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Prévia do material em texto

P o e s i a
ã organização e tradução de Claudia Cavalcanti
A N T 0 L 0 G A
Estação Liberdade
PRESSIONISTA
m <
poesia
a
Ludwig Ru 
Georg Trakl
edição bilíngüe ilustrada
Estação Liberdade
EXPUESSIOMISTA
I e m ã
organização e tradução de 
Claudia Cavalcanti
SBD-FFLCH-USP
llllllll
228768
A N I
DEDAiiiiiií'LE
21300125334
lohannes R. Becher GoHfried Benn Alberf Ehrenstein Iwan Goll 
Waller Hasenclever Georg Heym Jakob van Hoddis Wilhelm Klemm 
Else Lasker-Schüler Alfred Lichienstein Ludwig Rubiner René Schickele 
Ernst Stadler August Stramm Georg Trakl Franz Werfel
U M A 0 L 0 G I A
Inhaltsverzeichnis / Sumário
17Em BUSCA DO ÊXTASE: uma introdução
00-3403
Todos os direitos desta edição reservados à
Créditos especiais
Ilustração da capa Heinrich Cam
produzidas 
eutsche
61
62
63
64
65
Albert Ehrenstein
Hoffnung
Esperança
Friede
Paz
37
38
39
42
43
44
45
69
70
71
80
81
82
83
IWAN GOLL
Der neue Orpheus 
O novo Orfeu
Karawane der Sebnsucbt
Caravana do desejo
Noemi
Noemi
$30. ? 
p^fr
©
52
53
54
55
56
57
1. Expressionismo na literatura 2. Poesia alemã 
I. Cavalcanti, Claudia.
_____________________ CDD-831.080115
Índices para catálogo sistemático:
1. Poesia expressionista: Literatura alemã 
831.080115
Gottfried Benn
iSyntbese
(Síntese
Kleine Aster
Florzinha
D-Zug
Trem rápido
Mann und Frau gebn durch die Krebsbaracke
Homem e mulher passeiam no Pavilhão do,Câncer
ttação Liberdade 
liard, Paris
Vários autores.
Edição bilíngue: alemão-português.
ISBN 85-7448-031-2
----------r- Heinrich Campendonk, in Die Schaffenden, 
Ano I, pasta 2, 1918
Página 115 Lasar Segall: "Mulheres errantes - II versão”, 
1919. Xilogravura, 23 x 29 cm. Acervo 
Museu Lasar Segall / IPHAN-MinC, São Paulo
Copyright © Editora Estação Liberdade, 2000, para as presentes traduções.
© Os autores, ou seus herdeiros, para os poemas originais.
© Os autores das obras, ou seus herdeiros, para as ilustrações. Repr 
de Die Schaffenden, Kreis Deutscher Graphiker Sammler e Dem 
Graphiker, coleção Ernesto e Liuba Wolf, Paris. Direitos reservados.
Poesia expressionista alemã : uma antologia / 
organização e tradução de Claudia Cavalcanti. - 
São Paulo : Estação Liberdade, 2000.
Preparação e revisão de texto Marcelo Rondinelli
Composição e projeto gráfico Pedro Barros / Estaç
Fotografias das gravuras Archipel / J.-C. Bit..
Capa Nuno Bittencourt / Letra & Imagem 
Produção Edilberto Fernando Verza
Edição final e seleção de gravuras Angel Bojadsen
JOHANNES R. BECHER
Vorbereitung
Preparação
An die Zwanzigjãbrigen
Aos de 20 anos
Die neue Syntax
A nova sintaxe
Editora Estação Liberdade Ltda.
Rua Dona Elisa, 116 - 01155-030 • SãoPaulo-SP 
Tel.: (11) 3661 2881 • Fax: (11) 3825 4239 
e-mail: editora@estacaoliberdade.com.br 
http://www.estacaoliberdade.com.br
mailto:editora@estacaoliberdade.com.br
http://www.estacaoliberdade.com.br
-
■ Georg Trakl 
Untergang 
Ocaso
Ludwig Rubiner
Der Mensch
O Homem
Denke
Pense
René Schickele
Abscbwur 
Desistência
Der Knabe itn Garten
O rapaz no jardim
August Stramm
Patrouille 
Patrulha
Sturmangriff
Assalto
Schwermut
Melancolia
Georg Heym
Deine Wimpem, die langen...
Tuas pestanas, as longas...
HalberSchlaf
Semi-sono
Spitzkõpfig kommt er...
Cabeça empinada, lá vem ele...
105
106
107
110
111
112
113
118
119
120 
.121
125
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128
129
95
96
97
100
101
Alfred Lichtenstein
Der Ausflug
O passeio
Ernst Stadler
Der Spruch
A sentença
Farm ist Wollust
Forma é volúpia
Fahrt durch die Kõlner Rheinbrücke bei Nacht
Travessia noturna pela ponte do Reno em Colônia
169
170
171
174
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179
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197
203
204
205
149
150
151
s
136
137
138
139
142
143
144
145
Else .Lasker-Schúler 
~Weltende ~
Fim do mundo
Mein Liebeslied 
Minha canção de amor 
Ein Lied der Liebe
Uma canção de amor 
Giselheer dem Kõnig 
A Giselheer, o rei 
Lauter Diamant
Puro diamante
Walter Hasenclever
Gedicbte
Poemas
Auf den Tod einerFrau
À morte de uma mulher
Dàmmening 
Crepúsculo
__ Jakob van Hoddis
Weltende
Fim do mundo
. Der Visionarr 
vO_visiotário
WlLHELM KLEMM
Programm
Programa
Betrachtungen 
Observações
Nota do editor
Ilustrações
1
Nossos votos de gratidão a Ernesto e Liuba Wolf, que nos facilitaram 
sobremaneira o acesso a sua coleção.
Franz Werfel
Die Trãne
A lágrima
Warum mein Gott
Por que meu Deus
206
207
208
209
210
211
212
213
Max Beckmann - 123, 147
Heinrich Campendonk - 93
George Grosz - 35
Lyonel Feininger - 13
Karl Hofer - 167
Erich Heckel - 177
Ernst Ludwig Kirchner - 131
Max Kaus - 59
Max Pechstein - 153, 201, 221
Chrjstian Rohlfs - 47
Karl Schmidt-Rottluff - 67, 103, 187
Lasar Segall - 115
223
224
225
228
229
Ruh und Schweigen
Calma e silêncio
Gesang des Abgescbiedenen
Canto do desterrado
Fõhn
Fõhn
Helian
Helian
As xilogravuras e águas-fortes aqui incluídas não têm outra intenção 
que a de oferecer uma amostra subjetiva e parcial da riqueza do expres- 
sionismo gráfico da época correspondente à obra poética ora apresenta­
da. Não constituem um panorama abrangente, nem seguem qualquer 
critério exaustivo em termos de autores ou de cronologia.
As publicações artísticas alemãs Die Schaffenden, Kreis Deutscher 
Graphiker Sammlere Deutsche Graphiker, de onde foram reproduzidas, 
eram de circulação restrita, inclusive devido a seu grande formato (A2), 
ocorrendo em boa medida entre assinantes e colecionadores. A periodi­
cidade era trimestral, semestral, ou até anual, e cada número trazia gra­
vuras originais, algumas hoje extremamente raras.
As dificuldades econômicas do pós-Primeira Guerra deram-lhes vida 
curta: Die Schaffenden foi editada entre 1918 e 1924, a Kreis Deutscher 
Graphiker Sammler, de 1921 a 1925, e a Deutsche Graphiker, apenas em 
1922.
Lyonel Feinincer 
Die Schaffenden 
Ano I, pasta 1, 1918
São Paulo, agosto de 2000
O Prof. Dr. Klaus Scbuhmann, da Universidade de 
Leipzig, despertou meu interesse pelo expressionismo com 
suas conferências hipnotizantes sobre o tema. Incentiva­
da por essas conferências e pelo espírito juvenil que ema­
nava daqueles poetas, comecei a traduzir os poemas desta 
antologia mais de dez anos atrás. Prossegui o trabalho com 
intermitências, mas consegui concluí-lo graças a Nina, 
minha filha, e a Lula, meu marido - as minhas fontes de 
juventude.
r
Em busca do êxtase
17
■ ser
>res- 
ipres-
Todos querem a mesma coisa, todos são iguais; 
quem sente diferente vai espontaneamente para o hospício.
F. Nietzsche
O expressionismo foi um dos movimentos artístico-literários da van- 
guarda modernista européia do começo do século XX (quando se en­
contraram, cruzaram ou contrapuseram correntes como o naturalismo, 
o simbolismo, os neo-romantismo e classicismo, o Fin-de-Siècle e o 
impressionismo) e, apesar de ter sido um entre vários, revelou-se uma 
vertente da modernidade das mais representativas, não apenas por ter 
conquistado, além da literatura, as artes plásticas, a dança, o cinema, a 
arquitetura e a música, mas também porque centenas de artistas prati­
camente começaram sua carreira dentro do movimento, para desapare­
cer depois ou, dentro da literatura, fazer parte de sua história, como é o 
caso de Gottfried Benn, Georg Trakl e Else Lasker-Schüler - só para citar 
alguns dos incluídos nesta antologia.
Portanto, longe de pretender expor e analisar neste texto introdutório 
minuciosamente o movimento (aliás, objeto de uma das maiores biblio­
grafias secundárias no âmbito da literatura alemã), a intenção é apresen­
tar o expressionismo em linhas gerais, com particular atenção para a 
poesia, ela que por si só já dispõe de uma enorme gama de autores e 
tendências, como se poderá constatar ao longo desta obra.
É claro que, tendo sido vanguarda, o expressionismo pode 
considerado uma reação ao artisticamente estabelecido, mas será apr 
sado e mesmo equivocado resumi-lo como uma oposição ao impr 
sionismo - mesmo porque o surgimento de um não significou o desapa­
recimento de outro e, além disso, alguns escritores ditos impressionistas 
tiveram,surpreendentemente, algumas de suas obras avaliadas como 
expressionistas.
19L 18
1. ZMEGAC, Viktor et alii. In: Kleine Gescbichte derdeutscben Literatur. Frankfurt/Meno- 
U.a„ 1993, p. 271.
Pelo menos aqueles estetas que só sabem reagir, que não passam 
de placas de cera para impressões, ou de gravadores delicadamente 
precisos, realmente nos parecem seres inferiores. Nós somos 
expressionistas.2
Não foi coincidência ter a literatura expressionista surgido às vés­
peras da Primeira Guerra Mundial. O movimento tomou força 
em que o império alemão seguia os —'"'rrz'c rx>r«>c 
desenvolvidos, cujo objetivo era o est 
lista e imperialista, 
militares e nobres e 
ca,
à na época 
s passos de outros países europeus 
. , . _ stabelecimento da sociedade capita- 
uma sociedade dominada pela grande burguesia, 
_________ j que encontrava representação numa arte acadêmi- 
neoclássica. A geração nascida sobretudo entre 1880 e 1890 come­
çou a se rebelar contra os valores sociais, políticos e familiares vigentes3,
sofos Gustav Landauer e Martin Buber, conhecidos também por prega­
rem a rejeição à cidade grande e a volta à natureza. Eles exerceríam 
influência decisiva sobre alguns expoentes expressionistas, como Else 
Lasker-Schüler e Ludwig Rubiner, cujos poemas, embalados por um ro­
mantismo ressuscitado, podem ser lidos neste livro. Outro grupo, 
fundado em 1904 por Herwarth Walden, foi a Verein fur die Kunst 
(“Sociedade pela Arte”), que organizava leituras e tinha entre os partici­
pantes Alfred Dôblin, autor de prosa expressionista e sobretudo do 
clássico Berlim Alexanderplatz. Eis alguns outros termos freqüentes no 
expressionismo que a partir de então nascia: comunidade - Novo 
Homem - volta à natureza - romantismo.
Kurt Hiller, ele também fundador de um grupo chamado Der Neue 
Club (“O Novo Clube”), foi o primeiro a usar, em 1911, a palavra 
“expressionismo” ligada à literatura:
É o caso de Rainer Maria Rilke, cujo romance Os cadernos de Malte 
\ Laurids Brigge, escrito em 1904 e publicado em 1910, posteriormente foi / 
I lido como uma introdução à literatura expressionista, já que o jovem 
■ Malte se vê confrontado com o cotidiano de uma metrópole, Paris, e seu 
| decorrente anonimato, e tenta lutar contra essa dura realidade. Jovem - 
i cotidiano - metrópole - anonimato - realidade: eis algumas das palavras- 
chave que podem levar ao entendimento do que foi o expressionismo.
“No princípio era a cor”, como afirma Viktor Zmegaó1. A palavra 
“expressionismo” foi originalmente usada em 1901 por Julien Auguste 
Hervé para caracterizar alguns quadros de uma exposição parisiense. 
Dez anos depois, a mesma palavra serviu para que se falasse de artistas 
como Braque, Derain e Picasso em outra exposição, desta vez em Berlim. 
Nessa época, já existiam círculos como Die Brücke (“A Ponte”), fundado 
em Dresden em 1905, e Der Blaue Reiter (“O Cavaleiro Azul”), de Muni­
que, fundado em 1911-12, que representam as origens do movimento 
na Alemanha. “A Ponte" foi marcado pelo emprego e decorrente avanço 
das artes gráficas, e uma das técnicas mais usadas pelo círculo, além da 
pintura, foi a xilografia, uma gravura de contrastes que acabou predomi­
nando nas artes plásticas expressionistas. Já “O Cavaleiro Azul” teve 
como maior representante o russo W. Kandinsky e foi marcado pela 
sofisticação e ênfase nas coisas do espírito, o que o distanciava do gru­
po de Dresden. Outras palavras do glossário expressionista: contraste - 
sofisticação - espírito^
No princípio era a cor, em seguida o verbo. A chamada década pré- 
expressionista, entre 1901 e 1910, já delineava o que seria o movimento 
principalmente nos anos 10, quando viveu o seu auge. A década anuncia- 
dora do expressionismo já garantia uma de suas características marcantes: 
a de formação de grupos, vertentes, tendências, facções e tudo o que possa 
tê-1) transformado em estilhaços, cujo mosaico a crítica se encarregou de 
montar (ou pelo menos tentar) quando o movimento já não existia.
Um dos primeiros grupos se chamava Die Neue Gemeinschaft 
(“A Nova Comunidade”), que reuniu adeptos da filosofia monista e onde 
se almejava o Novo Homem - mais tarde um dos lemas do expres­
sionismo. Entre os participantes da Nova Comunidade estavam os filó-
2. In: Modernismo - Guia geral. Malcolm Bradbury e James McFarlane (otgs.). Sào Paulod 
Companhia das Letras, 1989, p. 223.
3. O conflito entre pais e filhos caracterizou de forma marcante o movimento 
expressionista, especialmente o teatro, para o qual foram escritas várias peças com 
esse motivo. De qualquer modo, por ter sido um movimento predominantemente 
jovem, tal conflito ficava claro nos variados gêneros emanifestações literárias. Assim, 
Georg Heym, poeta aqui representado, anotou em seu diário, aos 24 anos: “Eu teria 
sido um dos maiores poetas se nào tivesse tido como pai um tal porco" (id., ibid., 
nota 2, p. 225).
4. In: Expressionistiscbe Lyrik, de Wilhelm Grosse. Hollfeld: Beyer, 1996, p. 11.
2120
k-
exemplo, a gran- 
ícada literária tão
5. In: A literatura expressionista alemã, de Claudia Cavalcanti. Sào Paulo: Ática, 1995, 
p. 16.
forças motrizes da revolução são tédio e nostalgia, sua ex­
pressão é destruição e criação.
Destruição e criação são idênticas na revolução. Todo desejo 
destruidor é um desejo criador (Bakunin).
Algumas formas de revolução: assassinato de tiranos, destitui­
ção do poder dominante, estabelecimento de uma religião, rompi­
mento de velhos quadros (em convenção e arte), criação de uma 
obra de arte; o ato sexual.
Alguns sinônimos para revolução: Deus, vida, êxtase, caos.
Deixem-nos ser caóticos! 5
Não sem razão de ser incluem-se aqui citações contemporâneas ao 
movimento, que também foi um frutífero campo de manifestos (de ordem 
ideológica, política, poetológica, programática, e escritos em forma de 
discursos, ensaios, poemas), a ponto de se falar em “manifestantismo” e 
de se considerá-los praticamente um dos gêneros literários da época. 
Também não por acaso Rubiner não enumerou entre os seus simpatizantes 
a classe trabalhadora, cuja causa seria abraçada por alguns expressionistas, 
sobretudo com a guerra e a Revolução de Outubro, já que, para eles, 
eram heróis todos aqueles que rompiam com a burguesia e habitavam 
o submundo das metrópoles (marginais - manifestos - guerra - burguesia 
- submundo: o glossário expressionista não pára de crescer).
O chamado Novo Homem, dos expressionistas seria o indivíduo 
cuja ação deveria ser marcada por um humanismo indiferente às classes 
sociais. É claro que os impulsos para tal pensamento partiram de teóri­
cos como Bakunin e Lênin, de filósofos como Nietzsche (além dos já 
citados Landauer e Buber) e de modelos literários de certa forma tam­
bém marginais, como Kleist, Büchner e Grabbe (para citar somente os 
alemães e, não por coincidência, românticos).
O tom messiânico que pregava a necessidade de um novo homem 
evidenciava uma revolução interior ansiada por aqueles jovens nutridos 
de uma forte dose de idealismo. Assim, Èrich Mühsam, no manifesto 
“Revolução" (1913):
Quem são os camaradas!'Prostitutas, poetas, sub-proletários, co­
letores de objetos perdidos, ladrões ocasionais, ociosos, casais de 
amantes em meio a um abraço, desatinados religiosos, bêbados, 
desempregados, comilões, vagabundos, assaltantes, críticos, dor- 
minbocos, canalhas. E em alguns momentos todas as mulheres do 
mundo. Somos a escória, a ralé, o desprezo. (...) Somos a santa 
plebe)
uma postura antiburguesa sinalizadora do expressionismo. Aquela gera­
ção de artistas nutria uma simpatia evidente pelos marginais da socieda­
de burguesa, que Ludwig Rubiner nomeava como a seguir:
Visto apenas por este ângulo, a impressão é a de que o expressio­
nismo era uma reunião de pregadores alucinados que não faziam outra 
coisa senão bradar a utopia. Mas como, felizmente, se tratava de um 
movimento multifacetado, não há como ignorar, por < 
de importância que teve a vida boêmia naquela déc 
singular.
Os cafés e cabarés eram os principaispontos de encontro da gera­
ção expressionista, reunida sobretudo em Berlim (outros centros eram 
Munique, Leipzig, Praga e Viena, sempre grandes cidades). Os boêmios 
e os nem tanto faziam do Café des Westens e do Café Grõssenwahn 
locais de debates, leituras e desavenças que poderíam durar minutos ou 
anos. Os jovens escritores falavam de suas musas, do momento político 
efervescente e, claro, de literatura.
Dos cabarés, o mais importante foi o Neopatético (Neopathetisches 
Kabarett), fundado em 1910 pelos integrantes do “Novo Clube”, grupo 
que melhor representou o chamado “vitalismo” expressionista, conceito 
tão presente naquela literatura quanto nebulosa é a sua definição. O vita­
lismo podia ser sinônimo de uma filosofia de vida com variadas nuances, 
a depender de quem a seguia, e marcou especificamente a primeira fase 
do expressionismo. E neopatéticos eram poetas, músicos, teóricos se 
apresentando a um público sobretudo de estudantes, atores, escritores e 
boêmios. Outros cabarés importantes foram o Voltaire (em Zurique), o 
Gnu e o Dada (em Berlim), que funcionaram em fases diversas.
6. Id., ibid., nota 2, p. 229.
2322
Mesmo com a melhor boa vontade do mundo, você simplesmen­
te não pode imaginar hoje a excitação com que nos sentavamos ao 
final da tarde no Café des Westens ou na calçada do Geroldperto 
da Gedãchtniskirche, tomando silenciosamente nossas bebidas e 
esperando o aparecimento da Sturm ou da Aktion. Não pensava­
mos tanto no sentimento inebriante de sermos publicados, e sim de 
ficar atentos à possibilidade de sermos atacados em palavras ca­
pazes de queimar como cal virgem ou ácido sulfúrico. Uma incrí­
vel animosidade que tínhamos de enfrentar estava no ar e cerca­
va-nos a todos.6
7. A literatura 
é extensa, n 
Menschheit; 
Leipzig: Rec 
ora citada.
a primária utilizada na seleção dos poemas desta antologia evidentemente 
mas é possível dizer que pouco mais da metade deles estão incluídos em 
beitsdãmmerung - Ein Dokument des Expressionismus, Kurt Pinthus (org.). 
Redam, 1986. Observou-se a grafia alemã dos poemas da edição atualizada
Os cafés e cabarés do expressionismo foram acima de tudo um raro 
momento aglutinador de um movimento que, se hoje parece disperso, à 
época talvez nem parecesse um movimento propriamente dito para os 
que o viam de fora. Aglutinadores também foram os inúmeros periódicos 
(exatamente 110, totalizando 37 mil colaborações literárias e gráficas!), 
entre os quais os mais importantes foram Der Sturm (A Tempestade) e Die 
Aktion (.A Ação), sobre cuja recepção escreveu Alfred Richard Meyer:
Der Sturm, portanto, introduziu o que de mais recente havia na 
literatura. E não se deve esquecer sua contribuição às artes gráficas, na 
medida em que as inovou, tendo como um de seus mentores o artista 
austríaco Oskar Kokoschka. Além dele, integrantes de “A Ponte" e 
“O Cavaleiro Azul” e artistas como Chagall, Paul Klee e Picasso fizeram 
da revista um documento da vanguarda européia. DerSturm foi publi­
cado até 1932, mas só alcançou o seu auge no início dos anos.20.
Já Die Aktion, fundada em 1911 por Franz Pfemfert, rivalizava com 
a revista de Walden, mas tinha um caráter menos estético e literário e 
mais político, embora não firmasse compromissos partidários. Die 
Aktion era predominantemente ilustrada com xilogravuras, teve como 
colaboradores Kurt Hiller, Georg Heym e Ernst Blass e também durou 
até 1932. Muitos poemas desta antologia foram publicados pela primeira 
vez numa dessas revistas.7
Fora as duas publicações mencionadas, importante foi também Die 
weissen Blãtter (As Folhas Brancas), revista mensal editada por Kurt Wolff, 
um nome importante na área editorial quando se fala em expressionismo, 
além de ter sido o primeiro editor de Kafka. A revista foi publicada pri­
meiramente em Leipzig, depois em Zurique, em decorrência da guerra. 
Das neue Pathos (O Novo Páthos) seguia a linha do “Novo Clube” e do 
“Neopatético”, entre tantas outras publicações. Os títulos de tais periódicos 
(A Tempestade, A Ação, As Folhas Brancas, O Novo Páthos, A Nova Arte, 
Nova Juventude, A Jovem Alemanha..)) sinalizam a vontade do recomeço . 
e do inédito, ratificando o expressionismo como vanguarda européia.
Outro título evidenciador do fim de uma era e início de outra foi o 
da primeira antologia de poesia expressionista, Menschheitsdãmmerung, 
organizada em 1919 por Kurt Pinthus e publicada em 1920. Pinthus 
selecionou 23 poetas, e cada um deles teve vários poemas (às vezes até 
dez) incluídos. Eram todos jovens e oriundos da geração expressionista, 
com exceção de Theodor Daubler e Else Lasker-Schüler. Pinthus optou 
por reunir os poemas em grupos temáticos (“queda e grito”, “despertar 
do coração”, “apelo e indignação” e “amor aos homens” - todas quase
Em 1910, Herwarth Walden, que já havia editado três revistas e fora 
um nome em constante atividade na década expressionista, abriu uma 
editora e começou a publicar o seu periódico, a revista semanal Der 
Sturm, que reuniu poetas como Jakob van Hoddis e August Stramm, 
ambos presentes nesta antologia. Sobre Hoddis vai-se falar adiante; 
Stramm, que começou a colaborar com a revista a partir de 1914, ao 
mesmo tempo inaugurou o que Walden chamou de “teoria da arte da 
palavra” (Wortkunsttbeorie) - uma poesia abstrata, fonética, assintática 
e criadora de ritmos especiais. Stramm renunciou a elementos poéticos 
tradicionais e concentrou-se no verso isoladamente, menosprezando 
inclusive regras gramaticais e sintáticas tão rígidas na língua alemã. 
O poeta ignora o significado original de algumas palavras, suas formas 
de flexão e declinação e lhes confere novas possibilidades semânticas. 
Tal característica poderá ser notada de forma mais amena em outros 
poetas expressionistas, e de forma mais programática no poema “A nova 
sintaxe”, de J. R. Becher.
sigar 
vel a
2524
cular de com;
temj
varia
das
signi
8. Id., ibid., nota 7, p. 42.
9. Tais dados foram recolhidos p- 
und Bücher des literarischen 
(Stuttgart: J. B. Metzler, 1992),: 
o expressionismo literário. F< 
breves biografias dos poetas <
Vocês, jovens, que crescerão numa humanidade mais livre, não 
sigam estes [os poetas da antologia], cujo destino foi viver na terrí­
vel consciência do ocaso em meio a uma humanidade perdida, 
desesperançosa, e ao mesmo tempo ter a missão de conservar a 
crença no que há de bom, de futuro, de divino, no que brota das 
profundezas do homem! (...) A poesia de nosso tempo é fim e ao 
mesmo tempo início.8
Que finalmente se pare de falar em "lírica ". Esta palavra cheira 
a nada e a alegoria; lembra uma lira em total vibração golpeada 
por dedos gordos e sentimentais de uma imagem feminina (musa); 
os dedos são toucinho enfaticamente esmagado, mas a imagem 
olha para o céu (...) .,0
10. Id., ibid., nota 5, p. 29.
11. Id., ibid., nota 5, p. 30. Para quem lê em alemão, todos os textos programáticos aqui 
citados podem ser consultados, em mais de setecentas páginas de manifestos, artigos e 
documentos, no livro Expressionismus - Manifeste und Dokumente zur deutschen 
Literatur 1910-1920, de Thomas Anz e Michael Stark (org.), Stuttgart: J. B. Metzler, 1982.
Queremos enaltecer todos os líricos que de modo geral se inte­
ressam pela modernidade. Queremos compor as grandes cidades, 
as metrópoles, que são quase tão jovens quanto nós. Queremos 
ouvir as sinfonias do aço, do ferro e de todas asforças ligeiras, que 
são quase ainda mais jovens do que nós. (...) Queremos cantar 
nossos delicados, doentes nervos, e eles então ficarão saudáveis. 
Será expulso quem lutar contra todo esse esforço; se for artista, será 
morto a pancadas."
por Paul Raabe e estão catalogados em Die Autoren 
•n Expressionismus - Ein bibliographisches Handbuch 
, a mais completa obra de referência quando o assunto é 
Foi também minha principal fonte para a redação das
O apelo de Hiller não nega a poesia, nem mesmo a “boa poesia" 
dos antecessores (“Goethe, Hõlderlin, George, Rilke”, de acordo com o 
autor), mas busca renovação; paraele, o termo “lírica” era sinônimo de 
versos ultrapassados, ruins, conservadores. A poesia daquela geração, 
que deveria potencializar a realidade externa (externa, não interna!) 
com uma até então inédita expressividade da realidade do espírito, hoje 
pode ser analisada como uma poesia de idéias e posicionamentos co­
muns até certo ponto e de estilos díspares. Um ano depois de Hiller, 
Oskar Loerke, sem preconceitos em relação à palavra que tanto irritava 
o primeiro, escreveu em “Sobre a lírica moderna" o que pode servir, 
ainda hoje, para pontuar aquela poesia:
palavras de ordem expressionistas, inseridas em nosso glossário parti- 
~"'ar dc compreensão do movimento); com isso, mostrou que, pouco 
ipo depois do auge da poesia expressionista, soube diferenciar suas 
iadas tendências. O título da antologia é sugestivo por suscitar dúvi- 
quanto ao seu duplo sentido, pois a palavra Dãmmerung pode 
lificar em alemão tanto o “alvorecer” quanto o “entardecer”. Aurora 
ou ocaso da humanidade (Menschbeitf Em seu prefácio à antologia, 
Kurt Pinthus esclarece ele mesmo essa dúvida:
A reivindicação de Loerke bem se coaduna com aspectos facilmen­
te identificáveis do expressionismo em seus primórdios, como o de uma 
juventude ávida por participar do desenvolvimento das metrópoles em 
que viviam, sempre observando o rigor ético que cercava a necessidade 
do Novo Homem, por mais utópico que este fosse.
Em 1920, quando foi publicada com êxito Menschheitsdãmmerung, 
conferindo aos expressionistas (também do teatro, menos da prosa) um 
certo reconhecimento por parte do público e assegurando a perenidade 
de alguns poetas (praticamente todos aqui incluídos), já não se podia 
mais sentir o êxtase - palavra essencial àquela época - de um movimen­
to literário em ebulição que totalizou 347 autores (de todos os gêneros 
literários), 2.300 títulos publicados em 450 editoras (uma média de sete 
livros por autor!), além daquele sem-número de periódicos.9
Mas, antes que se decrete o “ocaso” do expressionismo, creio ser 
necessário caracterizar e mencionar, pelo menos em seus pontos princi­
pais, a enorme diversidade de forma e conteúdo poéticos do movimen­
to. Em 1911, na tentativa de renovar a poesia alemã, Kurt Hiller, autor de 
muitos textos programáticos, escreveu em Der Sturm-.
versos, em
12. Id., ibid., nota 1, p. 275.
2726
do
do para esta antologia se intitula “O visiotári 
fere ao louco a representação do opc 
vivida pelo tão repudiado burguês, qt 
çado em que é cercado nas granat
; palavras Visionãr(“visionário") e WarrClouco"). Em 
logia poética (Lisboa, 1976), João Barrento encontra 
icste poema, sem |jerder muito no sentido do trocadi- 
nei emprestado do renomado tradutor
i jogo com as f
?mão - Antologú 
ução para o título deste . 
tário”, portanto, é um título que tome
O chamado “estilo simultâneo" (ou estilo ordenado em 
que cada um é uma afirmação que se basta) traduz a totalidade da vida 
ansiada pelos jovens^ acima descrita, por um sem-número de infórma.- 
ções, dados e acontecimentos sem muita lógica entre si, com versos de 
posições cambiáveis, mas que sugerem uma concomitância das mais 
variadas situações cotidianas; esse “simultaneísmo” foi uma das formas 
poéticas mais usadas, e com êxito, pelos poetas expressionistas.
Jakob van Hoddis foi quem introduziu e renovou esse recurso 
estilístico dentro do movimento. Não por acaso, Kurt Pinthus escolheu o 
poema “Fim do mundo” (“Weltende”), primeiramente publicado em Der 
Demokrat, em 1911, para abrir a sua antologia Menschheitsdãmmerung, 
e aqui incluído nas páginas 118-119. Em “Fim do mundo”, predomina a 
ordenação assindética de frases; cada verso contém uma afirmação inde-
0 entusiasmo patético dos expressionistas por tudo o que leve o 
carimbo do sofrimento humano não conhece limites e, no vocabu­
lário, quaisquer elementos-tabu; tudo o que até então era conside­
rado feio, nojento, proibido, alcança, no protesto da nova poesia, 
um sentido artístico, é parte do grito por “imediatismo”. (...) Na 
visão expressionista da vida, as cenas repugnantes da podridão, 
da violência e da morte são parte indissociável da realidade. 
Vivenciá-las significa, para os expressionistas, sair da indiferença 
socialmente regulamentada, significa vivenciar a realidade mais 
profunda e completamente.'2
pendente da anterior ou da posterior. Essa solução de Hoddis conota 
justamente uma fragmentação do eu e da realidade que o cerca. Aqui, 
Hoddis opta por uma aparente normalidade da língua e transforma cada 
verso numa espécie de manchete de jornal (no quarto verso, há inclusive 
o “lê-se”), todos um prenuncio do fim do mundo, que surge caricaturado 
e caoticamente fragmentado. O burguês (e não um burguês), personagem- 
alvo do sarcasmo expressionista13, é exemplarmente representado nesse 
poema de Hoddis. Ele tem o seu chapéu levado pelo vento e nem perce­
be que, ao tentar apanhá-lo, corre em direção ao fim do (seu) mundo.
Pelo fato de ter destruído conscientemente categorias necessárias 
ao homem em sua realidade, como lógica, proporção, hierarquia, ele 
foi considerado o renovador do grotesco na literatura alemã, uma voz 
moderna no limiar do surrealismo. Alfred Lichtenstein, colaborador de 
A Tempestade como Hoddis, e aqui também representado, é conside­
rado seu discípulo e um dos fundadores do grotesco na nova lírica.
Os recursos poéticos inaugurados por Hoddis dentro do expres- 
sionismo, além de desencadear as mais variadas interpretações semân­
ticas e estilísticas, levam a refletir sobre o papel do louco e da loucura 
poesia (e, sem dúvida, também na prosa e no teatro) daquele perío- 
• literário. Não por coincidência, o outro poema de Hoddis seleciona- 
 - '?!?“-.rio” (“Der Visionarr”)14 e con- 
^oosto do conceito da “normalidade” 
, que se recusa a ver o mundo estilha- 
---------- o._.ides cidades, sendo ele, o louco, “a 
negação encarnada da razão teórica e prática do burguês”.15
A velocidade com que cresciam as grandes cidades e a fome de 
recepção típica dos jovens idealistas fez surgir uma poesia (se não nova, 
pelo menos com mais expressão numérica) em grande parte programática, 
de protesto, que quase sempre despreza a tradição poética (às vezes 
usam-se formas rígidas para simplesmente evidenciar sua ojeriza a elas); 
sua marca programática faz com que as afirmações venham acompa­
nhadas de páthos e radicalismo. A língua alemã surge renovada, carre­
gada de dinamismo por meio de verbos enfáticos, criativas formações 
de palavras e uma fala metafórica muitas vezes difícil de decifrar. Viktor 
Zmegaõ diz mais:
13- É interessante notar que, com toda a oposição ao mundo burguês, a maioria dos 
jovens expressionistas tenha saído exatamente de lá, quando não da grande burgue­
sia. Paul Raabe (ver nota 9) concluiu que quase todos da geração expressionista (em 
grande parte jovens nascidos entre 1885 e 1896) eram de origem burguesa, 80% deles 
foram à universidade e cursaram sobretudo ciências sociais, e muitos freqüentaram a 
pós-graduação.
14. Der Visionarré um j
Expressionismo ater
uma boa soluç'
Iho. “O visiotá
português.
15. In: Phantasien über den Wahnsinn - Expressionistische Texte. Thomas Anz (otg.), 
Munique, 1980, p. 150.
2928
>etas alemães deste 
udas, em 1913, um
O louco também pode aparecer como uma forma de representação 
da existência, e a loucura surgir como uma experiência de bem-aven- 
turança inalcançável no mundo dos lúcidos. O manicômio, portanto, 
uma solução de fuga do peso da realidade - como no poema “Hospício” 
(“Irrenhaus”), de Ernst Stadler:
■c v>eorg Tr
93. Todos
17. Em De Profundis, 
São Paulo, 1994, p 
incluídos nesta a 
nuras, cuja 
seu editor S
para dormir em alguma hospedaria 
tinha sequer moradia.
>eta do expres
Else
Aqui está a vida, que mais nada sabe sobre si - 
Consciência de mil braças bem afundada no Universo. 
Aqui soa por salas vazias o coral do nada.
Aqui há sossego, refúgio, regresso, quarto de criança.
Aqui nada humano ameaça. Os olhos fixos,
Pendurados no vazio, perturbadose assustados, 
Tremem só de medos, dos quais escaparam.
Mas para alguns o terrestre ainda cola em corpos imperfeitos. 
Eles não querem deixar o dia, que desaparece.
Eles se jogam em espasmos, gritam estridentemente nos banhos 
E acocoram-se gemendo e abatidos nos cantos.
Mas para muitos o céu se abriu.
Eles ouvem as vozes mortas de todas as coisas que circulam 
E a música suspensa do Universo.
Eles às vezes falam palavras estranhas que não se entende. 
Eles sorriem quietos e amigáveis como fazem as crianças. 
Nos olhos ocultos, que nada de corporal mantêm, 
encontra-se a felicidade)6
São muitas as causas da forte ocorrência do motivo da “loucura” e 
da presença do louco na literatura expressionista. A primeira e mais
■J-r, de Georg Trakl (organização e tradução de Claudia Cavalcanti), 
54, p. 93. Todos os poemas de Georg Trakl que traduzi e que estão 
antologia foram originalmente publicados nesse livro da editora Ilumi- 
a reprodução, aqui, foi gentilmente permitida por aquela casa, na pessoa de 
Samuel Leon.
16. No original: “Hier ist das Leben, das nichts rnehr von sich weiB -/BewuBtsein tausend 
Klafter tief ins All gesunken./Hier tõnt durch kahle Süle der Chorai des Nichts./Hier ist 
Beschwichtigung, Zuflucht, Heimkehr, Kinderstube./Hier droht nichts Menschliches. 
Die stieren Augen/Die verstôrt und aufgeschreckt im Leeren hangen/Zittern nur vor 
Schrecken, denen sie entronnen./Doch manchen klebt noch Irdisches an unvoll- 
komm’nen Leibern./Sie wollen den Tag nicht lassen, der entschwindet./Sie werfen 
sich in Krampfen, schreien gellend in den Bãdern/Und hocken wimmernd und ge- 
schlagen in den Ecken./Vielen aber ist Himmel aufgetan./Sie hõren die toten Stim- 
men aller Dinge sie umkreisen/Und die schwebende Musik des Alls./Sie reden rnanch- 
mal fremde Worte, die man nicht verstehtVSie lãcheln still und freundlich so wie 
Kinder tun/In den entrückten Augen, die nichts Kôrperliches halten/weilt das Glück.”
óbvia é a de que, sendo vanguarda, não era raro eles serem considera­
dos uns alucinados, incompreendidos. Outra razão é o avanço da psi­
quiatria àquela época, que não deixava de manter suas ligações com a 
literatura, influenciando-a e se deixando influenciar; no louco, ademais, 
se expressava com maior intensidade a crise do chamado eu-moderno; 
os jovens expressionistas eram admiradores de famosos “loucos” ale­
mães, como Hõlderlin e Nietzsche; e, por fim, a própria biografia de 
alguns poetas atesta a loucura ou o limiar dela.
Georg Trakl, considerado um dos maiores poett 
século, teve profundas crises de depressão. Numa dei 
ano antes de se matar, ele escreveu a Ludwig von Ficker: “Nos últimos 
dias ocorreram coisas tão terríveis que durante toda a minha vida não 
poderei livrar-me delas (...). É uma desgraça sem-par quando o mundo 
se rompe diante de alguém. Oh, meu Deus, a que tribunal fui submeti­
do! Diga-me que ainda devo ter forças para viver e fazer o que o valha. 
Diga-me que não estou louco.”17
Else Lasker-Schüler foi outra representante expressionista que vi­
veu sob o estigma da loucura, seja por ter transgredido todas as normas 
sociais vigentes, tendo vivido quase sempre à margem da sociedade, 
seja por ter sido acometida de crises de depressão, cujo diagnóstico 
preciso não cabe aqui especular. Else Lasker-Schüler é ao mesmo tempo 
história e lenda alemã, um exemplo extremo de excentricidade e rebel­
dia tão comuns àquela época. Por sua beleza, era musa dos colegas 
expressionistas, assídua freqüentadora que era dos já mencionados ca­
fés berlinenses, onde lia seus poemas em troca de um prato de comida; „ 
ou de uns trocados para dormir em alguma hospedaria, já que houvej 
tempos em que não tinha sequer moradia.
A maior poeta do expressionismo e uma das melhores na história 
da literatura de seu país, Else Lasker-Schüler assina 
dedica praticamente a um só tema: aos movimentos 
mento dele decorrente, já qt 
marcadamente autobiográfica,
poemas em que se 
do amor e ao sofri-i p- 
jue era movida por paixões. Sua poesia, 
i, pouco ortodoxa, espontânea e sem limi-
20. ld., ibid., nota 5, p. 30.
31
30
L_
Tua alma que tanto amo 
Enreda-se em meu tapete tibetano.
Doce filho de lama em trono de folhas de almíscar 
Quanto tempo tua boca beijará a minha
E a face outra face em tempos coloridos a piscar?™
tapete 
s obras
à tarde soam as florestas outonais
De armas mortíferas, as planícies douradas
E lagos azuis, por cima o sol
Mais sombrio rola; a noite envolve
Guerreiros em agonia, o lamento selvagem 
De suas bocas dilaceradas.
Mas silenciosas reúnem-se no fundo dos prados 
Nuvens vermelhas, onde habita um deus irado, 
O sangue vertido, frieza lunar;
Todos os caminhos desembocam em negra putrefação.
A guerra - e aqui se se refere à Primeira Guerra Mundial - parece 
ter sido a experiência mais forte já vivenciada por aquela geração de 
jovens que protestava contra os valores morais da família, lutava para 
manter-se à margem de uma sociedade que repudiava, escrevia como 
forma de expiação e muitas vezes se drogava para escrever. Alguns 
deles partiram entusiasmados para o front-, vários tombaram em batalha, 
como Stramm, Stadler, Lichtenstein (para citar os presentes na antolo­
gia); outros abraçaram o pacifismo ao voltar de lá. Mas, se a principio a 
guerra funcionava como metáfora para o surgimento do novo, como 
para Georg Heym (“Se pelo menos alguém iniciasse uma guerra, nem 
precisaria ser justa. Essa paz é tão estagnante”20, em 1910), que morreu 
antes do início da guerra, para outros esta é um acontecimento concre­
to, que leva à estupefação e/ou à ação.
Georg Trakl foi um poeta que passou ao largo do burburinho expres- 
sionista. Morando em Viena, estava longe do epicentro, Berlim. Sua 
poesia não é programática, revolucionária ou engajada; é antes uma 
poesia de lamento, elegíaca. Trakl foi convocado para servir na guerra, 
farmacêutico que era (a profissão era a sua fonte mais fácil na busca aos 
entorpercentes). Depois de uma cruel batalha em Grodek, na Polônia, 
teve de cuidar de dezenas de feridos que sabia sem chances. Pouco 
antes de morrer de uma overdose de cocaína, logo depois da batalha 
em 1914, o poeta transformou a mais terrível experiência de sua vida em 
metáforas inteiramente impessoais e, ao mesmo tempo, no poema mais 
completo já feito por um expressionista motivado por aquela guerra:
Raio em raio, apaixonadas cores, 
Estrelas que no céu namoram em calores. 
Nossos pés jazem sobre a preciosidade 
De um mundo-teia que nos invade.
tes formais, é melódica a ponto de conferir suavidade à lingua alemã. 
Sua criatividade desenfreada permitia-lhe criar rimas pouco usuais e 
ricas, além de não encontrar limites para a formação de novas palavras 
em sua língua (chegando, com elas, a enlouquecer qualquer tradutor 
que ouse transpô-la para outra).
O leitor notará que a obra poética de Lasker-Schüler se diferencia 
muito da de seus contemporâneos - basta comparar o seu “Fim do 
mundo” (p. 134-135) ao de Hoddis (p. 118-119). Eram, afinal, mundos 
internos muitos díspares, mas unia-os a liberdade de criação e a postura 
rebelde diante de um modelo social com o qual não concordavam. Toda 
■ a sua criatividade poética pode ser reconhecida em “Um velho t 
tibetano”, de 1911 - para Viktor Zmegaí, “uma das mais perfeitas 
da lírica alemã”18:
18. Id., ibid., nota 1, p. 288.
19. No original: “Deine Seele, die die meine liebet/Ist verwirkt mit ihr im Teppichtibet.// 
Strahl in Strahl, verliebte Farben/Sterne, die sich himmellang umwarbeny/Unsere 
FüBe ruhen auf der Kostbarkeit/Maschentausendabertausendweit.//SüBer Lamasohn 
auf Moschuspflanzenthron/Wie lange küBt dein Mund den meinen wohl/Und Wang 
die Wange buntgeknüpfte Zeiten schon?" (em Icb suche allerlanden eine Stadt, de 
Else Lasker-Schüler. Leipzig: Reclam, 1998, p. 39).
Else Lasker-Schüler foi um dos poucos expoentes do expressionismo 
que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial. De origem judaica (como 
muitos deles), ela foi obrigada a exilar-se já em 1933, passando pela 
Suíça, Egito e Palestina,falecendo em Jerusalém, em 1945.
22. Id., ibid., nota 5, p. 73.
32 33
k
Sob os ramos dourados da noite e das estrelas 
Oscila a sombra da irmã pelo mudo bosque. 
Para saudar os espíritos dos heróis, as cabeças que sangram; 
E baixinho soam nos juncos as flautas escuras do outono. 
Oh, tão orgulhoso luto! Altares de bronze!
Hoje uma dor violenta alimenta a chama ardente do espírito: 
Os netos que ainda não nasceram.2'
estava sendo confirmada, pois de novo esvanecia uma arte “doente do 
tempo que a traiu”, e não era importante saber se a culpa era da arte ou 
do tempo. O artigo de Goll tem o tom de uma homenagem póstuma:
>etas da geração expres­
so movimento. A grande
A presente antologia reúne dezesseis poet: 
que pretendo serem representativos do 
dos poemas aqui incluídos foi escrita entre 1910 e 1918, período 
poesia expressionista. Se deixei de incluir algum nome impor- 
jela época, foi porque não me senti capaz de transpor para o 
achando que eles perderíam o seu poder poé-
Reivindicação. Manifesto. Apelo. Atuação. Súplica. Êxtase. 
O homem grita. (...) Quem não participou? Todos participaram. 
(...) Nenhum expressionista foi reacionário. Nenhum deixou de 
ser contra a guerra. Nenhum que não acreditasse em fraternidade 
e comunhão. (....') Expressionismo foi uma bela, boa, grande cau­
sa. (...) Mas o resultado é, infelizmente, e sem culpa dos 
expressionistas, a república alemã em 1920. (...) O expressionista 
escancara a boca e simplesmentefecba-a em seguida22
21. No original: “Am Abend tõnen die herbstlichen Wàlder/Von tõdlichen Waffen, die 
goldnen Ebenen/Und blauen Seen, darüber die Sonne/Düstrer hinrollt; umfSngt die 
Nacht/Sterbende Krieger, die wilde Klage/Ihrer zerbrochenen Münder./Doch stille 
sammelt im Weidengrund/Rotes Gewõlk, darin ein zürnender Gott wohnt,/Das 
vergoBne Blut sich, mondne Kühle/Alle StraBen rnünden in schwarze Verwesung./ 
Unter goldnem Gezweig der Nacht und Sternen/Es schwankt der Schwester Schatten 
durch den schweigenden Hain,/Zu grüBen die Geister des Helden, die blutenden 
Hãupterj/Und leise tõnen im Rohr die dunkeln Flõten des Herbstes./O stolzere Trauer! 
ihr ehernen Altâre/Die heiBe Flamme des Geistes nãhrt heute ein gewaltiger Schmerz/ 
Die ungebornen Enkel." (Id., ibid., nota 17, p. 78).
“Grodek” foi o último poema escrito por Trakl. Mas havia ainda os 
devastadores anos de guerra, durante os quais alguns expressionistas 
que não cumpriram o serviço militar ou não tombaram em campos de 
batalha preferiram seguir para o exílio. Zurique, assim, mais parecia um 
prolongamento da efervescência cultural que antes imperava em Berlim, 
Munique ou Leipzig.
Foi em Zurique que se refugiou a facção politicamente ativa da 
geração expressionista (Rubiner, Schickele, Werfel, entre outros), além 
de exilados como Lênin e Joyce. A movimentada vida noturna da cidade 
possibilitou a abertura de cafés famosos e do Cabaret Voltaire, onde 
nasceu o dadaísmo.
O fim da guerra significou também o declínio gradual do movi­
mento expressionista. Quando Menschheitsdãmmerung foi publicada, e 
a despeito de seu êxito editorial, muitos poetas já haviam morrido, se 
exilado ou começavam a estruturar uma carreira literária mais autôno­
ma, já que em dez anos amadurecida. Se até 1925 ainda havia obras fiéis 
à tradição do movimento, então só existiam justamente por isso: por 
fidelidade a idéias que, se antes eram inovação, passaram a ser conven­
ção. É sintomática a publicação de um artigo de Iwan Goll com o título 
“Morre o expressionismo”. Para Goll, a morte do expressionismo só
sionista 
maioria 
áureo da 
tante àquela época, foi porque não me senti capa 
português os seus versos, achando que eles perder 
tico, ou porque uma ou outra obra, significativa naquele tempo, hoje me 
parece datada. Ao contrário de outras antologias expressionistas, que 
preferencialmente ordenam os poemas por temas, optei por apresentá- 
los em ordem alfabética de (sobre)nome de autores.
Neste sentido, é uma feliz coincidência que justamente o poema 
“Preparação” (“Vorbereitung”), de Johannes R. Becher, esta seleção ex­
pressionista. Trata-se de um dos mais conhecidos poemas programáticos 
daquele movimento literário (conseqüentemente também idealista, de 
crença em um mundo novo), e ao mesmo tempo uma bela representa­
ção estilística dos recursos então correntes, como a alternância entre 
versos curtos e longos, a ausência de rima e a presença de verbos e 
substantivos expressivos, assim como de interjeições. “Preparação” é, 
portanto, uma boa introdução a um movimento literário que se caracte­
rizava sobretudo pela sua juventude.
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Georce Ghosz 
Die Schajfenden 
Ano II, pasta 4, 1919
I
a
Jakob van Hoddis
câmara de gás
117
Nascido em 1887 como Hans Davidsohn, van Hoddis 
(uma transformação anagramática de seu sobrenome) es­
tudou arouitetura, grego e filosofia em várias cidades da 
Alemanha. Em 1909 foi co-fundador do "Novo Clube", 
uma reunião de jovens escritores cujos desejos inovadores 
no âmbito da literatura e da arte já começavam a caracteri­
zar o movimento expressionista. "Fim do mundo", publi­
cado pela primeira vez em 191 I, é um dos mais famosos e 
programáticos poemas do expressionismo. A partir de 1912 
van Hoddis é submetido a várias internações voluntárias e 
involuntárias em clínicas psiquiátricas, até ser deportado 
em 1942 de uma casa de saúde, para desaparecer por 
definitivo, provavelmente eliminado numa câ-"~ 
de um campo de concentração nazista.
JuobvmHoook118/119
DerSturm ist da, die wilden Meere bupfen 
An Land, um dicke Dãmme zu zerdrücken. 
Die meisten Menscben baben einen Scbnupfen. 
Die Eisenbahnen fallen von den Brücken.
Dem Bürger fliegt vom spitzen Kopf der Hui, 
In allen Lüften hallt es wie Geschrei, 
Dacbdecker stürzen ab und gebn entzwei 
Und an den Küsten - liest man - steigt die Flui.
Fim do mundo 
(1911)
Weltende
(1911)
O chapéu voa da cabeça do cidadão, 
Em todos os ares retumba-se gritaria. 
Caem os telhadores e se despedaçam 
E nas costas - lê-se - sobe a maré.
A tempestade chegou, saltam à terra
Mares selvagens que esmagam largos diques.
A maioria das pessoas tem coriza.
Os trens precipitam-se das pontes.
Ludwig Rubiner
155
Ludwig Rubiner, nascido em 1881, origina-se de uma 
família judia da Galícia. Em Berlim, estudou música, histó­
ria da arte, filosofia e germanística. Era casado com a russa 
Frida Ichak. Ativo poeta expressionista, é autor dos famo­
sos textos “O poeta interfere na política" e "Pintores cons­
tróem barricadas", verdadeiros manifestos do movimento 
publicados na Aktion. Em 1915 fugiu para a Suíça, mas 
em 1919 já trabalhava para a editora Gustav Kiepenheuer. 
Morreu em 1920 em Berlim, vítima de uma pneumonia.
bLudwig Rubiner156/157
Im heiJSen Rotsommer, über dem staubschãumenden Dreben der 
rollenden Erde, unter bockenden Bauern, stumpfen Soldaten, 
beim rasselnden Drãngen der runden Stãdte
Sprang derMenscb in die Hôb.
Oschwebende Sáule, belleSãulen derBeine und Arme, feste strab- 
lende Sãule des Leibs, leucbtende Kugel des Kopfes!
Erschwebte still, sein Atemzug bestrablte die treibende Erde.
Aus seinem runden Auge ging die Sonne beraus und berein. Er 
schloJS die gebogenen Líder, der Mond zog auf und unter. Der 
leise Scbwung seinerHãnde warf wie eine blitzende Peitscben- 
scbnur den Kreis der Sterne.
Um die kleine Erde floJS der Lãrm so still wie die Nãsse vor, 
Veilchenbünden unter der Glasglocke.
Die tórichte Erde zitterte in ibrem blinden Lauf.
Der Mensch
(ca. 1916)
0 Homem
(ca. 1916)
No quente verão rubro, sobre o girar da poeira espumante da 
Terra que rola, entre camponeses acocorados, apáticos solda­
dos, no empurra-empurra ruidoso das cidades redondas,
O Homem saltou às alturas.
Ah, coluna suspensa, claras colunas das pernas e braços, segura 
e radiante coluna do corpo, esfera brilhante da cabeça!
Ele pairava quieto, sua respiração irradiava a Terra em movi­
mento.
De seu olho redondo o sol saía e entrava. Elefechou as pálpe­
bras arqueadas, a lua subia e baixava. O leve impulso de suas 
mãos lançou, como um rápido golpe de chicote, o círculo das 
estrelas.
Em torno da pequena Terra o ruído fluiu tão quieto quanto a 
umidade de feixes de violetas sob a campânula.
A insensata Terra tremeu em seu curso cego.
DerMenscb lãchelte wiefeurige glãserne Hóblen durcb die Welt, 
DerHimmel scbofi im Kometenscbwung durcb ibn, Mensch, feu- 
rig durcbscbeinender!
In ihm siedelte auf und nieder das Denken, glübende Kugeln.
Das Denken floJS in brennendem Schaum um ibn,
Das lobende Denken zuckte durcb ihn,
Scbimmemder Puls des Himmels, Mensch!
O Blut Gottes, flammendes getriebnes Riesenmeer im bellen Kri- 
stall.
Mensch, blankes Rohr: Weltkugeln, brennende Riesenaugen 
scbwimmen wie kleine hitzende Spiegel durch ihn,
Mensch, seine Õffnungen sind schlürfende Münder, er scbluckt 
und speit die blauen, berüberscblagenden Wellen des heiJSen 
Himmels.
O Homem sorriu como cavernas de vidro e fogo através do 
mundo,
O céu disparou em risca de cometas através dele, Homem, arde 
transluzente!
Nele borbulhava o pensamento, esferas em brasa.
O pensamento fluiu em espuma ardente ao seu redor,
O chamejante pensamento palpitava através dele,
Cintilante pulso do céu, Homem!
Ah, sangue de Deus, flamejante e guiado mar gigante em claro 
cristal.
Homem, brilhante junco: esferas universais, ardentes olhos gi­
gantes nadam em brasa através dele, como pequenos espelhos.
Homem» suas frestas são bocas sorventes, ele engole e cospe as 
ondas azuis e altas do céu quente.
158/159 ILiiowk Rubiner
Er bebt die lichten Sãulen des Leibs: er wirft um sich wildes Aus- 
scbwirren von runden Horizonten hell wie die Kreise von Schnee- 
flocken!
Hitzende Dreiecke schiefSen aus seinem Kopf um die Sterne des 
Himmels,
Er schleudert die mácbtigen verscblungenen gõttlicben Kurven 
umher in der Welt, sie kehren zu ibm zurück, wie dem dunklen 
Krieger, der den Bumerang scbnellt.
DerMenscb liegt auf dem strablenden Boden des Himmels,
Sein Atemzug stõjSt die Erde sanft wie eine kleine Glaskugel auf 
dem schimmernden Springbrunnen.
O weiJS scheinende Sãulen, durcb die das Denken im Blutfunkeln 
auf und nieder rinnt.
Er drebt den flammenden Kopf und malt um sich die abgesand- 
ten, die sinkend binglübenden Linien auf scbwarze Nacht:
Kugeln dunstleucbtend brecben gekrümmt auf wie Blumenblãtter, 
zackige Ebenen im Feuerschein rollen zu schrãgen Kegeln scbim- 
memd ein, spitze Pyramidennadeln steigen aus gelben Funken 
wie Sonnenlichter.
Ele alça as claras colunas do corpo: joga em torno de si um 
selvagem zunido de horizontes redondos claros, como os cír­
culos de flocos de neve!
Relampejantes triângulos disparam de sua cabeça ao redor das 
estrelas do céu,
Ele arremessa as poderosas, engolidas, divinas curvas pelo mun­
do, elas voltam para ele como para o obscuro guerreiro que 
lança o bumerangue.
Em voadoras redes de luz ardendo e apagando como pulsação, 
paira o Homem,
Ele apaga e acende, quando através dele corre o pensamento, 
Ele pesa sobre seu corpo irradiante o impulso, que retorna.
O Homem em glória irradiante levanta da noite seus membros 
de tocha e derrama brancas suas mãos sobre a Terra.
Os números claros, ah, riscas brilhantes como metal fundido.
In fliegenden Leucbtnetzen aufglübend und lôscbend wie Puls- 
schlag scbwebt der Menscb,
Er lõscbt und zündet, wenn das Denken durcb ibn rinnt,
Er wiegt auf seinen strablenden Leib den Scbwung, der wieder- 
kebrt.
O Homem repousa no chão radiante do céu,
Sua respiração empurra suavemente a Terra como uma pequena 
esfera de vidro sobre a cintilante fonte.
Ah, colunas de brilho branco, pelas quais o pensamento corre 
acima e abaixo no cintilar do sangue.
Ele gira a cabeça flamejante e pinta em torno de si as enviadas 
linhas, descendo ardentes sobre noite negra:
Irradiando vapor, esferas irrompem arqueadas como folhas de 
flores, planícies denteadas no brilho do fogo enrolam em co­
nes inclinados, pontiagudas agulhas de pirâmides descem de 
faíscas amarelas como luzes do sol.
Der Menscb in Strahlenglorie hebt aus der Nacht seine Fackel- 
glieder und gieJSt seine Hãnde weiJS über die Erde aus,
Die hellen Zahlen, o sprühende Streifen wie gescbmolznes Metall.
160/161 Ludwig Rubinir
Aber wenn es die heiJSe Erde bestromt (sie wõlbt sicb gebãumt), 
Schwirrt es nicht spàter zurück? dünn und verstreut binauf, be- 
schwert mit Erdraum:
Tiergeblôke. Duft von den grünen Bãumen, bunt auftanzender 
Blumenstaub, Sonnenfarben im Regenfall. Lange Tone Musik.
Urros de animais. Odor das árvores verdes, colorido e dançante 
pólen, cores do sol na chuva. Longas notas musicais.
Mas quando este espalha a terra quente (ela se abaula empínada?, 
Não zunirá mais tarde? magro e espalhado para cima, carregado 
de terra:
a rua!
lüOWK RuBINEt
162/163
Denke
(ca. 1916)
Pense
(ca. 1916)
Die Nacht im weiJSen Gefàngnis ist mondperl und boch, 
Glanzbraune Gerüste kreuzen vor derLuke in die Zukunft, 
Der Führer liegt auf der wulstigen Pritscbe,
Ein Spitzelauge baarig scbmal witzte durch das Gucklocb der
[glatten Eisentür.
Er liegt ganz still, daJS das Blut durch die graden GliederflieJSt 
[und zurückscbieJSt,
Der Turm braun bewacbsen des Haupts wird auf und berab 
[bestiegen eilends von Wacben.
Tiefunten der Wassergraben des Munds liegt in Dürre.
DrauJSen warten die dunklen bewegten Felderauf den Feuerschein. 
OMund, bald schwimmen bewajfnete Haufen wie schwarze Wellen 
[hervor,
Braunes Haupt, du schleuderst sie krachend weit ins Land, 
O Schein des Auges, der das Ziel im Brandfeuer trifft. 
O Kuppel, darin die neuen Hãuser der Erde scbweben, 
flach ineinandergehüllt, zabllos, und Bildsãulen, Wãlder, Spracben, 
Du kristallenes Haupt!
Liegst nun schweigend im weiJSen Würfel der Zelle auf nãchtigem 
[Pritscbenrand, 
Die Finger scbmal zu den Seiten wie morgen im Grab.
Aber dein Pulsschlag klopft schon sacbt durch die Mauerrõhren
[derBurg,
A noite na prisão branca é lua perolada e alta,
Esqueletos de marrom brilhante cruzam diante da fresta rumo ao 
[futuro,
Die Wãrterflüstem verboten den Gefangenen zu.
Dein Bruderauge kreist scbauend wie bewegter Stein durch die 
[wacbenden Zellen hin.
Denke du durch alie Gefangenenhirne, hinaus zu den Wacben, 
[über die Hôfe, hinaus in die StraJSen!
Der Stein über dir aufgetrieben, schwillt.
Dein Haar ist die Plattform der schlaflosen Wacben,
O chefe está estendido sobre o grosso catre, 
Um olho espião escandalosamente estreito espreita pelo postigo 
[da lisa porta de ferro.
Deita-se tão quieto que o sangue escorre pelos órgãos retos e 
[rebate,
A torre da cabeça coberta de marrom é apressadamente subida e 
[descida por sentinelas.
Bem embaixo dos fossos da boca há seca.
Lá fora esperam os campos escuros pelo brilho do fogo. 
Ó boca, logo emergirão bandos armados como ondas pretas, 
Cabeça marrom, você as arremessa ruidosamente para a costa, 
Ó brilho dos olhos, que encontra a meta no ardor do fogo. 
Ó cúpulas, onde as novas casas da terra estão suspensas, 
encobertas superficialmente uma na outra, inumeráveis, e estátuas, 
[florestas, línguas,
Você, cabeça cristalina!
Pousa silenciosa no quadrado branco da cela na beira noturna do 
[catre,
Os dedos timidamente ao lado como amanhã no túmulo.
Mas seu pulsar já bate lento pela tubulação da parede do castelo, 
Os guardas cochicham sem permissão aos prisioneiros.
Seu olho irmão circula pelas celas vigiadas como pedra em 
[movimento.
Pense você através de todos os cérebros prisioneiros, para 
[fora até os guardas, os pátios, para fora até a rua!
A pedra encontrada sobre você, incha.
Seu cabelo é a plataforma das guardas insones,
Führer, schlafe beute nacht nicbt. Nur diese Nacht denke nocb! Chefe, hoje à noite não durma. Pense ainda esta noite!
164/165 Ludwig Rubiher
Die Steinmauern in deinem Blut atmen auf und ab von deinem 
[Beben, 
Die Gitterfenster rund hocb um das Haas sind dunkel aus deinem
[Blick.
In Jabrtausenden ist die Burg dein Abbild weit in die Lãnder 
bin, dein Name scbwebtfeuergrojS auf dem Himmel, über 
deinem riesenhoben Steinkopf.
Os muros de pedra em seu sangue aspiram e expiram de seu
[tremor,
As grades da janela em volta do alto da casa estão escuras pelo seu 
[olhar.
Em milênios o castelo é a sua imagem espalhada pelos países 
afora, seu nome paira ardente no céu, sobre sua gigantesca 
cabeça de pedra.
Ernst Stadler
179
Nascido em 1883 em Colmar, Alsácia, Ernst Stadler 
estudou germanística, romanística e lingüística comparada 
em Estrasburgo e Munique. Fez pós-graduação em Oxford 
e foi professor em Estrasburgo. Entre 1910 e 1914 ensinou 
na Universidade de Bruxelas. Foi nomeado para a Universi­
dade de Toronto, mas acabou tendo de servir na guerra 
como oficial de artilharia. Tombou em 1914. Ernst Stadler 
foi um dos principais representantes da primeira fase da 
literatura expressionista.
lãos de veludo
EntsiSumu180/181
Der Spruch
(ca. 1914)
A sentença
(ca. 1914)
In einem alten Bucbe, stieJS ich auf ein Wort, 
Das traf mich wie ein Scblag und brennt durcb meine Tage fort: 
Und wenn ich mich an trübe Lust vergebe,
Schein, Lug und Spiel zu mir anstatt des Wesens bebe, 
Wenn ich gefãllig micb mit raschem Sinn belüge, 
Ais wãre Dunkles klar, ais wenn nicbt Leben tausend wild 
[verschlossene Tore trüge, 
Und Worte wiedersprecbe, deren Weite nie ich ausgefüblt, 
Und Dinge fasse, deren Sein mich niemals aufgewühlt, 
Wenn micb willkommner Traum mit Sammethánden streicht, 
Und Tag und Wirklichkeit von mir entweicht, 
Der Welt entfremdet, fremd dem tiefsten Ich, 
Dann steht das Wort mir auf: Mensch, werde wesentlich!
Num velho livro topei com uma palavra
Que me veio como um golpe e ainda arde em brasa: 
E quando me entrego a um turvo prazer
Preferindo brilho, mentira e jogo em vez do puro ser, 
Quando acho melhor com supérfluos me enganar,
Como se fosse claro o escuro, como se a vida não tivesse milhares 
[de portas a fechar,
E repito palavras cuja amplidão nunca senti, 
E toco em coisas cujo sentido jamais revolvi,
Quando um sonho bem-vindo me acaricia com mãos de veludo 
Aliviando-me do cotidiano sobretudo,
Longe do mundo, alheio ao mais profundo eu, 
Então se ergue em mim a palavra: Homem, procura o teu apogeu!
Ebist Swi
182 /183
Form und Riegel muJSten erst zerspringen, 
Welt durcb aufgeschlossene Rôhren dringen: 
Form ist Wollust, Friede, himmlisches Genügen, 
Docb micb reiJSt es, Ackerscbollen umzupflügen. 
Form will micb verschnüren und verengen, 
Docb ich will mein Sein in alie Weiten drãngen - 
Form ist klare Hárte ohn’Erbarmen, 
Docb micb treibt es zu den Dumpfen, zu den Armen, 
Und in grenzenlosem Michverscbenken 
Will micb Leben mitErfüllung trãnken.
Forma é volúpia 
(1914)
Form ist Wollust 
(1914)
plantação.
limitar
ilhar -
Primeiro foi preciso forma e ferrolho arrebentarem 
E por canos abertos no mundo entrarem: 
Forma é volúpia, paz, divina contenção, 
Mas me atrai cuidar de cada f' ' **' * 
A forma quer-me amarrar e limitar, 
Mas quero o meu ser pelos ares espal 
A forma é rigor claro e sem piedade, 
Mas sou levado aos pobres, por fraternidade, 
E em ilimitada eu-doação 
A vida me afoga em compensação.
Erksi Sumí184/185
O e
Nãc
Fohrt durch die Kõlner Rheinbrücke bei Nacht 
<1913)
Travessia noturna pela ponte do Reno em Colônia 
<1913)
Der Schnellzug tastet sich und stôfêt die Dunkelheit entlang. 
Kein Stern will vor. Die ganze Welt ist nur ein enger,
[ nacbtumschienter Minengang, 
Darein zuweilen Fôrderstellen blauen Licbtes jãbe Horizonte reiJSen: 
[Feuerkreis 
Von Kugellampen, Dãchem, Scbloten, dampfend, stromend..
[nur sekundenweis..
Und wieder alies schwarz. Ais fübren wir ins Eingeweid der Nacht 
[zur Schicht.
Nun taumeln Licbter ber.. verirrt, trostlos vereinsamt.. mebr.. 
[und.. sammeln sich.. und werden dicht.
GerippegrauerHãuserfronten liegen bloJS, im Zwielicbt bleichend, 
[tot- etwas muJS kommen.. o, icb fübl es schwer 
Im Him. Eine Beklemmung singt im Blut. Dann drôbnt derBoden 
[plôtzlich wie ein Meer: 
Wirjliegen, aufgehoben, kõniglich durch nacbtentrissne Luft, boch 
[übern Strom. O Biegung der Millionen Licbter, stumme Wacht, 
Vor deren blitzender Parade schwer die Wasser abwárts rollen.
Endloses Spalierzum Grufi gestellt bei Nacht! 
Wie Fackeln stürmend! Freudiges! Salut von Schiffen über blauer 
[See! Bestirntes Fest! 
Wimmelnd, mit hellen Augen hingedrãngt! Bis wo die Stadt mit 
[letzten Hãusern ihren Gast entláJSt. 
Und dann die langen Einsamkeiten. Nackte Ufer. Stille. Nacht.
[Besinnung. Einkehr. Kommunion. Und Glut und Drang 
Zum Letzten, Segnenden. Zum Zeugungsfest. Zur Wollust. Zum 
[Gebet. Zum Meer. Zum Untergang.
expresso arrisca e segue pela escuridão afora.
ào há estrela que apareça. O mundo inteiro não passa de uma 
[estreita galeria envolta pela noturna hora, 
Onde às vezes pontos de luz azul rasgam bruscos horizontes: bola 
[de fogo 
De lâmpadas, telhados, chaminés, fumegando, fluindo., por 
[alguns segundos, e logo 
Tudo volta a ser negro. Como se fôssemos pelas entranhas da 
[noite rumo à labutaçào.
Agora as luzes cambaleiam., confusas, aflitas, solitárias., mais., 
[e se reúnem., e se condensam.
À toa estão esqueletos de cinzentas fachadas de casas, 
[empalidecendo na penumbra, mortas - algo vai chegar., oh, 
[sinto-o pesadamente 
No cérebro. Uma angústia canta no sangue. Então o chão ressoa 
[como um mar, de repente:
Voamos, supremos, soberanos, no ar puxado pela noite, bem alto 
[sobre a corrente. Oh, curva de milhões de luzes, 
[silenciosa vigília, 
Diante de cuja parada as águas correm lentas. Parreira sem fim, 
[disposta à noite, qual andarilha!
Como temporais de fachos! Alegria! Saudação de navios sobre 
[mar azul! Festa estrelada! 
Formigando, afluindo com olhos azuis! Até onde a cidade deixa 
[seu hóspede, as casas em retirada. 
E depois as longas solidões. Margens nuas. Silêncio. Noite.
[Meditação. Recolhimento. Comunhão. Impulso e ardor 
Para o último, que abençoa. Para o rito de fecundação. Para a 
[volúpia. Para a oração. Para o mar. Para o torpor.
Karl Schmidt-Rottluff
Die Schaffenden
Ano II, pasta 3, 1919

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