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Tí tu lo d a pa rt e | P AR TE 1 controvérsias na política comercial CAPÍTULO 12 Argumentos sofisticados para a política comercial ativista Nada no quadro analítico desenvolvido nos capítulos 9 e 10 exclui o desejo de uma interven‑ oBJetivos de aprendiZagem Após a leitura deste capítulo, você será capaz de: ■ Resumir os argumentos mais sofisticados para política de comércio intervencionista, especial- mente aqueles relacionados às externalidades e às economias de escala. ■ Avaliar as reivindicações do movimento antiglobalização relacionadas aos efeitos do comércio sobre os trabalhadores, aos padrões de trabalho e ao meio ambiente à luz dos contra -argumentos. ■ Discutir o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC) como um fórum para a resolução de disputas de comércio e a tensão entre as regras da OMC e os interesses nacionais individuais. ■ Discutir as questões -chave no debate sobre política de comércio e meio ambiente. Como vimos, a teoria da política de comércio internacional, como a teoria do comércio inter- nacional em si, têm uma longa tradição intelectual. Economistas internacionais experientes ten- dem a ter uma atitude cínica em relação às pessoas que vêm junto com “novas” questões no comércio, o sentimento geral tende a ser que supostas novas preocupações são simples velhas ilusões em novas garrafas. No entanto, de vez em quando, questões verdadeiramente novas aparecem. Este capítulo descreve três controvérsias sobre o comércio internacional que surgiram durante o último quarto de século, cada uma delas levantando questões que antes não tinham sido seriamente analisadas pelos economistas internacionais. Primeiro, na década de 1980, um novo conjunto de argumentos sofisticados para a inter- venção do governo no comércio surgiram nos países desenvolvidos. Esses argumentos focavam nas indústrias de “alta tecnologia” que ganharam destaque como resultado do surgimento do chip de silício. Embora alguns desses argumentos fossem intimamente relacionados à análise de falha de mercado, vista no Capítulo 10, a nova teoria da política comercial estratégica foi baseada em ideias diferentes, e criou um grande rebuliço. A disputa sobre as indústrias de alta tecnologia e o comércio diminuiu por um tempo na década de 1990, mas voltou recentemente, ao passo que novas preocupações sobre a inovação norte -americana surgiram. Segundo, na década de 1990, uma disputa acalorada surgiu sobre os efeitos do crescente comércio internacional sobre os trabalhadores dos países em desenvolvimento e se os argumen- tos do comércio deveriam incluir padrões para taxas de salário e condições de trabalho. Essa disputa muitas vezes aumentou para um debate mais amplo sobre os efeitos da globalização. Um debate que aconteceu não só nas revistas acadêmicas, mas também, em alguns casos, nas ruas. Mais recentemente, houve uma preocupação crescente sobre a interseção entre as questões ambientais, que transcendem cada vez mais as barreiras nacionais, e a política de comércio, com uma séria disputa econômica e legal sobre se políticas como as “tarifas de carbono” são apropriadas. ção do governo no comércio. Aquele quadro mostra que a política comercial ativista precisa de um tipo específico de justificativa, isto é, deve compensar uma falha de mercado nacional pre‑ existente. O problema com muitos argumentos para a política comercial ativista é precisamente que eles não vinculam o caso para a intervenção M12_KRUGXXXX_C12.indd 226 1/29/15 6:15 PM 227Capítulo 12 Controvérsias na política comercial do governo com nenhuma falha específica dos pressupos‑ tos nos quais o caso de laissez -faire repousa. A dificuldade com os argumentos de falha de mercado para intervenção é serem capazes de reconhecer uma falha de mercado quando se vê uma. Os economistas que estu‑ dam os países industriais identificaram dois tipos de falhas de mercado que parecem ser presentes e relevantes para as políticas de comércio de países desenvolvidos: (1) a inca‑ pacidade das empresas das indústrias de alta tecnologia em capturar os benefícios daquela parte de sua contribui‑ ção para os transbordamentos de conhecimento para as outras empresas; e (2) a presença de lucros de monopólio em indústrias oligopolistas altamente concentradas. tecnologia e externalidades A discussão do argumento da indústria nascente no Capítulo 11 observou que existe uma falha potencial de mercado surgindo das dificuldades de apropriar ‑se do conhecimento. Se as empresas em uma indústria geram conhecimento que outras empresas podem utilizar sem pagar por ele, a indústria está, na verdade, produzindo algum produto extra — o benefício social marginal do conhecimento — que não é refletido nos incentivos das empresas. Onde tais externalidades (benefícios que são revertidos para partes diferentes das empresas que os produziram) podem mostrar ‑se importantes é o indício de um bom caso para subsidiar a indústria. Em um nível abstrato, esse argumento é o mesmo para as indústrias nascentes de países menos desenvolvidos como para as indústrias estabelecidas dos países desenvol‑ vidos. Em países desenvolvidos, entretanto, o argumento tem uma vantagem especial, porque nesses países existem indústrias importantes de alta tecnologia, nas quais a geração de conhecimento é, de várias formas, o aspecto central da empresa. Nas indústrias de alta tecnologia, as empresas dedicam grande parte de seus recursos para melhorar a tecnologia, tanto ao gastar explicitamente em pesquisa e desenvolvimento quanto ao estar dispostas a aceitar as perdas iniciais em novos produtos e processos para ganhar experiência. Porque tais atividades situam ‑se próximas a todas as indústrias, não existe uma linha nítida entre a alta tecnologia e o resto da economia. Contudo, existem diferenças claras em graus, portanto faz sentido falar em um setor de alta tecnologia, no qual o investi‑ mento em conhecimento é a parte chave do negócio. O ponto para a política comercial ativista é que enquanto as empresas podem apropriar ‑se de alguns bene‑ fícios do seu próprio investimento em conhecimento (caso contrário eles não investiriam!), normalmente eles não podem apropriar ‑se deles plenamente. Alguns dos benefí‑ cios são revertidos para outras empresas que podem imitar as ideias e as técnicas dos líderes. Em eletrônica, por exem‑ plo, não é raro para as empresas utilizarem “engenharia reversa” nos produtos de seus rivais, comprando seus pro‑ dutos para descobrir como eles funcionam e como foram feitos. Por causa das leis de patente que fornecem somente uma fraca proteção para os inovadores, pode ‑se resu‑ mir sensatamente que sob o laissez -faire, as empresas de alta tecnologia não recebem um incentivo para inovar de maneira tão intensa quanto elas deveriam. O caso do apoio governamental para as indústrias de alta tecnologia O governo norte ‑americano deveria sub‑ sidiar indústrias de alta tecnologia? Embora exista um ótimo argumento para esse subsídio, devemos ter certa cautela. Duas questões, em particular, surgem: (1) o governo pode direcioná ‑lo as indústrias ou atividades corretas? E (2) o quão importante, quantitativamente, seriam os ganhos de tal direcionamento? Embora as indústrias de alta tecnologia provavelmente produzam benefícios sociais extras por causa do conheci‑ mento que elas geram, muito do que ocorre, mesmo nessas indústrias, não tem nada a ver com geração de conheci‑ mento. Não existe razão para subsidiar o emprego de capital ou de trabalhadores não técnicos nas indústrias de alta tecnologia. Por outro lado, a inovação e os transbor‑ damentos de tecnologia acontecem até certo ponto mesmo nas indústrias que são completamente de alta tecnologia. Um princípio geral é que a política comercial e industrial deveria mirar especificamente na atividade na qual a falha de mercado ocorre. Portanto, a política deveria buscar subsidiar a geração de conhecimento da qual as empre‑ sas não podem seapropriar. O problema, entretanto, é que nem sempre é fácil de identificar a geração de conhe‑ cimento; como veremos brevemente, os profissionais da indústria com frequência argumentam que focar somente nas atividades especificamente rotuladas como “pesquisa” está resultando em uma visão muito restrita do problema. O aumento, a queda e o aumento das preocupações de alta tecnologia Os argumentos de que os Estados Unidos em particular deveriam considerar uma política de pro‑ moção das indústrias de alta tecnologia e ajudá ‑las a competir contra os rivais estrangeiros têm uma história curiosa. Tais argumentos ganharam atenção generali‑ zada e popularidade na década de 1980 e no começo da década de 1990, então caíram em desuso, vivenciando uma forte recuperação nos anos recentes. As discussões de alta tecnologia na década de 1980 e no começo da década de 1990 foram impulsionadas prin‑ cipalmente pelo surgimento das empresas japonesas em alguns setores proeminentes dessa indústria que tinham M12_KRUGXXXX_C12.indd 227 1/29/15 6:15 PM 228 Economia internacional sido dominados anteriormente pelos produtores norte‑ ‑americanos. De modo mais notável, entre 1978 e 1986, a parcela norte ‑americana na produção mundial de chips de memória RAM, um componente ‑chave de muitos dispositivos eletrônicos, caiu de cerca de 70% para 20%, enquanto a parcela japonesa aumentou de 30% para 75%. Houve uma preocupação generalizada de que outros pro‑ dutos de alta tecnologia pudessem sofrer o mesmo des‑ tino. Mas como descrito no estudo de caso “Quando os chips estavam por cima”, mais adiante, o medo de que o domínio japonês no mercado de memória de semicon‑ dutores fosse traduzido em um maior domínio nos com‑ putadores e em tecnologias relacionadas provou não ter fundamento. Além disso, o crescimento geral do Japão patinou na década de 1990, enquanto o dos Estados Uni‑ dos subiu em um renovado período de domínio tecnoló‑ gico, tomando a liderança em aplicações para a Internet e outras indústrias de informação. No entanto, mais recentemente, surgiram preocupa‑ ções sobre o status das indústrias norte ‑americanas de alta tecnologia. Um fator central dessas preocupações tem sido o declínio do emprego estadunidense nos cha‑ mados produtos de tecnologia avançada (ATP). Como a Figura 12.1 mostra, os Estados Unidos entraram em um grande déficit de mercadorias TIC, enquanto a Figura 12.2 mostra que o emprego norte ‑americano na produção de computadores e mercadorias relacionadas caiu, desde 2000, substancialmente mais rápido do que o emprego nas indústrias em geral. Isso importa? Os Estados Unidos poderiam, indiscu‑ tivelmente, continuar no topo da inovação da tecnologia da informação enquanto terceirizam a maior parte de sua produção atual de mercadorias de alta tecnologia em fábricas no exterior. Entretanto, como explicado no quadro “Um aviso do fundador da Intel”, mais à frente, algumas vozes influentes avisam que a inovação não pode prosperar a não ser que os inovadores estejam pró‑ ximos, em termos físicos e de negócios, das pessoas que transformam essas inovações em mercadorias físicas. É um debate difícil de resolver, em grande parte por que não está nada claro como colocar números nessas preocupações. Porém, parece provável, que o debate sobre se as indústrias de alta tecnologia precisam ou não de consideração especial crescerá intensamente nos pró‑ ximos anos. Concorrência imperfeita e a política comercial estratégica Durante a década de 1980, um novo argumento para o direcionamento industrial recebeu substancial aten‑ ção teórica. Originalmente proposta pelos economistas Barbara Spencer e James Brander da Universidade de British Columbia, esse argumento identifica a falha de mercado que justifica a intervenção do governo como a falta de concorrência perfeita. Em determinadas indústrias, eles apontam que existem somente algumas empresas em concorrência efetiva. Por causa do número pequeno de empresas, os pressupostos de concorrência FIGURa 12.1 Balanço norte -americano de comércio em mercadorias de informação Desde 2000, os Estados Unidos desenvolveram um grande déficit de comércio em produtos de tecnologia avançada, que são amplamente vistos como a vanguarda da inovação. 2000 2002 2004 2006 2008 Balanço norte-americano de comércio em mercadorias TIC (bilhões de dólares) –100 –80 –60 –40 –20 0 20 40 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2010 fonte: National Science Foundation, Science and Engineering Indicators 2012. M12_KRUGXXXX_C12.indd 228 1/29/15 6:15 PM 229Capítulo 12 Controvérsias na política comercial perfeita não são aplicados. Em particular, normalmente existirão retornos em excesso, isto é, as empresas terão lucros acima dos investimentos de igual risco que pode‑ rão ganhar em outra parte da economia. Existirá, por‑ tanto, uma concorrência internacional para ver quem consegue esses lucros. Spencer e Brander notaram que, nesse caso, é possí‑ vel para um governo, em princípio, alterar as regras do jogo para mover esses retornos em excesso das empresas estrangeiras para as empresas nacionais. No caso mais simples, um subsídio para as empresas nacionais, desen‑ corajando o investimento e a produção de competido‑ res estrangeiros, pode aumentar os lucros das empresas nacionais em mais do que a quantia do subsídio. Colo‑ cando de lado os efeitos sobre os consumidores, por exemplo, quando as empresas vendem só no mercado estrangeiro, essa captura de lucros dos competidores estrangeiros poderia significar que o subsídio aumenta a renda nacional à custa de outro país. A análise de Brander ‑Spencer: um exemplo A análise de Brander ‑Spencer pode ser ilustrada com um simples exemplo no qual duas empresas concorrem, cada uma de um país diferente. Tendo em mente que qualquer semelhança com eventos reais pode ser coincidência, vamos chamar as empresas de Boeing e Airbus e os paí‑ ses de Estados Unidos e Europa. Suponha que exista um novo produto, um avião superjumbo, que as duas empresas são capazes de fazer. Para simplificar, consi‑ dere que cada uma pode tomar somente uma decisão de sim/não: produzir o avião superjumbo ou não. A Tabela 12.1 ilustra como os lucros ganhos pelas duas empresas podem depender de suas decisões. (A configuração é similar àquela que utilizamos para exa‑ minar a interação das políticas de comércio de diferentes países no Capítulo 10.) Cada linha corresponde a uma decisão particular da Boeing, cada coluna corresponde a uma decisão da Airbus. Em cada caixa temos duas entradas: a entrada do lado esquerdo inferior representa os lucros da Boeing, enquanto a entrada do lado direito superior representa os lucros da Airbus. Como definido, a tabela reflete a seguinte suposição: cada empresa sozinha poderia ganhar lucros ao fazer o avião superjumbo, mas se as duas produzirem ‑no, ambas sofrerão perdas. Qual empresa vai, de fato, ficar com os lucros? Isso depende de quem chegar primeiro. Suponha que a Boeing seja capaz de ter uma pequena vantagem FIGURa 12.2 Dados em tempo real — Empregos na indústria norte -americana Desde 2000, o número de trabalhadores produzindo computadores e mercadorias relacionadas a isso nos Estados Unidos caiu drasticamente, ultrapassando o declínio geral do emprego na indústria. Índice de emprego, 2000=100 Toda a produção Computadores e afins 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 fonte: Departamento de Estatísticas de Trabalho dos EUA. tabela 12.1 Concorrência entre duas empresas Airbus Boeing Produz Não produz Produz –5 –5 0 100 Não produz 100 0 0 0 M12_KRUGXXXX_C12.indd 229 1/29/15 6:15 PM 230 Economia internacional inicial e se comprometa a produzir o avião superjumbo antes que a Airbus o faça. A Airbus vai descobrir que não tem incentivo para entrar no mercado. O resultado estará do lado direito superior da tabela, com a Boeing ganhando oslucros. Agora vem o ponto de Brander ‑Spencer: o governo europeu pode reverter essa situação. Suponha que o governo europeu comprometa ‑se a pagar à empresa um subsídio de 25% se ela entrar no mercado. O resultado mudará a tabela de pagamentos para aquela represen‑ tada na Tabela 12.2. Nesse caso, será lucrativo para a Airbus produzir o avião superjumbo independente‑ mente do que a Boeing faça. Vamos trabalhar com as implicações dessa mudança. Agora, a Boeing sabe que, independentemente do que faça, terá de competir com a Airbus e, portanto, perderá dinheiro se escolher produzir o avião. Então agora é a Boeing que será desencorajada a entrar no mercado. Na realidade, o subsídio do governo retirou a vantagem ini‑ cial que assumimos que era da Boeing e, em vez disso, conferiu ‑a à Airbus. O resultado final é que o equilíbrio muda do lado superior direito da Tabela 12.1 para o lado inferior esquerdo da Tabela 12.2. A Airbus fica com os lucros de 125 em vez de 0, esses lucros surgem por causa de um subsídio do governo de somente 25%. Isto é, o subsídio aumenta os lucros em mais do que a quantidade de sub‑ sídio em si, por causa de seu efeito desencorajador para a concorrência estrangeira. O subsídio tem esse efeito porque cria uma vantagem para a Airbus, comparável com a vantagem estratégica que ela teria tido se a Boeing não tivesse tido uma vantagem inicial na indústria. Problemas com a análise de Brander ‑Spencer O exem‑ plo hipotético pode parecer indicar que essa política de comércio estratégica fornece um argumento convincente para o ativismo do governo. Um subsídio pelo governo europeu aumenta drasticamente os lucros da empresa europeia à custa de seus rivais estrangeiros. Deixando de lado o interesse dos consumidores, isso parece clara‑ mente aumentar o bem ‑estar europeu (e reduzir o norte‑ ‑americano). O governo estadunidense não devia colo‑ car esse argumento em prática? Na verdade, essa justificativa estratégica para a política de comércio, embora tenha atraído muito interesse, tam‑ bém recebeu muita crítica. Os críticos argumentam que fazer uso prático da teoria demandaria mais informação do que é possível estar disponível, que tais políticas cor‑ reriam o risco de retaliação estrangeira e que, nesse caso, as políticas nacionais de comércio e a política industrial impediriam a utilização de ferramentas de análise sutis. O problema de informação insuficiente tem dois aspectos. O primeiro é que mesmo quando olhamos para uma indústria isolada, pode ser difícil de preencher as entradas em uma tabela como a Tabela 12.1 com alguma confiança. E, segundo, se o governo entender errado, uma política de subsídio pode tornar ‑se um equívoco dispendioso. Suponha, por exemplo, que a Boeing tem uma vantagem subjacente, talvez uma melhor tecnolo‑ gia, de forma que mesmo que a Airbus entre no mer‑ cado, a Boeing ainda vai achar lucrativo produzir o avião. A Airbus, entretanto, não pode produzir aviões lucrativamente se a Boeing entrar no mercado. Na ausência de um subsídio, o resultado será que a Boeing produz e a Airbus não produz. Agora suponha que, como no caso anterior, o governo europeu forneça um subsídio suficiente para induzir a Airbus a produ‑ zir. No entanto, nesse caso, por causa da vantagem da Boeing, o subsídio não vai agir como um desencorajador para a Boeing, e os lucros da Airbus ficarão aquém do valor do subsídio — em resumo, a política terá sido um erro dispendioso. O ponto é que embora os dois casos possam parecer similares, em um deles o subsídio parece ser uma boa ideia, enquanto no outro parece ser uma ideia terrível. Parece que a conveniência das políticas de comércio estratégicas depende de uma leitura exata da situação. Isso leva alguns economistas a perguntar se estamos sempre propensos a ter informação suficiente para utili‑ zar a teoria efetivamente. A exigência por informação é complicada porque não podemos considerar as indústrias isoladamente. Se um setor é subsidiado, vai extrair recursos e levar a aumentos nos custos de outros. Portanto, mesmo uma política que seja bem ‑sucedida em dar às empresas norte ‑americanas uma vantagem estratégica em uma indústria, tenderá a causar desvantagem estratégica em outro lugar. Para per‑ guntar se a política é justificada, o governo estadunidense teria de pesar esses efeitos de compensação. Mesmo que o governo tenha um entendimento exato de uma indústria, isso não é o suficiente, porque ele também precisa de um entendimento igualmente exato daqueles setores com os quais essa indústria compete por recursos. tabela 12.2 Efeitos de um subsídio para a Airbus Airbus Boeing Produz Não produz Produz 20 –5 0 100 Não produz 125 0 0 0 M12_KRUGXXXX_C12.indd 230 1/29/15 6:15 PM 231Capítulo 12 Controvérsias na política comercial Se a política comercial estratégica proposta pode superar essas críticas, enfrentará o problema da reta‑ liação estrangeira, essencialmente o mesmo problema encarado quando se considera a utilização de uma tarifa aduaneira para melhorar os termos de comércio (Capí‑ tulo 10). Políticas estratégicas são políticas de empobreci‑ mento do vizinho que aumentam nosso bem ‑estar à custa de outro país. Essas políticas, portanto, arriscam uma guerra comercial que deixam todos em pior situação. Poucos economistas defenderiam que os Estados Unidos fossem os iniciadores de tais políticas. Em vez disso, o mais longe que a maioria dos economistas está disposta a ir é argumentar que os Estados Unidos deveriam estar preparados para retaliar quando outros países parece‑ rem utilizar politicas estratégicas de forma agressiva. Por fim, teorias como essa podem ser utilizadas em um contexto político? Discutimos isso no Capítulo 10, no qual as razões para o ceticismo foram colocadas no contexto de um caso politicamente cético para o livre comércio. Um aviso do fUndador da intel Quando Andy Grove fala sobre tecnologia, as pes‑ soas escutam. Em 1968, ele cofundou a Intel, que inventou o microprocessador — o chip que comanda seu computador, e dominou o negócio de semicondu‑ tores por décadas. Muitas pessoas notaram, em 2010, quando Grove emitiu uma dura advertência sobre o destino da alta tecnologia norte ‑americana: a erosão do emprego manufatureiro nas indústrias de tecnologia, ele argu‑ mentou, mina as condições para a inovação futura1. Grove escreveu: As startups são uma coisa incrível, mas elas não podem aumentar o emprego na tecnologia sozinhas. Igualmente importante é o que vem após esse momento lendário de criação na garagem conforme a tecnologia passa do protótipo para a produção em massa. Essa é a fase na qual as empresas ampliam ‑se. Elas resolvem detalhes de design, descobrem como fazer as coisas mais acessíveis, constroem fábricas e contratam cente‑ nas de pessoas. Ampliar é um trabalho duro, mas neces‑ sário para fazer a inovação ter importância. O processo de ampliação não ocorre mais nos Esta‑ dos Unidos. E enquanto isso acontecer, lavrar o capital em companhias jovens que constroem suas fábricas em outro lugar continuará a render um retorno ruim em ter‑ mos de empregos para os norte ‑americanos. Na essência, Grove estava argumentando que os transbordamentos tecnológicos exigem mais do que pesquisadores. Eles exigem a presença de um grande número de trabalhadores que colocam as ideias em fun‑ cionamento. Se ele estiver certo, sua afirmação constitui um forte argumento para o direcionamento industrial. QUando os chips estavam por cima Durante os anos em que os argumentos sobre a efetividade da política comercial estratégica esta‑ vam no pico, defensores de uma política comercial mais intervencionista por parte dos Estados Unidos afirmavam com frequência que o Japão tinha pros‑ perado ao promover deliberadamente indústrias‑ ‑chave. No começo da década de 1990, um exem‑ plo em particular, o dos chips semicondutores, tinha se tornado a prova A no caso de que promo‑ ver indústrias ‑chave “funciona”. Defato, quando o autor James Fallows publicou uma série de artigos em 1994 atacando a ideologia do livre comércio e alegando a superioridade do estilo de interven‑ cionismo japonês, ele começou com uma peça inti‑ tulada A parábola dos chips. Contudo, no fim da década de 1990, o exemplo dos semicondutores tinha parecido virar objeto de estudo das armadi‑ lhas da política comercial ativista. Um chip semicondutor é uma pequena peça de silício, na qual circuitos complexos foram cauteriza‑ dos. Como vimos no quadro “Um aviso do fundador da Intel”, a indústria começou nos Estados Unidos quando a empresa norte ‑americana Intel introdu‑ ziu o primeiro microprocessador, o cérebro de um computador em um chip. Desde então, a indústria vivenciou uma rápida, porém previsível, mudança tecnológica: mais ou menos a cada 18 meses, o número de circuitos que pode ser gravado em um chip dobra, uma regra conhecida como Lei de Moore. Esse progresso constitui a base de boa parte da revolução da tecnologia de informação das últi‑ mas três décadas. 1 Andy Grove. “How to Make an American Job Before It’s Too Late”, Bloomberg.com, jul. 2010. M12_KRUGXXXX_C12.indd 231 1/29/15 6:15 PM 232 Economia internacional O Japão entrou no mercado de semicondutores no fim da década de 1970. A indústria, definitivamente, era o alvo do governo japonês, que apoiou uma pesquisa de esforço que ajudou a construir a qualidade tecnológica nacional. Os valores envolvidos nesse subsídio, entre‑ tanto, eram bem pequenos. O principal componente da política comercial ativista do Japão, de acordo com os críticos norte ‑americanos, era um protecionismo implícito. Embora o Japão tivesse algumas tarifas for‑ mais ou outras barreiras para importações, as empresas estadunidenses descobriram que uma vez que o Japão foi capaz de produzir certo tipo de chip semicondutor, poucos produtos norte ‑americanos eram vendidos no país. Os críticos alegaram que existia um entendimento implícito entre as empresas japonesas em indústrias como eletrônicos de consumo, na qual o Japão já era um produtor líder, de que eles deviam comprar semicondu‑ tores nacionais, mesmo se o preço fosse maior ou se a qualidade fosse inferior à dos produtos concorrentes norte ‑americanos. Essa afirmação era verdadeira? Os fatos do caso ainda estão em disputa. Os observadores também afirmaram que o mer‑ cado japonês protegido (se esse era mesmo o caso) promovia indiretamente a capacidade japonesa de exportar semicondutores. O argumento era assim: a produção de semicondutores é caracterizada por uma curva de aprendizado íngreme (lembre ‑se da discus‑ são das economias de escala dinâmica no Capítulo 7). Com a garantia de um mercado nacional grande, os produtores japoneses de semicondutores tinham cer‑ teza de que seriam capazes de trabalhar para descer a curva de aprendizado, o que significava que eles esta‑ vam dispostos a investir em novas fábricas que tam‑ bém poderiam produzir para a exportação. Permanece obscuro até que ponto essas políticas levaram ao sucesso japonês em tomar grandes parce‑ las do mercado de semicondutores. Algumas caracte‑ rísticas do sistema industrial japonês podem ter dado ao país uma vantagem comparativa “natural” na pro‑ dução de semicondutores, onde o controle de quali‑ dade é uma preocupação crucial. Durante as décadas de 1970 e 1980, as fábricas japonesas desenvolve‑ ram uma nova abordagem para a produção baseada, entre outras coisas, na definição de níveis aceitáveis de defeitos muito menores do que aqueles que eram padrão nos Estados Unidos. De qualquer forma, no meio da década de 1980, o Japão ultrapassou os Estados Unidos em vendas de um tipo de semicondutor, que era amplamente considerado crucial para o sucesso da indústria: as memórias de acesso aleatório, ou memória RAM. O argumento de que a produção de memória RAM era a chave para dominar toda a indústria de semicondu‑ tores apoiava ‑se na crença de que isso renderia tanto fortes externalidades tecnológicas quanto excessos de retorno. As memórias RAM eram a forma de semi‑ condutores de maior volume. Os experts da indústria afirmaram que o know ‑how adquirido na produção da memória RAM foi essencial para a capacidade de uma nação em continuar avançando na tecnologia em outros semicondutores, como os microprocessa‑ dores. Então, era amplamente previsto que o domínio japonês em memórias RAM logo seria traduzido em domínio na produção de semicondutores em geral, e que essa supremacia, por sua vez, daria ao Japão uma vantagem na produção de muitas outras mercadorias que utilizavam semicondutores. Também se acreditava que embora a produção de memórias RAM não tivesse sido um negócio altamente lucrativo antes de 1990, em algum momento viria a se transformar em uma indústria caracterizada pelos retornos em excesso. A razão era que o número de empresas produzindo memórias RAM tinha caído cons‑ tantemente: em cada geração consecutiva de chips alguns produtores tinham saído do setor e nenhuma empresa entrou. Eventualmente, muitos observadores pensaram que sobrariam somente dois ou três produ‑ tores de memória RAM altamente lucrativos. No entanto, durante a década de 1990, as duas justificativas para mirar nas memórias RAM (externa‑ lidades tecnológicas e retornos em excesso) aparente‑ mente não se materializaram. De um lado, a liderança do Japão em memórias RAM por fim não foi traduzida em uma vantagem em outros tipos de semicondutores: por exemplo, as empresas norte ‑americanas mantive‑ ram uma liderança segura em microprocessadores. Por outro lado, em vez de continuar diminuindo, o número de produtores de memória RAM começou a aumentar de novo, com os principais novatos da Coreia do Sul e de outras economias recém ‑industrializadas. No fim na década de 1990, a produção de memória RAM foi considerada um negócio de commodities: muita gente podia fazer memórias RAM e não havia nada especial‑ mente estratégico sobre o setor. A lição importante parece ser o quão difícil é sele‑ cionar as indústrias a promover. A indústria de semi‑ condutores pareceu, em sua superfície, ter todos os atributos para um setor adequado para a política comercial ativista. Mas, no fim, ela não rendeu nem fortes externalidades nem retornos em excesso. M12_KRUGXXXX_C12.indd 232 1/29/15 6:15 PM 233Capítulo 12 Controvérsias na política comercial Globalização e mão de obra de baixo salário É uma boa aposta que a maioria das roupas que você está usando enquanto lê isso veio de um país bem mais pobre que os Estados Unidos. O aumento de exporta‑ ções manufaturadas dos países em desenvolvimento tem sido uma das maiores mudanças na economia mundial durante a última geração. Até mesmo uma nação exces‑ sivamente pobre como Bangladesh, com um PIB per capita menor que 5% que o dos Estados Unidos, agora apoia ‑se em mais exportações de mercadorias manufa‑ turadas do que em exportações de produtos tradicionais agrícolas ou minerais. (Um funcionário do governo em um país em desenvolvimento comentou com um dos autores: “Não somos uma república de bananas, somos uma república de pijamas”.) Não deveria surpreender que os trabalhadores que produzem mercadorias manufaturadas para exportação em países em desenvolvimento recebam muito pouco pelos padrões dos países desenvolvidos, frequentemente menos de US$ 1 por hora, às vezes menos de US$ 0,50. Afinal, os trabalhadores têm poucas alternativas em economias geralmente pobres. Tampouco deveria surpreender que as condições de trabalho também sejam bem ruins em muitos casos, algumas vezes letais, como veremos no estudo de caso “Uma tragédia em Bangladesh”, mais adiante neste capítulo. Os baixos salários e as condições precárias de tra‑ balho deveriam ser causa de preocupação? Muitas pes‑ soas pensam que sim. Na década de 1990, o movimento antiglobalização atraiu muitos adeptos em países desen‑ volvidos, especialmente nos campi de universidades. Salários superbaixos e ultrajantese condições precá‑ rias de trabalho em indústrias de exportação de países em desenvolvimento eram grande parte do apelo do movimento, embora outras preocupações (discutidas a seguir) também fossem parte da história. É justo dizer que a maioria dos economistas tinha visto o movimento antiglobalização como, na melhor das hipóteses, mal orientado. A análise padrão da vanta‑ gem comparativa sugere que o comércio é mutualmente benéfico para os países que nele se envolvem. Sugere, ainda, que quando os países com abundância em mão de obra exportam mercadorias de trabalho intensivo, como tecido, não somente suas rendas nacionais aumentam, mas a distribuição de renda também muda em favor da mão de obra. Mas o movimento de antiglobalização está inteiramente fora da base? Movimento antiglobalização Antes de 1995, a maioria das reclamações sobre o comércio internacional feitas por cidadãos de países desenvolvidos era sobre os efeitos dele nas pessoas que também eram cidadãos de países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, a maioria dos críticos do livre comércio na década de 1980 focava na suposta ameaça da compe‑ tição japonesa. No começo da década de 1990, existia uma preocupação substancial tanto nos Estados Unidos quanto na Europa sobre os efeitos das importações de países de baixos salários nos salários de trabalhadores nacionais menos qualificados. Na segunda metade da década de 1990, entretanto, um movimento que crescia rapidamente (atraindo con‑ siderável apoio de estudantes universitários) começou a enfatizar o suposto mal que o comércio mundial estava causando aos trabalhadores nos países em desenvolvi‑ mento. Os ativistas apontaram para os baixos salários e para as condições precárias de trabalho nas fábricas do Terceiro Mundo que produziam mercadorias para o mercado ocidental. Em 1996, um evento solidificador foi a descoberta de que as roupas vendidas no Wal ‑Mart, e aprovadas pela personalidade da televisão Kathie Lee Gifford, eram produzidas por trabalhadores muito mal pagos em Honduras. O movimento antiglobalização ganhou as man‑ chetes mundiais em novembro de 1999, quando uma grande reunião na Organização Mundial do Comér‑ cio aconteceu em Seattle. O propósito da reunião era o de começar outra rodada de negociação, seguindo a Rodada Uruguai, descrita no Capítulo 10. Milhares de ativistas juntaram ‑se em Seattle, motivados pela crença de que a OMC estava passando por cima da indepen‑ dência nacional e impondo ideias de livre comércio que prejudicavam os trabalhadores. Apesar de vários alertas, a polícia estava mal preparada e as manifesta‑ ções causaram interrupções consideráveis para as reu‑ niões. De qualquer forma, as negociações não estavam indo bem: as nações falharam em concordar em uma ordem do dia para avançar e logo ficou claro que não existia acordo suficiente na direção para início de uma nova rodada. No fim, a reunião foi considerada um fracasso. A maior parte dos experts em política de comércio acre‑ dita que a reunião teria fracassado mesmo na ausência das manifestações, mas o movimento antiglobalização ao menos pareceu interromper uma importante confe‑ rência internacional. Durante os dois anos seguintes, grandes manifestações também atrapalharam reuniões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial M12_KRUGXXXX_C12.indd 233 1/29/15 6:15 PM 234 Economia internacional em Washington, assim como uma reunião de cúpula dos maiores poderes econômicos em Gênova. No último evento, a polícia italiana matou um ativista. Em outras palavras, o movimento antiglobalização tinha se tornado uma presença altamente visível em um período de tempo relativamente curto. Mas qual era o objetivo do movimento — e será que ele estava certo? Comércio e salários revistos Uma vertente da oposição para a globalização é conhecida da análise no Capítulo 3. Os ativistas apon‑ taram para os salários muito baixos recebidos por mui‑ tos trabalhadores nas indústrias de exportação de países em desenvolvimento. Esses críticos argumentaram que os baixos salários (e as condições precárias de traba‑ lho associadas a eles) mostraram que, ao contrário das reclamações dos defensores do livre comércio, a globa‑ lização não estava ajudando os trabalhadores em países em desenvolvimento. Por exemplo, alguns ativistas apontaram para o exemplo das maquiladoras do México, as fábricas pró‑ ximas à fronteira norte ‑americana que expandiram rapi‑ damente, quase dobrando os empregos nos cinco anos seguintes à assinatura do Acordo de Livre Comércio da América do Norte. Os salários nessas fábricas eram, em alguns casos, menores que US$ 5 por dia e as condições eram horrorosas pelos padrões norte ‑americanos. Os oponentes do acordo de livre comércio argumentaram que ao tornar mais fácil para os empregadores substi‑ tuírem trabalhadores de altos salários nos Estado Uni‑ dos por trabalhadores de baixos salários no México o acordo tinha prejudicado a mão de obra nos dois lados da fronteira. A resposta economista padrão para esse argumento remete à nossa análise, no Capítulo 3, dos equívocos sobre a vantagem comparativa. Vimos ser um equívoco comum que o comércio deve necessariamente envolver a exploração de trabalhadores se eles ganham salários muito menores do que seus pares em um país rico. A Tabela 12.3 repete essa análise brevemente. Nesse caso, supomos que existem dois países, os Estados Uni‑ dos e o México, e duas indústrias: alta tecnologia e baixa tecnologia. Também supomos que a mão de obra é o único fator de produção e que a mão de obra estadu‑ nidense é mais produtiva do que a mexicana em todas as indústrias. Especificamente, leva somente uma hora para a mão de obra norte ‑americana produzir uma uni‑ dade de produção em qualquer indústria. Leva duas horas para a mão de obra mexicana produzir uma uni‑ dade da produção de baixa tecnologia e oito horas para produzir uma unidade de produção de alta tecnologia. A parte de cima da tabela mostra os salários reais dos trabalhadores em cada país em termos de cada merca‑ doria na ausência de comércio: o salário real em cada caso é simplesmente a quantidade de cada mercadoria que o trabalhador poderia produzir em uma hora. Agora suponha que o comércio é aberto. No equi‑ líbrio após o comércio, as taxas relativas de salário dos trabalhadores estadunidenses e mexicanos seriam algo entre a produtividade relativa dos trabalhadores nas duas indústrias — por exemplo, os salários norte‑ ‑americanos poderiam ser quatro vezes os dos mexica‑ nos. Portanto, seria mais barato produzir mercadorias de baixa tecnologia no México e mercadorias de alta tecnologia nos Estados Unidos. Um crítico da globalização poderia olhar para esse equilíbrio comercial e concluir que o comércio trabalha contra o interesse dos trabalhos. Primeiro, nas indústrias de baixa tecnologia, os trabalhos muito bem pagos nos Estados Unidos são substituídos por trabalhos mal pagos no México. Além disso, alguém poderia afirmar de modo plausível que os trabalhadores mexicanos são mal pagos: embora eles produzam metade do que os trabalhadores norte ‑americanos que eles substituem na manufatura de baixa tecnologia, sua taxa de salário é somente 1/4 (e não 1/2) da dos trabalhadores estadunidenses. Porém, como mostrado na parte inferior da Tabela 12.3, nesse exemplo o poder de compra dos salários na verdade aumentou nos dois países. Os trabalhadores norte ‑americanos, que agora estão todos empregados na indústria de alta tecnologia, podem comprar mais mercadorias de baixa tecnologia do que antes: duas tabela 12.3 Salários reais (A) Antes do comércio Mercadorias de alta tecnologia/hora Mercadorias de baixa tecnologia/hora Estados Unidos 1 1 México 1/8 1/2 (B) Depois do comércio Mercadorias de alta tecnologia/hora Mercadorias de baixa tecnologia/hora Estados Unidos 1 2 México 1/4 1/2 M12_KRUGXXXX_C12.indd 234 1/29/15 6:15 PM 235Capítulo 12 Controvérsias na política comercial unidades por horade trabalho versus uma. Os traba‑ lhadores mexicanos, que agora estão todos empregados na indústria de baixa tecnologia, descobrem que podem comprar mais mercadorias de alta tecnologia com uma hora de trabalho do que antes: 1/4 em vez de 1/8. Graças ao comércio, o preço de cada mercadoria importada dos países, em termos de sua taxa de salário, caiu. O ponto nesse exemplo não é o de reproduzir situa‑ ções reais de forma exata, mas mostrar que a evidência geralmente citada como prova de que a globalização prejudica os trabalhadores nos países em desenvolvi‑ mento é exatamente o que você esperaria ver mesmo se o mundo fosse bem descrito por um modelo que diz que o comércio, de fato, beneficia os trabalhadores tanto no país desenvolvido quanto no país em desenvolvimento. Pode ‑se argumentar que esse modelo é ilusório, por‑ que supõe que a mão de obra é o único fator de produ‑ ção. É verdade que se mudarmos do modelo ricardiano para o modelo das proporções de fatores, discutido no Capítulo 5, torna ‑se possível que o comércio prejudique os trabalhadores no país de trabalho escasso e salário alto — isto é, os Estados Unidos nesse exemplo. Mas isso não ajuda a alegação de que o comércio prejudica os traba‑ lhadores nos países em desenvolvimento. Pelo contrário, o argumento para a crença de que o comércio é benéfico para os trabalhadores no país de baixo salário na verdade torna ‑se mais forte: a análise econômica padrão diz que ao passo que os trabalhadores em uma nação de capital abundante como os Estados Unidos podem ser prejudi‑ cados pelo comércio com um país de mão de obra abun‑ dante como o México, os trabalhadores no país de mão de obra abundante deveriam beneficiar ‑se de uma mudança na distribuição de renda em seu favor. No caso específico das maquiladoras, os economistas argumentam que embora os salários sejam muito bai‑ xos comparados com os salários nos Estados Unidos, a situação é inevitável por causa da falta de outras opor‑ tunidades no México, que tem uma produtividade bem menor. E segue ‑se que embora os salários e as condições de trabalho nas maquiladoras possam parecer terríveis, eles representam uma melhora sobre as alternativas dis‑ poníveis no México. Na verdade, o rápido aumento de empregos nessas fábricas indica que os trabalhadores preferem os empregos que eles encontram lá aos alterna‑ tivos. (Muitos dos novos trabalhadores nas maquiladoras são, na verdade, camponeses de áreas remotas e dema‑ siado pobres do México. Alguém poderia dizer que eles mudaram da pobreza extrema, porém invisível, para a pobreza menos severa, porém notável, alcançando simul‑ taneamente uma melhora em suas vidas e tornando ‑se uma fonte de culpa para os residentes norte ‑americanos desconhecedores de sua antiga situação). O argumento economista padrão, em outras palavras, é que independentemente dos baixos salários recebidos pelos trabalhadores em países em desenvolvimento, eles estão em melhor situação do que estariam se a globali‑ zação não tivesse acontecido. Alguns ativistas não acei‑ tam esse argumento — eles sustentam que o comércio aumentado faz com que os trabalhadores tanto nos paí‑ ses desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento fiquem em pior situação. Entretanto, é difícil encontrar uma afirmação clara dos canais pelos quais isso suposta‑ mente aconteceria. Talvez o argumento mais popular seja o de que o capital é móvel internacionalmente, enquanto a mão de obra não é; e essa mobilidade dá aos capitalistas uma vantagem de barganha. Como vimos no Capítulo 4, entretanto, o fator de mobilidade internacional é similar em seus efeitos ao comércio internacional. Normas de trabalho e negociações comerciais Os proponentes do livre comércio e os ativistas da antiglobalização podem debater sobre grandes questões como: a globalização é ou não é boa para os trabalha‑ dores? Entretanto, questões mais limitadas de prática política estão em jogo: se e até que ponto os acordos de comércio internacional deveriam conter também dispo‑ sições que objetivam melhorar os salários e as condições de trabalho em países pobres. As propostas mais modestas vieram de economistas que defendem um sistema que monitore os salários e as condições de trabalho e disponibilize os resultados da monitoração para os consumidores. O argumento deles é uma versão da análise de falha do mercado do Capí‑ tulo 10. Suponha, sugerem eles, que os consumidores nos países desenvolvidos sintam ‑se melhor ao comprar mercadorias manufaturadas se souberem que foram pro‑ duzidas por trabalhadores pagos decentemente. Então um sistema que permita que esses consumidores saibam, sem fazer muito esforço para obter a informação, que os trabalhadores foram de fato pagos oferece uma oportu‑ nidade de ganho mútuo. (Kimberly Ann Elliott, citada na lista de Leituras Adicionais no fim do capítulo, cita um adolescente: “Veja, eu não tenho tempo para ser um tipo de ativista político toda vez que vou ao shopping. Só me digam quais tipos de sapatos são OK para eu com‑ prar, certo?”.) Como os consumidores podem escolher comprar somente mercadorias “certificadas”, eles ficam em melhor situação, pois se sentem melhor sobre suas compras. Enquanto isso, os trabalhadores nas fábricas certificadas ganham um melhor padrão de vida do que teriam se não fossem certificados. Os proponentes desse sistema admitem que ele não teria um grande impacto no padrão de vida nos países M12_KRUGXXXX_C12.indd 235 1/29/15 6:15 PM 236 Economia internacional em desenvolvimento, principalmente porque isso afeta‑ ria somente os salários dos trabalhadores nas fábricas de exportação, uma pequena minoria da força de tra‑ balho mesmo em economias altamente voltadas para a exportação. Mas eles argumentam que faria algum bem e pouco mal. Um passo mais firme seria incluir padrões traba‑ lhistas formais, isto é, condições que as indústrias de exportação devem seguir como parte dos acordos de comércio. Tais padrões têm apoio político considerável em países desenvolvidos. De fato, o presidente Bill Clin‑ ton falou a favor desses padrões na desastrosa reunião de Seattle, descrita anteriormente. O argumento econômico a favor dos padrões traba‑ lhistas em acordos de comércio é similar ao argumento em favor da taxa do salário mínimo para os trabalha‑ dores nacionais: embora a teoria econômica sugira que o salário mínimo reduz o número de trabalhos de baixa qualificação disponíveis, alguns (mas de forma nenhuma todos!) economistas razoáveis argumentam que tais efei‑ tos são pequenos e ultrapassados pelo efeito do salário mínimo em aumentar a renda dos trabalhadores que continuam empregados. Contudo, os padrões trabalhistas no comércio, sofrem forte oposição da maioria dos países em desenvolvimento, que acreditam que os padrões inevitavelmente seriam uti‑ lizados como ferramenta protecionista: os políticos nos países desenvolvidos definiriam padrões em níveis a que os países desenvolvidos não chegariam, na verdade colo‑ cando o preço de suas mercadorias fora dos mercados mundiais. Uma preocupação em especial (na verdade, foi uma das preocupações que levou ao fim das conversas em Seattle) é que os padrões trabalhistas seriam utilizados como base para processos judiciais contra as companhias estrangeiras, similar à forma com a qual a legislação de antidumping foi utilizada por companhias privadas para incomodar os concorrentes estrangeiros. Questões ambientais e culturais As reclamações contra a globalização vão além das questões de mão de obra. Muitos críticos argumentam que a globalização é ruim para o meio ambiente. É evidentemente verdade que os padrões ambientais nas indústrias de exportação em países em desenvolvimento são bem menores do que nas indústrias dos países desen‑ volvidos. Também é verdade que em uma série de casos, danos ambientais substanciais têm sido causados a fim de fornecer mercadorias para os mercados dos países desenvolvidos. Um exemplo notável é a pesadaderru‑ bada de árvores das florestas do sudeste asiático para fabricar produtos florestais para vender para os merca‑ dos japonês e ocidental. Do outro lado, existem ao menos tantos casos de dano ambiental que ocorreram em nome das políticas “introspectivas” dos países relutantes em integrar ‑se com a economia global. Um exemplo notável é a destrui‑ ção de muitas milhas quadradas de floresta tropical no Brasil, consequência, em parte, de uma política nacional que subsidia o desenvolvimento no interior. Essa polí‑ tica não tem nada a ver com as exportações e, na ver‑ dade, começou durante os anos em que o Brasil estava tentando perseguir um desenvolvimento introspectivo. Como no caso dos padrões de trabalho, existe um debate sobre se os acordos de comércio deveriam incluir padrões ambientais. De um lado, os proponentes argu‑ mentam que os acordos podem levar, ao menos, a modes‑ tas melhoras no meio ambiente, beneficiando todos os interessados. De outro lado, os opositores insistem que vincular padrões ambientalistas a acordos de comércio vai, na verdade, acabar com indústrias exportadoras potenciais nos países pobres, que não podem pagar para manter nada parecido com os padrões ocidentais. E uma questão ainda mais complicada envolve o efeito da globalização na cultura nacional e local. É ine‑ quivocamente verdade que a crescente integração dos mercados levou a uma homogeneização das culturas ao redor do mundo. As pessoas no mundo todo cada vez mais tendem a vestir a mesma roupa, comer a mesma comida, escutar a mesma música e ver os mesmos filmes e programas de TV. Muito, mas não tudo, dessa homogeneização tam‑ bém é americanização. Por exemplo, o McDonald’s agora pode ser encontrado em quase todo lugar, mas o sushi também. Os filmes de ação de Hollywood domi‑ naram as bilheterias globais, mas cenas estilizadas nos mega sucessos de Hollywood, como Matrix, são basea‑ das nas convenções dos filmes de artes marciais de Hong Kong. É difícil negar que alguma coisa é perdida como resultado dessa homogeneização cultural. Alguém pode, portanto, usar um argumento de falha de mercado em nome de políticas que tentem preservar as diferenças culturais nacionais ao, por exemplo, limitar o número de filmes norte ‑americanos que podem ser mostrados no cinema, ou a fração de tempo de TV que pode ser utili‑ zada com programação estrangeira. Porém, assim que alguém segue com esse argu‑ mento, torna ‑se claro que outro princípio está envol‑ vido: o direito dos indivíduos em sociedades livres de entreterem ‑se como preferirem. Como você se sentiria se alguém negasse a você o direito de escutar os Rolling Stones ou ver os filmes do Jackie Chan com o funda‑ mento de que a independência cultural norte ‑americana tem de ser protegida? M12_KRUGXXXX_C12.indd 236 1/29/15 6:15 PM 237Capítulo 12 Controvérsias na política comercial a OMC e a independência nacional Um tema recorrente no movimento antiglobalização é que a motivação para o livre comércio e livre fluxo de capital minou a soberania nacional. Nas versões mais extremas dessa reclamação, a Organização Mundial do Comércio é caracterizada como um poder supranacio‑ nal capaz de impedir os governos nacionais de persegui‑ rem políticas em seus próprios interesses. Quanto disso é realmente fato? A resposta curta é que a OMC não se parece em nada com um governante mundial. Sua autoridade é basicamente limitada a requerer que os países façam jus a seus acordos de comércio internacional. Entretanto, o pequeno grão de verdade na visão de que a OMC é uma autoridade supranacional é que seu mandato lhe permite monitorar não somente os instrumentos tra‑ dicionais da política de comércio (tarifas aduaneiras, subsídios à exportação e restrições quantitativas), mas também políticas nacionais que são, de fato, políticas de comércio. E já que a linha entre políticas nacionais legí‑ timas e o protecionismo de fato é complicada, existem casos nos quais a OMC pareceu, para alguns observado‑ res, interferir na política doméstica. No Capítulo 10, descrevemos um exemplo bem conhecido que ilustra a ambiguidade dessa questão. Como vimos, os Estados Unidos corrigiram seu Ato de Ar Limpo para exigir que a gasolina importada não fosse mais poluente do que a média da gasolina fornecida pelas refinarias nacionais. A OMC julgou que essa exi‑ gência era uma violação dos acordos de comércio exis‑ tentes. Para os críticos da OMC, esse julgamento exem‑ plifica como a instituição pode frustrar uma tentativa de um governo democraticamente eleito de melhorar o meio ambiente. No entanto, os defensores da OMC apontaram, que a decisão foi baseada no fato de que os Estados Unidos estavam aplicando diferentes padrões para as importa‑ ções e para a produção nacional. Afinal, algumas refi‑ narias norte ‑americanas fornecem gasolina que é mais poluente do que a média, e ainda é permitido que elas continuem operando. Então a decisão com efeito impe‑ diu a venda de gasolina poluente da Venezuela nos mer‑ cados estadunidense, mas permitiu a venda de gasolina igualmente poluente de uma refinaria nacional. Se a nova regra aplicasse os mesmos padrões para a gasolina nacional e estrangeira, ela teria sido aceita pela OMC. Uma tragédia em Bangladesh Bangladesh é um país muito pobre. De acordo com as estimativas do Banco Mundial, em 2010 cerca de 77% dos bengaleses viviam com o equivalente a menos de US$ 2 por dia e 43% viviam com menos de US$ 1,25 por dia. Incrivelmente, entretanto, esses números refletem uma enorme melhora de um pas‑ sado não tão distante: em 1992, 93% da população vivia com menos de US$ 2 por dia na cotação atual do dólar, e 67% com menos de US$ 1,25. Esse declínio na pobreza foi o subproduto de duas décadas de crescimento econômico impres‑ sionante que dobrou o PIB per capita da nação. O crescimento dos bengaleses, por sua vez, dependia crucialmente das exportações crescentes, espe‑ cificamente as de vestuário. Como apontamos no Capítulo 11, a indústria bengalesa de vestuário é um caso clássico de vantagem comparativa: ela tem produtividade relativamente baixa, mesmo compa‑ rada com outros países em desenvolvimento, mas Bangladesh tem produtividade ainda menor em outras indústrias, então se tornou uma força expor‑ tadora de vestuário. Contudo, a competitividade bengalesa em vestuá‑ rio depende de baixos salários e condições precárias de trabalho. O quão pobre? Em 24 de abril de 2013, o mundo ficou chocado com as notícias de que um prédio de oito andares em Bangladesh, que abrigava uma série fábricas de vestuário, tinha desmoronado, matando mais de 1.200 pessoas. As investigações revelaram que rachaduras tinham aparecido no pré‑ dio no dia anterior, mas os trabalhadores tinham sido mandados de volta ao trabalho mesmo assim. Tam‑ bém parecia que o prédio era estruturalmente impró‑ prio para o trabalho de fabricação e pode ter tido andares extras construídos sem permissão. E quem comprava o vestuário feito sob essas con‑ dições pouco seguras? Nós: as fábricas no prédio for‑ neciam vestuário para uma série de marcas de roupas ocidentais. Claramente, Bangladesh precisa dar um passo em direção à proteção de seus trabalhadores, começando por fazer valer suas leis de construção e segurança do trabalhador. Mas como os consumidores nas nações ricas devem responder a isso? Uma resposta imediata e instintiva é não comprar mais mercadorias produzidas em países nos quais os trabalhadores são tão maltratados. Ainda assim, como acabamos de ver, Bangladesh precisa continuar deses‑ peradamente exportando roupas e só pode fazer isso se os trabalhadores receberem salários muito baixos M12_KRUGXXXX_C12.indd 237 1/29/15 6:15 PM 238 Economia internacional Globalização e meio ambiente As preocupações em relação aos impactos humanos no meio ambiente estão crescendo em grande parte do mundo. Por sua vez, essas preocupações desempenham um papel crescente nas políticas nacionais. Por exemplo,em novembro de 2007, o governo do primeiro ‑ministro australiano John Howard foi retirado do poder pela votação. A maioria dos analistas políticos acredita que a derrota decisiva do partido que estava no governo teve muito a ver com as impressões públicas de que o Partido Liberal da Austrália (que é, na verdade, conservador – os trabalhadores são a esquerda) não estava disposto a agir contra as ameaças ambientais. Então, inevitavelmente, as questões ambientais tam‑ bém desempenham um papel crescente nas disputas sobre o comércio internacional. Alguns ativistas anti‑ globalização afirmam que o crescente comércio inter‑ nacional prejudica automaticamente o meio ambiente; alguns alegam que os acordos de comércio internacional — e o papel da Organização Mundial do Comércio em especial — têm o efeito de bloquear as ações ambientais. A maioria dos economistas internacionais vê a primeira afirmação como simplista e discordam da segunda. Isto é, eles negam que existe uma simples relação entre a glo‑ balização e o dano ambiental e não acreditam que os acordos de comércio impedem os países de terem polí‑ ticas ambientais esclarecidas. Ainda assim, a interseção entre o comércio e do meio ambiente levanta uma série de questões importantes. Globalização, crescimento e poluição Tanto a produção quanto o consumo frequente‑ mente levam, como um subproduto, ao dano ambien‑ tal. As fábricas emitem poluição no ar e, às vezes, jogam efluentes nos rios. Os agricultores utilizam fertilizantes e pesticidas que acabam na água. Os consumidores diri‑ gem carros que emitem poluição. Como resultado, com todos os parâmetros iguais, o crescimento econômico, que aumenta tanto a produção quanto o consumo, resulta em um maior dano ambiental. Entretanto, outras coisas não estão iguais. Por um lado, os países mudam o mix de sua produção e con‑ sumo conforme ficam mais ricos, até o ponto em que tendem a reduzir o impacto ambiental. Por exemplo, ao mesmo tempo em que a economia norte ‑americana se dedica cada vez mais à produção de serviços em vez de mercadorias, ela tende a utilizar menos energia e matéria ‑prima por dólar do PIB. Além disso, enriquecer tende a levar a crescentes exigências políticas pela qualidade ambiental. Como resultado, os países ricos geralmente impõem regras mais rigorosas para assegurar ar e água mais limpos do que os países pobres (uma diferença que é aparente para qualquer um que já foi para lá e para cá, de uma cidade grande nos Estados Unidos ou na Europa a um país em desenvolvimento e já respirou fundo nos dois lugares). No começo da década de 1990, os economistas de Princeton, Gene Grossman e Alan Krueger, ao estu‑ darem a relação entre os níveis de renda nacional e de poluentes como o dióxido de enxofre, descobriram que esses efeitos compensatórios do crescimento econômico resultam em uma distinta relação de “U invertido” entre a renda per capita e o dano ambiental, conhecido como curva ambiental de Kuznets.2 Esse conceito, cuja relevância foi confirmada por uma grande quantidade de novas pesquisas, é ilustrado esquematicamente na Figura 12.3. A ideia é que conforme a renda per capita de um país aumenta devido ao crescimento econômico, o efeito inicial é dano crescente ao meio ambiente. Portanto, a China, cuja economia cresceu nas décadas recentes, está, para padrões ocidentais. De fato, eles precisam pagar até mesmo menos do que a China, cuja indústria de vestuário tem maior produtividade. E baixos salários e condições precárias de trabalho tendem, gostemos ou não, a andar juntos. Então isso significa que nada pode ser feito para ajudar os trabalhadores bengaleses que não vá aca‑ bar por prejudicá ‑los? Não. Podem ‑se tentar, tanto por meio da lei quanto por meio de simples pressão do consumidor, alguns padrões básicos para condições de trabalho que se aplicam não só a Bangladesh, mas a seus concorrentes também. Desde que não sejam muito ambiciosos, esses padrões poderiam melhorar a vida dos trabalhadores bengaleses sem aniquilar as exportações das quais o país depende. Mas não será fácil e não se deve esperar muito dessas medidas. Para o futuro previsível, dois fatos incômodos continuarão a ser verdadeiros quando se trata de comércio com países pobres: os trabalhado‑ res nesses países sofrerão com piores salários e con‑ dições de trabalho do que os ocidentais podem ima‑ ginar, ainda assim, recusar ‑se a comprar o que esses trabalhadores produzem pode fazer com que eles fiquem em situação ainda pior. 2 Gene Grossman e Alan Krueger. “Environmental Effects of a Nor‑ th American Free Trade Agreement”. In: Peter Garber (Ed.). The U.S. Mexico Free Trade Agreement. MIT Press, 1994. M12_KRUGXXXX_C12.indd 238 1/29/15 6:15 PM 239Capítulo 12 Controvérsias na política comercial de fato, movendo ‑se do ponto A para o ponto B: con‑ forme o país queima mais carvão em suas usinas e pro‑ duz mais mercadorias em suas fábricas, ele emite mais dióxido de enxofre no ar e joga mais efluentes nos rios. Mas quando um país fica suficientemente rico, ele pode arcar com as ações para proteger o meio ambiente. Conforme os Estados Unidos ficaram ricos nas décadas recentes, eles também limitaram a poluição. Por exem‑ plo, os carros têm de ter conversores catalíticos que reduzem poluição atmosférica e um esquema de licen‑ ciamento do governo limita as emissões de dióxido de enxofre das usinas. Em termos da Figura 12.3, os Esta‑ dos Unidos mudaram em algumas frentes, como polui‑ ção local do ar, de C para D: ficaram mais ricos e causa‑ ram menos dano ao meio ambiente. O que isso tem a ver com o comércio internacional? A liberalização do comércio é frequentemente defendida com o fundamento de que promoverá o crescimento eco‑ nômico. À medida que ele consegue ser bem ‑sucedido em alcançar esse fim, a renda per capita aumenta. Isso vai melhorar ou piorar a qualidade ambiental? Isso depende do lado da curva ambiental de Kuznets em que a econo‑ mia está. No trabalho original, que era em parte uma resposta aos críticos do Acordo de Livre Comércio Norte Americano que argumentaram que o acordo seria ambientalmente prejudicial, Grossman e Krueger sugeriram que o México pudesse estar do lado certo da curva. Isto é, na medida em que o NAFTA aumenta a renda mexicana, ele pode realmente levar a uma redução do dano ambiental. Entretanto, a curva ambiental de Kuznets não implica, por quaisquer meios, necessariamente que a globalização é boa para o meio ambiente. Na verdade, é bastante fácil argumentar que em nível mundial a globalização de fato prejudicou o meio ambiente, pelo menos até agora. Esse argumento seria como segue: o maior beneficiá‑ rio único da globalização tem sido, indiscutivelmente, a China, cuja economia liderada pela exportação viven‑ ciou um crescimento incrível desde 1980. Enquanto isso, a única grande questão ambiental é, com certeza, a mudança climática: existe um amplo consenso cientí‑ fico de que as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa estão causando um aumento da temperatura média da Terra. O boom chinês tem sido associado com um enorme aumento em suas emissões de dióxido de carbono. A Figura 12.4 mostra as emissões de dióxido de carbono dos Estados Unidos, Europa e China de 1980 a 2011. Em 1980, a China era um fator menor do aquecimento global. Em 2008, por uma margem substancial, era o principal emissor mundial de gases do efeito estufa. Porém, é importante perceber, que o problema não é a globalização em si. É o sucesso econômico chinês, que é até certo ponto um resultado da globalização. E apesar das preocupações ambientais, é difícil argumentar que o crescimento chinês, que tirou centenas de milhares de pessoas da pobreza extrema, é uma coisa ruim. O problema dos “refúgios da poluição” Quando os navios ficam muito velhos para continua‑ rem a operar, eles são desmontados para recuperar a sucata de metal e outros materiais. Uma forma de olhar para esse“desmonte de navios” é como uma forma de reciclagem: em vez de deixar o navio enferrujar, uma empresa de desmonte de navios extrai e reutiliza seus componentes. No fim das contas, esse salvamento sig‑ nifica que menos minério de ferro precisa ser minerado, menos petróleo precisa ser extraído e assim por diante. Pode ‑se esperar que o desmonte de navios seja bom para o meio ambiente. A tarefa em si, entretanto, pode ser ambientalmente perigosa: se tudo, do combustível resi‑ dual nos tanques do navio ao plástico em suas cadeiras e interiores, não for manuseado cuidadosamente, pode ser tóxico para o meio ambiente local. Como resultado, o desmonte de navios em países desenvolvidos está sujeito a regulamentação ambiental rigorosa. Quando um navio é desmontado em Baltimore FIGURa 12.3 Curva ambiental de Kuznets A evidência empírica sugere que enquanto as economias crescem, elas inicialmente o fazem aumentando os danos ambientais, mas tornam ‑se mais amigas do meio ambiente uma vez que ficam ricas o suficiente. A China, onde o meio ambiente está se deteriorando ao passo que a economia expande, está, na verdade, movendo ‑se de A para B. Os países mais ricos podem mover ‑se de C para D, utilizando uma parte do seu crescimento para melhorar o meio ambiente. Dano ambiental Renda per capita A B C D M12_KRUGXXXX_C12.indd 239 1/29/15 6:15 PM 240 Economia internacional ou Roterdã, toma ‑se muito cuidado para evitar dano ambiental. Mas hoje, o desmonte de navios raramente acontece em países desenvolvidos. Em vez disso, é feito em lugares como o centro indiano de desmonte de navios em Alang, onde os navios são encalhados em uma praia e então desmontados por homens com maçaricos, que deixam muita poluição em seu rastro. Realmente, Alang tornou ‑se um refúgio da poluição: graças ao comércio internacional, uma atividade eco‑ nômica sujeita a fortes controles ambientais em alguns países pode ser feita em outros países com regulamen‑ tações menos rigorosas. Alguns grupos ativistas estão muito preocupados com o problema dos paraísos de poluição. De fato, o grupo ambiental Greenpeace fez de Alang uma causa célebre, exigindo que padrões ambien‑ tais mais altos fossem impostos. Existem realmente duas questões sobre os refúgios da poluição: (1) eles são um fator importante de verdade? e (2) eles merecem ser objeto de negociação internacional? Sobre a primeira pergunta, a maioria das pesquisas empíricas sugere que o efeito do refúgio da poluição no comércio internacional é relativamente pequeno. Isto é, não existe muita evidência de que indústrias “sujas” mudaram ‑se para países com regulamentação ambiental permissiva.3 Mesmo no caso da indústria de desmonte de navios, os baixos salários indianos parecem ter sido mais atrativos do que suas frouxas restrições ambientais. Segundo, as nações têm um interesse legítimo nas políticas ambientais umas das outras? Isso depende da natureza do problema ambiental. A poluição é um exemplo clássico de externalidade negativa, um custo que os indivíduos impõem em outros, mas pelo qual não pagam. É por isso que a poluição é uma razão válida para intervenção do governo. Entre‑ tanto, diferentes formas de poluição têm diferentes alcances geográficos e somente aqueles que se estendem através das fronteiras nacionais obviamente justificam a preocupação internacional. FIGURa 12.4 Emissões de dióxido de carbono O rápido crescimento econômico da China passou de um fator pequeno na mudança climática para o maior emissor de dióxido de carbono do mundo. 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Emissões de dióxido de carbono (milhão de tonelada métrica) China Estados Unidos Europa fonte: Agência de Informação de Energia dos EUA. 3 Veja, por exemplo: Josh Ederington; Arik Levinson; Jenny Mi‑ nier. “Trade Liberalization and Pollution Havens”, Documento de Trabalho 10585, National Bureau of Economic Research, jun. 2004. M12_KRUGXXXX_C12.indd 240 1/29/15 6:15 PM 241Capítulo 12 Controvérsias na política comercial Portanto, na medida em que o desmonte indiano de navios polui o meio ambiente local em Alang, isso é um problema da Índia; é menos claro que isso seja um problema para outros países. Similarmente, a poluição do ar na Cidade do México é um problema do México. Não está claro por que é um interesse válido para os Estados Unidos. Por outro lado, as emissões de dióxido de carbono afetam o clima futuro para todos os países: elas são uma externalidade internacional e merecem ser objeto de negociação internacional. Nesse ponto, é difícil ter exemplos importantes de indústrias nas quais o fenômeno do refúgio da poluição, à medida que ocorre, resulte em externalidades interna‑ cionais negativas. No entanto, a situação pode mudar dramaticamente se algumas das principais economias, mas não todas, adotarem fortes políticas para limitar a mudança climática. a disputa das taxas de carbono Em 2009, a Câmara dos Deputados dos Estados Uni‑ dos aprovou um projeto de lei que criaria um sistema de limite e comércio para gases de efeito estufa — isto é, um sistema pelo qual um número limitado de licenças de emissão é emitido e as empresas são exigidas a com‑ prar licenças suficientes para cobrir suas emissões reais, de fato colocando um preço no dióxido de carbono e em outros gases. O Senado fracassou em aprovar qualquer projeto de lei comparável, então a legislação da mudança climática está em espera atualmente. Apesar disso, existe uma disposição de comércio chave no projeto de lei da Câmara que pode representar a forma que as coisas serão no futuro: ela impõe tarifas de carbono nas importações de países que falham em decretar políticas similares. Mas de que se trata? Uma questão que tem sido levantada sobre a legislação da mudança climática é se ela pode ser efetiva somente se alguns países tomarem essa ação. Os Estados Unidos representam somente uma parte da emissão mundial de gases de efeito estufa — na verdade, como vimos na Figura 12.4, não são nem o principal emissor. Então, a redução unilateral nas emissões pelos Estados Unidos teria somente um efeito limitado nas emissões globais e, consequentemente, na mudança climática futura. Além disso, as políticas que colocam um preço alto no carbono podem fazer o efeito do refúgio da poluição ser muito maior do que tem sido até agora, levando a um “vazamento do carbono” ao passo que as indústrias de emissão intensiva mudem para países sem políticas fortes de mudança climática. A resposta óbvia para essas preocupações é tomar uma iniciativa global, a fim de conseguir que todas as principais economias adotem políticas similares. Mas não existe garantia de que tal acordo esteja próximo, especialmente quando alguns países como a China sen‑ tem que merecem o direito de ter políticas ambientais mais indulgentes do que os países ricos que já alcança‑ ram um padrão de vida alto. Então, qual é a resposta? A ideia por trás das tarifas de carbono é cobrar dos importadores de mercadorias de países sem políticas de mudança climática uma quan‑ tia proporcional ao dióxido de carbono emitido na pro‑ dução dessas mercadorias. A cobrança por tonelada de emissões seria igual ao preço das licenças de emissão de dióxido de carbono no mercado nacional. Isso daria aos produtores estrangeiros um incentivo para limitar suas emissões de carbono e retiraria o incentivo de mudar a produção para países como regulamentações mais frou‑ xas. Além disso, possivelmente daria aos países com regulamentações mais permissivas um incentivo para adotar políticas próprias de mudança climática. Os críticos das tarifas de carbono argumentam que as políticas seriam protecionistas e também violariam as regras do comércio internacional, que proíbem a dis‑ criminação entre os produtos nacionais e estrangeiros. Aqueles que apoiam as tarifas argumentamque as polí‑ ticas simplesmente colocariam os produtores de merca‑ dorias importadas e nacionais em condições iguais na hora da venda aos consumidores nacionais, com os dois tendo de pagar pelas suas emissões de gases de efeito estufa. E como as tarifas de carbono criam condições iguais, eles argumentam que tais tarifas (cuidadosa‑ mente aplicadas) também deveriam ser legais sob as regras existentes de comércio. Atualmente, a questão das tarifas de carbono é hipo‑ tética, já que nenhuma grande economia ainda colocou um preço nas emissões de gases do efeito estufa. Cor‑ respondentemente, a OMC não emitiu nenhuma deci‑ são sobre a legalidade dessas tarifas e provavelmente não vai emitir a não ser que surja um caso real. Mas se a legislação da mudança climática retornar — e é uma boa aposta que ela vai voltar cedo ou tarde — clara‑ mente levará a novas questões importantes na política de comércio. resUmo 1. Alguns novos argumentos para a intervenção do governo no comércio surgiram ao longo do último quarto de século: a teoria da política comercial estratégica propôs razões de por que os países poderiam ganhar em promover indústrias específicas. Na década de 1990 surgiu uma nova crítica à globalização que focava nos seus efeitos sobre os trabalha‑ M12_KRUGXXXX_C12.indd 241 1/29/15 6:15 PM 242 Economia internacional dores em países desenvolvidos. E a possível ação na mu‑ dança climática levantou algumas importantes questões, incluindo aquela sobre o caráter e a legalidade das tarifas de carbono. 2. Os argumentos dos ativistas da política de comércio repou‑ sam em duas ideias. Uma é o argumento de que os governos deveriam promover as indústrias que rendem externalida‑ des tecnológicas. O outro, que representa um grande afas‑ tamento dos argumentos padrão de falha de mercado, é a análise de Brander ‑Spencer, que sugere que a intervenção estratégica pode permitir que as nações tenham retornos em excesso. Esses argumentos são teoricamente persua‑ sivos; entretanto, muitos economistas preocupam ‑se que eles sejam muito sutis e exijam muita informação para se‑ rem úteis na prática. 3. Com o aumento da exportação manufaturada em países em desenvolvimento, um novo movimento oposto à glo‑ balização surgiu. A preocupação central desse movimen‑ to é com os baixos salários pagos para trabalhadores de exportação, embora também existam outros temas. A resposta da maioria dos economistas é que os traba‑ lhadores de países em desenvolvimento podem ganhar baixos salários pelos padrões ocidentais, mas isso per‑ mite que eles ganhem mais do que eles conseguiriam de outra forma. termos ‑chave proBlemas 4. Uma verificação de casos sugere o quão difícil a discussão sobre globalização realmente é, especialmente quando ten‑ tamos olhar para isso como uma questão moral; é muito fácil que as pessoas causem prejuízo quando estão tentan‑ do ajudar. As causas mais favorecidas pelos ativistas, como normas trabalhistas, são temidas pelos países em desenvol‑ vimento, que acreditam que essas normas serão utilizadas como dispositivos de protecionismo. 5. À medida que a globalização promove o crescimento econô‑ mico, ela causa efeitos ambíguos no meio ambiente. A curva ambiental de Kuznets diz que, no princípio, o crescimento econômico tende a aumentar o dano ambiental conforme um país enriquece, mas que após certo ponto o crescimento é, de fato, bom para o meio ambiente. Infelizmente, algu‑ mas das economias de crescimento mais rápido ainda são relativamente pobres e estão do lado errado da curva. 6. Existe uma crescente preocupação de que a globalização pos‑ sa permitir indústrias altamente poluidoras a mudarem para os refúgios da poluição, onde as regras são mais permissivas. Existe pouca evidência de que isso seja um fator importante nas decisões atuais de localização, ao menos até agora. Mas isso pode mudar se sérias políticas de mudança climática fo‑ rem implementadas. Nesse caso, existe um forte argumento a favor das tarifas de carbono, assim como também muitas críticas ao conceito. análise de Brander ‑Spencer, p. 229 curva ambiental de Kuznets, p. 238 externalidades, p. 227 política comercial estratégica, p. 226 políticas de empobrecimento do vizinho, p. 231 refúgio da poluição, p. 240 retornos em excesso, p. 229 tarifas de carbono, p. 241 1. Quais são as desvantagens de envolver ‑se em política co‑ mercial estratégica mesmo em casos nos quais é evidente que ela pode render um aumento no bem ‑estar de um país? 2. Suponha que o governo norte ‑americano fosse capaz de determinar quais indústrias crescerão de forma mais rápida durante os próximos 20 anos. Por que isso não significaria automaticamente que a nação deveria ter uma política de suporte ao crescimento dessas indústrias? 3. Se os Estados Unidos fizessem à sua maneira, exigiriam que o Japão gastasse mais dinheiro em pesquisa básica em ciên‑ cia e menos em pesquisa aplicada em aplicações industriais. Explique o porquê em termos da análise da apropriabilidade. 4. Quais são as suposições ‑chave que permitem que a políti‑ ca comercial estratégica trabalhe no exemplo de Brander‑ ‑Spencer da Airbus e da Boeing? 5. Suponha que a Comissão Europeia peça que você desen‑ volva um resumo em favor do desenvolvimento europeu subsidiado de software para smartphones. Tenha em mente que essa indústria é atualmente dominada pelas empresas norte ‑americanas, especialmente por Apple e Google (cujo sistema Android é utilizado em tantos telefones e tablets). Quais argumentos você utilizaria? Quais são os pontos fra‑ cos desses argumentos? 6. Qual é a principal crítica contra a OMC em relação à prote‑ ção ambiental? Como a OMC justifica sua posição em dispu‑ tas comerciais que envolvem questões ambientais? 7. A França, além de seus golpes ocasionais na política comer‑ cial estratégica, persegue uma política cultural nacionalis‑ ta ativa que promove a arte, a música, a moda, a cozinha francesa e assim por diante. Isso pode ser, em princípio, uma tentativa de preservar a identidade nacional em um mundo crescentemente homogêneo, mas alguns funcioná‑ rios do governo também defendem essa política em termos econômicos. Em que sentido algumas características de tal política poderiam ser defendidas como um tipo de política comercial estratégica? M12_KRUGXXXX_C12.indd 242 1/29/15 6:15 PM 243Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 8. “O problema fundamental com qualquer tentativa de limitar a mudança climática é que os países cujo crescimento represen‑ ta a maior ameaça ao planeta são também os que menos têm condição de pagar o preço do ativismo ambientalista”. Expli‑ que a afirmação nos termos da curva ambiental de Kuznets. 9. Muitos países têm impostos sobre valor agregado — impos‑ tos que são pagos pelos produtores, mas que se destinam a recair sobre os consumidores. (Eles são, basicamente, uma forma indireta de impor impostos de venda.) Tais impostos leitUras adicionais sobre valor agregado sempre são acompanhados por um imposto igual nas importações. Tais impostos de importa‑ ção são considerados legais porque, como o imposto sobre valor agregado, eles são de fato uma forma indireta de ta‑ xar todas as compras do consumidor com a mesma taxa. Compare essa situação ao argumento sobre as tarifas de carbono. Por que seus defensores podem argumentar que tais tarifas são legais? Em quais objeções sobre o assunto você consegue pensar? BRANDER, J. A.; SPENCER, B. J. “Export Subsidies and International Market Share Rivalry”. Journal of International Economics, v. 16, p. 81 ‑100, 1985. Uma referência básica sobre o papel potencial dos subsídios como uma ferramenta de política comercial estratégica. ELLIOTT, K. A. Can Labor Standards Improve Under Globalization? Washing ton, D.C.: Instituto de Economia Internacional, 2001. Um levantamento das questões da causa dos ativistas por uma econo‑ mista simpatizante. GRAHAM, E. M. Fighting the Wrong Enemy: Antiglobalization Activists and