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BOMENY, Helena. Três decretos e um ministério: a propósito da educação no Estado Novo. In: PANDOLFI, Dulce (org). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999. 1) Militarizando o pensamento: · Durante o Estado Novo, houve a associação entre a educação e a segurança nacional, de modo que o Exército interveio constantemente em questões referentes à educação, buscando barrar a propagação de doutrinas “perigosas” à defesa da nacionalidade. · A educação passou a ser vista como um instrumento de mobilização controlada: a população deveria possuir um pensamento militar, embebido pela preocupação com a conservação da nação e de preparação civil da população. · Havia uma preocupação estatal de integrar a juventude a esse processo, contudo, ela devia ser cautelosa, deveria haver sua militarização sem o risco de ela se mobilizar contra o próprio Estado. 2) Mobilizando a juventude: · O projeto e mobilização da juventude tem como objetivo prepara-la aos novos princípios político-ideológicos regentes do novo Estado (totalitário) que surgia. · Teve inspiração nas organizações de juventude fascistas. · Deveria haver a aceitação total por parte da população do Estado Novo, tal aceitação deveria ser imediata, não comtemplada pelo exercício crítico e racional, mas sim pela total submissão ao governante, cujo caráter carismático sustentaria seu governo totalitário. · A propaganda foi muito utilizada para atingir esses objetivos. 3) Jovens em marcha: · Organização Nacional da Juventude: organização paramilitar fracassada de inspiração fascista. Não tem vinculação com o Ministério da Educação e da Saúde, mas sim com o da Justiça. · Seu objetivo era difundir nos jovens a disciplina, a educação militar, o patriotismo e o nacionalismo. · Juventude Brasileira: adaptação da ONJ em bases cívicas e moralizantes, junto ao Ministério da Educação, agora sob o ministério de Capanema. 4) Nacionalizando o ensino: · O projeto político do Estado Novo buscava a construção da identidade nacional brasileira em consonância com os princípios do novo regime que surgia. Assim, havia aquilo que era nacional e aceitável, e aquilo que era estrangeiro ou regional e, consequentemente, uma ameaça à pátria. · Como solução, ocorreria a padronização do ensino e a defesa da sua unidade, além disso, haveria tentativas de homogeneizar a população (“questão da nacionalização”). · O grupo alemão, por ser o mais fechado, foi acusado pelas autoridades governamentais de impedir o processo de nacionalização. 5) Os núcleos estrangeiros: · O governo não promoveu uma política de aculturação eficiente para que os grupos estrangeiros se desvinculassem de suas tradições. · O contexto da guerra fortaleceu a convicção de que medidas drásticas deveriam ser tomadas para impedir a infiltração no país de doutrinas e pensamentos que ameaçassem a nacionalização e a segurança nacional. · O Estado, autoritário e centralizador, reprimiu violentamente essas manifestações relacionadas a um nacionalismo estrangeiro dentro do país. · Conflitos entre o Estado e a Igreja surgiram, visto que essa defendia a manutenção dos núcleos estrangeiros, uma vez que eles facilitavam a adoção e a difusão da doutrina católica. Assim, o projeto nacionalizador do Estado estaria ameaçado. 6) Reformando a juventude: · No ensino secundário, as disciplinas também seriam marcadas pelo sentido patriótico e moral, além de ter um caráter e tornar os adolescentes aptos a cursos profissionalizantes de diferentes tipos. · As escolas secundárias estariam vinculadas à Juventude Brasileira e suas atividades cívicas seriam obrigatórias. · Havia a necessidade das lideranças políticas, pedagógicas e religiosas de politizar os jovens segundo a concepção do Estado Novo de democracia, a qual seria a totalidade homogênea, a comunhão e a integração absoluta do cidadão ao Estado, de modo que as diferenças devem ser vistas como ameaças à sua unidade.