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390 TOY, SIMPSON & TINTNER As enxaquecas costumam “ocorrer em família” e têm um componente genético significativo, embora somente síndromes enxaquecosas relativamente raras tenham sido ligadas diretamente a uma mutação genética única. Muitos casos de enxaqueca familiar hemiplégica, por exemplo, foram ligados a uma mutação no gene CACNA1A, que codifica um canal de cálcio voltagem dependente tipo P/Q. Uma associação inte- ressante com enxaqueca é que muitos pacientes relatam serem portadores de cinetose (ou “mal-estar ao andar de carro”). Embora esse achado clínico seja útil quando pre- sente, sua ausência não diminuiu em nada a possibilidade de enxaqueca. Assim como em adultos, as enxaquecas em crianças com frequência começam com uma fase premonitória prodrômica, com sintomas neurológicos ou constitu- cionais que duram horas ou dias antes da cefaleia. Esses “sinais de alerta” podem aumentar lentamente com o tempo ou permanecer constantes. Alguns pacientes de- senvolvem aura antes do aparecimento da dor, consistindo de um sintoma focal es- tereotipado, em geral precedendo a cefaleia em não mais de uma hora. Auras visuais são o tipo mais comum e podem envolver várias aberrações visuais, como escotomas, flashes luminosos ou formas geométricas. Também podem ser observadas auras mo- toras, sensoriais e cognitivas. O padrão da dor é crescente no início e decrescente ao término, e certamente não é máximo a partir do início. Com a persistência da dor, o paciente desenvolve alodinia cutânea, que significa que um estímulo normal e não nocivo é percebido como doloroso durante a cefaleia. Elementos associados, como náuseas, fotofobia, fonofobia, vertigem e congestão nasal são comuns. Após a cefa- leia, a maioria dos pacientes passa por uma fase pós-drômica, com sintomas como desejos de comer um determinado alimento e fadiga. Os desencadeantes que cos- tumam estar associados com cefaleias do tipo enxaqueca incluem odores fortes, em especial quando são nocivos, exercícios, privação do sono, “pular” refeições e trau- matismo craniano leve. Muitos pacientes associam certos alimentos com o início das enxaquecas, mas às vezes pode ser difícil distinguir o desejo de comer determinados alimentos, ocorrendo na fase prodrômica. Mulheres com enxaqueca são mais pro- pensas a apresentar cefaleias na época da menstruação. AVALIAÇÃO Uma história cuidadosa e um exame físico são os componentes mais importantes da avaliação. Quando a história é inequivocamente consistente com enxaqueca e o exame neurológico é normal, não é necessário desenvolver um trabalho diagnóstico. Nesse caso, exames de neuroimagem são desnecessários e fornecem pouca informa- ção. No entanto, um exame neurológico anormal, ou uma característica preocupante na história médica requerem ressonância magnética (RM). Embora a maioria dos pais tema a presença de um tumor cerebral, mais de 98% dos pacientes com mas- sas intracranianas apresentam anormalidades neurológicas ao exame. É importante que o exame neurológico inclua avaliação da circunferência craniana, visualização dos discos ópticos, avaliação de rigidez de nuca e palpação dos seios paranasais para procurar por causas subjacentes. A eletrencefalografia não está indicada na rotina Toy - Neurologia.indd 390 21/8/2013 15:20:55