Prévia do material em texto
INFECÇÃO DE PARTES MOLES ❖ Caso: 24 anos, gestante de 18 semanas. Dor, edema e eritema em vulva há cerca de 2 dias. Foi iniciada cefalotina. Evoluiu com piora dos sinais locais, febre e taquipneia. Acrescentada ciprofloxacina. Evoluiu com agitação psicomotora. Foi solicitada vaga na UTI o o Essa imagem não é do caso real, mas é parecido. Ela tinha uma zona de edema envolvendo os grandes lábios. A paciente estava muito agitada. Os acompanhantes disseram que ela referia muita dor no local. o Ainda complementando o caso a paciente estava com: ▪ Tax: 38-39°C. FR: 30 ipm. FC (pulso radial): 120 bpm. o O que seria toxemia? ▪ Toxemia possui vários conceitos. Mas um paciente toxêmico pode estar febril, pode ter calafrios, letargia, desorientação, taquicardia, taquipneia. Então, a paciente do casos estava com agitação psicomotora, desorientada, ou seja, toxemiada. o Qual quadro seria suscetível conter essa clínica, erisipela ou celulite? ▪ Celulite, pois atinge camada mais profunda. o Quais bactérias causam celulite? Diga algumas: ▪ Staphylococcus aureus, Streptococcus do grupo A. o A paciente do caso foi tratada com cefalotina depois adicionou ciprofloxacino, cefalotina age nesses dois grupos de bactérias que causam celulite. Por que essa paciente não melhorou? ▪ É importante ressaltar que as celulites mais comuns que têm é de Streptococcus do grupo A, mas nós temos outras bactérias que causam celulite. ▪ Sabendo disso, é entendível pensar em outras bactérias causando esse quadro, como a Pseudomonas. Quais são as situações em que eu vou pensar em um pseudomonas causando uma celulite? • Hospitalar seria uma possibilidade, mas em uma celulite dentro do hospital eu penso menos em pseudomonas e destaco o stafilococcus aureus. • Se o indivíduo está andando calçado e pisa no prego e tiver uma celulite no local a pseudomonas é o agente mais provável. Essa é uma das situações que favorece o pseudomonas. Mas se o indivíduo estiver descalço não é pseudomonas. • P.s.: o pseudomonas é anaeróbio, por isso vai infectar lesões mais superficiais. Se for muito profunda vai estar perto dos vasos sanguíneos maiores que tem maior concentração de O2 e então vão morrer. Mas também não estarão tão superficiais, a ponto de entrar em contato com o ar. o Raciocinando sobre o caso, quando falamos dos antibióticos, pensamos em uma batalha, em que o sistema imunológico luta contra as bactérias e, as vezes, só isso é suficiente para vencer, por exemplo, os resfriados comuns que a gente tem por aí, a grande maioria das dengues, chikungunya, ganha a batalha sozinho. Às vezes vai precisar de antibióticos, antiviral. Mas lembrem disso, a medicação nunca funciona sozinha, ela está sempre lutando com o sistema imunológico. Então, essa paciente pode ter algum problema específico do sistema imunológico dela que deixe esse sistema muito frágil para combater determinados patógenos. Daí não adianta antibiótico, não adianta nada. Essa é uma explicação bem provável também. Mas não vamos pensar por aí. CONTINUA MAIS A FRENTE. ❖ Pensando anatomicamente, temos de forma mais superficial, basicamente queratina. Tem as camadas, tem a derme, tecido subcutâneo, fáscia, músculo e osso. Vocês disseram que a celulite é pior que a erisipela. A erisipela é mais superficial, basicamente derme e pele e você tem os limites de infecção. Esse é o princípio que vale pra tudo de infecções de partes moles: quando mais profundo, pior é. Claro que isso tem relação com outros fatores, como sistema imunológico, o tipo da bactéria, a virulência. o ❖ Sobre diversas lesões: o ▪ Aqui é uma placa. A placa é uma lesão que tem bordas elevadas e formato de platô (da chapada Diamantina). Tem-se também uma pústula. Diferenciando a vesícula é uma lesão com conteúdo liquido claro até 0,5cm. Quando o conteúdo é purulento eu chamo de pústula. ▪ A lesão em questão foi provocada por um potó. o Mulher com 42 anos com queixa de edema em membro inferior há 02 dias. Também refere dor e eritema local. É hipertensa, usa enalapril, faz uso de anticoncepcional oral. É tabagista e etilista. Essa é a lesão: ▪ • Importante entender bem a clinica para não confundir diversos casos com erisipela, celulite... No caso da foto, tem-se uma TVP. Quando a pessoa tem TVP ela tem um risco maior de ter celulite devido a estase venosa. o ▪ Isso é uma mácula ou manha eritematosa (não tem relevo). o Observação aleatória, o que é fistula? “Canal patológico que cria uma comunicação entre duas vísceras ou entre uma víscera e a pele.” o ▪ Isso são crotas, em destaque poderia ser uma exuceração → é um impetigo o ▪ Impetigo bolhoso o ▪ Essa bolha é uma pústula o ▪ Sindrome da pele escaldada ▪ Sinal de Nikolsky → pressiona o local e a pele solta o ▪ Mais profunda que o impetigo o Estamos falando de infecção de partes moles, pele, subcutâneo, fáscia. Quais são os fatores que mais predispõem essas infecções? ▪ Diabetes; ▪ Uso de drogas injetáveis; ▪ Qualquer lesão com perda de continuidade da barreira cutânea; ▪ Insuficiência Renal; ▪ (Imunoterapia ?); ▪ Estase venosa (tromboembolismo). ▪ Tem casos bem típicos, o indivíduo que retirou a safena para fazer enxerto (cara que foi safenectomizado) esse indivíduo entre aspas tem uma certa insuficiência venosa, todo mundo que foi safenectomizado tem maior chance de ter infecção de partes moles naquele membro. ▪ Outra situação é a mulher que fez uma mastectomia total, isso também prejudica na drenagem linfática, então, é sabido que essa mulher precisará ter um maior cuidado com aquele membro, em relação a fazer as unhas, retirar as cutículas, por exemplo, pois ela tem maior risco de infecção. Além disso, o que vocês já falaram, diabetes, imunossupressão, quebra de barreira cutânea, as causas de edema, insuficiência venosa, linfática... São fatores de risco nessas infecções de partes moles. o Quadro com tipos de celulites e bactérias prováveis: o o Temos um quadro e concluímos que é uma celulite. Em relação a esse paciente, temos condições de tratá-lo ambulatorialmente ou devemos internar? Quais as indicações para internar o paciente com uma celulite? ▪ Toxemia, falha terapêutica, indicação social, imunossupressão, comprometimento do estado geral. ▪ O rebaixamento do nível de consciência seria um marcador de gravidade de qualquer situação, então temos alguns sistemas que não podem ser atingidos, um dele é o cardiovascular, então se eu tenho choque, hipotensão em qualquer quadro são marcador de gravidade; Se eu tenho insuficiência respiratória isso também é um marcador de gravidade, sem o sistema respiratório funcionando e sem o sistema cardiovascular funcionando não há vida, então esses dois são sempre marcadores de gravidade e alterações do nível de consciência, nível sensório, também! São 5 indicadores de internação, de gravidade: • Rebaixamento sensório • Hipotensão • Choque • Insuficiência respiratória o Importância do Diagnóstico Diferencial ▪ O pensamento em um diagnóstico diferencial abre a possibilidade para um plano B, se você estiver errado. Quando você vai tomar decisões, você sai de lá com o diagnóstico, uma suspeita mais provável, que vai depender do nosso conhecimento, se foi feita uma boa anamnese, exame físico, geralmente vou atuar pensando mais provável, tanto para pedir exames complementares, se for necessário, quanto para tomar medidas, como antibióticos, etc. Além disso, temos que ter os menos prováveis à vista, porque se errarmos em alguma coisa, temos tempo pelo menos para onde correr. Inclusive às vezes temos que investir tanto em diagnóstico quanto terapêutica pensando no mais provável e alguns menos prováveis porque às vezes o dano de não diagnosticarmos ou tratarmos alguma coisa é muito grande, devendo então tratar mais de uma coisa ao mesmo tempo. o Observação aleatória:As lesões petequiais e purpúricas têm a mesma gênese: o sangramento. Então, na petéquia você tem um sangramento, o sangue passa para o subcutâneo e isso é visto. Na púrpura, a mesma coisa, houve algum problema nas plaquetas ou parede do vaso. Como são causadas por sangramento, uma vez que o sangue sai do vaso, isso aí não é mais esmaecente – quando você aperta, não some. Quando some, têm normalmente um fenômeno de vasodilatação envolvido, (aperta, o sangue sai e depois volta). o No caso da celulite você pode até ter uma petéquia, ruptura de vasos, mas não é o quadro geral. O quadro geral é um eritema difuso que tende a esmaecer quando pressionado. ❖ Impetigo não bolhoso – pápulas, vesículas e pústulas que, rapidamente, se rompem deixando crostas melicéricas frequentemente localizadas na face e extremidades. ❖ Impetigo bolhoso – bolhas flácidas que, ao se romperem, deixam crosta amarronzada. Lesões preferencialmente localizadas no tronco. ❖ Ectima – úlceras com bordas levemente elevadas, com crostas de bordas violáceas. ❖ Foliculite o Foliculite é a inflamação do folículo piloso. Algumas etiologias relacionam-se com localizações específicas. Por exemplo, Staphilococcus aureus está mais relacionado a foliculite no couro cabeludo e na face. Outras localizações comuns incluem tronco superior, nádegas, pernas, axilas. O que se tem é uma pústula e um folículo. Pode-se também ter uma pústula fora do folículo, o que nos leva a pensar em outras situações, e não em foliculite. o o Nos estágios iniciais, antes de formar a pústula, você pode ver apenas uma pápula, a qual depois evolui para pústula. Na pele negra, não se tem o eritema característico, o que o torna difícil de ser notado. O que se notam são pápulas hipercrômicas. Também é característica da pele negra hiperpigmentação pós-inflamatória. Isso significa que após a remissão da lesão fica uma mácula hipercrômica no local. Também pode ocorrer hipopigmentação pós- inflamatória, ficando uma mácula hipocrômica no local da lesão. Esses eventos pós- inflamatórios ocorrem após processo inflamatório tanto por foliculite como por outras causas. o o Nesta outra imagem acima temos uma foliculite por pseudomonas. Pseudomonas está associada à exposição a água em banheiras ou piscinas. Assim, paciente com foliculite com exposição recente a água de banheira ou de piscina leva a pensar em foliculite por pseudomonas. Reforça esta hipótese diagnóstica se os sítios da foliculite corresponderem às partes do corpo que foram expostas à água. o o Outro caso, como representado acima, é a foliculite da barba, mais prevalente em pessoas de pele negra, e que torna difícil o ato de barbear-se. Foliculite em paciente com exposição recente e prolongada a antibioticoterapia para acne orienta o raciocínio para foliculite por bactérias gram-negativas. o Em pacientes imunossuprimidos a foliculite pode ser causada por fungos ou vírus. Caso o paciente seja refratário à antibioticoterapia e tenha episódios recorrentes de foliculite, deve-se pensar em etiologia relacionada a fungos ou vírus. o A distribuição das lesões também pode oferecer pistas para a etiologia da foliculite. Couro cabeludo e face são sítios mais relacionados a Staphilococcus aureus. Já na foliculite por pseudomonas as lesões ficam limitadas à área que foi diretamente exposta à água. o Diagnóstico diferencial das foliculites ▪ Acne vulgar; ▪ Rosácea; ▪ Dermatite perioral; ▪ Pseudofoliculite da barba (lesão sem infecção bacteriana. Às vezes, o homem corta o pelo de modo que este cresce invertido, causando uma dermatite irritativa); ▪ Foliculite induzida por droga; ▪ Ceratose pilar; ▪ Esteroides em geral podem levar a formação de foliculites; o ▪ Imagem de ceratose pilar, doença genética relacionada a produção de queratina nos folículos. ❖ Hidradenite supurativa o A hidradenite supurativa é causada por um problema na glândula sudorípara, que cursa com sua obstrução e infecção. Ocorre em axila, região inguinal. O paciente tem, então, tendência a ter repetidos episódios de infecção, o que pode ser bastante espoliativo. O tratamento é a excisão de pele e subcutâneo e fazer enxerto. Neste quadro, antibioticoterapia e drenagem de abscessos são paliativos, visto que se trata de uma condição do hospedeiro, não tendo cura. O tratamento é mesmo excisão de pele e subcutâneo seguida de enxertia. ▪ • Imagem de hidradenite supurativa ❖ Escabiose o Escabiose, em sua fase inicial, é um pouco parecida com foliculite. o ▪ Imagem de escabiose ▪ Acne por esteroides (esteroides anabolizantes, terapia com corticorteroides) ▪ ❖ Foliculite por fungo o Pensa-se em foliculite por fungo em pacientes imunossupresos. Em geral, o que ocorre é que se faz antibioticoterapia e o paciente não responde. Daí, pensa-se em foliculite por fungo em paciente imunossuprimido. ❖ Tinea da barba o A Tinea da barba. ▪ • Imagem de Tinea da barba ❖ Diagnóstico de foliculite fúngica o Micológico direto: escarificar. Há 2 lâminas de microscópio que vão em contato com a pele. Coloca hidróxido de potássio a fim de dissolver células epiteliais. Microscópio: confirmar- há estruturas tubulares e filamentosas. o ‘ Micológico direto o ▪ As estruturas tubulares. ❖ TRATAMENTO o Tópico para a maioria dos casos à mupirocina, clindamicina ou ácido fusídico. o Áreas extensas envolvidas, casos recorrentes ou refratrários a terapia tópica e ainda foliculite da barba à cefalexina ou eritromicina por 5 a 7 dias. o Foliculite por Pseudomonas, geralmente, é autolimitada, resolvendo-se em 7 a 10 dias (manter higiene adequada). Ciprofloxacina oral para paciente imunossupressos. *Conduta é observação para pacientes sem nenhuma comorbidade (Luciano comenta que isso é muito complicado, porque geralmente o paciente quer alguma medicação) o *É errado prescrever antibiótico sistêmico para todas as foliculites! ❖ Furúnculo e carbúnculo o ▪ É um carbúnculo. Vários folículos inflamados comunicando-se entre si e, assim, vários óstios/orifícios de drenagem. o Diferença entre furúnculo e carbúnculo ▪ Furúnculo é uma foliculite mais “radical”, em um grau mais elevado. Apenas um óstio, um sítio de drenagem. ▪ Carbúnculo- vários abscessos em comunicação que estão drenando. Vários orifícios. o TERMOS:ABSCESSOS CUTÂNEOS, FURÚNCULOS E CARBÚNCULO (slide) ▪ Abscessos cutâneos são coleções de pus dentro da derme ou tecidos cutâneos profundos. ▪ Furúnculo é uma infecção do folículo piloso cujo material purulento se estende através da derme até o tecido subcutâneo. ▪ Carbúnculo é a coalescência de vários folículos inflamados numa massa inflamatória única com drenagem purulenta por vários orifícios. o FATORES DE RISCO: ▪ Colonização nasal por Staphylococcus aureus ▪ Diabetes mellitus ▪ Imunossupressão ▪ Quebras na barreira cutânea ▪ Uso de drogas intravenosas (também subcutânea e IM) ▪ Contato próximo com pacientes com infecções de partes moles o TRATAMENTO ▪ Furúnculos pequenos: compressas mornas ▪ Lesões grandes (furúnculos, carbúnculos e abcessos) requerem drenagem ▪ Antibioticoterapia: lesões múltiplas, lesões maiores que 2 cm, área com celulite adjacente, lesões recorrentes, imunossupressão, comorbidade séria, sinais de processo sistêmico (febre, hipotensão, alteração do sensório), uso de próteses ou dispositivos intravasculares (essas próteses não são capazes de lutar contra microorganismos que nem o tecido humano. Se fizer biofilme, tem que tirar a prótese). o Segundo a sabedoria popular, quando a pessoa tem furúnculo coloca compressa de água quente, mastruz, aspirina macerada, etc. A gente vê também muitos pacientes com furunculose utilizando antibiótico. Deve-se evitar espremer e pode realmente utilizar compressas quentes. Por que não pode espremer, principalmente em áreas como a face (terço superior)? Porque nesses locais as veias nãotêm válvulas. Se isso cai na circulação venosa, pode cair na circulação cerebral e causar trombose (trombose séptica cavernosa) ▪ ❖ Celulite e erisipela: o Fatores de risco ▪ Colonização nasal por Staphylococcus aureus ▪ Diabetes mellitus ▪ Imunossupressão ▪ Quebras na barreira cutânea ▪ Uso de drogas intravenosa (também subcutânea e IM) ▪ Contato próximo com pacientes com infecções de partes moles o Área envolvida: ▪ Erisipela é superficial e celulite é profunda (chega ao subcutâneo). Os agentes etiológicos nós já sabemos. ▪ o Características: ▪ A erisipela tem bordas bem definidas e a celulite não. ▪ ▪ • No quadro está celulite periorbital mas ele (luciano) acha que é orbital. A celulite orbital tem relação com sinusite ou com patógenos que podem estar nos seios paranasais - aí entra pneumococco. o Dentre os diagnósticos diferenciais temos: ▪ Infecciosas: Abscesso cutâneo, Herpes zoster, Artrite séptica (a infecção está dentro da cavidade sinovial mas é tão grande que chega até a pele) , Eritema migrans, Bursite séptica e Osteomielite. ▪ Não infecciosas: Dermatite de contato, Gota, Reação a drogas, Vasculite, Picada de insetos, TVP e Paniculites. o Indicações para tratamento intravenoso (quase as mesmas que levarão a internação do paciente): ▪ Lesão rapidamente progressiva ▪ Resposta sistêmica proeminente (toxemia, sepse, hipotensão...) ▪ Comorbidades (imunossupressão, neutropenia, asplenia, cirrose, insuficiência cardíaca, insuficiência renal). ▪ Proximidade de dispositivo protético (próteses) ▪ Persistência ou progressão do quadro após 48h de terapia oral apropriada ▪ Imaginem que vocês estão tratando um paciente com celulite no interior, além do antibiótico, que outras medidas vocês acham importante atribuir? • Elevação do membro; Resolução de eventual porta de entrada (quebra de barreiras cutâneas são importantes portas de entradas); Limpeza/debridamento de lesões cutâneas • É muito comum o paciente que desenvolveu uma celulite ter outra lesão associada, como um tinea pedis, uma unha encravada, ou uma lesão por retirada de cutícula (no caso de mulheres, quando vão fazer as unhas).. • Então vocês precisam descobrir se há uma porta de entrada e resolver/tratar esse local; o A celulite e eripsela são infecções palcibacilares, ou seja, possuem pouco agentes etiológicos no local. Elas possuem pouca bactéria no foco (pouca bacteremia), no entanto apresentam muita reação inflamatória no local. ▪ **Se você trata um indivíduo com celulite, por exemplo, durante 8-10 dias, o eritema persiste por até 3 semanas. Há uma interpretação errônea dos médicos de continuar usando antibiótico enquanto tiver reação inflamatória, sendo que a infecção já foi resolvida nesse caso. ▪ Considerando que a resolução do eritema e do edema é um evento tardio, como saber se em 5 dias, por exemplo, está havendo uma melhora por parte do paciente? • Resposta: Se o paciente tinha febre, ver se melhorou; Se tinha dor, melhora da dor. Ou seja, remissão da febre e de outros sinais, graduação da dor de 0-10 quando chega e nos dias seguintes (a dor tem que diminuir), graduação do edema (sempre mede com uma fita métrica nos dias consecutivos para saber se está diminuindo). • Ou seja: o Remissão de febre e/ousinais de SRIS o Graduação da dor o Diminuição do edema o Sobre os antiinflamatorios: “Medicações anti-inflamatórias devem ser usadas como complemento para o tratamento de celulite? Corticoides sistêmicos (Ex.: Prednisona, 40 mg/dia, por 07 dias) podem ser considerados em adultos não diabéticos com celulite.” Então, se tem muita reação inflamatória, você pode considerar se o cara não for diabético. E eu acho que eu nunca usei isso. Agora medicação pra dor precisa usar, a depender do grau da dor do paciente. ❖ Voltando ao caso inicial, que é o caso mais complicado de todos. Essa gestante chegou com uma lesão na vulva, toxemia, taquipneica, taquicardica, febril, desorientada, com muita dor. Foi admitida na UTI, foi entubada... pronto, paramos aí. O que fazemos agora? o o Até então, acreditávamos que a paciente tinha uma celulite envolvendo grandes lábios. Essa paciente tem 02 dias de evolução. No primeiro dia ela fez uso de uma medicação eficaz, pensando em Staphylococcus e Streptococcus do grupo A, e depois ainda foi acrescentando um Ciprofloxacino para tentar pegar algum negativo, mas a paciente não estava melhorando. o Por que essa paciente não está melhorando? ▪ Poderíamos pensar em uma fasceíte, o quadro clínico de uma fasceíte é mais grave, poderia ser uma explicação. Então, de fato, o caso da paciente era uma fasceíte necrotizante e essa paciente morreu por isso. Se vocês estudarem pelo livro cadillac é bem específico, mas se pegarem outros livros de infectologia para estudar você vai encontrar falando de fasceite necrotizante, celulites necrotizantes, miosite necrotizante e eles vão trazer um texto falando de cada uma delas e uma categorização. Elas são muito perigosas, são heavy metal. A síndrome de fournier é uma fasceíte necrotizante que tem sua origem primeiramente em lesões nos genitais, no caso do homem, nos testículos ( não sei se se aplica em mulheres já que é mais descrita em homens). O que precisamos saber é identificá-las. o Vocês vão ver inúmeras celulites na vida. Alguns poucos casos desses vão ser necrotizantes, a incidência de fasceite necrotizante varia de 1 a 15 casos por 100 mil habitantes. Então podemos pensar que aqui em Barreiras devemos ter entre 15 a 40 casos desses. Aqui já temos ideia de que os casos mais graves precisam ir para o hospital, como o hospital central e o HO. A maioria das celulites você vai orientar a tratar em casa, deixar o pé elevado, avisa sobre os sinais de alerta e pede pra voltar pra reavaliação após as 48 horas. Agora se for um caso de fasceite necrotizante se você não identificar na hora o paciente vai morrer e vai puxar o pé de vocês a noite. o Essa paciente chama atenção porque tinha edema duro, não se esqueçam disso! Esse edema é até descrito como de “consistência de madeira”. A paciente tinha edema endurecido no grande lábio e que até já vinha um pouco pela parede abdominal, tendo já passado da região inguinal quando ela chegou na UTI. o Nas celulites e erisipelas dificilmente o paciente não terá dor à palpação, sendo que o edema nestes casos tem uma consistência um pouco maior em relação ao tecido subcutâneo normal. Já nas infecções necrotizantes, pode-se ter este edema de consistência de madeira, que era o caso desta paciente. Então, no caso de celulite com edema de consistência de madeira deve-se pensar em infecção necrotizante. o A lesão mais radical de todas estas é a mionecrose por clostridium, conhecida como gangrena gasosa. Trata-se da lesão mais rapidamente evolutiva, que mata mais rápido. Um celulite necrotizante é menos grave do que uma miosite necrotizante, seguindo aquele nosso paradigma inicial de que quanto mais profundo, mais grave. Mas observe que se pode ter qualquer uma delas na forma necrotizante. o Infecções necrotizantes são caracterizadas por necrose e destruição de tecidos, pela alta mortalidade associada e pelos sinais sistêmicos de toxemia. Elas demandam diagnóstico e tratamento rápidos e apropriados, com intervenção cirúrgica precoce e terapia antimicrobiana apropriada. ❖ Classificação das infecções necrotizantes o Infecções necrotizantes tipo I: aquela que tem ao menos uma espécie anaeróbia restrito (mais comumente bacteroides, clostridium), além disso uma ou mais espécies de anaeróbios facultativos, como o streptococus e membros da família enterobacteriaceae o Infecções necrotizantes tipo II ▪ No tipo 2, tem-se geralmente infecção monocrobiana causada por streptococus tipo A, ou outros streptococus beta-hemolíticos sozinhos ou em associação com staphilococus aureus. o Fatores derisco para infecções necrotizantes ▪ Agora vamos tratar das pessoas ou condições que aumentam o risco de infecções necrotizantes. • Trauma (penetrante ou contuso) • Ruptura de pele • Cirurgias recentes o Infecções necrotizantes são complicações que podem advir no pós- operatório. O risco é maior em cirurgias colônicas, urológicas e ginecológicas. • Ruptura de mucosa (tais como nas hemorroidas, fissura anal e litotomia) o Parece que a área urogenital possui bactérias mais propensas a causar infecções necrotizantes e lesões nessa área podem levar a tal desfecho. • Imunossupressão (Diabetes e HIV, principalmente) • Malignidade • Obesidade • Alcoolismo ▪ Todos esses são fatores predisponentes. Quem for cirurgião deve ficar atento a essas complicações pós-operatórias. o Sintomas sugestivos de infecções necrotizantes ▪ Dor severa desproporcional à lesão • A mulher do caso citado, na admissão, tinha um leve edema de grande lábio e evoluiu rápido. Tinha também toxemia e uma dor severa que não passa com nada e desproporcional ao que se vê. • No quadro de fasciíte, deve-se imaginar uma coisa: o processo patológico está por baixo do subcutâneo. Tem-se a pele, o subcutâneo e a fáscia. Quando se tem um processo patológico está restrito à fáscia, este pode não causar reação inflamatória suficiente para chegar na pele e podermos observar. Assim, muitas vezes só se vê o edema, palpa o edema, observa que o paciente está toxemiado, nota que ele está sentindo dor, mas não consegue vê eritema. • No caso desta paciente, você podia até limitar a área do edema, mas não conseguia ver o eritema. Edema em consistência de madeira é chamado no guideline de “hard wooden edema”. ▪ Edema lenhoso ▪ Necrose de pele • Pode-se ver eventualmente em uma erisipela uma bolha que formou e que depois necrosou, estes casos são muito superficiais. Mas quando se tem necroses mais profundas, há de se pensar em infecções necrotizantes também, como no caso de uma necrose que abre uma úlcera. ▪ Presença de gás • Trata-se de um sinal muito importante. Isso implica que toda vez que se for avaliar um paciente é indispensável palpar o membro. Quando se palpa, pode- se verificar se tem edema endurecido ou se tem gás. Quando há gás, você c. Isso já basta para dizer que há uma infecção necrotizante acontecendo no paciente. Às vezes, há gás mas não é possível palpar. Caso haja suspeita nesse sentido, pode-se pedir exames de imagem, como o raio-X tangencial de membro inferior, que pode indicar se há bolhas de gás. Ultrassom e tomografia também fornecem essa mesma informação. ▪ Um edema que se estende além da área de eritema • Este é outro sinal importante. O raciocínio é o seguinte: onde se tem reação inflamatória, deve-se ter eritema e edema. Caso se tenha, em determinada região, edema sem eritema, o processo inflamatório deve estar na fáscia. ▪ Anestesia cutânea • Em lesões extensas, embora inicialmente tenha sentido muita dor, o paciente pode chegar ao ponto de ter uma área anestésica. Quando chega neste ponto, você pode apertar com uma agulha e o paciente não sente. ▪ Rápido aumento da área • Essa paciente, quando foi recebida, eu delimitei a área do edema com caneta. Uma hora depois, o edema já tinha avançado 1-2 cm, caracterizando uma evolução muito rápida. o Alguns pontos: ▪ Anatomicamente, a fáscia é muito “grudada” no músculo. No caso da fasciíte, a reação inflamatória é tamanha que a fáscia descola do músculo. Por isso, se você entrar até com um instrumento rombo, como um cabo de bisturi, você consegue separar músculo e fáscia muito facilmente. Na verdade, você nem precisa dissecar: já está solto. ▪ No caso dessas condições, quando o cirurgião vai dissecando, ele pode ver até onde há necrose, o que é fácil de ver. A consistência, o cheiro e o aspecto do tecido necrosado são diferentes do tecido normal. Com base nisso, o cirurgião vai fazendo a excisão de tudo que for tecido necrosado. Se ficar um milímetro de tecido necrosado depois da cirurgia, no dia seguinte isso aumenta. Então, este paciente muitas vezes acaba precisando voltar para o centro cirúrgico após 24 hrs. Por isso, não pode ficar foco de necrose! Aliado a isso, você vai usando antibiótico. ❖ Como diferenciar miosite, fasciíte e celulite necrotizante? Ou essa distinção não é importante? o Não vai fazer tanta diferença para a conduta esta distinção. Isso porque, se for necrotizante, o cirurgião vai definir até onde há necrose, se é só na fáscia ou se chegou no músculo. Agora, vamos supor que você suspeita de infecção necrotizante porque o paciente tem dor desproporcional e está desorientado. Mas você está observando que o caso dele parece uma celulite. Você parte, então, para o exame de imagem. A tomografia informa que o paciente tem gás entre a fáscia e o músculo e também tem edema no músculo. A partir disso, você entende que no caso deve ter uma miosite também. Mas, em geral, apenas observando não é possível definir se é fasciíte, ou miosite, ou fasciíte e miosite associadas. THE END