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manual de bons costumes e virtudes burguesas

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O manual de bons costumes e a virtude burguesa
Esta aula tem o objetivo de abordar os aspectos culturais e comportamentais do Ocidente entre os séculos XVII e
XIX.
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1.Os manuais
Desde o século XVIII, com a popularização dos livros,
principalmente na Inglaterra, diversos gêneros textuais e
literários foram se desenvolvendo. Um deles, que era o best-
seller da época, foram os manuais de conduta, ou seja, livros que
serviam para ensinar as regras sociais e reforçar as convenções
estabelicidas.
Os manuais de bons costumes eram meios pelos quais um
indivíduo podia aprender e então demonstrar comportamento
apropriado às suas relações sociais. Era bastante similar ao livro
de etiqueta, tanto que alguns críticos usam os dois termos de
forma intercambiável. No entanto, manuais de bons costumes
tendiam a ter um foco na melhoria do caráter humano por meio
do desenvolvimento da honestidade, fidelidade, modéstia, e
outras virtudes, e na demonstração do caráter na maneira de se
vestir, nos bons modos, no desenvolvimento intelectual e no
treinamento da governança doméstica.
Por outro lado, existiam também os livros de etiqueta, os quais
tendiam a ter foco no comportamento em si, e em situações
sociais específicas, frequentemente superficiais, como a
participação em bailes e no estabelcimento de laços sociais
(amizade, namoro). O manual de governança doméstica era
NESTE TÓPICO
 1.Os manuais 
 2. Exemplos 
 Referências 

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também um tipo de literatura comportamental, que oferecia
informações práticas em assuntos como o cuidado com crianças,
culinária, limpeza e jardinagem, especialmente oferecendo
conselhos pensados para fortalecer o gerenciamento de um lar,
da maneira que então se considerava apropriado.
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Politeness#/media/File:Joseph_Highmore_-_A_Club_of_Gentlemen_-
_Google_Art_Project.jpg
Apesar de ser principalmente direcionado às mulheres, os
manuais de bons costumes foram escritos também para os
homens e crianças. A literatura comportamental, apesar de datar
já da Idade Média, se tornou popular em meados do século XVI,
com o crescimento da alfabetização e do comércio de livros
impressos. Livros de cortesia, uma forma de manual de bons
costumes escritos desde a Renascença até meados do século
XVIII, foram escritos primeiramente para homens, como guias
para maneiras apropriadas para negócios públicos e na corte.
Antigos livros de costumes foram escritos, em sua maioria, por
homens, e ofereciam instruções de como se comportar na corte e
em situações sociais: como se casar sabiamente, como gerenciar
um lar, e como ser uma boa esposa e mãe. Por volta do final do
século XVII, uma nova forma de literatura de costumes -
periódicos direcionados às mulheres - foi desenvolvida na Grã-
Bretanha. O conteúdo dessas publicações era muito similar
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daquele dos livros de bons costumes, com foco na promoção da
“melhoria” e “virtudes” das mulheres. Porém, como não era no
caso com os livros de conduta social, as mulheres tiveram um
papel ativo na produção desses periódicos.
Em 1774, Philip Dormer Stanhope, Lord Chesterfield publicou
Letters Written by the Late Right Honourable Philip Dormer
Stanhope, Earl of Chesterfield, to his Son Philip Stanhope, Esq.,
considerado um precursor dos livros de etiqueta. Muito popular e
influente na Grã-Bretanha e posteriormente, no começo do
século XIX, na América do Norte, ele tinha foco nas graças
mundanas e superficiais. Moralistas criticaram o livro de Lord
Chesterfield como imoral. Em reação a isso e a outras influências
“corruptoras” do final do século XVIII, evangélicos como Hannah
More começaram a escrever, energicamente, livros de bons
costumes para manter o ideal conservador de boas maneiras e
morais. Livros de bons costumes escritos por evangélicos ou
outros, continuaram a defender a ideologia de boas maneiras e
morais e continuaram a ser escritos até a segunda metade do
século XIX, mas começando nos anos 1830, foram lentamente
substituídos na Grã-Bretanha por livros de etiqueta. Os livros de
bons costumes conquistaram grande popularidade na Grã-
Bretanha entres os anos 1770 e 1830, e na América do Norte,
ambos livros de etiqueta e de bons costumes se tornaram
bastante populares no final dos anos 1820. A proliferação de
livros de bons costumes na América do Norte foi, como na Grã-
Bretanha, parcialmente devido ao medo que a sociedade tinha de
se afastar dos valores tradicionais cristãos. Estudiosos notaram
que mulheres americanas pioneiras, particularmente, apreciavam
os manuais de governança doméstica e outras literaturas
comportamentais porque elas eram frequentemente retiradas das
suas famílias muito cedo e precisavam de informação. Tanto
como na Grã-Bretanha e na América do Norte, livros de bons
costumes e de etiqueta foram escritos por e para membros da
classe média.
A crítica acadêmica desta literatura tende a se focar nas suas
ideologias de gênero e de classe. Os livros de bons costumes
adotaram o valor da educação e do desenvolvimento das
mulheres, mas estritamente dentro dos limites de seu próprio
papel; o objetivo era que sua melhora faria dela uma melhor
esposa, mãe e dona de casa.
Enquanto poucos exemplos de literatura comportamental
feminista existiam - como o The Duties of Women (1881) de
Frances Cobbe, com conselhos às mulheres para que cultivassem
as virtudes tradicionalmente “masculinas”, como encorajamento
e auto-estima, além das virtudes tradicionais “femininas”, e o
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Household Education (1849) de Harriet Martineau, que sugere
que garotas e garotos não precisam ter diferenças educacionais -
livros de bons costumes não adotavam ideias progressivas.
No entanto, eles enfatizavam o papel da mulher, exaltando a
importância do lar como um oásis tranquilo e seguro em um
mundo duro, e tiveram papel no desenvolvimento do “culto ao
doméstico”, que floresceu na era vitoriana. Livros de bons
costumes, mantendo seu foco na virtude moral, estavam
despreocupados com status de classe, ou seja, se apresentavam
como normas a serem seguidas por qualquer segmento da
sociedade. Mas tal sociedade tinha expectativas baseadas em
classes para o comportamento, sendo essas mais complexas e
rigorosas no começo do século XIX, quando membros da nova
burguesia rica progressivamente circulava entre os espaços da
classe mais rica. O desenvolvimento do livro de etiquetas nos
anos 1830 proporcionou os meios de codificar os
comportamentos apropriados baseados nas classes. Livros de
etiqueta proporcionaram ao leitores com um guia para aumentar
seus status social, e também serviram para solidificar as noções
de diferenciação das classes sociais. A etiqueta cada vez mais se
tornava um método de excluir ambiciosos indesejáveis. Assim, a
literatura comportamental proporciona aos leitores de hoje em
dia um vislumbre de como a sociedade se definiu e definiu seus
valores através do tempo.
2. Exemplos
2.1. O livro de etiqueta e manual de educação para cavalheiros,
por Cecil B. Hartley.
Este manual de bom costume, primeiramente publicado em 1860,
era direcionado aos homens na nova sociedade emergente, como
industriais, administradores públicos e profissionais liberais. O
manual traz a sociabilidade como algo natural ao homem e que a
verdadeira felicidade só seria possível vivendo em sociedade.
O autor fala sobre a palavra “sociedade” e discorre sobre seus
diferentes significados e escalas, e convence ao leitor que este
manual seria capaz de transformar o homem normal em um
homem ajustado aos valores universais da sociedade moderna e
pronto para participar de qualquer evento social,com quaisquer
membros da sociedade, de maneira fácil e prazerosa.
O manual aconselha que um homem jovem deve saber escolher
seus amigos e como se aproximar e se relacionar com eles. Diz
que a experiência é, sem dúvidas, o melhor guia, mas para o
começo da vida em sociedade a ajuda pode vir de um amigo mais
velho, ou dos livros.
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Segundo o manual, um livro não pode substituir totalmente a
experiência ou a ajuda de um amigo, mas ainda assim pode ser
muito útil, se for escrito cuidadosamente por senhores mais
velhos da sociedade, para jovens aspirantes aos círculos sociais
refinados.
Um homem procura vida social, diz o manual, por diferentes
motivos, como o prazer e recreação após um dia de trabalho
cansativo, e também para se tornar conhecido. Diz ainda, que a
ambição é o principal fator que pode levar o homem a crescer na
sociedade, pois esta “virtude” se faz necessária “em um país
republicano onde todo homem tem as mesmas oportunidades.”
Para o manual, as boas maneiras são vias de duas mãos. "O jeito
que você trata o mundo será como o mundo te tratará." Quando
nos círculos sociais, o homens tem maneiras refinadas e
educadas, e uma “vontade amável de ser agravável”, a sociedade
o receberá com sorrisos graciosos e o levará de maneira
prazerosa por caminhos afortunados. Do contrário, se é um
homem rude, que carrega apenas as realidades duras da vida, a
sociedade o irá lhe oferecer os caminhos mais tortuosos e difíceis
durante a vida.
Durante seus capítulos, o manual traz sugestões sobre a maneira
de falar e se portar, oferecendo uma lista de regras de etiqueta à
mesa, e também de como se comportar na rua. Traz também uma
lista de regras de etiqueta para visitas, para bailes e festas e para
quando se vai a igreja. Oferece também sugestões sobre a
maneira de se vestir, como se comportar em viagens, sobre a
cortesia em casa, de como escrever cartas, sobre casamentos, e
para lugares de diversão. E ainda, uma lista de exercícios para
praticar essas boas maneiras.  
 
ATIVIDADE 1
ATIVIDADE: tomando os exemplos dados no livro, reflita sobre
quais dessas dicas ainda estão parecidas com as regras sociais de
atualmente e quais parecem estar obsoletas.
Você pode ter acesso ao livro no link gratuitamente no Projeto
Gutenberg, no link:
http://www.gutenberg.org/ebooks/39293?msg=welcome_stranger
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Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/1860s_in_Western_fashion#/media/File:1862-vienna-fashions.jpg
2.2. O livro de etiqueta e manual de educação para damas, de
Florence Hartley.
Este manual também foi originalmente publicado em 1860 e
tinha como objetivo orientar a juventude feminina às boas
maneiras em sociedade e a boa condução de seus lares e famílias.
A autora coloca como primeira regra a seguinte: “Faça com os
outros como você gostaria que outros fizessem com você.”, pois
damas não gostariam de serem tratadas de forma rude. A
verdadeira educação cristã seria o resultado de um
posicionamento social humilde, que se preocupa com os
sentimentos dos outros, através do exercício das regras de
etiquetas nos diversos eventos sociais.
As boas maneiras consistem, segundo o manual, na atenção às
formas e às cerimônias, que têm o propósito de agradar aos
outros e a si mesmo, e fazer com que os outros tenham prazer
com a sua presença. A boa educação seria a prática diária de boas
ações, com gentileza, pureza, amor e sensibilidade. Aqui nota-se
uma diferença entre o manual do homem, que o encoraja a ser
ambicioso para crescer na sociedade, enquanto a mulher é
reservada para ser gentil aos outros, com delicadeza e pudor.
A autora, lembra como as boas maneiras são, às vezes,
consideradas máscaras que escondem paixões e impulsos mal
intencionados e criam uma imagem de posse de virtudes que na
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verdade não existem, mas ela repele esse tipo de pensamento,
pois se trataria de hipocrisia e dissimulação. E ainda, diz às
leitoras para não acreditarem nisso,   pois quem diz isso estaria
praticando a fraude, ato deveras condenável.
Segundo o manual, a boa educação é a linguagem de um bom
coração, que só poderia ser gentil em todas as circunstâncias. Um
bom coração poderia errar algumas regras de etiquetas, mas
nunca faria mal a outrem. Portanto, o que uma moça de bom
coração precisaria, seriam as regras de boa convivência e
etiqueta, para se transformar de uma pessoa boa e gentil, em
uma “lady”.
Para a autora, a etiqueta é algo presente, de alguma maneira, em
todos os países, e é atemporal, existirá em todas as gerações. É
algo natural ao ser humano, assim como, sua vida em sociedade.
Mas que irá mudar de acordo com o local e tempo em que se
inserir.
Durante seus capítulos, o manual traz sugestões sobre a maneira
de falar e se vestir, como se comportar em viagens e em hotéis.
Sobre festas, como ser uma boa anfitriã e também uma convidada
educada, o mesmo para visitas, bailes, recepções e jantares.
Oferece também uma lista de regras para etiqueta à mesa, e de
como se comportar na rua. Sugestões sobre comportamento
educado e bons hábitos, sobre como escrever cartas, sobre como
se comportar em lugares de diversão e na igreja. Um capítulo
sobre como se portar no seu casamento, outro sobre etiqueta da
noiva. E ainda, dicas sobre saúde.
ATIVIDADE 2
Da mesma forma que fez com o manual para cavaleiros, escolha
algum dos temas tratados pela autora do manual e compare as
regras sociais do século XIX e as atuais. O que mudou, e o que
continua igual.
Podem ter acesso ao manual no link:
http://www.gutenberg.org/ebooks/35123
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Referências
HARTLEY, Cecil B. "The Gentlemen¿s Book of Etiquette and Manual of Politeness." G. W.
Cottrel, Boston, 1860.
HARTLEY, Florence. "The Ladies¿ Book of Etiquette, and Manual of Politeness." G. W.
Cottrel, Boston, 1860.
WHITAKER , Russel (ed.). "Conduct Books in Nineteenth-Century Literature. Introduction."
Nineteenth-Century Literary Criticism. Vol. 152. Gale Cengage 2005. Disponível em:
http://www.enotes.com/topics/conduct-books-nineteenth-century-literature#critical-
essays-introduction. Acessado em 27/04/2017.
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