dúvida, agridem sua dignidade. 
 
Os presídios de um modo geral enfrentam problemas de insalubridade e a 
higienização nesses estabelecimentos, simplesmente não existe, facilitando assim a 
proliferação de moléstias, principalmente as sexualmente transmissíveis. 
 
Em novembro de 2007 veio à tona um caso chocante que escandalizou o país e 
tocou de forma profunda no problema abordado: na cidade de Abaetuba, estado do 
Pará, uma adolescente de 15 anos foi detida após uma tentativa de furto. A polícia a 
encarcerou por 20 dias em uma cela com mais 20 homens, onde a mesma sofreu 
abusos sexuais e psicológicos de toda ordem. Além de ser menor de idade, o que 
lhe dá direito a tratamento diferenciado de acordo com o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, é inadmissível que homens e mulheres partilhem a mesma cela. Como 
irá viver essa jovem após esse fato? Certamente, essas recordações a 
acompanharão pelo resto de sua vida, dificultando ou até não permitindo que essa 
adolescente volte a ter uma vida social que obedeça às condutas admitidas pela 
sociedade. 
 
Não é comum fato semelhante, no entanto, as superlotações nas penitenciárias 
brasileiras, na maioria das vezes, amontoam os presos nas celas como se eles 
fossem um lixo humano, desrespeitando qualquer sentimento de humanidade. 
 
Nos moldes em que se encontra o sistema penitenciário brasileiro, entende-se que, 
a recuperação de detentos é difícil, porém possível, desde que tratada com muito 
trabalho e com a essencial responsabilidade que exige essa tarefa. O que se 
observa, atualmente, é o total abandono material e psicológico oferecido pelo Estado 
à população carcerária. Para que o detento possa reinserir-se no meio social, 
cumprindo assim uma das finalidades ditadas pela penalização privativa da 
liberdade, é necessário dar ao condenado condições apropriadas, através de cursos, 
140 
 
palestras, trabalho digno, atendimento médico e psicológico, além de 
estabelecimentos condizentes com o ser humano.6Não podemos continuar ignorando esta mancha social, que se chama sistema 
prisional ou carcerário brasileiro. 
 
 Uma vez que continuamos sustentando a carceirização (para a maioria dos crimes 
mais comumente praticados), não há dúvida de que, a fim de cumprir, o fundamento 
constitucional da humanização da pena disposto no art. 5º, inciso III, da Constituição 
Federal de 1988, é necessário um esforço conjunto entre sociedade e Estado, com 
investimento compatível deste, na construção de mais penitenciárias, para que o 
sistema carcerário brasileiro, possa conceder ao condenado o cumprimento da pena 
com real dignidade, conforme estabelece os Direitos Humanos e dispõe o texto de 
nossa Carta Magna. 
 
2. As prisões no Brasil e o cumprimento da pena 
 
O primeiro problema que assola o sistema carcerário é a superlotação nos presídios 
brasileiros. Essa realidade não é devidamente considerada pelos governos. O 
Estado ignora uma situação que perdura há muitos anos, representada por um 
amontoamento de pessoas humanas, jogada nas prisões como se fossem lixo 
humano que, além da privação da liberdade, sofrem a tortura moral de uma 
condição de vida subumana,7 assim transcendendo todas as expectativas de uma 
futura reintegração social. 
 
O grande número de condenados em todo o país, e a precariedade observada nas 
condições gerais de nossas penitenciárias, tais como a falta de espaço físico para 
abrigar dignamente esses apenados, sem contar ainda com a inexistência de um 
programa de saúde para o preso, a insalubridade verificada nesses 
estabelecimentos, não deixa dúvidas da incapacidade do Estado na recuperação 
desses apenados. 
 
6
 SÁ, Alvino Augusto. Criminologia clínica e psicologia criminal. 2ª Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2010. 
7
 ALVES, Cleber Francisco. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: o enfoque social da 
Igreja. Rio de Janeiro. Renovar. 2001. 
141 
 
As regras do regime fechado são previstas não somente no Código Penal, mas 
também na Lei de Execução Penal. Deve o condenado, ao ingressar no 
estabelecimento penitenciário, ser submetido a exame criminológico de classificação 
para individualização da execução (arts. 5º e 6º, da Lei nº 7.210/84). Fica sujeito a 
trabalho durante o período diurno, preenchendo o tempo e cultivando positivas 
atividades laborativas, a permitir a reeducação e o (re)aprendizado de uma 
profissão, bem como está sujeito a isolamento no período noturno, evitando-se a 
permissividade e promiscuidade, típicas das celas abarrotadas de presos. Vedam-
se, com isso, inclusive, as associações indevidas e as conversações a respeito da 
prática de crimes.8 
 
O trabalho será exercido conforme as aptidões do sentenciado, em atividades 
comuns, admitindo-se excepcionalmente, o trabalho externo, desde que em serviços 
e obras públicas, sob vigilância. Em caráter eventual, pode-se admitir o trabalho em 
entidades privadas, com o consentimento expresso do preso (art. 36, § 3º, da Lei de 
Execução Penal). 
 
O local específico para o cumprimento da pena do condenado em regime fechado 
deve ser cela individual, contendo dormitório, aparelho sanitário e lavatório, com 
salubridade e área mínima de seis metros quadrados (arts. 87º e 88º, da LEP). No 
entanto, essas normas, no geral, não são cumpridas pelo Estado. 
 
Naturalmente, quando o Poder Executivo deixa de cumprir a lei, não assegurando ao 
preso a dignidade merecida como pessoa humana, deixando-o em situação 
deplorável, colocado em celas insalubres, superlotadas e sem condições mínimas 
de higiene, está arranhando preceito constitucional, que prevê o respeito à 
integridade física e moral do preso (art. 5º, XLIX, CF), além do que é nitidamente 
cruel essa forma de reprimenda (art. 5º,XLVII, alínea “e”, CF). 
 
De nada adianta o Estado proibir no papel, diversas espécies de penas 
consideradas desumanas (morte, prisão perpétua, trabalhos forçados, banimento, 
 
8
 NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da Pena. 3ª Ed. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais. 2009 
142 
 
cruéis), adotando na prática, penitenciárias completamente dissociadas de todas 
aquelas qualidades mencionadas na LEP. 
 
O sistema carcerário brasileiro atualmente apresenta falhas estruturais graves que 
submetem seus detentos a situações que, sem dúvida violam sua dignidade. Uma 
Comissão Parlamentar de Inquérito, realizada em 2008 sobre o sistema prisional 
brasileiro calculou que existiam no país cerca de 440 mil presos, sendo que havia 
nos estabelecimentos vagas para apenas 260 mil. Ou seja, um déficit de 180 mil 
vagas!9 Não é raro encontrar presídios onde 60 pessoas dividem uma cela 
apropriada para no máximo 15 indivíduos. 
 
Além disso, é comum que reclusos com diferentes graus de periculosidade 
permaneçam em um mesmo ambiente, isso significa dizer que o condenado por um 
crime de latrocínio ou estupro pode estar junto de uma pessoa punida por furtar um 
relógio ou uma bicicleta. 
 
A segurança ou falta desta também é uma problemática visível nos presídios. 
Movidos pela ociosidade e, pelo descaso das autoridades com relação à 
miserabilidade dos presídios, os presos revoltam-se promovendo motins e portando 
todo o tipo de arma, colocam em risco a vida dos agentes penitenciários que lá 
trabalham e também a de milhares de pessoa que vivem em torno e de modo 
indireto representam um risco para toda a sociedade. 
 
As superlotações dos presídios, penitenciárias e delegacias (estas não podem 
deixar ninguém preso, seja provisório ou definitivo, permitido somente durante a 
lavratura do Auto de Prisão em flagrante), não deixam margens de dúvidas, sobre a 
incompetência do Estado em buscar a ressocialização dos presos. 
 
A superlotação devido ao número elevado de presos é talvez o mais grave problema 
envolvendo o sistema penal. As prisões encontram-se abarrotadas, não fornecendo 
ao preso um mínimo de dignidade. Devido à superlotação muitos condenados 
dormem no chão de suas celas, às vezes no banheiro, próximo a buraco de esgoto. 
 
9
 DUTRA, Domingos. Relator da CPI dos Sistema Carcerário, em 19/06/2008, em entrevista ao site 
http//noticia.uol.com.br/cotidiano. 
143 
 
Nos estabelecimentos mais lotados, onde não existe nem lugar no chão, presos 
dormem amarrados as grades das celas ou pendurados em rede, demonstrando a 
total desconsideração do Estado aos Direitos Humanos. 
 
Vale lembrar, o Carandiru que já não existe tão somente pelos atos de violência lá 
praticados, foi preciso se chegar ao extremo desrespeito aos direitos humanos, 
chacina, fuzilamento e a vergonha de um país estampada pelo mundo afora. Direitos 
fundamentais são garantidos a todos brasileiros pela nossa Carta Magna, não se 
quer a impunidade de quem agiu ilicitamente, mas a lei não deve ser ignorada pelos 
poderes públicos e nem pela sociedade, pois a todos ela deve confortar com a 
mesma isonomia. 
 
3. A dignidade da pessoa humana diante do sistema prisional 
 
O artigo 5º XLIX, da Constituição Federal, prevê que “é assegurado aos presos o 
respeito à integridade física e moral”, mas o Estado não assegura ao preso a 
execução da lei, assim sendo deixa ferir a dignidade do condenado. Seja por 
descaso do governo, seja por descaso da sociedade que muitas vezes se sente 
justiçada, seja pela corrupção que reina dentro dos presídios, fato verdadeiro é que 
a LEP é descumprida em quase sua totalidade, não por falta de esforços do 
judiciário, mas por não ter a estrutura necessária para sua realização. 
 
Já no século XVIII, Beccaria criticava o sistema prisional e as leis desua época, 
considerando a prisão uma expressão do poder.10 
 
A razão está em que o sistema atual da jurisprudência criminal apresenta 
aos nossos espíritos a idéia da força e do poder, em vez da justiça: é que 
se atiram, na mesma masmorra, sem distinção alguma, o inocente suspeito 
e o criminoso convicto, é que a prisão, entre nós, é antes de tudo um 
suplicio e não um meio de deter um acusado. 
 
Apesar de seu caráter suplicante não se considerava a prisão provisória como 
efetivo cumprimento de pena, mas como mecanismo capaz de docilizar o corpo para 
posterior aplicação da punição, em geral pena de morte ou impingimento de intenso 
 
10
 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 2ª Ed. São Paulo/SP. Editora Revista dos Tribunais. 1997. 
144 
 
sofrimento, mas que era reconhecida e legitimada pelo poder, naquele período da 
história.11 
 
A partir dessa concepção, adotada no antigo regime, de aplicação de penas 
corporais, da barbárie, das penas cruéis, de banimento e pena de morte, é que 
filósofos, sociólogos e juristas passaram a apontar, com independência, as 
irregularidades e abusos do poder, em especial, o excesso de castigo como fonte 
punitiva. 
 
Hoje, os Direitos Humanos não permitem o castigo físico, para aquele que foi 
condenado à prisão, por ter cometido qualquer ato ilícito penalmente. 
 
No entanto, nossas penitenciárias são negligenciadas pelo poder público 
apresentando características de insalubridade, falta de higiene e miserabilidade, 
violando normas estabelecidas na Lei de Execução Penal (Lei nº 7210/84), e 
maculando a dignidade do condenado. 
 
Vejamos o que nos transmite Ingo Sarlet Wolfgang, sobre a dignidade humana: “No 
pensamento filosófico e político da antiguidade clássica, verifica-se que a dignidade 
(dignitas) da pessoa humana dizia, em regra, com a posição social ocupada pelo 
indivíduo e o seu grau de reconhecimento pelos demais membros da comunidade, 
daí poder falar-se em uma quantificação e modulação da dignidade, no sentido de 
se admitir a existência de pessoas com mais ou menos dignidade. Por outro lado, já 
no pensamento estóico, a dignidade era tida como a qualidade que, por ser inerente 
ao ser humano, o distinguia das demais criaturas, no sentido de que todos os seres 
humanos são dotados da mesma dignidade, noção esta que se encontra por sua vez 
intimamente ligada à noção de liberdade pessoal de cada indivíduo (o Homem como 
ser livre e responsável por seus atos e seu destino), bem como a idéia de que todos 
os seres humanos, no que diz com sua natureza, são iguais em dignidade. Com 
efeito, de acordo com o jurisconsulto, político e filósofo romano Marco Túlio Cícero, 
é a natureza quem prescreve que o homem deve levar em conta os interesses de 
seus semelhantes, pelo simples fato de também serem homens, razão pela quais 
 
11
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 25ª Ed. Petrópolis. 
Editora Vozes. 1987. 
145 
 
todos estão sujeitos às mesmas leis naturais, de acordo com as quais é proibido que 
uns prejudiquem aos outros, passagem na qual (como, de resto, encontrada em 
outros autores da época) se percebe a vinculação da noção de dignidade com a 
pretensão de respeito e consideração a que faz jus cada ser humano.”12 
 
Adotou a Constituição Federal o principio da humanidade das penas, significando 
que deve o Estado, através da utilização das regras do Direito Penal, pautar-se pela 
benevolência na aplicação da sanção penal, buscando o bem-estar de todos na 
comunidade, inclusive dos condenados, que não merecem ser excluídos somente 
porque delinqüiram, observando-se constituir uma das finalidades da pena sua 
ressocialização.13 
 
Enquanto forem indispensáveis as penas privativas de liberdade, realidade 
inconteste atualmente deve-se buscar ao menos, garantir condições dignas de 
sobrevivência no cárcere, proporcionando ao detento, manter seu status de pessoa 
humana, o que não ocorrerá se o principio da humanidade ficar apenas na letra fria 
do papel das leis e da própria Constituição. O Estado brasileiro investe-se do perfil 
de protetor dos direitos humanos, ao menos porque apregoa no texto constitucional 
(art. 5º, XLVII) a vedação de penas consideradas cruéis em sentido lato. Entretanto, 
o investimento necessário para garantir o cárcere humanizado caminha sempre a 
passos lentos, enquanto parte da doutrina penal, olvidando a própria realidade, 
verbera a pena privativa de liberdade, acoimando-a de falida e ultrapassada.14 
 
A modernidade contribuiu, decisivamente, para a afirmação dos direitos humanos, e 
eles foram compreendidos como os direitos fundamentais da pessoa humana, 
irrenunciáveis a sua existência e ao seu desenvolvimento. Esses direitos 
correspondem às necessidades essenciais da pessoa humana e são exigidos a 
todos para uma vida digna. A amplitude da expressão direitos humanos não permite 
 
12
 SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 
1988. 9ª Ed. Porto Alegre. Livraria do Advogado. 2011. 
13
 NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da pena. 3ª Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2009. 
14
 NUCCI, Guilherme de Souza. Individualização da Pena. 3ª Ed. São Paulo/SP. Editora Revista dos 
Tribunais. 2009. 
146 
 
sua restrição a grupos ou indivíduos, mas trata-se, afinal,15 “de algo que é inerente à 
própria condição humana, sem ligação com particularidades determinadas.”16 
 
Dignidade é um conceito construído dentro do paradigma da modernidade, em razão 
do período do holocausto, que levaram o ser humano a deparar-se com a ameaça 
de sua extinção; com a eliminação maciça de outros seres humanos; com a 
condição subumana17. 
 
Trata-se, “talvez do melhor legado da modernidade”, e é um valor supremo, 
“construído pela razão jurídica”18. 
 
De acordo com Eduardo Bitar a respeitabilidade é: “Dentro ou fora das ciências 
jurídicas, e mesmo dentro delas, desde o Direito Civil ao Direito Constitucional e à 
Teoria do Estado, parece falar a língua da proteção irrestrita à dignidade da pessoa 
humana, à defesa das liberdades fundamentais e às expressões da personalidade 
humana, preocupações estas demonstradas com o crescimento da publicização do 
direito privado, bem como com o crescimento da discussão e do debate da 
importância dos movimentos teóricos em torno dos direitos fundamentais individuais, 
sociais, coletivos e difusos19”. 
 
Na pós modernidade, a dignidade recupera o valor de direito fundamental e passa a 
ser objeto central do discurso jurídico, o que autoriza afirmar que a pessoa “é posta 
novamente em foco, e a temática da dignidade da pessoa humana, como telas do 
próprio ordenamento jurídico, ou mesmo como critério de qualquer idéia ou forma de 
justiça”20 
 
Diante dessa assertiva, pode-se, então dizer que só existe dignidade quando a 
“própria condição humana é entendida, compreendida e respeitada, em suas 
 
15
 SALIBA, Marcelo Gonçalves. Justiça Restaurativa e Paradigma Punitivo. Curitiba/PR. Editora Juruá. 2009 
16
 COMPARTATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos Direitos humanos. 2ª Ed. São Paulo/SP. Editora 
Saraiva. 2001. 
17
 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e holocausto. Tradução de Marcus Penchel. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 
1998. 
18
 NUNES, Rizzatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. São Paulo. Saraiva. 2002. 
19
 BITAR, Eduardo C.B. O direito na pós-modernidade. Rio de Janeiro. Forense Universitária. 2005. 
20
 BITAR, Eduardo C.B. O direito na pós-modernidade. Rio de Janeiro.Forense Universitária. 2005. 
147 
 
diversas dimensões, o que impõe, necessariamente, a expansão da consciência 
ética como Rizzatto Nunes aponta que a “dignidade nasce com a pessoa”, sendo 
“inerente à sua essência”, o que permite afirmar que não há pessoa humana sem 
dignidade.21 
 
A origem etimológica da palavra dignidade está no termo “dignitas”, que significa 
respeitabilidade, prestígio, consideração, estima, nobreza, excelência, enfim, 
indica a qualidade daquilo que é digno e merece respeito ou reverência.22 
 
Em razão disso, acreditamos que se faz necessário mudanças radicais urgentes no 
sistema carcerário brasileiro, pois as nossas penitenciárias não cumprem as normas 
estabelecidas na Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84), bem como os preceitos 
constitucional previsto no art. 5º, XLIX, da Constituição Federal. 
 
O Poder Público precisa tomar medidas urgentes na modernização da arquitetura 
penitenciária, a sua descentralização com a construção de novas cadeias pelos 
municípios, ampla assistência jurídica, melhoria de assistência médica, psicológica e 
social, ampliação dos projetos visando o trabalho do preso e a sua ocupação, 
separação entre presos primários e reincidentes, acompanhamento na sua 
reintegração à vida social, bem como oferecimento de garantias de seu retorno ao 
mercado de trabalho entre outras medidas. 
 
O delinquente é condenado e preso por imposição da sociedade, ao passo que 
recuperá-lo é um imperativo de ordem moral, do qual ninguém deve se escusar. A 
sociedade só se sentirá segura e protegida quando o preso for recuperado. A prisão 
existe, primeiramente, para punir aquele que praticou ato criminoso, mas não 
devemos esquecer que, ela também, serve para ressocializar o preso e trazê-lo de 
volta ao convívio social. Não se pede que o condenado deixe de cumprir a pena a 
ele imposta, porém deve ter preservada sua dignidade como pessoa humana. 
 
4. A humanização da pena 
 
21
 NUNES, Rizzatto. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. São Paulo. Saraiva. 2002. 
22
 ALVES, Cleber Francisco. O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: o enfoque social da 
Igreja. Rio de Janeiro. Renovar. 2001. 
148 
 
No século XVII Cesare Beccaria insurgia-se contra a desumanização adotada no 
cumprimento das penas: “.. quando as prisões já não forem a horrível mansão do 
desespero e da fome, quando a piedade e a humanidade penetrarem nas 
masmorras, quando enfim os executores impiedosos dos rigores da justiça abrirem 
os corações à compaixão, as leis poderão contentar-se com indícios mais fracos 
para ordenar a prisão”23 
 
O respeito à dignidade humana está escrito na Constituição Federal da República 
Federativa do Brasil, é acordado pelo Tratado de São José da Costa Rica no que se 
refere aos direitos humanos, e a complexidade do confinamento não justifica as más 
condições físicas e estruturais em que se encontram os estabelecimentos prisionais 
do país. 
 
O poder público deve viabilizar projetos, verbas e ações sociais dentro do 
orçamento, deixando de sobrecarregar a sociedade com estas ações de injustiça. 
Quem é condenado pela lei, cumpra a penalização imposta sob condições 
humanamente dignas. 
 
Vamos respeitar o ser humano acima de tudo, ainda que injusto com seu 
semelhante, por mais bárbaro que tenha sido o crime praticado, cabe-lhe o direito de 
cumprir sua punição, dentro dos princípios da dignidade e dos direitos humanos. 
 
Os princípios constitucionais possuem “eficácia plena e servem de critério para a 
interpretação constitucional, mesmo tendo o caráter de normas programáticas, de 
declarações, de exortações, terão eficácia, pois servirão de critério de interpretação 
e darão coerência ao sistema”24, conforme Brega Filho. Ao insculpir na Carta Magna 
o princípio da dignidade da pessoa humana, a eficácia tornou-se incontestável e 
inafastável. 
 
No entanto, no Brasil o que se observa é o estado apavorante das prisões do país, 
que se parecem mais com campos de concentração para pobres, ou com empresas 
 
23
 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 2º Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais.1997. 
24
 BREGA FILHO,Vladimir. Direitos fundamentais na Constituição de 1988. Conteúdo jurídico das expressões. 
São Paulo. Juarez de Oliveira. 2002. 
149 
 
públicas de depósitos industrial dos dejetos sociais, do que com instituições 
judiciárias servindo para alguma função penalógica – dissuasão, neutralização ou 
reinserção.25 O sistema penitenciário brasileiro acumula, com efeito, as taras das 
piores jaulas do Terceiro Mundo, mas levadas a uma escala digna do Primeiro 
Mundo, por sua dimensão e pela indiferença estudada dos políticos e do governo: 
entupimento estarrecedor dos estabelecimentos, o que se traduz por condições de 
vida e de higiene abomináveis, caracterizadas pela falta de espaço, ar, luz e 
alimentação. Nos distritos policiais (onde como já foi observado não pode ninguém 
ficar preso, seja provisório ou definitivo, a não ser durante a lavratura do Auto de 
Prisão em Flagrante), os detentos, freqüentemente inocentes, são empilhados, em 
completa ilegalidade, até oito em celas concebidas para uma única pessoa. 
Negação de acesso aos cuidados elementares de saúde, cujo resultado é a 
aceleração dramática da difusão da tuberculose e do vírus HIV entre as classes 
populares. Violência pandêmica entre detentos, sob forma de maus-tratos, 
extorsões, sovas, estupros e assassinatos, em razão da superlotação acentuada, da 
ausência de separação entre as diversas categorias de criminosos, da inatividade 
forçada (embora a lei estipule que todos os apenados devam participar de 
programas de educação ou de formação) e das carências da supervisão.26 
 
Mas o pior, além de tudo isso, é a violência rotineira das autoridades, indo desde as 
brutalidades cotidianas a matanças em massa por ocasião das rebeliões que 
explodem periodicamente como reação às condições de detenção desumanas, cujo 
ponto máximo permanece o massacre do Carandiru (hoje não mais existe), em 
1992, quando a polícia militar matou 111 detentos em uma orgia selvagem estatal de 
outra era, e que se desdobra numa impunidade praticamente total. 
 
No Brasil, há desrespeito pelos direitos humanos e dignidade da pessoa, visualizado 
no descaso que o Estado apresenta, com relação ao tratamento dispensado àqueles 
condenados que cumprem pena nas superlotadas penitenciárias. 
 
O sistema penal é aquele que apresenta campo fértil para análise e constatação 
dessas violações, que têm início com a atuação policial e terminam no cumprimento 
 
25
 SÁ, Alvino Augusto. Criminologia clínica e psicologia criminal. 2ª Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2010. 
26
 WACQUANT, Loic. As prisões da miséria. Tradução André Telles. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 2001 
150 
 
da pena perante os estabelecimentos prisionais. A atuação policial, em especial nos 
episódios de ataques da criminalidade denominada “organizada” no Estado de São 
Paulo, apresentou-se desmedida e desconhecida e descontrolada, com apoio de 
agentes políticos e em sintonia com a visão elitista e segregadora de parte da 
grande imprensa brasileira, em total desrespeito aos direitos humanos e princípios 
mínimos que a dignidade da pessoa humana dita. Essa criminalidade organizada 
cresce e se desenvolve nas regiões metropolitanas onde os olhares não chegam e 
não querem chegar; cresce onde a única resposta social levada a domicilio é a arma 
da repressão e da violência. O grito dos excluídos fez acordar por breves momentos 
a sociedade e discutir e tentar compreender a razão daquela revolta, todaviaa falsa 
ideologia do sistema penal de controle repressivo para a paz fez adormecer 
novamente todos aqueles que despertaram, até que tudo recomece.27 
 
A utilização do Direito Penal como a arte de fazer sofrer e a punição da alma do 
condenado, como assentado por Michel Foucault,28 bem como a mantença de um 
sistema penitenciário construído numa visão kafkiana, são exemplos de desrespeito 
à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito. Excluídos da sociedade 
moderna e pós-moderna, os reclusos suportam atrocidades inimagináveis num 
mundo que discute Direitos fundamentais de quarta geração e vê a dignidade como 
uma conquista da razão ético-jurídica, fruto da reação à história de atrocidades.29 
 
A execução das penas impostas pelo Poder Judiciário, especialmente no âmbito 
prisional, é violadora dos citados princípios, pois desrespeitam valores básicos como 
a liberdade e a igualdade física e a moral. 
 
Há necessidade de tratar a humanização da pena com seriedade, pois essa 
característica determina o próprio grau de humanidade em que vive nossa 
sociedade. 
 
 
27
 SALIBA, Marcelo Gonçalves. Justiça Restaurativa e Paradigma Punitivo. Curitiba. Juruá. 2009. 
28
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 25ª Ed. Petrópolis. 
Editora Vozes. 1987. 
29
 NUNES, Rizzatto. O principio constitucional da dignidade da pessoa humana. São Paulo. Saraiva. 2002. 
151 
 
Acreditamos que se torna mais adequado e acertado, ao menos, aplicar o que há 
muito se prega para a civilização das condições carcerárias, seguindo-se aquilo que 
não é inédito em Direito Penal, como se constata na lição de Michel Foucault e suas 
sete máximas das boas condições de um presídio: a) principio da correlação: a 
finalidade primordial da condenação é a transformação do comportamento do 
indivíduo; b) princípio da classificação: detentos devem ficar isolados ou, pelo 
menos, divididos conforme a gravidade do delito que tenham cometido, mas também 
quanto à sua idade, suas particulares disposições, bem como quanto às técnicas de 
correção que cada um mereça: c) princípio da modulação das penas: necessita-
se assegurar que, durante a execução, haja adaptação do sistema punitivo, 
conforme os resultados obtidos – positivos ou negativos; d) princípio do trabalho 
como obrigação e como direito: ao preso deve ser sempre proporcionada 
oportunidade de trabalho, e é seu dever trabalhar para fundamentar seu processo de 
recuperação; e) princípio da educação penitenciária: a educação do detento é 
dever do Poder Público, no interesse direto da sociedade; f) princípio do controle 
técnico da detenção: o Estado deve garantir, nos presídios, a atuação de pessoal 
preparado, com capacidade moral e técnica para zelar pela boa formação do preso; 
g) princípio das instituições anexas: além do encarceramento, o Estado deve 
assegurar o acompanhamento de medidas de controle e assistência até que a 
readaptação definitiva possa ocorrer. E arremata o autor: “palavra por palavra, de 
um século a outro, as mesmas proposições fundamentais se repetem”.30 
 
A prisão vista hoje no Brasil, não pode deixar de fabricar delinquentes. Fabrica-se 
pelo tipo de existência que faz o detento levar: que fique isolado nas celas, ou que 
lhe seja imposto um trabalho inútil, para o qual não encontrará utilidade, é de 
qualquer maneira não pensar no homem em sociedade; é criar uma existência 
contra a natureza inútil e perigosa; queremos que a prisão eduque os detentos, mas 
um sistema de educação que se dirige ao homem pode ter razoavelmente como 
objetivo agir contra o desejo da natureza? A prisão fabrica também delinquentes 
impondo aos detentos limitações violenta; ela se destina a aplicar as leis, e a ensinar 
o respeito por elas; ora, todo o seu funcionamento se desenrola no sentido do abuso 
de poder. 
 
30
 FOUCAULT, Michel. Vigia e Punir:Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis. Editora 
Vozes. 1987. 
152 
 
Ainda Foucault: “O sentimento de injustiça que um prisioneiro experimenta é uma 
das causas que mais podem tornar indomável seu caráter. Quando se vê assim 
exposto a sofrimento que a lei não ordenou nem mesmo previu, ele entra num 
estado habitual de cólera contra tudo que o cerca; só vê carrascos em todos os 
agentes da autoridade; não pensa mais ter sido culpado: acusa a própria justiça.”31 
 
Alvino Augusto de Sá, sintetiza algumas propostas no sentido de humanizar o 
sofrimento do condenado, na execução penal e nas estratégias de reinserção social 
do preso: 
 
a) “Fortalecimento psíquico” da pessoa do apenado – Esta proposta resulta 
diretamente da idéia de Zaffaroni sobre a clínica da vulnerabilidade. Trata-se de 
pensar em estratégias que visem não propriamente trata de desvios psicológicos 
dos internos, mas de identificar neles seus pontos vulneráveis diante dos obstáculos 
que suas condições familiares, escolares e sociais lhe oferecem. O objetivo é levar o 
apenado a se conscientizar de seus conflitos, dos conflitos que surgem na dinâmica 
de sua inserção no meio social e sobre as reais consequências das respostas que 
ele dá aos mesmos. Deve-se também ter em vista o objetivo de fortalecer os efeitos 
de sua privação de liberdade. 
 
b) Abertura (gradativa) do cárcere – Já é conhecido o pensamento de que o 
cárcere será tanto melhor quanto menos cárcere for. A pena privativa de liberdade, 
sem dúvida é um grande mal. Ela e o cárcere têm como efeito inevitável atualizar e 
agravar os conflitos, já que constituem uma reedição ao vivo e em cores do 
exercício do domínio. Se o cárcere é um mal necessário, não é necessário que ele 
seja maximamente cárcere.. Qualquer “brecha” que se abra no cárcere será 
saudável para minimizar conflitos. O grande foco de resistência para a abertura 
dessas “brechas” encontra-se no tabu da segurança. Um tabu imposto em parte pela 
mídia e pela opinião pública, mas em grande parte também pela necessidade que os 
profissionais da segurança têm de valorizá-la, pois, estando sua função 
(indevidamente) restrita a ela, tal função se descaracterizará e perderá seu valor na 
 
31
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis. Editora 
Vozes. 1987. 
 
153 
 
medida em que se desguarnece a segurança e se “desvanecem” os mistérios da 
prisão. 
 
c) Reaproximação cárcere – sociedade – Esta idéia é defendida por Baratta 
(1990), Schneider (1993) e Bittencourt (1990). Faz parte da política de abertura do 
cárcere. Prevêem aqui iniciativas e medidas muito concretas. Na direção presídio-
comunidade: estímulo às saídas temporárias, aos serviços externos e outras 
atividades externas. Na direção comunidade-presídio; visitas, desenvolvimento de 
programas de debates entre grupos da comunidade e grupos de presos. Cabe fazer 
especial menção ao trabalho voluntário, enfaticamente defendido por Beristain 
(1994). 
 
d) Programa de “recompensa” (encontro “agressor”-vítima – sociedade) – 
Trata-se de uma modalidade específica de aproximação presídio-comunidade, na 
qual se tem como objetivo trabalhar com a reaproximação do agressor e o ofendido. 
Na medida em que o agressor compreende melhor sua conduta naquele conflito 
específico que teve com aquela vítima e compreende as conseqüências da mesma, 
saberá se analisar e se compreender melhor em suas reações perante outros 
conflitos e aprenderá a se rever. Do lado do ofendido, na medida em que 
compreender melhor a pessoa do agressor, sua história, seus motivos, terá 
condições de melhor superar o trauma sofrido na ofensa. Busca-se, portanto, um 
fortalecimento de ambas as partes perante o conflito.e) Estimular o pensamento, a reflexão, a simbolização – Esta proposta está na 
base de todas as outras. Trata-se da própria maturação psicológica inicialmente 
definida: caminhada que vai do ato ao pensamento. Beristain (1994) chama a 
atenção para a importância dos momentos de ócio, nos programas de recuperação 
de jovens delinqüentes. Momentos de ócio, que seriam dedicados ao pensamento, à 
reflexão. Ao mesmo tempo, ele chama a atenção para o risco de se cair num 
atavismo cego, que nada produz em termos de crescimento interior.32 
A assistência e os direitos do preso estão previstos nos arts. 10 a 24 e 40 a 43 da 
Lei de Execução Penal (7210/84), art. 38-39 do Código Penal e artº 5º, incisos XLVII, 
 
32
 SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia clínica e psicologia criminal. 2 ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2010. 
154 
 
“e”, XLVIII, XLIX e L, da Constituição Federal. Discorrer sobre assistência e direitos 
de pessoas presas nas masmorras brasileiras é algo com elaborar um texto de 
ficção. 
 
A humanização da pena imposta ao detento, primeiramente, passa pela resolução 
do problema da superlotação nas penitenciárias, fator que por si só, aliviará grande 
parcela do sofrimento que afeta a dignidade do condenado a pena privativa de 
liberdade. Existem, conforme abordado, diversas outras dificuldades que devem ser 
sanadas no sistema carcerário brasileiro. 
 
Registramos aqui um grito de alerta para que os governantes se compadeçam com 
essa situação calamitosa que circunda nosso sistema prisional, adotando uma 
política de investimento em novos estabelecimentos penitenciários, a fim de que os 
presos possam cumprir suas penas com dignidade e gozar dos direitos humanos 
que a lei determina. 
 
5. A reintegração social do apenado 
 
 A reintegração do presidiário à sociedade esbarra em vários obstáculos, os quais 
inviabilizam qualquer esforço institucional de recuperação do individuo infrator. 
Nesta luta é preciso contar não apenas com uma estrutura carcerária eficiente, 
capaz de proporcionar ao preso uma capacitação mínima de subsistência ao ser 
liberto, mas também o apoio da sociedade, possibilitando a volta do preso à vida 
produtiva, aceitando-o em todos os setores da sociedade, sem preconceito em 
relação à vida pregressa. 
 
É certo que a ressocialização tem a idéia de humanização, consistindo num modelo 
onde seja proporcionado ao preso condições e meios essenciais para sua 
reintegração efetiva à sociedade, evitando ao mesmo tempo, a reincidência. 
Conforme analisa Molina33, a meta ressocializadora prima pela neutralização dos 
efeitos nefastos adquiridos especialmente na execução da pena de prisão, de forma 
 
33
 MOLINA, Antonio Garcia – Pablos, GOMES,Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. 
2ª Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 1997. 
155 
 
a não estigmatizar o preso. Sugere, para tanto, uma intervenção positiva neste com 
o fim de habilitá-lo para se integrar e participar , digna e ativamente, da sociedade, 
sem traumas e limitações. 
 
Há outro problema surgido com a utilização da nomenclatura “ressocialização”, que 
é justamente o pensamento de que a atenção, agora se caminha para ressocializar 
o criminoso. No entanto, indaga-se como seria possível ressocializar alguém que 
sequer foi antes “socializado” de forma positiva, através de programas sociais que 
deveriam ser obrigação e preocupação primeira do Estado Democrático de Direito 
em concedê-los aos cidadãos, tais como educação, saúde, cultura, lazer e moradia? 
 
Dizer hoje que a pena de prisão e o cárcere, por si mesmos, não recuperam 
ninguém é dizer algo que já é um consenso geral. O discurso de que a prisão, no 
lugar de promover a recuperação, promove a degradação, não é exclusivo da 
Criminologia Critica.34 
 
Por outro lado, diz-e que o sentimento de reabilitação está fadado ao fracasso caso 
se constate efetivamente que a pena de prisão estigmatiza o recluso, além de todos 
os problemas crônicos que a mesma apresenta. Nessa linha, é perceptível que nos 
presídios brasileiros não há possibilidades reais de regenerar ou ressocializar 
alguém, uma vez que a prisão se encontra em evidente falência. 
 
Dessa forma, na visão de Mirabete,35 não mais se sustenta o pensamento de que é 
possível castigar e, ao mesmo tempo, reeducar o delinqüente através do cárcere. 
 
Todavia, apesar de muitas posições contrárias, reitera-se que a tendência moderna 
é de que a execução da pena esteja vinculada à idéia de humanização, juntamente 
com a orientação de prevenir o criminoso para a não reincidência, de modo que haja 
condições propícias ao seu retorno harmônico à sociedade. De fato, sob esse 
enfoque humanista, compreende-se que a justiça criminal deve se preocupar mais 
 
34
 SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia clínica e psicológica criminal. 2ª Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 
2010. 
35
 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal: Comnetários à lei nº 7210 de 17/07/1984. 8ª Ed. Revista dos 
Tribunais. 1987. 
156 
 
com as conseqüências sociais da punição, não merecendo prosperar o ideal de ser 
exageradamente repressiva. 
 
Em razão de um saudável giro humanista, segundo Antonio García-Pablos de 
Molina, o paradigma ressocializador reclama uma intervenção positiva no 
condenado que facilite o seu digno retorno à comunidade, isto é, sua plena 
reintegração social.36 
 
Vejamos o modelo apresentado por Molina:37 
 
1. Seus fundamentos teóricos: O modelo ressocializador, em virtude da sua 
orientação humanista, altera o centro de gravidade do debate sobre as funções do 
sistema: do efeito preventivo-dissuasório, passa-se para seu impacto positivo e 
ressocializador na pessoa do condenado. O homem, pois, e não o sistema, passa a 
ocupar o centro da reflexão científica; o decisivo, acredita-se, não é castigar 
implacavelmente o culpado (castigar por castigar é, em última instância, um 
dogmatismo ou uma crueldade), senão orientar o cumprimento e a execução do 
castigo, de maneira tal que possa conferir-lhe alguma utilidade. 
 
O paradigma ressocializador propugna, portanto, pela neutralização, na medida do 
possível, dos efeitos nocivos inerentes ao castigo, por meio de uma melhora 
substancial do seu regime de cumprimento e de execução e, sobretudo, sugere uma 
intervenção positiva no condenado que, longe de estigmatizá-lo com uma marca 
indelével, o habilite para se integrar e participar da sociedade, de forma digna e 
ativa, sem traumas, limitações ou condicionamentos especiais. 
 
2. O debate criminológico sobre a ressocialização do condenado: É um debate 
científico empírico ; livre, portanto, de especulações, de atitudes puramente 
ideológicas ou de estéreis “divagações oratórias”. Versa sobre fatos concretos, 
 
36
 MOLINA, Antonio Garcia Pablos de. Criminologia: Introdução a seus fundamentos teóricos. Introdução às 
bases criminológicas da Lei nº 9.099/95 – Lei dos Juizados Especias Criminais. Tradução Luiz Flávio Gomes. 7ª 
Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2010. 
37
MOLINA, Antonio Garcia Pablos de. Criminologia: Introdução a seus fundamentos teóricos. Introdução às 
bases criminológicas da Lei nº 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Criminais. Tradução Luiz Flávio Gomes. 7ª 
Ed. Revista dos Tribunais. 2010. 
157 
 
sobre realidades constatáveis e acontece no âmbito ou esfera do “ser”, não no 
mundo normativo do “dever-ser”. Interessa sobremaneira à Criminologia verificar 
cientificamente se cabe uma intervenção positiva, benéfica, no infrator por meio da 
execução da pena. Se é possível desenhar, com critériosempíricos, uma 
intervenção penitenciária que favoreça a aquisição, pelo recluso, de padrões de 
conduta socialmente aceitas; que objetivos concretos teria que perseguir e como 
teria que orientar a Administração Penitenciária e a própria execução penal para 
alcançá-los; qual o modelo de tratamento e quais técnicas concretas de intervenção 
seriam mais adequadas; quais estão sendo utilizadas atualmente e quais os 
resultados. 
 
Numerosos estudos demonstram que fatores como a superlotação, o clima social 
carcerário ou a violência na prisão condicionam decisivamente dos internos. E que 
mudanças organizacionais substanciais em matéria de classificação dos reclusos, 
horários, aproveitamento de espaços físicos disponíveis, permeabilidade de 
movimentos no interior da prisão etc. evitam ou minimizam determinados hábitos 
penitenciários negativos. O mesmo pode ser afirmado em relação à arquitetura 
carcerária, assim com sua influência na conduta do interno: um novo desenho de 
celas, corredores, pátios e o abandono de controles físicos desnecessários 
poderiam produzir efeitos notáveis. Inclusive atividades de estrito estimulo 
sociocultural merecem uma avaliação muito significativa porque melhoram as 
relações interpessoais, diminuindo o clima de violência e de atrito; quebram o 
isolamento comunitário da prisão, criam fecundos espaços de encontro no seu seio 
e favorecem um positivo treinamento de habilidades sociais e ocupacionais. 
 
Tudo isso explica o crédito de que desfruta o regime de “prisão aberta”, pois, 
conforme alguns, seria o mais adequado para conseguir os objetivos 
ressocializadores. Essa opinião, naturalmente, deve ser assumida com as devidas 
reservas, pois o decisivo não é onde se realiza o programa de intervenção, senão o 
conteúdo dele; e a prisão aberta, por si só, não produz impacto ressocializador 
algum, se não vem acompanhada de programas reabilitadores, fortemente 
vinculados à comunidade, orientados à aquisição, manutenção e generalização pelo 
condenado de novos padrões de conduta socialmente positiva. 
158 
 
3. Sistemas de autogoverno e “contrato de bom comportamento”: Os sistemas 
de autogoverno pretendem dotar o interno de um repertório comportamental 
adequado para que possa, em seu momento, abandonar o mundo da 
marginalização e do delito. 
 
Os sistemas de autogoverno não costumam ser a base única do tratamento, senão 
uma das técnicas utilizadas na intervenção. Essa técnica opera sobre a base de 
uma progressiva responsabilização do recluso que, pouco a pouco, assume maior 
participação e controle do funcionamento da casa carcerária. 
 
O chamado “contrato” de bom comportamento consiste em um compromisso formal 
do interno com a instituição penitenciária, onde se faz constar o que esta a espera 
do recluso, assim como as conseqüências do cumprimento ou da frustração das 
expectativas contratuais. 
 
O “contrato” de bom comportamento torna possível uma participação mais intensa 
do interno em seu próprio tratamento. Esse sistema consolida, em todo caso, as 
relações entre recluso e instituição. 
 
4. Tratamento de orientação comportamental, ainda que não exclusivamente 
comportamentais, são, também, algumas técnicas utilizadas com psicopatas, que 
pondera certas variáveis intrapsiquicas, como: o chamado “modelado” (cuja 
premissa consiste em que a conduta socialmente positiva se aprende ou se estimula 
por meio da observação e da imitação) e o treinamento em habilidades sociais, 
técnica esta de natureza cognitiva comportamental. 
 
A terapia cognitiva parte, pois, da premissa de que o funcionamento cognitivo do 
sujeito é uma peça chave para sua eficaz ressocialização, por isso propõe 
incrementar o seu nível, que é objetivo de certos métodos que potencializam a 
análise autorracional, o autocontrole, o raciocínio meio-fim, o pensamento crítico. 
 
O ideal ressocializador ainda é muito ambíguo e impreciso. A polêmica doutrinária e 
normativa, que acompanhamos no estudo para concretização deste trabalho, 
159 
 
demonstra a existência de demasiadas dúvidas sobre a meta final, os objetivos 
intermediários, os procedimentos e os limites de programas criados para 
reintegração do preso à sociedade. 
 
A polêmica sobre a ressocialização do apenado deve discorrer pelos caminhos do 
empirismo, do “ser”, abandonando o tradicional enfoque normativista do “dever ser”, 
que tanto minguou e contaminou a controvérsia.38 
 
Por outro lado, não cabe dissociar o ideal ressocializador do marco histórico 
concreto da realidade carcerária, da forma como se cumpre e executa a pena 
privativa de liberdade e o modo em que a experimenta o infrator: das facetas 
domésticas e cotidianas da prisão que significam o dia a dia do apenado. 
Dificilmente pode se desenhar uma intervenção positiva neste sem uma significativa 
melhora substancial das condições de cumprimento da pena e do regime de 
execução do castigo. Deve também se alertar para o problema social vivido por esse 
preso, antes de delinqüir, e adentrar no sistema prisional. 39 
 
Para ilustrar essa situação, vejamos o que pensa Loic Wacquant: “o cenário atual 
apresenta uma assimilação entre prisão e gueto. E isso ilustra à perfeição o caráter 
excludente e seletivo do sistema penal no interior do Estado neoliberal. O gueto se 
pareceria cada vez mais com o cárcere, pois, está separado fisicamente da cidade 
e suas fronteiras ou “muros” possuem níveis elevados de presença policial e níveis 
extremos de vigilância. Por outro lado, a clientela seria, em linhas gerais, a 
população que reside nesses bairros marginais.”40 
 
A Lei de Execução Penal brasileira prevê, em seu art. 80, a criação em cada 
comarca, do Conselho de Comunidade, composto, no mínimo, por um representante 
da associação comercial ou industrial, um advogado e um assistente social, estes 
escolhidos pelos respectivos órgãos de classe. O art. 81 define as atribuições do 
 
38
 MOLINA, Antonio García-Pablos de. Criminologia: Introdução a seus fundamentos teóricos. Introdução às 
bases criminológicas da Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Criminais. Tradução de Luiz Flávio Gomes. 7ª 
Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2010. 
39
 MOLINA, Antonio Garcia Pablos de. Criminologia: Introdução a seus fundamentos teóricos. Introdução às 
bases criminológicas da Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Criminais. Tradução de Luiz Flávio Gomes. 7ª 
Ed. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2010. 
40
 WACQUANT, Loic. As prisões da miséria. Tradução de André Telles. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 2001. 
160 
 
Conselho, que são: visitas periódicas aos presídios entrevistas com presos, 
apresentação de relatórios, colaboração na busca de recursos materiais e humanos 
para os presos. Pois bem, nada impede que a Comissão Técnica de Classificação 
(CTC), com o apoio do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e de 
órgãos representativos da sociedade, procure ampliar e dinamizar o Conselho de 
Comunidade. Assim a CTC, órgão oficial do presídio, teria no Conselho de 
Comunidade, órgão oficial da sociedade, o seu grande co-participe no programa 
de interações preso-sociedade, com vistas a reintegração social do preso.41 
 
A sociedade tem em geral uma visão deturpada do que seja o cárcere e, sobretudo, 
de quem sejam os presos. É necessário que se muitos preconceitos, inclusive como 
condição para se melhorar o prestigio e autoestima do pessoal penitenciário, o que 
seria um passo importante para se ter pessoal vocacionado trabalhando nas 
prisões.42 
 
A CTC e o Conselho da Comunidade, além de, evidentemente, outros segmentos, 
pessoas ou órgãos da sociedade, poderiam empenhar-se no sentido de desenvolver 
na sociedade em geral e em seussegmentos uma atitude favorável à aceitação dos 
presos na prestação de serviços úteis à comunidade. Tudo de forma muito bem 
planejada e assistida. O regime semiaberto facilita as coisas nesse sentido. É por 
demais importante proporcionar ao detento oportunidade e condição de se 
redescobrir, se autovalorizar e se reconhecer útil, e assim “ser” devidamente 
ressocializado.43 
 
E para finalizar, e não permanecer um discurso vazio e solitário, concluímos, com o 
art. 4ª da Lei de Execução Penal: “O Estado deverá recorrer à cooperação da 
comunidade na atividade de execução da pena e da medida de segurança.”44 
 
 
41
 SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia, clínica e psicologia criminal. 2ª Ed. São Paulo. Revista dos 
Tribunais. 2010. 
42
 SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia, clínica e psicologia criminal. 2ª Ed. São Paulo. Revista dos 
Tribunais. 2010. 
43
 SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia, clínica e psicologia criminal. 2ª Ed. São Paulo. Revista dos 
Tribunais. 2010. 
44
 SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia, clínica e psicologia criminal. 2ª Ed. São Paulo. Revista dos 
Tribunais. 2010. 
161 
 
6.- Considerações finais 
 
Diante de todas essas observações, na busca de uma solução da reintegração 
preso sociedade, nota-se a dependência do interesse e da criatividade das pessoas 
envolvidas nesse processo. 
 
Inegavelmente, a barreira existente para a ressocialização da pessoa que cumpre 
pena é de extrema dificuldade. Esse preso que deve ser ressocializado, na maioria 
das vezes, nem sequer foi socializado, tornando ainda mais difícil a realização desse 
objetivo. 
 
Sendo assim, antes de qualquer coisa precisa o Estado criar um processo de 
“socialização”, o qual fatalmente diminuiria sensivelmente o número de presidiários 
e, estabeleceria o disposto constitucional do principio da dignidade humana. 
 
Além do “statu quo ante”, deve-se buscar soluções ao problema do sistema 
penitenciário brasileiro, pois, não se pode olvidar dos direitos fundamentais dos 
presos expressos na Constituição Federal de 1988, na Lei de execução Penal e nos 
tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. 
 
A própria sociedade tem enorme descrença e intolerância quanto à reintegração 
social do preso, sendo que é necessária a participação efetiva da comunidade, para 
se pensar nesse retorno do preso ao seu meio, em condições socialmente aceitas. 
 
A sociedade tem que lançar um olhar mais humano sobre o preso, deixando de lado 
preconceitos, que consideram o apenado como se fosse um ser irrecuperável. O 
preso, certamente, pode ser reintegrado a sociedade, a não ser naqueles casos em 
que se tenha constatado cientificamente que a pessoa sofre de alguma patologia 
irreversível. Todavia, não se tratando desse caso, uma pessoa reclusa (que 
consideramos o “outro ou aquele”, bem poderia ser um de nós, movido por 
circunstâncias alheias a nossa vontade), penalizada por pior que seja o delito, 
merece e deve ser incentivada, por todos os meios e condições propícias, a ter outra 
oportunidade em conviver harmonicamente com seus semelhantes. 
162 
 
Por sua vez, ao contrário do que muitas pessoas sustentam, a reintegração social do 
condenado não é uma meta utópica e inviável. Embora seja difícil é possível de ser 
atingida, mas para tanto é necessário esforço comum entre Estado e sociedade, no 
processo de humanização das prisões e aos direitos e garantias de toda pessoa 
reclusa. Resta a afirmativa de que “todo e qualquer sacrifício que se fizer no 
caminho de conseguir a reinserção social, ainda que de um só ser humano, será 
válido.” 
 
Neste momento final, registramos palavras de Rui Barbosa, que servirão de 
esperança para aqueles que acreditam ainda na recuperação não apenas de 
infratores da lei penal, mas sim de toda a sociedade e do verdadeiro sentimento de 
justiça: “... Se a enormidade da infração caracteres tais que o sentimento geral recue 
horrorizado, ou se levante contra ele em violenta revolta, nem por isso essa voz 
deve emudecer. Voz do Direito no meio da paixão, tão susceptível de se demasiar, 
às vezes pela própria exaltação da sua nobreza, tem a missão sagrada, nesses 
casos, de não consentir que a indignação degenere em ferocidade e a expiação 
jurídica em extermínio cruel...” (Barbosa in Sodré, 1984) 
 
Com o espírito voltado à reflexão e esperançosos de que num tempo muito breve, 
haja uma conscientização para reintegração social do preso, assim como a inclusão 
social de todos aqueles brasileiros que ainda vivem em condições de miserabilidade 
total. 
 
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