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BIBLIOTECONOMIA
APRESENTAÇÃO
Profª Drª Leociléa Aparecida Vieira
● Doutora em Educação: Currículo pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC/SP).
● Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
● Licenciada em Pedagogia pela Universidade Castelo Branco (UCB).
● Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
● Especialista em Administração Estratégica Em Recursos Humanos pela
Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).
● Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo Instituto Brasileiro de
Pós Graduação e Extensão (IBPEX).
● Especialista em Educação a Distância: Teoria, Metodologia e Aprendizagem pela
Faculdade Educacional da Lapa (FAEL).
● Especialista em Educação Especial Inclusiva e Metodologias de Ensino pela
Faculdade Venda Nova do Imigrante (FAVENI).´
Funcionária aposentada do Sistema de Bibliotecas da UFPR. Foi professora em
diversas Instituições de Ensino Superior (IES), dentre elas: Grupo Uninter,
Universidade Positivo, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Faculdade
Educacional da Lapa, Faculdades Opet, Universidade Estadual do Tocantins. Atuou
como coordenadora de cursos, na modalidade presencial e a distância. Atualmente,
compõe o Banco de Avaliadores da Educação Superior INEP/Basis e é professora
adjunta do curso de licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual do Paraná
(Unespar) – campus de Paranaguá e do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva
em Rede Nacional (Profei) (Polo Unespar).
Link curriculum lattes: CV: http://lattes.cnpq.br/0063909006157307
http://lattes.cnpq.br/0063909006157307
Prof. Ms. Lucilene Aparecida Francisco
● Doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual de Londrina.
● Mestre em Políticas de Informação, pela Universidade Estadual de Maringá.
● Especialista de Gestão Pública pela Universidade Estadual do Centro-Oeste
● Bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Estadual de Londrina
Bibliotecária na Universidade Estadual do Paraná – Campus Apucarana. Atuou
também como bibliotecária em instituições privadas de ensino técnico e superior e
como docente no curso de especialização em Política Social da Universidade Estadual
do Paraná – Campus Apucarana.
Link Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6226753997220286
http://lattes.cnpq.br/6226753997220286
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA
Caro(a) aluno(a)!
Sejam bem vindos(as) à disciplina Fundamentos da Biblioteconomia!
Esta disciplina tem por intuito refletir sobre os fatos que contribuíram para o
surgimento da Biblioteconomia desde os primórdios da civilização até a
contemporaneidade. Para fazer esta trajetória dividimos o texto em quatro unidades.
Vejamos!
Na Unidade 1 denominada Fundamentos da Biblioteconomia, iniciamos a
caminhada com os diferentes conceitos atribuídos à Biblioteconomia, a
Documentação e a Ciência da Informação. Refletiremos sobre a origem da escrita e
dos registros do conhecimento e as influências que estes fatos tiveram na constituição
da Biblioteconomia como área do conhecimento e, também, discutiremos sobre a
caracterização das bibliotecas enquanto espaços sociais.
Na Unidade 2 sob o título de Evolução Histórica da Biblioteconomia,
iniciaremos nosso passeio pela compreensão do vocábulo e depois dividiremos nossa
trajetória em três períodos distintos: Antiguidade que compreende desde o início da
civilização; Idade moderna que vai de 1453 até 1789, que corresponde ao período da
invenção da Imprensa e o Renascimento e, por fim, Idade Contemporânea, a partir de
1789 até a atualidade.
Na Unidade 3 intitulada Documentação, iniciaremos o percurso pelo conceito,
depois perpassaremos pelos aspectos concernentes sua origem e natureza, bem
como, sua finalidade em meio a crescente massa de documentos técnicos e científicos
produzidos pela humanidade, por fim, identificaremos as contribuições das teorias
semióticas aos processos de significação, dimensionamento e tratamento da
informação.
Na Unidade 4: Biblioteconomia no Brasil, conheceremos sobre o panorama da
Biblioteconomia no país. Desta maneira, buscaremos na história conhecer sobre o
surgimento do curso e qual a razão motivou a sua criação. Discutiremos sobre as
atividades do bibliotecário e quais os desafios enfrentados por este profissional na
contemporaneidade.
Ao final de cada unidade apresentamos sugestões de leituras e filmes que o(a)
ajudarão na ampliação dos seus conhecimentos e fixação do conteúdo.
O caminho é longo, mas prazeroso, então que tal iniciarmos a nossa
caminhada?
Bons estudos!
UNIDADE I
FUNDAMENTOS DA BIBLIOTECONOMIA
Professora Doutora Leociléa Aparecida Vieira
Professora Mestre Lucilene Aparecida Francisco
Plano de Estudo:
● Conceitualização;
● Documentação e Ciência da Informação;
● Escrita e patrimônio cultural: origem e razão de ser da área;
● Bibliotecas e a origem da Biblioteconomia.
Objetivos de Aprendizagem:
● Apresentar conceitos que fundamentam a Biblioteconomia;
● Identificar os pontos comuns e divergentes entre a Documentação e Ciência
da Informação;
● Contextualizar historicamente sobre o surgimento da escrita;
● Caracterizar a biblioteca no decorrer dos tempos e os fatos que deram origem
a Biblioteconomia.
2
INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a)!
Nesta Unidade convidamos você a conhecer sobre as origens da
Biblioteconomia. Nesse sentido, iniciaremos a nossa caminhada pela
conceitualização, pois é impossível estudarmos sobre determinada área do
conhecimento se não conhecermos os seus significados e os fatos históricos que
deram a sua origem. Para tanto, dividimos o conteúdo dessa unidade em quatro itens:
1. Conceitualização, onde apresentamos os diferentes conceitos atribuídos à
Biblioteconomia;
2. Documentação e Ciência da Informação, a qual aborda os conceitos e
origens da Documentação e da Ciência da Informação suas relações,
diferenciações e aproximações com a Biblioteconomia;
3. A origem da escrita e dos registros do conhecimento e suas influências para
constituição da Biblioteconomia, considerando que desde a pré-história, o
homem sente a necessidade de preservar registros de suas atividades e de
deixar uma marca para a posterioridade;
4. Origem e caracterização das bibliotecas, enquanto espaços sociais
destinados à guarda, organização e disseminação da informação e
preservação da memória da humanidade.
Ao final desta unidade deixamos algumas sugestões de leitura para fixação do
conteúdo, a fim de que você assimile o conteúdo que é fundamental para a
compreensão e atuação na área.
Bons estudos!
3
1 CONCEITUALIZAÇÃO
Prezado(a) Acadêmico(a)!
Neste item convidamos você a conhecer o desenvolvimento conceitual da
Biblioteconomia e suas representações ao longo da história. Iniciamos nosso percurso
destacando que o termo Biblioteconomia aparece pela primeira vez em 1841 no livro
intitulado bibliothéconomie: instructions sur L'arrangement, la conservation et
l'administration des bibliotheques, publicado por Léopold-Auguste-Costantin Hesse na
França, indicando um conjunto de técnicas de organização e gestão de bibliotecas. A
Biblioteconomia se desenvolve então de acordo com Vieira (2014) como uma prática
de organização de bibliotecas, abrangendo três grandes domínios:
● Acervo - (documentos) envolvendo as técnicas de desenvolvimento de
coleções, sua conservação e tratamento (catalogação, classificação)
● Leitores - (público) incluindo a recepção, comunicação, acesso aos
documentos, e conhecimento dos usuários e de suas necessidades.
● Espaços físicos - (instituições) envolvendo questões relacionadas à
organização administrativa, técnica, humana e financeira das bibliotecas.
4
O conceito norte americanode Biblioteconomia ou Library Science (Ciência das
bibliotecas) busca aplicar a tecnologia e a teoria biblioteconômica para a seleção,
organização, gerenciamento, preservação, disseminação, criação e utilização das
coleções de informação por todos e em todos os formatos e suportes, sejam eles,
físicos ou virtuais (VIEIRA, 2014).
De acordo com Cunha e Cavalcanti (2008, p. 55) o termo Biblioteconomia
refere-se às atividades de organização, administração, legislação e regulamentação
de bibliotecas ou ainda ao conhecimento e prática da organização de documentos em
bibliotecas, tendo por finalidade sua utilização.
No Quadro 1 apresentamos uma síntese do desenvolvimento conceitual do
termo Biblioteconomia ao longo da história da área e você poderá perceber que ele
sofreu alterações no decorrer dos tempos.
Quadro 1 - Desenvolvimento conceitual da Biblioteconomia
Autor Conceito Ano
Lee Pierce Butler (1884-1953).
Professor e pesquisador da
Escola de Biblioteconomia de
Chicago
Os elementos básicos da Biblioteconomia consistem na
acumulação de conhecimento pela sociedade e sua
transmissão contínua às gerações, enquanto esses
processos são atualizados por meio de registros gráficos.
1933
Samuel Clement Bradford (1878-
1948)
Bibliotecário, documentalista e
matemático britânico.
A Biblioteconomia ocupa-se de todos os aspectos do
tratamento dos livros.
1948
José Domingo Buonocore,
pesquisador argentino da
Biblioteconomia.
Área que se destina ao estudo dos princípios racionais
para realizar, com a maior eficácia e o menor esforço
possível, os fins específicos das bibliotecas. Esta área é
dividida em uma parte técnico-científica (estudo sobre
seleção, aquisição e catalogação de livros, assim como o
regime econômico, os recursos, o local e o mobiliário da
biblioteca, sua conservação e uso) e uma parte político-
administrativa (meios e métodos mais adequados para
garantir um bom serviço público de leitura; relaciona-se
com a administração e gestão de bibliotecas).
1952
Joseph Z. Nitecki professor e
pesquisador da Escola de
Biblioteconomia de Chicago
Estudo empírico, racional e pragmático da relação entre o
livro, o usuário e o conhecimento.
1962
Jesse Hauk Shera (1903–1982)
bibliotecário, cientista da
informação e
professor/pesquisador da Escola
de Biblioteconomia de Chicago.
A Biblioteconomia é a disciplina mais interdisciplinar de
todas. Sua tarefa de ordenar, relacionar e estruturar o
conhecimento e os conceitos a torna estreitamente inter-
relacionada com a semântica geral, também altamente
interdisciplinar, epistemológica e envolvida na linguagem,
simbolismo, abstração, conceituação e avaliação do
conhecimento.
1977
5
Edson Nery da Fonseca (1921-
2014) bibliotecário, professor e
pesquisador pernambucano.
Biblos = livros + tcheca = caixa + nomos = regra 1992
Tefko Saracevic (1930)
Pesquisador croata, que estuda
a
da Informação e Documentação.
A Biblioteconomia está voltada à organização, à
preservação e ao uso dos registros gráficos humanos.
Essas atividades são realizadas pelas bibliotecas não
apenas como uma organização particular ou um tipo de
sistema de informação, mas principalmente, como uma
instituição social, cultural e educacional indispensável, de
valor comprovado muitas vezes ao longo da história
humana e através das fronteiras das diferentes culturas,
civilizações, nações ou épocas.
1996
Yves-François Le Coadic (1942),
teórico francês da área de
Biblioteconomia e Ciência da
Informação.
União de duas palavras, “biblioteca” e “economia” (está no
sentido de organização, administração, gestão). A
Biblioteconomia não é nem uma ciência, nem uma
tecnologia rigorosa, mas uma prática de organização: a
arte de organizar bibliotecas.
1996
Francisco das Chagas de Souza
nasceu no Ceará e foi professor
da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) de 1983 a 2015
A Biblioteconomia é uma ciência que se determina por uma
prática social e que se consolida pelo registro e codificação
das experiências positivas no uso, organização e controle
dos documentos que são buscados pelos seus conteúdos
[informação].
A Biblioteconomia opera com informação e com suporte de
informação [materialmente, documento] e tem na
organização e controle do fluxo destes e nos sujeitos
[geradores e consumidores] de informação os objetivos
determinantes do seu campo científico. Historicamente, ela
trabalha com aqueles objetos (documentos), e embora
mudem formatos e suportes, segundo o nível de
atualização tecnológica de cada época, os objetos de
informação e organização de seu fluxo são os mesmos.
1996
Maria das Graças Targino,
pesquisadora da área de
Biblioteconomia/Ciência da
Informação. Foi vinculada à
Universidade Federal do Piauí
(UFPI)
A área do conhecimento que se ocupa com a organização
e a administração das bibliotecas e outras unidades de
informação, além da seleção, aquisição, organização e
disseminação de publicações sob diferentes suportes
físicos.
2006
Jonathas Luiz Carvalho da Silva A Biblioteconomia é uma área que constrói atividades
técnicas e normativas com perspectiva de acesso à
informação para os sujeitos, é uma área do conhecimento
de caráter técnico-normativo que produz meios e práticas
científicas.
2018
Fonte: Adaptado de Silva (2018, p. 34).
O quadro 1 apresenta uma síntese dos significados atribuídos à
Biblioteconomia em diferentes períodos históricos e localidades. Observamos que a
Escola de Biblioteconomia de Chicago representada pelos estudiosos Butler (1933),
Shera (1957) e Nitecki (1968) apresenta um conceito amplo direcionado aos estudos
dos materiais bibliográficos, suas relações com os usuários e à organização e
recuperação da informação.
https://es.wikipedia.org/wiki/Informaci%C3%B3n
https://es.wikipedia.org/wiki/Documentaci%C3%B3n
6
A Biblioteconomia estadunidense exerceu significativa influência na formação
da Biblioteconomia brasileira, principalmente no desenvolvimento de suas atividades
técnicas, entretanto a Biblioteconomia brasileira agrega uma dimensão social à sua
prática, o que faz suscitar debates se a Biblioteconomia seria uma
disciplina/técnica/norma/regra ou uma ciência.
Nesse debate há estudiosos como Saracevic (1996) que defendem que a
Biblioteconomia não é uma ciência, mas sim uma atividade voltada para servir aos
usuários da biblioteca com aplicação prática. Le Coadic (1996) classifica a
Biblioteconomia como uma prática de organização que consiste na arte de organizar
bibliotecas, dedicando-se a aspectos como gestão do acervo, organização de
biblioteca enquanto instituição e ao atendimento das demandas dos leitores e
usuários.
Esse entendimento está relacionado ao fato das primeiras definições de
Biblioteconomia trazerem como traço semântico a "caixa de livro" do termo biblioteca
e também os traços de "instituição social" e "prestação de serviço". Por ter esse viés
prático, para muitos autores, a Biblioteconomia não tem alcançado um estado de
desenvolvimento suficientemente avançado para que possa se estabelecer e se
sustentar teoricamente, demandando buscar em outras áreas teorias que possam
fundamentar suas práticas (GALVÃO, 1993, p. 102).
Entretanto, na contemporaneidade vimos surgir novas compreensões para o
termo, qualificando-o como uma “ciência que se determina por uma prática social e
que se consolida pelo registro e codificação das experiências positivas no uso,
organização e controle dos documentos que são buscados pelos seus conteúdos
[informação].” (SOUZA, 1996 p. 4) ou então como uma área do conhecimento que se
preocupa com a organização e a administração das bibliotecas (TARGINO, 2006), ou
ainda como uma “área do conhecimento técnico-normativo que produz e aplica meios
para promover o acesso e uso da informação para sujeitos (usuários)”. (SILVA, 2018
p. 36), por meio de serviços, produtos e modelos direcionados à organização,gestão,
uso de tecnologias e mediação de informações que satisfaçam as demandas trazidas
pelos usuários, ao mesmo que tempo em que se estabelece cientificamente ao
desenvolver suas perspectivas técnico normativas a partir de problemas práticos de
informação do cotidiano social (SILVA, 2018).
7
O mesmo autor argumenta que multiplicidade de conceitos atribuídos à
Biblioteconomia confere-lhe um caráter plural e interdisciplinar que permite
compreendê-la na atualidade a partir de três fundamentos:
● Sócio-histórico, referentes práticas de organização de documentos,
preservação da memória e produção e disseminação de conhecimentos;
● Técnico, normativo e científico, com vista a promover a organização/
tratamento, mediação, acesso, uso e apropriação da informação por meio de
serviços e produtos em ambientes de informação, especialmente bibliotecas;
● Humanista-enciclopédico, relacionado ao conhecimento das técnicas e
práticas documentárias e informacionais que permitem atuar com variados
públicos e áreas do conhecimento.
Isso implica em dizer que o desenvolvimento das atividades da área deve
fundamentar-se em aspectos estratégicos, voltados à gestão, recursos, serviços,
fontes de informação e tecnologias da informação e comunicação, além de aspectos
sociocognitivos, como noções de sociedade, cultura, educação, memória, história,
ética entre outros que levem a construção de um corpus histórico, científico e
humanista de atuação (SILVA, 2018).
Nessa perspectiva, a Biblioteconomia assume um caráter multidisciplinar,
interdisciplinar e transdisciplinar pelos diversos diálogos que constrói com outras
áreas do conhecimento, principalmente com as Ciências Sociais Aplicadas
(administração, Economia, Comunicação, entre outras) e com as Ciências Humanas
(Filosofia, História, Educação, Sociologia, Psicologia, dentre outras). Esse caráter
disciplinar pode ser percebido a partir do momento que notamos o quanto a
Biblioteconomia assimila de conteúdos de outras áreas, ou seja, no quanto outras
áreas contribuem para o seu desenvolvimento e também no que a Biblioteconomia
tem a oferecer ou contribuir com outras áreas. Isso demonstra que o desenvolvimento
da Biblioteconomia se dá por meio da relação de cooperação, reciprocidade e
mutualidade estabelecida entre a Biblioteconomia e outras áreas do saber. Conforme
defende Silva (2018).
Neste item vimos os diferentes conceitos atribuídos à Biblioteconomia ao longo
da sua trajetória enfatizando que na perspectiva tradicional, Saracevic (1996) e Le
Coadic (1996) ela é concebida como uma disciplina ou uma prática voltada à
organização e gestão de acervos com vistas a sua utilização por diferentes públicos
8
de usuários Já na concepção moderna representada principalmente por Souza (1996)
e Silva (2018) a Biblioteconomia assume o status de ciência inter e multidisciplinar
que se desenvolve a partir da prática social de organização, gestão e disseminação
da informação.
SAIBA MAIS
Para conhecer mais sobre os fundamentos da Biblioteconomia sugerimos o vídeo “O
Visionário Paul Otlet”, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Cxfom91e8aA.
Sugerimos também a o artigo: Biblioteconomia: gênese, história e fundamentos e de
Ana Paula Lima Santos e Mara Eliane Fonseca Rodrigues, disponível em:
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/248/264.
#SAIBA MAIS#
https://www.youtube.com/watch?v=Cxfom91e8aA
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/248/264
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2 DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Caro(a) Acadêmico(a)!
Neste item vamos conhecer os conceitos de Documentação e Ciência da
Informação e suas relações com a biblioteconomia. Iniciamos nosso percurso
apresentando que a Documentação tem sua origem do latim; docurnentum que tem o
sentido de docere que significa ensinar, o que denota objeto de ensino e transmissão
de conhecimentos e comprovação de fatos (ROSSATO; FLORES 2015).
A Documentação, campo do conhecimento criado no final do século XIX por
Paul Otlet e Henri La Fontaine, é marcada por diversas visões de suas origens e de
seu desenvolvimento ao longo dos séculos. Assim, contrariamente à Biblioteconomia,
a Documentação não deriva de termos relacionados a espaço físico ou instituição
social, mas sim do documento (TANUS, RENAU, ARAÚJO, 2012).
Sua origem remete à Segunda Guerra Mundial e à crescente necessidade de
informações científicas técnicas, que “[...] obrigou a engenheiros, químicos, físicos,
biólogos a deixar seus laboratórios de pesquisa e trabalho para organizarem serviços
especiais de informações, a que resolveram denominar de centros de Documentação”
(GALVÃO 1993, p. 103).
Posteriormente, devido à grande produção de documentos e a necessidade de
sua organização com vistas à recuperação, iniciou-se o ensino da Documentação
como disciplina especial, distinta da biblioteconomia, interessada em “cuidar da
10
grande quantidade de documentos ('explosão documentária') que a Biblioteconomia
não conseguiu atender" (SAMBAQUY 1978 apud GALVÃO, 1993, p. 103).
Com isso percebemos que as técnicas documentárias orientam-se à análise e
disseminação de materiais diversos, como relatórios de pesquisa, normas, artigos,
teses entre outros, denominados de informação científica, a qual requereu formas
específicas de tratamento e organização. Paralelo ao surgimento dos centros de
Documentação, destinados a dar o tratamento necessário ao grande volume de
documentos que surgira, vimos as instituições ligadas a Biblioteconomia substituir ou
acrescentar à denominação original o termo Documentação. Conforme ocorreu com
o Instituto Internacional de Bibliografia, que em 1931, passou a ser denominado
Instituto Internacional de Documentação e posteriormente em 1938 denominado
Federação Internacional de Documentação, o qual define a Documentação como “o
processo de reunir, classificar e difundir documentos em todos os campos da atividade
humana” (GALVÃO, 1993, p. 103).
Em relação à Ciência da Informação (CI), destacamos que sua compreensão
perpassa os diferentes conceitos atribuídos ao termo informação que aparece ora
como dados registrados, ou conteúdo de um texto; ora como a experiência estocada
na mente humana. Assim, o conceito de informação, pressupõe a compreensão dos
termos: dado, conhecimento e sabedoria.
Percebemos que a exemplo do que ocorre com a Biblioteconomia, a Ciência
da Informação também é de difícil definição devido à polissemia dos termos que
compõem a expressão (ciência e informação), assim encontramos na literatura
variados conceitos e também a discussão se seria ou não uma ciência.
Defendendo a Ciência da Informação como ciência, Robredo (2005, p. 2),
destaca que “Ciência da Informação surge na Ex-União Soviética como sinônimo de
informática, processamento automatizado da informação, e nos Estados Unidos, o
termo surge para representar uma evolução teórica da biblioteconomia”, configurando-
se portanto como uma ciência multidisciplinar Já Cesarino (1973, p. 55) acrescenta
que a “Ciência da Informação busca investigar as propriedades e o comportamento
da informação e os meios de processá-Ia para pronta acessibilidade e uso”. Esses
processos incluem a criação, disseminação, coleção, organização, armazenamento,
recuperação, interpretação e uso da informação, estando diretamente relacionada a
outras disciplinas como: matemáticas, lógicas, linguística, psicologia, tecnologia de
11
computadores, pesquisa de operação, artes gráficas, comunicação, etc., constituindo-
se como uma ciência interdisciplinar.
Para Costa (1990, p.140) a Ciência da Informação procura de fornecer um “[...]
conjunto de procedimentos que visam a melhorar as técnicas e métodos voltados para
o acúmulo e transferência do conhecimento”, a partir da investigação de determinados
aspectos da área da informação sem se preocupar com aaplicação prática da
pesquisa e da realização de trabalhos práticos com técnicas e métodos que possam
colaborar para o desenvolvimento da informação científica e tecnológica através de
produtos e serviços.
Saracevic (1974) afirma que a CI começou a se desenvolver como campo de
investigação por volta de 1950, como resultado do desafio intelectual de relacionar a
teoria da informação e os processos de comunicação humana e das necessidades de
solucionar os problemas relacionados ao processamento da informação por
computador. Para o autor a CI tem demonstrado adquirir consistência de verdadeira
ciência, assumindo como tema básico de estudos, os processos de comunicação
humana, em especial a comunicação do conhecimento, compreendida como um
processo básico que fundamenta e penetra toda a atividade humana. Nas palavras do
autor “Através da história, a comunicação do conhecimento humano, na sociedade e
através das gerações assumiu várias formas, envolveu vários sistemas, dos quais, um
dos mais importantes e duráveis é a biblioteca”. (SARACEVIC, 1974, P. 45).
Borko (1968, p. 3) define ciência CI como:
[...] a disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da
informação, as forças que governam seu fluxo, e os meios de processá-la
para sua acessibilidade e uso. A CI está ligada ao corpo de conhecimentos
relativos à origem, coleta, organização, estocagem, recuperação,
interpretação, transmissão, transformação e uso de informação. Ela tem tanto
um componente de ciência pura, através da pesquisa dos fundamentos, sem
atentar para sua aplicação, quanto um componente de ciência aplicada, ao
desenvolver produtos e serviços. (tradução nossa).
Fernandes, Cedón e Araújo (2011) fundamentados em Foskett (1980)
destacam que a Ciência da Informação enquanto disciplina, surge de uma fertilização
cruzada de ideias que incluem a arte da biblioteconomia, a computação, os meios
comunicação e ciências como linguística e psicologia que tem como uma de suas
preocupações as questões relacionadas à comunicação e transferência do
pensamento organizado.
12
Contrapondo a ideia de que Ciência da Informação tenha alcançado do status
de Ciência, Mercado (1974) alerta que a área ainda não de consolidou como ciência
porque ainda carece de métodos de validação que permitam construir uma estrutura
unificadora e possibilite realizar e comprovar hipóteses e ainda porque seu conceito é
interdisciplinar e ilimitado. Com isso, representaria apenas a intersecção entre várias
disciplinas, como linguística, psicologia, computação, por exemplo, sendo
necessariamente prática. Contudo cabe ressaltar que a Ciência da Informação
apresenta traços semânticos de caráter investigativo, mas é prematuro considerá-la
como ciência devido à “ausência de delimitação e clareza nas suas várias
conceituações”. (GALVÃO, 1993, p. 108).
A relação entre Biblioteconomia, a Documentação e a Ciência da Informação,
também não é ponto pacífico entre os estudiosos das áreas. Cesarino (1973) destaca
que se trata de disciplinas diferentes, embora tenham objetivos semelhantes e se
utilizem das mesmas técnicas, instrumentos e métodos de pesquisa e trabalho. Já
Saracevic (1974) destaca que a Ciência da Informação, enquanto ciência, tem muito
a contribuir para o desenvolvimento da Biblioteconomia. Costa (1990) sugere que
enquanto a Ciência da Informação realiza investigações e faz descobertas teóricas,
enquanto a Biblioteconomia e Documentação aplicam os resultados dessas
investigações, havendo uma atuação colaborativa entre as três áreas.
Galvão (1993) a partir das afirmações de Shera (1980) destaca que a
Documentação é um aspecto ou área de atuação da Biblioteconomia e que a Ciência
da Informação seria a base teórica da prática biblioteconômica, estabelecendo-se
assim uma relação de retroalimentação entre as duas áreas. Fonseca (1987) alega
que a Biblioteconomia trabalha com publicações primárias e seus usuários, a
Documentação com publicação secundárias e terciárias e Ciência da Informação
estuda como, quando, porque e onde a informação aparece, quem a produz, qual o
seu fluxo e destino, portanto com a teoria que sustenta as práticas tanto da
Biblioteconomia quanto da Documentação.
Com base nos diferentes posicionamentos dos autores fica evidente a ausência
de delimitação conceitual entre os termos biblioteconomia, Documentação e Ciência
da Informação. Assim, conforme destaca Galvão (1993, p. 111) enquanto o termo
Biblioteconomia mantém traços da etimologia da palavra sem refletir o
desenvolvimento da área e a evolução do conceito, a Ciência da Informação como
área interdisciplinar e “[...] não consegue, no seu desenvolvimento, uma determinação
13
de seus limites. Nasce na interdisciplinaridade, se perde no seu interior e busca nos
termos Documentação e biblioteconomia, muitas vezes, sua sustentação”.
Nesse item estudamos os conceitos da Documentação e da Ciência da
Informação e suas relações com a biblioteconomia. Vimos que essas áreas embora
tenham sua relativa independência, desenvolvem-se mutuamente e se inter-
relacionam mutuamente tanto em termos práticos quanto teóricos.
REFLITA
Assista ao vídeo “importância da Documentação e da tecnologia da informação” e
reflita sobre a importância da Documentação e da informação na sociedade
contemporânea. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cpTFyhRShWQ
#REFLITA#
https://www.youtube.com/watch?v=cpTFyhRShWQ
14
3 ESCRITA E PATRIMÔNIO CULTURAL: ORIGEM E RAZÃO DE SER DA ÁREA
Olá!
Neste item o(a) convidamos a fazer um passeio pela história e desvendar como
se deu o processo de escrita. De antemão, antecipamos que a civilização se divide
em dois períodos bem distintos: antes da escrita e a partir dela. Desta maneira, refletir
sobre a história da escrita “contribui não só para o nosso entendimento do mundo
como de nós mesmos” (OLSON; TORRANCE, 1997, p. 13), haja vista, que a escrita
vai além do agrupamento de letras e de junção de palavras. É por meio dela que o
homem tem acesso ao mundo das ideias e pode acompanhar os avanços vivenciados
pela humanidade. Após este preâmbulo, que tal conhecer como se deu a passagem
da sociedade oral para a sociedade escrita?
Antes de iniciar o percurso histórico é importante apresentar o que se entende
por escrita, então buscamos em Fischer (2006, p. 14), que a conceitua como “a
sequência de símbolos padronizados (caracteres, sinais ou componentes de sinais)
com a finalidade de reproduzir geralmente a fala e o pensamento humano”.
15
A escrita desde a sua invenção provocou grandes transformações intelectuais
e sociais na humanidade, ela “tornou-se a suprema ferramenta do conhecimento
humano (ciência), agente cultural da sociedade (literatura), meio de expressão
democrático e informação popular (a imprensa) e uma arte em si mesma (caligrafia)
[...] (FISCHER, 2009, prefácio).
A história da escrita data da pré-história, quando o homem desenhava nas
paredes das cavernas, em árvores e em rochas a representação de suas ideias e a
manifestação seus desejos e as suas necessidades por meio de objetos e figuras.
Esses desenhos eram denominados de pinturas rupestres e que, apesar de não ser
um tipo de escrita, foi assim que iniciou o processo de comunicação (registrada) entre
os seres humanos.
Figura 1 - Pintura rupestre
Com o passar dos anos, o homem já não mais nômade, sentiu a necessidade
de registrar seus feitos, entretanto, o desenvolvimento de um sistema de escrita
“formal” foi um processo lento. Nesta caminhada, várias ferramentas foram produzidas
para auxiliar a memória, por exemplo, os pictogramas, que corresponde a
representações de objetos e conceitos traduzidos em formas gráficas; nós; paus ou
ossos entalhados, tábuas em que se escreviam as mensagens, dentre outros.
Higounet (2003, p. 17), sobre a históriada escrita descreve que a
a pedra sempre foi o suporte por excelência das escritas monumentais. Os
hieróglifos egípcios, as inscrições hititas, os fragmentos de Biblos, os
caracteres monumentais gregos e latinos são gravados na pedra dura ou vez
por outra, incisos em relevo. A escrita dita cuneiforme da Suméria e da Ásia
anterior era, por outro lado, preferentemente traçada em tabuletas de argila
16
fresca, depois cozidas ao forno. Os mais antigos caracteres chineses são
gravados no bronze ou no casco de tartaruga. No templo de Maomé, os
árabes usavam muito ossos de camelo.
Conforme podemos perceber que até que a escrita tivesse como suporte de
registro o papel percorreu um longo trajeto: pedra; casca de árvore; tablete ou
tabuinha de argila; tablete ou tabuinha de cera; papiro e o pergaminho. Temos certeza
de que você já está curioso(a) para conhecê-los. Então vamos adiante!
Um sistema de escrita sistematizado surgiu por volta de 3.500 a.C, na
Mesopotâmia, quando os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme. Lins (2020,
p. 1), esclarece que “as sociedades antigas faziam uso da escrita para condensar
informações, auxiliar na contabilidade, armazenar materiais e preservar nomes, datas
e lugares”. Os textos da Mesopotâmia eram registrados com estiletes pontiagudos em
na argila, em forma de cunha, amolecida (FISCHER, 2006). Os famosos tabletes ou
tabuinhas de argila.
SAIBA MAIS
Na Mesopotâmia (atualmente sul do Iraque e sudoeste do Irã), no ano de 3.000
a.C., surgiu a escrita cuneiforme, em que cada sinal passou a representar uma sílaba.
A região da Síria, por volta do ano 1.500 a.C, era ocupada pelos fenícios, um povo
bastante organizado, de bom domínio da agricultura e que fazia comércio com todo o
Oriente e Ocidente. Com eles, surgiu o alfabeto fenício, que pela primeira vez
associava os caracteres aos sons, como na escrita fonética, que temos hoje. Aquela
região foi colonizada pelos gregos e romanos e deu sua principal contribuição para o
progresso cultural: a difusão do alfabeto, que modificado, passou a transcrever outras
línguas, podendo ser considerado o ancestral de todos os alfabetos ocidentais, como
o grego, de 900 a.C. e o latino, de 700 a.C.
Fonte: Sampaio (2009).
#SAIBA MAIS#
No segundo milênio a.C, criaram-se escolas para ensinar a escrever,
entretanto, escribas era privilégio de poucos e os sacerdotes eram quem detinha
monopólio da interpretação dos livros sagrados, além de ser os únicos profissionais
17
que podiam ler as mensagens reveladas nas entranhas dos animais sagrados
(LYONS, 2011). Como podemos perceber, desde a Mesopotâmia a escrita sempre
esteve associada ao poder.
Fischer (2006, p. 17), complementa que
por volta de 2000 a.C., em Ur, a maior metrópole da região com uma
população de aproximadamente 12 mil pessoas, apenas uma pequena
parcela – talvez uma em cada cem ou cerca de 120 mil pessoas, no máximo
- era capaz de ler e escrever. De 1850 a 1550 a. C., a cidade-estado babilônia
de Sippar, com cerca de dez mil habitantes, abrigava apenas 185 chamados
“escribas” (ou seja, escritores oficiais em tabuletas), dos quais dez eram
mulheres.
É importante salientar que as tabuinhas de argila eram grandes e pesadas e
que o conteúdo nela escrito eram incontestáveis e quem duvidasse seria punido. A
escrita cuneiforme foi usada por cerca de três mil anos e “a era da escrita cuneiforme
chegou ao fim com o surgimento da escrita aramaica, com os fenícios, entre os
séculos X a VII a.C., feita à tinta em couro ou papiro” (LINS, 2020, p. 2).
Caminhando pelo nosso percurso sobre a história da escrita chegamos ao Egito
e aos hieróglifos, que corresponde a uma forma de escrita pictórica, enigmática e de
difícil compreensão, tinha cerca de 2.500 sinais. Considerada uma escrita sagrada,
era utilizada somente por sacerdotes, membros da realeza e escribas, que podiam
interpretar e reproduzir os símbolos.
A escrita hieroglífica apesar de ter uma aparência bonita era difícil de ser
decifrada, pois os seus sinais ora exprimiam uma palavra e em outras um som, além
de tomar muito tempo para traçar ou entalhar. Assim, no Egito Antigo, “a escrita
hieroglífica cursiva, só muito mais tarde chamada de “hierática”, desenvolveu-se
quase imediatamente como instrumento prático para escrever documentos comuns –
cartas, contabilidade, listas – e já no segundo milênio a. C., também textos literários”
(FISCHER, 2006, p. 43).
Figura 2 - Escrita hierática
18
É mister salientar que embora se pudessem utilizar para a escrita hieróglifa,
suportes duros, como a pedra, o metal e a madeira, os hieróglifos eram escritos em
tinta sobre o couro, o óstraco e o papiro. A respeito desse último, Higounet (2003, p.
17), menciona que
a fabricação do papiro foi monopólio do Egito até o século VII. [...] a matéria-
prima era o caule de um junco cultivado no vale do Nilo. As lâminas
longitudinais e transversais, coladas com a água do rio, formavam as folhas
que eram mandadas ao comércio cortadas em forma de rolo. Era um material
bem pouco resistente. Seu uso só foi abandonado completamente no século
XI.
Devido à pouca durabilidade o papiro foi aos poucos sendo substituído por
outros materiais para suporte para a escrita e o mais comum foi o pergaminho. Este
material surgiu na cidade de Pérgamo (Ásia), aproximadamente no Século 2 a.C e
consistia na pele de um animal (cordeiro, carneiro ou cabra), que após curtida e seca
estava pronta para receber a escrita. Era considerado um material nobre e usado nos
mosteiros católicos para registrar documentos importantes.
Foguel (2016, p. 26), esclarece
foi o pergaminho que possibilitou o desenvolvimento do códex (ancestral do
livro contemporâneo), por meio da costura pelo vinco, sem que as folhas se
rasgassem ou se desgastassem pelo manuseio. Assim, os manuscritos foram
evoluindo e desenvolvendo novos suportes, até chegarem ao papel tal qual
hoje o conhecemos.
Pode-se perceber que até a civilização conhecesse a escrita alfabética,
percorreu um longo trajeto e todos os sistemas anteriores eram baseados na
ideografia, isto é, as ideias eram representadas por pinturas ou desenhos, por
exemplo, a escrita cuneiforme e a escrita hieroglífica. Queiroz (2005, p. 7), elucida que
19
Depois de algumas descobertas, surgiu gradualmente o quadro de uma forma
prototípica de escrita alfabética, a norte-semítica, formada por vinte e dois
símbolos escritos uniformemente da direita para a esquerda: uma escrita
consonântica, agora tida como o antepassado direto das escritas hebraica,
moabita, fenícia, aramaica e grega, e que teve a sua existência definitiva nos
últimos séculos do segundo milênio a. C.
Com relação ao alfabeto, “sistema de sinais que exprimem os sons
elementares da linguagem” (HIGOUNET, 2003, p.59), não se pode precisar com
exatidão quando ele apareceu, o que se sabe é que “datam de 1900 a. C. dezesseis
textos escritos em língua semítica encontrados em Serabit-el-Khadem, na península
do Sinai. Nesses textos foram reconhecidos vinte e sete sinais diferentes nitidamente
alfabéticos” (QUEIROZ, 2005, p. 7).
É importante ressaltar que o alfabeto grego, desenvolvido nos séculos VI e VII
a. C, é de sua importância para a escrita da civilização, pois, ele representava os sons
da voz humana. Foi este alfabeto o intermediário ocidental entre o alfabeto semítico e
o alfabeto latino. Um elemento diferenciador no sistema de escrita alfabética é a
direção da escrita, por exemplo
os chineses e japoneses escrevem da direita para a esquerda e em colunas.
Os árabes escrevem também da direita para a esquerda, mas em linhas de
cima para baixo. O grego antigo era escrito em linhas com direção alternada:
uma linha da direita para a esquerda e a linha seguinte da esquerda para a
direita, invertendo a direção das letras; a terceira linhaequivalia à primeira e
a quarta à segunda e assim sucessivamente. [...] Os romanos instituíram a
escrita da esquerda para a direita em linhas, que vigora até os dias de hoje
no nosso sistema alfabético (BRASIL, [2020?]).
O alfabeto romano também conhecido como alfabeto latino, atualmente, é o
sistema de escrita alfabética mais utilizado no mundo. Ele é usado para escrever a
língua portuguesa e na maioria dos países colonizados pelos europeus. “Ao longo dos
séculos XIX e XX, o alfabeto latino tornou-se também o alfabeto preferencialmente
adotado por várias outras línguas, em especial pelas línguas indígenas de zonas
colonizadas por europeus que não tinham sistema de escrita próprios (FOGUEL,
2016, p. 24)
Ao refletirmos sobre a escrita alfabética, não podemos esquecer o suporte mais
utilizado nesse sistema de escrita: o papel. Os créditos pela descoberta do papel, tal
como conhecemos hoje, são atribuídos aos chineses que, após utilizarem para a
escrita tiras de bambu, as quais eram obtidas do caule da planta, rapadas
internamente e colocadas para secar e, para formar o livro, as fichas eram furadas
20
nas extremidades e unidas por fios de seda. Tanta persistência levou a T’sai Lun, no
ano de 105 d.C a inventar o papel, porém,
no ano 751, o exército árabe atacou a cidade de Samarcanda, que na época
era dominada pelo império chinês. Técnicos de uma fábrica de papel foram
presos e levados a Bagdá. Ao descobrirem o segredo, os árabes também
começaram a fazer papel, sem revelar a técnica. No século 11, a novidade
chegou à Europa e, só depois, espalhou-se pelo Ocidente (ROPERO, 2012,
[n.p.]).
Com a invenção da imprensa no século XV o papel se “imortalizou” e “todas as
ações do homem estão postas no papel: sua literatura, sua ciência, seu direito, sua
religião, etc. Tudo isso se constitui em artefatos da escrita” (QUEIROZ, 2005, p. 8).
Enfim, com relação a escrita vai além de agrupamento de signos, de “ponte”
para a leitura, mas sim, ela é um instrumento de imobilização, patrimônio cultural de
um povo, pois dela que as memórias se materializam e se imortalizam. As palavras
de Higounet (2003, p.9-10), ilustram o exposto
a escrita é mais que um instrumento. Mesmo emudecendo a palavra, ela não
apenas a guarda, ela realiza o pensamento que até então permanece em
estado de possibilidade. Os mais simples traços desenhados pelo homem em
pedra ou papel não são apenas um meio, eles também encerram e
ressuscitam a todo momento o pensamento humano. Para além de modo de
imobilização da linguagem, a escrita é uma nova linguagem, muda
certamente, mas, segundo a expressão de L. Febvre, “centuplicada”, que
disciplina o pensamento e, ao transcrevê-lo, o organiza.
Não importa o suporte que a armazena, a escrita sempre expressará as ideias
e o pensamento da humanidade.
4 BIBLIOTECAS E A ORIGEM DA BIBLIOTECONOMIA
User
Realce
21
Biblioteca Nacional. Seção de literatura
Car(o) Acadêmico(a)!
Neste item o(a) convidamos a fazer um passeio pelo surgimento das bibliotecas
na humanidade e que desde o princípio teve por finalidade “guardar” e,
posteriormente, também difundir o conhecimento. Veremos, também, que à medida
que a informação crescia era necessário alguém para organizá-la e, desta forma,
origina a Biblioteconomia, essa ciência, técnica e arte tão encantadora. Então,
animados para a caminhada? Vamos lá!
Bibliotecas: contextualização
22
O vocábulo biblioteca é composto pelas palavras gregas biblion (livro) e teke
(caixa) e literalmente significa o lugar onde se guardam livros, apesar de
desde as primeiras bibliotecas, essa palavra tem sido empregada para
designar um local onde se armazenam livros. Porém, nem sempre foram
livros os materiais que preenchiam as bibliotecas. Historicamente, os
suportes para a informação variaram de formato seguindo a tecnologia
utilizada pelo homem. Já foram usados materiais como tabletas de argila,
rolos de papiro e pergaminho e os enormes códices que eram enclausurados
nos mosteiros medievais (MORIGI; SOUTO 2005, p.190).
As bibliotecas fazem parte da história da humanidade desde muitos séculos
antes de Cristo, pois no Egito e na China estas instituições existiram antes do período
clássico grego, entretanto, a civilização que mais deixou provas concretas de grandes
coleções de documentos foi a assírio-babilônica, com a biblioteca e Nínive, com uma
gigantesca coleção de milhares de tijolos de barro, cujo organizador foi o rei foi
Assurbanípal, (669-626 a.C.). Essa biblioteca ficou oculta durante séculos e foi
descoberta na década de 1850, pelo arqueólogo Sir Austen Henry Layard, que
encontrou placas e fragmentos cobertos de caracteres cuneiformes. As placas
estavam classificadas por assuntos e identificadas por marcas que determinavam a
sua localização nas coleções (SERRAI, 1975).
Na biblioteca de Nínive se encontra uma inscrição feita pelo próprio
Assurbanípal, que diz: “Gosto de ler bons pensamentos e de cortar orelhas e narizes
de meus cativos de guerra” e o provérbio: “A escrita é a mãe da eloquência e o pai
dos artistas” (LITTON, 1975, p. 34).
Litton (1975), relata que na Antiguidade, estava localizada em Mênfis, à
biblioteca de Ramsés II, faraó egípcio que reinou de 1320 a 1.200 a.C e, era
denominada pelo soberano de “Tesouro dos remédios da Alma”. Na Grécia, tem-se
conhecimento de grandes bibliotecas e, uma delas que atraiu a atenção, foi a do
filósofo Aristóteles. Após a sua morte, passaram por várias mãos até chegar em
Roma.
Continuando a caminhada pela história, encontra-se a biblioteca em Pérgamo,
cidade da Ásia Menor, comparável às maiores da Grécia. Suas coleções chegaram a
20.000 volumes. Daí se originaram os códigos, folhas em vez de rolos, feitos de
pergaminho (MARCONDES, 1976).
A biblioteca mais famosa do período da Antiguidade foi a Biblioteca de
Alexandria, fundada em 280 a.C. e ficava localizada na cidade de Alexandria, ao norte
23
do Egito, nas margens do Mediterrâneo. Guardava cerca de 700.000 volumes ou rolos
(MARTINS, 2003). Ela recebeu em seus recintos pesquisadores importantes que
muito contribuíram para o conhecimento humano, dentre eles: Euclides de Alexandria,
Herófilo e o físico Arquimedes.
Reis (2020), a este respeito complementa que
a Biblioteca de Alexandria foi estabelecida na Dinastia Ptolemaica no século
III a.C. pelo rei Ptolomeu II. A vontade de obter conhecimento era tamanha
que criaram uma espécie de lei que reunia todos os pergaminhos das
embarcações que aportassem na cidade de Alexandria. Eles tinham o anseio
de adquirir uma cópia de cada livro da face da terra, então pegavam os
pergaminhos das embarcações, faziam as cópias que na época eram feitas
manualmente e depois que ficavam com as originais e devolviam as cópias.
Ou até mesmo confiscavam as obras e compensavam os donos com uma
quantia em dinheiro.
Desta maneira, a Biblioteca de Alexandria, reunia um enorme fluxo de
informações e tornou-se conhecida como o centro do conhecimento, infelizmente, ela
foi incendiada pelo Imperador Júlio César, 47 a.C. queimando cerca de 500.000 rolos.
Restaram, aproximadamente, 200.0 que foram queimados por ordem do califa Osmar,
640 d.C., sob o argumento de que “ou os livros contém o que está no Alcorão e são
desnecessários ou contém o oposto e não devemos lê-los” (VENTURI, 1998, p. 23).
Essa biblioteca atualmente é conhecida como a “biblioteca desaparecida”.
Pode-se mencionar que foi a partir da Biblioteca de Alexandria origina-se a
Biblioteconomia. Era preciso preparar um profissional que tivesse habilidades para
reunir e classificar a Documentação de forma que a informação pudesse ser
disponibilizada ao usuário.
As palavras de Santos e Rodrigues (2013, p. 116), são esclarecedoras ao
mencionar que
A necessidade de organizar, conservar e divulgar os documentos, desdeo
início da escrita até a época moderna, levou as bibliotecas a criarem uma
série de procedimentos e métodos que, apesar de possuírem caráter
eminentemente técnico, visando à resolução de problemas práticos,
formaram um conjunto de técnicas e de questões envolvendo a rotina dessas
técnicas que, ao longo do tempo, se constituíram na base da futura disciplina
Biblioteconomia.
Era preciso organizar o conhecimento, até porque havia, também, bibliotecas
em outras cidades helenísticas, em Antioquia, na corte dos Selêucidas e em Péla,
capital da Macedônia. Essa última foi levada para Rom, após a derrota de Persu, o
último rei macedônico (GIOVANNINI, 1998).
24
Em Roma, também, foram instituídas muitas bibliotecas que continham grandes
acervos literários. Giovannini (1998, p. 57), descrevendo sobre este período histórico
acrescenta que
O número de bibliotecas públicas, já extraordinário na época helenística,
cresceu ainda mais durante o Império Romano, e isso prova a grande difusão
dos livros. Parece que em 370 d.C. Roma contava com 28 bibliotecas;
também em várias localidades da Itália e nas províncias havia bibliotecas [...]
O número de bibliotecas particulares também aumentou consideravelmente
a época imperial.
Entretanto, com o desaparecimento do Império Romano do Ocidente, há o
enfraquecimento e a decadência da tradição filosófica e literária clássica sob o impulso
da nova ideologia cristã e as bibliotecas da Roma Imperial fecham-se uma após a
outra, em seu lugar aparecem as bibliotecas cristãs, com interesse centrado nos livros
sagrados: “o pouco que se preserva da tradição pagã é ainda reunido nas seções
gregas e latinas, mas as bibliotecas possuem um papel secundário, como o de
fornecer material para a polêmica contra o mundo pagão” (SERRAI, 1975, p. 144).
Essa revolução intelectual coincide com a transferência dos textos antigos do papiro
para o pergaminho que, nem sempre intencionalmente, vem constituir um filtro
desfavorável à cópia e à conservação da literatura clássica.
Assim, chega-se na Idade Média e o maior número de bibliotecas dessa época
pertencia às igrejas e mosteiros, pois a leitura, especialmente reservada aos
domingos e à Quaresma, era considerada ocupação normal para os monges, “exceto
para alguns negligentes e preguiçosos, que não querem dispor daquele que parece
ser um implemento essencial do mosteiro: a biblioteca” (MANACORDA, 2010, p. 120).
Os livros eram oferecidos em forma de códices de pergaminho e o bibliotecário
medieval era responsável pela integridade material das coleções, que eram ainda
bastante limitadas, pois os manuscritos eram raros e de difícil fabricação.
Nas últimas décadas da Idade Média, criou-se a literatura popular, surgem as
primeiras universidades e inicia-se a literatura científica, cujos frutos invadiram as
bibliotecas da época. Com o Humanismo e o Renascimento, livros e bibliotecas
adquirem uma extraordinária importância: “uma das paixões dos estudiosos é procurar
por toda parte dos mosteiros ocidentais e orientais os clássicos que são
redescobertos, copiados, comprados e até surrupiados” (SERRAI, 1975, p. 145).
25
Com a invenção da imprensa, em 1450, as bibliotecas crescem rapidamente:
os sistemas medievais de conservação dos livros em armários, arcas e estantes de
tampo inclinado não são mais compatíveis com o número de livros impressos.
Antes do século XV as bibliotecas eram particulares ou ligadas a instituições.
No século XVI, devido à origem e à função surgem outros tipos de bibliotecas: as
constituídas como fundação e mantidas por dotação; as nacionais (em geral derivam
das reais); as circulantes, com pagamento de certa importância por parte do usuário;
as filantrópicas, com base financeira mista e as públicas anglo-americanas, mantidas
por contribuições fiscais.
No século XVII, em 1627, Gabriel Naudé publica o Advis pour dresser um
bibliothéque, “o primeiro manual para bibliotecários, que formalizou as bases
conceituais da Biblioteconomia, abrindo caminho para a afirmação de importantes
conceitos, como a ideia de ordem bibliográfica” (SANTOS; RODRIGUES, 2013, p.
117)
Em 1659, Frederico Guilherme abre em Berlim, a primeira biblioteca pública,
entretanto, nem sempre públicas significava aberta a todos sem distinção e, essas,
novas bibliotecas serviam a um público selecionado e, portanto, inacessíveis a toda
população. Somente em 1676, Gottfried Wilhelm Leibniz (bibliotecário da biblioteca
de Hannover) dá à biblioteca o caráter de uma instituição pública, igualando-a à
escola. A finalidade da biblioteca é contribuir para o progresso e para o melhoramento
da humanidade.
De acordo com Santos e Rodrigues (2013, p. 119),
[...] a partir de então, a biblioteca pública passou a representar a
modernidade, em oposição às bibliotecas da antiguidade e da idade medieval
que a antecederam. Em função do surgimento da biblioteca pública e do
crescimento dos periódicos, a Biblioteconomia passou a trilhar novos
caminhos.
Para satisfazer as necessidades de instrução e de distração dos que não eram
sábios, estudantes ou suficientemente ricos para possuir suas próprias coleções de
livros, toma forma, a partir do século XVII, a biblioteca circulante, isto é, uma coleção
de volumes que são emprestados para leitura, mediante pagamento de pequena
quantia. Além dessas, aparecem as bibliotecas filantrópicas, aquelas que se mantêm
em parte com as contribuições dos usuários (SERRAI, 1975).
No século XVIII, as bibliotecas prosperam, o gosto pela indagação torna-se
moda e espalha-se em círculos sempre maiores, a razão procura esclarecer os
26
campos tenebrosos da história nacional e dos fenômenos naturais, e estes constituem
alguns dos estímulos que levam a um maior uso das bibliotecas e, ao mesmo tempo,
a um notável aumento da produção editorial.
Na segunda metade do século XVIII, as ideias iluministas encontraram
aplicação nas reformas jurídicas e práticas adotadas por alguns soberanos. Foram
suprimidas todas as irmandades e ordens religiosas que não tivessem finalidades
hospitalares ou educativas e suas bibliotecas foram transferidas para as bibliotecas
públicas, estaduais ou universitárias.
No século XIX, as bibliotecas públicas proliferaram rapidamente e as ideias
democráticas e o choque das ideologias políticas em meados deste século não
podiam deixar de se refletir nas bibliotecas. Nessa época, “o burguês rico, imbuído de
filantropia, com dó dos pobres, não podia deixar de se condoer com a falta de ‘pão
espiritual’ em que vivia o trabalhador”. Este e outros chavões passaram a constituir
uma espécie de propaganda, cujo slogan em voga era: “Abrir uma biblioteca é como
fechar uma prisão”. (MORAES, 1983, p. 16)
Foi o tempo das chamadas “bibliotecas populares”. Todo mundo parecia
convencido da necessidade de ilustrar o operário, evitando, ao mesmo tempo, que ele
se corrompesse com leituras perigosas. Dentro desse espírito abriram-se bibliotecas
públicas por toda parte da Europa. Bibliotecas “cheias de livros de vulgarização
científica, romances históricos, clássicos dos que são tidos como boa leitura, manuais
de instrução técnica e profissional”. Bibliotecas, em suma, “munidas de obras
escolhidas, ‘ao alcance do povo’, que a nata intelectual julgava destinadas a instruir
ou divertir os operários” (MORAES, 1983, p. 16).
Entretanto, o surgimento das bibliotecas públicas gratuitas “contribuíram para
reforçar os temores da massificação da cultura”, e a burguesia se perguntava “se os
padrões de leitura, ao se alastrarem entre os assalariados, diminuiriam o seu gosto
pelo trabalho” (COHN, 1973, p. 61). Na fase inicial da divulgação dos hábitos de
leitura, ficou bem marcada a afinidade entre a preocupação com a presença da
“massa” e com a “massificação cultural” por um lado, e a expressão de interesses de
classe, bastante primários, por outro.No que concerne ao termo Biblioteconomia, Santos e Rodrigues (2013, p. 20),
salientam que ele
27
foi usado pela primeira vez somente em 1839 na obra publicada pelo livreiro
e bibliógrafo Léopold-Auguste-Constantin Hesse e intitulada
Bibliothéconomie: instructions sur l’arrangement, la conservation e
l’administration des bibliothèques. Portanto, é a partir do século XIX que
efetivamente as técnicas e práticas dos bibliotecários começam a ser
sistematizadas.
Ainda, no século XIX, as conclusões ideais do Iluminismo e da Revolução
Francesa emigram para a Inglaterra e para os Estados Unidos da América e as
bibliotecas americanas nasciam, pois, sem o erro básico das europeias: a separação
de bibliotecas para o povo e bibliotecas para as elites. Elas não eram, neste caso,
doadas por uma classe, como uma esmola, a outra classe menos favorecida. Para
Moraes (1983, p. 16) “nunca houve nos Estados Unidos, a mentalidade bibliotecária
humanitária”.
Assim, do século XIX em diante, as bibliotecas e a Biblioteconomia adquirem
sua fisionomia atual. E hoje em dia, abrir uma biblioteca não é mais fechar uma prisão.
A biblioteca deixou de ser um “hospital de almas” para se tornar simplesmente uma
oficina de trabalho, que pode ser utilizada por qualquer cidadão.
REFLITA
Agora que já sabemos como surgiram as bibliotecas no mundo, você já tem
ideia de como estas instituições chegaram no Brasil?
Fonte: As autoras.
#REFLITA#
No que diz respeito ao surgimento da biblioteca no Brasil, os livros chegaram a
partir da metade do século XVI, após a instalação, em 1549, do Governo-Geral em
Salvador, na Bahia. Essa data marca o “começo da vida administrativa, econômica,
política, militar, espiritual e social do país”, entretanto, “só começamos a engatinhar
pelo caminho da cultura depois do estabelecimento dos conventos dos jesuítas,
franciscanos, carmelitas e beneditinos, principalmente dos padres da Companhia de
28
Jesus que, logo após sua chegada, abrem Colégios na Bahia e em outras capitanias”
(MORAES, 1979, p. 1), mas os livros, assim como a instrução estavam nos conventos,
pois a Igreja foi a única educadora do Brasil até fins do século XVIII e, as bibliotecas
conventuais foram, até a segunda metade desse século, os centros de cultura e
formação intelectual dos jovens brasileiros que iam completar seus estudos em
Portugal.
Ao se referir às primeiras bibliotecas, Milanesi (1986, p. 65), tece o seguinte
comentário:
elas não nasceram públicas mas, como o ensino, privadas e com uma direção
ferreamente dirigida: a catequese, o aprimoramento do espírito missionário.
Os livros que faziam parte desse arsenal religioso espalhado pelas primeiras
povoações e colégios eram apropriados ao objetivo: fundamentalmente obras
litúrgicas ou de amparo doutrinário ao trabalho apostólico, sempre sob o
respaldo do colonizador.
Esse panorama só se alterou com a chegada da família real no Brasil, em 1808.
De acordo com Moraes (1983), com o Príncipe Regente, veio de Lisboa a célebre
coleção de Diogo Barbosa Machado, a qual serviu de ponto de partida para a
Biblioteca Nacional de nossos dias. Com a corte, veio também o maquinário para que
se instalasse no país a primeira imprensa.
Na Bahia, em 1811, o Conde dos Arcos funda a primeira biblioteca pública.
Três anos mais tarde, a Biblioteca Real instalada no Rio de Janeiro, no hospital dos
Terceiros Carmelitas, abre as suas portas à população fluminense. “E aqui termina o
período medieval das bibliotecas brasileiras” (MORAES, 1983, p. 18).
A instalação da República no Brasil provocou mudanças sociais. As idéias
liberais advindas dos novos tempos contribuíram para o incentivo da criação de
bibliotecas. Esse esforço é assim descrito por Milanesi (1986, p. 34):
os esforços mais visíveis para a construção de um modelo de biblioteca
partiram de grupos diferenciados e que representavam a busca de
modernização reflexa. Para o geral da população como desde o Segundo
Império, procurava-se construir uma biblioteca que fosse uma possibilidade
de restauração humanística da sociedade através do eruditismo e das
filosofias regeneradoras.
A década de 1920, foi uma década marcada por crises sociais e políticas que
culminaram com a derrubada das oligarquias. Com isso houve o empobrecimento de
algumas cidades, em consequência, decaem as suas bibliotecas e muitas delas
29
desapareceram. Mas se essas bibliotecas decaíram ou desapareceram, em
compensação as diretamente sustentadas pelo governo foram crescendo pouco a
pouco. A Nacional do Rio aumentou seu acervo com a aquisição de coleções
particulares e também em virtude da lei que obriga todo editor a doar-lhe um exemplar
de cada obra publicada. As dos Ministérios e das Faculdades, adquirindo livros de vez
em quando. As estaduais também cresceram. Tudo isso mais por força das
circunstâncias que por iniciativa direta dos respectivos governos.
Nas décadas de 1950 a 1960,
de uma maneira geral o número de bibliotecas tem crescido, raros são os
municípios que não possuem sua biblioteca, mesmo porque negar recursos
financeiros para a implantação de uma biblioteca seria o mesmo que passar
atestado de inculto, coisa indesejável para qualquer político. De uma maneira
geral elas têm sido vistas como inofensivas (CARVALHO, 1991, p. 39).
Até que chega 1964 e inicia no país a ditadura militar e as bibliotecas sofrem
censura e a informação passa a ser sonegada até chegar a reabertura da democracia
no país, onde as bibliotecas voltam a desempenhar um papel relevante na sociedade
e, no limiar do século XXI, mais que nunca, acredita-se de que é preciso instalar,
organizar bibliotecas e disponibilizar a informação a todos os indivíduos, ou seja,
atender a toda comunidade, a todo cidadão.
30
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade vimos os conceitos atribuídos à Biblioteconomia, Documentação
e Ciência da Informação e como essas áreas se desenvolvem e se relacionam. Vimos
que a Biblioteconomia está voltada à organização e a administração de bibliotecas e
outras unidades de informação, desenvolvendo ações de seleção, aquisição,
organização e disseminação de publicações sob diferentes suportes físicos e
desenvolve suas atividades técnicas e normativas na perspectiva de proporcionar o
acesso à informação. Já Documentação por sua vez volta suas ações ao processo de
reunir, classificar e difundir documentos em todos os campos da atividade humana e
a Ciência da Informação estaria preocupada em estudar as propriedades e o
comportamento da informação, as forças que governam seu fluxo, e os meios de
processá-la para sua acessibilidade e uso, fornecendo os fundamentos teóricos
necessários às práticas biblioteconômicas e documentárias.
Estudamos também como se deu o processo da escrita e pudemos perceber
que a história da humanidade se divide em dois períodos bem distintos: antes da
escrita e depois dela e, também, que desde a sua invenção provocou grandes
transformações intelectuais e sociais na humanidade. Vimos também os sistemas de
escrita anteriores à escrita alfabética.
Por fim conhecemos sobre o surgimento das bibliotecas e que se, a princípio,
elas surgiram com a finalidade de guardar a informação, na contemporaneidade, elas
são de suma importância na produção e socialização do conhecimento.
31
LEITURA COMPLEMENTAR
A transformação do mundo pela escrita
Por Maíra Valle e Alessandra Pancetti
É difícil imaginar o mundo que conhecemos sem a escrita. A maior parte dos
avanços científicos e tecnológicos, ao longo da história, está direta ou indiretamente
associada ao armazenamento e transmissão de informações. Mas a escrita não
esteve sempre presente: considerando a história do Homo sapiens, que tem por volta
de duzentos e cinquenta mil anos de existência, ela é uma invenção bastante recente.
Comtoda a certeza, a linguagem oral precedeu muito o início da expressão dos
homens através de símbolos gráficos. A razão do hiato entre a fala e a escrita deve
se relacionar ao alto grau de abstração exigido por essa forma de expressão.
Inicialmente, os elementos gráficos utilizados eram apenas desenhos que
representavam diretamente aquilo que se queria expressar, como mostram as
pinturas rupestres. Assim, uma cabeça de um boi, por exemplo, representava esse
animal. Três cabeças de boi representavam três bois, e assim por diante. Entretanto,
por mais simplório que isso possa parecer hoje, para se criar e reconhecer os
pictogramas, como são chamados esses símbolos figurativos, foi necessária uma
grande dose de abstração do homem primitivo. Afinal, esses desenhos são uma
representação bastante diversa da realidade, colorida e em três dimensões. E apesar
da alta exigência cognitiva, é possível que a escrita tenha se iniciado diversas vezes,
em diferentes locais, em épocas próximas, como ocorreu com quase todas as grandes
invenções humanas.
Atualmente, acredita-se que a escrita foi criada através de um processo de
evolução lento, que levou milhares de anos e foi gerado a partir da ideia de registro
de propriedade ou objetos. Segundo Marcelo Rede, professor da Universidade de São
Paulo (USP) especializado em história da Mesopotâmia, a teoria da criação única da
escrita, cuja difusão posterior teria derivado em todos os outros tipos, não é plausível.
Para ele, não há apenas uma razão para o aparecimento da escrita, e sim inúmeros
fatores, dentro de um contexto histórico específico, que levaram as sociedades pré-
históricas a desenvolverem esse modo de expressão.
"De fato, sobretudo como mostraram as pesquisas da arqueóloga Denise
Schmandt-Besserat, desde o período neolítico, em plena pré-história, portanto, desde
32
nove ou oito mil anos a.C., várias populações do Oriente utilizavam sistemas de
registros para efetuarem o armazenamento de informações ou se comunicarem",
explica o professor da USP. Inicialmente, isso se deu através de pequenos objetos
moldados a partir da pedra ou da argila, cujo uso ajudava no controle de produção e
circulação de bens. Os chamados token representavam diretamente o artefato em
questão, como uma pequena escultura da cabeça de um boi ou uma planta.
Entretanto, às vezes eles tinham uma representação mais abstrata como, por
exemplo, uma pedra redonda representando um boi. Numa fase posterior, os tokens
passaram a ser envoltos por esferas de argila, as bullae. Segundo Rede, esse foi um
avanço no sistema de informações. "Isso sugere um acréscimo importante na
complexidade do sistema de registro, pois as bullae permitem reunir em seu interior
vários tokens, formando uma espécie de unidade de conta, um arquivo de
informações", explica o historiador. Às vezes, os tokens eram impressos na argila,
determinando o que esta continha, denotando uma complexidade ainda maior entre a
representação e o próprio objeto representado. Com o passar do tempo, as bullae
esféricas também desapareceram e surgiram tabletes achatados e, ao invés dos
tokens, passaram a ser utilizadas apenas as impressões destes nos tabletes de argila.
Os símbolos iconográficos impressos nesses tabletes de argila constituíram os sinais
proto-cuneiformes, pois já se assemelhavam à forma triangular, de cunha, da escrita
cuneiforme.
A escrita cuneiforme representa o mais antigo sistema de escrita de que se tem
registro. Ela apareceu na região da Mesopotâmia – atual Iraque – e, para alguns
estudiosos, estaria associada a uma língua única, o sumério, tendo sido criada para
expressar os elementos linguísticos de maneira literária, narrativa. Por essa razão,
muito estudiosos insistem em uma criação pontual ou única da escrita. "É uma visão
que repercute muito e exagera a ideia de que o surgimento da escrita foi um
verdadeiro divisor de águas, marcando o fim da pré-história e o início da história
propriamente dita", afirma Rede. Dentro dessa perspectiva, o historiador explica que,
apesar de a maioria dos estudiosos acreditar que os hieróglifos egípcios sejam
resultado de um processo local, alguns ainda acreditam que houve uma importação
da ideia do registro da Mesopotâmia.
Embora não haja consenso quanto à forma como a escrita se originou, o
mesmo não se dá para a invenção do alfabeto, que surgiu depois. "No caso do sistema
alfabético, o processo de difusão funcionou largamente: originado, ao que tudo indica,
33
na região do Levante (entre a costa de Gaza e a Turquia), as várias formas de alfabeto
foram se derivando umas das outras e espalharam-se por todo o Mediterrâneo antigo,
da Fenícia a Roma, passando pela Grécia. Assim sendo, as razões que levaram ao
aparecimento da escrita variam conforme os contextos históricos e não há uma
resposta única", completa o professor da USP. Quando o alfabeto foi inventado, as
formas escritas passaram a representar não mais coisas, mas os sons da língua
falada. Segundo ele, o registro de uma língua não pode se esgotar na representação
pictográfica, pelo simples fato de que nem todas as coisas podem ser representadas
em símbolos pictóricos. Como Rede explica, em relação à escrita suméria: "Como
dizer, a partir de uma imagem semelhante, o verbo "du"("falar") ou "gu"("gritar")? E
como distinguir "gritar"(verbo) de "grito"(substantivo)? Ou "boca"de "palavra"("inim")?
Do mesmo modo, como inserir as flexões de pessoa: eu falo, tu falas etc? Ou, ainda,
como indicar tempo: eu falava, eu falo, eu falarei? Para tudo isso, um sistema
puramente pictográfico se presta mal; é necessário introduzir sinais de abstração de
vários tipos".
Segundo Margarida Salomão, linguista e professora da Universidade Federal
de Juiz de Fora (UFJF), na história da escrita ocidental, existiu um momento em que
os sinais ideogramáticos, os hieróglifos egípcios, se convencionalizaram e, a partir
disso, existiu uma simplificação. Os ideogramas simplificados passaram a ser
interpretados foneticamente na escrita fenícia e, depois, na grega, que é basicamente
a que perdura até os dias de hoje. "A escrita é baseada na significação. O primeiro
período da escrita ocidental foi ideogramático, escrevia-se uma representação da
significação. E depois, para obter-se mais capacidade expressiva, para evoluir-se
tecnologicamente, é que de fato passou-se a fazer análise fônica, e hoje, tem-se a
escrita fonética, que é a mais prática de todas", explica Salomão. Para a linguista, a
invenção da escrita conferiu uma dimensão de poder aos povos que a possuíam, pela
perspectiva de avanço tecnológico advinda dela. "A partir do momento que se tem a
escrita, passa-se a ter uma memória social. E, na verdade, os avanços tecnológicos
obtidos foram pautados ou tiveram como patamar a sistematização e organização dos
conhecimentos, que passaram a ser, inclusive, coletivamente partilhados. E quanto
maior a disseminação dessa memória social, mais rápida e mais violenta se tornou a
evolução tecnológica e científica", completa.
Historicamente, junto com a escrita e logo no seu início, formou-se um grupo
de especialistas da escritura, os chamados escribas. A cultura escribal foi uma das
34
características das sociedades do antigo Oriente Médio. Para Marcelo Rede, da USP,
foi a classe dos escribas que conferiu grande longevidade à escrita cuneiforme, que
perdurou por mais de três milênios. Mas, enquanto parte deles se dedicava ao registro
das coisas cotidianas, como contabilidade e correspondência, outros se
especializavam em textos de áreas específicas do saber, como textos literários, textos
em medicina, matemática e astronomia. "Não é, portanto, apenas uma questão de ler
e escrever, mas de domínio de um campo de saber", completa Rede. Tal saber não
era totalmente difundido pela população, mas privilégio de poucos. Ainda assim, para
além dos textosespecíficos redigidos pelos escribas, a sociedade mesopotâmica
parece ter tido um grande número de pessoas capazes de registrar a vida cotidiana,
que está muito bem documentada nos escritos cuneiformes. "A tal ponto que os textos
cuneiformes formam o maior conjunto unitário de registros escritos antes da invenção
da impressão por Gutemberg", explica o professor da USP.
Entretanto, o aparecimento e a evolução da escrita não foi, e não é, uma
característica de todas as sociedades humanas. Mesmo com o aparecimento e a
evolução de diversos tipos de escrita, ainda hoje temos muito mais línguas faladas
(cerca de 7000), do que línguas escritas, que são algumas centenas. Com certeza,
questões históricas se encontram na base da discrepância entre o número de línguas
escritas e faladas, em especial a estrutura da sociedade em que a língua escrita é
usada. O linguista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
José Pereira da Silva, explica que apesar de as razões para o surgimento da escrita
não estarem totalmente esclarecidas, um dos fatores em comum na maioria das
sociedades foi a existência da agricultura, da permuta ou do comércio, o que exigia
um alto grau de complexidade de governança, em que havia uma necessidade prática
do registro. "Esses primeiros documentos eram, quase sempre, registros de bens e
indicação dos seus proprietários e herdeiros. A contabilidade foi, de início, a atividade
mais documentada por escrito", completa. Por isso, os povos cujas sociedades eram
menos complexas, como os índios americanos, que antes da chegada dos europeus
eram coletores e caçadores, não desenvolveram a escrita – afinal, não havia uma
grande necessidade da mesma. E isso se repete para os povos coletores e caçadores
ainda existentes no mundo.
Se, por um lado, fatores históricos parecem predominantes para a invenção da
escrita em uma sociedade, por outro lado, o grande número de línguas faladas com
relação às escritas demonstra o grau de dificuldade da construção de um sistema de
35
representação da fala. Na verdade, nossa expressão plena em um idioma exige
habilidades distintas. A linguista Margarida Salomão, da UFJF, explica que o fato de
sabermos ler em uma determinada língua, não significa que saibamos nos comunicar
por ela escrevendo ou falando, ou que possamos compreendê-la através da audição.
Ou seja, a escrita, a leitura, a fala e a audição são habilidades cognitivas distintas,
muito embora relacionadas. Para termos competência em cada uma delas, é
necessária a prática das diferentes habilidades.
Além da exigência de diferentes habilidades cognitivas, e talvez por isso
mesmo, as línguas faladas e escritas também evoluem por caminhos diversos: é fato
que em nenhuma língua há total concordância entre sons e letras. Para Margarida
Salomão, enquanto a fala, que é a experiência cognitiva primária, evolui no tempo
morfológica e fonicamente, a escrita fica presa à sua história, depende da ortografia
vigente, que normalmente é conservadora. Sendo assim, a escrita sempre "fica para
trás", numa versão mais antiga da língua, o que gera a discrepância entre fala e
escrita. "A escrita é datada historicamente. Como a língua prossegue mudando, do
ponto de vista fônico, do ponto de vista morfológico, então a escrita é sempre uma
versão mais velha da língua que se fala, e daí tem-se esse desacordo", completa.
Em relação à língua escrita, podemos dizer que, historicamente, as línguas
escritas nem sempre "evoluíram"de uma forma pictórica para uma forma abstrata,
como em uma série de etapas pré-determinadas que foram alcançadas
paulatinamente. Em especial, podemos dizer que a história da escrita no Ocidente, da
qual vimos falando até então, não reflete necessariamente a história de todas as
línguas escritas. "A evolução do pictórico para os símbolos concretos dos hieróglifos,
por exemplo, para os abstratos que representam os sons, não é tão generalizada
como nos parece. Pois, no Oriente, a escrita ideográfica ainda permanece", diz José
Pereira, da UERJ. E, certamente, em países como Japão, China, as Coreias do Norte
e do Sul, entre outros, a escrita ideográfica ainda é utilizada.
Segundo explicação da linguista e professora da USP, Leiko Morales, a
primeira aparição da escrita ideográfica ou logográfica chinesa é datada de meados
do século VII, e tal maneira de registrar foi, depois, "exportada" pelo Japão, onde
apareceu na literatura japonesa do século VIII. Para Morales, as principais causas que
levaram ao aparecimento da escrita no Japão foram a necessidade de
desenvolvimento e de ser reconhecido como uma nação pela China, o grande centro
cultural asiático da época. "No começo, era apenas um emprego fonético dos
36
logogramas, respeitando-se o som chinês; mas à medida que os japoneses iam
dominando e compreendendo o significado dos logogramas, começaram a atribuir
leituras para os símbolos e, a partir daí, começa toda a complexidade", explica a
pesquisadora. "A partir do século IX a X, já surgem os hiragana e katakana, que são
fonogramas, conhecidos como silabários, pois cada letra representa um som",
continua.
Nesse caso, a escrita ideográfica não foi nunca substituída, mas outros
símbolos foram sendo acrescidos, conforme a necessidade. "Os pictóricos fazem
alusão direta aos desenhos, depois estes passam a constituir partes de outros
ideogramas ou logogramas mais complexos, mas não desaparecem em definitivo.
Eles foram preservados e são utilizados até hoje", completa. Dessa forma, no Japão,
existiram desde o princípio múltiplas leituras dos mesmos ideogramas, por conta das
traduções dos logogramas chineses. Na própria China, entretanto, as leituras dos
logogramas podem ser diferentes, dependendo da época ou da região. Como ressalta
Morales, "mesmo os sons chineses são vários, uma vez que houve incorporação de
leitura de regiões e épocas diferentes, o que fez aumentar a multiplicidades de leitura
sobre o mesmo ideograma".
Certamente, a evolução da língua escrita é um tema de grande interesse. Nós,
hoje, vivemos em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pela escrita,
onde os relacionamentos, tanto pessoais quanto profissionais, vão muitas vezes se
limitar ao contato via internet e onde as pessoas se "falam"apenas escrevendo. Além
disso, os recursos da web oferecem uma grande oportunidade de disseminação e
difusão da informação escrita. Nas palavras da professora Margarida Salomão, existe
o "potencial para a universalização do conhecimento". Entretanto, falar e escrever não
são a mesma coisa. Enquanto vivemos em sociedade, todos aprendemos a falar,
ainda bem jovens, tendo como instrutores as pessoas próximas junto às quais
crescemos. Por outro lado, a escrita tem que ser ensinada, normalmente em escolas,
por pessoas que também foram treinadas para tal. Existe uma "formalidade"na
aquisição da escrita, uma intencionalidade, uma vez que não aprendemos a escrever
simplesmente convivendo com quem escreve. Essa intencionalidade também existiu
na criação das línguas escritas e em sua evolução, para acompanhar o ritmo das
sociedades e as várias modificações que a própria língua falada foi sofrendo.
Não há dúvida de que a invenção dessa forma de expressão delineou a história
do mundo desde a sua criação e propagação até alcançar a nossa condição atual, de
37
"aldeia global", na qual pessoas de culturas diversas e regiões muito distantes
geograficamente entre si, podem se comunicar através do mesmo tipo de escrita numa
mesma língua, que por sua vez também foi ainda mais disseminada. Dos desenhos
pictóricos à era da informação, a história da escrita é um capítulo fundamental na
história da humanidade. Tudo que conhecemos hoje, que transforma e valoriza nosso
mundo, os livros, os filmes, a internet, a ciência, entre tantas outras coisas, só existe
devido ao sucesso dessa ferramenta. "Euconsidero que a invenção da escrita tenha
sido a mais importante de todas as evoluções tecnológicas da humanidade, porque
sem ela, é muito difícil imaginar que as outras tivessem acontecido", conclui Salomão.
Fonte: VALLE, Maíra; PANCETTI, Alessandra. A transformação do mundo pela
escrita. ComCiência, Campinas, n. 113, 2009 . Disponível em
<http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-
76542009000900002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13 ago. 2021.
38
LIVRO
Título: História da escrita
Autor: Steven Roger Fischer.
Editora: Ed. Unesp.
Sinopse: Este livro faz uma introdução à história da escrita sob uma visão atualizada.
São foco de atenção às origens, funções e mudanças cronológicas dos mais
importantes sistemas de escrita do mundo, atuais e extintos. As dinâmicas sociais das
escritas são assim abordadas em todo o seu fascínio.
FILME/VÍDEO
39
Título: “O Nome da Rosa”
Ano: 1980.
Sinopse: É um filme baseado no romance escritor italiano Umberto Eco e narra sobre
a biblioteca do mosteiro que guardava obras não aceitas pela Igreja na Idade Média.
Sinopse completa do filme pode ser encontrada em:
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-nome-da-rosa-saiba-como-utilizar-o-
filme-no-vestibular/
VÍDEO
TV Escola: A História da Palavra – A Revolução dos Alfabetos
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=T4VFpLDucBI
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-nome-da-rosa-saiba-como-utilizar-o-filme-no-vestibular/
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/o-nome-da-rosa-saiba-como-utilizar-o-filme-no-vestibular/
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https://brapci.inf.br/index.php/res/download/42362. Acesso em: 25 ago.2021.
TARGINO, Maria das Graças. A interdisciplinaridade da Ciência da Informação como
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VENTURI, Jacir J. A biblioteca de Alexandria. Revista do SINEPE, Curitiba, v. 1, n.
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VIEIRA, Ronaldo. Introdução à teoria geral da biblioteconomia. Rio de Janeiro,
2014.
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https://brapci.inf.br/index.php/res/download/42362.%20Acesso%20em%2025%20ago.2021
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UNIDADE II
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA BIBLIOTECONOMIA
Professora Doutora Leociléa Aparecida Vieira
Professora Mestre Lucilene Aparecida Francisco
Plano de Estudo:
● Biblioteconomia: a primeira modernidade;
● Biblioteconomia moderna;
● Biblioteconomia contemporânea.
Objetivos de Aprendizagem:
● Apresentar a evolução histórica da biblioteconomia e seus fundamentos;
● Discorrer sobre o surgimento da biblioteconomia enquanto área do
conhecimento;
● Descrever o percurso da biblioteconomia e das bibliotecas na Antiguidade e na
Idade Média;
● Contextualizar a Biblioteconomia na era moderna;
● Citar as características da Biblioteconomia na contemporaneidade.
INTRODUÇÃO
Prezado(a) Acadêmico(a)!
Ao adentrarmos na história a fim de conhecermos sobre as raízes da
biblioteconomia, enquanto área do conhecimento, podemos perceber que é
impossível desvinculá-la do aparecimento das bibliotecas, haja vista, que ela surgiu
da necessidade do homem em buscar formas adequadas, eficientes e eficazes de
armazenar e preservar os acervos, bem como, disseminar a informação.
Neste percurso, podemos perceber que o processo evolutivo da
Biblioteconomia não se deu de forma igualitária em todos os países e que o seu
desenvolvimento aconteceu em conformidade com os aspectos culturais, políticos e
sociais percorridos pela humanidade, ou seja, à medida que a sociedade evoluía a
biblioteconomia se moldava e/ou se adaptava a estas transformações.
A fim de sistematizarmos a compreensão do texto apresentamos a princípio a
etimologia da palavra e dividimos o trajeto histórico em três períodos distintos:
Antiguidade que compreende desde o início da civilização; Idade moderna que vai de
1453 até 1789, que corresponde ao período da invenção da Imprensa e o
Renascimento e, por fim, Idade Contemporânea, a partir de 1789 até a atualidade.
O caminho é longo, então, que tal iniciarmos a nossa caminhada pelo “túnel do
tempo” das práticas biblioteconômicas?
Seja bem-vindo(a) a evolução histórica da biblioteconomia e bons estudos!
1 BIBLIOTECONOMIA: A PRIMEIRA MODERNIDADE
Caro(a) Acadêmico(a)!
Ao refletirmos sobre determinado assunto é importante conhecermos sobre a
sua etimologia. Neste sentido, o vocábulo Biblioteconomia é derivado de três palavras
gregas: biblion (livros); théke (caixa); nomos (regra) e ao juntarmos temos
biblionthékenomos, ao qual substituiu o sufixo “os” por “ia” e temos a palavra
biblioteconomia que, na opinião de Fonseca (2007, p. 1), corresponde ao “conjunto de
regras de acordo com as quais os livros são organizados em espaços apropriados:
estantes, salas, edifícios”. Mey (2004, p. 73), porém, alerta que
a palavra grega “biblion” não se poderia referir a livros, uma vez que
eles eram inexistentes para os gregos antigos; havia apenas rolos de
papiro. O papiro, este sim, vinha da cidade fenícia de Biblos (hoje no
Líbano), o que nominou o tipo de suporte em grego. Portanto, qualquer
ligação entre o suporte e a profissão não se dá através da etimologia, mas
através da própria imagem que se dá a nossas bibliotecas.
O que se pode afirmar é se torna impossível pensarmos na Biblioteconomia
desvinculada da biblioteca, haja vista, que enquanto uma área do conhecimento ela
está intimamente ligada ao aparecimento das bibliotecas na humanidade, isto é, da
User
Realce
necessidade de se organizar a informação com vistas à sua recuperação, surgiu a
necessidade de se normatizar as atividades, encontrar regras de organização e, neste
contexto, “nasce” a biblioteconomia. Ela surge, mas, precisamente na passagem da
cultura oral para a cultura escrita.
De acordo com Mey (2004, p. 73), a Biblioteconomia “seria a coleta,
organização e disseminação de livros. Muitos se perguntam se a mudança de termos
acarretaria mudança na imagem da profissão, não a vinculando necessariamente
a livros”. Será? Talvez sim, talvez não!
O que se sabe é que desde as tabuinhas de argila até o livro impresso, sempre
houve por parte do homem o desejo de se usar várias vezes a mesma informação que
lhe fosse significativa, mas de que maneira poderia se fazer isso? Da resposta a este
questionamento, surgiram “as primeiras evidências de organização de documentos
segundo seus conteúdos, apontando esses processos e as bibliotecas primitivas da
antiguidade que os realizavam como a origem do que depois foi denominado
Biblioteconomia” (ORTEGA, 2004, p. 1).
De acordo com Medeiros (2019, p. 84), desde a Antiguidade “alguns conceitos
básicos da biblioteconomia já estão presentes como a organização, a preservação e
a utilização das informações registradas para uso futuro, de pessoas que não se sabe
quem são e nem em que época vivem ou viverão”. Sabe-se, porém, que os acervos
eram organizados de forma rudimentar e sem uma sistematização, propriamente, dita.
“Entre esses fazeres, na Antiguidade,estão as ações de organização e
armazenamento dos registros do conhecimento, de tabuinhas a rolos de papiro e
pergaminho, assim como as ações de preservação dos mesmos. Tais atividades de
organização podem ser vistas como os primeiros princípios da Biblioteconomia”
(TANUS, 2018, p. 256).
. Ortega (2004), corrobora de que a origem dos princípios da Biblioteconomia
data do terceiro milênio a.C, período em que se pode comprovar a existência das
primeiras coleções organizadas de documentos. Essa primeira biblioteca primitiva foi
descoberta em 1975,
Trata-se da Biblioteca de Ebla, na Síria, cuja coleção era composta de textos
administrativos, literários e científicos, registrados em 15 mil tábuas de argila,
as quais foram dispostas criteriosamente em estantes segundo o tema
abordado, além de 15 tábuas pequenas com resumos do conteúdo de
documentos. A escrita era a cuneiforme, porém não no seu idioma original (o
sumério), mas numa língua desconhecida a qual se chamou eblaíta
(ORTEGA, 2004, p. 2).
A autora supracitada, menciona que na civilização mesopotâmica, no segundo
milênio a.C, pode constatar “a organização de documentos acompanhada de
representações para fins de recuperação: tábuas de argila eram protegidas por
espécies de envelopes nos quais estavam dispostos resumos” (ORTEGA, 2004, p. 2).
Podemos perceber que seria impossível organizar tantas tábuas de argila sem
uma sistematização. A biblioteca de Nínive pertencente ao rei Assurbanipal II (668-
627 a.C), também evidencia formas sistematizadas de organizar a informação. Esta
instituição é considerada uma das mais majestosas da antiguidade. Seu acervo era
composto por blocos de argila cozida e escrita em caracteres cuneiformes que
remontam o século IX a.C. e era “altamente organizada. As placas componentes de
uma mesma obra eram reunidas num único bloco, no qual se punha um rótulo
identificador do conteúdo” (BATTLES, 2003, p. 31); tinha, ainda, um catálogo no qual
se registravam os títulos das obras e o número das placas. Na opinião de Pereira e
Santos (2014, p. 16), essa descrição sucinta das obras pode ser considerada como o
“embrião dos catálogos”
Na opinião de Souza (2005), a biblioteca de Nínive foi a primeira coleção
indexada e catalogada da história da humanidade. Ela ficou oculta durante séculos,
mais precisamente, até em 1845, quando foi descoberta por Sir Henry Layard e,
aproximadamente, 25.000 fragmentos, podem ser encontrados atualmente no Museu
Britânico, em Londres.
Battles (2003, p. 34), ressalta, ainda, que outros arquivos e bibliotecas
espalhados pela Mesopotâmia exibiam níveis igualmente elevados de organização.
Havia repositórios em que placas eram guardadas em cestas numeradas, com os
títulos gravados nas bordas da argila para facilitar a identificação. Utilizavam-se,
também, de potes, tabuinhas com fichas para identificar os textos, listas de títulos
contendo as primeiras palavras do texto que se pressupõem que seriam os catálogos
utilizados na época. Nos manuscritos e nos incunábulos medievais fazia-se uso de
colofões.
SAIBA MAIS
Colofão é uma palavra derivada do grego kolophṓn e utilizado
nos manuscritos e nos incunábulos medievais, nota final que fornece referências sob
re a obra e indicações relativas à sua autoria, transcrição, impressão, lugar e data de
sua feitura.
Fonte: Dicionário Houaiss (2021).
#SAIBA MAIS#
Ao refletirmos sobre organização de bibliotecas, não podemos deixar de
mencionar sobre a Biblioteca de Alexandria que durante sete séculos (entre os anos
de 280 a.C a 416 d.C), reuniu o maior acervo na Antiguidade. A organização física da
biblioteca foi planejada com bastante esmero a fim de guardar seu imponente acervo.
“As estantes no interior do edifício eram circundadas por colunatas abertas expostas
a brisa, formando corredores cobertos que os estudiosos podiam utilizar para estudo
ou discussão” (BATTLES, 2003, p. 68). Já a organização do acervo se dava da
seguinte maneira: os rolos eram dispostos em pilhas e tinham etiquetas presas com o
nome dos autores e títulos das obras e “nesse ínterim, apareceu a figura do
bibliotecário, que preside ao funcionamento e à organização da instituição” (BARATIN;
JACOB, 2000, p. 47).
Ser convidado para o cargo de bibliotecário-chefe em Alexandria era muito
honroso e suas atribuições além de reorganizar as obras dos autores nas áreas
humanas e filológicas cabia, ainda, a tutoria dos príncipes reais e orientá-los nas
leituras, bem como, desenvolver o gosto por elas (BARATIN; JACOB, 2000). O
primeiro bibliotecário a assumir o cargo na Biblioteca de Alexandria foi Zenódoto de
Éfeso. A ele coube a responsabilidade de editar as obras de Homero, dividindo-a com
a Ilíada e a Odisséia em vinte e quatro volumes (CHAUÍ, 2010).
Outros bibliotecários de Alexandria se destacaram, tais como: Apolônio de
Rodes, Erastótenes de Cirene, Aristarco de Samotrácia e Aristófanes de Bizâncio
(MEY, 2004). Mas, o mais importante e sábio de todos foi Calímaco de Cirene (330-
243 a.C.) que catalogou o acervo da Biblioteca de Alexandria, em 120 volumes, criou
um catálogo das obras existentes na biblioteca, os Pinakes, que é considerado o
primeiro catálogo sistematizado de bibliotecas. Ele era composto por 120 rolos,
organizados por assunto e por autor, os quais eram listados em ordem alfabética, com
uma pequena biografia de cada um deles. Era dividido em oito seções temáticas:
drama, oratória, poesia lírica, legislação, medicina, história, filosofia e “diversos”
(FISCHER, 2006). Os pinakes serviram de modelo para outras bibliotecas em
diferentes períodos históricos.
Infelizmente a Biblioteca de Alexandria foi destruída pelo fogo por várias vezes,
mas, conforme reporta Mey (2004, p. 12) ela “deixou-nos uma herança indelével, um
exemplo a ser seguido, de busca do conhecimento e da intolerância. Certamente o
homem moderno tem muito a aprender das lições de Alexandria [...]”.
Nas palavras de Medeiros (2019, p. 59)
O estudo tradicional das bibliotecas da Antiguidade compreende desde as
suas origens até a queda do Império Romano do Ocidente. Nenhuma
biblioteca da Antiguidade encontra-se, hoje, em funcionamento, mas alguns
de seus acervos chegaram até nós, como as tabuinhas de argila da Biblioteca
de Ebla, que estão no Museu Britânico.
Somente, por meio destes “vestígios” é que podemos conhecer sobre as
bibliotecas da antiguidade. Na Idade Média, entre os séculos V a XV d.C. as tabuinhas
e papiros foram substituídos pelo pergaminho (suporte feito de pele de animal) que,
além de ser mais resistente, possibilitava a escrita nos dois lados e a costura no dorso
das páginas e recebia o nome de códex. É mister salientar de que a Idade Média não
foi um período próspero para as bibliotecas, as quais, tinham como função guardar os
livros e não disseminar a informação, pois “as bibliotecas medievais, são, na
realidade, simples prolongamentos das bibliotecas antigas, tanto na composição,
quanto na organização, na natureza e no funcionamento”, as mudanças sofridas são
insignificantes, decorrentes apenas de pequenas divergências de ordem social
(MARTINS, 2002, p. 71).
Nesta mesma esteira de pensamento, Tanus (2018, p. 264), alerta que
embora, a materialidade dos suportes tenha melhorado nesse período
medieval, as bibliotecas continuaram fechadas em si mesmas, pois apenas
uma parcela reduzida da população tinha acesso a elas, reduzindo-as
‘depósitos’, um local onde mais se esconde do que se revela, assim como um
local de silêncio.
Segundo Martins (2002), na Idade Média encontramos três tipos de bibliotecas:
as monacais, as particulares e as universitárias, entretanto, as grandes bibliotecas
medievais se preocupavam com a guarda dos acervos e a atividades que se
destacavam era a dos monges copistas, a quem cabia o armazenamento,
acondicionamento, preservação e conservaçãode livros.
No início do período medieval, as bibliotecas monacais, tidas como espaço
sagrado, ficavam restritas aos mosteiros e aos conventos. De acordo com Milanesi
(2002, p. 23)
O acesso a esses acervos guardados nos mosteiros limitava-se aos que
pertenciam a ordens religiosas ou eram aceitos por elas. Ler e escrever eram
habilidades quase exclusivas dos religiosos e não se destinavam a leigos. Os
monges contabilizavam o seu capital pelo tamanho e qualidade de suas
bibliotecas [...]
De acordo com Martins (2002), os armários eram embutidos nas paredes,
continham diversas estantes de leitura para permitir o manuseio dos infólios e nas
quais todos os livros eram acorrentados. Supõe-se que isto ocorria por medo que as
obras valiosas fossem roubadas.
Figura 1 - Bibliotecas medievais
Os mosteiros maiores tinham um Scriptorium, local em que o trabalho de
copistas era distribuído aos monges, a quem cabia o “honroso” serviço de escriturário.
No que diz respeito ao suporte da escrita, pode-se perceber uma evolução, pois, por
volta dos anos 600, os monges anacoretas do Egito, por falta de outro tipo de material,
utilizavam cacos de cerâmicas ou ostracas para registrar as cópias de clássicos
antigos, com o passar do tempo estes materiais utilizados para o registro da
informação foram substituídos pelas tabuinhas cobertas de cera, as quais eram
extremamente frágeis; qualquer esfregão desaparecia tudo que tinha sido nelas
registrado. Posteriormente, no século IV, as obras dos mosteiros eram compostas por
maços de folhas de papiro dobradas e, frouxamente, costuradas em uma capa de
couro e, mais tarde, foram substituídos pelos palimpsestos, pergaminhos que foram
raspados para serem utilizados como suporte para a escrita (BATTLES, 2003). As
duas principais bibliotecas monacais foram a biblioteca de Cassiodoro e a biblioteca
de um mosteiro sírio liderado por Moisés de Nisibis.
As bibliotecas mais famosas da Idade Média, destacam-se as do Montes Altos,
na Turquia, e a biblioteca Vaticana, estabelecida na Basílica de São João de Latrão,
na época do Pará Hilário. No século IX surgem as bibliotecas capitulares, ligadas à
igreja e as mais famosas são as das Catedrais de Chartres, Lyon, Reims, Cambrai,
Rouen, Clermont (MARTINS, 2002).
No que diz respeito às bibliotecas bizantinas, apesar de serem mantidas pelos
monges, foram contaminadas pelo profano pelos próprios monges que fugiram para o
Ocidente. Martins (2002, p. 86), narra o fato da seguinte maneira:
a fuga desses monges e desses sábios de Bizâncio para o Ocidente, trazendo os
seus manuscritos e os seus conhecimentos, por ocasião da tomada de
Constantinopla pelos turcos, em 1453, é que provocará a Renascença e, por
consequência, o fim da Idade Média.
O Studion e o Claustro de Santa Catarina, foram os mais famosos conventos
bizantinos.
No que diz respeito às bibliotecas particulares, tidas como espaços
privilegiados mantidas pelos imperadores ou nobreza, eram grandes e imponentes.
Algumas chegavam a ter, aproximadamente cem mil volumes e, em muitas delas,
além de contar com copistas, também, tinha um bibliotecário a quem cabia a
responsabilidade de organizar o acervo. Uma das bibliotecas que merecem destaque
nessa época foi a de Carlos Magno “detentor de uma biblioteca com inúmeros livros
ilustrados, e, Carlos V, da França, que chegou a reunir mil e duzentos volumes, um
número considerável no seu tempo, que viria a constituir o acervo da Biblioteca
Nacional de Paris” (TANUS, 2018, p. 266).
Entre os séculos XIII e XV, com a expansão das universidades, criou-se uma
demanda de livros por parte dos estudantes e, também, um enorme avanço das
bibliotecas universitárias. Era preciso encontrar uma forma de recuperar a informação
de uma forma mais rápida e eficiente. Desta maneira, foi criado o primeiro catálogo
unificado, o qual continha o nome dos autores e das obras e a indicação em qual
biblioteca monacal ela se encontrava armazenada. Nos fins do século XIII, as
universidades instalam suas próprias bibliotecas, cujos acervos eram doados pelos
leigos ricos e instruídos, nobres e mercadores (BATTLES, 2003). Com as
universidades, os livros pouco a pouco se distanciam do universo religioso, de objeto
sagrado e se tornam como suportes para a pesquisa. Este fato impulsionou o
aprimoramento de catálogos que auxiliariam na localização dos livros de forma mais
rápida. Na opinião de Martins (2002), foi a partir da criação das bibliotecas
universitárias é que o bibliotecário, como organizador da informação, surgiu de fato e,
no Renascimento, consolidou o seu papel como disseminador do conhecimento.
Após este passeio pelos primórdios da biblioteconomia, que tal conhecermos
como ela se “comportou” na Idade Moderna? Então, vamos adiante!!
2 BIBLIOTECONOMIA MODERNA
Olá!
Neste item vamos conhecer o percurso da Biblioteconomia na Idade Moderna,
período que vai de 1453 até 1789, mas, precisamente, da eclosão da Revolução
Francesa, perpassa pelo período da invenção da imprensa, dos grandes
descobrimentos e o Renascimento.
Conforme já pudemos observar que a gênese do trabalho biblioteconômico a
princípio foi organizar os registros. Este ato permitiu que a memória da humanidade
fosse preservada, mas para que isto acontecesse foram necessárias pessoas
especializadas, cujas funções iam além de preservar a informação, mas, também a
organizar de maneira que ela pudesse ser recuperada. Nas palavras de Milanesi
(2002, p. 9), “essa atividade de buscar-o-que-foi-guardado e de guardar-o-que-foi-
registrado (e de registrar-o-que-foi-imaginado) é a forma possível para manter viva a
memória da humanidade, forma essa em constante aperfeiçoamento”.
De acordo com Baratin e Jacob (2000), são poucos registros que se tem sobre
a formação das bibliotecas humanistas, tanto no que diz respeito à formação de suas
coleções, quanto aos métodos de aquisição e catalogação do acervo. Entretanto, é a
partir do Renascimento que o bibliotecário assume, efetivamente, seu papel central
de agente que organiza o acervo e contribui para a disseminação do conhecimento;
“ele surge como um guia de ajuda na caminhada por um mundo novo e aberto”
(MILANESI, 2002, p. 7). A ele cabia desde a disposição arquitetônica até a
organização das bibliotecas como um todo.
Um acontecimento que revolucionou a história das bibliotecas e,
consequentemente, da biblioteconomia ocorreu em 1440, com a invenção da prensa
tipográfica por Gutenberg. É mister salientar que desde o século XI os chineses já
conheciam os caracteres móveis (a prensa clássica não reutilizável), entretanto, com
a imprensa, além de reduzir o tempo de reprodução do texto, diminuiu o custo do livro.
“A imprensa e o papel acarretaram sensíveis mudanças no mundo da cultura: livros
passaram a ser impressos e distribuídos, semeando frutos e vida e de morte” (ROSA,
1993, p. 118).
De acordo com Tanus (2018, p. 257),
A Idade Moderna teve como um dos marcos a imprensa dos tipos móveis, o
que possibilitou a mudança da produção manual do livro para o impresso, e,
com isso, uma maior circulação de livros e um aumento de leitores para além
das Bíblias e do círculo religioso. O livro passa, então, a ser sentido como
uma necessidade, a leitura e a escrita concomitantemente passam a ser
requeridas e valorizadas.
As bibliotecas crescem agora rapidamente: os sistemas medievais de
conservação dos livros em armários, arcas e estantes de tampo inclinado não são
mais compatíveis com o número de livros impressos. Além disso, as reformulações
sociais alteraram profundamente suas funções: os processos de adequamento da
biblioteca às necessidades da sociedade não acompanharam o mesmo esquema em
todos os países; como seu serviço abrange as estruturas econômicas e culturais de
uma mesma nação, as bibliotecasreceberam incentivo nos lugares onde as escolhas
políticas se fizeram tempestivamente. Uma das manifestações mais vistosas é a
aparição gradual de diferentes tipos de bibliotecas, devido à origem e à função.
SAIBA MAIS
É mister salientar que antes do século XV, as bibliotecas eram particulares ou
ligadas a instituições. Com o século XVI e os seguintes, surgem outras bibliotecas: as
constituídas como fundação e mantidas por dotação; as nacionais (em geral que
derivam das reais); as circulantes, com pagamento de certa importância por parte do
usuário; as filantrópicas, com base financeira mista; as públicas anglo-americanas,
mantidas por contribuições fiscais.
Fonte: as autoras
#SAIBA MAIS#
Desta maneira, a produção bibliográfica, em larga escala, possibilitou a difusão
do conhecimento para as massas e, também, “gerou a necessidade de novas
ferramentas de organização e recuperação das coleções, que cresciam
vertiginosamente. Além dos catálogos e inventários que se especializaram nessa
época, destacou-se o desenvolvimento das bibliografias a partir do século XVI”
(SIQUEIRA, 2010, p. 58). O livro impresso possibilitou a difusão do conhecimento
para as massas, principalmente, por meio das bibliotecas públicas que expandiam
cada vez mais os seus acervos.
REFLITA
As bibliotecas públicas, na Idade Moderna, apesar do nome nem sempre
significava que estavam abertas a toda população sem distinção. Na sua opinião, na
atualidade todo cidadão tem, realmente, acesso à informação?
Fonte: as autoras.
#REFLITA#
Um marco considerável para a história das bibliotecas se deu em 1627, com a
publicação da obra Advis pour dresser um bibliothéque, escrita por Gabriel Naudé, a
qual formalizou as bases conceituais da Biblioteconomia e forneceu conceitos
importantes, dentre eles a ideia de ordem bibliográfica. Araujo, A. e Araujo, D. (2018,
p. 5) corroboram que
a Naudé está atribuído o status de ter sido, no período moderno, um dos
primeiros a adquirir fama não somente como bibliotecário, mas como teórico
das bibliotecas. Seu Advis pour dresser une bibliothèque (1627) torna-se o
primeiro guia orgânico e coerente para a preparação de uma biblioteca ideal.
O guia elaborado por Naudé instrui como deveriam ser escolhidos e distribuídos
os livros em uma biblioteca. De acordo com Serrai e Sabba (2005, p. 80),
o projeto de biblioteca que Naudé tinha em mente era distinguido por um
caráter estritamente ideal: Advis de fato expõe o modelo do que uma
biblioteca tinha que ser em termos absolutos. É essencial recordar essa
característica da idealidade concreta do desígnio naudeano: ingênua e
apaixonada, límpida e ardente, inspirada nos axiomas das heurísticas mais
rebeldes e, ao mesmo tempo, alimentada incessantemente por referências à
matéria e à realidade bibliográfica.
Assim, foram lançadas as bases da biblioteconomia moderna “não só em
termos da definição de normas técnicas e operacionais destinadas ao bom
funcionamento da instituição, mas também da abordagem cultural para a sua
formação” (GUERRINI et al., 2008, p. 27).
Outro fato que merece destaque no desenvolvimento da Biblioteconomia foi a
consolidação da biblioteca pública após a Revolução Francesa, no período de 1789 a
1799, que tinha como objetivo difundir a informação nos âmbitos da educação e
cultura. De acordo com Siqueira (2010, p. 58), “nesse contexto, nasceu a
Biblioteconomia, disciplina encarregada de organizar, administrar e cuidar da gestão
de livros, bem como a figura do profissional bibliotecário; ao lado do arquivista,
tornaram-se fundamentais para a consolidação institucional de arquivos e bibliotecas”.
Esses profissionais são influenciados pelo desenvolvimento tecnológico e científico
reinante no século XVIII, concentram sua formação em dois aspectos: “um técnico
(catalogação, classificação, paleografia) e outro voltado à aquisição de cultura geral
(história, literatura, ciências)”. Assim, no final do século XVII, nasciam na Europa as
primeiras associações profissionais de bibliotecários e arquivistas.
Neste período há, também, uma valorização das bibliotecas, pois com a
democratização da informação, as pesquisas científicas crescem vertiginosamente,
“[...] a inovação intelectual, mais que a transmissão da tradição, é considerada uma
das principais funções das instituições de educação superior e, assim, espera-se que
os candidatos aos graus mais elevados façam contribuições ao conhecimento”
(BURKE, 2003, p. 105). Aliás, a importância da pesquisa no mundo acadêmico
prevalece até os dias atuais e, as bibliotecas, sejam elas físicas, ou virtuais continuam
como centros de excelência e suporte ao pesquisador.
Pesquisar e produzir conhecimento são as trilhas que conduzem a humanidade
para a contemporaneidade e qual o papel das bibliotecas e da biblioteconomia neste
contexto?
3 BIBLIOTECONOMIA CONTEMPORÂNEA
Prezado(a) acadêmico(a)
Chegamos a contemporaneidade, período que compreende de 1789 até aos
dias atuais. E como será que a biblioteconomia se comporta neste período?
A produção bibliográfica e a pesquisa científica crescente a partir do final do
século XIX, bem como, o surgimento de diversos suportes, além, do livro impresso,
sentiu-se a necessidade de se desenvolver novas técnicas para organizar e
administrar a informação, pois a Bibliografia não atendia mais às necessidades
biblioteconômicas da época.
No século XIX, as bibliotecas públicas proliferaram rapidamente e as ideias
democráticas e o choque das ideologias políticas em meados deste século não
podiam deixar de se refletir nas bibliotecas. Nessa época, “o burguês rico, imbuído de
filantropia, com dó dos pobres, não podia deixar de se condoer com a falta de ‘pão
espiritual’ em que vivia o trabalhador”. Este e outros chavões passaram a constituir
uma espécie de propaganda, cujo slogan em voga era: “Abrir uma biblioteca é como
fechar uma prisão” (MORAES, 1983, p. 16)
Foi o tempo das chamadas “bibliotecas populares”. Todo mundo parecia
convencido da necessidade de ilustrar o operário, evitando, ao mesmo tempo, que ele
se corrompesse com leituras perigosas. Dentro desse espírito abriram-se bibliotecas
públicas por toda parte da Europa. Bibliotecas “cheias de livros de vulgarização
científica, romances históricos, clássicos dos que são tidos como boa leitura, manuais
de instrução técnica e profissional”. Bibliotecas, em suma, “munidas de obras
escolhidas, ‘ao alcance do povo’, que a nata intelectual julgava destinadas a instruir
ou divertir os operários” (MORAES, 1983, p. 16).
Entretanto, o surgimento das bibliotecas públicas gratuitas “contribuíram para
reforçar os temores da massificação da cultura”, e a burguesia se perguntava “se os
padrões de leitura, ao se alastrarem entre os assalariados, diminuiriam o seu gosto
pelo trabalho” (LOWENTHAL; FISKE, 1957 apud COHN, 1973, p. 61). Na fase inicial
da divulgação dos hábitos de leitura, ficou bem marcada a afinidade entre a
preocupação com a presença da “massa” e com a “massificação cultural” por um lado,
e a expressão de interesses de classe, bastante primários, por outro. A preocupação
com os efeitos da expansão dos meios impressos tinha se detido mais nos interesses
sociais em jogo do que propriamente na área cultural. No caso das obras de ficção,
eram evidentes as questões sociais, porém, no caso da imprensa periódica, surgiram
questões políticas, que envolviam interesses e aspirações de classes, mais sujeitas
ao controle governamental (SPERRY, 1991, p. 221).
As conclusões ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa emigram para a
Inglaterra e para os Estados Unidos da América. Entretanto, “na América, onde jamais
existiu uma aristocracia verdadeiramente tradicional, como na Europa, encarou-se o
problema de forma muito diversa” (MORAES, 1983, p. 16)
Paralelamente ao movimentoeuropeu das bibliotecas populares,
desenvolveu-se nos Estados Unidos um movimento bibliotecário, não
encabeçado por uma elite humanitária, mas organizado espontaneamente
pelo povo. A sua criação não partiu de uma aristocracia querendo socorrer o
proletariado ignorante, mas do próprio povo, que sentia necessidade de
instruir-se, de adquirir uma cultura por meio da qual poderia subir
socialmente. As bibliotecas americanas surgiram, como as escolas, não
doadas por uma elite ou por um governo benevolente, mas criadas pelo
próprio povo, ávido de leitura, persuadido de que estava adquirindo um
instrumento indispensável para a luta pela vida (MORAES, 1983, p. 16).
As bibliotecas americanas nasciam, pois, sem o erro básico das europeias: a
separação de bibliotecas para o povo e bibliotecas para as elites. Elas não eram, neste
caso, doadas por uma classe, como uma esmola, a outra classe menos favorecida.
Para Moraes, (1983, p. 16), “nunca houve nos Estados Unidos, a mentalidade
bibliotecária humanitária”.
Segundo Serrai (1975), por volta de 1850, nos Estados Unidos são
promulgadas leis que autorizam o emprego de certa percentagem dos impostos na
construção e manutenção das bibliotecas públicas. É o primeiro passo para a
realização de uma eficiente rede nacional de bibliotecas destinadas à consulta, à
leitura e ao empréstimo para o grande público. A biblioteca toma seu lugar ao lado da
escola e como integrante dela, sendo fator de grande relevo não somente na
educação, mas também na formação da consciência cívica e comunitária dos jovens
e dos adultos.
Do século XIX em diante, as bibliotecas adquirem sua fisionomia atual. E hoje
em dia, abrir uma biblioteca não é mais fechar uma prisão. A biblioteca deixou de ser
um “hospital de almas” para se tornar simplesmente uma oficina de trabalho, que pode
ser utilizada por qualquer cidadão, ou ainda, conforme Serrai (1975, p. 158), “é um
fenômeno ecológico, ou seja, representa apenas uma das formas que têm a função
de favorecer a comunicação entre os homens”.
E chegamos no século XX, devido ao avanço tecnológico, adentramos na
Sociedade da Informação e com ele veio uma explosão documental, jamais, vista na
história da humanidade, o que implicou em se criar novas estratégias de organização
e recuperação da informação, inclusive se obrigou a revisar o conceito de biblioteca,
a qual passou de mero depósito de livros para um espaço “vivo” e circulante da
informação (SILVA, 2013). Nesta corrida acelerada de se registrar e disponibilizar ao
usuário toda informação relevante surgiram novos tipos de bibliotecas, dentre elas: a
especializada, a qual foi influenciada pelos impactos pelos avanços da ciência e da
tecnologia na sociedade pós-moderna.
O papel dos bibliotecários nestas instituições deve ter por objeto oferecer a
informação a um público selecionado, haja vista, que ela atende a um usuário
especializado em uma determinada área do conhecimento, pois a biblioteca
especializada deve proporcionar “[...] qualquer conhecimento ou experiência que
possa ser coletada, para avançar os trabalhos desta instituição e fazê-la, assim, atingir
os seus objetivos” (FIGUEIREDO, 1979, p. 10).
No século XX, outro fato que impulsionou a Biblioteconomia foi a incorporação
das novas tecnologias da informação e comunicação (NTICs) aos seus afazeres, ou
seja, as que a internet surge como uma aliada aos serviços biblioteconômicos. Santa
Anna (2015, p. 1390), corrobora que
A internet revolucionou os fazeres profissionais dos bibliotecários devido à
sua capacidade de transferir a informação, facilitando seu acesso, rompendo-
se barreiras geográficas e temporais. O surgimento da internet, aliado à
explosão bibliográfica, permitiu o renascimento de uma nova era na
Biblioteconomia. Por meio da internet, os usuários tornam-se mais exigentes,
utilizando os mecanismos do espaço digital a fim de conseguir acessar as
informações necessitadas, em um espaço cada vez mais curto de tempo e a
baixos custos.
A partir de então as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação
(NTIC), não só alterou o conceito de informação, como os serviços prestados pelas
bibliotecas. Tudo pode ser acessado remotamente. Recuperar a informação é questão
minutos, bastam os “clicks”. Vivemos na era das Bibliotecas Virtuais, mas o que são
elas? De acordo com Rosetto (2002, p, 13), a biblioteca virtual é
aquela que contempla documentos gerados ou transpostos para o ambiente
digital (eletrônico), um serviço de informação (em todo tipo de formato), no
qual todos os recursos são disponíveis na forma de processamento eletrônico
(aquisição, armazenagem, preservação, recuperação e acesso através de
tecnologias digitais).
Santa Anna (2015, p. 140), complementa que
Essas modalidades de bibliotecas se caracterizam pela alta capacidade em
processar a informação, criando vínculos de acesso ao usuário: trata-se de
um processo reversivo, pois, diferentemente das bibliotecas com acervos
impressos, em que o usuário precisa ir até a informação, as redes eletrônicas
vão até o usuário, transferindo informações a toda parte do mundo.
Catalogar e classificar já não é uma atividade solitária, pois as bibliotecas
conectadas em redes permitem ao bibliotecário a socialização dos serviços técnicos;
“o acondicionamento de estoques informacionais em formatos latentes, de modo que
a informação pode ser armazenada, tratada, gerenciada e disseminada por meio das
redes digitais” (SANTA ANNA, 2015, p. 140).
Marcondes, Mendonça e Carvalho (2006, p. 174), corroboram que as
tecnologias da informação trouxeram mudanças significativas aos serviços
bibliotecários, pois possibilitou
[...] um ambiente informacional amplo, global, de alcance nunca visto pelos
antigos serviços bibliotecários, acostumados a trabalhar num ambiente
delimitado, com uma comunidade de usuários identificável, restrita e até
mesmo, conhecida pessoalmente. No novo ambiente e numa escala mundial,
os usuários podem ter acesso a diferentes recursos, independentes de sua
localização física.
E como a biblioteconomia e bibliotecas se encontram nesse limiar do século
XXI? A resposta a este questionamento nos é dado por Santa Anna, Gerlin e Siqueira
(2013, p. 1), “como uma onda de transformações nos fazeres profissionais devido às
novas estruturas de informação geradas com o avanço tecnológico, fato este que
evidencia o início deste século como um período de transição, principalmente com a
criação de novos registros de informação”.
Nesta mesma esteira de pensamento, Santa Anna (2015, p. 151), complementa
que
A biblioteca do futuro, seja ela de qualquer modalidade: híbrida, digital e/ou
virtual, embora tenda a se aproximar da virtualização, se caracterizará, no
decorrer das décadas do século XXI, como um espaço diversificado,
oferecendo produtos e serviços diferenciados a seus usuários, tendo em
vistas as necessidades demandadas.
Podemos perceber de que tal como a sociedade está em movimento, a
biblioteconomia não ficou estagnada no tempo e acompanha os avanços demandados
pelos usuários, pela explosão documental, pelos artefatos tecnológicos diversificados,
ou seja, as bibliotecas estão em constante evolução, pois se em 1985, em discurso
no Encontro Nacional de Biblioteconomia e Informática, organizado pela Associação
dos Bibliotecários do Distrito Federal, Maciel proferiu as seguintes palavras
É significativa a função social do bibliotecário, que, além de atuar como
destacado colaborador do homem da ciência, dos pesquisadores, dos
intelectuais, dos estudantes, dos artistas, propicia as condições de acesso ao
imenso tesouro das mais variadas formas de expressão da inteligência e da
sensibilidade humanas (MACIEL, 1985, p. 10)
Após transcorrerem trinta e seis anos destas palavras, é mister salientar que o
profissional bibliotecário continua a desempenhar a funçãosocial do bibliotecário e,
independente, do tipo de biblioteca em que atue: física e/ou virtual sempre tem por
objeto a mediação do conhecimento para a razão de ser de suas atividades: o usuário.
Assim, as Leis da Biblioteconomia, formuladas pelo indiano Shiyali Ramamrita
Ranganathan (2009), continuam atuais neste limiar do século XXI: os livros são para
usar; a cada leitor o seu livro; a cada livro o seu leitor; poupe o tempo do leitor e a
biblioteca é um organismo em crescimento e de que as bibliotecas e a biblioteconomia,
sofrem as influências da cultura e da política, bem como, refletem os padrões vigentes
pela sociedade em cada período histórico vivenciado pela humanidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade fizemos uma imersão pela Biblioteconomia desde a sua gênese
e pudemos perceber que desde os primórdios da civilização, sempre houve a
necessidade de se organizar os registros do conhecimento adquiridos pelo homem a
fim de preservar a sua memória. Neste ínterim, surgem as bibliotecas como guardiãs
do saber acumulado pela humanidade e, desde os tabletes de argila, dos rolos de
papiro e pergaminho, dos livros impressos até os e-books, esta instituição teve por
finalidade organizar, preservar e disseminar a informação, sempre tendo em vista o
usuário a que serve.
Pudemos, ainda, conhecer ainda as práticas biblioteconômicas e a evolução
das bibliotecas, desde a Antiguidade, perpassamos pela Idade Média, chegamos à
Idade Moderna e, neste período, cruzamos a Renascença e a invenção da imprensa
e chegamos a contemporaneidade e aqui encontramos a Sociedade de Informação,
em que há o domínio da internet em todos os segmentos da sociedade e que as
bibliotecas não ficaram alheias às mudanças causadas explosão documental e pelas
tecnologias da informação e comunicação.
Esperamos que você tenha gostado desta nossa caminhada!!!!
LEITURA COMPLEMENTAR
HISTÓRIA DA BIBLIOTECONOMIA
Ao contrário do que muitos pensam a Biblioteconomia não é um curso novo
e nem mesmo a profissão de bibliotecário é recente. Alguns autores da área dizem
que a biblioteconomia começou logo com o surgimento das bibliotecas. Entretanto
vamos considerar aqui que a biblioteconomia surgiu com as primeiras evidências de
organização de documentos segundo seus conteúdos. No quadro abaixo
é apresentado alguns exemplos de como funcionavam algumas bibliotecas no
decorrer do tempo.
Até a criação da imprensa, onde até então os “funcionários” das bibliotecas
estavam preocupados realizar um trabalho de cópia de documentos que já existiam
na biblioteca juntamente com a organização de coleções bibliográficas e
administração de bibliotecas, sem, necessariamente, a preocupação de explorar seus
conteúdos nem, tão pouco, agilizar o processo de comunicação da informação. Com
a criação da imprensa os “funcionários” se vêm voltados a mudar essa função de
serem copiadores.
Para facilitar o acesso a informação Melvil Dewey – no século XIX - cria o
sistema de Classificação Decimal de Dewey tendo como objetivo organizar os acervos
das bibliotecas,assim facilitando a busca de informação.
O termo “biblioteconomia” foi usado pela primeira vez em 1839 na obra
intitulada "Bibliothéconomie: instructions sur l’arrangement, la conservation e
l’administration des bibliothèques", publicada pelo livreiro e bibliógrafo Léopold-
Auguste-Constantin Hesse.
Biblioteconomia - segundo FONSECA (1979), Biblioteconomia é o
“conhecimento e prática da organização de documentos em bibliotecas”. Por
organização entendem-se as atividades desenvolvidas na condução dos serviços
prestados, os quais podem ser divididos em duas categorias: serviços-meio
(processos técnicos) e serviços-fim (processos informativos). Ainda de acordo com o
autor, o objetivo da biblioteconomia é a utilização das bibliotecas pelo maior número
de interessados; sua finalidade é levar o conhecimento a todos os segmentos da
sociedade; sua importância resulta da explosão bibliográfica; seu objeto são os
documentos textuais dos quais existem exemplares múltiplos (difere, neste ponto, da
arquivologia e da museologia, cujos objetos são exemplares únicos).
Fonseca considera que são atribuições exclusivas da biblioteconomia: a
democratização da cultura (o saber é para todos), através das bibliotecas públicas; a
preservação e difusão do patrimônio bibliográfico da nação através da biblioteca
nacional; o apoio documental ao ensino e à pesquisa através das bibliotecas escolares
e universitárias; o apoio à tomada de decisão, solução de problemas da sociedade,
etc., através das bibliotecas especializadas.
Fonte: Este texto foi extraído de: HISTÓRIA da Biblioteconomia. [s.n.t.]. Disponível em:
https://sites.google.com/site/histobiblio/historia-geral. Acesso em: 20 ago. 2021.
https://sites.google.com/site/histobiblio/historia-geral
https://sites.google.com/site/histobiblio/historia-geral
https://sites.google.com/site/histobiblio/historia-geral
LIVRO
Título: Introdução à biblioteconomia
Autor: Edson Nery da Fonseca.
Editora: Briquet de Lemos.
Sinopse: Este livro faz uma introdução à história da escrita sob uma visão
atualizada. São foco de atenção às origens, funções e mudanças cronológicas dos
mais importantes sistemas de escrita do mundo, atuais e extintos. As dinâmicas
sociais das escritas são assim abordadas em todo o seu fascínio.
FILME/VÍDEO
Título: Agora
Ano: 2009.
Sinopse: Agora é um filme espanhol dirigido por Alejandro Amenábar, lançado
na Espanha, em 9 de outubro de 2009. O filme é estrelado por Rachel Weisz e Max
Minghella e relata a história da filósofa Hipátia, que viveu em Alexandria, no Egito,
entre os anos 355 e 415, época da dominação romana. O filme relata a história de
Hipátia, filósofa e professora em Alexandria, no Egito entre os anos 355 e 415 d.C.
Única personagem feminina do filme, Hipátia ensina
filosofia, matemática e astronomia na Escola de Alexandria, junto à Biblioteca.
Resultante de uma cultura iniciada com Alexandre Magno, passando depois pela
dominação romana, Alexandria é agitada por ideais religiosos diversos: o cristianismo,
convive de forma tensa com o judaísmo e a cultura greco-romana.
VÍDEO
Título: 05 bibliotecas lendárias e misteriosas do mundo antigo!
https://pt.wikipedia.org/wiki/Espanha
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alejandro_Amen%C3%A1bar
https://pt.wikipedia.org/wiki/Espanha
https://pt.wikipedia.org/wiki/9_de_outubro
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rachel_Weisz
https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Minghella
https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Minghella
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%A1tia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Egito
https://pt.wikipedia.org/wiki/Fil%C3%B3sofa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Egito
https://pt.wikipedia.org/wiki/Matem%C3%A1tica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Astronomia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Alexandria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Biblioteca_de_Alexandria
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Magno
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cristianismo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Juda%C3%ADsmo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_greco-romana
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zw26Bedvg9k
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UNIDADE III
DOCUMENTAÇÃO
Professora Doutora Leociléa Aparecida Vieira
Professora Mestre Lucilene Aparecida Francisco
Plano de Estudo:
● Conceitos e Definições de documento;
● Origem e natureza da documentação;
● Finalidade da documentação;
● Teoria semiótica no campo da documentação.
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar e contextualizar a documentação, compreendendo sua origem e
natureza;
● Compreender a importância e a finalidade da documentação;
● Identificar as contribuições da teoria semiótica para o campo da
Documentação.
INTRODUÇÃO
Prezado(a) Acadêmico(a)
Nesta terceira unidade conheceremos a definição de documento e o quanto o
seu conceito se ampliou ao longo do desenvolvimento social, científico e tecnológico
da humanidade. Observaremos os principais aspectos relativos ao contexto da origem
e natureza da Documentação, bem como sua finalidade em meio a crescente massa
de documentos técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua organização,
com vistas a torná-la acessível a todos os interessados.
Identificaremos ainda as contribuições das teorias semióticas aos processos de
significação, dimensionamento e tratamento da informação, com vistas ao
desenvolvimento de consistentes e condizentes interpretações das constituições
textuais (verbais e não verbais) para que o usuário possa compreender e construir
sua própria interpretação. Veja! Já estamos na penúltima unidade da nossa disciplina,
desejamos que tenha ótimos estudos e significativos aprendizados!
Vamos lá concluir mais uma etapa!
Bons estudos!
1 DOCUMENTO: DEFINIÇÕES E CONCEITOS
ID1954943512
Caro(a) Acadêmico(a)!
Iniciamos nosso percurso pelo conteúdo previsto nesta unidade identificando
as diferentes definições e concepções atribuídas ao termo documento. Para isso,
partimos da compreensão de que embora a gênese do termo esteja associada a
registro escrito ou ilustrado que possa ser transmitido em formatos diversos, a partir
do século XX surgem novas concepções, expandindo o conceito de documento para
itens diversos, além dos textuais e imagéticos.
Essa expansão inicia-se com um importante pensador e estudioso da área da
documentação, Paul Otlet (1868-1944), que traz valiosas contribuições ao estudo da
área ao considerar que os documentos consistem não apenas em palavras escritas
ou impressas, mas, também, objetos, figuras e ilustrações, partituras musicais, entre
outros elementos que tenham valor probatório e que 'documentem' algo (RAYWARD,
2018).
Na biblioteconomia duas correntes se sobressaem na concepção de
documento a partir do século XX: a corrente pragmática e a corrente funcionalista.
A corrente pragmática, desenvolvida especialmente por Jesse Shera (1972) nos
Estados Unidos destaca o caráter intencional do documento e o limita aos registros
gráficos, sobretudo, textuais e audiovisuais (SMIT, 2008).
Já a corrente funcionalista estabelecida Paul Otlet e Suzanne Briet,
consideram o documento como um objeto concreto, pelo qual a “informação, [e] o
conteúdo, ganham forma no plano comunicacional e [sejam] simultaneamente o
suporte que possibilita a sua circulação” (COUZINET, 2009, p. 13). E, ainda, que
possibilite a “guarda e preservação, por representar alguma ação humana ou algum
detalhe da natureza”.(SMIT, 2008, p. 12). Assim, Otlet e Briet “trabalharam anoção
de documento a partir de novas possibilidades, o que abriu precedentes para
pensá-lo como informação fixada em diferentes tipos de suporte e a partir do seu
papel social”. (MURGUIA, 2011, p. 45).
Nessa perspectiva, Otlet ao adotar a expressão “unidade documentária” amplia
a concepção de documento, empregando-o como termo genérico, que denota coisas
informativas, armazenáveis e recuperáveis, incluindo tanto objetos naturais e
artefatos, que denotam atividades humanas, quanto modelos construídos para
representar ideias, como trabalhos de arte e textos. O documento assume, então, uma
função informativa e passa a ter suportes diversos, além do papel. (BUCKLAND,
1991).
As definições trazidas pela União Francesa dos Organismos de documentação
concebem o documento como: “toda base de conhecimento fixada materialmente e
suscetível de ser utilizada para consulta, estudo ou prova” (BRIET, (2016, p. 1). Assim,
o documento é a evidência (prova) de um fato, que pode ser compreendido, conforme
aponta Briet (2016, p.1),
todo indício concreto ou simbólico, conservado ou registrado com os fins de
representar, reconstruir ou provar um fenômeno físico ou intelectual.
"[Então...] são documentos as fotografias e os catálogos de estrelas, as
pedras em um museu de mineralogia, os animais catalogados e expostos em
um Zôo.
A autora destaca ainda, que em tempos de múltiplas e aceleradas formas de
comunicação, o menor acontecimento científico ou político, quando levado ao
conhecimento público, pode assumir características de documento, neste sentido não
se restringe a texto, mas ao acesso à evidência.
Buckland (1997) atribui ao documento quatro características: materialidade:
apenas objetos e sinais físicos; intencionalidade: pretende-se que o objeto seja tratado
como evidência; os objetos devem ser processados: eles devem ser transformados
em documentos; e a atitude fenomenológica: o objeto deve ser percebido como
documento.
Meyriat (2016, p. 241) compreende documento como “um objeto que dá suporte
à informação, serve para comunicar e é durável”. Nesse conceito duas noções são
inseparáveis: natureza material - o objeto que serve de suporte conceitual - o conteúdo
da comunicação, a informação. Ultrapassando a ideia de que necessitaria ser um
registro escrito, nesse aspecto o autor supracitado lembra que os documentos escritos
são apenas um caso privilegiado, pois a escrita é o meio mais utilizado para comunicar
uma mensagem, reconhecendo que inúmeros outros objetos podem se tornar
documentos.
Na concepção Meyriat (2016) a vontade do emissor não é suficiente para que
um objeto se constitua em documento. Para ilustrar essa afirmação, o autor cita o
seguinte exemplo:
Um jornal diário é feito para suportar e transmitir informações; mas se o
comprador o usar para embrulhar os legumes, por exemplo, o jornal se
transforma numa embalagem rudimentar e não é mais um suporte de
informação. Ele pode transformar-se novamente se o destinatário do pacote
colocar os olhos sobre o conteúdo e tomar conhecimento de algumas notícias
(MEYRIAT, 2016, p. 242).
Para o autor a vontade de obter uma informação torna-se um elemento
necessário para que um objeto seja considerado documento, pois é no momento em
que se busca a informação em um objeto, cuja função original é prática ou estética,
que se faz um documento.
Menezes (1998), complementando a ideia de que documentos devem ser
compreendidos a partir de sua relação com terceiros, destaca que categorias
específicas de objetos são documentos desde sua origem, ao serem projetados para
registrar a informação, no entanto, qualquer objeto pode funcionar como documento.
Acrescenta, ainda, que o documento de nascença pode fornecer informações jamais
previstas em sua programação. Usando como exemplo uma caneta, o autor comenta:
Se ao invés de se usar uma caneta para escrever, lhe são colocadas
questões sobre o que seus atributos, informam a respeito de sua matéria
prima, respectivo processamento, à tecnologia e condições sociais de
fabricação, forma, função, significação, etc.- este objeto utilitário está sendo
empregado como documento (MENESES, 1998, p. 95).
Buscando esclarecer o que seria ou não documento, Briet (2016) enumera seis
objetos, destacando em quais situações seriam documentos.
Quadro 1 - Exemplos de documentos e não documentos
Objetos Documentos
Estrela no céu Não
Foto de estrela Sim
Uma pedra no rio Não
Uma pedra no museu Sim
Um animal selvagem Não
O animal no zoológico Sim
Fonte: elaborado pelas autoras a partir de Briet (2016)
Nesse aspecto, o que faz de um objeto documento não é a carga de informação
a ele atribuída e pronta para ser extraída, mas, sim a sua relação com um terceiro,
externo a seu horizonte original. Assim, para um objeto ser considerado como um
documento é essencial que haja “a vontade de se obter uma informação”, ainda que
a intenção de seu criador tenha sido outra. Nesta concepção o documento torna-se o
produto da vontade de informar ou a de se informar (LOUREIRO; LOUREIRO, 2013,
p. 4).
SAIBA MAIS
Paul Marie Ghislain Otlet (1868 - 1944) nasceu em 23 de agosto de 1868, em
Bruxelas, na Bélgica, foi autor, empresário, visionário, advogado e ativista da paz. É
um dos “pais” da ciência da informação, uma área que ele inicialmente chamava de
"documentação". Otlet criou a Classificação Decimal Universal, um dos exemplos
mais proeminentes de documentação facetada. Foi responsável pelo
desenvolvimento de uma ferramenta de recuperação de informação inicial, o
"Répertoire Bibliographique Universel" (RBU), que utilizava cartões de índice de 3x5
polegadas, usado comumente em catálogos de bibliotecas em todo o mundo (agora
em grande parte substituído pelo advento do catálogo de acesso público online
(OPAC). Otlet escreveu inúmeros ensaios sobre como coletar e organizar o
conhecimento do mundo, culminando em dois livros, o Traité de Documentation (1934)
le Monde: Essa d'universalisme (1935), frequentemente citados na área.
Fonte: Sintetizado de Otlet [20??]: https://stringfixer.com/pt/Paul_Otlet. Acesso em: 20 set. 2021.
#SAIBA MAIS#
https://stringfixer.com/pt/Index_card
https://stringfixer.com/pt/OPAC
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2 ORIGEM E NATUREZA DA DOCUMENTAÇÃO
ID - 1891981819
Caro(a) Acadêmico(a)!
Para compreendermos a respeito da origem e natureza da documentação é
preciso ter em mente que este termo foi adotado inicialmente em 1903 por Paul Otlet,
em um artigo intitulado `Les Sciences bibliographiques et la documentation',
contemplando “[...] o processo de fornecimento de documentos ou referências dos
mesmos àqueles que precisam de informação que eles contêm”. Otlet destaca que a
documentação se refere a um corpo de conhecimento denominado ciências
bibliográficas, composto pela produção, fabricação de material, distribuição, registro
estatística, conservação e utilização, incluindo compilação, impressão, publicação,
venda, bibliografia e biblioteconomia (ORTEGA, 2009, p. 4).
A documentação caracteriza-se então, como um campo do conhecimento que
busca sistematizar elementos e fundamentar a prática de tratamento de documentos
e informação com vistas a sua recuperação. Pressupõe a atividade profissional de
coleta, gerenciamento, tratamento e difusão de informações em diferentes suportes
de informação.
Surge num cenário em que a principal forma de registro do conhecimento é a
imprensa periódica, cuja publicação se dava de forma irregular, o que dificultava a
obtenção de uma visão clara e concisa das produções de uma determinada área do
conhecimento, tendo em vista o volume e a dispersão desta produção. A
documentação foi assim a solução encontrada para resolver o problema da desordem
queacometia a produção de documentos. Importante considerar que a documentação
se desenvolve em um contexto particular de crescente valorização da informação
User
Realce
como insumo de alto valor econômico, político, social e cultural e do conhecimento
como status social, atrelado a alterações no modo de produção, aumento no volume
de informações e de proliferação de periódicos voltados à circulação de informação
científica e tecnológica, gerando um caos documentário (BRADFORD, 1961).
Origina-se então, da necessidade de se ordenar os processos de adquirir,
preservar, resumir, organizar e proporcionar acesso a documentos de diferentes
espécies. Surge da constatação de uma lacuna existente entre o preparo de um
registro de atividade e seu acesso por parte daquele que pode usá-lo como base para
uma nova realização. Sua aplicabilidade se dá na resolução dos problemas de
organização da informação especializada, publicados em suportes diversos,
periódicos, relatórios, patentes entre outros, ou seja, suportes diferentes do livro.
Trata-se de um movimento de cientistas, pesquisadores, bibliotecários e bibliógrafos,
do final do séc. XIX que buscava alternativas para organizar a crescente massa
documental produzida no período, conforme defende Bradford (1961).
O desenvolvimento da prática da documentação está relacionado à publicação
de periódicos de resumos da literatura científica corrente, por meio do qual os
pesquisadores poderiam identificar as produções já realizadas acerca do seu objeto
de estudo. Os periódicos de “resumos” foram a primeira iniciativa prática de colocar a
informação registrada ao alcance dos pesquisadores. Construíram-se, portanto, no
início da arte de tornar acessível a grande massa de informações registradas.
(BRADFORD, 1961).
Sua natureza está vinculada à arte de coletar, classificar e tornar acessíveis os
registros das atividades intelectuais. Desenvolve-se no intuito de se constituir em uma
“chave mestra” capaz de colocar em ordem o caos documentário que emergiu no final
do séc. XIX e dessa forma contribuir para o progresso da sociedade, pois este
depende do acesso à informação registrada. Foi amplamente adotada na Europa,
para denotar um conjunto de técnicas necessárias para o
manuseio/organização/controle da explosão documentária. Pode ser definida como:
O processo pelo qual o documentalista pode colocar ante o especialista
criador a literatura existente sobre o campo de sua investigação, a fim de que
ele possa tomar pleno contato com as realizações anteriores em seu terreno,
e dessa forma, evitar a dispersão de seu esforço na realização de uma tarefa
já executada (BRADFORD, 1961, p. 68).
Nesta perspectiva de Juvêncio (2018, p. 35) a documentação abrange não
apenas textos manuscritos e impressos, mas tudo que possa ser empregado como
meio da promoção intelectual e de transmissão das aquisições do homem no domínio
da inteligência. “É a reunião e a coordenação de todos os documentos, conjunto que
representará a experiência universal”.
Observa-se, portanto, que a classificação é a base fundamental do processo
de documentação. Contudo, os primeiros processos de classificação eram muito
rudimentares e sua evolução se deu de forma lenta. A primeira iniciativa de
classificação destinada ao uso dos livros e, não apenas, à sua venda é a publicada
por Conrad Gessner, em 1948, na forma de índice de assuntos da sua Bibliotheca
Universalis, com o título: Pandectarum sive partitionun universalium libri XXI. Isso
significa dizer que até meados de 1840 nenhuma biblioteca possuía instrumentos
adequados para verificar ou levantar no seu acervo, informações sobre um
determinado assunto. Somente em 1873, com Melvil Dewey é que surge a ideia de
classificação normatizada, dotada de notação decimal e de índice alfabético dos
símbolos, para ordenação dos livros nas bibliotecas. A partir de então, os
bibliotecários passaram a, além de coletar os registros impressos do esforço e do
pensamento humano, a tornar acessível a informação sobre um assunto particular
(BRADFORD, 1961).
A partir de 1920 a documentação se consolida como termo geral englobando a
bibliografia e serviços de informação especializada, contudo, vários fatos anteriores
foram significativos para sua constituição e fortalecimento. O quadro abaixo sintetiza
os principais eventos que marcaram o movimento da Documentação.
Quadro 3 – Síntese histórica dos eventos da documentação
Ano Evento
Catálogo das bibliotecas – bibliografia
1548 Conrad Gessner: Índice de assuntos (Bibliotheca Universalis)
1841 Princípios gerais para elaboração de catálogos de assuntos, por Panizzi
(catalogue of Printed Books in the library of the British Museum)
1859 Destaque aos catálogos por assuntos, por Edward Edward (Handbook of Library
Economy)
1873 CDD e Relative Index por Melvil Dewey, introduzida na Inglaterra e 1893
(adotada pela Biblioteca Pública de Ashton-under-lyne)
1903 Publicação de artigo Les Sciences bibliographiques et la documentation,
abordando o fornecimento de documentos ou referências destes àqueles que
precisam da informação neles contida.
1985 Conferência Internacional de bibliografia – IIB e Repertório Bibliográfico
universal
Criação por Paul Otlet e La Fontaine do Serviço "Répertoire Bibliographique
Universel” (RBU) ou Universal Bibliographic Repertory”. Documento que 1895
possuía 400.000 entradas, chegando posteriormente em 15 milhões. A RBU
buscava disponibilizar uma síntese (fichamento) dos assuntos promovendo uma
rede conceitual que possibilitasse o acesso à informação. Primeiramente
utilizou-se da CDD como instrumento de classificação, posteriormente Paul
Otlet e La Fontaine desenvolveram o próprio sistema de classificação,
denominado Classificação Decimal Universal - CDU em 1905, como ferramenta
do processo organizacional, gerencial, de classificação e acesso à informação.
1895 Fundação do Instituto Internacional de Bibliografia - IIB
1931 Instituto Internacional de Documentação – IID
1934 Publicação do tratado da documentação – representando a amplitude e
complexidade em que se insere o objeto da documentação: o livro, o
documento, a informação registrada.
1937 Federação Internacional de Documentação - FID
O Congresso Mundial de Documentação Universal, realizado em Paris marca a
maturidade da documentação em diversos aspectos como: padronização e
sistemas de classificação, normalização da catalogação e da bibliografia,
produção de instrumentos com as fontes do trabalho intelectual (anuários,
repertórios, guias bibliográficos etc.), elaboração de terminologia da
documentação, adoção de novos suportes (microfilmes) e reconhecimento de
diversos tipos de informação especializada (Cartográfica, meteorológica e
administrativa)
1988 Federação Internacional de Informação e Documentação - FID
2002 Dissolução da FID
Fonte: adaptado de Bradford (1961) e Pieruccini (2020).
A ideia da Documentação se disseminou por diversos países, além Bélgica,
onde teve origem:
● França - destacou-se como normalização e documentação (1895 –
1937, com destaque para Suzanne Briet;
● Espanha – adotado para designar pesquisa, o ensino e a prática
profissional – Ciencia de la documentacion.
● Portugal – ciências documentais
● Estados Unidos – Desenvolvimento dos sistemas automáticos de
armazenamento e recuperação da informação. Duas vertentes: a)
documentação e biblioteconomia especializada; b) Documentação
information Retrieval – voltada aos estudos e atividades de
armazenamento e recuperação da informação por meio de
computadores.
● União Soviética - termo foi considerado polissêmico e substituído por
Informatika – (informação + automática). Movimento que influenciou
especialmente, países socialistas.
● Alemanha – Desenvolveu-se como Documentação e informação.
As ideiasde Otlet se disseminaram sustentadas, na importância da vida
intelectual, “na possibilidade de sua transformação por meio de novos tipos de
instrumentos e máquinas para administrar e comunicar conhecimentos e na
necessidade de concretizar finalmente uma sociedade mundial nova e pacífica”
(RAYWARD, 2018, p. 8).
Importante lembrar que embora a Documentação possa ser considerada como
um aspecto da Biblioteconomia difere desta, por ter o objetivo de tornar disponível a
informação original registrada em artigos de periódicos, folhetos, relatórios,
especificações de patentes entre outros materiais, cuja produção é frequente e
volumosa, o que exige métodos mais precisos. Enquanto a biblioteconomia ocupa-se
de todos os aspectos do tratamento dos livros e da informação.
REFLITA
Nesta unidade vimos que a documentação surgiu para tratar o grande volume
de documentos científicos, de forma a torná-lo acessível. Na atualidade vivemos
situação semelhante em relação aos documentos eletrônicos, você acredita que os
princípios da documentação ainda possam ser aplicados? Quais áreas ou disciplinas
têm surgido para para tratar o grande volume de dados e documentos eletrônicos?
Fonte: as autoras.
#REFLITA#
3 FINALIDADE DA DOCUMENTAÇÃO
ID - 1487465441
Caro(a) Acadêmico(a)!
Como vimos no tópico anterior, a documentação surge no intuito de promover
a sistematização e o controle das publicações científicas, com vistas a sua
recuperação. Desse modo, a documentação está relacionada ao ato de “Documentar
[...] reunir, classificar e distribuir documentos de todos os gêneros em todos os
domínios da atividade humana” (BRADFORD, 1961, p. 68, grifo nosso).
Desenvolveu-se quando a técnica da biblioteconomia ainda estava em processo de
evolução, buscando encontrar uma forma de organizar e representar a crescente
massa de estudos individuais, divulgados nos periódicos de associações
especializadas e outras publicações que se constituem em base para pesquisas
posteriores.
A primeira iniciativa de catálogo exaustivo de toda a literatura científica
periódica trata-se da British Association, formulada por Joseph Henry, em 1855, em
Washington, que evoluiu para o Catalogue of Scientific Papers, publicado pela Royal
Society a partir de 1867.
Importante destacar que esses catálogos de artigos seguiam a disposição
alfabética por autores. Surgem em um contexto em que a produção científica
aumentará de tal forma que se tornará impossível para um pesquisador levantar e ler
toda literatura de sua área de atuação, necessitando-se assim de um novo tipo de
publicação que pudesse reunir e sumarizar essas publicações, permitindo a
identificação das produções e uma visão do conjunto de publicações sobre um dado
tema. O primeiro periódico desse tipo é Pharmaceutiques Zentralblatt e
posteriormente Chemisches Zentralblatt, a partir de 1930 (BRADFORD, 1961).
Após esse periódico, surgem vários outros cobrindo várias áreas do
conhecimento, fornecendo o resumo das publicações correntes, anotações curtas ou
apenas referência. Dispondo de índices alfabéticos anuais de assunto, que podiam
ser fundidos em índices quinquenais e decenais. Possibilitando verificar os trabalhos
realizados num determinado setor nos últimos anos.
A documentação corresponde a um corrente “teórico-prática composta por
princípios e técnicas que promovam o foco na representação do conteúdo dos
diversos documentos visando a ações de promoção do uso da informação”.
(ORTEGA, 2009, p. 60). A documentação buscava oferecer índices de assuntos que
permitissem o acesso às informações específicas. Isso porque se acreditava que “[...]
o acesso ao conhecimento por todos os povos levaria a uma maior compreensão da
concepção da alteridade, no sentido do conhecimento das diferenças, o que
possibilitaria a paz mundial” (ORTEGA, 2009, p. 62).
Surge com a finalidade de coletar, processar, buscar e disseminar documentos,
a partir da constatação da necessidade de tornar acessível a crescente quantidade de
informação publicada, a partir da constituição de “[...] um todo homogêneo com essas
massas ignorantes, são necessários processos novos, muito diferentes daqueles da
antiga biblioteconomia, do modo como têm sido aplicados” (OTLET, 2018, p.5).
A documentação buscava então reunir o conhecimento produzido e colocá-lo à
disposição de um público cada vez maior por meio de instrumentos que permitem o
acesso aos documentos armazenados. Nessa perspectiva os catálogos correntes,
retrospectivos e coletivos constituíram-se em instrumentais documentários
obrigatórios e em “[...] intermediários práticos entre os documentos gráficos e seus
usuários. Esses catálogos de documentos são, eles próprios, documentos de segundo
grau” (BRIET, 2016, p. 3).
A partir da necessidade da organização rigorosa do trabalho documentário,
surgem os centros e os serviços de documentação, que são as formas mais dinâmicas
dos órgãos de documentação, em diversos países como (França, 1935, 1942; Grã-
Bretanha, 1928; Países Baixos, 1937; Bélgica, 1947; Suíça, 1946), dando origem a
uma nova profissão, a de documentalista, responsável pelo trabalho de
documentação. Esse profissional deveria ter o domínio das técnicas, dos métodos e
das ferramentas atinentes às práticas documentárias (BRIET, 2016).
Otlet (2018, p. 5) defende que os objetivos ou finalidades “[...] da documentação
organizada consistem em poder oferecer sobre qualquer espécie de fato e de
conhecimento informações documentadas” atribuindo oito características para as
informações produzidas e reunidas pela documentação: 1) universais quanto ao seu
objeto; 2) corretas e verdadeiras; 3) completas; 4) rápidas; 5) atualizadas; 6) fáceis de
obter; 7) reunidas antecipadamente e preparadas para serem comunicadas; 8)
colocadas à disposição do maior número possível.
Para isso, de acordo com Otlet (2008, p. 6) a documentação é formada por
sete partes que se mesclam e se combinam:
a) Os documentos propriamente ditos, compreendidos como um
conjunto de fatos ou ideias apresentados em formato de texto ou
imagem e ordenados segundo uma classificação ou um plano
determinado pelo objeto ou o propósito a que se propõem seus
redatores;
b) A biblioteca, englobando a coleção dos próprios documentos, cada um
conservado em sua integridade individual;
c) A bibliografia: é a descrição e classificação dos documentos,
distinguindo-se entre a bibliografia de referências e a bibliografia
analítica;
d) Arquivo documentário: o arquivo, com suas pastas, incluindo as peças
originais e documentos menores na íntegra ou em partes;
e) O arquivo administrativo: compreende todos os ofícios, cartas,
relatórios, estatísticas e contas relativos a uma instituição;
f) O arquivo histórico: composto por documentos antigos, comumente
manuscritos e originais, relativos à administração de tempos passados
e que compreendem principalmente os documentos oficiais dos
organismos públicos e os documentos privados de famílias e de
estabelecimentos comerciais;
g) Outros documentos, exceto bibliográficos e gráficos: a música, as
inscrições lapidares, os processos relativamente recentes pelos quais se
grava e se transmite a imagem da realidade em movimento e o
pensamento falado.
h) As coleções museográficas: amostras, espécimes, modelos, peças
diversas, tudo que é útil para a documentação, mas que se apresenta
como objetos tridimensionais. É a documentação objetiva, tratada como
a da biblioteca e dos arquivos quanto à coleção, ao catálogo e à
ordenação.
i) A enciclopédia: compreende o trabalho de codificação e coordenação
dos próprios dados. É resultado de extratos e transcrições de acordo
com um plano de sistematização único.
Para tratar diferentes tipos de documentos, Paul Otlet e Henri La Fontaine
definiram a partir do InstitutoInternacional de Bibliografia (IIB) e do Repertório
Bibliográfico Universal (RBU) uma série de normas para registros bibliográficos,
catalográficos internacionais, formatos de documentos, especialmente a ficha de 7,5
cm por 12 cm, além de mobiliários específicos. A Classificação Decimal de Dewey
(CDD), publicada em 1976, nos Estados Unidos, foi utilizada para a classificação de
documentos. A partir de uma revisão na CDD, desenvolveu-se um novo instrumento
de classificação documentária, Classificação Decimal Universal, amplamente utilizado
na Europa (ORTEGA, 2009).
Nesse aspecto, a documentação se constitui e se consolida como uma série
de operações distribuídas entre diferentes pessoas e organismos incluindo:
o autor, o copista, o impressor o editor, o livreiro, o bibliotecário, o
documentador, o bibliógrafo, o crítico, o analista, o compilador, o leitor,
pesquisador, o trabalhador intelectual;
A documentação acompanha o documento desde o instante em que surge da
pena do autor até o momento em que impressiona o cérebro do leitor;
Ela é ativa ou passiva, receptiva ou dativa; está em toda parte onde se fale
(Universidade), onde se leia (Biblioteca), onde se discuta (Sociedade), onde
se colecione (Museu), onde se pesquise (Laboratório), onde se administre
(Administração), onde se trabalhe (Oficina) (OUTLET, 1937, p.1).
Embora a documentação desenvolva práticas próximas à biblioteconomia, a
corrente de estudos estadunidense as distingue, classificando aquela como uma área
denominada Information Retrieval ou Information Storage and Retrieval,
compreendida como o conjunto de estudos e atividades de armazenamento e
recuperação de informação por meio de computadores, configurando como uma das
principais origens da Ciência da Informação, em 1960, nos Estados Unidos. O novo
termo Ciência da Informação seria melhor definido e mais vantajoso que o anterior
(Documentação), o qual em geral era utilizado em diferentes acepções, dificultando a
compreensão e influenciando negativamente o desenvolvimento da disciplina
científica. Importante lembrar que na União soviética, o termo adotado foi Informatika
(informação + automática) para se referir à disciplina que estuda a estrutura e as
propriedades da informação, as leis que regem a atividade científica e informativa, sua
teoria, história, metodologia e meios de apresentação, registro, coleta,
processamento, analítico sintético, armazenamento, busca e disseminação da
informação científica (ORTEGA, 2009).
A principal diferença apontada entre as disciplinas biblioteconomia,
documentação e posteriormente Ciência da Informação reside no fato de a primeira
estar relacionada a serviços de orientação da leitura, voltado à formação política,
ideológica e cultural da sociedade, enquanto as últimas têm como foco a informação
técnica e científica. Fato é que, ainda que haja colaboração entre estas disciplinas em
virtude de seus fundamentos comuns, “[...] a documentação não pode ser entendida
sem a exploração da construção da sua relação controversa com a biblioteconomia”
(ORTEGA, 2009, p. 75).
REFLITA
A partir dos conhecimentos construídos até aqui, da sua experiência de vida, e
do contexto atual repleto de tecnologia que permite grande produção e circulação de
documentos no meio eletrônico, você acredita que a distinção entre biblioteconomia e
documentação defendida Ortega (2009) ainda seja pertinente?
Fonte: as autoras.
#REFLITA#
4 TEORIAS SEMIÓTICAS NO CAMPO DA DOCUMENTAÇÃO
ID -1997914919
Caro(a) Acadêmico(a)!
Compreendidas as noções de documento e documentação e suas relações
com a Biblioteconomia e Ciência da Informação, partimos agora para a verificação
das contribuições da Semiótica para o estudo e trabalho no campo da informação e
da documentação. Lembrando que estas áreas são compostas por um conjunto de
disciplinas basilares que dão sustentação ao seu desenvolvimento teórico prático, por
isso são consideradas interdisciplinares.
Desse modo, uma das áreas que contribuem significativamente para
desenvolvimento da biblioteconomia, documentação e Ciência da Informação são as
teorias da linguagem, em especial a semiótica, “compreendida como ciência dos
signos na natureza e na cultura” (ALMEIDA, 2016, p. 2).
A semiótica é definida por Santaella (1983, p. 13) como “a ciência que tem por
objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, tem por objetivo o
exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de
significação e sentido”. Seu campo de abrangência é vasto, mas não indefinido e seu
objetivo é descrever e analisar a forma como os fenômenos se constituem em
linguagem.
Na visão de Melo, D. e Melo, V. (2015, p. 25) a semiótica é uma disciplina
fundamentada na fenomenologia, “[...] que investiga os modos como apreendemos os
fenômenos que se apresentam à percepção e à nossa mente”. A fenomenologia busca
então apresentar as categorias formais e universais dos modos como os signos são
apreendidos pela mente.
Moura (2006) qualifica a semiótica como uma filosofia dos signos, ou essência
genuína do signo, o seu modo de ser e a sua estrutura básica. Para esta disciplina
todo o pensamento se dá em signos. Assim, os gestos, as ideias, as cognições e até
o próprio homem são considerados entidades semióticas.
Lara (2006, p. 20) destaca que a semiótica contribui para a melhor
compreensão da linguagem documentária, destacando que:
[...] enquanto modo de organização de um conjunto de signos (um sistema
estrutural que constitui uma unidade em si mesma e que apresenta
semelhanças e diferenças por oposição à linguagem natural e à linguagem
artificial), bem como suas características e forma de funcionamento enquanto
sistema semiótico.
Importante esclarecer que signo, na visão de Peirce corresponde aquilo que,
sob certo aspecto “representa algo para alguém, está no lugar de alguma outra coisa
sob algum aspecto ou capacidade. A principal característica do signo é que ele é
sempre institucional, estabelecido por convenção, o que o diferencia de um sinal”
(LARA, 2006, p. 20).
Na área da informação e documentação, duas perspectivas teóricas da
semiótica se destacam, representadas por Ferdinand Saussure, na França e Charles
Sanders Peirce, nos Estados Unidos.
Na visão de Saussure, o processo de interpretação deve considerar como
ponto de partida o fato social subjacente a todo ato de fala, ou seja, a língua. Nessa
perspectiva, a língua é considerada um produto social da faculdade de linguagem,
constituindo-se num conjunto de convenções adotadas pelo corpo social que
possibilita a comunicação, interação e compreensão entre os indivíduos (LARA,
2006).
Enquanto que para Peirce, “o conceito fundamental é o de semiose, ou o
processo onde alguma coisa funciona como signo, ou seja, significa, e que
compreende o signo, ou representamen, o interpretante e o objeto, ao qual se
acrescentou depois o intérprete e o contexto” (DASCAL, 1978 apud LARA, 2006, p.
18). Embora se considere certa convergência entre as duas perspectivas, permitindo,
observar a organização dos sistemas semiológicos ou semióticos e o funcionamento
dos signos nos processos de comunicação e interpretação, elas deram origem a duas
correntes distintas de estudos na área: a escola Americana, em decorrência dos
estudos de Peirce e a escola Europeia descendentes das pesquisas de Saussure.
(LARA, 2006).
Na semiótica Peirceana, o signo é uma estrutura complexa, composta por três
elementos conectados que perpassam o pensamento: a) o fundamento, propriedade
do signo que o habilita a funcionar como tal; b) Objeto, algo que está fora do signo,
mas possibilita a sua interpretação, através da mediação; c) Interpretante, signo
adicional, resultado do efeito que o signo produz em uma mente interpretativa.(SANTAELLA, 2005).
O signo, a depender da sua relação com o objeto e interpretante pode ser, o
a) imediato, interno ao signo, ou seja, é a maneira como um signo em particular indica
ou representa o objeto que está fora dele; b) Dinâmico, que determina o signo e ao
que se aplica, ou seja, todo o contexto dinâmico que circunda o signo. Da mesma
forma, o interpretante pode ser: a) imediato resultante do efeito que o signo produz
na mente de seus intérpretes e b) final decorrente do efeito que o signo produzirá na
mente (SANTAELLA, 2005).
O fundamento, primeiro elemento do signo em sua relação com ele mesmo,
comanda a primeira divisão dos signos, a saber: quali-signo (qualidade); sin-signo
(existente concreto) legi-signo (leis da natureza em geral). Na relação entre signo e
objetos temos: o ícone, que representa o objeto e as qualidades que possui; o índice,
fruto da relação sin-signo com o objeto e símbolo que se dá da relação legi-signo
objeto. A terceira classificação diz respeito aos interpretantes e suas relações com o
objeto, formando o interpretante remático, dicente e o argumento. Considerando
as combinações entre esses nove tipos de signos, Peirce chegou a dez classes de
signos e das combinatórias entre as dez tríades, resultaram 66 classes de signos. O
quadro 4 abaixo sintetiza as possibilidades de classificação dos signos semióticos.
Quadro 4 - Classificação dos signos semióticos por Peirce
Categorias O signo em relação a
si mesmo
(significação)
O signo em relação ao
objeto (objetivação)
O signo em relação ao
interpretante
(interpretação)
Primeiridade Quali-signo Ícone Rema
Secundidade Sin-signo Índice Dicente
Terceiridade Legi-signo Simbólico Argumento
Fonte: adaptado de Almeida; Silva; Vertuan, 2011, p. 11.
Em relação ao processo de percepção do signo, a semiótica de Peirce, se dá
em três fases distintas: Primeiridade, Secundidade Terceiridade, conforme o quadro
abaixo:
Quadro 5 - Fase da percepção do signo
1 Primeiridade Input Visual - o sentir: percepção primária, o signo é percebido pelos
elementos que mais suscitam a emoção, sensação e sentimento, como as
cores, as formas e as texturas.
2 Secundidade Insight Representacional - o reagir: percepção secundária, o signo é
decomposto em relações/associações e percebido como mensagem.
3 Terceiridade o pensar: percepção final, onde a leitura é simbólica, num contexto amplo de
significações
Fonte: Melo, D. e Melo, V. (2015, p. 26).
Em síntese, Peirce, destaca que o conhecimento humano pode ser
representado a partir da relação triádica entre: fundamento, objeto, interpretante;
em que são estabelecidos três níveis de relações fundamentais a) significação ou
primeiridade – onde o signo se relaciona consigo mesmo; b) objetivação ou
secundidade – na relação do signo com o objeto, faz referência ou indicação à algo,
c) interpretação ou terceiridade – relacionando signo e interpretante, suscitado
interpretações diversas a depender do contexto e da vivência do sujeito interpretante
(SILVA, J. e SILVA, A., 2012, p. 3).
Na perspectiva de Peirce, “a informação, no âmbito da Documentação e da
Ciência da Informação, é um signo construído intencionalmente para funcionar como
elemento de comunicação documentária” (LARA, 2006, p. 23). Portanto, a linguagem
documentária, analógica, a língua e seu funcionamento, aparece como um “signo que
exerce a função de comunicação e significação dos sistemas documentários,
representando as estruturas significantes que articulam pelo conjunto de suas
relações, um sistema único e autônomo dotado de significado (LARA, 2006).
Importante considerar que o que distingue a linguagem natural da linguagem
artificial é o fato da primeira corresponder a signos linguísticos de semiose
(significação) ilimitada, onde o sentido e o significado da comunicação depende da
experiência colateral ou cultural do sujeito interpretante. A segunda, por sua vez,
caracteriza-se pela formalidade e ausência de segunda articulação, remetendo a
significados unívocos que pressupõem o conhecimento de regras próprias e explícitas
do objeto e contexto da comunicação.
Nessa perspectiva, a Linguagem documentária tem o propósito de criar
condições para que os signos intencionalmente construídos orientem a interpretação
segundo os objetivos previamente estabelecidos, evitando assim, a semiose aleatória.
A linguagem documentária seria então a ‘língua tradutora’ que vai indicar as
possibilidades interpretativas dos seus termos, seja por meio de associações,
definições, explicações e exemplificações. Isso significa dizer que a construção dos
significados na linguagem documentária se dá sob condições controladas de acordo
com os objetivos visados (LARA, 2006).
Na biblioteconomia e Documentação a semiótica corrobora nos processos de
significação, constituindo-se num importante elemento do dimensionamento e
tratamento do seu objeto de estudo, a informação. Isso porque as atividades na área
requerem frequentes processos de interpretação e significação, especialmente as
relacionadas à organização e representação do conhecimento, que preveem a
interpretação e ressignificação de diferentes visões de mundo, que serão
representadas por estruturas conceituais (linguagem documentária). O que demanda
a utilização de diferentes métodos para interpretar as constituições textuais (verbais e
não verbais) de forma que um terceiro elemento (o usuário) possa recodificar essa
interpretação, por meio de uma interpretação própria (BARROS; CAFÉ, 2012).
Dessa forma, a semiótica contribui significativamente para a formação dos
conceitos necessária à construção dos sistemas de organização do conhecimento e,
por conseguinte, para processo de comunicação científica, que passa pela
significação e representação do significado de um determinado signo, por um
interpretante (BARROS; CAFÉ, 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade conhecemos os diferentes conceitos atribuídos ao termo
documento. Percebemos o quanto essa denominação se ampliou a partir dos estudos
de Otlet, podendo ser atribuída a diferentes objetos, a depender do seu contexto e
significado. Vimos o quanto a Documentação, enquanto atividade teórico-prática foi
importante para o desenvolvimento dos sistemas de classificação, representação e
organização da informação e como ela se relaciona com a Biblioteconomia.
Constatamos que a origem da Documentação está relacionada à grande
quantidade de documentos técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua
organização, de forma a torná-los acessível a quem interessar. Sua finalidade era
coletar, processar, buscar e disseminar documentos diversos a partir de técnicas
previamente estabelecidas, que pressupunham a publicação de catálogos e
bibliografias que pudessem relacionar os documentos produzidos em um determinado
campo do saber.
Por fim, verificamos que Biblioteconomia e a Documentação se relacionam com
a semiótica e que os conhecimentos dessa área são fundamentais para os processos
de significação, dimensionamento e tratamento da informação, uma vez que essas
atividades requerem frequentes processos de interpretação e significação e
representação por estruturas conceituais (linguagem documentária), demandando
consistentes e condizentes interpretações das constituições textuais (verbais e não
verbais) para que o usuário possa compreender e construir sua própria interpretação.
Para melhor aprofundamento do assunto, recomendamos a consulta aos
materiais sugeridos na leitura complementar, em especial os filmes, pois abordam de
forma mais detalhada os temas estudados nesta unidade. Esperamos que seu
percurso conosco tenha sido significativo, e que seu aprendizado tenha contribuído
para o conhecimento dos fundamentos da área. Agora, partimos para a elaboração
das atividades avaliativas e na sequênciainiciaremos nossa última unidade.
Bons estudos e até breve!
LEITURA COMPLEMENTAR
Um visionário belga idealizou a internet no fim do século 19
Por Daniel Junqueira
https://gizmodo.uol.com.br/author/djunqueira/
publicado em 26 de maio de 2014 14:09
A internet é algo relativamente recente, tendo sido desenvolvida na segunda
metade do século 20. Mas décadas antes da sua criação, um visionário belga
idealizava algo muito parecido com o que viria a se tornar a internet. Paul Otlet era um
visionário que, no fim do século 19, já pensava em maneiras de armazenar
informações que poderiam ser acessadas por qualquer pessoa no mundo.
Em 1895, Otlet apresentou sua ideia de uma “biblioteca universal” para dar
acesso a livros para qualquer pessoa no mundo. Criada em parceria com Henri La
Fontaine – um senador belga que anos depois ganhou um Prêmio Nobel da Paz – o
projeto da biblioteca universal era bastante ambicioso para a época, com o objetivo
de catalogar todas as informações publicadas no mundo. Eles ganharam apoio do
governo belga e colocaram o plano em prática – chegaram a armazenar 15 milhões
de entradas usando um sistema chamado Classificação Universal Decimal. O projeto
chegou a ser lançado comercialmente, e qualquer pessoa poderia fazer um pedido
por alguma informação para recebê-la via telégrafo.
Décadas mais tarde, nos anos 1930, Otlet ainda perseguia o sonho de
organizar as informações do mundo. Ele idealizou então os “telescópios elétricos” que
dariam acesso instantâneo a livros, filmes, gravações de áudio e fotos. Isso envolvia
uma rede internacional de conhecimento. Em um livro de 1935, ele ilustrou como seria
essa rede:
Infelizmente, esta visão de Otlet não saiu do papel – ao menos não enquanto
ele estava vivo. Na década de 1940, a invasão nazista na Bélgica acabou com o sonho
de Otlet, que morreu em 1944. Mas a humanidade conseguiu criar essa rede
idealizada por Otlet, no que viria décadas mais tarde ser chamada de “internet”. Você
pode ler mais sobre a fascinante história do visionário belga neste belo artigo do The
Atlantic (em inglês). [The Atlantic via Engadget]
Fonte: JUNQUEIRA, 2014.
http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/05/in-search-of-the-proto-memex/371385/
http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/05/in-search-of-the-proto-memex/371385/
http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/05/in-search-of-the-proto-memex/371385/
http://www.engadget.com/2014/05/23/the-concept-for-the-internet-came-from-a-belgian-in-1895/?ncid=rss_truncated
LIVRO
Título: As Contribuições de Paul Otlet para a Biblioteconomia
Autor: Ana Maria Pereira; Márcia Silveira Kroeff; Elisa Cristina Delfini Correa (orgs.)
Editora: Ed ACB
Sinopse: Este livro Reúne textos que buscam elucidar alguns resultados do trabalho
que Paul Otlet promoveu ou propiciou à biblioteconomia, destacando que mesmo com
as facilidades trazidas pelas tecnologias, ainda buscamos soluções para problemas
que também foram vivenciados e abordados por Otlet, no século XIX, entre eles, a
quantidade de informação e de dados disponíveis; as dificuldades em identificar um
formato de descrição de recursos e de metadados; as limitações das ferramentas de
armazenamento, de busca, de recuperação e de disseminação; e a definição de
modelos para administrar e interpretar o capital intelectual coletivo.
LIVRO
Título: Tratado de Documentação
Autor: Paul Otlet
Editora: Briquet de Lemos
Sinopse: Apresenta a teoria e a prática da documentação de Paul Otlet. Traz
importantes colaborações para a compreensão dos termos documento e
documentação.
LIVRO
Autor: Suzanne Briet
Título: O que é Documentação
Editora: Brasiliense
Sinopse: Este livro desenvolve os conceitos de Documento e documentação a partir
de Paul Otlet. Apresenta vários que auxiliam na compreensão e aplicação dos
conceitos na área de biblioteconomia e documentação.
Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9
_a_documenta%C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf.
LIVRO
Autor: Carlos Cândido de Almeida
Título: Semiótica documental: aspectos contextuais, teóricos
e interdisciplinares
Editora: Cultura Acadêmica
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9_a_documenta%C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5389052/mod_resource/content/1/O_que_%C3%A9_a_documenta%C3%A7%C3%A3o_Parapublicar.pdf
Sinopse: O livro pretendeu conhecer as abordagens e as linhas semióticas
constantes do campo da Documentação na Espanha. Para tanto, sustentou-se
que a orientação semiótica dos estudos espanhóis em Documentação ainda
requeriam um tratamento abrangente e sistematizado. Entre os resultados,
destacam-se a convergência da maior parte dos teóricos com temas semióticos
vinculados à Linguística e a necessidade de refundação de uma Semiótica
documental, seguindo as diretrizes de Izquierdo Arroyo. Entende-se que as
abordagens semióticas possuem um potencial para fomentar os estudos da
linguagem no campo da organização do conhecimento, contribuindo assim para a
reflexão epistemológica da Ciência da Informação no Brasil.
LIVRO
Autor: Lucia Santaella
Título: O que é Semiótica
Editora: Brasiliense
Sinopse: Este livro é um passeio pela mais jovem das ciências humanas, a Semiótica,
tendo como guia seu criador, Charles Sanders Peirce. O trajeto proporcionará uma
visão panorâmica dos principais fundamentos, das particularidades e fronteiras desta
teoria geral dos signos. Convém lembrar que, apesar de o caminho ser difícil, as
belezas do lugar são muitas e é bom permanecer com os olhos bem abertos, pois
além de escondidas, elas passam muito rapidamente.
FILME/VÍDEO
Título: O homem que queria classificar o mundo
Ano: 2002.
Sinopse: Documentário sobre a trajetória do autor, empresário, visionário, advogado
e ativista belga Paul Otlet. Trata-se do pai da ciência da informação e da
documentação (áreas com as quais ele contribuiu por meio da criação da CDU -
Classificação Decimal Universal). No documentário, o diretor percorre o pensamento
de Otlet para organizar o mundo do conhecimento e a tentativa de construir uma
"Cidade Mundial" (Mundaneum) que serviria como depósito para informações de todo
o mundo
REFERÊNCIAS
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26 de maio de 2014. Disponível em: https://gizmodo.uol.com.br/hsitoria-paul-otlet/.
Acesso em 20 set. 2021.
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https://www.researchgate.net/publication/266595742Sobre_a_%20categorizacao_dos_signos_na_Semiotica_Peirceana_em_atividades_de_Modelagem_Matematica/link/546c8a500cf2c4819f21a536/download
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/38265
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http://www.conexaorio.com/biti/otlet/
https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/683/1/%20PressupostosSemioticaPeirce.pdf
https://livroaberto.ibict.br/bitstream/1/933/1/mast_colloquia_10.pdf
UNIDADE IV
BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL
Professora Doutora Leociléa Aparecida Vieira
Professora Mestre Lucilene Aparecida Francisco
Plano de Estudo:
● O panorama da Biblioteconomia no Brasil;
● O Bibliotecário no Brasil;● Desafios contemporâneos da profissão.
Objetivos de Aprendizagem:
● Contextualizar sobre o panorama da Biblioteconomia no Brasil;
● Caracterizar quem é o bibliotecário brasileiro;
● Identificar os desafios profissionais enfrentados pelo bibliotecário na
contemporaneidade.
INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a)!
Nos textos anteriores vimos como a Biblioteconomia foi se consolidando
enquanto área do conhecimento e iniciou timidamente da necessidade de preparar
mão-de-obra qualificada para guardar e preservar a memória da humanidade desde
os primórdios da civilização. Frente ao exposto, nesta nossa unidade, vamos conhecer
sobre o panorama da Biblioteconomia no Brasil. Nesse sentido, iniciaremos o nosso
percurso pela história dos surgimentos dos primeiros cursos no país e qual a
motivação para que eles fossem implantados. Discutiremos sobre as funções e as
atividades do bibliotecário que são permeadas por um código de ética que rege sua
conduta profissional. Por fim, conheceremos quais os desafios do profissional da
informação na contemporaneidade.
Temos certeza de que estão ansiosos(as) para iniciarmos a nossa caminhada,
então vamos em frente e bons estudos!
1 O PANORAMA DA BIBLIOTECONOMIA NO BRASIL
Caro(a) Acadêmico(a)!
Que tal conhecermos sobre a trajetória da Biblioteconomia brasileira? E para
iniciarmos nossa caminhada, nada melhor do que visualizarmos a imagem da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, pois é lá se encontram as raízes do curso de
Biblioteconomia no país. Antes, porém, é necessário retrocedermos no tempo e
lembrarmos de que a instalação das bibliotecas no Brasil acontece muito antes do
surgimento da Biblioteconomia, enquanto área do conhecimento e como um campo
para habilitar profissionais. Vejamos como tudo isto aconteceu!
De acordo com Castro (2000, p. 43), “a trajetória das bibliotecas no Brasil
iniciou-se com as ordens religiosas dos Beneditinos, Franciscanos e Jesuítas”, bem
antes, da criação da Biblioteca Nacional, “gênese do movimento fundador do campo
de ensino da Biblioteconomia no Brasil”.
Sobre a instalação das bibliotecas no país, Fonseca (1979, p. 17), informa que
“em 1546 os Carmelitas já dispunham de um curso de teologia em Olinda: curso que
não funcionaria sem biblioteca”. Já para Moraes (1979, p. 1), a instrução e os livros
chegaram ao Brasil a partir da metade do século XVI, após a instalação, em 1549, do
Governo-Geral em Salvador, na Bahia. Essa data marca o “começo da vida
administrativa, econômica, política, militar, espiritual e social do país”.
SAIBA MAIS
O primeiro livro a entrar no Brasil foi trazido pelo padre franciscano Henrique
de Coimbra, que o “abriu sobre um altar improvisado no Ilhéu da Coroa Vermelha de
Porto Seguro, para com ele celebrar a primeira Missa em território brasileiro, em 26
de abril de 1500”
Fonte: Fonseca, 1979, p. 17.
#SAIBA MAIS#
No século XVII, outras ordens religiosas, dentre elas, os Capuchinhos, os
Mercedários e os Oratorianos começaram a se estabelecer no Brasil com suas
bibliotecas, pois as bibliotecas conventuais foram, até a segunda metade do século
XVIII, os centros de cultura e formação intelectual dos jovens brasileiros que iam
completar seus estudos em Portugal. Leite (apud MORAES, 1979, p. 1), corrobora
que “a Igreja, foi a única educadora do Brasil até fins do século XVIII, representadas
por todas as organizações religiosas do Clero Secular ao Clero Regular que possuíam
casas no Brasil”, entretanto, ainda no final desse século, os religiosos foram
substituídos por professores régios, os conventos, como centros de cultura e ensino,
começaram a decair, o mesmo acontecendo com as bibliotecas conventuais, que
neste período entraram em decadência.
Ao se referir às primeiras bibliotecas no país, Milanesi (1986, p. 65), tece o
seguinte comentário:
elas não nasceram públicas mas, como o ensino, privadas e com uma direção
ferreamente dirigida: a catequese, o aprimoramento do espírito missionário.
Os livros que faziam parte desse arsenal religioso espalhado pelas primeiras
povoações e colégios eram apropriados ao objetivo: fundamentalmente obras
litúrgicas ou de amparo doutrinário ao trabalho apostólico, sempre sob o
respaldo do colonizador.
A maior parte da população daquela época era analfabeta, incluindo parte da
população vinda da corte. Estas bibliotecas eram inadequadas às características
primitivas da colônia, mas certamente convenientes do ponto de vista do colonizador.
Este panorama só é modificado com a chegada da Família Real ao Brasil, em
1808, pois com o Príncipe Regente, veio de Lisboa a célebre coleção de Diogo
Barbosa Machado, a qual serviu de ponto de partida para a Biblioteca Nacional de
nossos dias. Com a corte, veio também o maquinário para que se instalasse aqui a
primeira imprensa. Em 1811, o Conde dos Arcos funda a primeira biblioteca pública.
Três anos mais tarde, a Biblioteca Real instalada no Rio de Janeiro, no hospital dos
Terceiros Carmelitas, abre as suas portas à população fluminense. “E aqui termina o
período medieval das bibliotecas brasileiras” (MORAES, 1983, p. 18).
De acordo com Silva (2010, p. 34),
O príncipe D. João nomeou logo dois bibliotecários para tomarem conta da
Biblioteca Real: frei Gregório José Viegas e o padre Joaquim Damaso. Ambos
desempenharam suas funções até voltar para Lisboa, frei Gregório em 1821
e o padre Damaso em 1822, não querendo aderir à independência. Este
último levou consigo os Manuscritos da Coroa e alguns outros papéis. Mas a
Biblioteca Real ficou definitivamente no Rio de Janeiro. Quando em 1825,
Portugal e o Império do Brasil assinaram um tratado onde era reconhecida a
Independência, nosso governo pagou a Portugal a quantia de 2 milhões de
libras esterlinas pelos bens portugueses deixados aqui. Entre esses bens
estava mencionada a biblioteca.
No Segundo Reinado, “é a fase das bibliotecas dos liceus literários, das
sociedades beneficentes, dos gabinetes de leitura” (MORAES, 1983, p. 18). Com a
República, as alterações políticas, econômicas e sociais do período repercutiram
inevitavelmente na forma como se desenvolveram a literatura, a imprensa e as
bibliotecas brasileiras. As ideias liberais, advindas dos novos tempos, contribuíram
para o incentivo da criação de bibliotecas.
É nesse contexto, que o curso de Biblioteconomia foi implantado no país pelo
Decreto 8.835 de 11 de julho de 1911, o qual estabeleceu a criação do primeiro curso
de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o qual “tinha por objetivo
sanar as dificuldades existentes na biblioteca, há gerações, quanto à qualificação de
pessoal” (CASTRO, 2000, p. 53), entretanto, as aulas só iniciaram em abril de 1915,
devido a desistência dos inscritos, na época, funcionários da própria escola. Mueller
(1985), informa que o objetivo principal do curso era a formação de pessoal
especializado para exercer as atividades na Biblioteca Nacional e que o referido curso
funcionou entre os anos de 1915 a 1922, quando foi suspenso e só retomou em 1931.
REFLITA
Em 11 de julho de 2011 o curso de Biblioteconomia no Brasil comemorou seu
centenário. Na sua opinião, as pessoas que procuram realizar o referido curso são
apenas funcionários que já atuam na área?
Fonte: as autoras.
#REFLITA#
Por muitos anos, os cursos de Biblioteconomia no Brasil estiveram restritos ao
eixo Rio-São Paulo. Nesse último local, instalou-se em 1929, no Mackenzie College,
o Curso Elementar de Biblioteconomia, o qual era voltado para funcionários da
biblioteca, professores e pessoal que atuavam nas bibliotecas em outras instituições,
porém, este curso encerrou suas atividades em 1936 por ocasião do Curso de
Biblioteconomia do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, que por
questões políticas é fechadoe só é reaberto, em 1940, na Escola Livre de Sociologia
e Política.
Os ensinamentos das escolas de Biblioteconomia dos Estados de São Paulo e
do Rio de Janeiro eram totalmente diferentes. Em São Paulo, essencialmente técnica,
era influenciada pela Columbia University e, no Rio de Janeiro, seguiam os moldes da
escola francesa École de Chartes que tinha uma visão conservadora e enciclopedista.
Este fato permaneceu até 1944, quando estas diferenças entre os conteúdos
ministrados se dissiparam (CASTRO, 2000). De 1911 até 1940, foram criados
quarenta de dois cursos de Biblioteconomia no país, desses, doze fecharam nos anos
posteriores, mas os trinta cursos restantes, distribuídos em todas as regiões
brasileiras, continuaram em funcionamento (JOB; OLIVEIRA, 2006, p. 260).
Mueller (1985), faz uma síntese história do curso de Biblioteconomia no Brasil
desde a sua criação até 1982 e menciona que em 1944, o curso da Biblioteca Nacional
foi reformulado sob a orientação do professor do curso e seu diretor entre
1944 e 1948, Josué Montello. A reforma implicou em uma mudança nos
objetivos do curso, pois não mais se limitaria a formar profissionais para a
Biblioteca Nacional, mas, oferecendo formação básica, estaria preparando
pessoas para qualquer tipo de biblioteca (MUELLER, 1985, p. 5).
Após a reforma, a Biblioteca Nacional começou a ofertar, também, cursos em
nível fundamental e cursos avulsos. Segundo a autora supracitada na década de
1950, dois fatos merecem atenção: a expansão no número de cursos de
biblioteconomia no país e a luta dos bibliotecários para se firmarem como uma classe
profissional de nível superior. Outro fato marcante do período, foi a realização do
Primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e, a partir de então, o referido
evento tem se repetido a cada dois anos sob o título de Congresso Brasileiro de
Biblioteconomia e Documentação (CBBD), com temáticas que refletem o contexto da
profissão e em locais diferentes e, em 2019, já estava na 29ª edição.
A década de 1960 é marcada pelo reconhecimento da profissão de
bibliotecário, em 1962, bem como, pelo estabelecimento de um currículo mínimo para
o curso de Biblioteconomia no país. Na década de 1970, a instabilidade política
reinante no país não interferiu no crescimento dos cursos e, em 1971, tinha dezessete
funcionando, dos quais onze novos cursos foram instalados entre 1970 e 1977. Foi
nesta década, também, que se iniciou o primeiro curso de mestrado, ministrado pelo
Instituto Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (IBBD), intitulado Mestrado
em Ciência da Informação.
Na década de 1980, já existiam no país vinte e nove cursos em funcionamento,
nas diversas regiões do País e cinco cursos de mestrado. O ensino de Biblioteconomia
no Brasil, dos primórdios até 1982, pode ser visualizado na figura 1, a qual foi
elaborada a partir do texto de Mueller (1985).
Figura 1 - Ensino de Biblioteconomia no Brasil, desde a sua criação até 1982
Fonte: Mueller, 1985.
Na visão de Castro (2000), dentre as perspectivas que as dimensões
educativas da Biblioteconomia brasileira podem ser compreendidas, duas merecem
destaque: a profissional que engloba desde a formação até os estudos de mercado
de trabalho e a técnica, diz respeito aos métodos de influência, ensino humanista e
ensino pragmático e inclui as formas de controle, processamento, armazenamento da
informação, o uso das novas tecnologias e as linguagens documentárias.
No que diz respeito ao ensino da Biblioteconomia Castro (2000), divide em
cinco fases. A fase I corresponde ao período de 1879 a 1928, se inicia com o
movimento organizado pela fundação da Biblioteconomia no Brasil, sob a liderança
da Biblioteca Nacional e teve influência humanística francesa. A fase II, de 1929 a
1939, houve o predomínio do modelo pragmático americano (São Paulo) em relação
ao modelo humanista francês (Rio de Janeiro). Na fase III, de 1940 a 1961, houve a
consolidação e a expansão do modelo pragmático americano. A fase IV, de 1962 a
1969, os fatos marcantes deste período foram a regulamentação da profissão de
bibliotecário, a promulgação do código de ética profissional e a criação do Conselho
Federal de Biblioteconomia (CFB) e, por último, a fase V que compreende o período
de 1970 a 1995 e é marcado pela paralisação do crescimento quantitativo das escolas
de graduação e dos cursos de pós-graduação. Nesse período, busca-se a maturidade
teórica da área a partir de novas abordagens emprestadas de outros campos do saber.
As fases propostas pelo autor supracitado são mais detalhadas no quadro 1.
Quadro 1 – Fases Do Ensino Da Biblioteconomia No Brasil
FASE I: 1879-1928 Movimento fundador da Biblioteconomia no Brasil de influência humanista
francesa, sob a liderança da Biblioteca Nacional;
1879 Realização do primeiro concurso para bibliotecário durante a gestão de
Ramiz Galvão;
1911 Criação na Biblioteca Nacional do primeiro Curso de Biblioteconomia no
Brasil, durante a gestão de Manoel Cícero Peregrino da Silva;
1915 Início das atividades do Curso da Biblioteca Nacional;
1923 Paralisação do curso da BN, quando é estabelecido, no Museu Histórico
Nacional, o Curso Technico com a finalidade de formar bibliotecários,
paleógrafos, arquivistas e arqueólogos
FASE II: 1929-1939 Predomínio do modelo pragmático americano em relação ao modelo
humanista francês;
1929 Criação do curso do Instituto Mackenzie, marca do início da influência
técnica americana;
1931 Retomada do curso da Biblioteca Nacional;
1935 Encerramento do curso do Mackenzie;
1936 Criação do curso do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de
São Paulo, por Rubens Borba de Moraes;
1939 Fechamento do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São
Paulo.
FASE III: 1940-1961 Consolidação e expansão do modelo pragmático;
1940 Transferência do Curso da Prefeitura Municipal de São Paulo para a Escola
Livre de Sociologia e Política – ELSP;
1942 Início da expansão do campo do ensino pelo país, sendo criados cursos:
Bahia (1942), Escola de Filosofia Sedes Sapientiae (SP) (1944). Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (1945), Porto Alegre (1947),
Departamento de Documentação e Cultura da Prefeitura Municipal do
Recife (1947) e na Escola Nossa Senhora do Sion (SP) (1948);
1944 Reforma do curso da BN durante a gestão de Rodolfo Garcia (1933-1945);
1954 Criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD).
1958 Definição da Biblioteconomia como profissão liberal e de nível superior
1961 Criação da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários
(FEBAB).
FASE IV: 1962-1969 Uniformização dos conteúdos pedagógicos e regulamentação da profissão;
1962 Promulgação da Lei 4084. Aprovação do primeiro currículo mínimo de
Biblioteconomia;
1963 Primeiro Código de Ética do Bibliotecário;
1965 Criação do Conselho Federal de Biblioteconomia.
FASE V: 1966-1995 Paralisação do crescimento quantitativo das escolas de graduação e
crescimento quantitativo dos cursos de pós-graduação; busca da
maturidade teórica da área a partir de novas abordagens tomadas por
empréstimo de outros campos do saber.
Fonte: Castro (2000).
Em 1985, Muller refletindo sobre o futuro da Biblioteconomia no Brasil,
menciona que “a evolução do ensino de Biblioteconomia no Brasil tem progredido de
maneira rápida, impulsionada por fatores internos e externos à biblioteca” e
reconhece de que havia alguns problemas a serem resolvidos, um currículo mínimo
(que estava na época em discussão), mas o “mais importante talvez seja o
entendimento da profissão, ou seja, a definiçãodo profissional que se deseja formar
para o Brasil de hoje e do futuro a curso e a médio prazo” (MUELLER, 1985, p. 13).
Transcorridas mais de três décadas destas palavras, será que este contexto foi
alterado. Vejamos!!!!
No ano de 1996, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDBEN), n. 9.394, a qual no Art 53, assegurou autonomia para as
Instituições de Ensino Superior (IES) criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos
e programas de educação superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais
da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino; fixar os currículos
dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes e
estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e
atividades de extensão, dentre outras funções (BRASIL, 1996).
Em 2001, são estabelecidas as Diretrizes Curriculares para os Cursos de
Biblioteconomia, a qual menciona que a formação do bibliotecário deve proporcionar
ao acadêmico
o desenvolvimento de determinadas competências e habilidades e o domínio
dos conteúdos da Biblioteconomia. Além de preparados para enfrentar com
proficiência e criatividade os problemas de sua prática profissional, produzir
e difundir conhecimentos, refletir criticamente sobre a realidade que os
envolve, buscar aprimoramento contínuo e observar padrões éticos de
conduta (BRASIL, 2001).
São estas diretrizes que norteiam as ações dos cursos de Biblioteconomia e a
formação do profissional bibliotecário no país. O referido documento determina, ainda,
as competências e habilidades esperadas do egresso e subdivide em geral e
específicas:
As competências gerais desejadas são:
● gerar produtos a partir dos conhecimentos adquiridos e divulgá-los;
● formular e executar políticas institucionais;
● elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos;
● utilizar racionalmente os recursos disponíveis; · desenvolver e utilizar
novas tecnologias;
● traduzir as necessidades de indivíduos, grupos e comunidades nas
respectivas áreas de atuação;
● desenvolver atividades profissionais autônomas, de modo a orientar, dirigir,
assessorar, prestar consultoria, realizar perícias e emitir laudos técnicos e
pareceres;
● responder a demandas sociais de informação produzidas pelas
transformações tecnológicas que caracterizam o mundo contemporâneo
(BRASIL, 2001, p. 32)
As específicas discriminadas no referido documento, são:
● Interagir e agregar valor nos processos de geração, transferência e uso da
informação, em todo e qualquer ambiente;
● Criticar, investigar, propor, planejar, executar e avaliar recursos e produtos
de informação;
● Trabalhar com fontes de informação de qualquer natureza;
● Processar a informação registrada em diferentes tipos de suporte,
mediante a aplicação de conhecimentos teóricos e práticos de coleta,
processamento, armazenamento e difusão da informação;
● realizar pesquisas relativas a produtos, processamento, transferência e
uso da informação (BRASIL, 2001, p. 32-33).
Conforme podemos perceber as competências e habilidades atribuídas ao
egresso do curso, são abrangentes e diversificadas.
É mister salientar que passados 110 anos da implantação do curso de
Biblioteconomia da Biblioteca Nacional, a graduação é oferecida nas habilitações
licenciatura e bacharelado, tem duração de quatro anos e é possível cursar tanto na
modalidade presencial quanto à distância. De acordo com dados do último Censo de
Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), em 2019, há registrados 41 cursos e, neste quantitativo, incluem-se
todos os cursos, sejam aqueles em atividade, quanto os que estão em extinção e/ou
em processo de descredenciamento voluntário. Aqui, também, percebemos um
diferencial, pois, por muitos anos, os cursos de Biblioteconomia foram ofertados
somente presencialmente, entretanto, com a expansão da educação à distância (EaD)
no país e com a Lei Federal nº 12.244 de 2010 que até 2020, todas as instituições de
ensino públicas e privadas do país deveriam ter uma biblioteca com pelo menos um
livro por aluno, a procura pelo curso de Biblioteconomia aumentou, especialmente, na
EaD.
Após esta trajetória sobre a Biblioteconomia no Brasil, que tal conhecermos
qual é o perfil ou quem é o profissional bibliotecário no país?
2 O BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL
O bibliotecário no Brasil é uma pessoa graduada em curso superior de
bacharelado e/ou licenciatura em Biblioteconomia que, após registrar-se no conselho
de classe da categoria, se encontra habilitado para desempenhar as funções
profissionais inerentes à área.
É mister salientar que o termo bibliotecário começou a ser utilizado pela
Biblioteca Nacional, a partir de 1824, por aprovação do segundo dispositivo legal,
denominado Artigos Regulamentares para o Regimento da Bibliotheca Imperial e
Pública, elaborado pelo frei Antônio de Arrábida. Esse documento, “após a
Independência do Brasil, troca-se a denominação Biblioteca Real por Biblioteca
Imperial e o administrador geral, até então chamado Prefeito ou Zelador, passou a
chamar-se Bibliotecário” (CASTRO, 2000, p. 50), entretanto, só houve troca no nome,
porque as atribuições permaneceram as mesmas que o profissional realizava antes
do referido documento, ou seja, “preocupação acentuada na ampliação do acervo em
detrimento de sua organização e conservação” (CASTRO, 2000, p. 50).
Nascimento e Martins (2017, p. 46) ilustram que
Conquanto o curso ter surgido no Brasil em 1911, a profissão de Bibliotecário
só foi reconhecida e regulamentada como profissão, no ano de 1962, ou seja,
51 anos após a implantação do primeiro curso de formação profissional. A
profissão foi legalizada pela lei 4.084 de 30 de junho do ano já citado,
instituída pelo então presidente da república, João Goulart.
A referida lei, dentre outros aspectos, discriminava as atribuições dos bacharéis
em Biblioteconomia da seguinte forma:
Art 6º São atribuições dos Bacharéis em Biblioteconomia, a organização,
direção e execução dos serviços técnicos de repartições públicas federais,
estaduais, municipais e autárquicas e emprêsas particulares concernentes às
matérias e atividades seguintes:
a) o ensino de Biblioteconomia;
b) a fiscalização de estabelecimentos de ensino de Biblioteconomia
reconhecidos, equiparados ou em via de equiparação;
c) administração e direção de bibliotecas;
d) a organização e direção dos serviços de documentação;
e) a execução dos serviços de classificação e catalogação de manuscritos e
de livros raros e preciosos, de mapotecas, de publicações oficiais e seriadas,
de bibliografia e referência (BRASIL, 1962).
Estas foram as primeiras atividades definidas por lei para o graduado em
Biblioteconomia. Em 25 de junho de 1998, a lei acima supracitada foi atualizada pela
Lei n. 9.674, que em seu art. 1º, parágrafo único, reza que “a designação
‘Bibliotecário’, incluída no Quadro das Profissões Liberais, Grupo 19, da Consolidação
das Leis do Trabalho, é privativa dos Bacharéis em Biblioteconomia” (BRASIL, 1998),
ou seja, o bibliotecário é reconhecido como profissão liberal e, na última versão da
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), encontra-se categorizado na família
dos Profissionais da Informação (JOB; OLIVEIRA, 2006). No país, não há um
consenso sobre quais profissões deveriam ser inseridas como profissionais da
informação. Constituem o núcleo deste grupo os bibliotecários, os arquivistas, os
mestres e doutores em ciência da informação e a Biblioteconomia é a mais antiga
destas áreas (MUELLER, 2004). A este respeito Targino (2010, p. 45), tece a seguinte
consideração explica que “todos os bibliotecários são ou deveriam ser profissionais
da informação, mas nem todos os profissionais da informação são bibliotecários.A
eles, somam-se documentalistas, arquivistas, museólogos, administradores”.
SAIBA MAIS
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm
A CBO não é lei, é uma portaria do Ministério do Trabalho. Não regulamenta
profissões e nem cria cargos, não representa aspirações de uma categoria de
trabalhadores, é descrição de atividades de diferentes profissões, uma nomenclatura.
Não é garantia de que as profissões ali descritas sejam regulamentadas e nem é esta
sua preocupação. As atividades refletem a realidade do grupo que representa em
termos de atividades desempenhadas nos diversos ambientes em que se faz presente
o trabalhador.
Fonte: Job e Oliveira (2006, p. 268)
#SAIBA MAIS#
Santos (1996, p. 5), reconhece o bibliotecário como um profissional da
informação e assim se manifesta: “entende-se todos aqueles indivíduos que, de uma
forma ou outra, fazem da informação o seu objeto de trabalho, entre os quais,
arquivistas, museólogos, administradores, analistas de sistema, comunicadores,
documentalistas e bibliotecários”.
O objeto de trabalho do bibliotecário é explicitado na Resolução CFB nº
207/2018, a qual aprova o Código de Ética e Deontologia do Bibliotecário brasileiro,
que fixa as normas orientadoras de conduta no exercício de suas atividades
profissionais
Art. 4º – O objeto de trabalho do bibliotecário é a informação, artefato cultural
aqui conceituado como conhecimento estruturado sob as formas escrita, oral,
gestual, audiovisual e digital, por meio da articulação de linguagens natural
e/ou artificial (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA, 2018).
De acordo com o Guia do Estudante (2019), cujo conteúdo tem por intuito
discriminar sobre as profissões a fim de orientar os sujeitos na escolha de determinada
profissão, menciona que “o bibliotecário domina técnicas de classificação,
organização, conservação e divulgação do acervo de bibliotecas ou centros de
documentação”. O referido documento, complementa, ainda que
Este graduado é responsável por organizar, conservar e divulgar acervos de
bibliotecas e centros de documentação, cuidando da classificação de livros,
papéis e arquivos digitais.
Trabalha como um administrador de dados, catalogando e armazenando
livros e informações, buscando sempre o melhor e mais ágil sistema de
consulta possível (GUIA DO ESTUDANTE ABRIL, 2019).
É importante mencionar que a profissão do bibliotecário ultrapassa os espaços
físicos de uma biblioteca, em 1996, Coelho Neto já chamava atenção para este fato,
o papel do Bibliotecário na sociedade está se alterando devido às novas
tecnologias de informação e comunicação. Novas formas de trabalhar
surgiram porque novas ferramentas foram criadas para o controle,
organização e disseminação da informação. O profissional não está mais
limitado ao espaço físico da biblioteca; agora ele trabalha com vários suportes
em que a informação está registrada, onde o usuário passa a ser o foco
principal e não mais o acervo, ao mesmo tempo que a disseminação passa a
ter mais importância que a preservação da informação (COELHO NETO,
1996, p. 5).
Concordamos com Coelho Neto (1996), mas, chamamos a atenção para o
alerta de Mueller (1989) de que os bibliotecários devem incorporar novas atividades
sem abandonar as ditas tradicionais, como: a preservação do conhecimento humano;
a organização da informação para sua posterior recuperação; a educação, o suporte
à educação formal, ao estudo e à pesquisa; o fornecimento ao usuário de fontes e
materiais que supram as necessidades de informação deste; além do planejamento e
da administração de recursos informacionais, haja vista, que o bibliotecário auxilia na
construção do conhecimento, ou seja, seu objeto principal de trabalho é gerenciar a
informação, independente do suporte e/ou do local em que ela esteja armazenada,
pois conforme explicita o Art. 2º da Resolução CFB 207/2008
Art. 2º – A profissão de Bibliotecário tem natureza sociocultural e suas
principais características são a prestação de serviços de informação à
sociedade e a garantia de acesso indiscriminado aos mesmos, livre de
quaisquer embargos (CONSELHO FEDERAL DE BIBLIOTECONOMIA,
2018).
Assim,
as mudanças processadas no campo da ciência e da tecnologia e a
incorporação dos princípios da Documentação na Biblioteconomia brasileira
passaram a exigir um bibliotecário mais dinâmico e participativo e,
principalmente, especializado, isto é, que conhecesse as principais fontes do
campo em que atuava, suas terminologias e o modo como o mesmo
estruturava-se, enquanto espaço de construção de saber (CASTRO, 2000, p.
121).
Outros fatos que exigiram uma nova postura no fazer bibliotecário,
especialmente, a partir da década de 1990, foi a explosão documental e a expansão
das tecnologias da informação e comunicação, que modificou as relações
profissionais e passou a exigir um profissional mais dinâmico e com domínio das
ferramentas digitais. A respeito das TICs, Araújo (2005, p. 115), destaca sua
importância, pois “pela primeira foram feitas tecnologias que criam e fornecem
informações. Essas tecnologias desenvolvem três funções de processamento de
informação: memória, computação e controle. Isso aumenta, em muito, a capacidade
humana de processar dados para produzir informação”.
Este novo cenário, exigiu que o bibliotecário adquirisse um novo perfil e, a partir
de então, ele assumiu uma nova denominação: profissional da informação, haja vista,
que suas atividades não se limitam apenas ao ambiente físico das bibliotecas e a
organização e preservação dos acervos, mas, o foco de suas atividades centraliza no
gerenciamento da informação. Frente ao exposto, o trabalho bibliotecário não se
restringe apenas aos recintos de uma biblioteca, mas, sim em qualquer instituição que
necessite catalogar documentos para acessá-los de forma rápida, eficiente e eficaz.
É incontestável que a tecnologia causou imenso impacto nas bibliotecas e nas
atividades desempenhadas pelo bibliotecário, mas ela não eliminou a necessidade do
trabalho humano, pois, os sistemas informatizados são concebidos, mantidos e
alimentados pelos seres humanos. Isto significa que as tecnologias vieram para
auxiliar o homem, não para substituí-las, então o dito popular que a profissão do
bibliotecário seria extinta com o advento das TICs não passa de um mito, haja vista,
que
o graduado em Biblioteconomia deve ter formação humanística, científica,
técnica e cultural, de modo a desempenhar atividades intelectuais, tradutoras
das necessidades informacionais de indivíduos, grupos e comunidades, e
mediadoras do uso e da apropriação da informação, tanto em contextos
tradicionais quanto virtuais, em bibliotecas, centros de documentação ou
informação, centros culturais, serviços ou redes de informação e na gestão
do capital intelectual, da inovação, da memória e do patrimônio cultural, entre
outros. A observação de padrões éticos de conduta, a reflexão crítica sobre
o seu papel social, a criatividade na resolução de problemas e a preocupação
com seu aprimoramento profissional devem sublinhar o desempenho de suas
atividades (INEP, 2009, p. 11).
Frente ao exposto, o campo de atuação do profissional bibliotecário é amplo e
abrangente, pois, além de poder desempenhar suas atividades nos diversos tipos de
bibliotecas, pode, ainda, trabalhar em outros locais, tais como: centros de pesquisas;
editoras; associações; escritórios; museus; provedores de internet, dentre outros. O
Guia das Profissões (2021, [n.p.]), complementa que
atualmente é bastante comum este profissional se ocupar
da criação e manutenção de arquivos digitais. É crescente a necessidade
das empresas de manterem arquivos digitais de documentos antes apenas
impressos. Esta ação tem o objetivo de preservar o documento original,
liberarespaço físico ou disponibilizar estes documentos para um maior
número de pessoas de forma mais rápida.
A Resolução CFB 207/2008 acrescenta que,
Art. 3º – A atuação do bibliotecário fundamenta-se no conhecimento da
missão, objetivos, áreas de atuação e perfil sociocultural do público alvo da
instituição onde está instalada a unidade de informação em que atua, bem
como das necessidades e demandas dos usuários, tendo em vista o
desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade (CONSELHO FEDERAL DE
BIBLIOTECONOMIA, 2008).
Cabe ressaltar de que a profissão de bibliotecário é instituída por entidades
representativas, dentre elas destacam-se o Conselho Federal de Biblioteconomia
(CFB), que incorpora os Conselhos Regionais de Biblioteconomia (CRB), que tem por
intuito fiscalizar o exercício e zelar pela ética profissional; a Federação Brasileira de
Associações de Bibliotecários (FEBAB), que juntamente com as Associações
Estaduais, que objetivam promover a atualização profissional, por meio de eventos,
cursos, publicações, dentre outros e os sindicatos que tem por objetivo defender o
profissional por meio da legislação dos fóruns trabalhistas e negociam junto às
instituições (privadas ou estatais), o piso salarial dos profissionais e demais benefícios
que a lei propicia aos trabalhadores (JOB; OLIVEIRA, 2006).
Após este preâmbulo sobre o bibliotecário no Brasil, quais os desafios a serem
enfrentados por este profissional na contemporaneidade? Vejamos!!!!
3 DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA PROFISSÃO
A partir do século XX, a profissão do bibliotecário, tal como as demais
profissões, foi diretamente impactada pelos avanços das Tecnologias da Informação
e da Comunicação (TICs), pois os usuários cada vez mais buscam recuperar a
informação de forma rápida e de qualidade, isto demanda alterações no perfil do
profissional. Assim, o alerta de Walter e Baptista (2007, p. 30), de que
é muito interessante como o aspecto visual e comportamental dos
bibliotecários realmente permeia o imaginário popular, associando a
profissão a mulheres, em geral idosas e, especialmente, com dois adereços
principais, como uma espécie de marca registrada, que são os indefectíveis
óculos e o famigerado coque nos cabelos, além de uma postura geralmente
antagônica e pouco receptiva para os usuários, provavelmente em gesto que
indique um enfático pedido de silêncio.
A imagem do bibliotecário tal como descrita há muito tempo se alterou e, neste
limiar do século XXI, a figura estereotipada propagada pela mídia de que a profissão
era exercida, em sua maioria por mulheres, que usam óculos, geralmente mal-
humoradas e que a regra máxima era silêncio no recinto das bibliotecas, deve ter
totalmente, eliminada e imagens como a figura abaixo não devem fazer parte de
bancos de imagens quando buscamos gravuras sobre o perfil do bibliotecário.
Figura 1 - Imagem representativa do estereótipo do bibliotecário
Uma das funções a ser desempenhada pelo bibliotecário na
contemporaneidade é a de agente de transformação social. De acordo com Pires
(2012), ele “deve assumir como agente transformador com o seu enfoque
informacional e consequentemente com as mudanças ocorridas na sociedade”. O
referido autor menciona, ainda, que “os bibliotecários do terceiro milênio precisam
desenvolver de forma condizente a disseminação da informação como forma de
fornecer aos seus consulentes informações relevantes para que os mesmos possam
usá-las de maneira eficiente”, haja vista, que “o profissional da informação tem
assumido funções diversas, como: agente educacional, social, cultural; promovendo
a competência no uso da informação, além disso, desenvolvendo nos usuários o
aprendizado através do estímulo à leitura”.
No papel bibliotecário enquanto agente de transformação social, não podemos
esquecer da função educativa a ser desempenhada por este profissional, levando em
consideração que o Brasil tem uma das taxas de analfabetismo mais elevadas. De
acordo com a Pesquisa por Amostra de Domicílios Contínua divulgada pelo IBGE
(2019), o país tem, aproximadamente, 11,3 milhões de pessoas analfabetas com mais
de quinze anos de idade.
Baptista (2006, p. 25-26), menciona que “o grande contingente de analfabetos
e comunidades carentes, isoladas e sem acesso às comodidades básicas, tais como
alimento, moradia, água, luz etc., provoca uma distorção entre o que as comunidades
desfavorecidas precisam e o que a biblioteca pública tem para oferecer”.
A autora supracitada alerta que “por formação, o bibliotecário é altamente
qualificado para desempenhar o papel social que promova a cidadania em
comunidades carentes. Porém, são poucos os que se interessam pela área, já que
não há retorno quanto à remuneração, e a infra-estrutura oferecida é desfavorável
para uma atuação efetiva” (BAPTISTA, 2006, p. 29). O que fazer para alterar esta
situação? A resposta a este questionamento nos é dado por Cunha (2019) de que
combater a redução do analfabetismo no país, “ninguém pode ficar de fora”. Segundo
o autor,
o bibliotecário não pode continuar passivo, ele deve pressionar todos os
níveis de atuação governamental (municipal, estadual e federal), das
instituições privadas e organizações do Terceiro Setor. Essa pressão deve
ser voltada para a melhoria e ampliação das políticas públicas voltada
ao combate do analfabetismo. É claro que, além disso, o profissional deve
mostrar a importância das bibliotecas públicas e escolares como locais
adequados para receberem os futuros cidadãos que poderão ler e escrever.
Há, portanto, um longo caminho a ser percorrido pelo bibliotecário e
suas entidades profissionais (CUNHA, 2019, p. 662).
A tarefa é árdua, mas é possível, haja vista, o bibliotecário tem executado no
decorrer de sua trajetória as tarefas de organizar e disseminar a informação. Na
disseminação ou mediação da informação, “o bibliotecário tem se aproximado dos
papéis desempenhados pelos educadores, assistentes sociais e outros que
desempenham, funções na área educacional/social” (BAPTISTA, 2006, p. 27).
Para Tarapanoff, Suaiden e Oliveira (2002, p. 3), um dos grandes desafios para
o bibliotecário é a alfabetização em informação, ou seja, cabe ao profissional da
informação buscar alternativas de educar a si próprios e aos outros para a sociedade
da informação. “Uma pessoa alfabetizada em informação é aquela que reconhece a
necessidade da informação; organiza-a para uma aplicação prática; integra a nova
informação a um corpo de conhecimento existente; usa a informação para solução de
problemas e aprende a aprender”
Frente ao exposto, a função do profissional da informação vai além de ensinar
os usuários como utilizar a biblioteca, haja vista, que o objetivo da alfabetização em
informação é “criar aprendizes ao longo da vida, pessoas capazes de encontrar,
avaliar e usar a informação eficazmente para resolver problemas ou tomar decisões”
(TARAPANOFF; SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002, p. 3).
Os autores supracitados explicitam que “os bibliotecários e profissionais da
informação devem, assim como os professores, tornarem-se animadores da
inteligência coletiva dos cidadãos e dos estudantes, oferecendo ferramentas
intelectuais para que os indivíduos cooperem e produzam conhecimentos em grupo”.
Neste sentido, “é necessário que o profissional da informação atue como um mediador
entre o mundo digital e a capacidade real de entendimento do receptor da informação,
garantindo a efetiva comunicação e a satisfação da necessidade informacional do
usuário dessa tecnologia” (TARAPANOFF; SUAIDEN; OLIVEIRA, 2002, p. 4). É
preciso inovar e “a inovação passa a acontecer nas bibliotecas quando estas
percebem que somente os registros informacionais bibliográficos já não atenderão
uma sociedade conectada, participativa e com acesso rápidoe vasto a uma variedade
de recursos” (PRADO; CAVAGLIERI, 2016, p. 95).
A inovação perpassa pela busca de conhecimento e aprimoramento constante,
aberto a mudanças, conforme disse Valentim em 1995
o bibliotecário precisa reencontrar seu caminho para processar a mudança
de paradigma. Ousadia é essencial! Mudança não é fácil de se executar,
requer persistência, tolerância, determinação e o mais importante, dá
condições para a reflexão e o debate. Estar sintonizado com o novo
paradigma é fundamental para o profissional da informação. O terceiro
milênio vai exigir isso (VALENTIM, 1995, p. 5-6).
Após transcorrido mais de vinte e cinco anos as sábias palavras da professora
continuam ecoando. Só mencionar que o bibliotecário é agente de transformação
social não basta, é preciso “fortalecer no bibliotecário seu papel de agente
transformador da sociedade, oferecendo, por meio de produtos e serviços de
pesquisas, ações e projetos, uma maior abrangência da sua prática profissional. É
necessário sair dos espaços seguros de informação e desbravar o caminho para
aqueles que não têm acesso”
Frente ao exposto, é mister salientar que o bibliotecário deve não só dominar
as ferramentas da informática, contribuir para o compartilhamento da informação com
os outros profissionais da informação, fazer partes de redes de relacionamento,
cooperação, catalogação cooperativa. O bibliotecário precisa, acima de tudo,
desenvolver o papel social que a ele é atribuído, ser agente de transformação de forma
efetiva e propiciar que a informação transmutada em conhecimento atinja a todo
cidadão independentemente de onde a biblioteca em que atua esteja inserida. Seja
realmente um agente de mudança social!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel da biblioteca e dos profissionais que nela atuam é determinado pelo
uso da informação registrada e pela importância desta na vida das pessoas. Uma vez
que a informação se altera e a comunicação evolui, juntamente com os valores morais,
hábitos, avanços tecnológicos, estrutura social, desenvolvimento nacional, também
mudam, em cada sociedade, as expectativas em relação às bibliotecas e aos
bibliotecários.
Frente ao exposto, nesta unidade refletimos sobre o percurso da
Biblioteconomia no Brasil desde os primórdios da criação do primeiro curso que visava
a formar o profissional para atuar nas bibliotecas. Neste sentido, no segundo momento
apresentamos o perfil do bibliotecário no país e, por último, discutimos sobre os
desafios do profissional da informação na contemporaneidade.
Foi um prazer tê-lo(a) conosco!!!
LEITURA COMPLEMENTAR
QUEM É O PROFISSIONAL BIBLIOTECÁRIO?
O bibliotecário é um profissional de nível superior que atua no mercado de
trabalho com uma visão ampla e objetiva da sociedade e de seus variados segmentos.
Como administrador e disseminador de informação, habilita-se a adequar métodos e
técnicas de sua profissão às necessidades específicas de seu trabalho, sabendo
valer-se dos melhores recursos da Informática, Reprografia e da Microfilmagem, entre
outros, para agilizar e otimizar suas funções.
O uso instrumental do Marketing, para difundir a importância da leitura e os
benefícios do uso da informação a todos os tipos de usuários e promover a formação
cultural do país, são importantes papéis do Bibliotecário, enquanto agente social.
O bibliotecário está habilitado a executar planejamento de serviços
bibliotecários, planejamento físico de bibliotecas e centros de documentação e
informação, organização de acervos (bibliográficos ou não), de serviços técnicos e
administrativos ligados à documentação, avaliação, assessoria, consultoria, ensino,
fiscalização técnica, normalização de documentos, análise de trabalhos técnicos e
científicos, organização de bases de dados virtuais, de intranets, de documentação
para processos de certificação de qualidade, avaliação de conteúdo da Internet, entre
outras.
O bibliotecário é capaz de atuar em qualquer função que vise a organização e
obtenção de informações e como gestor da informação e do conhecimento para
atender às necessidades de informação da sociedade.
O bibliotecário economiza tempo e recursos para seus clientes, colocando ao
seu alcance informações já selecionadas, precisas e de fundamental importância para
o sucesso das organizações.
Fonte: CRB-10. Quem é o profissional bibliotecário? Porto Alegre, 2021.
Disponível em: http://www.crb10.org.br/nbiblio.htm . Acesso em: 15 set. 2021.
SETE NOMES IMPORTANTES NA BIBLIOTECONOMIA
Conheça a história de sete personalidades importantes para a profissão Bibliotecário:
Adelpha de Figueiredo: uma das primeiras Bibliotecárias brasileiras. Formou-se pela
Universidade de Columbia, em Nova Iorque, sendo a primeira diretora da Biblioteca
Pública Municipal Mário de Andrade, em 1926.
Edson Nery da Fonseca: Bibliotecário e professor universitário brasileiro. Fundador
de cursos de Biblioteconomia de graduação e pós-graduação, também participou da
fundação da Universidade de Brasília (UnB), sendo responsável pela implantação da
Biblioteca Central e do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD).
Inezita Barroso: aluna destaque da primeira turma da graduação em Biblioteconomia
da Universidade de São Paulo (USP)
Manuel Bastos Tigre: considerado o primeiro Bibliotecário por concurso no Brasil,
exercendo a profissão por 40 anos. O dia 12 de março, Dia do Bibliotecário, foi
instituído em sua homenagem.
Shiyali Ramamrita Ranganathan: matemático e Bibliotecário na Índia, considerado
o pai da Biblioteconomia no país. Foi professor de Biblioteconomia por
aproximadamente 40 anos e autor do livro “The Five Laws of Library Science” (1931),
abordando as cinco leis da Biblioteconomia, fundamentais para o exercício da
profissão.
Zila Mamede: importante Bibliotecária brasileira responsável por reestruturar as duas
maiores Bibliotecas de Natal (RN): a Biblioteca Central da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte e a Biblioteca Pública Estadual Câmara Cascudo. Também
participou do Conselho Federal de Biblioteconomia
Laura Russo: desenhou a primeira versão do Código de ética Profissional do
Bibliotecário. Também foi a primeira presidente da Federação Brasileira de
Associações de Bibliotecários (FEBAB) e do Conselho Federal de Biblioteconomia.
Pelos seus trabalhos na Biblioteconomia brasileira, recebeu títulos honoríficos nos
Estados Unidos e Alemanha.
Fonte: CRB-6. Dia do bibliotecário: sete nomes importantes na Biblioteconomia.
Boletim Eletrônico do CRB-6, Belo Horizonte, 10 mar. 2020. Disponível em:
https://crb6.org.br/boletim-eletronico-crb-6/dia-do-bibliotecario-sete-nomes-
importantes-na-biblioteconomia/. Acesso: 15 set. 2021.
#MATERIAL COMPLEMENTAR#
LIVRO
https://crb6.org.br/boletim-eletronico-crb-6/dia-do-bibliotecario-sete-nomes-importantes-na-biblioteconomia/
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Título: História da biblioteconomia
Autor: Augusto Cesar Castro
Editora: Thesaurus
Sinopse: Resultado da tese do autor, defendida
na Universidade de Brasília (UnB), o livro,
publicado pela Editora Thesaurus, retrata a
trajetória da biblioteconomia diante de vários
aspectos, contemplando o desenvolvimento das
bibliotecas, em especial, a Biblioteca Nacional,
ensino de biblioteconomia (incluindo a
construção curricular), órgãos de classe, além
dos fundamentos históricos, políticos e
institucionais da profissão e atuação profissional
do bibliotecário. Certamente é uma das obras
mais densas e completas sobre o
desenvolvimento histórico da biblioteconomiae
não somente pela narrativa em si, mas pelo teor
crítico, rigoroso e consistente com que trata a
história da área.
Título: Uma análise sobre a identidade da
biblioteconomia brasileira: perspectivas
históricas e objeto de estudo.
Autor: Jonathas Luiz Carvalho Silva.
Editora: Baluarte.
Sinopse: A obra, originada de dissertação, toca
numa das questões mais negligenciadas pela
Biblioteconomia: a construção da identidade
biblioteconômica.
A obra divide-se em cinco capítulos principais.
Nos quais o autor busca resgatar um pouco da
trajetória histórica da Biblioteconomia
FILME/VÍDEO
Título: "O Bibliotecário"
Ano: 2004
Sinopse: Para se ser um bibliotecário, tem de se conhecer profundamente o Sistema
Decimal Dewey, ser especialista em Internet e, se formos o novo bibliotecário Flynn
Carsen (Noah Wyle), ter de salvar o mundo!
Wyle (E.R.) lidera um excelente elenco numa divertida e fantástica aventura recheada
de acção e efeitos especiais passada à volta do mundo partindo da biblioteca
Metropolitan até à selva Amazónica passando pelos Himalaias. Carsen, um estudante
brilhante, consegue um emprego como bibliotecário, mas que, no entanto, se revela
ser afinal um emprego muito especial: ser o guardião de maravilhosos tesouros como,
entre outros, a espada Excalibur e a Caixa de Pandora, guardados numa zona secreta
do edifício. É então que a Irmandade da Serpente, uma seita que busca o domínio do
mundo, rouba da biblioteca uma das três partes da mágica Lança do Destino. Apenas
Flynn, ajudado por uma bonita guarda-costas, tem os conhecimentos para travar
aquele plano maquiavélico. Mas terá ele fibra de herói? Vai ter de a encontrar, pois
terá de ultrapassar armadilhas mortais ou precipícios gelados em cada passo do seu
caminho.
VÍDEOS
Título: Desafios da profissão do bibliotecário
Ano: 08 de maio de 2015
Sinopse: O vídeo é uma entrevista com dois profissionais bibliotecários realizada pela
TV PUC
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Blc6r_52Wsc
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CONCLUSÃO GERAL
Prezado(a) Aluno(a)!
Neste material fizemos uma caminhada pelos fundamentos que regem a
Biblioteconomia, assim vimos os conceitos atribuídos a ela e a sua relação com a
Documentação e a Ciência da Informação. Tivemos a oportunidade de perceber que
a Biblioteconomia está voltada à organização e a administração de bibliotecas e outras
unidades de informação, desenvolvendo ações de seleção, aquisição, organização e
disseminação de publicações sob diferentes suportes físicos e desenvolve suas
atividades técnicas e normativas na perspectiva de proporcionar o acesso à
informação. Estudamos, também, como se deu o processo da escrita e o surgimento
das bibliotecas no primórdio da civilização.
Seguindo em frente fizemos uma imersão pela Biblioteconomia desde a sua
gênese e pudemos perceber que desde os primórdios da civilização, sempre houve a
necessidade de se organizar os registros do conhecimento adquiridos pelo homem a
fim de preservar a sua memória. Pudemos, ainda, conhecer sobre as práticas
biblioteconômicas e a evolução das bibliotecas, desde a Antiguidade até chegarmos
a contemporaneidade e aqui nos deparamos com a Sociedade de Informação, em que
há o domínio da internet em todos os segmentos da sociedade e que as bibliotecas
não ficaram alheias às mudanças causadas explosão documental e pelas tecnologias
da informação e comunicação.
Continuando a caminhada conhecemos os diferentes conceitos atribuídos ao
termo documento e o quanto a Documentação, enquanto atividade teórico-prática foi
importante para o desenvolvimento dos sistemas de classificação, representação e
organização da informação e como ela se relaciona com a Biblioteconomia.
Constatamos que a origem da Documentação está relacionada à grande quantidade
de documentos técnicos e científicos produzidos e a necessidade de sua organização,
de forma a torná-los acessível a quem interessar. Verificamos que a Biblioteconomia
e a Documentação se relacionam com a semiótica e que os conhecimentos dessa
área são fundamentais para os processos de significação, dimensionamento e
tratamento da informação.
Para concluir nosso percurso refletimos sobre a Biblioteconomia no Brasil
desde os primórdios da criação do primeiro curso, conhecemos sobre o perfil do
bibliotecário no país e, por último, discutimos sobre os desafios do profissional da
informação na contemporaneidade.
Esperamos que você tenha gostado de percorrer conosco pelos trajetos
encantados da Biblioteconomia.
Nossos agradecimentos e até uma próxima oportunidade!