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Epidemiologia_do_Traumatismo_Raquimedula

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Original
J Bras Neurocirurg 22 (2): 26-31, 2011Pereira CU, Jesus RM - Epidemiologia do Traumatismo Raquimedular
Epidemiologia do Traumatismo Raquimedular 
Epidemiology of spinal injury in Aracaju. A prospective series.
Carlos Umberto Pereira1
Rafaela Mota de Jesus2
SINOPSE
Objetivo: Avaliação epidemiológica de 120 casos de trauma-
tismo raquimedular. 
Métodos: Estudo prospectivo, transversal e descritivo, baseado 
na análise dos prontuários de pacientes com diagnóstico de 
traumatismo raquimedular em 2010 no hospital público de 
Sergipe (HUSE). 
Resultados: O gênero masculino foi o mais acometido, 106 
(88,3%) casos; predomínio etário de 21 a 30 anos em 35% 
dos casos. O segmento mais acometido foi o cervical com 58 
(48,3%), seguido do torácico 31 (25,8%) e lombar 31 (25,8%). 
Acidente automobilístico foi a etiologia de maior prevalên-
cia, com 49 (40,8%), seguida por ferimento por arma de fogo 
(FAF) 33(27,5%), quedas em geral 28 (23,3%); ferimento por 
arma branca(FAB) 5(4,2%), mergulho em água rasa 4 (3,3%) 
e agressão física 1 (0,8%). O período médio de internação foi 
de 23 dias e 10% dos pacientes foram a óbito. 
Conclusão: Os pacientes são na maioria, jovens, sexo mas-
culino e faixa etária predominante de 21 a 40 anos. Houve 
uma grande prevalência de acidentes automobilísticos segui-
dos por FAF. Podemos concluir que a informação, educação 
e conscientização são os principais fatores que podem levar à 
redução deste tipo de trauma. 
Palavras-chave: Traumatismo raquimedular, Epidemiologia, 
Prevenção.
ABSTRACT
Objective: Epidemiological study of 120 cases of spinal cord 
injury. 
Methods: Prospective, descriptive and cross-sectional study, 
based on analysis of patients records diagnosed with spinal 
cord injury in 2010 at the public hospital of Sergipe (HUSE). 
Results: Men were involved in 106 cases (88.3%) and 14 
were women (11.7%); Prevalent age was 21 to 30 years ( 35% 
of cases ). The most affected segment was the neck with 58 
(48.3%), thoracic 31 (25.8%), lumbar segment 31 (25.8%). 
Motor vehicle accidents were the most prevalent etiology, with 
49 (40.8%), followed by gunshot wound injury 33 (27.5%), 
falls in general 28 (23.3%); other perforating injuries 5 (4.2%), 
shallow water diving (3.3%) and assault (0.8%). The average 
period of hospitalization was 23 days and mortality rate was 
10%. 
Conclusion: Patients are usually 21 to 40 years-old young 
males. According to the etiology, there was predominance of 
motor vehicle accidents followed by gunshot wounds. Educa-
tional campaigns for information and awareness are the main 
factors that can lead to reducing this type of trauma.
Key-words: Trauma, Spinal injury, Epidemiology, Prevention.
Recebido em 16 de janeiro 2011, aceito em 8 de março de 2011
1 - Professor Doutor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe. Aracaju – Sergipe.
2 - Acadêmica de Medicina da Universidade Federal de Sergipe. Aracaju – Sergipe
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Original
J Bras Neurocirurg 22 (2): 26-31, 2011Pereira CU, Jesus RM - Epidemiologia do Traumatismo Raquimedular
Introdução
O traumatismo raquimedular (TRM) compreende as lesões dos 
componentes da coluna vertebral em quaisquer porções: óssea, 
ligamentar, medular, discal, vascular ou radicular28. Ao acometer 
pessoas jovens e economicamente ativas, o TRM acaba inter-
rompendo a atividade profissional desse individuo, modificando 
o seu cotidiano e gerando um alto custo para a sociedade.
O coeficiente de incidência de lesão medular traumática no Bra-
sil é desconhecido e não existem dados precisos a respeito da 
sua incidência e prevalência, uma vez que esta condição não é 
sujeita à notificação10,29. Os dados epidemiológicos são baseados 
em estimativas onde é possível verificar grande variedade da in-
cidência do TRM de país para país. No Brasil, estima-se que o 
coeficiente de incidência de lesão medular no Brasil é de 71 no-
vos casos por milhão de habitantes/ano21. O conhecimento sobre 
dados epidemiológicos referentes à doença é fundamental para 
se propor medidas de prevenção e concentrar recursos técnicos e 
humanos em serviços de referência ao atendimento e tratamento 
desses pacientes21.
Os TRM são freqüentes e diversificados quanto ao sexo, idade, 
causas, nível da lesão e à gravidade do trauma. Dentre as princi-
pais causas de TRM, destacam-se os acidentes automobilísticos, 
queda de altura, acidente por mergulho em água rasa, ferimentos 
por arma de fogo (FAF) e ferimento por branca (FAB)25.
Cerca de 8,6% dos leitos dos hospitais brasileiros são ocupados 
por pacientes portadores de lesão medular. Os pacientes com 
lesão medular constituem um gasto monetário adicional para o 
sistema de saúde não só na fase de cuidados agudos, mas tam-
bém nos primeiros anos seguintes ao trauma9. Nos EUA estima-
se o custo em 9,7 milhões de dólares por ano35. Em um estudo de 
coorte prospectivo de base populacional, Johnson e col18 relata-
ram gastos por paciente de quase 200.000 dólares durante os pri-
meiros dois anos após a lesão ,quando incluídos o atendimento 
domiciliar, serviços médicos e complicações secundárias. 
Em virtude do grande impacto socioeconômico dessa doença, 
objetivamos realizar um levantamento epidemiológico dos pa-
cientes vítimas de TRM no hospital público de Sergipe (HUSE), 
segundo a idade, sexo, causa, nível da lesão, período de interna-
ção e óbito, visando um conhecimento mais preciso do grupo 
de risco e das causas do TRM, afim de que se possa não apenas 
tratar e reabilitar, mas também permitir o direcionamento dos 
trabalhos de prevenção primária.
PacIentes e Métodos
Delineamento do Estudo
O presente estudo é prospectivo, transversal e descritivo, ba-
seado na análise de 120 pacientes vítimas de traumatismo 
raquimedular ( TRM ) e submetidos a exames de radiografia 
simples da coluna vertebral, tomografia computadorizada (TC) 
e/ou ressonância magnética (RM), durante o período de janei-
ro de 2010 a dezembro de 2010, no serviço de Neurocirurgia 
do Hospital de Urgências de Sergipe ( HUSE) localizado em 
Aracaju- Sergipe.
Pacientes e Métodos 
Os dados foram coletados a partir da análise dos prontuários 
dos pacientes, visando desta forma excluir a necessidade de 
termo de consentimento livre esclarecido. Na análise dos pron-
tuários selecionaram-se apenas os que apresentavam diagnós-
tico de TRM. Dessa forma, levou-se em conta as seguintes va-
riáveis: sexo; idade; causas do acidente; segmento acometido; 
período de internação e óbito.
Análise Estatística 
Foi utilizado o programa SPSS Statistics versão 17.0 como 
banco de dados para obtenção das frequências relativas e ab-
solutas, além do teste não paramétrico Qui-quadrado (X2), 
com nível de significância p <0,05, aplicado no cruzamento 
de algumas variáveis: idade-sexo, causa-sexo, segmento-sexo, 
causa-idade, segmento-idade, causa-segmento, período de in-
ternação-segmento, óbito-segmento.
resultados
Dos 120 pacientes avaliados, 106 (88,3%) era do sexo mascu-
lino e 14 (11,7%) feminino. A idade dos pacientes variou de 6 
a 80 anos, sendo a média de 34,5 ± 15,02. Predomínio etário de 
21 a 30 anos em 35% dos casos. O segmento mais acometido 
foi o cervical com 58 (48,3%) seguido do torácico 31 (25,8%) 
e lombar 31 (25,8%).
Na relação idade-sexo, notou-se que a maioria dos pacientes 
do sexo masculino encontrava-se na faixa etária de 21-40 anos 
(57,5%), enquanto o sexo feminino concentrou-se na faixa etá-
rias 41-50 anos (28,6%) (Tabela 1).
Acidente automobilístico foi a principal causa, com 49 (40,8%), 
seguida por ferimento por arma de fogo 33(27,5%), quedas em 
geral28 (23,3%); ferimento por arma branca 5 (4,2%), mergulho 
em água rasa 4 (3,3%) e agressão física 1 (0,8%). Na relação 
causa-sexo, notou-se que 42,9% do TRM do sexo feminino fo-
ram decorrentes de acidente automobilístico, enquanto os do 
sexo masculino foi de 40,6%. No sexo masculino a segunda 
etiologia de maior prevalência foi por arma de fogo (28,3%), 
enquanto no sexo feminino foi de quedasem geral (35,7%) 
(Tabela1).
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Analisando-se o segmento afetado, 50,9% dos casos do sexo 
masculino tiveram comprometimento em nível cervical, en-
quanto no sexo feminino 28,6%. Observou-se que na maio-
ria dos TRM no sexo feminino houve comprometimento do 
segmento torácico ( 42,9% ), enquanto no sexo masculino foi 
23,6%. O segundo segmento mais comprometido no sexo mas-
culino foi o lombar 25,5%, já no sexo feminino existiram o 
mesmo número de casos para os segmentos cervical e lombar 
28,6% (Tabela 1).
Quanto à relação entre idade-causa, notou-se que as principais 
causas que acometeram pacientes entre 0-20 anos foram: FAF 
(47,1%) e acidentes automobilísticos (35,3%). Em indivídu-
os na faixa etária 21-30 anos, os acidentes automobilísticos 
(45,2%) e FAF (35,7%). Na faixa etária de 31-40 anos, as prin-
cipais causas foram acidentes automobilísticos (41,7%) e FAF 
(29,2%). Na faixa etária 41-50, os acidentes automobilísticos 
(45,5%) foram a primeira causa seguida por quedas (36,4%). 
Nos indivíduos na faixa etária 51-80 anos ocorreu uma inver-
são, havendo predomínio das quedas (60%), seguida por aci-
dentes automobilísticos (26,7%) (Tabela 2).
Analisando-se a relação segmento-idade, na faixa etária de 
0-20 houve igualdade no comprometimento tanto a nível cer-
vical como torácico, com 41,2%. O comprometimento no seg-
mento cervical na faixa etária 21-30 anos foi de 47,6%, 54,2% 
na faixa etária de 31-40, 50% na faixa etária de 41-50 e 46,7% 
na faixa etária de 51-80. O segmento torácico foi mais acome-
tido na faixa etária de 0-20 anos com 41,2%. Já o segmento 
lombar predominou na faixa etária de 51-80 anos com 40% 
(Tabela 2).
Ao analisarmos as variáveis causa-segmento, observou-se que 
no segmento cervical, os acidentes automobilísticos foram res-
ponsáveis pelo maior numero de casos 46,6%, enquanto 45,2% 
do acometimento do segmento torácico foram decorrentes 
de ferimento por arma de fogo. No segmento lombar houve 
equivalência entre os acidentes automobilísticos e quedas em 
geral (38,7%). Feito o cruzamento destas variáveis, a associa-
ção mostrou-se significativa (p = 0,037), sendo excluídas desta 
análise as causas menos frequentes (mergulho em águas rasas 
e agressões físicas), que apresentavam caselas em branco na 
distribuição de dados (Tabela 3).
Tabela 1. Número e porcentagem de pacientes segundo sexo -idade; 
sexo-segmento; sexo-causa.
Sexo Masculino 
(N°%)
Feminino (N°%) Total (N°%)
Idade
0-20 15(14,2) 2(14,3) 17(14,2)
21-30 40(37,7) 2(14,3) 42(35,0)
31-40 21(19,8) 3(21,4) 24(20,0)
41-50 18(17,0) 4(28,6) 22(18,3)
51-80 12(11,3) 3(21,4) 15(12,5)
Total 106(100) 14(100) 120(100)
p=0,436
Segmento
Cervical 54(50,9) 4(28,6) 58(48,3)
Torácico 25(23,6) 6(42,9) 31(25,8)
Lombar 27(25,5) 4(28,6) 31(25,8)
Total 106(100) 14(100) 120(100)
p=0,202
Causa
Acidente 43(40,6) 6(42,9) 49(40,8)
Automobilístico
FAF 30(28,3) 3(21,4) 33(27,5)
Quedas gerais 23(21,7) 5(35,7) 28(23,3)
FAB 5(4,7) - 5(4,2)
Mergulho em 
Aguas rasas
4(3,8) - 4(3,3)
Agressões 1(0,9) - 1(0,8)
Total 106(100) 14(100) 120(100)
p=0,687
FAF: Ferimento por arma de fogo; FAB: Ferimento por arma branca
Tabela 2. Número e porcentagem de pacientes segundo idade-
segmento; idade-causa.
Idade 0-20 21-30 31-40 41-50 51-80 Total
Segmento
Cervical 7(41,2) 20(47,6) 13(54,2) 11(50,0) 7(46,7) 58(48,3)
Torácico 7(41,2) 11(26,2) 7(29,2) 4(18,2) 2(13,3) 31(25,8)
Lombar 3(17,6) 11(26,2) 4(16,7) 7(31,8) 6(40,0) 31(25,8)
Total 17(100) 42(100) 24(100) 22(100) 15(12,5) 120(100)
p=0,646
Causa
p=0,436
Acidente 
Automobilístico
6(35,3) 19(45,2) 10(41,7) 10(45,5) 4(26,7) 49(40,8)
FAF 8(47,1) 15(35,7) 7(29,2) 2(9,1) 1(6,7) 33(27,5)
Quedas gerais 2(11,8) 4(9,5) 5(20,8) 8(36,4) 9(60) 28(23,3)
FAB 1(5,9) 2(4,8) 1(4,2) 1(4,5) - 5(4,2)
Mergulho em 
águas rasas
- 2(4,8) 1(4,2) 1(4,5) - 4(3,3)
Agressões - - - - 1(6,7) 1(0,8)
Total 17(100) 42(100) 24(100) 22(100) 15(100) 120(100)
FAF: Ferimento por arma de fogo; FAB: Ferimento por arma branca
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Original
J Bras Neurocirurg 22 (2): 26-31, 2011Pereira CU, Jesus RM - Epidemiologia do Traumatismo Raquimedular
 
O período médio de internação foi de 23 dias. Comparando 
período de internação com segmento, observou-se que o 
período de internação maior que 30 dias foi predominante tanto 
no segmento cervical (53,1%) quanto no segmento torácico 
(37,5%). Dos pacientes com comprometimento lombar, 
35,1% permaneceram internados em um período de 1-7dias 
(Tabela 3).
Quanto ao tratamento realizado, 37 (30,8%) foram submetidos 
a tratamento cirúrgico e 83 (69,2%) a tratamento conservador. 
Óbito ocorreu em 12 casos (10%). Na relação entre óbito e seg-
mento, observou-se que 83,3% dos pacientes que foram a óbito 
tiveram TRM acometendo o nível cervical. Houve associação 
significativa no cruzamento dessas variáveis, resultando em 
p <0,038 (Tabela 3).
dIscussão
O TRM constitui-se em uma doença heterogênea, podendo ser 
decorrente de uma fratura simples sem déficit neurológico até 
casos de lesão neurológica grave e lesões sistêmicas graves2,23. 
A lesão medular é uma condição devastadora com enormes 
custos financeiros, sociais e pessoais26. Um adequado entendi-
mento da prevalência do TRM é essencial para o planejamento 
custo-benefício no atendimento e desenvolvimento de estraté-
gias preventivas.
Em nossa casuística, houve predomínio do sexo masculino 
88,3%, o que está de acordo com outros autores1,10,14. Este estu-
do encontrou a razão de impacto masculino: feminino de 7,57, 
o que coincide com aquelas relatadas por Hoque e col16. As 
diferenças de gênero podem refletir as mudanças culturais da 
nossa população. Mas ao longo do tempo observa-se uma re-
dução na relação masculino: feminino27. Atualmente as mulhe-
res têm maior poder aquisitivo com sua inserção no mercado 
de trabalho e estão mais expostas à violência e o consumo de 
álcool24.
Em nosso estudo, na faixa etária de 21- 50 anos, o principal 
fator etiológico foram os acidentes de trânsito, concordando 
com a literatura que afirma que é a maior causa de TRM em 
todas as idades, excetuando-se os idosos11,5,30,29,31,32. A nossa ca-
suística divergiu na faixa etária de 0-20 anos em que a violên-
cia por arma de fogo predominou. Esse perfil é consequência, 
provavelmente, da maior exposição masculina e de jovens no 
trânsito e por comportamentos determinados social e cultural-
mente, que os fazem assumir maiores riscos na condução de 
veículos, como maior velocidade, manobras mais arriscadas, 
uso de álcool, entre outros3. 
Em nossa casuística, os acidentes automobilísticos foram a 
etiologia de maior prevalência, com 49 casos (40,8%), seguida 
por ferimento por arma de fogo 33 (27,5%) e quedas em ge-
ral 28 (23,3%).Na Jordânia, os acidentes de trânsito também 
foram a maior causa 44,4%, seguido por FAF 25,8% e queda 
21,2%22, diferindo dos estudo de Pickett e col 25 em Ontario, no 
Canadá, onde a principal causa foi queda 43,2% e acidente de 
transito 42,8%, principalmente em pessoas abaixo de 40 anos 
de idade e também dos estudos de Koch e col20 em Curitiba, 
Paraná em que o mecanismo mais freqüente foi o acidente por 
queda com 50,40 %, seguido por acidentes de trânsito 25,50 
% e lesões por FAF com 9,76 %. Em nossa casuística, FAF 
(27,5%) foi a segunda etiologia mais frequente dos casos de 
TRM. A incidência de FAF tem aumentado significativamente 
entre a população civil nos últimos anos, devido ao crescente 
aumento da violência, principalmente nos grandes centros ur-
banos5. Ingham e col17 relataram que na sua casuística houve 
predomínio da lesão por arma de fogo, seguido pelas quedas.
Tabela 3. Número e porcentagem de pacientes segundo segmento-
causa; segmento-período de internação; segmento-óbito.
Segmento Cervical 
(N°%)
Torácico 
(N°%) 
Lombar 
(N°%)
Total 
(N°%)
Causa
Acidente 
Automobilístico
27(46,6) 10(32,3) 12(38,7) 49(40,8)FAF 13(22,4) 14(45,2) 6(19,4) 33(27,5)
Quedas gerais 12(20,7) 4(12,9) 12(38,7) 28(23,3)
FAB 1(1,7) 3(9,7) 1(3,2) 5(4,2)
Aguas rasas 4(6,9) - - 4(3,3)
Agressões 1(1,7) - - 1(0,8)
Total 58(100) 31(100) 31(100) 120(100)
p=0,037*
Periodo de 
Internação
1-7 dias 16(43,2) 8(21,6) 13(35,1) 37(100)
8-30 dias 25(49) 11(21,6) 15(29,4) 51(100)
>30 dias 17(53,1) 12(37,5) 3(9,4) 32(100)
Total 58(48,3) 31(25,8) 31(25,8) 120(100)
p=0,113
Obito
Sim 10(83,3) 1(8,3) 1(8,3) 12(100)
Não 48(44,4) 30(27,8) 30(27,8) 108(100)
p=0,038
FAF: Ferimento por arma de fogo; FAB: Ferimento por arma branca
* No cruzamento destas variáveis, foram excluídas as causas menos 
frequentes (mergulho em águas rasas e agressões físicas), que apre-
sentavam caselas em branco na distribuição de dados.
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Com o aumento da idade, há uma deterioração na capacidade 
da coluna vertebral e suas estruturas de apoio para resistir a 
uma mecânica imposta4,6,7,34. Isto poderia explicar a incidência 
particularmente elevada de TRM decorrente de quedas em ido-
so, condizendo com a nossa casuística que foi de 60% na faixa 
etária de 51-80 anos e da casuística de Van Asbeck e col 33 
que correspondeu com 48,7% na faixa etária de 71 aos 80 anos.
Em nosso estudo, 30,8% dos pacientes foram submetidos a 
procedimento cirúrgico. A intervenção cirúrgica para efeitos 
da descompressão neural ainda está para ser provado como 
justificável, tendo em conta os riscos envolvidos12. Segundo 
Klein19, em um estudo com 244 pacientes que tinham lesão me-
dular por FAF, em dois terços destes verificou ser significativa 
a intervenção cirúrgica ou imobilização prolongada. Segundo 
Dubose e col13 , em um estudo com 4204 pacientes vítimas de 
FAF, apenas 0,6% necessitaram de intervenção cirúrgica para 
descompressão do canal vertebral devido à fragmentação óssea 
ou do projétil. Em 69,2% dos nossos pacientes, ocorreu trata-
mento conservador, achado similar observado por Koch e col 
20, em que o tratamento conservador foi realizado em 62,96% 
dos seus pacientes.
Em nossa séria, ocorreu óbito em 12 pacientes (10%), sendo 
83,3% deles com TRM cervical. As causas associadas com 
óbito em nosso trabalho foram decorrentes da lesões medulares 
completas, lesões em outros órgãos, insuficiência respiratória e 
de complicações relacionadas com sepse. 
As internações prolongadas ainda contribuem para complica-
ções clínicas9,23. A média do período de internação observada 
em nossos casos foi de 23 dias. Em virtude destas intercor-
rências, internações prolongadas e complicações sistêmicas, 
os indivíduos necessitam de cuidados intensivos e específicos. 
Especial atenção deve ser dada à disfunção respiratória, infec-
ção pulmonar e genitourinária, úlceras de pressão, trombose 
venosa profunda e prevenção ao suicídio15.
O TRM é uma importante causa de morbidade e mortalidade 
na população mundial. O desenvolvimento de um registro na-
cional que notifique os casos de TRM é fundamental para a 
compreensão da epidemiologia e, consequentemente, a preven-
ção deste problema de saúde que gera custos elevados para o 
país, que acometem jovens e adultos em idade produtiva. Infor-
mações mais detalhadas sobre as principais etiologias devem 
ser continuamente detalhadas para que se possa gerar interven-
ções preventivas de acordo com a necessidade de cada região 
e/ou país. As medidas de controle de armas de fogo e branca 
devem ser realizadas mais efetivamente, bem como a natureza 
dos problemas sociais que geram violência sejam abordados de 
forma mais eficaz, podendo reduzir esses índices elevados de 
TRM em nossa sociedade.
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autor corresPondente
Prof. Dr. Carlos Umberto Pereira
Av. Augusto Maynard, 245/404
49015-380 Aracaju – Sergipe
Bairro São José
Email : umberto@infonet.com.br
	Epidemiologia do Traumatismo Raquimedular

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