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1 www.soeducador.com.br Direitos humanos 2 www.soeducador.com.br Direitos humanos Sumário O QUE SÃO DIREITOS HUMANOS? ...............................................................................................3 Contexto e definição dos direitos humanos .................................................................................4 Normas internacionais de direitos humanos................................................................................8 O que são tratados? .................................................................................................................9 Porque os tratados internacionais são necessários? ..............................................................10 Fases de um tratado internacional. ........................................................................................10 O que são costumes internacionais? ......................................................................................11 Mecanismos de implementação dos Direitos Humanos no âmbito da ONU ..............................12 Como surgiram os direitos humanos? ........................................................................................15 Declaração de Direitos da Virgínia .............................................................................................16 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão .....................................................................17 Direitos Humanos e a ONU ........................................................................................................21 Direitos Humanos no Brasil ........................................................................................................22 Teoria da Lei Natural ..................................................................................................................23 Teoria do Direito Natural ...........................................................................................................24 Teoria dos Direitos do Homem...................................................................................................26 FUNÇÃO DO ESTADO NA RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO ............................................................29 EDUCAÇÃO E PRISÃO: ................................................................................................................32 TRABALHO E PRISÃO: .................................................................................................................35 Conclusão ...................................................................................................................................38 Características dos direitos humanos .........................................................................................39 Resumo ......................................................................................................................................42 REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................43 3 www.soeducador.com.br Direitos humanos O QUE SÃO DIREITOS HUMANOS? São conjuntos de direitos e liberdades e devem ser garantidos a todos os seres humanos, indenpendente de raça, cor, sexo, religião, ideologia política. Em 10 de Dezembro de 1948, foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, elaborada por representantes de diferentes origens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo. A Declaração estabelece pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos. Esses direitos devem ser assegurados a todos, por meio do conjunto de leis que protegem e trazem amparo jurídico. São criadas para fomentar e promover o acesso á educação, saúde, á alimentação, á segurança, liberdade de expressão, á assistência aos desamparados, entre outros direitos e garantias fundamentais a todo ser humano. Esses direitos, são imprescritiveis, irrenunciaveis e não podem ser violados de forma alguma. A extensão dos Direitos Humanos é universal, aplicando-se a todo e qualquer tipo de pessoa. Portanto, eles não servem para proteger ou beneficiar alguém e condenar outros, mas têm aplicação geral. Então, frases repetidas pelo senso comum, como “Direitos Humanos servem para proteger bandidos”, não estão corretas, visto que os Direitos Humanos são uma proteção a todos os humanos. 4 www.soeducador.com.br Direitos humanos Alegações com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos podem ser feitas para evitar ações que violem os direitos de réus ou criminosos, como o cárcere injustificado, a tortura ou o assassinato. Por último, os Direitos Humanos não são uma entidade, uma ONG ou uma pessoa que se apresenta fisicamente e tem vontade própria. Portanto, a frase repetida pelo senso comum “Mas quando morre um policial, os Direitos Humanos não vão dar apoio à família.” está duplamente incorreta, visto que os Direitos Humanos não são entidade ou pessoas e que eles se estendem a todos, inclusive policiais. Contexto e definição dos direitos humanos Direitos humanos são os direitos e liberdades básicas de todos os seres humanos, independentemente de raça, gênero, idade, deficiência, condições de mobilidade, orientação sexual, identidade de gênero, nacionalidade, religião, territorialidade, cultura ou qualquer outra condição. Os direitos humanos abrangem os direitos civis, os direitos políticos, os direitos econômicos, sociais e culturais, além dos direitos de solidariedade. 5 www.soeducador.com.br Direitos humanos Os direitos humanos foi redigida e está legalizada por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a declaração foi concluida em 18 de junho de 1948 e aprovada pela Assembleia Geral da Onu em 10 de dezembro de 1948. O documento oficial da ONU chamado Declaração Universal dos Direitos Humanos possui 30 artigos antecedidos por um preâmbulo. O preâmbulo traz as justificativas para a redação de tal documento e estabelece as bases sobre as quais os artigos foram pensados. Segue abaixo cada um dos artigos que compõem a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de forma explicativa. Caso queira ler a Declaração na íntegra, acesse: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-humanos. • Artigo 1º — trata da liberdade e da igualdade, que devem estender-se a todos os seres humanos. • Artigo 2º — todas as pessoas podem requerer para si os direitos apresentados no documento. Nenhuma discriminação, de qualquer origem, pode ser feita. • Artigo 3º — são apresentados os direitos mais fundamentais: à vida, à liberdade e à segurança pessoal. • Artigo 4º — diz que ninguém pode ser mantido em regimes de escravidão ou servidão. • Artigo 5º — diz que ninguém pode ser submetido à tortura, à crueldade ou a qualquer tipo de tratamento degradante. • Artigo 6º — a personalidade jurídica (ou seja, o reconhecimento legal e jurídico de todos como cidadãos) deve ser reconhecida em todo e qualquer lugar. • Artigo 7º — a lei deve ser igual para todos, deve proteger a todos, e o documento da declaração também vale para todos, não importando as diferenças. 6 www.soeducador.com.br Direitos humanos • Artigo 8º — toda pessoa pode recorrer ao sistema de justiça contra as violações das lei que as atingirem. • Artigo 9º — proíbe as prisões, detenções ou exílios arbitrários, ou seja, que não foram resultados de um processolegal que comprove o ato como determinação de uma sentença judicial ou de algum tipo de medida judicial válida. • Artigo 10º — todo mundo tem direito a um julgamento oficial, público, imparcial e justo. • Artigo 11º — com dois incisos, o artigo afirma que alguém que é acusado de um delito é inocente até que se prove o contrário e que não se pode condenar alguém por uma ação que, no momento em que foi cometida, não era crime em âmbito nacional ou internacional. • Artigo 12º — a lei deve proteger para que ninguém sofra intromissões no âmbito privado de suas vidas. • Artigo 13º — tratando de fronteiras e territórios, os dois incisos desse artigo falam que todo mundo tem o direito de residir onde quiser dentro de um Estado e que todos podem abandonar ou retornar ao seu Estado de origem quando quiserem. • Artigo 14º — os dois incisos desse artigo garantem o direito à busca de asilo em outros países por perseguição, salvo em caso de processo legal legítimo. • Artigo 15º — os dois incisos desse direito dizem que a nacionalidade é um direito de todos e que ninguém pode ser privado dele. • Artigo 16º — os três incisos desse artigo dizem que: a partir da idade em que o casamento é permitido, todos têm o direito de se casar, independente de qualquer diferença existente entre eles, desde que haja o consentimento de ambas as partes; e que o Estado deve garantir a proteção à família, entendendo que essa é o elemento fundamental da sociedade. 7 www.soeducador.com.br Direitos humanos • Artigo 17º — diz que toda pessoa tem direito à propriedade e que ninguém pode ser arbitrariamente privado dela. • Artigo 18º — trata da liberdade religiosa, garantindo o direito a todos de escolherem e mudarem seus credos religiosos, bem como manifestá-los em âmbito público ou privado. • Artigo 19º — diz que todos têm o direito à liberdade de expressão, ninguém pode ser censurado ou discriminado por suas opiniões, e todos têm o direito de divulgá-las. • Artigo 20º — todo mundo pode reunir-se pacificamente, e ninguém pode ser obrigado a participar de qualquer tipo de reunião. Artigo 21º — todo mundo pode participar da política e da vida pública de seu país, seja diretamente, seja por meio de representantes eleitos por votação. O terceiro inciso desse artigo diz ainda que a vontade popular é o fundamento primeiro que confere legitimidade aos poderes públicos. • Artigo 22º — todos têm direito à segurança e à seguridade social e podem exigir esses direitos em suas diversas formas possíveis. • Artigo 23º — tratando do trabalho, os quatro incisos desse artigo garantem a todas as pessoas: a possibilidade de escolha do trabalho; o trabalho digno; a remuneração compatível, justa e digna por qualquer tipo de trabalho; a remuneração igual pelo trabalho igual; e a possibilidade de fundação e filiação a sindicatos. • Artigo 24º — todo mundo tem direito ao descanso, ao lazer, a uma jornada de trabalho compatível com o descanso e a férias remuneradas periódicas. • Artigo 25º — o primeiro inciso diz que todo mundo tem direito a condições básicas de vida que garantam, para si e para a sua família, as condições básicas de subsistência (saúde, bem-estar, alimentação, vestuário, moradia e serviços sociais necessários). No caso de perda dos meios de subsistência involuntária, também é 8 www.soeducador.com.br Direitos humanos assegurada a assistência social. O segundo inciso garante o amparo à maternidade e à infância, que devem ser protegidas. • Artigo 26º — tratando da educação, esse artigo diz que todas as pessoas têm o direito ao ensino elementar, universal e gratuito. Diz também que o ensino superior deve estar aberto a todos em igualdade, que a educação deve promover o respeito e os Direitos Humanos, e que cabe aos pais a escolha do tipo de educação que seus filhos vão receber. • Artigo 27º — todos têm o direito de participar e usufruir da cultura, das artes e da ciência produzidas em sua comunidade. • Artigo 28º — todos, sem distinção, têm direito à ordem e à garantia dos direitos estabelecidos na Declaração. • Artigo 29º — todos têm deveres para com as comunidades e, seguindo o cumprimento dos deveres, têm seus direitos garantidos. • Artigo 30º — os direitos e garantias apresentados na Declaração não podem ser utilizados para destruir ou atacar qualquer direito fundamental. Normas internacionais de direitos humanos A Segunda Guerra Mundial, que ocorreu em 1945, foi o fato histórico ao qual propulsionou e foi decisivo para o surgimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, neste sentido PIOVESAN afirma que: "a internacionalização dos direitos humanos constitui, assim, um movimento extremamente recente na história, que surgiu a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo" Os horrores praticados durante a Segunda Guerra Mundial fez surgir a necessidade de uma ação internacional para a proteção dos direitos humanos, culminando dessa forma na criação de normas de proteção internacional. 9 www.soeducador.com.br Direitos humanos Os direitos humanos passaram a ser importantes na agenda internacional com o advento da Cartas das Nações Unidas, em 1945, bem como com a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, quando os direitos passaram a ter atenção central na pauta internacional. Neste sentido, TRINDADE afirma: O processo de generalização da proteção dos direitos humanos desencadeou-se no plano internacional a partir da adoção em 1948 das Declarações Universal e Americana dos Direitos Humanos. Era preocupação corrente, na época, a restauração do direito internacional em que viesse a ser reconhecida a capacidade processual dos indivíduos e grupos sociais no plano internacional. Para isto contribuíram de modo decisivo as duras lições legadas pelo holocausto da segunda guerra mundial. A maioria dos países também adotou constituições e outras leis que protegem formalmente os direitos humanos básicos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos na qual possuem 193 países signatários da ONU, isso quer dizer que entre outros direitos, esses países devem garantir e promover os direitos do cidadão. Além do mais importante instrumento jurídico de proteção aos direitos humanos, existem as normas internacionais que consistem, de legislações esparsas que são os tratados e costumes, bem como declarações, diretrizes e princípios, entre outros. O que são tratados? 10 www.soeducador.com.br Direitos humanos De acordo com o conceito dado pela Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados, “tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica. Sendo assim, fica claro que os tratados internacionais, funcionam como as leis e os contratos, ou seja, definem regras jurídicas, regulando um grande número de situações jurídicas nos mais diversos campos do conhecimento. Porque os tratados internacionais são necessários? Os tratados internacionais são atos extremamente necessários, porque se revestem de obrigatoriedade. E qual é o significado disso? Significa que os tratados são documentos que vinculam as partes e geram efeitos jurídicos, sendo assim, obrigam suas partes a cumprir o que foi estabelecido. A importância dos tratados é tamanha que eles criam, modificam ou extinguem direitos e obrigações, sendo que a maioria das normas de Direito Internacional hoje em dia está consagrada nos textos dessesatos internacionais, oferecendo, dessa forma, maior clareza e segurança às relações internacionais. Fases de um tratado internacional. Como todas as outras espécies normativas (leis, emendas, decretos, etc), os tratados internacionais são concebidos através de um processo específico, o qual condiciona sua validade. Em palavras mais simples, a validade dos tratados internacionais depende da obediência às etapas necessárias à sua formação. As fases do processo de elaboração dos tratados internacionais são: 11 www.soeducador.com.br Direitos humanos Negociação: é a fase inicial do processo. Nela, as partes do acordo irão discutir e determinar seus termos. Assinatura: é o ato através do qual os negociadores chegam ao fim das negociações. Ratificação: é o ato através do qual o Estado, depois de reavaliar o acordo já assinado, afirma o interesse em concluí-lo. Entrada em vigor no âmbito internacional: a entrada em vigor do tratado no âmbito internacional acontece no dia em que é feita a última notificação de ratificação ou no dia que aconteceu a troca dos instrumentos de ratificação. Registro e Publicidade: todo tratado concluído precisa ser registrado e publicado pelo Secretário Geral da ONU, funcionado como condição final para que o tratado tenha vigência, como bem determina a Carta da ONU O que são costumes internacionais? O Estatuto da Corte Internacional de Justiça, no art. 38, define o costume internacional como “uma prática geral e aceita como sendo o direito. O costume internacional vem sendo integrado aos tratados por meio da incorporação por escrito dos preceitos dos costumes. Foi o caso da Convenção de Viena de 1961, a qual reuniu as regras costumeiras sobre as relações diplomáticas. Assim, o costume internacional é o senso comum que se tornou regra obrigatória, generalista e contínua sob uma forma de viver. 12 www.soeducador.com.br Direitos humanos Mecanismos de implementação dos Direitos Humanos no âmbito da ONU A criação da Organização das Nações Unidas, em 1945, foi cercada de grande expectativa, em especial quanto à sua atuação no campo da promoção e defesa dos direitos humanos, em vista dos vários espetáculos de violação de direitos humanos proporcionados pela Segunda Guerra Mundial. Desta forma, instituiu-se na ONU, já em 1946, a Comissão de Direitos Humanos, subordinada ao Conselho Econômico e Social. Logo em sua primeira sessão, realizada em 1947, a Comissão criou a Subcomissão sobre a Prevenção da Discriminação e a Proteção das Minorias. Além da Comissão de Direitos Humanos, que é a principal destinatária das queixas de violações dos dispositivos da Declaração Universal, outros órgãos podem receber reclamações de indivíduos em determinadas situações, citando-se, como exemplo: 1. O Conselho de Tutela, que recebe reclamações provenientes dos territórios tutelados; 2. O Comitê Especial, que tem por objetivo contribuir para a implementação das diretrizes fixadas na "Declaração sobre a Concessão de Independência aos Territórios e Povos Coloniais"; 3. O Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial, que recebe reclamações concernentes a este assunto. Isto sem falar no Comitê de Direitos Humanos, criado pelo Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e por seu Protocolo Facultativo, que será objeto de estudo em outro artigo. A Comissão de Direitos Humanos tem a incumbência de submeter propostas, recomendações e relatórios ao Conselho Econômico e Social sobre os seguintes assuntos: declarações e convenções internacionais sobre direitos civis, das mulheres, liberdade de informação e matérias similares; proteção de minorias; prevenção da discriminação com base na raça, sexo, língua ou religião; quaisquer outros assuntos relativos a direitos humanos, cabendo salientar, ainda, que coube a esta Comissão a elaboração da Declaração Universal dos Direitos do Homem, editada em 10 de dezembro de 1948. É no seio desta Comissão que se desenvolvem o que se chama de "mecanismos extra- convencionais" para a proteção dos direitos humanos: há a elaboração de um programa 13 www.soeducador.com.br Direitos humanos mínimo que os Estados-membros da ONU devem obedecer, não havendo necessidade de ser assinados Tratados ou Pactos. As queixas de violações de direitos humanos apresentadas são, segundo procedimentos próprios, ali analisadas, podendo-se ao seu final ser tomadas Resoluções que impliquem tomada de providências por parte dos Estados membros, no sentido de se evitar ou paralisar as violações denunciadas. Afora estes, há os denominados mecanismos convencionais de proteção dos direitos humanos, inseridos nos Tratados assinados ou ratificados pelos Estados, podendo-se citar especialmente o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que serão objeto de estudo em apartado. Para o desenvolvimento de seus trabalhos, a Comissão se vale dos três métodos acima explicitados: o sistema de petições, o de relatórios e o de investigações. Quanto aos relatórios, a Comissão de Direitos Humanos estabeleceu, a partir de 1956, a sua periodicidade, devendo os Estados-membros da ONU comunicar os progressos realizados em relação aos direitos humanos em cada Estado. Estes relatórios, cuja sistemática foi reformulada em 1965, são transmitidos segundo um ciclo trienal: no primeiro ano, ele deve versar sobre direitos civis e políticos; no segundo sobre direitos econômicos, sociais e culturais; e no terceiro sobre liberdade de informação. Além dos relatórios (que podem também ser feitos por agências especializadas da ONU), grupos de pessoas e entidades não governamentais podem apresentar queixas de violações de direitos humanos à ONU que consistem exatamente nas petições individuais Estas comunicações, se se referirem a casos de violações isoladas, devem obedecer ao procedimento previsto na Resolução n. 728F, de 1959. Na hipótese de as denúncias revelarem uma prática reiterada de graves violações, terão o trâmite previsto na Resolução n. 1.503, de 1970. No primeiro caso, solicita-se ao Estado acusado que se manifeste sobre a questão, transmitindo-se a resposta 14 www.soeducador.com.br Direitos humanos governamental ao peticionário Quanto ao procedimento da Resolução n. 1.503, o mesmo será estudado com mais profundidade no item abaixo. No que toca às investigações, elas serão determinadas quer em virtude de irregularidades apontadas através do sistema de petições quer quando verificadas através do sistema de relatórios, podendo-se constituir, para tanto, comissões ad hoc, que verificarão a situação in loco, isto tudo independentemente dos mecanismos convencionais de proteção dos direitos humanos. Ainda à título de introdução, há que se destacar que tendo em vista a existência de vários procedimentos internacionais de proteção dos direitos humanos — os desenvolvidos pela própria Comissão de Direitos Humanos e por diversos outros órgãos segundo Pactos assinados por Estados — torna-se muito importante o papel da ONU na coordenação das atividades voltadas para a promoção e defesa dos direitos humanos. No sistema de petições (individuais ou interestaduais — estas quando apresentam reclamações ou comunicações dos Estados), a coordenação deve ser dirigida no sentido de se evitar o conflito de jurisdição, a duplicação de procedimentos e a interpretação conflitiva de dispositivos dos vários instrumentos internacionais, tendo-se como diretriz sempre a primazia do dispositivo mais favorável aos indivíduos em questão. Quanto ao sistema de relatórios, a coordenação significa a suapadronização e a consolidação das diretrizes uniformes, quanto à forma e ao conteúdo. Quanto ao sistema de investigações, a coordenação envolve o intercâmbio regular de informações e as consultas recíprocas entre os diversos órgãos. Finalmente, há que se mencionar a existência da Corte Internacional de Justiça que é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Todas as questões relativas aos direitos humanos podem ser levadas à Corte, bastando que os Estados envolvidos aceitem expressamente a sua jurisdição. Contudo, apenas os Estados podem litigar perante a Corte. 15 www.soeducador.com.br Direitos humanos Como surgiram os direitos humanos? Podemos fazer uma primeira incursão na Revolução Americana, em que a carta Bill of Rights (ou Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos) assegura certos direitos aos nascidos no país. Entre eles, garante o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade. Assim, o governo não poderia atacar um desses direitos de alguém sem o devido processo e julgamento dentro dos parâmetros da lei. Na mesma época em que essa emenda americana foi oficialmente aceita, estourou a Revolução Francesa, em 1789, e foi redigida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. De cunho liberal e baseada nos ideais iluministas que pregavam a igualdade, a liberdade e a fraternidade, essa declaração tinha por objetivo assegurar que nenhum homem deveria ter mais poder ou direitos que outro – o que representava o ideal republicano e democrata, que à época ameaçava o Antigo Regime, no qual apenas uma pessoa concentrava poderes. Nesse primeiro momento, tanto a declaração americana quanto a francesa não asseguravam direitos amplos a todos os membros da raça humana, pois, no período, mulheres ainda não possuíam todos os seus direitos civis garantidos e ainda havia escravidão. Somente em 1948 foi publicada a carta oficial contendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual asseguraria, para todos e todas, os seus direitos básicos. A história desse documento acompanha a história do início da Organização das Nações Unidas (ONU), que iniciou suas atividades em fevereiro de 1945. Hoje, 193 países são signatários da ONU. Isso significa que, entre outras coisas, eles devem garantir em seus territórios o respeito aos direitos básicos dos cidadãos. Não há uma maneira expressa e objetiva da organização fiscalizar e regular o cumprimento dos Direitos Humanos, mas as legislações da maioria dos países ocidentais democráticos, bem como seus sistemas judiciários, recorrem aos artigos expressos na Declaração 16 www.soeducador.com.br Direitos humanos Universal dos Direitos Humanos para formularem seus textos legais e aplicarem as decisões e medidas jurídica. Declaração de Direitos da Virgínia Em 4 de julho de 1776, o Segundo Congresso Continental ocorrido na Filadélfia, Pensilvânia, aprovou a Declaração de Independência. Seu autor principal, Thomas Jefferson, escreveu a Declaração como uma explicação formal do porquê o Congresso ter votado no dia 2 de julho para declarar a independência da Grã-Bretanha, mais de um ano depois do início da Guerra Revolucionária Americana, e como uma declaração anunciando que as treze Colônias Americanas não faziam mais parte do Império Britânico. O Congresso publicou a Declaração de Independência de várias formas. Inicialmente foi publicada como um jornal impresso que foi amplamente distribuído e lido para o público. Filosoficamente, a Declaração enfatizava dois temas: os direitos individuais e o direito de revolução. Essas ideias foram fortemente apoiadas pelos americanos e também expandiram internacionalmente, influenciando particularmente a Revolução Francesa. Escrita durante o verão de 1787 na Filadélfia, a Constituição dos Estados Unidos é a lei fundamental do sistema do governo federal dos Estados Unidos e o documento de referência do mundo Ocidental. Ela é a mais antiga constituição nacional escrita ainda em uso e define os principais órgãos de governo e suas jurisdições e os direitos básicos dos cidadãos. As dez primeiras emendas da Constituição — a Declaração de Direitos — entraram em vigor em 15 de dezembro de 1791, limitando os poderes do governo federal dos Estados Unidos e protegendo os direitos de todos os cidadãos, residentes e visitantes do território americano. 17 www.soeducador.com.br Direitos humanos A Declaração de Direitos protege a liberdade de expressão, a liberdade religiosa, o direito de ter e portar armas, a liberdade de reunião e o direito de petição. Ela também proíbe busca e apreensão injustificada, punição cruel e abusiva e a autoincriminação forçada. Dentre as proteções legais que sustenta, a Declaração de Direitos proíbe que o Congresso crie qualquer lei referente ao estabelecimento de religião e proíbe o governo federal de privar qualquer pessoa de sua própria vida, liberdade ou propriedade sem o devido procedimento legal. Em processos penais federais ela exige acusação por um grande júri para qualquer crime capital ou crime de infâmia, garante um julgamento público rápido com um júri imparcial, no distrito onde o crime tenha acontecido, e proíbe dupla penalização. A Independência dos EUA teve importantes repercussões na Europa, em especial na França que ajudou com apoio militar as colônias em seu processo de separação. Os gastos dessa ajuda terminaram por deteriorar a situação política e financeira da monarquia francesa, o que, por consequência, terminou por agravar a relação entre o povo e o rei Luís XVI. Esse instável momento da França terminou por desencadear uma dos mais famosos processos revolucionários do século XVIII, a Revolução Francesa. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi anunciada ao público em 26 de agosto de 1789, na França. "Ela está intimamente relacionada com a Revolução Francesa. Para ter uma ideia da importância que os revolucionários atribuíam ao tema dos direitos, basta constatar que os deputados passaram cerca de 10 dias reunidos na Assembléia Nacional francesa debatendo os artigos que compõem o texto da declaração. Isso com o país ainda a ferro e a fogo após a tomada da Bastilha em 14 de julho do mesmo ano", explica o professor Bruno Konder Comparato, professor no Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade da Cidadania Zumbi dos Palmares. 18 www.soeducador.com.br Direitos humanos Na atual conjuntura, a importância desse documento é que foi a primeira declaração que serviu de inspiração para a Declaração dos Direitos Humanos aprova pela ONU ( Organizações das Nações Unidas). Havia urgência em divulgar a declaração para legitimar o governo que se iniciava com o afastamento do rei Luís XVI, que seria decapitado quatro anos depois, em 21 de janeiro de 1793. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (DDHC) foi um marco histórico muito importante para o mundo ocidental, pois representou a base do sistema democrático ocidental e que até hoje influencia a vida dos cidadãos, principalmente porque significa mais do que um sistema de governo, uma modalidade de Estado, um regime político ou uma forma de vida. A democracia, inserida na Declaração dos Direitos Humanos, nesse fim de século, tende a se tornar, ou já se tornou, o mais importante direito dos povos e dos cidadãos. É um direito de qualidade distinta, de quarta geração que garante aos cidadãos a liberdade conquistada através da democracia plena. Com a Revolução Francesa e a defesa dos ideais “liberté, égalité, fraternité’, houve a derrubada de um dos maisimportantes símbolos do totalitarismo francês, conhecida como A Queda da Bastilha. Foi neste momento que a Assembleia Nacional Constituinte da França aprovou, em 26 de agosto de 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. O documento, com 17 artigos e um preâmbulo dos ideais libertários e liberais da Revolução Francesa, representa um marco importantíssimo, pois foi a partir dele que outros surgiram, sempre defendendo os direitos da pessoa humana. Ela define direitos "naturais e imprescritíveis" como a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. A Declaração reconhece também a igualdade, especialmente perante a lei e a justiça. Por fim, ela reforça o princípio da separação entre os poderes. Para uma melhor compreensão, segue abaixo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. 19 www.soeducador.com.br Direitos humanos Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a segurança e a resistência à opressão. Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei. Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene. Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência. 20 www.soeducador.com.br Direitos humanos Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente reprimido pela lei. Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei. Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei. Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada. Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum que deve ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades. Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a duração. Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração. Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir e sob condição de justa e prévia indenização. 21 www.soeducador.com.br Direitos humanos O espírito da Revolução Francesa influenciou não só as nações europeias, mas diversas regiões de todo o mundo, existindo relatos de citações ocorridas no Brasil, na Conspiração Baiana de 1798, claramente influenciadas pelas mesmas ideias que fizeram sucumbir a Bastilha. Além disso, o texto da Declaração serviu de base para similares na Europa, e, integra, até hoje, o direito positivo francês, como parte integrante da sua constituição (FRANCE, 2012). A DDHC também inspirou a constituição nacional dos países, como a que vigorou na Alemanha entre o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1919, e o início do regime nazista, em 1933, período conhecido como República de Weimar. Direitos Humanos e a ONU ONU tem a tarefa de garantir a aplicação de tais direitos. Porém, a organização não pode atuar como uma fiscal ou central reguladora ordenando ações dentro dos países e dos governos. O que a ONU pode fazer é, no máximo, recomendações para que os países signatários sigam os preceitos estabelecidos no documento. 22 www.soeducador.com.br Direitos humanos Além de recomendações, são comuns ações estratégicas envolvendo os países signatários para pressionar governos para que respeitem os Direitos Humanos dentro de seus territórios, como embargos econômicos, cortes de relações comerciais, restrições em zonas de livre comércio e restrições ou cortes de relações exteriores. Direitos Humanos no Brasil Os primeiros elementos efetivos de Direitos Humanos no Brasil, surgem com a Constituição de 1934. As medidas da Constituição de 1934 que caracterizaram avanços para os Direitos Humanos foram: a) o estabelecimento da legislação trabalhista; b) o direito ao voto às mulheres; c) garantias individuais; d) direitos políticos e de nacionalidade. Porém, muitos desses direitos logo foram suprimidos, quando Vargas promulgou a Constituição de 1937 e institucionalizou a ditadura do Estado Novo no país, que durou até 1945.Os direitos civis foram ainda mais suprimidos com a imposição da Constituição de 1967, após o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart em 1964. O regime militar foi o período mais autoritário do Brasil República, marcado pela extinção de partidos políticos, pelo fechamento do Congresso Nacional e pela perseguição de direitos políticos e civis. 23 www.soeducador.com.br Direitos humanos Então foi somente com o fim da ditadura militar em 1985 que a previsão constitucional dos Direitos Humanos ganhou força no país.O período é conhecido como o processo de redemocratização do Brasil e é marcado pela promulgação da Constituição Federal de 1988, também chamada de Constituição Cidadã. Nela, os direitos e as liberdades individuais são ampliados, garantindo a inviolabilidade do direito à vida, à igualdade, à segurança e à propriedade, com base no princípio da dignidade da pessoa humana. Teoria da Lei Natural Teoriada Lei Natural ou teoria do direito natural é uma teoria que remonta ao tempo dos gregos e a grandes pensadores como Platão e Aristóteles. Teoria da lei natural é definida como a lei que afirma que humanos possuem certas leis inatas predestinadas para eles, que deixam-os determinar o que é certo e o que é errado. (Bainton 174) Esta teoria foi adaptada por filósofos religiosos para se ajustar à religião cristã. (Berkhof 114) No entanto, não era exatamente o mesmo que a original. Os pensadores clássicos foram os primeiros a definir a lei natural. Os grandes filósofos cristãos viram a teoria da lei natural e perceberam que era compatível com a sua religião. Provavelmente o mais famoso deles foi São Tomás de Aquino. São Tomás de Aquino declarou em sua Suma Teológica que Deus deu ao homem a capacidade de determinar a diferença do certo do errado pelo “Lei Eterna”. Esta lei deu a todos os seres uma tendência a fazer o que era bom ou natural. Ele passou a dizer que, ao fazer o que era certo, cada ser estava, de fato, usando a razão divina. A lei natural, de acordo com Tomás de Aquino, era a participação na lei eterna, fazendo o que era certo. (Comptons) O casamento e a procriação, por exemplo, são naturais de todos os seres. O desejo de se casar e fazer prole é um instinto inato dado por Deus. 24 www.soeducador.com.br Direitos humanos A lei natural, tanto cristã quanto secular, afirma que todos os seres humanos agem ou devem agir de determinadas maneiras e respeitar certas regras, e que estes foram predestinados por um poder divino. Os pensadores cristãos, liderados por São Tomás de Aquino, só acrescentaram que o poder divino era Deus e que, ao fazer o que era certo, estaríamos usando a razão divina. Teoria do Direito Natural O direito natural pode ser definido como aquele estabelecido por algo que se encontra em uma posição superior ao do homem, como, por exemplo, a natureza ou Deus. Tal direito é imutável e possui eficácia universal, isto é, tem validade em todo lugar. Conquanto, o direito positivo é conhecido como o pensamento que dispõe a superioridade da norma escrita sobre a não escrita (direito natural). A norma positiva é posta pelo homem, possui eficácia limitada, sendo válida somente nos locais nos quais a observa, bem como, é constantemente alterada. Os positivistas defendem que o direito positivo é o único capaz de dizer o direito, conforme menciona Tércio Sampaio Ferraz Júnior em seu livro Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão, denominação (apud MATOS, 2006, p. 189): “A tese de que só existe um direito, o positivo nos termos expostos, é o fundamento do chamado positivismo jurídico […]”. Explanadas tais reflexões, passaremos ao estudo dos fatos históricos que torneiam os referidos direitos. No período clássico, o direito natural não preponderava sobre o direito positivo. O direito natural era intitulado como direito comum, já o positivo era chamado de especial ou particular de uma determinada sociedade. Nesta época, o direito positivo se sobressaia em relação ao natural nos casos onde houvesse controvérsias entre eles, lógica resultante da máxima: o especial prevalece sobre o geral. Um exemplo disso é a obra de Sófocles, Antígona, onde o decreto de 25 www.soeducador.com.br Direitos humanos Creonte estava acima do direito natural, ou seja, do direito não escrito, posto pelos Deuses. Porém, na Idade Média, o cenário inverte, eis que o direito natural passaria a ser visto como superior ao direito positivo. O direito natural já não era mais entendido como direito comum, mas sim como a lei do próprio Deus. Ressalta-se que, mesmo encontrando-se o direito positivo numa escala inferior ao natural, o direito positivo continuava sendo considerado como uma espécie direito. Já no modernismo a situação novamente muda, uma vez que o direito positivo passa a ser conhecido como direito no sentido próprio, ou seja, todo o direito é reduzido ao positivo e o direito natural não é mais visto como um direito. Nessa esteira, o acréscimo do adjetivo “positivo” à palavra “direito” já não fazia nenhum sentido, era um pleonasmo. Assim, nasce o positivismo jurídico que nada mais é que a doutrina que alega que não existe outro direito, senão o positivo. Um dos mais notáveis jusnaturalistas foi Thomas Hobbes, que defendia com veemência que deveriam ser conferidos plenos poderes nas mãos de um único indivíduo. Defendia, também, que o três poderes - o judiciário, o executivo, e o legislativo - eram uma sorte de instrumentos nas mãos do soberano para assegurar a ordem em uma determinada sociedade. Para Hobbes, o homem sairia daquele chamado “estado natural”, efetuando um pacto imaginário, pelo qual cada um dos membros renunciaria ao seu direito natural em relação ao outro, mantendo, assim, o respeito ao pacto através de um absolutismo puro. Outro importante jusnaturalista foi John Locke, que, em sua obra denominada “Segundo tratado sobre o governo civil”, percebe o homem em um estado natural governado por três princípios novos: razão, igualdade e liberdade. Segundo o entendimento de Locke, o homem possui direitos de nascença, como a vida, a liberdade e a saúde, mas a responsabilidade de garantir esses direitos era do soberano, ou seja, o soberano deveria salvaguardar os referidos direitos. No entendimento de Locke, entre os governantes e os governados dever-se-ia criar um pacto social que seria respeitado por ambas as partes (pacta sunt servanda), pois, para Locke, a revolução nada mais seria que a falta de respeito a este pacto. 26 www.soeducador.com.br Direitos humanos Locke defendia a separação do poder legislativo do poder executivo, inclusive, com atribuições diversas, pois ele tinha como referência a situação da Inglaterra naquela época, por isso, na obra de Locke, encontramos os fundamentos do constitucionalismo e das mais modernas garantias sociais. No âmbito das reflexões políticas, o filósofo britânico idealizou um sistema que pudesse fornecer uma melhor vantagem para todos: “Lo stato mi sembra la società degli uomini costituita soltanto per conservare e accrescere i beni civili. Chiamo beni civili la vita, la libertà, l'integrità del corpo e la sua immunità dal dolore, e il possesso delle cose esterne, come la terra, il denaro, le suppellettili ecc.” (LOCKE John, Lettera sulla tolleranza, escrita em 1685 na Holanda e publicada em 1689). Desde Aristóteles e Santo Tomás de Aquino até os dias atuais, muitos conceitos e noções em torno do Direito se perderam. E muitas outras teorias triunfaram, abolindo todo o contexto do pensamento clássico do imaginário dos juristas atuais. As teorias jusnaturalistas modernas revelam-se, assim, simulacros do verdadeiro Direito Natural (VILLEY, 2005, p. 752). Apesar de utilizarem conceitos como natureza humana e razão prática, seus sentidos e contextos foram perdidos no passado. E para suprir o vazio deixado por esse afastamento, foram criados verdadeiros dogmas - como a separaçã entre valores e realidade, a redução do Direito à norma posta pelo Estado, o individualismo - dos quais é preciso, hoje, se desvencilhar. Posto isto, é percebível quais as bases teóricas tanto dos direitos previstos nas declarações de direito durante o processo de Independência dos EUA, da Revolução Francesa e em parte da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Teoria dos Direitos do Homem As origens mais remotas da fundamentação filosófica dos direitos do homem se encontram nos primórdios da civilização, conforme assinala o Código de Hamurábi (Babilônia, século XVIII a. C), o pensamento de Amenófis IV ( Egito, século XVI a. C.) filosofia de Mêncio ( China, século IV a. C. ), a República,de Platão ( Grécia, século IV 27 www.soeducador.com.br Direitos humanos (a.C.) o Direito Romano e inúmeras culturas ancestrais (Herkenhoff, 1994, p. 51). Desta forma, diferentes ordenamentos jurídicos da Antiguidade, como as leis hebraicas, estabeleciam princípios de proteção de valores humanos sob a óptica religiosa. Na Idade Média, o direito natural era identificado com o divino, visto que era tido como oriundo das Sagradas Escrituras. Esta concepção, cuja origem é o cristianismo, iniciada na patrística, com Tertuliano e Santo Agostinho sendo consolidada na escolástica, de São Tomás de Aquino. Desta concepção do direito natural como de inspiração cristã derivou a tendência permanente no pensamento jusnaturalista de considerar tal direito como superior ao positivo, pois o direito para existir não depende de estar codificado (BOBBIO, 1995, p. 25-26). Pela teoria geracional dos direitos do homem, se estuda como os direitos do homem pela análise cronológica passaram a integrar os ordenamentos jurídicos dos diversos Estados, isto é, como acontece a positivação dos direitos do homem, à priori naturais universais, em direito positivo (fases dos direitos do homem), à medida em que foram sendo reconhecidos como essenciais a uma sociedade democrática. Essas gerações, numa primeira análise, representariam a conquista pela humanidade de três espécies de direitos fundamentais, amparada nos ideais divulgados especialmente na Revolução Francesa, os quais se resumiam no lema “liberdade, igualdade e fraternidade”. Coincidentemente, cada uma dessas expressões representaria uma geração de direitos a ser conquistada. Por conseguinte, os direitos do homem se afirmaram em gerações que tratam do desenvolvimento histórico dos direitos do homem, que no entendimento de Bobbio ocorreu através de quatro gerações: 1ª Geração – Os Direitos Individuais: pressupõem a igualdade formal perante a lei e consideram o sujeito abstratamente; 2ª Geração – Os Direito Coletivos: os direitos sociais, nos quais o sujeito de direito é visto como inserido no contexto social, ou seja, analisado em uma situação concreta; 3ª Geração - os Direitos dos Povos ou os Direitos de Solidariedade: os direitos transindividuais, também chamados direitos coletivos e difusos, e que basicamente compreendem os direitos do consumidor e os direitos relacionados à questão ecológica; 4ª Geração: Os Direitos de 28 www.soeducador.com.br Direitos humanos Manipulação Genética: relacionam-se à biotecnologia e à bioengenharia, que tratam de questões sobre a vida e a morte e que requerem uma discussão ética prévia. Os direitos do homem de primeira geração representam os direitos civis e políticos. Contemplam os direitos individuais que se fundamentam no contratualismo de inspiração individualista, demonstrando claramente a demarcação entre Estado e não- Estado, o qual é composto pela sociedade religiosa e pela sociedade civil. Os direitos do homem de segunda geração surgem no século XX, como reivindicação dos excluídos a participarem do "bem-estar social" como, por exemplo, os direitos ao trabalho, à saúde e à educação, sendo o titular de tais direitos o indivíduo e o sujeito passivo o Estado, pois na interação entre governados e governantes este assume a responsabilidade de atendê-los. A segunda geração fundamenta-se no ideário da igualdade, não mais no contexto de deixar de fazer alguma coisa, e sim na exigência de que o poder público deve atuar em favor docidadão. A terceira geração de direitos do homem refere-se ao direito à paz, ao meio-ambiente ecologicamente equilibrado, à comunicação, ao desenvolvimento, aos direitos dos consumidores e vários outros direitos, sobretudo, aqueles relacionados a grupos de pessoas mais vulneráveis: a criança, o idoso, o deficiente físico etc; e não teve a sua origem a nenhuma revolução. A quarta geração dos direitos do homem se refere à manipulação genética, à biotecnologia e à bioengenharia, abordando reflexões acerca da vida e da morte, pressupondo sempre um debate ético prévio. Através dessa geração se determinam os alicerces jurídicos dos avanços tecnológicos e seus limites constitucionais. Devido ao grande desenvolvimento da biotecnologia o direito foi surpreendido por questões até aquele momento não conhecidas, tais como: quais são os limites à intervenção do homem na manipulação da vida e do patrimônio genético do ser humano? Como o direito regula a utilização das novas tecnologias genéticas respeitando os valores bioéticos? Diante dos avanços da revolução tecnológica e da nova ordem 29 www.soeducador.com.br Direitos humanos mundial, a quarta geração vem suscitando controvérsias em relação aos direitos e obrigações decorrentes da manipulação genética ou do controle de dados informatizados que muitas vezes podem ser acessados via Internet de qualquer lugar do mundo. Um assunto que merece mais reflexão no Brasil por ser ainda não muito estudado é a quinta geração de direitos do homem que trata da questão da cibernética e da Internet. Por fim, esta Declaração faz referência a novas versões ou modalidades de direitos tradicionais como a liberdade de expressão e de associação (por exemplo em comunidades virtuais), acesso à informação através de instituições públicas e provedores de serviços, educação de novas tecnologias dentre outros. A Revolução Francesa foi o marco inicial da Era dos Direitos, pois ocorreu a transformação dos súditos em cidadãos tornando possível interferirem na vida política por meio das eleições onde os cidadãos poderiam concorrer ou eleger seus representantes. Antes da Revolução o que havia era apenas uma Era dos Deveres. O que se denota da Declaração, entretanto, é a cisão que fez dos direitos do “Homem” e do “Cidadão”, na qual a expressão Direitos do Homem significa o conjunto dos direitos individuais, levando-se em conta a sua visão individualista, ao passo que o termo Direitos do Cidadão expressa o conjunto dos direitos políticos de votar e ser votado, como institutos essenciais à democracia representativa. FUNÇÃO DO ESTADO NA RESSOCIALIZAÇÃO DO PRESO A nossa Constituição Federal prevê expressamente a responsabilidade do Estado perante todos os cidadãos garantindo direitos e deveres fundamentais, todos esses direitos e deveres são estendidos também à população prisional que são inseridos no sistema penal brasileiro. Visando a não violação dos direitos que não foram atingidos com a sentença condenatória, os condenados devem ter seus direitos preservados e serem submetidos a uma integração social dentro dos estabelecimentos penais. É certo que o Estado através do sistema prisional não consegue cumprir o papel de ressocializar, pois segundo pesquisas o índice de reincidência é aproximadamente de 70%, ou seja, 07 em cada 10 presos que deixam o sistema prisional voltam ao crime (Fonte: Agência Brasil), tal porcentagem mostra quão falho é o sistema, visto que, na 30 www.soeducador.com.br Direitos humanos teoria o motivo principal da pena privativa de liberdade seria recuperação do infrator para que volte a sociedade, mesmo com tais índices o Estado vem buscando alternativas para a efetivação da função ressocializadora da pena. De acordo com a pesquisa realizada pelo International Center for Criminal Studies (ICCS), O Brasil é o país que mais encarcera no mundo. A média de encarceramento no mundo é de 144 detentos a cada 100 mil habitantes. No Brasil, essa média sobe para 300. Conforme verifica-se no mapa abaixo: (Reprodução Parcial do Estudo Raio x do sistema prisional em 2018 – Portal G1) De acordo com a Constituição Federal de 1988, em face do principio da dignidadeda pessoa humana deve ser garantido ao sentenciado sua reinserção na sociedade, sendo este um dos objetivos pilares da execução penal. Mas, a ressocialização do sentenciado só pode ocorrer se o Estado concecer mecanismos e instrumentos para que possa ser concretizado a ressocialização. Nesta esteira, cumpre destacar que uma das funções de maior relevância do Estado em relação aos presos sob sua custódia é da ideia de ressocialização, ou seja, corroborar para a reconstrução social, moral e psicológica do ser humano alvo da sanção do Estado. A reintegração social consiste em oferecer meios para que o detento tenha possibilidades e consiga sua ressocialização. O processo de ressocialização visa trazer o 31 www.soeducador.com.br Direitos humanos sentenciado de volta a sociedade por meio do trabalho e educação, e através dessas formas o detento terá sua pena reduzida e sairá do presídio com aptidões que irão lhe possibilitar auferir renda através dessas habilidades. A coordenadora do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais do Rio de Janeiro, Maíra Fernandes, explica que : “A sociedade e o Estado esperam que o preso saia e recomece a vida longe do crime, mas a ele não é dado, durante todo o tempo que permanece no cárcere, nenhuma perspectiva, muitas vezes, de estudo e de trabalho.” E diante disso, é notório que sim é possível a ressocialização do setenciado mas demandará muito tempo para chegar ao objetivo real, conforme dispõe a lei. Entretanto, existe desafios no sistema penitenciário brasileiro para ser enfrentado e conseguir que a ressocialização seja eficaz. Pesquisa realizada pelo Departamento Penitenciário Nacional22 (Depen), don Ministério da Justiça, constatou que em dezembro de 2013, cerca de 36 mil homens e mulheres ingressaram na população carcerária brasileira. Em relação aos últimos cinco anos (desde 2008) houve um aumento de quase 30%. Além dessa circunstância, temos o agravante, segundo o mesmo órgão, de que existem apenas 310.687 mil vagas nas prisões, trazendo superlotação nas celas e condições inadequadas de sobrevivência dentro delas. Como se superlotação já não fosse insuportável, o levantamento do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) ainda aponta que 68% das 1.598 unidades prisionais visitadas, entre março de 2012 e fevereiro de 2013, não distinguiam e separavam os detentos conforme natureza do delito cometido, como determina a Constituição. O próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou, em 2012, que “preferia morrer” à passar muitos anos em uma penitenciária brasileira. Diante disso, o detento precisa estar preparado para ser ressocializado, voltar a estar entre a sociedade e por mais que ele saiba que irá sair um dia do sistema prisional e até mesma a data de sua liberdade, é preciso que o Estado seja garantidor de sua ressocialização, que oferte mecanismos, instrumentos e politícas públicas para a efetivação da reinserção social do sentenciado. Além da participação do Estado, é necessário que a própria sociedade se desfasa da ideia de que o condenado deve ser excluído na sociedade, e adote o pensamento da 32 www.soeducador.com.br Direitos humanos ressocialização, garantindo que a função social da pena seja efetivamente aplicada, para que assim, o condenado esteja apto para retornar ao convívio da sociedade, saindo completamente do meio criminal existente, ainda, em forte escala, no país. Apesar das problemáticas, alguns passos já foram dados. Um exemplo disso é a criação da Associação de Proteção ao Condenado (PAC), que propõe um modelo humanizado de sistema penitenciário sem deixar de lado a finalidade punitiva das prisões. Como podemos verificar no infográfico abaixo: EDUCAÇÃO E PRISÃO: De acordo com o artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948, a educação é um direito que deve ser garantido a todos, e conforme a DUDH toda pessoa tem direito á instrução pois é fator fundamento para o pleno desenvolvimento do ser humano e para o fortalecimento dos direitos humanos e fundamentais. Além disso, a Lei de Execução Penal (LEP- Lei nº7.210/1984) prevê a educação no sistema prisional, conforme dispõe o artigo 18 da referida lei determina que o ensino fundamental é obrigatório e integrado ao sistema escolar da unidade federativa, o artigo 33 www.soeducador.com.br Direitos humanos 21 da mesma lei exige que seja implantada uma biblioteca em cada unidade prisional para uso de todos os detentos. Segundo dados do Infopen, o grau de escolaridade da população carcerária brasileira é extremamente baixo. Enquanto a média nacional de pessoas que não concluíram o ensino fundamental é de 50%, no sistema prisional 8 em cada 10 pessoas estudaram no máximo até o ensino fundamental.Em relação ao ensino médio, a taxa de conclusão na população brasileira é de cerca de 32%, enquanto apenas 8% da população prisional concluiu essa etapa de estudo. Entre as mulheres presas, essa proporção é um pouco maior, cerca de 14%. Os números apontados no Infopen sugerem aquilo que intuitivamente já se sabe: maior escolaridade é um fator protetivo contra a criminalidade. Manter os jovens na escola por pelo menos até o fim do ensino médio pode ser uma importante política para redução da criminalidade. Porque levar a educação para o sistema prisional? Através da educação irá oferecer melhores possibilidades de reinserção social, diminui a ocorrência de rebelião nos presídios promovendo atividades de interação e reflexão entre os detentos, fazendo com o que os mesmos imaginem uma vida diferente longe dos cárceres. Além disso, a educação reduz o tempo de pena consequentemente diminuindo a superlotação dos presídios. Como funciona a redução de pena, através do estudo? De acordo com a LEP ( Lei de Execução Penal) a cada 12 horas de atividade escolar o preso tem direito a um dia reduzido da pena. Se o detento conclui o ensino fundametal, ensino médio ou superior enquanto se está cumprindo a pena, será descontado o tempo em função das horas de estudo é acrescido 1/3. Além dessas modalidades de remição da pena, a leitura também reduz a pena funciona da seguinta maneira, a cada obra lida será reduzia quatro dias na pena, existe um prazo para leitura de cada obra entre 22 a 30 dias, devendo o detento apresentar uma resenha ao final de leitura. Existe um limite de 12 obras por ano. Mas, não são todos que podem participar da remição da pena através do estudo. Poderão participar: apenas os presos que se encontram em regime fechado ou 34 www.soeducador.com.br Direitos humanos semiaberto. Apesar da lei, poucos presos tem acesso á educação em 11 dos 27 estados brasileiros esse direito é negado a mais de 90% dos presos. Ainda que o Estado seja responsável por garantir a oferta de educação às pessoas privadas de liberdade, e que a legislação brasileira preveja uma série de ferramentas para levar educação a essas pessoas, na prática não é bem assim que acontece. Apesar dos incentivos legais, poucos presos têm realmente acesso à educação.De acordo com dados do Infopen, apenas uma em cada dez pessoas privadas de liberdade realiza atividade educacional no país. Ou seja, o Brasil só consegue oferecer acesso à educação formal para aproximadamente 11% de seus 622 mil presos. Um dos fatores que explicam a insuficiente oferta de educação no sistema prisional é o mau aproveitamento ou ausência total de infraestrutura para o programa. Apenas 50% das unidades prisionais brasileiras possuem salas de aula destinadas a programas de educação e em 14 estados, há mais unidades com salas de aula do que com pessoas estudando. O Infopen aponta também que apenasum terço das unidades prisionais possuem bibliotecas disponíveis, 9% apresentam salas de informática e 18% possuem salas destinadas para uso dos professores. Deve existir garantia de fundos públicos suficientes, para que as pessoas em situação de aprisionamento tenham oportunidades educativas, e essas oportunidades devem corresponder às necessidades específicas das pessoas, razão pela qual é indispensável que a oferta não seja limitada ao ensino fundamental ou vocacional, mas ampliada ao ensino médio e superior. De acordo com ( Onofre; Julião,2013) , falar em direito à educação é mais que organizar um processo de alfabetização e aquisição de noções de cálculo e, para tanto, há que se investir na formação de educadores que elaborem um projeto educativo de maneira multiprofissional, ultrapassando a perspectiva de programas temporários de educação, evitando, se possível, a superposição dos horários de trabalho-escolarização-educação não-formal. Não se trata de tomar um sujeito a ser atendido por diversas ações isoladas, mas promover um programa educativo integrado, que respeite a singularidade de cada pessoa e construa com ela, um projeto de vida. A educação é um processo global porque 35 www.soeducador.com.br Direitos humanos recolhe pedaços dispersos da vida: dá significado ao passado, oferece ferramentas para formular projetos individuais no presente, e ressignifica as perspectivas de futuro. Os Estados devem conhecer, estudar e transpor as barreiras sociais enfrentadas pelas pessoas privadas de liberdade, de modo que a oferta educativa signifique realmente uma oportunidade de liberdade em todos os sentidos. Sobre isso, Gadotti (in: Educação, 1999, p. 62) diz que “Educar é libertar [...] dentro da prisão, a palavra e o diálogo continuam sendo a principal chave. A única força que move um preso é a liberdade; ela é a grande força de pensar. ” TRABALHO E PRISÃO: De acordo com o artigo 6º da Constituição Federal, dispõe que o trabalho é um direito social garantido a todos os cidadãos. E diante disso, a LEP ( Lei de Execução Penal) no artigo 41, elenca o trabalho como um dos direitos garantidos ás pessoas privadas de liberdade. Um dos principais objetivos do trabalho no sistema carcerário é ressocializar o preso e diminuir a pena, consequentemente trazendo beneficio da redução da superlotação na prisão. A remição da pena através do trabalho está previsto no artigo 126 da LEP, dispõe que a cada três dias trabalhados o preso tem direito a um dia a menos em sua pena. Não são todos os presos que tem o direito da remição da pena por meio do trabalho, apenas os sentenciados no regime fechado ou semiaberto. O trabalho realizado pelos detentos cumpre jornada de trabalho normal de 8 horas ao dia, podendo ser realizado dentro ou fora da unidade penitenciária. Ademais, o trabalho do preso não está sujeito a Consolidação da Leis do Trabalho (CLT), mas ele irá receber remuneração não inferior a três quartos do salário minimo, sendo utilizada para reparar danos que tenha ocorrido pelo crime, assistência á família e algumas despesas pessoais. O trabalho proporciona ao condenado outros benefícios, como maior condicionamento psicológico, comprometimento social e formação da personalidade. Também ajuda a evitar o ócio, prevenindo as rebeliões e as organizações criminosas dentro das prisões. Além disso, por ser remunerado, o trabalho permite ao condenado dispor de algum dinheiro para ajudar nas necessidades da família. Conforme expressa o artigo 28 da LEP: 36 www.soeducador.com.br Direitos humanos Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva. § 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à segurança e à higiene. § 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo. § 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender: a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios; b) à assistência à família; c) a pequenas despesas pessoais; d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores. § 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade. Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas. Cristiano Cuozzo Marconatto, mestre e professor de Direito Penal e Processo Penal da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e major da Brigada Militar, explica que : “ Os detentos são plenamente assistidos no que tange á garantia de direitos inerentes á condição específica que lhes permite o acesso ao trabalho, ainda que segregados em decorrência de condenação criminal. Portanto, trata-se de questão especial onde são 37 www.soeducador.com.br Direitos humanos assistidos inerentes á condição em que desenvolvem as atividades laborativas e na qual gozam de proteção estatal, ainda que sem a manutenção de vínculo celetista.” Marconatto ainda afirma que:”O trabalho se reveste de ferramenta que irá permitir ao preso novas oportunidades e uma ocupação lícita ao deixar o sistema prisional.” Conforme estudo realizado pelo Monitor da Violência, uma parceria com o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apenas 18,6% dos presos trabalham no país isso revela uma amostragem de cada cinco presos apenas um trabalha. Levando em conta os 737.892 presos do sistema (incluindo os em regime aberto), 139.511 exercem algum tipo de atividade laboral. São 92.945 os que estudam. De acordo com Maíra Fernandes, coordenadora do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais do Rio de Janeiro e ex-presidente do Conselho Penitenciário do Estado, diz que “Como é que a pessoa vai virar a página da sua vida e recomeçar se ela não sabe um ofício, muitas vezes nunca teve um trabalho lícito antes? Sem dúvida que se houvesse nos presídios não só uma perspectiva de trabalho, mas de formação profissional, a pessoa podia sair dali já tendo meios de se reinserir no mercado de trabalho”. E acrescenta: “A população prisional é cada vez mais jovem, e dar uma oportunidade pode fazer, sim, com que esse jovem saia do mundo do crime.” Segundo o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), apenas 16% da população prisional brasileira trabalha, o equivalente a pouco mais de 106 mil pessoas. De todas das unidades prisionais brasileiras, apenas 22% possuem oficinas destinadas ao trabalho em suas instalações, a maior parte delas são de artesanato, corte e costura. Apesar da pouca quantidade de prisões com oficinas de trabalho, o Infopen aponta que boa parte das prisões dispõe de espaço suficiente para a construção de oficinas e, portanto, poderiam atender às exigências da LEP. O contrário do que muitas pessoas pensam, o trabalho só tem a trazer benefícios, pois é através dele que se adquire dignidade, pois usa do tempo ocioso que o preso tem para fazer o bem para si e até mesmo para o estado, pois ocupa sua mente e não o ocupa para atividades de cunho reprováveis (ex. fuga). Por isso é que se faz necessário observar as aptidões e capacidade dos presos. 38 www.soeducador.com.br Direitos humanos O preso é tão cidadão quanto aquele que nunca cometeunenhum crime, apesar da perda provisória de alguns direitos, ele deve apenas pagar pelo erro cometido e ser preparado para ter melhores condições de não mais comete-los. Para que haja essa preparação, a melhor escolha é utilizar os mesmos mecanismos já usados na formação do cidadão comum, ou seja, educação e trabalho profissionalizante, até por que a falta desses elementos contribui ainda mais para a ocorrência da atitude criminosa. O trabalho é uma forma de mostrar para a sociedade que o criminoso pode mudar, entretanto, precisa ser estimulado. Além de tornar útil o tempo ocioso do preso, o trabalho pode ser uma forma de cortar gastos do poder público, tendo em vista que o próprio apenado pode desenvolver atividades dentro das penitenciárias a fim de evitar serviços terceirizados, o que seria uma grande solução para os infinitos gastos com o excesso de presidiários Entretanto, o sistema penitenciário brasileiro possui diversas falhas e ausência de aplicação efetiva das leis e políticas públicas direcionadas aos detentos. E diante disso fica a indagação do doutrinador Grecco: Como o Estado quer levar a efeito o programa de ressocialização do condenado se não cumpre as funções sociais que lhe são atribuídas pela Constituição Federal? De que adianta ensinar um ofício ao condenado durante o cumprimento de sua pena se, ao ser colocado em liberdade, não conseguirá emprego e, o pior que, muitas vezes voltará ao mesmo ambiente que lhe propiciou o ingresso na “vida do crime”? O Estado não educa, não fornece habitação para a população carente e miserável, não se preocupa com a saúde de sua população; enfim, é negligente em todos os aspectos fundamentais para que se preserve a dignidade da pessoa humana (GRECCO, 2009, p. 150). Conclusão Diante do que foi estudado ao longo do curso, depreende-se que os direitos humanos transformam as pessoas em cidadãos. E ser cidadão, o que é? É participar da sociedade, 39 www.soeducador.com.br Direitos humanos é saber dos seus direitos, é cobrar seus direitos, cumprir deveres e respeitar os direitos do outro. E esses direitos são garantidos através das leis, da constituição e da declaração dos direitos humanos, promovendo direitos a todos, sem distinção de classes, de raça, cor, etnia e condição sexual. A DUDH é formada por 30 artigos que versam sobre direitos inalienáveis – tanto individuais, quanto coletivos – que, em conjunto, deveriam assegurar a liberdade, a justiça e a paz mundial. Há de se lembrar que esse documento foi redigido após o mundo passar por uma guerra perversa, marcada pela brutalidade genocida de regimes fascistas. Entre outros direitos, esse conjunto de artigos declara o direito à vida, o direito a não ser escravizado, não ser preso ou exilado de forma arbitrária, o direito de contar com a presunção da inocência e ser tratado com igualdade perante as leis e o direito à privacidade e à livre circulação, incluindo a imigração. Também ficam declarados, nesse mesmo documento, os direitos à livre expressão política e religiosa, e à liberdade de pensamento e de participação política. O lazer, a educação, a cultura e o trabalho (exercido livremente e remunerado de forma a garantir um vida digna a família do trabalhador) também são declarados como direitos humanos fundamentais. A DUDH não tem força de lei, mas a partir dela se formularam uma série de constituições e tratados internacionais mais específicos – voltados aos direitos das crianças, ao combate a tortura e a discriminação racial e de gênero, por exemplo. No Brasil há uma porção de organizações que se articulam em torno da defesa e promoção dos direitos humanos. A atuação dessas instituições foi importantíssima na denúncia dos crimes cometidos pelo regime militar. Hoje, elas continuam essenciais no debate público sobre a violação desses direitos, que atinge, especialmente, grupos socais mais vulneráveis. Características dos direitos humanos Conheça as principais características dos direitos humanos: - a sua principal função É garantir a dignidade de todas as pessoas, 40 www.soeducador.com.br Direitos humanos - são universais: são válidos para todas as pessoas, sem qualquer tipo de discriminação ou diferenciação, -são relacionados entre si: todos os direitos humanos devem ser aplicados igualmente, a falta de um direito pode afetar os outros, - são indisponíveis: significa que uma pessoa não pode abrir mão dos seus direitos, - são imprescritíveis: significa que os direitos humanos não têm prazo e não perdem a Validade. Os direitos humanos são tratados em várias leis, convenções, acordos e tratados internacionais. Além da existência de leis sobre o assunto, é dever de cada Estado ter as suas próprias leis que garantam que os direitos humanos serão respeitados e colocados em prática. Conheça algumas leis que tratam dos direitos humanos: 1948 - Declaração Universal dos Direitos Humanos 1988 - Constituição Federal 1989 - Lei que criminaliza o racismo 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 1993 - Lei do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) 1996 - Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH I) 2002 - Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II) 2003 - Reconhecimento do direito à moradia digna como direito humano 2003 - Estatuto do Idoso 2006 - Lei Maria da Penha 41 www.soeducador.com.br Direitos humanos 2008 - Resolução da Assembleia Geral da Organização dos Estados da America (OEA): Direitos Humanos, Orientação Sexual e Identidade de Gênero 2009 - Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH III) 2010 - Estatuto da Igualdade Racial 2011 - Resolução da Orgaização das Nações Unidas (ONU) - Livres e Iguais 2013 - Estatuto da Juventude 2014 - Marco civil da Internet de 2014 - Lei 12.965 2015 - Lei do Feminicídio 2015 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência 2017 - Lei de Migração - Lei 13.445 de 2017, que revogou o Estatuto do Estrangeiro 2018 - Lei sobre a proteção de dados pessoais - nº 13.709 A Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, define quais são os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos. Veja alguns: - igualdade de direitos e deveres entre mulheres e homens, -proibição de tortura e tratamento desumano, -liberdade de pensamento, de crença e de religião, - proibição de censura, - proteção da intimidade, vida privada, honra e imagem, -sigilo telefônico e de correspondências, -liberdade de escolha de profissão, - liberdade de locomoção dentro do país, - direito de propriedade e de herança, - acesso garantido à justiça, 42 www.soeducador.com.br Direitos humanos - racismo, tortura e tráfico de drogas são crimes inafiançáveis, -proibição de pena de morte, - nenhum brasileiro pode ser extraditado. Ainda que existam várias leis que tratem dos direitos humanos, é importante saber que eles não são limitados ao que é previsto na lei. Outros direitos podem ser incluídos como direitos humanos com o passar do tempo e de acordo com as necessidades, com as transformações sociais e com o modo de vida da sociedade. Resumo -Os Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos e inalienáveis. -Garantem direitos básicos a todos os membros da espécie humana. -Seus primeiros reconhecimentos ocorreram na Revolução Americana e na Revolução Francesa. -Foram oficializados, no século XX, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU. -Possuem como objetivo garantir direitos fundamentais, como a vida, a liberdade, a saúde e a segurança das pessoas, bem como o direito à defesa e ao justo julgamento a quem seja acusado de um crime. 43 www.soeducador.com.br