Prévia do material em texto
Direito Ambiental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Tercius Zychan de Moraes Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin Sistema de Proteção ao Meio Ambiente: Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) 5 • Introdução • Objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA • Instrumentos Da Política Nacional do Meio Ambiente • SISNAMA – Sistema Nacional Do Meio Ambiente • CONAMA – Conselho Nacional Do Meio Ambiente • IBAMA – Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis • Proteção Administrativa do Meio Ambiente · Estudaremos a Política Nacional do Meio Ambiente, bem como o Sistema de Proteção criado por esta Política e, por fim, veremos os mecanismos dispostos para o Poder Público, destinados à proteção ambiental. Nesta Unidade, abordaremos temas relevantes para o Direito Ambiental, como a Política Nacional do Meio Ambiente e os órgãos que, no Poder Público, dão efetividade a ela. Para tanto, conheceremos o SISNAMA – Sistema Nacional de Meio Ambiente. Abordaremos, também, a denominada Proteção Administrativa de Proteção Ambiental. Bom estudo a todos! Sistema de Proteção ao Meio Ambiente: Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) 6 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente Contextualização Sistema de proteção ao meio ambiente Para a efetiva proteção do Meio Ambiente, o Brasil desenvolve uma Política Nacional de Meio Ambiente, a qual traça as diretrizes e princípios que a regem. Para dar efetivação a esta política, foi desenvolvido pela Lei nº 6.938/81 um sistema de proteção denominado Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. Aliadas a esta política, existem algumas medidas preventivas e repressivas de proteção ambiental. Assista ao vídeo disponível no Youtube, que reflete a preocupação com a Proteção Ambiental, como a realização em nosso país de um grande evento da Organização das Nações Unidas – ONU, conhecida como Rio-92: A Cúpula da Terra - Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) https://www.youtube.com/watch?v=hraPn_XFgg8 Bom estudo! 7 Introdução No ano de 1981, foi criada a Lei nº 6.938/81, inaugurando legalmente, em nosso país, uma Política Nacional do Meio Ambiente, ou seja, foi editado um verdadeiro marco legal de políticas públicas envolvendo o Meio Ambiente, a ser realizada por todos os entes federados. Até então, os Estados-membros e os municípios detinham autonomia para estabelecer estas políticas públicas relacionadas ao Meio Ambiente. A ideia principal é fazer surgir um verdadeiro sistema integrado e harmonizado de politicas públicas de proteção e preservação do Meio Ambiente. Podemos afirmar que a Lei nº 6.938/81 instituiu, na verdade, um Sistema Nacional do Meio Ambiente, podendo ser considerada a norma ambiental de maior destaque depois da Constituição Federal de 1988. Muito bem! Abordam a questão sobre a Política Nacional do Meio Ambiente Maria Cecília Junqueira Lustosa, Eugênio Miguel Canepa e Carlos Eduardo Frickmann Young1: O conjunto de metas e mecanismos que visam a reduzir os impactos negativos da ação antrópica – aqueles resultantes da ação humana – sobre o Meio Ambiente. Como toda política, possui justificativa para sua existência, fundamentação teórica, metas e instrumentos, e prevê penalidades para aqueles que não cumprem as normas estabelecidas. Interfere nas atividades dos agentes econômicos e, portanto, a maneira pela qual é estabelecida influencia as demais políticas públicas, inclusive as políticas industriais e de comércio exterior. 1 LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira; CANÉPA, Eugênio Miguel; YOUNG, Carlos Eduardo Frickmann. Política ambiental. In: MAY, Peter H., LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira; VINHA, Valéria da (orgs). Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003, p. 135. 8 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente Vale, dando continuidade ao tema, fazer menção ao artigo 2º da Lei 6938/81 que, ao tratar sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, foi instituída pela Lei 6938/81 que, tendo sido regulamentada, assim tratou: Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o Meio Ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; Ill - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do Meio Ambiente. Como se nota, a Política Nacional do Meio Ambiente enfatiza que o Meio Ambiente trata- se de um bem público, mais precisamente, de um bem de uso comum do povo, tal como atualmente trata o artigo 225 da Constituição Federal: Art. 225. Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações [...] 9 Objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA Para iniciar a exploração sobre estes objetivos vale a pena mencionar o que trata Luís Paulo Sirvinskas2 sobre o tema: [...] afirma que a Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo tornar efetivo o direito de todos ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, princípio matriz contido no caput do Art. 225 da Constituição Federal. E por Meio Ambiente ecologicamente equilibrado se entende a qualidade ambiental propícia à vida das presentes e das futuras gerações. Fica claro que é objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente viabilizar e compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico, fazendo com que haja a utilização racional dos recursos ambientais, de modo que a exploração do Meio Ambiente transcorra em condições propícias à vida e à qualidade de vida. Analisando desta forma, pode-se notar que a Política Nacional do Meio Ambiente tem dois objetivos um geral e outro específico. Quanto ao geral, podemos encontrá-lo logo nos primeiros dizeres do já mencionado Artigo 2º da Lei nº 6.938/81, ao dispor que a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando a assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. De tal modo, verifica-se que o objetivo geral da Política Nacional do Meio Ambiente se dá por ações em duas frentes, uma de preservação e outra na realização de ações de melhora e recuperação do Meio Ambiente. Quanto aos objetivos específicos, estes estão dispostos de modo amplo no artigo da mencionada Lei: Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do Meio Ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreasprioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; 2 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Política nacional do meio ambiente (Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981). As leis federais mais importantes de proteção ao meio ambiente comentadas. In: MORAES, Rodrigo Jorge, AZEVÊDO, Mariângela Garcia de Lacerda; DELMANTO, Fabio Machado de Almeida (coords). Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 91‐3. 10 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente V - à difusão de tecnologias de manejo do Meio Ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Tanto o objetivo geral, quanto os objetivos específicos da PNMA, levam-nos a concluir que ao tentar compatibilizar a defesa do Meio Ambiente com o desenvolvimento econômico e, ainda, com a justiça social, demonstram que a maior preocupação é com o desenvolvimento sustentável e, de forma geral, com a efetividade do princípio da dignidade da pessoa humana. Afinal, sem um Meio Ambiente equilibrado e sustentável, é impossível a preservação da dignidade da pessoa humana na forma prevista pela nossa Constituição Federal. 11 Instrumentos Da Política Nacional do Meio Ambiente Damos o nome de instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente os meios utilizados pela Administração Pública com o objetivo de atingir os objetivos já mencionados desta Política. Podemos de fato e de direito dizer que estes instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente tem fundamento nos incisos do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal. São estes instrumentos, segundo a Lei nº 6.938/81: Art. 9º – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II – o zoneamento ambiental; III – a avaliação de impactos ambientais; IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; VII – o sistema nacional de informações sobre o Meio Ambiente; VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental; IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; XI – a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais. 12 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente SISNAMA – Sistema Nacional Do Meio Ambiente Com previsão também na Lei nº 6.938/81, o denominado Sistema Nacional do Meio Ambiente trata-se de um o conjunto de órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público, cuja responsabilidade é a proteção e melhoria da qualidade ambiental. Segundo o que trata o Professor Edis Milaré3: [...] o SISNAMA é de fato e de direito uma estrutura político administrativa governamental aberta à participação de instituições não governamentais por meio dos canais competentes, constituindo na verdade o grande arcabouço institucional da gestão ambiental no Brasil. José Afonso da Silva destaca que o SISNAMA é o conjunto articulado de órgãos, entidades, normas e práticas da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público sob a coordenação do CONAMA. A Lei, já mencionada em nossos estudos, que estabeleceu à Política Nacional do Meio Ambiente, estruturou o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, em seu artigo 3º, na seguinte formatação: Art. 3º. O Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, tem a seguinte estrutura: I – Órgão Superior: o Conselho de Governo; II – Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); III – Órgão Central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR); IV – Órgão Executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); V – Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades da Administração Pública Federal direta e indireta, as fundações instituídas pelo Poder Público cujas atividades estejam associadas às de proteção da qualidade ambiental ou àquelas de disciplinamento do uso de recursos ambientais, bem assim os órgãos e entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; e VI – Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades referidas no inciso anterior, nas suas respectivas jurisdições. Cabe uma importante ressalva: estão fora do SISNAMA as pessoas jurídicas que não integram a Administração Pública, como, por exemplo, as associações e fundações particulares. Bem, merecem destaque entre os órgãos que integram o SISNAMA, o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente e o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 3 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 393‐395. 13 CONAMA – Conselho Nacional Do Meio Ambiente Trata-se de um órgão criado pela Lei n º 6.938/81, que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, o CONAMA é órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA. Ou seja, o CONAMA tem por obrigação assessorar, estudar e propor ao Governo medidas que devem tomar às políticas públicas destinadas a exploração e preservação do Meio Ambiente e dos recursos naturais. Aliadas a esta competência, cabe ao CONAMA editar normas e padrões compatíveis com o Meio Ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. Podemos descrever como as principais competências desenvolvidas pelo CONAMA: • Estabelecer normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; • Determinar a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados; • Decidir em última instância administrativa sobre a aplicação de multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA; •Estabelecer normas nacionais de controle da poluição causada por veículos automotores, aeronaves e embarcações; • Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do Meio Ambiente, com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos; • Deliberar por intermédio de resoluções, proposições, recomendações e moções, que visem a cumprir os objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente. Muito embora existam controvérsias em relação ao exercício das competências do CONAMA, principalmente em relação à “força de lei” que possuem suas Resoluções, estas vêm sendo empregadas no sentido de regulamentar processos que possam afetar o Meio Ambiente, angariando legitimidade por parte dos poderes públicos e da própria sociedade. 14 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente IBAMA – Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis O denominado Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, conhecido como IBAMA, trata-se de um órgão da União, mais precisamente criado pela Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, com vínculo atualmente ao Ministério do Meio Ambiente – MMA. Entre os objetivos do IBAMA, destacam-se as suas ações de preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, bem como de promover medidas que garantam um uso sustentável do Meio Ambiente. O IBAMA que conhecemos hoje é o resultado da união de quatros entidades de proteção ambiental que exerciam suas atividades de modo individualizado: Secretaria do Meio Ambiente – SEMA, Superintendência da Borracha – SUDHEVEA, Superintendência da Pesca – SUDEPE e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF. Como já vimos, o IBAMA integra o SISNAMA, com atribuições na execução da Política Nacional do Meio Ambiente. Entre as medidas protetivas do Meio Ambiente, este órgão concede ou não licenciamento ambiental de empreendimentos, o controle da qualidade ambiental, a autorização de uso dos recursos naturais (água, flora, fauna, solo etc.). O IBAMA exerce o denominado “poder de polícia ambiental” implementando o Cadastro Técnico Federal, fiscalizando os processos que causem ou preventivamente possam causar dano ao Meio Ambiente, aplicando inclusive penalidades administrativas. Outras medidas merecem destaque: • A geração e disseminação de informações relativas ao Meio Ambiente; • Monitoramento ambiental; • Difundir informações que tenham por objetivo a prevenção e o controle de desmatamentos, queimadas e incêndios florestais; • Apoio às emergências ambientais; • Realizar programas de educação ambiental. 15 Proteção Administrativa do Meio Ambiente Como muito bem retrata a Constituição Federal, cabe ao Estado o dever de proteger o Meio Ambiente, como disposto no Artigo 225, já mencionado: Art. 225. Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do Meio Ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o Meio Ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.(g.f.) Diante disto, cabe ao Poder Público, por intermédio de seus agentes, promover medidas de fiscalização dando fiel cumprimento à Política Nacional do Meio Ambiente. As mencionadas medidas de prevenção e repressão de condutas lesivas ao Meio Ambiente se dão por meio de uma conduta denominada poder de polícia administrativa. Neste sentido, o Poder Público pode limitar o exercício dos direitos individuais, com o objetivo de garantir o bem estar da coletividade. 16 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente Tais condutas podem ser denominadas “poder de polícia ambiental”, definida desta forma por Paulo Affonso de Leme Machado4: [...] poder de polícia ambiental é a atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividade econômica ou de outras atividades dependentes de concessão, autorização/ permissão ou licença do Poder Público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza. Uma das características deste denominado Poder de Polícia Ambiental é ser exercido com o objetivo de adequar a conduta do infrator às medidas legais, sem, sobretudo descartar a possibilidade de punição do infrator. Diante desta afirmativa, a proteção administrativa do Meio Ambiente é subdivida em dois tipos: o preventivo e o repressivo. Não resta dúvida de que o grande foco deva ser a adoção cada vez maior de medidas preventivas de proteção ambiental, como muito bem trata Celso Antônio Pacheco Fiorillo5: Trata-se de um dos princípios mais importantes que norteiam o direito ambiental. De fato, a prevenção é preceito fundamental, uma vez que os danos ambientais, na maioria das vezes, são irreversíveis e irreparáveis. Para tanto, basta pensar: como recuperar uma espécie extinta? Como erradicar os efeitos de Chernobyl? OU, de que forma restituir uma floresta milenar que fora devastada e abrigava milhares de ecossistemas diferentes, cada um com o seu essencial papel na natureza? A Proteção Administrativa ao Meio Ambiente pode ser desmembrada, da seguinte maneira: • Limitações administrativas: são imposições de caráter geral, por meio das quais o Poder Público estabelece obrigações aos proprietários de bens, com o objetivo de adequar suas propriedades ao atendimento da função social e ao bem estar ambiental; • Desapropriação: ou seja, a transferência compulsória da propriedade que tenha importância social, e mediante prévia e justa indenização; • Estudos de impacto ambiental: denominados de EIA, são necessários quando da instalação de empreendimentos causadores de significativa degradação ambiental. Realizados por equipe especializada e multidisciplinar, quando será elaborado um relatório de impacto ao Meio Ambiente (RIMA); • Licença ambiental: trata-se de um ato praticado pela administração pública, no qual serão estabelecidas as condições a serem observadas pelo empreendedor para a instalação de suas atividades, que possam ter um potencial poluidor; 4 MACHADO, Paulo Affonso de Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 9 ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 309-310. 5 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2 ed. São Paulo:Saraiva, 2001. p.40. 17 • Tombamento: é a intervenção na propriedade pelo Poder Público, com o objetivo de proteção do patrimônio histórico, natural, arqueológico, cultural, científico, paisagístico e, principalmente, ambiental; • Zoneamento ambiental: trata-se de instrumento utilizado para uma eficaz política urbana que visa ao controle do uso do solo, de maneira a evitar a sua inadequada utilização e, consequentemente, empreendimentos ou atividades que produzam poluição ou degradação em áreas ou espaços urbanos de relevância ambiental. Enfatizamos que a proteção ao Meio Ambiente deve se dar preferencialmente por intermédio de medidas preventivas, sem se afastar de aplicação de outras medidas coercitivas no campo da repressão. Estas ações são aplicadas por intermédio de punições das condutas lesivas ao Meio Ambiente, podendo ser aplicadas as seguintes sanções: • Multa: consiste na imposição de montantes pecuniários, de forma a recompensar o dano perpetrado pela infração; • Interdição temporária ou definitiva de atividade nociva ao Meio Ambiente; • Perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público; • Perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento oficiais de crédito; • Prestação de serviços à comunidade. Importante ressaltar que em várias situações, a aplicação das punições tem um papel muito mais repressor do que reparador ao dano ambiental provocado. A fim de aumentar ainda mais as medidas repressivas, um passo importante adotado pelo Estado foi à instituição, pela Lei 9.605/1998, de punições administrativas, penais e civis para as condutas lesivas ao Meio Ambiente. 18 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente Material Complementar Livros: ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004; BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2011. BELTRÃO, Antônio F. G. Curso de direito ambiental. São Paulo: Método, 2009. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2004. Sites: O licenciamento ambiental como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente. http://jus.com.br/artigos/23503/o-licenciamento-ambiental-como-instrumento-da-politica-nacional-do-meio-ambiente Acesso em: 3 ago. 2015; 19 Referências AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. p.11. São Paulo: Gen- Método, 2011. FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2001. FREITAS, Vladimir Passos de. Direito administrativo e Meio Ambiente. 3.ed. Curitiba: Juruá, 2003. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2.ed , São Paulo: Atlas, 2011. LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, CANÉPA, Eugênio Miguel; YOUNG, Carlos Eduardo Frickmann. Política ambiental. In: MAY, Peter H., LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira e VINHA, Valéria da (orgs). Economia do Meio Ambiente: teoria e prática. Rio de Janeiro, Elsevier, 2003. MACHADO, Paulo Affonso de Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 9.ed. São Paulo: Malheiros, 2001. MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. SILVA, J. A. Direito Ambiental Constitucional. 8.ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010. SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2011. SUNDFELD, Carlos Ari. Licitação e Contrato Administrativo. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 1995. 20 Unidade: Direito Ambiental: Sistema de Proteção ao Meio Ambiente Anotações