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A recuperação da informação visual baseada na localização e nas características visuais dos objetos

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Estudos de Psicologia
DOI: 10.5935/1678-4669.20160022 ISSN (versão eletrônica): 1678-4669 Acervo disponível em www.scielo.br/epsic
A recuperação da informação visual baseada na localização e nas 
características visuais dos objetos
César Alexis Galera. Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto).
Luísa Superbia Guimarães. Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto).
Joaquim Carlos Rossini. Universidade Federal de Uberlândia.
Jeanny Joana Rodrigues Alves de Santana. Universidade Federal de Uberlândia.
Estudos de Psicologia, 21(3), julho a setembro de 2016, 228-238
Resumo
Nós investigamos a recuperação de características visuais (cor, forma) de um objeto armazenado na memória de trabalho visual. 
Dicas retroativas, espaciais ou baseadas nas características visuais do objeto memorizado, foram apresentadas em uma tarefa 
de reconhecimento visual. Dicas retroativas espaciais sinalizavam o local ora da cor, ora da forma a ser reconhecida; a dica de 
forma sinalizava a cor a ser reconhecida; a dica de cor sinalizava a forma. Os resultados mostram que a dica espacial proporciona 
um ganho no reconhecimento da cor, mas não da forma. Nem a cor nem a forma proporcionam ganhos no reconhecimento, 
respectivamente, da forma ou da cor. Nossos resultados sugerem que a informação espacial é mais relevante para a recuperação 
da informação memorizada do que a informação visual. Discutimos o papel da atenção no processo de recuperação e a importância 
do buffer visual como sistema da memória de trabalho visual.
Palavras-chave: memória operacional; memória de curto prazo; imagem mental; atenção visual.
Abstract
The retrieval of visual information based on the location and visual features of objects. We investigate the retrieval of visual 
characteristics (color, form) of an object stored in visual working memory. Retro-cues based on location or on memorized 
characteristics were presented in a visual recognition task. Location retro-cues pointed out the place where the to be recognized 
feature (color or form) was at the memorized scene; color retro-cues cued the to be recognized form; form retro-cues cued 
color. Results show that spatial retro-cue allows a gain in color recognition but not in form recognition. Neither the color nor the 
form retro-cues provide significant improvement in recognition of form or color, respectively. Our results suggest that spatial 
information is more relevant to the recovery of the memorized information than the visual characteristics. We discuss the role 
of attention in the recovery process and the importance of the visual buffer as a visual working memory system.
Keywords: working memory; short-term memory; mental imagery; visual attention.
Resumen
La recuperación de la información visual basada en la localización y en las características visuales de los objetos. Nosotros 
investigamos la recuperación de características visuales (color, forma) de un objeto almacenado en la memoria de trabajo 
visual. Pistas retroactivas, espaciales o embazadas en características del objeto memorizado, fueron presentadas en una tarea 
de reconocimiento visual. Pistas espaciales señalaron el sitio del color, o de la forma a ser reconocida; la pista de forma señaló 
el color y la pista de color señaló la forma a ser reconocida. Los resultados muestran que las pistas espaciales proporcionan un 
gaño en lo reconocimiento del color, pero no de forma. Ni el color ni la forma proporcionan beneficios en el reconocimiento, 
respectivamente, de la forma o del color. Nuestros resultados sugieren que la información espacial es más relevante para la 
recuperación que la información visual. Discutimos el rol de la atención en la recuperación y la importancia del visual buffer 
como un sistema de la memoria de trabajo visual.
Palabras clave: memoria operacional; memoria de corto plazo; imágenes mentales; atención visual.
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A recuperação da informação visual
No modelo de memória de trabalho, o sistema 
responsável pelo armazenamento da informação 
não-verbal, o esboço visuoespacial, foi concebido como 
um armazenador com múltiplas funções. Ele é capaz de 
armazenar e integrar as informações visual e espacial 
em representações visuoespaciais unitárias, além de ser 
também responsável pela geração e manipulação das 
imagens mentais (Baddeley, 1986, 2007). Logie (1995) 
redistribuiu essas funções em dois armazenadores, o 
visual cache e o inner scribe. O visual cache é responsável 
pelo armazenamento de informações visuais estáticas, 
tais como cores, texturas e formas presentes em uma, 
e apenas uma, cena. O inner scribe tem funções mais 
complexas: é responsável pelo armazenamento das 
relações espaciais entre os objetos da cena, pelo 
armazenamento de sequências de eventos no espaço 
visual e pela recitação do conteúdo armazenado no 
visual cache. Neste artigo, usaremos o termo “espacial” 
para nos referirmos a dicas ou informações atinentes 
à localização no espaço ou posicionamento relativo 
entre objetos na cena; o termo “visual” será usado 
daqui em diante para se referir a dicas baseadas nas 
características estáticas dos objetos (ou seja, aquelas 
que não prescindem de informações concernentes à 
localização no espaço ou posição relativa entre objetos 
na cena). A conceituação teórica das dicas será explorada 
mais adiante nesta introdução.
As representações mantidas no visual cache 
não são representações realmente visuais, mas 
representações abstratas, que podem ter sido adquiridas 
tanto através da visão como do tato ou de descrições 
verbais e interpretadas com base no conhecimento 
de longo prazo (Logie, 2003). Estas representações 
conteriam as informações necessárias à reconstrução da 
memória visual em termos de imagens mentais visuais. 
No entanto, de acordo com Logie (2011), a imagem visual 
não é uma função da memória de trabalho visual, mas 
do sistema executivo central.
O modelo de memória de trabalho visual (MTV) 
proposto por Logie (1995; 2003; 2011) contribuiu para 
compreensão de alguns pontos não especificados no 
esboço visuoespacial (Baddeley, 1986; 2007), mas deixou 
em aberto algumas questões importantes, entre elas a 
interação entre o armazenamento da informação visual 
em um sistema de memória passivo e a capacidade da 
manipulação consciente da imagem mental. As evidências 
sugerem que o armazenamento da informação visual e 
a representação dessa informação na forma de uma 
imagem mental são funções distintas (Borst, Niven, & 
Logie, 2012; Pearson, 2001; Quinn & McConnell, 1996) 
mas, sem dúvida, relacionadas. Antes que possa ser 
inspecionada e manipulada de forma consciente como 
uma imagem mental, a representação dos aspectos 
visuais de um objeto memorizado - seja na memória de 
longo prazo, seja no visual cache - deve ser recuperada 
para um estado ativo, no qual é privilegiada em relação 
às representações de outros objetos memorizados, mas 
não disponíveis ao foco da atenção naquele momento 
(Oberauer, 2003).
Nós temos investigado o processo de recuperação 
da informação visual armazenada no visual cache e 
as restrições que esse processo de recuperação faz à 
arquitetura da memória de trabalho visual (Ferreira, 
Pucci, & Galera, 2014; Galera & Quinn, 2014). Embora 
algumas propostas teóricas considerem que a imagem 
mental é sustentada pelo foco da atenção ou, de forma 
equivalente, que é uma função do executivo central 
(Cowan, 2005; Logie, 2003; 2011), nós consideramos que 
a imagem mental, além de ser dependente do executivo 
central, necessita de um meio de representação que 
a sustente, em um estado ativo, enquanto está sob 
o foco da atenção. O buffer visual seria tal meio de 
representação (Galera & Quinn, 2014; Pearson, 2001; 
Quinn 2012).
No modelo computacional proposto por Kosslyn 
(1994), o buffer visual agrupa áreas do córtex visual 
primário em uma estrutura funcional única. Uma grande 
parte dessas áreas corticais apresenta uma organização 
topográfica, de forma que padrõesde atividades nessas 
áreas reproduzem a organização espacial projetada pelos 
estímulos nas retinas. Estudos realizados com técnicas 
de obtenção de imagens cerebrais têm sugerido que 
2/3 das áreas identificadas com o buffer visual seriam 
ativadas tanto durante tarefas de imaginação visual 
como em tarefas que exigem apenas a observação de 
padrões visuais (Kosslyn, Ganis, & Thompson, 2001). 
Todavia, o buffer visual contém mais informações do 
que pode ser processado simultaneamente, o que exige 
uma janela atentiva capaz de selecionar algumas de suas 
regiões para processar em detalhes as informações ali 
relacionadas.
De acordo com esse modelo, a janela da atenção 
pode ser mudada de uma região a outra do buffer, 
ou para diferentes objetos. É através da janela da 
atenção que a informação visual vinda do ambiente é 
codificada em termos de suas características espaciais 
e visuais. As características espaciais são codificadas, 
independentemente das características visuais, em um 
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sistema de processamento das propriedades espaciais 
(spatial properties processing). As características visuais são 
codificadas, independentemente de suas características 
espaciais, em um sistema de processamento das 
propriedades dos objetos (object-properties-processing). 
A geração da imagem mental de um objeto exige a 
recuperação da informação armazenada no sistema de 
processamento das propriedades dos objetos para uma 
área topograficamente organizada, o buffer visual. Isto é 
feito com base na associação entre o objeto e localização 
armazenada na memória associativa de longo prazo.
As evidências acerca do sistema buffer visual 
como um componente que sustenta a representação 
visual em estado ativo são, em grande parte, originadas 
de estudos que avaliam a orientação da atenção para a 
representação memorizada (Albers, Kok, Toni, Dijkerman, 
& Langue, 2013; Harrison & Tong, 2009, por exemplo). 
Nobre e colaboradores (Griffin & Nobre, 2003; Lepsien 
& Nobre, 2006) têm adotado o paradigma de dicas 
retroativas para investigar a orientação da atenção na 
memória de trabalho. Nestes estudos, o participante 
memoriza uma cena formada por um ou mais objetos 
(formas visuais coloridas, faces ou cenas visuais). Ao final 
do intervalo de retenção, antes que seja apresentado o 
estímulo teste, uma dica simbólica (uma seta) aponta 
para o local da cena em que foi apresentado o estímulo 
que pode ser apresentado como estímulo teste (por 
exemplo, um objeto colorido). Logo em seguida à dica, 
o estímulo teste é apresentado e o participante deve 
decidir se este estava ou não presente entre os estímulos 
memorizados. De forma diferente do paradigma de 
Sperling (1960), o intervalo entre o display memorizado e 
a apresentação da dica retroativa (em torno de 2500ms) 
é longo o suficiente para garantir que os estímulos 
memorizados não estejam mais disponíveis na memória 
icônica.
O paradigma de dicas retroativas difere, também, 
do paradigma de dicas preditivas de Posner (1980) - no 
qual o participante é informado a priori sobre o local 
em que será apresentado o estímulo relevante a ser 
memorizado. O paradigma de Griffin e Nobre (2003) 
utiliza uma dica a posteriori que informa o local em 
que o estímulo teste foi apresentado, depois de os 
estímulos não estarem mais disponíveis à percepção. 
As dicas preditivas de Posner, portanto, guiam a atenção 
do participante para o local do espaço percebido em 
que aparecerá o estímulo relevante no futuro. As dicas 
retroativas, por sua vez, guiam a atenção do participante 
para um local no espaço memorizado, ou seja, onde o 
estímulo relevante se encontra na representação mental 
da cena memorizada.
Os resultados obtidos por Griffin e Nobre (2003) 
mostram que os participantes são mais rápidos e mais 
precisos nas provas com dicas válidas - aquelas que 
indicam o local previamente ocupado pelo estímulo 
teste, do que nas provas com dicas neutras, nas quais 
nenhum local é indicado. Este padrão de resultados foi 
o mesmo para dicas preditivas e retroativas, sugerindo 
que a orientação da atenção para uma representação 
memorizada do espaço produziu resultados praticamente 
idênticos àqueles obtidos com a orientação da atenção 
para as posições no espaço percebido. Segundo Lepsien 
e Nobre (2006), quando a dica retroativa é apresentada, 
o participante recupera a informação da memória de 
trabalho ou da memória de longo prazo e a mantém 
em um estado ativo até que o estímulo teste seja 
apresentado e uma decisão possa ser tomada (p. 28). 
Nós consideramos que este processo de recuperação 
é análogo ao processo de recuperação da informação 
na tarefa de memória baseada em imagens mentais 
(peg-word). Nessa tarefa uma palavra/imagem serve 
como dica para a recuperação de uma palavra associada 
(Logie & Marcheti, 1991; Quinn & MacConell, 2006).
Além das evidências de orientação da atenção 
para a memória baseada em dicas espaciais (Griffin & 
Nobre, 2003; Lepsien & Nobre, 2006), alguns estudos 
também têm mostrado resultados semelhantes quando 
a atenção é orientada para categorias de objetos 
visuais memorizados. Por exemplo, Lepsien e Nobre 
(2006) avaliaram o papel da atenção orientada por 
uma dica retroativa para uma das categorias de objetos 
memorizados (uma face ou uma cena) armazenadas 
na memória de trabalho visual. As bases neurais deste 
fenômeno foram avaliadas por meio de imagens por 
ressonância magnética funcional (fMRI) aliadas a dados 
comportamentais de tempo de reação e acurácia da 
memória. Os resultados indicaram que a dica retroativa é 
seguida por um aumento da ativação de áreas cerebrais 
envolvidas com o processamento das informações 
indicadas pela dica, e esta ativação foi associada a uma 
melhora no desempenho de recordação na memória 
de trabalho. Os autores interpretam estes dados como 
uma evidência de que a atenção modula a atividade 
relacionada à manutenção dos objetos da categoria 
indicada na memória de trabalho, independente 
da categoria do objeto. Além disso, os resultados 
comportamentais mostram que os participantes 
foram capazes de orientar a atenção seletivamente 
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A recuperação da informação visual
para categorias de objetos mantidos na memória, o 
que resulta num ganho significativo no processo de 
recuperação.
Esta capacidade de seleção baseada em categorias 
foi confirmada por Lepsien, Thornton e Nobre (2011), 
que sugerem que as dicas retroativas atuam por meio de 
um mecanismo top-down que modula o controle atentivo 
na memória, à semelhança do que ocorre na seleção 
da informação em tarefas perceptivas. Este mecanismo 
inclui a atividade de estruturas cerebrais das regiões 
parietais e frontais, que resultam em sinais neurais 
de regulação baseados na prioridade da informação. 
Desta forma, a dica retroativa desencadeia um sistema 
de priorização da informação (do tipo top-down) que 
favorece o desempenho da memória, seja porque 
permite a recuperação da informação memorizada 
(Lepsien e Nobre, 2006), seja porque fornece a 
informação sobre a relevância de um determinado 
item para sua recuperação subsequente (Gazzaley & 
Nobre, 2012). Peters, Kaiser, Rahm e Bledovski (2015) 
também encontraram evidências de que focalizar a 
atenção em um objeto mantido na memória prioriza o 
processamento das características presentes no objeto 
atendido, em detrimento das características presentes 
em outros objetos.
A orientação da atenção para as características 
visuais que definem os objetos memorizados têm 
sido um tema recorrente de estudos, sobretudo em 
tarefas de busca visual. Maunsell e Treue (2006), por 
exemplo, sugerem que a busca visual pode ser guiada 
pelas características visuais específicas que definem 
um objeto, independentemente de sua localização 
espacial. Nesse caso, a atenção para uma característicavisual modula sinais neuronais em uma série de 
áreas do córtex visual e permitem maior eficiência na 
detecção do alvo, independentemente do local em que 
este é apresentado. De acordo com Carrasco (2011), 
evidências neurofisiológicas e psicofísicas mostram que 
a atenção baseada em características visuais privilegia o 
processamento da característica atendida em detrimento 
de características não atendidas ou irrelevantes. 
Evidentemente, selecionar os objetos no ambiente 
em função de características visuais específicas, 
independente dos locais que os objetos ocupam, tem 
um valor adaptativo. É exatamente o que acontece, por 
exemplo, quando se procura por uma fruta amarela em 
um arbusto, ou por um livro com a capa azul na estante.
No estudo da memória visual, o uso de dicas 
retroativas baseadas em características visuais é ainda 
incipiente. Em um dos poucos estudos publicados, Li 
e Saiki (2015) investigaram o efeito de dicas preditivas 
e retroativas na codificação e na manutenção da 
informação visual memorizada. As dicas usadas pelos 
autores eram baseadas em características visuais 
conjugadas à localização espacial. Nesse estudo, a forma 
de um objeto é utilizada como dica para a conjunção de 
forma e localização; a cor é utilizada como dica para a 
conjunção de cor e localização; e a localização é utilizada 
como dica tanto para a conjunção de cor e localização 
como para a conjunção de forma e localização. Nessa 
situação, as dicas retroativas visuais baseadas na cor são 
tão eficientes quando dicas espaciais, mas são menos 
eficientes do que dicas espaciais quando os estímulos 
são definidos pela conjunção de cor e forma. Neste 
caso, forma e cor têm efeitos diferentes sobre a tarefa 
de detecção de mudança. Enquanto o efeito da dica 
retroativa de cor é menos pronunciado que o efeito da 
dica espacial, o efeito da dica retroativa de forma não é 
diferente daquele obtido com a dica espacial.
De maneira geral, os resultados obtidos por Li 
e Saiki (2015) sugerem que a modulação atentiva na 
memória e na percepção é mediada por mecanismos 
comuns quando se trata de dicas baseadas na localização 
espacial, mas não quando se trata de dicas baseadas 
na cor, o que pode refletir uma propriedade estrutural 
assimétrica da memória de trabalho visual. Este resultado 
implica em uma possível primazia da informação espacial 
em relação à informação visual já apontada em estudos 
de atenção perceptual (Treisman, 1998; Treisman & 
Gelade, 1980) e também em estudos da memória visual 
de curto prazo (Fougnie & Alvarez, 2011; Kondo & Saiki, 
2012; Pertzov & Husain, 2014).
Em resumo, a l i teratura mostra que o 
armazenamento da informação visual na memória de 
trabalho e a geração de imagens mentais visuais parecem 
ocorrer em diferentes estruturas (Borst et al., 2012; 
Pearson, 2001; Quinn & McConnell, 1996). A recuperação 
da informação da memória de trabalho para um estado 
ativo no qual a imagem pode ser inspecionada de 
forma consciente parece envolver áreas do córtex visual 
primário identificadas com o buffer visual (Kosslyn, 1994; 
Kosslyn et al., 2001). A informação sobre localização 
espacial proporcionada pela dica retroativa permite a 
recuperação da informação armazenada na memória 
de trabalho para um estado ativo; neste estado ativo, a 
informação recuperada pode ser comparada de forma 
mais eficiente com a informação de entrada, levando a 
um desempenho mais acurado e mais rápido em tarefas 
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de reconhecimento (Lepsien & Nobre, 2006). A literatura 
mostra ainda que a orientação da atenção em função 
de características visuais em tarefas de busca visual 
tem um papel equivalente ao da orientação baseada na 
localização espacial (Maunsell & Treue, 2006).
Apesar de apontar uma assimetria na contribuição 
da informação espacial e da informação baseada em 
características na orientação da atenção na memória 
de trabalho, o estudo de Li e Saiki (2015) deixa em 
aberto uma questão relevante para a investigação da 
mesma. A tarefa de detecção de mudança utilizada pelos 
autores é baseada na conjunção das informações visual 
e espacial; deixando, portanto, sem resposta a questão 
sobre a recuperação da informação na memória de 
trabalho visual a despeito da contribuição da informação 
espacial - isto é, sem levá-la em conta. Em nosso estudo, 
procuramos avaliar a contribuição da orientação atentiva 
em função das características visuais de forma e cor, 
independentemente da localização espacial. Busca-se 
também comparar a eficácia deste processo baseado 
em características visuais com o processo de orientação 
baseado na localização espacial.
Dessa forma, a comparação da eficácia do 
processo de recuperação baseado em dicas espaciais e 
dicas baseadas em características (cor e forma) pode nos 
permitir conhecer melhor o processo de recuperação da 
informação memorizada. Nossa suposição inicial é que a 
recuperação da informação memorizada deve ser mais 
beneficiada pela dica de localização espacial, que tem um 
peso privilegiado no processo de alocação da atenção 
(Treisman & Gormican, 1988); isto também é reconhecido 
no modelo de buffer visual proposto por Kosslyn (1994). 
Entretanto, não temos ainda conhecimentos que nos 
permitam avaliar a eficácia da cor para recuperar a forma 
e da forma para recuperar a cor.
Método
Participantes
Participaram do estudo doze universitários e dois 
dos autores, sendo 11 homens, com idades entre 17 e 60 
anos (média de 26,4 anos), com acuidade visual normal 
ou corrigida para o normal.
Material e Estímulos
Foram utilizados como estímulos 64 formas 
geométricas coloridas, resultantes da combinação de 
oito formas geométricas simples (triângulo, quadrado, 
círculo, losango, estrela, flecha, meia-lua e cruz) e 
de oito cores (amarelo, azul claro, azul escuro, cinza, 
laranja, rosa, vermelho e verde). Os estímulos tinham 
aproximadamente 1 cm² de área (40 pixels por 40 pixels), 
apresentados nos vértices de um quadrado imaginário, 
distantes 4 cm do ponto de fixação. O ponto de fixação 
era uma moldura quadrada com lados de 0,5 x 0,5 cm 
e 1 pixel de espessura. A dica de cor era uma mancha 
colorida do mesmo tamanho que as formas geométricas, 
sem forma ou contornos definidos que pudessem se 
assemelhar ao formato de uma das formas geométricas 
apresentadas anteriormente. A dica de cor neutra era 
uma mancha preta. A dica de forma era uma figura 
geométrica com as bordas apresentadas em preto e a 
dica de forma neutra era uma espiral apresentada em 
preto. Nas provas com dicas espaciais, dois lados do 
ponto de fixação central tornavam-se mais espessos (dois 
pixels), formando uma seta que apontava para uma das 
quatro posições ao redor do ponto de fixação. Na dica 
espacial neutra os quatro lados do ponto de fixação 
tinham a espessura de dois pixels. A Figura 1 exemplifica 
os tipos de dicas utilizados no experimento.
Delineamento Experimental e Procedimento
A tarefa experimental era uma tarefa de 
reconhecimento de item combinada ao paradigma de 
dicas retroativas. Os participantes observavam e deviam 
memorizar quatro formas geométricas coloridas e, 
depois de um intervalo de retenção, deveriam decidir 
se a forma ou a cor de um estímulo-teste correspondia 
a uma das formas ou a uma das cores memorizadas. 
A dica retroativa era apresentada ao final do intervalo 
de retenção, antes da apresentação do estímulo a ser 
reconhecido. A dica retroativa poderia ser espacial ou 
visual. A dica retroativa espacial informava ao participante 
a localização do estímulo com a dimensão relevante 
para a tarefa de reconhecimento (forma ou cor). A dica 
retroativa visual informava ao participante a cor, ou a 
forma, do estímulo com a dimensão relevante para a 
tarefa de reconhecimento, neste caso, a forma ou a cor, 
respectivamente. O tipo de tarefa de reconhecimento 
(cor ou forma) e o tipo de dica (espacial ouvisual) 
foram manipulados entre blocos de provas. Dessa forma 
foram realizadas quatro condições experimentais: dica 
espacial para o reconhecimento da forma; dica espacial 
para o reconhecimento da cor; dica visual de cor para o 
reconhecimento da forma; e dica visual de forma para 
o reconhecimento da cor.
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Figura 1. Representação Esquemática da Sequência de Eventos das Tarefas de Memória para Forma e para Cor, nas Condições de Dica Visual e Espacial, para 
Provas Positivas e Negativas. Cada Tom de Cinza e Padrão de Hachuras Representa uma Cor Diferente.
Cada prova tinha início com a apresentação do ponto 
de fixação, que permanecia na tela até a apresentação 
da dica. Os quatro estímulos a serem memorizados eram 
apresentados 1000ms depois e permaneciam na tela por 
2000ms. Depois de 2500ms a dica era apresentada no 
centro da tela, sobre o ponto de fixação, e permanecia 
visível durante 250ms. O intervalo entre a dica e a 
apresentação do estímulo teste foi de 1000 ms. O estímulo 
teste era apresentado no centro da tela e permanecia visível 
até que o participante efetuasse sua resposta pressionando 
o botão esquerdo do mouse para a resposta positiva (“sim, o 
estímulo teste é igual a um estímulo da cena memorizada”), 
ou o botão direito para a resposta negativa (“não, o estímulo 
teste é diferente dos estímulos da cena memorizada”). A 
chance do estímulo teste ser igual ou diferente a um dos 
estímulos memorizados era de 50%.
A dica retroativa era informativa em metade 
das provas e neutra na outra metade. Os participantes 
eram informados que as dicas informativas eram 100% 
válidas, ou seja, nas provas em que a dica informativa 
era apresentada, o participante poderia - e era instruído 
a fazê-lo - levar em conta apenas o estímulo indicado 
para sua decisão na tarefa de reconhecimento. Embora a 
dica informativa informasse sobre o estímulo relevante, 
não era preditiva em relação ao tipo de respostas 
(positiva, ou negativa), pois o estímulo teste poderia ser 
o estímulo indicado (resposta positiva), ou um estímulo 
não presente na cena memorizada.
Em cada bloco foram realizadas 60 provas, 15 
provas para cada um dos quatro tratamentos resultantes 
da combinação de validade da dica (informativa e neutra) 
e tipo de prova (resposta positiva, resposta negativa). No 
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Figura 2. Médias dos Índices de Discriminação (2A) e dos Tempos de Resposta (2B) em Função do Tipo de Dica (Espacial, Visual), da Validade das Dicas (Informativa, 
Neutra) nas Tarefas de Reconhecimento de Cor e de Forma. Erro Padrão das Estimativas Apresentado nos Segmentos Verticais (*) p < 0,01).
início de cada bloco foram realizadas 10 provas de treino. 
A ordem de apresentação dos blocos foi randomizada 
entre os sujeitos.
Resultados
O índice de discriminação d’ (Snodgrass & 
Corwin, 1988) foi utilizado para medir o desempenho 
neste estudo. O índice d’, definido pela distância 
entre as médias das distribuições do item associado à 
resposta positiva (“sim”, “estava na cena memorizada”) 
e à resposta negativa (“não”, “não estava na cena 
memorizada”), foi calculado como d’ = z(taxa de acertos 
“sim”) - z(taxa de erros “não”). Os índices obtidos (Figura 
2A) foram submetidos a uma análise de variância para 
medidas repetidas considerando os fatores validade da 
dica (informativa, neutra), tipo de dica (espacial, visual), 
tarefa de reconhecimento (cor, forma). Essa análise 
mostra que, nas provas com dicas informativas, o d’ (M = 
2,03, EPM = 0,17) é superior àqueles obtidos nas provas 
com dicas neutras (M = 1,72, EPM = 0,20) (F(1, 13) = 5,43, 
p = 0,037, η2
p= 0,29). O desempenho é melhor nas provas 
com dicas espaciais (M = 2,29, EPM = 0,17) do que nas 
provas com dicas visuais (M = 1,46, EPM = 0,21) (F(1,13) 
= 27,63, p < 0,001, η2
p = 0,68). O índice de discriminação 
também foi maior na tarefa de reconhecimento de cores 
(M = 2,16, EPM = 0,18) do que no reconhecimento de 
formas (M = 1,60, EPM = 0,20) (F (1, 13) = 19,12, p = 
0,001; η2
p = 0,60). A interação entre validade e tipo da 
dica (F(1,13) = 7,43, p = 0,017, η2
p = 0,36) mostra que o 
índice de discriminação na presença da dica informativa é 
maior do que nas provas de dicas neutras apenas quando 
a dica é do tipo espacial (p = 0,005), e não quando ela 
é visual (p = 0,985). A interação tripla envolvendo os 
três fatores manipulados permite isolar de forma mais 
específica o efeito da validade da dica apenas nas provas 
com dicas espaciais na tarefa de reconhecimento de cor 
(F(1, 13) = 8,03, p = 0,014, η2
p = 0,38).
As médias dos tempos de respostas corretas de 
cada participante, sem levar em conta os TRs menores 
do 250ms e maiores do que 5000ms em cada tratamento 
(Figura 2B), foram submetidas a uma análise de variância 
para medidas repetidas considerando os fatores validade 
da dica (informativa, neutra), tipo de dica (espacial, 
visual), tarefa de reconhecimento (cor, forma). Essa 
análise mostra que a média dos TRs é menor nas provas 
com dicas informativas (M = 733ms, EPM = 35ms) do 
que nas provas com dicas neutras (M = 965ms, EPM = 
41ms) (F(1,13) = 44,83, p < 0,001; η2
p = 0,78). O TR varia 
em função do tipo de dica, sendo que as respostas são 
mais rápidas nas provas com dicas espaciais (M = 781ms, 
EPM = 33ms) do que nas provas com dicas visuais (M = 
917ms, EPM = 43ms) (F (1, 13) = 15,50, p = 0,002, η2
p = 
0,54). O TR é menor nas provas de reconhecimento de 
cor (M = 795ms, EPM = 29ms) do que nas provas com 
reconhecimento de forma (M = 903ms, EPM = 42ms) 
(F(1, 13) = 21,26, p < 0,001, η2
p
 = 0,62). Existe também 
uma interação significativa entre o tipo e a validade da 
235
Estudos de Psicologia, 21(3), julho a setembro de 2016, 228-238
A recuperação da informação visual
dica (F(1, 13) = 4,90, p = 0,045, ηp
2 = 0,27), que reflete 
uma vantagem maior, de 282ms, proporcionada pela dica 
válida espacial, quando comparada com a vantagem de 
180ms, proporcionada pela dica válida visual.
De maneira geral a análise do índice de 
discriminação d’ e do TR são concordantes quantos aos 
efeitos principais. Os participantes são mais rápidos e 
precisos quando as dicas são espaciais do que quando 
são visuais, na tarefa de reconhecimento de cor do que 
no reconhecimento de forma e nas provas com dicas 
informativas do que nas provas com dicas neutras. O 
TR parece ter sido mais sensível ao efeito das dicas 
informativas visuais do que o d’, mas tanto o TR quanto 
o d’ sugerem que nas provas com dicas espaciais o ganho 
proporcionado pela dica informativa é maior do que o 
proporcionado nas provas com dicas visuais.
Discussão
O paradigma de dicas retroativas tem mostrado 
que a orientação da atenção para regiões de uma 
representação armazenada na memória visual de curto 
prazo proporciona um ganho no desempenho em tarefas 
de reconhecimento. Este ganho tem sido interpretado 
como decorrente de um processo de priorização da 
informação na região apontada pela dica (Gazzaley 
& Nobre, 2012) ou como decorrente da recuperação 
dessa informação memorizada na memória de trabalho 
para um estado ativo que permitiria um processo de 
comparação mais eficiente em tarefas e reconhecimento 
(Griffin & Nobre, 2003; Lepsien & Nobre, 2006). Neste 
estudo investigamos a contribuição de dicas retroativas 
espaciais e visuais para o desempenho numa tarefa de 
reconhecimento de itens. Nossos resultados mostram 
que saber de antemão a localização do estímulo que 
contém a característica relevante para a tarefa de 
reconhecimento proporciona um ganho significativo 
nessa tarefa, tanto em termos da capacidade de 
discriminação como em termos do tempo necessário 
à emissão da resposta. Este resultado corrobora a 
literatura existente quanto ao desempenho em tarefas 
de reconhecimento de cores (Griffin & Nobre,2003; Li & 
Saiki, 2015). Entretanto, saber de antemão a localização 
do estímulo é inócuo quando a dimensão relevante a ser 
testada é a forma do objeto memorizado. Ou seja, a dica 
retroativa espacial parece permitir a recuperação da cor, 
mas não da forma do objeto memorizado.
Em comparação com a informação proporcionada 
pela dica retroativa espacial, a dica retroativa visual não 
interfere no desempenho da tarefa de reconhecimento. 
Estes resultados sugerem que a informação sobre 
a localização do objeto é mais importante para 
sua recuperação do que informações sobre suas 
características visuais. Essa supremacia da informação 
espacial está presente em várias teorias sobre a 
conjunção da informação visual. Na teoria de integração 
de características (Treisman & Gelade, 1980) o espaço é a 
dimensão que permite agrupar num objeto coerente as 
características visuais codificadas em diferentes mapas 
corticais. A atenção focalizada numa determinada região 
do espaço permite que as características relacionadas 
àquela região sejam agrupadas e integradas num objeto 
coerente. Nossos resultados sugerem que a informação 
armazenada na memória de trabalho visual também 
pode ser recuperada de forma eficiente se a atenção 
é dirigida para a localização ocupada previamente 
pela informação relevante. No entanto, o processo de 
recuperação de uma característica visual baseada em 
outra característica visual do objeto não tem o mesmo 
grau de eficiência. Resultados semelhantes já foram 
apontados por Nissen (1985, citado em Baddeley & 
Hitch, 1994, p. 489).
Além da vantagem das dicas espaciais em relação 
às dicas visuais, outro aspecto que deve ser considerado 
na avaliação dos resultados deste estudo diz respeito 
às diferenças encontradas no desempenho das tarefas 
de reconhecimento da cor e da forma. Este aspecto 
deve ser considerado tanto do ponto de vista do efeito 
da dica espacial para as tarefas de reconhecimento de 
cor e de forma, como de maneira geral, da facilidade 
relativa do reconhecimento da cor em relação ao 
reconhecimento da forma. Nossos resultados mostram 
que o desempenho na tarefa de reconhecimento foi 
melhor quando os participantes deveriam reconhecer 
a cor do que quando deveriam reconhecer a forma dos 
objetos. Esse é um dado comum na literatura (ver, por 
exemplo, Allen, Baddeley, & Hitch, 2006), e pode ser 
explicado pela discriminabilidade relativa mais difícil das 
formas em relação à das cores utilizadas. O outro aspecto 
diz respeito à ineficácia da dica espacial na tarefa de 
reconhecimento da forma. Mesmo com a dica espacial, 
que tem se mostrado eficiente na recuperação da cor, a 
recuperação da forma baseada na informação espacial 
também não se mostrou eficiente. Este resultado está 
em conflito com resultados anteriores obtidos em nosso 
laboratório, em estudos com formas geométricas e com 
caracteres chineses (Ferreira et al., 2014; Galera & Quinn, 
2014). Nossa suposição é que a similaridade entre as 
C. A. Galera, L. S. Guimarães, J. C. Rossini, J. J. R. A. Santana
Estudos de Psicologia, 21(3), julho a setembro de 2016, 228-238
236
formas utilizadas no presente estudo tenha interferido 
no processo de recuperação. Esta questão permanece 
por ser explorada.
Nossos resultados também sugerem que o paralelo 
existente entre os processos cognitivos envolvidos na 
orientação da atenção em tarefas com dicas espaciais 
preditivas e retroativas (Griffin & Nobre, 2003; Lepsien 
& Nobre, 2006) parece não existir quando se trata de 
dicas retroativas baseadas em características visuais. A 
ausência do ganho proporcionado pelo conhecimento 
de uma das características do objeto (por exemplo, sua 
cor) para a recuperação de outra característica, por 
exemplo sua forma, parece conflitar com o processo de 
seleção da informação no ambiente visual baseado em 
características visuais (Carrasco, 2011; Maunsell & Treue, 
2006, Nakayama & Martini, 2011) e deve ser explorado 
em estudos futuros.
Em termos da arquitetura da memória de trabalho, 
considerando que a dica retroativa espacial permite 
a recuperação da informação memorizada (Lepsien & 
Nobre, 2006), a questão que se coloca é, então, sobre 
a estrutura para a qual é recuperada a informação. Nós 
temos trabalhado com a hipótese de que a informação 
é recuperada para um sistema no qual pode ser 
inspecionada de forma consciente, tal como uma imagem 
mental. De acordo com Logie (2011), a imagem mental é 
uma função do executivo central, e a representação visual 
seria recuperada para o foco da atenção, onde poderia ser 
inspecionada conscientemente. De fato, um dos estudos 
de nosso laboratório sugerem que o participante pode 
relatar se recuperou ou não a representação indicada, 
ou seja, o participante tem consciência do resultado 
do processo de recuperação (Pucci & Galera, 2015). No 
entanto, outros estudos realizados em nosso laboratório 
têm mostrado que o processo de recuperação é afetado 
pela apresentação de uma informação visual irrelevante, 
o que sugere que a recuperação envolve um sistema 
sensível à informação visual. Nesse caso, seria difícil 
explicar como o executivo central, um sistema amodal, 
seria afetado pela informação visual irrelevante. Nós 
sugerimos que a informação visual é recuperada para um 
sistema de armazenamento visual que dá sustentação 
à representação visual enquanto esta é inspecionada 
(Galera & Quinn, 2014).
O sistema que dá sustentação à representação 
recuperada da memória de trabalho visual é o buffer 
visual (Kosslyn et al., 2006). Nesse modelo, a janela 
atentiva pode selecionar regiões do buffer para processar 
em detalhes as informações ali referenciadas. Se a 
geração de uma imagem é necessária em uma tarefa, as 
informações necessárias para a geração dessa imagem 
- armazenadas no sistema de processamento das 
propriedades dos objetos - podem ser ativadas, gerando 
uma representação do objeto no buffer visual. De acordo 
com esta interpretação, o processo de recuperação 
da informação em função da atenção especial seria 
realizado através de uma modulação retinotópica, que 
levaria a uma reativação de regiões do córtex visual 
primário (áreas V1 - V4), tal como proposto por Kosslyn 
et al. (2006), por Damásio (1989), e demonstrado 
por Sligte, Scholte e Lamme (2009). A representação 
reativada, mantida em um estado ativo ou em um estado 
de ativação mais acentuado, permitiria um processo 
de comparação mais eficiente com a representação do 
estímulo teste.
Também é importante considerar que a diferença 
entre a recuperação da informação baseada nas dicas 
retroativas espacial e visual pode ser decorrente 
das diferenças existentes entre as duas tarefas. Na 
recuperação da informação baseada na dica espacial, 
o participante poderia memorizar apenas uma das 
dimensões do estímulo (ou a cor ou a forma), pois 
ambas foram manipuladas entre blocos de provas; no 
caso da recuperação baseada na dica retroativa visual 
(cor ou forma), o participante deveria memorizar a 
conjunção destas duas dimensões. Isto implica que as 
provas espaciais possuíam menor carga cognitiva, o que 
pode ter facilitado o desempenho dos participantes na 
tarefa. Embora em conflito com os resultados de Li e Saiki 
(2015), que encontraram efeitos mais pronunciados da 
dica retroativa com estímulos definidos pela conjunção 
de cor, forma e localização, esta questão deverá ser 
esclarecida em estudos subsequentes.
Para concluir, acreditamos que nosso estudo da 
recuperação da informação armazenada na memória 
de trabalho visual através de dicas retroativas é 
inovador, tanto em termos da aplicação de novas tarefas 
experimentais ao estudo da memória de trabalho, 
como em termos teóricos. Em termos teóricos nossos 
resultados reafirmam a prioridade da localização espacial 
em relação às características visuais e também apontam 
para uma possível assimetria no papel das características 
visuais nos processos envolvidos na seleção da 
informação no ambiente e na memória. A prioridade da 
localizaçãoespacial sobre as informações visuais sugere 
que, além de estar envolvida no processo de recitação 
da informação do visual cache (Logie, 2011), a atenção 
espacial pode também estar envolvida no processo de 
237
Estudos de Psicologia, 21(3), julho a setembro de 2016, 228-238
A recuperação da informação visual
recuperação da informação armazenada nesse sistema 
de armazenamento.
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Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, é Professor 
Titular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão 
Preto, Universidade de São Paulo (FFCLRP - USP). Endereço para 
correspondência: Departamento de Psicologia - FFCLRP - USP. 
Av. Bandeirantes 3900 - Ribeirão Preto - SP - CEP 14040-901.
Telefone/fax: 55(16)3315-3760. E-mail: algalera@usp.br
Luísa Superbia Guimarães, Graduanda em Psicologia e bolsista 
de Iniciação Científica no Laboratório de Psicologia Cognitiva 
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão 
Preto, Universidade de São Paulo (FFCLRP - USP). E-mail: luisa.
guimaraes@usp.br e/ou luisa.superbia@gmail.com
Joaquim Carlos Rossini, Doutor em Ciências (Psicobiologia), pela 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade 
de São Paulo (FFCLRP/USP), é Professor do Instituto de Psicologia da 
Universidade Federal de Uberlândia (IPUFU). E-mail: jrossini@ufu.br
Jeanny Joana Rodrigues Alves de Santana, Doutora em Ciências 
(Psicobiologia), pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras 
de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (FFCLRP/USP), é 
Professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de 
Uberlândia (IPUFU). E-mail: jeannysantana@yahoo.com.br
Recebido em 06.Nov.15
Revisado em 09.Mai.16
Aceito em 30.Jun.16

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