Prévia do material em texto
Cultura de embriões zigóticos Profa. Dra. Cláudia Roberta Damiani Cultura de embriões • Definição: “Isolamento estéril e crescimento de um embrião imaturo ou maturo in vitro, com o objetivo de se obter uma planta viável”. Tipos de cultura de embriões a) Cultura de embrião imaturo: Originado de sementes imaturas, é usado para evitar o abortamento natural. É mais difícil, devido a excisão e meio de cultura mais complexo. b) Cultura de embriões maturos: Originado de sementes maturas, é usado para evitar a inibição de germinação na semente. Desenvolvimento do embrião em angiospermas Ao atingir o saco embrionário, o tubo polínico se rompe liberando os 2 núcleos espermáticos, sendo que um fecundará a oosfera, originando o zigoto e o outro se unirá aos 2 núcleos polares, originando o endosperma (3n). Formam-se 4 células, das quais 3 degeneram-se. A única célula (megáspora) passa por divisões mitóticas de seu núcleo, originando o saco embrionário, dentro de um óvulo agora maduro. O saco embrionário é formado 1 célula, contendo 8 núcleos n: 3 antípodas, 2 sinérgides, 2 núcleos polares e o gameta feminino –oosfera. Globular Triangular Torpedo Cotiledonar Cordiforme O desenvolvimento do embrião zigótico tem início com a diferenciação de uma estrutura bipolar, constituída de ápice caulinar e radicular, passando pelos estágios de desenvolvimento pró-embrionários e embrionários propriamente ditos: globular, cordiforme, torpedo e cotiledonar. Fisiologia e estágios do desenvolvimento do embrião zigótico • Na medida em que o embrião zigótico se desenvolve, ocorrem mudanças progressivas na sua exigência nutricional, passando de heterotrófico a autotrófico; • A distinção entre essas duas fases se baseia na dependência do embrião pelas substâncias nutritivas armazenadas no endosperma; • No estágio globular o embrião é heterotrófico; • A partir do estágio cordiforme, com início do desenvolvimento dos cotilédones, o embrião começa a se tornar independente e autotrófico. Fatores que afetam a cultura de embrião 1) Maturidade fisiológica da semente; 2) Desinfestação da semente; 3) Remoção inadequada do embrião; 4) Meio nutritivo adequado: a) Sais inorgânicos, b) Carboidratos, c) Nitrogênio, d) pH do meio de cultura, e) Reguladores de crescimento, f) Condições ambientais de cultivo. 1) Maturidade fisiológica da semente • Embriões retirados de sementes fisiologicamente maduras requerem apenas sais inorgânicos e sacarose no meio de cultura. – Devido a estrutura bipolar desenvolvida passam rapidamente para o estado autotrófico. • Embriões muito pequenos são difíceis de desenvolver in vitro. 2) Desinfestação da semente • As sementes e frutos devem ter a superfície desinfestada e os embriões excisados assepticamente dos tecidos que o cercam, razão por que a contaminação em cultura de embrião é mínima. • Desinfestantes de uso mais freqüente: – Hipoclorito de sódio e etanol; • Detergentes: – Tween 20 ou 80 (0,01 a 0,1%). Embora não seja essencial devido a excisão do embrião de dentro da semente, o resíduo do desinfestante na superfície da semente ou fruto pode ser eliminado por lavagens com água estéril. 3) Remoção inadequada do embrião • Excisão do embrião imaturo – A remoção dos embriões pequenos é realizada em câmara asséptica, com o auxílio do microscópio estereoscópico, para melhor visualização dos embriões imaturos. Hilo: cicatriz deixada pelo funículo Micrópila: pequenos orifício no tegumento dos óvulos dos vegetais fanerógamos, cuja finalidade é permitir a fecundação (por onde entra o tubo polínico levando o pólen). Cicatriz da micrópila • Quando o endosperma ainda está líquido, a excisão do embrião imaturo, pode ser feita por meio de uma incisão na porção terminal do saco embrionário, junto à micrópila, seguido da aplicação de pressão na outra extremidade para forçar a expulsão do embrião. • Quando o embrião é excisado no estádio globular é necessário manter o suspensor, que é a conexão entre o tecido materno e o embrião, e por onde este se nutre. Suspensor Suspensor EmbriãoEndosperma tegumento O suspensor é um local ativo de biossíntese de substâncias de crescimento, imprescindíveis para o desenvolvimento dos embriões zigóticos excisados. http://www.amjbot.org/content/89/5/766/F4.large.jpg 4) Meio de cultivo adequado • Quanto mais jovem for o embrião, mais complexa será a exigência nutricional para o seu desenvolvimento. – Embriões no estágio de torpedo: • Exigem sais minerais, sacarose e vitaminas; – Embriões no estágio cordiforme: • Exigem além dos sais minerais, sacarose e vitaminas, a adição misturas orgânicas complexas (ex. ácido cítrico, água de coco) e hormônios como gibererlinas, citocininas e auxinas; – Embriões no estádio globular inicial: • As exigências são desconhecidas. Globular Triangular Torpedo Cotiledonar Cordiforme a) Sais inorgânicos • Meio de cultura MS (MURASHIGE e SKOOG, 1962) - alto conteúdo de sais. • Meio de cultura WPM (Wood Plant Media – Loyd & McCown, 1980), e Knudson (KNUDSON, 1922) - aproximadamente ¼ da concentração de íons nitrato e amônio do meio de cultura MS. b) Carboidratos • Por não disporem de condições adequadas para a realização da fotossíntese in vitro, requerem uma fonte de carboidratos exógena. – Principal fonte de carboidratos utilizada: sacarose – Concentrações: variam de 20 a 40 g.L-¹ • Em geral, quanto mais jovem for o embrião excisado, mais alta será a osmolaridade requerida no meio, ou seja, mais carboidrato é requerido. • Em alguns casos, especialmente para gramíneas, outros açúcares, como a maltose ou frutose são mais eficientes. c) Nitrogênio • Nitratos de potássio e de amônio são as fontes de nitrogênio inorgânico mais frequentemente usadas. • Adição de aminoácidos e suas amidas: – Glutamina: é a substância mais efetiva no estímulo ao crescimento de embriões in vitro; – Asparigina: bastante efetiva em alguns gêneros como, por ex. Datura, mas inibitória em outros gêneros, como Arabidopsis; – Caseína hidrolisada (mistura complexa de aminoácidos): é comumente usada no meio de cultura para estimular o crescimento e o amadurecimento do embrião. d) pH do meio de cultura • O pH influencia diretamente a disponibilidade de nutrientes, e fitorreguladores. – pH baixos (muito ácidos) dificultam a absorção do amônio; – pH altos (muito básicos) diminuem a absorção do nitrato. • Crescimento adequado para a maioria das espécies: pH entre 5 a 6,5. • pH inferiores a 4,5 e superiores a 7,8 causam paralisação do crescimento e do desenvolvimento in vitro. e) Reguladores de crescimento • Na cultura de embriões imaturos, reguladores de crescimento são muitas vezes usados para evitar a germinação precoce ou para estimular o crescimento embrionário. • O regulador efetivo para evitar a germinação precoce é o ácido abscísico (ABA), que está normalmente presente no saco embrionário. • Dependendo da espécie, o embrião jovem pode ser estimulado a crescer por citocininas, auxinas ou por giberelinas (as giberelinas, como o GA3 ou ácido giberélico é um dos mais efetivos para estimular a germinação). f) Condições ambientais de cultivo Luz • Os efeitos da luz sobre o desenvolvimento embrionário são pouco estudados. • Usualmente, nas câmaras de cultivo a intensidade luminosa é de 3 a 5 W.m-². Temperatura • A temperatura mais utilizada para incubação é de 25 ºC, não importando o tipo de planta. Aplicações práticas da cultura de embriões a) Superação da dormência das sementes • Em algumas sementes ocorrem inibidores químicos endógenos ou há requerimentos específicos de luz e temperatura ou ainda a resistência física presente nas estruturas que recobrem o embrião. • A cultura de embriões é uma alternativa para superar estes problemas. Ilex opaca a) Superação da dormência das sementes • Ex.:Ilex opaca - a maior dificuldade do melhoramento em Ilex é a demora da germinação das sementes, causada pela natureza rudimentar dos embriões que permanecem imaturos, no estádio cordiforme, durante longo período, depois do amadurecimento do fruto. • As sementes de I. opaca exigem 3 anos, sob condições apropriadas para germinarem. a) Superação da dormência das sementes b) Recuperação de híbridos de cruzamentos incompatíveis • No melhoramento, cruzamentos interespecíficos e intergenéricos, com o objetivo de transferir genes de interesse da espécie selvagem para a cultivada (aumentando a variabilidade genética), podem produzir embriões abortivos devido a incompatibilidade. • Isto ocorre também em cruzamentos onde existem barreiras pré ou pós-zigóticas (sementes murchas e embriões abortivos). • Nestes casos, os embriões híbridos são salvos e removidos antes que ocorra o aborto e, posteriormente cultivados in vitro. b) Recuperação de híbridos de cruzamentos incompatíveis b) Recuperação de híbridos de cruzamentos incompatíveis Ovule culture is used to support interspecific hybridizations, in this case between Brassica rapa × Brassica oleracea. Embryos derived from 3 pollinations germinate and develop into normal plantlets. Interspecific transfer of resistance into Brassica napus b) Recuperação de híbridos de cruzamentos incompatíveis Neste caso, utilizou-se a cultura de óvulos primeiro para realizar a hibridização e posteriormente o resgate dos embriões por cultura in vitro. c) Superação da esterilidade das sementes • As causas de ocorrência de sementes estéreis em algumas espécies podem ser devido ao desenvolvimento incompleto do embrião, mutações das estruturas que cobrem o embrião ou algum tipo de dormência recalcitrante para a qual nenhum método tem sido desenvolvido. Sementes recalcitrantes são àquelas que não sobrevivem a secagem e congelamento durante a conservação ex situ. c) Superação da esterilidade das sementes Neste caso também foi utilizado para a eliminação de microrganismos causadores de doenças (bactérias) d) Prevenção do embrião abortivo por meio de resgate • Ocorre principalmente com o amadurecimento precoce de frutos carnosos. • Em cruzamento dos frutos (pêssego, ameixa, cereja) o transporte de água e nutrientes para o embrião imaturo é algumas vezes cortado muito cedo, ocorrendo o aborto. d) Prevenção do embrião abortivo e) Germinação de sementes infectadas com microrganismos f) Propagação vegetativa • Devido a sua natureza juvenil com alto potencial regenerativo, embriões são excelentes explantes para propagação in vitro, especialmente para coníferas e gramíneas.