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Educação Ambiental Apresentação Nesta Unidade de Aprendizagem será discutida a educação ambiental por meio da qual podem ocorrer as mudanças do modo como o homem se relaciona com o meio. Você conhecerá ainda os eventos onde foram discutidos os princípios da educação, assim como os principais conceitos relacionados ao tema. A educação ambiental pode ser aplicada nas atividades de profissionais da gestão ambiental, como será discutido ao longo desta unidade. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir os principais eventos e conceitos relacionados à educação ambiental.• Descrever o que prevê a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA).• Relacionar educação ambiental e gestão ambiental.• Infográfico A educação ambiental busca a mudança de posicionamento do homem frente aos problemas da atualidade. Conteúdo do livro A educação ambiental é um processo de ensino, de divulgação e troca de informações e de sensibilização das pessoas acerca das questões ambientais. Está, portanto, relacionada com a gestão ambiental, que visa a buscar maneiras de utilizar os recursos naturais de forma mais sustentável, implementando medidas para mitigar os passivos ambientais. Neste capítulo, você vai entender do que se trata educação ambiental e gestão ambiental. Especificamente, será destacada a importância da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) para nortear a educação ambiental em território brasileiro. Boa leitura. GESTÃO AMBIENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir os principais eventos e conceitos relacionados à educação ambiental. > Descrever o que prevê a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). > Relacionar educação ambiental e gestão ambiental. Introdução A educação e a gestão ambiental estão inter-relacionadas. A educação ambiental visa a ensinar e instruir a população sobre a importância do ambiente e os motivos por que devemos fazer uso sustentável dos recursos naturais. Já a gestão ambiental visa a buscar maneiras de utilizar os recursos naturais de forma mais sustentável, implementando medidas para mitigar os passivos ambientais. Neste capítulo, você vai entender do que se trata educação ambiental e gestão ambiental. Especificamente, será destacada a importância da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) para nortear a educação ambiental em território brasileiro. Trajetória da educação ambiental Até a década de 1960, existiam poucas legislações dedicadas, inclusive em nível mundial, à preservação ambiental. Por consequência, a sociedade não estava preocupada com as questões ambientais, sobretudo as organizações, que focavam apenas no ganho econômico (Schwanke, 2013). Segundo Philippi Júnior e Pelicioni (2014), a educação ambiental começou a chamar a atenção da sociedade apenas partir da publicação, em 1962, do livro Primavera silenciosa, da bióloga estadunidense Rachel Carson. Esse Educação ambiental Ronei Tiago Stein livro foi precursor da preocupação com os efeitos danosos de inúmeras ações humanas sobre o ambiente, como, por exemplo, o uso de agrotóxicos. Junto com as definições sobre educação ambiental, foram estabelecidas agendas e políticas públicas para nortear sua aplicação. A partir da década de 1960, portanto, os estudos das questões ambientais começaram a ganhar força. Entre eles, estavam aqueles voltados às alterações ambientais causadas pelas ações antrópicas, como o aquecimento global, o derretimento das geleiras, os buracos na camada de ozônio e o aumento do índice de poluição atmosférica (Philippi Júnior; Pelicioni, 2014). Especialistas e estudiosos começaram, então, a relacionar o desmatamento, as queimadas, a emissão de gases atmosféricos e a geração de resíduos sólidos com as alterações ambientais ao redor de todo o planeta, e cada vez mais os países começaram a investir em legislações no intuito de preservar o ambiente (Sato et al., 2005). Conforme Sato et al. (2005), as mudanças nas empresas ocorreram mesmo a partir da década de 1980, década que representou um marco no que se refere à gestão ambiental. Também na década de 1980 surgiu a norma ISO 14000, que, atualmente, é composta por um grupo de 28 normas, apresentando os caminhos, as direções e os objetivos que um sistema de gestão ambiental (SGA) deve seguir. A demanda por uma abordagem sistêmica da gestão ambiental de organizações e produtos, visando a uniformizar ações abrangentes para proteger o meio ambiente, com conceitos e procedimentos universalizados para que uma organização se certifique ambientalmente, cumprindo um mesmo padrão de exigências válido no âmbito internacional, levou à criação da série ISO 14000 pela International Organization for Standardization (ISO). A série de normas ISO 14000, de caráter voluntário, procura estimular o desenvolvimento de alternativas efetivas e abrangentes para a gestão ambiental sem impor padrões de desempenho ambiental, os quais devem ser estabelecidos pela própria organização em função de suas necessidades e possibilidades. Essa série pode ser aplicada tanto às atividades do setor industrial quanto às atividades dos segmentos de extrativismo, agroindustrial, comercial, de prestação de serviços e governamentais. Os objetivos decorrentes da série de normas ISO 14000 possibilitam a certificação tanto das organizações quanto de seus produtos e serviços (Seiffert, 2014). Veja, no Quadro 1, um pequeno resumo de como ocorreu a evolução das questões ambientais e a gestão ambiental empresarial. Educação ambiental2 Quadro 1. Evolução das questões ambientais e a gestão empresarial Década Postura empresarial Até a década de 1970 O paradigma imperante era dispersar os poluentes produzidos em virtude do menor avanço tecnológico, do menor contingente populacional e de um padrão de consumo menos sofisticado. Isso residia simplesmente em lançar os poluentes o mais longe possível da fonte geradora, evitando, assim, problemas às partes interessadas. Décadas de 1970 e 1980 Utilização de sistemas de tratamento e controle ambiental de fim de tubo. O maior avanço tecnológico acarretou um padrão de consumo mais exigente e esbanjador, aliado à elevação do contingente populacional do planeta. Na década de 1980, no cenário mundial, ocorreram grandes acidentes ambientais, bem como a criação dos partidos verdes. Década de 1990 Postura proativa. O processo de prevenção da poluição ganhou maior ênfase, levando ao investimento em produção mais limpa e buscando minimizar o uso de matérias-primas nos processos. A poluição passa a ser sinônimo de um desperdício que a organização não pode se dar ao luxo de manter. A partir dos anos 2000 O conceito ambiental se integrou fortemente com as questões de saúde e segurança, estabelecendo os princípios da responsabilidade social, ou seja, empresas decidem, em uma base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo. Com base nesse pressuposto, a gestão das empresas também passa a ser norteada pelos outros detentores de interesses, como os trabalhadores, as comunidades locais, os clientes, os fornecedores, as autoridades públicas, os concorrentes e a sociedade em geral. A partir do gerenciamento integrado (saúde, segurança e meio ambiente), as empresas buscam a certificação ambiental por meio da implementação dos SGAs, de auditorias ambientais e de avaliações do ciclo de vida do produto (preocupação desde a concepção até o final da sua vida útil), visando a atingir o crescimento sustentável. Fonte: Adaptado de Schwanke (2013). Conforme Mulato, Santos e Oliveira (2021), no Brasil, a gestão ambiental ganhou propulsão na década de 1990, sobretudo pela promulgação da Lei nº 9.795, em 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Educação ambiental 3 Ambiental (PNEA). Inicialmente, apenas grandes empresas e multinacionais começaram a implantar sistemas de gestão ambiental. Porém,com o passar do tempo, a gestão começou a ser incorporada por médias e pequenas em- presas, dos mais diferentes setores/áreas. Em resumo, a evolução das legislações ambientais em território nacional segue a linha temporal apresentada no Quadro 2. Quadro 2. Evolução das legislações ambientais no Brasil Ano Eventos 1934 São sancionados o Código Florestal (Decreto nº 23.793, de 23 de janeiro) e o Código de Águas (Decreto nº 24.643, de 10 de julho). 1964 É promulgada a Lei nº 4.504, de 30 de novembro, que dispõe sobre o Estatuto da Terra, regulando os direitos e as obrigações concernentes aos bens imóveis rurais para os fins de execução da Reforma Agrária e a promoção da Política Agrícola. 1965 Passa a vigorar uma nova versão do Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15 de setembro), estabelecendo, entre outros, a proteção das áreas de preservação permanente (APP). 1967 São instituídos os Códigos de Caça, Pesca e Mineração, bem como a Lei de Proteção à Fauna (Lei nº 5.197, de 3 de janeiro). 1975 Por meio do Decreto-Lei nº 1.413, de 31 de julho, inicia-se o controle da poluição provocada por atividades industriais. 1977 É promulgada a Lei nº 6.453, de 17 de outubro, que dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares. 1981 É sancionada a Lei nº 6.938, de 31 de agosto, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. 1985 É promulgada a Lei nº 7.347, de 24 de julho, que disciplina a ação civil pública como instrumento processual específico para a defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. 1988 É publicada nova Constituição Federal, a primeira a dedicar capítulo específico ao meio ambiente. 1991 O Brasil passa a ter uma Lei de Política Agrícola (Lei nº 8.174, de 30 de janeiro), que contém um capítulo inteiro sobre a proteção ambiental. (Continua) Educação ambiental4 Ano Eventos 1998 É publicada a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro, que dispõe sobre crimes ambientais, prevendo sanções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. 1999 É publicada a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental, institui a PNEA e dá outras providências. 2000 Surge a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei nº 9.985, de 18 de julho), que estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. 2001 É sancionado o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257, de 10 de julho), que estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. 2006 O Congresso Nacional aprova a Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428, de 22 de dezembro), que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica. 2008 É expedido o Decreto 6.514, de 22 de julho, dispondo sobre infrações e sanções administrativas ao meio ambiente. 2010 É criada a Lei nº 12.305, de 2 de agosto, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e dispõe sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. 2012 É promulgado um novo Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio) e expedido o Decreto nº 7.830, de 17 de outubro, o qual dispõe sobre o Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SISCAR) e o Cadastro Ambiental Rural (CAR). 2014 É expedido o Decreto nº 8.235, de 5 de maio, que estabelece normas gerais e complementares aos Programas de Regularização Ambiental (PRA) e institui o Programa Mais Ambiente Brasil. Entre todos os dispositivos apresentados no Quadro 2, destaca-se a Lei nº 9.795/1999, mais conhecida como PNEA. Por sua importância, a PNEA será mais bem explorada em seção própria a seguir. Em suma, pode-se dizer que a educação ambiental promove o entendi- mento de que o espaço geográfico é formado tanto pelos elementos do meio (Continuação) Educação ambiental 5 ambiente quanto pelas transformações do ser humano sobre ele. Ao mesmo tempo, os problemas ambientais e o uso dos recursos atingem todo o conjunto da sociedade. Para interpretar e compreender as dinâmicas do meio ambiente, é preciso considerar as percepções sobre natureza nas diferentes sociedades, além de como o uso dos recursos finitos pode ser feito de forma sustentável. A Política Nacional de Educação Ambiental Como você viu na seção anterior, qualquer instituição de ensino em território nacional, independentemente do nível de ensino em que atua, deverá consi- derar a educação ambiental um componente essencial e permanente de seus programas educacionais. Isso porque, conforme previsto na PNEA, o acesso à educação ambiental é um direito de todos e, como tal, deve ser atendido por diferentes agentes, conforme especifica a referida lei (Barbieri; Silva, 2012). Assim, justifica-se a importância de se estar familiarizado com a Lei nº 9.795/1999, a qual, como já mencionado, dispõe sobre a educação ambiental, institui a PNEA e dá outras providências (Brasil, 1999). A PNEA representa, como se pode depreender do histórico apresentado anteriormente neste capítulo, o resultado de uma longa série de lutas dentro do Estado e da sociedade para expressar uma concepção de ambiente e so- ciedade de acordo com o momento histórico da produção do texto legal. Um de seus principais avanços refere-se ao amplo acesso à educação ambiental, que é, pelo dispositivo, garantida a todos, cabendo (Brasil, 1999, art. 3º): I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conser- vação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, pro- mover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais. Educação ambiental6 Esse acesso é reforçado pelos objetivos da educação ambiental previstos pela lei e listados a seguir (Brasil, 1999). � Desenvolver uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicoló- gicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos. � Garantir a democratização das informações ambientais. � Estimular e fortalecer uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social. � Incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsá- vel, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania. � Estimular a cooperação entre as diversas regiões do país, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construçãode uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade. � Fomentar e fortalecer a integração com a ciência e a tecnologia. � Fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. Veja que, como um de seus objetivos estratégicos, a PNEA estabelece o incentivo à participação individual e coletiva permanente e responsável voltada à preservação do equilíbrio do meio ambiente. Para isso, parte do pressuposto de que a defesa da qualidade ambiental é um valor inseparável do exercício da cidadania, defendendo a construção de uma cultura da partici- pação qualificada por meio do diálogo. Ela também almeja favorecer o acesso da sociedade por definir os conceitos relacionados à educação ambiental. Conforme a PNEA, o termo educação ambiental engloba os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltados para a conservação do meio ambiente. Trata-se, portanto, de um componente essen- cial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo formal ou não formal (Brasil, 1999). Ou seja, as instituições de ensino devem adequar seus currículos para atender, em cada nível, às duas formas preconizadas pela lei (Barbieri; Silva, 2012). Educação ambiental 7 A educação permanente também é uma exigência no âmbito dos debates em torno da educação ambiental pelo fato de que as próprias ações sobre a realidade trazem à tona novas demandas em termos de compreensão das rela- ções socioambientais. Essa necessidade de constante busca do conhecimento para melhor atuar sobre a realidade também se encontra expressa na Lei nº 9.795/1999 em um dos princípios básicos da educação ambiental: a garantia da continuidade e permanência do processo educativo e sua permanente avaliação crítica do processo. Especificamente, o art. 8º da referida lei cita que as atividades vinculadas à PNEA devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar por meio das seguintes linhas (Brasil, 1999, art. 8º): I - capacitação de recursos humanos; II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; III - produção e divulgação de material educativo; IV - acompanhamento e avaliação. Além disso, o combate à visão unilateral e unidisciplinar de ambiente é um dos principais avanços alcançados pela referida política, tendo sido inscrito como um dos objetivos da educação ambiental na Lei nº 9.795/1999 buscar “o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos” (Brasil, 1999, art. 5º). Assim, visando a atender a PNEA, existem diferentes ações/legislação e políticas que buscam educar e alertar a população sobre as questões am- bientais, como (Ibrahin, 2014): � a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS); � a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA); � a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH); � a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC). Por fim, vale destacar o componente da revelação e problematização dos conflitos socioambientais abarcado pela PNEA. Rachel Carson (2010) mostra como um diagnóstico bem instrumentalizado científica e tecnologicamente permite a compreensão da real dimensão e impacto do problema, deixando de ser mera retórica ambientalista para se tornar um discurso muito bem emba- Educação ambiental8 sado e minucioso. De fato, são os conflitos socioambientais, sua compreensão e resolução que efetivamente viabilizam um processo de educação ambiental em que se construam valores, atitudes, habilidades e competências durante o curso da busca da solução e cuja formação do sujeito no processo em si contribua para encontrar e implementar essa solução. Ou seja, a solução do conflito socioambiental e o processo formativo de educação ambiental estão intimamente associados, um sendo ingrediente para a obtenção do outro. Nesta seção, você viu que a PNEA se trata de um importantíssimo dis- positivo para a educação ambiental, sobretudo por prever amplo acesso à educação ambiental, incentivar a participação individual e coletiva perma- nente e responsável voltada à preservação do equilíbrio do meio ambiente, combater a visão unilateral e unidisciplinar de ambiente, e incitar a revelação e problematização dos conflitos socioambientais. A seguir, você verá de que forma educação ambiental e gestão ambiental estão inter-relacionadas. Educação ambiental e gestão ambiental Segundo Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (2012), existe certa confusão a res- peito do significado do termo “gestão ambiental”, reforçada pelas diversas definições que muitos autores lhe têm atribuído. Grosso modo, a gestão ambiental consiste na análise e tomada de decisões relativas às diferentes variáveis ambientais de um sistema/empresa no intuito de escolher as me- lhores opções e encontrar as melhores soluções para diminuir os impactos ambientais. Simplificando, a gestão ambiental busca avaliar os impactos ambientais negativos que as atividades de uma organização ocasionam. Segundo Dias (2017, p. 107), a gestão ambiental é “o principal instrumento para se obter um desenvolvimento industrial sustentável” e seu processo nas empresas “está profundamente vinculado a normas que são elaboradas pelas instituições públicas (prefeituras, governos estaduais e federal)”. Essas normas, segundo o autor, “estabelecem os limites aceitáveis de emissão de substâncias poluentes, definem em que condições serão despojados os resí- duos, proíbem a utilização de substâncias tóxicas, definem a quantidade de água que pode ser utilizada, volume de esgoto que pode ser lançado, etc.”. Em última análise, a gestão ambiental visa a realizar um melhor aproveitamento dos recursos no setor produtivo, principalmente dos não renováveis. Educação ambiental 9 Segundo Almeida (2007), os recursos podem ser divididos nas se- guintes duas categorias. 1) Recursos naturais renováveis: após um determinado tempo, graças ao ci- clo natural, acabam ficando disponíveis novamente, ou seja, acabam se renovando. Dessa forma, esses recursos são considerados inesgotáveis ou podem ser repostos em um pequeno ou médio período. Exemplos incluem solo, água, ar, vento, etc. 2) Recursos naturais não renováveis: uma vez aproveitados, infelizmente não podem mais ser reutilizados. Exemplos são os combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural e carvão. Para cumprir seu objetivo, a gestão ambiental está relacionada a diferentes iniciativas, podendo ser aplicada em diferentes tipos de empresas (indiferente- mente do ramo de atuação ou do porte), a depender dos problemas ambientais que elas ocasionam. Segundo Barbieri (2004), qualquer proposta de gestão ambiental inclui, no mínimo, as quatro dimensões apresentadas no Quadro 3. Quadro 3. Dimensão de uma proposta de gestão ambiental Dimensão Descrição Espacial Concerne à área na qual se espera que as ações de gestão tenham eficácia. Temática Delimita as questões ambientais às quais as ações se destinam. Institucional Relaciona-se aos agentes que tomaram as iniciativas de gestão. Filosófica Trata da visão de mundo e da relação entre o ser humano e a natureza. Fonte: Adaptado de Barbieri (2004). Por consequência de seus objetivos, a gestão ambiental acaba por deter- minar a política ambiental da empresa, que culmina na criação de um sistema de gestão ambiental (SGA) (Shigunov Neto; Campos; Shigunov, 2021). Dessa forma, definir uma política ambiental é o ponto de partida para implantar a gestão ambiental. Educação ambiental10 A política ambiental consiste em uma declaração da organização, expondo suas intenções e princípios em relaçãoa seu desempenho ambiental global, que provê uma estrutura para a ação e definição de seus obje- tivos e metas ambientais. Portanto, a política ambiental define um senso geral de orientação e fixa os princípios de ação para a organização (ABNT, 2015). Já o SGA é a parte de um sistema da gestão de uma organização utilizada para desenvolver e implementar sua política ambiental e gerenciar seus aspectos ambientais. Mas qual seria, afinal, a relação entre gestão ambiental e educação ambiental? No setor produtivo, a educação ambiental emerge da confluência entre meio ambiente, educação e trabalho. A norma ISO 14001 (International Or- ganization for Standardization), em seu texto introdutório, diz que a gestão ambiental abrange uma vasta gama de questões, incluindo aquelas com implicações estratégicas e competitivas (ABNT, 2015). Ela engloba, então, como parte da função gerencial total, todos os setores na organização necessários ao planejamento, à execução, à revisão e ao desenvolvimento de uma política ambiental. Ou seja, a gestão ambiental consiste em um espaço que exige e ao mesmo tempo propicia condições para o desenvolvimento de processos educativos ambientais. Esses processos estão condicionados aos espaços nos quais é desenvolvida a gestão ambiental, sejam públicos (poder público), sejam no âmbito da gestão ambiental privada (setor produtivo) (Schwanke, 2013). Um exemplo da integração da educação ambiental no contexto do sistema produtivo é a área de segurança e saúde dos trabalhadores. Esse é um espaço muito importante para ações de educação ambiental, já que os impactos nos trabalhadores repercutirão no meio ambiente circundante, ao mesmo tempo que um ambiente contaminado afetará os trabalhadores. Ambas as áreas têm muitos pontos em comum, uma vez que se preocupam com o indivíduo de forma integral (condições de trabalho e de vida). Dessa forma, têm sido a principal porta de entrada para a implantação da educação ambiental nos sistemas produtivos em geral (Schwanke, 2013). Nesse contexto, destaca-se o objetivo maior da gestão ambiental: a busca permanente pela melhoria contínua da qualidade ambiental dos serviços, dos produtos e do ambiente de trabalho de qualquer organização pública ou privada, independentemente do porte (Schwanke, 2013). Educação ambiental 11 Referências ABNT. ABNT NBR ISO 14.001:2015: sistemas de gestão ambiental: requisitos com orien- tações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ALMEIDA, D. H. C. Mudanças climáticas: premissas e situação futura. São Paulo: LCTE, 2007. BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2004. BARBIERI, J. C.; SILVA, D. Educação ambiental: na formação do administrador. São Paulo: Cengage Learning, 2012. BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1999. 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Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/d51fd4312cc956e626d5d8ad87b4277c Exercícios 1) A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n. 9795/1999) define os princípios básicos que devem ser adotados para a educação ambiental. Na sequência são apresentadas cinco sentenças sobre os princípios dessa lei, mas uma delas não está correta. Indique a sentença INCORRETA. A) O meio ambiente deve ser considerado somente como meio natural e com enfoque da sustentabilidade. B) A educação ambiental deve realizar uma avaliação crítica do processo educativo. C) A diversidade individual e cultural deve ser respeitada. D) A educação ambiental deve ser conduzida de forma inter, multi e transdisciplinar. E) A educação ambiental é um processo contínuo e permanente. 2) Leia as afirmativas: I. A educação ambiental pode ser formal e não formal. II. A educação formal deve estar presente do ensino fundamental ao médio. III. A educação formal deve abranger todas as modalidades de ensino, como educação de jovens e adultos e educação especial. IV. A sensibilização da coletividade pode ser alcançada somente com a educação formal. Indique a alternativaINCORRETA. A) Somente a afirmativa III. B) As afirmativas II e III. C) As afirmativas I e IV. D) Somente a afirmativa I. E) As afirmativas II e IV. 3) Sobre o conceito de educação ambiental definido na Política Nacional de Educação Ambiental, é CORRETO afirmar: A) Os processos visam somente à mudança de conduta dos indivíduos. B) A construção de valores voltados à conservação da natureza é um objetivo da educação ambiental. C) A mudança de valores provocada pela educação ambiental se limita à melhoria da qualidade de vida. D) Os valores sociais modificam nossas atitudes somente com relação à conservação do meio ambiente. E) A construção de novos valores é uma meta da educação ambiental para a conservação do ambiente, mas não garante a melhoria da qualidade de vida. 4) Considerando o histórico da educação ambiental, é INCORRETO afirmar: A) Em resposta às recomendações da Conferência de Estocolmo (1972), foi realizado o Encontro Internacional em Educação Ambiental, promovido pela Unesco em Belgrado (1975). B) O ano de 1981 foi importante para a educação ambiental no Brasil com a publicação do documento “Projeto de informações sobre educação ambiental” e a criação da Política Nacional de Meio Ambiente. C) A Primeira Conferência sobre Educação Ambiental, que ocorreu na Geórgia em 1977, não teve representatividade para a evolução dessa temática. D) Na Rio 92 foi enfatizado o respeito a todas as formas de vida. E) A Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável ocorreu entre 2005 e 2014. 5) Considerando os conceitos estudados nesta Unidade de Aprendizagem, assinale a afirmativa que NÃO corresponde às conexões entre a gestão ambiental e a educação ambiental. A) Essa conexão é um processo social que gera interação entre diferentes atores sociais. B) O processo de articular agentes sociais e ações participativas. C) Os instrumentos de ação educativa e social que determinam a transformação das estruturas sociais, visando à construção de valores e conceitos. D) As conexões podem ser desenvolvidas de forma pública e privada. E) Os conceitos ecopedagógicos não estão relacionados com os conceitos pedagógicos da educação ambiental.