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Drenos Subterrâneos - Envoltórios 55 6. DRENOS SUBTERRÂNEOS - ENVOLTÓRIOS 1. Introdução Envoltório é todo material mineral, sintético ou vegetal, colocado ao redor do tubo de drenagem, com a finalidade de propiciar condições para que o gradiente hidráulico na interfase solo-envoltório seja mantido baixo. Deve facilitar o fluxo da água, do solo para o dreno, permitindo que sua velocidade, nos poros, se mantenha baixa, e que a desagregação do solo e o carreamento de partículas para o interior do dreno sejam mínimos. Diversos tipos de material são colocados ao redor de drenos entubados com a finalidade de evitar o carreamento de partículas do solo para o seu interior. O carreamento pode causar entupimento do dreno ou até mesmo do envoltório, quando este não é bem selecionado e, com isso, levar o sistema de drenagem ao completo fracasso. Como envoltório pode ser empregado material sintético ou manta, material orgânico natural ou material de origem mineral. São apresentadas formas de, em função do tipo de solo, prever a necessidade de envoltório e também a metodologia adotada pelo Serviço de Conservação de Solos dos Estados Unidos, para sua seleção, bem como exemplo prático do seu emprego. Solos bem estruturados, com grande poder de coesão de suas partículas, como os podzolos e latossolos, podem dispensar o uso de envoltório, enquanto que para solos não coesivos, do tipo siltoso, solos com predominância de areia fina e aqueles com alta incidência de argila expansiva e/ou grande capacidade de dispersão, o emprego de envoltório é indispensável. Envoltórios de cascalho, brita ou areia grossa lavada são tecnicamente os mais recomendáveis para uso na drenagem de qualquer tipo de solo. Em solos de baixa ou nula estabilidade estrutural, o carreamento, pela água, de partículas do solo para o interior do tubo-dreno pode redundar no colapso do sistema, o que deve ser evitado com o emprego de envoltório apropriado quanto ao tipo e ao dimensionamento. O emprego de envoltório ao redor do dreno, foi concebido, durante muitos anos, como material filtrante (10), o que contrasta com os conheci- mentos atuais, que mostram que a função principal do envoltório é facilitar o fluxo da água do solo para o tubo-dreno. O envoltório não deve atuar como filtro pelo fato de que todo filtro tende a se entupir com o tempo, o que resulta na elevação do lençol freático e no conseqüente aumento do gradiente hidráulico na interface solo-envoltório. Isto pode provocar erosão interna do solo ou o fenômeno de tubificação (2) pelo arraste de grande quantidade de finos do solo para o interior do dreno. A tubificação (piping) pode resultar na formação de cavernas no solo e como conseqüência no desalinhamento de drenos e falha da linha afetada. A ocorrência deste fenômeno é comum em solos pouco ou não estruturados (6), principalmente naqueles com texturas variando de siltosa grosseira a areia média. O material colocado ao redor do tubo deve funcionar como "envoltório", devendo sempre possuir condutividade hidráulica muito superior àquela do solo a ser drenado e área de fluxo, na interfase solo-envoltório, suficientemente grande para que a velocidade da água seja suficien- temente pequena, nessa zona de transição, para 56 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos evitar a desagregação e carreamento de partículas do solo para o envoltório e tubo-dreno. Dessa forma o envoltório e o tubo condutor não correrão o risco de se tornarem assoreados e até mesmo entupidos pelo material carreado. Um envoltório (8) para ser bastante eficiente deve preencher três condições fundamentais que são: ser formado de material bastante permeável, propi- ciar grande área de fluxo para o dreno e ser durável. É desejável que tenha também a vantagem de facilitar o alinhamento do dreno e melhorar a sua base de apoio. De acordo com o Serviço de Conservação de Solos dos EE.UU. (11) o uso de envoltório pode propiciar condições do dreno trabalhar com velocidades mínimas de fluxo da água, não havendo pratica- mente limitação de velocidade quando é empre- gado envoltório de areia grossa lavada ou cascalho porque a presença de suspensões na água, possíveis de decantar, deverá ser mínima. 2. Gradiente hidráulico A convergência de fluxo, nas imediações do dreno, faz com que haja um aumento do gradiente hidráu- lico, conforme ilustrado na figura 01, assumindo- se: • solo homogêneo • lençol freático acima do dreno • dreno trabalhando cheio • fluxo uniforme ao redor do dreno Fig. 1 - Desenho esquemático de dreno entubado com envoltório de cascalho. Empregando-se a fórmula de Darcy para o fluxo de água em um solo saturado tem-se: Fluxo no ponto de área A1-Q1 = Ki1 A1 Fluxo no ponto de área A2-Q2 = Ki2 A2 Q1 = Vazão por metro linear de tubo no ponto de área A1 K = Condutividade hidráulica do horizonte do solo em contato com o envoltório i1 = Gradiente hidráulico no ponto A1 A1= Área de fluxo por metro de superfície cilíndrica Q2 = Vazão no ponto A2 i2 = Gradiente hidráulico no ponto A2 A2 = Área de fluxo por metro de superfície cilíndrica Como Q1 tem que ser igual a Q2 e a condutividade hidráulica é a mesma para ambos os pontos, por trata-se de mesmo solo, tem-se: i1 A1 = i2 A2 Assumindo-se A1 = 2A2 resulta 2A2 i1 = ia2 A2 i2 = 2i1 O que mostra que o gradiente hidráulico aumenta nas proximidades do dreno e que, aumentando-se o raio efetivo do dreno, diminui-se o gradiente hidráulico nas suas imediações. Como Ki=V, sendo V a velocidade de fluxo de uma lâmina de água através da seção "A", tem-se ao mesmo tempo para a condição pré-fixada que V2=2V1 3. Área efetiva de fluxo para o dreno O fluxo da água do solo para o interior do tubo dreno ocorre pela interface solo-área, perfurada do tubo ou pela interface solo-envoltório. A área efetiva de fluxo é obtida em cm2 por metro de tubo. A função do envoltório é facilitar a captação e fluxo da água do solo para o tubo, enquanto que este tem a função principal de conduzir o excesso de água para fora da área a ser drenada. Raio Drenos Subterrâneos - Envoltórios 57 Área de fluxo = 0,50% da área externa do tubo ou 15,7 cm2 por metro tubo Fig. 2 - Manilha de argila sem envoltório Área de fluxo __ 0,64% = 20,0 cm2 / m de tubo Fig.3 - Tubo de pvc liso recortado ou perfurado e sem envoltório. Fig. 4 - Tubo de pvc ou polietileno corrugado sem envoltório Área de fluxo __ 0,51% = 15,6 cm2 / m de tubo. Neste caso, devido ao tipo de contato do solo com as corrugações internas, o fluxo é bem mais facilitado que nos casos anteriores, o que se traduz em uma convergência de fluxo bastante menor que a relação entre áreas total e perfurada. Neste caso o solo não é adensado dentro das corrugações situadas principalmente na metade inferior do tubo, oque eleva a área efetiva de fluxo para algo ao redor de 20 a 30% da área externa do tubo Área de fluxo __ 50% - em relação ao diâmetro externo do tubo. Fig. 5 - Tubo de plástico corrugado com envoltório de material sintético Quanto maior for a área de fluxo, maior será a capacidade de captação de água pelo dreno. Drenos com área de captação reduzida podem levar o sistema de drenagem a funcionar de maneira inadequada ou a um completo fracasso devido à resistência enfrentada pela água para atingir o interior do tubo, o que resulta na elevação do lençol freático. Em solos de boa estabilidade estrutural o emprego de tubo corrugado, sem envoltório, pode funcionar satisfatoriamente porque dentro das corrugações o solo não é naturalmente compactado. Nesses intervalos a permeabilidade se mantém alta, resultando em uma área efetiva de fluxo que em alguns solos pode ser suficiente, o que não aconte- ce com manilhas de argila ou tubos de pvc de paredes lisas. A seguir são mostradas representações esque- máticas de áreas de fluxo para diversos tipos de tubos e envoltórios, conforme ilustrações constan- tes das figuras2 a 8 a seguir: 58 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos Área de fluxo = 100% da área externa do envoltório. Fig. 6 - Tubo com envoltório de cascalho, brita ou areia grossa lavada Área efetiva de fluxo = 100% da área externa do envoltório. Fig. 7 - Tubo corrugado com envoltório de fibra de coco Área de fluxo = 100% da área externa do envoltório. Fig. 8 - tubo de pvc liso com esferas de STYROPOR coladas com cola PVA diluída em água a 50% e envoltório sintético. 4. Avaliação da Necessidade de Envoltório Solos de baixa ou nula força de coesão, por possuírem textura arenosa ou siltosa, como as areias quartzosas, regossolos e aluvionais leves, bem como solos dos tipos vertissolos e solos aluvionais, que contenham altos teores de argila expansiva, além dos solos dispersivos do tipo bruno não cálcico, necessitam de envoltório como forma de minimizar o carreamento de partículas do solo para o sistema de drenagem. Já tem sido feitas algumas tentativas para avaliar a necessidade do emprego de envoltório (4, 11) em drenos subterrâneos conforme segue: Uniformidade de Distribuição das partículas (U) É assumida a relação U = d60 / d10, sendo que d60 corresponde ao diâmetro máximo das partículas do solo onde uma peneira deixa passar 60% do material e d10 o diâmetro máximo das partículas onde somente 10% do solo passa em uma determinada malha. Assim, a tendência de sedimentação, no dreno, de partículas carreadas do solo, seria dada pelas seguintes faixas de valores: U 15 - sem tendência a sedimentação U - 5 a 15 - pouca tendência a sedimentação U 5 - alta tendência a sedimentação Drenos Subterrâneos - Envoltórios 59 A relação argila/silte se > 0,5 - baixa possibilidade de sedimentação Índice de plasticidade (IP) IP > 12 - sem tendência a sedimentação IP - 6 - 12 - pouca tendência a sedimentação IP < 6 - alta tendência a sedimentação Avaliação da necessidade com base na textura do solo A necessidade do emprego de envoltório seria avaliada com base em dados constantes da tabela 1, anexa, preparada pelo Serviço de Conservação de Solos dos Estados Unidos, onde é feita recomen- dação para o emprego de envoltório tomando como base a textura do solo. Teste de estabilidade dos agregados do solo, em água, com agitação Consiste em analisar amostras quebradas a mão e secas ao ar, empregado conjunto de peneiras acopladas de 2,0; 1,0; 0,5; 0,25; e 0,01 mm de malha que é colocado dentro de um recipiente com água. A amostra de terra é despejada na peneira superior, de 2,0 mm , sendo o conjunto de peneiras agitado mecanicamente sob a água. Após meia hora de agitação o conteúdo das peneiras é analisado para determinação do peso dos agregados em cada peneira e avaliação da estabilidade estrutural dos agregados. Teste de desintegração ou dispersão do solo em água, em repouso Esse teste dá uma idéia geral da estabilidade estrutural da amostra e ou da erodibilidade do solo, de acordo com o grau de desintegração da amostra deixada em água por horas ou dias (5). Trata-se de um método simples, prático e barato de se avaliar a necessidade do emprego de envoltório na drenagem de um determinado horizonte de solo. Para o teste são necessários dois vasilhames (figura 9) , concêntricos, preferentemente de plástico transparente. O interno com cerca de 10 cm de diâmetro e 5 a 10 cm de altura e o externo, com cerca de 20 cm de diâmetro e altura semelhante. O recipiente interno deverá ter, para entrada da água, perfurações pequenas no fundo, situadas próximas das paredes deste, conforme figura 9, devendo ser colocado no centro do vasilhame maior e sobre 3 pontos de apoio que permitam que a água, ao ser adicionada lentamente no recipiente externo, penetre neste de baix o para cima. Fig. 9 - Esquema do equipamento e teste 60 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos Tabela 1 Avaliação da Necessidade de Envoltório em Função do Tipo de Solo (*) DESCRIÇÃO DO SOLO NECESSIDADE VELOCIDADE DE FLUXO DE ENVOLTÓRIO DA ÁGUA NO DRENO Arenosos com granulometria uniforme Arenosos cascalhentos Arenoso-siltosos Silto-arenosos com granulometria uniforme Sim Sem restrição Siltosos inorgânicos e areias finas Solos pulverulentos siltosos ou argilo-arenosos finos com baixa plasticidade Micáceos Solos siltosos Siltosos Expansivos Cascalhentos de granulometria não uniforme Sujeito a avaliações Sem restrição quando Arenoso cascalhento com nenhum ou pouco fino de estabilidade empregado envoltório. Areno argiloso ou argilo arenoso de granulometria não estrutural in-loco uniforme Areno argiloso Argilo siltoso de granulometria não uniforme Deve ser mínima de 0,30 m/s quando não é empregado envoltório. Cascalhento siltoso Siltoso argilo cascalhento de granulometria não uniforme Areno siltoso Silte arenoso de granulometria não uniforme Cascalhento argiloso ou argiloso cascalhento Sem restrição para solos Argilo arenoso cascalhento de granulometria com pouca quantidade de não uniforme finos Argiloso orgânico de média a baixa plasticidade Arenosos com predominância de areia grossa Quando for usado Arenosos cascalhentosCascalhentos tubo flexível pode de granulometria não uniforme ser necessário Cascalhentos uniformes Com tubos de superfície Para solo com apreciável Arenosos cascalhentos com poucos finos lisa é sempre necessário quantidade de finos Arenoso uniformes a velocidade mínima deve ser de 0,30 m/s Solos inorgânicos Argila expansiva (fat clay) Siltosos orgânico de baixa plasticidade Argiloso siltoso orgânico de baixa plasticidade Argilo orgânico de média e alta plasticidade Turfosos (*) Segundo o U.S. Department of Agriculture - Drainage of Agricultural Land Drenos Subterrâneos - Envoltórios 61 No centro do recipiente interno são colocados fragmentos da amostra do solo a ser testado. A seguir adiciona-se água suavemente ao cilindro externo, até que esta, após penetrar no cilindro interno, através dos furos situados na parte inferior, cubra totalmente a amostra. Anota-se então o tempo e dá-se o teste por iniciado. Deve ser observado o comportamento dos agregados, ao serem inundados e acompanhadas as alterações posteriores até que seja atingido um equilíbrio. São então feitas leituras das alterações, nos agrega- dos, provocadas pela água, a qual , deve ter quali- dade próxima daquela a ser usada na irrigação. De início, as leituras podem ser feitas a cada 5 a 10 minutos, passando para intervalos de 1,0 hora e depois para intervalos maiores, que podem ser superiores a 12 horas, ou a critério do condutor do teste. O importante é que todas as alterações sejam anotadas. Se a água, ao penetrar no recipiente interno não desagregar ou desagregar parcialmente os fragmentos do solo é porque o mesmo possui alta estabilidade estrutural, o que dispensa o emprego de envoltório como forma de evitar a desagregação e carreamento de partículas para o dreno. Quando a água se mantiver límpida, mesmo que ocorra desagregação total da amostra, o solo pode ser considerado como regular ou não problemático em termos de drenagem subterrânea podendo, no caso dos solos podzólicos, ser dispensado o uso de envoltório como forma de reter finos do solo. Tratando-se de solos com altos teores de argila expansiva, o emprego de envoltário é recomendável. Para solo que se desagregue, com a formação de suspensão de partículas, criando turbidez na água e posterior decantação do material, fica evidente que o mesmo não possui estabilidade estrutural. Neste caso é indispensável o uso de envoltório e técnica de instalação de drenos apropriada para este tipo de solo. Este método, embora prático e simples, necessita de repetições com amostras de solo provenientes de áreas drenadas onde a decantação de partículas, tanto no tubo dreno como no envoltório, tenha sido quantificada para serem então feitas comparações quantitativas entre a estabilidade dos agregados destes solosem água e a decantação ocorrida no campo, considerando-se os tipos e dimensão dos envoltórios dos solos estudados. Na tabela 02 são apresentados resultados de análise visando definir a estabilidade estrutural de 6 amostras de solo. Considerações Até o momento não existe nenhum método, consagrado internacionalmente, de avaliação da necessidade de envoltório em drenos subterrâneos. Para as 6 amostras de solos estudadas, nenhum dos métodos ou parâmetros sugeridos foi efetivo na avaliação da necessidade do emprego de envoltório em drenos subterrâneos. Com base no exposto, acredita-se que não servirão de base para avaliar a estabilidade estrutural dos solos tropicais encontrados no Brasil. Com relação ao teste de dispersão do solo em água, em repouso, considerando a sua praticidade e custo, este pode ser muito útil. Há necessidade de maiores estudos visando definir valores quantita- tivos e assim consagrá-lo como método confiável. Em nosso caso é sabido que os latossolos testados apresentam alta estabilidade estrutural enquanto que o solo bruno não cálcico é instável em água. Quanto ao podzolo testado, o sistema de drenagem implantado na área há mais de 5 anos, com envoltório de cascalho, apresenta-se quase que totalmente isento de finos do solo, o que indica que o emprego de envoltório, como forma de evitar a desagregação e carreamento de partículas, é dispensável. 62 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos Tabela 2 - Análises de Amostras de Solo Visando Definir Estabilidade dos Agregados ANÁLISE DE AMOSTRAS DE SOLO - FÍSICA E QUÍMICA Nr. da Tipo GRANULOMETRIA ANÁLISE QUÍMICA Amostra de Solo Argila Silte A.Fina A.Grossa Classif. pH Ca+Mg M.O. p g/l K H+AL Estabilidade Textural H20 me/100ml g/l (%) dos Agregados Índice de Estabilidade dos em água Plasticidade Agregados em (com agitação) (IP) água (em repouso) 01 VERTISSOLO 49 18 20 13 Argiloso 8,3 38,7 0,4 3,2 32 0 1,30 27,48 Amostra se desagregou (Mandacarú) lentamente (quase 3 horas)A água se manteve límpida. 02 VERTISSOLO 26 11 25 38 F. 8,9 27,6 0,4 4,3 21 0 3,17 27,63 Amostra se desagregou (Tourão) Arenoso totalmente em 40 minutos. Água límpida. 03 BRUNO 72 20 05 03 M. 9,1 11,7 0,3 1,9 43 0 0,45 12,34 Amostra se desgregou NÃO Argiloso cerca de 40% em 1,30 CÁLCICO Argiloso horas ao mesmo tempo (Juazeiro) em que houve dispersão. Na próxima leitura (17 horas após), a amostra estava toda desagregada. A água se tornou totalmente turva em ambos os vasilhames devido a intensa dispersão de partículas do solo que se decantaram formando uma lama. 04 LATOSSOLO 67 09 13 11 M.Argiloso 5,2 0,2 1,6 0,3 4 2,0 2,58 12,82 A amostra se (Brasilia - Via rompeu parcialmente Estrutural) em blocos sem que tenha se evidenciada uma desagregação. Água límpida. 05 LATOSSOLO 39 15 17 29 Argiloso 5,6 0,6 1,1 0,4 16 0,7 3,82 13,66 A amostra se rompeu, (Brasília - Arenoso dividindo-se em blocos Asa Norte) menores. Água límpida. 06 PODZOLO 18 8 52 15 Franco 5,3 Em contato com a água (Bebedouro) Arenoso os agregados, secos ao ar, se desagregaram rapidamente (menos de 1minuto). Não houve dispersão. Água límpida. Mandacarú, onde a drenagem subterrânea foi instalada com condições especiais para o tipo de solo. 5. Escolha do envoltório A escolha do envoltório deve, de uma maneira geral, ser feita em função do custo final do material colocado no local da obra, custo de instalação e efetividade do material como envoltório. Em casos de drenos onde o envoltório não Quanto aos vertissolos, crê-se que não haverá problema quando empregado envoltório de cascalho fino ou areia grossa lavada, desde que o material de aterro seja razoavelmente compactado para diminuir os vazios e assim reduzir a possibilidade de esboroamento do solo quando umedecido. O envoltório de cascalho ou areia deve, por medida de segurança, ser coberto com uma lâmina de polietileno. Esse tipo de envoltório em vertissolo, bem como envoltório sintético de poliester agulhado está funcionando satisfatóriamente no Projeto Drenos Subterrâneos - Envoltórios 63 funcionou satisfatoriamente (14), o problema foi resolvido com a eliminação das partículas finas e o conseqüente aumento da condutividade hidráu- lica, o que reforça a importância de trabalhar-se com envoltório de material de alta condutividade hidráulica. O envoltório pode ser de material sintético ou natural. Como envoltório sintético, podem ser empregados, mantas de nylon, de poliester ou outro material apropriado. Como envoltório natural podem ser empregados fibra de casca de coco, palhas, sabugo de milho, areia grossa lavada, cascalho, ou brita ou ainda outros materiais de alta permeabilidade. A seleção do tipo de envoltório a ser utilizado vai depender do conhecimento de vários fatores, tais como: • Perfil do solo nas imediações do dreno. • Disponibilidade de material apropriado nas proximidades da área a ser drenada, incluindo custo de transporte e limpeza. • Tipo de tubo-dreno a ser instalado. • Características pluviométricas da região. Tipos de solo Nos Estados Unidos (9) existem milhares de hectares de terras drenadas, com resultados satisfatórios, sem o emprego de qualquer tipo de envoltório. Não são feitas no entanto, referências aos tipos de solo. Solos com predominância de areia fina são os mais difíceis de drenados (3), vindo a seguir os solos siltosos. Para estes solos o emprego de envoltório é indispensável, sendo mais indicados envoltórios de cascalho, brita, areia grossa lavada ou material selecionado, segundo método do SCS dos Estados Unidos, por resultarem em raio hidráulico alto. Para a drenagem de solos com altos teores de argila expansiva admite-se ser fundamental o uso de envoltório de brita fina ou areia grossa lavada como forma de reduzir o gradiente hidráulico na interface solo-envoltório e assim evitar a desagregação e o arraste de partículas do solo para o dreno. Tratando-se de solos de baixíssima estabilidade dos agregados, como solos dispersíveis, tudo indica que a drenagem subterrânea pode ser muito problemá- tica; neste caso somente envoltório de brita fina ou areia grossa lavada cobertos com lâmina de material plástico, poderia ser apropriado. Em solos ricos em ferro e manganês, não é recomendado o emprego de envoltório de fibra de vidro (15) e também de material orgânico (11) pelo fato de entupirem-se com facilidade devido à ação dos óxidos desses metais, sendo que fibra de vidro não resultou em bom evoltório. Fibra de vidro mostrou, com o tempo ser um material não recomendado para uso como envoltório porque se degrada facilmente devido a ataques químicos. Disponibilidade de material Muitas vezes não existe material apropriado nas imediações da área a ser drenada. Desta forma o custo do envoltório natural pode ficar muito alto devido aos custos de coleta, limpeza e transporte. Isto pode ser ainda agravado pelas condições oferecidas por terrenos baixos e úmidos como as várzeas, onde geralmente é problemática a movimentação de máquinas ou equipamentos que transportem cascalho, areia ou brita. Em situações como essas, o emprego de envoltório sintético ou de material orgânico pode ser bem mais prático e econômico. Tipos de dreno Para drenos formados por tubos corrugados, principalmente aqueles que apresentem perfura- 64 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos ções em todas as corrugações, o envoltório sintético apresenta condições satisfatórias, enquan- to que não é recomendável o seu uso quando se trabalha com manilhas de argila ou cimento ou tubo plástico liso perfurado para este fim. O emprego de manilhas em drenagem subterrâneas é atualmente uma técnica totalmente superada. Influência do clima É importante considerar as condições climáticas quando se pretende empregar envoltório orgânico. Em regiões temperadas este tipo de material muitas vezesfunciona satisfatoriamente, enquanto que em regiões tropicais se deteriora com muita facilidade, podendo se transformar em uma massa relativa- mente impermeável em curto período de tempo, o que dificulta o fluxo de água para o dreno e, em conseqüência, pode causar o fracasso do sistema. Em sistema de drenagem por tubos corrugados, instalado com envoltório de fibra de coco em solo do tipo latossolo arenoso do projeto Bebedouro, situado no semi-árido, o envoltório se decompos em proporções estimadas de 90% na parte superior e 10% na parte inferior, após 22 meses da implantação do sistema (junho/88) embora os drenos continuassem funcionando satisfatoriamente . As precipitações da área são da ordem de 410 mm/ano e a umidade relativa de cerca de 65%. Seleção do material para envoltório com base em análise granulométrica A seleção do material pode ser feita com base nos princípios adotados pelo Serviço de Conservação de Solos dos EEUU (11) procedendo-se da seguinte maneira: Faz-se a análise granulométrica de amostra representativa do horizonte do solo situado na profundidade pretendida para a instalação do sistema de drenagem. O número de amostras a serem coletadas vai depender da uniformidade dos solos nos locais dos drenos. De posse da análise granulométrica da amostra de solo representativa de uma área ou setor, prepara-se a curva de distribuição granulométrica. Calcula-se então os limites granulométricos máximo e mínimo que o material deverá ter para ser utilizado como envoltório. O cálculo é feito tomando-se como base o valor do diâmetro de partículas de solo que corresponde a 50% da massa submetida a análise granulométrica. Este é o diâmetro em que, teoricamente, uma peneira ou tamis deixaria passar somente 50% da amostra de terra preparada para este fim. O valor D50 proveniente da curva granulométrica é então multiplicado pelos números 12 e 58, para se obter os limites mínimos e máximos de diâmetro que 50% da massa de solo pode ter para ser uilizada como envoltório. A seguir, toma-se o valor D15 que representa o diâmetro em que somente 15% do solo passa pelo tamis e multiplica-se por 12 e por 40, obtendo-se assim os limites que um envoltório deverá apresentar em sua fração fina de 15%. As especificações podem ser representadas da seguinte forma: D50 envoltório = 12 a 58 (1) D50 solo D15 envoltório = 12 a 40 (1) D15 solo Para solos e envoltórios com partículas distribuídas uniformemente, poderá ser utilizada a seguinte relação: D15 envoltório < 5 (3) D85 solo Ainda, segundo a mesma fonte, todos os envoltórios devem ser formados de material com diâmetros inferiores a 1 1/2" sendo, 90% com diâmetro inferior a 3/4" e não mais que 10% do material deve passar através da peneira nº 60 (aprox. 0,2 mm). Drenos Subterrâneos - Envoltórios 65 Exemplo Prático A análise granulométrica de uma amostra de solo, conforme a figura 10, revelou que 50% de sua fração é formada de partículas com diâmetro igual ou inferior a 0,0058 mm (D50 < 0,0058), e que a fração correspondente aos últimos 15% da amostra tem diâmetro igual ou inferior a 0,0008 mm. Empre- gando-se as equações (1) e (2) obtêm-se os limites máximos e mínimos para as frações D50 e D15 do envoltório, conforme segue: Tomando-se (1) tem-se: D50 envoltório = 12 x D50 solo (limite inferior) D50 envoltório = 58 x D50 solo (limite superior) Onde: D50 envoltório = 12 x 0,0058 = 0,070 mm D50 envoltório = 58 x 0,0058 = 0,336 mm A fração D50 do envoltório tem que se situar entre os valores 0,070 e 0,336 mm de diâmetro das partículas. Tomando-se (2) tem-se: D15 envoltório = 12 x D15 solo (limite inferior) D15 envoltório = 40 x D15 solo (limite superior) Donde: D15 envoltório = 12 x 0,0008 = 0,01 mm D15 envoltório = 40 x 0,0008 = 0,032 mm A fração D15 do envoltório deve situar-se entre os valores 0,01 mm e 0,032 mm. Na Figura 10 é apresentada curva proveniente de resultados reais de análise granulométrica de um solo denominado delta, onde são plotados os limites para D50 e D15 de material julgado apropriado para envoltório. Considerações Com base no exposto, é de se notar que um solo siltoso pode teoricamente servir como envoltório de tubo-dreno instalado em solo argiloso. O método de seleção do tipo de envoltório natural adotado pelo Serviço de Conservação de Solos dos EEUU é importante, considerando-se que, com base nos seus princípios, pode muitas vezes ser selecionado para envoltório, material de jazidas situada nas imediações da área a ser drenada. Quando empregado envoltório natural, deve ser colocada ao redor do dreno (11) uma camada mínima de 3 polegadas, sendo mais recomendado 4 polegadas. Também, segundo o Bureau of Reclamation (12), uma camada de 3 polegadas de espessura pode funcionar satisfatoriamente, sendo no entanto, por motivos práticos, mais conveniente colocar 4 polegadas. Como a maior parte do fluxo da água para o dreno se dá principalmente pela parte inferior e pelas laterais (10), ou praticamente dobra na metade inferior do dreno (1), conclui-se que o desempenho da porção inferior do envoltório é bem maior que o da parte superior, o que pode resultar em economia de material, quando utilizado envoltório natural, pela redução da espessura do envoltório sobre o dreno. Nas proximidades da área a ser drenada pode existir material apropriado para envoltório como cascalho, areia grossa ou outro material grosseiro. O material poderá ser utilizado em estado natural, se estiver limpo, ou após lavado ou peneirado, se contiver quantidades prejudiciais de finos do solo. Areia grossa lavada, cascalho ou brita não apresentam restrições técnicas de uso como envoltório, por funcionarem adequadamente para qualquer tipo de solo. A existência de qualquer um destes materiais, a preços competitivos, dispen- sa a necessidade de serem feitas análises mecânicas. É importante considerar-se que uma adequada seleção do envoltório deve ser acompanhada de uma instalação também adequada. É essencial que a instalação de drenos, principalmente em solos problemáticos, seja feita em ausência de lençol freático. A deposição de partículas do solo nos tubo-drenos 66 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos geralmente se dá imediatamente depois do aterro da vala (7) quando não é feita uma ligeira compactação do material colocado sobre o dreno. Nos projetos da CODEVASF a compactação tem sido feita manualmente, em camadas de 40 cm de aterro, sendo finalizada pela simples passagem das rodas de patrol ou retro-escavadeira, devendo ser deixada uma pequena elevação para compensar o acamamento do solo, o que aparentemente tem dado bons resultados. 6. Conclusões 1. Em solos bem estruturados, a não utilização de envoltório pode dar resultados satisfatórios sendo, no entanto, aconselhável o seu uso para facilitar o fluxo da água do solo para o tubo, o que pode resultar em aumento do espaçamento entre drenos. 2. O emprego de envoltório orgânico em solos de clima tropical não é recomendável porque o material se decompõe com facilidade, podendo por em risco todo o sistema de drenagem. 3. Em solos ricos em ferro e manganês, envoltórios orgânicos são problemáticos devido à formação de óxidos que podem levar, em curto período de tempo, a uma grande redução da permeabilidade do envoltório e conseqüente falha do sistema. 4. Envoltórios sintéticos apresentam melhores condições de funcionamento quando são instalados com drenos corrugados com perfurações em todas as corrugações. Para manilhas de barro ou cimento ou tubo liso perfurado de pvc este tipo de envoltório não funciona. 5. Não havendo disponibilidade, nas proximidades da área, de material apropriado para envoltório, ou em caso do preço do transporte ser muito alto, ou ainda quando não existam condições de acesso do material para a área, o emprego de envoltório sintético é economicamente bem mais vantajoso.6. Tanto podem funcionar satisfatoriamente envoltórios formados de material uniforme, como aqueles que apresentem gradações compatíveis com o tipo de solo considerado. Fig. 10 - Exemplo de envelope segundo o U.S.SCS. Drenos Subterrâneos - Envoltórios 67 7. Envoltório de cascalho, brita ou areia grossa lavada são os que apresentam melhores resultados técnicos, por serem bastante permeáveis e, ao mesmo tempo, poderem aumentar significativamente o raio efetivo do dreno; por outro lado envoltório de manta sintética é o tipo dominantemente utilizado por razões práticas e técnico-econômicas. 7. Recomendações • O material colocado ao redor do dreno deve ser sempre concebido como envoltório, por ter a função de facilitar o fluxo da água do solo para o dreno e nunca como filtro. • Em zona de clima tropical o emprego de envoltório orgânico pode comprometer todo o sistema de drenagem, devendo o assunto ser melhor e mais especificamente avaliado. • Mesmo em solos de alta estabilidade estrutural, o emprego de envoltório ao facilitar o fluxo da água, do solo para o dreno, melhora a drenagem e pode propiciar um aumento no espaçamento entre drenos. • Pode ser adotado como envoltório material que se enquadre dentro dos critérios adotados pelo SCS dos Estados Unidos, desde que o seu emprego seja economicamente mais vantajoso. • Brita, cascalho ou areia grossa lavada são os melhores materiais para envoltório de qualquer solo, desde que as condições econômicas sejam vantajosas. • O uso de envoltórios sintéticos é muito prático e de baixo custo, além de funcionar satisfatoriamente em tubos corrugados para a maioria dos nossos solos. 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