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314 Auxiliar Pedagógico - Turma 2023A 1.1 O que é educação Educação é uma palavra muito utilizada por todos nós, não é mesmo? Segundo Brandão (1986, p.07), “Ninguém escapa da educação”. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, todos nós a envolvemos a cada instante, em trechos da vida: para aprender, para ensinar, para saber, para fazer ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educação. Já que sempre temos alguma coisa a dizer sobre ela, vamos agora compreender um pouco mais sobre o conceito de educação. A educação é um fenômeno complexo da existência humana, o que a leva a ter também diferentes definições, compreensões ou explicações. Libâneo (1998) a define como o conjunto das ações, processos, influências, estruturas, que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa com o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais. Um exemplo claro disso é a língua. Aprendemos a falar uma língua, que no caso brasileiro é o retrato de seu povo com sua cultura e tradições. Para Marques (1996, p. 14), a educação se cumpre num diálogo de saberes, não em simples troca de informações, nem em mero assentimento acrítico a proposições alheias, mas na busca do entendimento compartilhado entre todos os que participam da mesma comunidade de vida, de trabalho, de uma comunidade discursiva de argumentação. Essa definição leva-nos à compreensão de que a educação pode, também, ser definida como a molamestra da sociedade, na qual o ato de ensinar está sempre em constantes mudanças. Percebemos, portanto, que a escola não é o único lugar onde ela ocorre e muito menos o professor é seu único agente. Existem diversas educações e cada uma atende a sociedade em que ocorre, pois é a forma de reprodução dos saberes que compõe uma cultura, portanto, a educação de uma sociedade tem identidade própria, sua própria cultura. Exemplo: sociedades indígenas. Vamos entender agora a diferença entre cultura e educação. Cultura é inerente aos padrões de comportamentos, crenças, instituições, e conhecimentos transmitidos coletivamente e devem ser típicos de uma época, de uma região ou até mesmo de uma civilização. Podemos exemplificar citando novamente as culturas indígenas, cujos hábitos, os costumes e crenças são diferentes da cultura dos não-indígenas. A educação é um processo de desenvolvimento da capacidade física, da capacidade intelectual e moral do ser humano. Portanto é um conjunto de valores, transmitidos ao indivíduo de forma específica pela família, em primeira mão, e em seguida complementada por instrutores específicos. Seu conteúdo passa do geral para a especialização, podendo ser diferenciada de conformidade com os setores focalizados. Para Paulo Freire (1999), a concepção de educação está em perceber o homem como um ser autônomo. Esta autonomia está presente na definição de vocação ontológica em ‘ser mais’ que está associada com a capacidade de transformar o mundo. É exatamente aí que o homem se diferencia do animal. Por viver num presente indiferenciado e por não perceber--se como um ser unitário distinto do mundo, o animal não tem história. O homem sim, você, por exemplo, ao fazer este curso está buscando a transformação de sua própria história. Freire (1999) traça ainda a concepção de educação problematizadora, na qual o conhecimento não pode advir de um ato de "doação" que o educador faz ao educando, mas sim, por meio de um processo que se realiza no contato do homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação contínua. Por exemplo: o professor solicita aos alunos que tracem um quadro geral sobre as condições de saúde do bairro onde moram. Como está o combate à dengue? Há saneamento? Existe preocupação, por parte das autoridades, em manter postos de saúde para atender à comunidade? A partir dessas problematizações o educador irá trabalhar sobre um projeto para o bairro, ou seja, depois de contextualizar a questão é que buscará a compreensão dos alunos. Percebemos, portanto, que educação não é apenas o processo de transferir conteúdos acadêmicos, mas todo o conjunto de instruções, disciplinas e práticas que visam preparar a próxima geração para cumprir um ideal mais elevado. 1.2 A educação brasileira Esta aula apresenta um panorama da educação brasileira. Vamos discutir questões que envolvem o entendimento da educação como direito; a função social da escola; as formas de organização das etapas e modalidades da educação básica; as diversas esferas do poder público, suas competências e o regime de colaboração; e os desafios da educação básica no Brasil de hoje. A Educação como Direito Educação é um direito ou uma mercadoria? A educação é um direito de todo cidadão. Sendo assim, para o Estado e para a família é estabelecida uma obrigação: o dever de oferecer e garantir educação a todos. A atual Constituição Federal determina, no seu artigo 205, que “A educação é direito de todos e dever do Estado e da família [...]”. Mais adiante, o § 1º do art. 208 dá ao ensino obrigatório e gratuito, agora de 4 a 17 anos, o caráter de direito público e subjetivo. Ele é assim considerado, na medida em que o seu não oferecimento pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa na responsabilização da autoridade competente. Esta é uma conquista da sociedade, mesmo que delimitada e focalizada apenas para o ensino obrigatório. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de sua parte, reafirma no Artigo 5º que: O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. Vale acrescentar que qualquer pessoa ou grupo de pessoas acima mencionados pode acionar o Poder Judiciário e, se for comprovada a negligência do poder público na oferta do ensino obrigatório, a autoridade competente poderá ser imputada de crime de responsabilidade. Então, se a Constituição Federal e a LDB estabelecem a educação como direito, como podemos compreender e aceitar que ela seja tratada como mercadoria que se compra e vende? Como compreender que a educação seja colocada num balcão de comércio, submetendo os cidadãos a terem um nível de qualidade diferenciado pela quantidade de dinheiro que possuem? Todas essas questões nos angustiam e nos fazem refletir sobre o seguinte: se a educação é um direito da cidadania, não podemos aceitar que ela seja tratada como mercadoria e esta mudança de concepção (de direito para mercadoria) tem sua origem na transposição da lógica econômica para a prática social. Mais adiante iremos tratar da qualidade da educação e aí poderemos perceber que o sentido de qualidade também se altera por força desta lógica que, ao ter êxito na empresa e no mundo dos negócios, passa a ser considerada, de forma equivocada, como a lógica que pode encaminhar e gerar a qualidade da educação. Para começar a encaminhar esta e outras questões dela decorrentes, precisamos nos perguntar: para que serve a escola? A Função Social da Escola Como está organizada a educação escolar no Brasil? A LDB, em seu Artigo 21, determina que a educação brasileira se organize em dois níveis: educação básica e educação superior. A educação básica tem por finalidade “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”. Assim, pode-se compreender o motivo de sua denominação (educação básica), pois se constitui no alicerce para a construção da cidadania. A educação básica compreende três etapas: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. A educação infantil, segundo a LDB, em seu artigo 29, como primeira etapa da educação básica, “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Ela se desenvolve creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; e pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade. Com a aprovação da Lei nº 11.274/2006, foi estabelecida a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos, a partir dos seis anos de idade. Assim, o ensino fundamental passa a ter duração mínima de nove anos, a partir dos seis anos de idade e objetiva desenvolver a formação básica do cidadão. Sua jornada escolar será de, no mínimo, quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado o período de permanência na escola, visando implantar a jornada de tempo integral, a critério dos sistemas de ensino. Podem-se agregar à educação básica algumas formas e modalidades diferenciadas de educação para atendimento de especificidades: educação de jovens e adultos; profissional; do campo; especial; indígena; e de afrodescendentes, entre outras. Segundo a LDB, em seu artigo 37, A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida. Já no artigo 39, a LDB diz que “a educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva”; no artigo 58, “ entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”; e a educação do campo está contemplada quando discrimina no artigo 28 que “na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação e às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente”. Quanto à educação superior, a LDB estabelece no artigo 45 que ela “será ministrada em instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus de abrangência ou especialização”; com cursos e programas citados no artigo 44: cursos sequenciais; de graduação; de pós-graduação; e de extensão. A organização dada na LDB indica formas de viabilização da educação escolar, mas sua concretização ocorre na prática social da educação, dando-lhe sentido e direção. O Poder Público e as Competências na Educação Como o poder público se organiza no campo da educação? A Constituição Federal de 1988, em seu primeiro artigo, estabelece que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos estados e municípios e do Distrito Federal. A mesma Constituição garante, em seu artigo 18, a autonomia de cada um desses entes na organização político-administrativa. Em termos gerais, as competências de cada uma dessas esferas, na área de educação, são delimitadas também pela Constituição Federal, a saber: 1. Compete à União, “elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social” (Art. 21 – inciso IX), sendo-lhe privativo legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (Art. 22 – inciso XXIV). 2. É competência comum da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência (Art. 23, inciso II); proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação (Art. 23, inciso V); e estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito (Art. 23, inciso XII). 3. Compete à União, aos estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre a educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação (Art. 24, inciso IX); proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência (Art. 24, inciso XIV). O Regime de Colaboração Como se dá a articulação entre os municípios, os estados, o Distrito Federal e a União? Garantindo a autonomia constitucional de cada uma das esferas do poder público, a Constituição Federal estabelece no artigo 211 que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão seus sistemas de ensino, em regime de colaboração. A ideia de regime de colaboração indica a necessidade de esses três níveis da Administração Pública estabelecerem articulação colaborativa para o alcance dos objetivos educacionais. No entanto, esta articulação ainda é muito nebulosa, na medida em que somente as grandes atribuições de cada sistema de ensino são estabelecidas. Nossa Constituição, em verdade chamada de Constituição da República Federativa do Brasil, delimita a atuação dos sistemas de ensino da seguinte forma: 1. A União organizará o sistema federal de ensino, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá função redistributiva e supletiva junto aos estados, Distrito Federal e municípios, mediante assistência técnica e financeira. 2. 2. Os estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. 3. 3. Os municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil, com a cooperação técnica e financeira da União e do estado. Sempre observando os princípios da Constituição Federal, os estados organizam-se e regem-se pelas constituições e leis que adotarem (Art 25); o município e o DF serão regidos por lei orgânica, [...] sendo que o município deverá ainda atender aos princípios da constituição do respectivo estado (Art 29 e 32). Vale ressaltar que, na organização de seus sistemas de ensino, os estados e os municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório – dos quatro aos dezessete anos de idade. Além disso, o quinto artigo da LDB determina que cabe aos Estados e aos municípios, em regime de colaboração e com a assistência da União: 1. recensear anualmente as crianças e adolescentes em idade escolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram a educação básica; 2. fazer-lhes a chamada pública; e 3. zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. Percebe-se que ainda há muito que se caminhar na organização do regime de colaboração, primeiro, ampliando seu aspecto ainda restritivo, quando privilegia apenas o ensino fundamental e, segundo, estabelecendo medidas operacionais que indiquem formas de colaboração eficientes e claras. Desafios da Educação Básica Qual o retrato da educação básica? Para se ter um panorama da educação no Brasil, é importante verificar alguns indicadores que dão a dimensão do acesso, permanência e sucesso dos estudantes no processo educativo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao ano de 2010, evidenciam a situação do Brasil quanto à alfabetização, frequência à creche e escola, anos de estudo e série ou nível educacional concluído pela população brasileira. Eles indicam que: · havia 14 milhões de analfabetos com mais de 15 anos; · as taxas de analfabetismo da área rural eram, em média, quase três vezes maiores que as da área urbana; · a taxa de escolarização das crianças de 6 a 14 anos atingia a quase universalização, com atendimento de 97%; e · quase um terço da população brasileira estudava. Veja agora dados do IBGE e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), referentes ao ano 2000: · Apenas 36,5% das crianças de zero a 6 anos frequentavam creches ou escolas. · Quanto maior o nível de rendimento familiar per capita, maior a taxa de escolarização de crianças de 4 a 6 anos: apenas 26,8% dos 20% mais pobres estudavam em contraste com 52,4% dos 20% mais ricos. · 78% das pessoas de 15 a 17 anos estudavam e apenas 35% dos 18 a 24 anos, sendo que, destes, 71% ainda estavam no ensino fundamental ou médio. · A defasagem idade-série continua sendo umdos grandes problemas da educação básica: verifica-se o índice alarmante de 65% de estudantes defasados na idade de 14 anos, sendo de 85% a proporção no Nordeste · A população brasileira com mais de dez anos tinha em média apenas 6,2 anos de estudo. · O nível de rendimento familiar influencia decisivamente nos anos de estudo da população adulta, mostrando um diferencial de sete anos de estudo entre o primeiro e o quinto grupo da distribuição de renda (os mais pobres e os mais ricos). A esse quadro perverso, agregam-se significativas diferenças educacionais encontradas entre os grupos étnicos; a importante diferença de desempenho entre as áreas rurais e urbanas; a alta dispersão dos estudantes que gera grande discrepância interna nos resultados de muitos grupos etários e, finalmente, o baixo rendimento nominal mensal per capita da grande maioria dos estudantes brasileiros. Esses dados demonstram claramente como é flagrante a reprodução das diferenças sociais na escolarização brasileira. Com esses dados, constata-se que o Estado brasileiro não vem cumprindo sua tarefa de oferecer educação em quantidade e qualidade para a nação brasileira. Como consequência, uma parcela significativa dos brasileiros não possui as condições básicas para serem cidadãos participantes de uma sociedade letrada e democrática. Esta parece ser uma forma de exclusão social, cuja base é a exclusão escolar. Como mudar este quadro? Pode-se perceber a dura e difícil tarefa que o Estado brasileiro tem à sua frente, no sentido de promover e realizar políticas educacionais que interfiram nesse quadro negativo e que efetivem a educação de qualidade como direito do cidadão. São muitas as ações que precisam ser desenvolvidas para garantir uma educação básica democrática e de qualidade, no entanto, quatro parecem ser as principais frentes de políticas que precisam ser estabelecidas pelo poder público: políticas de financiamento; políticas de universalização da educação básica, com qualidade social; políticas de valorização e formação dos profissionais da educação; e políticas de gestão democrática. A primeira dará as condições concretas sobre as quais se sustentarão as demais políticas. A segunda oportunizará acesso, permanência e sucesso escolar. A terceira propiciará salários, plano de carreira e formação inicial e continuada para todos os educadores (docentes e não docentes). E a quarta delimitará o caminho pelo qual o processo de democratização da educação poderá ser alcançado. Docente diz respeito aos professores e não docente, aos funcionários. Sobre as políticas de financiamento da educação, diferentemente do que historicamente vem acontecendo, cabe à área educacional a tarefa de delimitá-las, pois é ela quem pode identificar os recursos para o desenvolvimento das ações no âmbito da educação básica. Isto ocorre porque as verbas públicas a serem destinadas à educação precisam ser consequência de um projeto educacional político-pedagógico a ser implementado pela União, estados, Distrito Federal, municípios e escolas. Com essa equação estabelecida, é possível imaginar que a educação deixe de ser discurso e passe a ser prioridade do Estado brasileiro e não apenas uma atividade de governo subordinada à área econômica. Como exemplo da urgência de se estabelecer uma política de financiamento para a educação, basta analisar o Plano Nacional de Educação (PNE) que vigorou de 2001 a 2010. Ele estabeleceu uma série de objetivos e metas para a melhoria da educação brasileira, a serem cumpridos no prazo de dez anos. Depois de muitas discussões, no Congresso Nacional e na sociedade civil, chegou-se à conclusão de que os aproximadamente 4,5% do PIB, que se investiam na educação, eram absolutamente insuficientes para a abrangência e amplitude da ação educacional. Com isso, os movimentos sociais indicaram que não menos que 10% do PIB deveriam ser investidos pelo Estado na área. No entanto, o Congresso Nacional estabeleceu o índice de 7% como o mínimo para o desenvolvimento do PNE. Ocorre que nem mesmo esse último percentual aprovado pelo Congresso Nacional foi aceito pelo governo vigente até 2002, tendo sido vetado, com outros importantes aspectos do financiamento previstos no PNE. Uma das possibilidades de melhoria do financiamento da educação básica foi estabelecida por meio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) aprovado em 2006 no Congresso Nacional como Proposta de Emenda Constitucional (PEC), criando o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O novo Fundo prevê mais recursos para melhorar o salário dos professores, aumento do número de vagas, equipamentos para as escolas públicas, ampliação do acesso à escola e a qualidade da educação, beneficiando cerca de 47,2 milhões de estudantes da educação infantil, ensino fundamental e médio. Pelas regras do Fundeb, pelo menos, 60% do seu valor anual serão destinados à remuneração dos profissionais do magistério e o restante dos recursos será aplicado exclusivamente na manutenção e desenvolvimento da educação básica. Quanto à política de valorização e formação dos profissionais da educação, o Fundeb pode vir a ser a base de seu financiamento. Com os 60% dos recursos do Fundeb e dos outros impostos de estados e municípios, esta possibilidade se concretizou com a Lei do Piso Salarial Nacional dos Profissionais do Magistério (Lei nº 11.738, de 2008). Entretanto, para essa Lei chegar aos mais de 2 milhões de professores e 1 milhão de funcionários, serão necessários planos de carreira e ações de formação inicial e continuada, como estes cursos do Profuncionário. Vale ressaltar que o Piso Salarial Nacional, de acordo com o inciso VIII do art. 206 da Constituição, deverá aplicar-se a todos os profissionais da educação; portanto, aos funcionários das escolas, aqui chamados educadores não docentes, devidamente profissionalizados em cursos de formação técnico-pedagógica, como os do Profuncionário. A universalização da educação básica configura-se em duas dimensões: universalização do acesso de todos à educação infantil, ensino fundamental e ensino médio, bem como a garantia de padrão de qualidade, não o mínimo, como por vezes é intitulado, mas a qualidade necessária para a construção da cidadania, ou seja, a qualidade referenciada no social. Outra política que certamente concorrerá para a democratização da educação básica é a gestão democrática nas escolas públicas, já estabelecida pela Constituição Federal de 1988, mas ainda carente de regulamentação. Com isso, espera-se que a experiência democrática a ser vivenciada pelos diversos segmentos sociais seja o caminho tão esperado para a conscientização da sociedade a respeito da importância da educação para o desenvolvimento econômico, cultural e político do Brasil. Sabe-se que a educação sozinha não resolverá os problemas estruturais do Brasil, mas sabe-se também, que, sem ela, eles certamente não poderão ser resolvidos. Uma política clara de gestão democrática deverá estabelecer, para as diversas instâncias do poder público e para a escola, espaços para a participação da sociedade na tarefa de transformar a dura realidade educacional. A implantação do Fórum Nacional de Educação, conforme a LDB, em longa tramitação no Congresso Nacional, uma revisão na composição e atribuições do Conselho Nacional de Educação (CNE), o fortalecimento dos conselhos estaduais e municipais de educação e a implantação de conselhos escolares em todas as escolas são instrumentos importantes para a desejada experiência democrática. Está de pé o que escrevi há quase dez anos: “A escolha democrática dos dirigentes escolares e a consolidação da autonomia das escolas alinham-se aos colegiados com a finalidade de desvendar os espaços de contradições gerados pelas novas formas de articulação dos interesses sociais. A partir do conhecimento destes espaços, certamente presentes no cotidiano da vida escolar e das comunidades, é que será possível ter os elementos para a proposição e construçãode um projeto educacional inclusivo” (AZEVEDO; GRACINDO, 2004, p. 34). Essas políticas públicas, entendidas como ações estabelecidas para a transformação da realidade, certamente sinalizarão o caminho da construção de uma sociedade justa e igualitária, em que a educação, para ser um dos alicerces da cidadania, precisa ser, necessariamente, democrática e de qualidade para todos. 1.3 Contexto histórico da educação no Brasil Para falarmos da educação brasileira, muitas são as interfaces que precisamos analisar para fundamentarmos uma discussão da educação contemporânea da nossa população, portanto, convidamos-o(a) a conhecer um pouco da história da educação no Brasil. Começaremos pelo Brasil Colônia. As ideias e pensamentos da cultura medieval foram trazidas para a educação brasileira fundamentadas na obra dos Jesuítas, cooperando para que a educação se tornasse aristocrática. A educação na colônia só era permitida aos primeiros filhos ou aos filhos homens que seriam os sucessores e administradores dos pais. Padres jesuítas ministravam educação elementar para a população indígena e branca em geral. Segundo XAVIER (1980), nos dois primeiros séculos de colonização brasileira os Jesuítas foram os únicos educadores que existiam na colônia. Preocupados com a difusão da fé e com a educação de uma elite religiosa criaram, no Brasil Colônia, um sistema educacional que, em última instância, fornecia aos elementos das classes dominantes uma educação clássica e humanista, como era o ideal europeu da época. Em 1759 o Marquês de Pombal, Ministro da Educação de Portugal, expulsou os Jesuítas de todas as colônias portuguesas. No Brasil houve uma interrupção de duzentos anos na área educacional. Escolas foram fechadas e os padres Jesuítas foram expulsos do Brasil. Essa medida acarretou na paralisação total das atividades educacionais até então desenvolvidas. Ao contrário do que se poderia esperar essa expulsão não foi sucedida por uma reforma do ensino que contemplasse um novo sistema educacional. O que ocorreu foi uma interrupção temporária de todo o sistema educacional. De acordo com BERGER (1980), as consequências dessa política foram desastrosas para o Brasil, que não pôde beneficiar-se da modernização do sistema educacional visado por essa política, pois a metrópole não dispunha de meios eficientes para orientar e fiscalizar as novas escolas a serem criadas na colônia. Somente depois de uma década foram criadas as primeiras Escolas e Aulas Régias nas maiores cidades, lecionando Latim, Grego e Retórica. Já no início do século XIX, influenciada pelo desenvolvimento da mão de obra, a população vai à luta por escolas. Por volta de 1800, foram fundadas algumas escolas primárias, secundárias e seminários, eminentemente de cunho eclesiástico privado. Já o ensino superior, surge com a presença do Príncipe D. João VI no Brasil que promove mudanças no quadro das instituições educacionais com a criação dos cursos superiores da Academia Real da Marinha, da Academia Real Militar, da Escola Militar de Aplicação e da Faculdade de Medicina. Na Constituição de 1823, outorgada por D. Pedro I, que vigorou durante os 65 anos do Império, ficou estabelecido que: “a instrução primária deveria ser gratuita para todos os cidadãos” e previa a existência de colégios e universidades. Mas não garantiu a prestação desse serviço por parte do Estado. A constituição de 1891 reservou à União (República Federativa do Brasil) o direito de criar instituições de ensino secundário e superior nos Estados. Aos Estados foi outorgado o dever e a competência para com o ensino primário. Por volta de 1930, iniciou-se a luta por uma política única de educação por parte dos intelectuais da educação, denominada por movimento escolanovista, o qual foi a chave para o processo de expansão do ensino público, para a modernização do processo produtivo e da economia. Os eixos centrais da luta dos pioneiros da educação eram o acesso e qualidade da educação pública. Segundo Aranha (1989), em 20 anos, as escolas primárias dobraram em número e as secundárias quase quadruplicaram. As escolas técnicas multiplicaram-se – de 1933 a 1945, passaram de 133 para 1.368, e o número de matrículas, de 15 mil para 65 mil. Cresceu também a construção de prédios escolares, financiados pelo Fundo Nacional do Ensino Primário – FNEP, e com esforços dos próprios estados e também com a ajuda de financiamentos externos. Toda essa expansão trouxe melhorias no aspecto quantitativo, ou seja, mais pessoas na escola. Contudo, as condições de ensino eram precárias. Os educadores Gadotti (2006), Libâneo (2003) e Manfredi (2002), quando analisam a educação brasileira no século XX, falam sobre alguns aspectos centrais que a dominavam: as questões do acesso e democratização, da centralização e descentralização, da quantidade e da qualidade da educação. Como vimos, a escola pública não era preocupação dos governantes, foram necessárias lutas de educadores que resistiram à educação elitista, (como por exemplo, Manifesto dos Pioneiros) e buscaram travar discussões e ações que correspondessem aos anseios da população brasileira que há muito almeja ensino democrático, gratuito e de qualidade. As constituições e leis brasileiras que vieram após o manifesto dos pioneiros começaram a expressar o direito à educação: Constituição de 1946: permitiu à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. A partir daí foi instituída a descentralização e determinou-se que cada estado organizasse seu sistema de ensino. Foi criado o SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial voltado para a formação de recursos humanos no setor comercial. Para isso, foi utilizado o mesmo modelo do SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, criado em 1942 para suprir a necessidade de mão de obra qualificada necessária no processo de industrialização. Lei 4024/61: foi a primeira a tratar especificamente da educação nacional, que vinha sendo debatida por diferentes correntes educacionais desde a promulgação da Constituição de 1946. Portanto, somente depois de quinze anos do encaminhamento ao Congresso, de um Projeto de Lei pelo Poder Executivo é que foi criada a primeira - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Durante o período de 1964 a 1971, o país foi marcado por grandes mudanças históricas, inclusive a ditadura, após a Revolução de 1964 e um período de Industrialização. O Brasil precisava de mão de obra qualificada, que soubesse ler e escrever para o manuseio das máquinas industriais. Para atender a essa demanda foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nº. 5692/71, que reconheceu a integração completa do ensino profissionalizante ao sistema regular de ensino, estabelecendo a plena equivalência entre os cursos profissionalizantes e o propedêutico para fins de prosseguimento aos estudos, ou seja, surgiram os cursos técnicos equivalentes ao ensino Médio: Técnico em Contabilidade, Técnico em Mecânica, em Enfermagem, etc. No início da década de 1980, esgotada a Ditadura Militar e com a retomada da democracia e reconquista dos espaços políticos, foi promulgada a Lei Nº. 7.044/82 que revitaliza a concepção da formação profissional vigente antes de 1971. Dentre as várias inovações trazidas pela Lei nº 7.044/82, destaca-se a nova redação dada ao artigo 1º, que cuida dos objetivos do ensino de 1º e 2º graus, a qual substitui a expressão "qualificação para o trabalho" por "preparação para o trabalho" e a influência desta expressão na elaboração dos programas e currículos escolares. Na década de 1990, mais precisamente em 1996, no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso foi promulgada a atual LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sobre a qual falaremos mais detalhadamente em aula posterior. Como você pode notar, a escola vem sendo questionada acerca de seu papel ante as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo. Decorrem, sobretudo, dos avanços tecnológicos, da reestruturação do sistema de produção e desenvolvimento,da compreensão do papel do Estado, das modificações nele operadas e das mudanças no sistema financeiro, na organização do trabalho e nos hábitos de consumo. Esse conjunto de transformações está sendo chamado de globalização. Foram notórias as mudanças que ocorreram no entorno econômico, social e cultural. Conforme nos diz Libâneo (2006), estamos convivendo em uma sociedade globalizada com mudanças econômicas, no sistema de produção, na oferta de empregos. Há novos requisitos de qualificação profissional. Pode-se observar que desde 2006, Libâneo já vislumbrava a necessidade da expansão da educação profissional. Podemos observar também, que na contemporaneidade a educação passa a ser entendida como um fator social e histórico. O seu pressuposto básico é autonomia e a capacidade de autogoverno do cidadão, segundo GADOTTI (1994). Isto significa que atualmente passa-se a se exigir da escola brasileira uma educação voltada para a formação da cidadania, ou ainda, que esta instrumentalize o aluno para que este tenha condições de usar coerentemente o aprendido, processar as informações transformando-as em conhecimento. Observando as unidades escolares que você já estudou, e as que você têm contato no dia de hoje, acredita poder-se afirmar que as escolas brasileiras oferecem uma educação voltada para a formação da cidadania e priorizam a oferta de conhecimento? Resumo · A educação brasileira foi fundamentada na obra dos Jesuítas, apresentando o processo ocorrido no início do período colonial. · Os jesuítas peremaneceram no Brasil até serem expulsos pelo Marquês de Pombal, em 1760. · No início do século XIX, influenciada pelo desenvolvimento da mão de obra, a população vai à luta por escolas. Por volta de 1800 fundaram algumas escolas primárias, secundárias e seminários, com cunho religioso. · O ensino superior surge com a vinda da Família Real para o Brasil, em 1808, as Constituições e Leis do país e a promulgação da LDB, dentre outros fatores que marcaram a história da educação brasileira. · A constituição de 1891 reservou à União (República Federativa do Brasil) o direito de criar instituições de ensino secundárias e superiores nos estados. · Por volta de 1930, iniciou-se a luta por uma política única de educação por parte dos Pioneiros da Educação, denominada por movimento escola novista. · Em 1946 foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - a qual instituiu a descentralização e determinou que cada estado organizasse seu sistema de ensino. · Para atender a demanda por mão de obra qualificada foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nº. 5692/71, que reconheceu a integração do ensino médio ao ensino profissional. 1.4 Sistema educacional no Brasil Estrutura do Sistema de Ensino Visão da conjuntura atual, os Níveis, Modalidades e suas finalidades. O Sistema Brasileiro é estruturado por Níveis e Modalidades de Educação. Temos os seguintes Níveis: Educação Básica, Profissional e Superior e as seguintes modalidades: Educação de Jovens e Adultos - EJA, Educação a Distância, Educação Especial e a Indígena, como poderá ser observado na descrição detalhada apresentada a seguir. Educação Básica Para melhor compreensão do sistema vamos analisar com detalhes, primeiramente, a Educação Básica. Ela é formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Educação Infantil A Educação Infantil, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB/96 é a primeira etapa da Educação Básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Pense o quanto os pressupostos descritos acima são sérios e abrangentes. Observe que vão muito além de ensinar conteúdos, matérias relacionadas à cognição, - as famosas disciplinas! Devemos buscar desenvolvimento INTEGRAL, nos aspectos cognitivo, afetivo e motor. Importante! A reflexão que acabamos de fazer deverá ser prática constante e permear todos os demais níveis e modalidade de ensino que serão abordados. Ensino Fundamental O Ensino Fundamental, etapa intermediária, compreendida entre a Educação Infantil e o Ensino Médio, com duração mínima de nove anos, tem como finalidade a formação básica do cidadão, contemplando o desenvolvimento das capacidades de aprender, por meio do domínio da leitura, da escrita e do cálculo; compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores que fundamentam a sociedade, quer sejam fortalecimentos dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca. Observe que não está escrito que a finalidade é a de ensinar CIÊNCIAS (conhecimento puro), ou disciplinas, que são recortes, pedaços selecionados de uma determinada ciência, realizado por uma pessoa ou grupo de pessoas. Mas sim, a de formação básica do Cidadão*, e as ciências, sob a ótica das disciplinas, devem ser as ferramentas, os meios empregados, por educadores (todas as pessoas envolvidas no ato de educar, não só professores), para instrumentalizar o indivíduo, na consolidação de sua jornada para a cidadania plena. Você, futuro profissional em Multimeios Didáticos, profissional que irá atuar na escola, como educador, em atividades não docentes, nos mais diversos setores, tem a obrigação e o dever de compreender, assimilar e disseminar os conceitos expressos nessas finalidades. Você tem que acreditar que nossas escolas podem ser espaços privilegiados de FORMAÇÃO para o exercício pleno da cidadania. O mundo precisa de cientistas brilhantes, porém, se não estiverem comprometidos com a busca de solução para os problemas sociais, toda a sua existência terá sido inútil, sem sentido para humanidade. E, a partir dessas reflexões, você, deve estar atento a todos os espaços, situações e contextos que podem ser usados para facilitar, mediar e disseminar a cultura, o convívio, o despertar de relações sadias e fraternas, lutando, se opondo contra todas as formas de discriminação, valorizando e experimentando, o poder que o conceito da alteridade pode provocar no meio escolar. Ensino Médio Chegamos ao Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com duração mínima de três anos, e que tem como finalidades a consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, a preparação básica para o trabalho e a cidadania, por meio do desenvolvimento de capacidades que lhe permitam, aprender a aprender, adaptar-se com flexibilidade às novas condições de ocupação, de aprimorar-se como pessoa humana, desenvolvendo pensamento crítico e autônomo e compreender os fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. “Após receber essas informações iniciais, pare e pense. Por favor, feche os seus olhos e recorde os textos lidos. Tente ir passando as páginas mentalmente, numa leitura silenciosa e detalhada. Faça um esforço, tenho certeza de que consegue, pois não adianta dar sequência se o processo de assimilação estiver incompleto. Esse curso tem o intuito de lhe auxiliar a construir seu conhecimento, forme conceitos arrojados e bem fundamentados, por meio do exercício de muita leitura. O passo inicial neste processo é avaliar e interpretar pelo menos os principais documentos relacionados à educação. Ao longo deste curso você terá acesso a eles. Devemos considerar, ainda, aqueles indivíduos, cidadãos que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria. Nesse caso temos a modalidade de Educação de Jovens e Adultos – EJA, que é uma oportunidade educacional que leva em consideração suas características e interesses, bem como, a condição de vida de trabalho, desta população. Educação Profissional Outro viés do sistema educacional que devemos considerar, é o da Educação Profissional - EP. Essa modalidade deve estar integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, deve conduzirao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. A Educação Profissional, considerada como educação, é muito recente e ganhou um capítulo só para ela na LDB. Ela possui três vertentes: Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores, que é de livre oferta em cursos de curta duração, atende às necessidades de capacitação, atualização e qualificação profissional. Técnico de Nível Médio são cursos que requerem aprovação do Conselho Estadual de Educação, possui uma legislação própria, com duração mínima de 800 horas. Essa modalidade garante-lhe uma profissão. E o Tecnólogo, que é curso superior com as mesmas prerrogativas dos cursos acadêmicos, porém de menor duração. São cursos focados num campo do saber. Por exemplo, temos o Engenharia Civil, curso acadêmico de 5 anos; no caso de um curso de tecnologia, podemos ter Engenharia de Pontes, com 3 anos. Podemos então, com o conhecimento já adquirido, fazer uma inferência: a Educação Básica deve promover a formação geral, para o exercício da cidadania, que aliada à Educação Profissional, busca a formação integral do cidadão, formando o indivíduo com base nos quatro pilares da educação: Saber-saber, Saber-ser, Saber-conviver, Saber-fazer. Nível Educação Superior, que dentre suas finalidades destacamos: o estímulo à criação cultural e ao desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, do incentivo ao trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, da criação e difusão da cultura e, desse modo, o entendimento do homem e do meio em que vive. Temos também a modalidade da Educação Especial e Indígena, a primeira destinada aos portadores de necessidades especiais, cidadãos que têm direito a todas as prerrogativas analisadas nas modalidades anteriores. A Segunda em respeito ao ethos das culturas anteriores a nossa. Consubstanciando assim, nosso compromisso, dever ético-moral e cívico para com as minorias. Finalmente, a modalidade de Educação a Distância, é a modalidade que está lhe propiciando esta oportunidade de ter uma profissão de nível técnico. Com a EaD, no conforto e comodidade do seu lar, ou de outro espaço qualquer, você pode estudar, atualizar seus conhecimentos, obter capacitação e qualificação para o mundo do trabalho. A Educação a distância tem como ferramentas mediadoras do processo de ensinar e aprender, diversas tecnologias, desde as mais tradicionais, como este curso, passando pelas novas tecnologias, o computador, a Internet, as diversas mídias disponibilizadas. 1.6 Políticas públicas: o que é isso? Você já ouviu uma música chamada “Construir a manhã desejada”, do Gonzaguinha? Ela é bastante conhecida e tem o seguinte trecho: “Eu acredito é na rapaziada que segue em frente, e segura o rojão, eu ponho fé...”. E você, constrói o seu amanhã? Você já parou para pensar em quem constrói o amanhã do nosso país? Parte desse compromisso é dos nossos governantes, que traçam as políticas públicas que direcionam o nosso país. Vamos lá? Quando falamos sobre educação torna-se necessário entender as políticas que a sustentam. Para se compreender o que é política vamos retornar à Grécia Antiga e verificar o que Aristóteles disse: Em todas as ciências e em todas as artes, o alvo é o bem; e o maior dos bens acha-se principalmente naquela dentre todas as ciências que é a mais elevada: essa ciência é a Política e o bem da justiça é a política, isto é a utilidade geral [...] A partir dessa premissa vamos conceituar política como a forma dos indivíduos manterem relações entre si, ou seja, são intenções materializadas em forma de ações que foram estabelecidas para atender às necessidades coletivas. Por exemplo: as políticas educacionais, que permitem que os cidadãos tenham direito de acesso à educação. Podemos conceituar políticas públicas como um conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa a dar conta de determinada demanda, em diversas áreas, e expressa tranformação daquilo que é do âmbito privado em ações coletivas no espaço público (GUARESCHI et al. 2004, p.180). Exemplo: SUS (Sistema Único de Saúde) que garante o atendimento médico gratuito para todos os cidadãos. Segundo Cunha e Cunha (2002) as políticas públicas são as ações empreendidas pelo Estado para efetivar as prescrições constitucionais sobre as necessidades da sociedade em termos de distribuição e redistribuição das riquezas, dos bens e serviços sociais no âmbito federal, estadual e municipal. São políticas de economia, educação, saúde , meio ambiente, ciência e tecnologia, trabalho, etc. Ainda na visão dos mesmos autores: “As políticas públicas têm sido criadas como resposta do Estado às demandas que emergem da sociedade e do seu próprio interior, sendo a expressão do compromisso público de atuação numa determinada área à longo prazo” (CUNHA & CUNHA, 2002, p.12). Sua construção obedece a um conjunto de prioridades, princípios, objetivos, normas e diretrizes bem definidas. Torna-se necessário compreender que numa sociedade de conflitos e interesses de classe, elas são o resultado do jogo de poder determinado por leis, normas, métodos e conteúdos que são produzidos pela interação de agentes de pressão que disputam o Estado. Estes agentes são os políticos, os partidos políticos, os empresários, os sindicatos, as organizações sociais e civis, os quais representam os cidadãos. Severino (2006), ao falar sobre as políticas públicas comenta que a existência de políticas é o mínimo que se exige para a implantação de ações, mesmo que se possa discordar de alguns de seus pontos e aspectos, é imprescindível a sua existência como norma, roteiro e referência para o sistema de educação brasileiro. Portanto, estabelecer políticas públicas educacionais implica atender a todos os níveis e modalidades da educação, de forma a garantir a continuidade da educação do País, do Estado ou do Município. Como exemplo, podemos citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394 de 1996, que estabelece os princípios e as finalidades da educação brasileira. Outro exemplo é o FUNDEB (Fundo de Manutenção da Educação Básica e valorização do Magistério). Esse fundo garante investimentos em todos os níveis da educação básica, da educação infantil ao ensino médio. E ainda, outro exemplo são as políticas públicas para a infância e juventude: do direito de ser criança e da construção da cidadania. No contexto da educação, desde a década de 1980 as políticas públicas educacionais têm sido guiadas pelo princípio da descentralização e da municipalização como forma de aproximar o planejamento e os resultados de seus maiores interessados – a população. Busca-se, dessa forma, atender aos desejos de educadores que almejam a descentralização da gestão da educação no Brasil, assunto este recorrente ao longo de décadas e que tem estado presente nas lutas frequentes dos movimentos municipalistas, em seus esforços históricos para superar a herança colonial da centralização do poder e das decisões na administração pública brasileira, assim como para desenvolver a confiança na competência do poder local para o gerenciamento de suas políticas públicas sociais. Como exemplo de descentralização, podemos citar a municipalização da educação infantil e também o princípio da gestão democrática nas escolas, com eleições diretas para diretores. Lembre-se, a educação é um direito fundamental, universal e inalienável. É dever do Estado implementar políticas públicas capazes de garantir sua qualidade social, bem como o acesso e permanência de todos; construindo formas de participação direta, indireta e representativa, nas quais a sociedade civil possa atuar efetivamente na definição, gestão, execução e avaliação de políticas públicas educacionais. Mas não adianta implementar as políticas se não houver recursos para efetivá-las, torna-se necessário também que os governantes garantamprioridade de recursos financeiros para a educação pública, pois o compromisso com a qualidade é também compromisso financeiro com a educação. Enfim, cabe à sociedade exigir que o Estado efetive políticas públicas para a educação de qualidade, concebendo-a não como simples acesso às cadeiras escolares e sim como garantia ao conhecimento historicamente construído. Um exemplo que podemos dar, sobre a participação da sociedade na efetivação das políticas públicas, é a participação ativa nas reuniões da Conferência Nacional de Educação - CONAE. A CONAE foi criada para tematizar a educação escolar, da educação infantil à pós- graduação, e realizada em diferentes territórios e espaços institucionais em nosso país. Estudantes, pais, profissionais da educação, gestores, agentes públicos e sociedade civil organizada de modo geral, terão em suas mãos a oportunidade de conferir os rumos da educação brasileira. Como exemplo de política educacional temos a política pública da inclusão, a de alfabetização de jovens e adultos, enfim, são as políticas públicas que garantem o acesso à educação. Conceitos importantes: 1. Política - forma dos indivíduos manterem relações entre si; um conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais. 2. Políticas públicas - ações empreendidas pelo Estado para efetivar as prescrições constitucionais sobre as necessidades da sociedade em termos de distribuição e redistribuição das riquezas, dos bens e serviços sociais no âmbito federal, estadual e municipal. 3. Políticas educacionais - visam garantir a continuidade da educação do País, do Estado ou do Município, de forma a atender a todos os níveis e modalidades da educação. 4. Década de 80 - políticas públicas educacionais têm sido guiadas pelo princípio da descentralização e da municipalização. 5. Educação - direito fundamental, universal e inalienável. 6. Conferência Nacional de Educação (CONAE) - espaço democrático aberto pelo Poder Público para que todos possam participar do desenvolvimento da Educação Nacional. 1.7 Princípios e fins fundamentais do sistema educacional Você sabia que o acesso à escola pública é um direito constitucional? Se não, agora você poderá refletir um pouco sobre isso e utilizar essa informação no seu ambiente profissional. Para entendermos os fundamentos e os objetivos do Estado democrático de direito preconizados pela Constituição da República Federativa do Brasil e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 9.394/96, veremos como são abordadas a perspectiva do direito à educação e os vínculos com os princípios e as finalidades da educação nacional. Primeiro vamos entender o que é Estado democrático de direito. O Estado de Direito atua como um meio de ordenação racional, com regras e normas, ou seja, é a estrutura jurídica e política, na qual os direitos sociais e trabalhistas são tratados como direitos fundamentais. No Brasil a Lei maior está representada pela Constituição Federal, que no artigo 205 determina que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Sendo assim, constitui dever da família, da sociedade e do Estado promover a formação humana, como por exemplo a família, que deve colocar o filho na escola, e cabe ao Estado ofertar vagas nas escolas públicas para que as famílias possam matricular seus filhos. A Constituição determina ainda a obrigatoriedade do ensino fundamental, com oito anos de duração, sendo que atualmente essa obrigatoriedade passou a ser de nove anos, com o ingresso do aluno no ensino fundamental a partir dos seis anos de idade. Em relação à educação, os direitos estão preconizados, tanto na Constituição Federal quanto na LDB 9394/96, que em seu primeiro artigo trata da abrangência dos processos de formação da educação. Para isso estabelece que a educação abranja os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Ou seja, a escola não é a única responsável pela educação. Estão previstos tanto na Constituição Federal quanto na LDB, os Princípios e as Finalidades da Educação, válidos para o sistema educacional. Vale ressaltar que o princípio da gratuidade foi ampliado para o ensino médio, anteriormente exceção e declarando expressamente a gratuidade do ensino superior, em estabelecimentos oficiais. De acordo com o artigo 3° da Lei n°. 9394/96, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. Para complementar os princípios da educação foram traçadas também as finalidades da educação. É importante ressaltar que em educação, as finalidades não têm fim no sentido de término, mas sim estão direcionadas num único sentido ou orientação. Podemos assim afirmar que tem uma finalidade, fazendo-se presente em cada ato ou em cada instante, encaminhando o processo em crescimento contínuo. Observe quais são essas finalidades: Pleno desenvolvimento do educando : a partir do momento em que a pessoa pode se desenvolver plenamente é que tem condições de se sentir realizada. Preparo para o exercício da cidadania: é preciso que todo cidadão tenha seus direitos respeitados e seja cumpridor de seus deveres. Qualificação para o trabalho: é necessário que as escolas ofereçam condições de aprendizagem adequadas às atividades empreendedoras das regiões em que se localizam, vinculando a educação escolar ao trabalho e às práticas sociais, garantindo a valorização de experiências extra-escolar. Portanto, estabelecer políticas públicas educacionais implica pensar na educação como um todo, garantindo a continuidade da formação em todos os níveis. Exemplo disso são os cursos profissionalizantes e os cursos superiores, os quais devem promover as qualificações necessárias para o mundo do trabalho. Conceitos importantes 1. Estado democrático de direito atua como um meio de ordenação racional, com regras, formas e procedimentos que excluem o arbítrio e a prepotência, em busca da efetiva concretização da igualdade social. 2. A Constituição Federal, a qual em seu artigo 205 determina que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família”. 3. Obrigatoriedade do ensino fundamental com nove anos, oportunizando o ingresso do aluno no ensino fundamental a partir dos seis anos de idade. 4. Os Princípios e Finalidades da Educação são: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos da rede pública; gestão democrática do ensino público, na forma da lei; garantia de padrão de qualidade e piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. 5. Finalidadesda Educação: pleno desenvolvimento do educando; preparo para o exercício da cidadania; qualificação para o trabalho. Referência: Brasil. LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. MEC: Brasília, 1996. 1.8 Gestão democrática x estrutura hierárquica nas escolas e os órgãos colegiados A Gestão Democrática acontece quando a escola “ouve” a opinião de seus clientes internos (funcionários) e externos (pais e alunos) no sentido de estabelecer propostas pedagógicas e administrativas que atendam às necessidades e anseios dessa comunidade. Está alicerçada em argumentos legais (LDB, PNE) e se estabelece através da constituição de órgãos colegiados, responsáveis por deliberações coletivas que são formalizadas em documentos institucionais próprios (Projeto Político Pedagógico (PPP), Regimento Escolar Interno, Instruções Normativas). Podemos considerar como clientes internos, todo corpo de servidores que trabalham na unidade escolar. Os clientes externos são representados pela comunidade (pais, alunos, vizinhos), que podem organizar-se na forma de órgãos colegiados e participar ativamente das ações desenvolvidas no âmbito escolar. Vamos então saber um pouco mais sobre a hierarquia escolar, os órgãos colegiados e as ações que concretizam a prática da democracia na escola. Estrutura organizacional básica de uma escola Em todas as empresas, sejam elas públicas ou privadas, existe uma organização na relação de poderes, responsabilidades e atribuições, que determina a estrutura da hierarquia funcional existente, ou seja, as relações de chefia e subordinação entre as funções e os departamentos que compõem uma instituição. Segue abaixo uma ilustração hierárquica em tabela que é aplicado na maioria das escolas: Tabela 1 - Hierarquia nas escolas Conselho escolar Direção Setor administrativo: · Secretaria escolar; · Serviços de zeladoria, limpeza e segurança; · Multimeios (biblioteca, laboratórios, videoteca, etc). Corpo docente: professores Alunos: Grêmio estudantil Pais e comunidade - APC Setor pedagógico: · Conselho de classe; · Coordenação pedagógica; · Orientação pedagógica. Observe que nessa organização constam, além dos servidores, os órgãos colegiados que fazem parte das rotinas escolares. Vamos então saber um pouco mais sobre eles. Conselho Escolar Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: (...) II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (LDB. 9394/96) Os conselhos escolares são colegiados formados por representantes dos seguintes segmentos: pais, alunos, professores, funcionários, membros da comunidade e diretor, sendo dever da escola estabelecer critérios transparentes para a candidatura e eleição dos mesmos. Apresenta caráter deliberativo, consultivo, normativo e fiscalizador, apresentando como principais atribuições: · sugerir, avaliar e aprovar o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar; · acompanhar o planejamento da aplicação de recursos financeiros; · fiscalizar a aplicação dos recursos e a efetivação do Projeto Pedagógico. A participação em Conselho Escolar é uma atividade voluntária e não remunerada. Geralmente, acontecem reuniões periódicas a fim de dar sequência às atividades propostas e deliberar sobre assuntos de interesse coletivo. Para a tomada de decisão é considerado no mínimo metade mais um dos votos dos presentes na reunião. O mandato do Conselho Escolar é válido por um ano, podendo ser reconduzido por mais um. Então, futuro profissional em Multimeios Didáticos, você sabia da existência e relevância desse órgão colegiado? Conselho de Classe O Conselho de Classe é um órgão colegiado composto pelos professores, coordenadores, supervisores pedagógicos e direção, sendo opcional a participação de pais e alunos. As reuniões geralmente são previstas no calendário escolar, e acontecem bimestralmente, com o objetivo de discutir o desempenho dos alunos, refletindo conjuntamente sobre práticas pedagógicas mais eficazes para atingir o desenvolvimento dos discentes. Assim, em escolas onde a Gestão é Democrática, durante os conselhos de classe, os membros participantes fazem uma análise e discutem, de forma conjunta, os melhores caminhos a serem seguidos a fim de promover a aprendizagem dos alunos, apontando as falhas cometidas durante o bimestre que se encerrou e as novas propostas de ações a serem desenvolvidas, dentro dos diferentes setores que compõem o organograma escolar. Grêmio Estudantil O Grêmio Estudantil é uma organização constituída e eleita por alunos de uma mesma instituição de ensino, que tem como missão representar os interesses dos estudantes em atividades de caráter educativo, cultural, social e esportivo. É uma forma de inserção do estudante em ações de representatividade do grupo, despertando-os para uma consciência da importância do exercício da cidadania e da luta pela conquista dos interesses individuais e coletivos. Você já participou de algum desses órgãos colegiados? Essa é uma oportunidade de manifestar suas ideias e vontades no lugar onde você trabalha e/ou estuda. Claro, que sempre de forma muito ética e educada acima de tudo, não é mesmo? 1.9 Documentos institucionais Projeto Político Pedagógico (PPP) O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola é um documento no qual são descritos os princípios norteadores das ações de cunho pedagógico, social e administrativo desenvolvidos na escola. Portanto, para sua concepção, é necessário que “a escola” tenha consciência da realidade política, cultural e social na qual está inserida, para que a partir de sua identidade, possa reconhecer sua missão, estabelecer metas e traçar estratégias de curto, médio e longo prazo. Ele é um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito, quando, de que maneira, por quem para chegar a que resultados. Além disso, explicita uma filosofia e harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento à responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Esta ideia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, daí a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente. (VEIGA, 2001, p.110). Sua elaboração deve ocorrer de forma coletiva, a partir de reflexões e discussões entre direção, coordenação, professores, demais servidores, alunos, pais e representantes da comunidade, para que seja efetivamente um instrumento democrático e relevante para todos os envolvidos, evitando-se assim, a centralização de ideias, poderes e interesses. Regimento Escolar/ Interno Você já observou que na maioria dos lugares aonde vamos, existem normas específicas a serem seguidas? Pois é. Na escola não é diferente. Para que as relações ali estabelecidas se deem de forma padronizada e legal, é necessário que haja um documento que normatize as atribuições de cada cargo/ função, dos direitos, deveres e penalidades em casos de infrações. Esse documento chama-se Regimento Escolar. Seu conteúdo deve guardar coerência com o expresso no Projeto Político Pedagógico, de modo a complementá-lo. Esse documento deve ser de conhecimento de todos os envolvidos na comunidade escolar. Todos devem ter ciência de suas atribuições e direitos, bem como das penalidades a que estão sujeitos em casos de infrações. Você, enquanto estudante sabia que esse documento existe? Será que sua divulgação nas escolas tem acontecido efetivamente? A existência desse documento por si só não significa a existência de uma gestão democrática. Seu sentido se dá no momento das deliberações envolvendo os diversos sujeitos da comunidade escolar (pais, alunos, funcionários) e no seu exercício dentro do cotidiano da escola. Nesta aula citamos que toda Escola possui dois documentos que orientam suas ações e normasde conduta, que são: Projeto Político Pedagógico, também conhecido como PPP, documento que orienta as ações pedagógicas a serem desenvolvidas no âmbito escolar, conforme a visão sócio-político- -pedagógica da Escola; e o Regimento Interno, documento que determina as responsabilidades, direitos e deveres dentro da Escola. Ambos os documentos, devem ser elaborados coletivamente, para garantir a democracia na Gestão Escolar. 1.10 Aspectos legais da gestão democrática Constituição Federal - C.F. 88 Você sabe o que significa “Constituição”? Constituição é um conjunto de leis/regras que orientam e organizam o funcionamento de uma instituição/Estado. Referindo-se a Estado, é a Lei máxima que define os direitos e deveres dos cidadãos, determinando também poderes atribuídos às esferas políticas. Por ser a Lei Maior, nenhuma outra pode ferir seu conteúdo. O mesmo pode sofrer apenas reformas ou emendas, exceto as cláusulas pétreas, cujos conteúdos não podem ser revogados. Em países democráticos, como o Brasil, sua elaboração se dá por uma Assembleia Constituinte, formada por representantes políticos do poder legislativo, eleitos pelo povo. A Atual Constituição Federal Brasileira foi promulgada em 1988. A referência à Educação é dada nos artigos 205 a 214, merecendo destaque o artigo 206, que diz: Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. (Constituição Federal/ 88) Veja, portanto, que já em 1988 é constitucionalizada a prática democrática nas escolas de ensino público, ou seja, é direito de todo cidadão participar nas tomadas de decisão das escolas públicas, defendendo seus direitos de permanência e acesso. É direito também do profissional do magistério receber a devida valorização por seu trabalho, na forma de um piso salarial digno. Outro documento de suma importância é o Estatuto da Criança e do Adolescente, apresentado a seguir. Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional - LDB 9.394/ 96 Já estudamos nos tópicos anteriores sobre a LDB, que determina as diretrizes da organização do sistema educacional brasileiro. Toda Instituição de Ensino deve agir em conformidade com os dispostos em seus artigos. Dentre os avanços apresentados estão: · o reconhecimento da educação Profissional como modalidade de ensino; · oficialização da Educação Infantil (creche e pré-escola) como a primeira etapa da Educação Básica; · obrigatoriedade e gratuidade do Ensino Fundamental; · destinação de 18% do orçamento da União e 25% do orçamento dos Estados e Municípios na manutenção e desenvolvimento da rede pública de ensino. Seu texto vem ao encontro do estabelecido na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente. A prática democrática na escola é evidenciada em especial nos artigos 14 e 15 que diz: Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. II. participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Art. 15 - Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público. ” ( LDB 9394/ 96) Ou seja, é garantido, na forma de Lei, a participação de funcionários e comunidade na elaboração do Projeto Político Pedagógico da Escola, que conforme o que já estudamos, é o documento que determina as ações, projetos e práticas pedagógicas a serem implementados pela escola. Plano Nacional de Educação - PNE 10.172/01 O PNE é um Projeto Federal do Ministério da Educação (MEC), fundamentado na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que visa à melhoria da qualidade do ensino no país, e o aumento do índice de conclusão da Educação Básica entre os brasileiros. O Projeto virou lei e foi sancionada em 9 de janeiro de 2001, sendo obrigatório o cumprimento de suas metas até o final desta década. A execução das ações fica a cargo dos governos federal, estadual e municipal, e sua coordenação, a cargo do MEC. Como embasamento para a gestão democrática você pôde observar que existem diversas Leis. Tais leis orientam os gestores e até mesmo o cidadão a realizarem um trabalho com políticas públicas efetivas e de interesse de toda a sociedade. 1.12 Finalidades da escola Em seu Título II, art. 2º, que trata dos Princípios e Fins da Educação Nacional, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB 9.394, de dezembro de 1.996 diz que: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. O que significa “pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”? Desenvolvendo conhecimentos e técnicas Vamos agora abordar uma das finalidades da educação escolar que é o desenvolvimento do conhecimento científico, entendido como aquele permeado pelo currículo escolar, seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais. São os estudos da Língua Portuguesa, da Matemática, da História, Geografia, Ciências, etc. Essa finalidade se cumpre especialmente em sala de aula, com a mediação do Professor. É ele quem vai possibilitar ao aluno condições de assimilar novos conhecimentos, ampliando sua visão de mundo. E, para que isso ocorra, é necessário que seja dado à “matéria” algum sentido, alguma aplicação no cotidiano. Então, muitas vezes o professor precisa desenvolver suas aulas em ambientes inusitados, contando assim, com a colaboração de seus colegas dentro da escola. Nesse momento, uma agente de merenda pode tornar-se professora no instante em que ajuda o professor em uma aula que aconteça na cantina por exemplo. A bibliotecária pode ajudar o professor a orientar seus alunos em aulas de pesquisa que podem acontecer na biblioteca. O professor precisa ter a liberdade de usufruir de todos os espaços escolares e encontrar em cada um, o apoio necessário de seus colegas de trabalho, para que a formação de seu aluno seja garantida com maior eficiência e eficácia. Desenvolvendo a compreensão cultural O Brasil é o país das diferenças. No nosso cotidiano, convivemos com pessoas de diferentes traços: brancos, albinos, pardos, morenos, negros, descendentes de japoneses, chineses, mexicanos, judeus, católicos, protestantes, “emos”, góticos, ricos, pobres, dentre outras diversidades que a sociedade nos apresenta. A escola é um dos cenários dessas diferenças e faz parte do patrimônio histórico do nosso país. Portanto, a compreensão dos fatores históricos, político e social possibilitarão o desenvolvimento da compreensão cultural do educando. À medida que essa compreensão se desenvolve, minimizam-se os problemas de preconceitos e da ocorrência do fenômeno “bullying”, que compreende comportamentos agressivos entre alunos, de forma intencional e repetitiva, muitas vezes sem motivo aparente, causando traumas e transtornos às suas vítimas e familiares. Para que a formação cultural se dê de forma mais significativa, énecessário que além da compreensão da diversidade étnica e cultural, seja promovido também o acesso a alguns movimentos e/ou eventos culturais. Como exemplo, podemos citar passeios a museus, para que o aluno vivencie, por alguns instantes, a evolução da história do seu município, estado, país. O conhecimento do passado ajuda na compreensão do momento presente. Outra forma de possibilitar o referido acesso é levar os alunos a assistirem e até mesmo promover, peças de teatro (com roteiros contextualizados), exposições artísticas. A todo instante, o professor em sala de aula ou durante os passeios culturais, deve estimular a prática reflexiva de seus alunos, levando-os a ver além das peças dos museus, da atuação dos atores no palco. Que eles tenham condições de compreender o processo e o contexto no qual o que se vê foi desenvolvido. É dever de todo funcionário da escola respeitar a diversidade, seja ela de caráter étnico, social, político, religioso. Respeitar não significa aderir a movimentos ou conformar-se com a pobreza ou violência que nos rodeia. É lançar um olhar crítico sobre os fatos, mantendo conduta ética e oferecendo apoio quando possível e necessário. Tipos de finalidade Finalidade política da escola No dia a dia da escola são desenvolvidas inúmeras atividades, sendo muitas delas de cunho socializador. São campeonatos esportivos, gincanas, reuniões pedagógicas, festas temáticas, ou mesmo de socialização dentro da própria sala de aula, como por exemplo, trabalhos em grupo, dramatizações. Nesses instantes, o aluno desenvolve sua capacidade de se comunicar, de interagir, e nessa interação aprende novas coisas, assimila hábitos, compartilha opiniões, cresce verdadeiramente. Por esse motivo, deve ser dada atenção redobrada para que os “mais tímidos” possam interagir também, ao seu tempo, à sua maneira, sem, contudo, isolar-se. Professores e funcionários devem deixar todos à vontade, evitando expressões constrangedoras do tipo “o gato comeu sua língua? ”, “nossa, ele é tão caladinho, tristinho...”. Ao contrário, devem incentivá-lo a participar das atividades, com frases do tipo “esse aqui faz lindos desenhos, então ele fica com essa parte do trabalho”, “venha ver como se faz, chegue mais perto”, frases que comuniquem algo positivo, que evoquem a participação do aluno de forma discreta. Construindo normas e valores Seja qual for o lugar por onde passarmos, sempre haverá regras específicas a se cumprir. Mesmo que seja uma temporada na casa de um amigo, a boa educação nos diz que devemos nos adequar às normas da casa, seus horários, ajudar na manutenção da limpeza da casa, não é verdade? Pois é, na escola não pode ser diferente. Alunos e funcionários devem saber que a escola possui uma “lei interna” chamada Regimento Interno, que é um documento de valor legal, no qual são designadas as atribuições, direitos, transgressões e penalidades de cada um no âmbito escolar. Devem saber que comportamentos inadequados, independente do nível hierárquico de quem os cometeu, são passíveis de punição, respaldadas pelo Regimento Interno. Você certamente já ouviu falar que “um exemplo educa mais que mil palavras”. E isso é fato! De nada adianta o professor dar uma excelente aula sobre ética, e no intervalo “furar” a fila para comprar o lanche. Um funcionário que agride verbalmente um colega ou aluno está estimulando a violência. Portanto, se a escola é um lugar que se transmite normas e valores, devemos estar atentos à nossa conduta, pois somos espelhos vistos o tempo todo. Precisamos estar aptos a educar através dos nossos exemplos, pois eles repercutirão na história de alguém. Promovendo o exercício da cidadania Para iniciarmos nosso diálogo sobre o exercício da cidadania na escola, vamos estudar e refletir sobre o conceito da palavra cidadão. Portanto, para que o indivíduo exerça plenamente sua cidadania, é necessário que ele tenha consciência dos seus direitos. Participar de votação para eleição de diretor, grêmio estudantil, representante de classe, não são “obrigações”, pelo contrário, são direitos. No momento do voto, o sujeito está exercendo sua cidadania. Está escolhendo aquele no qual ele acredita que será seu melhor representante. Um cadeirante ao entrar num recinto com adequações necessárias, está exercendo sua cidadania, ou seja, está gozando dos seus direitos civis. Para estimular o exercício da cidadania é preciso também estimular alguns hábitos, tais como: · Buscar o conhecimento dos direitos individuais e coletivos, sejam eles regidos por legislações de nível federal, estadual, municipal ou mesmo institucional. · Ler todo documento antes de assiná-lo, e em casos de desacordo, buscar uma discussão amigável. · Participar das votações de forma consciente, ou seja, sabendo a relevância do direito de escolha que o voto garante e das qualidades do candidato escolhido. · Candidatar-se, quando achar que apresenta as condições específicas à função pleiteada. · Ter a consciência de que “o direito de um termina quando começa o do outro”. Ou seja, saber respeitar os direitos dos demais. Esses hábitos devem ser praticados por todos os cidadãos, dentro e fora da escola. Seja ele professor, diretor, aluno, secretário, porteiro, merendeira, voluntário. Finalidade de formação profissional Formação do indivíduo para o mundo do trabalho e o desenvolvimento de competências “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. ” Art. 1º, § 2º, LDB. Há Décadas atrás, preparar um indivíduo para o mercado de trabalho seria fornecer subsídios teóricos relativos à pretensa área de atuação. Atualmente, além de garantir a aprendizagem dos conceitos e técnicas é necessário oferecer incentivo ao desenvolvimento de alguns tipos de conduta, tais como: · Apresentação pessoal adequada, evidenciada em roupas discretas, limpas e bem passadas. Esse item geralmente é cobrado pelas escolas através do uso de uniformes, etc. · Boa comunicação verbal. No momento de uma entrevista de emprego um dos critérios observados é a comunicação, especialmente a verbal. Portanto, as escolas têm papel fundamental na formação do educando no que tange esse fator. Todos os professores devem estar atentos à comunicação de seus alunos, cobrando e ensinado a eles uma comunicação clara, coerente e gramaticalmente correta. · Pró-Atividade. É a busca pela solução de um problema, antes de ser solicitado. Significa iniciativa, antecipação aos problemas. É o aluno que oferece ajuda aos colegas na resolução de exercícios é o funcionário que vai além do que lhe é mandado. Em sala de aula pode ser incentivado o sistema de monitoria, ou seja, aos alunos que apresentarem maior afinidade com certos conteúdos, podem ajudar seus colegas durante as aulas esclarecendo suas dúvidas. · Autoconfiança. A autoconfiança é resultado do autoconhecimento. Todos nós temos pontos fracos e pontos fortes. O autoconhecimento permite explorarmos o nosso potencial e buscar o desenvolvimento daquilo que é falho. Geralmente, as pessoas autoconfiantes apresentam maior poder de convencimento e de liderança, características apreciadas pelos empregadores. · Flexibilidade. É a capacidade de adaptar-se às circunstâncias e à diversidade de opiniões. Pode ser também a capacidade de atuar em diversos setores de uma organização, atendendo às necessidades do momento. Por exemplo, um professor que auxilia na limpeza da escola, um porteiro que ajuda a servir a merenda. · Bom relacionamento interpessoal. É aplicar no dia a dia os princípios básicos da boa educação, estabelecer contatos respeitando as diferenças. É um fator que pode ser observado e exercitado na escola, uma vez que é um local onde a convivência com inúmeras pessoas é diária. · Espírito de equipe. É pensar no coletivo, compartilhar informações, demonstrar interesse em cooperar, é priorizar o bem comum em detrimento de interesses particulares. Os trabalhos em grupo, prática de esportes, organização de eventos, são oportunidades que a escola apresenta ao aluno de desenvolver o seuespírito de equipe. Ao observar os itens citados acima, você pode se auto avaliar e avaliar seus colegas de profissão. Quais quesitos você enxerga em si? Quais acha que falta e precisa aprimorar? Pense nisso. Finalidade humanística Desenvolvimento da responsabilidade ambiental e social Um grande legado que as escolas podem deixar aos seus alunos, e consequentemente ao planeta, é uma consciência social e ambiental bem desenvolvida. O sujeito bem-educado ambientalmente adota no seu dia a dia, práticas de cuidados com o meio ambiente, e essa é uma semente que se espalha por onde ele passa. Esses hábitos serão repassados aos seus familiares, grupos de amigos, ambiente de trabalho. São alguns hábitos de sujeitos bem-educados ambientalmente, e que devem ser praticados e estimulados na educação escolar: · Jogar o lixo nas lixeiras; · Não jogar óleo pelos ralos da pia, reservando-os para o seu reaproveitamento, que pode ser fabricação de sabão ou biodiesel; · Separar o lixo reciclável para seu aproveitamento por usinas ou cooperativas de reciclagem; · Não pisar nas plantações e jardins; · Não desperdiçar água; E quanto à responsabilidade social? Quais são as características de um sujeito que apresenta uma consciência social bem desenvolvida? É possível a escola trabalhar esse aspecto com o aluno? Sim, a escola tem inúmeras possibilidades de despertar a responsabilidade social no aluno. Um exemplo que pode ser praticado é a realização de campanhas solidárias para entrega de cestas básicas às comunidades mais carentes, com a efetiva participação do aluno em todo o processo, desde a arrecadação até a entrega. Um outro exemplo é incentivar os alunos que apresentam habilidades artísticas, esportivas, musicais, a compartilharem seus conhecimentos com outras pessoas, através da realização de trabalhos voluntários, que podem acontecer aos finais de semana, nas “escolas abertas”. Certamente, ao perceber que apresenta a capacidade de melhorar a realidade à sua volta, esse aluno será mais comprometido com as questões de cunho social. Promoção do desenvolvimento integral do educando Vamos agora refletir sobre o desenvolvimento do aluno, não na perspectiva da sociedade, do meio ambiente ou do mundo do trabalho. Vamos refletir sob a perspectiva dos anseios e necessidades pessoais do educando. A figura acima ilustra a transformação interior pela qual o indivíduo passa no decorrer dos seus anos escolares. A convivência diária com outros estudantes, professores e demais funcionários deixam um legado na história do aluno. Ao findar um ano de estudo em uma escola comprometida com a formação integral do indivíduo, o aluno terá participado de palestras educativas, momentos de confraternização e comemoração de datas especiais, assembleias, discussões extra e interclasses, campeonatos esportivos, projetos educativos. A aprendizagem contínua e cumulativa permite ao educando a progressão em estudos posteriores e a conquista de maiores espaços na sociedade. Com o passar do tempo, ele descobre-se e redescobre-se, supera desafios e limitações, aperfeiçoa aptidões, aprende a viver e conviver. 1.13 Espaço escolar No Brasil, as unidades escolares devem oferecer uma estrutura mínima de funcionamento. Essa estrutura segue a perspectiva divulgada no Guia de Consulta do FUNDESCOLA/ Ministério da Educação (MEC), no qual é relacionado um conjunto de fatores que permitem a oferta dos serviços essenciais para que o processo ensino-aprendizagem ocorra de forma adequada. Tais diretrizes visam também o estabelecimento de padrões mínimos nacionais, servindo de subsídio para a redução de desigualdades existentes entre as escolas. Infelizmente, ainda nos dias atuais nos deparamos com matérias jornalísticas relatando péssimas condições de algumas escolas, muitas vezes pela falta de uma gestão política responsável, outras, pela ação vândala dos usuários desses espaços: a população. Exemplo disso, aconteceu um tempo atrás quando um telejornal exibiu uma reportagem ilustrando a importância da merenda na redução do índice de evasão escolar através do exemplo de um cidadão. Porém, outro fator mereceu destaque: o espaço escolar. Mas o que seria o espaço escolar? Poderíamos dizer que o espaço seria o ambiente onde o grupo escolar se encontra. Segundo Vidal Didonet, entende-se por AMBIENTE, o espaço físico criado e organizado para abrigar as mais diversas atividades de indivíduos e grupos. Portanto, os ambientes escolares são definidos como espaços organizados de forma a promover ações específicas, relativas às funções escolares, que por sua vez, viabilizam a oferta de serviços diretos e indiretos no âmbito escolar É direito de todo cidadão receber educação, em espaços que lhe garantam segurança, dignidade, e acima de tudo, que favoreçam a aprendizagem. Pensemos agora, numa estrutura básica que garanta aos alunos, professores e demais funcionários, condições plenas de trabalho e aprendizagem. Sim, apenas o básico. Existem escolas que ultrapassam nossas expectativas em relação à estrutura física e tecnológica, em sua maioria, escolas privadas. Mas, temos também, em alguns casos, escolas púbicas bem gerenciadas, que apresentam características de qualidade um pouco incomuns. De acordo com o Guia de Consulta do FUNDESCOLA/ Ministério da Educação (MEC) uma escola deve conter minimamente: Sala de aula Espaço físico destinado ao desenvolvimento de aulas regulares referentes aos Parâmetros Curriculares Nacionais; aulas de reforço e recuperação, entre outras. Recomendações - reservar uma área mínima de 1,20m2 por aluno; - as portas devem ter vão livre de pelo menos 0.90cm; - iluminação com duas lâmpadas fluorescentes no mínimo; - mesas e cadeiras adequadas à estatura física dos alunos; - é obrigatória a ventilação cruzada; - faz-se obrigatório o uso de laje ou forro; - escolher mobiliário que favoreça diferentes arranjos, conforme a necessidade de uso; - garantir conforto térmico, acústico e luminoso; - utilizar cores claras nas paredes. - são indispensáveis lousa (quadro negro ou lousa magnética) e mural de avisos; Biblioteca / sala de leitura Local onde é armazenado o acervo bibliográfico, mídias digitais, fitas de vídeo, etc. São adequadas para as atividades de leitura, pesquisa e produção de trabalhos por alunos, professores e comunidade. Pode também ser utilizada como ambiente de reprodução de vídeos e pesquisas via internet. Recomendações - esse espaço deve possibilitar a instalação de recursos multimeios para aplicação no processo didático-pedagógico; - os espaços e mobiliários devem garantir a guarda organizada e locomoção segura do material impresso e dos equipamentos; - recomenda-se temperatura máxima de 240C; - deve ser instalada tomada de energia elétrica de três pinos, para cada conjunto de computadores e seus periféricos; - a quantidade de computadores varia em função dos recursos e do tamanho do ambiente; - os armários e estantes podem ser utilizados para a variação dos arranjos do espaço. Salas da administração/ apoio pedagógico São os ambientes que compreendem a sala de direção, coordenação, secretaria, sala dos professores. São espaços destinados ao atendimento pedagógico, administrativo e planejamento de ações pedagógicas e administrativas. Recomendações - as portas devem ter vão livre de pelo menos 0.90m; - iluminação com duas lâmpadas fluorescentes no mínimo; - faz-se obrigatório o uso de laje ou forro; - garantir conforto térmico, acústico e luminoso; - utilizar cores claras nas paredes. Cantina / cozinha Lugar reservado à guarda, higienização, manipulação, cozimento e distribuição de alimentos e utensílios. Recomendações - devem ser consideradas as condições especiais de higiene para promover estocagem e manipulação dos alimentos de forma adequada; - deve ser instalada no mínimo uma pia com torneira; - a canalização das pias deve ser distinta em relação aos sanitários; - instalação de exaustores sobre os fogões; - as tubulações de gás devem ser de cobre; - manter próximo a área de trabalho, recipientes para coleta de lixosrecicláveis; Laboratório de Informática Nem todas as escolas possuem esse espaço, mas nele são desenvolvidas, de forma didática, atividades de pesquisa em grupos, via internet, além da utilização dos computadores e seus periféricos para elaboração de trabalhos. Aqui também podem ser guardadas mídias digitais de programas. Recomendações - as tomadas de energia elétrica devem ser de três pinos, aterradas, em circuito próprio para utilização de equipamentos de informática; - as portas devem ter vão livre de pelo menos 0.90m; - recomenda-se iluminação com duas lâmpadas fluorescentes no mínimo; - faz-se obrigatório o uso de laje ou forro; - recomenda-se ventilação cruzada; - a proteção dos equipamentos eletrônicos contra os raios solares pode ser realizada mediante instalação de cortinas persianas; - tapetes e forrações devem ser evitados; Sanitários e vestiários Esse local deve oferecer estrutura que permita a higiene pessoal de alunos, professores, funcionários no dia a dia, e comunidade em ocasiões de eventos festivos. Recomendações - os ralos devem ser do tipo sifonados; - deve haver um ramal de esgoto para cada três bacias; - o ideal é que haja uma bacia sanitária e um lavatório para cada 40 alunos por turno; - é obrigatória a existência de pelo menos um lavatório e uma bacia sanitária adaptados aos portadores de necessidades especiais; - recomenda-se colocar espelhos junto aos lavatórios. Almoxarifados/ depósitos Espaço destinado à guarda de materiais diversos, que pode ser dos tipos: de limpeza, pedagógico, esportivo, etc. Recomendações - as portas devem ter vão livre de pelo menos 0.80m; - iluminação com duas lâmpadas fluorescentes no mínimo; - faz-se obrigatório o uso de laje ou forro; - é obrigatória ventilação, devendo ser instaladas telas para proteção de entrada de insetos em todas as aberturas de ventilação. Pátio Local onde os alunos se reúnem antes e após as aulas, nos intervalos. Onde também ocorrem eventos sociais comemorativos e de lazer Recomendações - o espaço deve abrigar no mínimo todos os alunos de um turno; - deve estar localizado próximo a uma entrada/saída, sanitários e bebedouros; -pode ser utilizado como espaço para lanches. Nesse caso, recomenda-se proximidade a cozinha/cantina; - o piso deve ser de material antiderrapante, lavável e resistente ao tráfego intenso; - deve possuir caimento para águas pluviais, direcionadas a estruturas de captação das mesmas; - em casos de utilização do espaço como refeitório, devem ser instalados lavatórios. As funcionalidades dos ambientes escolares Ao ver os ambientes escolares descritos na aula anterior, você deve ter se perguntado: “E a quadra? O Laboratório de ciências? A sala de vídeo?”. Então perguntamos: quais espaços poderiam substituir esses ambientes? As atividades físicas não poderiam ser realizadas no pátio? Os experimentos de ciências não poderiam ser realizados em sala de aula, desde que previamente planejados e organizado o ambiente para tal atividade? Isso é o que podemos chamar de multifuncionalidade dos espaços escolares, tema desta segunda aula. Espaços multifuncionais Se lançarmos um olhar crítico e criativo sobre a escola, veremos que cada ambiente abriga uma gama de possibilidades que torna possível a realização de diversas atividades de naturezas diversas. O que é necessário, é um planejamento detalhado das atividades e um arranjo adequado do espaço através da utilização de recursos, insumos e mobiliários de forma a garantir o alcance dos objetivos almejados. Os espaços escolares podem ser explorados para tornar a aprendizagem mais significativa, ou seja, para aproximar o aluno do seu objeto de estudo, tornando a aula agradável, ilustrativa, prática, portanto, inesquecível. Imagine uma aula sobre alimentação saudável acontecendo na cantina da escola, onde os alunos vão aprender na prática a correta higienização dos alimentos, a composição e preparo de um cardápio saudável. Nesse mesmo espaço, podem ser ministradas aulas de ciências, nas quais os alunos deveriam observar as transformações químicas e físicas ocorridas com os alimentos durante o seu preparo. Pode ser também utilizado em aulas de geografia para o preparo de pratos típicos de diferentes regiões. Enfim, a cantina deixa de ser um mero espaço para a higienização e preparo dos alimentos e passa a ser um cenário da aprendizagem de diversos saberes aplicados à realidade do aluno. Contudo, para que isso ocorra de forma harmônica, sem comprometer a atividade essencial do espaço, é necessário um planejamento detalhado, levando em consideração aspectos tais como: quantidade de alunos, segurança, higiene, insumos, horário de execução, tempo de utilização do espaço, dentre outros, sendo recomendada a utilização de um cronograma de execução das atividades afixado próximo a entrada da cantina. Cabe ao educador descobrir em cada área da escola um espaço a ser descoberto sob uma nova perspectiva. Cenários de integração social Uma das finalidades da escola é promover a integração social do aluno, através de programações e atividades socializadoras com o público interno, que são os alunos e funcionários da escola, e o público externo, que é a comunidade. Na escola existem alguns espaços que permitem a realização de atividades dessa natureza. O pátio ou a quadra podem ser utilizados para abrigar eventos de confraternização, comemoração de datas específicas, campeonatos esportivos, assembleias de colegiados, entre outros. As áreas não construídas, podem transformar-se em jardins e/ou hortas, plantadas e cultivadas coletivamente entre pais e filhos, alunos e funcionários. Enfim, em cada ambiente da escola é possível oferecer serviços que envolvam indivíduos ou grupos. Depende da necessidade, intenção, planejamento, organização dos espaços e execução da proposta. Fazendo da escola um ambiente atraente e agradável Quem não gosta de lugares bonitos, organizados e confortáveis? No caso da escola, o fator conforto ambiental é de suma importância para a permanência e desempenho dos alunos, bem como dos professores e outros usuários. Investir na qualidade do ambiente escolar é investir no processo ensino-aprendizagem e na saúde dos usuários do espaço escolar. Nesta aula você verá alguns itens que devem ser observados na garantia do conforto no ambiente escolar. Vamos lá? A estética como convite ao estudo Diversos elementos contribuem para tornar um ambiente agradável. Assim também acontece com o ambiente escolar. Dentre muitos desses elementos, está a estética do local. Um prédio bem conservado, com cores adequadas, trazem bem-estar às pessoas que o frequentam. Veja abaixo algumas informações que coletamos para você a respeito desse assunto. O uso das cores As cores comunicam sensações. Por isso devem ser utilizadas de forma consciente do que se pretende despertar em cada ambiente, pois elas possuem o poder de interferir na mente das pessoas nos aspectos relacionados ao humor, satisfação, motivação, desempenho, além de reduzirem a fadiga visual e o índice de acidentes, sendo um fator aliado na conservação e limpeza. O arquiteto Fábio Rocha, no artigo “O trabalho das cores: a importância dos estímulos visuais nos ambientes empresariais”. Disponível em: http://www. administradores.com.br, apresenta alguns pontos a serem analisados durante o planejamento do uso das cores nos ambientes: Cores quentes (amarelo, vermelho e laranja) e/ou escuras dão a sensação de aproximação e aumento dos objetos, enquanto que as frias (azul, verde e violeta) e/ou claras promovem a impressão de distanciamento e redução dos objetos. · As cores quentes nos ambientes promovem uma despreocupação com a passagem do tempo, ao passo que as cores frias superestimam o tempo. · Em relação a textura, cores frias sugerem dureza, enquanto que as quentes parecem mais fofas e macias. · Psicólogos da Gestalt afirmam que o verde e o vermelho tornam-se mais evidentes em locais com sons altos e fortes. Essa informação pode ser aproveitada para compensar problemas de ruído com informações visuais.· Os tons de vermelho, laranja, amarelo e verde claro são apetentes ao contrário das cores púrpura, mostarda e cinza. As cores apresentam significados, que são: · Amarelo: luminosidade, vivacidade, proximidade. Porém, em excesso, torna-se cansativo. · Azul: fé, confiança, pureza. Em tons escuros, dá sensação de frio. · Laranja: força, entusiasmo, vitalidade, ação. · Rosa: feminilidade, delicadeza, calmante e relaxante. · Verde: transmite paz, quando claro, e quando escuro, deprime. · Vermelho: entusiasmo, ação. Em excesso, irrita e desperta violência. · Violeta: proximidade e espiritualidade. Em excesso, desestimula. Não é recomendado para áreas grandes, assim como o vermelho, azul-escuro e verde-escuro. Figura 1- Círculo cromático Paisagismo O paisagismo consiste na utilização dos espaços externos da escola para a construção de hortas, pomares, jardins, viveiros. A finalidade primária do paisagismo é de dar beleza ao espaço. Aliadas a essa, temos os aspectos funcionalidade, revelado dentre várias opções, em aulas diversificadas nesses ambientes; e conforto, observado no frescor dos ambientes e nas sombras produzidas. Antes de se realizar um planejamento paisagístico, é necessário ter em mente que o mesmo requer, depois de executado, uma série de cuidados e manutenção tais como: rega, adubação, correção de solo, poda, limpeza de gramados, controle de pragas dentre outros. Então, ciente dessas responsabilidades, segue o planejamento, considerando os seguintes pontos: · Priorizar o uso de vegetação típica da região, inclusive frutíferas; · Ao escolher os locais onde serão plantadas e as espécies das plantas, verificar a necessidade de proteção contra ventos e radiação solar; · Escolher plantas (árvores) de raízes profundas para evitar danos nas construções e calçadas, garantindo o espaço necessário ao desenvolvimento da copa e frutos; · Evitar o plantio de árvores próximo a construções com calha e escoamentos de águas pluviais para evitar problemas de entupimento. Comunicação visual Imagine-se em um local totalmente desconhecido, sem nenhum cartaz, sinalização, fachada indicativa. Você fica sem saber onde está, para onde ir, o que fazer... Para que os visitantes, alunos e funcionários não fiquem “perdidos”, a comunicação visual é fundamental. Mas, o que é comunicação visual na escola? Começa pela inscrição do nome da escola nos espaços externos, que podem ser nos muros, reservatórios, fachadas. No interior da escola, são as plaquinhas nas portas indicando os ambientes, restrições quanto à entrada. É o uso de cores, símbolos, imagens, para indicar procedimentos de segurança, para sinalizar proibições, para sugerir ações. Por exemplo: em uma biblioteca, é adequado usar a imagem de uma pessoa com o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio. Murais de avisos também representam um recurso de comunicação visual, utilizados para repasse e atualização de informações por parte dos alunos, funcionários e comunidade. De acordo com o Guia Fundescola, a programação visual de orientação e identificação do espaço educativo tem a função de informar, organizar os espaços, sinalizar e orientar os fluxos de circulação, permitindo aos usuários e visitantes uma rápida e precisa compreensão da escola. Torna, também, o espaço mais bonito e agradável ao aluno, favorecendo, enfim, a integração e a interação do usuário com o meio físico. Fatores que colaboram com o bem-estar no ambiente escolar Você acha que o calor interfere no rendimento escolar do aluno? E no desempenho do professor? Acreditamos que dificilmente sua resposta será não, pois a temperatura é um dos fatores que colaboram com o bem-estar no ambiente escolar. Também podemos destacar a questão de ruídos e demais elementos, que listamos abaixo para você: Conforto térmico O fator térmico merece destaque no planejamento dos ambientes escolares. Desta forma, precisamos prestar atenção em alguns itens importantes nos ambientes escolares, tais como: · permitir a ventilação cruzada nos ambientes através de janelas e portas para a renovação do ar; · utilizar materiais isolantes térmicos na construção da escola; · utilizar árvores, gramados e arbustos para produzir sombra, umidificar os ambientes, absorver radiações solares, mudar a direção dos ventos. Devemos estar atentos à questão dos ruídos, barulhos ou do silêncio necessário para o estudo, como veremos a seguir. · Conforto acústico Outro fator de peso na qualidade dos ambientes escolares é o controle dos ruídos, uma vez que sons alto e persistente prejudicam a concentração, aprendizagem e até mesmo a saúde dos que frequentam tais ambientes. Para favorecer o conforto acústico, algumas medidas podem ser tomadas: · respeitar os ambientes que exigem silêncio, evitando conversas em volume alto, uso de recursos auditivos em volumes exagerados; – utilizar superfícies absorventes em locais que originam sons; · utilizar muros, painéis, paredes ou recursos paisagísticos, em alturas necessárias para desvio do som, como recursos de isolamento acústico; · sempre que possível, evitar aberturas (portas e janelas) para fontes ruidosas; · planejar a localização dos ambientes, separando os ruidosos dos que necessitam de silêncio. Também sabemos que a iluminação é um fator importante nos ambientes escolares, principalmente nas salas de aula, bibliotecas, ou seja, locais onde estaremos realizando leituras e exigem claridade. Vamos entender melhor! · Conforto luminoso O conforto luminoso é proporcionado pela iluminação com intensidade adequada e bem distribuída nos ambientes, conforme as atividades ali desenvolvidas. O quadro abaixo oferece algumas sugestões quanto a luminosidade ideal para alguns ambientes: Tabela 1 Ambiente Nível baixo Nível médio* Nível alto Sala de aula 200 lux 300 lux 500 lux Ginásio de esportes ou quadra 300 lux 500 lux 750 lux Biblioteca ou sala de leitura 300 lux 500 lux 750 lux Para ter uma referência, são necessárias 6 luminárias com duas lâmpadas fluorescentes de 40watts cada, para obter uma luminosidade de 300 lux em uma sala de 48m2 (6m x 8m). Favorecendo o acesso e aprendizagem aos portadores de necessidades especiais Uma das funções da escola é promover a interação social. Para isso, a garantia da acessibilidade universal é de fundamental importância para a oferta de condições favoráveis de permanência dos cidadãos na escola. A garantia da acessibilidade constitui um dos indicadores de qualidade dos espaços escolares e pode ser observada nos seguintes aspectos: · Travessias: meio-fio e desníveis com rampas de declividade máxima de 8,33%, sinalizados com faixas. · Estacionamentos: garantir vagas preferenciais para pessoas deficientes, devidamente sinalizadas e mais próximas possível da entrada. · Entradas: pelo menos uma das entradas deve permitir o acesso de pessoas portadoras de necessidades especiais. · Rampas: devem ser de piso antiderrapante, com declividade máxima de 8,33% e largura mínima de 1,20m. Em caso de desvios, garantir patamar de descanso a cada 9m. · Corrimão: deve ser colocado em pelo menos um dos lados da rampa, com altura mínima de 0,80m e prolongamento de 0,45m nas extremidades. · Portas: largura mínima de 0,90m, com fechaduras tipo alavanca para facilitar o fechamento e abertura das portas pelos portadores de necessidades especiais. · Circulação interna: o piso deve ser uniforme e antiderrapante, sendo permitidos desníveis com alturas máximas de 0,03m com quinas arredondadas. · Sanitários: as portas devem ter largura mínima de 0,90m. Os espaços internos devem permitir a circulação e giro de cadeiras de roda. Os compartimentos sanitários devem ter dimensão mínima de 1,50m de largura por 1,70m de comprimento. Utilizar torneiras do tipo alavanca para facilitar o manuseio. · Norma NBR – 9050: referência primordial sobre a acessibilidade universal. 1.14 Relações interpessoais no espaço escolar Relações interpessoais e intrapessoais – desafios individuais e coletivos O relacionamento intrapessoal é a relação do indivíduo com ele mesmo.Quanto mais você compreende sua essência (quais são seus objetivos, o que é mais importante para você), melhor é o seu processo decisório, porque você estará mais em sintonia com o seu objetivo. Relacionamento intrapessoal é conhecer a si mesmo, aceitar-se, confiar em si mesmo. Já por relacionamento interpessoal entende-se como sendo a forma como interagimos com o outro, a maneira como nos comunicamos, como nos encontramos com o outro. Sendo assim, só será possível mantermos relacionamentos saudáveis com o outro quando já estamos nos ‘relacionando’ bem com nossos sentimentos, valores, quando estamos comprometidos com nosso bem-estar. A forma como você reage às pessoas, como você interage com elas, suas emoções, ações e atitudes quanto aos indivíduos o qual você se relaciona é o seu relacionamento interpessoal. Relacionamento interpessoal é a maneira como você se relaciona com as pessoas, de forma dinâmica e imprevisível, à sua volta, ou seja, as relações interpessoais ocorrem em todos os meios: familiar, educacional, social, institucional, profissional, e estão ligadas aos resultados finais de harmonia, avanço, e progressos ou nas estagnações, agressão ou alienamento. As competências intra e interpessoais podem ser visíveis a partir da melhoria nos relacionamentos ao promover satisfação, bem-estar, qualidade de vida e muito mais. Para Vygotsky (1988), o indivíduo não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É necessário conhecermos melhor o papel das relações inter e intrapessoais hoje e isto se justifica por algumas razões. Em primeiro lugar, a nossa ideologia modificou as formas de relação existentes entre indivíduos: é cada vez menos comum julgar as pessoas como sendo coisas (tal como ocorria no caso extremo do escravo - ou apenas como representantes de um papel - como ocorria, no caso também extremo, do nobre ou do senhor ), e passamos a julgar os outros pelo que são, isto é, como indivíduos, como humanos. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual interno - relações intrapessoais. De outro lado, nossa vida passa a depender, cada vez mais, de relações interpessoais, e se torna cada vez menos dependente de uma relação direta com a natureza, tal como ocorria com o agricultor tradicional, pois o agricultor atual também se integra no sistema contemporâneo de produção e de relação com os outros. A qualidade e a importância das relações interpessoais Sartre, Erich Fromm, dentre outros, afirmam que o relacionamento humano é precioso demais em suas potencialidades para ser reduzido ao nível de funcionamento de uma máquina. Se tivermos sempre presentes em cada um de nós a preocupação e o cuidado de aprimorar nossas habilidades no relacionamento interpessoal, os resultados obtidos gerarão condições favoráveis para o trabalho de grupo e um clima de confiança entre os participantes, permitindo que a qualidade das pessoas flua. Por isso é importante sempre observar o nosso comportamento diário e de nossos colegas. Ao realizar essa observação, poderemos notar alguns fatos: · Por que muitos profissionais chegam ao local de trabalho, no nosso caso, na escola de cara amarrada? · Por que muitos indivíduos estão constantemente estressados no seu ambiente de trabalho? Ao surgir esses questionamentos, surgem também algumas respostas e reflexões que devemos sempre realizar no nosso dia a dia. Dentre as reflexões, destacamos: · O Relacionamento interpessoal entre colegas é de fundamental importância para o bom andamento de uma escola. · O Relacionamento das pessoas que trabalham numa escola é um sinal de avanço na educação. A comunicação e o papel dos funcionários da educação no espaço escolar O papel do auxiliar técnico educacional juntamente com os outros agentes: gestores, professores e alunos são de aprender a conhecer, a fazer, a viver juntos, a entender, a respeitar e ajudar ao próximo, a ser, a ouvir, a dialogar, a questionar, a mudar e resolver os problemas do dia a dia no espaço escolar. Para Viñao Frago (1998), um espaço, ao ser projetado, não se mantém como um simples espaço arquitetural ele é, a partir dos agentes que o ocupam construído como lugar. “O espaço se projeta ou se imagina; o lugar se constrói.” (Viñao Frago, 1998, p.61) Pensando nisso, devemos refletir que essa relação entre todos os agentes que ocupam o espaço escolar, baseia-se num bom diálogo e interação e por isso, a comunicação efetiva é um fator essencial nas relações educacionais. A comunicação é considerada no mundo moderno em que vivemos como um dos elementos mais presentes e importantes de nosso cotidiano. É praticamente impossível imaginarmos uma situação que envolva pessoas em que não esteja acontecendo algum tipo de comunicação entre elas. Mas, será que temos sido capazes de utilizar corretamente todo o imenso potencial que a comunicação eficaz pode nos proporcionar? Usamos de forma adequada a comunicação em nosso cotidiano para nos fazermos entender e percebermos as intenções e as habilidades das pessoas com as quais nos relacionamos? Por que muitas pessoas acreditam que não podem se comunicar com sucesso quando estão falando em público? Dar atenção a estes questionamentos é fundamental quando pretendemos modificar para melhor nossas habilidades comunicativas. Para o autor Chiavenato (2004) a área da comunicação é também uma área em que as pessoas podem fazer grandes progressos na melhoria da eficácia de seu próprio desempenho e, também, podem melhorar o seu relacionamento interpessoal com o mundo externo. Comunicação efetiva: nas relações educacionais Será que de fato, comunicamos exatamente o que queremos? Hoje, apesar de termos muitas formas de obter informações e conhecimentos, nem sempre estamos nos comunicando. Existe grande diferença entre comunicação e informação. A expressão “falar bem” geralmente é usada para indicar alguém que sabe se sair bem no trato com as pessoas através da linguagem. Sair-se bem ao conversar com as pessoas tem relação mútua com o fato de ser cordial. Observe os exemplos abaixo: · Entra aí, a recepcionista já vem te atender! · Entre, por favor, a recepcionista já vai atendê-lo! Enquanto isso fique à vontade! Ao ler as duas frases, podemos pensar que a culpa de um tratamento inadequado é do uso inadequado da norma culta. Mas veja que não é só uma questão gramatical, aliás, mesmo que haja erros, se usada a cordialidade, estes últimos passam despercebidos! Uma comunicação efetiva depende de vários elementos: emissor, receptor, mensagem, canal, código e contexto. Portanto, se o emissor não consegue transmitir sua mensagem de maneira que o receptor entenda, então, de nada adiantará! Dessa forma, pensamos que todos prezam pelo entendimento no ato comunicativo. Para se tornar um comunicador efetivo é fundamental colocar-se no lugar do outro, a fim de que alguns estímulos sejam criados e a comunicação tenha êxito. Contudo, um dos ambientes em que a comunicação ganha maior destaque é o ligado às nossas atividades profissionais. Saber comunicar-se com cortesia, clareza, simplicidade e objetividade no local de trabalho é uma das habilidades mais exigidas atualmente e uma fonte de sucesso e de realização pessoal. Portanto, é preciso aprender a comunicar de forma efetiva e comunicar sempre, no sentido de promover interações gratificantes. 1.15 As relações socioafetivas Falar de sentimentos às vezes se torna complicado, não é mesmo? Cada um de nós tem um repertório de vida, vivemos situações diferentes e por isso, nos formamos de maneiras diferentes. Tratar desse assunto é importante, pois é a afetividade que auxilia-nos a exercer um papel fundamental nas relações sociais, pois influencia decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, a vontade, as ações, enfim,a harmonia e o equilíbrio da personalidade humana. Dimensão socioafetiva Um dos aspectos cruciais do desenvolvimento social é o desenvolvimento afetivo. As crianças nascem com uma pré-disposição a aprender, pré-orientadas a buscar e preferir estímulos sociais e necessitadas de vínculos afetivos. O apego é o vínculo afetivo básico para dar início ao seu processo de socialização. Os vínculos afetivos estabelecidos são uma das bases mais sólidas do desenvolvimento social, pois se transformam em um dos motivos fundamentais da conduta pró-social. A socialização é um processo interativo necessário, no qual o indivíduo satisfaz suas necessidades e assimila a cultura, ao mesmo tempo que, reciprocamente, a sociedade se perpetua e desenvolve. Quando uma pessoa se desenvolve no seu espaço social e cultural numa relação de submissão, é bem provável que não aprenda a se relacionar afetivamente de maneira adequada e, como consequência, venha a manifestar suas emoções com problemas no comportamento. Observe as visões de Piaget, Wallon e Vygotsky na análise da dimensão socio-afetiva no comportamento humano: Piaget inclui os valores sociais como pertencentes à dimensão geral da afetividade no ser humano, e afirma que eles surgem a partir de uma troca afetiva que o sujeito realiza com o exterior, com objetos ou pessoas. Para Wallon as interações sociais são uma via natural para o desenvolvimento e manifestação da afetividade. De acordo com este autor, priorizar a afetividade no ambiente social contribui para dinamizar o trabalho educativo. Vygotsky afirma que o ser humano, da mesma forma que aprende a agir, pensar e falar, por meio do legado de sua cultura e da interação com os outros, aprende também a sentir. Analisando tais visões, pode-se pensar na afetividade como tendo um papel fundamental nas relações sociais, pois influencia decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, a vontade, as ações, enfim, a harmonia e o equilíbrio da personalidade humana. Dimensão sociocognitiva Ao entrarmos em contato com o ambiente social que nos rodeia conhecemos membros de diferentes grupos e interagimos com estas pessoas e grupos. Nossa socialização se dá nesse processo em que coletamos informações, as processamos e as julgamos para então, adaptá-las às regras impostas pelo meio social (família, escola, igreja, etc). Pode-se então perceber que é nesse contato com o ambinte social que formamos uma ideia de nós mesmos (autoconceito) e tendemos a categorizar nosso ambiente de forma a tornar mais fácil o relacionamento com o mesmo. Assim rotulamos e/ou discriminamos pessoas e grupos influenciados por tendenciosidades. No contexto atual, os estudos já avançaram suficientemente para mostrar que os comportamentos não podem ser explicados exclusivamente a partir da perspectiva cognitivista/individualista, envolvendo também a dimensão societal, onde os processos de interação com o meio social desempenham um papel fundamental. Buscando algumas definições podemos citar: · Piaget coloca as interações e a transmissão social como um fator cultural necessário, mas não suficiente, pois a ação do meio social é ineficaz sem a assimilação do sujeito. · Vygotsky (1986) coloca como aspecto mais importante do desenvolvimento humano o processo de assimilação ou “apropriação” histórico/ cultural. A autoestima A autoestima se forma ao longo da infância, com base na educação e no tratamento recebido dos familiares e de todos que fazem parte do seu cotidiano. É através dessa interação afetiva que os sentimentos positivos ou negativos são desenvolvidos e a autoimagem é construída. Disso dependerá o desenvolvimento na aprendizagem, nas boas relações, e até mesmo, na construção da felicidade (realização pessoal). Em suma, a autoestima é o julgamento, a apreciação que cada um faz de si mesmo; sua capacidade de respeitar, confiar e gostar de si. A autoestima está intimamente ligada ao autoconceito. Ter um bom conceito de si mesmo é fundamental para se sentir mais autoconfiante e contar com seus próprios recursos na superação de um momento difícil. Na realidade, o conceito que a pessoa tem de si mesma influencia todas as suas experiências de vida. Pessoas com baixa autoestima, em geral, têm problemas psicológicos, como depressão, ansiedade, relações de dependência e dificuldade de adaptação. Pessoas que estão com a autoestima elevada são mais seguras, encaram a vida de frente, superam dificuldades e tem mais chances de se destacar na vida profissional. Os autores Campos e Muños (1992), elencam uma série de características que para eles representam as pessoas que possuem boa autoestima. Veja, preste atenção e reflita: · Sabem que coisas fazem bem e aquelas em que podem melhorar · Se sentem bem consigo mesmos · Expressam suas opiniões · Não têm medo de falar com outras pessoas · Sabem identificar e expressar suas emoções para outras pessoas · Participam de atividades no trabalho e escola · Contam consigo mesmas para resolver as situações em sua vida, o que não significa que ignorem a ajuda e o apoio dos outros · Tem consideração pelas outras pessoas, possuem um sentido de ajuda, e se dispõem a colaborar com os outros · São criativas e originais, inventam coisas, e se interessam por realizar tarefas desconhecidas, aprendendo atividades novas · Lutam para alcançar aquilo que querem · Desfrutam a própria vida · Se “lançam” em novas atividades · Costumam ser organizados em suas atividades · Não tem vergonha de perguntar algo que não sabem · Defendem suas opiniões diante dos outros · Reconhecem quando erram · Não se importam que digam suas qualidades, · Conhecem suas qualidades e procuram superar seus defeitos · São responsáveis por suas ações · São líderes naturais De posse dessas informações, você pode começar a refletir sobre sua estima e de seus colegas. Observar seu cotidiano e também, compreender quais fatores lhe trazem realização, seja pessoal ou profissional. Autorrealização O homem, pela sua própria natureza, luta por sua autorrealização, pela satisfação de todas suas necessidades básicas. Por incluir escolhas livres, efetua- -se com tensões, conflitos, renúncias e sofrimentos. Goldstein (1980) define autorrealização como um impulso dominante, inerente ao organismo humano, que impele o homem a realizar, por todos os meios, suas potencialidades inatas. As outras necessidades – fome, sede, sexo, entre outros – seriam apenas manifestações do impulso autorrealizador. Abraham Maslow procurou compreender e explicar o que energiza, dirige e sustenta o comportamento humano. Para ele, o comportamento é motivado por necessidades fundamentais. A figura a seguir detalha a teoria da Hierarquia das Necessidades, de Maslow. Na base estão as necessidades fisiológicas (respiração, comida, água, sexo, sono, excreção), seguindo-se da segurança (segurança do corpo, de emprego, de recursos, da moralidade, da família, da saúde, da propriedade), do amor ou relacionamento (amizade, família, intimidade sexual), da estima (autoestima, confiança, conquista, respeito dos outros, respeito aos outros) e, por fim, no topo, da realização pessoal (moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de preconceito, aceitação dos fatos). Figura 2 - Pirâmide de Maslow Fonte: Wikipédia Podemos destacar que: · As necessidades fisiológicas se referem às necessidades biológicas dos indivíduos. Incluem fome, sede, sono, abrigo, sexo, etc. · As necessidades de segurança surgem na medida em que as necessidades fisiológicas estejam razoavelmente satisfeitas. Levam a pessoa a se proteger de qualquer perigo, seja ele físico ou emocional. · As necessidades sociais incluem afeição, aceitação, amizade e sensação de pertencer a um grupo. · As necessidades de estima incluem fatores internos de estima, como respeito próprio, realização e autonomia; e fatores externos de estima, como status, reconhecimento e atenção. · As necessidades de autorrealização são necessidades de crescimento e revelam uma tendência de todo ser humano em realizar plenamenteo seu potencial. Em muitas pessoas essas necessidades permanecem adormecidas, em grande parte por frustrações experimentadas no que se refere a necessidades de níveis inferiores, ou por ter gasto as energias interiores na luta pela satisfação dessas necessidades. A teoria de Maslow foi amplamente reconhecida, porém não fornece comprovação empírica substancial. Wahba e Bridgewell em sua extensa revisão das pesquisas que são dependentes da teoria de Maslow, acharam pouca evidência desta hierarquia de necessidades, ou mesmo da existência de alguma hierarquia. O economista e filósofo chileno Manfred Max Neef tem argumentado que as necessidades humanas fundamentais são não-hierárquicas e são ontologicamente universais e invariáveis em sua natureza - parte da condição de ser humano. De uma forma geral, a autorrealização consiste em dar vida às nossas potencialidades, de nos desenvolver ou aperfeiçoarmo-nos continuamente, de sermos criativos, de realizarmos um projeto pessoal de vida, de realizar aquilo que de melhor há em nós. A formação da personalidade É inevitável dizer que as influências biológicas afetam a personalidade do indivíduo desde o seu nascimento. Cattell investigou o papel da hereditariedade como determinante da personalidade e descobriu que alguns de seus aspectos são fortemente influenciados pela sua genética, embora outros não o sejam. Recentemente acentua-se que a experiência (particularmente na infância) desempenha um papel muito mais significativo do que a hereditariedade na formação da personalidade única. Veja a observação realizada pelos estudiosos abaixo: · Freud destacava a experiência dos anos pré-escolares na formação da personalidade; · Erikson ampliou a reflexão sobre o desenvolvimento, incluindo a idade adulta e a velhice; · Conley e McCrae & Costa(1984) afirmaram que embora as pessoas realmente mudem, também há fortes evidências da estabilidade da personalidade ao longo da vida de cada pessoa. Características dos indivíduos: tipos e traços Para descrever as diferenças individuais podemos classificar as pessoas por “tipos” ou “traços”. Segundo Merenda (1987), na Grécia antiga, Hipócrates descrevia quatro tipos básicos de temperamento: sanguíneo (otimista, esperançoso), melancólico (triste, deprimido), colérico (irascível) e fleumático (apático)). Carl Jung (1971) distinguia entre introvertidos e extrovertidos. Os tipos de personalidade são categorias de pessoas com características similares e cada indivíduo é ou não membro de uma categoria de tipos. Um pequeno número de tipos é suficiente para descrever todas as pessoas. Os traços, porém, permitem uma descrição mais precisa da personalidade do que os tipos porque cada traço se refere a um conjunto mais focalizado de características. Os traços de personalidade são padrões persistentes no modo de perceber, relacionar-se e pensar sobre o ambiente e sobre si mesmo, exibidos em uma ampla faixa de contextos sociais e pessoais. Eles são perceptíveis a partir das reações diferenciadas das pessoas nos grupos, determinando assim o seu temperamento. Ex: ansiedade, energia, flexibilidade, hostilidade, impulsividade, etc. O desenvolvimento social, cognitivo e afetivo se dá de forma interdependente, e qualquer desequilíbrio pode comprometer o conjunto. Os vínculos afetivos estabelecidos principalmente na infância determinam de modo direto o desenvolvimento emocional e afetivo do indivíduo, a socialização, as interações humanas e, sobretudo, a aprendizagem. 1.16 A ética no ambiente escolar: educando para o diálogo Ouve-se muito falar em ética e moral. Seja nos noticiários, nas conversas de rua, na escola. Geralmente esses temas são lembrados quando falamos de assuntos polêmicos. Mas você sabe o que é ser ético e o que é moral? Você já pensou sobre esses conceitos dentro do contexto escolar? A ética e a moral O termo “ética”, às vezes é designado como “moral”, o que nem sempre é adequado. Porém, ambos se formam numa mesma realidade. Assim, ética é entendida como a ciência de conduta humana perante o ser e seus semelhantes. E moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento humano. Estas normas são adquiridas na sociedade através da educação, da tradição e do cotidiano. A educação é a principal responsável pela estrutura da consciência, da vontade e, consequentemente, da conduta humana. É a fase em que a criança inicia o seu processo educativo e que se deve estimular virtudes que sustentam os princípios éticos e, ao mesmo tempo, repelir toda a tendência para o vício, bem como advertir sobre os males do mesmo. Vivemos em um mundo em que a moral parece estar descuidada, envolvida por uma falsa liberdade de veiculação de ideias. Nesse sentido, a educação como formadora de opinião tem condições tanto de contribuir como de destruir modelos de conduta. Uma educação de qualidade deve contribuir para a consciência ética dos educandos. O espaço escolar deve ser concebido como uma comunidade viva e repleta de sentido, onde os alunos busquem não só a aprendizagem através da escrita e da leitura, mas também através da partilha das experiências vividas no cotidiano. Desse modo, o convívio dentro da escola deve ser organizado de maneira que os conceitos de justiça, respeito e solidariedade sejam vivificados e compreendidos pelos alunos como aliados à perspectiva de uma qualidade de vida melhor. Não basta ensinar conceitos e valores democratizantes, é preciso que eles sejam vivenciados no convívio intraescolar. A comunidade escolar deve utilizar seu espaço e sua interatividade para apresentar valores do ser humano através de exemplos, de sugestões motivadoras, e principalmente de respeito ao ser humano. Além do educador, toda comunidade escolar necessita de uma consciência ética profissional perante o aluno, que seja de amor, com austeridade. Deve ser realista, porém sem ser autocrático. Estimular virtudes é melhor que impô-las. Separamos alguns aspectos apresentados por estudiosos, com relação a ética. Veja: Ética de Bergson: Caracteriza-se por uma forte ligação entre os fenômenos da matéria e do espírito. Ele defende que o objetivo da luta humana é sempre o de conseguir a eficácia, efeito este obtido com a riqueza, quando esta anula a necessidade. Esse filósofo termina por aceitar uma ética do fim, ou seja, como finalidade a ser perseguida. Ética do valor de Scheler, Hartmann e Wagner: Os referidos autores desenvolveram estudos sobre o conceito de valor que vieram substituir a noção de bem que era predominante nos domínios da ética. A defesa da hierarquia de valores é vista como algo desejável, como norma e critério de juízo e como possibilidade de escolha inteligente. Thomas Hobbes entendeu que o básico na conduta é a “conservação de si mesmo” como o bem maior. O autor defende a liberdade, a justiça e o cumprimento das promessas ou acordos; atribui como as três causas fundamentais da discórdia: a competição, a desconfiança e a glória. Já Baruch Espinosa parte dos princípios do respeito e a proximidade a Deus, pelo conhecimento; do determinismo na vontade divina; da utilidade em jamais odiar, desprezar e ridicularizar o próximo, ter cólera ou invejar; contentar-se com o que o destino oferece, de forma racional e não por influências externas; preservar a liberdade, sendo este um dever de todos e do Estado. John Locke por sua vez, defende a percepção como fonte da ideia. Afirma que a estrutura mental é condicionada a um processo de conquista da verdade por um processo educacional e cultural obrigatório, por iniciativa do ser ou de terceiros. David Hume defende uma ciência pelas vias da experimentação. Quando se trata da liberdade e da necessidade, penetra no campo que diz respeito à ética, tratando da paz e da segurança da sociedade humana através da conduta. Para Immanuel Kant, a lei da vontade ética é a que prevalece sobre todas. Ele afirma que a razão guia a moral e que três são os pilares em que se sustenta: Deus, liberdade e imortalidade. Para ele, o dever de ser feliz tem duplo sentido: o da satisfação do ser e o do impedimentodos atos antiéticos. 1.17 Reflexões sobre os conceitos de gênero, raça e etnia No estudo sobre “etnia” e “raça”, muitas vezes os dois conceitos são utilizados como sinônimos. Embora, na maioria das vezes seus conceitos estejam associados, a diferença entre ambos reside no fato de que raça categoriza diferentes populações de uma espécie biológica por suas características fenotípicas (ou físicas), enquanto que etnia ou grupo étnico compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, a afiliação tribal, religião, língua e tradições. Leia as definições abaixo: Raça e Etnia: A palavra etnia é usada, às vezes, erroneamente como sinônimo da palavra raça. Raça tem um conteúdo biológico, hereditário. Etnia, de conteúdo mais cultural, é usado pelas ciências sociais para designar um grupo social que se diferencia de outros por sua especificidade cultural. No que diz respeito à questão do “gênero”, este, por sua vez, não deve ser algo pensado isoladamente, mas sim com base nas construções socioculturais em que esteve inserido, como citado abaixo: Gênero: O termo “gênero” foi um conceito construído socialmente buscando compreender as relações estabelecidas entre os homens e as mulheres, os papéis que cada um assume na sociedade e as relações de poder estabelecidas entre eles. Nesse sentido, gênero é o sexo socialmente construído. De acordo com essa visão, a natureza define dois sexos biológicos (masculino e feminino), e cabe à sociedade agregar a esse dado natural diferentes valores, significados e atributos. Porém, o gênero refere-se não somente à categoria biológica (homens e mulheres), mas também às relações entre os dois sexos, que envolvem: processos culturais, sociais, políticos e morais que atribuem valores a essas relações. Ao colocar a ênfase no “gênero” deixamos de perceber outros fatores que também hierarquizam relações, como por exemplo, raça e etnia. Atualmente, livros e revistas estão utilizando com maior frequência o termo etnia (mesmo esse não sendo muito rigoroso), pois o termo raça já ficou muito marcado por preconceitos. Apesar de não serem considerados iguais, o conceito de raça é associado ao de etnia. A diferença consiste no fato de que etnia também compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e as tradições, enquanto que raça se refere apenas aos fatores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura, etc., o que caracteriza também a diversidade cultural, muito presente em nosso país. Acompanhe este tema no item abaixo. Apesar de não serem considerados iguais, o conceito de raça é associado ao de etnia. A diferença consiste no fato de que etnia também compreende os fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua e as tradições, enquanto que raça se refere apenas aos fatores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura, etc., o que caracteriza também a diversidade cultural, muito presente em nosso país. Acompanhe este tema no item abaixo. Há diversidade cultural? Novos questionamentos sobre a diversidade cultural têm sido feitos no campo da pesquisa científica. A cultura negra e a questão racial brasileira são campos de investigação ainda em processo de consolidação. O que se sabe é que o reconhecimento e o respeito das várias culturas existentes no Brasil é o princípio fundamental da democracia e da aquisição de direitos. Desse modo, o conceito de diversidade nos leva a reflexões críticas sobre a natureza humana acerca de seus valores, conteúdos, símbolos e identidades. Há que se considerar também: sexo, idade, grau de instrução, grupo étnico, religião, origem, raça, língua, entre outros. Importante se faz a implantação de uma política voltada para a diversidade, que promova ações sociais e pedagógicas que possam corrigir as desigualdades historicamente impostas a determinados grupos sociais e étnico-raciais da sociedade. Moreira & Câmara, indicam a necessidade de se adotar práticas que apontem como trabalhar com as identidades e as diferenças em sala de aula: · Procurar aumentar a consciência das situações de opressão que se expressam em diferentes espaços sociais; · Propiciar ao estudante a aquisição de informações referentes a distintos tipos de discriminações e preconceitos; · Estimular o desenvolvimento de uma imagem positiva dos grupos subalternos; · Favorecer a compreensão do significado e da construção de conceitos que têm sido empregados para dividir e discriminar indivíduos e grupos, em diferentes momentos históricos e em diferentes sociedades; · Facilitar ao estudante a compreensão e a crítica dos aspectos das identidades sociais estimulados pelos diferentes meios de comunicação; · Propiciar ao aluno a possibilidade de novos posicionamentos e novas atitudes que venham a caracterizar propostas de ação e intervenção; · Articular as diferenças. Segundo MOORE (2008), as sociedades que melhor souberem lidar com as diferenças e integrar as dinâmicas próprias do jogo da diversidade (de gênero, raça, orientação sexual e cultural) serão política e socialmente mais eficazes e, por que não dizer, mais aptas a se desenvolver no século XXI. Serão condenadas ao fracasso as sociedades que não puderem sustentar mecanismos de consenso baseados na negociação de espaços diferenciais entre os segmentos desiguais da sociedade. De uma forma conclusiva, podemos dizer que se o Brasil conseguir alcançar um olhar respeitoso e interativo (descrito por Moore) sobre a diversidade e as diferenças – de gênero, raça, cultura, etnia, etc – poderá alcançar sua excelência em desenvolvimento humano, tornando a escola um local de reconhecimento da diferença e do respeito ao outro. 2 Legislação Escolar 2.1 Percurso histórico A sociedade contemporânea inaugura-se com o advento da Revolução Francesa de 1789. Se, por um lado, a “grande revolução”, como ficou conhecida a Revolução Francesa, aboliu os privilégios de nascimento e de fortuna do clero e da nobreza - segmentos sociais que não tinham nenhuma atividade produtiva -, por outro, o programa burguês vitorioso não atendia a todos, mas somente a uma minoria privilegiada que dominava os meios de produção e a própria burguesia. Desta forma, os ideais de democracia – liberdade, igualdade e fraternidade, que conduziram a burguesia ao poder há mais de dois séculos são ainda perseguidos pela maioria dos povos, o que traz ao centro do debate o controle político da estrutura social. A história mostrou, com a citada revolução burguesa, que, mais importante do que tomar o poder, é ter clareza sobre quais princípios fundamentarão a reconstrução social dali em diante. Nesta perspectiva de rearranjo social, o Estado moderno configurou-se a partir da busca do entendimento da correlação das forças presentes na sociedade. Do confronto de interesses dos diversos segmentos sociais. Um jogo de poder a partir do qual são estabelecidos os contratos de convivência, que se materializam nas leis estabelecidas e dos quais emerge a constituição como Carta Magna, lei maior do Estado e principal elemento ordenador da vida em sociedade. Assim, o maior “contrato” de um país é sua Constituição, considerada por alguns juristas como a certidão de nascimento de uma nação. Sendo assim, nem tudo que está escrito está garantido. A lei, muitas vezes, refere-se a um desejo, à vontade de superação de um determinado contexto ou prática social inadequados a uma sociedade que se pretende democrática. A efetividade das leis depende da mobilização da sociedade em torno de seus anseios, de participação e vigilância permanentes na garantia de direitos já consagrados na legislação. O conturbado nascimento da França republicana trouxe um debate acalorado sobre a extensão de direitos ao conjunto da sociedade. Um desses direitos, que causou controvérsias e foi objeto de debate na elaboração da Constituição francesa, foi o direito à educação, pois os intelectuais do liberalismo divergiam entre si quanto à universalização da educação. Locke e Voltaire, por exemplo, não defendiam a extensãoda educação escolar às massas. Acreditavam que todos têm liberdade para se educar, mas esta liberdade não precisa ser acompanhada da igualdade de condições devido às diferenças de ordem econômica e social das diversas classes dentro da sociedade burguesa, levando à existência de escolas e instruções diferenciadas. Já Diderot, Condorcet, Lepelletier e Horace Mann eram ardorosos defensores da educação como dever do Estado. Para esses intelectuais, a educação estatal tinha de garantir os meios para que todos tivessem acesso à escola, assegurando uma mesma e igual instrução a todos, independentemente de sua origem social, concretizando uma verdadeira equalização de oportunidades. No decorrer do século XIX, não só na França, mas em boa parte dos países europeus, devido às pressões das massas e à necessidade da modernização tecnológica, instituíram-se sistemas educacionais que garantiam instrução a todos os cidadãos. Na prática, as diferenças sociais persistentes conduziram à existência de escolas e currículos distintos, segundo a origem dos indivíduos. Aos filhos da burguesia, destinava-se a preparação para ocupar cargos de direção no Estado e na sociedade; aos do proletariado, salvo raras exceções, estavam reservados os trabalhos técnicos e braçais. Essas foram contradições presentes na sociedade ocidental do século XIX, nos países estruturados sob a égide dos ditames capitalistas. 2.2 Legislação no Brasil Império E no Brasil, como se deu o tratamento à educação nas suas diversas Constituições? Esta é a questão à qual nos dedicaremos agora, procurando enfatizar os contextos nos quais se encontram fundamentados os debates e as concepções de educação defendidas e aprovadas. Diferentemente dos movimentos de independência das demais colônias europeias na América, que tiveram a decisiva participação do povo, nossa libertação da metrópole foi negociada. Os interesses da elite lusitana residente na então ex-colônia foram preservados, bem como os dos grandes fazendeiros. No Brasil, mantiveram-se o sistema monárquico, com um imperador filho do rei de Portugal, e a estrutura social oligárquica apoiada no trabalho escravo e no latifúndio. Esta é a questão à qual nos dedicaremos agora, procurando enfatizar os contextos nos quais se encontram fundamentados os debates e as concepções de educação defendidas e aprovadas. Diferentemente dos movimentos de independência das demais colônias europeias na América, que tiveram a decisiva participação do povo, nossa libertação da metrópole foi negociada. Os interesses da elite lusitana residente na então ex-colônia foram preservados, bem como os dos grandes fazendeiros. No Brasil, mantiveram-se o sistema monárquico, com um imperador filho do rei de Portugal, e a estrutura social oligárquica apoiada no trabalho escravo e no latifúndio. Sendo extensão deste processo de independência, a constituinte de 1823, encarregada de elaborar a primeira carta constitucional brasileira, viveu o embate pelo poder no Brasil independente. De um lado, os monarquistas defensores do poder imperial supremo e paralelo à constituinte, segundo seus interesses pessoais, da manutenção das relações coloniais com Portugal. De outro, embora não declaradamente republicanos, os que esperavam, por meio da Constituição, limitar os poderes imperiais e as regalias de que gozavam os lusitanos em território brasileiro. Os debates constituintes, alimentados pelos ideais liberais e positivistas que aportaram no Brasil com o retorno dos estudantes brasileiros egressos da Europa, especialmente da França, promoveram pouca mudança no rumo das coisas, principalmente na educação. A disputa entre monarquistas e republicanos foi decidida com a dissolução, pelo imperador, da Assembleia Constituinte após cerca de seis meses de trabalhos e a Constituição, outorgada em 1824, foi elaborada por uma comissão de juristas, da confiança de D. Pedro I. Contudo, ocorreram influências filosóficas e políticas vindas do continente europeu. A carta constitucional de 1824 apresentava alguns avanços no que tange aos direitos civis, sendo considerada, à época, legislação avançada. Os liberais, que defendiam a instrução pública como fator de desenvolvimento das nações, influenciaram na definição da educação primária gratuita como direito de todos os cidadãos, avanço social inigualável. No contraponto, as forças conservadoras limitaram a cidadania aos homens livres, excluindo do direito à educação as mulheres e os escravos. E organizaram a educação de maneira uniforme sob o controle central do Estado. A Constituição Política do Império do Brasil, outorgada em março de 1824, definia o Brasil como uma monarquia centralista e hereditária e estabelecia os Poderes Legislativo, Executivo (Imperador e seus ministros), Judicial (juízes e jurados) e Moderador (Imperador). O Poder Legislativo era delegado à Assembleia Geral (composta pelo Senado e Câmara dos Deputados) com a sanção do Imperador. A discussão sobre a oferta e controle legal da educação escolar no território brasileiro não cessou com a promulgação da Constituição de 1824. Pelo contrário, pode-se afirmar que a discussão da comissão constituinte, embora embargada pelo poder imperial, foi apenas o começo. Apesar das dificuldades de efetivar uma educação nacional, dada a falta, entre outras coisas, de professores preparados e de espaços adequados à educação básica, em 1826, a educação foi estruturada em quatro níveis: a pedagogia, que se referia à instrução primária; os liceus, onde se desenvolvia o ensino secundário; os ginásios, também de ensino secundário, porém com maior aprofundamento científico; e as academias, voltadas ao ensino superior. Em 1827, a Comissão de Instrução Pública aprovou projeto de lei, que de certa forma complementava o texto constitucional, criando Escolas de Primeiras Letras em “todas as cidades, vilas e lugares mais populosos” (FÁVERO, 2005, p.88), abolia os castigos físicos nas escolas, estabelecia a admissão de professores na forma de exame em caráter vitalício e estabelecia piso para a remuneração docente. Por esta Lei, de 15 de outubro, estendeu-se a educação às meninas e admitiram- -se, para elas, mestras do sexo feminino, com salários iguais aos dos professores. Entre outras coisas esta legislação desceu a detalhes referentes ao conteúdo a ser ministrado pelas escolas. Daí o currículo centralizado, que vigora até hoje. Nelas os professores ensinariam a ler e escrever, as quatro operações de aritmética, práticas de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria prática, a gramática de língua nacional e os princípios da moral cristã e da doutrina da religião católica romana, proporcionadas à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a constituição do império e a história do Brasil (Art. 6) (FÁVERO, 2005, p. 58). A abdicação de D. Pedro I, em 1831, deixou aberto o caminho para as propostas de cunho liberal que, contrárias à centralização estabelecida em 1824, propunham imediata reforma da constituição brasileira. A proposta apresentada à Câmara, de nítida influência norte-americana, praticamente criava “uma república presidida por um imperador” (FÁVERO, 2005, p.60), uma vez que não reconhecia o poder moderador exercido pelo monarca e, além de outras medidas de cunho republicano, dava à Assembleia Geral o poder de vetar as decisões do poder executivo. Após os debates no Senado, nos quais as propostas de reforma constitucional foram duramente criticadas, as modificações foram enfim promulgadas pelo Ato Adicional de 1834. Conferiu-se maior autonomia às províncias, abolindo-se o Conselho de Estado e instituindo as Assembleias Legislativas nas províncias, com poderes para deliberarem sobre a instrução pública, o que descentralizava também a educação primária, inclusive seu financiamento. Apesar de várias discussões propostas pelos liberais, visando à ampliação da oferta da educação, esta se manteve restrita aos setores privilegiados economicamente. No final do Império, menos de 30% das crianças eram escolarizadase o ensino secundário nos liceus e ateneus públicos não passava de vinte estabelecimentos no país inteiro. 2.3 Legislação Brasil República Proclamada a República e a Educação A proclamação da república significou, para o campo educacional, a consolidação dos ideais liberais da constituinte de 1823 e a ampliação da atuação dos setores privados na educação e dos poderes da aristocracia rural. Mesmo sem amparo constitucional a educação foi objeto de deliberações governamentais. Foram criados a Secretaria da Instrução Pública, o Instituto Nacional, que atuava como uma espécie de ministério, o Pedagógium, com funções análogas a um centro de estudos e pesquisa, e o Conselho de Instrução Superior. A instrução pública foi descentralizada, como competência dos estados e permitido o funcionamento de escolas particulares religiosas. Embora não explicitada, a obrigação estatal com a educação estava clara nas atitudes da União, assim como as influências da luta pelo controle político entre positivistas e liberais, com franca vantagem para os últimos. Aspectos da Constituição republicana de 1891 centralizavam a legislação educacional básica no governo federal, mas descentralizavam para os estados sua implementação, ambiguidade que caracterizará a legislação educacional brasileira até os dias atuais, com suas raízes e explicações fincadas na forma pela qual o movimento republicano centralizador positivista, que culminou no golpe militar da Proclamação da República (FÁVERO, 2005), assimilou os ideais liberais de redução dos poderes estatais, que vinham bem a calhar com a defesa dos interesses das oligarquias regionais. Neste cenário, não se pode dizer que a educação foi ignorada pela Carta Constitucional de 1891. Porém, diante do aprofundamento das práticas e ideais liberais que davam autonomia às unidades da federação (na prática ampliação da autonomia das oligarquias locais), não podemos afirmar a existência de avanços na educação primária enquanto obrigação estatal. De fato, ainda na condição de provisório, o governo republicano estabelecia a educação pública como competência dos agora entes federados, o que de fato desobrigava a União do cuidado com a instrução pública e resultou em certo atraso em relação à organização da educação nacional, pois mesmo reconhecida como um direito, não havia garantias de sua gratuidade, tampouco se buscou a implementação de uma rede mínima de escolas nos estados. Tal cenário legal deixava a tarefa de educar à mercê dos interesses e dos jogos políticos locais, nos quais as classes populares não tinham representatividade, nem poder para debater e reivindicar seus direitos. Como se pode ver, embora ampliasse e até mesmo consolidasse os direitos civis, a primeira Carta Constitucional republicana pouco avançou em termos de educação. Limitou-se a confirmar as tendências liberais de inserção dos setores privados no setor educacional e de minimização do Estado em favor das oligarquias regionais. 2.4 A educação nas Constituições do século XX O século XX no Brasil, pelo menos no seu nascedouro, pode ser entendido como um período de fortalecimento estatal, como defendiam os positivistas, e da iniciativa privada, ao gosto dos princípios liberais. E, nesta toada, caracterizada pela ambiguidade de princípios, o governo central tomava para si as atribuições referentes à organização estatal no plano legal, assumindo postura centralizadora, e mostra-se descentralizador ao conceder espaços a particulares em áreas antes privativas do Estado. No caso da educação, esta ambiguidade se revela quando: (...) iniciativas mostram ações indicadoras de descentralização, embora com direção oficial (não obrigatória) advinda do regulamento do Pedro II e outros institutos oficiais da União e no Distrito Federal. Mantinha-se o ensino oficial, mas também indicava-se a manutenção do ensino livre, com liberdade para abertura de escolas particulares religiosas. Quanto ao ensino religioso, desde logo o Estado procurou promover a laicização no âmbito das escolas públicas. Mas não há, em âmbito nacional, a imposição da obrigatoriedade ou da gratuidade nas escolas oficiais (CURY, 2005, p. 73). Os cenários político e social, tanto internacionais quanto internos, eram de mudanças. Os ideais comunistas e a participação política da classe operária culminaram na criação, em 1922, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, estabelecendo no plano político e econômico internacional um contraponto à proposta liberal de ordenamento estatal. Internamente, os brasileiros vivenciavam a luta por melhores salários e condições de trabalho e afirmação cultural. Mobilização demarcada pela greve dos trabalhadores de 1917 em São Paulo, que apesar de duramente combatida, findou num acordo com elevação dos salários; e pela Guerra do Contestado, envolvendo tropas da União e trabalhadores rurais que perdiam seus empregos e terras nos estados do Paraná e de Santa Catarina. Em 1922, ocorreu o que entraria para a história como sendo o maior evento artístico do país, a Semana de Arte Moderna, uma espécie de grito de independência cultural brasileiro. O país, contudo, era conduzido política e economicamente pelas oligarquias cafeeiras e pecuaristas, paulistas e mineiras. Um acordo político de apoio mútuo entre estes fazendeiros – controladores dos votos em suas regiões – e os candidatos ao governo, denominado Política dos Governadores, garantia o revezamento na Presidência da República. Ora se teria um presidente representante dos paulistas, ora dos mineiros. Havia então uma troca de apoio. Não se obstruía a posse dos candidatos eleitos apadrinhados dos fazendeiros e estes latifundiários garantiam, pelas formas de manipulação mais diversas, votos aos candidatos ao governo do estado e à Presidência da República. Este jogo de cartas marcadas, também conhecido como política café com leite não agradava aos setores oligárquicos de outros estados como Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Pernambuco, dos quais resultou forte oposição. Neste período, as relações com as forças armadas também se tornaram conturbadas. Jovens oficiais do exército reivindicavam maior participação política e questionavam o controle civil dos fazendeiros e o uso das forças armadas na manutenção de uma ordem constitucional que se ancorava em condutas fraudulentas e corruptas. O tenentismo, como ficou conhecido o movimento militar, desdobrou-se na Coluna Prestes, marcha liderada por Luiz Carlos Prestes, que cruzou o país combatendo o poder oligárquico. A marcha da Coluna Prestes é uma das maiores já promovidas na história da humanidade e um dos movimentos mais significativos da história da luta pela construção de uma sociedade mais justa e da cidadania no Brasil. No campo educacional, em 1926, a recém-fundada Associação Brasileira de Educação (ABE), promoveu congresso com calorosos debates sobre os rumos da educação brasileira. Ali, a intelectualidade, de liberais a positivistas, discutiu a temática, já antiga, sobre o papel do Estado na Educação. Contudo, essas refregas tinham um novo ingrediente: a maneira como o ensino era desenvolvido, para a qual se propunham modernizações. A década de 1920 findaria com uma mudança no cenário econômico internacional que favoreceria sobremaneira as mudanças por que passava a sociedade brasileira. A quebra da bolsa de Nova York revelaria a fragilidade do sistema econômico agroexportador vigente, inviabilizando no Brasil a política protecionista que favorecia abertamente a oligarquia cafeeira. Os liberais tinham mais uma vez a oportunidade de evidenciar a necessidade de modernização e de industrialização do país. E de colocar a importância da configuração de um sistema educacional também moderno, mais adequado à preparação da mão de obra necessária à inserção da nação brasileira no mundo industrializado. Assim, em 1932, foi lançado o “Manifesto dos Pioneiros”, conjunto de princípios e fundamentações de uma educação mais moderna, que privilegiava o debate, a descoberta e a maior interação entre a escola e a sociedade.Era o movimento da Escola Nova, de influência norte- -americana, de orientação francamente liberal, que aportava no Brasil colocando a educação escolar na pauta das discussões sociais, políticas e econômicas. Mesmo antes de se iniciar os trabalhos constituintes de 1933/1934, no plano educacional tudo estava muito agitado. Em 1930 fora criado o Ministério da Educação e Saúde e promovidas a reestruturação da educação e a instalação do Conselho Nacional da Educação – Reforma Francisco Campos. Em 1931, foram estabelecidos os objetivos do ensino superior no país, com o Estatuto da Universidade Brasileira. Promoveu-se a reforma do ensino secundário e do ensino comercial que formava técnicos nas áreas administrativa e contábil. E, em 1934, era fundada a Universidade de São Paulo – USP. A queda do poder oligárquico rural - Revolução de 1930 - não foi suficiente para forjar leis que reduzissem de maneira drástica o poder deste grupo, mas certamente contribuiu sobremaneira para o fortalecimento do poder central, pelo menos no tocante à educação. Na Carta Constitucional de 1934 estava claro o poder que havia acumulado o governo central em relação aos entes federados (estados) e aos municípios. A União passava a ser instância responsável pela definição das diretrizes de um plano nacional para a educação, que seria organizado pelo Conselho Nacional de Educação. Aos estados caberia apenas a complementação legal necessária ao atendimento às suas peculiaridades que, por estarem vinculadas ao contexto local, escapavam à regra geral. No entanto, se as oligarquias estavam em baixa, os liberais e seus pensamentos privatistas encontravam-se a todo vapor na defesa da redução do poder estatal, em favor da iniciativa privada na educação. Uma das formas dessa presença da iniciativa privada, além das escolas confessionais já autorizadas por legislações anteriores, era a obrigatoriedade (art. 139) de as empresas com mais de cinquenta funcionários assumirem a educação primária gratuita de seus empregados e respectivos filhos. Ainda sobre este avanço dos interesses privatistas na educação, deve- -se atentar para a sutileza da letra da lei. A redação do Art. 150, no item “d”, da expressão “estabelecimentos particulares”, sugere interpretações a favor da legalidade da ação de instituições não estatais no setor educacional, pois subentende a existência de pelo menos dois tipos de instituições educacionais, as particulares e as não particulares, sendo as segundas as mantidas pelo Estado, as públicas. O texto da Constituição de 1934 apresenta o poder central orientando uma descentralização de suas ações. Assim, ao tempo em que se garantia à União a prerrogativa exclusiva de “traçar as diretrizes da educação nacional” (Art. 5º, Inciso XIV), no § 3º deste mesmo artigo, ele admitia “legislação estadual supletiva ou complementar sobre as mesmas matérias”. Previa ainda avanço da organização da educação nos Estados ao permitir-lhes manter conselhos de educação próprios e organizar seus sistemas educacionais, além de propor cotas estaduais para o financiamento da educação. Outro aspecto deste detalhamento e da ambiguidade do texto constitucional de 1934, em relação às questões educacionais, encontra-se na garantia ao professor de liberdade de cátedra, definida no art. 155, pois tal liberdade, sem dúvida, importante, pode reverter-se em risco à qualidade, quando o professor se reveste de autoridade exagerada, fora dos limites regulatórios do Estado. Esta fragilidade regulatória, somada às prerrogativas que a instância estadual passava a gozar no texto constitucional, tornava a qualidade da educação mais uma questão de atitude e compromisso local do que um projeto baseado em princípios estabelecidos nacionalmente. Nos debates sobre a organização da educação brasileira na constituinte de 1934, Horta (2005) aponta-nos algo novo e importante sobre a democratização das relações na educação que, a muitos, passa despercebido. O autor cita parecer de Celso Kelly sobre a criação e as funções de um Conselho Nacional para a Educação, onde ele propunha que, em razão da abrangência que deve ter um órgão que vise organizar a educação em plano nacional, sua composição contemplasse membros da sociedade civil, além dos especialistas em educação - o que não apenas ampliava como democratizava o Conselho. Devido à amplitude e ao detalhamento com que foi abordada a temática educacional pela Constituição de 1934, as Cartas que a ela se seguiram limitaram-se a retocá-la com um ou outro detalhe conjuntural ou a limitar direitos. No caso da de 1937, sob o signo da ditadura do Estado Novo, além da supressão de direitos civis garantidos constitucionalmente em 1934, com respeito à educação, de significativo, tivemos apenas o estabelecimento da cobrança da caixa escolar àqueles que não comprovassem estado de pobreza. Ainda no Estado Novo, o contexto de construção da Constituição de 1946 é de intensa contradição. O mundo saíra de uma guerra para um processo de polarização do poder econômico e político, a Guerra Fria. De um lado, os países capitalistas liderados pelos Estados Unidos da América, e do outro, a União Soviética, liderando um conjunto de repúblicas do leste europeu, de ideologia comunista. Em função da aliança com os vencedores da grande guerra, não cabia à sociedade brasileira – acreditamos que a nenhuma outra naquele momento – a adoção de discurso contrário às liberdades políticas e sociais, contraponto internacional à ditadura do proletariado implantada na União Soviética. Isso havia posto o governo brasileiro numa situação politicamente contraditória: internamente, uma ditadura; externamente, defensor das liberdades democráticas. Ainda em 1943, um grupo de intelectuais e profissionais liberais de Minas Gerais, de tendência liberal, organizou o Manifesto ao Povo Mineiro, em que se defendia a redemocratização do país. Em 1945, com o acirramento dos ânimos políticos, em virtude das eleições, foi fundada a União Democrática Nacional (UDN), frente anti-Vargas, que congregava setores oligárquicos em desavença com Getúlio, setores liberais, socialistas e comunistas. Do lado governista surgiram partidos que, a despeito de sua vinculação à ditadura, ao longo da história política nacional, se caracterizariam como marcos de resistência à intolerância, os partidos Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Social Democrático (PSD). Um, composto por sindicalistas que apoiavam as políticas governistas e o outro, liderado pelos interventores nos governos estaduais. Mesmo neste clima de ambiguidade, a Carta de 1946 manteve a linha liberal e avançou. Resgatou os direitos civis perdidos em 1937 e, em relação à educação, manteve avanços da Constituição de 1934, descentralizando a organização escolar, ao institucionalizar os sistemas de educação e recriar os Conselhos de Educação com funções normativas (COSTA, 2002). Já o golpe civil-militar de 1964, politicamente centralizador, promoveu alterações significativas na Constituição de 1946. Procurando adequar a ordem constitucional à ditatorial que se instalara no país, editou Atos Institucionais e Emendas Constitucionais que retiravam garantias e fortaleciam o poder executivo em favor de mudanças políticas e econômicas (COSTA, 2002). No entanto, no que tange à educação, a Carta Constitucional de 1967, apesar de elaborada em plena ditadura militar, marcada pelo centralismo das decisões e do aprofundamento dos princípios tecnicistas, pouco mudou em relação ao que estava determinado pelas de 1934 e 1946. O artigo 154 até previa punição à subversão à ordem, à moral e aos bons costumes, mas não esclarecia o que fosse tal subversão. Imprecisão providencial, de que muitos se valeram para serem considerados “diferentes” e não “subversivos”. Contudo, o signo da ambiguidade legal se mantinha presente. Ao mesmo tempo em que artigos dessa natureza ameaçavam a liberdade de cátedra, outros revelavam avanços, como o da ampliação da gratuidade da oferta estatal de ensino de quatro para oito anos no ensino obrigatóriode 1º Grau e o que comprometia as empresas com a educação primária, com a aprendizagem dos trabalhadores menores de idade e com o aperfeiçoamento profissional dos funcionários. Passaram-se, então, 21 anos sob a égide da Constituição Militar de 1967. A respeito da regulação da educação, várias leis, nesse período, efetuaram profundas reformas: em 1968, a Lei 5.540 de 1968 promoveu reformas no ensino superior e, em 1971, a Lei 5.692 alterou a organização da educação básica, regulando o ensino de 1º Grau para as crianças de sete a catorze anos e instituindo o ensino de 2º Grau profissionalizante para todos os brasileiros. No fim da década de 1970, iniciou-se no Brasil, acompanhando tendência já presente no restante da América Latina, um processo de redemocratização, a abertura política. A Constituição de 1988 pode ser considerada o marco final deste processo. Resultado de fervorosos embates entre as forças representativas de organismos de esquerda da sociedade civil e representantes das elites conservadoras, esta Constituição, quando da sua promulgação, foi considerada um dos textos legais mais modernos do mundo. A Carta Constitucional brasileira inaugurava uma visão de democracia, no tocante aos direitos civis, distinta das anteriores, sob a capa liberal da social democracia. A sociedade civil organizada queria garantir em seu texto os direitos civis, instrumentos de inclusão social, igualdade de oportunidade para o exercício pleno da cidadania e a modernização das relações sociais. As reivindicações envolviam desde os aspectos relacionais dos direitos civis até elementos de uma economia mais solidária e sustentável. Porém, no que se refere à educação, os debates constituintes de 1988 concentraram-se no já antigo e conhecido embate entre o público e o privado. As discussões do campo educacional envolviam tanto entidades representativas dos profissionais da educação, nos mais variados níveis, orientados pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, quanto instituições mantidas pela iniciativa privada, estas reunidas em torno da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino - CONFENEN. Assim, a Constituição de 1988 nos artigos 6º, 205, 206 e 208 instituir a educação como um direito social de todos e dever do Estado, sem, é claro, excluir a família desta responsabilidade. A educação escolar assume a mesma importância que o trabalho, a saúde, o lazer, a segurança e outros direitos de natureza vital à vida em sociedade e à preservação da saúde mental. E a distribuição das obrigações educacionais entre o Estado e a família implica parceria de ambos no processo educativo. A educação obrigatória, com direito à gratuidade nas escolas públicas, continuou dos sete aos catorze anos de idade. Somente a Emenda Constitucional nº 59, de 2009, ampliou-a para crianças e adolescentes de quatro a dezessete anos. Com as Emendas nº 14, de 1996, e 53, de 2006. Aos estabelecimentos de educação básica fica a missão de garantir o exercício de um direito ao cidadão, já assegurado no art. 6º da CF. E remete o servidor público – agora chamado de “profissional da educação básica” - à condição de intermediário entre os cidadãos e o Estado e agente viabilizador do exercício desse direito. É, pois, seu dever ético atender ao cidadão com presteza para que ocorra a efetivação de seu direito à educação. A CF/1988, ao reiterar o papel da família como ente educador, estendendo-o à educação escolar, sugere o estabelecimento de parcerias permanentes entre estas duas instâncias. Um vínculo que aponta para a ampliação destas relações pela troca e ajuda mútua, e inclui a sociedade civil como coautora do processo educacional. Pela afirmação da gestão democrática como princípio educativo, a organização da educação escolar aponta para a construção de uma “comunidade educadora”, descaracterizando a escola enquanto “ilha de saber” e “propriedade dos catedráticos”. A gestão e o ato pedagógico têm que envolver a todos, não apenas os profissionais da educação e os estudantes, atores tradicionais no processo educativo. O art. 211 da CF/1988 apresenta as bases para o regime de colaboração entre União, estados, municípios e Distrito Federal, na oferta da educação básica. Na prática, levou a um movimento de municipalização do ensino fundamental, especialmente depois de 1997, com a implantação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF). Pela EC nº 14, de 1996, modificou-se profundamente o art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) que, nunca obedecido, obrigava à União e aos entes federados concentrarem 50% de seus recursos financeiros na eliminação do analfabetismo e universalização do ensino fundamental. Com o Fundef e, a partir de 2007, com o Fundeb (EC nº 53) inaugura-se uma série de obrigações e mecanismos federativos para o financiamento da educação básica e valorização dos educadores. A garantia de atendimento universal gratuito na educação básica, com qualidade, e de custeio de uma rede pública de educação superior pela União e pelos estados obrigou a aumentar os impostos federais vinculados à manutenção e desenvolvimento do ensino para 18% (art. 212). Os percentuais de vinculação nos estados e municípios, pelo mesmo artigo, são de pelo menos 25% - mas a LDB irá preceituar que as constituições estaduais e as leis orgânicas municipais poderão aumentá-los – o que tem acontecido, ou na legislação, ou na prática. Ainda a respeito do financiamento da educação pública, o artigo 213, § 1º, prevendo a impossibilidade de atendimento da demanda nas escolas públicas, autoriza a matrícula com ônus para o Estado, em espaços escolares não públicos – comunitários confessionais ou filantrópicos. Essa prática tem sido confirmada tanto na educação básica (com recursos do Fundeb), como na educação superior – pelo Programa Universidade para Todos (PROUNI). A garantia constitucional do direito à educação não se limita à oferta de vagas. Estende-se à garantia de condições para a permanência dos alunos na escola, à continuidade dos estudos e à qualidade. Preocupações claras do artigo 211 que, além de definir as responsabilidades das diferentes instâncias - federal, estadual, municipal e Distrito Federal -, confere à União a obrigação de equalizar as ofertas de educação no território nacional, por meio do apoio técnico e financeiro às unidades da federação. Quanto à permanência na escola e à continuidade dos estudos, o inciso VII do art. 208 aponta ações suplementares de suporte aos alunos, que são operacionalizadas por programas governamentais vinculados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Trata-se de um conjunto de ações, descritas adiante, que possibilitem o bom desenvolvimento dos estudantes da educação básica como pessoas e cidadãos. A matrícula gratuita nas escolas públicas de educação básica é direito de todo cidadão (art. 206, IV; art. 208, I). Portanto, não pode ocorrer qualquer distinção entre os indivíduos, tampouco obstrução à sua oferta. A educação obrigatória, inclusive dos que não tiveram acesso a ela na idade própria, passa a ser entendida como direito subjetivo, aquele próprio da cidadania. Entendimento que implica na garantia de matrícula e permanência do aluno na escola. Desafios que o Estado tem de enfrentar via implementação de programas sociais efetivos. 2.5 Constituição Federal/1988 Os preceitos constitucionais relativos à educação assim se apresentam: Capítulo III - Da Educação, da Cultura e do Desporto Seção I - Da Educação Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III- pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais do ensino, garantido, na forma da lei, plano de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, assegurado regime jurídico único para todas as instituições mantidas pela União; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade. Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições: I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; II - autorização e avaliação de qualidade pelo poder público. Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. § 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 1º A União organizará e financiará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, e prestará assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória. § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e pré-escolar Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a transferir. § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no caput deste artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213. § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, nos termos do plano nacional de educação. § 4º Os programas suplementares de alimentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários. § 5º O ensino fundamental público terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida, na forma da lei, pelas empresas, que dela poderão deduzir a aplicação realizada no ensino fundamental de seus empregados e dependentes. Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao poder público, no caso de encerramento de suas atividades. § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o poder público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua rede na localidade. § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do poder público. Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração plurianual, visando à articulação e ao desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à: I - erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III - melhoria da qualidade do ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do País Para saber mais sobre a CF/1988, assista ao vídeo: Constituição Brasileira de 1988 E aí, pessoal, tudo bem com vocês? Esse é mais um vídeo do canal História Contada e o último vídeo sobre as constituições brasileiras. Nesse vídeo, nós iremos falar sobre a Constituição de 1988, a nossa atual constituição. Bom, pessoal, a nossa atual constituição é o marco da reestruturação política e redemocratização do Brasil. Ela foi baseada nas necessidades da política e sociedade brasileira que acabava de sair de um regime militar de 21 anos. Foi criada a partir de um processo de aceleração da abertura política que aconteceu no governo de Sarney. Essa constituição marca a ampliação da liberdade para os civis bem como os seus direitos e garantias individuais. É nela que os analfabetos e os jovens a partir de 16 anos têm o direito ao voto. Sobre os direitos trabalhistas, houve redução de 48 para 44 horas de serviço semanal, o seguro-desemprego, as férias remuneradas e o 13º salário. Ainda na área trabalhista, a licença maternidade passou de três para quatro meses para as mulheres e cinco dias para os homens. Houve também o restabelecimento do habeas corpus e a criação do habeas data. Na área da redemocratização teve o fim da censura nas rádios, imprensa, jornais e demais meios de troca de informação e comunicação. Já na área social, os indígenas tiveram direito à posse de terras sobre territórios demarcados. Os negros ganharam uma defesa mais relevante do governo em relação ao combate contra o racismo e o preconceito. (Tela com texto: Características: - Carta Constitucional promulgada legalmente. - “República Federativa do Brasil”. - Reestruturação política e social. - Reabertura política. Redemocratização do país. - Ampliação da liberdade, direitos e garantias. - Analfabetos e jovens (a partir de 16 anos) podem votar. - Fim da censura dos meios de comunicação. - Territórios demarcados para os indígenas. - Leis de combate ao racismo e preconceito. - Eleições voltaram a ser diretas. - Composta de 245 artigos (250 atualmente), ainda em vigor.) Ainda nesta constituição, em 1993, foi realizado um plebiscitovotado pelo próprio povo para a escolha de um sistema e forma de governo que ainda não havia sido definido nesta constituição. (Imagem de uma cédula do plebiscito: FORMA DE GOVERNO 1 – MONARQUIA 2– REPÚBLICA SISTEMA DE GOVERNO 1 – PARLAMENTARISMO 2 – PRESIDENCIALISMO) O resultado foi a República Presidencialista. A atual constituição nomeia o Brasil como República Federativa do Brasil. Ela começou com 245 artigos e atualmente possui 250. É isso aí, pessoal, chegamos ao fim da série de vídeos sobre as constituições brasileiras. 2.6 Vídeo: Legislação Escolar Assista ao vídeo para revisar alguns conceitos estudados nos módulos anteriores: PROFESSORA DANIELA Olá, alunos e alunas. Sejam bem-vindos à disciplina de Legislação Escolar do curso Técnico de Formação dos Profissionais da Educação. Eu sou a professora Daniela e vamos juntos compreender que somos todos educadores, independente da função que exercemos somos parte do processo educativo. Com esse estudo, vamos entender por que a legislação é tão importante para o nosso cotidiano escolar, pois todos nós, profissionais da educação que exercemos funções nas escolas ou em qualquer outra instância educacional, somos agentes públicos, viabilizadores de um direito que já é garantido pela Constituição Federal. Vejam só os artigos 205 e 206 da nossa Constituição: Artigo 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Artigo 206 apresenta que o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; e Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. Neste momento apresentei apenas esses dois artigos e também dois princípios para iniciarmos nossa conversa. Mais à frente, iremos ver mais princípios que estão no artigo 206 da Constituição Federal de 1988. O mais importante neste momento é saber que a Carta Magna ou Constituição Federal é o maior contrato de nosso país, considerada até por muitos juristas como a certidão de nascimento de uma nação. É ela que estabelece que todos nós temos direitos e deveres a cumprir. A legislação vem então para nos ajudar na promoção da inclusão social, formação de cidadãos e profissionais competentes com a colaboração da sociedade. Assim, ao longo de nossas aulas, iremos conhecer a legislação escolar e suas implicações na educação, através de textos, questionários, vídeos, debates e outras atividades que irão auxiliar na compreensão da ementa da unidade. Acompanhe comigo a ementa da nossa disciplina: A educação nas Constituições Brasileiras; O Plano Nacional de Educação através da Lei Nº 10.172, de 2001, e o Plano Nacional de Educação 2011-2020; A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; A organização da educação escolar; Sistema Nacional de Educação; Marcos normativos do Conselho Nacional de Educação; Projeto Político Pedagógico; O Regimento escolar. A partir desta ementa, temos como objetivo principal revelar a todos vocês que trabalham nas escolas os preceitos constitucionais, legais e normativos que hoje regem a nossa educação brasileiro. Vale lembrar que as normas federais, estaduais e municipais são muitos em nosso país. Por isso, não é possível conhecer todas. Porém, ao longo de nossas aulas, iremos nos familiarizar com a legislação básica que rege a educação brasileira. O nosso objetivo será alcançado se o desejo da pesquisa e o desenvolvimento de um espírito democrático de liberdade, autonomia e criatividade forem desenvolvidos por todos vocês. É importante compreender que em relação à educação escolar nossos estudos vão bem além de conhecer e aplicar as teorias administrativas e as leis existentes. O profissional da educação deve se portar e atuar como um verdadeiro educador. Esse profissionalismo é o que esperamos de vocês, uma vez que, dentro do espaço escolar, são muitas as singularidades, ou seja, temos pessoas diversas, com características e funções diferentes. Porém, devemos ir além do que está descrito em nossas funções e assumir uma postura participativa, pensando sempre na construção da cidadania. Muitos serão os alunos e assim os desafios serão grandes também, exigindo de nós conhecimento da legislação que garante uma educação de qualidade. Para assim nos posicionarmos, a disciplina de Legislação Escolar está dividida em quatro unidades. A unidade 1, com a educação e as Constituições do século e os programas do FNDE. Na unidade 2, estudaremos a educação escolar na Lei de Diretrizes e Bases e a atual Lei Nº 9.394, de 1996. Na unidade 3, o Plano Nacional de Educação: o que se trata, um breve histórico e o Plano Nacional atual. E na unidade 4, os marcos normativos dos Sistemas de Ensino. Por isso, mãos à obra porque temos bastante trabalho pela frente . Nessa nossa aula inicial, vamos estudar a unidade 1 - a educação e as Constituições. Esse é o momento para que você já incorpore alguns conceitos básicos sobre o que é legislação, onde ela se encontra e qual é o seu principal agente, o servidor público. A aplicação da legislação ao contexto educacional da escola pública depende de todos nós enquanto guardiões do direito à educação. Nas escolas, o comprometimento dos profissionais deve ir além da simples produção de algo ou alguma coisa esperando o final por um diploma. Esse comprometimento envolve a construção da cidadania em muitos aspectos, incluindo os afetivos e emocionais. Assim, torna-se inadmissível comparar gestão escolar e gestão empresarial, muito mais ainda imaginar que é possível utilizar métodos empresariais para a escola ou métodos da escola para as empresas. O fato de não podermos comparar a gestão escolar com a gestão empresarial se deve ao fato de que dentro da instituição escolar queremos uma gestão participativa, envolvimento de todos os setores, como pais, alunos, funcionários e de toda a região que a escola está inserida. Já na gestão empresarial não existe interesse da participação que vá além dos funcionários. De acordo com o tipo de gestão a postura muda em relação aos funcionários. Nos bancos, por exemplo, o objetivo é o lucro, assim como nas fábricas o objetivo é a produção. Gerentes, diretores e cargos de chefia não costumam se relacionar com funcionários diversos. Bem diferente das escolas, que têm como objetivo o aprendizado integral, o que promove encontros entre todos os envolvidos no processo. A postura muda diante de um tipo de gestão. A função dos cargos varia de acordo com os objetivos da instituição. Como exemplo, bancos, fábricas e escolas. Em relação à educação, os papéis que os funcionários exercem dentro da escola são diferentes, mas todos devem estar preocupados com a promoção de uma educação de qualidade e baseada nos princípios da Constituição Federal, conforme já apontei anteriormente. Não importa a qualificação de cada membro, mas sim a participação e a postura que devemos ter. A merendeira, o porteiro, o auxiliar de serviços gerais e de secretaria também trabalham para a construção da cidadania, divulgando direitos e deveres que são apresentados na legislação. Agora vamos fazer uma pausa e conversar um pouco. O que você entende por legislação? E aí, será que vocês conseguiram definir legislação? Vamos lá. O que é legislação? Segundo o Novo Aurélio Século 21, o dicionário da língua portuguesa, podemos entender legislação como o conjunto de leis que regulam as relações sociais em um país ou em uma determinada área das relações humanas. Por exemplo, a Constituição Federal trata das bases das relações sociais em uma nação. O Código de Trânsito trata das relações decorrentes do trânsito de veículos e pessoas nas ruas e estradas. O estatuto de um condomínio regula as relações e as formas de organização naquele espaço de residência. E a legislação educacional, o que é? Em relação à legislação educacional temos como definição: leis que procuram, de certa,forma organizar o setor tanto nas questões pedagógicas quanto nas questões administrativas, o que inclui a regulamentação das relações internas - entre funcionários burocráticos, professores, alunos, pais e responsáveis -, e externas, como acesso à educação escolar e sua articulação com as demais instâncias da sociedade. No entanto, a simples existência de legislações não garante direitos e deveres. É necessário que tenhamos o conhecimento e o entendimento de seus sentidos e de suas funções. Esse conhecimento exige organização pessoal para o cumprimento adequado das determinações que a lei contém e também a mobilização de todos os profissionais da comunidade escolar. A cidadania implica em muito mais do que conhecer e aceitar as leis. Podemos afirmar que a legislação da educação caracteriza-se como um conjunto de normas, com artigos da Constituição, leis, decretos, resoluções, pareceres, portarias, instruções e atos. Todas essas normas dão forma e regulamentam a estrutura e o funcionamento da educação com amplitude maior ou menor. Isso irá depender se ela é de âmbito nacional estadual ou federal. A legislação educacional está composta por artigos da Constituição, leis, decretos, resoluções, pareceres, portarias, instruções e atos. Mais uma vez, vale ressaltar que não vamos decorar todas essas leis ou decretos, mas teremos o conhecimento de que existe uma lei para determinada situação e que ela garante o exercício e a aplicação de direitos e deveres. Agora vamos fazer uma outra pausa. Em trios ou em duplas, faça uma lista de situações, objetos, alimentos e outras coisas que você acredita que a sua instituição precisa para ter e oferecer uma educação de mais qualidade. Você conhece alguma lei que possa garantir que a sua instituição conseguiu de forma segura o que ela necessita? Guarde suas anotações para, no final desta aula, fazermos uma atividade. Vamos retomar a nossa aula. Quando falamos em leis precisamos perceber que a participação democrática dos cidadãos nos diferentes espaços que ocupamos levam em consideração alguma hierarquia. Ela acontece no trabalho nos bairros, nas instituições sociais e até mesmo nas instâncias legislativas. A hierarquia existente no sistema educacional está baseada nos órgãos federais, através do Ministério da Educação e do Conselho Nacional de Educação. Depois, temos as secretarias estaduais, municipais e os Conselhos Estaduais de Educação. Essa hierarquia que se estende a todos os municípios também. Para organizar o funcionamento de todas essas instâncias temos a Constituição Federal de nosso país, a Constituição cidadã de 1988. Mas antes dela, tivemos outras. Acompanhe comigo. Em 1824, foi apresentada a nós a primeira Constituição do Brasil, chamada de Constituição Imperial. A primeira Constituição do Império a possuir um único artigo versando acerca da gratuidade do ensino primário e da eliminação das exclusividades do Estado, mas não regulamentava nem garantia recursos. Até então, toda a estrutura e financiamento da educação se fazia por instituições confessionais, vinculadas, na sua maioria, à Igreja Católica. Alguns anos depois, em 1891, a República foi inaugurada com uma nova Constituição chamada de Republicana, que cria as instituições de ensino superior e determina que o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos será leigo. O ensino primário foi normatizado e passa ser de caráter obrigatório, público e gratuito para todos os brasileiros. Já a Constituição de 1934 foi uma consequência direta da Revolução Constitucionalista de 1932. Ela estabelece a competência legislativa da União para traçar diretrizes da educação nacional, definida como direito de todos, dever da família e dos poderes públicos, voltada para a consecução de valores de ordem moral e econômica. A Constituição de 1937 foi a quarta Constituição brasileira e a terceira do período republicano. Ficou conhecida como a Constituição polaca por ter leis de inspiração fascista. O texto constitucional vincula a educação a valores cívicos e econômicos. Não se registra a preocupação com o ensino público. A Constituição brasileira de 1946, bastante avançada para a época, foi notadamente um avanço da democracia e das liberdades individuais do cidadão. Incluiu em seu texto uma normativa que tornava obrigatória a elaboração e publicação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei Nº 4.024, de 1961. Porém, durante a vigência da Constituição de 1946, ocorreu o golpe militar de 1964, quando governava o presidente João Goulart. A partir de então, a Carta Magna passou a receber uma série de emendas que a descaracterizaram. Foram tempos muito difíceis, mas, em 1988, foi promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 ou Constituição de 1988, que é a atual Carta Magna do Brasil. Ela é a sétima Constituição do país e a sexta de sua República, bem como a última a consolidar a transição de um regime autoritário da ditadura militar de 1964 a 1985 para o regime democrático de 1985 até o momento. Ela institui a gestão democrática da educação pública. Antes de 1824, a história da educação brasileira se construiu por uma ausência de políticas públicas para a educação. Passamos pelas constituições de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967, com avanços e retrocessos que você poderá se aprofundar através do seu caderno de estudos, da página 30 a 52. A atual Constituição Federal garante que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Assim, o desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho devem ser de qualidade e que atendam a necessidade e os padrões da comunidade. Isso está garantido nos artigos 205 e 206, seguidos do artigo 208, que aponta os deveres do Estado para que a educação seja garantida nas creches, na educação infantil e ensino fundamental. No artigo 207, a autonomia das universidades é apresentada. Não devemos esquecer que, mesmo com a autonomia, responsabilidades e normas existem. Já os artigos 210 e 211 apresentam normas para assegurar a formação básica comum e de quem é a responsabilidade da oferta. O artigo 212 estabelece as porcentagens que devem ser aplicadas à educação em relação aos impostos, assim como no artigo 213 os recursos públicos destinados às escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas. O artigo 214 estabelece o Plano Nacional de Educação, que teremos a oportunidade de estudar na unidade 3. Nossa, quanta informação, não é mesmo? Agora darei um tempo vocês para assimilarem esse conteúdo. Voltem às páginas 45 a 49 e, caso tenham qualquer dúvida, seu tutor estará aí para discutir com você. Voltamos agora para conhecer um pouco mais. Você já parou para pensar que a educação básica é ofertada de acordo com as competências e responsabilidades da União, dos Estados e dos municípios? Então veja. Essa divisão acontece em regime de colaboração, mas com algumas divisões apontadas na LDB. À União cabe autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar os cursos das instituições de educação superior e dos estabelecimentos de ensino. Ao Estado cabe assegurar o ensino fundamental e oferecer com prioridade o ensino médio. A município cabe oferecer educação infantil em creches e pré-escolas e, com prioridade, o ensino fundamental. Ao Distrito Federal cabe as competências dos Estados e municípios, sendo assim oferecer toda a educação básica. Mas de nada adiantam tantas leis se não exercemos nosso papel de agentes viabilizadores e fazemos valer nossos direitos e deveres. Assim, em relação à educação, temos o Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar ou FNDE. O FNDE é uma autarquia do Ministério da Educação que tem por finalidade a captação de recursos para projetos educacionais, sendo sua principal fonte o salário-educação. O salário-educação é composto por 40% da denominada cota federal, mantidos pela União para distribuição em programas, projetos e ações voltadas para a educação básica pública. Os outros 60% compõem a denominada cota estadual, a serem divididosproporcionalmente ao número de matrículas na educação básica, entre Estados, Distrito Federal e municípios, conforme informações do Censo. O FNDE teve sua criação em 21 de novembro de 1968, através da Lei Nº 5.537 e sua missão é prover recursos executar ações para o desenvolvimento da educação, visando garantir educação de qualidade com acesso garantido a todo cidadão. Os principais programas do FNDE são: Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que garante pelo menos uma refeição diária para os alunos da educação básica das escolas públicas e comunitárias; e para as escolas de período integral três refeições; Programa Nacional do Livro Didático, o PNLD, fornece os livros para os alunos do ensino fundamental e médio, incluindo a educação de jovens e adultos; O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) foi criado para equipar as bibliotecas com as obras literárias, dicionários e enciclopédias, aumentando assim a qualidade de aprendizado de nossos alunos; O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) transfere recursos para a conservação e manutenção das instalações, materiais permanentes e de consumo, além de formação continuada do pessoal das escolas. Esse programa é para todas as etapas e modalidades da educação básica; O Programa de Transporte do Escolar (PTNE) repassa aos municípios recursos para o transporte dos alunos da educação básica que moram em zonas rurais, incluindo o programa Caminho da Escola que financia a compra de ônibus e embarcações para esses alunos; O Programa Nacional Saúde da Escola (PNSE) destina recursos para que as escolas desenvolvam ações que sanem problemas de saúde que podem comprometer o aproveitamento escolar dos alunos. Todos esses programas do FNDE são derivados dos artigos 208 e 212 da Constituição Federal. Vamos assistir a um vídeo institucional do MEC sobre as ações do FNDE por todo o Brasil, com alguns exemplos de programas já aplicados. Fique atento às informações, elas serão muito importantes para a atividade que vamos realizar ao final dessa videoaula. VÍDEO INSTITUCIONAL DO MEC SOBRE O FNDE APRESENTADORA: Olá, tudo bem? Você está convidado a conhecer as principais ações do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE, autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação. Este vídeo pertence a todos nós que abraçamos a boa causa da educação de qualidade, para os cerca de 41 milhões de estudantes em 154 mil escolas públicas do país. Pode entrar, a escola é nossa. Vamos começar pela alimentação escolar. Que tal um exemplo para ilustrar o que falamos? Belo Horizonte. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é o maior programa de alimentação escolar do mundo. Ele transfere recursos financeiros suplementares aos Estados, municípios, Distrito Federal e escolas federais para suprir as necessidades nutricionais dos alunos da educação básica. O repasse é feito em 10 parcelas mensais a partir de fevereiro e ao menos 30% deste recurso devem ser investidos na compra de alimentos da agricultura familiar. Detalhes sobre a prestação de contas estão na página do programa no portal da autarquia. CRISTIANE JUSTI – professora - “Dentre os recursos do FNDE, existe o Programa de Alimentação Escolar, que é de fundamental importância para a manutenção dos alunos na escola, além de custear investimentos na agricultura familiar.” RITA ROCHA – cozinheira - “Quando você faz o que você gosta, você faz com amor e fazer comida, pra mim, é sempre um prazer.” CRIANÇAS NO REFEITÓRIO DE UMA ESCOLA - “Tá muito gostoso”. APRESENTADORA: E pensar que isso não acontece só em Minas Gerais. É no Brasil todo. Mas vamos agora falar sobre Caminho da Escola. Auxiliar Estados, municípios e o Distrito Federal a renovar, padronizar e ampliar a frota de veículos escolares em áreas rurais e ribeirinhas prioritariamente é o principal objetivo do Caminho da Escola. O programa oferece ônibus, lanchas e bicicletas que podem ser adquiridos via assistência financeira do FNDE, linha de crédito especial do BNDES ou recursos próprios. Dentro do mesmo tema temos outro programa super importante, o transporte escolar, que veremos em Sabará, Minas Gerais. Mais uma vez gestores estaduais e municipais recebem recursos financeiros suplementares do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar (Pnate) para ajudar nas despesas dos veículos escolares como seguro, impostos, manutenção, combustível e terceirização do serviço. As transferências ocorrem em 10 parcelas a partir de fevereiro. DULCILÉA RIBEIRO – diretora - "Muitas vezes, os alunos das zonas rurais interrompem seus estudos por falta de oportunidade de luz se locomoverem até as escolas. Pra mim esse transporte escolar traz um grande benefício pedagógico. Os meninos conseguem ter uma sequência nos estudos, o acompanhamento diário, o que também tranquiliza muitos pais. HELEN SANTOS - mãe - “Antigamente era no dedão, né? A gente já não tem aquela mesma disposição para andar. Aí a van escolar foi boa demais.” APRESENTADORA: Legal, né, gente? Vamos falar em Dinheiro Direto na Escola. Aonde vamos? Rio Grande do Norte. O Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) destina recursos financeiros às escolas públicas da educação básica e escolas privadas de educação especial mantidas por entidades sem fins lucrativos. O dinheiro pode ser usado na compra de materiais e equipamentos permanentes, realização de pequenos reparos, entre outras possibilidades. Veja os prazos de prestação de contas no portal do FNDE. MARCELE NORONHA – gestora escolar - “O FNDE é um recurso essencial para o funcionamento da escola e para o auxílio de um modo geral para as atividades do aluno, para o aprendizado, para todos os componentes que ativam a escola, que formam o professor, que ajudam no dia a dia das atividades diárias dos alunos e dos educadores.” APRESENTADORA - “Os Programas do Livro envolvem duas ações: o Livro Didático e o Biblioteca da Escola. E eu mostro através dos Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte. O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) contribui diretamente para o aprendizado de estudantes das redes públicas de ensino fundamental e médio com a distribuição gratuita de livros didáticos, obras complementares e dicionários às escolas. Os próprios professores escolhem, de uma lista disponibilizada pelo MEC, os livros que irão utilizar em sala de aula. JOSÉ SILVA – professor - “O livro didático na biblioteca, na escola e com o aluno é uma ferramenta de grande valia, pois, além da bateria de exercícios, da teoria, é uma praticidade muito boa, tanto por parte do professor e principalmente por parte do alunado.” APRESENTADORA - Democratizar o acesso às fontes de informação, fomentar a leitura de alunos e apoiar a atualização e o desenvolvimento profissional do professor são os objetivos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Todas as escolas públicas recebem obras literárias de referência e de pesquisa para compor em suas bibliotecas. SOCORRO LOPES – professora - “O programa PNBE é um programa de alto valor para que a gente possa estimular cada vez mais os jovens a conseguir melhorar a sua escrita, o seu interesse em qualquer outra disciplina. Um projeto de leitura sempre será bem-vindo para que o estudante possa aperfeiçoar-se em qualquer outra disciplina que ele venha a estudar, porque quanto mais ele lê mas ele vai aprender.” RENATA CHERON - aluna - “Qualquer projeto que envolva literatura é muito bem-vindo em qualquer escola que seja, seja ela fundamental ou do ensino médio. Os livros ajudam muito, não só sobre conhecimento de vestibular ou ENEM ou escola, eles ajudam também a gente em questão de conhecimento de mundo, de vida em si.” APRESENTADORA - Por fim, temos o Proinfância. Vamos ver um exemplo real que já acontece no Brasil. O Proinfância presta assistência técnica e financeira a municípios e ao distrito federal para a construção de creches e compra de mobiliário e equipamentos para seu funcionamento, como mesas, cadeiras, berços, geladeiras e fogões. MARIO MELO – professor - “É atravésda educação infantil que se forma a base dos nossos estudantes, para que eles possam prosseguir a caminhada estudantil deles, a formação pessoal, a formação escolar, a formação cidadã.” GILSA SOUZA – coord. Administrativa - “E a gente está aqui para passar para eles segurança, carinho, amor.” MARIO MELO – professor - “Sem esses programas não poderíamos tê-los aqui e fazer com que a escola tivesse tanto sabor, tão atrativo.” APRESENTADORA: O FNDE respira educação e inspira desenvolvimento. Aspiramos a um Brasil melhor. Visite nosso portal na internet em www.fnde.gov.br e conheça outras iniciativas como o Plano de Ações Articuladas (PAR), Registro de Preços Nacional, Formação pela Escola, Fundeb, salário-educação e SIOPE. Gestores, técnicos, professores, pais, alunos, juntos temos fôlego de sobra pra construir um futuro mais justo e digno. FNDE. Ministério da Educação. Governo Federal. FIM DO VÍDEO PROFESSORA DANIELA E aí, perceberam quantos programas importantes o FNDE possibilita? Vamos recordar aqui. O FNDE possui: Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); Programa Nacional do Livro Didático (PNLD); Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE); Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE); Programa de Transporte do Escolar (PTNE); Programa Nacional Saúde na Escola (PNSE). A atuação do FNDE está na provisão de recursos, gestão de programas e ações de controle, acompanhamento e assistência desses recursos. Todos esses programas do FNDE são derivados dos artigos 208 e 212 da Constituição Federal. O artigo 208 em seu inciso 7 garante o atendimento ao educando no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. O artigo 212 apresenta que a União aplicará anualmente nunca menos de 18% e os Estados e o Distrito Federal e os municípios 25%, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Agora que você já conhece um pouco mais da Constituição Federal e também sobre o FNDE, vamos voltar àquela lista de leis que você fez em dupla ou em trio. Solicitei que vocês fizessem uma lista de situações, objetos, alimentos e outras coisas que você acredita que sua instituição precisa para oferecer uma educação de mais qualidade. Também perguntei se você conhece alguma lei que pudesse garantir que a sua instituição de forma segura o que ela necessita. Como você viu até agora, o ensino no Brasil tem leis que asseguram a oferta de ensino e também o FNDE, para auxiliar no financiamento de recursos para projetos educacionais. A partir das necessidades que você elencou, faça agora uma tabela indicando em qual programa do FNDE essa necessidade se enquadra e verifique em sua escola se já foi solicitado recurso. Você receberá um modelo para que fique mais fácil. Faça uma entrevista em sua escola e anote como foi esse recurso foi solicitado, valor que a escola recebeu e se ainda não conseguiu também o recurso. Com essas informações você também está ajudando sua escola a saber de seus direitos e como melhorar a qualidade de instalações e do ensino. Lembre-se que essa atividade será avaliada. Portanto, aproveite os momentos finais dessa aula para tirar suas dúvidas com o tutor e trocar ideias com seus colegas sobre a atividade. Finalizando a aula de hoje sabemos que ainda temos grandes desafios educacionais: crianças que abandonam a escola, analfabetismo e repetência, aplicação inadequada de recursos, entre outros problemas. Um aprendizado abrangente sobre nossos direitos e deveres é sem dúvida o ponto de partida não somente para se diagnosticar os problemas e distorções que envolvem a área educacional, mas também para nos ajudar a identificar as ações que marcam avanços e progressos, orientando efetivamente na elaboração de políticas públicas eficazes. Nesse sentido, espero ter contribuído para despertar a consciência sobre a importância da busca constante pelo saber. Um grande abraço a todos. Acompanhe as aulas no ambiente virtual de aprendizagem e mantenha seus estudos em dia. 2.8 A Educação Escolar na LDB Não podemos tratar de Leis de Diretrizes e Bases (LDB) sem antes falarmos, um pouco que seja, dos ideais que as envolveram. Antes mesmo de instrumento de controle e ordenamento legal da educação brasileira, o que se pretendia com o estabelecimento de diretrizes e bases para a educação era configurar um conjunto coeso de normas para a educação brasileira. Buscar um ordenamento legal que configurasse nossa educação a partir de demandas da sociedade brasileira, o que, a nosso ver, tem sido atingido. Foi neste intuito que, ainda em 1932, embalados pela onda de transformações nacionalistas e liberais que caracterizavam a intelectualidade e a sociedade brasileira nas décadas de 1920 e 1930, os Pioneiros, em Manifesto, exigiram diretrizes para se moldar um projeto nacional de educação. Esse projeto contemplaria as demandas da sociedade brasileira e garantiria o papel da educação escolar na modernização social, política e econômica da sociedade brasileira. Utopia educacional e social que embalou os preceitos constitucionais relativos à educação nas constituições de 1934 e 1946 e os dispositivos de nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases (LDB) – a Lei nº 4.024, de 1961. Esse movimento, com um olhar republicano para a educação e a sociedade, implicava o entendimento da ação educativa como ferramenta alavancadora da modernização social. E exigia da sociedade, sob a orientação estatal, um papel de promotora das condições para o desenvolvimento de uma educação voltada à cidadania. Nessa perspectiva, as leis de diretrizes da educação editadas no Brasil, desde a primeira, de 1961, até a atual (Lei 9.394 de 1996) e mesmo a Lei 5692, de 1971, em plena ditadura, configuram-se como regulamentadoras da educação preconizada constitucionalmente – em alguns momentos até reeditando o texto constitucional. E caracterizaram-se por marcos de avanços, mesmo que pequenos, na organização desta educação nacional. Assim, nesta reflexão sobre a educação brasileira, dadas as limitações de espaço e, principalmente, por se tratar de material também instrucional, trataremos as diretrizes e bases da educação como ferramental de trabalho dos profissionais da educação. Sem omitir análises necessárias dos textos legais, vamos abordá-los na sua dimensão funcional, como ferramenta de trabalho dos profissionais dos setores administrativos da escola. Será dada maior ênfase à atual LDB que já sofreu mais de cem mudanças no texto - em função de sua vigência, desde 1996 - o que faz dela a peça legislativa de maior impacto no trabalho cotidiano dos profissionais administrativos escolares. Por isso, recomendamos, a partir deste momento, a leitura do texto atualizado da Lei nº 9.394, de 1996. Mas tal postura não implicará no preterimento das demais LDB’s, pois entendemos como importante para o profissional o conhecimento crítico do processo evolutivo dessa legislação. 2.8.1 As Leis de Diretrizes e Bases (LDB) Pela LDB – 4024/61 a educação se estruturava nos seguintes níveis: pré-primário; primário; ensino secundário de primeiro e segundo ciclos e ensino superior. O ensino secundário atendia, além da educação propedêutica, própria para a continuidade nos demais níveis da educação, o ensino profissional nas áreas agrícola, industrial e comercial e o Curso Normal, de formação para o magistério no pré-primário e no primário. Orientada pela vaga liberal, descentralizadora, a LDB 4024/61 trouxe mudanças significativas à organização da educação brasileira. Conferia maior autonomia aos órgãos estaduais, descentralizava a gestão da educação (arts. de 15 a 17) e regulamentava os Conselhos Estaduais de Educação (art.10) e o Conselho Federal de Educação (arts. 8 e 9). A Lei 4.024, de 1961, apoiava-se nos preceitos de financiamento da Constituição de 1946, pelos quais a União devia aplicar 12% dos impostos com a educação, e os estados, municípios e o Distrito Federal 20% (art. 92). Esta definição,além de aclarar os limites mínimos de comprometimento orçamentário dos entes federados, facilitava o planejamento do setor. A LDB 4024 detalhava a organização do trabalho pedagógico a ser desenvolvido na educação escolar. Estabelecia ano letivo com duração de 180 dias (art. 72); previa atendimento a alunos excepcionais, inclusive na rede privada, com aporte de recursos públicos (arts. 88 e 89); esclarecia o que não seria considerado despesa com educação (art. 93 § 2º); definia como facultativa a frequência ao ensino religioso, embora constante da grade horária escolar (art. 97); e possibilitava a instalação de escolas com propostas de ensino experimental (art. 104). Esta LDB 4024 estabelecia a obrigatoriedade de matrícula no ensino primário (art. 3) e propunha o Curso Normal como instância de formação de profissionais para o Ensino Primário – docentes, coordenadores, orientadores e administradores - (art. 52 a 55). O ingresso na carreira docente, na rede pública de ensino se daria, a partir desta Lei, mediante concurso de provas e títulos (art. 60). E obedeceria aos critérios de formação nela estabelecidos: para os cursos secundários, em licenciaturas de nível superior. As mudanças pretendidas pela LDB de 1971 foram mais profundas. Reconfigurou-se toda a Educação Básica, instituindo o 1º grau, com oito séries, sendo as 4 primeiras equivalentes ao antigo primário e as 4 últimas, ao primeiro ciclo do secundário – abolindo-se a exigência de aprovação em “exame de admissão ao ginásio”. O segundo ciclo secundário foi rebatizado de Ensino de 2º grau, compulsoriamente profissionalizante, com duração de 2 a 5 anos. Havia alternativas de habilitações técnicas, com maior carga horária profissional, e de auxiliares. Ao Curso Normal, que já formava professores para o magistério na pré-escola e nas séries iniciais do primário, foi indicada a possibilidade de ampliação em um ano, habilitando seu egresso à docência até a sexta série. Mas as mudanças da Lei 5692/71 não se limitaram à estrutura da educação escolar; avançavam no currículo. Organizaram-no em atividades, áreas de estudo e disciplinas, segundo os aportes da psicologia evolutiva e, pelo art. 7º, definiu como obrigatório, dentre outros componentes, a Educação Moral e Cívica, disciplina de natureza ideologicamente comprometida com os ideais que fundamentavam o golpe civil-militar de 1964. O viés profissionalizante foi atenuado pela reação de acadêmicos e da burguesia que colocava seus filhos em escolas privadas para disputar os vestibulares aos cursos de prestígio (direito, engenharias e medicina). Uma “reforma da reforma” instituiu as “habilitações básicas” no lugar das terminalidades técnicas. A década de 1990, apesar de caracterizar-se pelas ideias neoliberais com relação à educação, trouxe o desejo de ampliação do alcance das políticas de educação e o clima de inclusão social que envolveu a sociedade ocidental desde a convenção de Educação para Todos, realizada em Jontien, na Tailândia, em 1990, e da Declaração de Salamanca, na Espanha (1994). Estes eventos, no Brasil, influenciaram a LDB 9.394/96, recolocando-a em consonância com a Constituição de 1988 que já orientava o Estado brasileiro numa perspectiva mais atenta às demandas da sociedade civil. Essa convergência entre a LDB 9394/96, os fundamentos filosóficos de seu tempo e a Carta Magna de 1988 conferiram à educação brasileira caracteres típicos de uma prática centrada no processo de modernização social, o que implicou e implica em mudanças significativas na organização da educação brasileira, em todos os níveis, a começar pela sua amplitude. 2.8.2 A LDB atual: lei nº 9.394, de 1996 A LDB 9394/96, em seu primeiro artigo, define a abrangência da educação para o Estado brasileiro, ao afirmar que ela abarca os "processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais." No artigo 5º, caracteriza o direito à educação como direito público subjetivo. O que implica o Estado, em todas as suas instâncias, com a sua garantia e a estabelece como prioridade. Esta caracterização permite ao cidadão ou a qualquer entidade da sociedade civil acionar o Estado legalmente na cobrança deste direito, no caso de “oferta irregular da educação”, ficando a autoridade sujeita a responder por crime de responsabilidade. O que é uma oferta irregular? Menos dias letivos anuais? Menos horas letivas diárias? Professores sem habilitação? Índices muito negativos de aprendizagem? A LDB defende uma percepção da educação que, mais do que esclarecer a complexidade do ato educativo, identifica os limites do compromisso que o envolve. Um comprometimento que não pode se limitar aos muros escolares, tampouco aos profissionais da educação que atuam na docência. pois aponta diferentes espaços educativos e compromete todos os atores na defesa dos princípios da liberdade e da solidariedade humana (art.2º). A atual LDB parte da perspectiva de construção de uma “sociedade aprendente”, na qual todos se encontram implicados com a educação e, consequentemente, com a transformação social. Para tanto, ainda no art.2º, a LDB 9394/96 apresenta como sua meta educativa “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. O art. 3º replica e amplia os princípios constitucionais do ensino, que também expressam sua filosofia de educação. A saber: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo ideias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e o apreço à tolerância. V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI – gratuidade do ensino em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma da lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade. X – valorização da experiência extraescolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. Atendendo ao preceito constitucional presente no artigo 205 da Carta de 1988, que estabelece o compromisso estatal e familiar com a educação, a LDB 9394/96 define nos artigos 4º a 6º as obrigações relativas ao Estado e às famílias com a educação. Ao Estado compete garantir, segundo o artigo 4º: · Ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; · Universalização do ensino médio gratuito; · Atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; · Atendimento gratuito em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos de idade; Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; · Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; · Oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condições de acesso e permanência na escola; · Atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde; · Padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem; · Vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. A educação brasileira, pela LDB 9394/96, passou a organizar-se em apenas dois níveis, o básico e o superior (art. 22). A educação básica compreende a educação infantil,que atende em creches às crianças de 0 a 3 anos de idade e na pré-escola, às de 4 e 5 anos (arts. 29 e 30). O ensino fundamental, com nove anos de duração (art. 32), atende às crianças a partir de 6 anos (art. 32). E o ensino médio, última etapa da educação básica, com três anos de duração – em que a idade certa de matrícula varia de 14 a 18 anos. Quanto à estrutura, o ensino médio, com a edição dos decretos 2.208/97, que regula a educação profissional, e 5.154/04, que cria a modalidade de ensino médio integrado à educação profissional técnica de nível médio, sofreu alterações significativas. O decreto 2.208/97 estabelece no seu artigo 2º que: "a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou em modalidades que contemplem estratégias de educação continuada, podendo ser realizada em escolas do ensino regular, em instituições especializadas ou nos ambientes de trabalho. (Brasil, 1997)" Uma das inovações mais radicais da LDB, que merece bastante atenção, é, sem dúvida, a variedade de possibilidades de organização apresentada às escolas da educação básica. Pelo art. 23, elas poderão ser estruturadas em séries anuais; em semestres; ciclos; períodos de estudos alternados; grupos não seriados; enturmados por faixa etária; por competências demonstradas pelos alunos; ou por outros critérios. Entretanto, o parâmetro de organização será sempre “o que o interesse do processo de aprendizagem recomendar”. Essa observação, que em leis anteriores se aplicava ao ensino de artes e de línguas estrangeiras, deve agora ser levada em conta para todas as etapas, modalidades e componentes curriculares da educação básica. Daqui se vê a importância do diálogo entre professores e secretaria escolar, que muitas vezes corre o risco de engessar os tempos e espaços da escola em ritos burocráticos. l No que tange ao currículo do ensino fundamental, a obrigatoriedade de inclusão de conteúdos relativos aos direitos das crianças e dos adolescentes (§ 5º, inciso IV, art. 32), também é digna de destaque. Uma vez que se trata de ação concreta de construção de postura cidadã, um dos objetivos fundamentais da educação básica. Já o ensino médio tem sofrido grandes alterações curriculares com as mudanças na atual LDB, que incorporaram dispositivos dos decretos referentes à educação profissional, já citados, trazendo novos conteúdos e formas de oferta, nas diferentes modalidades de atendimento. O importante é saber que, aos alunos concluintes do ensino fundamental, abrem-se hoje oportunidades as mais variadas, desde o tradicional ensino médio comum – preparatório à educação superior – até cursos profissionais a ele concomitantes ou subsequentes e os de currículo integrado, oferecidos principalmente pelas redes estaduais e pelos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, presentes em 500 municípios brasileiros. O “cardápio” de cursos da educação superior é estruturado em graduações (licenciatura, bacharelado e tecnológico) e pós-graduações, lato sensu (aperfeiçoamento e especialização) e stricto sensu (mestrado e doutorado), bem como em cursos de extensão e sequenciais, descritos no art. 44 da Lei, tendo os últimos como pré-requisito a certificação do ensino médio. Embora não tenhamos a pretensão de construir um manual de legislação educacional, entendemos como bem-vindo o destaque de alguns aspectos da lei que dizem respeito a pontos específicos da rotina administrativa de uma escola. Comecemos, então, pelo ingresso de alunos. A matrícula na educação básica, na educação infantil faz-se em creches para crianças de até 3 anos de idade (art. 30, inciso I) e é obrigatória na pré-escola para aquelas entre 4 e 5 anos (art.30, inciso II). No ensino fundamental, de matrícula obrigatória, o ingresso será aos 6 anos de idade (Art. 32). Alguns sistemas, seguindo resolução do Conselho Nacional de Educação, adotam 31 de março como a data de nascimento limite para admitir as crianças no 1º ano do ensino fundamental. Não tendo completado seis anos até este dia, a criança deve ser matriculada ainda na pré-escola. Já para o ensino médio, a legislação não estabelece uma idade limite mínima para ingresso, nem mesmo exigindo-se a conclusão do ensino fundamental. Sendo, porém, 18 anos a idade para realização dos exames de suplência (Art.38 § 1º, inciso II), podemos deduzir os 17 anos como sendo a idade limite para ingresso no ensino médio regular. Daí por diante o estudante se enquadra na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Num país de dimensões continentais como o Brasil, a busca por melhores oportunidades, em todos os campos da vida, tem levado pessoas e famílias a porem-se em constante movimento. Esta mobilidade tem afetado a vida escolar de crianças e adultos, exigindo dispositivos legais que minimizem os impactos deste fenômeno social sobre a frequência à escola. Atento a essa questão, os legisladores da educação trazem para a LDB, em seu art. 24, inciso II, item b, a possibilidade de matrícula em qualquer ano ou série da educação básica por promoção ou transferência, e mesmo sem comprovação de escolarização anterior. Nesta última possibilidade de acolhimento do aluno à escola realizará avaliação para verificar o “grau de desenvolvimento e experiência do candidato” (Inciso II, item c) antes de enturmá-lo. Essa avaliação poderá, inclusive, resultar em “aceleração de estudos” ou “avanços nos cursos e nas séries”. O art. 24 permite extrema flexibilidade, mas não se pode usá-la para prejuízo futuro do estudante. À migração podemos associar a busca precoce por emprego como fator que compromete a frequência regular e até mesmo o ingresso de nossos jovens na escola na idade considerada regulamentar. E, paralelamente a esta chaga social, que é a não preparação do jovem para ingresso digno no mundo do trabalho, os avanços tecnológicos exigem cada vez mais uma formação de maior qualidade. Nesse contexto, como impacto no sistema educacional vem, num primeiro momento, a elevação dos postulantes à Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, com ele, a busca por formação profissional. Diante de tal cenário, a LDB, nos arts. 37 e 38, estabelecendo a educação como política social, alavanca do desenvolvimento social e econômico, assegura a gratuidade dos cursos fundamentais e médios da EJA e a gratuidade dos exames de suplência para os jovens e adultos que não frequentaram a educação básica na idade certa. Mais ainda: alia aos currículos da EJA os componentes da educação profissional. Os exames de suplência, para o ensino fundamental, estão garantidos aos maiores de 15 anos e os exames para conclusão do ensino médio são ofertados aos maiores de 18 anos de idade (Art. 38). Nesses exames, os sistemas de ensino poderão manter formas de aferir e aproveitar os conhecimentos adquiridos informalmente pelo educando (§2º). A maior novidade quanto à formalização dos conhecimentos como política pública é a instituição pelo governo federal do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que certifica a conclusão do ensino médio para os aprovados com mais de 18 anos e os habilita, por classificação, a ocupar milhares de vagas em cursos superiores de graduação de instituições públicas e privadas. Ainda nesta vertente da educação como política social articulada a outras demandas da sociedade, como a de formação de mão de obra, por exemplo, a LDB 9394/96 teve, a partir da Lei 11.741 de 2008, alterados o capítulo II, com a criação da seção IV – A “Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio e o capítulo III, que passou a titular-se “Educação Profissional e Tecnológica” (arts. de 36 a 42). Desta forma, o ensino médio, à semelhança do antigo 2º grau da LDB 5692/61, voltou a ser instância também de formação profissional, contudo, sem o caráter obrigatório e o aligeiramento dos conteúdos científicos e humanísticos a que levava a lei anterior. É tarefa também da secretaria escolar subsidiar o estudante ao término do ensino fundamental para a decisão entre um curso profissional ou de currículo comum (propedêutico). Outradistinção desta forma de organização da educação profissional é seu alinhamento com o mercado de trabalho da região, bem como a parceria com instituições de formação profissional de outras redes de ensino. Sempre articulada com o ensino regular, a formação profissional poderá atender também a demandas de formação continuada em cursos especiais focados no interesse comunitário, sem exigência de comprovação de algum nível de escolaridade. Não nos esqueçamos de que a educação profissional é uma modalidade que perpassa a educação básica e superior e, neste último nível, expressa-se pelos cursos tecnológicos, que são graduações de menor duração, e pelos inúmeros cursos superiores de graduação e pós-graduação que conduzem a postos especializados de trabalho cada vez mais numerosos e diversificados. Pode-se dizer que, nos dias de hoje, mede-se o desenvolvimento econômico, social e cultural dos países pelo número e variedade dos concluintes de seus cursos superiores. Entretanto, nos termos da Lei 11741/08, a LDB teve o acréscimo dos artigos 36-A, B, C e D. Nos dois primeiros, diz-se que a formação profissional pode ser integrada ao ensino médio de duas formas: articulada ou subsequente, sempre aproveitando os espaços e tempos disponíveis do aluno. A subsequente é clara, atende àqueles que já concluíram o ensino médio. Já a forma articulada pode ser assumir várias organizações: a integrada, destinada aos concluintes do ensino fundamental, tem por fim a habilitação profissional de nível médio, na própria escola, contendo os componentes profissionais, científicos e humanísticos do currículo; e a concomitante, oferecida aos que ingressam no ensino médio ou aos que já o cursam, podendo ocorrer em turnos distintos da própria escola ou na escola convencional num turno e em instituições especializadas, em outro turno. Dentro da proposta de inclusão social assumida pela sociedade brasileira no final do século XX e no começo do XXI, a atenção educacional aos estudantes entendidos como de “necessidades educacionais especiais” – pessoas deficientes, com transtornos globais de desenvolvimento ou superdotadas - ganhou destaque considerável. A LDB 9394/96 avança nesse aspecto em relação às anteriores, ao estabelecer o atendimento a estes estudantes preferencialmente dentro da rede regular de ensino, prevendo o suporte de profissionais especializados às turmas comuns e salas para atenção específica quando for necessário (art. 58). A atenção a estes alunos, pelo art. 59 da LDB 9394/96, terá, em função das demandas dos estudantes, adequação curricular e metodológica, de forma a atender a seu desenvolvimento educativo e pessoal. O mesmo artigo prevê a formação geral e específica para os profissionais dedicados à modalidade da educação especial, inclusiva e especializada. O capítulo da LDB consagrado aos profissionais da educação não é focalizado neste Caderno. Entretanto, a publicação recente da Lei nº 12.796, em 4 de abril de 2013, obriga-nos a uma referência especialíssima. Depois da Lei nº 12.014, que reconheceu os funcionários de escolas como a Categoria III dos profissionais de educação (art. 61 da LDB), desde que em exercício permanente nas redes públicas e formados em cursos reconhecidos de nível médio e superior, “em área pedagógica ou afim”, dois avanços muito importantes foram trazidos pela Lei 12.796/13, que introduziu o art. 62-A na LDB. O primeiro é que confirma a formação profissional da Categoria III por meio de “cursos de conteúdo técnico-pedagógico”, descartando a possibilidade de aproveitamento de diplomas sem ligação direta com a essência da identidade dos funcionários: técnicos e educadores. O segundo é que se garante a formação continuada dos funcionários em cursos de graduação e pós-graduação, o que fundamenta a reivindicação por horário de trabalho dedicado à capacitação permanente. Sobre o financiamento da educação na LDB, fazemos somente algumas referências, já que ele é tema constitucional e de outras leis ordinárias, e foi e será tratado em outros Cadernos. Registre-se, então, que um avanço da Lei 9394/96 foi sem dúvida a transparência em relação aos recursos destinados à educação. No art.68, detalha a fonte desses recursos; no art. 69 os percentuais mínimos a serem aplicados anualmente por União (18%), os estados e o Distrito Federal (25%) e os municípios (25%). Aspecto importante no acompanhamento pela sociedade dos investimentos em educação é a discriminação, presente nos arts. 70 e 71, do que seja e não seja “manutenção e desenvolvimento do ensino” (MDE). É importante, para quem trabalha na secretaria escolar, conhecer bem estes itens, embora as despesas com cada programa (PNDDE, por exemplo) tenham regras próprias. A legislação configura-se como a síntese de um acordo, um pacto social, a garantia legal de direitos. Contudo, sua efetivação demanda mobilização social, fiscalização, atuação em conselhos e organismos da sociedade, debate com os movimentos que atuam na comunidade. Tudo isso requer compreensão dos mecanismos de gestão e participação social, em que os planos de educação têm papel fundamental. 2.9 Plano Nacional de Educação (PNE) O que é o PNE? Podemos afirmar que um Plano Nacional de Educação – PNE – tem como objetivo a organização racional, consequente e eficaz do universo de ações educativas que devem ser executadas num determinado país. O instrumento jurídico que respalda o PNE é a Constituição Federal. Em conformidade com o artigo 214 da Carta Magna, o PNE deveria abranger todos os aspectos relativos à organização da educação nacional para unir os diversos níveis do ensino com o propósito de integrar as ações governamentais intentando solucionar as deficiências históricas na área educacional. Dessa forma, este plano deveria estabelecer como metas a erradicação do analfabetismo, a universalização do atendimento escolar, a melhoria da qualidade do ensino, a formação para o trabalho, a promoção humanística, científica e tecnológica do país. Previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o PNE constitui-se num mecanismo intermediário entre a lei maior da educação – a LDB - e a materialização das metas necessárias para constituir um sistema nacional de educação que assegure a todos os brasileiros um ensino de qualidade regido por relações democráticas Para que você compreenda melhor o que é um PNE, vamos compará- -lo à construção de uma casa. Tanto a construção de uma casa como a de um PNE obedecem a alguns procedimentos comuns: ambos estão subordinados a uma lei, necessitam de um diagnóstico prévio, estabelecem metas e, muito importante, precisam de recursos para sua materialização. Vamos, então, iniciar nossa comparação subordinando esses dois objetos – o PNE e a casa – a uma legislação. Quando você vai construir uma casa, a preocupação primeira é a legislação que regulamenta as edificações. Os municípios têm leis que disciplinam as construções e são chamados de código de posturas. Antes de realizar o projeto da casa, o arquiteto precisa conhecer os limites impostos por esse código. Ele determina, por exemplo, a porcentagem permitida de construção em relação ao terreno, a altura da casa, o recuo mínimo da parte frontal e lateral em relação ao muro, os espaços de ventilação etc. A construção, assim, tem que respeitar as normas estabelecidas pela lei. O PNE, por outro lado, também está subordinado a uma legislação que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB. Esta é a lei maior da educação e estabelece as diretrizes para a sua organização nacional. Assim, todas as ações educativas implementadas nos âmbitos federal, estadual e municipal, mesmo as regulamentadas por legislações específicas no estado e município, têm como referência a LDB. Ela previa, em 1996,o envio de um PNE para o Congresso Nacional no prazo de um ano após sua promulgação. Assim, da mesma forma que a construção de uma casa, o PNE tem como referência uma legislação, no caso, a LDB. Outro fator importante que precede tanto a construção de uma casa como a de um PNE é o diagnóstico. Ao projetar-seuma casa, faz-se necessário saber que pessoas irão lá morar, seu sexo e idade, o clima da região, se alguém vai desenvolver alguma atividade profissional domiciliar etc. Estes dados permitirão estabelecer o número de cômodos, de quartos, a possível construção de um escritório ou uma pequena oficina, etc. Um diagnóstico mais preciso levantará os desejos dos moradores e como a casa pode ajudar a resolver seus problemas. Com um PNE não é diferente. Faz-se necessário ter um bom conhecimento dos problemas da educação nacional para planejar com eficácia as medidas necessárias para sua resolução. É preciso saber qual o número de analfabetos, quantas crianças de 0 a 5 anos não têm acesso a creches e pré-escolas, em que medida o ensino fundamental está universalizado, quantos jovens estão excluídos do ensino médio, qual o índice de brasileiros fora das universidades, qual o contingente da população que não estudou na idade apropriada e necessita ter acesso à educação de jovens e adultos, qual o número de crianças portadoras de necessidades especiais que precisam ser inseridas no ensino especial, quantos professores existem no país, seu estágio de formação e as exigências de cursos para sua formação continuada. Com esses dados, faz-se o diagnóstico e se tem maior clareza dos desafios que estão postos para a elaboração do PNE. Outra fase de um plano é o estabelecimento de metas. Numa construção, é importante se estabelecer quando vai começar e terminar a obra. Você, dentro de suas possibilidades, planeja o andamento da obra para, o mais cedo possível, desfrutar do conforto da casa construída e mobiliada. Sendo assim, do PNE constam os prazos estabelecidos para: erradicar o analfabetismo; universalizar a educação básica; equiparar a oferta de ensino superior público aos níveis dos países desenvolvidos; ampliar a oferta da educação de jovens e adultos; ter um corpo docente com formação superior atuando em todos os níveis da educação básica. Por mais que seja importante priorizar a educação básica, até para não condenar as gerações futuras às defasagens educacionais que são vivenciadas no presente, não se pode esquecer-se da educação superior, da educação de jovens e adultos, da educação especial etc. Portanto, o PNE deve ter essa capacidade de articular simultaneamente a oferta e o desenvolvimento dos diversos níveis, etapas e modalidades da educação. As diretrizes e metas de um Plano Nacional de Educação têm relação direta com o projeto político e de desenvolvimento que se quer para o país. Por exemplo, se é desejo dos dirigentes de uma nação a redução de sua dependência tecnológica em relação aos países industrializados, é fundamental que o governo invista em pesquisa para dotar nossas universidades de maior capacidade de produção científica. Assim, um PNE não pode limitar-se somente a repassar recursos, mas deve estar subordinado a uma estratégia de desenvolvimento nacional que leve em consideração a conquista de maior soberania do país e a resolução de seus problemas sociais estendendo ao conjunto da população o direito de educar-se. No entanto, a maior prova do compromisso do governo com a construção de um sistema nacional de educação pública é dada pelo montante de recursos disponibilizados ano a ano para realizar as metas estabelecidas. Da mesma forma que não se estabelecem metas para a construção de uma mansão com recursos suficientes somente para erguer um casebre ou com recursos que, de tão escassos, só terminarão a obra após décadas, a verba destinada para atender às prioridades de um PNE devem ser suficientes para o crescente acesso de parcelas cada vez mais significativas da população aos diversos níveis e modalidades de ensino. Em suma, os recursos são fundamentais para assegurar a educação universalizada e de qualidade para todos. É preciso ter claro que, em países como o Brasil, que tem diversas deficiências na área educacional, a quantidade de recursos destinada para o ensino deve ser muito maior do que daquelas nações que já possuem sistemas de educação construídos. Isso porque, enquanto nós precisamos de recursos para concluir a organização da educação nacional e depois mantê-la, nos países desenvolvidos, os recursos são gastos somente com a manutenção. Voltando ao exemplo da obra, o Brasil necessita construir seu prédio educacional e mantê-lo. Outros países, que já realizaram sua obra educacional há mais de cem anos, precisam de recursos só para a manutenção do seu “edifício da educação”. 2.9.1 PNE: breve histórico O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, propunha organizar um plano educacional em todo o país que universalizasse o ensino e assegurasse educação pública e de qualidade. Foi a primeira iniciativa de modernização da sociedade brasileira por meio da educação. A Constituição de 1934 introduziu também instrumentos importantes para a organização da educação nacional. Estabeleceu como competência da União, a fixação de um plano nacional de educação e a coordenação de sua fiscalização e execução em todo o país. Além disso, previu a criação de um Conselho Nacional de Educação que seria responsável pela elaboração do PNE. Com o advento do Estado Novo, em 1937, o PNE, que se encontrava em processo de elaboração, acabou não vingando. As diferenças de pensamento no interior da sociedade – expressas, por um lado, na orientação do papel do Estado como planejador do desenvolvimento do país de forma a diminuir sua histórica dependência externa; e de outro, pelos defensores do mercado e da iniciativa privada como impulsionadores do desenvolvimento sem a interferência do Estado – marcarão o debate educacional entre 1946 e 1964, período conhecido como República Nova. Esta última tendência prevaleceu e a LDB de 1961 trouxe uma concepção de PNE restrita à distribuição de recursos públicos para os diferentes níveis de ensino, disponíveis até para instituições privadas, como assinalou Saviani (2004). Mesmo previsto pela LDB, o Plano Nacional de Educação, elaborado por Anísio Teixeira, não chegou a concretizar-se. Em 1964, os militares assumem o poder por meio de um golpe de Estado, destituindo João Goulart da Presidência da República. Uma característica desse período é a subordinação do Ministério da Educação ao Ministério do Planejamento, evidenciando a substituição dos educadores pelos tecnocratas na formulação do planejamento educacional. Dessa forma, conforme Saviani (2004), “os planos para a área de educação decorriam diretamente dos Planos Nacionais de Desenvolvimentos (PNDs), recebendo, por isso mesmo, a denominação de “Planos Setoriais de Educação e Cultura (PSECs)”. A concepção da escola nova que havia influenciado o entendimento dos PNEs até então como um mecanismo de utilização na educação da racionalidade científica, é substituída pela visão tecnicista da educação. Triunfa a concepção de PNE como instrumento de racionalidade tecnocrática. A Nova República, a partir de 1985, mantém os mecanismos autoritários de planejamento e execução de políticas educacionais. O centralismo da formulação dos planos educacionais, verificado na cúpula governamental durante o regime militar, é substituído pela descentralização em que a fragmentação e o descontrole são as marcas das ações na área de educação. Em 1993, no governo de Itamar Franco, é lançado o Plano Decenal de Educação para Todos. Tal plano estava focalizado na oferta do ensino fundamental e da educação infantil, sobretudo na faixa etária de 4 a 6 anos. Esse foco revelava as limitações do Plano, que não se propunha a atacar a problemática educacional como um todo nem estruturar um sistema nacional de educação que atendesse as múltiplas demandas por qualidade da educação brasileira. Como você viu até agora, o processo de elaboração da legislação educacional brasileira tem se caracterizado pelo confronto entre conservadores e progressistas. Com o PNE não seria diferente, pois observamos as forças conservadoras defendendo um Estado autoritário, centralizador na elaboração de políticas, mas mínimo nos gastos sociais. Por outrolado, setores da sociedade civil, representando as forças progressistas, pressionando pela democratização do Estado e seu empenho no financiamento da educação pública. Assista ao vídeo sobre PNE para saber mais sobre o assunto: O Plano Nacional de Educação (PNE). Campanha Nacional pelo Direito à Educação. No dia 25 de junho de 2014, na forma da Lei 13.005, a presidenta Dilma Rousseff sancionou sem vetos o Plano Nacional de Educação. As conquistas do texto final, inegavelmente maiores do que as da versão original, se devem à influência da sociedade civil, em especial da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que atuou de maneira incansável para melhorar o texto da lei. Esteve sempre presente nos momentos de tramitação do plano no Congresso Nacional. Trabalhou com todos os partidos e buscou negociar com o Ministério da Educação. Percorreu o país inteiro debatendo PNE, assumindo o protagonismo que fez dela a principal fonte da imprensa brasileira sobre o assunto. Mas para entender melhor por que o PNE representa um grande e importante passo para o país, é preciso voltar ao começo desta caminhada. Em 1988, a Constituição Federal, por meio do artigo 214, exigiu a formulação de Planos Nacionais de Educação, uma lei que determina metas para cada 10 anos. Portanto, uma política de Estado e não um programa restrito a um governo. No primeiro PNE (2001/2010), poucos avanços foram alcançados por causa da falta de controle social na implementação da lei, da menor participação da sociedade em sua elaboração e por conta dos vetos do ex-presidente FHC, mantidos pelo ex-presidente Lula. No começo de 2010, foi realizada a Conferência Nacional de Educação. A CONAE aprovou um documento que deveria apoiar a construção do segundo plano e foi antecedida por etapas estaduais. A conferência teve a participação ativa da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que integrou a comissão organizadora e contou com uma das mais fortes delegações. A realização de conferências é uma das bandeiras da Campanha desde 2003. No final do mesmo ano, o poder executivo apresentou sua versão para o Plano Nacional de Educação. A Campanha recebeu o texto de uma jornalista na noite anterior à solenidade marcada pelo governo para a divulgação de sua proposta para o novo PNE. Durante a madrugada, ele foi analisado pela equipe que escreveu o posicionamento público enviado à imprensa no final da manhã seguinte. Assim, no dia 15, logo após a reunião com o presidente Lula e o então ministro Fernando Haddad, inúmeras matérias traziam críticas ao texto. Os questionamentos eram pautados pela argumentação da Campanha enviada no começo do dia e que mostrava que o Plano não respeitava as deliberações da CONAE. As ações continuaram no começo de 2011. Durante o recesso parlamentar, a Campanha arregaçou as mangas. O intenso trabalho deste período criou o movimento “PNE pra Valer”, planejado e coordenado pela Campanha. Representando inúmeras organizações, a Campanha assumiu o protagonismo das mudanças. Em fevereiro, distribuiu um CD com 117 emendas que demonstravam as fragilidades do projeto de lei do governo. A partir delas, deputados de diversos partidos redigiram outras. Ao todo, mais de 2.900 emendas foram produzidas entre fevereiro e junho. Quando o primeiro relatório substitutivo foi publicado, a Campanha, novamente, em questão de horas, apresentou outras 34 emendas que mais uma vez foram acatadas por parlamentares da situação e oposição. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação foi criada em 1999. Sua missão é colaborar para que todo brasileiro tenha acesso à educação pública de qualidade. Trata-se de uma organização com mais de 200 entidades e movimentos da sociedade civil. É dirigida por um comitê nacional formado por instituições de destaque na área. Uma rede que participou ativamente da aprovação de leis e políticas públicas, como lei das cotas, defesa do piso nacional do magistério, destinação de 50% do fundo social do pré-sal para a educação, de 75% dos royalties do petróleo e de 10% do PIB para as políticas educacionais. Também formulou o mecanismo do custo aluno-qualidade inicial. Por sua atuação no processo de criação do Fundeb, a Campanha recebeu da Câmara dos Deputados, em nome do Congresso Nacional, o Prêmio Darcy Ribeiro em 2007. F foi quando começou a pensar em seu próximo foco: o PNE. Os resultados bem-sucedidos são amparados por uma argumentação técnica detalhada e mais aprofundada do que a do governo federal, além da capacidade de mobilização social e da mídia. Também se dedica articular com outros segmentos da sociedade e formar atores sociais multiplicadores, construindo assim uma teia de atividades espalhadas por todo o país. No caso do PNE, a participação dos comitês regionais foi fundamental na luta para vencer um dos principais desafios desta jornada: garantir um patamar de investimento equivalente a 10% do Produto Interno Bruto para o financiamento da educação. No Ceará, por exemplo, seminários e debates ajudaram a coordenação nacional a aprimorar o trabalho argumentativo e pressionar parlamentares. IDEVALDO BODIÃO (CEDECA CEARÁ) - Eu falo aqui também em nome da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, uma entidade que congrega cerca de 200 entidades em pelo menos 20 estados brasileiros. É esse esforço, é esta militância nacional que o Ceará hoje se responsabiliza por representar. Nossa principal bandeira de reivindicações é o cumprimento das deliberações da Conferência Nacional de Educação expressas no seu documento final. É essa a bandeira importante do movimento PNE pra Valer. E nós fazemos pelo entendimento que ele é uma abrangente construção democrática que tem ao mesmo tempo o tamanho da geografia do brasil e tem também a capilaridade de todos os segmentos sociais. Conforme diagnóstico frágil do governo, 7% do PIB seria suficiente para o PNE. Porém, com isso, só seria possível expandir as matrículas. Já uma nota técnica da Campanha, divulgada em agosto de 2011, mostrou que, para conseguir atender mais alunos e ao mesmo tempo melhorar o padrão de qualidade das escolas, seria necessário um financiamento maior . DANIEL CARA (CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO) - Nenhum cálculo sério, cuidadoso de quanto custa o PNE alcança um patamar inferior a 10% do PIB. E é 10% do PIB de investimento público, na escola pública. Esse é o cálculo que qualquer estudo cuidadoso gera como resultado. SALOMÃO XIMENES (CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO) - Nós entendemos, e aí nós avançamos também nesse sentido, que mais recursos para a educação hoje possibilita inclusive uma melhor gestão dos processos educacionais. Em maio de 2012, a Campanha colocou em prática toda a sua capacidade de mobilização para garantir que o novo PNE fosse aprovado em sua primeira etapa na Câmara. Era ainda o início da votação na Câmara dos Deputados e durante dois dias o movimento PNE pra Valer promoveu o seu mais forte tuitaço. A estratégia, somada a outras ações que aproveitam o amplo relacionamento da rede, como grupos de e-mails e cartas abertas, foi bem-sucedida e fundamental para que o dia 26 de junho de 2012 se tornasse o marco para a educação brasileira. DEPUTADO LELO COIMBRA (PMDBES) - Nesse momento coloco em votação o texto que foi motivo de convergência desta comissão e do governo que diz ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir no mínimo o patamar de 7% do Produto Interno Bruto do país no quinto ano de vigência desta lei e no mínimo o equivalente a 10% do PIB ao final do decênio. A meta 20 que destina 10% do PIB para o financiamento do ensino público foi aprovada por unanimidade pela Comissão Especial do Plano Nacional de Educação da Câmara dos Deputados. Depois desta conquista histórica, o texto da lei seguiu para o Senado e de novo a Campanha entrou em ação. Em uma das atividades, mais de 100 representantes da rede fizeram um arrastão de porta em porta. Integrantes de 25 comitês estaduais visitaram gabinetes para entregar uma carta com demandas referentes ao PNE. O documento acabousendo lido no plenário pelo senador Paulo Paim, que destacou a meta de financiamento público para a educação pública. SENADOR PAULO PAIM (PT/RS) - A rede da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, composta por mais de 200 entidades distribuídas em todo o Brasil, reunida em seu 9º Encontro Nacional, dedicado a problematizar a educação e a ação política no Brasil de hoje, perspectivas para a incidência da sociedade civil, solicita seu compromisso, no caso nosso compromisso, na aprovação do Plano Nacional de Educação com celeridade, sem qualquer prejuízo às conquistas estabelecidas pela sociedade civil na Câmara dos Deputados. Mesmo com todo o esforço, o texto aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado vetou um ponto importante relacionado ao custo aluno-qualidade inicial. O dinheiro público também financiaria a educação privada infelizmente. DANIEL CARA (CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO) - O mecanismo do custo aluno-qualidade inicial exige complementação da União na ordem de R$ 46 bilhões e foi exatamente isso que o senador Vital do Rêgo retirou de seu relatório, os demais senadores concordaram. A incidência pela inclusão do custo aluno-qualidade inicial do PNE foi uma decisão estratégica tomada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Era um dos principais pontos do planejamento de 2007. Desde 2002, a rede realiza grupos de trabalho, oficinas, debates e estudos sobre o mecanismo. Para chegar ao cálculo final, foi necessário entender que tipo de escola garante o ensino público com padrão mínimo de qualidade. É preciso professores bem remunerados, com plano de carreira e formação continuada, número adequado de estudantes por sala de aula. Também são necessários laboratórios de informática e de ciências e bibliotecas com acervo de referência e literatura. O CAQi, criado pela Campanha, expressa o direito de estudantes e educadores e organiza o orçamento da educação de maneira mais justa e afeita ao controle social. A importância de usar o custo aluno-qualidade inicial como parâmetro para o financiamento da educação básica foi reconhecida pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado e voltou para o texto da lei em novembro de 2013. Mesmo assim, em dezembro, por pressão do Palácio do Planalto, o CAQi foi praticamente retirado do documento. Depois de aprovado pelo Senado, o projeto do novo PNE voltou para a Câmara dos Deputados e, no começo de junho de 2014, após incansável trabalho da Campanha, a votação dos destaques foi concluída, com o CAQi incorporado e servindo como parâmetro para o financiamento do ensino público. Mais uma vitória da Campanha. GRITOS DO PÚBLICO NO PLENÁRIO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS - A nossa luta é todo dia. Educação não é mercadoria. DANIEL CARA (CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO) - Como é bom estar na Câmara dos Deputados, porque no Senado Federal isso seria impossível. É importante ouvir a voz da sociedade na questão do Plano Nacional de Educação. Bom, eu queria trazer aqui a posição da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que defende integralmente e unanimemente a posição de que o texto de Plano Nacional de Educação que está mais próximo do interesse da sociedade civil, que é possível agora é o texto da Câmara dos Deputados. Então a gente não abre mão de nenhum aspecto constante do texto da Câmara dos Deputados. É que o custo aluno-qualidade inicial é a única alternativa que nós temos e a complementação da União para fazer com que daqui a 10 anos toda a responsabilidade pela educação básica não seja de Estados e municípios. Quero deixar claro para os deputados que o cenário que é posto o seguinte: se o custo aluno-qualidade inicial e o custo aluno-qualidade forem implementados tal como o projeto do Senado, toda a responsabilidade pela qualidade da educação básica vai recair sobre prefeitos e governadores. Prefeitos e governadores que não têm a capacidade financeira de dar conta das necessidades da educação básica. A Constituição, no artigo 211, parágrafo primeiro, vai dizer que é obrigação da União, do governo federal portanto, colaborar técnica e financeiramente com Estados e municípios para garantir um padrão mínimo de qualidade. Isso nunca foi feito no Brasil, não só por este governo, mas também pelos governos que o antecederam até 1988. Então eu quero deixar claro que a reivindicação dos estudantes aqui não é simplesmente do movimento estudantil, mas é de todo o movimento educacional brasileiro. E a cada a cada dia que passa, cada vez mais, é a reivindicação da sociedade brasileira. Então os deputados têm que ter clareza da demanda com a sociedade está trazendo para esta Casa. Muito obrigado. Essa conquista foi validada e acompanhada de perto pela mídia, reconhecida pelos movimentos sociais e comemorada por todos os brasileiros. CLEUSA REPULHO (EX-PRESIDENTA DA UNDIME) - Passados então quatro anos, é importante destacar que agora, depois da aprovação e da sanção do PNE, nós conquistamos o CAQi, o custo aluno-qualidade, os 10 % do PIB, os royalties para a educação, 75% para a educação e 25% para a saúde. Finalmente, no dia 25 de junho de 2014, o PNE foi sancionado sem vetos pela presidenta da República. O documento de 80 páginas, que levou quase quatro anos para chegar à sua versão final, estabelece 20 metas e estratégias para os próximos 10 anos e propõe um novo futuro para a educação brasileira. ESTUDANTES EM CORO - Brilhou no céu da pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade conseguimos conquistar com braço forte, em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte! Ó pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido.... DANIEL CARA (CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO) - O PNE vai disso tudo? Não, eu não acho que em 10 anos a gente vai resolver o problema, mesmo com todas as metas cumpridas. Mas a gente pelo menos se aproxima muito dos países que têm uma educação com maior qualidade, mesmo aqui na nossa região, como Chile, Argentina e Uruguai. Então a gente vai dar um passo. Esse passo vai ser muito importante. No dia 12 de agosto de 2015, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em nome do Congresso Nacional, concedeu o prêmio Darcy Ribeiro a Daniel Cara, coordenador geral da Campanha. Foi um reconhecimento ao trabalho de incidência da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, da construção do Plano Nacional de Educação, na destinação dos royalties do petróleo e de metade do fundo social do pré-sal para a área e na inclusão do custo aluno-qualidade inicial - CAQi e do custo aluno qualidade – CAQ no PNE. 2.9.2 O PNE atual A elaboração do atual PNE, que deveria ter vigência entre 2011-2020, ainda não foi concluída, encontrando-se em debate no Congresso Nacional. Tal situação é preocupante, pois há um atraso de pelo menos três anos para se superar enormes desafios educacionais do País. O cenário é delicado porque a aplicação do PNE anterior resultou num retumbante fracasso, como descreveremos brevemente a seguir. O processo de elaboração do PNE 2001-2010 pautou-se pelo confronto de duas propostas: uma, do Ministério de Educação (MEC) e outra, da sociedade civil por meio do Congresso Nacional de Educação (CONED). O centralismo foi uma das marcas da proposta do MEC, levada ao Congresso Nacional em fevereiro de 1998. A exposição de motivos, assinada pelo então ministro Paulo Renato de Souza, ressaltava que o PNE representava o: [...] ponto culminante de um processo cujo objetivo permanente foi o de dotar o sistema educacional brasileiro de um conjunto de diretrizes e metas que possam orientar e balizar a política educacional do país, com vista ao resgate de uma dívida historicamente acumulada. (SAVIANI, 2004, p. 91). Saviani (2004) indicava então uma série de limitações da proposta do MEC, principalmente no tocante à participação financeira do Estado na implementação do PNE. Para ele, era uma continuidade da política do MEC, uma compressão de gastos públicos e transferência de responsabilidades para os estados e municípios, entidadesprivadas e filantrópicas. Já o Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira – foi resultado de um longo processo de debate organizado por entidades ligadas à educação que em boa parte estavam vinculadas ao Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública. Os debates realizados em todo o território nacional foram consolidados no II CONED, realizado em novembro de 1997. Essa proposta de PNE foi incorporada na Câmara dos Deputados pela bancada de oposição ao governo e apresentada no parlamento em fevereiro de 1998. Ela enfrentou uma maioria conservadora no Congresso Nacional, resistente à realização das profundas mudanças educacionais que propunha. Apesar do controle exercido pela maioria governista na tramitação do projeto de lei do PNE, a pressão social dos estudantes e profissionais de educação produziu alguns avanços no PNE aprovado. Eles estão materializados mais claramente no tema “financiamento da educação”. Foi aprovado o índice de 7% do PIB a ser gasto com educação até o final do Plano, previsto para dez anos. A conclusão da tramitação do PL n. 4.155/98 revelou uma grande distância entre a proposta da sociedade brasileira e a lei do PNE aprovada. Os pequenos avanços inseridos na lei do PNE foram vetados pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. Este admite que as medidas contidas na lei aprovada no Parlamento referentes ao financiamento da educação contrariavam as determinações da área econômica do governo e sua política de redução de gastos sociais. Dessa forma, justificou-se o veto à meta que previa atingir a aplicação em educação de 7% do PIB em dez anos. No fim de 2010, ao final da vigência do PNE de 2001, verificou-se que as metas de atendimento para a educação infantil não foram atendidas: em vez de 50% de atendimento em creches, havia-se chegado a 17%. Tanto que a mesma meta foi reeditada para o PNE seguinte. As metas quantitativas de expansão da educação superior e da EJA também ficaram muito aquém do pretendido. E, sobretudo, não se atingiram as metas de qualidade na escola pública, nem mesmo no ensino fundamental, que já foi praticamente universalizado. Outro aspecto que contribuiu para o fracasso do último PNE foi o descompromisso da maioria dos estados e municípios que, não obedecendo ao art. 2º da Lei 10.172, deixaram de elaborar seus planos decenais de educação. Some-se a isso tantos outros que o fizeram, mas não o executaram. Também a União acabou não assumindo a política de Estado (PNE) ao decretar e seguir o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), uma política de governo. Portanto, foi no rastro de um PNE fracassado que se iniciaram os debates do atual plano. O desafio é maior porque há necessidade de sistematizar estratégias que consolidem um sistema público de ensino com qualidade que proponha medidas que não foram previstas ou cumpridas no PNE anterior. Seguindo os preceitos constitucionais – Art.214, já com os efeitos da Emenda Constitucional nº 59, o novo PNE começou a ser debatido pela CONAE nas esferas municipais e estaduais, em 2009, e nacionalmente, em 2010. Vale lembrar que, diferentemente do PNE anterior, verificou-se um ambiente de diálogo entre governo e sociedade, demonstrado, entre outras ações, na convocação do CONAE pelo MEC em abril de 2010 com ampla participação da sociedade civil. Isso resultou na apresentação e tramitação, até o momento, de uma única proposta de PNE no Congresso Nacional. Entretanto, o projeto de lei de iniciativa do governo (PL nº 8.035) só foi enviado ao Congresso Nacional em dezembro de 2010, inviabilizando sua implantação em 2011. O projeto de lei consta de doze artigos e um anexo que contém vinte metas e as respectivas estratégias para atingir cada uma delas. Art. 2º I – erradicação do analfabetismo; II - universalização do atendimento escolar; III – superação das desigualdades educacionais; IV – melhoria da qualidade do ensino; V – formação para o trabalho; VI – promoção da sustentabilidade socioambiental; VII – promoção humanística, científica e tecnológica do país; VIII – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção de produto interno bruto; IX – valorização dos profissionais da educação; e X – difusão dos princípios da equidade, do respeito à diversidade e da gestão democrática da educação. O financiamento do PNE é tratado no art. 5º, que prevê uma possível revisão da meta de ampliação do investimento público a partir de uma avaliação do mesmo no quarto ano de sua vigência. Já o Art. 6º assegura mecanismos de participação e controle social ao prever a realização de duas conferências nacionais de educação sob a coordenação e articulação do Fórum Nacional de Educação. A gestão democrática é tratada no Art. 9º, que determina a aprovação de leis específicas nos níveis municipal, estadual e distrital. Conforme o art. 7º, a responsabilidade pela execução das metas e a implementação das estratégias para alcançá-las caberá à União, estados e municípios em regime de colaboração. O Art. 8º confirma essa responsabilização dos entes federados ao determinar a realização de planos municipais, estaduais e distrital de educação, ou adequar os já existentes, em consonância com PNE, até um ano após a promulgação deste, atentando-se, entre outros aspectos, à construção de sistemas educacionais inclusivos. O Art. 10 determina que os entes federados deverão formular o seu plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e orçamentos anuais compatíveis com as diretrizes, metas e estratégias do PNE e planos distrital, estadual e municipal a fim de assegurar a completa execução dos mesmos. Por fim, no art. 11, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é apontado como o instrumento avaliativo da qualidade do ensino e acompanhamento da consecução das metas do PNE. Como já assinalado, o anexo da proposta do PNE é composto por vinte metas com suas respectivas estratégias. Tais metas dissertam sobre a ampliação da oferta de educação básica com vistas à sua universalização, considerando também os alunos com deficiência (metas 1 a 4); alfabetização de todas as crianças até os oito anos de idade (meta 5); oferta de educação em tempo integral em até 50% das escolas públicas de educação básica (meta 6); avanço nas avaliações do IDEB até 2021, nos ensinos fundamental e médio (meta 7); elevação da escolaridade da população pertencente às classes populares na faixa etária de 18 a 24 anos e superação das diferenças na escolaridade média entre negros e não negros (meta 8); erradicação do analfabetismo e redução em até 50% do analfabetismo funcional (meta 9); inserção de educação profissional em pelo menos 25% das matrículas dos segundo e terceiro segmento da EJA e duplicação da oferta de educação profissional técnica de nível médio (metas 10 e 11); as metas 12, 13 e 14 focam o ensino superior na elevação de matrículas na graduação, na qualificação do corpo docente desse nível educacional, aumentando o percentual de mestres e doutores, além do crescimento da oferta de matrícula para a pós-graduação (mestres e doutores); a valorização dos professores é objeto das metas 15 a 18 quando preveem a formação continuada com a graduação de todos os docentes na área específica em que atuam e a extensão a até 50% dos professores da educação básica o nível de pós-graduação lato e stricto sensu (metas 15 e 16), elevação salarial com a aproximação do rendimento médio do magistério com mais de onze anos de escolaridade com outros profissionais com instrução equivalente (meta 17) e construção de plano de carreiras em todos os sistemas de ensino (meta 18); a meta 19 prevê a aprovação de lei específica nos diversos níveis da federação que regule com critérios técnicos a nomeação de gestores escolares, assegurando a participação da comunidade escolar; finalmente, a meta 20 trata do financiamento da educação, elevando até 7% do produto interno bruto do país o investimento de recursos públicos em educação. As metas para as etapas e modalidades da educação básica retomam as quantidades do PNEanterior. Houve mais atenção à qualidade com a introdução de metas no número de escolas em jornada integral e a evolução do IDEB no ensino fundamental e ensino médio e a focos mais claros na educação especial, na educação de jovens e adultos e na educação profissional de nível médio. Em geral, houve consonância com as resoluções da CONAE, com exceção dos temas financeiros - 7% do PIB e não 10% - e silêncio quanto às novas fontes de financiamento. A tramitação foi conturbada e muito longa na Comissão Especial da Câmara, que acabou aprovando os 10% do PIB. No Senado, onde se encontra desde outubro de 2012 sob o nome de Projeto de Lei da Câmara nº 103, deverá sofrer novas mudanças em três comissões.. Enquanto isso, dois anos se passaram sem plano, os investimentos estacionaram ao redor de 5% do PIB e os estados e municípios se fazem de surdos à exigência constitucional de terem seus planos, à espera da votação do PNE. Ao mesmo tempo, na educação superior e profissional federal se fizeram grandes avanços de 2006 a 2012, duplicando as matrículas na primeira e triplicando na segunda, embora sem plano nem um regime claro de colaboração com os outros entes federativos. É verdade que o governo não espera passivamente a aprovação do PNE para começar a executar algumas estratégias. Por exemplo, em novembro de 2012 foi lançado o plano nacional de alfabetização aos oito anos que é objeto da meta 5. A valorização dos profissionais da educação é um ponto forte, prevendo-se a formação em nível médio e superior de todos, mas com piso salarial somente para os do magistério. Há espaço para avanços no Senado, mas ao preço de novos atrasos no PNE e nos planos subnacionais. Bem, podemos afirmar que todas as tentativas de implantação de um Plano de Educação verdadeiramente nacional fracassaram no decorrer de nossa História. Do lançamento do manifesto dos pioneiros da educação em 1932, passando por outros períodos de nossa República no século passado, até o desfecho do PNE 2001/10 foram frustradas as oportunidades de a sociedade brasileira organizar sua educação de forma a assegurar a todos um ensino público de qualidade, democrático, voltado à construção da cidadania e capaz de ser um instrumento de formação tecnológica e, por conseguinte, uma alavanca de desenvolvimento do país. Enquanto isso, as classes mais abastadas escolhem o caminho da escola privada, já ultrapassado pela maioria das nações desenvolvidas da Europa, América do Norte e Ásia. Como não repetir os fracassos anteriores e dotar a sociedade brasileira de um plano educacional que inclua todos os brasileiros com qualidade e definitivamente salde essa dívida com nosso povo? Como você estudou no módulo 5 do bloco pedagógico, a sociedade é dividida em classes sociais. Estas têm interesses diferentes entre si e há uma constante disputa no interior da sociedade e nos diversos espaços do estado pela hegemonia, ou seja, pela capacidade de um segmento social dirigir toda a sociedade conforme seus interesses de classe. Historicamente, somos dirigidos por uma elite (grandes empresários, fazendeiros, banqueiros etc.) que, em função da consolidação de suas reivindicações, marginalizou-se boa parte das classes populares tornando nosso país um dos mais desiguais do mundo. Nos últimos dez anos, com a ascensão ao Palácio do Planalto de governos populares, houve avanços sociais importantes que significaram a retirada de milhões de brasileiros da pobreza absoluta, a diminuição do desemprego, o aumento da renda salarial e a extensão de programas de inclusão social. No entanto, ainda é longo o caminho para a construção de um país para todos. Dentro de uma estratégia de desenvolvimento nacional que dê oportunidades para o conjunto da sociedade brasileira, a construção de um sistema educacional público e de qualidade é um pilar fundamental. E daí a importância de um plano nacional de educação que construa, consolide e mantenha esse sistema público de ensino. Pelo menos dois fatores contribuíram para que o último PNE fracassasse: o financiamento insuficiente e a negligência da maioria dos estados e municípios que não elaboraram seus planos decenais de educação. Isso não pode ocorrer novamente, sob pena de jogarmos no lixo uma oportunidade histórica. Pois bem, uma das divergências entre o plano do governo e o aprovado na CONAE é qual a porcentagem do PIB – produto interno bruto, que reflete toda a riqueza no país – deve ser aplicada na educação. O primeiro apontou 7%, enquanto o segundo 10%. É verdade que o governo avançou e vem buscando fontes que possam sustentar o investimento de 10% na educação. Um exemplo é a aplicação dos recursos provenientes da exploração do petróleo do Pré-sal na educação. Além das resistências a essa proposta no Congresso Nacional, cabe saber quando tais recursos estarão disponíveis. Já deveríamos estar no terceiro ano de vigência do PNE, são urgentes os aumentos de financiamento não só na rede federal como nas estaduais e municipais, cujos governos poderiam estar arrecadando e aplicando em educação muitos tributos, que hoje são sonegados ou têm isenção legal. Está provado que as pessoas com mais capacidade contributiva são as que menos pagam os impostos dos quais derivam as verbas para a educação pública. A sociedade civil precisa entrar em cena de forma mais vigorosa para pressionar o governo e o parlamento e assim assegurar os 10% no financiamento do PNE. Isso significa redistribuição de recursos e fim de privilégios que certamente afetarão setores privilegiados que têm forte representação no Congresso Nacional. Mas não existem atalhos para a conquista de recursos necessários para revolucionar a educação brasileira. Outro aspecto importante para que o PNE tenha êxito é assegurar mecanismos que forcem os gestores estaduais e municipais a construir seus planos decenais de educação. Tais planos já podem ser feitos, mesmo antes da conclusão do PNE. A colaboração entre União, estados e municípios é fundamental para que um sistema educacional universalizado e de qualidade seja erguido. Lembra-se de que em outros módulos do presente curso você já foi chamado a atuar de forma mais participativa para mudar a realidade educacional do seu local de trabalho e de sua cidade? Está aí uma boa oportunidade: cobre, apoiado pelo Conselho Escolar de sua Escola, do Secretário de Educação, do prefeito e da Câmara de Vereadores a elaboração do plano decenal de educação do seu município. Esta é uma das formas de você atuar para mudar a realidade educacional de sua cidade. Lutemos para que o atual governo, que dá continuidade aos dois mandatos do presidente Lula e é identificado com as causas populares, se esforce para a aprovação de um PNE que consiga resgatar essa enorme dívida social do estado brasileiro com o seu povo, construindo sistemas educacionais nas três esferas de governo que propiciem educação pública de qualidade para todos. 2.10 Marcos Normativos dos Sistemas de Ensino Depois de considerarmos os marcos federativos da legislação educacional – Constituição, LDB e outras leis federais, estaduais e municipais - vamos agora dar atenção a um outro conjunto de disposições reguladoras da educação que são próprias de nosso “mundo pedagógico”: as normas dos conselhos de educação, no âmbito dos sistemas de ensino. Essas normas – traduzidas na maioria por Pareceres e Resoluções – estão presentes no dia a dia das escolas e, principalmente, no cotidiano das secretarias das escolas. Passemos rapidamente a descrever como nasceram e se desenvolveram os colegiados normativos a que estamos nos referindo, hoje presentes no âmbito federal (Conselho Nacional de Educação), estadual (Conselhos Estaduais de Educação), municipal (Conselhos Municipais de Educação) e do Distrito Federal (Conselho de Educação do Distrito Federal). Na história da educação brasileira, legislação e normas se confundiram até 1834. Às regras das Aulas Régias de 1772 sucedeu a Lei Imperial de 15 de outubro de 1827. O Ato Adicional à Constituição do Império possibilitou que surgissem os sistemasde ensino das províncias e, com a República em 1889, dos Estados. Às leis do Poder Legislativo Central e de cada ente federado, somaram-se as normas do Poder Executivo - tanto do Titular do Órgão da Educação, quanto dos Conselhos que aos poucos se criaram. As leis abarcavam regras gerenciais e educacionais; já as normas foram se centrando em preceitos pedagógicos e curriculares. O Conselho Nacional de Educação (CNE), vinculado à estrutura do Ministério da Educação (MEC), tem seus antecedentes ao longo do século passado com a criação do Conselho Superior de Ensino em 1911, substituído pelo Conselho Nacional de Ensino em 1925, e pelo Conselho Nacional de Educação em 1931. Em 1961, com a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, este Conselho passou a ser denominado Conselho Federal de Educação, quando também se instalaram os Conselhos Estaduais. A instância municipal só passou a contar com conselhos com a Lei 5.692, em 1971. Em 1995, a Lei 9.131 recriou o Conselho Nacional de Educação. O novo CNE passa a ser “composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior, terá atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto, de forma a assegurar a participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional”. No art. 7º, a Lei 9.131 estabelece também como competências do CNE: · subsidiar a elaboração e acompanhar a execução do Plano Nacional de Educação; · manifestar-se sobre questões que abranjam mais de um nível ou modalidade de ensino; · assessorar o Ministério da Educação e do Desporto no diagnóstico dos problemas e deliberar sobre medidas para aperfeiçoar os sistemas de ensino, especialmente no que diz respeito à integração dos seus diferentes níveis e modalidades; · emitir parecer sobre assuntos da área educacional, por iniciativa de seus conselheiros ou quando solicitado pelo Ministro de Estado da Educação e do Desporto; · manter intercâmbio com os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal; · analisar e emitir parecer sobre questões relativas à aplicação da legislação educacional, no que diz respeito à integração entre os diferentes níveis e modalidade de ensino; · elaborar o seu regimento, a ser aprovado pelo Ministro de Estado da Educação e do Desporto. Sua Câmara de Educação Básica tem as seguintes atribuições: · examinar os problemas da educação infantil, do ensino fundamental, da educação especial e do ensino médio e tecnológico e oferecer sugestões para sua solução; · analisar e emitir parecer sobre os resultados dos processos de avaliação dos diferentes níveis e modalidades mencionados na alínea anterior; · deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação e do Desporto; · colaborar na preparação do Plano Nacional de Educação e acompanhar sua execução, no âmbito de sua atuação; · assessorar o Ministro de Estado da Educação e do Desporto em todos os assuntos relativos à educação básica; · manter intercâmbio com os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito Federal, acompanhando a execução dos respectivos Planos de Educação; · analisar as questões relativas à aplicação da legislação referente à educação básica; Cabe a todos os Conselhos de Educação emitir pareceres e resoluções que esclareçam e normatizem a legislação educacional, determinando e orientando os procedimentos administrativos das unidades escolares. O parecer deve ser sustentado em bases confiáveis e tem por objetivo esclarecer, interpretar e explicar questões apresentadas pelos usuários do sistema educacional, seja profissional, aluno ou responsável por aluno. As bases das decisões apresentadas nos pareceres são, via de regra, artigos científicos e a própria legislação. E qual seria a relação de um parecer com o meu cotidiano de trabalho numa secretaria de escola? Pois bem, são muitas as questões que requerem esclarecimentos de profissionais especializados ou consultas às normas do Conselho Nacional de Educação (CNE) e dos outros conselhos, segundo o sistema de ensino onde se situa a escola. Muitas situações implicam em obstáculo ao exercício, ou mesmo em perda de direitos. Pois, a complexidade legislativa e o pouco esclarecimento da população sobre as leis acabam por gerar interpretações e muitos equívocos quanto ao que se pode ou não fazer na educação. Na secretaria das escolas são frequentes as demandas por esclarecimentos tais como: o aluno que completará 6 anos de idade no decorrer do ano poderá ser matriculado no 1º ano, no início do período letivo? Quem já tem domínio de uma língua estrangeira pode ser dispensado da disciplina no ensino médio? Quem foi aprovado num exame vestibular de universidade pública sem ter concluído o ensino médio poderá fazer matrícula na educação superior? Estas são apenas algumas das questões polêmicas nos últimos tempos e que dependem de normas dos conselhos de educação já existentes ou que podem ser objeto de consulta. 2.10.1 Pareceres e resoluções O Conselho Nacional de Educação, em sua nova fase de atuação, desde 1996 – ano de publicação da atual LDB – tem emitido pareceres e resoluções que podemos assim classificar: · Diretrizes Curriculares sobre as etapas e modalidades da educação básica e sobre os cursos da educação superior; · Diretrizes nacionais sobre outros temas de política educacional, interpretando a LDB ou respondendo a consultas que lhe são submetidas por órgãos educacionais ou por pessoas físicas ou jurídicas; · Pareceres sobre consultas pontuais a respeito de temas e situações na educação, raramente acompanhados de resoluções. Quanto ao primeiro grupo de documentos, já que tratamos da formação de profissionais da educação básica, deixamos de citar os inúmeros pareceres sobre cursos de graduação e de pós-graduação e enfatizamos as seguintes matérias curriculares, que os técnicos em secretaria escolar forçosamente devem conhecer, sob a forma de Parecer ou Resolução: · Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Resolução CNE/CEB nº 4, de 13 de julho de 2010 · Diretrizes Curriculares da Educação Infantil - Resolução CNE/CEB n.º 1, de 7 de abril de 1999 - Resolução CNE/CEB nº 5, de 2009 ; · Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental - Resolução CNE/ CEB n.º 2, de 7 de abril de 1998; Resolução CNE/CEB nº 1 de 2010; Resolução CNE/CEB nº 7, de 14 de dezembro de 2010 · Diretrizes Curriculares do Ensino Médio - Resolução CNE/CEB n.º 3, de 26 de junho de 1998; Resolução CNE/CEB nº 2, de 30 de janeiro de 2012 · Diretrizes Curriculares da Educação Profissional- Resolução CNE/ CEB n.º 4, de 8 de novembro de 1999; Resolução CNE/CEB nº 6, de 2012 · Diretrizes Curriculares da Educação do Campo - Resolução CNE/ CEB n.º 1, de 3 de abril de 2002 · Diretrizes Curriculares do Curso Normal de Nível Médio - Resolução CNE/CEB nº 2, de 1999; Resolução CNE/CEB n.º 1, de 20 de agosto de 2003 · Diretrizes Curriculares da Educação Especial- Resolução CNE/CEB n.º 2, de 11 de setembro de 2001; Resolução CNE/CEB nº 4, de 2009 · Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos - Resolução CNE/CEB nº 2, de 19 de maio de 2010; Resolução CNE/CEB nº 3, de 15 de junho de 2010; (diretrizes operacionais) · Diretrizes Curriculares da Educação Indígena- Resolução CNE/CEB nº 5, de 22 de junho de 2012 · Diretrizes Curriculares da Educação Quilombola- Resolução CNE/ CEB nº 8, de 20 de novembro de 2012 Cumpre registrar aqui que cada sistema estadual e municipal pode e, muitas vezes, deve emitir pareceres e resoluções sobre matéria curricular, principalmente em relação à Parte Diversificada do Currículo, que compõe com a Parte Comum o Currículo Pleno de cada curso no âmbito da educação básica. À própria escola, em progressivos graus de autonomia pedagógica, cabe tomar decisões curriculares, a exemplo da escolha da Língua Estrangeira Moderna e da forma como desenvolvê-la – segundo o § 5º do art. 26 da LDB. Quanto ao segundo grupo de documentos dos conselhos, elencamos algumas das matérias sobre as quais o CNE e outros conselhos têm-se pronunciado: ·Diretrizes Operacionais sobre etapas e modalidades de ensino – Resolução 01, de 2010, sobre a implantação do Ensino Fundamental de nove anos; Resolução 2, de 2008, sobre a operacionalização da oferta de educação do campo; Resolução 3, de 2008, sobre o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio. · Formação e Carreira dos Profissionais da Educação - Resolução CNE/CEB n.º 3, de 8 de outubro de 1997; Resolução CNE/CEB n.º 2, de 19 de abril de 1999; Resolução CNE/CEB n.º 1, de 20 de agosto de 2003; Resolução CNE/CEB nº 5, de 22 de novembro de 2005; Resolução CNE/CEB nº 2, de 28 de maio de 2009; Resolução CNE/CEB nº 5, de 3 de agosto de 2010; · Financiamento da Educação - Resolução CNE/CEB nº 1, de 27 de março de 2008; · Aproveitamento de estudos - Resolução CNE/CEB nº 2, de 10 de março de 2006 Quanto ao terceiro grupo de pronunciamentos dos conselhos, em relação a consultas pontuais, é muito extensa e variada a pauta de assuntos, no CNE e nos demais conselhos. Pesquisando-se, por exemplo, alguns pareceres da Câmara de Educação Básica do CNE em 2012, citamos, como forma de fomentar o espírito de pesquisa dos funcionários de secretarias escolares: · Parecer 03, atualiza o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio;Pareceres 09 e 18, orientam implantação da Lei nº 11.738, de 2008, sobre o Piso Salarial Nacional dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública; · Parecer 12, fixa diretrizes operacionais para oferta de Educação a Distância em regime de colaboração entre sistemas de ensino; · Parecer 21, ajusta calendários escolares durante a Copa do Mundo em 2014; · Parecer 23, orienta as escolas de educação infantil quanto às suas férias e recessos. · Parecer 12, fixa diretrizes operacionais para oferta de Educação a Distância em regime de colaboração entre sistemas de ensino; · Parecer 21, ajusta calendários escolares durante a Copa do Mundo em 2014; · Parecer 23, orienta as escolas de educação infantil quanto às suas férias e recessos. A prática de os conselhos emitirem pareceres pontuais se assemelha um pouco à chamada “jurisprudência” dos tribunais, que acumulam uma doutrina a partir das respostas às consultas que, embora particulares, podem gerar preceitos mais gerais. Nesse sentido, incentivamos os funcionários administrativos a que façam também suas consultas aos respectivos conselhos estaduais e municipais quando da ocorrência de dúvidas no cotidiano das escolas e nas reuniões do Conselho Escolar. Na maior parte dos casos, quando solicitadas oficialmente, além de fundamentadas em leis, normas e decisões da escola, devem apresentar-se na forma de um parecer, esclarecendo de forma clara e objetiva as dúvidas colocadas e as decisões tomadas pela secretaria. Um parecer é a manifestação de técnico ou órgão técnico sobre assunto de sua especialidade. Este documento tem por caráter fundamental sua natureza de julgamento técnico conclusivo, portanto, fará parte do final de todo trâmite administrativo que culmine numa decisão ou esclarecimento. Um parecer poderá ser evocado sempre que uma decisão demande esclarecimentos de profissional ou setor especializado. Embora sempre técnico, em função do seu objetivo, um parecer pode ser normativo, quando se destina ao estabelecimento de normas ou regulamentação de condutas, ou técnico, quando tem por fim responder a questionamentos, dúvidas, ou finalizar um processo administrativo. No caso dos relativos à secretaria escolar, o parecer emitido pelo secretário será sempre de natureza técnico-administrativo, pois, versará sobre tema da rotina da relação da escola com a comunidade escolar: matrícula, progressão, atestados médicos e outros temas que sempre geram dúvidas e acabam por afetar o exercício de direitos, tanto pelos alunos quanto pelos docentes e demais funcionários da escola. De uma maneira geral, os pareceres a serem emitidos pela secretaria escolar são simples e poderão ser compostos, sem comprometimento do bom atendimento do setor, dos seguintes itens: Campo 1: Identificação da Escola – em papel timbrado ou carimbo; Campo 2: Identificação do documento em numeração sequencial e ano; Campo 3: Assunto – breve relato da demanda apresentada; Campo 4: Análise – esclarecimento da demanda o tratamento dado a ela pela legislação; Campo 5: Conclusão – Decisão embasada no exposto na análise; e Campo 6: Identificação do funcionário – assinatura do secretário e carimbo do setor ou do secretário. A segunda forma é a de dois outros documentos, presentes na rotina da educação escolar, a Resolução e a Portaria. Documento de natureza regulamentar e normativa, a Resolução é a expressão de decisão do Conselho Escolar e a Portaria da Direção ou de outra chefia da Escola, a ser cumprida por todos ou por um setor determinado. Observe- -se que as resoluções do Conselho Escolar devem estar baseadas em registros nos seus livros de ata, para resguardar a autenticidade. E as Portarias só têm sentido em escolas de maior tamanho (onde a comunicação informal perde a eficiência) ou quando se tratar de matérias controversas nas quais se pretenda imprimir um toque de maior autoridade ou precisão formal. 3 Relações interpessoais A Relação da Psicologia com a Educação 3.1 A psicologia como área do conhecimento Para compreendermos melhor o assunto abordado nessa aula, devemos estudar sobre alguns tópicos, como: o que é a psicologia, como ela tem contribuído no dia a dia escolar e como poderá ajudar na formação pessoal dos educadores. Vamos expor alguns pensamentos sobre psicologia para que sejam de valia no trabalho de vocês e também na formação como pessoas que atuam no sistema escolar. A psicologia como área do conhecimento Com certeza você já ouviu o termo psicologia em diversas situações. Todas as pessoas em geral utilizam “uma psicologia” no seu cotidiano. Na educação dos filhos, em uma conversa com um amigo, quando queremos convencer alguém de alguma coisa. Enfim, todos nós utilizamos o conhecimento acumulado pela psicologia que passou a ser chamado de senso comum. Esse conhecimento é muito importante e, por essa razão, nesta unidade serão apresentadas algumas questões da psicologia estudada pelos psicólogos: sua história, seus problemas, seus desafios e suas contribuições principalmente para nós educadores. A psicologia passou a ser considerada como ciência em 1879. Costuma-se atribuir essa data como o seu início, pois foi quando se começou a desenvolver os primeiros laboratórios experimentais de pesquisa em psicologia na Europa, principalmente na Alemanha. Assim, encontramos nos livros de psicologia essa data como referência ao surgimento desta ciência. Isso não significa que antes não houvesse estudos de psicologia. Até então, ela era considerada um ramo da filosofia. Isto é, o conhecimento sobre o psiquismo humano era construído por meio das ideias de alguns pensadores. No entanto, as descobertas revolucionárias daquela época, sob a influência do pensamento científico e o surgimento de outras ciências como a sociologia, a antropologia e a fisiologia, criaram a necessidade de se pensar a mente humana de outra forma, uma forma experimental a partir do método científico. Vamos pensar um pouco sobre o conhecimento humano. Mesmo sem ter estudado psicologia, com certeza você já deu respostas para muitas questões formuladas para entender e explicar o que se passa ao seu redor e com você mesmo. Vários são os caminhos e tentativas para as indagações acerca do começo do mundo, da nossa origem, de onde viemos e para onde vamos. Quando perguntado para as pessoas o que elas entendem por psicologia, as respostas que aparecem são as mais diversas. As mais frequentes são: · estudo da mente · análise do comportamento · guia para o autoconhecimento humano · tratamento de enfermidades psicológicas · estudo da alma;estudo do homem · trabalho profundo com pessoas Não é fácil definir o que é psicologia. Alguns autores preferem falar em psicologias, no plural, dada às diferentes concepções de mundo e do homem. O importante antes de apresentarmos uma definiçãoé refletir um pouco sobre a história dessa ciência e entender como ela influencia o nosso dia a dia. O processo histórico da construção do conhecimento acontece ao mesmo tempo em que as novas formas de organização da sociedade vão- se concretizando. Se olharmos, por exemplo, o surgimento da escravatura, com homens se apropriando de outros, podemos verificar também que em relação ao conhecimento acontece a mesma divisão de papéis na sociedade. Enquanto temos homens e mulheres que se dedicam exclusivamente a trabalhar manualmente, criam-se condições para que outro grupo de pessoas possa só trabalhar pensando. Na Grécia antiga, por exemplo, havia uma divisão entre os escravos e os filósofos. A partir disso, pensamos se os grandes pensadores Platão, Sócrates e Aristóteles poderiam pensar e produzir tantas ideias quanto fizeram se tivessem que trabalhar duro na lavoura. Outra questão interessante é pensarmos que são atribuímos diferentes valores nessa divisão do trabalho. A questão não está na especificidade de cada trabalho, mas na importância, no valor atribuído a cada um. Psicologia e ciência A ciência como é entendida por muitos, é um produto social e cultural, e a psicologia, assim como a ciência, se constitui sob a influência dos momentos históricos. Portanto, a psicologia também foi influenciada por todo o processo de mudanças da sociedade. Em cada época da nossa história, cada sociedade enfrentou seus problemas com novas ideias em busca de respostas, a partir dos seus próprios recursos e de seu modo próprio de ver as coisas. Houve um tempo em que tudo podia ser explicado pelos deuses que conviviam com homens: o deus do fogo era o fogo; o deus do milho era o milho. Fenômenos naturais, o sol, a lua eram adorados como deuses, e porque a proximidade homem-natureza era total, as explicações eram naturais. Com a criação de novos instrumentos e da tecnologia, os deuses foram perdendo a função de explicar o mundo e surgiram as explicações ditas científicas que buscavam as verdades em experimentos que podiam ser verificados a partir da manipulação de variáveis. Para o filósofo Sócrates, por exemplo, as perguntas estavam centradas no valor que as coisas tinham, se eram boas ou más. Já com o aparecimento do cristianismo, as interpretações de doutrinas e de mandamentos fizeram-se cada vez mais urgentes e surge, então, a adoração a um único Deus situado fora deste mundo (CHAUÍ, 1994). Por muito tempo as respostas às diferentes indagações do homem foram dadas por meio de mitos. Depois, podemos dizer que a religião e a filosofia se encarregaram de responder a essas perguntas. Com a construção de novos conhecimentos, surge também uma nova maneira de se dar soluções para os diferentes problemas enfrentados pelos homens. Aparece a ideia da separação de toda realidade em experiência interna e externa. Com essa ideia constrói-se um novo pensamento de forma bastante ativa e dominante, a ciência, e dela surge a tecnologia. E assim, temos a ciência moderna que é considerada advinda dos fatos vistos como algo que todos nós podemos observar, identificar e ter em comum. É a busca de uma verdade absoluta, não mais em um Deus, mas em uma verdade que seja única, universal, inquestionável e neutra. Assim, a ciência professa olhar exclusivamente para o mundo visível. Acreditava-se que o mundo era um sistema mecânico possível de ser descrito objetivamente, sem menção alguma ao observador humano. Com o passar dos tempos a ciência cria sua própria ideologia, apresentando várias características de uma “nova religião”. Muitas vezes, hoje, mesmo nas universidades, ela é ensinada de forma dogmática, como uma verdade revelada, possuindo uma linguagem própria, incompreensível e inatingível. São mitos da ciência: · só o conhecimento científico é verdadeiro e real · o que pode ser expresso em termos quantitativo e coerente é objeto de conhecimento científico · a ciência e a tecnologia dela advinda é que podem resolver os problemas do homem · somente os “especialistas” são qualificados para tomar decisões porque apenas eles detêm o saber No entanto, muitos são os críticos dessa visão de ciência. Concordo com eles e acredito que o mito dessa verdade absoluta somente será contestado quando houver a conscientização de que a realidade não é uma natureza virgem em que o homem é o desbravador, mas sim que ela é um produto da história dos homens. A ciência constitui-se e afirma-se de uma prática social, ideologicamente marcada. Psicologia e senso comum O senso comum, ao lado do saber religioso, da arte e do saber científico, participa da construção da nossa concepção do mundo. São saberes diferentes, mas são todos construídos em um determinado tempo, em uma determinada cultura. Nesse contexto, a psicologia também procurou o modelo de cientificidade criado nas ciências como a matemática e a física. O homem passou a ser visto como um fenômeno igual a outro qualquer, sem ser levada em consideração a cultura na qual está inserido. Os cientistas da época estavam muito preocupados em medir e quantificar. A psicologia teve inicialmente como objeto de estudo os problemas relacionados à sensação e à percepção que podiam ser medidos e quantificados. Ao mesmo tempo em que a psicologia se desenvolvia na Alemanha, em outros países como a Inglaterra e a França também eram realizados estudos com interesse pela medida, principalmente em relação às diferenças individuais. Esse interesse fazia parte de um projeto de melhor adaptar os mais capazes às necessidades da nova sociedade (PEDROZA, 2003). A psicologia nasce, portanto, com uma demanda de prover conceitos e instrumentos “científicos” de medida, que possibilitassem a adaptação dos indivíduos às novas condições de trabalho geradas pela sociedade industrial capitalista. É nesse contexto que surgem os primeiros estudos com finalidade de orientação e seleção escolar e profissional, por meio da medida das faculdades mentais. Uma das principais atividades dos psicólogos no início do século passado era exatamente a utilização da escala métrica para classificar indivíduos. A mais conhecida foi criada na França para medir a inteligência infantil e é conhecida como Teste de QI (PEDROZA, 2003). Nas escolas, portanto, a primeira função desempenhada pelos psicólogos foi a de mensuração das habilidades e a classificação das crianças quanto à capacidade de aprender e de progredir nos estudos. O que podemos concluir é que a psicologia, muitas vezes por pretender tornar-se uma ciência, praticamente deixou de ser humana. E palavras como subjetividade, inconsciente, emoção e afeto são recusadas pela psicologia científica que diz que seu objeto de estudo é apenas o comportamento observável. A concepção de homem que o teórico traz consigo influencia na sua definição do objeto de estudo da psicologia. A partir de vários estudiosos da psicologia, quero propor a seguinte definição: a psicologia é a ciência que estuda o ser humano concreto em todas as suas expressões como comportamento e sentimentos construídos a partir das relações sociais, das vivências individuais e da constituição biológica. Entendemos que a concepção do que é o ser humano não é dado desde o nascimento, ou seja, não é inato ao indivíduo. Ele constrói o seu ser aos poucos, apropriando-se do material do mundo social e cultural, ao mesmo tempo em que atua sobre este mundo, ou seja, é ativo na sua construção e modificação. Agora é importante revermos resumidamente o que foi dito até aqui: · Todos nós fazemos parte da escola e, portanto, temos de assumir o papel de educadores. · Existem vários tipos de conhecimento: senso comum, ciência, filosofia, religião e arte. · A ciência é um processo de construção de conhecimento cumulativo que pretende ser objetivo e geral. · A psicologia está presente em nosso dia a dia de diferentes maneiras, mas o que vamos estudar neste módulo é a psicologia científica. · Não é fácil definir o que seja a psicologia. O importante é que ela considere o ser humano na sua constituição biológica, social e cultural. 3.2 As grandes polêmicasda psicologia Podemos dizer que uma das grandes polêmicas da psicologia é tentar defini-la. A forma de abordar o objeto da psicologia depende da concepção de homem adotada por cada estudioso da psicologia. Podemos dizer também que atualmente existem diferentes escolas psicológicas que acabam formulando um conhecimento fragmentado de uma única e mesma totalidade que é o ser humano. Isso ocorre tanto no que diz respeito aos seus aspectos internos, como aos sentimentos e desejos, quanto às suas manifestações comportamentais. A superação desse problema da fragmentação está na busca de uma visão crítica de ciência que leve a uma psicologia que conceba o homem como ser concreto e multideterminado. Algumas dessas escolas consideram a psicologia pertencente ao campo das ciências do comportamento, outras das ciências sociais e, ainda, outras das ciências biológicas. Essas diferenças entre as escolas nos remetem ao problema da relação entre o biológico e o social no ser humano, que é um reflexo da concepção dualista do homem. O homem é visto na sua formação puramente biológica ou na sua formação social. A dificuldade está em concebermos as coisas na sua unidade. Existe uma lógica que nos é ensinada de que as coisas são ou não são. Mas existe outra maneira de entendermos o mundo que é vendo-o como sendo e não sendo ao mesmo tempo. Essa outra forma de entender o mundo é chamada de dialética, a qual permite a construção de um conhecimento que dê conta da realidade em toda a sua complexidade, com seus elementos contraditórios e em suas permanentes transformações. Sendo assim, o mundo é visto sempre em movimento e em constante mudança. O que também é válido para entendermos o homem que é visto como um ser ao mesmo tempo biológico e social; um ser ao mesmo tempo individual e cultural; um ser ao mesmo tempo racional e emocional. E deve ser entendido em suas condições concretas, que são, ao mesmo tempo, subjetivas e objetivas. Quando separamos, dividimos o homem, chegamos, em muitos casos, às tentativas de interpretações biológicas de fenômenos sociais, sem levar em consideração que esses fenômenos têm uma história antiga e pode-se chegar a conclusões sociais e políticas de caráter reacionário. O organismo humano nasce, forma-se e desenvolve-se segundo leis biológicas socialmente modificadas. Portanto, o homem deve ser estudado de forma mais abrangente tendo-se em vista todos os campos do conhecimento, por exemplo: a história, a antropologia, a economia, etc. Devemos, então, ficar atentos aos diferentes saberes para podermos entender nosso objeto de estudo, o homem, que como toda realidade está em permanente movimento e em transformação. E sempre novas perguntas surgirão a cada dia, colocando novos desafios para a psicologia. E como diz o ditado “mente é como paraquedas: melhor aberta”. Desde seu nascimento como ciência, a psicologia sofre a influência de diferentes campos do conhecimento. As três mais importantes tendências teóricas consideradas por muitos autores, na psicologia, são: o Behaviorismo (comportamentalismo), às vezes conhecida como a psicologia “dos ratinhos” por causa dos estudos feitos em laboratórios com esses animais; a Gestalt que nasce com a preocupação de se compreender o homem como uma totalidade; e a Psicanálise, talvez a mais difundida no senso comum por causa das ideias de Sigmund Freud, principalmente as relacionadas à teoria da sexualidade infantil. Essas são as teorias mais reconhecidas no Ocidente. Mas nos anos de 1920, sob o regime da ex-União Soviética, nos países do leste europeu, nascia também uma psicologia que buscava compreender o homem na sua totalidade que ficou conhecida como Teoria Sócio-Histórica. Essa teoria, fundamentada no marxismo, só ganhou importância no Ocidente nos anos 1970 e no Brasil apenas nos anos 1980. O Marxismo é a filosofia elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels que desde o final do século XIX vem influenciando não só no plano teórico, mas no político e econômico com suas ideias revolucionárias sobre as diferenças de classes sociais a partir do método materialista dialético (MARCONDES, 2007). O principal representante dessa teoria foi o russo Lev Vigotski que buscou estudar o homem e seu mundo psíquico como uma construção histórica e social da humanidade (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA,1999). Seu principal interesse na psicologia foi o estudo das funções psicológicas, ditas superiores que surgem, no homem, a partir da linguagem. Suas obras influenciaram vários teóricos de áreas como a educação, a neurociência, a linguística, entre outras (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA,1999). Para ele, o mundo psíquico que temos hoje não foi nem será sempre assim, pois sua caracterização está diretamente ligada ao mundo material e às formas de vida que os homens vão construindo no decorrer da história da humanidade. Além de Vigotski, outros psicólogos também se valeram das ideias de Marx para pensar a psicologia. Um deles foi o francês Henri Wallon que por defender essas mesmas ideias foi pouco difundido aqui no Brasil (PEDROZA, 1993). Sua grande contribuição para a psicologia é a sua concepção da emoção como sendo o motor inicial do desenvolvimento da pessoa que se dá a partir dos processos afetivos e cognitivos. Sua preocupação com a educação está presente em todas as suas obras com a defesa da interligação da psicologia com a educação (PEDROZA, 1993). Vigotski e Wallon Nesse curso, iremos trabalhar principalmente com as teorias de Vigotski e de Wallon por considerarmos os mais importantes entre os que marcaram as origens da psicologia moderna. A grande contribuição deles está no fato de terem fundado uma psicologia científica, assegurando uma conexão com outras disciplinas, em um contexto de interdisciplinaridade. Suas teorias permitem que o homem moderno possa compreender a si mesmo, a partir da imagem de sua própria infância, pois suas concepções teóricas levam ao conhecimento da criança e do adulto, sendo o conhecimento do segundo adquirido por meio do conhecimento da criança. Com essas teorias podemos concluir que: · As relações entre o homem e o meio em que ele vive estão sempre se enriquecendo pelo fato de o meio não ser constante. · Ao transformar suas condições de vida, o homem transforma-se a si próprio. · A saída para o impasse da dualidade entre o ser biológico e o social é o método materialista dialético. · O homem é um ser biológico, psicológico e social que se desenvolve na natureza. · A dialética dá à psicologia o seu equilíbrio e a sua significação ao mostrar simultaneamente ser uma ciência da natureza e uma ciência do homem. 3.3 Psicologia e educação Vamos falar agora da relação da psicologia com a educação. A psicologia é solicitada a intervir na solução de problemas bastante variados. Mesmo que esteja sempre encontrando resistências e oposições, ela tem contribuído em diferentes domínios, sendo o da educação um deles. Voltamos a destacar a importância da escola. É preciso entendê-la como um meio transformador e questionador da sociedade e reconhecer sua dimensão progressista. E também é fundamental vê-la como sendo um meio constituidor para o aluno onde todo o seu cotidiano gira em função dela. Assim, devemos destacar a responsabilidade da escola para com o aluno, ressaltando a necessidade do interesse que o educador deve ter pela vida do aluno como um todo, fazendo com que a escola passe a ter sentido na vida dele. Desenvolvimento e educação são complementares e a atividade exercida por todos educadores é de extrema importância. A escola tem de se dirigir ao aluno de maneira que possa atingir toda sua personalidade, respeitando e estimulando sua espontaneidade total de ação e de assimilação. Para tal, é necessário ter uma formação também psicológica, a fim de melhor compreender a natureza e o desenvolvimento dos alunos de suas escolas e poder agir verdadeiramente como educador (PEDROZA, 2003). Não quer dizer que sabendo psicologia vamos entender e resolver tudo a nossa volta. Mas, pode ajudar a compreender melhor algumas atitudes dos alunos ou mesmo de umcolega de trabalho. Com certeza, você já entendeu o porquê de uma briga entre dois alunos na fila para pegar a merenda. E outras vezes, talvez, achou que os empurrões no recreio são unicamente por falta de educação. As relações entre a psicologia e a educação, apesar de parecerem óbvias, são complexas e envolvem vários aspectos, tanto concordantes como de oposição. Tendo como alvo comum a criança, a psicologia e a educação têm discutido há muito tempo os processos de desenvolvimento e os de aprendizagem. Assim, a influência da psicologia sobre a educação é reconhecida. No entanto, a posição da psicologia na relação com a pedagogia tem sido muitas vezes de autoridade, ultrapassando os limites da competência. Por outro lado, percebe-se a grande procura de respostas por parte da educação em diversas áreas para dar conta da complexidade do fenômeno educativo. Por exemplo, em relação ao comportamento dos alunos em sala de aula, os sérios problemas relacionados à violência e à falta de motivação. Não é função da psicologia ditar normas para a educação, como também não é a educação uma aplicação da psicologia. O que se faz necessário,no entanto, é um maior conhecimento do desenvolvimento da pessoa do aluno na instituição escolar. Com isso, podemos buscar soluções mais produtivas para essas questões e tantas outras, que você conhece tão bem no seu contato diário com os alunos no ambiente escolar. O importante é considerar a relação entre a psicologia e a educação como sendo de complementaridade, de construção, para avançar no entendimento desses dois campos do conhecimento. O objetivo é proporcionar a você uma visão do desenvolvimento da pessoa a partir de algumas concepções teóricas e que você possa levar em conta tudo isso quando estiver no seu trabalho. O seu papel na escola é muito importante para a relação educativa. Nessa aula, enfatizamos a necessidade de uma formação não apenas pedagógica para o profissional da escola pública, mas também psico lógica levando em consideração os diferentes tipos de conhecimento. É também necessário reconhecer a própria experiência vivida em outros contextos sociais para a construção do conhecimento sobre as relações interpessoais. 3.4 A psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem Agora que já estudamos um pouco de psicologia, partiremos para o estudo das suas áreas que mais têm contribuído para o contexto da educação para que possamos compreender como se dá o desenvolvimento e a aprendizagem no ser humano. A relação entre desenvolvimento e aprendizagem Ao desenvolver um trabalho com 68 professoras do ensino fundamental, perguntei como elas viam a relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Obtive muitas respostas diferentes e interessantes e vou fazer a mesma pergunta a você. Veja o que aquelas professoras responderam e compare com suas respostas. O próximo passo é descobrir o que os teóricos da psicologia dizem. Para a maioria, a relação entre desenvolvimento e aprendizagem é de dependência, as duas caminham juntas; é uma relação de reciprocidade; o aluno só se desenvolve quando aprende. Com base em estudos e diálogos pessoais que realizei no meu cotidiano em Escolas com formação de docentes, verifiquei que algumas professoras tinham a opinião de que o desenvolvimento ocorre primeiro, sendo condição necessária para que haja aprendizado. Ou seja, primeiro a pessoa se desenvolve para depois aprender. Outras professoras opinaram dizendo que “as crianças têm muito a aprender e a ensinar e a relação deve ser de cumplicidade, ajuda e humildade”. Também apareceram respostas que diziam “que é por meio da aprendizagem que o ser humano desenvolve suas aptidões”. Outras respostas se remeteram à ação do professor que “se dá principalmente por meio de experiências e das oportunidades que o professor procura apresentar aos alunos e vice-versa; à valorização das experiências da professora e principalmente dos alunos”. Agora vamos passar a analisar o que os teóricos da psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem dizem dessa relação. Diferentes concepções de desenvolvimento e de aprendizagem Na psicologia, vamos encontrar diferentes concepções sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Vigotski nos apresenta as concepções mais importantes agrupadas em três grandes posições teóricas (VIGOTSKI, 1998). A primeira postula que os processos de desenvolvimento da criança são independentes do aprendizado. Isto porque o aprendizado é visto como um processo externo que segue o caminho do desenvolvimento, ou seja, o aprendizado se vale dos avanços do desenvolvimento sem fornecer um impulso para modificá-lo. Só pode haver aprendizado quando o desenvolvimento chega ao ponto mínimo, o qual torna possível o aprendizado, isto é, o desenvolvimento precede o aprendizado. Em outras palavras, para aprender alguma coisa, a pessoa tem de ter desenvolvido algumas condições anteriormente. A segunda posição parte do princípio de que aprendizado é desenvolvimento. O processo de aprendizado é reduzido à formação de hábitos, identificando-o com o do desenvolvimento. O princípio fundamental é a simultaneidade entre os dois processos, ou seja, desenvolver é aprender novos comportamentos, isto é, aprender é aumentar o repertório comportamental. A terceira concepção teórica apresentada por Vigotski é a que tenta superar os extremos das outras duas a partir da combinação dos seus pontos de vista. Embora os dois processos sejam vistos como relacionados, eles são diferentes e cada um influencia o outro (VIGOTSKI, 1998). Podemos representar essa concepção dizendo que o desenvolvimento é sempre um conjunto maior que o aprendizado, não havendo, portanto, coincidência entre os dois conceitos. Vigotiski rejeita essas três concepções teóricas e propõe uma outra solução para essa relação. Para ele, aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança, portanto, muito antes de ela frequentar a escola. O aprendizado escolar, no entanto, produz algo fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança. Ele propõe que se veja o desenvolvimento em dois níveis diferentes. O primeiro é o Nível de Desenvolvimento Real, ou seja, o que a pessoa já é capaz de realizar sozinha e o segundo é o Nível de Desenvolvimento Potencial, que é determinado pela realização de qualquer tarefa com a ajuda de outra pessoa. A distância entre o Nível de Desenvolvimento Real e o Nível de Desenvolvimento Potencial foi chamada por Vigotski como sendo Zona de Desenvolvimento Proximal (VIGOTSKI, 1998). Vamos pensar sobre isso na prática: Se eu perguntar a você o seguinte: uma criança de oito meses já anda? Provavelmente você me dirá que não (a não ser que essa criança seja muito diferente das outras!). Mas se eu agora perguntar: se alguém pegar nas mãos dessa mesma criança de oito meses, ela consegue andar? Talvez você me responda que sim. E aí, eu insisto na minha pergunta: a criança de oito meses anda ou não anda? Com certeza vou criar uma situação difícil para você. Pois é isso mesmo. A nossa criança de oito meses ainda não anda sozinha, mas com ajuda ela anda. E mais ainda, ela já pode ficar em pé sozinha ou com apoio. Ficar em pé com apoio é, neste caso, o Nível de Desenvolvimento Real. Andar com ajuda é o Nível de Desenvolvimento Potencial. Isso acontece também com a gente, os adultos, pois estamos sempre em desenvolvimento porque aprendemos constantemente. O que Vigotski propõe, então, é que vejamos o desenvolvimento como um potencial e que a ajuda do outro leva ao desenvolvimento da pessoa. Ou seja, o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento que operam quando a pessoa interage com outras pessoas do seu ambiente e com a ajuda de seus companheiros. Nessa posição teórica, aprendizado não é desenvolvimento. O desenvolvimento vem de forma mais lenta, após o aprendizado. Podemos dizer, então, que é o aprendizado que puxa o desenvolvimento. Você percebeu que há na psicologia diferentes maneiras de entender esses processos de desenvolvimento e aprendizagem. Particularmente,consideramos que a visão de Vigotski explicita de forma mais completa e complexa os processos de desenvolvimento e de aprendizagem, de constituição do indivíduo e da construção do conhecimento. Sua grande contribuição é mostrar que aprendemos e nos desenvolvemos sempre em relação com as pessoas em nossa volta. Daí a importância do educador interagir sempre com o outro, ou seja, para ensinar alguma coisa é preciso estar junto com o outro, ajudando-o. O que Vigotski propõe, então, é que o educador busque atuar na Zona Proximal de Desenvolvimento, ou seja, a educação tem de partir daquilo que o aluno já atingiu (o Desenvolvimento Real) buscando concretizar aquilo que ele apresenta como potencial (o Desenvolvimento Potencial). Muitas vezes, quando ensinamos, não levamos em consideração o que o aluno já sabe ou o potencial para aprender e o que acabamos por fazer é ensinar aquilo que o aluno já sabe ou ainda está longe de poder aprender. É sempre bom lembrar de anotar no seu memorial, pois é importante fazer o registro das informações que pensamos, e depois, ao ler novamente, podemos resignificá-las. 3.5 Discussões na psicologia do desenvolvimento Corpo X Mente Inato X Aprendido Indivíduo X Social A psicologia do desenvolvimento estuda diferentes aspectos da evolução do ser humano. Os psicólogos do desenvolvimento interessam-se pelo crescimento da estrutura física, do comportamento e do funcionamento da mente (COLL, PALÁCIOS & MARCHESI, 1996). Influenciados pela busca da medida, os psicólogos consideram o crescimento do corpo e da mente muitas vezes apenas como um contínuo progresso puramente quantitativo. Ou seja, da mesma forma que a criança adiciona centímetros na sua altura, ela também adiciona quantidade equivalente de inteligência. Daí se fala em idade intelectual. Provavelmente você já ouviu alguém dizer que uma criança de dez anos tem “problemas mentais” porque a idade intelectual dela é de cinco, por exemplo. Essa visão parte do princípio de que o desenvolvimento é um processo contínuo e ordenado. Dessa forma, o ser humano se desenvolve segundo uma sequência regular e constante, de maneira que a etapa que vem antes influencia a que vem depois sem possibilidade de mudanças nessa sequência. E mesmo admitindo-se que cada indivíduo tenha seu próprio ritmo de desenvolvimento, esse ritmo é concebido como sendo constante. Ou seja, com essa concepção é negada ao indivíduo a possibilidade de mudança na maneira de ser (COLL, PALÁCIOS & MARCHESI, 1996). O que estamos propondo neste curso é uma visão do desenvolvimento que parte do princípio de que o mesmo é um processo descontínuo, desordenado e acontece em saltos. Isso significa que o indivíduo não está programado desde a sua concepção para ser de uma determinada maneira. É importante que você leve em consideração que estamos apresentando uma maneira de ver o desenvolvimento e que não significa que seja a verdadeira, nem a melhor! Além das diferenças de cada um, é preciso entender que o que consideramos hoje como infância, adolescência e velhice são “invenções” socioculturais relativamente recentes. Durante séculos, as crianças foram consideradas como adultos em miniaturas. Na Idade Média, a partir dos sete anos as crianças começavam a aprender um ofício sob a tutela de um adulto, passando a ter responsabilidades próximas as dos adultos. Além das responsabilidades, elas participavam de todas as atividades do adulto como trabalho, lazer, festas etc. Tempos depois, movimentos culturais e religiosos deram lugar ao descobrimento da infância como uma etapa diferente da idade adulta e o tratamento tornou-se diferenciado. Isso significou que a criança deixou de ser vista como um adulto incompleto guardando em si tudo aquilo que ela seria na fase adulta. A criança deixa de ser vista como um adulto em miniatura. A partir do século XIX começa a luta pela liberação das crianças da realização de trabalhos pesados. Existem descrições dramáticas das condições de vida das crianças inglesas, nos anos de 1800, que tinham jornadas de trabalho de doze horas, realizando duros trabalhos em fábricas e minas (COLE & COLE, 2003). Em relação ao conceito de adolescência, esse só aparece no século XX quando a criança não passa a ser um adulto de forma direta. A passagem à condição de adulto vai acontecendo progressivamente e o nascimento da adolescência surge como uma época diferenciada tanto da infância como da idade adulta. Como você pode perceber, os processos de desenvolvimento e de aprendizagem estão relacionados e a relação desses dois processos é explicada de forma diferente pelas teorias psicológicas. O que enfatizamos aqui é que o desenvolvimento é um processo descontínuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas. 3.6 A noção de estágios em psicologia do desenvolvimento A escola que tenho defendido no plano político-pedagógico deve levar em consideração as diferenças sociais e os conflitos de classes, visando à construção de um projeto social de transformação. Dessa forma, convido você a estudar atentamente nesta aula a questão das diferenças de personalidade de cada pessoa. Homens e mulheres, cada um do seu jeito de se comportar, devem ser respeitados e considerados no processo de educação no contexto escolar. Ciclo da vida: infância, adolescência, fase adulta e velhice como construções culturais O conceito de estágio ou etapa tem as suas origens nas noções de idade, de era, de época, de período que são usadas pela humanidade há muitos anos e se conservam até hoje. Encontramos essas divisões quando falamos da formação do universo ou simplesmente quando dividimos o tempo em dias, meses, estações do ano, anos, séculos, etc., ou mesmo quando nos referimos ao tempo de plantio, de colheita. Todas essas classificações são criadas pela constância observada nas mudanças e na evolução dos seres e das coisas. Só bem mais tarde é que aparece a aplicação da noção de idade aos diferentes momentos da vida de um indivíduo e está ligada aos domínios da educação, da transmissão das técnicas e da cultura social para as novas gerações. É fácil constatarmos que cada homem nasce, desenvolve durante certo tempo, estabiliza-se e depois declina e morre. Da mesma maneira, verificamos isso no nascimento e na morte de outros seres vivos e sobre todo tipo de transformações na natureza, por exemplo, as plantas. No entanto, esse ciclo de vida no homem como visto anteriormente, não se dá numa mesma forma linear e contínua. A divisão em etapas diferentes está certamente ligada às necessidades educativas daquilo que devemos aprender para melhor nos adaptarmos à vida. Também encontramos divisões de etapas na história, na geologia e na sociologia, por exemplo. Temos com Karl Marx a descrição dos estágios da evolução da sociedade, cujas formas sucessivas são caracterizadas cada uma por um modo específico de produção: modo antigo, modo escravagista, modo feudal, modo capitalista e modo socialista (MARCONDES, 2007). A noção de estágio ou de etapa apresenta uma utilização muito ampla, aplicando-se a domínios numerosos e diferentes. O que existe de comum entre eles é que todos representam os fenômenos que mudam, que se transformam e que se desenvolvem. A noção de estágio está ligada a do “devir”, ou seja, ao que vai vir a ser. A psicologia da criança, que se desenvolveu sob a influência das ideias da evolução, não escapou dos debates entre a continuidade ou descontinuidade do desenvolvimento e também divide esse desenvolvimento em estágios como vamos ver mais adiante. Como vimos anteriormente, a aprendizagem é um processo que está interligado com o desenvolvimento da pessoa. Sendo assim, a educação na escola deve proporcionar ao aluno experiências pessoais que promovam o seu desenvolvimento intelectual. A tarefa do educador é, pois, de orientar, de regular e de organizar o meio socioeducativo, ou seja, ele deve atuar em todos os ambientes da escola como um facilitador da sua própria interação com os alunos e das relações que se estabelecem entre eles. Com certeza você já faz isso no seu dia adia quando busca conhecer um aluno e o ajuda no espaço da escola. Podemos usar como exemplo a seguinte situação: Em uma ocasião, presenciei uma briga entre dois meninos de oito anos do ensino fundamental e observei a intervenção da Dona Joana, que fazia a limpeza na escola, para fazê-los parar de brigar. Dona Joana aproximou-se dos meninos e disse que eles tinham de se entender sem brigar. Após conversar com os dois, e cada um dizia que era culpa do outro, Dona Joana, tranquilamente apenas disse que não queria saber de quem era a culpa. Se os dois estavam brigando, então os dois tinham de parar. Os meninos pararam e cada um foi para o seu lado. Vamos pensar um pouco sobre o que aconteceu. O que Dona Joana fez foi criar um espaço de conversa, tranquilo sem provocar mais ainda o conflito entre os meninos de modo que eles pudessem se acalmar e ver que os dois tinham de parar de brigar, sem se culparem. Talvez você já tenha passado muitas vezes por uma situação como essa e resolveu a situação mesmo sem ter tido antes nenhum conhecimento de alguma teoria de psicologia. Poderíamos dizer que Dona Joana fez o que algumas teorias propõem que é resolver os conflitos a partir do diálogo, nesse caso, mesmo sem conhecer a teoria. O importante é poder contar com um conhecimento a mais para refletirmos a nossa prática e buscar fazer dessa prática uma ação que seja educativa, que leve o outro, no caso o aluno, ao seu desenvolvimento intelectual e pessoal. Muito tem sido exigido dos educadores e poucos têm sido os recursos fornecidos para que possam, efetivamente, desenvolver tudo que é pedido. Muitas vezes, espera-se que os funcionários cumpram com todos os seus serviços da melhor maneira possível sem serem dadas as condições necessárias para tal. Sendo assim, espero que o que estamos dizendo aqui, possa, entre outras coisas, possibilitar um conhecimento sobre como se dá o processo de desenvolvimento humano para que você possa se relacionar melhor com os alunos e com os colegas de trabalho. Como vimos antes, existem várias teorias do desenvolvimento na psicologia. Possivelmente, você já ouviu falar de Freud e Piaget. Esses, sem dúvida, são os teóricos mais conhecidos da psicologia do desenvolvimento. A Psicanálise de Freud Sigmund Freud é mais conhecido pela sua teoria do desenvolvimento da sexualidade. Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico que nasceu em Viena, estudou em Paris psiquiatria e revolucionou o modo de pensar a vida psíquica. Freud ousou colocar os processos “misteriosos” do psiquismo, suas regiões “obscuras”, isto é, as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, como problemas científicos. A investigação sistemática desses problemas levou Freud à criação da Psicanálise que é um método de investigação interpretativo que busca o significado do inconsciente. Suas investigações na prática clínica possibilitou a descoberta de que a maioria de pensamentos e desejos reprimidos referia-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos. Essa descoberta permitiu que postulasse a existência da sexualidade infantil. Sua teoria difundiu-se por todo o mundo, mesmo antes de sua morte em Londres onde havia se refugiado por causa da invasão dos nazistas na Áustria. A influência de Freud tem sido notável, não só na medicina e na psicologia, mas também na educação e em outros setores da atividade humana (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 1999). Muitas são as pessoas que dizem que para ele tudo “é sexo”. Mas, não é isso. A sua grande contribuição é mostrar que o homem tem um desenvolvimento sexual ao longo da sua vida que é determinado pela cultura em que está inserido. Para Freud, a sexualidade no homem não é apenas dada pelo desenvolvimento biológico, mas é formada, principalmente, por uma energia que ele chamou de libido, que é motor de busca de satisfação de nossos desejos (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 1999). O que foi bastante revolucionário na sua teoria foi o fato de ter mostrado que o impulso sexual já se manifesta no bebê e tende a uma definição de escolha da atividade sexual no adulto. Em um dos seus escritos mais importante, Três ensaios sobre a sexualidade, Freud (1905) descreveu a sequência típica das manifestações do impulso sexual, distinguindo cinco fases do seu desenvolvimento: oral, anal, fálica, latência e genital. Poderíamos apontar muitas outras contribuições da psicanálise, mas talvez o que nos interessa no momento é sabermos que não temos conhecimento total da nossa consciência, pois ela se encontra dividida em: consciente, pré-consciente e inconsciente. Isso significa que todos os nossos atos, mesmo aqueles aparentemente praticados por acaso, estão relacionados a uma série de causas, das quais nem sempre temos consciência. Foi Freud que tentou explicar porque dizemos coisas que não queríamos dizer. Por exemplo, pode acontecer de uma pessoa dar os parabéns a uma mulher no velório de seu marido no lugar de dar os pêsames. Esse fato parece anedota, mas acontecem fatos desse tipo com todos nós, não é mesmo? Tente lembrar se você, por exemplo, se você já trocou o nome de alguém. Segundo Freud, isso acontece porque algum motivo que desconhecemos que está no nosso inconsciente e não temos controle dele, assim nos faz cometer esses atos falhos. A teoria de Piaget Jean Piaget é outro dos teóricos de muita relevância no cenário da psicologia do desenvolvimento. Seus trabalhos são reconhecidos no mundo todo e sua contribuição para educação é considerada como essencial (BOCK, FURTADO & TEIXEIRA, 1999). Jean Piaget (1896-1980) nascido na Suíça tornou-se importante pesquisador dos processos de construção de conhecimentos, a partir de uma formação em Biologia e de uma longa trajetória de pesquisas no campo da filosofia e da psicologia. Interessou-se pelo estudo de como o conhecimento é obtido (epistemologia) e como se dá o desenvolvimento da mente humana. Publicou vários livros e artigos sobre o desenvolvimento cognitivo da criança. Para Piaget, a habilidade de pensar resulta de uma base fisiológica e da interação com o meio social. A ação do sujeito na busca da adaptação, ou seja, na busca por solucionar desafios que possibilitem a construção do conhecimento e o desenvolvimento mental. Embora não tenha deixado um método pedagógico, a teoria de Piaget tem sido referência para a prática didática dos educadores, principalmente na elaboração dos conteúdos programáticos nos currículos escolares (OLIVEIRA, 2005). A partir dos estudos com crianças, principalmente observando sistematicamente o comportamento dos seus filhos, ele elaborou uma teoria que revolucionou a compreensão do desenvolvimento intelectual. Sua teoria explica o desenvolvimento mental do ser humano no campo do pensamento, da linguagem e da afetividade. Na sua proposta teórica, o desenvolvimento cognitivo é explicado numa sucessão dos seguintes estágios: sensório-motor (0 a 2 anos); pré-operacional (2 a 6 anos); operações concretas (7 a 11 anos); operações formais (12 anos em diante). Essas idades atribuídas aos estágios não são rígidas, podendo haver grande variação individual. Piaget também contribuiu com uma sistematização do desenvolvimento da moral e sua busca pelo entendimento de o porquê as pessoas davam respostas “aparentemente erradas”, levando-o a questionar os testes de inteligência que eram aplicados na época. A partir desses questionamentos, ele concluiu que as crianças não pensam de modo algum como os adultos (PIAGET, 2003). Seu método de investigação era a entrevista em forma de perguntas do tipo: Por que chove? O que faz o sol brilhar? Quando alguém chuta uma bola, a bola sente dor? Depois ele analisava as respostas das crianças, não para avaliar se estavam certas, mas para entender como elas encontravam soluções para as perguntas. A teoria de Wallon Além de Freud e Piaget, Wallon apresenta uma visão do desenvolvimento que é muito importante para a compreensão do ser humano (PEDROZA, 1993). Nós vamos estudá-la mais detalhadamente para entendermos o processo de formação da pessoa porque ele nos proporciona umavisão do ser humano mais completo, abrangendo os aspectos cognitivos, afetivos e sócio-históricos da constituição do indivíduo. Segundo Wallon, a criança e o adulto formam uma unidade indissolúvel. Isso porque o desenvolvimento da criança se dá em direção à vida adulta. É preciso ver a pessoa em uma perspectiva que contemple o passado, o presente e o futuro. O que somos é uma unidade do que fomos que se atualiza a cada momento, delineando o que vamos ser. É quase dizer que o futuro é hoje, pois ele está sempre sendo e deixando de ser. Pode parecer jogo de palavras, mas não é. O problema é que nos acostumamos a pensar as coisas como se elas fossem pré-determinadas como se não mudassem. “Pau que nasce torto, morre torto”. Se aceitarmos esse dito, não deveríamos nem falar em educação, pois não levaria a nada educar alguém. Não é mesmo? Eu acredito na possibilidade da mudança mesmo que ela seja muito difícil de conquistar. Wallon nos mostra a necessidade de concebermos o desenvolvimento como um processo de evolução dinâmica, sempre em movimento e sofrendo mudanças não só quantitativas, mas qualitativas a partir de uma base material, ou seja, do orgânico. Esse desenvolvimento se dá em etapas cada qual com suas características específicas (PEDROZA, 1993). Os estágios do desenvolvimento · Período da Vida Intrauterina – total dependência fisiológica, marcada por reações motoras. · Período Impulsivo e Emocional – depois do nascimento. Abrange o primeiro ano de vida; as emoções prevalecem e permitem as primeiras interações da criança com seu meio. · Período Sensório-Motor – por volta dos dois anos. Predomínio da exploração do mundo físico e caracterizado pela aquisição da marcha e da palavra. · Período do Personalismo – entre três e cinco anos. Período dos confrontos e de formação da autonomia. · Período da Puberdade e da Adolescência – antes da idade adulta. Crise comparada a dos três anos com o retorno da atenção sobre sua própria pessoa. · Período da Fase Adulta – a pessoa atinge certo equilíbrio entre o desenvolvimento emocional e o intelectual. 3.6.1 Ciclo vital: infância, adolescência e adultez Infância Período da Vida Intrauterina Wallon começa a descrever as etapas do desenvolvimento mostrando a importância do período da vida intrauterina. Nesse período, a criança encontra-se em uma total dependência biológica do organismo materno, mas já se faz presente no meio social por meio dos seus movimentos (PEDROZA, 1993). Você que já teve neném, que já acompanhou a gravidez de alguém, com certeza já curtiu sentir “as mexidas” da barriga da mulher grávida. Estágio Impulsivo E o que ocorre depois do nascimento? Com o nascimento, surge uma nova fase, na qual a criança já depende de si própria em relação à respiração e à capacidade de autorregulação da temperatura do seu organismo. No restante, sua dependência com o meio, especialmente com a mãe, é de total exigência de atenção. A importância dessa atenção se refere tanto ao desenvolvimento psíquico como físico. A sua falta pode acarretar danos às funções orgânicas, podendo mesmo chegar a definhar fisicamente. O bebê humano necessita da ajuda de outra pessoa até para mudar de posição. Às vezes, ele chora porque está muito tempo em uma mesma posição, podendo ter câimbra. É por isso que Wallon diz que o ser humano é desde sempre social, pois sem outro que o alimente e o embale, ele não sobrevive. É o período das necessidades alimentares e posturais, da mudança de posição e de ser transportada ou embalada. Muitas vezes a criança precisa apenas de estar no colo para sentir a presença do outro e se acalmar. Nessa fase, a satisfação das suas necessidades não é automática, o que faz com que a criança comece a conhecer os sofrimentos da espera ou da privação, levando-a a ter reações de espasmos e gritos, com gestos explosivos de simples descargas musculares. As reações do recém-nascido geram interpretações dos adultos, na tentativa de decifrar suas necessidades expressas em cada tipo de grito. Os primeiros gestos são manifestações da emoção e constituem-se na primeira linguagem do homem. O adulto à sua volta tenta decifrar as expressões do bebê e estabelece uma comunicação que permite o início nos significados do adulto. É só se lembrar de uma criança com fome. Ela grita e esperneia sem que ninguém consiga fazê-la parar de berrar. Estágio Emocional Por volta dos seis meses, a criança já é capaz de manifestar uma grande quantidade de expressões emocionais, tais como a raiva, a dor, a tristeza e a alegria. Durante esses dois estágios, a criança depende muito dos outros em sua volta. Não apenas para alimentá-la, mas para desenvolvê-la emocionalmente. Daí a importância de começar desde o nascimento a conversar com a criança, pois é por meio da linguagem que ela vai se apropriando da cultura em que está inserida. Estágio Sensório-Motor Do primeiro ano de vida ao começo do segundo, a criança procura explorar o mundo ao seu redor. Agora as atividades dominantes são a marcha e a fala, que libertam a criança de numerosas dependências ou limitações. A partir daí começam os conflitos entre os adultos e as crianças. Elas não têm ideia dos perigos, mas precisam explorar e conhecer o que está a sua volta. É o princípio da aprendizagem e do desenvolvimento das capacidades intelectuais. É preciso permitir à criança que ela vá descobrindo por ela mesma as coisas ao seu redor. Período do Personalismo Por volta dos três anos, surge a etapa em que a criança passa a ser o foco principal. É como se ela se voltasse para o seu interior e começasse a tomar consciência de si mesma. A criança demonstra a necessidade de se afirmar, de conquistar a autonomia, o que leva ao surgimento de muitos conflitos com ela mesma e com os adultos que cuidam dela. Ela se confronta e se opõe às pessoas sem motivo aparente, mas com o propósito de provar sua independência e existência. É o famoso período em que a criança diz “não” para tudo, mudando de opinião sem explicação. É um período difícil que é sucedido por outro mais positivo, de encanto. É a idade da graça, mas também de muita timidez e inibição; é quando a criança tem prazer em se exibir diante dos adultos, mas é tomada repentinamente por uma vergonha que a imobiliza. O conflito às vezes acaba por imobilizar a criança, então o único recurso que resta é chorar. Por fim, apresenta-se um novo confronto com as outras pessoas, com uma nova forma de participação e de oposição. Já não se trata apenas de reivindicação de ser diferente, mas sim de um esforço de substituição pessoal por imitação de um papel, de uma personagem, ou de alguém preferido ou invejado. A imitação permite a identificação de um modelo e não significa que a criança já esteja fazendo escolhas para sua vida adulta. É importante que o adulto possibilite essa identificação que muitas vezes aparece como um jogo simbólico. É quando a criança se veste com uma fantasia de super-herói e se acha o mais valente de todos. Parece até que a brincadeira preferida é a de “agora eu sou...” em que tudo é possível! Mesmo lutando pela sua independência, a criança continua ainda nesse período, numa profunda dependência do seu meio familiar, mantendo-se assim até a idade de entrar na escola, no ensino fundamental. Adolescência Neste período que vai dos seis aos doze anos, a criança se volta outra vez para as coisas em volta dela. A escola, nesse período, desempenha um importante papel na vida psíquica da criança, alargando suas relações pessoais e sua capacidade intelectual. No entanto, isso se dá de forma lenta e difícil. Diante de tarefas propostas pelo professor, na maioria dos casos, impostas, sem utilidade aparente, a criança reage chegando às vezes a uma “verdadeira sonolência intelectual” demonstrando um falso desinteresse pelas coisas. Por isso é importante o adulto tentar conhecer como a criança pensa e que relações ela faz ao pensar em determinado assunto, para fazer com que ela se interesse pela tarefa da escola.O equilíbrio é rompido nessa fase de maneira mais ou menos repentina e violenta, apessoa encontra-se em uma crise que pode ser comparada a dos três anos. A diferença é que, nesse momento, as outras pessoas são menos importantes para o adolescente e as exigências de sua personalidade, agora em primeiro plano, entram em conflito com os costumes, hábitos de vida e relações da sociedade. O retorno da atenção sobre ele próprio causa, no adolescente, as mesmas alternâncias de graça e de embaraço dos três anos. A adolescência é uma fase cheia de questionamentos e instabilidade, que se caracteriza por uma intensa busca de “si mesmo” e da própria identidade. Nessa fase todos os padrões estabelecidos são questionados, bem como criticadas todas as escolhas de vida feita pelos pais, buscando assim a liberdade e autoafirmação. Os adolescentes são desajeitados em seus movimentos, sendo que a fala fica alterada, a voz vibrante, desafinada e alta. O humor fica extremamente lábil, com crises de raiva, choro e risos, alternados e exagerados, além da insatisfação constante, e oposição a tudo o que o adulto sugere. Fase Adulta Finalmente surge a fase adulta em que aparentemente a pessoa atinge um equilíbrio entre as alternâncias de se voltar para o seu interior e o interesse pelo intelectual. Nesse momento, o adulto continua se desenvolvendo emocional e intelectualmente. Maturidade é o momento que anteriormente chamávamos de “ninho vazio”, em que os pais, principalmente as mães, consideravam-se sem função por não saber ser outra coisa na vida além de cuidadoras. Com o grande investimento que se fez nos últimos anos, mostrando que as mulheres tem outros afazeres além de ser cuidadora, e com a entrada da mulher no mercado de trabalho, essa crise não é tão acentuada. A chamada crise dos 40 ocorre quando se avalia que não se tem mais todo o futuro pela frente, e que o recomeço não é tão simples, pois sair do conhecido, e lançar-se no escuro amedronta, torna-se mais preocupante do era que antes. Jung, no entanto, vê esta fase como extremamente criativa dizendo ser o “inicio do libertar-se do aprisionamento do ego” e em vez de representar a última chance, como pensam alguns, é sim um período especial, com significativas possibilidades para a maturação saudável. Velhice É fácil observar que pessoas de realizam tarefas de grande importância em várias áreas de atividade humana, quer na política, ciência ou nas artes, e que muitos sábios, músicos, escritores, pintores e escultores realizaram suas conquistas já bastante idosos. Relações Interpessoais no Espaço Escolar 3.8 Relações interpessoais e intrapessoais – desafios individuais e coletivos Manter um bom relacionamento com as pessoas que estão ao nosso redor é importante para o nosso desenvolvimento social. Precisamos o tempo todo, pensar no indivíduo, evitando julgamentos e exclusões. Tudo porque, vivemos num contexto em que ninguém é autossuficiente. Por isso, é bom sempre estar atento ao nosso modo de vida e de convivência. O relacionamento intrapessoal é a relação do indivíduo com ele mesmo. Quanto mais você compreende sua essência (quais são seus objetivos, o que é mais importante para você), melhor é o seu processo decisório, porque você estará mais em sintonia com o seu objetivo. · Relacionamento intrapessoal: é conhecer a si mesmo, aceitar-se, confiar em si mesmo. · Relacionamento interpessoal: entende-se como sendo a forma como interagimos com o outro, a maneira como nos comunicamos, como nos encontramos com o outro. Sendo assim, só será possível mantermos relacionamentos saudáveis com o outro quando já estamos nos ‘relacionando’ bem com nossos sentimentos, valores, quando estamos comprometidos com nosso bem-estar. A forma como você reage às pessoas, como você interage com elas, suas emoções, ações e atitudes quanto aos indivíduos o qual você se relaciona é o seu relacionamento interpessoal. Relacionamento interpessoal é a maneira como você se relaciona com as pessoas, de forma dinâmica e imprevisível, à sua volta, ou seja, as relações interpessoais ocorrem em todos os meios: familiar, educacional, social, institucional, profissional, e estão ligadas aos resultados finais de harmonia, avanço, e progressos ou nas estagnações, agressão ou alienamento. As competências intra e interpessoais podem ser visíveis a partir da melhoria nos relacionamentos ao promover satisfação, bem-estar, qualidade de vida e muito mais. Para Vygotsky (1988), o indivíduo não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É necessário conhecermos melhor o papel das relações inter e intrapessoais hoje e isto se justifica por algumas razões. Em primeiro lugar, a nossa ideologia modificou as formas de relação existentes entre indivíduos: é cada vez menos comum julgar as pessoas como sendo coisas (tal como ocorria no caso extremo do escravo - ou apenas como representantes de um papel - como ocorria, no caso também extremo, do nobre ou do senhor), e passamos a julgar os outros pelo que são, isto é, como indivíduos, como humanos. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual interno - relações intrapessoais. De outro lado, nossa vida passa a depender, cada vez mais, de relações interpessoais, e se torna cada vez menos dependente de uma relação direta com a natureza, tal como ocorria com o agricultor tradicional, pois o agricultor atual também se integra no sistema contemporâneo de produção e de relação com os outros. A qualidade e a importância das relações interpessoais Sartre, Erich Fromm, dentre outros, afirmam que o relacionamento humano é precioso demais em suas potencialidades para ser reduzido ao nível de funcionamento de uma máquina. Se tivermos sempre presentes em cada um de nós a preocupação e o cuidado de aprimorar nossas habilidades no relacionamento interpessoal, os resultados obtidos gerarão condições favoráveis para o trabalho de grupo e um clima de confiança entre os participantes, permitindo que a qualidade das pessoas flua. Por isso é importante sempre observar o nosso comportamento diário e de nossos colegas. Ao realizar essa observação, poderemos notar alguns fatos: · Muitos profissionais chegam ao local de trabalho, no nosso caso, na escola de cara amarrada · Muitos indivíduos estão constantemente estressados no seu ambiente de trabalho Ao surgir esses questionamentos, surgem também algumas respostas e reflexões que devemos sempre realizar no nosso dia a dia. Dentre as reflexões, destacamos: · O Relacionamento interpessoal entre colegas é de fundamental importância para o bom andamento de uma escola. · O Relacionamento das pessoas que trabalham numa escola é um sinal de avanço na educação. A comunicação e o papel dos funcionários da educação no espaço escolar O papel do auxiliar técnico educacional juntamente com os outros agentes: gestores, professores e alunos são de aprender a conhecer, a fazer, a viver juntos, a entender, a respeitar e ajudar ao próximo, a ser, a ouvir, a dialogar, a questionar, a mudar e resolver os problemas do dia a dia no espaço escolar. Pensando nisso, devemos refletir que essa relação entre todos os agentes que ocupam o espaço escolar, baseia-se num bom diálogo e interação e por isso, a comunicação efetiva é um fator essencial nas relações educacionais. A comunicação é considerada no mundo moderno em que vivemos como um dos elementos mais presentes e importantes de nosso cotidiano. É praticamente impossível imaginarmos uma situação que envolva pessoas em que não esteja acontecendo algum tipo de comunicação entre elas. Mas, será que temos sido capazes de utilizar corretamente todo o imenso potencial que a comunicação eficaz pode nos proporcionar? Usamos de forma adequada a comunicação em nosso cotidiano para nos fazermos entender e percebermos as intenções e as habilidades das pessoas com as quais nos relacionamos? Porque muitas pessoas acreditam que não podem se comunicar com sucesso quando estão falando em público? Dar atenção a estes questionamentos é fundamental quando pretendemos modificar para melhor nossas habilidades comunicativas. A área da comunicação é também uma área em que as pessoas podem fazer grandes progressos na melhoria da eficácia de seu próprio desempenho e, também, podem melhorar o seu relacionamento interpessoal com o mundo externo. Comunicação efetiva nas relações educacionais Será que de fato, comunicamos exatamente o que queremos? Hoje, apesar de termos muitas formas de obter informações e conhecimentos, nem sempre estamos nos comunicando. Existe grande diferença entre comunicação e informação. A expressão “falar bem” geralmente é usada para indicar alguém que sabe se sair bem no trato com as pessoas através da linguagem. Sair-se bem ao conversar com as pessoas tem relação mútua com o fato de ser cordial. Observe o exemplo abaixo: 1. Entra aí, a recepcionista já vem te atender! 2. Entre, por favor, a recepcionista já vai atendê-lo! Enquanto isso fique à vontade! Ao ler as duas frases, podemos pensar que a culpa de um tratamento inadequado é do uso inadequado da norma culta. Mas veja que não é só uma questão gramatical, aliás, mesmo que haja erros, se usada a cordialidade, estes últimos passam despercebidos! Uma comunicação efetiva depende de vários elementos: emissor, receptor, mensagem, canal, código e contexto. Portanto, se o emissor não consegue transmitir sua mensagem de maneira que o receptor entenda, então, de nada adiantará! Dessa forma, pensamos que todos prezam pelo entendimento no ato comunicativo. Para se tornar um comunicador efetivo é fundamental colocar-se no lugar do outro, a fim de que alguns estímulos sejam criados e a comunicação tenha êxito. Contudo, um dos ambientes em que a comunicação ganha maior destaque é o ligado às nossas atividades profissionais. Saber comunicar-se com cortesia, clareza, simplicidade e objetividade no local de trabalho é uma das habilidades mais exigidas atualmente e uma fonte de sucesso e de realização pessoal. Portanto, é preciso aprender a comunicar de forma efetiva e comunicar sempre, no sentido de promover interações gratificantes. Ressalta-se a importância de uma comunicação eficaz no sucesso das relações interpessoais, já que dessa forma, pode-se conseguir êxito no desenvolvimento de ações na unidade escolar. Manter um bom relacionamento com as pessoas que estão ao nosso redor é importante para o nosso desenvolvimento social. Precisamos o tempo todo, pensar no indivíduo, evitando julgamentos e exclusões. Tudo porque, vivemos num contexto em que ninguém é autossuficiente. Por isso, é bom sempre estar atento ao nosso modo de vida e de convivência. 3.9 Comunicação e relacionamento interpessoal Quando se fala em comunicação logo se pensa: refere-se à fala, propriamente dita, aos métodos de conversação, as representações de sinais e aos meios que a imprensa encontra de levar informações a todos da sociedade. Mas não implica somente nisto, vai mais além destas simples respostas. Sendo o homem um ser relacional, vamos agora estudar como que acontecem estas trocas de informação entre os indivíduos inseridos em diferentes grupos sociais. Sendo a comunicação uma troca de informações entre as pessoas então comunicar representa compartilhar, dividir, tornar comum a todos, trazer ao conhecimento de todos, alguma coisa que antes apenas alguns conheciam. Dentro do processo de comunicar-se existem os chamados ruídos de comunicação que são as interferências ou barreiras que podem atrapalhar o processo e que poderá trazer falhas ou até prejuízos para a organização. Vamos agora ver quais são os tipos de comunicação. Apresentam-se de algumas formas: A comunicação escrita, a verbal, a não verbal, e hoje em dia a eletrônica. A comunicação e o relacionamento interpessoal são duas ferramentas muito importantes, pois para realizar objetivos pessoais e profissionais precisa-se de pessoas. Necessita-se que pessoas acreditem no sonho de cada um e participem dele para que o mesmo possa ser concretizado. Assim, são necessárias palavras certas que sejam ditas de forma adequada. Quantas vezes presenciam-se problemas de relacionamento interpessoal por falta de comunicação assertiva. A comunicação humana é uma ferramenta para construir relacionamentos. Ela oferece a possibilidade de gerar conhecimento, entendimento, aceitação, comprometimento e ação. A comunicação é fundamental para o ser humano conhecer pessoas, descobrir caminhos e oportunidades de troca e crescimento. O conteúdo que se fala por um emissor pode ser interpretado de forma diferente pelo receptor. Desta forma, para que a comunicação flua de forma harmoniosa, precisa-se ter um bom relacionamento interpessoal cativando as pessoas, estabelecendo laços empáticos e transmitindo confiança através da boa postura, gestos, voz e palavras. Sabe-se que ser responsável pelas próprias escolhas é dever de cada um então praticar tais conhecimentos em comunicações diárias e abrir canais de comunicação com as mesmas é, consequentemente, crescer com relacionamentos interpessoais. 3.9.1 A Personalidade e a comunicação interpessoal Falaremos agora sobre a importância da comunicação nos relacionamentos entre pessoas e como a personalidade influencia nessa forma de manifestação verbal. O adulto ensina falando e a criança descobre que o ato e a palavra veem juntos, passando a ter, desde muito cedo, significado dentro de um “sistema de crenças”, altamente complexo, que irá regular muitas atitudes futuras ou contribuir para evitar algumas situações que, de acordo com os valores introjetados ou impostos, poderiam constrangê-la. Essas crenças dizem respeito à imagem do próprio eu, ou seja, do como se é: corajoso ou covarde, esperto ou “bobo”, muito amado ou tolerado, organizada ou desorganizado, sadio ou doente, e assim outras maneiras das quais nos moldamos a fazer e a ser. Na relação humana não existe a linguagem linear ou aquela que tem por objetivo um significado constante, sem distorções, confuso, com separação clara entre significado real ou emocional. A personalidade, o comportamento e o caráter humano Conta-se que, nos livros de Leonardo da Vinci, onde ele escrevia durante suas insônias, vez ou outra se encontrava uma frase perdida: “Scrivi, Leonarda, Che cosa è anima?”. Essa insistência do grande homem em perguntar-se “o que era a alma”, tem sido interpretada como ato de arrependimento individual, humilde da sabedoria perturbada diante de si mesmo, pois nada há mais triste do que ser homem e não se saber o que é o homem. Muita indecisão perdura na ciência, diante do problema da personalidade, embora já existisse uma Psicologia da Personalidade, duas correntes procuram equacionar a personalidade: a primeira considera personalidade atributo, e a Segunda, relação. De acordo com a primeira concepção, define-se personalidade como o produto das disposições naturais, das inclinações hereditárias, das influências psicofísicas do ambiente, da educação, com a ajuda da própria vontade. Para a Segunda corrente, personalidade é a reação do indivíduo ao papel que lhe é imposto pelo grupo. Na personalidade como atributo, a comunicação humana é decisiva. As faculdades intelectuais precisam aparecer, comunicar-se. Na maioria das vezes, essas pessoas pensam ter qualidades; a avaliação individual é feita com exagero. Há, entretanto, casos em que a ausência de comunicação humana impossibilita que importa na vida social e na realização individual. A personalidade não apenas depende da comunicação humana; ela é a própria comunicação humana em ação: somos aquilo que comunicamos. Na personalidade como relação, é a reação do indivíduo ao papel que lhe é imposto pelo grupo, essa resposta é essencialmente comunicativa, isto é, reagiremos de determinada forma, e essa forma, seja ela qual for, será sempre uma comunicação humana. Tudo quanto revela a personalidade pertence à comunicação humana. 3.10 Papel do educador na formação da personalidadedo aluno A idade de entrada na escola, em quase todos os países, é dos seis a sete anos, quando a criança, de acordo com as etapas do desenvolvimento, torna-se capaz de reconhecer uma letra que combinando com outras, pode formar sílabas e palavras. Da mesma forma, também é capaz de compreender operações da matemática. Em termos sociais, ela agora deixa de ser função unicamente do grupo familiar e passa a ser uma unidade em condições de entrar em diferentes grupos. Essa fase é, portanto de extrema importância para o desenvolvimento intelectual e social, mas é preciso ressaltar a ligação existente desses aspectos, com o desenvolvimento da personalidade. Assim, podemos dizer que o aprendizado escolar da criança poderia ser favorecido se todos os educadores envolvidos no processo desenvolvessem ao mesmo tempo o intelectual e as aptidões sociais. A escola passa a se constituir como um grande grupo que abriga diversos grupos menores. “O grupo é indispensável à criança não só para a sua aprendizagem social, mas para o desenvolvimento da sua personalidade” (WALLON, 1979, p. 172). Sendo o grupo tão fundamental para o desenvolvimento da criança, é preciso que você, como educador e participante do grupo, possa intervir favorecendo essa forma de socialização, incentivando a cooperação, o espírito de solidariedade e de mútua interação, em lugar de desenvolver o espírito de concorrência e de conflito coletivo. A convivência com o grupo é, pois, muito importante para o desenvolvimento da personalidade. Então, estamos falando em desenvolvimento da personalidade. Algumas teorias na psicologia entendem que ao aprender os conteúdos formais das disciplinas, a pessoa vai se constituindo na sua personalidade também. Para essas teorias, a personalidade significa a maneira habitual ou constante de reagir, de cada indivíduo que se constrói progressivamente segundo um ciclo de alternância de duas funções principais: a afetiva e a inteligência. A personalidade representa a integração de um componente afetivo, o caráter, e de um componente cognitivo, a inteligência. A cada etapa do seu desenvolvimento, a pessoa reage às situações de acordo com suas condições emocionais e suas possibilidades intelectuais. A aprendizagem de coisas diferentes faz surgir nos alunos necessidades novas e outras atitudes. Sendo assim, é importante reconhecermos no aluno a possibilidade de mudança da sua maneira de ser, a partir do seu aprendizado escolar. Portanto, a escola é vista, por essas teorias, como sendo um espaço de construção da personalidade: “O desenvolvimento da inteligência está ligado ao desenvolvimento de sua personalidade” (WALLON, 1975, p. 132). Podemos fazer uma reflexão sobre isso se pensarmos, por exemplo, como agíamos de modo diferente quando éramos pequenos e passamos a ver as coisas de outra maneira ao aprendermos como os fatos acontecem. Antes de aprender a falar, a comunicação se dá pelo choro ou pelo riso. Depois que aprendemos a usar a linguagem, passamos a comunicar sentimentos, desejos e a transmitir informações por meio da fala. Quando somos pequenos temos alguns medos que nos imobilizam. À medida que adquirimos conhecimento, passamos a entender o porquê de alguns acontecimentos e deixamos de ter medo. Às vezes, utilizamos histórias de “bicho-papão” para amedrontar as crianças e depois quando elas aprendem que os “bichos-papões” são nossas invenções, elas riem dessas histórias. Na escola, muitas vezes, os educadores querem impor o respeito pelo medo. Isso pode funcionar com as crianças pequenas, mas à medida que elas crescem e aprendem a relacionar-se de outra maneira, isso não funciona mais. É justamente por isso que é preciso que nós educadores utilizemos o espaço da escola para a formação da personalidade dos nossos alunos. Para tal, é preciso que as relações entre todos sejam de diálogo e que permitam o entendimento da necessidade de haver respeito e façam sentido no dia a dia de todos os envolvidos. A relação entre o educador e o aluno deve ser de interação. O educador não deve estar ausente do processo de desenvolvimento do aluno, nem se impor de forma autoritária. Ele é o responsável pela organização da relação com os educandos, cuidando para preservar sua espontaneidade. A ele compete ajudar o aluno a se livrar da dispersão que o contato com as coisas provoca em seus interesses ou em sua atividade. Uma das dificuldades da escola é fazer que o aluno tenha interesse nas atividades propostas pelos professores, pois que, muitas vezes, elas não fazem sentido de imediato. Pedir atenção dos alunos para as tarefas da escola é exigir um esforço abstrato que os fatiga excessivamente. Os educadores, portanto, devem procurar descobrir atividades e situações que toquem de perto o aluno, promovendo seu interesse, que é a grande força da atenção. Outro aspecto de controvérsia em relação ao ensino e aos interesses, às curiosidades e às iniciativas dos alunos, diz respeito à disciplina. Tradicionalmente, disciplina significa obter a tranquilidade, o silêncio e a passividade dos alunos para que eles não se distraiam dos exercícios e das regras propostos pela escola. Mais adiante trataremos especificamente dessa questão. Podemos concluir dizendo que a ação educativa não se limita à transmissão de conhecimentos. A escola tem de se dirigir à criança de maneira a atingir toda sua personalidade, respeitando e estimulando sua espontaneidade total de ação e de assimilação. Sendo assim, a educação da inteligência e a da personalidade não podem se dissociar, fazendo-se também necessária a orientação para uma apropriação da cultura. 3.11 A formação pessoal do educador Nosso objetivo nesta aula é refletir a formação do educador no que diz respeito à sua pessoa. Então vamos conversar um pouco antes de começarmos. Você certamente irá concordar que o que você é hoje, com a sua idade e tudo que faz é bem diferente de quando tinha mais ou menos dois anos de idade. Naturalmente que você se desenvolveu e aprendeu muito nos anos que passaram, até os dias de hoje. Poderíamos dizer que você é quase outra pessoa. No entanto, se me mostrar uma foto sua de dois anos, você não terá dificuldades de me dizer que aquela criança era você. Pois bem, todos nós somos o que fomos e o que ainda vamos ser sabendo o que somos agora. Se concordarmos com isso, podemos acreditar que somos seres em constante processo de mudança. Às vezes não é fácil admitirmos que estamos sempre mudando, mas se fizermos um esforço e pensarmos no que éramos há uns cinco anos, poderemos ver que algo em nós mudou. Esse curso tem exatamente como meta permitir a formação de um novo educador, portanto provocar mudanças. Estamos pensando a pessoa do educador em processo de formação, pois entendemos que além das exigências de conhecimento da psicologia, é importante uma formação psicológica no que se refere à pessoa do educador. Isso significa a necessidade de discutirmos como se dá esse processo, principalmente em relação ao desenvolvimento da sua personalidade. A natureza do homem não existe “pronta e definida”. Ela consiste na sua atividade vital, no seu trabalho. A natureza psicológica da pessoa é o conjunto das relações sociais que se tornam funções da personalidade e das formas da sua estrutura criadas no coletivo. A personalidade é algo mutável e deve ser considerada no seu devir e no seu desenvolvimento, como um processo de transformações. A personalidade é uma categoria que, como muitas outras, revela as contradições dentro do campo da psicologia. A ideia de pessoa, de um “eu”, para a história da humanidade é considerada recente (PEDROZA, 2003). Na antiguidade, por exemplo, os escravos não tinham direitos, pois eram vistos como seres que não tinham personalidade, nem corpo, nem antepassados, nem nome, nem bens próprios. Os livros de psicologia sobre personalidade trazem diferentes abordagens sobre o tema e mostram não haver uma definição de consenso entre todos os psicólogos. Há cerca de cinquenta definições de personalidade. Às vezes, ela é definida pela sua importância sociale em outras pela impressão positiva ou negativa que o indivíduo causa em outras pessoas: personalidade agressiva, passiva, tímida, etc. Nas duas apresentações, encontramos um elemento de valoração da personalidade como boa ou má. Diz-se até que uma pessoa tem ou não personalidade. Em algumas ocasiões, chegamos a dizer que um aluno apresenta problemas de personalidade, indicando com isso que ele não consegue manter relações satisfatórias com seus colegas e professores. A maioria das teorias atribui uma importância muito grande aos fatores hereditários. Daí, o famoso dito: “Filho de peixe, peixinho é”. O biológico predomina nas teorias e a ênfase é dada aos fatores ocorridos nas fases da infância do desenvolvimento. O desenvolvimento da personalidade do adulto não foi destaque na psicologia por várias décadas. A concepção dominante, nas teorias e no senso comum, é a de que após o período de turbulência da adolescência, nada de novo acontece no desenvolvimento do adulto. Com o fim da escolarização, com a entrada no mercado de trabalho e a constituição de uma nova família, só resta ao adulto esperar o inevitável fim da vida com a morte. A ideia aqui apresentada de personalidade leva em consideração um sujeito ativo em suas ações que se apoia em sua personalidade para exercer essas ações, ao mesmo tempo em que a partir da própria ação transforma sua personalidade. A personalidade é vista como um processo que se constitui e se desenvolve ao longo de toda a vida do homem. Não se reduz, portanto, à infância e nem à adolescência. O indivíduo se desenvolve constantemente na medida em que acumula experiência individual e coletiva. O grande desafio é o de conceber o adulto em processo de desenvolvimento e de mudança. Assim, o educador em sua formação, como profissional de educação, deve passar por experiências que faça sentido e que aumente seus recursos de personalidade para exercer suas funções, comprometendo-se a desenvolver características de personalidade para o desempenho da profissão. As relações interpessoais na escola são bastante complexas e, muitas vezes, a rotina das tarefas executadas não permite uma reflexão das nossas ações. Sendo assim, em várias ocasiões não aproveitamos os recursos que temos para educarmos os nossos alunos e agimos de maneira impensada, cansando mais do que o necessário. O que é preciso para a prática de uma educação com respeito mútuo entre todos os envolvidos no espaço escolar? Acreditamos que uma condição básica para isso é a de que o educador tenha conhecimento de suas próprias formas de pensar e agir, nas diferentes situações em que se encontra. É preciso levar em consideração o desenvolvimento da sensibilidade frente aos educandos para poder compreender a complexidade das relações estabelecidas e, portanto, entender que não são passíveis de total controle. Assim, é importante que o educador esteja seguro da sua prática e de si mesmo, como profissional e adulto, para que, ao se sentir ameaçado, não ameace. Só assim, poderá ser respeitado naquilo que faz e ser reconhecido pelos outros. Acreditamos que devemos estar prontos para aprender sempre e poder ser ouvidos em relação as nossas dificuldades, desejos e expectativas no nosso cotidiano, para que a aprendizagem contínua constitua-se como instrumento constante de inovação e de melhoria da situação pessoal e coletiva dos educadores. Nesta aula, vimos como é importante a escola como espaço de formação das pessoas, da sua personalidade, desde os alunos até os educadores. Enfatizamos que para estar com o outro na escola é interessante que antes busquemos nos conhecer. A escola não é apenas o lugar da transmissão de conhecimento, ela também é o espaço da formação da personalidade de todos que nela se encontram. É muito importante que nos percebamos como sujeitos em desenvolvimento em qualquer idade do ciclo da vida. Temas Transversais às Relações Interpessoais e o Processo Educacional 3.13 Disciplina e motivação Acredito que você concorde quando dizemos que é muito importante pensarmos as questões que nos envolvem no contexto educacional e que elas não se limitam aos conteúdos pedagógicos. O que propomos aqui é uma formação profissional que leve em conta também, a formação pessoal. As relações interpessoais na escola, muitas vezes conflituosas, necessitam serem problematizadas e exigem soluções criativas. Como veremos no conteúdo da próxima aula, precisamos estar motivados para nos formar visando ao enfrentamento das dificuldades. Para tanto, é importante agir a partir de um motivo que nos leve a essa ação. Disciplina e motivação É importante recordar e faz muito bem para gente parar e pensar na nossa história. Mesmo que possam vir lembranças desagradáveis. É sempre bom pensar que já fomos alunos e que já tivemos outra idade. Em alguns momentos fomos atentos e em outros fizemos bagunça, tinha sempre alguém que chegava para impor a disciplina na escola. E aí, tome bronca! Isto quando não era logo mandado para a direção, para ter “aquela” conversa com a coordenadora pedagógica, ser ameaçado de ficar sem recreio ou de ser suspenso por três dias. Muitas vezes, a sensação era se sentir injustiçado. Não havia motivo para tanta punição, era o que pensávamos. Os adultos sempre exigiam demasiadamente e estavam normalmente errados! É justamente sobre as diferenças, sobre o que entendemos de disciplina que queremos conversar neste momento. Disciplina Não é nada fácil definir o que é indisciplina ou disciplina. São conceitos complexos, pois não são estáticos, uniformes, nem universais e trazem consigo uma multiplicidade de interpretações. Eles se relacionam com o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e em uma mesma sociedade. Também no plano individual a palavra ‘disciplina’ pode ter diferentes sentidos que dependerão das vivências de cada sujeito e do contexto em que foram aplicadas. Muitas pessoas acham que hoje em dia a indisciplina na escola é maior e veem isso como consequência “dos tempos modernos”. “No meu tempo o professor era autoridade; ele era respeitado não só na escola, mas em toda sociedade”. Tradicionalmente, disciplina significa obter a tranquilidade, o silêncio e a passividade dos alunos, para que eles não se distraiam dos exercícios propostos pelo professor e que sigam as regras pré-determinadas pelos adultos (AQUINO, 1996). O entendimento de disciplina depende, em grande parte, da concepção que se tem do papel do educador no ambiente escolar, se é uma função de simplesmente se garantir a ordem na sala de aula e nos demais espaços da escola, ou se é um mecanismo que contribui com a formação do aluno como um cidadão para o futuro. No primeiro caso, a concepção de disciplina é a tradicional e coincide com a da maioria dos professores que acreditam que disciplina é obter a tranquilidade, o silêncio, a arrumação, a concentração e as posturas corretas. No entanto, esse ponto de vista não é compatível com a educação que se propõe a formar cidadãos, que não pode prescindir da colaboração dos alunos, o que acarretaria na inibição de suas curiosidades, seus interesses e suas iniciativas. Seguramente, a convivência escolar, em turmas numerosas, como é o caso da maioria das nossas escolas, não permite se seguir as fantasias e os desejos de cada um. É preciso certa capacidade de adaptação a algumas regras para que possa emergir a espontaneidade coletiva nas atividades propostas. Vários podem ser os fatores que dificultam a participação de alguns alunos nessa disciplina coletiva. Muitas vezes, o problema está nas relações do aluno com a classe, com o conteúdo do ensino ou com as pessoas. Em relação ao professor, a hostilidade pode ter sua causa no seu próprio fracasso escolar, na severidade do professor ou nos motivos pessoais originados na família, bem como em função da relação com os colegas, às vezes, em um sentimento de inferioridade ou desejo de ser aceito. Mais frequentemente do que se supõe, o aluno sofre de recalcamento. A não satisfação de sentimentos que gostariade experimentar na sua família ou na escola traduz-se por reações desviadas que têm mais ou menos valor de diversão, de disfarce ou de símbolo que são objetiva ou subjetivamente nocivas. A questão da violência na escola vem-se constituindo em um problema muito grave. A agressão física, como a verbal, e o desrespeito estão banalizados no cotidiano escolar, como algo consolidado no modo de ser dos jovens. É preciso que os educadores disponibilizem um espaço para que os alunos falem de suas experiências, de suas dúvidas e de fatos de seu cotidiano. Essa pode ser uma maneira de eles participarem da aula e de terem um melhor desempenho escolar. Motivação Quanto à motivação, podemos dizer que está estreitamente ligada com a questão da disciplina. Ou seja, falamos na necessidade do processo educativo fazer sentido para o aluno para despertar o interesse na participação do coletivo. A motivação tem a ver com a razão pela qual alguma coisa me leva a agir em direção a ele com o fim de obter alguma satisfação. Essa satisfação pode ser de ordem pessoal, social, cognitiva, afetiva e de muitas outras formas, que às vezes não conseguimos identificar. O importante é fazer com que o motivo pelo qual queremos envolver o aluno em uma determinada tarefa, faça sentido para ele. Em outras palavras, a tarefa tem de provocar um sentido emocional para a pessoa, pois como dissemos anteriormente, a emoção é o motor das nossas ações. Vamos pensar como conseguimos proceder para atingir a emocionalidade do outro. Claro que não é uma tarefa fácil, mas também não é impossível. Exige, no entanto, um esforço de olharmos atentamente para o outro para poder conhecê-lo e então saber das suas necessidades. É importante que encontremos o sentido emocional das coisas que fazemos. Sendo assim, é necessário que tenhamos consciência do nosso trabalho para encontrarmos esse sentido emocional e nos sentirmos motivados ao realizarmos nossas tarefas. Nada como alguém feliz no seu ambiente de trabalho! Isso também não é fácil de atingirmos, mas é necessário. Muitas vezes vamos precisar da ajuda do grupo do qual pertencemos. Temos de estar envolvidos com as pessoas e deixarmos ser envolvidos por elas para encontrarmos satisfação naquilo que fazemos. O ideal a ser atingido na escola é que cada um na sua função, no seu papel, possa exercer um poder de decisão, com a mesma igualdade de direito, sendo educador ou educando, enfrentando-se nas diferenças que cada função exige. 3.14 Gênero nas relações escolares A título de facilitar a comunicação, todas às vezes que temos o plural envolvendo o masculino e o feminino, usamos a palavra no masculino. Isso se deve à regra gramatical da nossa língua que faz o uso do masculino como sendo genérico, mesmo quando nos dirigimos a um número muito maior de mulheres. Nossa gramática é um tanto quanto machista. Pois bem, essa regra do Português fortalece a ideia de que seja natural que os homens dominem as relações de poder. Por isso, acho importante abordar a questão de gênero na escola para refletirmos o papel de cada um nesse contexto. Desde a infância, homens e mulheres são vistos, concebidos e constituídos de forma diferente. Assim, o estudo dessa diferenciação é primordial na busca da compreensão da constituição do sujeito. Gênero, portanto, é uma dimensão muito importante da formação do ser humano, principalmente no contexto escolar. De início, quando ouvimos falar de gênero pensamos logo no sexo. Mas quero deixar claro que gênero não é sexo. Podemos definir gênero como sendo a atribuição de um modo de ser que reúne características sociais e culturais de homem ou de mulher. Vamos explicar melhor o porque gênero não é sexo. Porque sexo está definido pela característica morfológica, ou seja, pelo órgão genital, masculino ou feminino, que são definidos geneticamente. No entanto, o sexo por si mesmo não determina o comportamento do homem ou da mulher. Por exemplo: é comum as pessoas dizerem que homem não chora. Isso não significa que fisiologicamente homem não consegue chorar. Significa que a nossa cultura atribui ao corpo do homem a impossibilidade de chorar. Assim como no caso do choro, existem outros exemplos que a cultura permite ou não ao homem e à mulher. Todas as coisas atribuídas pelo cultural são chamadas de gênero masculino ou feminino. No gênero feminino aprendemos, desde cedo, a sermos dóceis, sensíveis e frágeis. No masculino, os homens são obrigados a desenvolver músculos, dureza e até insensibilidade. A dificuldade em analisar as coisas a partir dessa categoria gênero se dá pelo fato de admitirmos que tudo é definido pelo biológico. Principalmente, em relação aos papéis de homem e mulher que estão muito ligados à nossa identidade sexual. Sendo assim, acabamos por achar que as diferenças entre homem e mulher são naturalmente dadas e não culturalmente construídas. A escola como espaço de socialização de meninas e de meninos exerce uma grande influência no processo de constituição de gênero. O papel do educador nesse processo é de fundamental importância para dar flexibilidade às regras e os papéis de gênero e levar os alunos a uma reflexão sobre as relações de gênero. Como constituídos e constituintes dessa sociedade, os educadores são também permeados pelas concepções acerca do gênero e podem acabar por cair em naturalizações. Torna-se necessário, portanto, um trabalho consistente e reflexivo na formação dos educadores sobre essa questão para que eles possam, junto com os alunos, ressignificarem esses papéis de gênero e não permanecerem nos estereótipos que impedem diversidade na construção pessoal de existência. 3.15 Diversidade cultural no processo educacional e nas relações Todos nós ao nascermos já fazemos parte de uma cultura que é a forma de organização social de um grupo, com valores, crenças e costumes específicos. O que somos como seres humanos é o resultado da interação dialeticamente estabelecida entre os processos intrapessoais e interpessoais que se constituem e se transformam numa determinada cultura. Podemos perceber diferenças nos costumes das pessoas e como eles podem causar estranhamento. Em alguns casos, achamos divertidas essas diferenças, mas em outros, podemos reagir até com preconceito. Por exemplo, quando vemos dois árabes se cumprimentarem-se com um beijo na boca, tudo isso faz parte da diversidade cultural. Na escola, muitas vezes achamos que todas as pessoas têm os mesmos costumes e as mesmas crenças. Mas isso não é verdade. O que temos na escola, ou em qualquer outra instituição educativa, é um grupo de pessoas, com diferentes funções, que tem em comum o mesmo objetivo que é o de educar os alunos. Ter o mesmo objetivo é o que define a formação de um grupo. Então, na escola temos um grupo. No entanto, o grupo é composto por pessoas de diferentes meios sociais que estão sempre se confrontando com o novo e com a diferença, pois cada um tem sua identidade. Estar em grupo não significa ser igual, ter as mesmas ideias e compartilhar as mesmas opiniões. Pelo contrário, a diversidade deve ser vista como possibilidade de enriquecer nossa visão de mundo. O grupo envolve os diferentes participantes da escola e deve ser o espaço de construção do processo democrático. Participar do grupo implica assumir o seu papel, sua função, no enfrentamento dos conflitos com os outros. Aceitar passivamente, como um “cordeirinho”, a opinião dos outros não é participar de um grupo. É fundamental que o educador tenha clareza dos objetivos, papeis e das funções que estruturam o grupo do qual ele faz parte. Agora vamos pensar nos grupos formados pelos alunos. É extremamente importante olharmos para essa formação para podermos entender os comportamentos dos nossos alunos na escola. Eles também vivenciam a diversidade cultural e, portanto, enfrentam conflitos nas diferenças do modo de vida de cada um. Vamos a um exemplo: em uma atividade proposta a alunos de nove anos do quarto ano do ensino fundamental, pediu-se que eles formassem dois grupos da forma que quisessem. Em seguida, foi apresentada acada grupo uma caixa contendo os mesmos materiais de sucata e foi pedido para que representassem o que eles mais faziam nos domingos à tarde. Enquanto os alunos realizavam a tarefa, perguntou-se à professora da turma o que ela esperava que eles apresentassem. Ela achava que eles iriam mostrar uma TV, pois acreditava que eles assistissem TV no domingo à tarde. Ao final, o que resultou de um dos grupos foi uma Igreja e do outro, um parque de diversões. Foi possível observar que o grupo da Igreja era composto por alunos de menor renda salarial e tinham como diversão nos domingos ir aos cultos religiosos. O outro grupo, de maior renda familiar, relatou que frequentemente iam ao clube ou aos parques de diversão. Nossos alunos adolescentes, por exemplo, muitas vezes são vistos como iguais. No entanto, basta olharmos com mais atenção e vamos ver que eles se organizam em diferentes grupos, que chamamos de “tribos”. Por exemplo, os “punks”, os “darks, as “patricinhas”, os “nerds”. Mas não podemos nos esquecer daqueles que não são nada disso. São adolescentes “comuns” que não se enquadram em nenhuma dessas “tribos”. Muitas vezes os grupos dos adolescentes são considerados como grupos de oposição aos adultos ou de fuga diante da realidade cotidiana. Vista assim, a tentativa por parte dos jovens para desenvolver atividades coletivas parece representar um perigo às práticas e às normas consagradas pelos adultos, principalmente dentro da escola. Muitos educadores desejariam ter diante de si indivíduos semelhantes e isolados, pois a formação de grupos de jovens tem sido, em geral, vista como estruturas sociais complexas, instáveis, ameaçadas de mudanças e elaboradas por novos valores culturais. Daí a desconfiança ou incompreensão entre as gerações já instaladas na vida pública e as gerações em ascensão. As “gangues”, ou o grupo de adolescentes, amplamente estudados pelos psicólogos e sociólogos, são vistos como oposição ao papel do educador e ao conteúdo programático imposto pela escola e que impossibilitariam o processo de aprendizagem. “De modo geral, as escolas veem os adolescentes como rebeldes, como possíveis destruidores da ordem. A escola deveria entender melhor o adolescente. Os adultos deveriam compreender melhor que a rebeldia faz parte do processo de autonomia. Não é possível ser sem rebeldia. O grande problema é como amorosamente dar sentido produtivo, criador ao ato rebelde e não acabar com a rebeldia” (FREIRE, 2001, p. 241). Sabemos que o comportamento rebelde dos adolescentes tem, não raras vezes, ultrapassado os limites do respeito ao outro, chegando a situações de violência extrema como em casos de tentativa de homicídios e também de suicídios. O educador deve estar atento a essas questões sem, contudo, desenvolver uma atitude preventiva e generalizante de que todo adolescente seja um perigo. Não são necessários que a diversidade cultural e os conflitos na escola entre adolescentes e adultos sejam vistos como algo negativo, destruidor. Pelo contrário, são formações particulares e não necessariamente hostis a tudo o que é diferente deles. No grupo, o adolescente distingue-se dos outros membros como um indivíduo que tem sua autoestima e constrói sua autonomia. A conquista da autonomia se dá na própria experiência, nas decisões tomadas, sempre em diálogo com o outro. O outro é de extrema importância para a constituição do sujeito em todas as etapas da sua vida. Não há como ser sozinho. Nós somos sempre em presença do outro. A escola deve ser entendida como um grande grupo formado pelos educadores e pelos alunos, com o objetivo comum da aprendizagem da educação formal. E por subgrupos que mantêm entre si relações que determinam o papel ou o lugar de cada um no conjunto, com sua diversidade cultural, e com objetivos determinados. No que diz respeito à autonomia, o educador também deve conquistar a sua. Para isso, o respeito à identidade e à autonomia do educando são fundamentais (FREIRE, 1970). É nessa relação que o educador torna-se sujeito de suas ações e não um objeto manipulado por teorias psicológicas. Quanto mais nos colocamos como sujeitos do processo ensino-aprendizagem, mais capacitados estaremos para a tarefa de educador. Talvez, um dos grandes dilemas na transformação do funcionário em educador seja o sentimento de que ele não possui voz própria, que seu papel na escola resume-se à tarefa, por exemplo, de execução de servir a merenda, de fazer a limpeza ou de ser porteiro. Esse modelo de funcionário explicita o homem alienado, o homem máquina. Tal situação nos leva a refletir sobre as dificuldades que os funcionários encontram para, junto com o grupo da escola, discutir problemas, como reivindicar melhores condições de trabalho. Um “funcionário-máquina” precisa de muito pouco para ser eficiente. A máquina não ganha salário, não pensa, não tem desejos, não se revolta e só realiza o trabalho programado. 3.16 Educação inclusiva A constituição federal assegura o direito a todos os cidadãos à educação básica. No entanto, se falamos em educação inclusiva parece que nem todos estão realmente garantidos nesse direito. Por educação inclusiva se entende o processo de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais ou com distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino, em todos os seus graus de escolaridade. A noção de escola inclusiva surgiu a partir da reunião da UNESCO em Salamanca, na Espanha, em 1994. Desde então, as discussões sobre a inclusão ganham espaço em todos os países. No Brasil, essa discussão vem tomando uma dimensão que vai além da inserção dos alunos com deficiências,pois eles não são os únicos excluídos do processo educacional. O sistema regular de ensino tem demonstrado uma deficiência no que diz respeito à educação inclusiva. A escola consegue incluir apenas aqueles que se adaptam a um sistema que atende o aluno com bom desenvolvimento psicolinguístico, motivado, sem problemas de aprendizagem e oriundo de um ambiente sócio-familiar que lhe proporciona estimulação adequada (TUNES, RANGEL & SOUZA, 1992). Além disso, há um número cada vez maior de alunos que, por motivos diversos, como problemas sociais, culturais, psicológicos e/ou de aprendizagem, fracassam na escola. Como vimos anteriormente, a ciência, em particular as teorias de desenvolvimento e aprendizagem, estabelece um padrão de normalidade em que as teorias pedagógicas se apóiam estabelecendo uma metodologia de ensino “universal”, comum a todas as épocas e a todas as culturas. Assim, acreditou-se por muito tempo que havia um processo de ensino-aprendizagem “normal” e “saudável” para todos os sujeitos. Em consequência, aqueles que por ventura apresentassem algum tipo de dificuldade, distúrbio ou deficiência eram considerados “anormais” e denominados de “alunos especiais” e, portanto, excluídos do sistema regular de ensino. A partir dessa concepção de normalidade, passou-se a ter dois tipos de processos de ensino-aprendizagem: o “normal” e o “especial”. Para o primeiro caso, os educadores seriam formados para lidarem com os alunos “normais” que seguem o padrão de aprendizagem para o qual eles foram preparados durante o seu curso de formação. No segundo caso, os alunos com dificuldades ou distúrbios de aprendizagem, que precisariam de um processo de ensino-aprendizagem diferenciado, não têm educadores que sejam preparados devidamente. Ou seja, a discriminação se inicia no fato de não haver uma discussão em relação ao conhecimento dos diferentes processos de ensino-aprendizagem na formação dos educadores. Muitas vezes os professores são capazes de diagnosticar um problema do aluno a partir de características gerais de determinadas deficiências, como por exemplo, deficiências visuais, auditivas ou motoras. No entanto, não são capazes de reconhecer as potencialidades do sujeito que tem uma dessas deficiências. É como se o sujeito desaparecesse e ficasse apenas frente ao educador a deficiência. Com isso o aluno deixa de ser sujeito que continua a se desenvolver e a aprender. Além disso, o diagnóstico tem servidoapenas para dizer o que o aluno não pode fazer. Mas isso não é muito difícil. Uma pessoa que tem dificuldade de enxergar com certeza não vai conseguir ler o que está escrito no quadro ou nos livros. O desafio para o professor é saber como ensinar a essa pessoa que exige uma fórmula diferenciada do aluno sem dificuldades. O diagnóstico, portanto, serve apenas para limitar a vida do aluno na escola. Também é observado esse fato no ensino regular quando o professor não consegue reinterpretar as dificuldades e as necessidades do aluno no contexto escolar. Muitas vezes, o professor envia o aluno com dificuldade de aprendizagem para o ensino especial, onde é mantido anos a fio sem que consiga obter resultados significativos. O educador, no contexto de uma educação inclusiva, precisa ser preparado para lidar com as diferenças, com a singularidade e com a diversidade de todas as crianças e não com um modelo de pensamento comum a todas elas. Cabe a ele observar criteriosamente as necessidades de todos. Essa observação deve ser feita a partir do diálogo com o aluno. Só podemos conhecer bem o outro se estivermos o mais próximo dele para perceber a melhor maneira de intervir. Muitas vezes ao querer ajudar, acabamos por decidir qual a sua necessidade e o que é melhor para ele. Mas nem sempre acertamos. Sendo assim, é importante ajustar, junto com o aluno, os processos de aprendizagem de modo a lhe proporcionar um ganho significativo do ponto de vista educacional, afetivo e sociocultural. Trabalho em escolas inclusivas e me solidarizo com a angústia dos educadores frente ao seu despreparo para lidar com os alunos com necessidades especiais. Muitos educadores ficam imobilizados em relação a esses alunos por pena da situação em que eles se encontram. Mas ter pena não ajuda muito, não é mesmo? Outros acham que esses alunos já têm tantas dificuldades que o melhor seria eles ficarem em casa ou em qualquer outro lugar que não exigisse muito esforço deles. Sabemos que a segregação social e a marginalização dos indivíduos com deficiências têm raízes históricas. Há muito tempo, quem se ocupava desses indivíduos eram as instituições religiosas com fins de caridade. Tempos depois é que o Estado toma para si a responsabilidade da saúde pública. Mas, foi só depois de muita discussão que a questão da inclusão tornou-se problema da escolarização. Com isso, temos de entender que a inclusão não é apenas um problema de políticas públicas. Deve-se envolver toda a sociedade principalmente nas representações que ela tem sobre o aluno com deficiência e como elas determinam o tipo de relação que se estabelece com o aluno. É por meio da inclusão que desenvolveremos um trabalho de equiparação de oportunidades. Isso significa preparar a sociedade para adaptar-se aos diferentes e permitir aos sujeitos com necessidades especiais de prepararem-se para assumirem seus papéis na sociedade. Podemos concluir ressaltando a necessidade de uma formação adequada a todos os educadores para se obter sucesso na inclusão. É preciso adotar um processo de inserção progressiva para que educadores e alunos com necessidades especiais encontrem a melhor maneira de superar obstáculos. Braille As soluções para os desafios da inclusão só vão ser encontradas se nos depararmos com os problemas e buscar resolvê-los. É interessante pensarmos que foi uma pessoa com deficiência visual que criou o sistema de escrita Braille ou que foi um deficiente auditivo que inventou a linguagem de sinais. Braille é um sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille, que perdeu a visão aos três anos. O sistema é um alfabeto convencional cujos caracteres se indicam por pontos em relevo os quais o deficiente visual distingue por meio do tato. Inclusão A inclusão não consiste apenas colocar alunos com necessidades especiais junto aos demais alunos, nem na negação dos serviços especializados. A inclusão implica uma reorganização do sistema educacional, o que acarreta uma mudança de formação dos educadores e uma revisão de antigas concepções de educação. Tudo isso pode possibilitar o desenvolvimento cognitivo, cultural e social dos alunos respeitando diferenças e atendendo às suas necessidades especiais. “A educação inclusiva, apesar de encontrar, ainda, sérias resistências (legítimas ou preconceituosas) por parte de muitos educadores, constitui, sem dúvida, uma proposta que busca resgatar valores sociais fundamentais, condizentes com a igualdade de direitos e de oportunidades para todos” (GLAT & NOGUEIRA, 2002, p. 26). 3.17 Relações interpessoais e gestão democrática Agora vamos conversar sobre as relações interpessoais na escola visando à construção de uma gestão democrática. Nossa conversa estará pautada pelas contribuições de tudo que discutimos anteriormente sobre as relações entre a psicologia e a educação e as relações entre todas as pessoas que fazem parte do cenário da escola. Vamos repensar essas relações refletindo sobre as possíveis transformações na escola. A gestão democrática parte da ideia de uma escola para todos onde realmente sejam possíveis o acesso e a permanência do aluno, assim como a garantia da qualidade na educação. Para tal, é preciso a elaboração de um projeto político-pedagógico que vise à superação das contradições existentes em nossa sociedade e que promova o desenvolvimento de uma nova consciência social e de novas relações entre os homens, numa perspectiva mais humanista. Uma proposta como essa precisa da participação de todos que fazem parte do contexto escolar. Então, você, funcionária ou funcionário da escola pública, tem um compromisso que vai além da sua qualificação nas áreas propostas nesse curso, você tem também o compromisso de participar das mudanças sociais para garantir uma gestão democrática na escola. Também temos de contar com a participação de toda a comunidade para que se envolva conscientemente nessa construção de uma escola democrática, admitindo que essa proposta só é viável com o empenho de cada um envolvido no processo educacional, em especial o educador. Para isso é necessário dar uma atenção especial à sua formação para que você possa realmente se envolver com as mudanças necessárias para a implantação da gestão democrática. Quando falamos da comunidade, estamos inserindo principalmente a família dos alunos no contexto escolar. Em relação à psicologia, é um instrumento que só pode contribuir com essa proposta de gestão democrática, se tiver o compromisso social voltado para a transformação da sociedade. Isso porque o que queremos é uma sociedade justa e igualitária, na qual todos tenham acesso à riqueza da produção humana, material e espiritual e onde todos possam viver com dignidade. A psicologia que queremos deve ser capaz de responder às demandas sociais com esse critério de transformação social e que represente uma possibilidade para todos de emancipação e de superação da desigualdade. O que realmente deve alterar nessa nova proposta de gestão democrática é o modo de legitimação do poder político, superando-se a distância existente entre planejamento e execução das políticas educacionais. É necessário desenvolver no contexto escolar relações interpessoais que permitam uma integração das diversas áreas do conhecimento e das diferentes funções de cada membro da escola, reconhecendo a necessidade de superação da fragmentação do saber e dos fazeres, característica da escola tradicional. A construção de uma proposta pedagógica transformadora somente será possível a partir do questionamento da realidade existente e não apenas de sua negação. É preciso questionar essa realidade para apontar mecanismos de superá-la, estimulando a pluralidade de experiências e de concepções pedagógicas (FREIRE, 1976). O currículo, nessa visão, deve ser concebido a partir da compreensão de educação como prática social transformadora, baseado na visão de um ser humano ativo, cujo pensamento é construído em um ambiente histórico e social. Para tal, faz-se necessária a participação de todos na formulação dos objetivos dessecurrículo. Nessa elaboração de um novo currículo, surge uma nova perspectiva de avaliação de todas as ações, que deve ser a mais abrangente possível, levando-se em consideração o conhecimento do comportamento e atitudes dos alunos também fora da sala de aula. É aí que surge a necessidade de se reconhecer a todos na escola como educadores. Muitas vezes, o secretário, a porteira ou a merendeira conhecem melhor as motivações e as dificuldades dos alunos do que os professores propriamente ditos. Relatos Observe os seguintes comentários de educadores da escola: Uma secretária da escola, certa vez, disse o seguinte: “o aluno quer que a gente saiba o nome dele. Tem professor que não sabe nome de aluno. Quando o professor está distante do aluno, ele fica apático. A aproximação é fundamental”. Em outra escola, a assistente de direção comentou: quando o professor considera a realidade do aluno e considera ele como ‘pessoa’, com suas particularidades, o aluno passa a ter respeito pelo profissional e a confiar nele para ajudá-lo no seu aprendizado. O porteiro de uma escola disse que: “os alunos me procuram de vez em quando para conversar sobre seus problemas pessoais e físicos. Acho que é porque a gente ‘é de igual para igual’. Eu coloco limites para os alunos porque eles precisam, pedem limites”. Uma porteira contou o seguinte: “eu me dou muito bem com os alunos, eles me chamam de tia. Acho que o meu exemplo de vir trabalhar todo dia incentiva os meninos a fazerem a mesma coisa. Eu acho errado um funcionário tratar mal um aluno e não ter paciência com ele”. Proposta de gestão democrática Uma proposta de gestão democrática tem de levar em consideração todas essas vivências. Ela passa a ser revolucionária e não reformista na medida em que realmente possibilita a contribuição de todos e será dessa maneira que poderá levar as transformações para a sociedade como um todo. A intenção é construir uma escola mais humanizada, onde alunos, professores, funcionários e direção, cientes de suas capacidades e criatividade, sintam-se participantes e responsáveis pela coisa pública e pela construção de uma nova sociedade. Para tal, é preciso trabalhar com o coletivo. Nessa proposta, as atividades valorizadas são as de cooperação em vez da competição. A busca está sempre em criar espaços de debate, de diálogo fundado na reflexão coletiva. O projeto político-pedagógico deve ter como objetivo a organização do trabalho educacional na sua globalidade. Isso significa resgatar a escola como espaço público, como lugar de debate, de diálogo fundamentado na reflexão crítica coletiva. Uma luta pela participação de todos frente aos desafios das mais diversas ordens sociais, políticas e econômicas, preconizando um futuro que, ao invés de pré-concebido, pré-determinado, está sempre em construção. Como dissemos anteriormente, a participação da comunidade deve acontecer de forma efetiva, por meio de atividades que levem pais, alunos, professores e funcionários a perceberem que podem vir à escola para falar, expressar, opinar e não apenas para ouvir e perguntar. Assim, sua participação fica cada vez maior e mais expressiva na comunidade em relação ao projeto da escola. Também é importante que se dê espaço para as atividades lúdicas, já que a brincadeira é uma atividade que faz parte do ser humano. A brincadeira possibilita uma forma de aprender e dar significado à realidade das pessoas e desenvolve diferentes habilidades que ajudam na formação da personalidade, organizando as relações pessoais com os objetos, com os espaços vividos e com as outras pessoas. 4 Psicologia e Teorias da Aprendizagem A Relação da Psicologia com a Educação 4.1 Resiliência Hodiernamente os inúmeros desafios vivenciados pela humanidade se estabelecem e exigem do ser humano o desafio de enfrentar conjunturas conflituais nos diferentes setores de sua vida, quer nos assuntos pessoais e familiares quer na sua vida estudantil e profissional. Isso solicita dele um comportamento também de transformação, para o enfrentamento apropriado das adversidades. É aguardado do indivíduo que ele seja capaz de responder de maneira coerente e real aos desafios e problemas que o mundo contemporâneo lhe oferece, reagindo com maleabilidade e disposição de recobramento, desenvolvendo uma autêntica capacidade de oposição às desventuras. Nesse sentido, Morin (2003, p. 34) lembra que “[...] uma nova consciência começa a surgir: o homem, confrontado de todos os lados às incertezas, é levado em nova aventura – é preciso aprender a enfrentar a incerteza, já que vivemos em uma época de mudanças em que os valores são ambivalentes, em que tudo é ligado”. No que concerne às origens etimológicas, o vocábulo resiliência, conforme expõe Faria (1967, p. 938), “aceita a definição presente na física, de um retorno ao que se era. A palavra deriva do latim resilio, resilire. Resilio, derivada de re (partícula que indica retrocesso) e salio (saltar, pular), significando saltar para trás, voltar saltando”. No Brasil, a palavra resiliência não fazia parte do vocabulário cotidiano do povo brasileiro. E o que se sabia, até final da década de 1990, era seu significado técnico ligado à física. Assim o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, por exemplo, traz as seguintes definições para a palavra resiliência: “Resiliência [do ingl. resilience] S.f. 1. Fís. Propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de uma deformação elástica. 2. Fig. Resistência ao choque” (FERREIRA, 1986, p. 1493). A partir da década de 1990 o termo resiliência ganha um novo significado e passa a ser utilizado com maior freqüência, graças, em especial, aos estudos de Psicologia. Todavia, bem antes dessa evolução do termo no Brasil, resilient já havia tomado outro sentido no enfoque inglês e assumido outro significado. Yunes e Szymanski (2001, p. 34) apontam que, segundo o dicionário de língua inglesa Longman Dictionary of Contemporary English (1995), a palavra tem duas definições: a primeira refere-se à “habilidade de o ser humano voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por doenças, dificuldades, perdas.” Já a segunda definição, diz respeito à “habilidade de uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida: flexibilidade”. Diante de tais definições verificamos, portanto, que o termo se aplica tanto a materiais quanto a pessoas. O tema resiliência, dentro das ciências humanas, em especial nas áreas da Psicologia e da Educação, apesar de sua evolução ele ainda é eventualmente novo, contudo sua importância, diante do estudo do desenvolvimento e aprendizagem humana, vem desenvolvendo continuamente. Conforme Vargas (2009, p. 2) “o conceito evoluiu e adquiriu características que parecem permitir avaliar indivíduos de acordo com suas possibilidades de enfrentamento de adversidades.” Yunes (2003, p. 16), afirma que “o processo de resiliência refere-se à classe de fenômenos caracterizada por bons resultados apesar de sérias ameaças à adaptação ou ao desenvolvimento”. Tavares (2001, p.29) expõe que: A resiliência é a capacidade de responder de forma mais consistente aos desafios e dificuldades, de reagir com flexibilidade e capacidade de recuperação diante desses desafios e circunstâncias desfavoráveis, tendo uma atitude otimista, positiva e perseverante e mantendo um equilíbrio dinâmico durante e após os embates – uma característica de personalidade que, ativada e desenvolvida, possibilita ao sujeito superar-se e às pressões de seu mundo, desenvolver um autoconceito realista, autoconfiança e um senso de autoproteção que não desconsidera a abertura ao novo, à mudança, ao outro e à realidade subjacente. No contexto escolar, Grotberg (apud, MELILLO, 2005, p. 49) diz que resiliência é “a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade”. Assim, aprendizagem e resiliência são características que se interatuam intimamente no sentido da transformação