Buscar

Relações entre Saúde e Doença

Prévia do material em texto

Representação social da doença e saúde
Texto do CONTANDRIOPOULOS
As relações entre contextos sociais, culturais, ambientais, econômicos e a saúde são
complexas e mal conhecidas. O modelo do ICRA permite compreender que os fenômenos em
estudo interagem em vários níveis o funcionamento biológico do corpo humano, esse modelo
permite fazer duas observações:
1. Os progressos da medicina e o crescimento dos recursos destinados ao sistema de
saúde, a desigualdade entre os países desenvolvidos não diminuem, e sim as
disparidades dentro de cada país. Exemplo disso é que os EUA investe mais na saúde
do que os Japoneses, porém os japoneses possuem uma esperança de vida maior
2. O estado de saúde é influenciado por características como status social, nível de
educação, ocupação, riqueza do ambiente durante a infância, supor social e etc.
Características do ambiente social reforçam a resistência às doenças de maneira geral,
permitindo aos doentes, uma menor gravidade e uma recuperação mais rápida.
Isso mostra que os fatores, situações e contextos que são favoráveis à saúde, não são
da mesma natureza que os mecanismos existentes para diagnosticar, tratar e prevenir as
doenças específicas. Sendo assim, as doenças e a saúde não são fenômenos independentes,
e nem redutíveis uma à outra, a doença não é o inverso da saúde.
Só porque a população vive mais, não significa que ela seja menos doente, o
prolongamento da vida é causado por transformações da incidência e prevalência de diferentes
tipos de doenças e de causas de mortalidade, e não pela eliminação das doenças. As ciências
que analisam e compreendem a saúde das populações (sociais e comportamentais) são
diferentes das que servem de base para compreensão da doença e de seu tratamento
(biológicas)
. As ciências fundamentais, como a biológica, estudam o ser humano nos componentes
biológicos (órgãos, celular e genes) para compreender os mecanismos da vida e das doenças,
já as ciências humanas estudam o contexto social e analisam como as relações entre os
grupos do meio social impactam na saúde. Porém apesar de reconhecer a interação entre os
aspectos biológicos e psicossociais dos ser humano, ainda não se compreende totalmente
como o contexto social afeta a saúde , e apesar de saber que os fatores sociais afetam as
funções biológicas, não se sabe quais modificações no ambiente social devem ser feitas para
melhora da saúde da população.
O contexto social é moldado pelas relações entre ambiente físico e o ambiente social,
sendo o social definido pela interação entre os valores culturais e a organização da sociedade,
incluindo sua economia, instituições políticas e tecnologia. Esse contexto social molda as
condições de vida e os serviços de saúde que podem influenciar significativamente a saúde da
população.
Os fatores sociais influenciam a saúde através de influências positivas e negativas,
como suporte social, agentes patogênicos e estresse. Sendo assim, o sistema de saúde não é
o único responsável pela saúde da população, e o conceito de “determinantes da saúde” deve
ser usado com cautela pois não existe fórmula mágica de otimizar a saúde. É necessário
investir em programas que reduzem os riscos sociais é essencial para reduzir as desigualdades
de saúde a longo prazo. Saúde e doença são qualitativamente diferentes e não podem ser
comparadas quantitativamente.
Texto do FC:
A definição de saúde da OMS é irreal, ultrapassada e unilateral, irreal já que estabelece
o “bem-estar perfeito” como objetivo, o que é inalcançável, ultrapassado pois não considera
aspectos sociais e psicológicos da saúde, e unilateral pois concentra-se apenas no bem-estar
físico. Sendo assim, uma definição mais abrangente de saúde deve incluir a angústia e o
sofrimento como condições inerentes à vida humana.
O mal-estar é uma condição anterior à civilização, já que o homem a criou para escapar
de suas inseguranças, sendo assim uma definição mais abrangente de saúde deve incluí-lo
como parte da experiência humana. Sendo assim a “síndrome da felicidade” , criada pelos
médicos dos EUA, é incompatível com a condição humana, que envolve dificuldades, dúvidas,
incertezas.
Um estado de “hiper-adaptação mental" pode indicar uma vida psíquica empobrecida,
com rebaixamento da criatividade e do potencial de transformação da realidade, tornando-se
propensos à somatização.
A definição da OMS é ultrapassada pois ainda separa mente, corpo e sociedade. A
psicossomática mostra que a mente e o corpo estão conectados e que o social também afeta a
saúde. A psicossomática psicanalítica vê algumas doenças como expressões primitivas do
inconsciente, decorrentes da falta de imaginação do sujeito.
É importante que haja um vínculo emocional entre profissionais da saúde e os pacientes
para que essa afetividade contribua para a melhora do paciente. Porém muitos profissionais
não aceitam isso, pois creem que devem se basear apenas nos aspectos técnicos e científicos.
Mas também deve-se entender que devido a má remuneração e a falta de tempo para se
dedicar aos pacientes é difícil estabelecer um vínculo afetivo.
A qualidade de vida é algo intrínseco e só pode ser avaliado pelo próprio sujeito, sendo
assim não há rótulos de “boa’’ ou “má” qualidade de vida, embora a saúde pública precise de
indicadores para elaborar políticas.
Conceitos e doenças é apenas um conceito estatístico, que considera doentes aqueles
que não estão fora da “normalidade”.
Nas especialidades médicas, a diversidade individual é frequentemente ignorada, no
entanto é importante preservar essa diversidade.
Apesar de existirem diversos fatores determinantes de doenças, isso não dá direito de
intervir quando o indivíduo não deseja essa intervenção, assim, o tratamento só é legítimo e
ético caso o paciente manifeste vontade de ser ajudado.
O conceito de saúde não deve basear-se apenas em padrões objetivos como
alimentação saudável e prática de esportes, mas deve levar em consideração a perspectiva do
paciente, seus desejos e valores, sendo importante reconhecer a autonomia do indivíduo e sua
capacidade de avaliar sua própria qualidade de vida.
Pode-se definir saúde como um estado de harmonia razoável entre o indivíduo e sua
própria realidade
Qualidade de vida e saúde
O conceito de saúde é frequentemente reduzido à ausência de doença, o que limita a
compreensão de sua complexidade. Em geral, os indicadores usados para medir a qualidade
de vida são baseados em dados bioestatísticos, psicométricos e econômicos, sem considerar o
contexto cultural e social dos indivíduos.
A qualidade de vida está ligada ao nível de desenvolvimento democrático de uma
sociedade, que proporciona bem-estar e acesso aos bens materiais e culturais. O conceito de
qualidade de vida é subjetivo para cada indivíduo, envolvendo contexto social, cultural e
histórico e satisfação nas esferas familiar, amorosa, social e ambiental. Mas apesar da
relatividade do conceito, existe um modelo hegemônico de qualidade de vida preconizado pelo
mundo ocidental, que valoriza conforto, prazer e consumo.
O movimento ambientalista questionou os modelos de bem estar, incorporando a noção
de qualidade de vida à perspectiva da ecologia humana, como sustentabilidade e a
preservação do meio ambiente.
A noção de qualidade de vida engloba valores materiais e imateriais, como alimentação,
saúde, educação, liberdade e felicidade. E apesar da subjetividade ainda há parâmetros
materiais universais (alimento, água, moradia)
No mundo ocidental atual, desemprego, exclusão social e violência são reconhecidos
como fatores que negam a qualidade de vida. A qualidade de vida transita em um campo
semântico polissêmico, relacionado a modos de vida, condições, desenvolvimento sustentável,
democracia e direitos humanos. Na saúde, a qualidade de vida é uma resultante social dos
padrões de conforto e tolerância estabelecidos pela sociedade.
O IDH é um indicador sintético de qualidade de vida, que se baseia na noção de
capacidades, aquilo que uma pessoa está apta a realizar ou fazer e vem recebendo aceitaçãopela facilidade na obtenção dos índices que o compõem, o que garante razoável grau de
aplicabilidade entre realidades totalmente diferentes. Porém, o IDH também apresenta
limitações, pois discrimina pouco os países desenvolvidas entre si, e apresenta problemas de
consistência metodológica quando aplicado a limites geográficos mais restritos, além de poder
ser criticado no ponto de vista ético-filosófico, na medida que revelaria um viés etnocêntrico,
que toma os padrões ocidentais modernos como modelos de referência a serem atingidos por
todas as nações do planeta.
Mas apesar disso o IDH tem sido bastante utilizado e inspirado em outros indicadores
,como o Índice de Condições de Vida (ICV), que é composto por 20 indicadores em 5
dimensões: renda, educação, infância, habitação e longevidade. O ICV trabalha apenas com os
aspectos objetivos, passíveis de medição, mas é uma contribuição importante para a busca de
equidade social e a capacidade de desenvolvimento intelectual, de aspirações e de
reivindicação de determinada população ou grupo social.
Mas também existem marcadores subjetivos, como o Índice de Qualidade de Vida
(IQV). Nenhum componente propriamente médico ( ou indicadores clássicos de
morbi-mortalidade) entra na composição dos indicadores compostos de qualidade de vida, ou
seja, os indicadores tratam a saúde como um dos componentes de uma complexa resultante
social.
A qualidade de vida ligada à saúde (QVLS) é definida como o valor atribuído à vida,
ponderado pelas deteriorações funcionais, as percepções e condições sociais que são
induzidas pela doença, agravos, tratamento e a organização política e econômica do sistema
assistencial.
As medidas de qualidade de vida são classificadas em genérica ou específica, de
acordo com o campo de aplicação. Os instrumentos genéricos são mais apropriados para
estudos epidemiológicos, planejamento e avaliação do sistema de saúde. Já os instrumentos
específicos são usados para avaliar a qualidade de vida em situações relacionadas à vida
cotidiana dos indivíduos, subsequente à experiência de doenças, agravos ou intervenção
médica.
A QALY (quality-adjusted life-years) é uma medida de qualidade de vida que combina
abordagem de quantidade e qualidade de vida em uma estimativa de custo-oportunidade, para
orientar a decisão de alocação de recursos. Porém existem incertezas associadas ao QALY,
incluindo a disponibilidade de dados, a extrapolação de dados, a generalização de resultados e
a discordância na escolha de métodos analíticos, além de ser tendencioso contra idosos e
portadores de deficiência.
O DALY é um indicador que mede a carga de doenças e a incapacidade em termos de
custo por unidade de caso evitado, valorizando o custo-efetividade das intervenções,
construído a partir da mortalidade estimada para cada doença e seu efeito incapacitante,
ajustado pela idade das vítimas, e uma taxa de atualização para calcular o valor de uma perda
futura.
Existem duas hipóteses sobre a agregação de preferências individuais: que todos os
indivíduos têm as mesmas preferências ou que as preferências diferem e devem ser
justificadas. É importante evitar que a medida da qualidade de vida seja usada como um
instrumento de racionamento de recursos, como uma “máquina de triturar oposições”, por outro
lado, é necessário aprofundar o conceito de promoção da saúde para que ele possa orientar
verdadeiramente o sentido positivo da qualidade de vida

Mais conteúdos dessa disciplina