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O FENÔMENO PSICOLÓGICO E UMA NOVA CONCEPÇÃO DE HUMANO PARA A PSICOLOGIA ANA MERCÊS BAHIA BOCK SETEMBRO/2023 Quem sou eu? Ana Mercês Bahia Bock Autodescrição Minha formação profissional Meu trabalho atual Minhas incursões pela psicologia Minhas escolhas na psicologia – social e educação; psicologia sócio-histórica Algum coisa de minha vida pessoal Iniciar justificando a temática Por que discutir o fenômeno psicológico? Aceitação acrítica do conceito A NATURALIZAÇÃO DO FENÔMENO Papel conservador da psicologia Por que investir em uma nova concepção de humano para a psicologia? Nossa concepção de humano têm sido hegemonicamente acrítica: Absolutizada e naturalizada A nova concepção deve nos permitir leituras mais adequadas a nossa realidade NOSSO CAMINHO Fenômeno psicológico As aventuras do Barão de Munchhausen na psicologia – meu doutorado Visão liberal de fenômeno psicológico Visão sócio-histórica de fenômeno psicológico As consequências na psicologia da visão liberal As consequências na psicologia da visão sócio-histórica Nova concepção de humano A concepção de sujeito dominante/ hegemônica existente na psicologia A dicotomia presente no pensamento da modernidade A nova concepção de humano: as lições de Silvia Lane Fenômeno psicológico Estudamos e fazemos Psicologia. Será que já nos perguntamos sobre a concepção de fenômeno psicológico que temos? Meu doutoramento (1997) – As aventuras do Barão de Munchhausen na psicologia A pesquisa Os sujeitos Os resultados RESULTADOS A organização dos resultados em dois grupos de respostas que expressaram duas concepções que denominei de: VISÃO LIBERAL DO HUMANO VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO HUMANO A VISÃO LIBERAL: vou apresenta-la primeiro porque se mostrou, naqueles anos finais da década de 90, a visão majoritária, mais frequente....que me levou a toma-la como hegemônica A VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA: apresento em segundo lugar, tomando-a na sua relação crítica com a visão liberal. Concluo que esta visão deve ser incentivada porque critica e supera os limites da visão liberal O Barão de Munchhausen Os resultados da pesquisa: A VISÃO LIBERAL As definições encontradas com maior frequência e que utilizo para indicar os aspectos da visão liberal: acontecimento organísmico, manifestações do aparelho psíquico, individualidade, algo que ocorre na relação e é o que somos, conflitos pulsionais, confusão mental, manifestação do homem, pensar e sentir o mundo, o homem e a relação com o meio, consciência, saber-se individuo, o que se mostra, subjetividade, funções egóicas, existência intersubjetiva, experiências, vivências, loucura, distúrbio, o próprio homem, evento estruturante do homem, comportamento, engrenagem de emoções, motivação, habilidades e potencialidades, experiências emocionais, psique, pensamento, sensação, emoção e expressão, entendimento de si e do mundo, manifestação da vida mental, tudo que é percebido pelos sentidos, consciente e inconsciente. (Bock, 1999, p.173) O Barão de Munchhausen (cont) As respostas ainda carregavam alguns chavões para designar o fenômeno, sem qualquer desenvolvimento: O fenômeno é bio-psico-social Envolve ou implica a interação entre pessoas Se refere a um indivíduo que é agente e sujeito O Barão de Munchhausen (cont) Elementos recorrentes: É um fenômeno INTERIOR ao homem; Tem vários componentes É uma estrutura, uma organização interna Aspectos conscientes e inconscientes Há algo de biológico e de social A interação com o meio e com os outros é importante Recebe influência de fora É passível de ser conhecido A psicologia possui instrumentos para contribuir com seu conhecimento e reestruturação É um fenômeno que se desestrutura Possibilita o indiv iduo relacionar-se consigo mesmo Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Algumas considerações críticas: O fenômeno aparece descolado da realidade na qual o individuo se insere Aparece às vezes descolado do próprio indivíduo que o abriga Esta era a noção hegemônica na Psicologia: algo que se abriga em nosso corpo, do qual não temos muito controle; visto como algo que em determinados momentos de crise nos domina sem que tenhamos qualquer possibilidade de controlá-lo; algo que inclui segredos que nem mesmo nós sabemos; algo enclausurado em nós que é ou contém um “verdadeiro eu”. Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Sobre a relação do psicológico com o mundo social na visão conservadora O mundo social (externo) impede e dificulta o pleno e livre desenvolvimento de nosso mundo psicológico (interno) O mundo social é um mundo estranho ao nosso eu; um lugar que temos que estar e por isso só nos resta nos adaptarmos a ele As atividades que realizamos no mundo externo são adaptações: trabalhar, relacionar-se, aprender. amar, emocionar-se, perceber, motivar-se são potencialidades humanas que se desenvolvem / se atualizam neste mundo externo Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? UM FENÔMENO ABSTRATO, VISTO COMO CARACTERISTICA HUMANA, NATURAL DA ESPÉCIE. ALGO QUE JÁ ESTÁ EM NÓS QUANDO NASCEMOS, PRONTO PARA DESABROCHAR. O FENÔMENO PSICOLÓGICO É ABSOLUTIZADO E DESVINCULADO DA REALIDADE SOCIAL E CULTURAL ONDE NOS INSERIMOS. O DESENVOLVIMENTO DO FENÔMENO EM NÓS DEPENDERÁ DAS CONDIÇÕES DE ESTIMULAÇÃO E AFETO E DA VONTADE PRÓPRIA: PODEREMOS NOS PUXAR PELOS NOSSOS PRÓPRIOS CABELOS! A VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA FAZ A CRÍTICA A ESTA VISÃO LIBERAL DE HUMANO A VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA O fenômeno psicológico não pertence à natureza humana, pois esta condição que afirmamos como natureza humana é algo conquistado no decorrer do processo de humanização. Portanto, o fenômeno psicológico não é pré-existente à existência de cada humano. Nascemos candidatos à humanidade e aprendemos com os outros e com a cultura a sermos humanos. O fenômeno psicológico reflete a condição social, econômica e cultural em que vivem os humanos de seu tempo. NÃO PODEMOS FALAR DO FENÔMENO PSICOLÓGICO SEM O RELACIONARMOS COM O MUNDO ONDE ELE SE CONSTITUI E SE DESENVOLVE. A VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA O HUMANO deve ser tomado como HISTÓRICO. Ou seja, pensado como constituído no decorrer do tempo, nas atividades transformadoras sobre o mundo e nas relações sociais. SIM, estamos afirmando que a concepção Sócio-histórica pensa o fenômeno psicológico como um processo que se constituiu no tempo histórico a partir das formas criadas pelos humanos de satisfação de suas necessidades. O TRABALHO de transformação da natureza para satisfazer necessidades e as relações sociais estabelecidas neste processo são fundantes do humano e do mundo psicológico. É a inserção ativa do humano no mundo~, suas atividades e sua apropriação da cultura, em relações sociais que o FAZ HUMANO. AS CONSEQUÊNCIAS DAS DIFERENTES VISÕES Consequências da visão liberal: O descolamento da realidade social e a absolutização do “mundo interno”/ do fenômeno psicológico NATURALIZAÇÃO PATOLOGIZAÇÃO DESCONHECIMENTO DA REALIDADE SOCIAL OMISSÃO EM RELAÇÃO AOS PROBLEMAS SOCIAIS DE NOSSO TEMPO O fenômeno psicológico visto como dotado de força motriz própria A RESPONSABILIZAÇÃO DO SUJEITO O REFORÇO A IDEIA DA MERITOCRACIA A CULPABILIZAÇÃO PELO FRACASSO AS CONSEQUÊNCIAS DAS DIFERENTES VISÕES Consequências da visão sócio-histórica O vínculo do fenômeno psicológico com o mundo social, de constituição mutua A PSICOLOGIA SE ENVOLVE COM AS QUESTÕES SOCIAIS ENTENDE AS CONDIÇÕES DE VIDA COMO CONSTITUTIVAS DO FENÔMENO PSICOLÓGICO A visão histórica do fenômeno psicológico RESPONSABILIZA A TODOS PELA SAÚDE PSICOLÓGICA E/OU PELO SOFRIMENTO DAS PESSOAS DESNATURALIZA DESPATOLOGIZA – COMPREENDE A DIVERSIDADE HUMANA COMO RIQUEZA DO PROCESSO DE HUMANIZAÇÃO PARADAPARA PERGUNTAS E/OU DESCANSO Nova concepção de humano Silvia Lane em 1984 publicou o livro “Psicologia Social: o homem em movimento” Foi organizadora do livro junto com Wanderley Codo Neste livro há um “MANIFESTO” que marca a busca e construção de uma nova concepção de humano para a psicologia. É o capítulo 1 do livro: “A Psicologia Social e uma nova concepção do homem para a psicologia”. Neste capítulo Silvia Lane destaca a importância de considerarmos as “condições sociais que definem concretamente o individuo na sociedade em que ele vive” (p.12) Nova concepção de humano “Se a psicologia apenas descrever o que é observado ou enfocar o Indivíduo como causa e efeito de sua individualidade, ela terá uma ação conservadora, estatizante – ideológica- quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história pessoal mas da história de sua sociedade, a Psicologia estará apenas reproduzindo as condições necessárias para impedir a emergência das contradições e a transformação social” (Lane, 1984, p.15) TODA A PSICOLOGIA É SOCIAL. (p.19) VAMOS FALAR MAIS DISTO! A possibilidade histórica do surgimento do sujeito e da psicologia O HOMEM QUE SURGE COM O CAPITALISMO É UM INDIVIDUO LIVRE, SUJEITO DE SUA VIDA. O desenvolvimento das forças produtivas põem em relevo o individuo, como possuidor de livre arbítrio. Isto é possível já que o mercado possibilita comprar e vender em função de interesses e talentos A necessidade de produzir mercadorias impõe aos homens uma participação na sociedade na forma de indivíduos, produtores e consumidores. O LIBERALISMO (IDEOLOGIA DA BURGUESIA) EXPRESSA ESSA ÊNFASE NO INDIVÍDUO. TODOS OS HUMANOS SÃO IGUAIS E LIVRES A possibilidade histórica do surgimento do sujeito e da Psicologia A EXPERIÊNCIA do individuo como produtor e consumidor abre a possibilidade da experiência da individualidade. Da subjetividade Mas o desenvolvimento do capitalismo mostra que tanto a liberdade quanto as diferenças entre os indivíduos são ILUSÃO. A massificação nega o sujeito livre e individual O sujeito é contraditoriamente negado. A experiência de subjetividade privatizada entra em crise. A necessidade de um conhecimento que explique isto: a ciência/ a psicologia. A contradição básica O momento histórico que possibilitou a ênfase no individuo e em sua subjetividade é o mesmo momento que impõe, contraditoriamente, a necessidade da objetividade do conhecimento, ou seja, do controle da subjetividade. A NÃO COMPREENSÃO DA UNIDADE CONTRADITÓRIA ENTRE AS DUAS EXPERIÊNCIAS IMPLICOU LIMITES PARA O CONHECIMENTO DO HUMANO A dicotomia A NÃO COMPREENSÃO DA UNIDADE CONTRADITÓRIA ENTRE AS DUAS EXPERIÊNCIAS IMPLICOU LIMITES PARA O CONHECIMENTO DO HUMANO Dicotomia objetividade/ subjetividade Desenvolvimento da ciência marcado por esta dicotomia Na psicologia a dicotomia nos levou a perspectivas objetivistas (priorizaram as causas externas) e perspectivas subjetivistas (priorizaram as causas internas). Desenvolvimento pendular da psicologia Wundt já percebia as contradições (1879) Wundt distinguiu a psicologia como ciência com objeto próprio: A EXPERIÊNCIA CONSCIENTE. Wundt postula que o objeto de estudo da Psicologia é a experiência consciente imediata. Nessa perspectiva, a Psicologia é uma ciência que investiga como um sujeito apreende sensações e sentimentos (conteúdos mentais básicos da experiência imediata). Já se percebia contradições: humano criatura e criador; produto da natureza e criação da vida mental Essas contradições levam Wundt a propor uma psicologia experimental e uma psicologia social de modo a resolver a dicotomia NATURAL E SOCIAL; autonomia e determinação; interno e externo. Os seguidores de Wundt enfrentarão este pêndulo sem superá-lo Abordagens mecanicistas (pressupor regularidade) e determinista (pressupor causas e o humano como efeito); humano apriorístico (estruturas e mecanismos prontos que permitem funcionamento regular) A UNIDADE CONTRADITÓRIA Objetividade e subjetividade se constituem uma à outra sem se confundirem A linguagem é a mediação para a internalização da objetividade e expressão da subjetividade Os humanos atuam no mundo transformando-o e nesta atividade transformam a si mesmos. SUPERAÇÃO DA DICOTOMIA E DAS VISÕES ABSTRATAS E NATURALIZADAS DA PSICOLOGIA LIBERAL A nova perspectiva nos permite Abandonando a visão abstrata do fenômeno psicológico: FALAR DO FENÔMENO PSICOLOGICO É FALAR DA SOCIEDADE. RELAÇÃO DIALÉTICA ENTRE ESSES ÂMBITOS DO REAL Rompendo com as tradições Romper com a tradição estigmatizadora e classificatória O NORMAL PORQUE COMUM NÃO PODE SER TOMADO COMO NATURAL! Superando a neutralidade Quando entendemos que nosso desenvolvimento não é natural e sim social e histórico, passamos a ter uma exigência importante: EM QUAL DIREÇÃO QUEREMOS INCENTIVAR O DESENVOLVIMENTO? SÍNTESE FINAL - RETOMADA Fenômeno psicológico Visão liberal de fenômeno psicológico Visão sócio-histórica de fenômeno psicológico As consequências na psicologia da visão liberal As consequências na psicologia da visão sócio-histórica Nova concepção de humano A concepção de sujeito dominante na psicologia A dicotomia presente no pensamento da modernidade A nova concepção de humano: as lições de Silvia Lane E AGORA É COM VOCÊS...... Slide 1: O FENÔMENO PSICOLÓGICO E UMA NOVA CONCEPÇÃO DE HUMANO PARA A PSICOLOGIA Slide 2: Quem sou eu? Ana Mercês Bahia Bock Slide 3: Iniciar justificando a temática Slide 4: NOSSO CAMINHO Slide 5: Fenômeno psicológico Slide 6: RESULTADOS Slide 7: O Barão de Munchhausen Slide 8: O Barão de Munchhausen (cont) Slide 9: O Barão de Munchhausen (cont) Slide 10: Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Slide 11: Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Slide 12: Mas que coisa é esta, o fenômeno psicológico? Slide 13: A VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA Slide 14: A VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA Slide 15: AS CONSEQUÊNCIAS DAS DIFERENTES VISÕES Slide 16: AS CONSEQUÊNCIAS DAS DIFERENTES VISÕES Slide 17: PARADA PARA PERGUNTAS E/OU DESCANSO Slide 18: Nova concepção de humano Slide 19: Nova concepção de humano Slide 20: A possibilidade histórica do surgimento do sujeito e da psicologia Slide 21: A possibilidade histórica do surgimento do sujeito e da Psicologia Slide 22: A contradição básica Slide 23: A dicotomia Slide 24: Wundt já percebia as contradições (1879) Slide 25: A UNIDADE CONTRADITÓRIA Slide 26: A nova perspectiva nos permite Slide 27: SÍNTESE FINAL - RETOMADA