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3 DIREITO PROCESSUAL PENAL SISTEMAS PROCESSUAIS, PRINCÍPIOS E APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL SUMÁRIO 1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 3 2. SISTEMAS PROCESSUAIS 5 2.1. Sistema inquisitivo/inquisitorial 5 2.2. Sistema acusatório 6 2.3. Sistema misto ou francês 7 3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL 9 3.1. Princípio da presunção de inocência 9 3.1.1. Regra probatória (in dubio pro reo) 12 3.1.2. Regra de tratamento 13 3.2. Princípio do contraditório 19 3.3 Princípio da ampla defesa 20 3.4. Princípio da publicidade 23 3.5. Princípio da verdade real / da busca da verdade 23 3.5.1. Busca da verdade consensual nos Juizados 24 3.6. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito 25 3.7. Princípio do juiz natural ou juiz legal 25 3.8. Princípio do nemo tenetur se detegere 26 3.9. Princípio da proporcionalidade 28 4. LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO 29 4.1. Situações em que a lei processual penal de um Estado pode ser aplicada fora dos seus limites territoriais (segundo a doutrina) 30 4.2. Imunidade diplomática 30 4.3. Prerrogativas constitucionais do Presidente da República e de outras autoridades, em relação aos crimes de responsabilidade 30 4.4. Conclusões 31 5. LEI PROCESSUAL NO TEMPO 32 5.1. Subdivisão das normas processuais 33 5.2. Atividade e extratividade 34 6. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL 35 6.1. Fontes materiais 35 6.2. Fontes formais 35 7. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO 38 8. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA 38 7. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO 38 8. BIBLIOGRAFIA 38 ATUALIZADO EM 18/08/2023[footnoteRef:1] [1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ] DIREITO PROCESSUAL PENAL[footnoteRef:2] [2: Tássia N. Neumann Hammes.] 1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS No momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal este direito de punir desce do plano abstrato e se transforma no jus puniendi in concreto. O Estado, que até então tinha um poder abstrato, genérico e impessoal, passa a ter a pretensão concreta de punir o suposto autor do fato delituoso. Surge a pretensão punitiva, que é o poder do Estado de exigir, de quem comete um delito, a submissão à sanção penal, tornando efetivo o ius puniendi. Entretanto, essa pretensão já nasce insatisfeita, pois o Direito Penal não é um direito de coação direta, é necessário um processo. Apesar de o Estado ser o titular do direito de punir, não se admite a imposição imediata da sanção sem que haja um processo regular, assegurando-se a aplicação da lei penal no caso concreto. A FUNÇÃO DO PROCESSO PENAL: é o instrumento do qual se vale o Estado para a imposição de sanção penal ao possível autor do fato delituoso. É preciso buscar um ponto de equilíbrio entre a exigência de se assegurar ao investigado e ao acusado a aplicação das garantias fundamentais do devido processo legal (por lidar com a liberdade de locomoção) e a necessidade de maior efetividade do sistema persecutório para a segurança da coletividade. #SELIGA: Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo. O fato de ser admitida transação penal, com a imediata aplicação de penas restritivas de direito ou multas, não quer dizer uma imposição direta de pena. Trata-se de uma forma distinta da tradicional para a resolução da causa, sendo admitida a solução consensual com supervisão jurisdicional – privilegiando-se a vontade das partes. #OLHAOGANCHO: Justiça Restaurativa. Trata-se de uma nova perspectiva, oposta à ideia de Justiça Retributiva (retribuir o mal com outro mal), fundada basicamente na restauração do mal provocado pela infração penal. A Justiça Restaurativa se materializa através de conjuntos heterogêneos de iniciativas que visam criar um espaço de comunicação entre a vítima e o ofensor, como forma de buscar a reparação do delito e seus efeitos psicológicos e materiais, ou seja, visa uma reparação simbólica que vai além da dimensão meramente pecuniária. Ex.: em crimes contra a honra, um pedido público de desculpas. Essa vertente parte da seguinte premissa: o crime e a contravenção penal não necessariamente lesam interesses do Estado, difusos e indisponíveis. Tutela-se com maior intensidade a figura da vítima, historicamente relegada a um segundo plano no Direito Penal, que sempre se direcionou ao criminoso e à punição como resposta à sociedade. Dessa forma, relativizam-se os interesses públicos e indisponíveis, advindos com a prática da infração penal, que de difusos passam a ser tratados como individuais, e, consequentemente, disponíveis. Essa nova ordem é também conhecida como Jurisdição Consensual (#DEOLHONOSINÔNIMO). A partir daí, o litígio – antes entre a justiça pública e o responsável pelo ilícito penal – passa a ter como protagonistas o ofensor e o ofendido, e a punição deixa de ser o objetivo imediato da atuação do Direito Penal. Surge a possibilidade de conciliação entre os envolvidos (autor, coautor ou partícipe e vítima), mitigando-se a persecução penal, uma vez que não é mais obrigatório o exercício da ação penal. Como resultado, a justiça restaurativa pode acarretar em perdão recíproco entre os envolvidos, bem como em reparação à vítima, em dinheiro ou até mesmo com prestação de serviços em geral, a ela ou à sociedade. Seu foco principal é a assistência à vítima. Ora, para legitimar a aplicação dos meios de Justiça Restaurativa, é necessária a observância de alguns requisitos, que têm como objetivo impedir arbitrariedades em desfavor da vítima ou do próprio ofensor: (i) consentimento válido das partes, que podem desistir a qualquer momento; (ii) o agressor deve reconhecer a prática do delito; (iii) pode ocorrer a qualquer momento (desde a investigação até o trânsito em julgado); (iv) confidencialidade; (v) o reconhecimento da responsabilidade penal pelo ofensor não pode ser usado contra ele em eventual processo criminal; vi) o descumprimento do acordo pelo ofensor não pode ser usado como argumento de acusação a fim de buscar uma punição mais severa em eventual ação criminal ajuizada. #OBS: A Justiça Restaurativa embasa-se nos chamados três “R”: restauração, responsabilização e reintegração (não são os três “R” do CiclosR3 J). #OBS: Os principais institutos reveladores da Justiça Restaurativa são: Composição dos danos civis, Transação penal, Suspensão condicional do processo, Suspensão condicional da pena, Possibilidade de fixação de indenização mínima pelo juiz na sentença, Lei 9.807/99: lei de proteção a vítimas e testemunhas, Medidas de Proteção da Lei Maria da Penha, Ampliação da participação do assistente de acusação. *(Atualizado em 24/04/20) O acordo de não persecução penal, incorporado ao Código de Processo Penal pela lei 13.964/2019 se adequa com os fins da justiça restaurativa, inaugurada pela lei 9.099/95 #OLHAOGANCHO: Privatização do Direito Penal. Segundo Rogério Sanches, a “privatização” do direito penal é a expressão utilizada por parte da doutrina para destacar o (atual e crescente) papel da vítima no âmbito criminal. O divisor de águas veio com a criação da Lei 9.099/95. #OLHAOGANCHO: Garantismo Penal e Sistema de Balanças de Contrapeso (Ferrajoli). Na doutrina garantista de Ferrajoli, são elencados alguns requisitos para que o sistema penal de determinado Estado seja considerado legítimo: i) a ação penal estatal deve ser justificada racionalmente; ii) o Direito Penal deve proteger o oprimido/vítima; iii) a intervenção penal só se legitima se o saldo entre a violência penal empregada (pena aplicada) e a violência quese quer evitar (delito praticado) gerar uma diminuição global da violência. #SÓMAISUMGANCHOPROMETO: Terceira via do Direito Penal. Na concepção de Claus Roxin, é a reparação de danos, legitimada pelo princípio da subsidiariedade do direito penal. Isso porque, para além da primeira e da segunda via do direito penal, ela é uma medida penal independente, que alia elementos do direito civil e cumpre com os fins da pena. Para Roxin, a reparação substituiria ou atenuaria a pena naqueles casos nos quais convenha, tão bem ou melhor, aos fins da pena e às necessidades da vítima. 2. SISTEMAS PROCESSUAIS 2.1. Sistema inquisitivo/inquisitorial Tem como característica principal o fato de as funções de acusar, defender e julgar se encontrarem concentradas em uma única pessoa, que assume assim as vestes de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor. No sistema inquisitivo, não existe a obrigatoriedade de uma acusação realizada por órgão público ou pelo ofendido, sendo lícito ao juiz desencadear o processo criminal ex ofício. O acusado, praticamente, não possui garantias no decorrer do processo criminal (ampla defesa, contraditório, devido processo legal e etc.), o que dá margem a excessos processuais. Exatamente por isso, em regra, o processo não é público, sendo o caráter sigiloso atribuído pelo juiz por meio de ato discricionário e à margem de fundamentação adequada. Em síntese, o sistema inquisitorial é um sistema rigoroso, secreto, que adota ilimitadamente a tortura como meio de atingir o esclarecimento dos fatos e de concretizar a finalidade do processo penal. O processo inquisitório é incompatível com os direitos e garantias individuais, violando os mais elementares princípios processuais penais. Sem a presença de um julgador equidistante das partes, não há falar em imparcialidade, do que resulta evidente violação à Constituição Federal e à própria Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH, art. 8º, n° 1). 2.2. Sistema acusatório Próprio dos regimes democráticos, o sistema acusatório se caracteriza pela distinção absoluta entre as funções de acusar, defender e julgar, que deverão ficar a cargo de pessoas distintas. Chama-se “acusatório” porque, à luz deste sistema, ninguém poderá ser chamado a juízo sem que haja uma acusação, por meio da qual o fato imputado seja narrado com todas as suas circunstâncias. Asseguram-se ao acusado o contraditório e a ampla defesa. A tramitação da ação penal ocorrerá em estrita observância do modelo (procedimento) consagrado em lei. Como regra, serão públicos os atos processuais, o que apenas é ressalvado em hipóteses expressamente previstas. Quanto à produção probatória, é de incumbência das partes, descabendo ao juiz substituir-se a elas no intuito de buscar a comprovação de fatos que, apesar de articulados, não tenham sido demonstrados pelos interessados. Considerando que as bases do sistema acusatório incluem a rigorosa observância das garantias constitucionais do acusado, este, como regra, responderá ao processo em liberdade, exceto na hipótese em que atos, fatos ou circunstâncias relacionadas ao seu comportamento e à natureza do delito imputado demonstrem a necessidade de sua segregação provisória. #SELIGA: CARACTERÍSTICAS: oralidade; publicidade; aplicação do princípio da presunção de inocência (o acusado permanece solto durante o processo); atividade probatória pertence às partes – o juiz não era dotado do poder de determinar, de ofício, a produção de provas (que devem ser fornecidas pelas partes – posição de passividade do juiz quanto às provas e reconstrução dos fatos), e seu poder instrutório era excepcional no decorrer do processo; separação rígida entre juiz e acusação; paridade entre acusação e defesa. *(Atualizado em 27/01/2023) #DEOLHONAJURIS #ATENÇÃO #PARQUET - A prerrogativa atribuída aos membros do Ministério Público de situar-se no mesmo plano e imediatamente à direita dos magistrados nas audiências e sessões de julgamento (Lei Complementar 75/1993, art. 18, I, “a”; e Lei 8.625/1993, art. 41, XI) não fere os princípios da isonomia, do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório (CF/1988, art. 5º, I, LIV e LV) nem compromete a necessária paridade de armas que deve existir entre a defesa e a acusação. ADI 4768/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento finalizado em 23.11.2022. (Info 1077 - STF) #FOCONATABELA: SISTEMA INQUISITORIAL SISTEMA ACUSATÓRIO Não há separação das funções de acusar, defender e julgar, que estão concentradas em uma única pessoa, que assume as vestes de um juiz inquisidor. Separação das funções de acusar, defender e julgar. Por consequência, se caracteriza pela presença das partes (actum trium personarum), contrapondo-se acusação e defesa em igualdade de condições, sobrepondo-se a ambas um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Como se admite o princípio da verdade real, o acusado não é sujeito de direitos, sendo tratado como mero objeto do processo, daí porque se admite inclusive a tortura como meio de se obter a verdade absoluta. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser produzida em fiel observância ao contraditório e à ampla defesa. Gestão da prova: o juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa acusatória e probatória, tendo liberdade para determinar de ofício a colheita de elementos informativos e de provas, seja no curso das investigações ou da instrução processual. Gestão de prova: recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir quando provocado, e desde que haja necessidade de investigação judicial. Durante a instrução processual, prevalece o entendimento de que o juiz tem certa iniciativa probatória, podendo determinar a produção de provas de ofício, desde que o faça de maneira subsidiária e devidamente fundamentada. A concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa acusatória dela decorrente são incompatíveis com a garantia da imparcialidade (CADH, art. 8o, §1o) e com o princípio do devido processo legal. A separação das funções e a iniciativa probatória residual restrita à fase judicial preservam a equidistância que o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatíveis com a garantia da imparcialidade e com o princípio do devido processo legal. *Antes da Lei nº 13.964/2019 *(Atualizado em 24/04/2020) Depois da Lei nº 13.964/2019 Sem artigo correspondente ‘Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.’ Obs1. “O processo penal terá estrutura acusatória”: Adoção expressa do Sistema Acusatório. Obs.2 “Vedadas iniciativa do juiz na fase de investigação”: Como fica o art. 156, I, CPP? 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; Antes da lei anticrime já se entendia que esse dispositivo era inconstitucional, mas agora pode se entender que ele foi tacitamente revogado por lei posterior que regulou inteiramente a matéria (13.964/2019). #OLHAOGANCHO: Qual a interpretação que se deve extrair do art. 156, do CPP e de todos os demais dispositivos que consagram ao juiz a faculdade da produção de provas ex officio, de forma a torná-los compatíveis com o sistema acusatório (interpretação conforme a Constituição Federal)? Pela abrangência de sua redação e pela amplitude da faculdade que confere ao magistrado, o art. 156, I, do CPP não pode comportar interpretação literal, requerendo, isto sim, uma exegese que o torne compatível tanto com o sistema acusatório preconizado na Lei Maior quanto com a verdade real que constitui o objetivo do processo penal. Seguindo essa linha de raciocínio, não se poderá vislumbrar no dispositivo um permissivo para que o juiz, em qualquer tempo e segundoo seu arbítrio próprio, realize atos de investigação sob o rótulo de produção antecipada de provas, devendo-se condicionar esta sua atuação à verificação de determinados pressupostos, quais sejam: a) Existência de investigação em andamento, desencadeada pelos órgãos competentes; b) Existência de um procedimento submetido à análise do Juiz, cuja solução dependa da prova a ser produzida de ofício, v.g., uma representação pela prisão preventiva ou temporária, um requerimento de busca e apreensão, um pedido de sequestro de bens etc.; c) Periculum in mora, demonstrado por meio da relevância e urgência da medida determinada pelo magistrado; d) Fumus boni iuris, externado por meio de indícios de autoria de uma infração penal ou de prova de sua materialidade; e) Excepcionalidade da atuação judicial, detectada a partir de critérios de necessidade, adequação e proporcionalidade da medida probatória, em conformidade com o que reza a parte final do art. 156, I, do CPP. Ausente qualquer uma dessas condições, a prova realizada ex officio pelo juiz antes do início da ação penal deve ser considerada ilícita em face da violação ao princípio acusatório, devendo ser desentranhada e, conforme o caso, inutilizada, nos termos do art. 157, caput e § 3.º do CPP. *(Atualizado em 24/04/2020): ATENÇÃO: estas interpretações podem ser superadas com a nova redação do Pacote anticrime, uma vez que vedou expressamente a iniciativa probatória do juiz na fase investigatória, e na parte final, a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. #OUTROGANCHO: A faculdade conferida ao juiz de requisitar à autoridade policial a instauração de inquérito para apurar fato que lhe pareça criminoso ofende o sistema acusatório? Não há violação do sistema acusatório, pois, ao requisitar o inquérito policial, está o magistrado apenas determinando ao delegado de polícia que investigue fato que, em tese, corresponde a uma conduta penalmente relevante, providência esta que não afasta, de modo nenhum, a sua isenção nem tampouco ofende o princípio acusatório. Confirmando essa linha de pensamento, tem-se compreendido reiteradamente que, nas hipóteses de foro privilegiado (ou por prerrogativa de função) perante os Tribunais Superiores, em que o inquérito é presidido por Ministro do STF ou do STJ, este mesmo Ministro não fica impedido de oficiar na ação penal que se originar da investigação realizada sob seu comando. Ora, se em tais casos não existe impedimento, é evidente que não há razão para que se reconheça ato de parcialidade na conduta de juiz que, tomando ciência da prática de crime de ação pública incondicionada, requisita ao delegado a devida apuração. 2.3. Sistema misto ou francês É chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas fases distintas: a) a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. b) A segunda fase é de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade. #OBS.: Quando o CPP entrou em vigor, havia o entendimento de que ele era misto, sendo o inquérito policial a primeira fase. Porém, com o advento da CF/88, que prevê de maneira expressa a separação das funções de acusar, defender e julgar, assegurado o contraditório e a ampla defesa, e o princípio da presunção de não culpabilidade, entendeu-se tratar de um sistema acusatório (apesar de não ser um sistema acusatório puro). 3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO PENAL 3.1. Princípio da presunção de inocência Também chamado de princípio do estado de inocência ou de princípio da não culpabilidade, trata-se de um desdobramento do princípio do devido processo legal, consagrando-se como um dos mais importantes alicerces do Estado de Direito. Visando, primordialmente, à tutela da liberdade pessoal, decorre da regra inscrita no art. 5º, LVII, da Constituição Federal, preconizando que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Ainda, o princípio da presunção de inocência deve ser considerado em três momentos distintos: a) Na instrução processual, como presunção legal relativa de não culpabilidade, invertendo-se o ônus da prova; b) Na avaliação da prova, impondo-se seja valorada em favor do acusado quando houver dúvidas sobre a existência de responsabilidade pelo fato imputado; c) No curso do processo penal, como parâmetro de tratamento do acusado, em especial no que concerne à análise quanto à necessidade ou não de sua segregação provisória. Assim, incumbe aos Poderes da República torná-lo efetivo, da seguinte forma: (i) o Legislativo, criando normas que visem a equilibrar o interesse do Estado na satisfação de sua pretensão punitiva com o direito à liberdade do acusado; (ii) o Executivo, sancionando essas normas; (iii) e o Judiciário, deixando de aplicar no caso concreto (controle difuso da constitucionalidade) ou afastando do mundo jurídico (controle concentrado da constitucionalidade) disposições que não se coadunem com a ordem constitucional vigente. #OLHAOGANCHO #CEREJADOBOLO: Na dosimetria da pena podem ser considerados registros criminais pertinentes a processos a que responde o acusado sem trânsito em julgado de decisão condenatória? A jurisprudência dos Tribunais Superiores é amplamente majoritária no sentido de que tais referências não podem ser valoradas contra o acusado, em homenagem ao princípio da presunção de inocência. Em razão disso, na esteira da Súmula 444 do STJ, tem-se decidido que os maus antecedentes referentes a inquéritos e processos em andamento, quando utilizados para a exacerbação da pena-base e do regime prisional, violam o princípio constitucional da presunção de inocência. Por maus antecedentes criminais, em virtude do que dispõe o art. 5.º, inciso LVII, da Constituição de República, entenda-se a condenação transitada em julgado, excluída aquela que configura reincidência. Decorrência deste entendimento, também, a impossibilidade de levar em conta, no momento da fixação da pena, inquéritos policiais, arquivados ou em andamento, procedimentos de apuração de ato infracional a que tenha respondido imputado quando menor de 18 anos e fatos em relação aos quais tenha sido aceito o benefício da transação penal no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (art. 76, §§ 4.º e 6.º, da Lei 9.099/1995). É constitucional a regressão de regime carcerário em consequência da prática de crime doloso, enquanto ainda não houver, quanto a esse delito, sentença condenatória transitada em julgado? O art. 118, I, da Lei 7.210/1984 (Lei de Execuções Penais) estabelece que a execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado praticar fato definido como crime doloso ou falta grave, não exigindo o trânsito em julgado de sentença condenatória para esse fim. Acerca da constitucionalidade desta regra em face da presunção de inocência, duas posições existem: - Primeira: O art. 118 da LEP viola frontalmente o princípio do estado de inocência, pois, diante de um fato apenas teoricamente criminoso (certeza mesmo deste caráter apenas haverá com o trânsito em julgado da decisão condenatória), determina a punição do apenado com regressão de seu regime para outro mais severo. Desconsidera o dispositivo, ainda, a possibilidade de ser o reeducando absolvido da imputação realizada no processo criminal que lhe venha a ser instaurado em razão desse novo fato, caso em que teria sido desarrazoada a regressão imposta. - Segunda: Não importa o art. 118, I, da Lei 7.210/1984 em violação ao princípio da presunção de inocência, na medida em que o apenado que cumpre pena no regime semiaberto ou aberto tem o dever de demonstrar sua responsabilidade e adaptação ao convívio social. Além disso, entendimento diverso reduziria a um nada a efetividade do processo de execução,ressaltando-se que o não cometimento de crime doloso ou falta grave é, por força da LEP, condição para a permanência do reeducando em regime menos rigoroso. Em termos de jurisprudência, tem prevalecido essa segunda linha de pensamento. Consideram os Tribunais Superiores que o princípio da presunção de inocência não é absoluto, impondo-se que seja mitigado em certas circunstâncias, como já ocorre em relação ao instituto da prisão preventiva, que permite seja o denunciado preso antes da condenação para assegurar a aplicação da lei penal. Pode o juiz ordenar a revogação do benefício da suspensão condicional do processo concedido ao acusado em face do art. 89 da Lei 9.099/1995 tão somente em razão da prática de outro crime, isto é, mesmo ausente sentença condenatória transitada em julgado quanto a esse novo delito? Estabelece o art. 89, § 3.º, da Lei 9.099/1995 que a suspensão condicional do processo será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime. Quanto à constitucionalidade desse dispositivo, já que autoriza a cassação de benefício legal independentemente de condenação definitiva do indivíduo, assim como no caso anterior, duas posições existem, uma no sentido de que implica violação ao princípio da presunção de inocência e outra, em sentido contrário, compreendendo que se o acusado vier a ser processado por outro crime, impõe-se a revogação da suspensão já que deixa ele de ser merecedor do benefício, que é norma excepcional. Prevalece este último entendimento. O conhecimento da apelação do réu em face da sentença condenatória pode ser condicionado a que se recolha à prisão? Dispunha o art. 595 do CPP que se o réu condenado fugisse depois de haver apelado, seria declarada deserta a apelação. Na esteira desse dispositivo, foi editada pelo STJ a Súmula 9, dispondo que “a exigência da prisão provisória, para apelar, não ofende a garantia constitucional da presunção de inocência”. Anos mais tarde, curvando-se ao entendimento da maioria, o STJ, amparado no postulado da presunção de inocência, revisou seu entendimento e publicou a Súmula 347, estabelecendo que “o conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão”. Tal previsão implicou o cancelamento tácito da referida Súmula 9, consolidando-se em termos definitivos com a revogação do art. 595 do CPP pela Lei 12.403/2011. *A execução provisória da pena infringe o princípio da presunção de inocência? No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua posição anterior e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. Principais argumentos: • O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com a Constituição em vigor. • O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação. • É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência pode obstruir as atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos investigados. • A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar suas decisões no clamor público. Desse princípio, derivam duas regras fundamentais: a regra probatória e a de tratamento. 3.1.1. Regra probatória (in dubio pro reo) A parte acusadora tem o ônus de demonstrar a culpabilidade do acusado além de qualquer dúvida razoável. Recai exclusivamente sobre a acusação o ônus da prova. #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: CRIMINAL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NO RECURSO ESPECIAL. ROUBO. EMPREGO DE ARMA. DESNECESSIDADE DE APREENSÃO E REALIZAÇÃO DE PERÍCIA. UTILIZAÇÃO DE OUTROS MEIOS DE PROVA. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE. EMBARGOS CONHECIDOS E REJEITADOS. I – Para a caracterização da majorante prevista no art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, prescinde-se da apreensão e realização de perícia em arma utilizada na prática do crime de roubo, se por outros meios de prova restar evidenciado o seu emprego. Precedentes do STF. II – Os depoimentos do condutor, da vítima, das testemunhas, bem como qualquer meio de captação de imagem, por exemplo, são suficientes para comprovar a utilização de arma na prática delituosa de roubo, sendo desnecessária a apreensão e a realização de perícia para a prova do seu potencial de lesividade e incidência da majorante. III - A exigência de apreensão e perícia da arma usada na prática do roubo para qualificá-lo constitui exigência que não deflui da lei resultando então em exigência ilegal posto ser a arma por si só -- desde que demonstrado por qualquer modo a utilização dela – instrumento capaz de qualificar o crime de roubo. IV – Cabe ao imputado demonstrar que a arma é desprovida de potencial lesivo, como na hipótese de utilização de arma de brinquedo, arma defeituosa ou arma incapaz de produzir lesão. V – Embargos conhecidos e rejeitados, por maioria. - Consectários: a) Incumbência do acusador de demonstrar a culpabilidade do acusado; b) Necessidade de comprovar a existência dos fatos imputados, não de demonstrar a inconsistência das desculpas do acusado; c) Tal comprovação deve ser feita legalmente (conforme o devido processo legal); d) Impossibilidade de se obrigar o acusado a colaborar na apuração dos fatos (decorrente do direito ao silêncio). e) Deve ser usado no momento da valoração das provas: na dúvida, a decisão tem que favorecer o imputado, pois o imputado não tem a obrigação de provar que não praticou delito. f) Só incide até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Assim, na revisão criminal, não há que se falar em in dubio pro reu, mas sim em in dubio contra reu. O ônus da prova recai única e exclusivamente sobre o postulante – por isso, na dúvida, o Tribunal deve julgar improcedente o pedido revisional. 3.1.2. Regra de tratamento A privação cautelar da liberdade, sempre qualificada pela excepcionalidade, somente se justifica em hipóteses estritas, ou seja, a regra é responder ao processo penal em liberdade; a exceção é estar preso ou sofrer medidas cautelares diversas da prisão. Assim, por força da regra de tratamento oriunda do princípio constitucional da não culpabilidade, o Poder Público está impedido de agir e de se comportar em relação ao suspeito, ao indiciado, ao denunciado ou ao acusado, como se estes já houvessem sido condenados, definitivamente, enquanto não houver sentença condenatória com trânsito em julgado (#CUIDADO com o tema execução provisória da pena!). *(Atualizado em 24/04/2020) ENTENDIMENTOATUAL #AJUDAMARCINHO[footnoteRef:3] #EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA: [3: Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2019/11/stf-decide-que-o-cumprimento-da-pena.html] Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena? 1ª Período Até fev/2009: SIM É possível a execuçãoprovisória da pena Até fevereiro de 2009, o STF entendia que era possível a execução provisória da pena. Desse modo, se o réu estivesse condenado e interpusesse recurso especial ou recurso extraordinário, teria que iniciar o cumprimento provisório da pena enquanto aguardava o julgamento. Os recursos extraordinário e especial são recebidos no efeito devolutivo. Assim, exauridas estão as instâncias ordinárias criminais é possível que o órgão julgador de segundo grau expeça mandado de prisão contra o réu (STF. Plenário. HC 68726, Rel. Min. Néri da Silveira, julgado em 28/06/1991). 2ª Período De fev/2009 a fev/2016: NÃO NÃO é possível a execução provisória da pena No dia 05/02/2009, o STF, ao julgar o HC 84078 (Rel. Min. Eros Grau), mudou de posição e passou a entender que não era possível a execução provisória da pena. Obs: o condenado poderia até aguardar o julgamento do REsp ou do RE preso, mas desde que estivessem previstos os pressupostos necessários para a prisão preventiva (art. 312 do CPP). Dessa forma, ele poderia ficar preso, mas cautelarmente (preventivamente) e não como execução provisória da pena. Principais argumentos: • A prisão antes do trânsito em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar. • A execução da sentença após o julgamento do recurso de apelação significa restrição do direito de defesa. • A antecipação da execução penal é incompatível com o texto da Constituição. Esse entendimento durou até fevereiro de 2016. 3º Período: De fev/2016 a nov/2019: SIM É possível a execução provisória da pena No dia 17/02/2016, o STF, ao julgar o HC 126292 (Rel. Min. Teori Zavascki), retornou para a sua primeira posição e voltou a dizer que era possível a execução provisória da pena. Principais argumentos: • É possível o início da execução da pena condenatória após a prolação de acórdão condenatório em 2º grau e isso não ofende o princípio constitucional da presunção da inocência. • O recurso especial e o recurso extraordinário não possuem efeito suspensivo (art. 637 do CPP). Isso significa que, mesmo a parte tendo interposto algum desses recursos, a decisão recorrida continua produzindo efeitos. Logo, é possível a execução provisória da decisão recorrida enquanto se aguarda o julgamento do recurso. • Até que seja prolatada a sentença penal, confirmada em 2º grau, deve-se presumir a inocência do réu. Mas, após esse momento, exaure-se o princípio da não culpabilidade, até porque os recursos cabíveis da decisão de segundo grau ao STJ ou STF não se prestam a discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito. • É possível o estabelecimento de determinados limites ao princípio da presunção de não culpabilidade. Assim, a presunção da inocência não impede que, mesmo antes do trânsito em julgado, o acórdão condenatório produza efeitos contra o acusado. • A execução da pena na pendência de recursos de natureza extraordinária não compromete o núcleo essencial do pressuposto da não culpabilidade, desde que o acusado tenha sido tratado como inocente no curso de todo o processo ordinário criminal, observados os direitos e as garantias a ele inerentes, bem como respeitadas as regras probatórias e o modelo acusatório atual. • É necessário equilibrar o princípio da presunção de inocência com a efetividade da função jurisdicional penal. Neste equilíbrio, deve-se atender não apenas os interesses dos acusados, como também da sociedade, diante da realidade do intrincado e complexo sistema de justiça criminal brasileiro. • “Em país nenhum do mundo, depois de observado o duplo grau de jurisdição, a execução de uma condenação fica suspensa aguardando referendo da Suprema Corte”. 4º Período: Entendimento atual: NÃO NÃO é possível a execução provisória da pena No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua segunda posição e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Assim, é proibida a execução provisória da pena. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena. Principais argumentos: • O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível com a Constituição em vigor. • O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de interpretação. • É infundada a interpretação de que a defesa do princípio da presunção de inocência pode obstruir as atividades investigatórias e persecutórias do Estado. A repressão a crimes não pode desrespeitar e transgredir a ordem jurídica e os direitos e garantias fundamentais dos investigados. • A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário embasar suas decisões no clamor público. O que fez a Lei nº 13.964/2019? Alterou o art. 492 do CPP para dizer que, se o réu for condenado, pelo Tribunal do Júri, a uma pena superior a 15 anos de reclusão, será possível a execução provisória da pena. *LEI 13.964/2019: “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado.” *LEI 13.964/2019: Art. 492. (...) I – (...) e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos; (*) ATUALIZADO EM 19/01/2022: · A constitucionalidade deste dispositivo será analisada pelo STF no RE 1235340 (Tema 1068), já iniciado, mas ainda sem data para ser concluído considerando que houve pedido de vista. *#CUIDADO: Os réus que estavam presos por força da execução provisória da pena deverão ser soltos com a nova decisão STF? Deverá ser analisada a situação individual de cada um desses réus. Se eles estavam presos unicamente por força da execução provisória da pena, é provável que sejam soltos. Se eles estavam presos porque presentes os requisitos da prisão cautelar (art. 312 do CPP), a decisão do STF não altera a sua situação. Por isso, os Tribunais deverão analisar cada um dos casos. A nova decisão do STF é vinculante? SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a constitucionalidade do art. 283 do CPP: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. *LEI 13.964/2019: “Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado.” #OLHAOGANCHO: Também não é possível a execução da pena RESTRITIVA DE DIREITOS antes do trânsito em julgado da condenação. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.619.087-SC,Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em 14/6/2017 (Info 609). #OBS.: A vedação à execução provisória da pena, decorrente do princípio da presunção de não culpabilidade, não impede a antecipação cautelar dos benefícios da execução penal definitiva ao preso processual. Assim, na antecipação dos benefícios, seria possível a incidência de institutos como a progressão de regime e outros incidentes da execução – já que a LEP estende seus benefícios aos presos provisórios (Lei 7.210/84, art. 2o, § único). #SELIGANASÚMULA: SÚMULA 716, STF: Admite-se a progressão do regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. SÚMULA 717, STF: Não impede a progressão do regime de execução da pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão especial. *(Atualizado em 03/08/2022) #SELIGANAJURISPRUDÊNCIA: O art. 33, § 4º, DA LEI 11.343/06 leciona que as penas do crime de tráfico de drogas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas, nem integre organização criminosa. #É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o acusado ser investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em julgado? Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º, LIV (princípio da presunção de não culpabilidade). Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior (coisa julgada). STF. 1ª Turma. HC 166385/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). STF. 2ª Turma. RE 1.283.996 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/11/2020. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 676.516/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/10/2021. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1936058/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/09/2021.. Há quem entenda que esse princípio atua em duas dimensões: a) Interna ao processo: funciona como dever imposto, inicialmente, ao magistrado, no sentido de que o ônus da prova recai integralmente sobre a parte acusadora, devendo a dúvida favorecer o acusado. E as prisões cautelares devem ser excepcionais, comprovada a necessidade; b) Externa ao processo: proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado. Os princípios, a presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem funcionam como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do processo judicial. *(Atualizado em 24/04/2020) # Lei 13.869/19 Lei de abuso de autoridade, art. 13, I, II: Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a: I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei; # Lei 13.964/19 Pacote anticrime: Art. 3º-F. O juiz das garantias deverá assegurar o cumprimento das regras para o tratamento dos presos, impedindo o acordo ou ajuste de qualquer autoridade com órgãos da imprensa para explorar a imagem da pessoa submetida à prisão, sob pena de responsabilidade civil, administrativa e penal (abuso autoridade). Parágrafo único. Por meio de regulamento, as autoridades deverão disciplinar, em 180 (cento e oitenta) dias, o modo pelo qual as informações (IMAGEM NÃO) sobre a realização da prisão e a identidade do preso serão, de modo padronizado e respeitada a programação normativa aludida no caput deste artigo, transmitidas à imprensa, assegurados a efetividade da persecução penal, o direito à informação e a dignidade da pessoa submetida à prisão.” *(ATUALIZADO EM 18/08/2023) Formada maioria para reconhecer a CONSTITUCIONALIDADE da implementação obrigatória do chamado “JUIZ DAS GARANTIAS” no processo penal brasileiro (art. 3º-B do CPP). STF, ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305, maioria formada em 17/08/2023 3.2. Princípio do contraditório Art. 5o, LV, CF: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Trata-se do direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos e fatos havidos no curso do processo, podendo manifestar-se e produzir as provas necessárias antes de ser proferida a decisão jurisdicional. à Elementos do contraditório: a) Direito à informação: a parte adversa deve estar ciente da existência da demanda ou dos argumentos da parte contrária – meios de comunicação processuais (citação, intimação e notificação). b) Direito de participação: possibilidade de a parte oferecer reação, manifestação ou contrariedade à pretensão da parte contrária. c) Direito e obrigatoriedade de assistência técnica de um defensor: Art. 261, CPP: “nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado e julgado sem defensor”. #SELIGANASÚMULA: SÚMULA 707, STF: “Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”. #OBS.: Prevalece o entendimento, na jurisprudência e na doutrina, de que o contraditório é obrigatório apenas na fase do processo, e não na fase investigatória. Por isso, a palavra “prova” só pode ser usada para se referir aos elementos de convicção produzidos, em regra, no curso do processo judicial – que deve ser produzida com a participação do acusado e acusador, e sob a direta e constante supervisão do órgão julgador. à Contraditório para a prova (contraditório real): demanda que as partes atuem na própria formação do elemento de prova, na presença do órgão julgador e das partes. à Contraditório sobre a prova (contraditório diferido ou postergado): reconhecimento da atuação do contraditório após a formação da prova. A observância do contraditório é feita posteriormente, dando-se oportunidade ao acusado e ao seu defensor de, no curso do processo, contestar a providência cautelar, ou de combater a prova pericial feita no curso do inquérito. Ex.: interceptação telefônica judicialmente autorizada no curso das investigações. 3.3 Princípio da ampla defesa Art. 5o, LC, CF: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. O direito de defesa está ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa garante o contraditório e por ele se manifesta. Afinal, o exercício da ampla defesa só é possível em virtude de um dos elementos que compõem o contraditório: o direito à informação. Além disso, a ampla defesa se exprime por intermédio de seu segundo elemento: a reação. #SELIGA: Há entendimento doutrinário no sentido de que também é possível subdividir a ampla defesa sob dois aspectos: a) positivo: realiza-se na efetiva utilização dos instrumentos, dos meios e modos de produção, certificação, esclarecimento ou confrontação de elementos de prova que digam com a materialidade da infração criminal e com a autoria; b) negativo: consiste na não produção de elementos probatórios de elevado risco ou potencialidade danosa à defesa do réu. #NÃOCONFUNDA: o contraditório com a ampla defesa! Isso porque é possível violar-se o contraditório, sem que se lesione o direito de defesa. Não se pode esquecer que o princípio do contraditório não diz respeito apenas à defesa ou aos direitos do réu. O princípio deve aplicar-se em relação a ambas as partes, além de também ser observado pelo próprio juiz. Deixarde comunicar um determinado ato processual ao acusador, ou impedir-lhe a reação à determinada prova ou alegação da defesa, embora não represente violação do direito de defesa, certamente violará o princípio do contraditório. O contraditório manifesta-se em relação a ambas as partes, já a defesa diz respeito apenas ao réu. A concepção moderna da garantia da ampla defesa reclama, para a sua verificação, seja qual for o objeto do processo, a conjugação de três realidades procedimentais, genericamente consideradas, a saber: a) o direito à informação (nemo inauditus damnari potest): a garantia constitucional da ampla defesa envolve a necessidade de conhecimento, pelo réu, dos atos do processo, a fim de que possa exercer sua defesa. b) a bilateralidade da audiência (contraditoriedade) / direito de audiência: significa que as partes devem ser ouvidas pelo juiz, no sentido de participar da formação do seu convencimento, fornecendo-lhe suas razões, por meio da defesa de seus interesses. c) o direito à prova legalmente obtida ou produzida (comprovação da inculpabilidade) / direito de presença: trata-se da faculdade conferida às partes no sentido de produzir e trazer ao processo as provas que reputem necessárias à demonstração da verdade dos fatos que alegam. #DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STF: A sustentação oral do representante do Ministério Público que diverge do parecer juntado ao processo, com posterior ratificação, não viola a ampla defesa. STF. 1ª Turma. HC 140780/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 30/10/2018 (Info 922). à Defesa técnica: exercida por um profissional da advocacia, dotado de capacidade postulatória, seja ele advogado constituído, seja nomeado, seja defensor público. Para ser ampla, deve ser necessária, indeclinável, plena e efetiva. #OBS.: Não é possível a defesa técnica por estagiário, nem por advogado suspenso por ato disciplinar. Quando se tratarem de atos praticados por advogado que não estava legalmente habilitado a tanto, deve se reputar violado o direito à defesa plena, efetiva e real. Em julgado isolado, entretanto, a Turma do STF entendeu não haver nulidade em processo criminal no qual a defesa técnica foi exercida por advogado licenciado da OAB. à Direito de escolha do defensor: Na visão do STF, “essa liberdade de escolha traduz, no plano da persecutio criminis, específica projeção do postulado da amplitude de defesa proclamado pela Constituição. Cumpre ao magistrado processante, em não sendo possível ao defensor constituído assumir ou prosseguir o patrocínio da causa penal, ordenar a intimação do réu para que este, querendo, escolha outro advogado. Antes de realizada essa intimação – ou enquanto não exaurido o prazo nela assinalado – não é lícito ao juiz nomear defensor dativo sem expressa aquiescência do réu”. A constituição do defensor se dá, em regra, por instrumento de procuração. Mas o art. 266 do CPP faz menção à possibilidade de a constituição do defensor ser feita independentemente de mandato, caso o acusado indique seu advogado por ocasião do interrogatório – a nomeação diretamente no termo chama-se apud acta. Ademais, para que a defesa seja ampla e efetiva, deve-se deferir ao acusado e a seu defensor tempo hábil para sua preparação e exercício. Ainda, é possível que um mesmo advogado patrocine a defesa técnica de dois ou mais acusados, desde que não haja teses colidentes. à Autodefesa (material ou genérica): é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo. #DEOLHONASÚMULA: SÚMULA 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. SÚMULA 351, STF: É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da federação em que o juiz exerce a sua jurisdição. #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte: Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. O STF declarou que a expressão “para o interrogatório”, prevista no art. 260 do CPP, não foi recepcionada pela Constituição Federal. Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal conduta poderá ensejar: • a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade • a ilicitude das provas obtidas • a responsabilidade civil do Estado. Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não invalida) os interrogatórios que foram realizados até a data do julgamento, ainda que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para o referido ato processual. STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906). 3.4. Princípio da publicidade Garantia do acesso de todo e qualquer cidadão aos atos praticados no curso do processo. Busca assegurar a transparência da atividade jurisdicional, oportunizando sua fiscalização não só pelas partes, como por toda comunidade. Funciona como um pressuposto de validade não apenas dos atos processuais, mas também das próprias decisões tomadas pelo Poder Judiciário. É restrita ou interna, quando houver limitação à publicidade dos atos do processo. Nesse caso, alguns atos ou todos serão realizados somente perante as pessoas diretamente interessadas no feito e seus respectivos procuradores, ou somente perante estes – é o Segredo de Justiça. #IMPORTANTE: No caso de processo penal que tramita sob segredo de justiça em razão da qualidade da vítima (criança ou adolescente), o nome completo do acusado e a tipificação legal do delito podem constar entre os dados básicos do processo disponibilizados para consulta livre no sítio eletrônico do Tribunal, ainda que os crimes apurados se relacionem com pornografia infantil. Muito embora o delito de divulgação de pornografia infantil possa causar repulsa à sociedade, não constitui violação ao direito de intimidade do réu a indicação, no site da Justiça, do nome de acusado maior de idade e da tipificação do delito pelo qual responde em ação penal, ainda que o processo tramite sob segredo de justiça. STJ. 5ª Turma. RMS 49.920-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 2/8/2016 (Info 587). 3.5. Princípio da verdade real / da busca da verdade O princípio da verdade real, também conhecido princípio da verdade material ou da verdade substancial (art. 566 do CPP), significa que, no processo penal, devem ser realizadas as diligências necessárias e adotadas todas as providências cabíveis para tentar descobrir como os fatos realmente se passaram, de forma que o jus puniendi seja exercido com efetividade em relação àquele que praticou ou concorreu para a infração penal. A verdade absoluta coincide com os fatos ocorridos, é um ideal, porém inatingível. O que vai haver é uma aproximação, maior ou menor, da certeza dos fatos. Há de se buscar a maior exatidão na reconstituição do fato controverso, mas jamais a pretensão de uma verdade real, e sim uma aproximação da realidade, que tende a refletir ao máximo a verdade. Não obstante, frise-se que a procura da verdade real não pode implicar violação de direitos e garantias estabelecidos na legislação. Trata-se de uma busca sujeita a limites, mesmo porque não seria razoável que o Estado, para alcançar a Justiça, pudesse sobrepor-se à Constituição e às leis. São exemplos de exceções à verdade real: - A inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos (art. 5.º, LVI, da CF), o que abrange: Vedação às provas obtidas mediante violação da correspondência e das comunicações telegráficas (art. 5.º, XII, da CF); Proibição das provas realizadas por meio de violação da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas (art. 5.º, X, da CF); Ilicitude das provas obtidas por meio de violação do sigilo telefônico, quando realizada ao arrepio da Constituição e da Lei (art. 5.º, XII, da CF e Lei 9.296/1996); Inadmissibilidade dos dados trazidosao processo por meio de quebra de sigilo bancário realizada sem a observância dos requisitos legais; Inadmissibilidade das provas obtidas a partir de busca e apreensão domiciliar não autorizada pelo juiz (salvo hipóteses de flagrante, desastre e socorro, ou, em qualquer caso, havendo o consentimento do morador). - Descabimento da revisão criminal contra a sentença absolutória transitada em julgado, mesmo diante do surgimento de novas provas contra o réu; - Vedação ao testemunho das pessoas que tiverem conhecimento do fato em razão de sua profissão, função, ofício ou ministério, salvo se, desobrigadas, quiserem depor (art. 207 do CPP); - Possibilidade de transação penal, aplicando-se ao autor de infração de menor potencial ofensivo sanção não privativa da liberdade, independentemente de apuração quanto à sua efetiva responsabilidade pelo fato (art. 72 da Lei 9.099/1995). 3.5.1. Busca da verdade consensual nos Juizados O simples consenso entre as partes é capaz de influir diretamente na busca da verdade, tanto que esta pode ser colocada em segundo plano, a ponto de tornar-se prescindível ao resultado final do processo. 3.6. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito Art. 5o, LVI, CF: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. 3.7. Princípio do juiz natural ou juiz legal O princípio do juiz natural decorre do art. 5º, LIII, da Constituição Federal, ao dispor que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Tal princípio objetiva assegurar ao acusado o direito de ser submetido a processo e julgamento não apenas no juízo competente, como também por órgão do Poder Judiciário regularmente investido, imparcial e, sobretudo, previamente conhecido segundo regras objetivas de competência estabelecidas anteriormente à prática da infração penal. Em consequência, veda-se a criação de tribunais ou juízos de exceção (o que não se confunde com jurisdições especializadas, que constituem simples desdobramento da atividade jurisdicional), assim como a designação de magistrado para atuar, especificamente, em um determinado caso, por exemplo, em razão da condição da pessoa que ocupa o polo passivo da relação processual penal. à Regras de proteção: · Só podem exercer jurisdição, os órgãos instituídos pela CF; · Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato; · Entre os juízes pré-constituídos, vigora uma ordem taxativa de competência que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja. *(Atualizado em 12/02/2023) #DEOLHONAJURIS - Se o magistrado prolator da sentença estava designado pelo Programa CGJ-Apoia para atuar como cooperador na respectiva vara, não há abalo ao princípio da identidade física do juiz. O processo em questão foi redistribuído entre magistrados em razão do programa CGJ-APOIA, instituído com o objetivo de "viabilizar o julgamento dos feitos que integram o acervo excedente de processos acumulados da justiça de primeiro grau e de implantar boas práticas administrativas e medidas voltadas à organização, racionalização e uniformização dos procedimentos e métodos de trabalho das unidades de primeiro grau". Constatado que o Juiz sentenciante foi designado por Portaria do Tribunal criada para reduzir o congestionamento de processos judiciais e otimizar as atividades do primeiro grau, inexiste ilegalidade a ser reparada. Esta Corte é firme no entendimento de que "não há nulidade no processo pelo fato de outro magistrado ter proferido a sentença, haja vista que estava designado para atuar como cooperador na respectiva Vara, designado pelo Programa CGJ Apoia (Portaria GP n. 1870, de 21 de setembro de 2020, com data retroativa de 1º de agosto de 2020). O princípio da identidade física do juiz não é absoluto, podendo ser excepcionado em hipóteses como a dos autos, em que o magistrado que presidiu a instrução foi auxiliado por outro em esquema de colaboração na condução dos processos sob sua responsabilidade na Vara, não havendo falar-se em nulidade" (AgRg no HC 676.173/SC, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, DJe 11/3/2022). STJ, AgRg no HC 523.501-SC, Rel. Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 14/11/2022, DJe 18/11/2022 (Edição Especial n° 10). #OLHAOGANCHO: O princípio do promotor natural, assim como o do juiz natural, encontra-se previsto no art. 5.º, LIII, da Constituição Federal, ao estabelecer que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Em razão desse princípio, veda-se a designação de membro do Ministério Público para atuar em caso específico, quando isso implicar abstração das regras gerais de atribuições estabelecidas anteriormente à prática da infração penal. Nada impede, porém, que seja designado Promotor de Justiça para o exercício de atribuições genéricas, ou seja, aquelas que podem abranger, abstratamente, mais de uma hipótese concreta. Na verdade, a ofensa ao princípio do promotor natural ocorre nas hipóteses que presumem a figura do acusador de exceção, lesionando o exercício pleno e independente das atribuições do Ministério Público. Outro aspecto importante refere-se à sua abrangência. Trata-se, com efeito, de princípio relacionado ao processo criminal, não alcançando o inquérito. Por essa razão, eventuais diligências realizadas na fase das investigações policiais a partir de determinação (requisição) de promotor distinto daquele que seja quem deva atuar não implicam violação ao que dispõe o art. 5.º, LIII, da CF. E quanto à subscrição da denúncia por outros promotores, além do promotor da comarca? Considera o STF que inexiste ofensa ao art. 5.º, LIII, da CF, na medida em que, nestes casos, o que ocorre é a simples reunião de forças visando ao oferecimento da inicial37. Mas atenção: é indispensável que o promotor com atribuições previamente estabelecidas assine a peça, sob pena de se considerar nula ou até mesmo inexistente essa denúncia. #IMPORTANTE: Não viola o Princípio do Promotor Natural se o Promotor de Justiça que atua na vara criminal comum oferece denúncia contra o acusado na vara do Tribunal do Júri e o Promotor que funciona neste juízo especializado segue com a ação penal, participando dos atos do processo até a pronúncia. No caso concreto, em um primeiro momento, entendeu-se que a conduta não seria crime doloso contra a vida, razão pela qual os autos foram remetidos ao Promotor da vara comum. No entanto, mais para frente comprovou-se que, na verdade, tratava-se sim de crime doloso. Com isso, o Promotor que estava no exercício ofereceu a denúncia e remeteu a ação imediatamente ao Promotor do Júri, que poderia, a qualquer momento, não ratificá-la. Configurou-se uma ratificação implícita da denúncia. Não houve designação arbitrária ou quebra de autonomia. STF. 1ª Turma. HC 114093/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/10/2017 (Info 880). *(Atualizado em 24/04/2020) JUIZ DAS GARANTIAS[footnoteRef:4] [4: https://www.conjur.com.br/2019-dez-12/opiniao-alteracoes-processuais-penais-pacote-anticrime] JUIZ DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO Atuará na investigação preliminar e decidirá sobre atos a ela relacionados, como medidas cautelares, meios de investigação, etc. Atuará no processo penal, durante a instrução e julgamento, para produzir provas e julgar o mérito da acusação. Terá competência até o recebimento da denúncia (início do processo) e ficará impedido de nele atuar. *(ATUALIZADO EM 18/08/2023) Formada maioria para reconhecer a CONSTITUCIONALIDADE da implementação obrigatória do chamado “JUIZ DAS GARANTIAS” no processo penal brasileiro (art. 3º-B do CPP). STF, ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305, maioria formada em 17/08/2023 Não terá contato com os autos do inquérito policial, salvo atos irrepetíveis ou antecipados e meios de obtenção de prova. *#DESCONTAMINAÇÃO DO JULGADO O Pacote Anticrime acrescentou o seguinte dispositivo ao CPP: Art. 157, §5º: “O juiz que conhecerdo conteúdo da prova declarada inadmissível não poderá proferir a sentença ou acórdão (Incluído pela Lei n. 13.964/19).” O contato que o juiz possui com a prova ilícita acaba exercendo uma contaminação subjetiva do julgador. Assim sendo, o dispositivo visa a realizar essa “descontaminação”. ✓ Renato Brasileiro destaca que esse dispositivo pode gerar condutas tendentes a retirar determinados juízes da atuação de determinados processos. Uma pessoa de má-fé poderia “plantar uma prova ilícita” para excluir um juiz do caso e isso poderia ser uma violação do princípio do juiz natural. ✓ Por esse motivo, o §5º do art. 157 do CPP está suspenso: “Na condição de Relator das ADI’s 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305 (j. 22/01/2020), todas ajuizadas em face da Lei n. 13.964/19, o Min. Luiz Fux suspendeu sine die a eficácia, ad referendum do Plenário, da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível (art. 157, §5º, do CPP);” 3.8. Princípio do nemo tenetur se detegere Art. 5o, LXIII, CF: “O preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. De acordo com o art. 5º, inciso LXIII, da Constituição Federal, “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”. O direito ao silêncio, previsto na Carta Magna como direito de permanecer calado, apresenta-se apenas como uma das várias decorrências do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Trata-se de uma modalidade de autodefesa passiva, que é exercida por meio da inatividade do indivíduo sobre quem recai ou pode recair uma imputação. Consiste na proibição de uso de qualquer medida de coerção ou intimidação ao investigado (ou acusado) para obtenção de uma confissão ou para que colabore em atos que possam ocasionar sua condenação. à Desdobramentos do princípio: · O direito ao silêncio ou direito de ficar calado; · Direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal; · Inexigibilidade de dizer a verdade; · Direito de não querer praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo – (1) não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de verificação de interlocutor; (2) não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico; (3) configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa destes em participarem de reconstituição do crime; (4) direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva. #OBS.1: Mentiras agressivas – quando o acusado imputa falsamente a terceiro inocente a prática do delito, dando causa à instauração de investigação policial, processo judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, o agente responderá normalmente pelo delito de denunciação caluniosa (art. 339, CP). Nessa mesma linha, prevalece o entendimento de que o direito ao silêncio não abrande o direito de falsear a verdade quanto à identidade pessoal. Para o STF, tipifica o crime de falsa identidade o fato de o agente, ao ser preso, identificar-se com nome falso, com o objetivo de esconder seus maus antecedentes. #OBS.2: Exemplos de provas não invasivas: · As células bucais encontradas na saliva podem ser usadas para a realização de um exame de DNA. A forma de sua coleta é que vai determinar se é prova invasiva ou não. · A radiografia também pode ser considerada prova não invasiva, sendo comum sua utilização para constatação de entorpecentes no organismo, na forma de pílulas ou cápsulas. · A identificação dactiloscópica, das impressões dos pés, unhas e palmar. #OBS.3: Havendo o consentimento do sujeito passivo da medida, após prévia advertência do direito de não produzir prova contra si mesmo, a intervenção corporal poderá ser realizada normalmente. Entretanto, mesmo com a anuência, não se admite que o Estado submeta alguém a intervenções corporais que ofendam à dignidade da pessoa humana ou que coloquem em risco sua integridade física ou psíquica além do que é razoavelmente tolerável. - Assim, em se tratando de prova invasiva, ou que exija um comportamento ativo, não é possível a produção forçada da prova contra a vontade do agente. Porém, se essa mesma prova tiver sido produzida, voluntária ou involuntariamente pelo acusado, nada impede que tais elementos sejam apreendidos pela autoridade policial. Ex.: Se não pode retirar um fio de cabelo à força para o exame de DNA, nada impede que um fio desse cabelo seja apreendido em um salão de beleza. #OBS.4: O exercício do direito de não produzir prova contra si mesmo não pode ser utilizado como argumento a favor da acusação, não pode ser valorado na fundamentação de decisões judiciais, nem, tampouco, ser utilizado como elemento para a formação da convicção do órgão julgador. Não podem ser extraídas presunções em desfavor do acusado, tem tipificação de desobediência (art. 330, CP). Também não pode ser utilizado como critério para majoração da pena do condenado, nem para dar suporte à eventual decretação de prisão cautelar (pelo equivocado argumento da não colaboração com a produção probatória). #OBS.5: Caso haja a prática de nova infração penal, de maneira autônoma e dissociada de qualquer exigência de colaboração por parte de autoridade, com o objetivo de encobrir delito anteriormente praticado, não há que se falar em incidência do nemo tenetur se detegere. 3.9. Princípio da proporcionalidade Não está previsto expressamente na CF, mas inserido no aspecto material do princípio do devido processo legal: “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (art. 5o, LIV). Assim, são elementos essenciais do devido processo legal: (1) direito ao processo; (2) direito à citação e ao conhecimento prévio do teor da acusação; (3) direito a um julgamento público e célere, sem dilações indevidas; (4) direito ao contraditório e à plenitude de defesa (autodefesa e defesa técnica); (5) direito de não ser processado e julgado com base em leis ex post facto; (6) direito à igualdade entre as partes; (7) direito de não ser processado com fundamento em provas revistas de ilicitude; (8) direito ao benefício da gratuidade; (9) direito à observância do princípio do juiz natural; (10) direito ao silêncio (contra autoincriminação); (11) direito à prova; (12) direito de presença e participação ativa nos atos de interrogatório judicial dos demais litisconsortes penais passivos, quando existentes. O princípio da proporcionalidade se qualifica, enquanto coeficiente de aferição da razoabilidade dos atos estatais, como postulado básico de contenção dos excessos do Poder Público. a) Pressupostos do Princípio da Proporcionalidade: (i) Pressuposto formal: o princípio da legalidade; (ii) Pressuposto material: o princípio da justificação teleológica (busca-se a legitimação do uso da medida cautelar – se o fim almejado é constitucionalmente legítimo e possui relevância social); b) Requisitos intrínsecos e extrínsecos do princípio da proporcionalidade: (i) Requisitos Extrínsecos: judicialidade (as limitações aos direitos fundamentais somente podem ocorrer por órgão judicial competente – Cláusula de reserva da jurisdição) e motivação (fundamentação da decisão judicial); (ii) Requisitos Intrínsecos (ou Subprincípios da Proporcionalidade ou ELEMENTOS do seu conteúdo): · Adequação: a medida restritiva será considerada adequada quando for apta a atingir o fim proposto. Não se deve permitir ataque a um direito fundamental se o meio adotado não se mostrar apropriado à consecução do resultado pretendido. Deve ser aferida em um plano qualitativo (medidas idôneas por sua natureza), quantitativo (duração e intensidade da medida) e em seu âmbito subjetivo de aplicação (individualização do sujeito passivo da medida e à proibição de extensão indevida de sua aplicação). · Necessidade ou exigibilidade: também conhecido como princípio da intervençãomínima, da menor ingerência possível, da alternativa menos gravosa, da subsidiariedade, da escolha do meio mais suave, ou da proibição do excesso. Entende-se que, dentre várias medidas restritivas de direitos fundamentais idôneas a atingir o fim proposto, deve o Poder Público escolher a menos gravosa, a que menos interfira no direito de liberdade e que ainda seja capaz de proteger o interesse público para o qual foi instituída. · Proporcionalidade em sentido estrito: impõe um juízo de ponderação entre o ônus imposto e o benefício trazido, a fim de se constatar se se justifica a interferência na esfera dos direitos do cidadão. Canotilho: “uma lei restritiva, mesmo adequada e necessária, pode ser inconstitucional, quando adote cargas coativas de direitos, liberdades e garantias desmedidas, desajustadas, excessivas ou desproporcionadas em relação aos resultados obtidos”. 4. LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO Enquanto à lei penal se aplica o princípio da territorialidade (CP, art. 5o) e da extraterritorialidade (CP, art. 7o), o CPP adota o princípio da territorialidade ou da lex fori, porque a atividade jurisdicional é um dos aspectos da soberania nacional, logo, não pode ser exercida além das fronteiras do respectivo Estado (art. 1o, CPP). Art. 1.º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: I – os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II – as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2.º, e 100); III – os processos da competência da Justiça Militar; IV – os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, n. 17); V – os processos por crimes de imprensa. Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos n. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. Assim, mesmo que um ato processual tenha que ser praticado no exterior (citação, intimação, interrogatório, oitiva de testemunha, etc.), a lei processual penal a ser aplicada é a do país onde tais atos venham a ser realizados. 4.1. Situações em que a lei processual penal de um Estado pode ser aplicada fora dos seus limites territoriais (segundo a doutrina) a) aplicação da lei processual penal de um Estado em território nullius; b) quando houver autorização do Estado onde deva ser praticado o ato processual; c) em caso de guerra, em território ocupado; d) Art. 5o, §4o, CF: “O Brasil se submete à jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. 4.2. Imunidade diplomática Possuem imunidade diplomática, ou seja, têm a prerrogativa de responder no seu país de origem pelo delito praticado no Brasil (Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, aprovada pelo Decreto Legislativo 103/1964, e promulgada pelo Decreto nº 56.435, de 08/06/1965): a) Chefes de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas, embaixadores e suas famílias; b) Funcionários estrangeiros do corpo diplomático e suas famílias; c) Funcionários de organizações internacionais em serviço (ONU, OEA, etc.) Assim, em razão de tratados ou convenções que o Brasil haja firmado, ou mesmo em virtude de regras de Direito Internacional, a lei processual penal deixa de ser aplicada aos crimes praticados por tais agentes no território nacional. Posto isso, tais pessoas não podem ser presas e nem julgadas pela autoridade do país onde exercem suas funções, seja qual for o crime praticado. Em caso de falecimento de um diplomata, os membros de sua família “continuarão no gozo dos privilégios e imunidades a que têm direito, até a expiração de um prazo razoável que lhes permita deixar o território do Estado acreditado” (art. 39, § 3o, da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas). Admite-se renúncia expressa à garantia da imunidade pelo Estado acreditante, ou seja, aquele que envia o Chefe de Estado ou representante. #SELIGA: Tal imunidade não é extensiva aos empregados particulares dos agentes diplomáticos. #SELIGA: Cônsul: só goza de imunidade em relação aos crimes funcionais. 4.3. Prerrogativas constitucionais do Presidente da República e de outras autoridades, em relação aos crimes de responsabilidade Compete ao Senado Federal processar e julgar o Presidente da República e o Vice, quanto aos crimes de responsabilidade (Art. 52, I, II, CF), bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes conexos com aqueles, os Ministros do STF, membros do CNJ e do CNMP, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade. a) Processo e Competência da Justiça Militar: à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. b) Crimes de imprensa: a não recepção da lei de imprensa não impede o curso regular dos processos fundamentados nos dispositivos legais da referida lei, nem, tampouco, a instauração de novos processos, aplicando-se a eles, contudo, as normas da legislação comum, o CC, o CP, o CPC e o CPP. c) Crimes eleitorais: A competência criminal da Justiça Eleitoral é fixada em razão da matéria, cabendo a ela o processo e o julgamento dos crimes eleitorais (os previstos no Código Eleitoral e os que a lei, eventual e expressamente, defina como eleitorais). d) Outras exceções: por força do princípio da especialidade, aplica-se a legislação especial, e o CPP subsidiariamente: · Crimes de abuso de autoridade – Lei 4.898/65; · Crimes de competência originária dos Tribunais possuem procedimento específico previsto na Lei 8.038/90; · Infrações de menor potencial ofensivo – contravenções penais e crimes cuja pena máxima não ultrapasse 2 anos – procedimento especial dos Juizados Especiais Criminais – Lei 9.099/95; · Crimes falimentares – Lei 11.101/05; · Estatuto do Idoso – Lei 10.741/03; · Lei Maria da Penha – Lei 11.340/06; · Lei de drogas – Lei 11.343/06. 4.4. Conclusões a) A regra geral é a aplicação do princípio da territorialidade, segundo o qual a lei processual penal comum (leia-se: Código de Processo Penal, no qual se inserem normas gerais de processo penal) aplica-se aos crimes praticados em solo nacional (art. 1.º do CPP). b) Considera-se praticado o crime no local em que ocorreu a ação ou omissão ou no lugar em que ocorreu o resultado (teoria da ubiquidade ou mista). c) Excetuam-se à territorialidade as situações em que, nem mesmo de forma subsidiária, pode ser aplicada a lei processual penal comum (CPP) na apuração das infrações penais, isto é, em hipóteses nas quais devam incidir normas incorporadas ao direito estrangeiro (ex: em razão de tratados internacionais) ou regras nacionais que inserem regulamentação específica para determinadas situações (ex: apuração dos crimes militares). 5. LEI PROCESSUAL NO TEMPO Art. 2o, CPP. “A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. O art. 2º do CPP dispõe que a lei processual penal será aplicada desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. Incide, assim, o princípio tempus regit actum, também chamado de princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata da lei processual. Dessa forma, se no curso de um processo criminal sobrevier nova lei processual, os atos já realizados sob a égide da lei anterior manterão sua validade normal. Contudo, os atos posteriores serão praticados segundo os termos da nova normatização. #SELIGA: Há três sistemas distintos apontados pela doutrina: a) Sistema da unidade processual: apesar de se desdobrar em uma série de atos distintos, o processo apresenta uma unidade. Portanto, somente pode ser regulamentado por uma única lei. Essa lei deve ser a lei antiga, já que, fosse possível a aplicação da lei nova, esta teria efeitos retroativos.Assim, por esse sistema, a lei antiga tem caráter ultrativo; b) Sistema das fases processuais: por força desse sistema, cada fase processual pode ser regulada por uma lei diferente. Supondo, assim, a existência de sucessivas leis processuais no tempo, as fases postulatória, ordinatória, instrutória, decisória e recursal poderiam ser disciplinadas por leis distintas; c) Sistema do isolamento dos atos processuais: a lei nova não atinge os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior, porém é aplicável aos atos processuais que ainda não foram praticados, pouco importando a fase processual em que o feito se encontrar. Como se percebe pela leitura do art. 2º do CPP, é esse o sistema adotado pelo ordenamento processual penal. Afinal de contas, de acordo com o art. 2º do CPP, “a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. 5.1. Subdivisão das normas processuais Apesar de o art. 2º do CPP não estabelecer qualquer distinção entre as normas processuais, doutrina e jurisprudência têm trabalhado crescentemente com uma subdivisão dessas regras: a) Normas genuinamente processuais: cuidam de procedimentos, atos processuais, técnicas do processo – a elas se aplica o art. 2o, CPP. b) Normas processuais materiais ou mistas: abrigam naturezas diversas, de caráter penal (que cuidam do crime, da pena, da medida de segurança, dos efeitos da condenação e do direito de punir do Estado) e processual penal (versam sobre o processo desde o seu início até o final da execução ou extinção da punibilidade). A essas normas, aplica-se o critério do Direito Penal: (i) tratando-se de norma benéfica ao agente, mesmo depois da sua revogação, a referida lei continuará a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência (ultratividade da lei processual penal mista mais benéfica); (ii) na hipótese de novatio legis in mellius, a referida norma será dotada de caráter retroativo, a ela se conferindo o poder de retroagir no tempo, a fim de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua vigência. #OLHAOGANCHO: Normas processuais heterotópicas. Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas processuais penais, possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras, no entanto, inseridas em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério da aplicação imediata (tempus regit actum). É aí que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja, situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, encontra-se ela prevista em diploma de natureza distinta. Ex1: O direito ao silêncio assegurado ao réu em seu interrogatório, a despeito de sua previsão no Código de Processo Penal (art. 186), possui caráter nitidamente assecuratório de direitos (material). Ex2: As normas gerais que disciplinam a competência da Justiça Federal, sem embargo de estarem incorporadas ao art. 109 da Constituição Federal, possuem natureza evidentemente processual. 5.2. Atividade e extratividade a) Atividade: compreende-se o lapso de vigência da lei, isto é, o tempo situado entre sua entrada em vigor e sua revogação, produzindo efeitos e alcançando todas as situações ocorridas sob sua égide. b) Extratividade corresponde à incidência da lei fora do seu período de vigência. (i) Se esse período for anterior à entrada em vigor, ocorrerá o fenômeno da retroatividade. (ii) Se for posterior à sua revogação, dar-se-á a ultratividade. Considerando que, em relação às normas de caráter processual penal puro, o princípio do tempus regit actum impõe sua aplicação imediata aos processos em andamento, conclui-se que poderão produzir extratividade (retroatividade ou ultratividade) as normas materiais benéficas e, quanto às normas processuais, apenas as heterotópicas, isto é, aquelas em que se detecta um conteúdo material mais benéfico, sem embargo de estarem incorporadas a um diploma processual. #IMPORTANTE: o instituto da abolitio criminis não se confunde com o postulado da continuidade normativo-típica. No primeiro caso, ocorre o desaparecimento formal e material infração penal, o que faz com que a conduta, antes tipificada como crime ou contravenção, se torne penalmente irrelevante. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o crime de sedução, antes previsto no art. 217 do CP e que foi revogado expressamente pela Lei 11.106/2005. Já na hipótese da continuidade normativo-típica, a conduta objeto do tipo penal revogado continua sendo proibida, sendo deslocada, porém, para tipo penal diverso. Exemplo disso ocorreu com a Lei 13.106/2013, que revogou o art. 63 da Lei das Contravenções Penais, que tipificava a conduta de fornecer bebida alcoólica a menor, e a inseriu, como crime, na descrição do art. 243 da Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). 6. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL PENAL Fontes do direito são a origem e a forma como se exteriorizam as normas, os preceitos e os princípios jurídicos que informam o processo penal e cuja observância é condição para o seu desenvolvimento regular. As fontes classificam-se em fontes materiais e fontes formais. 6.1. Fontes materiais São também chamadas de fontes substanciais ou fontes de produção. Trata-se de quem tem competência para produzir a norma. No âmbito do direito processual penal, fonte material por excelência é a União, já que o art. 22, I, da CF estabelece a ela competir, privativamente, a disciplina dessa ordem de matéria. Além disso, também os Estados, excepcionalmente, poderão criar leis que tratem de questões específicas de processo penal, desde que haja autorização da União por meio de Lei Complementar, conforme dispõe o art. 22, parágrafo único, da CF. Isto ocorre porque a competência privativa, ao contrário da competência exclusiva, pode ser delegada. Art. 22, I CF - Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho. Art. 24, IV, X e XI CF - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: IV - custas dos serviços forenses; X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI - procedimentos em matéria processual. 6.2. Fontes formais São chamadas também de fontes de revelação, de cognição ou de conhecimento e traduzem as formas pelas quais o direito se exterioriza. Classificam-se em fontes formais imediatas ou diretas e fontes formais mediatas ou indiretas. a) Fontes formais imediatas ou diretas: são as leis, assim compreendido todo e qualquer dispositivo editado pelo poder público. Ex: CF; legislação infraconstitucional; tratados, convenções e regras de direito internacional. (i) Primárias: CF e CPP; (ii) Secundárias: outros diplomas. Lei de Drogas, Lei Maria da Penha, etc. b) Fontes formais mediatas ou indiretas: são os princípios gerais de direito, a analogia, os costumes, a doutrina, o direito comparado e a jurisprudência. (i) Analogia: Caso concreto: Não oferecimento, pelo promotor de justiça, da proposta de suspensão condicional do processo ao réu. Há norma reguladora da medida cabível a respeito dessa postura do promotor? Não. Há norma reguladora de hipótese concreta distinta? Sim, consubstanciada no art. 28 do CPP, contemplando hipótese na qual o juiz não concorde com a postura do promotor de justiça em promover o inquérito policial. Dispõe esse artigo que, nesse caso, deverá o juiz encaminhar os autos – ao Procurador-Geral de Justiça, para que delibere. Solução: Aplicação de analogia ao art. 28 do CPP, possibilitando-se ao juiz aplicar este dispositivo a situação concreta distinta da nele prevista. *#ATENÇÃO: O exemplo acima utiliza o art. 28, antes da alteração pelo pacote anticrime. *Antes da Lei nº 13.964/2019 Depois da Lei nº 13.964/2019 Arquivamento Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peçasde informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. “Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei. § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.” *#ATENÇÃO Nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade 6298, 6299, 6300 e 6305 o ministro Luiz Fux concedeu Medida Cautelar para suspender a eficácia do art. 28, caput, do Código de Processo Penal: “(c1) Viola as cláusulas que exigem prévia dotação orçamentária para a realização de despesas (Artigo 169, Constituição), além da autonomia financeira dos Ministérios Públicos (Artigo 127, Constituição), a alteração promovida no rito de arquivamento do inquérito policial, máxime quando desconsidera os impactos sistêmicos e financeiros ao funcionamento dos órgãos do parquet; (c2) A previsão de o dispositivo ora impugnado entrar em vigor em 23.01.2020, sem que os Ministérios Públicos tivessem tido tempo hábil para se adaptar estruturalmente à nova competência estabelecida, revela a irrazoablidade da regra, inquinando-a com o vício da inconstitucionalidade. A vacatio legis da Lei n. 13.964/2019 transcorreu integralmente durante o período de recesso parlamentar federal e estadual, o que impediu qualquer tipo de mobilização dos Ministérios Públicos para a propositura de eventuais projetos de lei que venham a possibilitar a implementação adequada dessa nova sistemática”.[footnoteRef:5] [5: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/ADI6298.pdf] (ii) Interpretação extensiva: Caso concreto: Suspensão do processo criminal pelo juiz. Há norma reguladora da medida cabível a respeito dessa postura do juiz? Sim. Trata-se do art. 581, XVI, que refere o cabimento do recurso em sentido estrito contra a decisão que ordenar a suspensão do processo. Contudo, essa disposição é restritiva, pois limita o cabimento do RSE à hipótese em que tal suspensão decorrer do reconhecimento de questão prejudicial, não abrangendo a situação retratada no exemplo. Há norma reguladora de hipótese concreta distinta? Aqui, é irrelevante esta indagação, em face de a resposta anterior ter sido positiva. Solução: Aplicação de interpretação extensiva ao art. 581, XVI, possibilitando-se ao promotor valer-se do recurso nele previsto mediante ampliação (extensão) da hipótese de cabimento prevista naquele dispositivo. (iii) Costumes: são regras de conduta reiterada (elemento externo), às quais se agrega uma consciência de obrigatoriedade (elemento interno). No direito processual penal, os costumes são denominados de “praxe forense”, e podem ser secundum legem (de acordo com a lei), praeter legem (suprem lacunas da lei) e contra legem (contra a lei), salientando-se quanto a estes últimos que, em regra, é vedada sua aplicação, salvo em hipóteses de absoluta inaplicabilidade ou de total desuso da norma jurídica. (iv) Jurisprudência: é o entendimento consubstanciado em decisões judiciais reiteradas sobre um determinado assunto. #OLHAOGANCHO: Tema bastante controvertido na doutrina refere-se ao correto enquadramento das súmulas vinculantes, isto é, se devem ser classificadas como fontes formais imediatas ou como fontes formais mediatas. O instituto da súmula vinculante foi inserido no sistema jurídico brasileiro pelo art. 103-A da CF (regulamentado pela Lei 11.417/2006), ao dispor que o STF “poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”. Com esta normatização, pretendeu o legislador evitar a divergência de entendimentos entre órgãos do Poder Judiciário ou entre estes e a Administração Pública, em hipóteses nas quais estiver em discussão tema constitucional já enfrentado e decidido por meio de súmula do Pretório Excelso. Destarte, a decisão do Supremo cristalizada no verbete sumulado deverá ser obedecida, em caráter cogente, tanto pelos tribunais e juízes quanto pelos agentes do Poder Executivo. Caso descumprida a súmula vinculante, a solução para o impasse está prevista no próprio texto constitucional, ex vi do art. 103-A, § 3.º, contemplando a reclamação como remédio cabível para garantir a autoridade do enunciado. Neste contexto, na medida em que obriga os destinatários mencionados no dispositivo constitucional citado a seguirem o entendimento adotado pelo STF, parte da doutrina passou a considerar esse tribunal como fonte material4 do direito e a súmula vinculante como uma nova fonte formal imediata, afastando a máxima antes vigorante no sentido de que apenas o texto positivado na legislação poderia ser considerado como tal. Não obstante, existe orientação em sentido oposto, qual seja a de que, apesar de vinculante, tal ordem de enunciado não possui força de lei, devendo ser classificado como fonte formal mediata, mesmo porque não provém do Poder Legislativo, apenas retratando a jurisprudência firmada pela maioria de dois terços do STF. Em que pesem as divergências, este último entendimento parece dominante na doutrina. #RESUMINDO #OLHAOESQUEMA: 7. DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO DIPLOMA DISPOSITIVOS Código de Processo Penal Art. 1º ao art. 3º 8. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA Jurisprudência do site Dizer o Direito. Manual de Processo Penal – Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal – Norberto Avena. image2.png image3.png image4.png image5.png image1.jpeg