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Resumo - Elevada taxa de juros no Brasil

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UEFS - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
CIS 388 - ECONOMIA BRASILEIRA E CONTEMPORÂNEA
ADMINISTRAÇÃO 2023.1
Resumo sobre o artigo “Uma razão a mais para se pensar o porquê 
de a taxa de juros ser tão alta no Brasil” de Francisco Luiz C. Lopreato.
DOCENTE: Frederico Torres Da Silva
DISCENTE: Raquel Spinola da Cruz
Feira de Santana – Bahia
Junho de 2023
1. INTRODUÇÃO 
O objetivo do artigo analisado é entender por que a política de juros elevados se consolidou na economia brasileira, tornando-se a base do seu modo de operação. A seguir veremos um resumo desta obra, destacando seus pontos principais para criar entendimento a respeito do tema discutido por Francisco Lopreato.
2. DESENVOLVIMENTO
A verdade é que por tanto tempo foi usado essa política de juros elevados que ela se fortificou e deixou de ser questionada. Tornou-se a principal medida de combate à inflação e garantia de estabilidade, sem que seus efeitos sobre as contas públicas e a distribuição de renda fossem contestados. 
Fazer alterações na taxa de juros mexe com um dos preços básicos da economia e interfere nos interesses de diversos públicos, trabalhadores, famílias, rentistas, indústrias e outros que, com a liquidez, obtêm ganhos financeiros que ajudam a compor a renda.
Pensando historicamente, essa política de juros altos e do mercado de dívida pública de curto prazo são heranças principalmente do PAEG, Plano de Ação Econômica do Governo, cujo objetivo imediato era combater a inflação de demanda e alterar as condições de financiamento do déficit público, considerado como o fator responsável da alta de preços. Com esse objetivo, o PAEG criou o Banco Central e adotou um sistema, que definia as metas de créditos público e privado, capaz de manter o controle inflacionário.
Com a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs), título público com correção monetária, introduziu-se no mercado um ativo muito atrativo devido à garantia de taxas de juros reais positivas. O BC assumiu o compromisso de evitar perdas das instituições financeiras com o carregamento da dívida pública, essa medida ajudou a desenvolver o mercado financeiro e incentivou a aceitação dos títulos públicos na sociedade.
Mas, com o excesso de expansão do crédito, e a crença de que ele era o causador da inflação, o excesso de liquidez ganhou destaque como característica do mercado monetário brasileiro. Usaram títulos da dívida pública como meio de conter esse excesso de liquidez, isso mostra que, na economia brasileira, o mercado monetário e o de dívida pública estão estritamente vinculados.
Nos anos 80, a política de altos juros como meio de valorizar a riqueza financeira continuou atuante e marcou a economia dos anos seguintes, mantendo este vício no país. Vivenciando uma crise na dívida externa, ocorreu uma desvalorização cambial que, associada a obrigação de o setor público pagar montantes expressivos de juros externos, acarretou em alta da inflação e crise fiscal. 
O nível elevado da taxa de câmbio real, necessário para pagar os juros externos, combinado com os juros altos, para garantir o financiamento do setor público, deram lugar à crescente inflação e a uma gestão monetária concentrada em garantir a atratividade dos títulos públicos, a partir da anulação dos riscos e da alta rentabilidade.
A criação das Letras do Banco Central (LBC) eliminou o risco de descasamento de taxas de juros e o BC ganhou liberdade de manipular a política monetária sem se preocupar com o impacto na carteira das instituições financeiras.
A taxa de juros diária tornou-se ferramenta para gestão da crise, e a sua fixação abaixo da inflação provocava a depreciação do valor real esperado da riqueza financeira. A dinâmica do mercado monetário, centrada no overnight, com títulos da dívida pública sem risco e de alta rentabilidade transformou-se no modus operandi da economia brasileira.
A rentabilidade, antes obtida através das operações de crédito, agora era por meio da relação entre o dinheiro velho e o dinheiro indexado. A forma adotada para gestão da crise atendeu aos interesses de empresas, instituições financeiras e famílias de alta renda que viram se afastar os danos da inflação e ainda lucravam com a austeridade da política monetária.
As instituições estavam lucrando com as aplicações de tesouraria sem risco, garantidas pelo compromisso da zeragem automática. As empresas passaram a ter a alta taxa de juros como elemento estratégico para obter lucro e afastaram-se das operações privadas oferecidas a preços de mercado. As famílias com acesso ao mercado financeiro procuravam proteção do processo inflacionário e garantir a valorização da riqueza financeira, os de renda mais alta conseguiam valores mais próximos à rentabilidade das instituições financeiras com os títulos públicos e os outros apesar de não lucrar tanto, ao menos, recuperavam parte das perdas com a inflação. 
O ônus ficou com o setor público, que respondeu pelo alto custo do pagamento de juros, e com os de baixa renda, que viram seus salários desvalorizados e estavam fora do mercado bancário, agravando o quadro da disparidade de renda. 
Para dar fim a alta inflação, o Plano Real seguiu o padrão e depositou suas expectativas na taxa de câmbio. A liquidez internacional e a superação da dívida externa propiciaram o seu sucesso. Sua política buscava não afrontar os interesses de quem se beneficiava com a moeda indexada. Essa decisão preservou traços da política do overnight e condenou a economia a conviver com juros elevados e às operações de títulos públicos.
A baixa da taxa de juros abriria espaço para as aplicações de longo prazo e dos títulos privados. Isso porque ela faria com que os proprietários de riqueza saíssem da sua zona de conforto, dos seguros títulos públicos, e fossem obrigados a assumir maiores riscos. Assim, os altos juros são responsáveis por inibir os investimentos e propiciar a valorização dos recursos. A queda da taxa de juros afetaria diretamente a rentabilidade das aplicações financeiras e traria perdas ao rentismo, aos de classe média e apresentaria reflexos na capacidade de financiamentos das empresas, ou seja, a baixa da taxa de juros pode restringir o investimento ao invés de favorecer a sua expansão. 
Por outro lado, a manutenção dos juros elevados pode atrair investidores estrangeiros que buscam rendimentos mais atrativos, mas isso volta a questão do crescimento com dependência do capital estrangeiro que falamos anteriormente quando estudamos o pensamento de Marini.
Enfim, quando se considera todos os interessados nos juros altos fica mais claro compreender a alta concentração das aplicações em títulos da dívida pública como meio de valorização da riqueza financeira. Devido às suas vantagens, esses títulos fazem com que o mercado privado ofereça condições de rentabilidade e liquidez semelhantes para atrair investidores.
3. CONCLUSÃO
A alta taxa de juros é persistente na economia brasileira. A inflação, que também é recorrente no país, é uma das principais razões para isso, pois para controlar a inflação, o Banco Central aumenta a Selic, que por sua vez influencia os juros cobrados pelos bancos em empréstimos e financiamentos.  
Os juros altos podem ajudar quem quer investir sem risco, com investimentos em títulos públicos, mas dificulta o acesso ao financiamento para as pessoas e empresas, que são desestimuladas a investir em novos projetos, afetando o crescimento econômico do país. Diante desse jogo de interesses, esse aspecto se enraíza no cenário econômico brasileiro.
4. REFERÊNCIAS
LOPREATO, Francisco Luiz. Uma razão a mais para se pensar o porquê de a taxa de juros ser tão alta no Brasil. Texto para Discussão. Unicamp. IE, Campinas, n. 327, mar. 2018. Disponível em: https://www.eco.unicamp.br/images/arquivos/artigos/3597/TD327.pdf Acesso em: 09 de junho de 2023.
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