Prévia do material em texto
Choques Apresentação O choque é um estado de hipoperfusão celular generalizada, no qual a liberação de oxigênio para as células é insuficiente, e a retirada de substâncias tóxicas também fica comprometida, causando um desequilíbrio sistêmico e metabólico. Nesta Unidade de Aprendizagem, você reconhecerá as situações de choque, identificando seus diferentes tipos, e também aprenderá sobre os primeiros socorros dispensados a pacientes em estado de choque. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer situações de choques hemodinâmicos e clínicos.• Identificar os diferentes tipos de choques.• Descrever o atendimento a pacientes em choque.• Desafio O estado de choque é um evento de extrema gravidade que coloca em risco a vida do paciente. Com base nessa informação, imagine a seguinte situação hipotética: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Diante do caso apresentado, responda: 1 - Qual o provável distúrbio hemodinâmico está sendo apresentado pela vítima? 2 - Qual a consequência comum do estado de choque e quando ele ocorre? 3 - O que você pode fazer para ajudar a vítima? Infográfico O estado de choque é um grave estado patológico que se caracteriza fundamentalmente por sofrimento celular súbito, intenso, persistente e generalizado. As causas podem ser várias: traumatismo externo ou interno, perfuração súbita de órgãos, emoção, frio, queimaduras, intervenções cirúrgicas, etc. Veja, no infográfico, a classificação dos estados de choque. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/71e5be5b-0925-4655-83cb-ef220c2009b3/a2c5818f-4853-41ac-bb52-ee6be7bbab49.jpg Conteúdo do livro Dependendo da gravidade do choque, a vítima pode morrer na hora. Portanto, trata-se de uma emergência clínica que deve ser manejada o quanto antes. Para aprofundar seu conhecimento, faça a leitura do capítulo Choques, da obra Primeiros socorros, base teórica desta Unidade de Aprendizagem. PRIMEIROS SOCORROS Márcio Haubert Choques Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as situações de choques hemodinâmicos e clínicos. � Identificar os diferentes tipos de choques. � Descrever o atendimento aos pacientes em choque. Introdução A síndrome do choque circulatório, também chamada apenas de choque, é um estado de falência circulatória aguda que prejudica a oferta de oxigênio e dificulta a retirada de toxinas de órgãos e tecidos do corpo humano. Para o paciente receber um atendimento adequado, é funda- mental reconhecer qual tipo de choque está acometendo seu sistema, a fim de que tenha o tratamento apropriado, pois cada choque deve ser tratado de uma forma diferente. Neste capítulo, você conhecerá as situações de choque, identificando seus diferentes tipos, e aprenderá sobre os primeiros socorros dispensados aos pacientes nesse estado. Choque circulatório O estado de choque é uma anomalia fisiológica que se instala quando o sistema circulatório não consegue manter a oxigenação e a retirada de metabólicos de células e órgãos do corpo humano. Para o organismo e sua homeostase funcionarem corretamente, deve-se ter o bom desempenho do sistema car- diocirculatório, responsável pelas trocas celulares e, consequentemente, pelo adequado funcionamento sistêmico. Assim, as situações que prejudicam essas trocas de gases, nutrientes e hormônios causam um colapso sistêmico denominado de choque. Os choques são causados pelo estado de hipotensão severa, o qual não permite que as trocas celulares ocorram com eficiência, levando o organismo à exaustão e ao colapso sistêmico. Todos eles têm como resultado a hipoperfusão sanguínea, porém, as causas desta definirão o tipo que está acontecendo. Para entender o estado de choque, independentemente do seu tipo, você precisa relembrar da circulação sistêmica, também chamada de grande circu- lação, a qual necessita dos seguintes elementos para um bom funcionamento: bomba cardíaca, sistema arterial de resistência, sistema venoso de capacitância e rede capilar. � O coração age como uma bomba hidráulica que tem como função produ- zir pressão para vencer a resistência imposta pelo atrito de escoamento, acelerando a coluna de sangue em direção aos tecidos. � O sistema arterial abriga cerca de 30% de todo o volume sanguíneo do organismo e produz pressão na coluna de sangue. Essa pressão, por sua vez, é produzida devido ao tônus arterial, um estado de semicontração constante da musculatura lisa das artérias. � O sistema venoso é considerado de capacitância por possuir alta com- placência (capacidade de acomodar volume), pois abriga cerca de 70% do volume de sangue, funcionando como um verdadeiro reservatório. � A rede capilar constitui o quarto componente e encontra-se distribuída em paralelo, sendo responsável pelo processo de troca de nutrientes e gases respiratórios com os tecidos, o qual é conhecido como perfusão tecidual ou tissular. Dá-se o nome de microcirculação à circulação que ocorre nos capilares. O choque é uma condição patológica caracterizada por alterações no local da microcirculação, por isso, deve-se saber que o coração ejeta o sangue sob pressão e velocidade. À medida que ele flui em direção à rede capilar, tanto sua pressão como sua velocidade vão decaindo, devido ao seu atrito com a parede das artérias e ao atrito entre as próprias células que o compõem, assim, ele chega à rede sob baixa pressão e velocidade. Caso o sangue chegasse sob alta pressão, os capilares se romperiam, porque a parede capilar é muito delgada, paralelamente, se ele chegasse sob alta velocidade, não haveria tempo suficiente para que as trocas gasosas e de nutrientes acontecessem de forma satisfatória. Apesar de a pressão nos capilares ser baixa, sua existência é fundamental, caso contrário, não ocorreria essa troca entre o sangue e os tecidos, levando a um quadro de má perfusão tecidual. Choques2 Após relembrar esses aspectos, fica mais fácil de compreender que a sín- drome do choque circulatório é o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam a falência circulatória aguda. Esse quadro pode advir de diversas causas e, por isso, ter fisiopatologias distintas, mas a má perfusão tecidual define qualquer tipo de choque. Independentemente da causa, o choque resulta em deterioração tecidual caso não haja intervenção, pois quando atinge um estado em que os mecanismos compensatórios do organismo não são mais suficientes, ele gera mais choque, uma vez que a má perfusão afeta de forma geral os tecidos corporais, inclusive o sistema cardiovascular. Com o sistema comprometido, a perfusão se tornará cada vez mais insuficiente, formando um ciclo vicioso e, se não houver inter- venção nesse momento, o choque se tornará irreversível, e a morte, inevitável. Principais causas do estado de choque: � hemorragias intensas (internas ou externas); � infarto; � taquicardias; � bradicardias; � queimaduras graves; � processos inflamatórios do coração; � traumatismos do crânio e traumatismos graves de tórax e abdômen; � envenenamentos; � afogamento; � choque elétrico; � picadas de animais peçonhentos; � exposição aos extremos de calor e frio; � septicemia. No Quadro 1, você pode ver os sinais clínicos de disfunção orgânica nos diversos casos de choque. 3Choques Fonte: Adaptado de Santos (2017, documento on-line). Sistema nervoso central Alterações do nível de consciência (rebaixamento, agitação, quadros confusionais). Sistema circulatório vascular Hipotensão arterial, preenchimento capilar lentificado, extremidades frias, elevação dos níveis de lactato. Sistema digestório Estase, hipomotilidade, obstrução intestinal, elevação das enzimas hepáticas, perda de função hepática. Sistema urinário Oligúria (débito urinário < 0,5 mL/kg/hpor mais de 2 h consecutivas), elevação de escórias nitrogenadas, insuficiência renal aguda (IRA), necrose tubular aguda. Sistema hematológico Plaquetopenia, tromboses, alargamento dos tempos de coagulação, tendência à hemorragia. Sistema respiratório Desconforto respiratório (taquipneia, dispneia), hipóxia, hiperventilação ou hipoventilação. Pele Pegajosa, fria, livedo reticular. Quadro 1. Sinais clínicos de disfunção orgânica nos diversos sistemas devido à má per- fusão tecidual Tipos de choques Os tipos de choques recebem vários esquemas propostos para sua classifica- ção. Neste capítulo, você verá uma baseada em quatro grupos etiológicos do choque circulatório e seu substrato fisiológico, que podem ser subdivididos em hipovolêmico, cardiogênico, distributivo (o qual se subdivide em séptico, anafilático, neurogênico e crise adrenal) e obstrutivo. Choque hipovolêmico Hipovolemia se trata do estado de baixa quantidade de volume sanguíneo circulante no organismo, logo, o choque hipovolêmico, ou hemorrágico, é causado por uma redução desse volume — além de ser o tipo mais frequente, na maioria das vezes ocasionado por hemorragias, nas quais há perda tanto de Choques4 eritrócitos como de plasma sanguíneo, ou existe uma perda isolada de plasma por meio de desidratação, sequestro de líquidos, queimaduras e drenagem de grandes volumes. De uma forma ou de outra, o que ocorre é uma queda na pressão de en- chimento capilar ou hidrostática, sendo que a hemorragia pode ser externa, causada por traumas e acidentes; e interna, por úlcera perfurada ou qualquer outro fato que cause sangramento interno. Para recuperar a perfusão tecidual, o organismo utiliza estratégias fisio- lógicas, como a ativação simpática que desencadeia três respostas principais: � contração das arteríolas — que aumenta a resistência vascular periférica; � contração das veias — que aumenta o retorno venoso e, consequen- temente, a pré-carga; � efeitos cardíacos diretos — que aumenta a frequência cardíaca e a força de contração do coração. Tais efeitos atuam em conjunto, contribuindo para o aumento da pressão arterial. O choque hipovolêmico é facilmente diagnosticado se houver sinais clíni- cos visíveis de instabilidade hemodinâmica ou for evidente a fonte de perda de volume sanguíneo, caso contrário, pode ser confundido com outro tipo ou, até mesmo, nem identificado. Seus principais sinais e sintomas incluem taquicardia, hipotensão arterial, taquipneia, palidez, hipotermia, ansiedade, agitação, confusão e oligúria. Para tratar esse choque, busca-se retornar a perfusão tissular, a restauração da oferta e o consumo adequado de oxigênio aos tecidos, por meio de proce- dimentos que retardem a perda de volume corrigindo a causa primária e pela reposição volêmica intravascular com cristaloides isotônicos ou hipertônicos, coloides ou hemocomponentes. Choque cardiogênico O choque cardiogênico é causado pela má perfusão tecidual resultante do baixo débito cardíaco, oriundo de uma patologia cardíaca. Sua principal causa é o infarto agudo do miocárdio (IAM), pois há falência da bomba cardíaca ocasionada pela necrose da parede ventricular produzida por ele, porém, ainda existem as mecânicas, como as doenças valvares, que podem comprometer de forma significativa o débito cardíaco e levar ao choque. Assim como o 5Choques hipovolêmico, o cardiogênico terá ativação simpática compensatória, mas nele, a bomba de propulsão (o coração) está comprometida, porque o IAM, por exemplo, se desenvolve exatamente por uma diminuição da oferta de oxigênio pelas artérias coronárias, que nutrem o músculo cardíaco — com esses efeitos simpáticos sobre o coração, o quadro se agrava. Além de a oferta diminuir, a demanda metabólica do miocárdio aumentará, pois a contração e a frequência cardíaca aumentadas consumirão ainda mais oxigênio. Seus sinais e sintomas incluem hipotensão, taquicardia, palidez cutânea, enchimento capilar lento, pulso fino, sudorese, taquipneia, insuficiência respi- ratória, congestão pulmonar, agitação, confusão e coma. Já como tratamento, deve-se concentrar na reversão e no atendimento da causa do choque, seja do IAM ou da doença cardíaca que desenvolveu esse choque. Choque distributivo No choque distributivo, ocorre a má perfusão decorrente de vasodilatação periférica global, a qual causa a drástica redução da pressão de enchimento capilar, comprometendo o fornecimento de oxigênio pelos capilares e a sua captura pelos tecidos. Nesse caso, o débito cardíaco encontra-se preservado, pois não há qualquer problema com a bomba cardíaca, nem com o volume circulante de sangue. Esse tipo é a única modalidade em que ocorre vaso- dilatação; em todos os outros, acontece uma vasoconstrição reflexa, como mecanismo compensatório determinado pela ativação simpática. Esse mecanismo compensatório não consegue atuar no choque, porque a musculatura lisa arteriolar se encontra seriamente lesada, não respondendo ao estímulo simpático e, por isso, o choque distributivo é o tipo mais grave, apresentando o pior prognóstico e os maiores índices de mortalidade. Já a vasodilatação periférica que o ocasiona tem quatro causas distintas, as quais dão nome aos quatro principais subtipos de choque distributivo: o séptico, o anafilático, o neurogênico e o decorrente de crise adrenal. Choque séptico Este tipo de choque ocorre devido a uma grave infecção, disseminada para todo o organismo, e é também conhecido como uma infecção generalizada. Acontece geralmente em ambiente hospitalar e acomete os indivíduos com o sistema imunológico comprometido ou que realizaram procedimentos invasivos. Choques6 Nesse choque, uma infecção local é transmitida aos outros tecidos pela cor- rente sanguínea, adquirindo caráter sistêmico e ocasionando sepse. Os agentes causadores da infecção, na maior parte por bactérias, são produtores de toxinas que induzem a produção de mediadores inflamatórios como interleucinas, bem como a síntese de óxido nítrico, que têm uma potente ação vasodilatadora. Essa resposta inflamatória é crucial para o combate às infecções locais, e a vasodilatação local não causa grandes prejuízos, porém, em uma infecção que acomete todo o organismo, a vasodilatação generalizada diminui a resistência vascular periférica e, consequentemente, a pressão arterial e a de enchimento capilar. Além disso, a venodilatação causa a diminuição da pré-carga e do retorno venoso, diminuindo o débito cardíaco. Como resultado, há a ativação da resposta simpática, que causa taquicardia nos estágios iniciais do choque, mas não consegue reverter a vasodilatação, uma vez que a microcirculação se encontra seriamente afetada. Os mediadores inflamatórios liberados durante a sepse condicionam a um aumento da permeabilidade vascular, o que resulta em uma perda de plasma para os espaços intersticiais e uma perda concomitante de proteínas. Esta última diminui a pressão coloidosmótica nos capilares e induz a uma perda ainda maior de plasma, agravando o choque. Já as endotoxinas podem atuar como um veneno metabólico, intoxicando a musculatura lisa das arteríolas e produzindo uma vasodilatação generalizada e refratária a qualquer mecanismo compensatório e de tratamento. Entre seus sinais e sintomas, destacam-se hipertermia, hipotensão arterial, pele quente e rosada, pulsos cheios, congestão pulmonar, edema periférico e taquicardia. O tratamento desse choque consiste em tratar a sepse e os sintomas produzidos por ele. Choque anafilático Trata-se do choque desencadeado por uma reação alérgica quando se expõe o corpo a um antígeno a que previamente é sensível. Assim, a má perfusão tecidual também resulta de uma vasodilatação generalizada e tem hemodi- nâmica semelhante ao choque séptico. A interação entre antígeno e anticorpo, mediada pela imunoglobulina E, é muito significativa e provoca a degranulação de mastócitos com liberação de histamina e outros mediadores. A histamina, por sua vez,produz veno- dilatação, diminuindo o retorno venoso; causa vasodilatação arteriolar, com diminuição da resistência vascular periférica; e aumenta a permeabilidade 7Choques vascular, causando extravasamento de plasma e proteínas dos capilares para os espaços intersticiais. O grande aumento da permeabilidade pode produzir o edema de glote, o qual, muitas vezes, leva ao óbito antes mesmo que o choque circulatório se instale. Nem toda reação alérgica produz choque anafilático, sua intensidade e distribuição dependerão do grau de hipersensibilidade do indivíduo a um determinado antígeno. No entanto, há casos em que essa reação é tão signi- ficativa que leva o paciente à morte em poucos minutos. Várias substâncias podem ser o fator desencadeador de uma reação ana- filática, as mais comuns são: � comidas derivadas de leite, ovos, peixes e frutos do mar, soja, amêndoas e amendoim — as mais descritas; � picadas de insetos; � antibióticos derivados da penicilina — os mais comuns; � anti-inflamatórios — quem tem alergia a um tipo, costuma ter a todos, inclusive aspirina e dipirona (metamizol) que não são propriamente do mesmo grupo; � anti-hipertensivos — inibidores da enzima conversora da angiotensina (ECA), por exemplo, captopril e enalapril; � látex; � iodo, incluindo contrastes para exames radiológicos e antissépticos para pele. Ainda existe a anafilaxia idiopática, uma forma de reação alérgica grave que ocorre sem causa definida. Seus sintomas mais comuns incluem urticária, angioedema, dificuldade respiratória, conjuntivite, náuseas, vômitos, tontura, síncope e hipotensão. Já seu tratamento consiste na administração de medi- camentos antialérgicos, como a adrenalina e os corticoides, além de bronco dilatadores e anti-histamínicos. Choque neurogênico Este choque é causado pela má perfusão tecidual devido à súbita perda do tônus vascular e ocorre devido à alteração no centro vasomotor no sistema nervoso central (SNC). Essa alteração pode ser proveniente de anestesia geral profunda, excessiva depressão do centro vasomotor, uso de drogas ou fármacos que deprimem o SNC, anestesia espinhal, bloqueio da descarga simpática acima Choques8 da medula espinhal, ou lesão cerebral difusa que cause paralisia vasomotora. Seus dois primeiros sintomas mais importantes incluem a diminuição rápida da pressão arterial e o abrandamento do batimento cardíaco. No entanto, tam- bém são frequentes outros sinais, como diminuição da temperatura corporal, abaixo de 35,5 ºC; respiração rápida e superficial; pele fria e azulada; tonturas e sensação de desmaio; excesso de suor; e dor no peito. Crise adrenal Nas glândulas suprarrenais, produz-se o hormônio cortisol, o mais importante para a manutenção do tônus vascular. Além disso, a presença de seus níveis adequados é indispensável para que a adrenalina consiga atuar, assim, se houver uma insuficiência desses níveis, ocorrerá uma vasodilatação genera- lizada com redução da pressão de enchimento capilar. Essa situação acontece, principalmente, em pacientes usuários crônicos de corticosteroides, pois há uma inibição crônica do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) que leva a uma atrofia da zona fasciculada do córtex adrenal. Outras causas de crise adrenal seriam a hemorragia global das adrenais, a qual ocorre eventualmente na sepse, e os defeitos congênitos que afetam a síntese de esteroides adrenais, a chamada hiperplasia adrenal congênita, que pode acometer recém-nascidos. Nesses casos, a situação se torna ainda mais grave, pois a zona glomerular também é acometida, levando a um déficit de androsterona com redução da reabsorção de sódio e água, podendo produzir um choque hipovolêmico, somado ao distributivo já instalado pela falta do cortisol. Seus principais sinais e sintomas incluem vômitos, dores abdominais, fraqueza, febre, confusão e desmaios. Choque obstrutivo É um choque causado por obstrução ou por compressão dos grandes vasos do coração. Seus sintomas são semelhantes aos do hipovolêmico, porém, há distensão das veias jugulares. Já entre suas diversas causas, três merecem destaque, conforme você verá a seguir. 9Choques Pneumotórax hipertensivo Pode levar ao choque obstrutivo por ser uma situação aguda de aumento da pressão intratorácica, em que grandes veias sofrem pressão em sua superfície externa, diminuindo seu calibre nos trechos sensíveis. No entanto, há casos em que o calibre é muito diminuído ou o vaso, colapsado. A passagem da veia cava inferior pelo diafragma, na parte direita do centro tendíneo é um bom exemplo, sendo que o pneumotórax poderia desviar todas as estruturas torácicas lateralmente, inclusive a veia cava, mas como ela encontra-se fixa no forame da veia cava inferior, ao desviar-se, sofre estrangulamento. Nesse caso, o retorno venoso estaria seriamente comprometido, diminuindo o débito cardíaco e ocasionando o choque. Tamponamento cardíaco Neste caso, por algum motivo, há um acúmulo de líquido entre as lâminas parietal e visceral do pericárdio seroso do coração. Como o pericárdio fibroso (externo ao seroso) tem uma consistência firme, formado por esqueleto de fibras elásticas entrelaçado com uma camada densa de fibras colágenas, impede que o acúmulo de líquido no pericárdio seroso aumente o seu volume como um todo. Logo, ocorre seu aumento concêntrico, o que comprime o coração, comprometendo sua dilatação na diástole e o volume diastólico final — o sangue que se encontra no ventrículo esquerdo ao final da diástole. Com esse volume baixo, o débito sistólico também se comprometerá, diminuindo o débito cardíaco e levando ao choque. Tromboembolismo pulmonar A existência de um trombo na circulação venosa, geralmente em membros inferiores, pode ser o ponto de partida para a ocorrência deste choque. O atrito entre esse trombo e o fluxo sanguíneo destaca pequenos êmbolos, os quais seguem para o coração direito, ganham as artérias pulmonares e chegam aos capilares pulmonares. O pequeno calibre dos vasos faz os êmbolos ficarem estacionados, formando microtrombos e obstruindo esses capilares — caso esse fenômeno ocorresse com poucos capilares, não haveria maiores repercussões, porém, acontece com milhares deles. Com a rede capilar significativamente obstruída, não existe uma quantidade considerável de sangue para retornar Choques10 ao coração, assim, pouco sangue chegará ao átrio esquerdo, será entregue ao ventrículo esquerdo e, consequentemente, bombeado para o organismo. Essa situação hemodinâmica provoca o choque. Veja no Quadro 2 os sinais clínicos dos choques. Fonte: Adaptado de Caubi (2010, documento on-line). Sinais Neurogênico Hipovolêmico Séptico Cardiogênico Pressão arterial Diminuída Diminuída Diminuída Diminuída Nível de consciência Mantido Alterado Alterado Alterado Enchimento capilar Normal Alterado Alterado Alterado Coloração da pele Rosada Pálida, cianótica Pálida, rendilhada Pálida, cianótica Temperatura da pele Quente e seca Fria e pegajosa Fria e pegajosa Fria e pegajosa Quadro 2. Sinais clínicos dos choques Primeiros socorros Ao atender uma vítima cujo acidente possa desencadear o estado de choque, o socorrista deve estar muito atento aos sintomas gerais, como: � pele pálida, úmida, pegajosa e fria; � cianose de extremidades, orelhas, lábios e pontas dos dedos; � suor intenso na testa e nas palmas das mãos; � fraqueza geral; � pulso rápido e fraco; � sensação de frio e calafrios; � respiração rápida, curta, irregular ou muito difícil; � expressão de ansiedade ou olhar indiferente e profundo com pupilas dilatadas, agitação; � medo, ansiedade; 11Choques � sede intensa; � visão nublada; � náuseas e vômitos; � respostas insatisfatórias aos estímulos externos; � perda total ou parcial de consciência; � taquicardia. Em todos os casos de reconhecimento dos sinais e sintomas do estado de choque, deve-se providenciar imediatamente assistência especializada. A vítima necessitaráde tratamento complexo, que somente pode ser feito por profissionais e recursos especiais para intervir neles. Prevenção do choque Algumas providências podem ser tomadas para evitar o estado de choque, porém, infelizmente, não há muitos procedimentos de primeiros socorros para tirar a vítima dele. Veja, no Quadro 3, as providências que devem ser memorizadas com o intuito permanente de prevenir o agravamento e retardar a instalação desse estado: Deite a vítima em posição horizontal, preferencialmente de costas, e com as pernas a um nível cerca de 25 a 30 cm mais elevadas do que a cabeça. Eleve os membros inferiores em relação ao corpo, colocando-os sobre uma almofada, um cobertor dobrado ou qualquer outro objeto. Esse procedimento deve ser feito apenas se não houver fraturas desses membros e serve para melhorar o retorno sanguíneo e levar o máximo de oxigênio ao cérebro — não os erguer a mais de 30 cm do solo. No caso de ferimentos no tórax que dificultem a respiração ou na cabeça, os membros inferiores não devem ser elevados. Afrouxe as roupas da vítima no pescoço, no peito e na cintura e, em seguida, verificar se há presença de prótese dentária, objetos ou alimento na boca e os retirar. Deite a vítima na posição lateral de segurança para evitar asfixia, no caso de estar inconsciente, ou se estiver consciente, mas sangrando pela boca ou pelo nariz. Quadro 3. Como proceder diante do estado de choque. (Continua) Choques12 Assista a um vídeo sobre os tipos de choques no link a seguir ou no código ao lado. https://goo.gl/3EwmBk CAUBI, F. Choque neurogênico. [2010]. Disponível em: <http://gerardocristino.com. br/novosite/aulas/Neuroanatomia/Casos/C7_Choque_Neurogenico.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018. SANTOS, L. S. C. Assistência ao paciente crítico: choque. 2017. Disponível em: <https:// edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4136762/mod_resource/content/2/Aula%20Cho- que%20EEUSP%202.2017.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2018. Quadro 3. Como proceder diante do estado de choque. Verifique quase que simultaneamente se a vítima está respirando e esteja preparado para iniciar manobras de ressuscitação cardiopulmonar se ela não estiver. Observe o pulso da vítima enquanto as providências já indicadas são executadas — no choque, ele apresenta-se rápido e fraco. Cubra a vítima com uma manta, para evitar a perda de calor e o consequente arrefecimento corporal, sem, porém, aquecê-la excessivamente. Não dê comida ou qualquer bebida à vítima caso ela esteja obnubilada, porque pode provocar a passagem de alimentos para as vias respiratórias. Tranquilize a vítima, mantendo-a calma sem demonstrar apreensão quanto ao seu estado, se o socorro médico estiver demorando. Permaneça junto a ela para dar-lhe segurança e monitorar alterações em seu estado físico e de consciência. (Continuação) 13Choques Leituras recomendadas FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Núcleo de Biossegurança. Manual de primeiros socorros. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2003. HALL, J. E. Guyton & Hall: tratado de fisiologia médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. KOEPPEN, B. M.; STANTON, B. A. Berne & Levy: fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. MOURÃO JÚNIOR, C. A.; ABRAMOV, D. M. Fisiologia essencial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. PORTH, C. M.; MATFIN, G. Fisiopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. SILVA, D. B.. Manual de primeiros socorros. Alfenas: UNIFENAS, 2007. SMELTZER, S. C. et al. Choque e síndrome da disfunção de múltiplos orgãos. In: CHE- EVER, K. H.; HINKLE, J. L. Brunner & Suddart: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. Choques14 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Dica do professor O estado de choque, também conhecido como choque circulatório, é uma alteração fisiológica caracterizada pela incapacidade do coração e dos vasos sanguíneos irrigarem todos os tecidos do corpo com oxigênio e demais substâncias necessárias para o correto funcionamento do organismo. Confira, nesta Dica do Professor, outras informações a respeito do estado de choque. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/7d0f1a48613f8e423f1f37cf68e76638 Exercícios 1) Os choques podem ser classificados de acordo com sua etiologia, independentemente da causa básica da patologia do paciente. A partir dessas informações, assinale a opção que indica, corretamente, a causa prevalente e a respectiva classificação do choque. A) Neurogênico, ligado ao infarto do miocárdio. B) Hipovolêmico, ligado a queimaduras extensas. C) Obstrutivo, ligado à ingestão de alergênicos. D) Infecção generalizada, choque cardiogênico. E) Distributivo, ligado a lesões medulares. 2) Em situações de emergência, é imprescindível que o socorrista proceda a uma avaliação eficiente dos sinais e sintomas no sentido de identificar problemas e tomar decisões. Na identificação do choque hipovolêmico, é mais comum observar os seguintes sinais. A) Bradicardia e elevação da pressão arterial. B) Nível de consciência alterado e pele normocorada. C) Taquicardia e palidez cutânea. D) Pele pegajosa e quente. E) Enchimento capilar alterado e pele seca. 3) Tanto o choque cardiogênico como o obstrutivo podem colocar em risco a vida de uma pessoa. Com relação a esses dois tipos de choque, é possível afirmar que: A) o choque cardiogênico é o mais comum que o choque obstrutivo em acidentes de trânsito. B) A ocorrência de choque obstrutivo é maior do que a de choque cardiogênico. C) O choque obstrutivo é mais frequentemente causado por pessoas com temponamento cardíaco. D) Tanto o choque obstrutivo como o cardiogênico podem provocar uma falha do coração. E) O choque obstrutivo pode ser mais facilmente atendido se a causa da obstrução for resolvida. 4) Ao atender uma vítima que teve qualquer acidente e pode desencadear um estado de choque, o socorrista deve estar muito atento aos seus sintomas. Se a vítima estiver em choque, quais sintomas gerais ela poderá apresentar? A) Rubor facial, cianose, sudorese, taquicardia, sede intensa, hipotensão. B) Palidez, cianose, pele seca, taquicardia, sede intensa, hipotensão. C) Palidez, cianose, sudorese, bradicardia, sede intensa, hipotensão. D) Palidez, cianose, sudorese, taquicardia, sede intensa, hipotensão. E) Palidez, cianose, sudorese, taquicardia, sede intensa, hipertensão. 5) Podemos dizer que todo o choque é causado pelo estado de hipotensão severa que não permite que as trocas celulares ocorram com eficiência, levando o organismo à exaustão e ao colapso sistêmico. Para entender o estado de choque, independentemente do seu tipo, é necessário compreender os seguintes elementos para um bom funcionamento circulatório. A) Bomba neurológica, sistema arterial de resistência, sistema venoso de capacitância e rede capilar. B) Bomba cardíaca, sistema arterial de tranferência, sistema venoso de capacitância e rede capilar. C) Bomba cardíaca, sistema arterial de resistência, sistema venoso de incapacitância e rede capilar. D) Bomba cardíaca, sistema arterial de resistência, sistema venoso de capacitância e rede vesicular. E) Bomba cardíaca, sistema arterial de resistência, sistema venoso de capacitância e rede capilar. Na prática O choque anafilático é uma reação alérgica grave e de rápida progressão que pode provocar a morte. Geralmente, esse tipo de choque causa os seguintes sintomas: eritema pruriginoso, inflamação da garganta ou da língua, falta de ar, vômitos, atordoamento e diminuição da pressão arterial. Acompanhe, a seguir, um caso clínico sobre choque anafilático. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:Tipo de choque Neste vídeo, você verá uma apresentação sobre os principais tipos de choque e suas particularidades. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Choque: diagnóstico e tratamento na emergência Veja, no link a seguir, um artigo sobre choque: diagnóstico e tratamento na emergência. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Suporte hemodinâmico e terapia em choque séptico Quais são os principais objetivos da reanimação do choque séptico? Para descobrir, leia este artigo, clicando neste link. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/9_hjjaYHxnU https://www.sanarmed.com/choque-mecanismos-diagnostico-e-manejo-do-paciente-na-emergencia-colunistas http://www.scielo.br/pdf/rba/v65n5/pt_1806-907X-rba-65-05-00395.pdf