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ECONOMIA_INTERNACIONAL_ECONOMIA_INTERNAC_240523_004947 (2)

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Tí
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pa
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TE
 1
controvérsias na política comercial
CAPÍTULO
12
Argumentos sofisticados 
para a política comercial 
ativista
Nada no quadro analítico desenvolvido nos 
capítulos 9 e 10 exclui o desejo de uma interven‑
oBJetivos de aprendiZagem 
Após a leitura deste capítulo, você será capaz de:
 ■ Resumir os argumentos mais sofisticados para política de comércio intervencionista, especial-
mente aqueles relacionados às externalidades e às economias de escala.
 ■ Avaliar as reivindicações do movimento antiglobalização relacionadas aos efeitos do comércio 
sobre os trabalhadores, aos padrões de trabalho e ao meio ambiente à luz dos contra -argumentos.
 ■ Discutir o papel da Organização Mundial do Comércio (OMC) como um fórum para a resolução de 
disputas de comércio e a tensão entre as regras da OMC e os interesses nacionais individuais.
 ■ Discutir as questões -chave no debate sobre política de comércio e meio ambiente.
Como vimos, a teoria da política de comércio internacional, como a teoria do comércio inter-
nacional em si, têm uma longa tradição intelectual. Economistas internacionais experientes ten-
dem a ter uma atitude cínica em relação às pessoas que vêm junto com “novas” questões no 
comércio, o sentimento geral tende a ser que supostas novas preocupações são simples velhas 
ilusões em novas garrafas.
No entanto, de vez em quando, questões verdadeiramente novas aparecem. Este capítulo 
descreve três controvérsias sobre o comércio internacional que surgiram durante o último 
quarto de século, cada uma delas levantando questões que antes não tinham sido seriamente 
analisadas pelos economistas internacionais.
Primeiro, na década de 1980, um novo conjunto de argumentos sofisticados para a inter-
venção do governo no comércio surgiram nos países desenvolvidos. Esses argumentos focavam 
nas indústrias de “alta tecnologia” que ganharam destaque como resultado do surgimento do 
chip de silício. Embora alguns desses argumentos fossem intimamente relacionados à análise 
de falha de mercado, vista no Capítulo 10, a nova teoria da política comercial estratégica foi 
baseada em ideias diferentes, e criou um grande rebuliço. A disputa sobre as indústrias de alta 
tecnologia e o comércio diminuiu por um tempo na década de 1990, mas voltou recentemente, 
ao passo que novas preocupações sobre a inovação norte -americana surgiram.
Segundo, na década de 1990, uma disputa acalorada surgiu sobre os efeitos do crescente 
comércio internacional sobre os trabalhadores dos países em desenvolvimento e se os argumen-
tos do comércio deveriam incluir padrões para taxas de salário e condições de trabalho. Essa 
disputa muitas vezes aumentou para um debate mais amplo sobre os efeitos da globalização. Um 
debate que aconteceu não só nas revistas acadêmicas, mas também, em alguns casos, nas ruas.
Mais recentemente, houve uma preocupação crescente sobre a interseção entre as questões 
ambientais, que transcendem cada vez mais as barreiras nacionais, e a política de comércio, com 
uma séria disputa econômica e legal sobre se políticas como as “tarifas de carbono” são apropriadas.
ção do governo no comércio. Aquele quadro 
mostra que a política comercial ativista precisa 
de um tipo específico de justificativa, isto é, deve 
compensar uma falha de mercado nacional pre‑
existente. O problema com muitos argumentos 
para a política comercial ativista é precisamente 
que eles não vinculam o caso para a intervenção 
M12_KRUGXXXX_C12.indd 226 1/29/15 6:15 PM
227Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
do governo com nenhuma falha específica dos pressupos‑
tos nos quais o caso de laissez -faire repousa.
A dificuldade com os argumentos de falha de mercado 
para intervenção é serem capazes de reconhecer uma falha 
de mercado quando se vê uma. Os economistas que estu‑
dam os países industriais identificaram dois tipos de falhas 
de mercado que parecem ser presentes e relevantes para as 
políticas de comércio de países desenvolvidos: (1) a inca‑
pacidade das empresas das indústrias de alta tecnologia 
em capturar os benefícios daquela parte de sua contribui‑
ção para os transbordamentos de conhecimento para as 
outras empresas; e (2) a presença de lucros de monopólio 
em indústrias oligopolistas altamente concentradas.
tecnologia e externalidades
A discussão do argumento da indústria nascente no 
Capítulo 11 observou que existe uma falha potencial de 
mercado surgindo das dificuldades de apropriar ‑se do 
conhecimento. Se as empresas em uma indústria geram 
conhecimento que outras empresas podem utilizar sem 
pagar por ele, a indústria está, na verdade, produzindo 
algum produto extra — o benefício social marginal do 
conhecimento — que não é refletido nos incentivos das 
empresas. Onde tais externalidades (benefícios que são 
revertidos para partes diferentes das empresas que os 
produziram) podem mostrar ‑se importantes é o indício 
de um bom caso para subsidiar a indústria.
Em um nível abstrato, esse argumento é o mesmo para 
as indústrias nascentes de países menos desenvolvidos 
como para as indústrias estabelecidas dos países desenvol‑
vidos. Em países desenvolvidos, entretanto, o argumento 
tem uma vantagem especial, porque nesses países existem 
indústrias importantes de alta tecnologia, nas quais a 
geração de conhecimento é, de várias formas, o aspecto 
central da empresa. Nas indústrias de alta tecnologia, 
as empresas dedicam grande parte de seus recursos para 
melhorar a tecnologia, tanto ao gastar explicitamente em 
pesquisa e desenvolvimento quanto ao estar dispostas a 
aceitar as perdas iniciais em novos produtos e processos 
para ganhar experiência. Porque tais atividades situam ‑se 
próximas a todas as indústrias, não existe uma linha nítida 
entre a alta tecnologia e o resto da economia. Contudo, 
existem diferenças claras em graus, portanto faz sentido 
falar em um setor de alta tecnologia, no qual o investi‑
mento em conhecimento é a parte chave do negócio.
O ponto para a política comercial ativista é que 
enquanto as empresas podem apropriar ‑se de alguns bene‑
fícios do seu próprio investimento em conhecimento (caso 
contrário eles não investiriam!), normalmente eles não 
podem apropriar ‑se deles plenamente. Alguns dos benefí‑
cios são revertidos para outras empresas que podem imitar 
as ideias e as técnicas dos líderes. Em eletrônica, por exem‑
plo, não é raro para as empresas utilizarem “engenharia 
reversa” nos produtos de seus rivais, comprando seus pro‑
dutos para descobrir como eles funcionam e como foram 
feitos. Por causa das leis de patente que fornecem somente 
uma fraca proteção para os inovadores, pode ‑se resu‑
mir sensatamente que sob o laissez -faire, as empresas de 
alta tecnologia não recebem um incentivo para inovar de 
maneira tão intensa quanto elas deveriam.
O caso do apoio governamental para as indústrias de alta 
tecnologia O governo norte ‑americano deveria sub‑
sidiar indústrias de alta tecnologia? Embora exista um 
ótimo argumento para esse subsídio, devemos ter certa 
cautela. Duas questões, em particular, surgem: (1) o 
governo pode direcioná ‑lo as indústrias ou atividades 
corretas? E (2) o quão importante, quantitativamente, 
seriam os ganhos de tal direcionamento?
Embora as indústrias de alta tecnologia provavelmente 
produzam benefícios sociais extras por causa do conheci‑
mento que elas geram, muito do que ocorre, mesmo nessas 
indústrias, não tem nada a ver com geração de conheci‑
mento. Não existe razão para subsidiar o emprego de 
capital ou de trabalhadores não técnicos nas indústrias de 
alta tecnologia. Por outro lado, a inovação e os transbor‑
damentos de tecnologia acontecem até certo ponto mesmo 
nas indústrias que são completamente de alta tecnologia. 
Um princípio geral é que a política comercial e industrial 
deveria mirar especificamente na atividade na qual a falha 
de mercado ocorre. Portanto, a política deveria buscar 
subsidiar a geração de conhecimento da qual as empre‑
sas não podem seapropriar. O problema, entretanto, é 
que nem sempre é fácil de identificar a geração de conhe‑
cimento; como veremos brevemente, os profissionais da 
indústria com frequência argumentam que focar somente 
nas atividades especificamente rotuladas como “pesquisa” 
está resultando em uma visão muito restrita do problema.
O aumento, a queda e o aumento das preocupações de alta 
tecnologia Os argumentos de que os Estados Unidos 
em particular deveriam considerar uma política de pro‑
moção das indústrias de alta tecnologia e ajudá ‑las a 
competir contra os rivais estrangeiros têm uma história 
curiosa. Tais argumentos ganharam atenção generali‑
zada e popularidade na década de 1980 e no começo da 
década de 1990, então caíram em desuso, vivenciando 
uma forte recuperação nos anos recentes.
As discussões de alta tecnologia na década de 1980 e 
no começo da década de 1990 foram impulsionadas prin‑
cipalmente pelo surgimento das empresas japonesas em 
alguns setores proeminentes dessa indústria que tinham 
M12_KRUGXXXX_C12.indd 227 1/29/15 6:15 PM
228 Economia internacional
sido dominados anteriormente pelos produtores norte‑
‑americanos. De modo mais notável, entre 1978 e 1986, 
a parcela norte ‑americana na produção mundial de chips 
de memória RAM, um componente ‑chave de muitos 
dispositivos eletrônicos, caiu de cerca de 70% para 20%, 
enquanto a parcela japonesa aumentou de 30% para 75%. 
Houve uma preocupação generalizada de que outros pro‑
dutos de alta tecnologia pudessem sofrer o mesmo des‑
tino. Mas como descrito no estudo de caso “Quando os 
chips estavam por cima”, mais adiante, o medo de que 
o domínio japonês no mercado de memória de semicon‑
dutores fosse traduzido em um maior domínio nos com‑
putadores e em tecnologias relacionadas provou não ter 
fundamento. Além disso, o crescimento geral do Japão 
patinou na década de 1990, enquanto o dos Estados Uni‑
dos subiu em um renovado período de domínio tecnoló‑
gico, tomando a liderança em aplicações para a Internet e 
outras indústrias de informação.
No entanto, mais recentemente, surgiram preocupa‑
ções sobre o status das indústrias norte ‑americanas de 
alta tecnologia. Um fator central dessas preocupações 
tem sido o declínio do emprego estadunidense nos cha‑
mados produtos de tecnologia avançada (ATP). Como 
a Figura 12.1 mostra, os Estados Unidos entraram 
em um grande déficit de mercadorias TIC, enquanto a 
Figura 12.2 mostra que o emprego norte ‑americano na 
produção de computadores e mercadorias relacionadas 
caiu, desde 2000, substancialmente mais rápido do que o 
emprego nas indústrias em geral.
Isso importa? Os Estados Unidos poderiam, indiscu‑
tivelmente, continuar no topo da inovação da tecnologia 
da informação enquanto terceirizam a maior parte de 
sua produção atual de mercadorias de alta tecnologia 
em fábricas no exterior. Entretanto, como explicado no 
quadro “Um aviso do fundador da Intel”, mais à frente, 
algumas vozes influentes avisam que a inovação não 
pode prosperar a não ser que os inovadores estejam pró‑
ximos, em termos físicos e de negócios, das pessoas que 
transformam essas inovações em mercadorias físicas.
É um debate difícil de resolver, em grande parte por 
que não está nada claro como colocar números nessas 
preocupações. Porém, parece provável, que o debate 
sobre se as indústrias de alta tecnologia precisam ou não 
de consideração especial crescerá intensamente nos pró‑
ximos anos.
Concorrência imperfeita 
e a política comercial estratégica
Durante a década de 1980, um novo argumento para 
o direcionamento industrial recebeu substancial aten‑
ção teórica. Originalmente proposta pelos economistas 
Barbara Spencer e James Brander da Universidade de 
British Columbia, esse argumento identifica a falha de 
mercado que justifica a intervenção do governo como 
a falta de concorrência perfeita. Em determinadas 
indústrias, eles apontam que existem somente algumas 
empresas em concorrência efetiva. Por causa do número 
pequeno de empresas, os pressupostos de concorrência 
FIGURa 12.1 Balanço norte -americano de comércio em mercadorias de informação
Desde 2000, os Estados Unidos desenvolveram um grande déficit de comércio em produtos de tecnologia avançada, que são 
amplamente vistos como a vanguarda da inovação.
2000 2002 2004 2006 2008
Balanço norte-americano de comércio em 
mercadorias TIC (bilhões de dólares)
–100
–80
–60
–40
–20
0
20
40
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2010
fonte: National Science Foundation, Science and Engineering Indicators 2012.
M12_KRUGXXXX_C12.indd 228 1/29/15 6:15 PM
229Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
perfeita não são aplicados. Em particular, normalmente 
existirão retornos em excesso, isto é, as empresas terão 
lucros acima dos investimentos de igual risco que pode‑
rão ganhar em outra parte da economia. Existirá, por‑
tanto, uma concorrência internacional para ver quem 
consegue esses lucros.
Spencer e Brander notaram que, nesse caso, é possí‑
vel para um governo, em princípio, alterar as regras do 
jogo para mover esses retornos em excesso das empresas 
estrangeiras para as empresas nacionais. No caso mais 
simples, um subsídio para as empresas nacionais, desen‑
corajando o investimento e a produção de competido‑
res estrangeiros, pode aumentar os lucros das empresas 
nacionais em mais do que a quantia do subsídio. Colo‑
cando de lado os efeitos sobre os consumidores, por 
exemplo, quando as empresas vendem só no mercado 
estrangeiro, essa captura de lucros dos competidores 
estrangeiros poderia significar que o subsídio aumenta a 
renda nacional à custa de outro país.
A análise de Brander ‑Spencer: um exemplo A análise 
de Brander ‑Spencer pode ser ilustrada com um simples 
exemplo no qual duas empresas concorrem, cada uma 
de um país diferente. Tendo em mente que qualquer 
semelhança com eventos reais pode ser coincidência, 
vamos chamar as empresas de Boeing e Airbus e os paí‑
ses de Estados Unidos e Europa. Suponha que exista 
um novo produto, um avião superjumbo, que as duas 
empresas são capazes de fazer. Para simplificar, consi‑
dere que cada uma pode tomar somente uma decisão de 
sim/não: produzir o avião superjumbo ou não.
A Tabela 12.1 ilustra como os lucros ganhos pelas 
duas empresas podem depender de suas decisões. (A 
configuração é similar àquela que utilizamos para exa‑
minar a interação das políticas de comércio de diferentes 
países no Capítulo 10.) Cada linha corresponde a uma 
decisão particular da Boeing, cada coluna corresponde 
a uma decisão da Airbus. Em cada caixa temos duas 
entradas: a entrada do lado esquerdo inferior representa 
os lucros da Boeing, enquanto a entrada do lado direito 
superior representa os lucros da Airbus.
Como definido, a tabela reflete a seguinte suposição: 
cada empresa sozinha poderia ganhar lucros ao fazer o 
avião superjumbo, mas se as duas produzirem ‑no, ambas 
sofrerão perdas. Qual empresa vai, de fato, ficar com os 
lucros? Isso depende de quem chegar primeiro. Suponha 
que a Boeing seja capaz de ter uma pequena vantagem 
FIGURa 12.2 Dados em tempo real — Empregos na indústria norte -americana
Desde 2000, o número de trabalhadores produzindo computadores e mercadorias relacionadas a isso nos Estados Unidos caiu 
drasticamente, ultrapassando o declínio geral do emprego na indústria.
Índice de emprego, 2000=100
Toda a produção
Computadores e afins
60
65
70
75
80
85
90
95
100
105
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
fonte: Departamento de Estatísticas de Trabalho dos EUA.
tabela 12.1 Concorrência entre duas empresas
Airbus
Boeing Produz Não produz
Produz –5
–5
0
100
Não produz
100
0
0
0
M12_KRUGXXXX_C12.indd 229 1/29/15 6:15 PM
230 Economia internacional
inicial e se comprometa a produzir o avião superjumbo 
antes que a Airbus o faça. A Airbus vai descobrir que 
não tem incentivo para entrar no mercado. O resultado 
estará do lado direito superior da tabela, com a Boeing 
ganhando oslucros.
Agora vem o ponto de Brander ‑Spencer: o governo 
europeu pode reverter essa situação. Suponha que o 
governo europeu comprometa ‑se a pagar à empresa um 
subsídio de 25% se ela entrar no mercado. O resultado 
mudará a tabela de pagamentos para aquela represen‑
tada na Tabela 12.2. Nesse caso, será lucrativo para a 
Airbus produzir o avião superjumbo independente‑
mente do que a Boeing faça.
Vamos trabalhar com as implicações dessa mudança. 
Agora, a Boeing sabe que, independentemente do que 
faça, terá de competir com a Airbus e, portanto, perderá 
dinheiro se escolher produzir o avião. Então agora é a 
Boeing que será desencorajada a entrar no mercado. Na 
realidade, o subsídio do governo retirou a vantagem ini‑
cial que assumimos que era da Boeing e, em vez disso, 
conferiu ‑a à Airbus. 
O resultado final é que o equilíbrio muda do lado 
superior direito da Tabela 12.1 para o lado inferior 
esquerdo da Tabela 12.2. A Airbus fica com os lucros 
de 125 em vez de 0, esses lucros surgem por causa de um 
subsídio do governo de somente 25%. Isto é, o subsídio 
aumenta os lucros em mais do que a quantidade de sub‑
sídio em si, por causa de seu efeito desencorajador para 
a concorrência estrangeira. O subsídio tem esse efeito 
porque cria uma vantagem para a Airbus, comparável 
com a vantagem estratégica que ela teria tido se a Boeing 
não tivesse tido uma vantagem inicial na indústria.
Problemas com a análise de Brander ‑Spencer O exem‑
plo hipotético pode parecer indicar que essa política de 
comércio estratégica fornece um argumento convincente 
para o ativismo do governo. Um subsídio pelo governo 
europeu aumenta drasticamente os lucros da empresa 
europeia à custa de seus rivais estrangeiros. Deixando 
de lado o interesse dos consumidores, isso parece clara‑
mente aumentar o bem ‑estar europeu (e reduzir o norte‑
‑americano). O governo estadunidense não devia colo‑
car esse argumento em prática?
Na verdade, essa justificativa estratégica para a política 
de comércio, embora tenha atraído muito interesse, tam‑
bém recebeu muita crítica. Os críticos argumentam que 
fazer uso prático da teoria demandaria mais informação 
do que é possível estar disponível, que tais políticas cor‑
reriam o risco de retaliação estrangeira e que, nesse caso, 
as políticas nacionais de comércio e a política industrial 
impediriam a utilização de ferramentas de análise sutis.
O problema de informação insuficiente tem dois 
aspectos. O primeiro é que mesmo quando olhamos para 
uma indústria isolada, pode ser difícil de preencher as 
entradas em uma tabela como a Tabela 12.1 com alguma 
confiança. E, segundo, se o governo entender errado, 
uma política de subsídio pode tornar ‑se um equívoco 
dispendioso. Suponha, por exemplo, que a Boeing tem 
uma vantagem subjacente, talvez uma melhor tecnolo‑
gia, de forma que mesmo que a Airbus entre no mer‑
cado, a Boeing ainda vai achar lucrativo produzir o 
avião. A Airbus, entretanto, não pode produzir aviões 
lucrativamente se a Boeing entrar no mercado.
Na ausência de um subsídio, o resultado será que a 
Boeing produz e a Airbus não produz. Agora suponha 
que, como no caso anterior, o governo europeu forneça 
um subsídio suficiente para induzir a Airbus a produ‑
zir. No entanto, nesse caso, por causa da vantagem da 
Boeing, o subsídio não vai agir como um desencorajador 
para a Boeing, e os lucros da Airbus ficarão aquém do 
valor do subsídio — em resumo, a política terá sido um 
erro dispendioso.
O ponto é que embora os dois casos possam parecer 
similares, em um deles o subsídio parece ser uma boa 
ideia, enquanto no outro parece ser uma ideia terrível. 
Parece que a conveniência das políticas de comércio 
estratégicas depende de uma leitura exata da situação. 
Isso leva alguns economistas a perguntar se estamos 
sempre propensos a ter informação suficiente para utili‑
zar a teoria efetivamente.
A exigência por informação é complicada porque não 
podemos considerar as indústrias isoladamente. Se um 
setor é subsidiado, vai extrair recursos e levar a aumentos 
nos custos de outros. Portanto, mesmo uma política que 
seja bem ‑sucedida em dar às empresas norte ‑americanas 
uma vantagem estratégica em uma indústria, tenderá a 
causar desvantagem estratégica em outro lugar. Para per‑
guntar se a política é justificada, o governo estadunidense 
teria de pesar esses efeitos de compensação. Mesmo que o 
governo tenha um entendimento exato de uma indústria, 
isso não é o suficiente, porque ele também precisa de um 
entendimento igualmente exato daqueles setores com os 
quais essa indústria compete por recursos.
tabela 12.2 Efeitos de um subsídio para a Airbus
Airbus
Boeing Produz Não produz
Produz 20
–5
0
100
Não produz
125
0
0
0
M12_KRUGXXXX_C12.indd 230 1/29/15 6:15 PM
231Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
Se a política comercial estratégica proposta pode 
superar essas críticas, enfrentará o problema da reta‑
liação estrangeira, essencialmente o mesmo problema 
encarado quando se considera a utilização de uma tarifa 
aduaneira para melhorar os termos de comércio (Capí‑
tulo 10). Políticas estratégicas são políticas de empobreci‑
mento do vizinho que aumentam nosso bem ‑estar à custa 
de outro país. Essas políticas, portanto, arriscam uma 
guerra comercial que deixam todos em pior situação. 
Poucos economistas defenderiam que os Estados Unidos 
fossem os iniciadores de tais políticas. Em vez disso, o 
mais longe que a maioria dos economistas está disposta 
a ir é argumentar que os Estados Unidos deveriam estar 
preparados para retaliar quando outros países parece‑
rem utilizar politicas estratégicas de forma agressiva.
Por fim, teorias como essa podem ser utilizadas em 
um contexto político? Discutimos isso no Capítulo 10, 
no qual as razões para o ceticismo foram colocadas no 
contexto de um caso politicamente cético para o livre 
comércio.
Um aviso do fUndador da intel
Quando Andy Grove fala sobre tecnologia, as pes‑
soas escutam. Em 1968, ele cofundou a Intel, que 
inventou o microprocessador — o chip que comanda 
seu computador, e dominou o negócio de semicondu‑
tores por décadas.
Muitas pessoas notaram, em 2010, quando Grove 
emitiu uma dura advertência sobre o destino da alta 
tecnologia norte ‑americana: a erosão do emprego 
manufatureiro nas indústrias de tecnologia, ele argu‑
mentou, mina as condições para a inovação futura1. 
Grove escreveu:
As startups são uma coisa incrível, mas elas não 
podem aumentar o emprego na tecnologia sozinhas. 
Igualmente importante é o que vem após esse momento 
lendário de criação na garagem conforme a tecnologia 
passa do protótipo para a produção em massa. Essa é 
a fase na qual as empresas ampliam ‑se. Elas resolvem 
detalhes de design, descobrem como fazer as coisas 
mais acessíveis, constroem fábricas e contratam cente‑
nas de pessoas. Ampliar é um trabalho duro, mas neces‑
sário para fazer a inovação ter importância.
O processo de ampliação não ocorre mais nos Esta‑
dos Unidos. E enquanto isso acontecer, lavrar o capital 
em companhias jovens que constroem suas fábricas em 
outro lugar continuará a render um retorno ruim em ter‑
mos de empregos para os norte ‑americanos.
Na essência, Grove estava argumentando que os 
transbordamentos tecnológicos exigem mais do que 
pesquisadores. Eles exigem a presença de um grande 
número de trabalhadores que colocam as ideias em fun‑
cionamento. Se ele estiver certo, sua afirmação constitui 
um forte argumento para o direcionamento industrial.
QUando os chips estavam por cima
Durante os anos em que os argumentos sobre a 
efetividade da política comercial estratégica esta‑
vam no pico, defensores de uma política comercial 
mais intervencionista por parte dos Estados Unidos 
afirmavam com frequência que o Japão tinha pros‑
perado ao promover deliberadamente indústrias‑
‑chave. No começo da década de 1990, um exem‑
plo em particular, o dos chips semicondutores, 
tinha se tornado a prova A no caso de que promo‑
ver indústrias ‑chave “funciona”. Defato, quando o 
autor James Fallows publicou uma série de artigos 
em 1994 atacando a ideologia do livre comércio 
e alegando a superioridade do estilo de interven‑
cionismo japonês, ele começou com uma peça inti‑
tulada A parábola dos chips. Contudo, no fim da 
década de 1990, o exemplo dos semicondutores 
tinha parecido virar objeto de estudo das armadi‑
lhas da política comercial ativista.
Um chip semicondutor é uma pequena peça de 
silício, na qual circuitos complexos foram cauteriza‑
dos. Como vimos no quadro “Um aviso do fundador 
da Intel”, a indústria começou nos Estados Unidos 
quando a empresa norte ‑americana Intel introdu‑
ziu o primeiro microprocessador, o cérebro de um 
computador em um chip. Desde então, a indústria 
vivenciou uma rápida, porém previsível, mudança 
tecnológica: mais ou menos a cada 18 meses, o 
número de circuitos que pode ser gravado em 
um chip dobra, uma regra conhecida como Lei de 
Moore. Esse progresso constitui a base de boa parte 
da revolução da tecnologia de informação das últi‑
mas três décadas.
1 Andy Grove. “How to Make an American Job Before It’s Too Late”, Bloomberg.com, jul. 2010.
M12_KRUGXXXX_C12.indd 231 1/29/15 6:15 PM
232 Economia internacional
O Japão entrou no mercado de semicondutores no 
fim da década de 1970. A indústria, definitivamente, era 
o alvo do governo japonês, que apoiou uma pesquisa de 
esforço que ajudou a construir a qualidade tecnológica 
nacional. Os valores envolvidos nesse subsídio, entre‑
tanto, eram bem pequenos. O principal componente 
da política comercial ativista do Japão, de acordo com 
os críticos norte ‑americanos, era um protecionismo 
implícito. Embora o Japão tivesse algumas tarifas for‑
mais ou outras barreiras para importações, as empresas 
estadunidenses descobriram que uma vez que o Japão 
foi capaz de produzir certo tipo de chip semicondutor, 
poucos produtos norte ‑americanos eram vendidos no 
país. Os críticos alegaram que existia um entendimento 
implícito entre as empresas japonesas em indústrias 
como eletrônicos de consumo, na qual o Japão já era um 
produtor líder, de que eles deviam comprar semicondu‑
tores nacionais, mesmo se o preço fosse maior ou se a 
qualidade fosse inferior à dos produtos concorrentes 
norte ‑americanos. Essa afirmação era verdadeira? Os 
fatos do caso ainda estão em disputa.
Os observadores também afirmaram que o mer‑
cado japonês protegido (se esse era mesmo o caso) 
promovia indiretamente a capacidade japonesa de 
exportar semicondutores. O argumento era assim: a 
produção de semicondutores é caracterizada por uma 
curva de aprendizado íngreme (lembre ‑se da discus‑
são das economias de escala dinâmica no Capítulo 7). 
Com a garantia de um mercado nacional grande, os 
produtores japoneses de semicondutores tinham cer‑
teza de que seriam capazes de trabalhar para descer a 
curva de aprendizado, o que significava que eles esta‑
vam dispostos a investir em novas fábricas que tam‑
bém poderiam produzir para a exportação.
Permanece obscuro até que ponto essas políticas 
levaram ao sucesso japonês em tomar grandes parce‑
las do mercado de semicondutores. Algumas caracte‑
rísticas do sistema industrial japonês podem ter dado 
ao país uma vantagem comparativa “natural” na pro‑
dução de semicondutores, onde o controle de quali‑
dade é uma preocupação crucial. Durante as décadas 
de 1970 e 1980, as fábricas japonesas desenvolve‑
ram uma nova abordagem para a produção baseada, 
entre outras coisas, na definição de níveis aceitáveis 
de defeitos muito menores do que aqueles que eram 
padrão nos Estados Unidos. 
De qualquer forma, no meio da década de 1980, 
o Japão ultrapassou os Estados Unidos em vendas 
de um tipo de semicondutor, que era amplamente 
considerado crucial para o sucesso da indústria: as 
memórias de acesso aleatório, ou memória RAM. O 
argumento de que a produção de memória RAM era 
a chave para dominar toda a indústria de semicondu‑
tores apoiava ‑se na crença de que isso renderia tanto 
fortes externalidades tecnológicas quanto excessos 
de retorno. As memórias RAM eram a forma de semi‑
condutores de maior volume. Os experts da indústria 
afirmaram que o know ‑how adquirido na produção 
da memória RAM foi essencial para a capacidade de 
uma nação em continuar avançando na tecnologia 
em outros semicondutores, como os microprocessa‑
dores. Então, era amplamente previsto que o domínio 
japonês em memórias RAM logo seria traduzido em 
domínio na produção de semicondutores em geral, e 
que essa supremacia, por sua vez, daria ao Japão uma 
vantagem na produção de muitas outras mercadorias 
que utilizavam semicondutores.
Também se acreditava que embora a produção de 
memórias RAM não tivesse sido um negócio altamente 
lucrativo antes de 1990, em algum momento viria a 
se transformar em uma indústria caracterizada pelos 
retornos em excesso. A razão era que o número de 
empresas produzindo memórias RAM tinha caído cons‑
tantemente: em cada geração consecutiva de chips 
alguns produtores tinham saído do setor e nenhuma 
empresa entrou. Eventualmente, muitos observadores 
pensaram que sobrariam somente dois ou três produ‑
tores de memória RAM altamente lucrativos.
No entanto, durante a década de 1990, as duas 
justificativas para mirar nas memórias RAM (externa‑
lidades tecnológicas e retornos em excesso) aparente‑
mente não se materializaram. De um lado, a liderança 
do Japão em memórias RAM por fim não foi traduzida 
em uma vantagem em outros tipos de semicondutores: 
por exemplo, as empresas norte ‑americanas mantive‑
ram uma liderança segura em microprocessadores. Por 
outro lado, em vez de continuar diminuindo, o número 
de produtores de memória RAM começou a aumentar 
de novo, com os principais novatos da Coreia do Sul 
e de outras economias recém ‑industrializadas. No fim 
na década de 1990, a produção de memória RAM foi 
considerada um negócio de commodities: muita gente 
podia fazer memórias RAM e não havia nada especial‑
mente estratégico sobre o setor.
A lição importante parece ser o quão difícil é sele‑
cionar as indústrias a promover. A indústria de semi‑
condutores pareceu, em sua superfície, ter todos os 
atributos para um setor adequado para a política 
comercial ativista. Mas, no fim, ela não rendeu nem 
fortes externalidades nem retornos em excesso.
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233Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
Globalização e mão de obra 
de baixo salário
É uma boa aposta que a maioria das roupas que você 
está usando enquanto lê isso veio de um país bem mais 
pobre que os Estados Unidos. O aumento de exporta‑
ções manufaturadas dos países em desenvolvimento tem 
sido uma das maiores mudanças na economia mundial 
durante a última geração. Até mesmo uma nação exces‑
sivamente pobre como Bangladesh, com um PIB per 
capita menor que 5% que o dos Estados Unidos, agora 
apoia ‑se em mais exportações de mercadorias manufa‑
turadas do que em exportações de produtos tradicionais 
agrícolas ou minerais. (Um funcionário do governo em 
um país em desenvolvimento comentou com um dos 
autores: “Não somos uma república de bananas, somos 
uma república de pijamas”.)
Não deveria surpreender que os trabalhadores 
que produzem mercadorias manufaturadas para 
exportação em países em desenvolvimento recebam 
muito pouco pelos padrões dos países desenvolvidos, 
frequentemente menos de US$ 1 por hora, às vezes 
menos de US$ 0,50. Afinal, os trabalhadores têm 
poucas alternativas em economias geralmente pobres. 
Tampouco deveria surpreender que as condições de 
trabalho também sejam bem ruins em muitos casos, 
algumas vezes letais, como veremos no estudo de caso 
“Uma tragédia em Bangladesh”, mais adiante neste 
capítulo.
Os baixos salários e as condições precárias de tra‑
balho deveriam ser causa de preocupação? Muitas pes‑
soas pensam que sim. Na década de 1990, o movimento 
antiglobalização atraiu muitos adeptos em países desen‑
volvidos, especialmente nos campi de universidades. 
Salários superbaixos e ultrajantese condições precá‑
rias de trabalho em indústrias de exportação de países 
em desenvolvimento eram grande parte do apelo do 
movimento, embora outras preocupações (discutidas a 
seguir) também fossem parte da história.
É justo dizer que a maioria dos economistas tinha 
visto o movimento antiglobalização como, na melhor 
das hipóteses, mal orientado. A análise padrão da vanta‑
gem comparativa sugere que o comércio é mutualmente 
benéfico para os países que nele se envolvem. Sugere, 
ainda, que quando os países com abundância em mão de 
obra exportam mercadorias de trabalho intensivo, como 
tecido, não somente suas rendas nacionais aumentam, 
mas a distribuição de renda também muda em favor da 
mão de obra. Mas o movimento de antiglobalização 
está inteiramente fora da base? 
Movimento antiglobalização
Antes de 1995, a maioria das reclamações sobre o 
comércio internacional feitas por cidadãos de países 
desenvolvidos era sobre os efeitos dele nas pessoas que 
também eram cidadãos de países desenvolvidos. Nos 
Estados Unidos, a maioria dos críticos do livre comércio 
na década de 1980 focava na suposta ameaça da compe‑
tição japonesa. No começo da década de 1990, existia 
uma preocupação substancial tanto nos Estados Unidos 
quanto na Europa sobre os efeitos das importações de 
países de baixos salários nos salários de trabalhadores 
nacionais menos qualificados.
Na segunda metade da década de 1990, entretanto, 
um movimento que crescia rapidamente (atraindo con‑
siderável apoio de estudantes universitários) começou a 
enfatizar o suposto mal que o comércio mundial estava 
causando aos trabalhadores nos países em desenvolvi‑
mento. Os ativistas apontaram para os baixos salários 
e para as condições precárias de trabalho nas fábricas 
do Terceiro Mundo que produziam mercadorias para o 
mercado ocidental. Em 1996, um evento solidificador foi 
a descoberta de que as roupas vendidas no Wal ‑Mart, e 
aprovadas pela personalidade da televisão Kathie Lee 
Gifford, eram produzidas por trabalhadores muito mal 
pagos em Honduras.
O movimento antiglobalização ganhou as man‑
chetes mundiais em novembro de 1999, quando uma 
grande reunião na Organização Mundial do Comér‑
cio aconteceu em Seattle. O propósito da reunião era 
o de começar outra rodada de negociação, seguindo a 
Rodada Uruguai, descrita no Capítulo 10. Milhares de 
ativistas juntaram ‑se em Seattle, motivados pela crença 
de que a OMC estava passando por cima da indepen‑
dência nacional e impondo ideias de livre comércio 
que prejudicavam os trabalhadores. Apesar de vários 
alertas, a polícia estava mal preparada e as manifesta‑
ções causaram interrupções consideráveis para as reu‑
niões. De qualquer forma, as negociações não estavam 
indo bem: as nações falharam em concordar em uma 
ordem do dia para avançar e logo ficou claro que não 
existia acordo suficiente na direção para início de uma 
nova rodada.
No fim, a reunião foi considerada um fracasso. A 
maior parte dos experts em política de comércio acre‑
dita que a reunião teria fracassado mesmo na ausência 
das manifestações, mas o movimento antiglobalização 
ao menos pareceu interromper uma importante confe‑
rência internacional. Durante os dois anos seguintes, 
grandes manifestações também atrapalharam reuniões 
do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial 
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234 Economia internacional
em Washington, assim como uma reunião de cúpula dos 
maiores poderes econômicos em Gênova. No último 
evento, a polícia italiana matou um ativista.
Em outras palavras, o movimento antiglobalização 
tinha se tornado uma presença altamente visível em um 
período de tempo relativamente curto. Mas qual era o 
objetivo do movimento — e será que ele estava certo?
Comércio e salários revistos
Uma vertente da oposição para a globalização é 
conhecida da análise no Capítulo 3. Os ativistas apon‑
taram para os salários muito baixos recebidos por mui‑
tos trabalhadores nas indústrias de exportação de países 
em desenvolvimento. Esses críticos argumentaram que 
os baixos salários (e as condições precárias de traba‑
lho associadas a eles) mostraram que, ao contrário das 
reclamações dos defensores do livre comércio, a globa‑
lização não estava ajudando os trabalhadores em países 
em desenvolvimento.
Por exemplo, alguns ativistas apontaram para o 
exemplo das maquiladoras do México, as fábricas pró‑
ximas à fronteira norte ‑americana que expandiram rapi‑
damente, quase dobrando os empregos nos cinco anos 
seguintes à assinatura do Acordo de Livre Comércio da 
América do Norte. Os salários nessas fábricas eram, em 
alguns casos, menores que US$ 5 por dia e as condições 
eram horrorosas pelos padrões norte ‑americanos. Os 
oponentes do acordo de livre comércio argumentaram 
que ao tornar mais fácil para os empregadores substi‑
tuírem trabalhadores de altos salários nos Estado Uni‑
dos por trabalhadores de baixos salários no México o 
acordo tinha prejudicado a mão de obra nos dois lados 
da fronteira.
A resposta economista padrão para esse argumento 
remete à nossa análise, no Capítulo 3, dos equívocos 
sobre a vantagem comparativa. Vimos ser um equívoco 
comum que o comércio deve necessariamente envolver 
a exploração de trabalhadores se eles ganham salários 
muito menores do que seus pares em um país rico.
A Tabela 12.3 repete essa análise brevemente. Nesse 
caso, supomos que existem dois países, os Estados Uni‑
dos e o México, e duas indústrias: alta tecnologia e baixa 
tecnologia. Também supomos que a mão de obra é o 
único fator de produção e que a mão de obra estadu‑
nidense é mais produtiva do que a mexicana em todas 
as indústrias. Especificamente, leva somente uma hora 
para a mão de obra norte ‑americana produzir uma uni‑
dade de produção em qualquer indústria. Leva duas 
horas para a mão de obra mexicana produzir uma uni‑
dade da produção de baixa tecnologia e oito horas para 
produzir uma unidade de produção de alta tecnologia. 
A parte de cima da tabela mostra os salários reais dos 
trabalhadores em cada país em termos de cada merca‑
doria na ausência de comércio: o salário real em cada 
caso é simplesmente a quantidade de cada mercadoria 
que o trabalhador poderia produzir em uma hora.
Agora suponha que o comércio é aberto. No equi‑
líbrio após o comércio, as taxas relativas de salário 
dos trabalhadores estadunidenses e mexicanos seriam 
algo entre a produtividade relativa dos trabalhadores 
nas duas indústrias — por exemplo, os salários norte‑
‑americanos poderiam ser quatro vezes os dos mexica‑
nos. Portanto, seria mais barato produzir mercadorias 
de baixa tecnologia no México e mercadorias de alta 
tecnologia nos Estados Unidos.
Um crítico da globalização poderia olhar para esse 
equilíbrio comercial e concluir que o comércio trabalha 
contra o interesse dos trabalhos. Primeiro, nas indústrias 
de baixa tecnologia, os trabalhos muito bem pagos nos 
Estados Unidos são substituídos por trabalhos mal pagos 
no México. Além disso, alguém poderia afirmar de modo 
plausível que os trabalhadores mexicanos são mal pagos: 
embora eles produzam metade do que os trabalhadores 
norte ‑americanos que eles substituem na manufatura de 
baixa tecnologia, sua taxa de salário é somente 1/4 (e não 
1/2) da dos trabalhadores estadunidenses.
Porém, como mostrado na parte inferior da Tabela 
12.3, nesse exemplo o poder de compra dos salários na 
verdade aumentou nos dois países. Os trabalhadores 
norte ‑americanos, que agora estão todos empregados 
na indústria de alta tecnologia, podem comprar mais 
mercadorias de baixa tecnologia do que antes: duas 
tabela 12.3 Salários reais
(A) Antes do comércio
Mercadorias de alta tecnologia/hora Mercadorias de baixa tecnologia/hora
Estados Unidos 1 1
México 1/8 1/2
(B) Depois do comércio
Mercadorias de alta tecnologia/hora Mercadorias de baixa tecnologia/hora
Estados Unidos 1 2
México 1/4 1/2
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235Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
unidades por horade trabalho versus uma. Os traba‑
lhadores mexicanos, que agora estão todos empregados 
na indústria de baixa tecnologia, descobrem que podem 
comprar mais mercadorias de alta tecnologia com uma 
hora de trabalho do que antes: 1/4 em vez de 1/8. Graças 
ao comércio, o preço de cada mercadoria importada dos 
países, em termos de sua taxa de salário, caiu.
O ponto nesse exemplo não é o de reproduzir situa‑
ções reais de forma exata, mas mostrar que a evidência 
geralmente citada como prova de que a globalização 
prejudica os trabalhadores nos países em desenvolvi‑
mento é exatamente o que você esperaria ver mesmo se 
o mundo fosse bem descrito por um modelo que diz que 
o comércio, de fato, beneficia os trabalhadores tanto no 
país desenvolvido quanto no país em desenvolvimento.
Pode ‑se argumentar que esse modelo é ilusório, por‑
que supõe que a mão de obra é o único fator de produ‑
ção. É verdade que se mudarmos do modelo ricardiano 
para o modelo das proporções de fatores, discutido no 
Capítulo 5, torna ‑se possível que o comércio prejudique 
os trabalhadores no país de trabalho escasso e salário alto 
— isto é, os Estados Unidos nesse exemplo. Mas isso não 
ajuda a alegação de que o comércio prejudica os traba‑
lhadores nos países em desenvolvimento. Pelo contrário, 
o argumento para a crença de que o comércio é benéfico 
para os trabalhadores no país de baixo salário na verdade 
torna ‑se mais forte: a análise econômica padrão diz que 
ao passo que os trabalhadores em uma nação de capital 
abundante como os Estados Unidos podem ser prejudi‑
cados pelo comércio com um país de mão de obra abun‑
dante como o México, os trabalhadores no país de mão de 
obra abundante deveriam beneficiar ‑se de uma mudança 
na distribuição de renda em seu favor.
No caso específico das maquiladoras, os economistas 
argumentam que embora os salários sejam muito bai‑
xos comparados com os salários nos Estados Unidos, a 
situação é inevitável por causa da falta de outras opor‑
tunidades no México, que tem uma produtividade bem 
menor. E segue ‑se que embora os salários e as condições 
de trabalho nas maquiladoras possam parecer terríveis, 
eles representam uma melhora sobre as alternativas dis‑
poníveis no México. Na verdade, o rápido aumento de 
empregos nessas fábricas indica que os trabalhadores 
preferem os empregos que eles encontram lá aos alterna‑
tivos. (Muitos dos novos trabalhadores nas maquiladoras 
são, na verdade, camponeses de áreas remotas e dema‑
siado pobres do México. Alguém poderia dizer que eles 
mudaram da pobreza extrema, porém invisível, para a 
pobreza menos severa, porém notável, alcançando simul‑
taneamente uma melhora em suas vidas e tornando ‑se 
uma fonte de culpa para os residentes norte ‑americanos 
desconhecedores de sua antiga situação).
O argumento economista padrão, em outras palavras, 
é que independentemente dos baixos salários recebidos 
pelos trabalhadores em países em desenvolvimento, eles 
estão em melhor situação do que estariam se a globali‑
zação não tivesse acontecido. Alguns ativistas não acei‑
tam esse argumento — eles sustentam que o comércio 
aumentado faz com que os trabalhadores tanto nos paí‑
ses desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento 
fiquem em pior situação. Entretanto, é difícil encontrar 
uma afirmação clara dos canais pelos quais isso suposta‑
mente aconteceria. Talvez o argumento mais popular seja 
o de que o capital é móvel internacionalmente, enquanto 
a mão de obra não é; e essa mobilidade dá aos capitalistas 
uma vantagem de barganha. Como vimos no Capítulo 4, 
entretanto, o fator de mobilidade internacional é similar 
em seus efeitos ao comércio internacional.
Normas de trabalho 
e negociações comerciais
Os proponentes do livre comércio e os ativistas da 
antiglobalização podem debater sobre grandes questões 
como: a globalização é ou não é boa para os trabalha‑
dores? Entretanto, questões mais limitadas de prática 
política estão em jogo: se e até que ponto os acordos de 
comércio internacional deveriam conter também dispo‑
sições que objetivam melhorar os salários e as condições 
de trabalho em países pobres.
As propostas mais modestas vieram de economistas 
que defendem um sistema que monitore os salários e as 
condições de trabalho e disponibilize os resultados da 
monitoração para os consumidores. O argumento deles 
é uma versão da análise de falha do mercado do Capí‑
tulo 10. Suponha, sugerem eles, que os consumidores 
nos países desenvolvidos sintam ‑se melhor ao comprar 
mercadorias manufaturadas se souberem que foram pro‑
duzidas por trabalhadores pagos decentemente. Então 
um sistema que permita que esses consumidores saibam, 
sem fazer muito esforço para obter a informação, que os 
trabalhadores foram de fato pagos oferece uma oportu‑
nidade de ganho mútuo. (Kimberly Ann Elliott, citada 
na lista de Leituras Adicionais no fim do capítulo, cita 
um adolescente: “Veja, eu não tenho tempo para ser um 
tipo de ativista político toda vez que vou ao shopping. Só 
me digam quais tipos de sapatos são OK para eu com‑
prar, certo?”.) Como os consumidores podem escolher 
comprar somente mercadorias “certificadas”, eles ficam 
em melhor situação, pois se sentem melhor sobre suas 
compras. Enquanto isso, os trabalhadores nas fábricas 
certificadas ganham um melhor padrão de vida do que 
teriam se não fossem certificados.
Os proponentes desse sistema admitem que ele não 
teria um grande impacto no padrão de vida nos países 
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236 Economia internacional
em desenvolvimento, principalmente porque isso afeta‑
ria somente os salários dos trabalhadores nas fábricas 
de exportação, uma pequena minoria da força de tra‑
balho mesmo em economias altamente voltadas para a 
exportação. Mas eles argumentam que faria algum bem 
e pouco mal.
Um passo mais firme seria incluir padrões traba‑
lhistas formais, isto é, condições que as indústrias de 
exportação devem seguir como parte dos acordos de 
comércio. Tais padrões têm apoio político considerável 
em países desenvolvidos. De fato, o presidente Bill Clin‑
ton falou a favor desses padrões na desastrosa reunião 
de Seattle, descrita anteriormente.
O argumento econômico a favor dos padrões traba‑
lhistas em acordos de comércio é similar ao argumento 
em favor da taxa do salário mínimo para os trabalha‑
dores nacionais: embora a teoria econômica sugira que 
o salário mínimo reduz o número de trabalhos de baixa 
qualificação disponíveis, alguns (mas de forma nenhuma 
todos!) economistas razoáveis argumentam que tais efei‑
tos são pequenos e ultrapassados pelo efeito do salário 
mínimo em aumentar a renda dos trabalhadores que 
continuam empregados.
Contudo, os padrões trabalhistas no comércio, sofrem 
forte oposição da maioria dos países em desenvolvimento, 
que acreditam que os padrões inevitavelmente seriam uti‑
lizados como ferramenta protecionista: os políticos nos 
países desenvolvidos definiriam padrões em níveis a que 
os países desenvolvidos não chegariam, na verdade colo‑
cando o preço de suas mercadorias fora dos mercados 
mundiais. Uma preocupação em especial (na verdade, foi 
uma das preocupações que levou ao fim das conversas em 
Seattle) é que os padrões trabalhistas seriam utilizados 
como base para processos judiciais contra as companhias 
estrangeiras, similar à forma com a qual a legislação de 
antidumping foi utilizada por companhias privadas para 
incomodar os concorrentes estrangeiros.
Questões ambientais e culturais
As reclamações contra a globalização vão além das 
questões de mão de obra. Muitos críticos argumentam 
que a globalização é ruim para o meio ambiente. É 
evidentemente verdade que os padrões ambientais nas 
indústrias de exportação em países em desenvolvimento 
são bem menores do que nas indústrias dos países desen‑
volvidos. Também é verdade que em uma série de casos, 
danos ambientais substanciais têm sido causados a fim 
de fornecer mercadorias para os mercados dos países 
desenvolvidos. Um exemplo notável é a pesadaderru‑
bada de árvores das florestas do sudeste asiático para 
fabricar produtos florestais para vender para os merca‑
dos japonês e ocidental.
Do outro lado, existem ao menos tantos casos de 
dano ambiental que ocorreram em nome das políticas 
“introspectivas” dos países relutantes em integrar ‑se 
com a economia global. Um exemplo notável é a destrui‑
ção de muitas milhas quadradas de floresta tropical no 
Brasil, consequência, em parte, de uma política nacional 
que subsidia o desenvolvimento no interior. Essa polí‑
tica não tem nada a ver com as exportações e, na ver‑
dade, começou durante os anos em que o Brasil estava 
tentando perseguir um desenvolvimento introspectivo.
Como no caso dos padrões de trabalho, existe um 
debate sobre se os acordos de comércio deveriam incluir 
padrões ambientais. De um lado, os proponentes argu‑
mentam que os acordos podem levar, ao menos, a modes‑
tas melhoras no meio ambiente, beneficiando todos os 
interessados. De outro lado, os opositores insistem que 
vincular padrões ambientalistas a acordos de comércio 
vai, na verdade, acabar com indústrias exportadoras 
potenciais nos países pobres, que não podem pagar para 
manter nada parecido com os padrões ocidentais.
E uma questão ainda mais complicada envolve o 
efeito da globalização na cultura nacional e local. É ine‑
quivocamente verdade que a crescente integração dos 
mercados levou a uma homogeneização das culturas ao 
redor do mundo. As pessoas no mundo todo cada vez 
mais tendem a vestir a mesma roupa, comer a mesma 
comida, escutar a mesma música e ver os mesmos filmes 
e programas de TV.
Muito, mas não tudo, dessa homogeneização tam‑
bém é americanização. Por exemplo, o McDonald’s 
agora pode ser encontrado em quase todo lugar, mas o 
sushi também. Os filmes de ação de Hollywood domi‑
naram as bilheterias globais, mas cenas estilizadas nos 
mega sucessos de Hollywood, como Matrix, são basea‑
das nas convenções dos filmes de artes marciais de 
Hong Kong.
É difícil negar que alguma coisa é perdida como 
resultado dessa homogeneização cultural. Alguém pode, 
portanto, usar um argumento de falha de mercado em 
nome de políticas que tentem preservar as diferenças 
culturais nacionais ao, por exemplo, limitar o número 
de filmes norte ‑americanos que podem ser mostrados no 
cinema, ou a fração de tempo de TV que pode ser utili‑
zada com programação estrangeira.
Porém, assim que alguém segue com esse argu‑
mento, torna ‑se claro que outro princípio está envol‑
vido: o direito dos indivíduos em sociedades livres de 
entreterem ‑se como preferirem. Como você se sentiria 
se alguém negasse a você o direito de escutar os Rolling 
Stones ou ver os filmes do Jackie Chan com o funda‑
mento de que a independência cultural norte ‑americana 
tem de ser protegida? 
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237Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
a OMC e a independência nacional
Um tema recorrente no movimento antiglobalização 
é que a motivação para o livre comércio e livre fluxo de 
capital minou a soberania nacional. Nas versões mais 
extremas dessa reclamação, a Organização Mundial do 
Comércio é caracterizada como um poder supranacio‑
nal capaz de impedir os governos nacionais de persegui‑
rem políticas em seus próprios interesses. Quanto disso 
é realmente fato?
A resposta curta é que a OMC não se parece em 
nada com um governante mundial. Sua autoridade é 
basicamente limitada a requerer que os países façam jus 
a seus acordos de comércio internacional. Entretanto, 
o pequeno grão de verdade na visão de que a OMC é 
uma autoridade supranacional é que seu mandato lhe 
permite monitorar não somente os instrumentos tra‑
dicionais da política de comércio (tarifas aduaneiras, 
subsídios à exportação e restrições quantitativas), mas 
também políticas nacionais que são, de fato, políticas de 
comércio. E já que a linha entre políticas nacionais legí‑
timas e o protecionismo de fato é complicada, existem 
casos nos quais a OMC pareceu, para alguns observado‑
res, interferir na política doméstica.
No Capítulo 10, descrevemos um exemplo bem 
conhecido que ilustra a ambiguidade dessa questão. 
Como vimos, os Estados Unidos corrigiram seu Ato 
de Ar Limpo para exigir que a gasolina importada não 
fosse mais poluente do que a média da gasolina fornecida 
pelas refinarias nacionais. A OMC julgou que essa exi‑
gência era uma violação dos acordos de comércio exis‑
tentes. Para os críticos da OMC, esse julgamento exem‑
plifica como a instituição pode frustrar uma tentativa de 
um governo democraticamente eleito de melhorar o meio 
ambiente.
No entanto, os defensores da OMC apontaram, que 
a decisão foi baseada no fato de que os Estados Unidos 
estavam aplicando diferentes padrões para as importa‑
ções e para a produção nacional. Afinal, algumas refi‑
narias norte ‑americanas fornecem gasolina que é mais 
poluente do que a média, e ainda é permitido que elas 
continuem operando. Então a decisão com efeito impe‑
diu a venda de gasolina poluente da Venezuela nos mer‑
cados estadunidense, mas permitiu a venda de gasolina 
igualmente poluente de uma refinaria nacional. Se a 
nova regra aplicasse os mesmos padrões para a gasolina 
nacional e estrangeira, ela teria sido aceita pela OMC.
Uma tragédia em Bangladesh
Bangladesh é um país muito pobre. De acordo 
com as estimativas do Banco Mundial, em 2010 cerca 
de 77% dos bengaleses viviam com o equivalente a 
menos de US$ 2 por dia e 43% viviam com menos 
de US$ 1,25 por dia. Incrivelmente, entretanto, esses 
números refletem uma enorme melhora de um pas‑
sado não tão distante: em 1992, 93% da população 
vivia com menos de US$ 2 por dia na cotação atual do 
dólar, e 67% com menos de US$ 1,25.
Esse declínio na pobreza foi o subproduto de 
duas décadas de crescimento econômico impres‑
sionante que dobrou o PIB per capita da nação. O 
crescimento dos bengaleses, por sua vez, dependia 
crucialmente das exportações crescentes, espe‑
cificamente as de vestuário. Como apontamos no 
Capítulo 11, a indústria bengalesa de vestuário é 
um caso clássico de vantagem comparativa: ela tem 
produtividade relativamente baixa, mesmo compa‑
rada com outros países em desenvolvimento, mas 
Bangladesh tem produtividade ainda menor em 
outras indústrias, então se tornou uma força expor‑
tadora de vestuário.
Contudo, a competitividade bengalesa em vestuá‑
rio depende de baixos salários e condições precárias 
de trabalho. O quão pobre? Em 24 de abril de 2013, 
o mundo ficou chocado com as notícias de que um 
prédio de oito andares em Bangladesh, que abrigava 
uma série fábricas de vestuário, tinha desmoronado, 
matando mais de 1.200 pessoas. As investigações 
revelaram que rachaduras tinham aparecido no pré‑
dio no dia anterior, mas os trabalhadores tinham sido 
mandados de volta ao trabalho mesmo assim. Tam‑
bém parecia que o prédio era estruturalmente impró‑
prio para o trabalho de fabricação e pode ter tido 
andares extras construídos sem permissão.
E quem comprava o vestuário feito sob essas con‑
dições pouco seguras? Nós: as fábricas no prédio for‑
neciam vestuário para uma série de marcas de roupas 
ocidentais.
Claramente, Bangladesh precisa dar um passo em 
direção à proteção de seus trabalhadores, começando 
por fazer valer suas leis de construção e segurança do 
trabalhador. Mas como os consumidores nas nações 
ricas devem responder a isso?
Uma resposta imediata e instintiva é não comprar 
mais mercadorias produzidas em países nos quais os 
trabalhadores são tão maltratados. Ainda assim, como 
acabamos de ver, Bangladesh precisa continuar deses‑
peradamente exportando roupas e só pode fazer isso 
se os trabalhadores receberem salários muito baixos 
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238 Economia internacional
Globalização e meio ambiente
As preocupações em relação aos impactos humanos 
no meio ambiente estão crescendo em grande parte do 
mundo. Por sua vez, essas preocupações desempenham 
um papel crescente nas políticas nacionais. Por exemplo,em novembro de 2007, o governo do primeiro ‑ministro 
australiano John Howard foi retirado do poder pela 
votação. A maioria dos analistas políticos acredita que 
a derrota decisiva do partido que estava no governo teve 
muito a ver com as impressões públicas de que o Partido 
Liberal da Austrália (que é, na verdade, conservador – 
os trabalhadores são a esquerda) não estava disposto a 
agir contra as ameaças ambientais.
Então, inevitavelmente, as questões ambientais tam‑
bém desempenham um papel crescente nas disputas 
sobre o comércio internacional. Alguns ativistas anti‑
globalização afirmam que o crescente comércio inter‑
nacional prejudica automaticamente o meio ambiente; 
alguns alegam que os acordos de comércio internacional 
— e o papel da Organização Mundial do Comércio em 
especial — têm o efeito de bloquear as ações ambientais. 
A maioria dos economistas internacionais vê a primeira 
afirmação como simplista e discordam da segunda. Isto 
é, eles negam que existe uma simples relação entre a glo‑
balização e o dano ambiental e não acreditam que os 
acordos de comércio impedem os países de terem polí‑
ticas ambientais esclarecidas. Ainda assim, a interseção 
entre o comércio e do meio ambiente levanta uma série 
de questões importantes.
Globalização, crescimento e poluição
Tanto a produção quanto o consumo frequente‑
mente levam, como um subproduto, ao dano ambien‑
tal. As fábricas emitem poluição no ar e, às vezes, jogam 
efluentes nos rios. Os agricultores utilizam fertilizantes 
e pesticidas que acabam na água. Os consumidores diri‑
gem carros que emitem poluição. Como resultado, com 
todos os parâmetros iguais, o crescimento econômico, 
que aumenta tanto a produção quanto o consumo, 
resulta em um maior dano ambiental.
Entretanto, outras coisas não estão iguais. Por um 
lado, os países mudam o mix de sua produção e con‑
sumo conforme ficam mais ricos, até o ponto em que 
tendem a reduzir o impacto ambiental. Por exemplo, 
ao mesmo tempo em que a economia norte ‑americana 
se dedica cada vez mais à produção de serviços em vez 
de mercadorias, ela tende a utilizar menos energia e 
matéria ‑prima por dólar do PIB.
Além disso, enriquecer tende a levar a crescentes 
exigências políticas pela qualidade ambiental. Como 
resultado, os países ricos geralmente impõem regras 
mais rigorosas para assegurar ar e água mais limpos 
do que os países pobres (uma diferença que é aparente 
para qualquer um que já foi para lá e para cá, de uma 
cidade grande nos Estados Unidos ou na Europa a um 
país em desenvolvimento e já respirou fundo nos dois 
lugares). 
No começo da década de 1990, os economistas de 
Princeton, Gene Grossman e Alan Krueger, ao estu‑
darem a relação entre os níveis de renda nacional e de 
poluentes como o dióxido de enxofre, descobriram que 
esses efeitos compensatórios do crescimento econômico 
resultam em uma distinta relação de “U invertido” 
entre a renda per capita e o dano ambiental, conhecido 
como curva ambiental de Kuznets.2 Esse conceito, cuja 
relevância foi confirmada por uma grande quantidade 
de novas pesquisas, é ilustrado esquematicamente na 
Figura 12.3.
A ideia é que conforme a renda per capita de um país 
aumenta devido ao crescimento econômico, o efeito 
inicial é dano crescente ao meio ambiente. Portanto, a 
China, cuja economia cresceu nas décadas recentes, está, 
para padrões ocidentais. De fato, eles precisam pagar 
até mesmo menos do que a China, cuja indústria de 
vestuário tem maior produtividade. E baixos salários e 
condições precárias de trabalho tendem, gostemos ou 
não, a andar juntos.
Então isso significa que nada pode ser feito para 
ajudar os trabalhadores bengaleses que não vá aca‑
bar por prejudicá ‑los? Não. Podem ‑se tentar, tanto por 
meio da lei quanto por meio de simples pressão do 
consumidor, alguns padrões básicos para condições 
de trabalho que se aplicam não só a Bangladesh, mas 
a seus concorrentes também. Desde que não sejam 
muito ambiciosos, esses padrões poderiam melhorar 
a vida dos trabalhadores bengaleses sem aniquilar as 
exportações das quais o país depende.
Mas não será fácil e não se deve esperar muito 
dessas medidas. Para o futuro previsível, dois fatos 
incômodos continuarão a ser verdadeiros quando se 
trata de comércio com países pobres: os trabalhado‑
res nesses países sofrerão com piores salários e con‑
dições de trabalho do que os ocidentais podem ima‑
ginar, ainda assim, recusar ‑se a comprar o que esses 
trabalhadores produzem pode fazer com que eles 
fiquem em situação ainda pior.
2 Gene Grossman e Alan Krueger. “Environmental Effects of a Nor‑
th American Free Trade Agreement”. In: Peter Garber (Ed.). The 
U.S. Mexico Free Trade Agreement. MIT Press, 1994.
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239Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
de fato, movendo ‑se do ponto A para o ponto B: con‑
forme o país queima mais carvão em suas usinas e pro‑
duz mais mercadorias em suas fábricas, ele emite mais 
dióxido de enxofre no ar e joga mais efluentes nos rios.
Mas quando um país fica suficientemente rico, ele 
pode arcar com as ações para proteger o meio ambiente. 
Conforme os Estados Unidos ficaram ricos nas décadas 
recentes, eles também limitaram a poluição. Por exem‑
plo, os carros têm de ter conversores catalíticos que 
reduzem poluição atmosférica e um esquema de licen‑
ciamento do governo limita as emissões de dióxido de 
enxofre das usinas. Em termos da Figura 12.3, os Esta‑
dos Unidos mudaram em algumas frentes, como polui‑
ção local do ar, de C para D: ficaram mais ricos e causa‑
ram menos dano ao meio ambiente.
O que isso tem a ver com o comércio internacional? 
A liberalização do comércio é frequentemente defendida 
com o fundamento de que promoverá o crescimento eco‑
nômico. À medida que ele consegue ser bem ‑sucedido em 
alcançar esse fim, a renda per capita aumenta. Isso vai 
melhorar ou piorar a qualidade ambiental? Isso depende 
do lado da curva ambiental de Kuznets em que a econo‑
mia está. No trabalho original, que era em parte uma 
resposta aos críticos do Acordo de Livre Comércio 
Norte Americano que argumentaram que o acordo 
seria ambientalmente prejudicial, Grossman e Krueger 
sugeriram que o México pudesse estar do lado certo da 
curva. Isto é, na medida em que o NAFTA aumenta a 
renda mexicana, ele pode realmente levar a uma redução 
do dano ambiental.
Entretanto, a curva ambiental de Kuznets não implica, 
por quaisquer meios, necessariamente que a globalização 
é boa para o meio ambiente. Na verdade, é bastante fácil 
argumentar que em nível mundial a globalização de fato 
prejudicou o meio ambiente, pelo menos até agora.
Esse argumento seria como segue: o maior beneficiá‑
rio único da globalização tem sido, indiscutivelmente, a 
China, cuja economia liderada pela exportação viven‑
ciou um crescimento incrível desde 1980. Enquanto 
isso, a única grande questão ambiental é, com certeza, 
a mudança climática: existe um amplo consenso cientí‑
fico de que as emissões de dióxido de carbono e outros 
gases de efeito estufa estão causando um aumento da 
temperatura média da Terra.
O boom chinês tem sido associado com um enorme 
aumento em suas emissões de dióxido de carbono. A 
Figura 12.4 mostra as emissões de dióxido de carbono 
dos Estados Unidos, Europa e China de 1980 a 2011. 
Em 1980, a China era um fator menor do aquecimento 
global. Em 2008, por uma margem substancial, era 
o principal emissor mundial de gases do efeito estufa. 
Porém, é importante perceber, que o problema não é a 
globalização em si. É o sucesso econômico chinês, que é 
até certo ponto um resultado da globalização. E apesar 
das preocupações ambientais, é difícil argumentar que 
o crescimento chinês, que tirou centenas de milhares de 
pessoas da pobreza extrema, é uma coisa ruim.
O problema dos “refúgios da poluição”
Quando os navios ficam muito velhos para continua‑
rem a operar, eles são desmontados para recuperar a 
sucata de metal e outros materiais. Uma forma de olhar 
para esse“desmonte de navios” é como uma forma de 
reciclagem: em vez de deixar o navio enferrujar, uma 
empresa de desmonte de navios extrai e reutiliza seus 
componentes. No fim das contas, esse salvamento sig‑
nifica que menos minério de ferro precisa ser minerado, 
menos petróleo precisa ser extraído e assim por diante. 
Pode ‑se esperar que o desmonte de navios seja bom para 
o meio ambiente. A tarefa em si, entretanto, pode ser 
ambientalmente perigosa: se tudo, do combustível resi‑
dual nos tanques do navio ao plástico em suas cadeiras e 
interiores, não for manuseado cuidadosamente, pode ser 
tóxico para o meio ambiente local.
Como resultado, o desmonte de navios em países 
desenvolvidos está sujeito a regulamentação ambiental 
rigorosa. Quando um navio é desmontado em Baltimore 
FIGURa 12.3 Curva ambiental de Kuznets
A evidência empírica sugere que enquanto as economias 
crescem, elas inicialmente o fazem aumentando os 
danos ambientais, mas tornam ‑se mais amigas do meio 
ambiente uma vez que ficam ricas o suficiente. A China, 
onde o meio ambiente está se deteriorando ao passo que 
a economia expande, está, na verdade, movendo ‑se de A 
para B. Os países mais ricos podem mover ‑se de C para D, 
utilizando uma parte do seu crescimento para melhorar o 
meio ambiente.
Dano ambiental
Renda per capita
A
B
C
D
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240 Economia internacional
ou Roterdã, toma ‑se muito cuidado para evitar dano 
ambiental. Mas hoje, o desmonte de navios raramente 
acontece em países desenvolvidos. Em vez disso, é feito 
em lugares como o centro indiano de desmonte de navios 
em Alang, onde os navios são encalhados em uma praia 
e então desmontados por homens com maçaricos, que 
deixam muita poluição em seu rastro.
Realmente, Alang tornou ‑se um refúgio da poluição: 
graças ao comércio internacional, uma atividade eco‑
nômica sujeita a fortes controles ambientais em alguns 
países pode ser feita em outros países com regulamen‑
tações menos rigorosas. Alguns grupos ativistas estão 
muito preocupados com o problema dos paraísos de 
poluição. De fato, o grupo ambiental Greenpeace fez de 
Alang uma causa célebre, exigindo que padrões ambien‑
tais mais altos fossem impostos. Existem realmente duas 
questões sobre os refúgios da poluição: (1) eles são um 
fator importante de verdade? e (2) eles merecem ser 
objeto de negociação internacional?
Sobre a primeira pergunta, a maioria das pesquisas 
empíricas sugere que o efeito do refúgio da poluição no 
comércio internacional é relativamente pequeno. Isto 
é, não existe muita evidência de que indústrias “sujas” 
mudaram ‑se para países com regulamentação ambiental 
permissiva.3 Mesmo no caso da indústria de desmonte 
de navios, os baixos salários indianos parecem ter sido 
mais atrativos do que suas frouxas restrições ambientais.
Segundo, as nações têm um interesse legítimo nas 
políticas ambientais umas das outras? Isso depende da 
natureza do problema ambiental.
A poluição é um exemplo clássico de externalidade 
negativa, um custo que os indivíduos impõem em outros, 
mas pelo qual não pagam. É por isso que a poluição é 
uma razão válida para intervenção do governo. Entre‑
tanto, diferentes formas de poluição têm diferentes 
alcances geográficos e somente aqueles que se estendem 
através das fronteiras nacionais obviamente justificam a 
preocupação internacional.
FIGURa 12.4 Emissões de dióxido de carbono
O rápido crescimento econômico da China passou de um fator pequeno na mudança climática para o maior emissor de 
dióxido de carbono do mundo.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
Emissões de dióxido de carbono 
(milhão de tonelada métrica)
China
Estados Unidos
Europa
fonte: Agência de Informação de Energia dos EUA.
3 Veja, por exemplo: Josh Ederington; Arik Levinson; Jenny Mi‑
nier. “Trade Liberalization and Pollution Havens”, Documento 
de Trabalho 10585, National Bureau of Economic Research, jun. 
2004.
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241Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
Portanto, na medida em que o desmonte indiano 
de navios polui o meio ambiente local em Alang, isso é 
um problema da Índia; é menos claro que isso seja um 
problema para outros países. Similarmente, a poluição 
do ar na Cidade do México é um problema do México. 
Não está claro por que é um interesse válido para os 
Estados Unidos. Por outro lado, as emissões de dióxido 
de carbono afetam o clima futuro para todos os países: 
elas são uma externalidade internacional e merecem ser 
objeto de negociação internacional.
Nesse ponto, é difícil ter exemplos importantes de 
indústrias nas quais o fenômeno do refúgio da poluição, 
à medida que ocorre, resulte em externalidades interna‑
cionais negativas. No entanto, a situação pode mudar 
dramaticamente se algumas das principais economias, 
mas não todas, adotarem fortes políticas para limitar a 
mudança climática.
a disputa das taxas de carbono
Em 2009, a Câmara dos Deputados dos Estados Uni‑
dos aprovou um projeto de lei que criaria um sistema 
de limite e comércio para gases de efeito estufa — isto 
é, um sistema pelo qual um número limitado de licenças 
de emissão é emitido e as empresas são exigidas a com‑
prar licenças suficientes para cobrir suas emissões reais, 
de fato colocando um preço no dióxido de carbono e em 
outros gases. O Senado fracassou em aprovar qualquer 
projeto de lei comparável, então a legislação da mudança 
climática está em espera atualmente. Apesar disso, existe 
uma disposição de comércio chave no projeto de lei da 
Câmara que pode representar a forma que as coisas serão 
no futuro: ela impõe tarifas de carbono nas importações 
de países que falham em decretar políticas similares.
Mas de que se trata? Uma questão que tem sido 
levantada sobre a legislação da mudança climática é se 
ela pode ser efetiva somente se alguns países tomarem 
essa ação. Os Estados Unidos representam somente 
uma parte da emissão mundial de gases de efeito estufa 
— na verdade, como vimos na Figura 12.4, não são nem 
o principal emissor. Então, a redução unilateral nas 
emissões pelos Estados Unidos teria somente um efeito 
limitado nas emissões globais e, consequentemente, na 
mudança climática futura. Além disso, as políticas que 
colocam um preço alto no carbono podem fazer o efeito 
do refúgio da poluição ser muito maior do que tem sido 
até agora, levando a um “vazamento do carbono” ao 
passo que as indústrias de emissão intensiva mudem 
para países sem políticas fortes de mudança climática.
A resposta óbvia para essas preocupações é tomar 
uma iniciativa global, a fim de conseguir que todas as 
principais economias adotem políticas similares. Mas 
não existe garantia de que tal acordo esteja próximo, 
especialmente quando alguns países como a China sen‑
tem que merecem o direito de ter políticas ambientais 
mais indulgentes do que os países ricos que já alcança‑
ram um padrão de vida alto.
Então, qual é a resposta? A ideia por trás das tarifas 
de carbono é cobrar dos importadores de mercadorias 
de países sem políticas de mudança climática uma quan‑
tia proporcional ao dióxido de carbono emitido na pro‑
dução dessas mercadorias. A cobrança por tonelada de 
emissões seria igual ao preço das licenças de emissão de 
dióxido de carbono no mercado nacional. Isso daria aos 
produtores estrangeiros um incentivo para limitar suas 
emissões de carbono e retiraria o incentivo de mudar a 
produção para países como regulamentações mais frou‑
xas. Além disso, possivelmente daria aos países com 
regulamentações mais permissivas um incentivo para 
adotar políticas próprias de mudança climática.
Os críticos das tarifas de carbono argumentam que 
as políticas seriam protecionistas e também violariam 
as regras do comércio internacional, que proíbem a dis‑
criminação entre os produtos nacionais e estrangeiros. 
Aqueles que apoiam as tarifas argumentamque as polí‑
ticas simplesmente colocariam os produtores de merca‑
dorias importadas e nacionais em condições iguais na 
hora da venda aos consumidores nacionais, com os dois 
tendo de pagar pelas suas emissões de gases de efeito 
estufa. E como as tarifas de carbono criam condições 
iguais, eles argumentam que tais tarifas (cuidadosa‑
mente aplicadas) também deveriam ser legais sob as 
regras existentes de comércio.
Atualmente, a questão das tarifas de carbono é hipo‑
tética, já que nenhuma grande economia ainda colocou 
um preço nas emissões de gases do efeito estufa. Cor‑
respondentemente, a OMC não emitiu nenhuma deci‑
são sobre a legalidade dessas tarifas e provavelmente 
não vai emitir a não ser que surja um caso real. Mas se 
a legislação da mudança climática retornar — e é uma 
boa aposta que ela vai voltar cedo ou tarde — clara‑
mente levará a novas questões importantes na política 
de comércio.
resUmo
1. Alguns novos argumentos para a intervenção do governo 
no comércio surgiram ao longo do último quarto de século: 
a teoria da política comercial estratégica propôs razões de 
por que os países poderiam ganhar em promover indústrias 
específicas. Na década de 1990 surgiu uma nova crítica à 
globalização que focava nos seus efeitos sobre os trabalha‑
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242 Economia internacional
dores em países desenvolvidos. E a possível ação na mu‑
dança climática levantou algumas importantes questões, 
incluindo aquela sobre o caráter e a legalidade das tarifas 
de carbono.
2. Os argumentos dos ativistas da política de comércio repou‑
sam em duas ideias. Uma é o argumento de que os governos 
deveriam promover as indústrias que rendem externalida‑
des tecnológicas. O outro, que representa um grande afas‑
tamento dos argumentos padrão de falha de mercado, é a 
análise de Brander ‑Spencer, que sugere que a intervenção 
estratégica pode permitir que as nações tenham retornos 
em excesso. Esses argumentos são teoricamente persua‑
sivos; entretanto, muitos economistas preocupam ‑se que 
eles sejam muito sutis e exijam muita informação para se‑
rem úteis na prática.
3. Com o aumento da exportação manufaturada em países 
em desenvolvimento, um novo movimento oposto à glo‑
balização surgiu. A preocupação central desse movimen‑
to é com os baixos salários pagos para trabalhadores 
de exportação, embora também existam outros temas. 
A resposta da maioria dos economistas é que os traba‑
lhadores de países em desenvolvimento podem ganhar 
baixos salários pelos padrões ocidentais, mas isso per‑
mite que eles ganhem mais do que eles conseguiriam de 
outra forma.
termos ‑chave
proBlemas
4. Uma verificação de casos sugere o quão difícil a discussão 
sobre globalização realmente é, especialmente quando ten‑
tamos olhar para isso como uma questão moral; é muito 
fácil que as pessoas causem prejuízo quando estão tentan‑
do ajudar. As causas mais favorecidas pelos ativistas, como 
normas trabalhistas, são temidas pelos países em desenvol‑
vimento, que acreditam que essas normas serão utilizadas 
como dispositivos de protecionismo.
5. À medida que a globalização promove o crescimento econô‑
mico, ela causa efeitos ambíguos no meio ambiente. A curva 
ambiental de Kuznets diz que, no princípio, o crescimento 
econômico tende a aumentar o dano ambiental conforme 
um país enriquece, mas que após certo ponto o crescimento 
é, de fato, bom para o meio ambiente. Infelizmente, algu‑
mas das economias de crescimento mais rápido ainda são 
relativamente pobres e estão do lado errado da curva.
6. Existe uma crescente preocupação de que a globalização pos‑
sa permitir indústrias altamente poluidoras a mudarem para 
os refúgios da poluição, onde as regras são mais permissivas. 
Existe pouca evidência de que isso seja um fator importante 
nas decisões atuais de localização, ao menos até agora. Mas 
isso pode mudar se sérias políticas de mudança climática fo‑
rem implementadas. Nesse caso, existe um forte argumento 
a favor das tarifas de carbono, assim como também muitas 
críticas ao conceito.
análise de Brander ‑Spencer, p. 229
curva ambiental de Kuznets, p. 238
externalidades, p. 227
política comercial estratégica, p. 226
políticas de empobrecimento do vizinho, p. 231
refúgio da poluição, p. 240
retornos em excesso, p. 229
tarifas de carbono, p. 241
1. Quais são as desvantagens de envolver ‑se em política co‑
mercial estratégica mesmo em casos nos quais é evidente 
que ela pode render um aumento no bem ‑estar de um país?
2. Suponha que o governo norte ‑americano fosse capaz de 
determinar quais indústrias crescerão de forma mais rápida 
durante os próximos 20 anos. Por que isso não significaria 
automaticamente que a nação deveria ter uma política de 
suporte ao crescimento dessas indústrias?
3. Se os Estados Unidos fizessem à sua maneira, exigiriam que 
o Japão gastasse mais dinheiro em pesquisa básica em ciên‑
cia e menos em pesquisa aplicada em aplicações industriais. 
Explique o porquê em termos da análise da apropriabilidade.
4. Quais são as suposições ‑chave que permitem que a políti‑
ca comercial estratégica trabalhe no exemplo de Brander‑
‑Spencer da Airbus e da Boeing?
5. Suponha que a Comissão Europeia peça que você desen‑
volva um resumo em favor do desenvolvimento europeu 
subsidiado de software para smartphones. Tenha em mente 
que essa indústria é atualmente dominada pelas empresas 
norte ‑americanas, especialmente por Apple e Google (cujo 
sistema Android é utilizado em tantos telefones e tablets). 
Quais argumentos você utilizaria? Quais são os pontos fra‑
cos desses argumentos?
6. Qual é a principal crítica contra a OMC em relação à prote‑
ção ambiental? Como a OMC justifica sua posição em dispu‑
tas comerciais que envolvem questões ambientais?
7. A França, além de seus golpes ocasionais na política comer‑
cial estratégica, persegue uma política cultural nacionalis‑
ta ativa que promove a arte, a música, a moda, a cozinha 
francesa e assim por diante. Isso pode ser, em princípio, 
uma tentativa de preservar a identidade nacional em um 
mundo crescentemente homogêneo, mas alguns funcioná‑
rios do governo também defendem essa política em termos 
econômicos. Em que sentido algumas características de tal 
política poderiam ser defendidas como um tipo de política 
comercial estratégica?
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243Capítulo 12 Controvérsias na política comercial 
8. “O problema fundamental com qualquer tentativa de limitar a 
mudança climática é que os países cujo crescimento represen‑
ta a maior ameaça ao planeta são também os que menos têm 
condição de pagar o preço do ativismo ambientalista”. Expli‑
que a afirmação nos termos da curva ambiental de Kuznets.
9. Muitos países têm impostos sobre valor agregado — impos‑
tos que são pagos pelos produtores, mas que se destinam a 
recair sobre os consumidores. (Eles são, basicamente, uma 
forma indireta de impor impostos de venda.) Tais impostos 
leitUras adicionais
sobre valor agregado sempre são acompanhados por um 
imposto igual nas importações. Tais impostos de importa‑
ção são considerados legais porque, como o imposto sobre 
valor agregado, eles são de fato uma forma indireta de ta‑
xar todas as compras do consumidor com a mesma taxa. 
Compare essa situação ao argumento sobre as tarifas de 
carbono. Por que seus defensores podem argumentar que 
tais tarifas são legais? Em quais objeções sobre o assunto 
você consegue pensar?
BRANDER, J. A.; SPENCER, B. J. “Export Subsidies and International Market 
Share Rivalry”. Journal of International Economics, v. 16, p. 81 ‑100, 1985. 
Uma referência básica sobre o papel potencial dos subsídios como 
uma ferramenta de política comercial estratégica.
ELLIOTT, K. A. Can Labor Standards Improve Under Globalization? 
Washing ton, D.C.: Instituto de Economia Internacional, 2001. Um 
levantamento das questões da causa dos ativistas por uma econo‑
mista simpatizante.
GRAHAM, E. M. Fighting the Wrong Enemy: Antiglobalization Activists and

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