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E s te c o m e n tá r io é a c lam ad o o m e lh o r e s tu d o já p ro d u z id o so b re IC o r ín t io s . 
E s c re v e n d o p a ra p a s to re s , p ro fe sso re s e a lun o s d e te o lo g ia , G o rd o n F e e o fe re c e 
um a e x p o s iç ã o a ce ss íve l d a c a rta , d e strin ch a n d o se u co n te ú d o e su a am p la 
re le vâ n c ia te o ló g ic a . P o r e s sa ra zã o , o s a sp e c to s m ais a c a d ê m ic o s d a o b ra , co m o 
a in te ra çã o co m o u tro s c o m e n ta r is ta s , fo ram tra n s fe r id o s p a ra a s n o tas d e 
ro d a p é . O u tra s c a ra c te r ís t ic a s ta m b é m se d e s ta ca m . E m p rim e iro lugar, há um 
e m p e n h o d o a u to r p o r e s ta b e le c e r o c o n te x to h is tó rico e lite rá rio d e 1 C o rín t io s 
n as in tro d u çõ e s d e cad a se çã o , re co n stru in d o assim os a sp e c to s h is tó rico s e 
aco m p an h an d o o f lu x o d o a rg u m e n to d e P au lo , co m o cu id ad o d e fa z e r um a 
e x e g e s e d e to d a a ca rta à luz d e sse s a n te c e d e n te s . Em se g u n d o lugar, a g ra n d e 
expertise d e F e e na á rea d a c rít ica te x tu a l p e rm itiu q u e tra ta s s e d e c a d a va r ia n te 
te x tu a l q u e t iv e s s e p e so e x e g é t ic o , em a lg u n s c a so s com b a sta n te p ro fu n d id a d e . 
E m te rc e iro lugar, o a u to r co nc lu i q u a se c a d a se çã o co m a p lic a ç õ e s , o que 
d e m o n stra su a p re o c u p a çã o d e q u e a P a lav ra d e D e u s se ja v iv a e p e rt in e n te ao s 
d ia s d e h o je .
E s ta p rim e ira e d içã o em língua p o rtu g u e sa é b a se a d a na se g u n d a ed içã o in g le sa 
d e 2 0 1 4 , a qual leva em co n ta a e x te n sa p e sq u isa a ca d ê m ica d o s ú lt im o s 3 0 anos 
ace rca d e ssa q u e é co n s id e ra d a um a d a s p rin c ip a is e p ís to la s p a u linas.
"A luz da melhor tradição no academicismo evangélico, Fee produziu a mais 
completa interpretação de ICoríntios publicada nesta geração."
Journal ofBiblical Literature
"Um comentário pormenorizado que merece figurar como uma das mais 
importantes obras já escritas sobre ICoríntios."
Anthony C. Thiselton, University of Nottingham
Gordon D. Fee (P h D , U n ive rs ity o f So u th e rn C a lifó rn ia ) é p ro fe sso r e m é rito d e 
E s tu d o s d o N o vo T e sta m e n to na R e g e n t C o lle g e , em V an co u ve r, no C a n a d á , 
d isc ip lin a q u e ta m b é m lec io n o u na W h e a to n C o lle g e e no G o rd o n -C o n w e ll 
T h e o lo g ica l Se m in a ry . F e e é um d o s o rg a n iza d o re s d a sé rie d e co m e n tá r io s N e w 
In te rn a tio n a l C o m m e n ta ry on th e N e w T e sta m e n t e a u to r d e v á r ia s o b ra s , e n tre 
e la s Entendes o que lês?, Manual de exegese bíblica e Paulo, o Espírito e o povo 
de Deus, p u b lica d o s p o r V id a N o va .
ISBN 978-85-275-0926-8
9 7 8 8 5 2 7 5 0 9 2 6 8
COMENTÁRIO
EXEGÉTICO
^ ° D l R E \ t O P>
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Angélica Ilacqua CRB-8/7057
Fee, Gordon D.
ICoríntios : comentário exegético / Gordon D. Fee ; tradução de Mareio 
Loureiro Redondo. — São Paulo : Vida Nova, 2019.
1168 p.
Bibliografia
ISBN 978-85-275-0926-8
Título original: The First Epistle to the Corinthians
1. Bíblia - Coríntios, 1 - Comentários I. Título II. Redondo, Mareio Loureiro. 
19-1014 CDD-227.2077
Índice para catálogo sistemático
1. Bíblia — Coríntios - Comentários
COMENTÁRIO
EXEGÉTICO
GORDON 
D. FEE
Tradução
Mareio Loureiro Redondo
üm
VIDA NOVA
®1987, 2014, de Gordon D. Fee
Título do original: The First Epistle to the Corinthians
(The New International Commentary on the NewTestament),
edição revisada, publicada po r W illiam B. Eerdmans Publishing C ompany
(Grand Rapids, Michigan, EUA/ Cambridge, Inglaterra).
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por 
Sociedade Religiosa E dições V ida N ova 
Rua Antônio Carlos Tacconi, 63, São Paulo, SP, 04810-020 
vidanova.com.br 1 vidanova@vidanova.com.br
L* edição: 2019
Proibida a reprodução por quaisquer meios, 
salvo em citações breves, com indicação da fonte.
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Todas as citações bíblicas sem indicação da versão foram extraídas da New International Version 
(2011). As citações bíblicas com indicação da versão in loco foram extraídas das versões cujas siglas 
constam nas “Reduções gráficas”. Citações bíblicas com a sigla TA se referem a traduções feitas 
pelo autor a partir do original grego/hebraico.
D ireção executiva 
Kenneth Lee Davis
G erência editorial 
Fabiano Silveira Medeiros
E dição de texto 
Daniel de Oliveira 
Valdemar Kroker
Preparação de texto 
Caio Barrios Medeiros 
Mareia B. Medeiros
Revisão de provas 
Josemar de Souza Pinto
G erência de produção 
Sérgio Siqueira Moura
D iagramação 
Luciana Di Iorio
C apa
Souto Crescimento de Marca
mailto:vidanova@vidanova.com.br
Para
W a y n e K r a i s s , 
com apreço.
Sumário
Prefácio da série Comentário Exegético................................................. xiii
Prefácio à primeira edição em língua inglesa................................................xvii
Prefácio do autor à edição revisada em língua inglesa............................... xix
Prefácio do autor à primeira edição em língua inglesa...............................xxi
Reduções gráficas........................................................................................ xxv
Introdução a ICoríntios........................................................................................... 1
Texto, exposição e notas.........................................................................................23
I. Introdução (1.1-9)..........................................................................................23
A. Saudação (1.1-3)...................................................................................... 24
B. Ação de graças (l .4-9).............................................................................34
II. Resposta a informações recebidas ( l .10—6.20)........................................48
A. Uma igreja dividida — intemamente e contra Paulo ( l .10—4.21)... 49
1. O problema: divisão em torno de líderes por causa da
sabedoria (1.10-17)............................................................................55
2. O evangelho: uma contradição da sabedoria humana (1.18—2.5) ...74
a. A loucura de Deus: um Messias crucificado (1.18-25)............. 75
b. A loucura de Deus: os crentes de Corinto (1.26-31).................89
c. A loucura de Deus: a pregação de Paulo (2.1-5).....................101
3. A sabedoria de Deus — revelada pelo Espírito (2.6-16)............. 112
4. Sobre ter o Espírito e estar dividido (3.1-4)................................ 142
5. Corrigindo uma ideia falsa de igreja e ministério (3.5-17).......152
a. Líderes são apenas servos (3.5-9)...................................................153
b. A igreja precisa ser edificada com cuidado (3.10-15)...............161
1 Coríntios
c. Advertência àqueles que estavam destruindo a igreja, o templo
de Deus em Corinto (3.16,17)..................................................174
6. Conclusão do assunto: todos são de Cristo (3.18-23)............... 181
7. Os coríntios e seu apóstolo (4.1-21)............................................. 189
a. Sobre ser servo e ser julgado (4.1-5).........................................191
b. As marcas do verdadeiro apostolado (4.6-13).........................201
c. Apelo e exortação (4.14-21)......................................................222
B. Imoralidade e litígio: casos paradigmáticos da crise de autoridade 
e o evangelho (5.1—6.20).................................................................... 237
1. O caso do homem incestuoso (5.1-13)........................................240a. A decisão de Paulo: o homem precisa ser expulso (5.1-5)...... 243
b. O argumento da analogia: a Páscoa (5.6-8)............................ 263
c. Corrigindo um “mal-entendido” (5.9-13).............................. 270
2. Um caso de litígio (6.1-11)........................................................... 280
a. Vergonha para a igreja (6.1-6)...................................................282
b. Vergonha para o demandante e advertência contra o infrator
(6.7-11)..........................................................................................294
3. Sobre ter relações com prostitutas (6.12-20).................................307
III. Resposta à carta dos coríntios (7.1—16.12)........................................... 330
A. Casamento e assuntos correlatos (7.1-40)........................................ 333
1. Aos casados (ou anteriormente casados): permaneçam como
estão (7.1-16)................................................................................... 338
a. Sem abstinência dentro do casamento (7.1-7)........................339
b. Viúvos e viúvas podem permanecer solteiros ou se
casar (7.8,9)................................................................................... 357
c. Casais cristãos não devem se divorciar (7.10,11)....................362
d. Cristãos casados com descrentes não devem se divorciar
(7.12-16)....................................................................................... 369
2. O princípio orientador: permanecer na condição em que
estava quando foi chamado (7.17-24).......................................... 382
3. Sobre as “virgens” (7.25-40)................................................... 402
a. O celibato é preferível, mas não obrigatório (7.25-28)........405
Sumário IX
b. Os argumentos de Paulo a favor do celibato (7.29-35).........417
c. Mas casar não é pecado (7.36-40)............................................ 434
B. Comida sacrificada a ídolos (8.1—l l . l ) ............................................ 445
1. O fundamento da conduta cristã: amor, e não conhecimento
(8.1-13)............................................................................................ 455
a. O caminho do amor e o caminho do conhecimento (8.1-3).. 456
b. O conteúdo do caminho do conhecimento (8.4-6)............... 463
c. O critério: cuidado pelos irmãos na fé (8.7-13)......................472
2. A defesa apostólica de Paulo (9.1-27)............................................ 492
a. Em defesa do apostolado de Paulo (9.1,2)................................ 494
b. Os direitos de Paulo como apóstolo (9.3-14)........................... 499
c. O comedimento de Paulo como apóstolo (9.15-18)............... 520
d. A liberdade apostólica de Paulo (9.19-23).................................530
e. Exortação e exemplo (9.24-27)..................................................544
3. Conclusão: não frequentar os templos (10.1-22).......................... 554
a. O exemplo de Israel (10.1-5)....................................................555
b. Aplicação do exemplo: advertência contra a idolatria
(10.6-13)........................................................................................566
c. A proibição e seu fundamento (10.14-22)............................... 580
4. Sobre comer alimentos vendidos no mercado (10.23—ll . l ) ... 597
C. Mulheres e homens no culto (11.2-16)...............................................616
1. Um argumento extraído da cultura e do sentimento de
vergonha (11.2-6)............................................................................626
2. Um argumento extraído da Criação (11.7-12)............................ 645
3. Um argumento extraído do decoro (11.13-16)........................... 660
D. Abusos contra a ceia do Senhor (11.17-34)........................................ 668
1. O problema: abuso contra os menos privilegiados (11.17-22).. 675
2. O problema: abuso contra o Senhor (11.23-26).........................688
3. A resposta: discernir o corpo (11.27-32).......................................704
4. A resposta: esperar uns pelos outros (11.33,34)............................ 715
X 1 Coríntios
E. Sobre os dons do Espírito e ser povo do Espírito (12.1—14.40) 719
1. O critério: Jesus é Senhor (12.1-3)................................................726
2. A necessidade de diversidade (12.4-31)......................................... 737
a. Diversidade na Trindade e os dons (12.4-11).......................... 738
b. O corpo: diversidade na unidade (12.12-14)........................... 758
c. Uma dupla aplicação da metáfora (12.15-26)......................... 768
d. De novo: o fato da diversidade (12.27-31)............................... 778
3. O caminho mais excelente (13.1-13)............................................ 790
a. A necessidade do amor (13.1-3).................................................795
b. A natureza do amor (13.4-7)...................................................... 803
c. A permanência do amor (13.8-13).............................................811
4. A necessidade de inteligibilidade na igreja reunida (14.1-25).. 825
a. O “dom maior”: profecia (14.1-5).............................................826
b. Analogias favoráveis à inteligibilidade (14.6-13)....................835
c. Aplicação à comunidade dos crentes (14.14-19).....................844
d. Aplicação em prol dos descrentes (14.20-25).......................... 856
5. Diretrizes sobre os dons (14.26-40)............................................. 870
a. Diretrizes sobre as línguas e profecia (14.26-33)................... 871
b. Conclusão: confronto e sumário (14.36-40)........................... 883
c. Sobre as mulheres permanecerem em silêncio (14.34,35).... 890
F. A ressurreição dos crentes (15.1-58)...................................................906
1. O fundamento: a ressurreição de Cristo (15.1-11).....................911
2. A certeza da ressurreição (15.12-34)............................................ 935
a. Se Cristo n ã o ressuscitou (15.12-19).......................................936
b. Mas Cristo ressuscitou, sim (15.20-28)....................................945
c. Argumentos ad hominem a favor da ressurreição (15.29-34). 963
3. O corpo da ressurreição (15.35-49)............................................. 981
a. Analogias com sementes e “corpos” (15.35-44)......................985
b. Analogia com Adão e Cristo (15.45-49)................................ 995
4. A certeza da vitória (15.50-58).................................................... 1007
Sumário XI
G. Sobre a coleta ( l ó . l - l l ) ...................................................................... 1023
1. Arranjos para a coleta (16.1-4)....................................................1025
2. Planos de viagem de Paulo e Timóteo (16.5-11)......................1034
H. Sobre a ida de Apoio (16.12)..............................................................1042
IV Assuntos finais (16.13-24).........................................................................1045
A. Exortações finais (16.13-18)...............................................................1047
B. Saudações finais (16.19-24)................................................................ 1056
Bibliografia................................................................................................1065
índice de passagens bíblicas.......................................................................1095
índice de fontes extrabíblicas antigas........................................................1109
índice remissivo......................................................................................... 1115
Prefácio da série Comentário Exegético
Conforme narrado no livro de Atos, o encontro entre Filipe e o eunuco etíope na 
estrada de Jerusalém a Gaza foi obra do Senhor (At 8.26-39). Esse etíope trazia 
consigo uma cópia de pelo menos parte das Escrituras e lia o livro do profeta 
Isaías. Ao ouvi-lo ler, Filipe indagou: “Entendeso que estás lendo?” (At 8.30).
Ao escrever um comentário, é difícil almejar propósito mais premente do que 
este: achegar-se ao leitor das Escrituras para conduzi-lo à compreensão do significado 
do que lê — e fazê-lo de modo não apenas informativo, mas também transfor­
mador. Esse é o objetivo da série Comentário Exegético, de Edições Vida Nova. 
Seu trabalho interpretativo não pode ter melhor razão para existir nem melhor 
objetivo. Serve ao propósito de conduzir o leitor à interpretação precisa do texto 
da Escritura, além de proporcionar um meio de confirmação e validação das 
interpretações às quais seu estudante tenha chegado no processo hermenêutico 
e exegético, com vistas à aplicação pessoal ou à exposição da mensagem escrita. 
Isso é necessário porque vivemos em um mundo caído e aflito que precisa de 
direção. Precisa, portanto, da Palavra de Deus.
Mas o caminho da leitura à prática nem sempre é direto e rápido. Para com­
preender o texto bíblico, são necessárias boas ferramentas, e entre as mais úteis estão 
os comentários bíblicos. Existem vários tipos de comentários. Os que integram a 
série Comentário Exegético são daqueles que se aprofundam na compreensão do 
texto original da Bíblia por meio de uma exegese detalhada, justamente com o 
propósito de levar o leitor das Escrituras à prática da vontade de Deus.
Assim, os comentários desta série apresentam as seguintes características:
• aliam profundidade acadêmica e facilidade de leitura;
• atendem às necessidades de pastores e demais pregadores da Palavra 
inspirada;
• são compreensíveis ao leigo interessado no conhecimento mais profundo 
da Escritura;
• são minuciosos no tratamento de cada texto, sem exagerar nos detalhes;
X IV 1 Coríntios
• tratam a exegese não como um fim em si mesma, mas como recurso 
para a compreensão do todo;
• apresentam informações das línguas originais de forma acessível;
• têm por objetivo entender cada perícope em seu contexto, associando 
cada passagem ao que vem antes e depois;
• reúnem autores que pertencem a uma tradição teológica conservadora 
e são oriundos de diversas orientações dentro do universo evangélico;
• buscam representar o texto original de modo apurado, claro e que faça 
sentido para o leitor de hoje.
Além dessas características, há ainda aspectos que diferenciam os comentários 
que compõem esta série.
Primeiramente, e acima de tudo, ocupam-se do texto das Escrituras. Não 
significa dizer que não deem atenção ao longo desenvolvimento das pesquisas 
escriturísticas e ao debate acadêmico. Significa, antes, que se esforçam em apre­
sentar um comentário do texto e não do debate acadêmico. Portanto, o principal 
resultado desse trabalho é um guia de fácil leitura, reservando para as notas de 
rodapé (ou “notas adicionais” ao final de cada seção) a interação com as questões 
críticas e a respectiva literatura técnica. Ocupar-se, porém, do texto das Escrituras 
não significa que a série tenha evitado certos métodos críticos ou tenha exigido 
que cada autor siga uma abordagem definida. Em vez disso, foram adotados as 
abordagens e os métodos necessários, sempre norteados pelo propósito maior de 
ajudar cada autor na tarefa de deixar claro o significado desses textos.
Em segundo lugar, os autores da série identificam-se conscientemente como 
seguidores de Cristo que leem as Escrituras a serviço da igreja e de sua missão no 
mundo. Ler as Escrituras dessa forma não significa garantir algum tipo específico 
de interpretação. Significa entender que, na história da interpretação, há épocas 
em que as Escrituras trazem uma palavra necessária de confronto, chamando o 
povo de Deus de volta a sua vocação. Já em outras ocasiões, as Escrituras ofe­
recem uma palavra de consolo, lembrando o povo de Deus de sua identidade, 
de que ele segue a um Messias crucificado e serve a um Deus que vindicará os 
caminhos dele e de seu povo.
A terceira característica que distingue esta série é o fato de seus comentá­
rios reconhecerem que nossa leitura das Escrituras não pode estar descolada da 
realidade do mundo em favor do qual a igreja cumpre sua missão. Pois, como
C. S. Lewis assinalou, e com razão, em seu conto O sobrinho do mago, “o que 
você ouve e vê depende do lugar em que se coloca”.1 Esse lugar é o mundo em
*As crônicas de Nárnia (São Paulo: Martins Fontes, 2009), livro 1: O sobrinho do mago.
Prefácio da série Comentário Exegético xv
que estamos, o qual nos pressiona com perguntas que não deixam de instruir 
nosso trabalho de interpretação. Assim, não basta expor aquilo que Deus disse 
outrora, pois precisamos ouvir vezes sem conta aquilo que o Espírito, por meio 
das Escrituras, está dizendo à igreja boje. Por conseguinte, precisamos examinar 
o significado teológico daquilo que lemos e como essa mensagem pode fincar 
pé no coração das pessoas.
Por último, a série Comentário Exegético foi elaborada por meio da seleção de 
volumes oriundos de algumas das melhores e mais atualizadas séries de comentá­
rios produzidas em língua inglesa. São obras que se situam em um ponto inter­
mediário entre comentários mais críticos e acadêmicos — que incluem citações 
não traduzidas do grego, do aramaico ou do latim, por exemplo — e comentários 
homiléticos — os quais tentam trocar em miúdos como um texto das Escrituras 
pode ser transmitido, em forma de ensino ou pregação, à igreja reunida.
Nossa esperança é que aqueles que estão se preparando para ensinar e pregar 
a Palavra de Deus encontrem nestas páginas a orientação de que precisam. E que 
aqueles que estão aprendendo a fazer exegese encontrem aqui um exemplo a 
ser seguido.
E com imensa satisfação, portanto, que disponibilizamos à igreja brasileira 
esta preciosa série de comentários bíblicos.
Prefácio à prim eira edição 
em língua inglesa
Em conformidade com a política de manter atualizada a série New Interna­
tional Commentary on the New Testament, mediante revisão ou substituição, 
apresentamos um novo volume sobre ICoríntios.
O volume original do N IC N T sobre ICoríntios foi um dos primeiros da 
série: foi publicado em 1953, sendo obra do veterano estudioso holandês dr. F. 
W Grosheide, que por mais de quarenta anos havia ensinado Novo Testamento 
na Universidade Livre de Amsterdã. Desde seu surgimento, já se foi toda uma 
geração. O estudo de ICoríntios — uma das cartas mais fascinantes de Paulo — 
continua sendo feito com grande entusiasmo. Novos problemas têm surgido e 
novas perguntas têm sido feitas, e o leitor de hoje espera encontrar alguma ajuda 
com respeito a todas essas questões.
O dr. Gordon Fee está totalmente a par dessas questões e é especial­
mente bem qualificado para dar a ajuda necessária. Ele é mais conhecido no 
mundo de estudos do Novo Testamento graças à sua especialidade em crítica 
textual, mas suas habilidades exegéticas têm sido continuamente postas em 
prática durante seu tempo como professor no W heaton College, no Gordon- 
-Conwell Theological Seminary (ambos nos Estados Unidos) e, agora, no 
Regent College, em Vancouver, Canadá, bem como em seu comentário das 
Epístolas Pastorais.
Ele trata as sucessivas seções de ICoríntios com atenção especial para o lugar 
de cada uma no desenvolvimento geral da carta e de seu argumento; ele trata 
a própria carta no contexto da troca de correspondência entre Paulo e a igreja 
de Corinto, bem como em seu contexto histórico, cultural e social. Surgem aí 
algumas perguntas difíceis de responder no que diz respeito às pressuposições 
implícitas dos cristãos de Corinto — pressuposições que Paulo precisou levar em 
conta enquanto ditava a carta e das quais devemos ter consciência enquanto a 
lemos. Essa é uma carta de verdade (não uma composição literária disfarçada de 
carta): nela Paulo interage com homens e mulheres de verdade — questionadores 
bem articulados que dizem o que pensam. Os leitores que tentarem usar a carta
1 Coríntiosxviii
como manual de organização da igreja, como compêndio do culto público ou 
como um resumo de direito canônico para os diasde hoje não entenderão o 
propósito do texto; mas, sob a orientação do dr. Fee, compreenderão e talvez 
até mesmo aplicarão sua mensagem duradoura.
F. F. B r u c e , 
coorganizador da série 
The New International Commentary on the New Testament
Prefácio do autor à edição 
revisada em língua inglesa
Já se passaram mais de 25 anos desde a publicação da primeira edição deste 
comentário. Muita coisa aconteceu durante esse quarto de século, além de o 
autor (que também foi editor da série) ficar de cabelo branco! Há duas razões 
principais para a presente revisão.
Em primeiro lugar, o comentário original se baseou na edição de 1978 
da versão bíblica New International Version, que provavelmente foi mais insa­
tisfatória nessa carta do que em qualquer outra parte de todo o cânon. Vim a 
descobrir as razões para isso quando, em 1990, fui convidado a participar da 
Comissão de Tradução da Bíblia (a comissão com responsabilidade exclusiva 
pela tradução em si). Essa comissão de quinze membros, na época constituída 
de nove estudiosos do Antigo Testamento e seis do Novo Testamento, tinha 
sido intencionalmente reunida para representar ao máximo a comunidade evan­
gélica, mas na época também sem nenhuma mulher. A comissão reformulada, 
presidida durante os primeiros vinte anos por John Stek, professor de Antigo 
Testamento no Calvin Seminary, nos Estados Unidos, e hoje falecido, experi­
mentou dificuldades em se adaptar a vários novos membros, em especial a um 
pentecostal (reconhecidamente) muito franco, que havia começado a ter uma 
experiência totalmente nova na área de estudos bíblicos. Isso acabou por ser 
um dos pontos altos de minha carreira acadêmica, com amizades duradouras e 
reuniões todos os anos para tentar organizar e analisar uma ainda vasta coleção 
de propostas de mudanças que haviam sido enviadas à comissão a pedido dela. 
Uma vez que ainda sou membro (mas agora, por motivos de idade, membro 
honorário [uma política acertadamente adotada pela própria comissão a fim de 
injetar “sangue novo” nela]), tive acesso ao texto de ICoríntios um ano antes 
de a atual edição (2011) vir a lume. Tive, portanto, a satisfação de eliminar da 
primeira edição cerca de vinte notas de rodapé em que a tradução original 
parecia estar manifestamente incorreta.
Em segundo lugar, a quantidade de literatura técnica sobre essa carta tem 
aumentado de forma bastante regular; na verdade, tem aumentado tanto que não
XX 1 Coríntios
posso afirmar que consultei toda ela para esta edição. Aliás, com respeito a artigos 
somente em periódicos acadêmicos, nos últimos 25 anos a bibliografia cresceu 
mais de 300% em relação a todo o material publicado nos dois séculos anterio­
res! Procurei ser exaustivo e justo com todos, mas aqui também preciso pedir 
desculpas aos muitos que procurarão em vão no índice por algo que escreveram.
Uma terceira mudança, provavelmente menos importante, em relação à pri­
meira edição é uma preferência que surgiu em consequência de anos ensinando, 
escrevendo e ouvindo sermões — a saber, eliminar a linguagem de “capítulo e 
versículo”, um sistema de números absolutamente essencial para “encontrar as 
coisas”, mas que, fora isso, é totalmente estranho ao autor do primeiro século. 
Paulo escreveu as palavras em frases, que na cultura escrita de hoje também 
exigem parágrafos. Mas ele não escreveu “versículos”, uma linguagem que, de 
modo intrínseco, mas não proposital, gerou um uso errôneo das Escrituras que 
seria estranho ao autor original. Por isso, tentei deixar os números dentro de 
parênteses, em vez de usar essa linguagem no texto do comen t ár i o propriarar®m, 
dito. Por si só, isso exigiu uma terceira e última leitura do texto, na tentativa de 
ser fiel a Paulo e ao mesmo tempo tentar ajudar o leitor a “encontrar as coisas” 
no restante da revelação bíblica.
G o r d o n D. F e e
Quarta-feira de cinzas (22 de fevereiro) de 2012
Prefácio do autor à prim eira 
edição em língua inglesa
A história dos acontecimentos que me levaram a escrever este comentário é 
longa e não precisa ser contada na íntegra aqui. Tudo começou quando ensinei 
uma disciplina sobre lCoríntios no W heaton College [nos Estados Unidos] 
em 1970, algo que desde então venho fazendo todos os anos, inicialmente no 
W heaton College e, mais tarde, no Gordon-Conwell Theological Seminary 
[nos Estados Unidos]. A interação intensa com o texto e com a literatura sobre 
o assunto ao longo dos anos me levou a pensar que talvez houvesse espaço para 
mais um comentário — de um tipo ligeiramente diferente e com um ponto de 
vista ligeiramente diferente dos demais. Durante o verão de 1977, enquanto eu 
escrevia o Guia de estudos para aqueles que, em nível universitário, cursavam 
essa matéria pelo International Correspondence Institute (Bruxelas, Bélgica), o 
sonho se tornou mais real, e no prefácio daquela obra deixei transparecer meu 
desejo de escrever tal comentário. Mas foi no encontro anual da Studiorum Novi 
Testamenti Societas em agosto de 1980 em Toronto que o sonho começou a virar 
realidade. Uma vez que a editora desta série de comentários estava no processo 
de substituir alguns de seus volumes mais antigos, naquela reunião abordei o 
professor Bruce, sugerindo a substituição do segundo volume da série, o comen­
tário do professor E W Grosheide sobre lCoríntios. A conversa resultou em uma 
proposta de William B. Eerdmans Jr. para que eu escrevesse o presente volume.
Uma palavra sobre o comentário propriamente dito. Minha pressuposição 
básica é que este é um livro dirigido a pastores, professores e estudantes de teo­
logia. Por isso, procurei, acima de tudo, apresentar uma exposição compreensível 
do texto, em que o fluxo das idéias de Paulo, a relevância teológica dessas idéias 
e o significado das várias partes façam bom sentido ao leitor enquanto este se 
debruça sobre o texto. Comentários que são mais difíceis de entender do que a 
tradução bíblica em que se baseiam são anátema. Mas, ao mesmo tempo, estou 
bem consciente da comunidade acadêmica, a quem sou muito agradecido e que, 
assim espero, também considere proveitoso o empenho de consultar esta obra. 
Uma vez que tenho estado envolvido neste empreendimento durante tantos
X X I I 1 Coríntios
anos, tenho interagido intensamente com boa parte da literatura técnica; essa 
dimensão do empreendimento se vê nas notas de rodapé. Quando eu estava perto 
de concluir este comentário, o periódico acadêmico The Expository Times (97 
[1986], p. 263-7) publicou uma análise de comentários de lCoríntios em inglês 
feita pelo professor John Ziesler. Estou de acordo com sua avaliação de que, dos 
comentários publicados antes de 1986, o de Barrett é o melhor, enquanto o de 
Conzelmann é indispensável para o leitor avançado. Tentei conscientemente 
incorporar os melhores elementos de ambas as obras.
O presente comentário exibe vários aspectos peculiares. Em primeiro lugar, 
a natureza de lCoríntios toma imperativo que o leitor veja como tudo se encaixa 
no contexto histórico-literário de cada parágrafo e também das seções maiores. 
Uma vez que dou extrema importância à questão exegética e uma vez que a 
ausência dessa exegese contextual tem sido minha queixa em relação a comentários 
em geral, o leitor encontrará aqui uma tendência para o erro no outro extremo. 
Cada seção principal e cada parágrafo são introduzidos com uma tentativa de 
reconstrução do contexto histórico e de acompanhamento do desenvolvimento 
do argumento de Paulo. Em sua maioria, os versículos também recebem esse tipo 
de tratamento. Em segundo lugar e relacionado com o primeiro, há o empenho 
aqui em fazer a exegese do livro inteiro de uma perspectiva que sempre leva 
em consideração a situação histórica. Essa perspectiva é a chave de boa parte de 
minha maneira de entender a carta e pode ser encontrada na introdução, na seção 
“A igreja e seu apóstolo”. Em terceiro lugar, porque minha especialidade é a crítica 
textual, analiso — às vezes longamente — cada variante de importância exegética.Por fim, além de dar sugestões de tempos em tempos ao longo da exposição 
propriamente dita, concluo quase todos os parágrafos com algumas observações 
de ordem aplicativa. Está refletido nessas notas o meu profundo interesse pessoal 
em que a Palavra de Deus seja uma palavra viva para hoje.
Fundamentei a exposição toda em minha própria exegese e em meus esboços 
e anotações preparados para as aulas (que com frequência estavam repletos de 
acréscimos do que outros haviam dito). Mas só um tolo não consultaria regular­
mente o trabalho de outros. O que por vezes pensei que eram novas descobertas, 
eram geralmente idéias encontradas em algum lugar na literatura técnica à 
minha frente; e é claro que muitas vezes precisei reescrever algumas seções à luz 
dessas obras. Desde 1953 (o ano do comentário de Grosheide), a literatura sobre 
lCoríntios tem aumentado além da capacidade de qualquer pessoa dominar toda 
ela — em especial alguém cujo chamado principal é para o ensino e a pregação. 
Uma bibliografia completa incluiría mais de 2 mil itens. Tentei chamar atenção 
para as mais importantes dessas obras por meio das notas de rodapé. Uma vez 
que o comentário é destinado a leitores de língua inglesa, a bibliografia, que 
inclui itens até o mês de junho de 1986, pende fortemente nessa direção. Quanto
Prefácio do autor à primeira edição em língua inglesa xxiii
a esse material, o leitor precisará consultar o “índice remissivo”, uma vez que 
um volume deste tamanho não poderia oferecer também uma bibliografia mais 
detalhada. Os itens encontrados na “Bibliografia selecionada” [assim denominada 
na primeira edição; nesta segunda edição, simplesmente “Bibliografia”] incluem 
comentários e obras especializadas que, no todo ou em parte, tratam de ICoríntios. 
Além dos dois comentários já mencionados, achei as obras mais antigas de 
Godet, Findlay, Parry e Weiss riquíssimas em insiohts. Minha dívida para com 
tantos outros será evidente a todos. Peço desde já desculpas a todos aqueles que 
omiti — um problema que, sem dúvida alguma, criará algum constrangimento 
para mim. Talvez eu também deva pedir desculpas àqueles de quem discordei. 
Não peço desculpas por discordar, mas rascunhos que divulguei me deixaram 
bastante receoso de que por vezes eu não tenha retratado idéias divergentes de 
maneira tão adequada quanto deveria ter feito.
A esta altura, devo fazer duas observações adicionais sobre pressuposições. 
Primeiro, minha crença de muitos anos é que uma geração anterior de estudiosos 
tinha um entendimento mais plausível acerca da ordem das cartas paulinas do que 
muitos estudiosos — sobretudo evangélicos — de hoje. Isso é particularmente 
válido no que diz respeito a Gálatas. Comecei a escrever pressupondo que 1 e 
2Tessalonicenses foram as primeiras cartas de Paulo e que Gálatas segue tanto a 
Primeira quanto a Segunda Carta aos Coríntios. Depois de escrever o comentário, 
isso se tornou uma firme convicção. Por esse motivo, coloquei todas as referências 
às cartas de Paulo nessa presumida ordem cronológica, pois a determinação da 
data de muitas referências é importante. Como sustentei em meu comentário 
das Epístolas Pastorais,1 apesar das reconhecidas dificuldades envolvidas, penso 
que no final das contas aquelas cartas também provêm do próprio Paulo. Essa 
posição também se reflete nas notas.
Segundo, visto que a exegese não pode ser feita no vazio, assinalo, sem 
nenhum pedido de desculpas, que sou um crente cuja tradição teológica é tanto 
pentecostal quanto evangélica. A semelhança de muitos outros antes de mim, 
escrevi da perspectiva de minha própria tradição. Cada uma dessas tradições tem 
insights a oferecer que são muitas vezes negligenciados por outros. No entanto, 
fiz o melhor possível para evitar que esses pontos de vista interferissem na exe­
gese propriamente dita. Essas tradições têm em comum, em especial, a profunda 
convicção de que essa epístola é a Palavra de Deus escrita. Com grande fervor 
eu trouxe essa convicção para esta obra. Por que outro motivo eu escreveria um 
comentário, senão para ajudar a igreja a ouvir melhor a palavra do Deus vivo e, 
assim, estar mais bem equipada para a obediência no tempo presente?
‘Edição em português: 1 e 2 Timóteo e Títo, tradução de Luiz Aparecido Caruso, Comentário 
Bíblico Contemporâneo (São Paulo: Vida, 1994).
xxiv 1 Coríntios
É impossível agradecer às muitas outras pessoas que, além da comunidade 
acadêmica, ajudaram a tornar esta obra uma realidade. Acima de tudo, devo 
mencionar meu querido amigo Wayne Kraiss, presidente do Southern Califórnia 
College, que por acaso, dois anos atrás, ouviu minha queixa de que eu tinha o 
contrato para escrever o livro, mas estava sem tempo para fazê-lo. Com o generoso 
apoio financeiro de um fundo especial daquela faculdade, tive condições de tirar 
uma licença do seminário Gordon-Conwell durante o ano letivo de 1985-1986. 
Meus agradecimentos também são dirigidos ao seminário por me conceder a 
licença e me dar amplo acesso às suas instalações e recursos ao longo do ano, 
embora, conforme se viu, esse foi meu último ano ali. E que posso dizer de minha 
esposa, Maudine, para quem o ano foi basicamente um período de paciência 
enquanto eu trabalhava na redação do livro uma média de doze horas por dia, 
seis dias por semana, durante um período de catorze meses? Assim mesmo, ela 
foi uma constante fonte de incentivo e com frequência se envolveu em conversas 
proveitosas sobre o significado de alguns dos textos realmente difíceis.
Outros dois grupos de pessoas merecem menção especial. Em primeiro lugar, 
vários membros de minha igreja local, a Church of the Redeemer, em Hamilton, 
Massachusetts, Estados Unidos, assumiram o compromisso de orar diariamente 
por mim e por esta obra. A eles e em especial a Bob McManus, que esteve à 
frente dessa iniciativa, sou etemamente grato. Em segundo lugar, vários amigos e 
colegas leram seções do comentário para assegurar que ele estava caminhando na 
direção descrita acima. Estão incluídos aí Patrick Alexander, um ex-monitor que 
leu atentamente o comentário de ponta a ponta, Rikki Watts, atualmente aluno do 
Gordon-Conwell Seminary, e também Gregory Beale, T. David Gordon, Roger 
Nicole e David Wells, que foram meus colegas professores no Gordon-Conwell. 
Os índices foram preparados por meus professores assistentes no Regent College, 
a saber, Gary Thomas, que executou a maior parte da tarefa, e Steve Tompkins.
Manifesto aqui meu apreço à Zondervan Corporation por permitir que eu 
usasse o texto da tradução bíblica New International Version (NIV) e fizesse 
minhas próprias “correções” em várias passagens nas quais eu pessoalmente 
considerava que a tradução da NIV não era plenamente satisfatória. Por último, 
uma palavra de agradecimento a F. F. Bruce, o editor e organizador da série, 
por solicitar que este comentário fizesse parte da série, e a meu editor na casa 
publicadora Eerdmans, Milton Essenburg, cujo incentivo tanto logo no início 
quanto perto do fim do meu trabalho foi de ajuda inestimável — e a ambos 
por permitirem mudanças no formato da série para que eu pudesse acomodar 
minhas profundas preocupações.
G o r d o n D. F e e
Reduções gráficas
Quanto aos símbolos de crítica textual, veja a introdução de Erwin Nestle e 
Kurt Aland, Novum Testamentum Graece (27. ed.).
Bibliografia e abreviaturas gerais
A21
AB
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adj.
adv.
AGJU
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AnBib
ANF
A N R W
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Aufl.
AusBR
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BA
BAGD
Almeida Século 21 
Anchor Bible
American Church Quarterly
adjetivo
advérbio
Arbeiten zur Geschichte des Antiken Judentums und des Urchristenmms
American Journal of Archaeology
American Journal of Theology
Analecta Biblica
The Ante-Nicene Fathers
H. Temporini, org., Aufstieg und Niedergang der romischen Welt 
Acta seminarii neotestamentici upsaliensis 
American Standard Version 
Antigo Testamento
Abhandlungen zur Theologie des Alten und Neuen Testaments
Anglican Theological Review
Anglican Theological Review supplementary seriesAuflage, edição
Australian Biblical Review
Andrews University Seminary Smdies Dissertation Series 
Biblical Archaeologist
W Bauer; W F. Arndt; F. W Gingrich; F. W Danker, Greek- English lexicon of 
the New Testament and other early Christian literature, 2. ed. (Chicago, 1979)1
BARev
BBR
BDAG
Biblical Archaeology Review 
Bulletinjor Biblical Research
F. W Danker; W Bauer; W F. Arndt; F. W. Gingrich, Greek-English lexicon of 
the New Testament and other early Christian literature, 3. ed. (Chicago, 2000)
BDF F. Blass; A. Debrunner; R. W Funk, A Greek grammar of the New Testament 
and other early Christian literature (Chicago, 1961)
'Edição em português de versão condensada desta obra: E W ilbur Gingrich; Frederick W 
Danker, Léxico do Novo Testamento grego /português (São Paulo: Vida Nova, 1984).
X XV I 1 Coríntios
BECNT
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BibNotiz
BibRes
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Ditt. Syl.
DSB
EBC
EBib
ed(s).
e.g.
EGT
Eo
Baker Exegetical Commentary on the New Testament 
Veja JETS.
M. Zerwick, Biblical Greek (Rome, 1963)
Bíblica
Bible Bhashyam
Biblical Interpretation
Bibel and Kirche
Biblische Notiz
Biblical Research
Biblical Review
Bibliotheca Sacra
The Bible Translator
Biblische Zeitschrift
Bíblia de Jerusalém
Bulletin of the John Rylands Library
Biblical Theology Bulletin
Biblische Zeitschrift
cerca de
The Cambridge Bible Commentary
Catholic Biblical Quarterly
The Cambridge Bible for Schools and Colleges
conferir
Cambridge Greek Testament for Schools and Colleges 
capítulo(s)
Canadian Journal of Theology 
comentário(s)
Concordia Journal 
Church Quarterly Review 
Comentário de Ciampa e Rosner 
Criswell Theological Review 
Christianity Today 
Calvin Theological Journal 
Concordia Theological Monthly 
Currents in Theology and Mission
H. Danby, The Mishnah, translated from the Hebrew with introduction and brief 
explanatory notes 
Deltion Biblikon Mekton 
Detroit Baptist Seminary Journal 
Dittenberger, org., Sylloge inscriptionum graecarum 
The Daily Study Bible 
The Expositor’s Bible Commentary 
Etudes Bibliques 
editor(es), edição 
exempli gratia, por exemplo 
The Expositor’s Greek Testament 
Eclesiástico (Sirácida)
Reduções gráficas xxvii
ep.
esp.
EstBib
EstEcl
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JAdvThSoc
JB
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JBR
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JP
epístola, carta
especialmente
Estúdios Bíblica
Estúdios Ecclesia
English Standard Version
Ephemerides theologicae lovanienses
Evangelical Quarterly
Emngelische Theologie
The Expositor
The Expository Times
Facet Books, Biblical Series
Filologia Neotestamentaria
Foi et Vie
Forschungen zur Religion und Literatur des Alten und Neuen Testaments
Good News Bible
Good News Commentary
Greek Orthodox Theological Review
grego
hebraico
Heythrop Journal
History of Religions
Handkommentar zum Neuen Testament 
Handbuch zum Neuen Testament 
Harperis N T Commentaries 
Homiletic and Pastoral Review
E. Hennecke; W Schneemelcher; R. W Wilson, Neiv Testament apocrypha
Harvard Theological Review
Hermeneutische Untersuchungen zur Theologie
Interpreteris Bible
Irish Biblical Studies
International Criticai Commentary
G. A. Buttrick, org., lnterpreter’s Dictionary oj the Bible, Supplement
tempo imperfeito
modo imperativo
inclusive
Interpretation
Irish Theological Quarterly
Journal of the American Academy oj Religion
Journal of the Adventist Theological Society
The Jerusalem Bible
Journal of Biblical Literature
Journal of the Bible and Religion
Journal of the Evangelical Theological Society
Journal of Higher Criticism
Journal for the Interdenominational Theological Center 
Journal of Jewish Studies
1 Coríntiosxxviii
JPentTh
JSN T
JSNTSS
JSO T
JSS
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KJV
LAE
LB
LCC
LingBib
lit.
Loeb
LSJ
LumV
LWC
LXX
Journal of Pentecostal Theology
Journal for the Study of the New Testament
Journal for the Study of the New Testament, Supplement Series
Journal for the Study of the Old Testament
Journal of Semitic Studies
Journal for Theology and the Church
Journal of Theological Studies
King James Version
A. Deissmann, Lightfrom the Ancient East
The Living Bible
Library of Christian Classics
Linguística Biblica
literalmente
Loeb Classical Library
Liddell-Scott-Jones, Greek-English lexicon (Oxford)
Lumière et Vie
The Living Word Commentary 
Septuaginta
Mar. Aur. Ant. Marco Aurélio Antonino
marg.
M KNT
MM
M N TC
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ms(s)
M TZ
NA27
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NIG TC
NIV
NJB
Notes
NouvRT
NovT
NovTSup
NRSV
N T
margem (a leitura encontrada na margem)
H. A. W Meyer, Kritisch-exegetischer Kommentar iiher das Neue Testament 
J. H. Moulton; G. Milligan, The vocabulary of the Greek Testament (1930) 
MofFatt New Testament Commentary 
Master’s Seminary Journal 
manuscrito(s)
Miinchener theologische Zeitschrift
E. Nestle; K. Aland, Novutn Testamentum Graece (27. ed.)
New American Bible
Nachrichten von der Akademie der Wissenschaften in Gòttingen 
New American Standard Bible 
New Century Bible 
New English Bible
New International Commentary on the New Testament
C. Brown, org., The New International Dictionary of New Testament Theology2
New International Greek Testament Commentary
New International Version (2011)
Newjerusalem Bible
Notes on Translation
Nouvelle Revue Théologique
Nornim Testamentum
Novum Testamentum, Supplements
New Revised Standard Version
Novo Testamento
2Edição em português: Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento (São Paulo: 
Vida Nova: 2000).
Reduções gráficas X X IX
N TD
NTM
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NVI
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part.
P.Berl.Leibg.
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Str-B
STRev
Das Neue Testament Deutsch 
The New Testament Message 
New Testament Studies 
Nova Versão Internacional
J. H. Charlesworth, org., The Old Testamentpseudepigrapha
Orr-Walther (comentário; veja bibliografia)
particípio
Papiro Berlin Leibgarde 
Papiro Oxyrynchus 
Perspectives in Religious Studies 
Princeton Theological Review 
quod vide, o qual se veja, queira ver 
Revue Biblique
The Revised English Bible (revisão da NEB)
Reformed Review
reimpressão, reimpresso
Restoration Quarterly
Revue Biblique
Review and Expositor
Revue d’histoire ecclésiastique
Revue d’histoire et de philosophie religieuses
Rivista bíblica italiana
Robertson-Plummer (comentário; veja bibliografia)
Recherches de Science religieuse
Revised Standard Version
Revue de Théologie et de Philosophie
Reformed Theological Review
Revised Version
Studii biblici Franciscani Liber annuus
Society o f Biblical Literature
Society o f Biblical Literature Dissertation Series
Society o f Biblical Literature Texts and Translations
Studies in Biblical Theology
Science et esprit
Scripture
Studies and Documents 
Svensk exegetisk ârsbok 
Sewanee Theological Review 
Scottish Journal of Theology 
série nova
Society for New Testament Studies Monograph Series 
Studien zum Nenen Testament und seiner Umwelt 
Studies in Religioti 
Studia Theologica
H. Strack; P. Billerbeck, Kommentar zum Neuen Testament 
Sewanee Theological Review
XXX 1 Coríntios
StudEv
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Studia Evangélica 
Stulos TheologicalJournal 
Southwestern Journal of Theology 
The Twentieth Century New Testament
G. Kittel; G. Friedrich, orgs., Theological Dictionary of the New Testament 
Teodócio
Bibliotheca Scriptorum Graecorum et Romanorum Teubneriana (Leipzig) 
Theology Digest 
Theologische Literaturzeitung
Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament 
Theological Review, Near East School o f Theology, Beirute 
tradução em inglês 
Texto Majoritário
The Tyndale New Testament CommentariesTextus Receptus
tradução; tradução de
Trinity Journal
Theological Studies
Theologische Studien und Kritiken
Texte und Untersuchungen
Tyndale Bulletin
Theologische Zeitschrijt
United Bible Societies Greek New Testament (4. ed.)
Union Seminary Quarterly Review 
versículo(s)
Verbum et Ecclesia
Vigiliae Christianae
Vox Reformata
Westminster Commentaries
Westcott-Hort Greek New Testament
Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament
Westminster Pelican Commentaries
Westminster Theological Journal
Zeitschrijt für Kirchengeschichte
Zeitschrijt für Katholische Theologie
Zeitschrijt für die neutestamentliche Wissenschaft
Zeitschrijt für Theologie und Kirche
Outras obras cristãs e judaicas
Apoc. Abr. 
Apoc. Mois. 
Asc. Mois. 
Car. Arís. 
Did.
Jos. Asen. 
Jub.
Apocalipse de Abraão 
Apocalipse de Moisés 
Ascensão de Moisés 
Carta de Arísteas 
Didaquê 
José e Asenate 
Jubileus
Reduções gráficas XXXI
Mart. Pol. 
Or. sih.
Sl. Sal.
T. Benj. 
T.JÓ 
T. Judá 
T. Levi 
T.Naf.
T. Rúb.
Martírio de Policarpo 
Oráculos sibilitios 
Salmos de Salomão 
Testamento de Benjamim 
Testamento deJó 
Testamento de Judá 
Testamento de Lein 
Testamento de Naftali 
Testamento de Riíben
Jo se fo
Ant.
C.Ap.
G.J.
Vida
Antiguidades dos Judeus 
Contra Apiott 
Guerra dos Judeus 
Vida de Flávio Josefo
Filo
Abraão
Agricultura
Criação
Embaixada
Est. prelim.
Gigantes
Herdeiro
Homem bom
Interp. aleg.
Leis esp.
Moisés
Nomes
Pior
Posteridade
Querubins
Recompensas
Sacrifícios
Sonhos
Virtudes
Da vida de Abraão 
Da agricultura 
Da criação do Mundo 
Da embaixada a Gaio 
Dos estudos preliminares 
Dos gigantes 
Quem é o herdeiro?
Que todo homem bom é livre 
Interpretação alegórica 
Das leis especiais 
Da vida de Moisés 
Da mudança de nomes 
Que o pior ataca o melhor 
Da posteridade de Caim 
Dos querubins 
Das recompensas e punições 
Dos sacrifícios de Caim e Abel 
Dos sonhos 
Das virtudes
E sc rito re s e fo n te s clássicas 
A p ia n o
Maced. Questões macedônicas (História de Roma)
A p u le io
Met. Metamorfoses
A ristid es
Or. sac. Oraculae Sacrae
X X X I I 1 Coríntios
Aristófanes
Tes. Tesmoforiantes
Aristóteles
Pol. Política
Artemidoro
Sonhos Sobre a interpretação dos sonhos [Oneirocrítica]
Cícero
Acad. Acadêmicas
Át. Cartas a Atico
Cluent. Pro Cluentio
Fin. de Finibus
Cirilo de Alexandria
Arcad. De recta fide ad Arcadiatn et Marinam
Demóstenes
Discursos Discursos
Dião Crisóstomo
Discursos Discursos
Diógenes Laércio
Vidas Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres
Esquilo
Agam. Agamenon
Eum. Eumênides
Estobeu
Écl. Êclogas
Filóstrato
V sof. Vida dos sofistas
Ireneu
Haer. Contra heresias
Justino Mártir
Apol. Apologia
Diál. Diálogo com Trifo
Lívio
Hist. História de Roma
Reduções gráficas xxxiii
Luciano
Alex.
Dial.
Fug.
Tím.
Alexandre, o falso profeta
Het. Dialogoi Hetairikoi (Diálogos das cortesãs)
Fugitivi (Os fugitivos)
Tímon (ou O misantropo)
Platão
Górg. Górgias
Plínio
Ep.
Paneg.
Epístolas
Panegírico
Plutarco
Alex. M. 
Fort. Rom. 
Lib. educ. 
Mor. 
Tranq. an.
A vida de Alexandre, o Grande 
Da sorte dos romanos 
Da educação das crianças 
Moralia
De tranquillitate animi
Policarpo
Fp. Aos flipetises
Pseudo-Filo
Ant. bíb. Antiguidades bíblicas
Salústio
M Bellum iugurthinum
Sêneca
Benef.
Ep.
Prov.
Dos benefícios 
Epístolas 
Da providência
Tácito
Gertn. Germania
Tertuliano
Pudic.
Res.
Da castidade
Da ressurreição dos mortos
Xenofonte
Apol.
De rep. lac. 
Mem.
Apologia de Sócrates
Da república dos lacedemônios
Memorabilia
X XXIV 1 Coríntios
Tratados rabínicos
’Abot R. Nat. ’Ahot de Rabbi Nathan
b.
‘Abod. Zar. 
’Abot 
B. Mesi‘a.
Ber.
Git.
Hui.
Ketub.
Mo‘ed Qat. 
Pesah.
Qidd.
Ros Has. 
Sabb.
Sanh.
Sotah
Sukkab
Ta‘an.
Yebam.
Bar.
m. ’Abot etc. 
Mek. de Êx. 
t. Sukkah etc.
Talmude babilônico 
'Ahodah Zarah 
Abot
Baba Mesi‘a
Berakot
Gittim
Hullin
Ketubbot
Mo‘ed Qatan
Pesahim
Qiddushin
Rosh Hashshanah
Shahbat
Sanhedrin
Sotah
Sukkah
Ta‘anit
Yebamot
Baraita (quanto aos tratados talmúdicos, veja em b.) 
Mishná (quanto aos tratados talmúdicos, veja em b.) 
Mekilta de Êxodo
Toseftá (quanto aos tratados talmúdicos, veja em b.)
Midrashim
Midr. de Nm. 
Midr. de Sl. 
Midr. de Ec.
Midrash de Números 
Midrash de Salmos 
Midrash de Eclesiastes
Material targúmico
Tg. Onq. Targum Otiqelos
Tg. De Ps.-J. Targum de Pseudo-Jônatas
Qumran/ Manuscritos do Mar Morte
Q Qumran
1 QpHab
1QS
4Q174
lQPesher de Habacuque 
lQRegra da Comunidade 
4QFlorilégio
Manuscritos gregos
As siglas para os manuscritos gregos e outras abreviações seguem basicamente a padronização da 
UBS4, páginas 4*2-52*, e NA27, páginas 50*-76*. A mão original de um manuscrito é indicada 
por um asterisco (e.g., a*), e as mãos corretoras, por números sobrescritos (e.g., a1, a2 etc.).
Introdução a ICoríntios
A cidade e sua população
Como acontece com qualquer outro documento do N T — aliás, mais do que 
na maioria deles —, os diversos fatores sociológicos, econômicos e religiosos 
que formam o ambiente da cidade de Corinto têm profunda influência na 
maneira de entender as cartas de Paulo à igreja dali. Sua localização estratégica 
como guardiã do istmo de 5.950 metros que ligava o Peloponeso ao continente 
e separava os golfos Sarônico e de Corinto lhe assegurou uma história longa e 
célebre.1 Ela controlava tanto o tráfego comercial terrestre quanto o comércio 
entre a Itália e a Ásia, o qual na maioria das vezes considerava mais seguro e mais 
prático usar essa rota “por terra” do que dar a volta no Peloponeso.2
A história da cidade se divide basicamente em duas partes. Como cidade- 
-estado grega, ela floresceu tanto antes quanto depois da era dourada de Atenas 
(séc. 5 a.C.). Mas como líder da Liga Acaia em meados do século 2 a.C., a cidade 
entrou em conflito com Roma e foi destruída pelo cônsul romano Lúcio Múmio 
em 146 a.C. O local permaneceu sem atividade durante cem anos até que Júlio 
César a refimdou em 44 a.C. como colônia romana.3 Provavelmente houve um 
duplo motivo para essa refundação. Em primeiro lugar, sua localização estratégica
‘Está situada em uma elevação na entrada sul do istmo, a cerca de 3,2 quilômetros do golfo de 
Corinto e no sopé do Acrocorinto, o qual tem 575 metros de altura. Para descrições da cidade, 
veja esp. Estrabão, Geografia 8.6.20-23 (escrito c. 7 a.C.), e Pausânias, Descrição da Grécia, Livro II: 
Corinto (c. 170 d.C.). Esses textos e muitos outros estão convenientemente reunidos e analisados 
em M u rp h y -0 ’Connor, Corinth. Para a história de Corinto durante o período romano, deve- 
-se consultar J. W iseman, “Corinth and Rome I: 228 b .c . - a .d . 267”, in: A N R W 7.1:438-548.
2Cf. Estrabão, Geografia 8.6.20: “Corinto é chamada ‘rica’ por causa de seu comércio, pois está 
situada no istmo e controla dois portos, dos quais um [Cencreia] leva diretamente para a Ásia, e 
o outro [Lequeu], para a Itália; e isso facilita o intercâmbio de mercadorias dos dois países, que 
estão tão distantes um do outro. E também as taxas sobre o que era exportado e importado, por 
terra, pelo Peloponeso, fluíam para os que detinham as chaves” (Loeb, 4:189-91).
3Aliás, o latim foi a língua oficial da cidade até bem depois da época de Paulo. Veja M urphy- 
- 0 ’Connor, Corinth, p. 5.
2 1 Coríntios
para o comércio (descrita por Estrabão) tornou sua refundação praticamente 
inevitável. Estavam presentes aí todos os ingredientes necessários para um rápido 
crescimento econômico: a defesa natural no Acrocorinto, o suprimento adequado 
de água de fontes, o intercâmbio com Roma, o domínio dos dois portos para o 
comércio entre o Oriente e o Ocidente, e o controle dos Jogos Istmicos, que eram 
muito próximos em importância às Olimpíadas (veja comentário de 9.24-27). 
Em segundo lugar, de acordo com Estrabão (8.6.23c), Corinto foi repovoada por 
alforriados — os libertos — provenientes de Roma. Uma vez que a posição social 
dessas pessoas era logo acima da de escravo4 e visto que com frequência havia um 
excesso de libertos em Roma, essa foi uma maneira vantajosa de, por um lado, 
livrar-se de problemas em potenciale, por outro, de os libertos aproveitarem uma 
oportunidade de avanço social e progresso econômico.
A descrição feita por Estrabão cerca de cinquenta anos depois deixa bem 
claro que a prosperidade voltou à cidade quase de imediato. Uma vez que o 
dinheiro atrai pessoas assim como carne morta atrai moscas, Corinto logo 
experimentou um grande afluxo de pessoas vindas tanto do Ocidente quanto 
do Oriente,3 junto com todos os benefícios e malefícios desse crescimento. 
Os romanos eram os dominadores; trouxeram consigo não somente suas leis, 
mas também sua cultura e suas religiões. Mas o mundo romano tinha sido 
completamente helenizado; e, uma vez que Corinto era historicamente grega, 
a cidade manteve muitos daqueles laços — religião, filosofia, artes. E do Oriente 
vieram as religiões de mistério do Egito e da Ásia e os judeus com sua sinagoga 
e a crença “peculiar” em um único Deus.
Como Corinto não tinha uma aristocracia fundiária, uma aristocracia de 
dinheiro logo se desenvolveu, junto com um espírito ousadamente independente. 
Mas nem todos enriqueceriam da noite para o dia; por esse motivo, milhares 
de artesãos e escravos constituíam a maioria da população. Mas o mais provável 
é que a notável riqueza da cidade tenha transbordado para o benefício dessas 
pessoas também.
Como acontece muitas vezes em tais centros, a depravação e a religião flores­
ceram lado a lado. A antiga Corinto havia conquistado uma fama tão grande de 
depravação sexual que Aristófanes (c. 450-385 a.C.) cunhou o verbo korinthiazõ 
(= agir como alguém de Corinto, i.e., cometer fomicação). A sala de Asclépio 
no museu de Corinto oferece hoje testemunho silencioso dessa faceta da vida da 
cidade; ali, em uma das paredes, há um grande número de ofertas votivas feitas
4Veja a discussão e a bibliografia de 7.22.
5Não houve tentativas científicas de calcular sua população. Veja Murphy-CTConnor, Corinth, 
p. 31-2. N o entanto, com certeza teria competido pela honra de ser a terceira cidade do império, 
depois de Roma e Alexandria.
Introdução a 1 Coríntios 3
de barro que reproduzem genitálias humanas e haviam sido oferecidas à divindade 
para a cura daquela parte do corpo, certamente devastada por doença venérea. 
No entanto, a tendência tem sido exagerar esse aspecto da vida de Corinto entre 
a maioria dos estudiosos do NT, os quais confiam na descrição (certamente equi­
vocada) que Estrabão fez das mil prostitutas cultuais supostamente atuantes no 
templo de Afrodite no Acrocorinto. Em primeiro lugar, Estrabão estava falando 
da Corinto antiga e, assim mesmo, é duvidoso que suas informações tenham sido 
precisas.6 Não há dúvida de que ali o pecado de natureza sexual era abundante; 
mas teria sido semelhante ao que é de esperar em qualquer cidade portuária onde 
corre muito dinheiro e há mulheres e homens disponíveis.
A manifestação religiosa de Corinto era tão diversificada quanto sua 
população. Pausânias menciona pelo menos 26 lugares sagrados (nem todos 
eram templos) dedicados aos “muitos deuses” (o panteão greco-romano) e aos 
“muitos senhores” (as religiões de mistério) mencionados por Paulo na presente 
carta (8.5) — e Pausânias não menciona a sinagoga judaica, da qual se desco­
briu parte de uma verga com a inscrição “sinagoga dos hebreus”.7 Embora não 
haja provas diretas disso, sem dúvida a mesma riqueza que atraiu artesãos e 
comerciantes também atraiu para Corinto artistas e filósofos de todos os tipos 
em busca de patrocínio. Este último grupo também deve ter incluído um bom 
número de oradores itinerantes e charlatães.8
O conjunto dessas características sugere que a Corinto de Paulo era ao 
mesmo tempo a Nova York, a Los Angeles e a Las Vegas do mundo antigo.
Trechos espalhados aqui e ali em Atos, 1 Coríntios e Romanos9 dão a entender 
que a igreja era um espelho da cidade em muitos aspectos. Aliás, em determi­
nado ponto (12.13) Paulo interrompe seu raciocínio para destacar a diversidade 
de todos aqueles que se tornaram um só corpo: judeus, gregos, escravos, livres. 
Essa mistura também é confirmada de outras maneiras. Das pessoas citadas pelo 
nome, pelo menos três são judias (Áquila, Priscila, Crispo), embora tenham 
nomes latinos. Três (ou quatro) outros que também têm nomes latinos são 
provavelmente romanos (Fortunato, Quarto, Gaio, Tí cio Justo),10 dos quais pelo 
menos um (ou dois, Gaio e Tício Justo) estava entre os membros mais ricos.
6Isso foi demonstrado por H. Conzelmann, “Korinth und die Mádchen der Aphrodite. Zur 
Religionsgeschichte der Stadt Korinth”, NAG 8 (1967-1968), p. 247-61. Cf. M urphy -0 ’Connor, 
Corinth, p. 55-7.
7Cf. M u rp h y -0 ’Connor, Corinth, p. 78-80.
8Acerca da importância disso, veja comentário de 1.10-17 e 9.3-14.
«At 18.1-8; IC o 1.10-17; 16.15-17; Rm 16.23.
I0Alguns creem que Gaio Tício Justo era o nome completo de uma única pessoa; veja p. 68, 
nota 60.
4 1 Coríntios
Os outros têm nomes gregos (Estéfanas, Acaico, Erasto), e desses pelo menos 
Estéfanas e Erasto eram provavelmente abastados. Entretanto, de acordo com o 
que foi dito anteriormente não muitos deles vieram de faixas socioeconômicas 
mais elevadas ( l .26); na verdade, os indícios de uma passagem posterior (7.20-24) 
sugerem que alguns eram escravos. A menção à casa de Estéfanas (l.ló ) pro­
vavelmente reflete uma situação em que, além de sua família, havia escravos 
ou alforriados que permaneciam com a família (veja comentário de 16.15-17). 
Se nossa interpretação do abuso deles contra a mesa do Senhor está correta 
(11.17-34), algumas das tensões na comunidade aconteciam entre alguns dos 
mais abastados e os pobres.11
Não obstante houvesse alguns crentes judeus na comunidade, quase nada 
na carta em si aponta para um ambiente judaico.12 Pelo menos três ocasiões que 
falam do antigo modo de vida dos coríntios indicam explicitamente que eles eram 
ex-idólatras e, por conseguinte, em sua maior parte gentios (6.9-11; 8.7; 12.2). 
Outros pontos também dão a entender isso: por exemplo, toda a questão de ir a 
festas nos templos (8.1—10.22; veja esp. 8.10) é um fenômeno estritamente gentio; 
a atitude diante do casamento, pensando que é pecado (cap. 7), dificilmente se 
encaixa no judaísmo, até mesmo no judaísmo helenístico; recorrer ao procônsul 
ou aos juizes da cidade para arbitrarem sobre um assunto (6.1-11) se encaixa no 
processo normal dos gregos e romanos dentro da cidade, ao passo que os judeus 
eram proibidos de pedir aos gentios que julgassem. A defesa que eles fazem do 
direito de ir atrás de prostitutas (6.12-20) e sua negação de uma ressurreição 
física futura (15.1-58) também soam mais helenísticas do que judaicas.
“ Cf. Theissen, p. 69-174, cuja tese geral é que essa tensão é a causa básica das divisões na 
igreja — embora ele entenda que era especificamente mais uma rivalidade entre os ricos.
12De tempos em tempos, alguns têm defendido essa ideia [de Paulo se dirigindo a um am­
biente judaico], Veja, e.g., J. M. Ford, “The First Epistle to the Corinthians or the First Epistle 
to the Hebrews”, CBQ 28 (1966), p. 402-16 (quanto a outras questões, veja o índice), e a tese 
de doutorado dej. B. Hurley (veja bibliografia). C f tb. os argumentos analisados adiante (p. 15) 
em que B. Pearson, R. A. Horsley e J. A. Davis defendem antecedentes filônicos. Mas esse ponto 
de vista tropeça nos dados explícitos da carta.
A tese de Hurley é um exemplo esp. interessante, mas não convincente, de lógica acadêmica. 
N a verdade, não existe indicação explícita de espécie alguma de que ICoríntios seja dirigida a 
judeus, ao passo que há várias dessas indicações de que os crentes eram gentios. Assim, Hurley 
tenta duas coisas: (l) mostrar que as referências tanto explícitas quanto implícitas não exigem 
necessariamente uma congregação gentílica (esse é o ponto em que ele menos convence); (2) 
mostrar que, ao pressupor um público judeu, é possível entender as várias questões. Quanto a 
isto, ele é mais bem-sucedido em algumas (e.g., 11.2-16) do que em outras (6.12-20; 7.1-40; 
8—10). E surpreendenteque alguém imagine que, ao escrever à cidade mais helenística do NT, 
aquele que se identifica como o “apóstolo aos gentios” estivesse escrevendo a uma congregação 
de judeus da Diáspora. Todos os indícios sugerem o contrário.
Introdução a 1 Coríntios 5
Assim, o quadro que emerge é de uma comunidade predominantemente 
gentílica, cuja maioria estava, com quase toda a certeza, na parte mais baixa da 
escala socioeconômica, embora houvesse duas ou três famílias ricas. Na con­
dição de ex-pagãos, trouxeram para a fé cristã uma cosmovisão e uma atitude 
helenísticas na questão do comportamento ético. Apesar de serem a igreja cristã 
em Corinto, uma dose excessiva de Corinto ainda permanecia neles, vindo à 
tona em várias atitudes e comportamentos que exigiam uma cirurgia radical, 
mas que não matasse o paciente. E isso que essa carta tenta fazer.
A igreja e seu apóstolo
O problema. Nossa Primeira Carta aos Coríntios é uma resposta circunstancial 
e ad hoc à situação que havia se desenvolvido na igreja de Corinto no período 
entre a época que Paulo saiu da cidade, em algum momento em 51-52 d.C.,13 e 
a composição de nossa carta cerca de três anos depois. A dificuldade em identi­
ficar a natureza dessa situação é intrínseca ao texto. Em resposta a informações 
recebidas ( l . l l ; 5.1; 11.18) ou à carta vinda de Corinto (cf. 7.1), Paulo trata de 
pelo menos onze assuntos importantes diversos, até um pouco díspares, dez dos 
quais dizem respeito a comportamento; apenas a questão da ressurreição dos 
mortos (cf. cap. 15) é essencialmente teológica, e mesmo nesse caso ele conclui 
as duas seções principais com advertências e imperativos éticos (cf. v. 33,34,58). 
Mas, em cada caso, sua preocupação maior é a posição teológica por trás do 
comportamento. A uma distância tão grande da carta, nossa dificuldade é tríplice: 
(l) descobrir a relação, se de fato existe alguma, que esses vários itens têm entre 
si; (2) determinar o relacionamento da comunidade com Paulo; e (3) identificar 
quais influências/posições na “teologia” coríntia permitiram que eles não apenas 
adotassem tal comportamento, mas também defendessem o direito de adotá-lo.
Do ponto de vista da história, essas questões foram, em sua maior parte, 
solucionadas (pelo menos as percebidas) quando Paulo informou ou então corrigiu 
os coríntios em áreas em que eram falhos ou haviam se desviado. Nesse aspecto, 
nossa carta geralmente tem sido entendida como uma resposta à sua divisão em 
partidos, em que Paulo toma o lado de um dos partidos contra o outro (ou, 
algumas vezes, conforme se alega, ele fala a ambos os grupos). Há, no entanto, 
uma série de dificuldades com esse ponto de vista:
13Essa é uma das poucas datas do N T identificadas com segurança e a partir da qual se chega 
à maioria das datas paulinas. Sabemos disso em virtude da inscrição de Gálio (veja a discussão 
em M u rp h y -0 ’Connor, Corinth, p. 141-52) e das referências em Atos 18.12, que colocam Paulo 
e Gálio em Corinto em algum momento entre 50 e 52 d.C.
6 1 Coríntios
(a) Que existe alguma forma de divisão interna na igreja é evidente com 
base em três passagens: 1.10-12; 3.4,5; 11.18,19. A resposta de Paulo ao abuso 
deles contra a ceia do Senhor sinaliza que essa divisão tem, no mínimo, bases 
socioeconômicas (11.17-34; cf. 1.26; 7.20-24; 12.13); mas é discutível se também 
tem bases espirituais/teológicas. O que há de se notar é que nada nos últimos 
dois terços da carta (caps. 7—16), quando Paulo está respondendo à corres­
pondência deles, chega a sugerir isso. Na verdade, provavelmente é um grande 
equívoco imaginar a igreja dividida em “partidos”,14 visto que nada na própria 
carta oferece muita pista sobre como isso pode ser entendido.15
(b) Com exceção de duas passagens (7.1-40 e 11.2-16) — e mesmo nelas 
Paulo se opõe ao ponto de vista dos coríntios —, a linguagem e o estilo de 
1 Coríntios são especialmente retóricos e combativos. Paulo os enfrenta quase 
o tempo todo. Não há nada que sugira que esteja informando ou então apenas 
corrigindo; em vez disso, ele está atacando e desafiando com todas as armas 
de seu arsenal literário. Se 1 Coríntios é resposta à carta deles, na qual pedem a 
Paulo para arbitrar as divergências entre eles, então é necessário concluir que 
ele a entendeu muito mal.
(c) A carta é, em sua totalidade, dirigida à igreja toda, sem indicação de que 
esteja falando ora a um grupo, ora a outro. Quase tudo está na segunda pessoa 
do plural, com exceção de alguns casos em que ele muda para a segunda do sin­
gular, talvez tendo em vista alguma(s) pessoa(s) específica(s).16 Se Paulo estivesse 
resolvendo divergências entre eles, seria de esperar pelo menos alguma palavra 
nesse sentido. Mas não há.
O conjunto desses fatores sugere que o ponto de vista tradicional tem 
falhas em pontos cruciais. O que é necessário é uma maneira de olhar a carta 
que mantenha todos esses itens em harmonia em uma estrutura mais coerente.
Uma proposta de reconstrução. A posição básica deste comentário é que 
a situação histórica em Corinto era basicamente de conflito entre a igreja e seu 
fundador. Essa posição não nega que a igreja estivesse passando por conflitos 
internos, mas argumenta que o problema maior de “divisão” era entre Paulo e
“•Sobre isso, veja esp. a introdução a 1.10—4.21 e o comentário de 1.12. Cf. tb. a introdução 
a 2.6-16 e 12—14, passagens cuja interpretação — bastante incorreta, ao que parece — também 
é que revelam “grupos” dentro da própria igreja. Mas na realidade Paulo não diz nada disso, e 
a exegese dessas passagens revela em cada uma delas um tipo bastante diferente de problema.
1SE usual interpretar os “fracos” e “gnósticos” dos capítulos 8—10 como membros dos “partidos” 
de 1.11. Mas isso é altamente questionável, e, seja como for, nesses capítulos não há indício de 
qualquer espécie de que a igreja esteja intemamente dividida sobre o assunto. Veja o comentário 
(introdução a 8.1—11.l).
l6Veja comentário de 4.7; cf. 7.21,27; 8.9,10; 14.16,17; 15.36,37.
Introdução a 1 Coríntios 7
alguns da comunidade que estavam conduzindo a igreja como um todo a adotar 
uma posição antipaulina. Para Paulo, esse conflito representa uma dupla crise: 
em relação a sua autoridade e em relação a seu evangelho. Além disso, o mais 
provável é que a questão-chave entre eles e Paulo, a qual gerou essas duas crises, 
tivesse relação com o entendimento coríntio sobre o que significa ser “espiri­
tual” {pneumatikos = uma pessoa do Espírito). Vários fatores estão implicados 
nessa interpretação:
1 . O q u e o c a s i o n o u I C o r í n t i o s . Nossa carta registra a terceira ocasião 
em que Paulo trata com essa igreja. O entendimento mais plausível dessa inte­
ração é que a presente carta é a terceira em uma troca de correspondência entre 
Paulo e Corinto. Assim:
(i) O primeiro contato de Paulo com eles foi a visita de fundação mencio­
nada em Atos 18 (c. 49-51 d.C.), uma visita com uma característica peculiar: 
a duração da estada. Embora tanto a passagem de Atos quanto nossa presente 
carta nos forneçam algumas informações sobre a composição da comunidade, 
não ficamos sabendo nada acerca de seu tamanho, do(s) local(is) e horários de 
suas reuniões nem das características de sua liderança.
(ii) Alguns anos depois, enquanto estava em Éfeso, Paulo escreveu a carta à 
qual, aqui em ICoríntios, ele se refere como carta anterior à comunidade (5.9). 
Embora não se possa ter certeza do que motivou a carta, pelo menos ele tratou 
de alguns problemas de imoralidade sexual: disse aos crentes de Corinto para 
não se relacionarem com fomicadores, com o que quis dizer que não deviam se 
relacionar com irmãos que estavam procedendo dessa maneira. Além de forni- 
cadores, ele também passa a mencionar os avarentos, ladrões e idólatras (5.10). 
Paulo tratou também destes na carta anterior? O melhor palpite parece ser que 
sim, pelo menos no que se refere à questão da idolatria, porque esse problema 
também surge em nossa carta de uma maneira que fazmais sentido caso Paulo 
já tenha falado a respeito na carta anterior.
Se, de fato, a carta anterior tratou de pelo menos duas das questões que voltam 
à tona nessa carta, a saber, fornicação e idolatria, então o mais provável é que 
aquela carta também tenha sido escrita como algum tipo de reação à situação 
em Corinto. Com base em ICoríntios 5, fica claro que os próprios coríntios 
no mínimo entenderam equivocadamente a carta; parece quase certo que, na 
verdade, eles a desconsideraram (veja comentário de 5.9-11).
(iii) Isso conduz, então, à nossa ICoríntios, que foi basicamente ensejada 
por uma carta que Estéfanas, Fortunato e Acaico levaram a Paulo (16.15-17), 
uma carta que faz mais sentido quando considerada em circunstâncias bem
8 1 Coríntios
comuns — como resposta deles à carta de Paulo.17 Tendo em conta a natureza 
combativa de boa parte da resposta do apóstolo, parece altamente provável que 
os coríntios, em sua carta, tenham feito fortes objeções a várias das posições e/ 
ou proibições de Paulo. A atitude de Paulo com a carta da igreja e, por conse­
guinte, com os coríntios é agravada ainda mais por uma mensagem oral enviada 
por alguns crentes da casa de Cloé ( l .l l ) , que encheram os ouvidos do apóstolo 
com informações sobre o que estava acontecendo em Corinto e das quais, com 
base na carta deles, Paulo provavelmente suspeitava, mas agora tinha certeza. 
A chegada de pessoas ligadas a Cloé pelo menos ajuda Paulo a entender melhor 
a carta deles.18
As dificuldades de Paulo para escrever essa carta são basicamente duas: 
Por um lado, ele tem de reafirmar sua autoridade em uma situação em que ela 
estava seriamente enfraquecida. Isso se torna mais difícil pelo fato de ele usar a 
ilustração do servo como modelo de liderança na igreja (3.5-9; 4.1-5) — como 
ele reafirmará sua própria autoridade sobre os coríntios sem ao mesmo tempo 
destruir a perspectiva dessa ilustração?19 Por outro lado, ele precisa convencê- 
-los a mudar tanto a teologia quanto o comportamento para que estejam em 
conformidade com a teologia e o comportamento do próprio apóstolo, pois eles, 
os coríntios, estão se movendo na direção de posições que ameaçam o próprio 
evangelho — da mesma maneira que os judaizantes da Galácia estavam cami­
nhando em outra direção.
2. A o p o s i ç ã o . Os indícios disponíveis deixam claro que no período entre 
Paulo deixar a igreja, o que está registrado em Atos 18.18, e escrever nossa 
2Coríntios alguma animosidade se desenvolveu entre ele e essa igreja. Ao que 
parece, essas tensões chegaram ao clímax por ocasião de uma visita inesperada 
que ele lhes faz (2Co 2.1-4). Os indícios de nossa carta mostram que o pro­
blema já vinha “fermentando” antes dessa visita “dolorosa”. A pergunta é: onde 
1 Coríntios se encaixa nesse quadro?
(i) Em contraste marcante com 2Coríntios e Gálatas, 1 Coríntios oferece 
poucos indícios — praticamente nenhum — de que a igreja já havia sido inva­
dida pelos intrusos mencionados nos capítulos finais de 2Coríntios (10—13).
17Apesar de boa parte da reconstrução que Hurd faz da relação entre Paulo e Corinto não 
ser convincente, ele tem o crédito de ter levado a sério essa probabilidade histórica bastante 
razoável (veja esp. p. 50-8). A maioria dos comentaristas costuma desprezar qualquer relação 
entre a primeira carta de Paulo para eles e a carta deles para Paulo.
l8Essa ordem de eventos não pode ser provada, mas parece fazer sentido. Também nos ajuda a 
entender as aparentes discrepâncias entre o que realmente está acontecendo na igreja e a postura 
“oficial” apresentada pelos coríntios em sua carta (e.g., IC o 11.2).
19Veja esp. comentário de 4.14-21.
Introdução a ICoríntios 9
Na verdade, a menção em ICoríntios (9.12) a alguns “outros” que recebem 
contribuições materiais dos coríntios é a única possível referência a intrusos, mas 
o contexto não exige essa interpretação. Assim, não é muito apropriado falar 
dos “adversários” de Paulo no sentido usual da palavra, isto é, como referência 
a agitadores vindos de fora.20 Pelo contrário, a oposição é liderada por “alguns 
de vocês” (15.12; cf. 4.18).
(ii) A presente carta reflete o problema em uma fase intermediária. A 
situação não é boa; a relação entre Paulo e a igreja está se deteriorando visi­
velmente, mas, ao que parece, ainda não virou uma hostilidade aberta. Eles 
ainda estão se comunicando por carta. No entanto, um sentimento claramente 
antipaulino se desenvolveu na igreja. Iniciado por uns poucos,21 esse sentimento 
está infectando quase todos.22 Por isso, embora com certeza haja divisões dentro 
da própria comunidade (provavelmente por razões sociológicas), a forma mais 
grave de “divisão” é aquela entre a maioria da comunidade e o próprio Paulo. 
Eles se opõem a ele em quase todos os assuntos. A questão-chave aqui é o fato 
de contestarem a autoridade de Paulo. Que direito ele tem de falar com eles 
como fez na carta anterior, pois, com base nos critérios dos próprios coríntios, 
há muita dúvida sobre se ele é realmente pneumatikos (uma pessoa do Espírito) 
ou um profeta (cf. 14.37).
Não se pode ter certeza de como essa situação se desenvolveu. Os indícios 
fornecidos por três passagens diferentes (caps. 1—4, 9 e 14) sugerem que foi 
uma combinação de vários fatores, (l) No argumento inicial (caps. 1—4), parece 
certo que, talvez em decorrência do ministério de Apoio, os coríntios haviam 
começado a pensar em sua nova fé como equivalente à sophia (sabedoria), como 
se, em comparação com outras, ela fosse a expressão máxima da sophia divina. 
Por esses novos critérios, nem Paulo nem seu evangelho se saíam bem. Quanto 
ao conteiído da sabedoria, consideravam que seu evangelho e sua pregação 
eram algo como “leite” para bebês, ao passo que eles haviam progredido para 
um alimento mais estimulante feito para os “maduros” (veja 2.6; 3.1). Assim 
também com relação à forma da sabedoria, eles desdenhavam em especial o fato
“ Quanto a isso, Ellis está certo em sustentar que “em ICoríntios [...] não há [...] oponentes” 
(p. 103). Mas, para rejeitar totalmente a ideia de oposição, parece que ele ignora coisas demais 
nessa carta.
“ Veja comentário de 1.12; 4.3,6,18-20; 9.3; 10.29,30; 14.37; 15.12.
“A esse respeito, deve-se assinalar que, embora às vezes Paulo se refira àqueles da comunidade 
que se opõem a ele (e.g., 4.18-20; 9.3), a carta em si é dirigida à igreja toda; e, com apenas duas 
notáveis exceções (7.1-40; 11.2-16), os membros da igreja são submetidos a uma artilharia 
bastante pesada (cf. 1.10—4.21, com sua combinação de ironia, retórica e sarcasmo; ou 5.1-13 
e 6.1-11, em que ele critica a igreja toda muito mais do que as partes culpadas [esp. o sarcasmo 
ferino de 6.5]; ou 8.1—11.1, em que ele se defende com o emprego de todo tipo de argumento).
10 1 Coríntios
de Paulo não ter as habilidades retóricas que normalmente acompanhavam a 
sophia (cf. 1.17; 2.1-5).
A esta altura, é preciso salientar que o argumento inicial não termina no 
final do nosso capítulo 3 (v. 18-23), que é como muitos comentaristas tendem 
a ler, mas com a defesa razoavelmente longa de seu ministério apostólico que 
vem em seguida (4.1-21).23 Isso sugere que as “divisões” precedentes não são 
somente uma questão de preferência desse ou daquele mestre. Todos estão 
também resolutamente contra Paulo. Logo no início desse capítulo, ele assinala 
que foi julgado por eles (v. 3). Esse comentário é seguido pela observação (v. 6) 
de que se encheram de orgulho a favor de um (Apoio) e contra o outro (Paulo). 
No final do argumento ele diz que lhes enviou Timóteo para que sejam de novo 
lembrados do modo de proceder de Paulo e voltem a esse proceder. Ele conclui 
com uma observação final incisiva sobre alguns que vinham sendo arrogantes 
com ele e com sua ida a eles, e pergunta à igreja toda como deseja que seja sua 
próxima ida: com uma vara de disciplina ou com um espírito manso? Con­
forme defendido no comentário, os três itens logo em seguida (o texto todo 
dos caps. 5 e 6) também são maisbem entendidos como reflexo dessa mesma 
crise de autoridade com respeito ao direito de Paulo de orientar os assuntos da 
igreja de Corinto.
(2) O mesmo tipo de defesa ferrenha surge de novo um pouco adiante 
(cap. 9), no meio de uma discussão em que parece claro que Paulo e seus oponen­
tes discordam fortemente. De novo ele os acusa de julgá-lo (v. 3). O problema em 
questão é o fato de rejeitarem a proibição, imposta por Paulo, de participarem de 
festas aos ídolos nos santuários pagãos (veja a introdução a 8.1—11.1 e esp. 8.10). 
Parece que a rejeição foi expressa, pelo menos em parte, em consequência daquilo 
que, na percepção deles, era um comportamento vacilante no que diz respeito 
à comida adquirida no mercado: ele comia essa comida em alguns ambientes, 
mas se abstinha dela em outros (veja comentário de 9.19-23; cf. 10.29-33). Aliás, 
sobre esse assunto ele faz uma crítica dura a seus adversários na conclusão do 
raciocínio. “Se participo da refeição com ação de graças, por que sou condenado 
por causa de algo pelo qual agradeço a Deus?” (10.30).
Contudo, ao defender essas suas ações, ele também aborda outra área de 
tensão entre eles — seu trabalho com as próprias mãos na atividade degradante 
(para um “homem sábio”) de fabricar tendas e sua concomitante recusa em 
aceitar sustento financeiro deles (como na patronagem) (veja comentário de 
9.3-14). O fato de essa questão surgir novamente na outra carta (preservada)
í3É muito provável que 2.15 seja uma crítica secundária à acusação deles: “O pnenmatikos 
[neste caso se referindo a si mesmo] [...] não está sujeito ao julgamento de ninguém ”.
Introdução a ICoríntios 11
que Lhes escreveu (2Co 11.8,9; 12.13) revela que essa era uma ferida aberta entre 
eles. Ao que parece, eles estavam ofendidos por ele não aceitar a patronagem da 
parte deles ou então questionavam o apostolado de alguém que agia assim — ou 
talvez as duas coisas!
(3) Por último, em outra passagem (14.37) em que Paulo e os coríntios estão 
em conflito, ele afirma em um estilo ad hominem: “Se alguém acha que é profeta 
ou de alguma forma dotado pelo Espírito [pneumatikos], reconheça que o que 
estou escrevendo a vocês é o mandamento do Senhor”. E conclui declarando 
sua condenação sobre aqueles que deixam de reconhecer que sua palavra tem 
autoridade entre eles.
Um homem que fala assim — e esse é o tom do argumento inteiro (com 
exceção do cap. 7 e de 11.2-16) — não está tentando informar os leitores em 
razão de uma compreensão deficiente da parte deles; nem está tentando recon­
ciliar facções beligerantes. Além do mais, a carta não é escrita a um grupo nem 
é dirigida contra os cabeças da oposição.24 Pelo contrário, Paulo está no ataque, 
disputando com eles, discutindo com eles, tentando convencê-los de que ele 
está certo e eles estão errados. Vez após vez, ele recorre à retórica (“Vocês não 
sabem que...?” [dez vezes]; ou “Se alguém/algum de vocês acha que é... /Aqueles 
que acham que...” [três vezes]), ao sarcasmo e à ironia. Dessa maneira, a carta é 
basicamente um confronto do apóstolo Paulo com a congregação coríntia como 
um todo, ou pelo menos com a comunidade de modo geral.
3. O(s) p o n t o (s) d e d i s c ó r d i a . O mais provável é que os insurgentes não 
estejam apenas questionando a autoridade de Paulo, mas também modificando o 
evangelho para tomá-lo mais próximo do helenismo. Para Paulo, essas duas crises 
sempre se sobrepõem. Não é sua pessoa que está em jogo quando negam sua 
autoridade, mas o evangelho que ele prega. Negar um é negar o outro. O mais 
provável é que a questão-chave entre eles seja um problema teológico básico: 
o que significa ser pneumatikos (“espiritual” = uma pessoa do Espírito). O pro­
blema aqui não é tanto uma questão de elitismo entre eles — não há uma única 
insinuação disso na longa passagem em que esse assunto é tratado (caps. 12—14; 
i.e., que alguns se sentem superiores aos outros por causa de seus dons ou que 
outros se sentem inferiores por causa da falta deles). Essa resposta habitual não 
se baseia em nada explícito no texto, mas é imposta ao texto a partir de fora.
E mais provável que o problema seja que eles acham que são pneumatikoi 
— mas não estão tão seguros de que o próprio apóstolo o seja (cf. 14.37). Aliás,
24Apenas 4.18; 9.3; e 15.12 os mencionam de forma explícita, embora provavelmente também 
estejam em vista no tríplice “se alguém pensa que é (sábio, cheio de conhecimento, espiritual)” 
(3.18; 8.2; 14.37).
12 1 Coríntíos
é possível que aqui tenham feito algumas comparações revoltantes entre ele e 
Apoio (embora 16.12 deixe claro que nenhum dos dois estava envolvido em 
tal dissensão). De todo modo, Paulo parece sentir a necessidade de explicar, e 
até gloriar-se em, suas fraquezas como uma demonstração do seu evangelho 
(cf. 2.1-5; 4.9-13; 15.8-11).
Embora seja impossível afirmar com certeza, a compreensão que eles têm do 
que é ser pneumatikos provavelmente está mais relacionada com sua experiência 
de inspiração pelo Espírito, em especial com sua ênfase exagerada no dom de 
línguas (veja esp. a introdução aos caps. 12—14). A certa altura (14.23), de forma 
retórica, mas ainda assim realista, Paulo diz que, se todos eles se reunirem no 
mesmo lugar e todos falarem em línguas, alguém de fora dirá que estão loucos. 
Isso, mais a própria necessidade de limitar a manifestação desse dom a “uma 
de cada vez” e a não mais do que duas ou três em sequência, sugere que eles 
estavam excessiva e peculiarmente entusiasmados com esse dom. Se, conforme 
sugerido, “falar línguas [...] de anjos” (13.l) reflete a maneira pela qual eles 
mesmos compreendiam esse dom, então é possível começar a ver como eles o 
tornaram o critério básico para sua compreensão da espiritualidade. Para eles, 
a glossolalia era a prova de que já tinham passado a ter a existência espiritual 
dos anjos.
Por sua vez, provavelmente isso está relacionado ao interesse deles em sophia 
egnõsis (sabedoria e conhecimento), duas palavras que ocorrem principalmente 
no contexto de aberrações comportamentais específicas (caps. 1—4 e 8—10, 
respectivamente). Por meio do Espírito, eles passaram a ter de forma especial 
ambos os “dons”. São “espiritualmente” dotados, portanto têm sabedoria espe­
cial e conhecimento superior. Provavelmente não é por acidente que a frase 
“Se alguém acha que...” // “Aqueles que acham que” // “Se algum de vocês 
acha que...” (3.18; 8.2; 14.37) seja encontrada em cada uma das três principais 
seções da carta (caps. 1—4; 8—10; 12—14) e reflita esses três termos cruciais dos 
coríntios (“sabedoria”, “conhecimento” e “espiritual”).
Ainda relacionada com isso está a compreensão aparentemente “espiritual” 
que eles tinham dos sacramentos, segundo a qual aquele que foi batizado e par­
ticipa do “alimento espiritual” da mesa do Senhor também encontra segurança 
(10.1-5), de modo que o comportamento nesta vida tem pouco ou nenhum 
efeito sobre a verdadeira espiritualidade da pessoa.
E claro que tudo isso se opõe radicalmente tanto a Paulo quanto ao seu 
evangelho e redunda em kauchêsis (“vangloria”, ou falsa confiança). Por isso, 
eles estão “inchados” de orgulho e cheios de arrogância (4.6,18; 5.2; 5.6) e até 
mesmo há imoralidade gritante entre eles — pois tampouco é afetada a sua 
verdadeira condição espiritual por tais coisas.
Introdução a 1 Coríntios 13
Intimamente ligadas a isso estão duas outras aberrações teológicas cruciais,
(i) Sua cosmovisão tem sido “contaminada” (entranhada a vida inteira até então) 
pelo dualismo helenístico. Uma vez que eram “espirituais”, não viam com bons 
olhos a ideia de continuar existindo no mundo material, até mesmo no corpo.25 
Esse é o aspecto ao qual Walther Schmithals26 e outros (e.g., U. Wilckens27 e 
R. Jewett28), que defendem que os coríntios eram “gnósticos”, deram atenção. 
Mas essa linguagem não apenas é anacrônica,29 como também não descreve 
adequadamente esse aspecto da espiritualidade coríntia. Nenhum dos fenômenos 
essenciais do gnosticismo está presente nessacarta, à exceção do dualismo, o 
qual pode ser explicado com outros fundamentos.
Apesar de continuarem existindo em corpo físico, os coríntios consideram 
que são os “espirituais”; eles já são como os anjos. Assim, visto que de sua pers­
pectiva o corpo é escatologicamente insignificante (cf. 6.13; 15.12), ele também 
não tem importância no presente. Essa atitude em relação à existência corpórea 
é responsável, pelo menos em parte, por coisas como a negação de uma ressur­
reição física futura (15.12) e a natureza, evidentemente contraditória, de, por 
um lado, aceitar a imoralidade sexual e, por outro, rejeitar as relações sexuais 
no casamento (6.12-20 e 7.1-6).
(ii) Por último — e temos aqui algo que pode estar proximamente ligado 
à questão anterior —, existe a possibilidade de que eles, no que diz respeito à 
sua existência presente, tenham tido uma visão escatológica consideravelmente 
“ultrarrealizada”,30 para a qual cunhei a expressão deselegante “escatologia espi­
ritualizada”. Essa seria uma decorrência direta de sua ideia de serempneumatikoi 
(pessoas do Espírito, cuja existência presente deve ser entendida em termos 
estritamente espirituais). A vinda do Espírito pertence ao eschaton, e eles já estão 
experimentando o Espírito ao máximo. Se o dom de línguas é entendido como 
a “língua dos anjos”, então para eles sua experiência de glossolalia é prova de 
que “já chegaram lá” (eles já falam a língua do céu).
Mas é incerto que também tenham uma ideia apocalíptica judaica do Fim; 
o mais provável é que adaptaram e incorporaram essa ideia em seu esquema de
25Sendo esse o caso, e parece que todos os dados apontam nessa direção, daí o jogo de palavras 
“da carne” (= constituído de carne) e “da carne” (= viver de acordo com o ponto de vista da 
velha era) em 3.1-3. Veja o comentário.
26Gnosticism (veja bibliografia).
27Weisheit (veja bibliografia).
lSPaul’s anthropological terms: a study of their use in conflict settings, AGJU 10 (Leiden, 1971).
29Veja a critica em, inter alia, R. McL. Wilson, “How Gnostic were the Corinthians?”, NTS 
19 (1972/1973), p. 65-74; e Pearson, p. 51-81.
3°Acerca disso, veja esp. A. C. Thiselton, “Realized eschatology at C orin th”, N T S 24 
(1977/1978), p. 510-26.
14 1 Coríntios
“espiritualidade”, no qual consideravam que sua atual existência espiritual era 
uma conjectura daquilo que haverá de ser, descontando o corpo físico. Do ponto 
de vista deles, não era tanto uma questão de que o “tempo” do futuro havia se 
tornado uma realidade presente para eles, mas que a “existência” do futuro havia 
se concretizado. Agora eles estão experimentando um tipo de espiritualidade 
derradeira em que vivem acima da existência meramente material da era presente.
Caso a versão lucana do dito de Jesus sobre ressurreição e casamento 
(Lc 20.35) seja a conhecida nas igrejas paulinas (“Aqueles considerados dignos 
de participar daquela era e da ressurreição dos mortos nem se casarão nem serão 
dados em casamento e já não poderão morrer, pois são como os anjos”), então é 
bem possível que Robin Scroggs esteja certo quando diz que parte do problema 
nos capítulos 7 e 11 está relacionado com algumas “mulheres escatológicas”, que 
já estão vivendo como se tivessem entrado totalmente na nova era.31
Isso também explicaria em parte a atitude deles para com Paulo (cujas fra­
quezas deixam claro que ele não tinha “chegado lá”) e o motivo pelo qual Paulo 
com tanta frequência enxerga a presente existência deles à luz do futuro, visto 
que eles também ainda não “chegaram lá” (1.5-8; 3.13-15,17; 4.5; 5.5; 6.13,14; 
7.26-31; 11.26,32; 15.24,51-56; 16.22). Assim, com sarcasmo refinado, em 4.8 
Paulo avalia a presente atitude deles (eles “já” estão ricos, fartos e reinando) e à 
luz da presente existência apostólica julga que essa atitude é deficiente (4.9-13).
4. A f o n t e d a f a l s a e s p i r i t u a l i d a d e d o s o p o s i t o r e s . Embora nem 
todos organizem os vários elementos dessa maneira, entre os estudiosos há um 
crescente consenso de que esses são os elementos básicos da teologia falsa dos 
coríntios. Já quanto à questão da origem do problema, tanto na sua dimensão 
antipaulina quanto na teológica, não há esse mesmo consenso. Várias sugestões 
têm sido feitas:
(i) J. C. Hurd32 sugeriu que a maioria dos problemas tem origem no próprio 
Paulo. Em uma interpretação que desconsidera totalmente o valor histórico de 
Atos para datar as atividades de Paulo, Hurd propõe que a carta anterior (5.9) 
foi escrita em consequência do decreto apostólico (At 15.29). Nessa carta, para 
se acomodar ao decreto de Jerusalém, Paulo fez algumas mudanças claras em 
relação à sua pregação anterior em Corinto. O resultado prático é que na carta 
para o apóstolo os coríntios são mais fiéis ao pensamento do antigo Paulo do que 
este foi em sua própria carta. Nossa 1 Coríntios termina sendo um meio-termo, 
em que ele evita a cautela excessiva da carta anterior e as posições extremadas de 
sua pregação anterior, que agora são encontradas nas crenças coríntias. Apesar
3‘Veja as introduções ao capítulo 7 e a 11.2-16.
}1The origin of 1 Corinthians, 2. ed. (Macon, 1983), p. 213-96.
Introdução a 1 Coríntios 15
de um número considerável de contribuições proveitosas sobre o relacionamento 
entre Paulo e Corinto, essa tese, quando testada com os indícios concretos de 
ICoríntios e das cartas anteriores e posteriores a ICoríntios (l e 2Tessalonicenses; 
2Coríntios, Romanos33 e Gaiatas), se mostra deficiente, especialmente no que diz 
respeito à mudança radical de posição de Paulo, em que este passou da liberdade 
extrema (pregação anterior [tese]) para restrições (carta anterior [antítese]) e 
então para a moderação (ICoríntios [síntese]).34
(ii) Mais recentemente, Birger Pearson, Richard Horsley e James Davis35 
defenderam que o erro coríntio tem origem na especulação sapiencial do 
judaísmo helenístico, seja a sabedoria personificada associada a Filo (Horsley), 
seja a sabedoria da Torá do tipo encontrado em Eclesiástico ou em Qumran 
(Davis). Esses estudiosos reuniram um volume considerável de indícios para mos­
trar possíveis paralelos entre a linguagem supostamente coríntia e a linguagem 
daqueles textos. O que é menos certo é que os paralelos reflitam o que é essencial 
à tradição judaica sobre a sabedoria em vez de refletir a forma helenizada dessa 
tradição. Na melhor das hipóteses, os paralelos admitem apenas a possibilidade 
de que os erros dos coríntios tenham tido origem nessa fonte.36 O que continua 
incomprovável — e improvável — é que de fato tenham tido tal origem.
O problema básico com essa abordagem reside nos aspectos explicitamente 
gentílicos dessa carta, assinalados anteriormente (p. 4), que surgem em vários 
pontos cruciais. Em 8.1—10.22, os coríntios estão defendendo o direito de fre­
quentar festas pagãs nos templos de ídolos, e alguns deles são incapazes de fazê-lo 
justamente porque estavam “outrora acostumados” a comer na presença do 
ídolo como se ele fosse um deus (8.7). E difícil imaginar o contexto em que 
um judeu da Diáspora faria tal defesa — até mesmo Filo ficaria chocado aqui.
330 argumento de J. R. Richards de que Romanos precede ICoríntios não é nada convincente 
(“Romans and 1 Corinthians: their chronological relationship and comparative dates”, NTS 
13 [1966/1967], p. 14-30).
34Entre outras, veja a crítica de Barrett, p. 7-8. Apesar de algumas propostas interessantes, os 
alegados paralelos entre nossa ICoríntios e o decreto só subsistem com base na hipótese de certas 
conclusões exegéticas, as quais são, no máximo, incertas. Embora brilhante na sua concepção, 
a proposta de Hurd não tem conseguido atrair muitos seguidores.
3SConsulte a bibliografia.
36Cf. Davis, p. 81: “Nossa investigação [...] revelou que é perfeitamente possível interpretar 
a manifestação de sabedoria em Corinto [...] tendo como antecedentes o judaísmo sapiencial 
tardio”. É possível aceitar isso, mas aquilo que ele acha que é confirmado pela análise de 2.6—3.20também é uma mera possibilidade. Se Paulo está atacando uma forma de judaísmo helenizado, 
ela é mais perceptível como helenismo, e não como judaísmo. A incapacidade de aplicar esse 
esquema à carta toda — ou de contestar a natureza explicitamente pagã de boa parte do argu­
mento deles — é o que em última análise inviabiliza o esquema, por mais atraentes que sejam 
alguns de seus aspectos.
16 1 Coríntios
Anteriormente, Paulo diz de forma explícita que “sabedoria” é o que os gregos 
buscam (1.22), enquanto os judeus pedem “sinais [miraculosos]”. Conforme 
Davis sustenta, não ajuda em nada atribuir essa declaração apenas à retórica de 
Paulo.37 Mesmo como retórica, a declaração é bem explícita, enquanto a ideia 
de que a seção reflete uma homilia judaica midráshica contra a sabedoria é, na 
melhor das hipóteses, especulativa. Além disso, e de novo se dirigindo à igreja 
toda no contexto de sua ênfase equivocada no falar em línguas, Paulo diz que 
anteriormente eles foram enganados a seguir ídolos mudos (12.2) — o que difi­
cilmente caracteriza um erro fundamentalmente judaico-helenístico.
(iii) Por isso, o mais provável é que a maior parte do erro provenha do antigo 
paganismo deles. Aliás, percebe-se pouca ou praticamente nenhuma tensão entre 
judeus e gentios nessa carta. Conforme assinalado anteriormente, pelo menos 
três textos destacam explicitamente como eram as coisas nos velhos tempos de 
paganismo deles (6.9-11; 8.7; 12.1-3). É provável que, em parte por causa das 
idas e vindas de Paulo e Apoio e em especial em virtude da eloquência de Apoio, 
eles tenham começado a pensar em seus mestres em termos semelhantes aos de 
filósofos itinerantes. Assim, começaram a enxergar sua nova fé como a nova sophia 
— a sophia divina. A luz disso e de sua experiência do Espírito, consideravam 
que haviam alcançado a própria sophia. Segundo esses novos critérios, nem o 
evangelho nem o apóstolo Paulo se saem muito bem. Daí o fato de rejeitarem 
Paulo e, com isso, rejeitarem tacitamente seu evangelho. Em tais condições, é 
possível entender a grande urgência de Paulo em reafirmar o evangelho como 
a mensagem de um Messias crucificado e em reafirmar-se como o apóstolo de 
tal Messias e tal mensagem.
Em todo caso, não há nada na carta que não possa ser explicado à luz das 
raízes greco-romanas deles, ao passo que é extremamente difícil explicar vários 
elementos com base na hipótese da origem judaico-helenística.
(iv) Por último, deve-se assinalar uma solução da “fonte” de um tipo bem 
diferente. Gerd Theissen tem argumentado que a melhor explicação para as ten­
sões básicas tanto dentro da comunidade quanto entre alguns da comunidade e 
Paulo é de ordem sociológica. Uma vez que os ricos seriam os responsáveis pelo 
patrocínio financeiro (a patronagem) tanto das igrejas domésticas quanto dos 
mestres itinerantes, Theissen sugeriu que as facções rivais são igrejas domésticas 
e “patronos” rivais. Aqui também há algumas percepções extremamente pro­
veitosas; aliás, é possível modificar essa teoria para significar a rivalidade entre 
“patronos” e Paulo, alguns dos quais são os líderes dos sentimentos antipaulinos 
na igreja, e aí muitas coisas se encaixam, mesmo o fato de eles se meterem com
37Davis, p. 189, nota 26.
Introdução a 1 Coríntios 17
a questão da sophia, o “exame” que fazem de Paulo porque ele se recusou a 
aceitar patrocínio (9.1-19) e o abuso deles contra os pobres à mesa do Senhor.
O presente comentário adota essa perspectiva. Suas vantagens são que ela
(l) leva a sério todos os indícios da carta, no que diz respeito tanto ao conteúdo 
quanto ao estilo, e (2) pode ser mantida de forma sistemática por toda a carta, 
unindo as diversas partes de uma forma coerente.38
Algumas questões de crítica textual
De modo geral, 1 Coríntios está notavelmente livre do tipo de questões que 
se encaixam nesse título. Os debates podem ser encontrados nas introduções 
ao Novo Testamento. E possível situar a carta seguramente na primavera (veja 
comentário de 16.8) de um dos anos 53 a 55 d.C., dependendo da época da 
partida de Paulo de Corinto (At 18.18) e da duração de sua estada em Efeso. 
O único problema importante é se a carta é ou não uma unidade. Por diversos 
motivos, vários estudiosos a têm dividido (junto com 2Coríntios) em diferen­
tes cartas enviadas por Paulo a Corinto.39 O ponto de partida é a menção que 
Paulo faz à carta anterior em 5.9, a qual, conforme alguns postulam, é visível 
em algumas seções de 2Coríntios. Então, com base em supostas contradições 
entre algumas seções da 1 Coríntios que chegou até nós, a carta foi dividida em 
três cartas.
Mas essas teorias emperram em quatro pontos: (l) O próprio fato de que 
existe tão pouca concordância entre as teorias sugere que as diversas reconstruções 
não são tão viáveis quanto seus defensores querem fazer crer. (2) As supostas 
contradições são sempre resolvíveis exegeticamente. Por exemplo, conforme 
argumentado neste comentário, as tensões que alguns encontram entre o iní­
cio e o fim da passagem que trata de “comida sacrificada aos ídolos” (8.1-13 e
10.23-33) resultam do fato de Paulo tratar de duas questões bastante diferentes, 
ainda que relacionadas. (3) Em conexão com isso, essas teorias deixam de per­
ceber uma forma básica de argumentação nessa carta, o padrão “A-B-A”.40 Em 
cada caso, a primeira seção “A” coloca o assunto em uma ótica teológica mais 
ampla e mais geral; a seção “B” é uma digressão explicativa de algum tipo, mas 
assim mesmo crucial para o argumento como um todo; e a segunda seção “A ”
38A tentativa de manter essa coerência pode ser encontrada especialmente nas diversas intro­
duções, tanto às seções principais da carta quanto aos trechos menores.
39Veja especialmente a discussão em Hurd, p. 43-7.
4°Veja comentário dos capítulos 1—3; 7.25-40; 8—10; 12—14. Cf. J. Collins, “Chiasmus, the 
ABA' pattern and the text o f Paul”, in: Studia Paulinorum Cotigressus Internationalis Catholicus 
(Rome, 1963), 2:575-84.
18 1 Coríntios
é a resposta bem específica para o assunto em pauta.41 (4) Quando se consegue 
fazer perfeito sentido do documento na forma em que ele chegou até nós, tais 
teorias são tão desnecessárias quanto incomprováveis. Os indícios não parecem 
ser “suficientemente sólidos para suportar o ônus da prova que esse tipo de teoria 
deve sempre conter”.42
Contribuições teológicas
Embora ICoríntios não seja consultada com frequência — exceto pelos estudiosos 
— na busca pela teologia paulina, suas contribuições teológicas são bem óbvias na 
história da igreja. Pois aqui Paulo está fazendo o que sabe fazer melhor: aplicar 
o evangelho à esfera pública. Para ele, a verdade do seu evangelho é finalmente 
testada na sua capacidade de encontrar soluções para as exigências do dia a dia 
em algumas situações bastante complicadas. Muito se poderia dizer aqui; as 
observações a seguir estão limitadas a três áreas, sendo cada uma delas também 
crucial para a boa compreensão da carta como um todo.
Escatologia. Como acontece em todos os seus escritos, o arcabouço essen­
cialmente escatológico do pensamento teológico de Paulo é bem visível nessa 
carta. Para Paulo, o foco desse pensamento é o evento Cristo — sua morte e res­
surreição — e a dádiva subsequente do Espírito. A ressurreição de Cristo marca 
a passagem de uma era para outra; a dádiva subsequente do Espírito escatológico 
é evidência segura de que o Fim já começou. Mas o fato de que ainda vivemos 
em um corpo sujeito à decomposição (15.49-53) e de que há ainda uma parúsia 
futura do Senhor (11.26; 15.23) com uma subsequente ressurreição (15.20-28) 
também é um claro indício de que aquilo que começou ainda não foi levado à 
consumação completa. Assim, para Paulo, os crentes são um povo inteiramente 
escatológico, determinado e condicionado pela realidade do futuro que já 
começou, mas ainda aguardando a glória final. Por conseguinte, somos tanto 
“já” quanto “ainda não”.
Esse arcabouço está presente em toda a obra de Paulo, mas em nenhum 
outro lugaré mais evidente do que aqui. Isso vale não somente para seu lingua­
jar (e.g., o reino de Deus existe tanto agora [4.20] quanto ainda não [6.9-11; 
15.50]) e suas expectativas (e.g., mesmo com seus dons os coríntios ainda 
aguardam a revelação do Senhor Jesus [1.4-8]; à mesa do Senhor anunciamos 
sua morte até que ele venha [11.26]), mas sobretudo para o entendimento que
41 Assim, (a) 8.1-13/(b) 9.1-27/(a) 10.1-22; (a) 1.10—2.5/(b) 2.6-16/(a) 3.1-23; (a) 7.15-28/ 
(b) 29-35/(a) 36-40; (a) 12/(b) 13/(a) 14.
41Hurd, p. 47.
Introdução a ICoríntios 19
ele tem da vida cristã presente. Por um lado, porque o futuro já foi posto em 
movimento, a amai existência da pessoa é toda determinada por essa realidade 
(7.29-31). O povo de Deus vive “como se não”; ele não é condicionado, como 
os demais, pela ordem presente, que está acabando. Tal ponto de vista controla 
os imperativos éticos de Paulo a cada passo. A luz de sua existência escatológica, 
um crente não pode levar outro a tribunais pagãos porque coisas como receber 
compensação financeira por injustiça sofrida têm pouca importância (6.1-6); os 
cristãos não podem participar de festas pagãs porque os juízos contra a idolatria 
de tempos passados foram escritos como advertência para aqueles para quem o 
fim dos tempos chegou (lO .ll). Todos os valores e comportamentos puramente 
humanos já foram julgados por Deus em Cristo; a era presente já está termi­
nando (1.26-28; 7.31). Assim, os crentes devem julgar suas causas internamente 
no tempo presente (5.12,13); a igreja precisa se purificar do fermento velho para 
que possa ser um pão novo (5.7,8).
Por outro lado, o futuro que já começou e condiciona totalmente a existência 
presente aguarda ainda sua consumação final. Mas tal futuro é tão certo como a 
própria vida. Repetindo, essa certeza foi assegurada pela ressurreição. Assim como 
Deus ressuscitou o Senhor, ele também nos ressuscitará (6.14; 15.1-28). Cristo é 
as primícias, a garantia dada pelo próprio Deus de que ocorrerá a colheita toda. 
Quando Cristo voltar, ele não apenas ressuscitará os mortos e transformará os 
vivos, mas também, por meio desses acontecimentos, terá finalmente destruído 
o último inimigo, a própria morte (15.24-28,54-57).
Mas nem o futuro certo nem a realidade da existência escatológica no 
presente significam que alguém já tenha plenamente “chegado lá”. A morte é 
nossa (3.22), mas alguns ainda morrem (l 1.30); o presente e o futuro são nossos 
(3.22), mas o paradigma da vida ética no presente é nosso Messias crucificado 
(4.10-13). Assim, a vida cristã é um paradoxo: contradições aparentes mantidas 
conexas em tensão. A garantia não se apoia nas circunstâncias presentes, mas na 
certeza absoluta do futuro que também já determinou nossa existência presente. 
Em sua totalidade, nossa carta tem de ser entendida como emanando desse 
arcabouço básico (veja comentário de 4.1-5; 6.1-6; 7.29-31; 15.12-28,35-38).
O evangelho e a vida ética. Relacionada com o arcabouço escatológico que 
acabamos de comentar está a insistência de Paulo na obediência radical a Cristo 
como a norma da existência cristã. Se Romanos e Gálatas deixam claro que a 
pessoa não é salva por meio da lei, essa carta deixa igualmente claro que se espera 
dos salvos que vivam em obediência aos “mandamentos de Deus” (7.19) e à “lei 
de Cristo” (9.21). Mesmo que tal obediência não seja exigida para entrar na fé, 
assim mesmo espera-se que decorra da fé.
20 1 Coríntios
Paulo entende a ética cristã como “tornar-se aquilo que você é”, uma pers­
pectiva que vem à tona em 1 Coríntios de inúmeras maneiras. Ele não poupa 
o uso do imperativo, mas sempre o utiliza no contexto da ação prévia de Deus 
em nosso favor em Cristo. Assim, Paulo ordena aos coríntios que se purifiquem 
do fermento velho para que possam se tornar um pão novo, porque em Cristo, 
a nossa Páscoa, eles já se tornaram um pão novo (“massa nova”, 5.7,8); eles não 
podem ir atrás de prostitutas porque seus corpos já foram separados para Cristo 
por meio da ressurreição dele e já são um E/espírito com ele (6.14-17); eles 
têm de parar de agir como em seu antigo estilo de vida pagão, caso contrário 
não herdarão o reino, mas ao mesmo tempo são lembrados de que alguns deles 
tinham sido assim e não são mais por meio de Cristo e do Espírito (6.9-11).
Nessa ética, há alguns absolutos, justamente porque alguns pecados são 
totalmente incompatíveis com a vida em Cristo (imoralidade sexual, 6.12-20; 
participar de festas nos templos pagãos, 10.14-22). Isso não é lei no sentido de 
obter uma posição de justo diante de Deus. Mas é um absoluto, visto que alguns 
comportamentos são totalmente contrários à natureza de Deus. Por outro lado, 
escrúpulos meramente religiosos — circuncisão (7.19); comida consagrada a 
ídolos adquirida no mercado (8.9-13; 10.23-30) — não têm importância para o 
crente, visto que tais coisas foram abolidas em Cristo. A única exceção é quando 
tal comportamento escandaliza outra pessoa (10.31-33).
O padrão para todo comportamento é o próprio Cristo ( l l . l ) à medida 
que sua vida é exemplificada pela vida do apóstolo (4.16,17; l l . l ) . Assim, o 
evangelho não é transformado em lei, mas também não é despojado de seu 
verdadeiro efeito. Tudo é pela graça, mas a graça traz o Espírito, que capacita 
para a imitação de Cristo.
A igreja. Talvez a maior de todas as contribuições teológicas de nossa carta 
para a fé cristã seja a compreensão de Paulo acerca da natureza da igreja, sobre­
tudo em sua expressão local. Se o próprio evangelho está em jogo na teologia e 
no comportamento dos coríntios, da mesma maneira sua expressão visível está 
em jogo na comunidade local das pessoas redimidas. O resultado final é que há 
aqui mais ensino sobre a igreja do que em qualquer outra das cartas de Paulo.
Duas grandes imagens predominam. Primeira imagem: a igreja local é o 
templo de Deus em Corinto (3.16,17). Com essa imagem, Paulo faz algumas 
afirmações importantes, (a) Sendo os coríntios templo de Deus, espera-se que 
vivam como a alternativa divina tanto aos templos pagãos quanto ao modo de 
vida que os rodeia. Aliás, é justamente essa a preocupação ao longo de boa parte 
da carta: há tantas áreas cinzentas que é difícil distinguir os cristãos de Corinto da 
Corinto em que vivem (cf. 5.1; 6.7; 10.32; 14.23). (b) O que os toma templo de 
Deus é a presença do Espírito Santo no meio deles. Assim, em contraste com
Introdução a ICoríntios 21
os ídolos mudos que os rodeiam, eles próprios são, pelo Espírito, o santuário do 
Deus vivo. E quando o Espírito de Deus se manifestar entre eles por pronun­
ciamento profético, o coração dos pagãos será examinado e julgado e eles virão 
a reconhecer que Deus está no meio do seu povo (14.24,25). (c) Para Deus, o 
seu templo é tão sagrado que aqueles que o destruírem — como estão fazendo 
com seus conflitos e sabedoria mundana — serão destruídos por Deus (3.17). 
Esse entendimento de sua existência como um povo no meio do qual Deus está 
poderosamente presente por meio de seu Espírito possibilita compreendermos 
5.1-13, que diz que a igreja é purificada com a remoção do homem incestuoso, 
mas que ele próprio experimentará a salvação por meio desse procedimento. Ao 
que parece, tirar esse homem dessa comunidade o levará ao arrependimento.
Segunda imagem: a igreja é o corpo de Cristo (10.17; 11.29; 12.12-26). Com 
essa imagem, Paulo faz basicamente duas afirmações importantes, (a) Por trás da 
imagem está a necessidade de unidade. Assim como acontece com a imagem 
anterior, a chave para a compreensão dessa unidade é a experiência coletiva que 
eles têm do Espírito (12.13). Quer judeu, quer grego, quer escravo, quer livre 
— eles são um em Cristo por meio do Espírito. Justamente porque eles são um 
só corpo em Cristo, os ricos devem parar de cometer abusos contra os pobres à 
mesa do Senhor (11.22,29); e os mais proeminentes não podem dizer aos menos 
proeminentes: “Nós não precisamos de vocês” (12.21-26). Deus dispôs o corpo 
de tal maneiraque todos os membros são essenciais uns aos outros, (b) Mas 
o interesse maior de Paulo com essa imagem é a concomitante necessidade de 
diversidade. Em vez da uniformidade valorizada pelos coríntios, Paulo insta a 
que reconheçam a necessidade de todas as diferentes manifestações do único 
Espírito. Caso contrário, não há corpo, apenas uma monstruosidade (12.15-20).
Portanto, dada essa preocupação, chama a atenção o fato de que não apa­
rece na carta ensino algum sobre a ordem eclesiástica propriamente dita. Não 
há menção a “presbíteros” ou aos “superintendentes” [“bispos”] e “diáconos” 
de Filipenses 1.1. Além disso, não existe uma única informação a respeito da 
natureza, do horário e dos líderes de suas reuniões de culto. Aparecem somente 
duas referências ao culto. De acordo com 11.17-34, eles se reúnem em um local 
para uma refeição que acontece junto com a ceia do Senhor. Mas nada sabemos 
sobre a frequência com que tomavam juntos essa refeição, nem sobre a relação 
entre essa refeição e a expressão de culto verbal mencionada em 14.26, quer 
esta última acontecesse junto com a primeira (bastante provável), quer fosse 
uma reunião à parte. De todo modo, Paulo enfatiza o caráter verdadeiramente 
coletivo desse culto. Deve-se tomar providências para que “cada um ” participe, 
para que o corpo todo seja edificado. A finalidade desse culto é dupla. Por um 
lado, os cânticos, as orações e as ações de graças são dirigidos a Deus (11.13;
22 1 Corfntios
14.14-17); por outro, falas de vários tipos são dirigidas à comunidade, para que 
ela seja edificada.
E necessária uma última palavra sobre a grande importância dessa carta 
para a igreja de hoje. A natureza cosmopolita da cidade e da igreja, o individu­
alismo gritante que se manifesta em tantas de suas aberrações comportamentais, 
a arrogância que acompanha o entendimento que eles têm de serem pessoas 
do Espírito, a conformação, em inumeráveis maneiras, do evangelho à cultura 
ao redor — esses e alguns outros aspectos da igreja em Corinto não passam de 
espelhos nos quais a igreja de hoje pode e deve se enxergar. Do mesmo modo, a 
necessidade do discipulado segundo o modelo da “fraqueza” de Cristo (4.9-13), 
do amor que prevaleça sobre tudo (13.1-13), da edificação como o objetivo do 
culto (14.1-33), da percepção da imoralidade sexual como sendo exatamente 
o que é (5.1-13; 6.12-20), da expectativa de que os casamentos sejam permanentes 
(7.1-40) — essas coisas no mínimo, e talvez mais algumas, são tão relevantes para 
nós como o foram para aqueles a quem foram inicialmente escritas. A minha 
oração é que este comentário nos ajude a ouvir a voz de Paulo, inspirada pelo 
Espírito, de maneira ainda mais clara em nossos dias.
Texto, exposição e notas
I. Introdução (1.1-9)
II. Resposta a informações recebidas (1.10— 6.20)
III. Resposta à carta dos coríntios (7.1— 16.12)
IV. Assuntos finais (16.13-24)
I. Introdução (1.1-9)
Quase todas as cartas do período greco-romano começam com uma sau­
dação tríplice: nome do autor, para o destinatário, cumprimentos.1 Com 
grande frequência, o item seguinte da carta era uma ação de graças e/ou 
uma oração aos deuses pela saúde ou bem-estar do destinatário.2 As cartas 
de Paulo seguem essa forma-padrão; no entanto, em suas mãos até mesmo 
esses detalhes formais são tocados pelo evangelho de modo que se tornam 
inconfundivelmente cristãos.
A. Saudação (1-1-3)
B. Ação de graças (1.4-9)
'Todas as “cartas” verdadeiras do N T seguem esse padrão (incluindo a carta de 
Tiago em At 15.23-29), com exceção de 3João, à qual falta a saudação-padrão.
para uma coletânea bastante grande de exemplos dessas saudações em papiros, 
veja F. X. J. Exler, The form of lhe ancient Greek letter of the epistolary papyri (3rd 
c. B.c.-3rd c. ajd.) (Chicago, 1923), p. 23-68.
'Em geral, Paulo apresenta uma ação de graças, e em várias dessas ocasiões ele 
inclui um relatório de oração (veja, e.g., lTs 1.2-5; Fp 1.3-11). Para o exemplo 
cristão mais próximo no N T de como era na prática a oração, veja 3João 2: 
“Querido amigo, oro para que você desfrute de boa saúde e tudo vá bem com 
você, da mesma forma que sua alma vai bem” (NIV).
I. Introdução (1.1-9)
« • ” A. Saudação (1.1-3)
B. Ação de graças (1.4-9)
A. Saudação (1.1-3)
As duas cartas anteriores de Paulo (l e 2Tessalonicenses) detalham pouco 
as três partes da saudação. Com os detalhamentos da saudação nessa carta 
Paulo inicia um hábito que manterá até o fim da vida. Em cada caso, os 
detalhamentos refletem, direta ou indiretamente, muitos dos assuntos que 
serão tratados na própria carta. Mesmo no momento em que se dirige 
formalmente à igreja na saudação, a mente de Paulo já está trabalhando 
nas seríssimas questões comportamentais e teológicas em pauta.
A. Saudação (1.1-3)
Exegese e exposição
1 Paulo, chamado para ser apóstolo de Cristo Jesus1 pela vontade de 
Deus, e nosso irmão Sóstenes,
2à igreja de Deus em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus e cha­
mados a ser seu povo santo,2 junto com todos aqueles que em todo lugar 
invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso:
‘Alguns mss mais antigos (ü A b) e todos os posteriores têm a ordem inversa, Jesus Cristo 
(veja KJV). Mas essa ordem das palavras raramente ocorre em Paulo quando está se referindo a 
nosso Senhor pelo nome (exceto na fórmula-padrão “nosso Senhor Jesus Cristo”, sempre nessa 
ordem). Veja 2.2 e 3.11, que são exceções; mas em ambos os casos a ênfase recai sobre o Jesus 
terreno e sua crucificação, e não, como aqui, sobre o nome do Senhor exaltado, que comissio­
nou seu apóstolo.
2Nos mais antigos e melhores mss tanto do Oriente quanto do Ocidente (P46 B D F G b m; 
Ambrosiastro) a ordem das palavras é obscura: qytaCTpévotç év Xpicrtcõ ’Iqctou rrj oucnj êv 
KopívGcu. Tanto Zuntz, p. 91-2, quanto Metzger, p. 478, consideram essa leitura “íundamental- 
mente difícil demais” e também “não paulina” para poder ser original e sugerem que houve uma 
“omissão acidental de uma ou mais expressões e sua posterior reintrodução na posição errada” 
(Zuntz). N o entanto, nesse caso, para decidir qual a forma original, deve prevalecer a opção 
pela “leitura mais difícil”. E mais fácil imaginar escribas posteriores terem “corrigido” a ordem 
mais tosca do próprio Paulo do que escribas mais antigos terem omitido e então “corrigido”
<#■ 1 Coríntios 1.1-3 25
3Graça e paz a vocês da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus 
Cristo.
1.1
As duas cartas aos tessalonicenses começam simplesmente com “Paulo e Sil- 
vano e Timóteo”. Aqui, um cooperador, “nosso irmão Sóstenes”, se junta a 
Paulo. Mas antes de acrescentar o nome de Sóstenes ao seu, ele afirma que 
ele mesmo é “chamado para ser apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de 
Deus”. Essa sequência nas palavras quase certamente exclui a possibilidade 
de Sóstenes ser um apóstolo. Mas a razão de Paulo inserir aqui a referência ao 
seu chamado é outra. Os coríntios são uma igreja em conflito com seu fun­
dador: eles o estão julgando (4.1-5) e examinando no que diz respeito a seu 
apostolado (9.1-23). Mais tarde (4.15; 9.1,2), ele apresentará mais evidências 
de seu apostolado (ele fundou a igreja; viu o Senhor ressuscitado), mas, visto 
que essa igreja está questionando esse apostolado, ele começa afirmando sua 
origem divina.3 Visto que normalmente essa afirmação seria completamente 
desnecessária (veja, e.g., 1 e 2Tessalonicenses, Filipenses e Filemom) e tendo 
em vista a grande tensão entre eles e Paulo, parece improvável que em Corinto 
não teriam reparado nessa ênfase.4
Paulo destaca três itens nessa afirmação. Em primeiro lugar, seu apostolado 
se deu por “chamado” divino (nas demais cartas isso só é mencionado em Roma­
nos). Embora a expressão “para ser” não se encontre no texto grego, as palavras 
justapostas “chamado apóstolo” não poderiam ter outro sentido. Ele não está 
pensando nisso como um título a que tem direito e pelo qual deve ser chamado, 
como em “Paulo, chamado apóstolo” (cf. 15.9, em que esse uso ocorre com umsentido negativo: ele não é digno de ser chamado apóstolo). Pelo contrário, está
nesse estilo estranho. Além disso, como se explica que essa corruptela, provocada por um erro 
duplo, tenha se tom ado a leitura predominante tanto no Oriente quanto no Ocidente, enquanto 
o “original” mais paulino permaneceu em desuso por tantos anos e que não tenha sobrevivido 
nenhuma forma das corruptelas mais antigas das quais essa surgiu? Veja a discussão completa 
em To what end exegesis?, p. 43-7.
Tara Godet, p. 38, que pensa de modo diferente, não há aqui nenhum “propósito de polêmica 
contra partidos que poderiam negar seu apostolado”. Mas uma comparação de 1 e 2Tessalo- 
nicenses com 1 Coríntios sugere que essa afirmação é de fato motivada pelos acontecimentos 
recentes na igreja.
4Cf. o detalhamento parecido em Gaiatas, a outra carta em que o questionamento do apostolado 
de Paulo é parte do problema tratado na carta. Ele também se refere a si mesmo como apóstolo 
em Colossenses, em Efésios e nas Epístolas Pastorais, em cada ocasião com razões específicas 
para isso. Veja, e.g., G. D. Fee, 1 and 2 Timothy, Titus (GNC; San Francisco, 1984), p. 1.
26
I. Introdução 
A. Saudação
insistindo em que esse é seu “chamado”, sua vocação divina, assim como vai 
declarar (v. 2) que o chamado deles é ser “povo santo” de Deus.5
Em segundo lugar, Paulo destaca a origem divina de seu apostolado 
mediante o acréscimo de “pela vontade de Deus”.6 Esse acréscimo pode parecer 
redundante por já ter mencionado o chamado;7 no entanto, com essa expressão 
Paulo fundamenta seu apostolado, para além de sua realização histórica no seu 
“chamado”, em sua origem suprema nos propósitos divinos. Para Paulo, a pró­
pria salvação tem sua origem e, por conseguinte, sua certeza, na vontade divina 
(cf. Gl 1.4; Ef 1.3-11), o que também se aplica ao apostolado que, mediante a 
operação eficaz do Espírito, anuncia essa salvação a outros. Em tudo isso, Paulo 
está declarando que a ação de Deus sempre vem primeiro. Sua própria posição 
em Cristo, bem como seu ministério estão baseados no chamado de Deus, que 
não passa de expressão da vontade antecedente de Deus.8 Acima de tudo mais, 
essa consciência do chamado fundamentado na vontade de Deus é o que enche 
o apóstolo de tanta confiança em seu ministério. Isso também leva à aparente 
ambiguidade que hoje em dia tanta gente enxerga nele. Por um lado, ele pode 
ser totalmente modesto quanto a sua própria pessoa ou papel pessoal; por outro, 
ele pode ser absolutamente intransigente quando se trata de seu ministério como 
tal. Isso resulta de sua confiança de que seu apostolado não havia acontecido por 
escolha pessoal, mas estritamente “pela vontade de Deus”.
5Nessa carta em particular, os conceitos de chamado como “vocação” e chamado como “elei­
ção” tendem a se confundir um pouco. Em 1.1 e 2, predomina o conceito de “vocação”. Em 
1.9 e 24, o “chamado” é o convite divino para participar da “família” de Deus. N o uso extenso 
em 7.15-24, a ideia é menos clara. O chamado é, em primeiro lugar, para se tom arem crentes, 
mas também parece ter a ideia implícita da “posição de alguém na vida”, dessa forma signifi­
cando mais do que mera “vocação”, i.e., aquilo que a pessoa faz. De todo modo, em Paulo as 
idéias estão sempre intimamente ligadas. A pessoa é chamada por Deus “para a comunhão de 
seu Filho” (l.9), e esse chamado significa que a pessoa vivência as implicações desse chamado 
como membro do “povo santo de Deus” (1.2), o que também envolve ser aquilo que é e fazer 
aquilo que faz como alguém que foi “chamado” por Deus para ser e fazer assim ( l .l; 7.15-24). 
Para outras reflexões sobre “a teologia paulina do chamado como resposta aos pneumatikoi de 
Corinto”, veja o cap. 3 de Bartchy, p. 127-59.
6Gr., 5 tá com o genitivo para denotar “causa eficiente” (BDAG A3d). Cf. 2Coríntios, Colos- 
senses, Efésios e 2Timóteo, em que essa expressão aparece isolada no cabeçalho.
7Aliás, Héring, p. 1, sugere que a ideia de “‘chamado’ é repetida por [...] ‘a vontade de Deus’, 
e talvez esta última expressão deva ser removida". Mas isso é não entender absolutamente nada 
do uso paulino da expressão.
sTem havido algum debate (e.g., Barrett, p. 30—l) quanto à questão de “pela vontade de Deus” 
ressalvar ou não o “chamado” ou o apostolado de Paulo. O mais provável é que inclua ambas 
as idéias. O u seja, Paulo foi chamado para se tom ar apóstolo porque essa é a vontade prévia de 
Deus. Cf. Conzelmann, p. 20.
ICorfntios 1.1-3 27
Em terceiro lugar, ele descreve a natureza da sua vocação como a de um 
“apóstolo de Cristo Jesus”. Paulo já havia empregado esse termo na primeira de 
suas cartas (lTs 2.7) como designação de si mesmo e de seus colaboradores; suas 
várias ocorrências em ICoríntios mostram que já havia se tomado um termo 
estabelecido na igreja para designar determinado grupo de pessoas imbuídas de 
autoridade.9 Isso obviamente inclui os Doze, mas também vai muito além deles 
(15.5-7). Parte do problema com o termo é que ele tem um sentido de função, 
bem como de cargo ou posição. Ou seja, tinha relação primeiramente com 
alguns que foram “enviados” por Cristo a pregar o evangelho (cf. 1.17).10 Mas 
os que foram enviados para isso, e especialmente os que fundaram igrejas em 
consequência de seu trabalho de evangelização, vieram a ser conhecidos como 
apóstolos, uma designação que também tinha o sentido inerente de posição (esp. 
no caso dos que estiveram diretamente associados com Cristo em seu ministério 
terreno). Em Paulo, os sentidos funcional e posicionai quase se fundem. Nesse 
caso, a ênfase está claramente em sua posição de autoridade em relação à igreja 
em Corinto; mas essa posição está baseada em sua relação com “Cristo Jesus”, 
como alguém que foi enviado por Cristo para fundar essa (e outras) igreja(s). 
Assim, embora talvez seja um possessivo, o mais provável é que a expressão “de 
Cristo Jesus” seja um genitivo subjetivo, enfatizando mais a origem do apostolado 
de Paulo do que o fato de Paulo pertencer a Cristo.
Ao seu nome, Paulo acrescenta “e nosso irmão Sóstenes” (lit., “Sóstenes, o 
irmão”). Embora com frequência outros se unam a Paulo na redação de suas cartas 
(isso ocorre oito vezes), esse é um fenômeno raro na Antiguidade, e não se tem 
certeza de como entendê-lo.11 Nas cartas aos tessalonicenses, deve-se considerar 
que a inclusão de Silas e Timóteo seja indicação de que participaram da redação 
da carta, pois ao longo de todo o texto os verbos e pronomes estão na primeira
9É vasta a literatura técnica sobre esse termo e sobre a natureza do “ofício”. Entre outros textos, 
veja K. H. Rengstorf, TD N T 1:407-45; cap. 2 de H. von Campenhausen, Ecclesiastical authority 
and spiritual power in the church of thefirst three centuries (TI, Stanford, 1969; 1. ed. alemã, 1953), 
p. 12-29; R. Schnackenburg, “Apostles before and during Paul’s tim e”, in: W W Gasque; R. 
P. Martin, orgs., Apostolic history and the gospel (Grand Rapids, 1970), p. 287-303; e J. A. Kirk, 
“Apòstleship since Rengstorf: towards a synthesis”, N TS 21 (1974/1975), p. 249-64. Para um 
panorama da literatura técnica sobre a origem do termo, veja F. H. Agnew, “The origin o f the 
N T apostle-concept: a review o f research”,JBL 105 (1986), p. 75-96.
10Quanto ao papel escatológico desempenhado pelo apóstolo, veja a importante análise de A. 
Fridrichsen, The apostle and his message (Uppsala, 1947). Cf. P. R. Jones, “1 Corinthians 15:8: 
Paul the last apostle”, TynB 36 (1985), p. 3-34.
“ Para uma análise ampla desse fenômeno, veja M u rp h y -0 ’Connor, Keys, capítulo 1; c f 
a análise mais antiga e mais sucinta feita por G. J. Bahr, “Paul and letter w riting in the first 
century”, CBQ 28 (1966), p. 476-7. O único outro caso conhecido de coautoria de uma carta 
encontra-se em Cícero, At. 11.5.1.
28
I. Introdução 
A. Saudação
pessoa do plural (“nós damos graças”, “sejam nossos imitadores” [cf. ICo 4.16!] 
etc.). É o que também acontece com 2Coríntios. Mas essa carta não tem nada 
ou quasenada disso.12 Não se ouve mais nada de Sóstenes como companheiro 
ou colaborador de Paulo, quer nessa carta, quer em qualquer outro lugar. O uso 
de “o irmão” com sentido absoluto (cf. 16.12; 2Co 1.1 etc.)13 sugere que ele 
provavelmente deva ser considerado colaborador, embora nesse caso, visto que 
Sóstenes parece não ter nenhuma relação com a carta em si, é possível que esse 
seja apenas o meio de identificar, entre os atuais colegas de Paulo, um que é bem 
conhecido dos coríntios.14 Talvez, nesse caso, ele também esteja servindo como 
secretário de Paulo (cf. 16.21), mas isso também é conjectura.
A identificação desse Sóstenes também é incerta. Pode ser que seja o Sóste­
nes mencionado por Lucas (At 18.17), o líder da sinagoga em Corinto, que foi 
espancado na presença de Gálio. Nesse caso, então, ele teria se tornado crente 
e agora estava com Paulo em Efeso. Essa identificação é ainda mais provável 
por causa da designação singela dele como “o [meu/nosso?] irmão”, deixando 
implícito pelo menos que ele era conhecido dos coríntios.
1.2
Se o cabeçalho (v. l) é sutilmente direcionado à situação em Corinto, isso se 
aplica ainda mais à menção ao destinatário. A carta é endereçada à “igreja de 
Deus em Corinto”. Em suas duas cartas anteriores, Paulo havia escrito à igreja dos 
tessalonicenses em Deus. Aqui eles são a igreja de Deus em Corinto. A igreja 
pertence a Deus (cf 3.9), e não a eles nem a Paulo (ou Apoio), e com essa 
pequena mudança na forma de dirigir a eles Paulo repudia logo de início uma 
das tendências deles: ter um conceito elevado demais de si mesmos.15
12Veja os comentários de 1.23 e 2.6-16.
13Acerca desse assunto, veja Ellis, p. 13-8, e C. H. Dodd, “New Testament translation problems 
I”, BibTrans 27 (1976), p. 301-11.
14Embora o termo “irmão/irmã” seja encontrado na vida social e religiosa pagã (veja BDAG 
2a), também teve uma história no judaísmo, que quase certamente foma os antecedentes de sua 
adoção no cristianismo primitivo (veja H. F. von Soden, TD N T 1:145-6). É claro que entre os 
cristãos o termo tinha um significado maior em razão do uso de Abba (“querido Pai”) por Jesus 
como sua forma-padrão de se dirigir a Deus — indicando sua filiação singular — e ao seu convite 
aos discípulos para que o acompanhassem nessa forma de se dirigir a Deus (Lc 11.2; cf. Gl 4.6; 
Rm 8.15). N o novo relacionamento com Deus e com a nova comunidade causado por Cristo 
Jesus, as antigas diferenças sociais, sexuais e raciais são todas postas por terra (Gl 3.28); todos 
“nascem” na família de Deus e se tornam igualmente irmãos e irmãs. A designação é encontrada 
cerca de 130 vezes em Paulo para referir-se aos irmãos na fé, sendo 39 delas em 1 Coríntios.
15E claro que os coríntios não devem ter percebido essa mudança; mas ela provavelmente diz 
algo sobre Paulo e a sua relação com essa igreja.
1 Coríntios 1.1-3 29
A carta é endereçada à igreja toda, sem indicação de partidos ou facções. 
Além do mais, no corpo da carta não se vê menção a líderes nem apelo a eles, 
ao contrário do que acontece, por exemplo, em Filipenses ( l .l e 4.3).16 Pelo 
contrário, a comunidade toda é a destinatária, e o que é dito aqui e em toda a 
carta é dito a todos.
O uso do termo “igreja” (ekklêsia) para designar essas primeiras comuni­
dades cristãs era bem apropriado para eles (cf. ITs 1.1; 2.14 etc.). Já havia sido 
empregado na LXX para se referir a Israel como povo reunido (veja Dt 4.10 
e muitas outras referências) e no mundo grego era usado especialmente para 
designar o corpo político reunido para tratar das questões de Estado (daí a 
preocupação com a ekklêsia ilegal em At 19.39). Em seu uso como termo para 
indicar a comunidade local de crentes, a ênfase ainda recai com frequência no 
fato de serem uma comunidade reunida (cf. 5.1-5; 11.18; 14.23), mas também 
veio a funcionar como designação básica de si mesmos como o povo de Deus 
escatológico e recém-constituído que havia se submetido ao Cristo ressuscitado 
como Senhor e, desse modo, aguardava o retomo dele.
Esse é o único caso, nas cartas remanescentes de Paulo, de um extenso deta­
lhamento dos destinatários. Primeiro ele diz que eles são “santificados em Cristo 
Jesus”.17 Tal como aconteceu com a ideia do apostolado de Paulo, a ênfase recai em 
eles se tornarem povo de Deus em decorrência da atividade divina. O que Deus 
fez “em Cristo Jesus” os torna o novo povo de Deus.18 O termo “santificados”19 
provavelmente deve ser entendido como metáfora da conversão cristã (cf. 6.11 
e 1.30). No entanto, é difícil que a escolha dessa metáfora em particular tenha
l6A sugestão feita por M. Guerra de que T r ã c n v to tç ÈTTiKaXoupévotç se refere ao órgão diri­
gente encarregado de governar a comunidade e de que Iv Travei totcco significa sua “posição” 
não tem base em dados filológicos ou contextuais (“1 Cor 1,1-3: los ministros en la comunidad 
de Corinto. Analisis filológico y traducción de protocolo de la Primera Carta a los Corintios”, 
Scripta Theologica 9 [1977], p. 761-96).
17Com essa expressão, que provavelmente vem imediatamente após “igreja de Deus” (veja 
p. 24, nota 2), há uma mudança para o plural, mas não como meio de particularização ou 
individualização. Pelo contrário, o que se tem em vista são as pessoas como grupo.
l8Dessa forma, a expressão èv Xpiaicp ’Iqaou provavelmente não tem aqui sentido locativo, 
mas algum tipo de sentido instrumental: “Por aquilo que Deus realizou por meio de Cristo eles 
foram santificados”.
l9Gr., qyiacrpévoiç. Esse termo tem abundantes antecedentes no AT, por cuja ação aquilo que 
outrora era profano ou comum havia sido consagrado e, dessa maneira, estritamente separado 
para finalidades divinas. N a primeira vez que o texto aparece em Paulo, o termo tem impli­
cações claramente éticas (lTs 5.23). Em ICoríntios 7.14, o termo parece manter seu sentido 
original cultual/ritual; mas aqui e em 1.30 e 6.11 serve de metáfora adicional, entre as muitas 
outras encontradas no apóstolo, para descrever o evento multiesplendoroso da salvação que há 
em Cristo Jesus.
30
I. Introdução 
A. Saudação
sido acidental. Os crentes são separados para Deus, assim como eram os utensílios 
do Templo. Mas justamente porque são “separados” para Deus, também devem 
ter o caráter do Deus que assim os separou. Dessa forma, a santidade faz parte 
do propósito divino em salvar um povo que pertence exclusivamente a Deus 
(cf. lTs 4.3; 5.23). O conceito paulino de santidade regularmente implica com­
portamento observável, portanto um “viver santo”. Esse será especificamente o 
caso nessa carta, que é dirigida a uma comunidade cuja “espiritualidade” e cuja 
“sabedoria superior” têm estado muito divorciadas das implicações éticas. Assim, 
logo de início seus leitores são singularmente identificados como a “igreja de 
Deus”, os “santificados em Cristo Jesus”.
Eles também são “chamados a ser seu povo santo”. Assim como acontece com 
o tratamento detalhado dado no início ao seu próprio nome (v. l), a expressão 
aqui pode soar redundante. A dificuldade está em encontrar uma tradução ade­
quada para hagiois (“santos”).20 A tradução tradicional, “santos”, tinha demasiadas 
conotações desencaminhadoras para ter valor aqui. As origens do termo em si 
estão na narrativa do Êxodo, quando os israelitas são chamados de “povo santo” 
de Deus (Ex 19.5,6), uma expressão que no judaísmo tardio se referia aos eleitos 
que haveríam de participar das bênçãos do reino messiânico (Dn 7.18-27; Sl. Sal. 
17; Qumran).21 Assim, esse é mais um termo do AT para Israel, especialmente 
para Israel como eleito de Deus, de que os autores do N T se apropriaram para 
designar o povo recém-formado de Deus. Aqui também o uso desse termo espe­
cífico, com seu conceito básico de ser “santo”, não pode ser acidental. A tradução 
da NIV atual [TNIV], “povo santo [de Deus]”, capta as duas idéias. Desse modo, 
assim como Paulo é um apóstolo por chamado divino, de igual maneira os crentes 
coríntios são por chamado divino o povo recém-formado de Deus e, comotal, 
devem refletir o caráter de Deus. Pode-se assinalar de passagem que esse não é 
o ponto forte deles; de demasiadas maneiras eles são muito mais parecidos com 
Corinto do que com o povo santo de Deus em Corinto.
Mas o que exatamente Paulo quis dizer com a expressão seguinte: “junto 
com todos aqueles que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus 
Cristo, Senhor deles e nosso”?22 Gramaticalmente pode estar ligada tanto com
“ Essa dificuldade foi bem ilustrada na NIV original, que aqui traduzia o áy íotç de Paulo 
por “holy (santos)”, mas em 16.15 (cf. E f l . l ) trazia “saints (santos)” e em 16.1, “povo de Deus” 
(tb. em Rm 12.13).
“ Veja a análise esclarecedora de O. E. Evans, “New wine in old skins XIII: the saints”, ExpT 
86 (1975), p. 196-200.
“ Weiss, p. 4, conjectura que a expressão inteira é um acréscimo secundário feito por um redator 
final do corpus paulino, que estava tentando tom ar a carta mais universal em sua aplicação. Mas essa 
abordagem radical é desnecessária. O “acréscimo” é paulino em todos os sentidos, e a expressão 
não usual “deles e nosso” no final não parece o tipo de texto desajeitado que um redator criaria.
<#■ 1 Coríntios 1.1-3 31
Paulo e Sóstenes, sugerindo que em sua totalidade a igreja universal participa, 
de alguma maneira, da composição dessa carta (o que parece bem improvável),23 
quanto com “chamados a ser seu povo santo” ou com a “igreja de Deus em 
Corinto”. O uso parecido em outras passagens (2Co 1.1; Fp l .l ) sugere que era 
essa a possibilidade que Paulo tinha em mente. Mas nesse caso qual pode ser o 
sentido da frase? Assim como acontece nos outros dois casos, com certeza não 
significa que a carta é dirigida a todos os cristãos de todos os lugares. Apesar da 
dificuldade com a sintaxe, o que Paulo tem em mente está suficientemente claro. 
Os pneumatikoi de Corinto parecem ter seguido um caminho independente, 
tanto de Paulo quanto, por conseguinte, também do restante das igrejas (veja 
4.17; 11.16; 14.33; e esp. 14.36). Por isso, Paulo começa dando-lhes um leve 
toque para lembrá-los de que o próprio chamado deles para ser povo de Deus 
é parte de um quadro bem mais amplo. No novo povo que Deus está criando 
para si mesmo na era vindoura que já despontou, os coríntios têm participação 
com todos “os santos”, irmãos na fé “em todo lugar” que também “invocam 
o nome de nosso Senhor Jesus Cristo”, ou seja, que confiaram nele e oram a 
ele e o adoram.24 O que Paulo vai dizer aos coríntios — e disso ele os lembra 
regularmente — é o que ele tem dito a todas as igrejas.
A natureza universal da igreja é ainda destacada pela expressão “em todo 
lugar”. E provável que “em toda parte” (NVI) não seja exatamente o sentido do 
grego paulino, que, na verdade, sugere “em todo lugar de reunião”.25 Assim, os 
coríntios estão sendo lembrados de que não estão sós; em vez disso, por todo 
o mundo existem aqueles que invocam o nome do Senhor quando se reúnem.
13Acompanhando Teodoro de Mopsuéstia, U. W ickert defende que a expressão inclui tanto 
Paulo quanto os coríntios (“Einheit und Eintracht der Kirche im Prãscript des ersten Korin- 
therbriefes”, Z N W 50 [1959], p. 73-82); mas é difícil ver como Paulo imaginaria todos os 
outros cristãos se unindo a ele na redação da carta. A preocupação é com a independência e o 
exclusivismo exibidos pelos pneumáticos de Corinto.
^ “Invocar o nome do Senhor” é mais uma expressão do AT (por intermédio da LXX) de 
que os primeiros cristãos se apropriaram para expressar sua existência. O verbo ÈTtiKakicú 
significa propriamente “nomear” no sentido de “dar nome a”. Na voz média, veio a significar 
“pedir ajuda a alguém”, como em 2Coríntios 1.23. N o entanto, na maioria das vezes se refere 
ao chamado de Deus para a salvação (e.g, Jl 3.5) ou livramento (Sl 50.15), ou simplesmente 
para invocá-lo como aquele em quem o povo depositou a confiança (e.g., Gn 4.26) e, por isso, 
especialmente na oração (e.g., Gn 12.8). Os dois últimos usos são aqueles que os primeiros 
cristãos especialmente adotaram, a ponto de, como aqui, a expressão se tornar quase sinônima 
de “crentes” (cf. At 9.14). Cf. W C. van Unnik, “W ith all who call on the name o f the Lord”, 
in: W C. Weinrich, org., The New Testament age: essays iti honor of Bo Reicke (Macon, 1984), 
2:533-51, que destaca o elemento de oração na aflição como um vínculo entre os crentes, e E-E. 
Langevin, ‘“Ceux qui invoquent le nom du Seigneur’ (iC o 1,2)”, ScEs 19 (1967), p. 373-407; 
20 (1968), p. 113-26; 21 (1969), p. 71-122.
25Veja Barrett, p. 33, que traduz dessa maneira.
32
I. Introdução 
A. Saudação
Que é isso mesmo que Paulo tinha em mente parece ser confirmado pelo acrés­
cimo, no final da frase, de “deles e nosso”,26 expressão com que ele provavelmente 
tem o propósito de ir além de suas próprias igrejas e incluir todas as igrejas 
do recém-formado “povo santo” de Deus. Aquele que os coríntios chamam 
de “Senhor” também é Senhor da igreja toda e, como tal, deve finalmente ter 
liberdade para agir entre eles assim como tem nas outras igrejas.
Assim, de maneiras diversas e sutis, até mesmo na saudação Paulo sinaliza 
algumas afirmações importantes que, de maneiras específicas, fará mais tarde 
em resposta às atitudes e ações deles.
1.3
A saudação propriamente dita já havia chegado à sua forma básica nas duas 
cartas anteriores de Paulo. Em ITessalonicenses, aparece o simples “graça a vocês 
e paz”; em 2Tessalonicenses, ele acrescenta a fonte, “da parte de Deus Pai e do 
Senhor Jesus Cristo”, a forma (com o acréscimo de “nosso”) que ela assumiria 
dali em diante (com exceção de Colossenses).
Aqui está um exemplo maravilhoso de Paulo cristianizar tudo aquilo em que 
põe a mão. A saudação tradicional no mundo helenístico era chairein — o infi­
nitivo do verbo “alegrar-se” — mas em cumprimentos significava simplesmente 
“Saudações!” (veja At 15.23; Tg l.l) . Nas mãos de Paulo, isso agora se torna 
charis (“graça”), à qual acrescentou a saudação judaica tradicional shalom (“paz”). 
Assim, em vez de “saudações”, o cumprimento é “graça a vocês — e paz”.27 Em 
certo sentido, isso resume toda a perspectiva teológica de Paulo. A soma total de 
toda a atividade de Deus com suas criaturas humanas é encontrada na palavra 
“graça”; Deus se deu a eles de forma misericordiosa e abundante em Cristo.28
26Os dois pronomes, “deles e nosso”, vêm imediatamente após a palavra grega tÓttq (“lugar”) 
e têm a possibilidade de qualificá-la (que é como Grosheide interpreta, p. 24). Mas isso dá um 
sentido quase impossível. Ruef, p. 2-3, também prefere interpretá-los como modificadores de 
xÓTtcú, mas traduz esta última palavra com o sentido de “posição” ou “status”. Assim, “em todo 
status, deles e nosso”. Mas além de atribuir a tottoç um sentido que não é bem comprovado, 
isso ignora totalmente o uso paulino.
27Embora talvez não se deva exagerar a questão da ordem em si das palavras, parece digno de nota 
que Paulo nunca se expressa da maneira que os tradutores, por exemplo, de língua inglesa tendem 
a fazer (afinal de contas, conforme meus colegas da comissão da NIV sempre me lembram, temos 
de falar nossa língua materna, e não uma mistura dela com grego). Mas para Paulo era sempre 
“graça a vocês”, e não “graça e paz a vocês”; ou seja, ele não pensava nessas duas qualidades divinas 
unidas por uma conjunção, mas, sim, que uma vinha primeiro (“graça a vocês”), que, por sua vez, 
era seguida pela paz. Em um comentário pode-se destacar a perspectiva paulina.
28Cf. J. D. G. D unn , Jesus and the Spirit (Philadelphia, 1975), p. 202: “É importante entender 
[...] que, para Paulo, ‘graça’ não significa uma atitude ou disposição de Deus; pelo contrário, 
denota o ato absolutamente generoso de Deus”.
ICoríntios 1.1-3 33
Nada é merecido; nada pode ser alcançado: “É misericórdia absoluta, imensa e 
gratuita” (Charles Wesley). E a soma total desses benefícios como são experi­
mentados pelos destinatários da graça de Deus é encontrada na palavra “paz”, 
que significa“bem-estar, plenitude, prosperidade”. Uma procede da outra, e 
ambas procedem de “Deus nosso Pai” (veja p. 28, nota 14) e se tomaram reais 
na história humana por meio de nosso “Senhor Jesus Cristo”.
Não se deve ignorar a maneira como Pai e Filho aparecem juntos em textos 
como esses. Se em passagens posteriores (8.6; 11.3; 15.26-28) há uma subordi­
nação funcional do Filho ao Pai no que diz respeito à “obra” de Cristo, textos 
como este (cf. lTs 3.11 e IC o 12.4-6) deixam claro que na mente de Paulo o 
Filho é verdadeiramente Deus e trabalha em cooperação com o Pai na redenção 
do povo de Deus.
Uma nota final, portanto, sobre a saudação como um todo, a saber, sua ênfase 
cristológica.29 Paulo é um apóstolo de CristoJesus; os coríntios se tomaram crentes 
(“foram santificados”) em Cristo Jesus; cristãos de todo o mundo são designados 
como aqueles que invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo; e a graça e a 
paz da parte de Deus Pai se tornam reais por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. 
A mesma ênfase será vista na subsequente ação de graças, uma ênfase que já 
havia ocorrido alguns anos antes nas suas duas cartas mais antigas entre as que 
foram preservadas (l e 2Tessalonicenses) e que a essa altura, portanto, havia se 
tomado um lugar-comum para ele.
19Essa ênfase também é assinalada por W Grundmann, TD N T 9:554-5; mas parece que ele 
está totalmente equivocado ao interpretá-la como tentativa de Paulo de corrigir uma cristologia 
gnóstica por parte dos coríntios. Esse linguajar e ênfase já eram perceptíveis nas duas cartas 
para os crentes de Tessalônica.
I. Introdução (1.1-9)
A. Saudação (1.1-3)
B. Ação de graças (1.4-9)
B. Ação de graças (1.4-9)
As ações de graças de Paulo apresentam em geral o mesmo padrão: (l) Dou 
graças, (2) a Deus, (3) sempre, (4) pelos destinatários e (5) por determinadas 
razões, que são então detalhadas.JEssa ação de graças é definida com maior 
clareza do que as de 1 e 2Tessalonicenses (e algumas posteriores também) e 
não faz menção à oração intercessória pelos destinatários, a qual se vê tanto 
em cartas anteriores (lTs 1.2; 2Ts l .l l ) quanto em posteriores (Rm 1.10; 
Cl 1.3; Fm 4; Fp 1.4). Assim como acontece na saudação, ela tem alguns 
itens que prenunciam assuntos do corpo da carta.
O que é notável aqui é a capacidade que o apóstolo tem de agradecer 
a Deus por aquelas questões nessa igreja que, em virtude dos abusos, 
também o entristecem profimdamente. Alguns, na verdade, têm sugerido 
que isso é ironia.2 Mas essa concepção tende a não perceber alguns aspectos 
vitais da teologia de Paulo. Ao contrário de muitos cristãos de hoje, cuja 
tendência é domesticar a fé e, dessa maneira, eliminar tudo o que pode 
causar problema, o apóstolo reconhece que o problema não está nos dons 
dos crentes de Corinto, mas na atitude deles diante desses dons.3 Justamente 
porque os dons vêm de Deus, Paulo se sente compelido a dar graças por 
eles. Afinal, eles são coisas boas que “azedaram”.4 Por isso, nessa ação de 
graças Paulo realiza duas coisas: dá graças sinceras a Deus tanto pelos 
próprios coríntios quanto pelo fato de Deus ter-lhes concedido “dons”, 
mas ao mesmo tempo redireciona a atenção deles.
^ e ja P. Schubert, Form and function of the Pauline thanksgivings (Berlin, 1939); 
e agora esp. 0 ’Brien, p. 107-37.
2Veja, e.g., Craig, p. 18; Alio, p. 4.
3Cf. a observação de 0 ’Brien, p. 114: “Os coríntios haviam esquecido que 
o que tinham recebido eram ‘dons/dádivas’ (observe as palavras mordazes de 
4.7: ‘O que você tem que não tenha recebido? E, se de fato o recebeu, por que 
se vangloria como se não tivesse recebido?’), distribuídos soberanamente pelo 
Espírito Santo (12.4-11, esp. v. 11) e que o objetivo de tais dons era ‘o bem 
comum’ (12.7) ou que a igreja fosse edificada (14.5)”.
4Cf. Lightfoot, p. 148: “Aqui São Paulo dá graças pelo seu uso; depois condena 
seu abuso”.
<#• ICoríntios 1.4-9 35
Esse redirecionamento tem duas ênfases: (l) Os coríntios de fato 
receberam dons, mas, coniorme a carta mostra, também são presun­
çosos e só se interessam por seres criados, vangloriando-se de simples 
seres humanos. Toda essa oração de ação de graças está orientada para 
Deus e centrada em Cristo. Tudo vem de Deus e é dado em Cristo Jesus.
(2) A segunda ênfase é escatológica. Paulo reconhece que não lhes falta 
nenhum dom espiritual, mas eles ainda não “chegaram lá”. Eles aguardam 
a revelação (v. 7). Cristo os firmará de modo que serão inculpáveis no dia 
do Senhor (v. 8). Essa tensão escatológica entre sua presente condição de 
terem dons (espiritualidade) e a glória final voltará a aparecer nessa carta 
(e.g., 4.8-13; 13.8-13).
Embora o que vem em seguida (v. 4-8) constitua um único e compli­
cado período gramatical, é possível acompanhar com facilidade a linha de 
pensamento do apóstolo. O verbo “dou graças” controla tudo. Os motivos 
para a ação de graças são indicados logo de início (v. 4, “por causa da 
graça dele dada a vocês em Cristo Jesus”). Em seguida (v. 5), Paulo detalha 
os motivos abordando alguns dons específicos, que também servem de 
confirmação do evangelho entre eles (v. ó). Em consequência de Deus 
confirmar dessa maneira o evangelho entre eles, não lhes falta nenhum 
dom disponível na era presente, enquanto aguardam a consumação final 
por ocasião da vinda de Cristo (v. 7). A frase final (v. 8) conduz o período 
todo a uma conclusão bem apropriada, fazendo com que a atenção se 
volte das “graças” passadas para aquilo que Deus ainda fará por eles no 
acontecimento escatológico final, a saber, “ele os manterá firmes até o 
fim”. O corpo da carta é iniciado com a enunciação final (v. 9), que realça 
a fidelidade de Deus em concretizar a glória futura (cf. v. 7,8), visto que 
ele já os “chamou”.
Deve-se também observar a alternância entre os pronomes da primeira 
e da segunda pessoas ao longo de todo o trecho (além do “meu” comentado 
adiante no v. 4).5 Assim, o pronome vocês aparece como o “objeto” da ação 
de graças (v. 4), o qual dá lugar, então, a vocês como o sujeito do discurso 
(v. 5-8 [4 vezes]). Em seguida, depois do “meu Deus” (v. 4) no início e 
do nosso testemunho (plural de modéstia? ou agora incluindo Sóstenes?), 
os últimos três usos de nosso (v. 7-9) incluem Paulo e os coríntios. Esse 
é o Paulo por excelência, finalmente dando ênfase àquilo que ele e seus 
convertidos partilham em Cristo.
B. Ação de graças (1.4-9)
5Veja Collins, p. 58.
36
I. Introdução 
B. Ação de graças
Exegese e exposição
4Sempre dou graças ao meu Deus6 por vocês por causa da graça dele 
dada a vocês em Cristo Jesus. 5Pois nele vocês foram enriquecidos de todas 
as maneiras — em todo tipo de fala e com todo o conhecimento — 6e assim 
nosso testemunho acerca de Cristo7 foi confirmado [Deus confirma] entre 
vocês. 7Por isso não falta a vocês nenhum dom espiritual enquanto aguardam 
ardentemente a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo. 8Ele os manterá 
firmes até o fim, de modo que vocês serão inculpáveis no dia8 de nosso 
Senhor Jesus Cristo.9 9Deus é fiel, o qual os chamou à comunhão com seu 
Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor.
1.4
O costume regular de Paulo (“sempre”) é dar graças por seus convertidos, bem 
como por outros crentes.10 Na verdade, sua capacidade de dar graças a Deus 
por esses crentes provavelmente diz muito sobre o caráter do próprio apóstolo. 
Mesmo tendo de falar duramente a eles, aliás, às vezes até mesmo sendo sarcástico 
e envergonhando-os, ele ainda assim não deixa de ser grato por eles; pois, em 
última análise, embora ele se sinta responsável por eles assim como um pai se 
sente por seus filhos (4.14-21), eles são um povo pertencente a Deus, e não a ele. 
Em cada pessoa redimida há evidências da graça de Deus, que provoca a grati­
dão de Paulo tanto a Deus quanto por causa deles. Ao usar o possessivo “meu”, o 
que Paulo tem em mente é algo próximo de “o Deus a quem sirvo”. Deleitar-se 
em Deus por causa da operação de Deus na vida de outros, até mesmo na vida 
daqueles de quem alguém se sente forçado adiscordar, é prova segura de que 
a pessoa tem consciência de ser objeto das misericórdias do Senhor. Era esse o 
caso de Paulo. Quem é autossuficiente não costuma ter essa atitude.
6Aqui a NIV original acompanhou X B eth Ephraim, omitindo pou. Mas esse é um caso em 
que a omissão é bem mais provável do que um acréscimo quase universal por parte de muitos 
dos primeiros escribas, especialmente porque o fraseado não pede naturalmente o acréscimo de 
“meu”; cf. Metzger, p. 478. Apesar de expresso como um possessivo, o que Paulo deve ter tido 
em mente é: “o Deus a quem sirvo”.
7Vários mss, incluindo B* F G 81 1175, trazem 0eou, provavelmente uma assimilação do 
fraseado de 2.1 (q.v.).
8Os mss ocidentais D F G têm a variante rrapoucríq em vez de qpépa.
9 A palavra Xpicrtou não é encontrada em P46 B. Essa é provavelmente uma omissão acidental 
bem antiga (resultado da justaposição e abreviação de IY XY). Para uma análise mais aprofun­
dada, veja Zuntz, p. 184, que tende a favorecer o texto mais curto; cf. Metzger (p. 479), que 
deu ao presente texto a classificação C.
10Veja lTs 1.2; 2.13; 2Ts 1.3; 2.13; Rm 1.8; Cl 1.3; Fp 1.3; Fm 4. A ação de graças se tom a 
doxologia em 2Coríntios e Efésios. Tudo isso está notavelmente ausente de Gálatas.
<#■ ICoríntios 1.4-9 37
No caso dos coríntios, a base específica da ação de graças de Paulo é a “graça 
dele [de Deus] dada a vocês em Cristo Jesus”. Em geral, isso é visto como um 
agradecimento pela graça como tal, ou seja, pelo gracioso derramamento da 
misericórdia de Deus em Cristo sobre quem não merece. No entanto, para Paulo 
o termo charis (“graça”) muitas vezes está intimamente associado a charisma/ 
charismata (“dom/dons”) e em tais casos se refere às expressões concretas da 
atividade graciosa de Deus no povo de Deus.11 Aliás, a própria palavra “graça” 
por vezes denota essas manifestações concretas — as “graças” (dons) — da graça 
de Deus. Assim, por exemplo, adiante nessa carta (16.3) e em outros textos 
(2Co 8 e 9), charis se refere não apenas à “graça de dar” por parte dos coríntios, 
mas concretamente também aos seus dons.
Parece que o que está em vista aqui é esse entendimento “concreto” da 
graça, visto que o detalhamento a seguir (v. 5-7) especifica suas manifestações 
da perspectiva de certos charismata (“dons”), aos quais na realidade os coríntios 
tendiam a dar muito valor. E claro que a ênfase de Paulo é bem diferente da deles. 
Eles enfatizavam os dons em si; ele, a atividade graciosa de Deus, que dava esses 
dons ao seu povo. Justamente porque são “dados” por Deus12 e são expressões 
da “graça” de Deus (imerecida pelos beneficiários), não pode haver motivo de 
vangloria da parte deles. O dilema de Paulo nessa carta é convencer os coríntios 
a partilhar do pensamento paulino sobre esses benefícios, pois com arrogância 
eles se vangloriam das próprias coisas que, por serem dons/dádivas, não podem 
ser fonte de vangloria pessoal (cf. 4.7).
1.5
Em seguida, Paulo enumera especificamente as “graças” pelas quais está agrade­
cendo.13 Paulo diz que eles “foram enriquecidos de todas as maneiras”.14 Mas o 
texto seguinte deixa claro que sua atenção está centrada em algo bem mais espe­
cífico, a saber, “em todo tipo de fala (logos) e com todo o conhecimento (gnõsis)”.
“ Cf., e.g., Romanos 12.6, em que os fiéis recebem diferentes charismata, de acordo com a 
charis dada a eles.
“ Deus é o sujeito implícito de todos os verbos passivos do presente parágrafo.
13Aqui a conjunção õxt que une essa oração ao versículo 4 é provavelmente explicativa, indi­
cando que o que vem em seguida modifica o versículo 4, explicitando em detalhes o significado 
da expressão “por causa da graça dele [de Deus] dada a vocês em Cristo Jesus”. Por isso, também 
pode ser traduzida por “já que”. Assim, poderia ser: “Sempre dou graças ao meu Deus [...] por 
causa da graça dele dada a vocês em Cristo Jesus, já que em tudo vocês foram enriquecidos nele”. 
Muitos (e.g., BDAG, Conzelmann, p. 25, nota 3) associam a conjunção oxt ao verbo eú^aptcrtcò 
(ou: “dou graças a Deus [...] porque” ou: “dou traças a Deus [...] que”), mas a estrutura da frase 
como um todo e o contexto parecem favorecer aqui um sentido explicativo de oxt.
14Gr., év Ttavxí; acerca desse emprego, veja BDAG 2a(5.
38
I. Introdução 
B. Ação de graças
Normalmente, essas não seriam as únicas coisas — ou coisas normais — pelas quais 
alguém daria graças em um grupo de novos cristãos. Aliás, assinala-se com frequ­
ência que, no caso deles, Paulo não menciona coisas como amor, fé ou esperança 
(como, e.g, em ITessalonicenses, Filipenses ou Colossenses).15 Isso é fato, sem 
dúvida, mas não significa necessariamente que eles não têm essas qualidades; afinal, 
em uma passagem posterior e quase paralela (2Co 8.7), os dois itens mencionados 
aqui são novamente incluídos, juntamente com a fé, a sinceridade e o amor.
E praticamente certo que Paulo escolhe mencionar esses itens porque eram 
bem visíveis na comunidade. Mas também acontece de serem itens que funcio­
nam de algumas maneiras bastante negativas entre eles. O que Paulo parece estar 
fazendo, então, é voltar o foco deles das suas “graças” (coisas boas em si mesmas 
porque edificam a igreja) para Deus, que as deu, e para Cristo, “em quem” elas 
foram postas à disposição.16 Isso vale até mesmo para a imagem expressa com 
“vocês foram enriquecidos”. Em contextos parecidos, tanto em cartas anteriores 
quanto em posteriores, na maioria das vezes Paulo emprega o verbo “abundar” 
para falar da superabundância na vida cristã. O que é importante aqui é que, 
embora o conceito de Deus possuir “riquezas” seja recorrente nas cartas de 
Paulo,17 a imagem de ser “enriquecido em (ou por) Cristo” é exclusiva das cartas 
aos coríntios. Em cada emprego, ela ocorre em contraste com “pobreza” — de 
Cristo, cuja “pobreza” operou o “enriquecimento” deles (2Co 8.9), ou de Paulo, 
cuja pregação o tornou possível (4.8-13; 2Co 6.10). Por causa do sentido sar­
cástico com que a imagem aparece em um momento posterior (4.8), pode-se 
especular se esse não é um dos termos deles que Paulo está usando agora em 
seu sentido positivo, justamente porque em Cristo Jesus a experiência deles de 
receber dons do Espírito é um enriquecimento genuíno.
Mas quais são as “graças” específicas indicadas pelas palavras logos (“fala/dis- 
curso”) egnõsis (“conhecimento”)?18 Tem havido intenso debate sobre o significado 
dessas duas palavras,19 mas o contexto da própria 1 Coríntios fornece toda a ajuda
I5Veja, entre outros, Héring, p. 3; Craig, p. 19; O -W p. 144.
l6Nele” alude a “em Cristo Jesus” no versículo 4 e é empregado de modo parecido no ver­
sículo 2: por aquilo que Deus fez “em Cristo Jesus”.
17Isso vale especialmente para Romanos, Colossenses, Efésios e Filipenses. Assim, ele fala de 
“riquezas da graça”, “riquezas de bondade”, “riquezas em glória” etc.
l8Com substantivos abstratos, Ttãç normalmente tem o sentido de “todo tipo de”. Veja BDAG 
5. Cf. Barrett, p. 36-7, e 0 ’Brien, p. 117.
19Lightfoot, p. 147, seguido por 0 ’Brien, p. 118, lista quatro possibilidades: (l) que Xóyoç 
se refere ao conhecimento inferior; yvcocriç, ao superior (o que acertadamente rejeitam como 
impossível); (2) que Xóyoç se refere ao dom de línguas; yvcocnç, à profecia (ideia que também 
deve ser rejeitada por ser restrita demais); (3) que Xóyoç se refere ao evangelho que chegou até 
eles; e y vcòctiç, ao fato de o aceitarem de coração (interpretação posta em dúvida pelo contexto
<#■ 1 Coríntios 1.4-9 39
necessária. Ambos os termos ocorrem com frequência muito maior nas duas car­
tas aos coríntios do que em todas as outras cartas paulinas,20 e em contextos que 
deixam claro que são termos utilizados pelos próprios coríntios. E significativo 
que mais tarde as duas palavras apareçam em um contexto bem positivo como 
dons do Espírito (caps. 12—14), mas também negativamente em outro contexto 
da carta. Aqui o termo logos (cf. 12.8) provavelmente significa algo parecido com 
“em todo tipode ‘enunciação espiritual’” e se refere em especial aos muitos dons 
de enunciação observados na análise posterior (conhecimento, sabedoria, línguas, 
profecia etc.) — embora, conforme a troca de correspondência deixa claro mais 
tarde, os coríntios tenham um interesse mais específico em “falar”. Mas nessa 
polêmica inicial o termo se refere de forma pejorativa àquilo que é meramente 
humano, em contraste com o logos da cruz (1.17,18; cf. 2.1-4). O mesmo acontece 
com gnõsis. Mais tarde (caps. 12—14), como charisma, o termo se refere ao dom 
de conhecimento especial, provavelmente relacionado com a revelação profética 
(12.8; 13.2; 14.6).21 Contudo, em uma passagem anterior (8.1-13), ele serve para 
eles de base da conduta cristã e, como tal, sofre pesada crítica de Paulo.
O que, então, Paulo está fazendo aqui? Parece que está apanhando um ou dois 
dos termos usados por eles, itens de sua espiritualidade nos quais talvez depositas­
sem certo excesso de awíoconfiança. Nas áreas de que se vangloriam, tais como 
“enunciação [fala]” ou “conhecimento”, Paulo afirma que estão agindo de maneira 
meramente humana e, por conseguinte, não estão de modo algum “no Espírito”. 
Apesar disso, esses mesmos elementos aparecem como dons legítimos do Espírito 
pertencentes à era presente (12.8-11; 13.8-12) e que, colocados na perspectiva 
correta, edificarão a igreja (14.1-6). Justamente porque são dons espirituais (v. 7), 
dados por Deus em Cristo Jesus, Paulo pode ser sinceramente grato por eles.
todo de ICoríntios); e (4) a posição, que preferem, de que Xóyoç se refere à expressão exterior; 
yvãcriç, à convicção íntima e à compreensão do evangelho. Mas parece que essa possibilida­
de também não leva em conta o contexto de ICoríntios. Outras opções têm sido oferecidas: 
Zuntz, p. 101, sugere que um se refere a dons “racionais”, e o outro, a dons “de êxtase”, o que 
também parece não levar em conta os dados concretos de ICoríntios. K. Grayston sugere, 
ainda menos convincentemente, que Xóyoç se refere àqueles que estavam insistindo em seguir 
de forma legalista as palavras lembradas de Jesus (eles haviam trocado uma forma da lei por 
outra), enquanto yvcõcnç se refere a todos aqueles que tinham “uma consciência das relações 
cósmicas entre Deus Pai, o Senhor Jesus Cristo e o cristão”, de modo que, por meio de Cristo, 
estavam dispensados das “regras convencionais” (“N ot with a rod”, ExpT 88 [1976], p. 13-6). 
Nessa passagem, na NIV original, a tradução de Xóyoç pela forma verbal “falar” (“em todo o 
falar de vocês”) parece não ter captado o sentido.
“ A palavra Xóyoç ocorre 26 vezes em 1 e 2Coríntios, 38 vezes nas outras oito cartas (mais 
20 nas Pastorais). A palavra yvcõctiç ocorre 16 vezes em 1 e 2Coríntios, sete vezes nas outras 
cartas (incluindo as Pastorais).
11 Veja no comentário de 8.1 uma análise mais detalhada dessa palavra.
40
I. Introdução 
B. Ação de graças
1.6
E difícil estabelecer o sentido exato da conjunção22 que inicia essa oração gra­
matical e, por conseguinte, também estabelecer a relação entre essas palavras e o 
que ele acabou de dizer.23 Na maioria das vezes, tal como na NIV original, a frase 
é entendida como uma oração causai, que “explica a razão da riqueza da dádiva 
espiritual dos coríntios. Aquela causa era um testemunho centrado em Cristo”.24 
No entanto, o mais provável é que, conforme se vê na atual NIV o grego kathõs 
tenha o sentido comparativo usual (“exatamente como”, “assim como”). Nesse 
caso, a palavra deve ter sido usada com o mesmo sentido com que Paulo a usou 
em uma carta anterior (lTs 1.5), em que, depois de afirmar que seu evangelho 
chegou a eles com poder, Paulo acrescenta o lembrete “assim como vocês bem 
sabem”. Aqui, portanto, ele provavelmente está sugerindo que os dons deles — 
dons pelos quais ele é sinceramente grato — são a evidência de que “nosso teste­
munho acerca de Cristo foi confirmado entre vocês”.25 Se levarmos a sério que, 
tal como está em nosso texto, o sujeito implícito da passiva é “Deus”, então a 
oração está dizendo que foi Deus Pai quem confirmou o testemunho de Paulo 
acerca de Cristo ao conceder-lhes essas dádivas do Espírito, que é exatamente o 
que a oração seguinte (v. 7) passará a reiterar.
Embora incomum em Paulo (cf. 2.1; 2Ts 1.10; 2Tm 1.8), o termo “teste­
munho” se refere ao próprio evangelho e provavelmente é usado por causa do 
verbo “confirmar”. Assim, a oração toda funciona como uma metáfora tirada do 
direito comercial.26 Quando pregou o evangelho em Corinto, Paulo deu teste­
munho das boas-novas acerca de Cristo, sobretudo de sua morte (1.18-25; 2.1,2) 
e ressurreição (15.1-11);27 o próprio Deus “garantiu” a verdade da mensagem ao
22Gr., Ka0cóç. Cf. lTs 1.5; Fp 1.7.
23Prova dessa dificuldade pode ser encontrada nas diferentes traduções em inglês: a NRSV e 
a ESV usam travessão para destacar a expressão, a REB a coloca entre parênteses e a NAB trata 
como dativo: “testemunho para Cristo”.
240 ’Brien, p. 120.
25Esse ponto de vista também foi adotado por Godet, p. 53-4, e Lightfoot, p. 148. C f a tra­
dução de Moffatt: “tudo isso confirma o testemunho que demos de Cristo, quando estivemos 
com vocês”.
260 verbo fkpaiócú (“confirmar”), que costumeiramente significava “firmar” ou “fortalecer”, 
no período helenístico passou a ser um termo técnico com o sentido de garantir contratos legais 
(veja a análise em A. Deissmann, Biblical studies [TI, Edinburgh, 1901], p. 101-5; c f MM, 
p. 108). Alguns têm destacado aqui um sentido mais literal do aspecto legal (esp. H. Schlier, 
TD N T 1:600-3), mas isso faz perder a profundidade da metáfora em si, que é de novo usada 
por Paulo em 2Coríntios 1.21 para falar da certeza da existência conjunta deles em Cristo.
27A NIV entende acertadamente que aqui o genitivo “o testemunho de Cristo” é objetivo; ou 
seja, Cristo é o “objeto”, e não o “sujeito”, da ideia verbal implícita na palavra “testem unho” 
(cf GNB, NAB, NASB, NRSV).
<#■ 1 Coríntios 1.4-9 41
enriquecê-los com todo o tipo de dom espiritual.28 Isso também significa que 
a expressão “em vocês” (cf. NIV de 1984) transmite o sentido de “entre vocês” 
ou, como a NIV traduz agora: “no meio de vocês” (cf. NRSV NAB).
De modo que, conforme acontece ao longo de toda a ação de graças, a 
ênfase nessa oração gramatical é Cristo. No entanto, também é possível enxergar 
aqui uma referência oculta ao ministério do próprio Paulo entre eles, visto que 
os dois se sustêm juntos ou caem juntos nessa comunidade.
1.7
Essa oração gramatical serve para concluir o assunto tratado até aqui, ou seja, a 
gratidão de Paulo pelos dons/dádivas que eles têm do Espírito, os quais servem 
como confirmação divina tanto do evangelho em si quanto de sua pregação 
por Paulo em Corinto. Mas, ao acrescentar o comentário escatológico no final, 
Paulo agora também procura situar os dons/dádivas recebidos pelos coríntios na 
devida perspectiva escatológica do “já/ainda não”.29
A oração propriamente dita é uma oração final30 que modifica a palavra 
confirmadora imediatamente precedente (v. 6),31 de maneira que, recorrendo 
ao passado, os segmentos de oração gramatical daquela passagem recapitulam, 
junto com esse segmento, aquilo que foi dito nos segmentos imediatamente pre­
cedentes (v. 4,5). Nesse sentido, em síntese: “Agradeço ao meu Deus pela ‘graça’ 
concedida a vocês (v. 4), com a qual Deus os ‘enriqueceu’ com dons específicos 
do Espírito (v. 5), da mesma maneira que historicamente ela operou no meio de 
vocês mediante a confirmação divina de nosso testemunho acerca de Cristo 
(v. 6) de modo que não faltou a vocês nenhum dom/dádiva do Espírito (v. 7)”.
28G. W MacRae levantou a hipótese de que esse versículo devesse ser traduzido por “visto 
que o testemunho para Cristo tem crescido fortemente no meio de vocês a ponto de vocês 
não terem falta de nenhum dom espiritual” (veja “A note on 1 Corinthians 1:4-9”, in: Eretz- 
-Israel [Orlinsky Festschrift] [jerusalem, 1982], vol. 16, p. 171-5). Embora seja uma sugestão 
interessante, MacRaechega a ela por causa de um desejo de fazer com que o verbo bepaióoo 
signifique quase a mesma coisa tanto no versículo 6 quanto no versículo 8. Mas, conforme 
assinalado no versículo 8, isso não é necessário, nem faz com que o jogo de palavras do próprio 
Paulo faça sentido adequado aqui.
29Quanto a esse arcabouço essencial da teologia de Paulo, veja a introdução, p. 18-9.
30Ainda que no grego clássico cocrre com o infinito normalmente sinalizasse um resultado 
em potencial ao invés de concreto (o que exigiría o modo indicativo), essa distinção havia 
enfraquecido bastante no final do período helenístico. Entre os comentários mais antigos (e.g., 
Lightfoot, Findlay, R-P), era comum manter essa distinção, mas tanto o emprego usual quanto 
o contexto daqui exigem que o resultado já havia se concretizado em Corinto.
31A NRSV reflete a ideia de que o versículo 6 é um parêntese e que, por consequência, o 
versículo 7 modifica o versículo 5. Conzelmann, p. 27, sustenta que o versículo 7 modifica tanto 
o versículo 5 quanto o versículo 6. Nenhum dos dois parece explicar tão bem a sintaxe ou o 
argumento quanto a posição adotada aqui.
42
I. Introdução 
B. Ação de graças
Não se sabe com segurança o sentido exato de “não falta a vocês nenhum 
dom espiritual”. Em geral, o objeto do verbo “faltar” ocorre no caso genitivo, 
e assim significaria que, tal como a NIV traduz, eles têm em potencial à sua 
disposição todos os dons de Deus. Mas aqui, como na asserção inicial (v. 5, “de 
todas as maneiras”), o verbo é modificado por uma construção prepositiva32 e, 
por isso, pode significar que, seja em comparação com outros, seja dentro das 
expectativas normais de cristãos que têm o Espírito, eles não têm uma medida 
menor de quaisquer dos dons que têm. Embora (por causa da gramática) muitos 
prefiram essa segunda opção,33 o mais provável é que aqui a sintaxe seja influen­
ciada pela expressão anterior (“enriquecidos de todas as maneiras”).34 Assim, 
a frase apenas repete de forma negativa o que já foi afirmado positivamente. 
Isso também significa que a palavra charisma ('“dom espiritual’”),35 que poderia 
ser vista como referência mais genérica à graciosa dádiva da redenção,36 deve, 
assim como naquela declaração anterior, ser entendida mais especificamente 
como referência àquelas capacitações especiais do Espírito Santo37 analisadas 
com mais detalhe mais adiante na carta (caps. 12—14; cf. Rm 12.6).
Porém, gratidão pelos dons presentes não é a última palavra — nem a única. 
Para Paulo, tais dons devem sempre se manifestar enquanto “aguardam arden­
temente a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo”. Aliás, talvez haja na igreja 
contemporânea uma correlação entre a perda generalizada dessas “graças” e a 
ausência generalizada de ardente expectativa pela consumação final. Deve-se 
assinalar aqui que, embora a perspectiva teológica de Paulo seja rigorosamente 
escatológica, uma comparação entre essa ação de graças e a de sua carta mais 
antiga (lTs 1.2-5) revela que um comentário escatológico não é um elemento 
necessário na ação de graças paulina (na verdade, em cartas posteriores ocorre 
apenas em Filipenses e Colossenses).38
Por que, então, esse comentário adicional sobre a vinda de Cristo? E claro 
que pode simplesmente significar que esse assunto está sempre diante do próprio
3íGr., èv |ir)8evi ̂ apto-pcm (=não falta a vocês nenhum dom gracioso), que mais adiante na carta 
(caps. 12—14) é uma palavra utilizada em conjunto com as dádivas do Espírito.
” Veja, e.g., Lightfoot, p. 148; Barrett, p. 38; e 0 ’Brien, p. 123-4.
34Cf. Conzelmann, p. 27.
35Sobre essa palavra, veja o comentário de 12.4; cf. a discussão em Dunn, Jesus, p. 205-7.
36Como, e.g., em Romanos 5.15,16 e 6.23. Essa é a posição de um grande número de co­
mentaristas (e.g., Calvino, p. 22; 0 ’Brien, p. 124).
37 Aliás, essa é a primeira referência, de muitas outras que virão, à obra do Espírito Santo nessa 
comunidade de fé.
38Por isso, parece que 0 ’Brien, p. 124, não está sendo muito preciso quando fala do “clímax 
escatológico habitual das ações de graças introdutórias”. Essa perspectiva é resultado de uma 
análise formal das ações de graças sem dar a devida atenção à cronologia. O elemento escato­
lógico inexiste em ITessalonicenses, Romanos e Filemom.
<#• 1 Coríntios 1.4-9 43
apóstolo, uma vez que para Paulo a salvação era basicamente uma realidade escato- 
lógica, iniciada com a vinda de Cristo e a ser consumada com sua volta iminente. 
Mas nesse caso também é igualmente provável que esse assunto sempre presente 
esteja sendo sublinhado pelo fato de que, na compreensão escatológica dos pró­
prios coríntios, a existência deles era, ao que parece, ultrarrealizada, o que estava 
especificamente relacionado com sua experiência do “dom espiritual” de línguas 
(veja comentário de 13.1). Por isso, a gratidão de Paulo pelos dons que eles têm 
inclui um lembrete de que ainda aguardam a glória final, pois parece que o fato é 
que alguns deles não têm essa ardente expectativa (veja comentários de 4.8 e 15.12).
O que eles aguardam com ardente expectativa39 é que “nosso Senhor Jesus 
Cristo seja revelado”, com o que Paulo volta ao tríplice “nome” usado acima na 
saudação (v. 3, e somente mais uma vez nessa carta — na súplica inicial [v. 10]). 
Embora Paulo costumeiramente fale da volta de Cristo empregando o termo 
“vinda” (parousia), em uma carta anterior (2Ts 1.7) ele também se referiu a ela 
como a “revelação” (apokalypsis) de Cristo. Aqui a escolha dos substantivos é 
provavelmente menos determinada por qualquer nuance de idéias entre “vinda” 
e “revelação” e mais pelo sentido geral de todo o parágrafo, que tem Deus como 
sujeito. Por consequência, Deus consumará os séculos mediante a “revelação” 
final de seu Filho; é essa revelação cristológica final que eles ainda aguardam 
que está sendo trazida à lembrança dos coríntios.
1.8
Com essa oração gramatical, Paulo finalmente conclui esse agora longo período 
(que começou no v. 4). Para isso, ele desenvolve o comentário escatológico feito 
no final da frase anterior (v. 7), agora com respeito ao significado disso para os 
próprios coríntios. E importante ressaltar que a linguagem dessa oração gramatical 
é parecida com a da prece encontrada na primeira de suas cartas (lTs 3.13). Por 
isso, é possível que o propósito da oração gramatical seja muito parecido com o 
de relatórios de prece em outras ações de graças, mas com a importante diferença 
de que aqui temos uma clara afirmação, e não apenas uma oração de desejo.40 
Aqui Paulo está confiante de que Deus realmente os “confirmará” até o fim.
39Paulo emprega o verbo c r r r E K Ô É ^ o p a i apenas em contextos escatológicos de expectativa pelo 
Fim (Gl 5.5; Rm 8.19,23,25; Fp 3.20); esse verbo transmite o sentido de “ardente expectativa”, 
o que torna demasiado inexpressivo o singelo verbo “aguardar” da NRSV e da ESV 
4°G. R Wiles sugeriu que “essa é uma possível oração de desejo, que usa o futuro do indicativo 
para expressar um desejo: ‘Que ele sustente vocês até o fim’” (Pauts intercessory prayers [SNTSMS 24; 
Cambridge, 1974], p. 35, veja tb. p. 97-101). Mas, para isso, ele precisou não somente descon­
siderar a clara construção gramatical da frase, mas também rejeitar que a ação de graças seja 
real — daí a necessidade de concluir com oração para que essas coisas realmente sejam assim.
44
I. Introdução 
B. Ação de graças
É significativo que Paulo declare isso mediante a repetição do verbo “con­
firmar”, que apareceu na metáfora anterior (v. 6). Assim, em vez de seu habi­
tual “Deus os fortalecerá ou estabelecerá”,41 Paulo diz que, assim como Deus 
inicialmente “garantiu” nosso testemunho de Cristo enquanto estávamos com 
vocês, Deus também42 “garantirá” ou “confirmará” vocês mesmos “até o fim”.43 
Que essa é uma repetição intencional da metáfora jurídica anterior (v. 6) é ainda 
comprovado pela palavra “inculpável”, que tem o sentido de estarem sem culpa 
(com referência à lei) quando aparecerem diante de Deus no juízofinal porque 
receberam a justiça de Cristo.44 Por fim, o uso da expressão “no dia de nosso 
Senhor Jesus Cristo” também aponta para o juízo final. Paulo se apropria da 
expressão escatológica veterotestamentária “o dia do Senhor” (veja Am 5.18-20; 
Jl 2.31) e a torna cristológica. Ainda é “o dia do Senhor”, mas “o Senhor” não é 
outro que não Jesus Cristo (veja tb. 3.13-15; 5.5; cf. l Ts 5.2).
O que é notável é que Paulo se expresse com tanta confiança sobre uma 
comunidade cujo comportamento no momento é tudo, menos inculpável, e que 
em várias ocasiões ele precisa exortar com os tipos mais severos de advertência. 
É claro que o segredo se encontra no sujeito do verbo, “ele” (= Deus).45 Caso 
a confiança de Paulo estivesse nos coríntios, ele estaria em apuros. Mas, assim 
como acontece em passagens posteriores (5.6-8 e 6.9-11), na teologia de Paulo o 
indicativo (a prévia ação graciosa de Deus) sempre precede o imperativo (a obe­
diência deles como resposta à graça) e é o fundamento da confiança do apóstolo.
Nem todos, entretanto, estão de acordo quanto a “Deus” ser ou não de fato 
o sujeito do pronome “ele”. Na verdade, o antecedente mais natural é “nosso 
Senhor Jesus Cristo”, que precede imediatamente o pronome.46 No entanto, há 
boas razões para pensar que Paulo teve “Deus” em mente como sujeito. Em pri­
meiro lugar, porque Deus, a quem Paulo está dando graças, é o sujeito implícito
J1Gr., crrripíÇcú; veja lTs 3.2,13; 2Ts 2.17; 3.3; Rm 1.11; 16.25.
42Infelizmente a NIV deixou a conjunção Kaí de fora. Aqui ela significa “também” e, desse 
modo, alude a è f i E p o u c ó G q , no versículo 6 .
"A qui um possível significado da expressão ecoç xéXouç é “completamente”. Alguns (e.g., 
Grosheide, p. 31; Barrett, p. 39; 0 ’Brien, p. 129) pensam que aqui ela tem um duplo sentido: 
“Completamente até o fim”. Talvez sim, mas a referência básica é temporal, e não gradual.
44Gr., àváyKXqToç, tb. encontrado em uma passagem sobre o “juízo final” em Colossenses 1.22 
(cf. lT m 3.10; T t 1.6,7). Em outros contextos, Paulo usa âpgpxrroç ou então apcopoç, palavras 
que transmitem um sentido mais moral ou religioso.
45Gr., pronome relativo oç, “que”, “o qual”, “quem”.
46Quase todos os comentários mais antigos vão por esse caminho. Godet, e.g., diz; “O pro­
nome [...] se refere, é claro, à pessoa de Jesus Cristo” (p. 58). Entre os comentários mais recentes 
que também adotam essa posição, veja Barrett, p. 39, e Ruef, p. 6. A maioria dos comentários 
recentes opta pela posição defendida aqui.
<#■ "ICoríntios 1.4-9 45
de todos os verbos que no parágrafo estão na voz passiva. Em segundo lugar e 
em particular, Deus é o sujeito implícito da ocorrência anterior do verbo “con­
firmar” (v. 6), o que sinaliza que Deus é também o único que no fim confirmará 
os coríntios. Em terceiro lugar, na exclamação final reconhece-se de novo que 
Deus é fiel em fazer com que tudo isso venha a acontecer.
Assim, ainda que Paulo esteja interessado em lembrar aos membros da 
igreja de que eles ainda não “chegaram lá”, ao mesmo tempo lhes apresenta sua 
grande confiança de que no fim, pela ação do próprio Deus, eles conseguirão. 
Dessa forma, por meio da ação de graças Paulo faz com que a confiança deles 
em si mesmos e nos dons recebidos seja redirecionada para o Deus eterno, de 
quem e para quem são todas as coisas.
1.9
Tudo o que foi dito até aqui na ação de graças — tanto o ato divino antecedente 
da graça em favor deles quanto o fato de Deus os “garantir” no futuro dia do 
juízo — é agora resumido nessa exclamação gloriosa. De forma bem parecida 
com a conclusão da primeira de suas cartas (iTs 5.24), Paulo junta a realidade da 
fidelidade divina com o chamado divino dos crentes. Como ele pode ter certeza 
de que eles, e logo eles!, serão achados inculpáveis naquele dia? Porque “Deus 
é fiel”,47 ele lhes assegura, baseando sua confiança em uma das mais arraigadas 
idéias acerca de Deus encontradas no AT. O Deus de Israel era um Deus fiel, 
sempre confiável e incapaz de ser diferente, com quem, portanto, era possível 
contar para o cumprimento de todas as promessas divinas (Dt 7.9; Sl 145.13).48
Nesse caso, contudo, a afirmação sobre o caráter de Deus não depende de 
realidades do AT, mas de sua obra mais recente em Corinto mesmo, obra em 
que ele “os chamou à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor”.49
47Quanto a essa expressão em Paulo, veja 10.13; 2Co 1.18; cf. ITs 5.24; 2Ts 3.3.
48W C. vanU nnik sugere que essas palavras são reminiscentes da haftarah na sinagoga, que fala 
do “Deus fiel que fala e age” (“Reiseplãne und Amen-Sagen. Zusammenhang und Gedankfolge 
in 1 Korinther 1:15-24”, in: Studia Paulina in honorem J. de Zwaan [Haarlem, 1953], p. 221). 
Também tem-se sugerido, por causa tanto do linguajar quanto da posição dessa enunciação no 
final da ação de graças, que o período gramatical inteiro é litúrgico em sua forma e conteú­
do (veja, e.g., J. T. Sanders, “The transition from opening epistoíary thanksgiving to body in 
the letters o f the Pauline corpus”, JBL 81 [1962], p. 361-2). É possível que esse linguajar seja 
de natureza litúrgica, mas em sua presente forma o todo está tão bem adaptado ao presente 
contexto que qualquer descoberta de expressões antecedentes não é particularmente útil para 
encontrar seu significado aqui (cf. 0 ’Brien, p. 131). Quanto a esse tipo de “panliturgismo”, 
veja tb. comentário de 16.20-24.
49Aqui o texto grego traz a expressão incomum, totalmente perdida pela N iy de que eles 
foram chamados por meio de (5t’ ov) Deus, e não por (útp’ oú) Deus. Normalmente se espera 
que Deus Pai seja a causa primária e o Filho seja o agente mediador. N o entanto, Paulo pode
46
I. Introdução 
B. Ação de graças
A fidelidade de Deus em tê-los chamado e redimido serve agora de fundamento 
da esperança de Paulo na salvação definitiva deles no final. Essas palavras retomam 
o tema do “chamado” encontrado na saudação inicial e na indicação dos desti­
natários (v. 1,2, q.v.), em especial o chamado divino aos próprios coríntios para 
se tornarem crentes (cf. tb. 1.24).50 Assim, de novo Paulo faz com que a atenção 
deles seja redirecionada de si mesmos para o Deus eterno, o qual, por tê-los 
chamado, é responsável pela própria existência deles como comunidade de fé.
Aqui o chamado é expresso como “comunhão com seu Filho”.51 Embora 
esse linguajar torne a aparecer bem mais tarde em uma passagem sacramental 
(10.16), não é certo que aqui esteja aludindo ao sacramento. A referência aqui é 
àquilo que ocorreu por ocasião da conversão deles. O chamado para Cristo é um 
chamado para estar em comunhão com Cristo por meio do Espírito (cf. 2Co 13.13; 
Fp 2.1). Assim, com toda a probabilidade, deve-se entender essa formulação não 
somente em seu aspecto posicionai, mas também relacionai. Os crentes estão não 
apenas em Cristo e, como tal, libertos da culpa de seus pecados, mas também em 
comunhão com Cristo e, como tal, têm o privilégio de comungar com ele por 
meio do Espírito.52 Mas o uso desse linguajar para se referir à conversão cristã 
ou à vida cristã é incomum em Paulo e, à luz do que está prestes a ser dito na 
frase imediatamente a seguir, pode ter sido uma escolha para também refletir a 
ideia da comunhão dos crentes que foi formada em seu Filho,53 mas isso parece 
incerto à luz do uso soteriológico de “chamar”.
Por fim, deve-se assinalar mais uma vez que Deus é o sujeito de todas os 
atos da ação de graças. E em cada caso essa obra é mediada por ou focada em 
“seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor”. Assim, a ênfase cristológica iniciada 
na saudação é completada de modo ainda mais enfático nessa ação de graças
falar de Deus como aquele “de quem, por meio de quem e para quem são todas as coisas” (Rm 
11.36). Aqui o motivo para o próprio Deus servir de agente é que o propósito do chamado é 
expresso da perspectiva do Filho.
s°Quanto aos antecedentes veterotestamentários de “chamado”, veja L. Coenen, N ID N TT 
1:272-3. Em Paulo, aquele que “chama” sempre é Deus Pai.s‘Quanto ao uso do termo “Filho de Deus” em Paulo, bem como para uma análise de suas 
origens no cristianismo primitivo, veja M. Flengel, The Son of God (TI, Philadelphia, 1976). 
Em ICoríntios, o termo só aparece aqui e em 15.28. Esses dois textos demonstram que Hengel 
está basicamente certo em dizer “que para Paulo o que está em primeiro plano é o significado 
soteriológico, e não o especulativo do termo” (p. 8).
52Cf. F. Hauck, TD N T 3:804; e G. Panikulam, Koinõnia in the New Testament: a dynamic 
expression of Christian life (AnBib 85; Rome, 1979), p. 13-5.
53Também Barrett, p. 40; cf. Willis, p. 209-10, que acompanha J. Y Campbell, “Koivcovía 
and its cognates in the N ew Testament”, JBL 51 (1932), p. 380 (reimpr. Three New Testament 
studies [Leiden, 1965], p. 1-28). Mas veja a análise em OTSrien, p. 131-2, o qual entende a 
comunhão como participação nas bênçãos espirituais que se tom aram disponíveis em seu Filho.
1 Coríntios 1.4-9 47
introdutória. Tudo o que Deus tem feito e fará pelos coríntios é feito expressa­
mente em “Jesus Cristo, nosso Senhor”.
Com essas belas cadências são encerrados os assuntos introdutórios da carta. 
Mas pode-se aprender muito com essas palavras. Elas não apenas prenunciam 
os assuntos da carta propriamente dita, mas também o fazem de uma maneira 
que revela uma boa dose da teologia de Paulo e de seu próprio cuidado pasto­
ral. Conforme a carta revelará, há alguns relacionamentos tensos nessa igreja, 
tanto entre a igreja e Paulo quanto intemamente entre os membros. Além disso, 
a causa de muitas dessas tensões é que entre eles tem havido abuso de alguns 
dons de Deus. No entanto, Paulo ainda consegue iniciar com uma sincera ora­
ção de gratidão tanto pelos próprios coríntios quanto pelos seus dons, que para 
Paulo são prova da confirmação divina de sua pregação entre eles. Mais adiante, 
Paulo terá de tratar dos abusos; por enquanto, sua atitude é a gratidão. Aqui sua 
preocupação é que eles redirecionem sua atenção — de si mesmos para Deus e 
Cristo e de uma escatologia ultrarrealizada para uma consciência saudável da 
glória que é ainda futura.
Em grande parte de sua existência, a igreja tem sofrido o oposto do pro­
blema coríntio, a saber, uma perspectiva escatológica “sub-realizada”, em que 
quase nada se espera de Deus no tempo presente. O século 20, por meio tanto 
do movimento pentecostal tradicional quanto do movimento carismático, que é 
mais recente, testemunhou um ressurgimento de muitos dos dons mais visíveis 
do Espírito. Tal como em Corinto, entre alguns cristãos dava-se atenção aos 
dons mais espetaculares, às vezes conduzindo ao orgulho espiritual, ao passo que 
outros, em sua própria forma de orgulho, têm rejeitado totalmente tal capacita­
ção com dons como uma possibilidade para a igreja contemporânea. Com essa 
oração de ação de graças, devemos aprender a ser gratos por esses dons, como 
prova da confirmação divina do evangelho, e também a nos certificar de que 
nosso foco seja como o de Paulo — em Deus e Cristo, de quem e por meio de 
quem são todas as coisas.
I. Introdução (1.1-9)
< •“ II. Resposta a informações recebidas (1.10— 6.20)
III. Resposta à carta dos coríntios (7.1— 16.12)
IV. Assuntos finais (16.13-24)
II. Resposta a informações 
recebidas (1.10—6.20)
Embora as pessoas da casa de Cloé tenham entrado em contato com Paulo 
depois que este recebeu a carta da igreja de Corinto,1 as informações pas­
sadas por elas são tão sérias que ele se sente forçado a tratar primeiro desses 
assuntos de comportamento. Quatro dessas questões precisam de atenção 
imediata, antes de ele responder à carta da igreja. Ele recebeu pessoalmente 
(veja 1.11 e 5.1) informações detalhadas sobre os dois primeiros assuntos 
(l.10—4.21 e 5.1-13). Sobre a relação das duas questões no capítulo 6 
com aquelas nos capítulos imediatamente precedente e seguinte (5 e 7), 
veja adiante, p. 239-41.
II. Resposta a informações recebidas (1.10—6.20)
A. Uma igreja dividida — intemamente e contra Paulo (1.10—4.21)
B. Imoralidade e litígio: casos paradigmáticos da crise de autori­
dade e o evangelho (5.1—6.20)
'Veja a introdução, p. 7-8.
II. Resposta a informações recebidas (1.10— 6.20)
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo (1.10— 4.21)
B. Imoralidade e litígio: casos paradigmáticos da crise de autoridade e o 
evangelho (5.1— 6.20)
A. Um a igreja dividida — internam ente 
e contra Paulo (1.10—4.21)
O problema que Paulo aborda logo no início dessa carta é provavelmente 
o mais conhecido de todos.1 Além disso, porque nossa própria experiência 
é de uma igreja dividida e especialmente porque às vezes também experi­
mentamos, de diversas maneiras, brigas dolorosamente destrutivas dentro 
da igreja, instintiva e imediatamente nos sentimos identificados com o 
problema dos coríntios.
Apesar disso, essa é uma questão muito complexa,2 especialmente em 
virtude de duas outras informações encontradas na carta, (i) Por um lado, 
como esse é o primeiro ponto que Paulo aborda, é comum ler o restante 
da carta à luz dos capítulos 1—4; ou seja, tem-se a impressão de que em 
todos os assuntos (e.g., 7.1-16 ou 8.1—11.l) os coríntios estão divididos 
em facções.3 No restante da carta, porém, não se diz praticamente nada
1 Aliás, é o mais antigo assunto específico das cartas de Paulo mencionado fora 
do N T (lClem. 47.1-4 [c. 95 d.C.j).
2 A gama de opiniões entre os estudiosos é bem mais ampla e diversificada aqui 
do que a respeito de qualquer outro assunto da carta (veja a análise em Hurd, 
p. 95-107). A interpretação da carta toda é determinada, em grande parte, pela 
abordagem dessa questão; daí sua considerável importância.
3Para um importante estudo a respeito, veja M. M. Mitchell, Paul and the rheto- 
ric of reconciliation: an exegetical investigation of the language and composition of 1 
Corinthians (HUT 28; Tübingen, 1991). Mas veja tb. (esp.) J. Munck, Patd and the 
salvation oj mankind (TI, London, 1959), cap. 5, “The church without factions: 
studies in I Corinthians 1—4”. Embora talvez tenha exagerado um pouco em seus 
argumentos, M unck parece estar certo em minimizar o papel de partidos reais na 
igreja. Cf. a avaliação de Hurd: “Agora o fato desconcertante é que parece que 
o restante de ICoríntios [caps. 5—16] não oferece informação alguma sobre as 
questões que dividiam esses quatro partidos que tanto preocupavam Paulo quando 
ele começou a escrever. Ao que parece, em ICoríntios Paulo tratou de um ponto 
de vista contrário único e mais ou menos uniforme” (p. 96). Aliás, a grande falta 
de unidade entre os estudiosos no que diz respeito à intensidade — ou à falta dela 
— em boa parte da argumentação de Paulo parece requerer cautela bem maior 
com esse tipo de abordagem “tudo ou nada” nas várias questões levantadas nessa 
carta. Veja ainda o exame do assunto na introdução, p. 11-4.
50 II. Resposta a informações recebidas
explícito que indique a existência de facções reais dentro da igreja,4 bem 
como nenhuma das menções a Apoio ou Cefas é do tipo que sinaliza que 
eles estariam atraindo esses partidos.
(ii) Ao mesmo tempo, embora os coríntios estivessem brigando entre 
si por causa de seus líderes (1.10-12), nada nessa primeira controvérsia 
de Paulo com eles sinaliza que estivessem profundamente divididos sobre 
questões em si. Isso não quer dizer que não estivessem divididos; quer dizer 
que nessa seção inteira (1.10—4.21) não há indicação explícita disso. Além 
disso, quem quer que leia este material com a pressuposição de que o pro­
blema basicamente envolvia facções dentro da igreja sentirá uma falta de 
coerência na resposta de Paulo, pois quase nada do texto fala diretamente 
desse assunto. Com isso, a pergunta continua sendo se a questão tratada 
logo de início deve influenciar nossa compreensão dos outros problemas 
na igreja e, em caso de resposta afirmativa, até que ponto.
Então qual é o problema tratado aqui? Uma leitura atenta do texto 
inteiro mostra que há pelo menos quatro questões envolvidas.5 (l) Há“brigas” e “divisões” entre eles, as quais giram em torno de seus vários 
mestres. Isso é confirmado por várias declarações explícitas (1.10-12; 
3.3,4,21), além de algumas indiretas (3.5-9; 4.1,2), sobre a importância 
que devem dar a esses mestres. Mas ao mesmo tempo não existe o menor 
indício de que os próprios mestres estivessem envolvidos nessa briga; aliás, 
as duas afirmações de Paulo acerca de Apoio, uma ainda do começo da 
carta (3.5-9) e outra perto do final (16.12), sugerem exatamente o oposto.
(2) De alguma maneira, essa briga está acontecendo em nome da 
“sabedoria”. O grupo de palavras grego sophia/sophos (“sabedoria”/“sábio”) 
domina o debate ao longo de nossos capítulos 1—3. O fato de neste material 
inicial haver uma elevada incidência de um grupo de palavras cujo uso,
4Não pode haver dúvida de que em certas áreas alguns dentro da comunidade 
dos crentes estavam abusando ou tirando vantagem de outros (e.g., 6.1-11; 7.5; 
8.10; 11.2-16,20-22), mas parece que em nenhum caso as diferenças eram cau­
sadas por motivos partidários. N a verdade, bem poucas das questões levantadas 
são tratadas de tal maneira que alguém viesse a conjecturar a existência, dentro 
da própria comunidade, de diferenças profundas sobre esses assuntos, dos quais o 
mais óbvio está relacionado à atitude das pessoas abastadas em relação às demais 
(veja abaixo comentário dos caps. 8—10 e 12—14). Assim, ler o restante da carta 
dessa perspectiva é coisa nossa, e não de Paulo.
3Cf. a análise de N. A. Dahl, “Paul and the church at Corinth according to 1 
Corinthians 1:10—4:21”, in: W R. Farmer; C. E D. Moule; R. R. Niebuhr, orgs., 
Christian history and interpretation, studies presented to John Knox (Cambridge, 
1967), p. 313-35. Dahl enxerga as mesmas quatro questões, mas expressa-as de 
forma ligeiramente diferente.
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo ♦ 1 Coríntios 1.10— 4.21 51
no mais, é bem infrequente,6 e de que na maioria dos casos a palavra é 
usada em um sentido pejorativo, é uma indicação segura de que se trata 
de vocabulário dos coríntios, e não de Paulo.'
(3) Relacionadas a esses dois primeiros itens estão as repetidas referên­
cias à “vangloria” dos coríntios (1.29-31; 3.21; 4.7) e a estarem “cheios de 
orgulho” (4.6,18,19). Suas brigas assumiam a forma de se vangloriarem de 
simples seres humanos, e isso, ao que tudo indica, em nome da sabedoria 
(3.18-21; cf. 4.6). Mas é provável que o problema seja muito mais sério 
do que isso. Conforme Munck observou: “Sua ideia de que líderes cristãos 
são mestres de sabedoria realmente contribui para sua própria exaltação. 
É verdade que se vangloriam desses grandes nomes, mas apenas para se 
vangloriarem de si mesmos”.8
(4) Excetuada a aplicação pessoal a si mesmo e a Apoio no meio da 
resposta (3.5-23), o restante dela tem um tom decididamente apologético, 
em que Paulo está defendendo não apenas seu próprio ministério entre 
eles no passado (1.16,17; 2.1—3.4), mas também seu relacionamento 
com eles no presente, já que está sendo “julgado” por eles (4.1-21). Tendo 
em vista a expressa declaração no final (4.18) de que alguns estão “cheios 
de orgulho” contra Paulo, mais a informação anterior (4.6) de que alguns 
são “cheios de orgulho” em favor de um (neste caso, Apoio, ao que parece) 
contra o outro (provavelmente Paulo), parece muito provável que a briga 
em torno de seus líderes não seja apenas a favor de Apoio ou Cefas, mas 
ao mesmo tempo é decididamente contra Paulo.9
60 grupo de palavras aparece 44 vezes nas dez primeiras epístolas (e mais uma 
nas Pastorais), sendo 28 vezes em 1 Coríntios, das quais 26 nos capítulos 1—3! 
Das 16 ocorrências restantes, 10 estão em Colossenses e Efésios, cartas em que a 
natureza peculiar desse desvio do evangelho também determinou o vocabulário 
utilizado. Tudo isso sinaliza que costumeiramente Paulo não pensa no evangelho 
ou em Cristo como “sabedoria”; ou seja, a questão surgiu em Corinto mesmo 
e, dessa forma, determinou o vocabulário do próprio Paulo.
7Ellis, p. 44-62, pensa diferente. Ele rejeita antes de mais nada a ideia de que 
ICoríntios reflita “uma teologia adversária, i.e., uma teologia que incorpora 
idéias de seus oponentes, modificando-as e redirecionando-as contra eles” (p. 46). 
Então, com base em 2.6-16 e 12.8 ele defende que para Paulo “sabedoria” é 
basicamente um termo positivo, um dom pertencente àqueles que são ptieuma- 
tikoi (nem todos os crentes de Corinto, mas apenas alguns poucos favorecidos). 
Os antecedentes de tal entendimento são, então, encontrados na profecia do AT 
e na apocalíptica judaica.
sPaul, p. 157.
9 A natureza apologética de 1.10—4.21 é a tese básica do argumento de Dahl 
(veja p. 50, nota 5). Essa posição foi retomada e defendida como um gênero 
literário, mas de forma menos convincente, por J. B. Chance, “Paul’s apology to 
the Corinthians”, PRS 9 (1982), p. 145-55. Veja tb. os comentários favoráveis 
de Hurd em seu prefácio à nova edição de Origin.
52 II. Resposta a informações recebidas
Continua de pé, no entanto, a pergunta sobre como esses quatro ele­
mentos constituem uma única questão. Embora a resposta a isso seja um 
tanto especulativa, ainda assim é possível levantar algumas boas conjecturas. 
Em geral, os intérpretes entendem que a ênfase na sabedoria decorre da 
reação dos crentes de Corinto ao ministério de Apoio — seja com respeito 
ao conteúdo de sua mensagem, ao seu estilo, ou talvez a ambos.10 Essa 
posição tem muito a seu favor e é bem possível que esteja correta. Mas 
visto que, conforme se vê nessa carta, quase nada da igreja em Corinto 
reflete um fundo judaico,11 parece melhor entender que o problema 
decorre de influências helenísticas.12 Nesse caso, portanto, é possível que 
a chave se encontre no fenômeno, existente no mundo helenístico, dos 
filósofos itinerantes, muitos dos quais eram sofistas — mais interessados 
no discurso esmerado do que em um conteúdo relevante. As idas e vindas, 
cada um à sua vez, de Paulo, Apoio e Pedro (se de fato ele chegou a visitar 
a igreja) e em especial alguns contrastes marcantes de estilo e conteúdo 
entre eles talvez tenham levado os coríntios a começar a pensar em sua fé 
recém-encontrada como uma expressão de sophia — sem dúvida alguma 
a sophia divina, mas, mesmo assim, sophia.
Nesse tipo de contexto, eles estavam brigando por causa de seus 
líderes como mestres da sabedoria, vangloriando-se de um ou de outro 
e julgando-os com base nessa perspectiva meramente humana, na qual 
nem Paulo nem seu evangelho se saem muito bem. Dificilmente a men­
sagem de um Messias crucificado, pregada por um apóstolo que vivia 
em considerável fraqueza, tem a finalidade de impressionar os “sábios”, 
como eles agora se consideravam. De todo modo — e esse é o assunto 
desses capítulos —, a maior questão para Paulo não é a divisão em si; ela 
é apenas um sintoma. O maior problema é a ameaça que ela representa 
para o evangelho e, junto com isso, para a natureza da igreja e seu minis­
tério apostólico. Assim, de uma maneira mais profunda do que às vezes 
se admite, essa questão inicial é a mais crucial na carta, não porque as 
“brigas” deles fossem o problema mais importante na igreja, mas porque
10Essa não tem sido apenas a forma tradicional de ver as coisas, mas também 
foi a sugestão repetida por R. A. Horsley (veja bibliografia).
“ Veja a introdução, p. 14-7.
12Mesmo que tenha vindo de Apoio por meio do judaísmo alexandrino (que 
é visto, e.g., em Filo), esse casamento de Moisés com Platão foi inegavelmente 
favorável a Platão e ao helenismo, e não ao lado judaico. Sobre toda essa questão, 
M unck afirma corretamente: “O texto de ICoríntios 1—4 nos mostra algo que 
provém de um ambiente helenístico que recebeu o evangelho, mas introduz 
no evangelho certos elementos que pertencem a esse contexto e falsificam o 
evangelho” {Paul, p. 152).
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo <#• 1 Coríntios 1.10— 4.21 53
a natureza dessa luta em particular tinha raiz em uma teologiafalsa, em 
que haviam trocado a teologia da cruz por um triunfalismo ingênuo que 
ia além da cruz ou a excluía.
Por isso, no debate de Paulo com eles é preciso resolver três coisas: 
(l) a compreensão totalmente equivocada (ou confusão) deles quanto à 
natureza do evangelho; (2) a concepção equivocada deles quanto à natu­
reza da igreja e de seus mestres — e a relação destes com o evangelho; 
(3) a necessidade de Paulo de resolver essas duas questões enquanto rea­
firma sua própria autoridade e, ao mesmo tempo, não destrói exatamente 
aquilo que ele defendeu diante deles com respeito ao papel de liderança. 
É claro que a reafirmação de sua autoridade é crucial para a carta inteira, 
visto que a própria capacidade de Paulo para dar uma palavra oficial sobre 
o comportamento deles depende disso.13
O argumento em si segue o seguinte esboço. O parágrafo inicial 
(1.10-17) declara o problema e funciona tanto como introdução quanto 
como transição para o argumento propriamente dito. Então, em três pará­
grafos consecutivos, Paulo argumenta que a natureza do evangelho em si 
(1.18-25), a própria experiência deles mesmos como o recém-formado 
povo de Deus (1.26-31) e a pregação paulina que deu origem à existência 
deles (2.1-5) — tudo isso contradiz a nova posição deles baseada em sabe­
doria (meramente humana). Em seguida (2.6—3.4), ele assinala que para
13Ao que parece, isso explica melhor o aspecto “apologético” dos capítulos 
1—4 do que a posição de Dahl ou Chance (veja p. 50, nota 5, e p. 51, nota 9). 
Para eles, esses capítulos são basicamente preparatórios para os pronunciamentos 
imbuídos de autoridade do restante da carta, em especial para os capítulos 5 e 
6 (cf. J. H. Schütz, Paul and the anatomy of apostolic authority [SNTSMS 26; 
Cambridge, 1975], p. 187-203). Eles também tendem a minimizar o fato de 
que o evangelho em si está em jogo — como sempre está para Paulo — mes­
mo quando está defendendo seu apostolado. Por exemplo, acerca de 1.18-25 
Chance diz que “nos versículos 18-25 Paulo defende sua recusa em se prom o­
ver [...] [e com isso] Paulo lançou os alicerces para sua declaração em 2.1-5 
de que, porque é fraco e louco, ele pode servir como porta-voz de Cristo” 
(p. 150-1). Parece que essa posição não entende o conteúdo do parágrafo e 
transforma a relação entre esses dois parágrafos em algo totalmente diferente, para 
não mencionar o fato de que se esquiva da notável paixão da vida de Paulo — o 
próprio evangelho. Ainda menos proveitosa para entender Paulo é a sugestão de 
D. L. Gregg (“Discourse analysis o f 1 Corinthians 1:10—2:5”, LingBib 65 [l99 l], 
p. 37-57) de que aqui Paulo está introduzindo uma longa seção parentética. Isso 
é deixar que a análise retórica interfira nas preocupações do próprio Paulo; é 
verdade que as “divisões” devem ser abordadas, mas para Paulo elas têm menos 
importância do que aquilo que o divisionismo delas está causando para o próprio 
evangelho e o que está dizendo sobre ele, o evangelho. O u seja, a resposta de 
Paulo é apresentada na ordem de prioridades maiores, e para ele as “divisões”, 
embora importantes por causa do que dizem teologicamente, são elas próprias 
secundárias em relação àquilo que para ele sempre é primário — o evangelho.
54 II. Resposta a informações recebidas
aqueles que têm o Espírito essa pregação anterior da cruz era sabedoria 
divina, visto que havia sido revelada como tal pelo Espírito; mas infeliz­
mente os coríntios, contrariando aquelas suas idéias a que davam mais 
valor, têm agido exatamente como aqueles que não têm o Espírito (3.1-4). 
Por sua vez, esse último parágrafo serve de transição para Paulo falar da 
compreensão totalmente equivocada deles sobre a natureza da igreja e o 
papel da liderança (3.5-17). Essa parte do argumento termina então (3.18- 
23) com ele proibindo-os de “se vangloriarem em meros seres humanos” 
e redirecionando cristologicamente a atenção deles. Para terminar (cap. 
4), Paulo finalmente trata do problema de eles o rejeitarem e lhes diz que 
não podem julgar o “servo” de outrem (v. 1-5). Então ataca o orgulho 
deles, opondo seu próprio ministério apostólico com sua teologia da cruz 
à falsa teologia deles que, antes de mais nada, permitiu que o julgassem 
(v. 6-13), e finalmente reafirma sua autoridade, mas faz isso mudando a 
imagem para a de um pai e seus filhos (v. 14-21).14
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo (1.10—4.21)
1. O problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria 
(1.10-17)
2.0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana (l. 18—2.5)
3. A sabedoria de Deus — revelada pelo Espírito (2.6-16)
4. Sobre ter o Espírito e estar dividido (3.1-4)
5. Corrigindo uma ideia falsa de igreja e ministério (3.5-17)
6. Conclusão do assunto: todos são de Cristo (3.18-23)
7. Os coríntios e seu apóstolo (4.1-21)
14Sobre o padrão A-B-A de argumentação nessa carta (aqui 1.18—2.5/2.6— 
3.4/3.5-23), veja a introdução, p. 17. Cf. comentário de 7.25-40; 8.1—10.22; 
12—14. Para uma interpretação diferente do quiasmo nestes capítulos, veja P. 
F. Ellis, “Salvation through the wisdom o f the Cross”, in: D. Durken, org., Siti, 
salvation, and the Spirit (Collegeville, 1979), p. 324-33.
1. O problema: divisão em torno de 
líderes por causa da sabedoria (1.10-17)
Na estrutura da carta e no presente argumento de Paulo, essa seção cumpre 
um propósito tríplice. Em primeiro lugar, introduz o corpo da carta.1 Em 
segundo, declara de uma forma bem específica a natureza do problema que 
será tratado primeiro e ainda a fonte da informação de Paulo a respeito. Em 
terceiro lugar e de muita importância para Paulo, o segundo parágrafo em 
particular (v. 13-17) apresenta uma apologética inicial, a qual ao mesmo 
tempo é um meio de fazer com que a atenção deles passe do problema de 
“divisões por causa de líderes” para a questão teológica maior subjacente à 
sua expressão visível: a natureza do evangelho em si. E tudo isso leva àquilo 
que, à primeira vista, parece ser um raciocínio bem tortuoso, mas que no final 
acaba sendo uma das passagens mais significativas de toda a Escritura cristã.
O problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria 
(1.10-17).
Exegese e exposição
10Eu lhes suplico, irmãos e irmãs, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que 
todos estejam de acordo uns com os outros naquilo que dizem e que não haja divisões2 
entre vocês, mas que estejam perfeitamente unidos em mente e pensamento. 11Meus 
irmãos e irmãs, alguns da casa de Cloé me informaram que existem brigas entre vocês. 
120 que quero dizer é isto: um de vocês diz: "Eu sigo Paulo” ; outro: “Eu sigo Apoio” ; 
outro: “Eu sigo Cefas” ;3 e ainda outro: “Eu sigo Cristo” .
13Por acaso Cristo está dividido?3 Foi Paulo crucificado por vocês? Vocês foram 
batizados para dentro dob nome de Paulo? 14Dou graças a Deus4 porque não batizei
1 Sobre esse assunto cf. esp. J. T. Sanders, “The transition from opening epistolary thanksgiving 
to body in the letters o fthe Pauline corpus”, JBL 81 (1962), p. 348-62; J. L. W hite, “Introduc- 
tory formulae in the body o f the Pauline letter”, JBL 90 (1971), p. 91-7; and C. J. Bjerkelund, 
Parakalõ: Form, Funktioti und Sinn der parakalo-Satze in den paulinischen Briefen (Oslo, 1967).
2P46 33 e uns outros poucos manuscritos trazem o singular aqui, o que se deve à perda de 
uma sílaba com a mesma terminação (cryÍCTpa/paxa).
3Por motivos de clareza e em conformidade com as perguntas que se seguem, P46 e uns outros 
poucos manuscritos acrescentaram a partícula negativa ptj no início da frase, assim assegurando 
que seja lida como pergunta — à espera de uma resposta negativa; cf. Metzger, p. 479.
4Não é fácil decidir se o texto de Paulo dizia, como a NIV original, “Sou grato” (X* B 6 1739 
coppt), ou como a nova NIV que segue o TMaj, “Dou graças a Deus”. Embora com o apoio 
apenas dos principais textos da tradição egípcia, o mais provável é que o texto sem t ü 0eõ) seja
56
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente econtra Paulo
ninguém de vocês, com exceção de Crispo e Gaio, 15de modo que ninguém pode dizer 
que vocês foram batizados em meu nome. 16(Ah! Batizei também a casa de Estéfanas; 
além destes, não me lembro se batizei mais alguém.) 1?Pois Cristo não me enviou para 
batizar, mas para pregar o evangelho — não com sabedoria e eloquência, para que a 
cruz de Cristo não seja esvaziada de seu poder.
alsto é, Pedro.
bpara dentro do. ou no; tb. no v. 15.
1.10
Com essa frase, Paulo faz uma transição imediata da ação de graças para o corpo 
da carta propriamente dito. Essa específica “fórmula de pedido”5 ocorre costu­
meiramente na Antiguidade tanto em cartas pessoais quanto em documentos 
mais oficiais.6 Paulo já havia usado a fórmula em ITessalonicenses (4.1,10; 5.14); 
ela tornará a aparecer mais duas vezes em ICoríntios (4.16; 16.16). O emprego 
do vocativo (“irmãos e irmãs”)7 e a expressão anexa legitimadora, regida por 
preposição (“em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”), indicam que, para Paulo, a 
frase pertence mais à categoria “oficial” do que à de fórmula de simples pedido.8 
Aqui Paulo está suplicando a eles com sua plena autoridade apostólica.
o original, pois com base no emprego usual de Paulo é fácil explicar o acréscimo (não há ne­
nhum outro exemplo do uso intransitivo do verbo evya.picrrcõ [10.30 é de natureza diferente]). 
Mas aqui a omissão poderia ter sido acidental, por causa dos repetidos Qs em uma escrita sem 
espaço entre as palavras (euyapiOTCOTCoSecú); por isso, a decisão não pode ser definitiva; cf. a 
discussão em Metzger, p. 479.
5Esta é a palavra que W hite emprega: “fórmulas”. N o entanto, parece não haver muita exa­
tidão ao incluí-la na mesma categoria de Filemom 8 ou dos exemplos de papiro que ele cita 
ou menciona. Nesse caso, ela se encaixa bem melhor nos documentos mais oficiais citados por 
Bjerkelund (veja a nota seguinte).
6Para uma análise completa dos dados, bem como do uso feito por Paulo, veja Bjerkelund, 
Parakalõ. Veja tb. K. Grayston, “A problem o f translation: the meaning o fparakaleõ, paraklêsis 
in the New Testament”, Scripture Bulletin 11 ( l980), p. 27-31.
70 vocativo àficArpoí ocorre mais vezes (2l) em ICoríntios do que em qualquer outra car­
ta, embora proporcionalmente apareça com mais frequência em ITessalonicenses (14 vezes) 
e 2Tessalonicenses (7 vezes). Ele ocorre 17 vezes em uma mudança dentro do argumento; 4 
vezes em conclusões (7.24; 11.33; 14.39; 15.58). Embora normalmente signifique “irmãos”, os 
dados dessa carta (11.2-16) e de Filipenses 4.1-3 deixam claro que as mulheres participavam dos 
cultos da comunidade e devem ter sido incluídas no grupo de “irmãos” a quem o vocativo se 
refere. A última passagem é particularmente reveladora, pois no versículo 1 Paulo usa o vocativo 
áôeXcpoí e então, logo na frase seguinte, se dirige diretamente a duas mulheres. Por isso, não é 
pedante, mas culturalmente correto e biblicamente preciso, a NIV e outras versões contempo­
râneas traduzirem esse vocativo por “irmãos e irmãs”. Veja tb. p. 28, nota 14.
8Veja a sugestão de C. J. Bjerkelund Parakalõ. Form, Funktion und Sinn der parakalo-Satze in 
den panlinischen Briefen (Oslo, 1967).
1. 0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria <#■ 1 Coríntios 1.10-17 57
Ainda assim, é “súplica” ou exortação, e não exigência — embora as circuns­
tâncias certamente pudessemjustificar esta última. O motivo disso não é somente 
que sua própria autoridade está sendo questionada, de modo que nesse contexto 
ele não ouse exigir. Pelo contrário, de uma perspectiva coerente em toda a carta, 
Paulo os exorta como “irmãos e irmãs” a conformarem seu comportamento ao 
evangelho, não como lei, mas como reação à graça que está em Cristo. Por isso, 
aqui a súplica é feita “em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. 2Ts 3.6). Essa 
expressão retoma a ênfase cristológica encontrada na ação de graças9 e, assim, 
serve de fundamento para a súplica. E possível que o uso da expressão “em nome 
de”10 prenuncie o argumento batismal que virá adiante (v. 13). Ou seja, os crentes 
de Corinto pertencem apenas a Cristo, uma vez que foram batizados tendo como 
referente o nome de Cristo, e não o de Paulo ou de um dos outros. Mas o mais 
provável é que esse emprego reflita o encontrado em uma carta anterior (2Ts 3.6), 
em que a autoridade do nome funciona como fundamento da súplica.
O conteúdo da súplica é expresso em termos tanto positivos quanto nega­
tivos. Na estrutura da frase de Paulo, o verbo “suplico” é seguido de uma única 
oração gramatical regida por “que”, a qual funciona como objeto do verbo, 
mas ao mesmo tempo se aproxima muito de uma oração subordinada final.11 
O “que” controla os três verbos seguintes, os quais alternam entre abordagens 
positiva e negativa do mesmo assunto. Dessa maneira,
Suplico que
A. todos vocês digam a mesma coisa,
B. isto é,12 que não haja divisões13 entre vocês,
A. pelo contrário,14 que estejam unidos na mesma mente e na mesma opinião.
Em termos positivos, Paulo insta à unidade mediante a tríplice repetição de 
“mesma” — que todos digam a mesma coisa e estejam “unidos” na mesma mente15
9De maneira bem parecida a como “misericórdia de Deus”, descrita minuciosamente em 
Romanos 1—11, se tom a o fundamento do apelo ético em 12.1. Veja Cranfield, ICC, 2:596.
“ Gr., 5 tá com o genitivo, que normalmente tem a ideia de “meio” ou “agente”, aqui se 
aproxima do sentido de “com base em ”.
“ Gr., iva. Para uma análise dessa expressão idiomática, veja Zerwick, BG, p. 406-8.
“ Gr., Kaí; acerca desse emprego, veja BDAG lc.
13Gr., a ^ ía p a ra ; nos textos paulinos, a palavra é encontrada apenas aqui e em 11.18 e 12.25. 
O contexto sugere que aqui a palavra tem um sentido mais próximo de dissensões do que de cisma.
14Aqui o gr., õé, tem, portanto, um sentido ligeiramente adversativo.
l5Gr., vouç, que aqui tem um sentido próximo de “disposição” (J. Behm, TD N T 4:958) ou 
“forma de pensar” (BDAG 2). Cf. 2.16, em que, em contraste com as pessoas do mundo, as 
quais não têm o Espírito, Paulo diz “mas nós temos o vouv Xptcrtou”, que nesse caso tem um 
sentido mais próximo da maneira concreta de Cristo pensar ou de seus planos.
58
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
e na mesma opinião.16 Embora as palavras “mente” e “opinião” (“pensamento”, 
NIV) deixem implícito que, conforme será expresso um tanto detalhadamente 
(1.18—3.23), no mínimo eles devam concordar quanto à natureza fundamental 
do evangelho, elas por outro lado não deixam implícito que na fé cristã a uni­
dade também requer uniformidade; o argumento, que aparecerá mais tarde (no 
cap. 12), a favor da necessidade de diversidade, para não mencionar o debate 
posterior de Paulo com os gálatas (Gl 2.1-10),17 descarta isso. O que, então, pode 
significar para ele a súplica para que todos tenham a mesma mente e opinião 
(“estejam de acordo uns com os outros naquilo que dizem”)?
A resposta está naquilo que ele diz negativamente, o que reflete a situação 
real em Corinto: “que não haja divisões entre vocês”. Embora da palavra grega 
traduzida por “divisões” (schismata) tenhamos a palavra “cisma”, na verdade ela 
não significa isso, pelo menos não no sentido de “partido” ou “facção”. O sen­
tido estrito da palavra é “rasgar/romper” (cf. Mc 2.2l) ou “arar” um campo. 
A melhor ilustração do presente uso encontra-se no Evangelho de João (7.40-43; 
9.16; 10.19-21), em que se diz que vários grupos têm diferentes opiniões sobre 
Jesus, significando com isso que estavam discutindo entre si quanto à relevân­
cia dele. De sorte que aqui Paulo não está se referindo a grupos ou “partidos” 
claramente formados, mas a opiniões divergentes sobre seus vários líderes, as 
quais, de acordo com duas frases (v. 11 e 3.3), levaram a ciúmes e brigas. Por 
isso, muito apropriadamente Paulo passa a exortá-los a que, ao invés disso, eles 
sejam “restaurados/entrelaçados” (“perfeitamente unidos”),18 a mesma palavra 
encontrada no Evangelhode Marcos para designar o “conserto/recuperação” 
das redes (l .19). A primeira vista, alguém talvez queira responder: “Você está 
falando sério, Paulo?”. Mas é difícil que essa reação tão improvável seja o que 
Paulo está procurando, a qual não tem relação com “conversas do dia a dia”, mas 
com a compreensão deles acerca da natureza do evangelho em si. Sobre esse 
assunto eles precisam ter “uma só mente”, mas claramente não têm.
1.11
Paulo passa agora a explicar-lhes como veio a saber das divisões entre eles: ele 
foi “informado” por “alguns da casa de Cloé”.19 Embora não se possa afirmar
l6Gr., yvcó(ir|; cf. 7.25 e 40.
17Quanto a essa posição sobre a datação de Gálatas, veja meu comentário dessa carta, p. 4.
l8Gr., KcrrapTÍÇco, “pôr em condições de uso; restaurar” (cf. Mc 1.19, sobre “consertar as redes”). 
A tradução “unidos” é encontrada em The centenary translation (Helen Barrett Montgomery).
*9Gr., Úttò tõv XXór|ç, lit., “por aqueles de Cloé”. Não dá para dizer se o texto quer dizer a 
“casa” dela ou seu “negócio”, embora aqui os dois pudessem ser a mesma coisa. Essas pessoas 
poderíam ser a família, escravos ou libertos; não há maneira de descobrir, embora o mais provável
1. 0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria <#■ 1 Coríntios 1.10-17 59
com certeza, é improvável que esses informantes fossem membros da comu­
nidade coríntia.20 Para representá-la, a igreja tinha enviado Estéfanas, Fortunato 
e Acaico (16.15-17) até Paulo, os quais, com quase toda a certeza, ao mesmo 
tempo também haviam lhe levado a carta da igreja. Caso as pessoas ligadas a 
Cloé tivessem sido membros em Corinto, é muito provável que estariam entre 
aqueles que “seguiam Paulo”. Contudo, Paulo não está nada satisfeito com esse 
slogan. Além do mais, os informantes de Paulo são citados aqui como testemunhas 
confiáveis. Caso tivessem sido “o grupo de Paulo”, dificilmente de Paulo teria 
interesse em citá-los como fonte segura de informação sobre a situação ali. Por 
isso, o mais provável é que Cloé fosse uma asiática rica — se era cristã ou não, é 
algo impossível de saber — cujos interesses comerciais faziam seus representantes 
viajar entre Éfeso e Corinto. Alguns deles haviam se tornado crentes e eram 
membros da igreja em Éfeso. Tendo estado em Corinto a negócios, visitaram a 
comunidade cristã ali e, ao voltarem a Éfeso, passaram para Paulo muitas infor­
mações sobre a situação real.21
O que informaram a Paulo é que “existem brigas22 entre vocês”. Vale ressaltar 
que Paulo precisou ser informado por gente de fora acerca dessas brigas. Isso 
parece corroborar o que foi sustentado na introdução (p. 7-8), a saber, que em 
si mesma a carta deles a Paulo não reflete tensões internas de uma comunidade 
dividida que estava lhe pedindo para arbitrar sobre várias questões em que 
tinham divergências. Na verdade, seria exatamente o oposto. A própria natureza 
de seus slogans assinalados a seguir (v. 12) — incluindo a existência daqueles que 
“seguem Paulo”, mas sem sua aprovação — sugere que uma comunidade assim 
dificilmente estaria lhe pedindo para arbitrar suas divergências internas. Em vez 
disso, a comunidade em geral (ou muitos dentro da comunidade) se posiciona 
contra seu apóstolo naquelas várias questões. O que se destaca é que Paulo agora 
foi informado da verdadeira condição da comunidade, o que provavelmente 
é bem diferente da informação que teria recebido pela carta, embora os três 
representantes oficiais que levaram a carta também pudessem ter lhe passado 
muitas informações. Pela carta ele deve ter tomado conhecimento de que eles
seja que tenham sido escravos ou libertos, visto que, conforme Theissen assinala, “membros 
da família teriam usado o nome do pai, mesmo que ele fosse falecido” (p. 57); cf. a análise 
adicional nas p. 102-3.
“ Theissen, p. 92-3, pensa diferente; mas seu raciocínio se baseia na pressuposição (prova­
velmente equivocada) de que Romanos 16 foi escrito para Éfeso e eles não são mencionados.
“ Esse ponto de vista foi defendido por Ramsay, p. 103-5. De tempos em tempos, tem sido 
adotado por outros (e.g., Héring). Barrett, p. 42, é mais cauteloso: “Eles haviam viajado entre 
Corinto e Éfeso, mas é possível que estivessem baseados em qualquer uma dessas cidades”.
“ Gr., sptç, uma palavra paulina no N T (3.3; 2Co 12.20; Gl 5.20; Rm 1.29; 13.13; Fp 1.15; 
lT m 6.4; T t 3.9), mais frequentemente encontrada em listas de vícios de vários tipos.
60
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
certamente não seguiriam suas instruções; o que ele provavelmente desconhecia 
até ser informado pelo pessoal de Cloé era a verdadeira natureza da oposição e 
parte do pensamento por trás dessa oposição. Isso será agora repetido para eles 
na explicação que se segue.23
1.12
A explicação que agora Paulo passa a desenvolver é um ponto crucial com respeito a 
como o leitor entenderá essa carta como um todo e, em especial, a situação histórica 
da igreja à qual Paulo escreve.24 Por isso, é importante determinar o que é possível 
saber com certeza (o que não é muito) com base naquilo que é explicitamente dito.
A formulação do próprio Paulo é (lit.): “que cada um de vocês diz”, o que 
é seguido de um quarteto de bordões: “Eu sou de Paulo; eu sou de Apoio; eu 
sou de Cefas; eu sou de Cristo”. Mas há bem menos certeza sobre quanto disso 
descreve a situação real em Corinto e quanto é reação retórica do próprio 
Paulo àquilo que soube por meio das informações recebidas; da mesma forma, 
é impossível para o leitor posterior ter segurança quanto ao alcance e à natu­
reza desses slogans dentro da própria igreja. Por um lado, se isso reflete bastante 
criatividade por parte de Paulo, parece improvável que viessem a dar ouvidos a 
ele; por outro lado, dada a natureza da retórica em si, não é possível ter certeza 
se esses nomes representam “grupos” reais que competem entre si dentro da 
própria comunidade crente e, em caso afirmativo, até que ponto isso acontece. 
De todo modo, é difícil imaginar que, na tentativa de “consertar” o problema, a 
retórica do próprio Paulo fosse muito eficaz se não chegasse relativamente perto 
da situação real na igreja. É muito provável que esses slogans sejam a maneira 
de o próprio Paulo abordar o problema; e, além do mais, parece improvável que 
Paulo conseguisse ser ouvido de alguma forma, caso as divergências deles não 
estivessem sendo causadas por favoritismo por seus vários líderes — embora seja
23A expressão que inicia o versículo 12, Àiycn 51 toÜto o t i, é corretamente traduzida pela NIV 
(cf. Barrett, Conzelmann) por “o que quero dizer é isto”, e não como pela RV, “agora digo isto”.
24Antes de qualquer ouatra coisa, podemos descartar uma interpretação muito antiga que 
remonta a Crisóstomo e que foi defendida por F. Field, Notes on the tramlation of the New 
Testament (Cambridge, 1899), p. 169-70 (cf. Lias, p. 51). Com base em uma interpretação 
peculiar do verbo pexeCTyrípcxTiaa em 4.6 (q.v.), essa interpretação sugere que em 1.12 Paulo 
substituiu os nomes dos verdadeiros protagonistas (membros da igreja em Corinto) pelo seu 
próprio nome e pelos de Apoio e Cefas como ficção justificável a fim de evitar que as repreen­
sões do apóstolo assumissem uma forma pessoal. Assim, em 4.6 ele quis dizer: “Falei a verdade 
de forma dissimulada, usando o meu nome e o de Apoio etc.”. Mas isso é dar demasiado peso 
a uma interpretação peculiar e desnecessária de uma única palavra, interpretação essa que vai 
totalmente contra todo o argumento. Afinal, dificilmente as declarações claras em 3.5-9 sobre 
o ministério dele e de Apoio estão “dissimuladas”.
1 .0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria <#■ 1 Coríntios 1.10-17 61
totalmente improvável que os próprios líderes estivessem participando disso. Isto 
obviamente vale para Paulo e Cristo; os indícios no final da carta (16.12) deixam 
claro que Paulo não pensava que Apoio tivesse alguma culpa. Quanto a Pedro 
e ao fatode ter (ou não) estado em Corinto, é impossível ter certeza a respeito.
Mas a natureza exata dessa briga e a forma que assumiu na comunidade são 
questões sobre as quais a literatura técnica se manifesta com muito mais certeza 
do que na verdade está dito clara e explicitamente no texto. Paulo afirma que 
“cada um de vocês está dizendo”, com o que ele provavelmente não quer dizer 
que todos estão envolvidos no uso desses slogans, mas que em grande medida a 
igreja toda tem sido afetada por isso. Os slogans dizem literalmente “Eu sou de 
(Paulo)”, o que significa algo como “Estou muito ligado a Paulo”, ou, como a 
NIV diz, “Eu sigo Paulo”. Mas de que forma e por qual motivo? Aqui resta-nos 
tentar responder por adivinhação.
Ademais, o quanto do restante da carta deve ser lido à luz dessa retórica é igual­
mente especulação. Não é difícil imaginarmos como qualquer um desses aspectos 
pode influenciar nossa compreensão de qualquer ponto específico do restante da 
carta. Mas nesse caso parece bem melhor errar por precaução, visto que a partir 
daqui não há quase nada expressamente ligado à retórica dessas poucas frases.
Paulo começa com aqueles que afirmam que ele é o mestre de sabedoria 
deles. Será que esses fazem parte de um grupo leal que ficou ao lado dele apesar 
da oposição? Ou será que estão usando o nome dele como slogan, mas sem o 
conhecimento de Paulo e talvez sem mesmo entender plenamente a posição 
dele? Simplesmente não sabemos. Sabemos com certeza, com base tanto na 
retórica imediatamente seguinte (v. 13) quanto na súplica mais intencional que 
vem mais tarde (3.4-9), que ele não está nada satisfeito em ter seu nome usado 
dessa forma. De todo modo, conforme assinalado por Barrett, a própria exis­
tência daqueles que se identificam com Paulo “por si só já implica oposição a 
Paulo em Corinto”.25 Esse é um detalhe especialmente importante, pois, embora 
comece a resposta com um ataque à distorção do evangelho e da igreja, distorção 
que é revelada por essas brigas, ele conclui o argumento com uma defesa de seu 
apostolado e de sua autoridade sobre eles (4.1-21).
Quanto à natureza dos outros slogans, nossas melhores conjecturas se 
baseiam na referência a Apoio.26 Ele é o mestre que sem dúvida sucedeu a Paulo
25Barrett, p. 43.
26Cf. a análise em Hurd, p. 97-9. Por causa da informação em Atos e à repetida menção a 
ele nesses capítulos, tem sido natural — e tradicional — adotar essa posição. Veja, por exemplo, 
a reconstrução considerável e às vezes especulativa feita por J. H. A. Hart, “Apollos”, JTS 7 
(1906), p. 16-28, esp. p. 22-8. Mas nem todos têm procedido assim. T. W. Manson, por exem­
plo, rejeitava totalmente que Apoio tivesse alguma relevância; veja “St. Paul in Ephesus: (3) the 
Corinthian correspondence”, BJRL 26 (1941), p. 101-20 (reimpr. in: Studies in the gospels and 
episdes [Manchester, 1962], p. 190-209).
62
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
em Corinto (veja At 18.24-28). Além disso, é a ele que Paulo repetidamente se 
refere em sua própria resposta (3.4-9,22; 4.6). Aliás, a maneira mais natural de 
entender a última frase (4.6) é que para todos os efeitos Paulo limitou a questão 
em pauta (caps. 1—4) a si mesmo e a Apoio e que os coríntios estão “cheios 
de orgulho” por um (Apoio) contra o outro (Paulo). De acordo com o relato 
de Lucas (At 18.24), Apoio era “um homem culto [ou eloquente]27 com um 
conhecimento profundo das Escrituras”, cuja própria compreensão defeituosa 
da fé cristã havia sido corrigida por Priscila e Aquila, dois dos companheiros 
de Paulo. Mais adiante (3.5-9), o próprio Paulo reconhece que a obra de Apoio 
não competia com sua própria obra, mas que na verdade “regava” aquilo que 
Paulo havia “semeado”. Como, então, alguns dentro da comunidade viam isso de 
forma diferente? Muito provavelmente, os contrastes na terceira parte da resposta 
seguinte (2.1-5) se encaixam aqui, bem como a ênfase dada pela comunidade 
à sophia (sabedoria). Não é tanto o caso de que o próprio Apoio defendesse 
entender o evangelho como sabedoria — embora isso não possa ser descartado, 
tendo em vista que ele procedia de Alexandria, onde residia seu contemporâneo, 
o judeu platônico Filo —, mas que os coríntios haviam ficado fascinados com 
a sophia e consideravam que Apoio era a pessoa mais identificada com sua nova 
compreensão do evangelho. Esse é especialmente o caso se o amor deles pela 
sabedoria incluía um fascínio pelos valores da tradição filosófica e retórica grega 
(veja comentário de 2.1-5).
A presença de Pedro28 em Corinto é menos certa.29 O dado mais provável 
a favor disso é uma referência posterior a Pedro (9.5), em que se pressupõe que 
os coríntios sabiam que ele levava a esposa em suas viagens. Isso faria muito 
sentido caso ele tenha visitado Corinto, embora as várias igrejas provavelmente 
soubessem o suficiente sobre os primeiros apóstolos, de modo que não dá para 
ter certeza a respeito.30 Mas o que é mais importante é a questão de sua influência 
ter sido ou não tão grande em Corinto a ponto de ter sido criado um “partido de 
Cefas”. Nesse caso, todos os indícios de 1 Coríntios parecem depor contra isso.
270 gr. Xóytoç pode significar tanto “educado” quanto “eloquente”. Todas as versões mais 
antigas preferiram “eloquente”, provavelmente com base em sua compreensão de 1 Coríntios. 
Isso pode estar totalmente correto, mas é impossível ter certeza.
28Em geral, Paulo se refere a ele pelo seu nome aramaico Krypãç (cf. 3.22; 9.5; 15.5; Gl 1.18; 
2.9,11,14), embora Gálatas 2.7,8 mostre claramente que para ele as formas grega e aramaica 
eram intercambiáveis, como provavelmente eram em todas as igrejas.
29Acerca do debate sobre essa questão, veja O. Cullmann, Peter (Philadelphia, 1953), p. 53-4 
(esp. sua nota 55).
3°Sobre a questão de até que ponto os apóstolos podem ter sido conhecidos nas primeiras 
igrejas, veja I. Jervell, “The problem o f traditions in Acts”, in: Luke and the people of God (TI, 
Minneapolis, 1972), p. 19-39.
1. 0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria <#• 1 Coríntios 1.10-17 63
Independentemente do que alguns quisessem dizer com a expressão “Eu sigo 
Cefas”, isso não havia provocado divisões teológicas na igreja.31 Apesar da opinião 
de muitos, não há nada em 1 Coríntios32 que explicitamente sugira uma facção 
judaizante na igreja;33 e na única questão que poderia apontar para isso, a saber, 
a de comida sacrificada aos ídolos (caps. 8—10), Paulo diz explicitamente que 
aqueles que estão “contaminados” pelos “gnósticos” de Corinto são pessoas 
que anteriormente estavam habituadas aos ídolos (8.7) e, portanto, está claro 
que são gentios. Isto não quer dizer que Pedro não tinha deixado sua marca em 
alguns da igreja, mas não parece ter sido uma marca teológica indelével ou visível. 
O mais provável é que aqui haja um fator de lealdade pessoal, envolvendo alguns 
que haviam sido convertidos e batizados em seu ministério,34 ou talvez a questão 
esteja relacionada com o apostolado de Paulo em comparação com o de Pedro.35
O mais difícil de todos os slogans é “Eu sigo Cristo”. As dificuldades decor­
rem de vários fatores: (l) o próprio fato de colocar o nome de Cristo lado a 
lado com o de líderes meramente humanos, (2) a probabilidade de que todos os 
grupos igualmente acreditassem estar seguindo a Cristo, (3) o fato de que isso é 
com certeza o que Paulo queria que todos fizessem, (4) a inexistência de qualquer 
outra alusão explícita a esse grupo e (5) o fato de que cada uma das perguntas
31F. C. Baur vislumbrava tais divisões, assim como o fizeram muitos que o seguiram. Veja sua 
obra Paul (TI, London, 1873), p. 268-320. Baur reduziu os quatro grupos a dois: um partido de 
Paulo-Apolo que enfrentava a oposição de um partido judaizante de Pedro-Cristo. Desde então, 
a influência de um grupo judaizante sob a liderança de Pedro tem sido uma posição comumente 
mantida. Para defesas mais recentes da ideia, veja Manson, “Corinthiancorrespondence”; C. 
K. Barrett, “Cephas and Corinth”, in: Abraham unser Vater, Festschrift für Otto Michel (Leiden, 
1963), p. 1-12; e P. Vielhauer, “Paulus und die Kephaspartei in Korinth”, N T S 21 (1974-1975), 
p. 341-52. Com um aos três últimos estudos é a ideia de que o “partido de Pedro” representa a 
maior ameaça à comunidade e de que há alusões veladas a ele em omissões intencionais em 3.1-9 
e 4.6 e na referência à pessoa que estava lançando outro alicerce, em 3.11. Para uma refutação 
dessa ideia, veja a análise desses versículos (cf. o excurso em Fascher, p. 34-7).
3íPor isso, não é por acaso que muitos dos estudiosos que têm defendido essa posição comecem 
sua investigação com 2Coríntios 10—13. Veja, e.g., W L. Knox, Paul and the church ofjerusalem 
(Cambridge, 1939), p. 311, 320-2; e H .J. Schoeps, Paul (TI, Philadelphia, 1961), p. 78-82. Veja 
ainda a análise de Hurd, p. 99-101.
33Cf. a opinião de Dahl (“Paul”, p. 315), que, depois de reexaminar várias posições acadêmicas, 
conclui: “Há uma ampla [...] concordância de que em ICoríntios Paulo não está combatendo 
judaizantes”.
34Bachmann, p. 67, acredita que Pedro não havia estado em Corinto, mas que, vindos do 
Oriente, alguns de seus convertidos haviam se mudado para Corinto. É claro que não se pode 
descartar essa possibilidade.
35M. E. Goulder tentou ressuscitar (mas sem sucesso evidente) a batida tese de F. C. Baur de 
que a única questão de verdade era entre Paulo e Pedro e que a menção a “Apoio” é uma espécie 
de ataque disfarçado a um cristão judeu que tinha vindo a Corinto para sabotar o evangelho 
de Paulo (veja “Sophia in 1 Corinthians”, N TS 37 [1991], p. 516-34).
64
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
retóricas do versículo 13, cujo propósito era mostrar o absurdo de brigarem 
dessa maneira, poderia ser respondida de forma favorável por esse grupo. O 
fato de não termos informação segura permitiu que as conjecturas acerca desse 
grupo fossem as mais variadas:36 negar totalmente a existência de tal grupo;37 
interpretá-lo como a posição do próprio Paulo em oposição à deles;38 aplicar ao 
grupo aquilo que outros aplicam a Apoio; vê-lo como formado por extremistas 
judeus;39 vê-lo como gnósticos que amaldiçoam Jesus (12.3), mas declaram que 
Cristo é o verdadeiro “Homem Espiritual”;40 vê-lo como entusiastas, os pneuma- 
tikoi de Corinto, que têm uma cristologia elevada que evita a cruz.41
O que, então, se pode dizer de tudo isso? A gramática da passagem parece 
deixar claro que de fato havia crentes coríntios dizendo tal coisa.43 Mas, fora isso, 
tudo o mais é especulação, incluindo a sugestão de que esse era um grupo com 
uma teologia identificável.43 Se fosse esse o caso, a posição de Conzelmann seria 
particularmente atraente, mas parece que a confiança de Conzelmann nisso vai 
muito além do que os dados permitem. No fim das contas, a posição popular­
mente mais aceita talvez ainda seja a melhor: aqui estão algumas pessoas que não 
formam um grupo à parte, mas que, em sua própria tentativa de se colocar acima
36Veja o sumário em Alio, p. 9-10, e seu Excurso 4:80-87; cf. a análise em Hurd, p. 101-6. 
Para um levantamento mais recente, em especial de material acadêmico em língua alemã, veja 
Fascher, p. 90-2.
37Hurd tende a favorecer essa posição, esp. pelo quinto motivo.
38O u seja, “Cada um de vocês diz: ‘Eu sou de Paulo etc.’, mas eu mesmo sou de Cristo”. Veja, 
e.g., K. Lake, The earlier epistles of Paul: their motive and origin, 2. ed. (London, 1914), p. 127.
39Veja o grande número de opções alistadas por Alio, p. 80-7. Em geral, tem-se defendido que 
esse é um grupo procedente de Tiago e que os moderados seriam, portanto, o partido de Pedro. 
Defensores recentes incluem S. G. F. Brandon, Thefali ofjerusalem and the Christian church (Lon­
don, 1957), p. 140; e W O . Fitch, “Paul, Apollos, Cephas, Christ”, Theology 74 (1971), p. 18-24.
40Uma ideia apresentada pela primeira vez por W Lütgert (Freiheitspredigt und Schwarmgeister 
in Korinth [Gütersloh, 1908]). Em anos recentes, ela tem sido vigorosamente defendida por 
Schmithals em sua obra Gnosticism in Corinth.
41Veja especialmente o Excurso de Conzelmann, p. 33-4. Cf. Moffatt, p. 10, e M urphy- 
- 0 ’Connor, p. 11-2, entre outros.
42Apesar de a tradução de Lake ser convidativa (nota 38 acima), há contra ela o fato de que 
a sequência de palavras pév, Si, Sé, Sé indica claramente uma lista, não havendo nenhum sinal 
de interrupção no quarto ponto, para não mencionar que a primeira pergunta do versículo 13 
parece supor que o quarto slogan é um dos slogans deles (veja abaixo).
43As palavras “Se alguém está confiante que pertence a Cristo”, em 2Coríntios 10.7, são fre­
quentemente vistas como prova adicional da existência desse partido e de que ele continuava 
sendo o verdadeiro problema na igreja; mas parece que essa interpretação não percebe a ideia 
central da passagem de 2Coríntios. Nessa passagem, alguns forasteiros (“superapóstolos”) estão 
afirmando ser servos de Cristo (l 1.23), e Paulo está simplesmente respondendo à afirmação deles, 
argumentando que ele também pertence a Cristo. C f Dahl, “Paul”, p. 323; e V P. Fumish, II 
Corinthians (AB 32A; Garden City, 1984), p. 476.
1 .0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria <#■ 1 Coríntios 1.10-17 65
dos demais — os que se vangloriavam de simples homens —, acabaram incorrendo 
em sua própria expressão de elitismo espiritual que os toma iguais aos outros.
Mas será que esses slogans representam “partidos” reais dentro da comuni­
dade? E provável que não, visto que não há nenhuma indicação disso em todo 
esse argumento (caps. 1—4) ou no restante da carta.44 Como Munck observou 
com perspicácia: “No fundo é apenas contra a palavra ‘eu’, nas frases ‘eu pertenço 
a Paulo’ etc., que ele argumenta”.45 Conforme Munck ainda sugere, a igreja toda 
caiu vítima de uma paixão pelo debate, em que os vários membros se exaltam 
(“vangloriam-se”) supondo que sua sabedoria veio de um de seus renomados 
líderes, de alguém próximo ou bem conhecido deles, ou em alguns casos até 
mesmo do próprio Cristo. Essa solução é a que faz mais sentido no argumento 
que segue,46 incluindo a rejeição por Paulo, no bombardeio verbal seguinte 
(v. 13-17), daqueles que estão usando seu nome dessa maneira.47
1.13
Paulo está chocado com o que soube pelo pessoal de Cloé; e, em circunstâncias 
assim, ele com frequência recorre à retórica, que tem o propósito de ajudar 
seus leitores/ouvintes a verem o total absurdo da posição deles.48 Apesar de 
haver algum debate acerca do significado da primeira pergunta, a ideia dessas 
perguntas é clara. Em cada caso, elas são a consequência lógica de seus slogans; 
no entanto, em cada caso a pergunta também exige uma resposta negativa bem 
firme por parte dos coríntios.49
44Conzelmann, p. 34, tem outra opinião. Ele defende que não se pode “ignorar o problema 
dos grupos, como se fosse uma questão de meras disputas inofensivas. A energia que Paulo 
despende nisso é grande demais para tal enfoque”. N o entanto, não defendo que essas sejam 
“disputas inofensivas”. Conforme assinalado anteriormente (p. 52-3), elas refletem um sério erro 
de compreensão acerca do evangelho em si, bem como acerca da igreja e de seus líderes; daí a 
energia despendida, pois para Paulo tudo o mais está subordinado ao evangelho.
45Paul, p. 150.
46Cf. as alternativas propostas por Dahl (“Paul”, p. 322-5) e Theissen, p. 99-110, a essa solução. 
Dahl sugere que a divisão surgiu em torno da questão de deverem ou não escrever a Paulo, pois, 
conforme alguns disseram (4.18), ele tinha prometido voltar, mas não o fez. Estavam defenden­
do, portanto, que deviam contatar um dos seus outros mestres. Theissen sugere que a divisão 
é realmente entre alguns convertidos abastados, que haviam “recepcionado” os vários líderes 
enquanto estes estavam em Corinto e que, por causa da posição social, exerciam influência 
considerável sobre outros queeram de classes mais baixas.
47Cf. 4.15, em que seus “incontáveis guias” incluiriam os próprios coríntios, que estão procu­
rando dar continuidade ao trabalho de Paulo, cada um à sua maneira (cf. Munck, Paul, p. 152).
48Esse é um recurso frequente em ICoríntios. Veja, e.g., 4.7; 6.1-5; 10.22; 14.36 etc.
49R. W Funk, Language, hermeneutic, and Word of God (New York, 1966), p. 161-2, sugeriu 
que as três perguntas e o restante de 1.15—4.21 constituem uma forma de quiasmo, sendo elas
66
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
A primeira pergunta também apresenta nossa primeira dificuldade. Embora 
possa ser lida como uma exclamação, “Cristo está dividido!”,50 parece mais pro­
vável que seja uma pergunta retórica que inicia a série.51 Mas qual poderia ser seu 
significado? Na maioria das vezes, o verbo é traduzido na forma passiva (NIV 
“Cristo está dividido?”), em que Cristo é metonímia para a igreja (como em 
12.12). Dessa maneira, com suas divisões eles estão dividindo o próprio Cristo. 
A dificuldade com essa posição é como é que ela poderia ter sido a pergunta 
natural diante do quarto slogan, especialmente porque favoreceria esse grupo 
(“E claro que Cristo não está dividido” — eles responderiam. — “Nós o estamos 
seguindo.”). A alternativa é atribuir ao verbo seu sentido mais natural — “distri­
buir” ou “separar em partes constituintes”. Nesse caso, a implicação não é tanto 
que Cristo está sendo dividido em partes e distribuído, mas que foi distribuído 
como apenas um entre muitos outros. Assim, em resposta ao último slogan, 
Paulo está perguntando: “Que absurdo! Será que é possível tornar Cristo uma 
simples parte assim como os outros?”; ou: “Vocês querem dizer que Cristo foi 
distribuído de modo que apenas um grupo o tem?”.
As perguntas seguintes atacam o absurdo dos slogans deles, que usam o nome 
de simples seres humanos. Ao distribuir Cristo como um entre outros e ao dizer 
“Eu sou de Paulo etc.”, então eles têm de admitir que também Paulo poderia ter 
sido crucificado por eles ou que eles tivessem sido batizados “para dentro do” nome 
de Paulo. E aqui também estaria a importância do uso regular da preposição “para 
dentro de” nessa fórmula no NT. Ou seja, ao que parece, esses primeiros crentes 
não pensavam em si mesmos como simplesmente batizados em nome de Jesus, 
com seu nome sendo usado “sobre eles” como, por assim dizer, uma espécie de 
identificador. Em vez disso, esse rito tinha o significado de entrar em uma relação 
duradoura com aquele “‘para dentro de’ cujo” nome haviam sido batizados. Apenas 
pressupondo que Paulo empregou a expressão com esse sentido é que a pergunta 
transmite a ênfase pretendida por esta dupla pergunta: “crucificado em favor de” 
e “batizados para dentro do nome de”. E claro que essas duas perguntas são um 
argumento reductio ad ahsurdum e destinam-se a derrubar os slogans deles. De 
forma astuta, ele escolhe usar o próprio nome para insistir com seu raciocínio;
respondidas na ordem inversa: 1.14-16 responde à terceira pergunta; 1.18—2.16, à segunda; 
3.1—4.21, à terceira. Isso parece duvidoso, especialmente porque 1.18—2.16 dificilmente responde 
à pergunta “Foi Paulo crucificado por vocês?”.
50Umas poucas versões traduzem assim: “Cristo foi dividido em grupos” (GNB); “E então, 
na prática, vocês quebraram Cristo em muitos pedaços” (LB); “Vocês rasgaram o Cristo em 
pedaços!” (TCNT).
510 mais antigo manuscrito de ICoríntios (P46) entende dessa maneira, acrescentando então 
a partícula negativa pf|. Veja p. 55, nota 3.
1. 0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria <#• 1 Coríntios 1.10-17 67
por implicação, o que ele diz é válido obviamente também para Apoio e Pedro. 
Mas, por meio da pergunta final sobre o batismo, ele também consegue fazer a 
transição para sua apologética do evangelho e seu papel na proclamação.
O que é menos evidente é a importância que se deve dar à pergunta sobre 
o batismo. A crucificação de Jesus e o batismo do crente são idéias que parecem 
fluir juntas naturalmente em Paulo (e.g., Rm 6.2,3; Cl 2.12-15). Contudo, ao 
contrário do que alguns têm feito, não se deve dar demasiada importância à 
colocação aqui e sugerir que pelo batismo a pessoa se apropriou da obra da cruz.52 
Não somente é estranho isso aos propósitos de Paulo, mas também o restante do 
parágrafo se opõe firmemente a tal. E provável que o motivo para essa pergunta 
de Paulo decorra dos slogans deles. Ser batizado “para dentro do nome de” alguém 
significa que o batizando transferiu sua lealdade, entregou-se, àquele para dentro 
de cujo nome foi batizado — em que o nome tem o significado maior de tudo o 
que está associado com a pessoa que leva aquele nome — e dessa maneira entrou 
em um relacionamento duradouro com esse alguém.53 Em todo caso, os slogans 
dos coríntios deixam implícita tal compreensão. Mas, visto que não foram bati­
zados “para dentro do” nome de Paulo, por isso mesmo não podem dizer “Eu 
sou de Paulo”. Também parece provável, com base naquilo que Paulo diz em 
dois momentos posteriores (10.1-6 e 15.29), que os próprios coríntios tinham 
uma ideia um tanto “mágica” do batismo. Com tal ideia, é possível que também 
tivessem em alta consideração aqueles que os haviam batizado. Daí também a 
capacidade de dizerem: “Eu sou de Apoio” etc. Assim, no restante do parágrafo 
Paulo os persuade da irrelevância de quem realiza o batismo e, ao mesmo tempo, 
coloca na perspectiva correta esse rito de iniciação em que alguém com fé res­
pondeu de forma positiva ao evangelho e assim se entregou totalmente a Cristo.54
52Veja, entre outros, O. Cullmann, Baptism in the New Testament (TI, London, 1950), que 
afirma com bastante ousadia: “em ICoríntios 1.13 [...] o batismo é claramente concebido como 
participação na cruz de Cristo [...] Aqui as duas expressões ‘vocês foram batizados’ e ‘[outro] foi 
crucificado por vocês’ são tratadas como sinônimas” (p. 15; grifo meu). Parece que essa afirmação 
não entende o que Paulo quer dizer e força demais as evidências. Paulo não apenas trata as duas 
questões separadamente (batismo, v. 14-16; a pregação da cruz, v. 17-25), mas no final (v. 17) 
os separa deliberadamente como dois acontecimentos diferentes. J. D. G. D unn faz uma análise 
acertada: “Conquanto a associação entre as duas perguntas no versículo 13 seja significativa, 
qualquer ligação entre o evento da cruz e o do batismo precisa se basear em terreno mais firme 
do que o oferecido por 1.13” (Baptism in the Holy Spirit [London, 1970], p. 118).
53Veja a análise em D unn, Baptism, p. 117.
54Parece de todo provável, especialmente com base em Atos 2.38; 8.16; 10.48 (talvez; veja 
p. 304, nota 93); e 19.5 (cf. Rm 6.3), que a igreja primitiva batizava somente em nome de Jesus, 
e não com a fórmula trinitária de Mateus 28.19. Esse texto poderia reforçar aquelas provas; no 
entanto, é preciso ter cuidado aqui, pois, visto que é tão óbvio que a preocupação do texto é 
de outra natureza, não se pode ter certeza de que ele reflita corretamente a fórmula exata do 
batismo cristão. Ela no mínimo incluía o nome do Senhor Jesus.
68
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
1. 14,15
Neste trecho que segue, Paulo não está tentando elaborar uma teologia do 
batismo e também não está negando o batismo na prática. Na verdade, tendo 
acabado de mencionar o absurdo — que alguém fosse batizado “para dentro do” 
nome dele —, ele passa a dizer o quão grato é a Deus55 por um fato histórico 
simples e não intencional, a saber, que ele batizou tão poucos. “Ao menos isso”, 
ele diz, “está a meu favor”, para que aqueles que foram batizados por ele não se 
voltem e digam o próprio absurdo da repreensão anterior (v. 13), a saber, que 
haviam sido batizados nele — e assim formem uma espécie de seita em seu nome. 
Será que Paulo está ressabiado aqui, como se a essa altura já esperasse qualquer 
coisa dos crentes de Corinto? Talvez, mas também é possível,conforme sugere 
a frase seguinte (v. 17), que ele realmente sentisse necessidade de colocar o rito 
na perspectiva correta, pelo menos em relação à proclamação do evangelho.
Não há dúvida de que as duas exceções mencionadas estão relacionadas com 
o fato de que ambos se converteram bem no início da evangelização na cidade.56 
Com quase toda a certeza, “Crispo” é o chefe da sinagoga judaica mencionado 
por Lucas com esse nome (At 18.8).57 “Gaio” deve ser identificado, muito pro­
vavelmente, com o “Gaio, hospedeiro meu e de toda a igreja”, mencionado no 
final de Romanos (16.23), visto que, ao que tudo indica, Paulo estava em Corinto 
quando escreveu a carta para Roma.5s Isso significa que Gaio dificilmente se encaixa 
na descrição da maioria dos crentes feita um pouco adiante (1.26-29). O fato de 
que hospedava a igreja mostra que ele era um homem de posses;59 provavelmente 
também significa que pertencia àquela classe de libertos romanos que haviam 
chegado a Corinto e “bombaram” nos empreendimentos comerciais da cidade.60
S5Sobre esse uso de “Dou graças a Deus”, veja tb. 14.18.
56Isso é ainda reforçado pela menção a Estéfanas no versículo 16, pois Paulo se refere explici­
tamente a ele e à sua família como os “primeiros convertidos na Acaia” (16.15).
S7R. G. Fellows levantou a hipótese interessante, mas no final das contas improvável, de que 
Crispo é a forma latina do nome Sóstenes, o coautor com Paulo mencionado no versículo 1 
(“Renaming in Paul’s churches: the case o f Crispus-Sosthenes revisited”, TytiB 56 [2005], 
p. 111-30). A evidência a favor dessa ideia é o fato de que esses dois nomes são usados para se 
referir ao líder da sinagoga de Corinto mencionado em Atos 18.8 e 17, o que muitos pensam 
que é resultado de Lucas alternar entre as versões grega e latina de seu nome.
58Essa é a posição tradicional, baseada no fato de que a coleta que era esperada para a terceira 
visita de Paulo a Corinto (2Co 8 e 9) agora havia sido recebida da Acaia (Rm 15.26). Quanto 
à ideia de o capítulo 16 ter sido escrito para Roma, veja H. Gamble, The textual history of the 
Letter to the Romans (Grand Rapids, 1977).
S9Sobre todo esse assunto e sua relevância para várias questões na carta, veja Theissen, p. 69-119, 
que defende persuasivamente que Crispo e Estéfanas também vinham das classes mais altas.
6oBruce, p. 34, assinala a sugestão de que é possível identificá-lo com Tício Justo, o homem 
temente a Deus mencionado em Atos 18.7, cuja casa ficava ao lado da sinagoga e foi lá que a
1. 0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria 1 Coríntios 1.10-17 69
1.16
E então Paulo se lembra — ou sua memória foi estimulada pelo próprio Estéfa- 
nas (cf. 16.15-17): “Ah, sim!” — ele mesmo se interrompe — “Batizei também 
a casa de Estéfanas”,61 uma intercalação que mostra como essa carta é de fato 
circunstancial, e isso é acertadamente posto entre parênteses na NIV Assim, 
com a memória já tendo sido provocada uma vez e como que para se precaver 
(para não acontecer de mais tarde ser traído pela memória e se lembrar de algo 
que para ele não era tão importante quanto o era para os coríntios), acrescenta: 
“além destes, não me lembro62 se batizei mais alguém”. Não há mais nenhuma 
informação a respeito de Estéfanas, exceto que ficamos sabendo no final da carta 
(16.15-17) que ele e a família foram os primeiros convertidos na província e 
que ele era, obviamente, um líder na igreja. A linguagem naquele elogio (16.16) 
sugere que Paulo ainda aprova a liderança dele, o que torna especialmente difícil 
avaliar o papel dele, se é que houve, nas dissensões.
1.17
Com a digressão sobre Estéfanas, o argumento começou a se desviar levemente, 
de modo que com essa frase Paulo retoma seu raciocínio. O “pois” que começa
igreja passou a se reunir depois de expulsa da sinagoga. Nesse caso, seu nome completo romano 
teria sido Gaio Tício Justo. E uma proposta atraente e plausível, à luz do fato de que com quase 
toda a certeza ele foi um dos primeiros convertidos na cidade.
6lEmbora seja bastante irrelevante para o assunto tratado por Paulo, tem-se gastado muita 
tinta para examinar o uso paulino de oucoç aqui (cf. 16.15, em que se usa oÍKÍa), se esse batismo 
também incluía bebês e crianças pequenas. Boa parte do debate mais recente tem girado em 
tom o de os termos oiKoç/oiKia (ambos traduzidos por “casa” na NIV) terem ou não incluído 
criancinhas em outras fontes. A. Strobel (“Der Begriff des ‘Hauses’ im griechischen und rõ- 
mischen Privatrecht”, Z N W 56 [1965], p. 91-100) mostrou que oiKÍa seria um termo mais 
abrangente que com frequência incluiría escravos, enquanto oIkoç era usado em um sentido 
mais restrito para designar aqueles que possuíam direitos legais dentro da família, dessa forma 
excluindo escravos e geralmente crianças pequenas. Mas até ele admite que esses dados não são 
conclusivos; e Theissen, p. 83-7, ressaltou que os termos são mais equivalentes do que Strobel 
admite. Em resumo, entre os estudiosos do N T é quase universal a avaliação de que não é pos­
sível usar essas “referências formulares a casa” para decidir o que a Bíblia diz sobre o batismo 
infantil. Essa avaliação é feita por estudiosos dos dois lados do debate. Veja, e.g., G. Delling, 
"Zur Taufe von ‘Hãusern’ im Urchristentum”, NovT 7 (1965), p. 285-311, o qual baseia a prá­
tica exclusivamente na eficácia da graça de Deus conforme é oferecida em Cristo. A notável 
exceção é j. Jeremias, Infatit baptism in thefirstfour centuries (TI, London, 1960), e The origins of 
infant baptism: afurther study in reply to Kurt Aland (TI, Naperville, 1962). O título do estudo de 
Aland foi Did the early church baptize infants? (TI, Philadelphia, 1963). Sobre toda essa questão, 
tanto no aspecto histórico quanto no bíblico, veja o cap. 6 em G. R. Beasley-Murray, Baptism 
in the New Testament (London, 1963).
62Gr., oiôa, “conhecer”, no sentido de “lembrar-se”; cf. 16.15.
70
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
a frase se refere às palavras finais da intercalação precedente: “não me lembro 
se batizei mais alguém”. Pois, ele passa a explicar, esse não é o meu chamado 
— nem o assunto tratado aqui. O objetivo dele é sacudir os coríntios para que 
vejam a loucura do tipo de lealdade que prestam a simples seres humanos — 
algo a que ele retornará um pouco adiante (3.3-9). Mas, por enquanto, depois 
de ter deixado claro aquilo para que ele não veio (“batizar”), ele passa àquilo 
para que de fato veio (“pregar o evangelho”), com um linguajar que reflete a 
tradição profética do AT (veja esp. Is 6.8); a saber, Paulo não escolheu se tornar 
apóstolo, mas, em vez disso, “Cristo me enviou”.63 Por sua vez, esse será o ponto 
crucial do argumento, em que ele começa a contrastar o atual interesse deles, “a 
sabedoria demonstrada pela eloquência”, com aquele que deveria ser o interesse 
deles, a saber, o evangelho, com seu foco na “cruz de Cristo”.
Ao dizer “Cristo não me enviou para batizar”, Paulo não pretende minimi­
zar o batismo cristão; seu uso da ilustração do batismo em uma carta posterior 
(Rm 6.3-7) exclui essa possibilidade definitivamente. O motivo de expressar seu 
próprio chamado desse modo negativo foi ditado pela natureza do argumento. 
Eles não somente não haviam sido batizados “para dentro do” nome dele (v. 13), 
mas na realidade ele havia batizado bem poucos deles, o que pesava a favor do 
apóstolo, pois não permitia que alguns pensassem nesses termos (v. 14-16); 
de todo modo, esse debate sobre “quem batizou quem” é bastante irrelevante 
(v. 17a), de modo que comecemos a tratar da questão real, que está relacionada 
com a natureza do próprio evangelho (v. 17b).
Apesar disso, é possível — parece-me até provável — que “quem batizou 
quem” teve um papel em suas divisões. Assim, Paulo estabelece mesmo uma 
separação entre o ato de batizar e a proclamação do evangelho, fato que também 
tem de ser levado em conta como parte de seu entendimento do batismo. Combase nessa passagem, também parece claro que Paulo não entende que o batismo 
opere a salvação. A palavra da cruz faz isso — quando, é claro, é acompanhada 
pela obra eficaz do Espírito.64 Mas seria totalmente equivocado, como alguns 
fazem, ir além e dizer que o batismo é uma questão puramente secundária.65 
Certamente esse não deve ter sido o entendimento de Paulo. Para ele, o batismo 
vem depois de ouvir o evangelho, mas isso acontece como a forma estabelecida 
por Deus de resposta de fé ao evangelho.
Paulo descreve sua própria tarefa como a de “pregar o evangelho”, tarefa que 
aqui ele esmiúça com um contraste marcante: “não com sabedoria e eloquência,
6sGr., cxttêotei\ £ v , a forma verbal do substantivo aTtócrtoXoç.
64Cf. a conclusão semelhante em D unn, Baptism, p. 118-20; veja tb. Beasley-Murray, Baptism, 
p. 177-81.
6sVeja, e.g., Lietzmann, p. 9.
1. 0 problema: divisão em torno de líderes por causa da sabedoria <#■ 1 Coríntios 1.10-17 71
para que a cruz de Cristo não seja esvaziada de seu poder”. A própria maneira 
em que isso é dito, mais o longo detalhamento que vem logo em seguida 
(1.18—2.16), torna provável que “sabedoria e eloquência” reflitam valores de 
Corinto. Assim, parece claro o objetivo geral de Paulo com essas palavras: 
expor seu próprio ministério, tanto seu conteúdo quanto sua forma, em nítido 
contraste com a atual posição deles. Dessa forma, também serve a propósitos 
apologéticos. Mas o exato significado da expressão negativa, que diz literal­
mente “não em sophia [sabedoria] de logos [palavra]”,66 não é tão clara.67 Estará 
a ênfase no conteúdo (sabedoria), na forma (palavra) ou, talvez, em ambos?68 
A luz do contraste oferecido pela oração subordinada final que se segue, o mais 
provável é que o genitivo grego “de palavra” tenha função descritiva e signi­
fique algo como “não com um tipo de sophia que se caracteriza por retórica/ 
eloquência (ou talvez razão ou lógica)”, daí a tradução na nova NIV Assim, a 
ênfase é, antes de mais nada, no conteúdo; Paulo está prestes a expor a sabedoria 
divina da cruz em contraste com uma “sabedoria [meramente] humana”. Mas 
provavelmente também inclui uma preocupação com a forma, visto que, de 
acordo com a terceira parte da resposta (2.1-5), a sabedoria humana pela qual 
os coríntios tinham enorme fascinação se caracteriza pela tradição filosófica e 
retórica grega.69 Isso parece ser corroborado pela maneira com que o argumento 
seguinte flui dessa expressão.
Essa é a primeira ocorrência de sophia na carta; o argumento a seguir sinaliza 
que essa é a questão real. O que exatamente os próprios coríntios tenham tido 
em mente com isso é objeto de considerável debate.70 Visto que Paulo não fala
66Gr., Iv aotpíq kóyou, embora seja possível ter bastante certeza de que isso, ao contrário 
de como está na ESY não quer dizer “palavras de sabedoria eloquente”, que parece traduzir as 
palavras exatamente na ordem inversa.
67Infelizmente isso também dá margem a todo tipo de especulação entres os estudiosos quanto 
aos problemas pessoais entre os próprios crentes, bem como quanto à natureza e à intensidade 
do conflito entre as “facções” dentro da igreja e o próprio Paulo.
68Os estudos acadêmicos ao longo de várias décadas no século 20 ficaram tão encantados com 
a ideia de sophia como conteúdo (sabedoria hipostática como o caminho da salvação) que em 
geral não deram atenção à sophia como discurso e retórica. Para um corretivo, veja Horsley, 
“Sophia”, embora sua própria empolgação com paralelos em Filo o leve a algumas conclusões 
questionáveis sobre o papel dos próprios coríntios nesse assunto. Cf. R. Scroggs, “Paul: croipoç 
K at T üveupariK oç”, N TS 14 (1967/1968), p. 36.
í9Uma preocupação em demonstrar que sua mensagem não era algo meramente humano, i.e., 
uma questão de retórica ou discurso, já tinha ocupado Paulo intensamente em Tessalônica (veja 
lTs 1.5; 2.3-6,13). Mas há diferenças claras entre a intenção em ITessalonicenses e a expressa 
aqui. Ali o logos é visto positivamente, como uma parte da totalidade do testemunho. Aqui é 
algo totalmente negativo.
7°A opinião tradicional tem sido que a palavra reflete a tradição filosófica ou sofista grega. 
Em tempos recentes, a defesa mais ampla dessa posição pode ser encontrada em Munck (Paul,
72
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
de uma sabedoria “superior”71 nem usa uma linguagem que parece refletir uma 
personificação da sabedoria (veja comentário de 1.24 e 30 adiante), mas, em vez 
disso, refere-se a ela como “deste mundo” (1.20) ou como “meramente humana” 
(1.25), é muito provável que ela reflita o ambiente filosófico da época, com sua 
ênfase tanto na compreensão humana quanto na habilidade retórica. Tendo em 
vista a maneira com que Paulo logo contrastará sua própria pregação com essa 
“sabedoria de palavra” (2.1-5), ela provavelmente também reflete a posição a partir 
da qual eles estão no momento julgando o apóstolo e seu ministério (cf. 4.1-5).
No entanto, aqui o contraste, que começa de forma parecida com o contraste 
seguinte (2.1-5; cf. lTs 1.5), dá uma surpreendente guinada para o conteúdo da 
pregação, e não para sua forma ou resultado. Ao proceder assim, Paulo também 
estabelece as cadências marcantes a seguir, um fato que é obscurecido na maioria 
das traduções. “Cristo me enviou para pregar”, diz ele, “não a sabedoria caracte­
rizada por logos”. Mas há outro logos, ele passará a argumentar logo em seguida 
(v. 18) — o logos da cruz, que é loucura para os que perecem, que estão agindo 
assim justamente porque acham que a existência se fundamenta na sabedoria. 
Assim, ele conclui sua frase com “para que a cruz72 de Cristo não seja esvaziada
p. 148-54); é a posição adotada basicamente neste comentário. Alguns para quem os antecedentes 
são gregos defendem um entendimento hipostático (pessoal) de sophia. Assim, em sua maneira de 
ver os coríntios identificaram a Sophia com o chamado redentor celestial do gnosticismo (veja esp. 
Wilckens, p. 68-76). Para outros, a êntase na sabedoria pertence à tradição sapiencial judaica, seja 
a sabedoria personificada de Provérbios (e.g, 8.1—9.6) e Eclesiástico (e.g., 1.4,9), seja a sua forma 
helenizada em Filo de Alexandria (veja Pearson, p. 27-39; Horsley, “Sophia” e “Marriage”, e Davis 
[veja bibliografia]). Mas há dois problemas com essas posições: (l) Não parece haver nenhum 
indício concreto de que os coríntios viam a sabedoria como pessoa; aliás, os indícios apontam na 
outra direção (veja o comentário de 1.24 e 30); (2) parece improvável os antecedentes serem judai­
cos, pois Paulo diz explicitamente que os judeus exigem sinais e são os gregos que procuram por 
sabedoria. Davis, p. 189, nota 26, diz que essa objeção é “equivocada”. Mas, para isso, ele tem de 
rejeitar a declaração explícita de Paulo a favor de uma análise midráshica altamente especulativa 
do texto. Retórica ou não, a franca declaração de Paulo é que os gregos, e não os judeus, buscam 
sabedoria. E claro que alguns (e.g., Ellis, p. 45-62) rejeitam que a sabedoria seja assunto de interesse 
de Corinto e entendem que é a perspectiva do próprio Paulo; com isso defende-se, então, que ela 
tenha antecedentes judaicos. Mas o contexto do argumento todo parece falar muito fortemente 
contra essa opção. Até mesmo as afirmações de Paulo acerca da sabedoria em 2.6-16 parecem ter 
sido determinadas pela posição da igreja. Em outras passagens, ele simplesmente não reflete essa 
ênfase ou entendimento. Cf. as estatísticas na p. 51, nota 6.
71A NIV de 1978 traduziu essa expressão parecida em 2.1 por uma expressão bastante desen- 
caminhadora: “sabedoria superior”. “Superior” não era a preocupação de Paulo; pelo contrário, 
o simples fato de depender de “sabedoria” é que o preocupava, especialmente porque a palavra 
obviamente tinha para eles um valor muito diferente (superior?) do que tinha para Paulo.
71Essa é a primeira ocorrência dos termos “cruz” e “crucificado” no corpus paulino. Nãoocorrem em Paulo com tanta frequência quanto às vezes somos levados a crer (“cruz”, dez 
vezes; “crucificar”, oito). A maioria dessas ocorrências é em contextos de conflito. Em outras 
circunstâncias, a tendência de Paulo é dizer que Cristo “morreu” por nós.
1 .0 problema: divisão em tomo de líderes por causa da sabedoria <#■ 1 Coríntios 1.10-17 73
de seu poder”.73 O outro contraste, a questão da forma e estilo, entre pregar de 
uma tal forma em que “me destaco em logos e sophia” (2.l) e pregar “com uma 
demonstração do poder do Espírito” (2.4), é real e precisa ser tratado, o que ele 
fará depois. Mas a preocupação mais urgente é a questão da relação entre a sophia 
em si e a mensagem da cruz. Se ele tivesse ido a eles com a primeira, diz Paulo, 
significaria na prática negar totalmente a segunda. Por isso, é para esse assunto 
que nos voltamos primeiro (v. 18-25).
É fácil ver a premente importância de um parágrafo como esse para a igreja 
contemporânea, que com frequência não somente passa por brigas como essas 
no nível local, mas também está profundamente fragmentada em todos os outros 
níveis. Temos igrejas e denominações, movimentos de renovação que com exces­
siva frequência se dividem e se tornam sua própria “igreja de Cristo”, e temos 
todas as modalidades de movimento individualista e seita imagináveis. Mesmo 
em uma época de vários tipos de ecumenismo, a probabilidade de uma unidade 
visível total da igreja é mais remota do que nunca. Essa fragmentação é tanto 
uma vergonha para nossa casa quanto motivo de profundo arrependimento. Se 
existe um caminho em frente, ele provavelmente reside menos em estruturas e 
mais em nossa prontidão em recuperar a ênfase de Paulo aqui: a pregação da 
cruz como a grande contradição divina a nossas maneiras meramente humanas 
de fazer as coisas.
73A NIV acrescenta as palavras “de seu poder”, com base no contexto do versículo 18. Com 
quase toda a certeza, essa é a interpretação certa da expressão, que também pode ser traduzida 
por “não se torne ineficaz” ou “não seja invalidada”.
2. O evangelho: um a contradição 
da sabedoria hum ana (1.18—2.5)
Depois de estabelecer o contraste na frase anterior (v. 17) entre a “sabedoria 
de logos” e a pregação da cruz, agora Paulo passa a uma série de argumentos 
que terão esse contraste como ponto de referência. O fato de os coríntios,1 em 
nome da sabedoria, se “vangloriarem” em simples seres humanos afeta, em 
última análise, a natureza do próprio evangelho. Por isso, em uma série de 
três parágrafos2 Paulo tenta fazer com que esses crentes vejam que sua própria 
existência como cristãos, especialmente no que diz respeito ao seu início 
no cristianismo, está em total contradição com sua presente “vangloria”.
Cada um dos parágrafos se baseia na mesma realidade, a saber, que não 
se pode acrescentar, de qualquer maneira que seja, sabedoria humana à 
mensagem da cruz e assim tomá-la superior; em vez disso, a cmz contradiz 
de forma absoluta e intransigente a sabedoria meramente humana. A cmz 
é, de lato, loucura para a sabedoria concebida pelos homens; mas é loucura 
de Deus, loucura que é ao mesmo tempo sabedoria e poder de Deus.3
!0 uso dessa linguagem ao longo de todo o comentário tem a finalidade de 
deixar em aberto a questão de “quem” e “quantos” podem ter estado envolvidos 
nas atitudes que Paulo está enfrentando aqui — ou, para sermos mais precisos, 
devemos nos referir àqueles coríntios que estavam enfrentando Paulo.
2Talvez mais do que qualquer outra passagem do NT, essa sofreu com a adoção 
do sistema de numeração de versículos, que no demais é útil. Tudo no argumento 
de Paulo deixa claro que 2.1-5 é a terceira das ilustrações da “loucura de Deus”: 
o próprio evangelho, os crentes que Deus escolheu e o apóstolo da “fraqueza” — 
tudo isso é destinado a acabar com o presente fascínio dos coríntios com sophia. 
A nova NIV finalmente acertou no título dos parágrafos que iniciam em 2.6 
a fase seguinte do argumento, ao passo que na ESV os títulos (1.18; 2.1,6) só 
podem ser considerados totalmente desorientadores.
3 Alguns têm identificado nessa seção um padrão midráshico parecido com 
alguns padrões encontrados em Qumran e Filo. Veia W Wuellner, “Haggadic 
homily genre in I Corinthians 1—3”,JBL 89 (1970), p. 199-204; Ellis, p. 213- 
20; J. I. H. MacDonald, Kerygma and didache: the articulation and strncture of the 
earliest Christian message (Cambridge, 1980), p. 37-68; V P. Branick, “Source and 
redaction analysis of i Corinthians 1—3”,JBL 101 (1982), p. 251-69; e Davis, 
p. 67-70. Embora isso talvez ajude a ver o contexto da forma de pensar basica­
mente judaica do próprio Paulo, isso não diz — ao contrário do que, e.g., Davis, 
propõe — quase nada sobre os próprios coríntios. Além disso, os defensores dessa 
teoria vão muito além das evidências quando também sugerem que a homilia 
talvez já existisse e aqui Paulo a estaria adaptando (Ellis) ou que “já não se pode 
fazer uma exegese segura dessa homilia no que diz respeito às condições na igreja 
em Corinto” (Branick, p. 267). Uma vez que a passagem é tão consumadamente 
paulina em sua presente “adaptação”, é praticamente irrelevante sugerir que já 
existisse; e sustentar que ela não se encaixa no presente contexto parece tanto
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#• 1 Coríntios 1.18— 2.5 75
Assim, na prática ele está dizendo: “Então, vocês acham que o evange­
lho é uma forma de sophiaí Até onde chega a tolice de vocês? Considerem 
a mensagem; ela se baseia na história de um Messias crucificado. Quem em 
nome da sabedoria teria inventado isso? Só Deus é tão sábio a ponto de 
ser tão ‘tolo’” (1.18-25); “Além disso, considerem seus beneficiários. Vocês 
mesmos! Quem em nome da sabedoria os teria escolhido para ser o novo 
povo de Deus?” (1.26-31); “Por fim, lembrem-se de minha própria pre­
gação. Quem em nome da sabedoria teria vindo com tamanha fraqueza? 
No entanto, considerem seus resultados” (2.1-5).
2. O evangelho: uma contradição da sabedoria humana (1.18—2.5)
a. A loucura de Deus: um Messias crucificado (1.18-25)
b. A loucura de Deus: os crentes de Corinto (1.26-31)
c. A loucura de Deus: a pregação de Paulo (2.1-5)
a. A loucura de Deus: um Messias 
crucificado (1.18-25)
Esse parágrafo é crucial não só para o presente argumento (1.10—4.21), 
mas também para toda a carta. Aliás, esse é um dos momentos realmente 
grandiosos do apóstolo Paulo — e das Escrituras cristãs como um todo. 
Aqui Paulo defende, com o apoio do AT, que aquilo que sempre fora
ignorar a verdadeira natureza do problema em Corinto quanto defender a irra­
cionalidade na exegese. Se Paulo não pretendeu que tudo isso falasse diretamente 
aos coríntios, então temos de defender que autores escrevem sem intenção, e toda 
a questão do significado das palavras do autor se tom a irrelevante.
Em uma abordagem diferente, K. Bailey encontrou padrões poéticos com­
plexos em 1.17—2.2, que consistem em um quiasmo com 13 elementos, sendo
0 versículo 23 o elemento do meio (“Recovering the poetic stmcture o f I Cor.
1 17—ii 2: a study in text and commentary”, NovT 17 [1975], p. 265-96; texto 
agora em Paul through Mediterranean eyes, p. 67-101). Ao que parece, não há 
muita dúvida de que boa parte da argumentação de Paulo adote os padrões 
de paralelismo semítico; mas esse é um reflexo de como sua mente funciona. 
O “quiasmo” que Bailey descobriu não é muito convincente, pois ele é obrigado 
a omitir aquilo que não se encaixa (neste caso, v. 27,28) e parece não notar as 
estruturas óbvias da argumentação do próprio Paulo (não faz nenhum sentido 
uma seção de poesia que, iniciada em 1.17 e terminada em 2.2, não leve em conta 
a linha de raciocínio de Paulo nem as conjunções e partículas que ele emprega).
76
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma Igreja dividida — internamenfe e contra Paulo
a intenção divina e, dessa forma, sido prenunciado nos profetas, Deus 
agora havia realizado por meio da crucificação: o Criador e sustenta- 
dor do Universodeu fim à autossuficiência humana, conforme ela se 
manifesta por meio da sabedoria e dos estratagemas humanos. Paulo 
argumenta com seus amigos de Corinto que o evangelho não é alguma 
nova sophia (sabedoria ou filosofia), nem mesmo uma nova sophia divina. 
Pois a sophia permite julgamentos ou avaliações humanos da atividade 
de Deus. Mas o evangelho se coloca como a antítese divina de tais jul­
gamentos. Nenhum simples ser humano, estando ou não em perfeito 
juízo, jamais teria imaginado o plano de Deus para a redenção — por 
meio de um Messias crucificado. E absurdo demais, humilhante demais, 
para uma divindade.
E claro que é altamente provável que os adversários coríntios de Paulo 
também tivessem notado a humilhação daquela mensagem e por isso 
tivessem “avançado” para coisas “mais elevadas”, bem além do simples 
“leite” que Paulo lhes tinha oferecido. Mas Paulo reconhece que ir além 
da cruz não é de modo algum “avançar”, mas abandonar a Cristo de vez. 
Daí o fato de que aqui ele defende que a mensagem da cruz é absoluta 
— e fundamental — e, assim, se opõe à sabedoria meramente humana da 
atual posição deles.
Exegese e exposição
18Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós4 
que estamos sendo salvos é o poder de Deus. 19Pois está escrito:
“Destruirei a sabedoria dos sábios;
frustrarei a inteligência dos inteligentes’’.3
200nde está o sábio? Onde está o mestre da lei?5 Onde está o filósofo desta era? Por 
acaso Deus não tornou louca a sabedoria do mundo?6 21Porque, visto que na sabedoria 
de Deus o mundo por meio de sua própria sabedoria não o conheceu, agradou a Deus 
salvar, por meio da loucura daquilo que foi pregado, aqueles que creem. 220s judeus
4A tradição latina omite qpiv, provavelmente uma variante traducional.
5Gr., YpappaTEÚç, em geral traduzido por “escriba” na KJV Na maioria dos casos no N T (tal 
como aqui), é um termo técnico que designa o judeu especialista na lei, o que tom ou bastante 
desorientadora a tradução “estudioso” na N IV original, visto que com sua retórica Paulo quer 
incluir os “instruídos” tanto dentre os gentios quanto dentre os judeus.
6Pn (séc. 7) e o TMaj posterior acrescentam toutou (“isto”) para conformar o texto ao estilo 
paulino mais comum; cf. a análise em Metzger, p. 479-80.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#■ 1 Corfntios 1.18— 2.5 77
pedem sinais, e os gregos procuram sabedoria, 23mas nós pregamos a Cristo crucificado: 
pedra de tropeço para os judeus e loucura para os gentios/ 24mas para aqueles a quem 
Deus chamou, tanto judeus quanto gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de 
Deus. 25Porque a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza 
de Deus é mais forte que a força humana.
als 29.14.
1.18
O “pois” que inicia essa frase a liga ao texto imediatamente precedente (v. 17) 
como explicação para a última oração gramatical daquele versículo. Infelizmente 
o início de um novo parágrafo na tradução e as limitações da nossa língua ten­
dem a fazer com que não percebamos o contraste sutil pretendido por Paulo. No 
final da frase anterior, ele disse (lit.): “não na sabedoria de logos (palavra, retórica, 
razão), para que a cruz de Cristo não seja esvaziada/invalidada”. Agora ele diz: 
“Pois o logos (palavra, mensagem) da cruz é loucura para os que estão perecendo”. 
Há um logos (discurso) que pertence à sabedoria e há um logos (mensagem) cujo 
conteúdo é a cruz — mas eles são mutuamente excludentes.
Com essa frase, Paulo apresenta, do ponto de vista de sua nova posição 
em Cristo, os dois grupos básicos da humanidade. Anteriormente, na con­
dição de judeu, para ele os dois grupos eram os judeus e os gentios (assim 
como para os greco-romanos eram os gregos/romanos, de um lado, e os 
bárbaros, de outro). Agora é “nós que estamos sendo salvos”8 e “os que estão 
perecendo”.9 Os primeiros grupos, judeus e gentios, continuam a existir (aliás, 
no v. 22 servirão de representantes das duas “idolatrias” humanas mais comuns), 
mas sem Cristo agora ambos os grupos pertencem aos que estão “perecendo”. 
Na teologia paulina, a nova divisão não se baseia tanto na resposta deles à men­
sagem da cruz quanto no próprio evento da cruz e da ressurreição. Isto é, para 
Paulo, a crucificação e ressurreição de Jesus marcaram a “mudança de era”, pela 
qual Deus decisivamente julgou e condenou a era presente e está em processo
7 Aqui o TMaj traz “gregos”, uma assimilação aos versículos 22 e 24. Essa é uma prova clara 
de que para Paulo esses dois termos são quase sinônimos e, portanto, permutáveis.
8Gr., CTcpÇopévotç; cf. v. 21. Embora não seja frequente na carta (3.15; 5.5; 7.16; 9.22; 10.33; 
15.2), no vocabulário de Paulo essa é provavelmente a palavra mais abrangente para designar o 
evento divino de redenção. O uso paulino do verbo tem raízes no AT; veja G. Fohrer, TDNT 
7:970-80. A NIV capta corretamente as nuances do tempo presente de ambos os verbos. Para 
Paulo, a salvação, iniciada por meio da fé em Cristo e da vinda do Espírito — salvação que para 
ele é algo tão certo —, é, ainda assim, “uma obra em andamento”.
9Gr., cnTo\À.upévoiç; cf. 8.11; 10.9,10; 15.18. O verbo significa experimentar perda eterna.
78
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
de conduzi-la a um fim.10 Aqueles que ainda pertencem a ela e a seus caminhos 
estão, portanto, em processo de “perecer” com ela. Do ponto de vista dessa “velha 
era”, a mensagem da cruz é loucura.
Por outro lado, aqueles que, por terem sido chamados (v. 24) e crerem 
(v. 21), estão “sendo salvos” passaram a ver sua existência atual em decorrência 
do poder de Deus, o cpal também foi operado por Deus por meio da cruz e 
ressurreição de Jesus. E claro que para Paulo não se trata apenas de “aqueles” 
que estão sendo salvos, mas de nós, uma palavra na qual ele inclui a si próprio, 
mas serve especialmente para lembrar aos coríntios quem eles e Paulo são juntos.
Sem dúvida, o contraste entre “loucura” e “poder” não é exato. Maior 
exatidão (entre loucura e sabedoria, poder e fraqueza) virá depois no parágrafo 
(v. 22-25). Até aqui o contraste foi estabelecido pela linguagem da frase anterior 
(v. 17) entre a “sabedoria de palavra” e “a cruz sendo esvaziada” (a NIV acerta- 
damente acrescenta “de seu poder”).11
1.19
Agora Paulo passa a argumentar que essa loucura de Deus, com sua mensagem 
da cruz, é de fato a maneira de Deus fazer o que disse que faria: anular e destruir 
a sabedoria humana. Para Paulo, dizer “pois está escrito” é argumento suficiente.12 
As Escrituras já haviam falado a respeito; agora Deus está simplesmente fazendo 
acontecer. Com essas palavras, os crentes de Corinto são confrontados com a 
primeira de seis citações do AT do argumento a seguir; todas parecem ter sido 
escolhidas para dar total sustentação escriturística à ideia básica de Paulo — a
10Esse arcabouço essencialmente escatológico, em que salvação e juízo aconteceram “já ” e 
“ainda não”, é absolutamente crucial para qualquer compreensão adequada de Paulo. Veja, e.g., 
H. Ridderbos, Paul: an outline of his theology (TI, Grand Rapids, 1975), p. 39: “é possível falar 
de um crescente consenso à medida que estudiosos estão cada vez mais descobrindo no caráter 
escatológico histórico-redentor da proclamação de Paulo o ponto de partida para uma abordagem 
adequada do seu pensamento todo” (itálico no original). Isso acontece exaustivamente nessa 
carta, influenciando quase todas as partes. Veja a introdução, p. 18-9.
"Essa é uma das claras evidências de que da perspectiva de Paulo o problema é soteriológico, 
e não cristológico (não obstante Wilckens). Assim, o contraste é expresso dessa maneira não 
para evitar um mal-entendido sobre o que a sabedoria significa para ele (que é como Wilckens 
e Schütz, Paul, p. 196, entendem), mas justamente porque os coríntios estão transformando 
o evangelho em uma forma de sabedoria em que a morte de Cristo está sendo esvaziada de 
seu poder.
12EmPaulo, o uso de YéypaTn:ai sem agente da passiva é sempre uma referência às Escrituras 
do AT. Veja E. E. Ellis, PauVs use of the Old Testament (Edinburgh, 1957), p. 22-5. Aqueles que 
interpretam essa seção como midrash consideram que ela é o texto para o sermão. Veja Wuellner, 
“Haggadic homily”, p. 201; e Ellis, p. 213. N o entanto, visto que tudo isso é desdobramento 
dos contrastes estabelecidos no versículo 17, parece muito mais provável que, nesse caso, o texto 
tenha sido determinado pelo contexto, e não o contrário.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#• ICoríntios 1.18— 2.5 79
loucura total de simples seres humanos tentarem, por assim dizer, “competir 
com Deus”.13
Essa primeira citação, tirada do profeta Isaías (29.14),14 foi quase certamente 
escolhida porque, por conter a palavra “sabedoria”, ressalta justamente aquilo 
que Paulo quer destacar aqui. Em seu contexto original, essa passagem pertence 
àquela grandiosa série de textos que advertem regularmente Israel, ou alguém 
em Israel, de não tentar competir com Deus (cf. Is 40.12-14,25; Jó 38—42). 
No entanto, é loucura de nossas maquinações humanas pensar que podemos ser 
mais astutos do que Deus ou que pensemos que Deus deve ser pelo menos tão 
inteligente quanto nós. No entendimento de Paulo, essa passagem de Isaías tem 
agora um cumprimento escatológico. Na cruz, a “grande reviravolta” prome­
tida aconteceu de forma suprema perante espectadores humanos, dessa forma 
cancelando a sabedoria meramente humana.
1.20
Seguindo o estilo do profeta Isaías (33.18; cf. Is 19.11,12),15 Paulo recorre à 
retórica para enunciar sua própria posição contra os coríntios. O que não está 
claro é a intenção do próprio Paulo com essas perguntas. Será que ele estava 
convidando os vários “sábios” do mundo a se manifestarem e reconhecerem o que 
Deus havia feito na cruz? Em caso afirmativo, então agora Paulo está iniciando 
uma polêmica com seus debatedores hipotéticos, e é claro que, em face de tal
13Para uma análise/levantamento especialmente esclarecedora dessas seis citações (aqui; 1.31; 
2.9; 2.16; 3.19; 3.20), veja R. B. Hays, “The conversion o f the imagination; Scripture and es- 
chatology in 1 Corinthians”, N T S 45 (1999), p. 391-412, esp. p. 402-9.
14Embora a citação seja basicamente da LXX, Paulo alterou a palavra final de Kpúçico (“es­
conderei”) para à0ETf|aco, talvez, conforme muitas vezes sugerido, com base em Salmos 33.10 
( “ O S e n h o r [...] frustra os propósitos do povo”). De todo modo, é provável que a palavra “es­
conder” seja uma expressão idiomática hebraica, a qual no trecho de Isaías a N IV corretamente 
traduz por “desaparecerá”. Assim, conforme acertadamente destacado por Davis, p. 71-2, aqui 
deve ter o sentido básico de “pôr de lado”, em vez de “atrapalhar” ou “frustrar”.
l5Alguns têm argumentado que também esse versículo é uma citação de Isaías e, por isso, en­
tendem que aqui Paulo está, junto com as alusões ajeremias 9.23,24 nos versículos 26-31, usando 
um florilégio (uma coleção já existente de “testemunhos” acerca de Cristo reunidos pela igreja 
primitiva a partir de várias passagens do AT). Veja H. St. John Thackeray, The Septuagint andJewish 
worship (London, 1921), p. 95-100; L. Cerfaux, “Vestiges d’un florilège dans I Cor. 1.18—3.24?” 
RHE 27 (1931), p. 521-34; e E. Peterson, “1 Korinther l,18f. und die Thematic des jüdischen 
Busstages”, Bih 32 (1951), p. 97-103. Peterson propôs essa ideia específica em decorrência das 
descobertas de Qumran (4Q174). Esse é um assunto que continua sendo um amplo campo para 
pesquisa na área do NT. Duas coisas podem ser ditas a respeito disso aqui; (l) E impossível provar 
ou então refutar que Paulo tivesse tal coletânea à sua disposição. (2) Mas em todo caso o versículo 
20 não é uma citação de Isaías. N a melhor das hipóteses, as perguntas são alusões; é mais provável 
que sejam “um texto livre, da parte de Paulo, que lembra passagens de Isaías” (Conzelmann, p. 42).
80
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
convocação, espera-se que os próprios coríntios participem. Nessa interpretação, 
a última pergunta iniciaria, assim, o debate. Por mais atraente que essa alternativa 
seja, especialmente à luz do que se segue (nos v. 22-25), parece mais provável 
que, em vez de iniciar o argumento ou a explicação propriamente dita, essas 
perguntas estejam dando continuidade à ideia central da citação anterior de Isaías. 
Nesse caso, Paulo estaria espelhando o sarcasmo de uma passagem anterior 
em Isaías (19.12), na qual o profeta indaga, à luz do que Deus estava prestes a 
fazer: “Onde estão agora os sábios de vocês?”. Assim, Paulo está perguntando 
retoricamente: “Em vista do que Deus fez por meio da cruz, o que sobra dos 
sábios da presente época? Onde estão agora todos os mestres de sabedoria, tanto 
judeus como gregos? Acaso, com esse ato, Deus não só tornou os sábios tolos, 
mas também anulou a própria sabedoria deles?”.
Apesar da rejeição da ideia por alguns,16 as perguntas em si provavelmente 
retratam os vários “sábios” do mundo antigo. “Onde estão os sábios?” seria uma 
referência aos pensadores ou filósofos gregos (ou poderia ser o termo geral do qual os 
dois termos seguintes são expressão específica). A segunda pergunta é a que faz essa 
sugestão parecer certa: “Onde está o mestre da lei [não ‘sumidade’(!), como na NIV 
original e em Barrett]?”. A palavra grega grammateus é a que os judeus utilizavam 
para designar seus rabinos, os mestres da lei (cf. os Evangelhos, em que tradicio­
nalmente foi traduzida por “escriba”; daí a tradução da KJV para essa passagem: 
“Onde está o escriba?”); a palavra simplesmente não é encontrada entre os gregos 
como designação de seus especialistas ou mestres.17 Com essas duas designações, 
Paulo está prenunciando as distinções que virão imediatamente (v. 22), a saber, que 
os judeus exigem sinais e os gregos querem demonstrações de sabedoria.18
E provável, então, que a terceira pergunta (onde está o syzêtêtês desta era?) seja 
uma generalização, tendo em mente os próprios coríntios.19 Esse substantivo é raro,20 
mas o verbo e o substantivo abstrato correspondentes são comuns. Literalmente
l6Veja, e.g., Conzelmann, p. 43, nota 32, que acha que a sugestão é “engenhosa demais”.
17N o vocabulário grego comum, a palavra designa uma autoridade civil, e.g., o “secretário 
da cidade” de Atos 19.35. Veja BDAG 2a; cf. Lightfoot, p. 159.
*8Diferente é a posição de Davis, p. 73 (que acompanha R. G. Hamerton-Kelly, Pre-existence, 
wisdom, and the Son of Man [Cambridge, 1973], p. 119), que sustenta que as três perguntas 
pressupõem um ambiente judaico. Em vista do argumento que se segue, seriam necessárias evi­
dências particularmente robustas para esse ponto de vista, evidências que não estão disponíveis.
19A alternativa (favorecida, e.g., por Godet e Wilckens) a essa interpretação é entender que 
o primeiro termo tem sentido geral, incluindo tanto judeus quanto gregos, enquanto os dois 
últimos restringem o foco. Isso é perfeitamente possível. O que parece inquestionável é que o 
próprio Paulo estava pensando nesses termos e, assim, prenunciando o restante do argumento.
“ Gr., CTuÇr|rriTtíç; em toda a literatura grega, a palavra é encontrada somente aqui e em Inácio, 
Efésios 18.1.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#• 1 Coríntios 1.18— 2.5 81
significa “debatedor”; tendo em conta a natureza de boa parte do que acontecia 
sob o rótulo de filosofia no mundo da época, a tradução “filósofo” provavelmente 
não esteja distante do sentido. A qualificação “desta era”21 está ligada apenas ao 
terceiro termo, mas é provável que vise refletir os três.22 Todos os vários sábios 
pertencem a esta era presente, que foi julgada por Deus e está chegando ao fim.
Com a pergunta retórica final, Paulo dá início ao próprio argumento. 
A pergunta recorre àquilo que Deus fez em Cristo: “Por acaso Deus não tor­
nou louca23 a sabedoria do mundo?”.24 Ou seja,“o [mundo] é julgado [...] não 
mediante raciocínio, mas mediante afirmação de um ato de Deus”.25 A cruz é 
loucura para os que perecem (v. 18), mas por meio dela o próprio Deus tornou 
louca a sabedoria do mundo, sabedoria que pertence somente à esfera da autos- 
suficiência humana. Deus não só fez tal sabedoria parecer louca; por meio da 
cruz Deus na realidade inverteu totalmente o sentido dessa sabedoria, de modo 
que ela se tornou exatamente o contrário: loucura.26 No presente, não está claro 
que Deus fez isso, evidentemente; assim, o restante do parágrafo é a explicação 
que Paulo dá sobre como isso acontece.
1.21
Agora Paulo começa a explicar aos coríntios como aquilo que acabou de afirmar 
por meio de uma pergunta retórica é verdade.27 Ele começa com uma afirmação
21Gr., tou aícovoç toutou . Esse é um linguajar claramente escatológico, refletindo os termos 
“esta era” e “era vindoura” dos judaísmos rabínico e apocalíptico. Para Paulo, ele se torna, 
portanto, um termo ético/moral. Uma vez que, em Cristo, Deus inaugurou o futuro, que será 
consumado na parúsia, a era presente foi julgada e, por conseguinte, condenada por Deus. Todos 
os que vivem sob o abrigo desta era e partilham de seus pontos de vista vivem semelhantemente 
debaixo do juízo de Deus e estão perecendo. Por esse motivo, pertencem a esta era, em oposição 
à nova era que Deus está inaugurando.
“ Cf. Conzelmann, p. 43.
23Gr., épcópavev; cf. a análise feita por G. Bertram, TD N T 4:845-7.
24Nesse caso Paulo usa toü KÓcrpou. Essa é uma clara indicação de que os dois termos, aícov 
(“era”) e xóopoç (“m undo”) haviam se fundido em seu próprio pensamento. Ambos se tomaram 
termos escatológicos, condicionados pelo evento supremo de Deus em Cristo, a saber, sua cruz 
e ressurreição. Tanto o KÓopoç, a ordem mundial que tem estado sob o domínio de Satanás, 
quanto a era presente (decaída) foram julgados por Deus em Cristo e estão, portanto, em pro­
cesso de desaparecer (veja esp. 7.29-31). Sobre esse termo, vejaj. Guhrt, N ID N TT 1:521-6, e 
H. Sasse, TD N T 3:868-95.
25Conzelmann, p. 43.
26Observe o fraseado elegante de Godet: “Ele, por assim dizer, fez a sabedoria de boba [louca]” 
(p. 94).
270 y áp que liga essa frase ao versículo 20 é que faz com que pareça certa nossa decisão 
sobre o significado do versículo 20. Essa conjunção implica que o versículo 21 explica a última
82
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
com a qual, pressupõe, eles concordarão, a saber, que “por meio de sua sabedo­
ria28 o mundo não [o = a Deus] conheceu [não veio a conhecer]29”. O kosmos 
(“mundo”) agora é personificado e representa a totalidade da ordem humana das 
coisas em sua condição decaída. Não contando com ninguém mais e em especial 
agindo por meio da “sabedoria” que lhes pertence em sua existência criada e 
caída, os seres humanos fracassaram totalmente na tentativa de conhecer a Deus. 
Repetindo, essa é uma afirmação baseada naquilo que para Paulo é uma realidade 
evidente. Conforme ele aprofundará em uma carta posterior (Rm 1.18-31), 
abandonadas à própria sorte, simples criaturas não conseguem descobrir o Deus 
vivo. O melhor que conseguem fazer é criar deuses à semelhança de coisas 
criadas, ou, como acontece tantas vezes, à sua própria e distorcida semelhança. 
O verdadeiro conhecimento de Deus — significando aqui não tanto uma per­
cepção adequada do ser e do caráter de Deus, mas uma compreensão correta 
daquilo que Deus está fazendo no mundo30— só pode vir mediante revelação, 
por meio do Espírito. E justamente essa ideia que Paulo retomará na explicação 
em seguida a esses três parágrafos iniciais (em 2.6-16).
Paulo afirma que foi no âmbito da sabedoria do próprio Deus que as coisas 
foram dispostas dessa maneira.31 Aqui ele não explica como, mas o motivo parece 
claro. Um Deus descoberto pela sabedoria humana será tanto uma projeção da 
queda humana quanto uma fonte de orgulho humano, e isso constitui adoração 
à criatura, e não ao Criador. Os deuses dos “sábios” raramente são graciosos
pergunta do versículo 20. Se essa última pergunta fosse o início de um debate com os hipoté­
ticos “sábios”, seria de esperar uma sintaxe diferente aqui (um Sé ou então nenhuma partícula).
2S0 grego diz literalmente “por meio de sabedoria”. No entendimento de alguns, isso se refere 
a algo como um “sistema de sophia” e, portanto, a uma espécie de compreensão quase gnóstica 
do mundo. Assim, aqui crotpía é entendida mais da perspectiva do conteúdo do que como modo 
ou maneira de ver as coisas. Mas o último entendimento é preferível (daí a NIV: “por meio de 
sua [própria] sabedoria”), pois nessa frase a expressão S ià xrjç crotpíaç contrasta com 8 ià trjç 
pcoptaç tou KqpúypaToç na oração gramatical paralela seguinte.
29Gr., éyvcú, provavelmente um aoristo ingressivo.
3°Nesse ponto, vem à tona a compreensão judaica de Paulo acerca do “conhecimento de Deus” 
(cf. E. D. Schmitz, N ID N TT 2:395-7). A expressão na frase seguinte, “salvar [...] aqueles que 
creem”, é, portanto, o comentário pertinente sobre esta aqui.
31Alguns interpretam a expressão èv Ttj aotpía toíj Geou com um sentido quase instrumen­
tal, fazendo com que signifique “o m undo não conheceu a Deus por meio da sabedoria de 
Deus exibida na ordem criada” (e.g., Kümmel, Héring). Mas isso não somente força bastante
0 contexto, mas também parece não perceber o significado da ordem das palavras. Essa ex­
pressão precede as demais e tem um uso um tanto absoluto (i.e., não modifica “o m undo não 
conheceu”, mas aí está subentendido “Deus dispôs de tal maneira as coisas em sua própria 
sabedoria que o m undo não conheceu”). Cf. A. J. M. W edderbum, “èv Ttj crocpía toü Geou —
1 Kor 1.21”, Z N W 64 (1973), p. 132-4, o qual, acompanhando Moule, p. 79, dá a esse uso 
a denominação de circunstancial.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#■ 1 Coríntios 1.18— 2.5 83
com os não merecedores e tendem a exigir bastante da capacidade das pessoas 
de compreendê-los; por isso, se tomam deuses apenas para a elite e os “mere­
cedores”. Deve-se assinalar que aqui Paulo está reconhecendo que existe outra 
sophia, a sabedoria de Deus, que ele está prestes a explicar (veja v. 24); mas no 
final essa sabedoria se revela o exato oposto da sabedoria humana. Reforçando, 
como é que tudo isso é a sabedoria de Deus e como podemos conhecê-la é o 
assunto tratado em detalhes no argumento que se segue (2.6-16).
Pelo contrário, Paulo diz que “agradou a Deus”32 levar pessoas a um rela­
cionamento adequado com seu Criador “por meio da loucura daquilo que 
foi pregado”. Aqui a palavra kêrygma (KJX “pregação”) não significa o ato da 
pregação em si,33 mas o conteúdo dessa proclamação, ou seja, a mensagem de 
um Messias crucificado. Isso é confirmado pelas frases seguintes (v. 22-25), que 
passam a explicar “a loucura daquilo que foi pregado”. O propósito de Deus 
em tudo isso é “salvar aqueles que creem”. Essa é, nas cartas paulinas, a primeira 
expressão clara34 daquilo que com certeza era central em sua teologia, ou seja, 
que foi somente Deus quem deu início à salvação para aqueles que ele chama 
(cf. v. 24,27), e que a resposta a esse chamado da graça é “crer”. Mas crer não 
significa apenas assentir mentalmente; significa também depositar toda a con­
fiança. Assim, em contraste com a atual ênfase coríntia na sabedoria, Paulo insiste 
— como eles provavelmente bem lembravam de sua própria experiência — que 
a salvação não vem de modo algum “por meio da sabedoria”, mas “por meio da 
loucura do evento da cruz”. E, justamente porque contradiz a sabedoria humana 
comum, isso é apenas para “aqueles que creem”, para aqueles que assumirão o 
risco e porão toda a sua confiança em Deus para salvar dessa maneira.
1.22
Agora o restante do parágrafo retoma, por meio da oração gramatical imedia­
tamente anterior, o tema da “loucura da cruz” (encontrado no “enunciado tese”
32Gr., EÚ5ÓKr|CTEV, uma palavra que em Paulo sugere vontadeforte, bem como grande satisfação. 
Veja BDAG; G. Schrenk, TD N T 2:740-2.
33Ruef, p. 13, sugere que se refere a ambos. Mas cf. G. Friedrich (T D N T 3:714-7), que assinala: 
“Vale a pena considerar se a referência em ICoríntios 1.21 não seria ao ato, a saber, que aprouve 
a Deus por meio de algo louco, i.e., pela pregação humana, salvar os homens. Mas o contexto 
[...] favorece o sentido de conteúdo no versículo 21”. Cf. 15.14.
34Com o em outras passagens, isso se baseia na ideia de que Gálatas foi escrita depois de 
ICoríntios, mas antes de Romanos. Veja o “Prefácio do autor”, p. xx; cf. meu livro Galatians: 
Pentecostal Commentary (Blandford Forum, 2007), p. 4-5. A expressão “ser salvo [...] mediante 
a fé na verdade”, em 2Tessalonicenses 2.10, põe mais ênfase em crer que o evangelho é verdade 
— em contraste com aqueles que “creem na mentira” (v. 8-12) — do que na confiança pessoal 
em Cristo.
84
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
[v. 18]) e reforça as duas idéias que Paulo quer destacar na refutação à atual 
posição coríntia: (l) a sabedoria (coisa deles) e a cruz (coisa de Deus) estão em 
total contradição entre si; (2) a coisa “louca” (a cruz) é o lugar em que Deus se 
agradou de demonstrar seu poder salvador e sua graça redentora em favor da 
humanidade. Mas Paulo apresenta essas duas idéias em grande estilo.
Em primeiro lugar, os contrastes do “enunciado tese” (loucura/poder) 
agora são retomados e detalhados. Para isso, Paulo divide os “que estão pere­
cendo” em dois grupos básicos, escolhidos em parte porque refletem a visão 
judaica que Paulo tem do mundo, mas principalmente porque refletem as 
duas maneiras básicas em que a humanidade em seu “perfeito juízo” (i.e., por 
meio da sabedoria) é religiosa. Assim, aqui os “judeus” e os “gregos” ilustram 
as idolatrias básicas da humanidade. Deus deve agir como o Todo-Poderoso 
ou o Todo-Sábio, mas sempre em favor de nossos interesses — poder em nosso 
favor, sabedoria como a nossa! Para os dois grupos, a idolatria suprema é insistir 
que Deus se conforme a nossas idéias preconcebidas sobre como “o Deus que 
faz sentido” deve fazer as coisas.35
Dessa forma, “os judeus pedem sinais”. Isso reflete as expectativas messiâ­
nicas judaicas. Deus havia agido poderosamente em favor deles na história; o 
Messias prometido restauraria a antiga glória, agindo de novo poderosamente em 
favor deles. “Mostra-nos um sinal”, os judeus exigem de Jesus repetidamente,36 
“confirma tua autoridade; valida tuas credenciais messiânicas com exibições de 
poder”. E quem pode culpá-los? Fazia muito que estavam abatidos e à procura de 
um libertador poderoso. Sabiam como Deus havia agido no passado — com mão 
poderosa e braço estendido. Sua idolatria era que agora haviam entendido plena­
mente a Deus; ele simplesmente repetiria o Êxodo com esplendor ainda maior.
“Os gregos procuram sabedoria”. Essa também era uma característica 
nacional.37 Muito antes, Heródoto já havia dito: “Todos os gregos eram zelosos 
de todo tipo de conhecimento”.38 Aqui também, quem pode culpá-los? Eram
3SCf. Barrett: “Isso implica uma recusa em confiar em Deus sem reservas; ele precisa apre­
sentar suas credenciais na forma de atos visíveis e identificáveis mediante os quais seus direitos 
sobre o homem [são] validados” (p. 54); e Conzelmann: “Dessa forma, eles se colocam como 
autoridade que pode julgar a Deus [...] Esperam que Deus se submeta aos seus critérios” (p. 47).
36Veja M t 12.38,39; Mc 8.11; Lc 11.16; Jo 6.30.
37É essa clara afirmação de Paulo que tom a tão difícil identificar na tradição sapiencial judaica 
a origem do uso de sabedoria nessa passagem, que é o que muitos fazem (veja p. 71, nota 70). 
O fato de que Paulo identifica esse uso como característica grega e em seguida emprega toda 
a sua capacidade retórica contra “a sabedoria deste m undo”, a qual os gregos procuram, parece 
exigir uma origem helenística da posição coríntia; a menos, é claro, que, conforme defendido 
por Horsley, a origem seja o judaísmo helenístico, que Paulo consideraria mais grego do que 
judaico. Mas também isso parece duvidoso.
,sHistory 4.77 (Loeb).
2 .0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#■ 1 Coríntios 1.18— 2.5 85
eles os responsáveis pelos maiores avanços na civilização ocidental. Aliás, foram 
os próprios avanços deles no conhecimento que levaram muitos a abandonar 
os deuses tradicionais e a se voltar para a sophia, ou a philosophia. Sua idolatria 
era conceber Deus como a razão suprema, com isso referindo-se, é claro, àquilo 
que nós consideramos razoável.
Essas são, então, as duas idolatrias básicas, e elas estão sempre conosco. Pedir 
poder e insistir na sabedoria, sempre em nosso favor ou com base no nosso ponto 
de vista, ainda são as idolatrias básicas de nosso mundo caído, que também têm 
o hábito infeliz de penetrar furtivamente na comunidade de fé.
1.23
Aos que buscam sinais e sabedoria Paulo agora apresenta a suprema contradição 
divina: “mas nós39 pregamos a Cristo crucificado”.40 Ao invés de lhes dar os 
sinais e a sabedoria que eles exigem — e Deus tem abundância de ambos —, 
eles recebem fraqueza e loucura. Aliás, “Cristo crucificado” é uma contradição 
de termos, da mesma categoria de “gelo frito”. Pode-se ter um Messias, ou 
pode se ter uma crucificação; mas não se pode ter ambos — pelo menos não 
da perspectiva da compreensão meramente humana. Messias significava poder, 
esplendor, triunfo; crucificação significava fraqueza, humilhação, derrota. Não 
é de admirar que tanto judeus quanto gregos estivessem escandalizados com a 
mensagem cristã. Durante a época romana, a crucificação era o castigo supremo, 
reservado principalmente para as várias classes de súditos rebeldes (insurgentes 
e afins) e escravos.41 Jesus morreu como alguém que cometeu um crime contra 
o Estado,42 um escândalo43 para judeus, gregos e cristãos igualmente.
39Essa é, na carta, a primeira ocorrência de um verbo na primeira pessoa do plural. Veja os 
comentários de 1.1 e 2.6. Também deve se assinalar como é natural Paulo adotar essa forma de 
expressão; assinale-se também que ela tende a acontecer em passagens como essa, em que Paulo 
estava preocupado em deixar implícito que essa pregação não era exclusiva dele. Veja 15.10,11.
40Gr., ècrxaupcopévov, verbo no tempo perfeito. Talvez o tempo perfeito reflita, como acreditam 
W C. Robinson, Jr. (“Word and power”, in: J. M. Richards, org., Soli Deo gloria: Essays for W. 
C. Robinson [Richmond, 1968], p. 71) e Ellis (p. 74), a possibilidade de que para Paulo o Senhor 
exaltado “continue, em sua exaltação, sendo o crucificado” (Ellis, p. 73). Por outro lado, aqui 
é um adjetivo (cf. 2.2), e a pergunta que fica é que outra forma o adjetivo poderia ter tomado.
41Sobre esse assunto todo, incluindo os dados históricos concretos sobre a crucificação no 
m undo romano e o significado da crucificação de Jesus tanto para cristãos quanto para pagãos, 
veja M. Hengel, Crucifixion (TI, Philadelphia, 1977).
4íCf. Tácito (Anais 15.44): “Christus, o fundador do nome [cristão], foi submetido à pena de 
morte no reinado de Tibério, por sentença do procurador Pôncio Pilatos” (Loeb).
43 A palavra grega traduzida por “pedra de tropeço” é ctkcxvSciÀ.ov, da qual deriva nossa palavra 
“escândalo”. N a verdade, “escândalo” está mais próxima do sentido do que “pedra de tropeço”, 
pois o significado da palavra não é tanto de algo que leva alguém a cair, mas de algo que ofende 
a ponto de despertar oposição (veja BDAG).
86
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
Para os judeus, a mensagem de um Messias crucificado era o escândalo 
supremo. Embora na época dos romanos os judeus não crucificassem, eles 
penduravam para exposição pública aqueles que haviam sido mortos por ape- 
drejamento, em especial blasfemadores e idólatras.44 Para eles, pendurar o cadáver 
do executado era, portanto, o cumprimento da lei (“porque todo aquele que forpendurado em uma árvore está debaixo da maldição de Deus”, Dt 21.23). Isso 
também ajuda a explicar a profunda raiva do próprio apóstolo contra Cristo; 
ele estava furioso com o fato de que judeus como ele honrassem como Deus 
aquele a quem o próprio Deus havia obviamente amaldiçoado, ao fazer com que 
fosse pendurado (cf. Gl 1.13,14; 3.13). Simplesmente era impossível um “Cristo 
crucificado” se encaixar na compreensão que eles tinham acerca de Deus ou das 
Escrituras. Daí o fato de ser “pedra de tropeço para os judeus”.
Para os “gentios”,45 a mensagem de “Cristo crucificado” era uma “supers­
tição perniciosa”46 e “loucura” absoluta. Conforme Hengel assinala, a palavra 
que Paulo usa aqui para designar loucura “não denota nem uma deficiência 
puramente intelectual nem uma falta de sabedoria transcendente. Algo mais 
está envolvido”, algo mais estreitamente ligado a “insanidade”.47 Para nós do 
Ocidente cristianizado, onde por incontáveis séculos a cruz tem sido o principal 
símbolo da fé, é difícil perceber como, para os gregos ou romanos do século 
1, a mensagem de um Deus que se íez crucificar por seus inimigos deve ter 
parecido insana. Mas é justamente a profundidade desse escândalo e loucura 
que precisamos perceber para podermos compreender tanto a razão pela qual 
os coríntios estavam se afastando dele rumo à “sabedoria” quanto a razão pela 
qual mais de um século se passou para a cruz aparecer entre os cristãos como 
um símbolo de sua fé.
1.24
Visto que os judeus buscam sinais e os gregos procuram sabedoria, e uma 
vez que Deus é todo-sábio e todo-poderoso, por que então — alguém talvez
44Veja m. Sanh. 6.4: “Todos os que foram apedrejados têm de ser pendurados. Mas os sábios 
dizem: N inguém é pendurado senão o blasfemador e o idólatra” (Danby).
4!Talvez não se deva dar demasiada atenção a isso, mas a mudança sutil de “gregos” para “gen­
tios” nessa oração parece digna de nota. Conquanto na maior parte dessa análise os dois termos 
possam ser intercambiáveis, eram especialmente os “gregos” que buscavam sabedoria. Por outro 
lado, não eram apenas os gregos, mas também particularmente os romanos que consideravam 
um messias crucificado algo totalmente sem sentido.
4ôEssa é a maneira de Tácito se expressar (veja nota 42 acima). Cf. Plínio, o Jovem: “Uma 
superstição despropositada e extravagante” (Ep. 10.96.8).
47Crucifixion, p. 1.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#■ ICoríntios 1.18— 2.5 87
pergunte — não lhes dar sinais e sabedoria em vez dessa “superstição perniciosa” 
que ofenderá a ambos? A razão de Paulo para não fazê-lo encontra-se na dupla 
realidade de que (l) o tema desagradável de um Messias crucificado era na 
verdade a expressão máxima do “poder” e da “sabedoria” de Deus e (2) como 
tal ele está disponível para aqueles a quem “Deus chamou, tanto judeus quanto 
gregos”. De novo, o apóstolo leva os coríntios a verem as coisas “de cima”, 
e não “de baixo”; da perspectiva de Deus, e não da perspectiva da sabedoria 
(meramente humana) deles.
De qualquer perspectiva meramente humana, a mensagem central do evan­
gelho cristão deve sempre parecer loucura. Mas para pessoas dos dois grupos 
essa loucura se revela o exato lugar em que Deus está poderosamente em ação, 
convocando um povo em tom o do seu nome. Aqueles que estão “sendo salvos” 
(v. 18), os “que creem” (v. 21), estão nessa condição por causa da ação prévia de 
Deus; são “aqueles a quem Deus chamou” (veja 1.1,2,9). Para eles, a pregação 
do “Cristo crucificado” é eficaz; é “Cristo o poder de Deus e a sabedoria de 
Deus”. Aqui, o interesse de Paulo está menos na capacidade deles de perceber 
a cruz como sabedoria (isso será explicado em 2.6-16) e mais na obra eficaz e 
real da cmz no mundo. Assim, ao dizer que Cristo é a “sabedoria de Deus”, ele 
não está empregando categorias filosóficas nem personificando a sabedoria em 
Cristo;48 em vez disso, essa é uma declaração evangélica, isto é, uma declaração 
sobre a operação eficaz do evangelho cristão. Cristo é a “sabedoria de Deus” 
justamente porque ele é “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que 
crê” (Rm 1.16; cf. v. 30 abaixo).
1.25
Cristo crucificado como poder de Deus e, portanto, como sabedoria de Deus, em 
operação no mundo é a contradição suprema para maneiras meramente humanas 
de perceber a realidade. Paulo agora conclui seu argumento, fundamentando em 
um axioma teológico a operação histórica daquela realidade: Deus é mais sábio 
e também mais poderoso do que meros seres humanos. Mas Paulo diz isso man­
tendo intacta a linguagem paradoxal do parágrafo. Para os que perecem, a cruz
48Essa sugestão repetida tantas vezes precisa ser posta de lado. Na verdade, tal ideia conflita com 
o assunto de que Paulo se ocupa aqui. Essa não é uma declaração cristológica, tal como a que se 
vê, e.g., em Colossenses 2.2,3. Pelo contrário, tal como o versículo 30 (q.v.), é uma declaração 
soteriológica. Afinal, ela começa com “Cristo é o poder de Deus”, em resposta direta à busca 
dos judeus nos versículos 22 e 23. Pode-se também argumentar que uma “cristologia dynamis” 
personificada está por trás da loucura coríntia. Para um repúdio total até mesmo de uma remota 
possibilidade de que Paulo tivesse qualquer coisa que beirasse uma “cristologia sapiencial”, veja 
agora o “Apêndice A” de meu livro Pauline Christology (Peabody, 2007), p. 595-630.
88
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
é loucura; e de fato é — loucura de Deus, a qual, por ser uma coisa de Deus, se 
revela “mais sábia que a sabedoria [humana]”. Na cruz, Deus “foi mais esperto” 
que suas criaturas humanas e, dessa forma, anulou a sabedoria delas. Na mesma 
cruz, Deus também “subjugou” seus inimigos, com graça e perdão profusos, e 
dessa forma os privou de sua força.
Assim operada diante de olhos humanos é a escandalosa e contraditória 
sabedoria de Deus. Caso Deus tivesse nos consultado para obter sabedoria, 
poderiamos ter lhe dado um plano mais viável, algo que atrairia tanto aquele 
que busca sinais quanto o amante da sabedoria. Mas o fato é que na sabedoria do 
próprio Deus ficamos de fora da consulta. Dessa maneira, também ficamos com 
o terrível risco: confiar em Deus e ser salvos por sua sábia loucura ou insistir com 
nossas pretensões e perecer. Melhor é a primeira opção, porque essa “fraqueza 
de Deus é mais forte que a força [humana]”; ela alcança aquilo que nenhuma 
pretensão humana consegue atingir. Ela leva a pessoa à “comunhão com seu 
Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor” (v. 9).
Dificilmente alguém poderá imaginar uma passagem mais importante — e 
mais difícil — do que essa para a igreja de hoje. E difícil pelo exato motivo de 
que ela ficava em Corinto. Simplesmente não conseguimos suportar o escân­
dalo de Deus fazer coisas à maneira de Deus, sem nossa ajuda. E ainda fazê-lo 
por meio de tal fraqueza e loucura! Mas com frequência temos conseguido 
amenizar o escândalo por meio de símbolos ou credos ou afirmações. Deus não 
será domesticado com tanta facilidade, e, libertada de suas algemas, somente 
a pregação da cruz tem o poder de libertar as pessoas. Aqui Paulo não nos diz 
como isso acontece, mas o relato todo o deixa claro. Na morte de seu Filho, 
Deus nos julgou, a nós que éramos responsáveis por ela. Dessa maneira, Cristo 
não apenas tom ou sobre si nossos pecados e culpa e “os removeu”. Ele nos 
desarmou diante de Deus, perdoando-nos quando a única coisa que merecía­
mos era a morte. Assim perdoados, somos libertados não só de nossos pecados, 
mas para nos tornarmos o novo povo de Deus no mundo. Dessa maneira, ela 
alcança o que o deus das expectativas humanas não consegue alcançar: cria 
discípulos que confiarão no único Deus verdadeiro pelo restante da vida. Tal 
“fraqueza” em Deus é escandalosa para aqueles que pensam que são justos e, 
portanto, não precisam de perdão; mas, para aqueles que se reconhecem neces­
sitados de misericórdia, essa é a boa notícia que nos liberta para seguirmos 
nossoSalvador. Assim, essa fraqueza é também o poder supremo e, portanto, 
a verdadeira sabedoria de Deus.
b. A loucura de Deus: os crentes 
de Corinto (1.26-31)
Para dar ainda mais força a seu argumento de que o evangelho que pregava 
contradiz diretamente as expectativas do homem em relação a Deus, Paulo 
passa do conteúdo do evangelho para a existência dos próprios coríntios 
como crentes. Não foi do meio da “elite” do mundo, mas em sua maioria 
de pessoas das classes mais baixas, os “zés-ninguém”, que Deus escolheu 
os que constituiríam o novo povo de Deus.49 Assim, eles próprios são 
prova da loucura divina que confunde os sábios. Dificilmente o parágrafo 
apresenta a autoexaltação deles de maneira positiva; de forma que serve 
ainda mais para acabar com a vangloria deles de simples seres humanos. 
“Vangloriar-se” é o novo tema que é abordado aqui, não apenas porque 
é isso que estavam fazendo com suas discussões em tomo de seus líderes, 
mas também porque é o tema principal da passagem de Jeremias (9.23,24) 
que serve de arcabouço para o argumento.
O parágrafo inicia-se lembrando-os de que a maioria deles era de 
origem mais humilde (v. 26); nas frases seguintes (v. 27,28), isso é transfor­
mado em uma declaração teológica, em que se afirma que a escolha divina 
de um povo como eles tem o mesmo propósito da própria cruz: salvá-los, 
mas ao mesmo tempo “envergonhar” e “anular” os próprios valores de que 
estavam se vangloriando. A eleição de tais pessoas revela o propósito último 
de Deus (v. 29): destruir completamente toda a fundamentação humana 
para a vangloria — baseada na autossuficiência — e, dessa forma, entregar 
a pessoa completa e confiadamente ao Deus vivo (v. 31). Isso se tornou 
possível por meio da obra de Cristo, que Deus fez com que se tomasse a 
verdadeira “sabedoria” por nós, pois ele operou redenção para nós, dessa 
forma nos fazendo justos para com Deus (v. 30).
Exegese e exposição
26lrmãos e irmãs, pensem naquilo que vocês eram quando foram chamados. Não 
muitos de vocês eram sábios segundo padrões humanos; não muitos eram influentes; não 
muitos eram de nobre nascimento. 27Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para
49É claro que para o leitor posterior isso cria uma tensão forte com algumas passagens pos­
teriores na carta, especialmente os capítulos 8—10, em que parece claro que o problema é de 
atitude de superioridade, quando alguns dos abastados estavam destratando os menos favorecidos 
na questão das refeições (aparentemente bastante suntuosas).
90
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
envergonhar as sábias; Deus escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as 
fortes. 28Deus escolheu as coisas humildes deste mundo e as coisas desprezadas— e50 
as coisas que não são — para anular as coisas que são, 29para que ninguém possa se 
vangloriar diante dele. 30É por causa dele que vocês estão em Cristo Jesus, que por nós 
se tornou sabedoria da parte de Deus — ou seja, nossa justiça, santidade e redenção. 
31Portanto, conforme está escrito: “Aquele que se vangloria, vanglorie-se do Senhor” .3
sJr 9.24.
1.26
O vocativo “irmãos e irmãs” e uma conjunção não traduzida (com o sentido 
de “pois”) sinalizam uma inflexão no argumento.51 Trata-se de uma conjunção 
explicativa ou conclusiva, que indica que esse parágrafo (e o seguinte) apresentará 
ilustrações específicas para demonstrar ainda mais a ideia do parágrafo anterior 
(v. 18-25). Dessa maneira, ele os instrui a “pensar” (“olhar para”52) “naquilo 
que vocês eram quando foram chamados” (lit., “considerem o seu chamado”),53 
retomando do final do parágrafo anterior (v. 24) o tema de serem “chamados” 
(cf. v. 1,2,9). Normalmente essa palavra34 se refere ao ato de chamar.53 No entanto, 
aqui o contexto exige um significado muito parecido com o da NIV Ou seja, 
ainda que agora Paulo esteja se referindo ao chamado deles para a salvação, seu 
atual interesse é aquilo que eles eram na época daquele chamado, assim como 
procederá mais tarde em um contexto bem diferente (7.17-24). Talvez seja pos­
sível exprimir com uma paráfrase a nuance do que Paulo quis dizer: “Vejam o
50B syr vg Orígenes, acompanhados pelo posterior TMaj, aqui trazem Kaí; a palavra está 
ausente na maioria das fontes mais antigas orientais e ocidentais. O acréscimo da conjunção é 
facilmente explicado pelas mesmas razões que a NIV traduz por um “e”; cf. Metzger, p. 480.
51D F G substituíram o yáp por um ofiv, mas, conforme Barrett ressalta com razão (p. 56), isso 
inverte o argumento. A paragrafação da NIV realiza essa transição natural sem traduzir o yáp.
52Gr., |3ÂÍttete, um imperativo afável que aqui tem função parecida com a de um pai que 
repreende o filho todo sujo: “Olhe para você!”. Aqui Barrett, p. 56, acompanha Schlatter, que 
interpreta o verbo no modo indicativo. O imperativo é preferível, como em outros trechos dessa 
carta (8.9; 10.18; 16.10).
53E claro que há uma tensão bastante grande entre essa passagem e aquilo que se diz adiante em 
nosso capítulo 8, no qual a ênfase está, sem dúvida, no fato de os mais abastados destratarem os 
menos favorecidos na questão da mesa do Senhor — o que significa que a expressão “não muitos 
de vocês” é bem importante, especialmente porque os abastados que são julgados posteriormente 
na carta estão, ao que parece, sendo deliberadamente incluídos aqui no presente argumento 
e talvez até mesmo sejam o foco principal do argumento. A respeito dessa passagem, Lady 
H untingdon teria dito: “Paulo não disse ‘nenhum de vocês’, mas, sim, ‘não muitos de vocês’”.
54Gr., K X f jc n ç , que na forma é um substantivo verbal, enfatizando, assim, mais o ato do que a 
condição adquirida em consequência do ato.
55Apesar de BDAG 2, não há nenhuma evidência de que a palavra jamais chegou a ter o 
sentido de vocação ou condição social. Veja Bartchy, p. 136, nota 482.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#- 1 Coríntios 1.18 — 2.5 91
que esteve envolvido no fato de vocês serem chamados por Deus; quem vocês 
eram quando ele os chamou”. O que Paulo quis mostrar, ao levá-los a consi­
derar a própria condição, é que, ao chamar um povo para levar o seu nome, 
Deus não deu nenhuma importância aos valores agora vigentes entre os crentes 
de Corinto, a saber, sabedoria ou mérito mundanos. Aliás, ao chamá-Zos, Deus 
escolheu principalmente aqueles que são uma contradição viva desses valores.
O que segue exibe com detalhes (retóricos) a condição deles na época 
quando foram chamados: “Não muitos [...] eram sábios [sophoi] segundo padrões 
humanos; não muitos eram influentes [dynatoi]; não muitos eram de nobre nas­
cimento [eugeneis] ”. A locução substantiva “segundo padrões humanos”,56 que 
qualifica “sábios”, aplica-se aos três termos (cf. “desta era” no v. 20) e reflete a 
perspectiva de como pensavam naquele momento. Essa é a primeira ocorrência 
de “carne” (sarx) nas cartas paulinas que chegaram até nós; com o tempo, servirá 
de termo básico para descrever nossa existência presente e “mundana”, que na 
maioria das vezes se refere à humanidade em sua condição caída em oposição 
a Deus (e.g., Gl 5; Rm 8). A ironia da situação atual dos crentes de Corinto é 
que eles estão julgando Paulo e seu evangelho com base nesse ponto de vista, 
o qual, caso fossem aplicá-lo a si mesmos, serviria apenas para mostrar quão 
insignificantes eles realmente são. Por isso, Paulo o aplicará a eles, para mostrar 
quanto a perspectiva de Deus é diferente da deles.
Mas qual foi o propósito específico de Paulo com a escolha dos termos 
“sábio”, “influente” e “de nobre nascimento”? Os dois primeiros parecem ter sido 
determinados pelo argumento em si. São a forma adjetiva dos dois substantivos 
que anteriormente descreveram o Cristo crucificado (v. 24); ele é a sabedoria 
(.sophia) e o poder (dynamis) de Deus e, portanto, se opõe àqueles que são sophoi 
e dynatoi segundo os padrões desta era. Ao mesmo tempo, esse jogo de palavras 
reflete os dois primeirositens da citação de Jeremias (9.23); mas em Jeremias a 
LXX traduz (acertadamente) o segundo termo por ischyros, com a implicação 
de força ou poder (cf. v. 25 e 27).57 Por outro lado, dynatos — que também pode 
sugerir poder —, quando aplicado a pessoas, tem na maioria das vezes, como 
é o caso aqui, o sentido de “proeminente e influente”, aqueles que são “gente 
de peso” em qualquer contexto sociológico.58 Assim, antes de sua conversão, a 
maioria dos crentes não fazia parte dos “sábios” e “influentes” de Corinto.
s6Gr., r a i a crápKa; quanto ao uso de aápÇ em Paulo, veja E. Schweizer, TD N T 7:125-38; 
para uma abordagem mais popular, veja W Barclay, Flesh and Spirit (Nashville, 1962), p. 16-22 
[edição em português: As obras da carne e o fruto do Espírito, tradução de Gordon Chown (São 
Paulo: Vida Nova, 1985)].
57Mas cf. o acréscimo à oração de Ana (lSm 2.10) na LXX, que traz cppóvipot e dúvatot em 
lugar de crotpoí e íayupoí do texto de Jeremias.
58Cf. At 25.5; Josefo, G.J. 1.242; Filo, Moisés 1.49. Cf. D. Sãnger, “Die dynatoi in 1 Kor 1:26”, 
Z N W 76 (1985), p. 285-91.
92
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
Nem tinha ascendência ilustre: “não muitos eram de nobre nascimento”. Esse 
é o termo mais surpreendente. Jeremias usa a palavra “rico” para completar sua 
tríade; e, tendo em vista as origens da Corinto romana,59 pode-se sustentar que 
naquela cidade bem poucas pessoas eram “de nobre nascimento”. Mas os “novos 
ricos” estabelecem sua própria aristocracia, e a maioria dos crentes de Corinto não 
fazia parte dela. E possível que essa palavra tenha sido escolhida em lugar de “rico” 
porque é sociologicamente mais decisiva: alguns deles podem ter sido ricos, mas 
bem poucos teriam sido de nobre nascimento. Por outro lado, Munck reuniu um 
volume considerável de indícios que mostram que parte da “vangloria” dos sofistas 
erajustamente o fato de que faziam parte dos “sábios, poderosos e bem nascidos”.60
Há muito tempo essa passagem vem despertando interesse daqueles que 
querem entender a posição social das primeiras comunidades cristãs helenísti- 
cas. O entendimento tradicional era que a passagem dizia que a fé cristã atraía 
principalmente a “escória” da sociedade. Por esse motivo, mais de um século 
depois, Celso, um adversário do cristianismo, ironizou:
Suas ordens são assim: “Q ue nenhum a pessoa instruída, que nenhum a sábia, que 
nenhum a sensata, chegue perto. Pois para nós essas habilidades são males. Mas quanto 
a um ignorante qualquer, a um estúpido qualquer, a alguém sem instrução qualquer, a 
um a criança qualquer, que venha sem hesitar”. Pelo fato de que eles mesmos adm item 
que essas pessoas são dignas de seu Deus, mostram que desejam e conseguem convencer 
apenas os tolos, infames e estúpidos e somente escravos, mulheres e crianças.61
Nos últimos anos, alguns têm defendido exatamente o oposto, ou seja, que 
apesar dessa afirmação de Paulo, que é rejeitada sob a alegação de ser retórica, 
os primeiros crentes helenísticos “vieram em geral de círculos burgueses bem
” Era habitada principalmente por libertos procedentes da Itália. Veja a introdução, p. 2.
60Paul, p. 162-3, nota 2: “Embora possamos interpretar, mesmo sem dados adicionais, que os 
sofistas são croipoí, há vários exemplos de que eles tinham pais ou antepassados que eram 5ú vato i 
e eúyeveíç”. Os exemplos que se seguem são numerosos e persuasivos e parecem rejeitar a ideia, 
defendida por Theissen, p. 70-1, de que os termos sejam apenas sociológicos. Tanto Pearson, 
p. 40, quanto Horsley, “Pneumatikos”, p. 282-3, defendem que Filo também emprega essa 
terminologia para designar aqueles em nível avançado de sabedoria (cf. o apoio entusiástico de 
Davis, p. 191, nota 42, que afirma que os exemplos apresentados por esses autores “mostram a 
verdadeira proveniência dessa terminologia”). Mas na verdade nenhum de seus exemplos sugere 
isso ou qualquer coisa parecida. E a maneira que Filo utiliza esse vocabulário também não dá 
certeza de que ele é a fonte desse uso em Corinto.
6lCitado por Orígenes em Contra Celsum 3.44, TI de H. Chadwick (Cambridge, 1965), 
p. 158 [edição em português: Contra Celso, in: Orlando dos Reis, trad., Patrística (São Paulo: 
Paulus, 2004), vol. 20]. Orígenes acertadamente passa a responder, com base em ICoríntios 
1.26, que esse não é o quadro todo, mas, ao fazê-lo, desconsidera totalmente o que o próprio 
Paulo está dizendo.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#• 1 Coríntios 1.18 — 2.5 93
abastados com um percentual razoável de pessoas também procedentes da classe 
alta, bem como dos mais pobres”.62 Vários estudos sociológicos do século 20 
foram mais criteriosos, demonstrando que a característica verdadeiramente pecu­
liar do cristianismo primitivo era seu caráter não homogêneo, que derrubava 
todas as barreiras sociológicas e aceitava como “irmãos e irmãs” tanto escravos 
quanto livres, tanto judeus quanto gentios, tanto homens quanto mulheres.63
Ao dizer “não muitos”, Paulo está bem ciente de que alguns deles de fato 
estavam financeiramente bem segundo padrões humanos (e.g., Crispo, Gaio, 
Erasto, Estéfanas). Alguns na verdade eram proprietários de suas próprias casas e, 
de acordo com uma censura feita posteriormente nessa mesma carta (11.17-22), 
eles estavam destratando os “necessitados” à mesa do Senhor. Mas basicamente 
a comunidade era constituída de pessoas que não eram da “classe alta”, embora 
essa afirmação não permita estabelecer quantos teriam feito parte do grupo dos 
verdadeiramente “pobres” — escravos e libertos pobres — e quantos teriam sido 
artesãos e artífices, como era o caso do próprio Paulo.
Mas a preocupação de Paulo não é sociológica; é teológica, e ele está se 
aproveitando da posição social nada importante da maioria — o que ao mesmo 
tempo pode ter tido conotações filosóficas — para deixar clara a sua ideia. 
Aquilo que Celso considerava a vergonha do cristianismo, Paulo considerava 
a glória maior da fé cristã. Ao levar “boas-novas aos pobres” por meio de seu 
Filho, Deus se colocou para sempre ao lado dos menos favorecidos; ao mesmo 
tempo, temos assistido ao próprio Deus derrubando os falsos padrões do mundo.
6lW Wuellner, “The sociological implications o f I Corinthians 1:26-28 reconsidered”, StudEv 
6 (TU 112; Berlin, 1973), p. 672. Infelizmente a posição de W uellner se baseia principalmente 
em argumentos gramaticais, que nesse caso são, na melhor das hipóteses, precários, faltando- 
-lhe a abordagem mais sólida da sociologia. Cf. tb. K. Schreiner, “Z ur biblischen Legitimation 
des Adels. Auslegungsgeschichtliche Studien zu 1. Kor. 1,26-29”, ZKG 85 (1975), p. 317-57.
63Vejaesp. E. A.Judge, The socialpatterns of Christiangroups in thefirst century (London, 1960), 
p. 49-61, e G. Theissen, Social setting, caps. 2—4. O ponto mais discutível dessas análises é o 
argumento de que, apesar de a maioria proceder de estratos sociais mais baixos, de um modo 
geral era influenciada pela minoria dominante, que provinha das classes mais altas. Aliás, Theissen 
adota essa ideia como sua tese geral sobre a igreja em Corinto e, dessa maneira, entende que 
1 Coríntios é basicamente dirigida a essa minoria de classe alta, a qual, por causa de seus próprios 
atritos internos, é responsável por dividir a igreja. Assim, ele entende a declaração de Paulo em 
4.10 como um reflexo da realidade dos fatos, de que eles eram de fato “sábios, fortes e honrados”. 
Por consequência, ele precisa tratar o versículo 26 não como um texto dirigido diretamente aos 
destinatários; pelo contrário, o texto visa lembrar-lhes de como era a maioria. Mas isso parece 
inverter totalmente o sentido das duas passagens. O argumento em 4.8-11 está tão cheio de 
ironia que é difícil interpretá-lo como realidade dos fatos; por outro lado, a presente passagem 
se dirige diretamente à igreja e diz: “Olhem para o chamado de vocês, irmãos e irmãs”. Essa é 
a realidade dos fatos. De outra forma,toda a força do argumento se perde. Afinal, o poder da 
retórica deriva da convenção que ela pressupõe e a que se refere.
94
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
Todas as adaptações do evangelho para atender à classe média ou à classe alta 
são, portanto, uma traição àquele evangelho.
1. 27,28
Com essas séries de contrastes, Paulo agora passa a exibir a “glória maior” do 
evangelho. Os coríntios não depararam com uma grande coisa quando ouviram 
as boas-novas conforme pregadas por Paulo; pelo contrário, “Deus escolheu”64 
gente como eles; e procedeu assim para envergonhar o mundo e, por fim, reduzi- 
-lo a nada. Portanto, em última análise essa frase (v. 26-29) é mais uma exaltação 
da maravilhosa graça de Deus do que uma humilhação dos coríntios.
Os próprios contrastes ecoam a linguagem do parágrafo anterior (v. 22-25), 
mas agora ecoam especificamente a frase anterior (v. 26), que se refere diretamente 
aos coríntios. Deus escolheu não os “sábios”, mas as “coisas loucas65 do mundo”; 
não os “influentes”, mas “as coisas fracas do mundo”; não os “de nobre nascimento”, 
mas as “coisas humildes66 deste mundo”. O que Deus fez na cruz e ao chamar os 
“humildes” coríntios não somente manifesta o caráter do próprio Deus, a saber, que 
ele é gracioso, mas também ilustra que Deus não está em dívida com o mundo: 
“Tudo que agrada o Senhor ele faz” (Sl 135.6, NRSV [no contexto da “escolha” 
de Israel como sua propriedade particular!]). Assim, Deus não apenas não tem de 
prestar contas aos “sábios” deste mundo, mas, com sua atividade graciosa em Cristo, 
na realidade “envergonhou” os sábios. Com este último termo Paulo não quer dizer 
algo subjetivo, os “sentimentos de vergonha” que os sábios agora deveríam sentir. 
Em vez disso, aqui ele retomou um tema do AT que expressa a vindicação de 
Deus sobre seus inimigos (ou sobre os inimigos dos justos), uma vindicação que 
está relacionada com os justos juízos de Deus (e.g., Sl 6.10; 31.17; 35.4,26,27).67 
Com Paulo, essa vindicação se tomou escatológica; ao escolher os coríntios, já teve
64Gr., ÈÇsXÉÇaTO, a palavra que é traduzida por “eleição”. Aqui a ênfase não está na eleição 
em si, mas na soberania de Deus, que elege como quer e a quem quer.
‘■ 'Em cada ocorrência nos versículos 27 e 28, os “loucos”, “fracos” e “humildes” são neutros 
plurais, enquanto o primeiro substantivo contrastante, “sábios”, é masculino, e os demais são 
neutros. Isso cria uma frase incom um em grego, mas, assim mesmo, é compreensível. Os 
comentaristas mais antigos (e.g., Lightfoot, Godet) costumavam dar demasiada importância 
a essas diferenças de gênero. A melhor solução é que aqui Paulo está generalizando. Deus não 
apenas escolheu os “loucos” (pessoas desprezadas pelos coríntios?), mas em todos os caminhos 
de Deus o que é “escolhido” é aquilo (ou “aqueles”) que (ou “quem”) o mundo considera louco 
(incluindo a cruz). Veja Barrett, p. 58, que traduz: “o que o m undo considera louco”. Parece 
que essa tradução capta a ideia de Paulo.
66Gr., àyevq, o oposto de EuyEVEtç, na maioria das vezes não significa “de nascimento hu­
milde”, mas simplesmente “sem importância” ou “inferior”.
67Cf. H. C. Kee, “The linguistic background o f‘shame’ in the New Testament”, in: M. Black; 
W A. Smalley, orgs., On language, culture, and religion: in honor of Eugene A. Nida (The Hague, 
1974), p. 133-47.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#■ 1 Coríntios 1.18 — 2.5 95
início a vindicação final sobre os inimigos de Deus. Deus já os “desmoralizou” 
destruindo a perspectiva distorcida deles.
Os contrastes finais deixam clara a perspectiva escatológica de Paulo. Ele 
começa com “humildes”, ao que acrescenta “as coisas desprezadas” (cf. 6.4);68 então, 
em típico estilo retórico, ele rotula essas coisas desprezadas, incluindo os coríntios, 
de “as coisas que não são” — os “nadas” — que Deus escolheu a fim de “anular as 
coisas que são”. O verbo “anular”69 é o que deixa claro que se trata de linguagem 
retórica e escatológica, e não filosófica.70 Esse verbo ocorre ao longo de 1 Coríntios 
em contextos nitidamente escatológicos para expressar a convicção de Paulo de que 
em Cristo Deus já pôs o futuro em movimento, pelo que a era presente está “de 
saída”, está sendo eliminada pelo Deus eterno.71 Por meio do Cristo crucificado e 
pelo subsequente chamado divino dos coríntios a serem participantes da “glória” 
(2.7), Deus já escolheu “as coisas que não são” para tomar inúteis “as coisas que 
são” (os sábios, com seu ponto de vista apenas humano, apenas “desta era”).
1.29
Com essa oração subordinada, Paulo exprime o propósito último72 da loucura 
divina: “para que ninguém 73 possa se vangloriar diante dele [de Deus]”.74
68Esse termo em particular tem necessariamente grande peso na compreensão das dimensões 
sociológicas da igreja analisadas acima no versículo 26. Essa palavra é uma escolha deliberada 
de Paulo para tratar em mais detalhes do significado de “não [...] de nobre nascimento”. Tais 
pessoas não apenas são “mal aparentadas”, mas também desprezadas por aqueles que são “bem 
aparentados”. A expressão não faz quase nenhum sentido nesse contexto, caso não reflita o fato 
de a maioria ser de classe baixa.
69G r., K aT apyécD .
7°Essa expressão é usada no judaísmo para designar a doutrina da criação ex nihilo (do nada; 
cf. 2Mc 7.28; Filo, Leis esp. 4.187) e à conversão como a nova criação (Jos. Asen. 8.15). Mas, 
conforme Conzelmann observa (p. 51, nota 23), nada disso está na mente de Paulo, visto que 
“as coisas que são” pertencem “ao lado negativo”.
71 Veja 2.6; 6.13; 13.8 (2x); 13.10; 15.24,26.
7I0 trecho (v. 27-29) tem três orações gramaticais com a conjunção iva (que normalmente 
expressa finalidade), cada uma acompanhando uma ocorrência da repetida expressão “Deus 
escolheu”, e termina com a oração iniciada com a conjunção ottcoç (que também exprime 
finalidade). As três orações gramaticais com a conjunção iva expressam o propósito “concre­
tizado” de Deus (Conzelmann, p. 50), i.e., o processo que está atualmente sendo executado no 
mundo. Nesse versículo, a última oração, com a conjunção ottgoç, expressa, então, o objetivo 
último de Deus em tudo isso.
73Gr., pf| T rãc ja a á p Ç . Essa expressão que soa estranha é um hebraísmo, e T tccaa a á p Ç é 
tradução literal da expressão idiomática veterotestamentária kal-hasar. Assim, apesar da ordem 
das palavras, o advérbio pf| está negando o verbo, que resulta na frase não muito feliz “para que 
toda a carne não se vanglorie”.
74Gr., Èvcóttiov to u 0 eo u , literalmente “na presença de Deus”.
96
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
O resultado é que Deus deliberadamente escolheu as coisas loucas do mundo, 
a cruz e os crentes de Corinto, a fim de remover para sempre de toda criatura 
humana qualquer possível fundamento que tenha para se apresentar perante 
Deus com algo em suas mãos. O chão está bem plano ao pé da cruz; não há 
absolutamente nada que qualquer de nós tenha que nos coloque em posição 
de vantagem perante o Deus vivo — nem genialidade, nem “peso”, nem reali­
zações, nem dinheiro, nem prestígio. Ao escolher os humildes coríntios, Deus, 
com uma declaração contundente, excluiu para sempre todo sistema humano 
concebível de obtenção do favor divino. E tudo — “confie completamente em 
Deus” (v. 31) — ou nada.
O verbo “vangloriar-se”, que no N T é um vocábulo predominantemente 
paulino,75 ocorre aqui pela primeira vez, muito provavelmente por causa de seu 
uso prévio em Jeremias (9.23,24), que Paulo está prestes a citar (v. 31). Essa palavra 
apresenta considerável dificuldade para tradução. Pode significar “orgulhar-se 
em” ou “gloriar-se em”, daí a tradução “vangloriar-se”. Mas às vezes, especial­
mente aqui, o sentido se aproxima bastante do conceito de “confiar”, ou seja, 
“pôr plena confiança em”. Nós “nos vangloriamos” daquilo em que arriscamos 
tudo para obter segurança.Há uma interessante alternância entre usos positivos 
e negativos por parte de Paulo; mas não há nenhuma dificuldade em encontrar 
a chave. Para ele, o marco divisório é a graça de Deus manifestada na morte de 
Cristo pelos pecadores, por meio da qual Deus eliminou toda pretensão humana 
e toda autossuficiência. Assim, a pessoa precisa pôr toda a confiança — ela 
precisa “vangloriar-se, gloriar-se” — no Senhor e na misericórdia do Senhor. 
Todas as outras formas de “vangloria” são, dessa forma, abolidas (cf. 3.21; 4.7; 
Rm 2.23; 3.27), exceto aquela que reflete a “fraqueza” e a “loucura” de Deus 
(e.g., Rm 5.3; 2Co 12.9).
1. 30,31
As frases iniciais do parágrafo lembravam aos coríntios que, à semelhança da 
própria cruz, o chamado deles exprime a “loucura” de Deus, que é “mais sábia 
que a sabedoria humana”. Mas tudo isso foi dito em termos negativos: Deus 
estava, dessa maneira, decidido a “envergonhar” a sabedoria humana e “acabar” 
com ela, para que nenhuma mera criatura tivesse motivo para se vangloriar na 
presença de Deus. Agora, por meio de um contraste, Paulo se dirige diretamente 
aos coríntios para expressar em termos positivos aquilo que Deus fez quando
75Das 59 vezes em que o grupo de palavras Kau^áopai-Kaú^riaiç-Kaúxqpa ocorre no NT, 
55 vezes aparecem em Paulo; 39 das 55 ocorrências estão em 1 e 2Coríntios (10 em ICoríntios; 
29 em 2Coríntios), a grande maioria das vezes com sentido negativo.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#• 1 Coríntios 1.18 — 2.5 97
os chamou. A frase é estritamente soteriológica e tem relação com as frases 
anteriores (v. 26-29) da mesma maneira como anteriormente uma oração de 
encerramento (v. 24) teve relação com expectativas judaicas e gentílicas (v. 22,23, 
ou “demandas”, como Paulo as chama).
Os contrastes em si, que ficam bem patentes no texto grego, são difíceis 
de traduzir. Literalmente, Paulo diz: “mas76 dele77 vocês são, em Cristo Jesus”. 
O que Paulo quer dizer está claro: em contraste com o mundo, vocês devem sua 
existência78 à atividade antecedente de Deus, a qual foi efetuada na história por 
meio de Cristo Jesus. Assim como na frase anterior, aqui toda a ênfase recai na 
atividade de Deus,79 atividade que na história humana se expressou de modo 
mais marcante “em Cristo Jesus”.80
A forma de Paulo expressar essa atividade divina em Cristo tem uma longa 
história de interpretação equivocada na igreja, a qual tem relação, em parte, 
com a tradução KJV (“quem de Deus foi feito para nós sabedoria, e justiça, e 
santificação, e redenção”) — como se essa fosse uma declaração cristológica — 
e em parte com sua leitura à luz de outras passagens (Cl 2.2,3 e Tg 1.5). Dessa 
maneira, Cristo é visto como a fonte de sabedoria para os cristãos, por meio da 
qual eles vêm a conhecer Deus ou então são iluminados sobre seus caminhos;81 
em outras palavras, Cristo se tornou sabedoria para nós para que com isso 
pudéssemos nos tornar sábios. Mas isso é ignorar completamente o que Paulo 
queria dizer. Em consonância com o que havia dito anteriormente (v. 24), ele 
afirma que Deus fez82 com que Cristo se tornasse “sabedoria” verdadeira por
76U m 5é com claro sentido de contraste foi deixado fora da NIV “Mas, quanto a vocês” — 
Paulo diz — “em contraste com o que foi dito sobre o mundo nas frases anteriores”.
77Gr., èÇ aúxou, retomando a última palavra do versículo 29: ... xou 0eoü. èE, cujtou 5è....
?sO úpcíç cote também é enfático.
790 que não está claro é a exata nuance de “dele”, que expressa ou “razão” (NIV; cf. Conzel- 
mann, p. 51, “por seu ato”) ou “fonte” (RSY “ele é a fonte da vida de vocês em Cristo Jesus”). 
A primeira tem a dificuldade de ser um sentido incomum no N T (cf. ainda Lightfoot, p. 167). 
A segunda era a interpretação unânime dos comentaristas gregos. Veja, por exemplo, Crisóstomo: 
“Pois vocês são filhos daquele em cuja presença não é apropriado gloriar-se, tendo se tornado 
assim [i.e., filhos] por meio de Jesus Cristo” (cf. Barrett, “vocês estão aparentados com Deus”).
8oDe modo que, tal como no versículo 2, a expressão èv Xptcrrcò 'IrjCToü provavelmente não 
tem sentido locativo, mas semi-instrumental. Mediante o que Deus realizou “em Cristo Jesus”, 
eles se tornaram seus filhos.
‘‘Uma interpretação ainda perpetuada por Mare, p. 197; algo parecido, e especialmente ir­
responsável do ponto de vista exegético, é o uso dessa passagem para também dar base a uma 
suposta “cristologia sapiencial” em Paulo; veja o Apêndice de meu livro Pauline Christology. 
Esse é, na área do NT, um mito contemporâneo que precisa ser sepultado para sempre, visto 
que não há indício de espécie alguma a seu favor.
8-Gr., certo 0eou, corretamente traduzido por “da parte de Deus”. Mas Cristo não foi feito 
“sabedoria da parte de Deus” para nós; em vez disso, é “sabedoria para nós da parte de Deus”; 
i.e., Deus o fez sabedoria em nosso favor.
98
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
nós83 — o que é então imediatamente interpretado de modo histórico-salvífico, 
“ou seja, nossa justiça, santidade e redenção”. Assim, ao contrário do que a KJV 
faz supor, Paulo não está sugerindo que Cristo foi feito essas quatro coisas para 
os crentes. Em vez disso, Deus fez com que ele, o crucificado-agora-ressuscitado, 
se tornasse “sabedoria” por nós, mas não do tipo com que os coríntios agora 
estavam fascinados. A verdadeira sabedoria deve ser entendida da perspectiva das 
três metáforas ilustrativas que se referem ao evento salvador de Cristo.
Falta às metáforas em si aquilo que normalmente poderiamos considerar 
sequência lógica (i.e., a “redenção” produz nossa “justiça” [= posição correta 
diante de Deus], que é seguida de “santidade”).84 Mas essa interpretação deixa 
de perceber o interesse de Paulo nesse momento. Essas não são três etapas dife­
rentes no processo de salvação; na verdade, são três metáforas diferentes do mesmo 
acontecimento (nossa salvação que foi operada em Cristo), cada uma tirada de 
uma esfera diferente de nossa existência humana e cada uma enfatizando um 
aspecto diferente da mesma realidade (cf. 6.11). Se para descrever esse evento 
ele emprega substantivos em vez de verbos, é porque eles estão em aposição ao 
substantivo “sabedoria”.
Essa é a primeira ocorrência de “justiça/retidão” (= “justificação”) em 
Paulo. Em decorrência da posterior85 controvérsia “judaizante” na Galácia, ela se 
tornou a metáfora dominante em Gálatas e Romanos, mas em nenhuma outra 
epístola(l). O uso paulino aqui e em uma passagem posterior (6.11) sugere duas 
coisas: (l) provavelmente, ela já era uma metáfora que Paulo estava usando para 
expressar a obra salvadora de Cristo; (2) ela era uma de várias outras metáforas 
que ele usava regularmente para conotar a magnífica amplitude dessa obra.86 
Por esse motivo, aqui “justiça” é um termo mais forense do que ético e destaca 
a condição imerecida do crente de estar em situação correta diante de Deus, 
apesar de ser culpado de violar a lei divina. Já encontramos o termo “santidade” 
na saudação (1.2). Essa é uma metáfora religiosa, e nesse tipo de lista ela nos
83 A mudança de “vocês” para “nós” é significativa aqui. O texto começa como uma palavra 
direta aos coríntios quanto à sua existência em Cristo Jesus em contraste com os sábios do m un­
do. Mas a essa altura a perspectiva se amplia para incluir todos os que são de Cristo. Conforme 
Godet comenta: “E isso porque o assunto em questão agora é o que Cristo é objetivamente 
para [as pessoas], e não a apropriação subjetiva dele pelos crentes” (p. 116). Cf. a mudança 
semelhante em 2.6-16.
84Cf. Conzelmann: “Os três conceitos soteriológicos não estão organizados sistematicamente” 
(p. 52).
85Quanto a essa perspectiva, observe-se o “Prefácio do autor”, p. xx.
86Essa não é a interpretação usual. Para uma abordagem ligeiramente diferente, que defende 
a centralidade da justificação até mesmo aqui, veja R. Y.-K. Fung, “Justification by faith in 1 & 
2 Corinthians”, in: D. A. Hagner;M. J. Harris, orgs., Pauline studies: essays presented to Professor 
F. F. Bruce on his seventieth birtkday (Grand Rapids, 1980), p. 246-61.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana 1 Coríntios 1.18 — 2.5 99
leva para a esfera ética. Foi um tema recorrente em duas cartas anteriores de 
Paulo (l e 2Tessalonicenses) e é retomado em 1 Coríntios no final do trecho 
em que ele censura a atitude de um irmão levar outro a tribunal (ó .ll). O 
termo “redenção” é uma metáfora tirada da escravidão e tinha uma vasta história 
entre os judeus para expressar sua própria libertação da escravidão do Egito. 
A ênfase está mais na soltura de cativos para a liberdade do que no conceito de 
pagamento de “resgate”;87 no uso paulino (e.g., Rm 3.24; Cl 1.14) em geral se 
refere à libertação da escravidão do pecado.
Assim, é verdade que existe “sabedoria” em Deus. Mas essa sabedoria é de 
um tipo diferente daquela em que os coríntios estão se deleitando e pela qual 
estão brigando entre si. A sabedoria não tem relação com “ficar esperto”, nem 
com status nem com retórica. A sabedoria de Deus — isto é, a autêntica — tem 
relação com a salvação por meio de Jesus Cristo. Na verdade, em última instância 
a sabedoria divina reside (a) em Deus “passar a perna” em todas as formas de 
mera sabedoria humana e (b) em fazê-lo com o que para eles é loucura total. 
Em uma comunidade em que a “sabedoria” fazia parte de uma “espiritualidade” 
superior e divorciada de consequências éticas, Paulo diz que, sem dúvida, Deus 
fez com que Cristo se tornasse “sabedoria” por nós, mas isso significa que 
Deus fez com que ele por nós se tomasse aquele que redime do pecado e conduz 
à santidade — comportamento ético que está em consonância com o evangelho. 
Tudo isso fica claro no fim com a oração de propósito (v. 3 l),88 que contém 
a segunda citação de profetas do AT (cf. v. 19), a qual visa a derrubar a então 
posição dos coríntios acerca da “sabedoria”.89 Assim como o objetivo final de 
Deus ao escolher as coisas “loucas” do mundo foi erradicar da presença de Deus 
a vangloria humana, da mesma forma, no lado positivo, o objetivo final da obra 
de Cristo foi tornar possível a única verdadeira base de vangloria: “Aquele que 
se vangloria, vanglorie-se do Senhor”. Agora que outros motivos de confiança 
foram afastados pela “contradição divina”, resta aos coríntios (e, portanto, a nós 
mesmos) o derradeiro “risco” — confiar nossa vida apenas a Deus e, portanto, 
“nos vangloriar” de Deus, o que aqui significa confiar na “loucura de Deus”, 
um Messias crucificado.
87Além das análises em TD N T 4:351-6 (F. Büchsel) e N ID N TT 3:195-200 (C. Brown) 
[edição em português: O novo dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, tradução 
de Gordon Chown (São Paulo: Vida Nova, 2000)], veja L. L. Morris, The apostolic preaching of 
the cross (Grand Rapids, 1955), p. 9-59; D. Hill, Greek words and Hehrew meanings (SNTSMS 5; 
Cambridge, 1967), p. 49-81; e I. H. Marshall, “The development o f the concept o f redemption in 
the New Testament”, in: R. Banks, org., Reconciliation and hope (Grand Rapids, 1974), p. 153-69.
88Gr., iva, traduzido por “portanto” na NIV A frase em si é elíptica; é provável que alguma for­
ma do verbo “ser” deva ser subentendida: “a fim de que seja (confirmado) conforme está escrito”.
89Quanto a essa série de citações, veja p. 79, nota 13.
100
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
Assim, um argumento que começou com uma citação do profeta Isaías 
termina agora com uma palavra igualmente sagaz de Jeremias. Usando uma 
passagem que originariamente foi uma acusação contra Israel por causa de sua 
falta de verdadeira sabedoria,90 Paulo cita algo extraído das palavras finais dessa 
passagem (Jr 9.24) e, como de costume, adapta a passagem ao presente contexto. 
Em lugar do “nisto” de Jeremias, que ali apontava para a frase seguinte (“que 
me entendem e me conhecem”),91 Paulo traz “no Senhor”, que sem dúvida está 
bem próximo do sentido geral de Jeremias, se não é exatamente o que o profeta 
quis dizer. Nessa adaptação, “o Senhor” é referência a Cristo,92 especialmente 
à obra de Cristo a nosso favor detalhada na frase anterior (v. 30). Assim, Deus 
eliminou completamente toda vangloria baseada em motivos apenas humanos, 
favorecendo o vangloriar-se da suprema loucura divina, a redenção por meio de 
um Messias crucificado, a única base para alguém alcançar favor junto a Deus.
A conclusão desse parágrafo — “nenhuma vangloria humana”, mas, em vez 
disso, “vangloriar-se de Cristo” por meio de quem Deus operou salvação para 
nós — continua (acertadamente) desempenhando um papel significativo na igreja. 
Tudo isso está em perfeita conformidade com o ritmo grandioso de Romanos e 
Gálatas, que a tradição protestante conhece de forma tão íntima. Infelizmente, o 
meio (a cruz como o escândalo divino) e o indício (a escolha divina dos humildes) 
para chegar a essa conclusão nem sempre são recebidos da mesma maneira. Não 
é que Deus não possa, ou não queira, salvar os abastados. Mas para Paulo a glória 
do evangelho não reside aí; em vez disso, reside na misericórdia de Deus com 
as próprias pessoas que a maioria dos abastados tende a descartar — os tolos, os 
fracos, os desprezados. Essas pessoas não se encaixam bem no “cativeiro da igreja 
nos bairros de classe média alta”.93 Como parte do indício de que os caminhos 
de Deus não são os nossos, esse parágrafo deve, portanto, servir o tempo todo 
de advertência para não transformarmos as prioridades divinas nitidamente 
reveladas de que devemos ter misericórdia com os 
mais confortáveis criadas por nós mesmos.
90Observe-se a maneira em que terminou o oráculo anterior (jr 9.12): “Q uem é sábio o 
suficiente para entender isso?”.
91Conforme destacado por Hays (p. 79, nota 13), é de todo provável que Paulo suponha que 
seus leitores conhecem o texto citado em seu contexto de “vangloriar-se no Senhor”.
92Com o sempre acontece em textos de Paulo, a menos que o contexto claramente determine 
outro sentido. Conforme assinalado em Pauline Christology (p. 129-30), essa é, no corpus pau- 
lino, a mais antiga citação da LXX em que, sem nenhuma indecisão ou explicação, o K Ú p i o ç 
da LXX é aplicado a Cristo. Não se deve ignorar sem mais nem menos a reconhecida elevada 
cristologia de uma citação como essa.
93Expressão equivalente em português do origina] “suburban captivity of the church” (N. do E.).
desamparados em imagens
c. A loucura de Deus: a 
pregação de Paulo (2.1-5)
Com esse parágrafo, Paulo conclui seu argumento de que tanto a mensa­
gem da cruz em si quanto a própria existência dos coríntios como crentes 
contradiziam a posição que eles estavam adotando quanto à “sabedoria”.94 
Junto com o anterior (1.26-31), esse parágrafo demonstra ainda mais 
aquilo que foi dito no início (1.18-25),93 desta vez da perspectiva do 
ministério eficaz de Paulo entre eles, apesar das fraquezas e do fracasso 
do apóstolo por não dar conta do tipo de fala “poderosa” com a qual eles 
estão fascinados. Assim, não apenas o meio (cruz) e as pessoas (a igreja 
em Corinto), mas também o pregador (Paulo) declaram que Deus está 
no processo de derrubar os sistemas do mundo.96 Ao mesmo tempo, o 
parágrafo inteiro tem, é claro, um forte tom apologético. O ministério
94Isso agora ficou claro para o leitor comum mediante o acréscimo de títulos aos parágrafos 
na NIV atual, que coloca esse parágrafo [2.1-5] junto com 1.18-25 [bem como com 1.26-31] 
sob o título “Cristo crucificado é o poder e a sabedoria de Deus” e inicia o seguinte (2.6-16) 
com o título “A sabedoria de Deus revelada pelo Espírito”. Os tradutores da ESV desconside­
raram totalmente a sinalização textual do próprio Paulo e dessa maneira consideraram um só 
parágrafo o texto todo de 1.18-31 e tom aram 2.1-5 um parágrafo à parte, com um novo título 
(“Proclamando a Cristo crucificado”).
95É possível, embora sem ser defendido como algo tão óbvio ou certo, quePaulo pretendesse 
que esse parágrafo fosse uma ilustração da segunda parte de 1.25 (“a fraqueza de Deus é mais 
forte que a força humana”), assim como os versículos 26-31 teriam ilustrado a primeira parte 
(“a loucura de Deus é mais sábia que a sabedoria humana”). Com certeza, o conteúdo de cada 
parágrafo caminha nessa direção; e também é possível entender que a estrutura dos três pará­
grafos apoia isso. Um a conjunção explicativa yóp une os versículos 26-31 ao 25. O KÒycó que 
inicia esse parágrafo estaria, então, unindo esses dois parágrafos. Note que a conjunção aditiva 
xaí (que une frases ou trechos mediante emprego de “e”) é extremamente rara em Paulo e que 
ambos os parágrafos também começam com o vocativo.
96Cf. Conzelmann, p. 53; “Assim como a atitude da comunidade precisa estar em con­
formidade com a palavra da cruz, isso também deve acontecer com a forma de pregação e a 
atitude do pregador”. Com isso, parece que, como um todo, o argumento faz mais sentido 
do que as afirmações daqueles que entendem que esse parágrafo é um tanto independente de 
1.18-31 (e.g., Barrett, Mare, M u rp h y -0 ’Connor). Aqueles que entendem que a seção maior 
é uma homilia midráshica (veja p. 74, nota 3) têm opiniões conflitantes sobre esse parágrafo. 
Para Ellis, p. 213-4, o parágrafo é uma “aplicação” do midrash (em sua opinião, v. 18-31); 
isso tem mais a seu favor do que a ideia de W uellner de que é uma divagação “haláquica”. 
As dificuldades com a posição de Ellis são duas: (l) o trecho 1.26-31 com toda a certeza 
aplica 1.17-25 à situação deles como faz 2.1-5; (2) os temas de 2.1-5 são todos encontrados 
em 1.17-25, mas nenhum deles é encontrado em 1.26-31; por conseguinte, a passagem na 
verdade não “aplica” 1.26-31.
102
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
do próprio Paulo foi justificado diante deles por meio dos resultados 
alcançados entre eles.
O parágrafo está repleto de temas do parágrafo inicial (1.17-25),97 
sinalizando uma íntima ligação com o material precedente. O argumento 
tem duas partes (v. 1,2 e 3-5), e ambas começam com “e eu”. O primeiro 
conjunto de frases, que retoma a linguagem com que o argumento todo 
começou (1.17,23), lembra-os do conteúdo da pregação de Paulo, mas agora 
destacando aquilo que foi um ato deliberado de sua parte. Em seguida, os 
coríntios são lembrados (v. 3,4) da forma do pregador e de sua pregação, 
que tem a mesma natureza da própria mensagem: “fraqueza”. Assim 
mesmo, tal como no início (1.22-25), nessa “fraqueza” o poder de Deus 
está em operação, agora expresso em referência ao Espírito. Uma oração 
gramatical final de propósito (v. 5) apresenta a razão para tudo isso: que 
a fé dos coríntios seja proveniente de Deus e que seja uma fé em Deus 
somente, e não na sabedoria humana (cf. 1.31).
De todas as formas possíveis, Paulo tentou lhes mostrar a loucura de 
seu presente fascínio pela sabedoria, que traz intrínseca em si a loucura 
da autossuficiência e da autocongratulação. Assim, não apenas a própria 
mensagem (1.18-25) e os próprios destinatários — vocês (1.26-31) —, 
mas o próprio pregador (eu!) que Deus usou para levá-los à fé preci­
sou rejeitar a autossuficiência. Ao mesmo tempo, percebe-se que para 
Paulo essa não é apenas uma reprise histórica do tempo passado com 
eles, mas também funciona como uma espécie de paradigma para sua 
compreensão do ministério cristão, algo que será exposto com bem 
mais detalhes perto do final do presente argumento (4.11-13) e em 
especial na carta remanescente seguinte escrita a eles (2Co 2.14—6.13).
Cf. a análise em L. Hartman, “Some remarks on ICor. 2:1-5”, SEÀ 34 (1974), p. 109-20. 
Aqui, em particular, a sugestão de que a especulação sapiencial judaica está por trás da teologia 
coríntia precisa reconhecer o dado mais seguro de que Paulo está refletindo sobre a tradição 
retórica grega.
974Versículo 1, “não fui com eloquência ou sabedoria” (cf. 1.17); versículo 2, “Jesus Cristo, 
e ele crucificado” (l.23); versículo 3, fui “em fraqueza” (1.25); versículo 4, m inha pregação 
não foi com “palavras sábias e persuasivas” ( l . 17), mas com “demonstração do poder” (1.23- 
25); versículo 5, para que a sua fé não se apoiasse “em sabedoria humana, mas no poder de 
Deus” (1.25).
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#■ 1 Coríntios 1.18— 2.5 103
Exegese e exposição
1E foi isto que aconteceu comigo, irmãos e irmãs. Quando fui até vocês, não fui 
com eloquência ou sabedoria humana enquanto lhes proclamava o testemunho98 sobre 
Deus,a 2Pois enquanto estava com vocês, decidi não saber nada, exceto Jesus Cristo, 
e ele crucificado. 3E eu fui até vocês em fraqueza com grande temor e tremor. 4Minha 
mensagem e minha pregação a vocês não foram com palavras sábias e persuasivas,"
9sp46 a C 88 436 a r syp bo Epifânio Ambrosiastro trazem úpiv tò pucrrr|piov (NIV 
marg., “enquanto eu lhes proclamava o mistério de Deus”), variante aceita por Garland (p. 83), 
Thiselton (p. 210) e Collins (p. 118), mas em cada caso sempre por motivos errados. Apesar dos 
argumentos de Metzger, p. 480, a variante paprúpiov (“testemunho”) deve ser preferida em todos 
os aspectos. Metzger defendeu que pucrtfipiov deve ser preferida “do ponto de vista exegético” 
(ou seja, basicamente por motivos internos), pois “aqui [a palavra] prepara para ser usada no 
versículo 7”. Mas é claro que é justamente por isso que o vocábulo menos comum — e menos 
expressivo — paprúpiov, encontrado na maioria dos textos, foi substituído por puotfjpiov. Aliás, 
é difícil imaginar que, quaisquer que tenham sido as circunstâncias, escribas dos séculos 2 ao 
4, para quem o uso paulino de “mistério” havia se tornado lugar-comum, teriam substituído a 
palavra por “testemunho”. Supõe-se que essa alegada substituição foi influenciada pelo uso em 
1.6; mas o uso de paprúpiov nessa passagem: (l) não é o mesmo (lá é “o testemunho de Cristo”); 
(2) está demasiadamente distante para ter tido o tipo de influência aventada, com a consequência 
de que foi adotado bem cedo e também amplamente na igreja primitiva; (3) é raro demais para 
ter provocado uma substituição tão ampla. Além disso, conforme destacado tanto por Barrett, 
p. 62-3, quanto por Zuntz, p. 101, caso aqui Paulo tivesse usado “mistério” para prenunciar 
seu uso no versículo 7, ele teria ao mesmo tempo invalidado seu presente argumento e feito a 
palavra “perder muito de seu impacto na passagem posterior” (Zuntz). Quanto à dificuldade 
adicional de encontrar uma tradução adequada para as ocorrências reais de pucrtripiov, veja 
abaixo comentário do versículo 7.
"Manuscritos tardios, por analogia com o versículo 13, trazem o acréscimo àv0pcoTtívr|ç 
(“humana”), palavra que obviamente não é original. Mas, dito isso, há grande dificuldade em 
decidir qual é o texto original. A NIV traduz o texto de (X*) B D 33 181 1175 1506 1739 
1881 pc TüEiOoiç ooipíaç Aóyoiç (cf. NA27, Lietzmann, Barrett, Conzelmann; cf. T. H. Lim, 
“N ot in persuasive words o f wisdom, but in the demonstration o f the Spirit and power”, Not>T 
29 [1987], p. 137-49). A dificuldade com essa variante é a palavra tteiOoiç, aparentemente o 
dativo de ttei0óç, uma palavra que não aparece em nenhum outro texto em toda a literatura 
grega (veja em BDAG a análise de TteiOóç e tteiOcú). E claro que Paulo tem competência para 
criar tal palavra, e os primeiros pais gregos não têm dificuldade com ela. Mas o problema é 
complicado pela variante de P46 F G, TtEi0oíç oocpíaç. Zuntz defendeu (de forma convincente) 
que só essa variante explica como surgiram as várias corruptelas (p. 23-5). O ç no final do 
ttei0oíç é resultado da simples corruptela de repetir o ç inicial de oocfúaç. O Xóyoiç foi então 
acrescentado, também por analogia com o versículo 13, para dar sentido àquilo que agora havia 
se tom ado um adjetivo. Com certa relutância, essa é, por duas razões, a posição adotada neste 
comentário: (l) Essa variante é sem dúvida a lectio diffiálior e explica mais facilmentecomo as 
outras variantes surgiram, e não o contrário. E extremamente difícil encontrar qualquer explica­
ção para a “omissão” de Aóyoiç; e nesse caso seria preciso a omissão ter acontecido duas vezes, 
uma vez no ancestral de P4* e outra no de F G; (2) a total ausência da palavra ttei0Óç em toda 
a tradição retórica grega é difícil de explicar, caso essa palavra tivesse existido, ao passo que o 
adjetivo regular m 0avóç é comum. Por outro lado, o substantivo ttei0 cú é muito frequente 
nessa tradição. Tendo em vista o fato de que aqui Paulo está reproduzindo muito do linguajar
104
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
mas com uma demonstração do poder do Espírito, 5para que a sua fé não se apoiasse 
em sabedoria humana, mas no poder de Deus.
aAlguns manuscritos trazem enquanto lhes proclamava o mistério de Deus.
2.1
Paulo precisa recapitular mais um pedaço da história com eles:100 sua própria 
pregação — quando esteve entre eles101 — tanto na forma quanto no conteúdo. 
Como já aconteceu antes (1.26), o novo parágrafo é sinalizado pela conjunção 
“e eu”102 (algo que a NIV captou bem com a tradução “e foi isto que aconteceu 
comigo”) e pelo vocativo (“irmãos e irmãs”). Nesse caso, a conjunção sugere o 
vínculo mais próximo possível com o que vem imediatamente antes (v. 3 l):103 
“Por meio da cruz e ao escolher vocês, Deus na prática eliminou a vangloria 
humana, de modo que a única vangloria que resta seja do Senhor. E eu, de minha 
parte, quando fui até vocês, demonstrei a mesma realidade.104 Estive totalmente 
despojado de autossuficiência, para que o poder de Deus pudesse se manifestar 
e para que a sua fé pudesse se basear apenas em Deus”.
De forma parecida com a maneira com que o argumento começou (1.17), 
Paulo, ao descrever sua pregação, diz que ela (lit.) “não foi segundo a excelência de 
palavra ou de sabedoria”, que a NIV apropriadamente traduziu por “não [...] com 
eloquência ou sabedoria humana”. Embora a ideia de Paulo pareça bastante clara, 
não é o que acontece com as exatas nuances.1Cb “Segundo a excelência” é uma
dessa tradição, uma criação paulina parece menos provável do que um erro de escriba. Assim, 
o texto estaria dizendo: “Minha mensagem e minha pregação não foram com a persuasão da 
sabedoria, mas com o poder do Espírito”; cf. a análise em Metzger, p. 481.
100A estranha construção “Quando eu fui, eu fui” ressalta isso. Cf. Romanos 15.29. A frase não 
é semelhante à expressão idiomática hebraica “vendo, eu vi”; pelo contrário, reflete a natureza 
ad hoc da carta. Cf. Lightfoot, p. 170.
101Observe-se a repetição do pronome em “até vocês” (v. l), “lhes” (v. l), “com vocês” (v. 2), 
“até vocês” (v. 3), cujo objetivo sempre é a “sua fé” (v. 5).
102Gr., K àycó; raro em Paulo (nas cartas remanescentes de Paulo, aparece como conjunção 
paratática apenas aqui, no v. 3 e em 3.1). Por motivos inexplicáveis, a NIV original (iniciando o 
período com “Quando eu”) deixou a conjunção de fora, como também fizeram a NRSV e a NAB.
" 3Um a clara indicação de que, nesse caso, quem numerou os versículos não entendeu ab­
solutamente o texto (algo que é reconhecido pelos títulos inseridos pelo editor da NIV atual).
104Veja tb. Hartman, “Remarks”, p. 114, que traduz por “e também foi assim com igo”.
105Por motivos agora difíceis de entender (algum tipo de concessão para solucionar um 
impasse?), os tradutores da NIV original traduziram essa expressão por “com eloquência ou 
sabedoria superior”, com isso sugerindo que de alguma forma ún:Epoyf|v tinha relação adjetiva 
com “sabedoria”, quando, na verdade, a expressão de Paulo, x a0 ’ tnrepoyfiv Xóyou rj croqnaç, 
se refere ao seu procedimento entre eles.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#• 1 Coríntios 1.18— 2.5 105
provável referência à sua maneira de pregar,106 daí a formulação possível: “não de 
uma maneira a me destacar” (Conzelmann). Os dois tipos de “excelência” que 
ele rejeitava são termos que já encontramos (veja 1.5 e 17). Como já aconteceu 
anteriormente, não é certo se “palavra” enfatiza a forma ou o conteúdo ou ambos. 
Aqui provavelmente tende para a forma (daí o uso de “eloquência”), enquanto 
“sabedoria” reflete o conteúdo; mas, conforme indicado na negativa a seguir (v. 4), 
nesse contexto “sabedoria” também pode se referir à forma. Em qualquer caso, 
Paulo está de novo apanhando os termos dos coríntios e negando-os à luz do 
Messias crucificado.107 Aqueles que buscam sabedoria talvez deem a impressão de 
estar envolvidos em um assunto nobre; na realidade, estão envolvidos em várias 
formas de competição autocongratulatória — e, portanto, divisora — sobre a 
“excelência” de fala, retórica ou profundidade, uma competição “cheia de som 
e de fúria, sem sentido algum”.
Paulo não admitiría isso, justamente porque foi até eles para “proclamar [...] 
o testemunho sobre Deus”. Apesar de sua aceitação por um grande número de 
estudiosos,108 é improvável que o substantivo “mistério” seja original. Na verdade, 
essa escolha de palavras a essa altura serviría, antes, para desviar a preocupação 
amai de Paulo. É claro que ele torna a empregar essa expressão logo em seguida (v. 
7, e mais adiante em 4.1), mas isso reflete a considerável mudança do argumento 
nesse ponto (2.6-16). Aqui, tal como fez anteriormente (1.6), em atenção a eles 
Paulo está relembrando sua pregação inicial entre eles, pregação que assumiu a 
forma de “proclamar”109 o “testemunho de Deus”. Embora esta última expressão 
não seja comum em Paulo,110 já havia sido utilizada em sua 2Tessalonicenses
I06Gr., K a 0 ’ ÚTt6poyf|v. Veja BDAG sobre ÚTTEpoyf] e x a rá (B5a[5).
107Cf. Hartman, “Remarks”, que mostra de forma convincente que os termos rejeitados em 
todo esse parágrafo são da retórica grega.
108Além do NA27 e UBS4 mencionados anteriormente (p. 104, nota 98), veja os comentários 
de Lietzmann, Moffatt, Héring, O -W Mare e Senft; cf. G. Bomkamm, TD N T 4:819; R. E. 
Brown, The Semitic background of the term “mystery” in the New Testament (FBBS; Philadelphia, 
1968), p. 48-9; Wilckens, p. 45; R. W Funk, “Word and word in I Corinthians 2:6-16”, in: 
Language, p. 295; Schütz, Paul, p. 91; Hartman, “Remarks”, p. 112; A. A. Trites, The New 
Testament concept of witness (SNTSMS 31; Cambridge, 1977), p. 203. Para uma apresentação 
completa do argumento textual mencionado aqui, veja o ensaio em To what end exegesis? 
(Eerdmans, 2001), p. 47-50.
109Gr., KaTayYÉWca, porém mais com o sentido de “levar boas-novas” do que de “pregar”. 
Bornkamm, TD N T 4:819, faz a observação um tanto irrelevante de que “a ligação do papxúpiov 
com KaTayYÉWeiv [...] é rara no N T ”. Esse verbo não é usado com pucrrf|piov. Pelo fato de 
que em outras passagens significa anunciar ou proclamar o evangelho (cf. 9.14 e ao longo 
de Atos), há base para sustentar que aqui papxúpiov se encaixa melhor como objeto do verbo.
il0Sendo, portanto, muito mais provável que tenha sido alterada, e não o contrário. Veja 
p. 103, nota 98.
106
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
(1.10) para se referir à sua própria pregação do evangelho. Assim, essa é uma 
escolha feliz de termos para lembrar o que ele estava fazendo quando pregou 
pela primeira vez entre eles. Em vez de envolver-se em retórica ou filosofia, 
Paulo estava dando testemunho de Deus, ou seja, daquilo que Deus havia feito 
em Cristo para operar salvação,111 conforme a frase seguinte passa a explicar.
2.2
Paulo inicia a frase com um “pois” explicativo, dessa maneira indicando que está 
prestes a apresentar motivos para o comportamento que acabou de assinalar. Ele 
não tentou se destacar por meio de eloquência ou então de raciocínio filosófico 
porque já havia decidido “não saber nada, exceto Jesus Cristo, e ele crucificado”. 
Esse é o “testemunho sobre Deus”, o qual ele deu enquanto esteve entre eles. 
“Saber nada” não significa que ele abandonou qualquer outro conhecimento, mas, 
sim, que, enquantoesteve entre eles, sua atenção e entusiasmo se concentravam 
particularmente no evangelho com seu Messias crucificado. Muitas vezes tem-se 
especulado que essa frase deve ser entendida como sua resposta (um tanto nega­
tiva) ao recente ministério em Atenas, conforme registrado em Atos 17.16-33. 
O problema com essa sugestão é que (l) ela interpreta erroneamente que os indí­
cios de Atos sinalizam certo fracasso112 e (2) pressupõe que essa decisão da parte 
de Paulo foi uma mudança de estratégia, ou um retomo a uma estratégia antiga, 
mas nada disso está implícito no que ele de fato diz. Dizer “decidi”113 significa 
tão somente que tomou o propósito de continuar com seu costume regular (cf. 
Gl 3.1). Afinal, de acordo com a narrativa de Lucas (At 18.1-8), a pregação de 
Paulo começou na sinagoga entre judeus e pessoas tementes a Deus, onde seu 
costume sempre foi começar pregando “Jesus Cristo” (cf., e.g., At 13.26-42, 
que Lucas apresenta como a expressão básica da proclamação paulina de Cristo 
nesse ambiente). Nem mesmo o acréscimo de “e ele crucificado” sugere uma
' “ Acompanhando Barrett, p. 63 (NIV; R-P, p. 30), e divergindo de Lightfoot, p. 171 (Godet, 
p. 124; Holladay, p. 39), entendo que a expressão é um genitivo objetivo. Lightfoot entende 
que em 1.6 a expressão funciona como objeto (Cristo é o objeto da pregação); assim, nesta 
passagem a expressão funciona como sujeito (ou fonte), visto que o testemunho de Cristo tem 
sido, acima de tudo, dado por Deus. Mesmo que seja atraente, a interpretação oferecida parece 
menos complexa, a saber, que Paulo está dando testemunho do próprio Deus e do que ele fez.
' “ Com base em 17.34, fica claro que Lucas não pensava assim; é especulação psicológica que 
não leva a lugar algum — por sinal, quase dois mil anos depois — achar que, com base no relato 
de Lucas, é possível penetrar na mente de Paulo e entender essa experiência.
113Gr., ov expiva. Pode significar “rejeitei”; mas, apesar da ordem pouco comum das palavras, 
o mais provável é que Paulo queira que o ou negue a oração toda, o que na prática nega ou 
o verbo “saber” ou “alguma coisa” (resultando, por conseguinte, na tradução “nada”). Posição 
diferente é a de Field, Notes, p. 167.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana 1 Corfntios 1.18— 2.5 107
nova estratégia. Para Paulo, isso simplesmente fazia parte de proclamar Cristo; 
esse acréscimo, tirado de sua explicação inicial (1.23), serve de ênfase e para ligar 
o que é dito aqui à forma com que o argumento iniciou (1.18-25). Se algum 
contraste está implícito na palavra “decidi”, seria com os sofistas e oradores 
itinerantes, com quem ele agora está sendo comparado, e não com sua própria 
pregação antes e depois de Atenas. Na verdade, essa decisão teria sido reforçada 
pela experiência em Tessalônica, onde ele já tinha sido obrigado a se distanciar 
desses “bajuladores” e “aduladores” itinerantes (iTs 2.1-10).
2.3
Com o emprego de mais um “e eu”, Paulo retoma a descrição de sua pregação; 
mas agora ele se concentra menos na forma da pregação e mais diretamente na 
“forma” do pregador. O verbo114 pode ter dois significados: “eu fui até vocês”, 
enfatizando que era assim que ele estava quando chegou, ou então: “eu estive 
com vocês”, sugerindo que ele demonstrou “fraqueza” no relacionamento em 
curso com eles. O segundo sentido é preferível por duas razões: (l) existe uma 
analogia exata no final da carta (16.10), que fala de Timóteo ir e não ter receio 
enquanto está com vocês (a mesma combinação de verbos e a construção pre- 
positiva que aparece aqui e no v. l); (2) as frases iniciais (v. 1,2) enfatizam sua 
decisão quando foi até eles; aqui a ênfase está na visita em andamento.115
A esta distância, é impossível saber a natureza exata do que Paulo quis dizer 
com estar “em fraqueza”.116 O mais provável é que esteja se referindo a alguma 
condição física observável.117 Em todo caso, sua intenção parece clara: para ele,
114Gr., êyE vó |ir |v T tpòç úpãç. A ordem das palavras da frase é enfática: (lit.) “E eu com fraqueza 
e com grande temor e tremor ‘me tornei’ para [estar com] vocês”.
115Cf. Godet, p. 128; Lightfoot, p. 172; Findlay, p. 776; R-P, p. 32; Bachmann, p. 112, nota 
1; Grosheide, p. 60; diferentemente Barrett, p. 64; Conzelmann, p. 53. Conzelmann sugere que 
“tipoç, ‘para’, é forte demais”; mas não é bem assim, visto que costumeiramente a preposição 
significa “estar com (i.e., na companhia de) alguém” (BDAG 3d). Parece que Barrett não percebe 
a força da analogia com 16.10.
ll6Hartman, “Remarks”, p. 115, sugere que o linguajar é reflexo do contexto da citação de 
Jeremias em 1.31.
117U m significado metafórico aqui não combinaria com o restante dos dados disponíveis na 
correspondência coríntia. Mas descobrir qual foi exatamente essa “fraqueza” é algo que está 
além de nossa capacidade. Aofléveia é a palavra usual para “doença”. Uma vez que algum tempo 
antes Paulo havia pregado na Galácia em decorrência de uma enfermidade (Gl 4.13,14) e visto 
que mais tarde ele falará aos próprios coríntios a respeito de “carregar no corpo a morte de 
Jesus” (2Co 4.10) e de um “espinho na carne” que experimentou por muito tempo (2Co 12.7; 
para uma excelente análise recente desse texto difícil, veja Furnish, II Corinthians, p. 547-50), 
é possível que essa enfermidade tenha ressurgido enquanto estava entre eles. N o entanto, em 
ICoríntios 4.9-13, enquanto contava o que ser “fraco” significava para ele, Paulo menciona 
apenas dificuldades externas (fome, perseguição, tratamento brutal, trabalhar com as próprias
108
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
havia uma correspondência real entre suas fraquezas pessoais e seu evangelho 
(c£ Cl 1.24). No âmago de sua pregação estava “a fraqueza de Deus” (1.25), a 
história de um Messias crucificado (v. 2). Suas fraquezas serviam de demonstração 
visível adicional da mesma mensagem, mas, de modo especial, para demonstrar 
que a mensagem não era de origem humana, mas divina (veja esp. 2Co 4.7 e 
13.4). Assim, o apóstolo se gloria regularmente em suas fraquezas,118 não porque 
tivesse prazer com os problemas de saúde, mas porque elas eram uma indicação 
segura de que o poder era de Deus, e não dele próprio. Ao que parece, isso se 
tornou um ponto de discórdia real entre Paulo e essa igreja, conforme revelam 
as longas seções apologéticas da carta seguinte (2Co 4.7—5.10 e 11.17—12.10). 
E possível que os informantes de Paulo já lhe tenham dado alguma ideia do 
problema, o que explica essa passagem e em especial seu desabafo, quando esse 
argumento começa finalmente a se esgotar (4.8-13).
A “em fraqueza” ele acrescenta “com grande temor e tremor”,119 mas não 
está claro de forma alguma o que isso significa. Com frequência, as duas palavras 
ocorrem juntas na LXX (e.g., Êx 15.16; Is 19.16), geralmente para expressar o 
pavor que pessoas (esp. inimigos) devem sentir na presença de Deus e da ati­
vidade de Deus no mundo. No NT, a combinação é exclusiva de Paulo (2Co 
7.15; Fp 2.12; E f 6.5), mas não parece que nas outras passagens se refira a pessoas 
em oposição a Deus. O mais provável é que aqui reflita o quadro geral apre­
sentado em Atos 18.9-11, em que, por motivos desconhecidos para nós, Paulo 
parece sentir um peso muito grande com a tarefa de evangelizar nessa grande 
cidade.120 De todo modo, é uma situação que, com satisfação, ele quer que os 
coríntios agora recordem, para que sejam lembrados do quanto sua pregação e 
sua aparência eram realmente diferentes das dos sofistas.
mãos [quanto à possibilidade de isso ser referência a seu trabalho de fazer tendas, o que aos olhos 
de outros teria sido considerado “fraqueza”, veja R. F. Hock, The social context of Paul’s ministry 
(Philadelphia, 1980), p. 60]). De todo modo, o mais provável é que aqui a palavra não se refira 
a sentimentos íntimos, mas à sua aparência aos olhos de outros. Provavelmente o melhor que 
podemos fazer é interpretar “fraqueza” como referênciaa seus “sofrimentos” ou “dificuldades” 
e aceitar que não sabemos exatamente o que isso significava para ele aqui.
ll8Cf. 4.9-13; Gl 4.13,14; 2Co 4.7-12; 6.4-10; 11.30; 12.7-10; Rm 8.17-27; Fp 1.29,30; 
Cl 1.24-27.
“ 9Por motivos que não são fáceis de entender, a NIV une os substantivos “fraqueza e tem or” 
e acrescenta “e com grande tremor”. Apesar de o adjetivo “grande” estar ligado somente a 
“trem or” no original, as duas últimas palavras aparecem regularmente juntas, e essa é, com 
certeza, a intenção aqui.
120Por outro lado, Hartman, “Remarks”, p. 117-8, defendeu que esses termos são deliberada- 
mente escolhidos em relação à tradição retórica grega (como comprovado, e.g.. em Quintiliano 
12.5.1), de modo que Paulo se apresenta a eles como uma espécie de “antirretórico”, para que 
a “demonstração” seja do Espírito, e não de “sabedoria”.
2 .0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#• 1 Coríntios 1.18— 2.5 109
2. 4,5
Mas Paulo não se gloria em suas fraquezas em si mesmas nem simplesmente 
para se diferenciar dos sofistas. Pelo contrário, procede assim para lembrar aos 
coríntios, conforme bem deviam recordar, que o verdadeiro poder não está na 
pessoa ou na apresentação do pregador, mas na obra do Espírito, conforme 
demonstrado pela existência deles mesmos. Assim, àquilo que acabou de dizer 
de si mesmo ele acrescenta,121 acerca de sua pregação, palavras que fazem lem­
brar a frase inicial (v. l); no entanto, nesse caso à expressão negativa “não com a 
persuasão da sabedoria [palavras sábias e persuasivas]”122 acrescenta-se a correlata 
frase positiva “mas com uma demonstração do poder do Espírito”.
Sua pregação é primeiramente descrita pelo termo deles, logos (“palavra”; cf.
1.17 e 2.1). Embora não fosse do gosto deles, Paulo tem um logos, o logos da cruz 
(1.18; 2.2). Mas, ao contrário dos coríntios, que ligavam sabedoria a logos, ele 
liga kêrygma (“pregação” ou “proclamação”; cf. 1.21). Portanto, logos e kerygma 
provavelmente se referem ao conteúdo e à forma da efetiva enunciação feita 
por Paulo (daí “mensagem e pregação”).123 De propósito, ele evitou justamente 
aquilo que agora os fascina, “a persuasão da sabedoria”. Mas nem por isso faltou 
“persuasão” à sua pregação. O que faltou foi o tipo de persuasão encontrado entre 
sofistas e retóricos, em que o poder estava na pessoa e na apresentação. Por outro 
lado, a pregação de Paulo, apesar de sua aparência pessoal e de qualquer que 
tenha sido a efetiva forma dessa pregação,124 produziu os resultados desejados, 
a saber, gerou a fé dos coríntios.
O que acompanhou a pregação de Paulo foi “uma demonstração125 do poder do 
Espírito”. Será que Paulo, como alguns sugerem, agora corre o risco de reconstruir
121A frase começa com um dos raros casos em Paulo em que se usa xcú como conjunção aditiva.
122Quanto a essa tradução da expressão de Paulo, veja p. 103-4, nota 99.
123As versões não se saem muito bem aqui, a ponto de às vezes induzirem a erro; aliás, parece 
que, ao traduzir por “minha fala e minha mensagem”, a ESV deu sentido oposto à expressão.
“ C o m o muitos têm destacado, parece que esse homem levanta objeções demais. Suas cartas, 
que às vezes têm todo o caráter de fala oral, na verdade são poderosos exemplos de retórica e 
persuasão. N o entanto, Paulo afirma com confiança, perante aqueles que vieram a dar valor a 
essas coisas, que sua pregação não era desse tipo. Isso parece não deixar dúvida de que ele está 
rejeitando não a retórica em geral, mas uma retórica de tipo bem específico e bem conhecido.
125Gr., crrroSetÇei (um hápax do N T), uma palavra que sugere, mais do que simples “mani­
festação”, algo parecido com “evidência” ou “prova”. Na retórica grega, era um termo técnico 
para uma conclusão convincente a que se chegou com base nas premissas. Cf. Quintiliano 
5.10.7 (“um aTtóSeiÇiç é prova clara” [Loeb, 2:205]) e Cícero, Acad. 2.8 (“portanto, esta é a 
definição de prova lógica, em grego c t í t o S e i ^ i ç : ‘um processo de raciocínio que, partindo de 
coisas percebidas, leva a algo anteriormente não percebido’” [Loeb, 19:501]). Dessa forma, Paulo 
muda totalmente o sentido da palavra, defendendo que a “prova” não reside na retórica convin­
cente, mas na concomitante e visível c xttÓ S e i Ç i ç do poder do Espírito. Cf. Hartman, “Remarks”, 
p. 116-7; Dunn, Spirit, p. 226-7.
110
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Pauio
aquilo que vinha pondo por terra? Dificilmente. O contexto deixa clara a sua 
intenção: ainda que ele fosse fraco e que faltasse “retórica” e “sabedoria” à sua 
pregação, o próprio fato de os coríntios terem vindo à fé demonstrava que não 
faltava poder a ela.126
Assim, bem em consonância com a mensagem em si (cf. 1.23-25), sua pre­
gação exibia “a fraqueza de Deus”, a qual é mais forte que a força humana (l.25). 
O que não se sabe com tanta certeza é a que “prova” específica ele poderia estar se 
referindo. O grego diz literalmente “do Espírito e poder”,127 que alguns veem como 
referência a duas realidades, “dons espirituais e milagres”.128 Mas às vezes, em Paulo, 
os termos “Espírito” e “poder” são praticamente intercambiáveis (cf. 5.4). Falar do 
Espírito é automaticamente falar de poder (cf. Rm 15.13,19). Aqui a combinação 
é provavelmente algo bem próximo de uma hendíadis (o emprego de duas palavras 
para expressar a mesma realidade: “o Espírito, ou seja, Poder”), por conseguinte 
a tradução da NIV: “o poder do Espírito”. Mas a que demonstração poderosa do 
Espírito a expressão se refere? E possível, embora improvável por causa do contexto 
de “fraqueza”, que ela reflita os “sinais e maravilhas” mencionados na carta seguinte 
(2Co 12.12). O mais provável é que se refira, na verdade, à conversão deles, com 
a concomitante dádiva do Espírito, a qual provavelmente era demonstrada pelos 
dons do Espírito, especialmente o de línguas.129 Isso parece estar mais de acordo 
com a preocupação de Paulo. A evidência não se encontra em “provas” externas 
que Paulo reunirá contra a mera sabedoria e retórica. Pelo contrário, a evidência se 
encontra nos próprios coríntios e na própria experiência que eles mesmos tiveram 
do Espírito, quando responderam à mensagem do evangelho.130
Essa é a primeira menção específica ao Espírito em 1 Coríntios, embora 
na ação de graças (1.4-7) tenha havido alusão aos dons do Espírito. Defendi na 
introdução (p. 11-4) que esse é o ponto crucial da diferença entre Paulo e os 
“arrogantes” que se opuseram a ele (4.18). Para eles, “Espírito” significava o dom 
de línguas; significava ter chegado à “excelência de sabedoria” (v. 1; cf. 4.8,10),
126Também D unn , Jesus, p. 226-7.
127Os genitivos funcionam pelo menos como objeto (= demonstração de que o Espírito está 
presente com poder); Barrett, p. 65, sugere que também funcionam como sujeito (= o Espírito 
e poder manifestados trazem prova e convicção).
iispor exemplo, Ellis, p. 64-5.
I29Cf. E. Schweizer, TD N T 6:423: O Espírito é entendido como “algo cuja recepção pode 
ser verificada”.
13°Cf. Robinson, “W ord”, p. 68-82. N o entanto, ele também está decidido a enfatizar a con­
versão deles, desconsiderando até a experiência deles de receberem os dons do Espírito. Essa 
preocupação provavelmente reflete um período posterior na igreja, quando a vinda do Espírito 
se manifesta com menos visibilidade do que parece ter sido o caso no NT. E difícil imaginar 
os coríntios serem capazes de fazer a distinção. Para eles, ouvir as palavras “o Espírito e poder” 
teria automaticamente trazido à lembrança as demonstrações visíveis da presença do Espírito.
2. 0 evangelho: uma contradição da sabedoria humana <#■ 1 Coríntios 1.18— 2.5 111
ter entrado em uma nova existência que, sem relação alguma com um compor­
tamento ético autêntico, os elevava acima da existência simplesmente terrena. Por 
outro lado, para Paulo “Espírito” incluía falas inspiradas — desde que edificassem 
—, mas para ele a ênfase recaía no poder do Espírito, poder de transformarvidas 
(como aqui), de revelar a sabedoria secreta de Deus (2.6-16), de ministrar em 
fraqueza (4.9-13) e de operar santidade na comunidade dos crentes (5.3-5). 
Em outras palavras, o propósito da vinda do Espírito não era elevar alguém 
acima da era presente, mas capacitá-lo a viver nela.
Com a oração subordinada de propósito (v. 5), o argumento iniciado em 1.18 
agora conduz à conclusão. A mensagem da cruz, que é loucura para os “sábios”, é 
o poder salvador de Deus para os que creem. O objetivo de toda a atividade divina 
— tanto na cruz quanto na escolha deles, e agora na pregação paulina conectou 
a cruz e os coríntios — tem sido desarmar os sábios e poderosos, para que os que 
creem tenham de confiar apenas e completamente em Deus. De modo que, assim 
como a citação de Jeremias conclui o segundo parágrafo (v. 26-31), esse parágrafo 
conclui com: “para que a sua fé não se apoiasse em sabedoria humana, mas no 
poder de Deus”. Em outro contexto, isso talvez desse a impressão de sugerir que 
a fé se baseia em evidências; mas isso dificilmente taria sentido aqui. Ao longo de 
toda essa passagem, o “poder de Deus” tem a cruz como paradigma. A verdadeira 
alternativa à sabedoria concebida pelo homem não são “sinais”, mas é o evangelho, 
que, de maneira poderosa, o Espírito aplica à nossa vida.
Esse parágrafo tem uma história interessante de aplicação na igreja, depen­
dendo do aspecto em que recaiu a ênfase. Alguns enfatizam o que Paulo não 
fez, ou seja, pregar com excelência de palavra e sabedoria e se gloriar em uma 
apresentação menos elaborada (que, curiosamente, vem com frequência acom­
panhada de uma espécie de pomposidade que parece desejosa de persuadir pela 
retórica, apesar de protestos em contrário). Outros desejam enfatizar o lado 
“positivo”, as “provas” do poder do Espírito, as quais, na visão deles, contrastam 
com a mera pregação. Por outro lado, a oratória refinada às vezes ouvida em 
nossos púlpitos, onde muitas vezes parece que o sermão em si é o objetivo daquilo 
que é dito, leva a conjecturar se o texto alguma vez já chegou a ser ouvido de 
fato. A mensagem de Paulo precisa de uma nova oportunidade de ser ouvida. 
O que ele está rejeitando não é a pregação, não é nem mesmo a pregação per- 
suasiva; em vez disso, o que ele rejeita é o verdadeiro perigo em toda pregação: 
a autossuficiência. O perigo sempre está em deixar que a forma e o conteúdo 
interfiram naquilo que deve ser a preocupação maior: o evangelho proclamado 
por meio da fraqueza humana, mas acompanhado pela obra poderosa do Espírito 
para que vidas sejam transformadas mediante um encontro divino-humano. Isso 
é difícil de ensinar na disciplina de homilética, mas continua sendo a verdadeira 
necessidade na pregação cristã genuína.
3. A sabedoria de Deus — revelada 
pelo Espírito (2.6-16)
Até aqui, Paulo vem sendo bem firme com a questão da “sabedoria”, pois 
está argumentando contra uma atitude que os coríntios tinham diante da 
sabedoria e que colocava Paulo e seu evangelho sob uma ótica nada favo­
rável. Mas nem tudo é negativo. Ele também afirmou que Deus agiu por 
meio da sabedoria do próprio Deus (1.21) e, ao proceder assim, fez com 
que Cristo se tornasse “sabedoria” para nós. Mas, ao explicar essa ideia, 
Paulo fez com que a palavra “sabedoria” fosse transformada de um termo 
filosófico e retórico em um termo histórico e soteriológico (1.24,30). 
Retomando a linguagem da passagem precedente (v. 4,5, “não com palavras 
sábias e persuasivas, mas com uma demonstração do poder do Espírito”), 
ele agora dá uma significativa guinada no argumento, a fim de reafirmar 
que o evangelho que ele prega demonstra, de tato, a sabedoria de Deus. 
Mas isso não pode ser percebido dessa maneira por aqueles que buscam 
sophia pela sophia; é reconhecido apenas por aqueles que têm o Espírito.1
Assim como aconteceu com boa parte do material imediatamente 
precedente (em 1.18—2.5), o que vem em seguida está repleto de mor- 
dacidade. Os coríntios, fascinados com a sabedoria e imaginando-se 
“espirituais” (= “pessoas do Espírito”),2 não estão nada encantados com
'Conform e G. E. Sterling observou com toda a razão: “Aqui as idéias dos 
coríntios vêm à tona [...] não [uma] apropriação total, mas uma reformulação 
paulina da linguagem deles” (“‘W isdom among the perfect’: Creation traditions in 
Alexandrianjudaism and Corinthian Christianity”, NovT37 [1995], p. 355-84, 
[citação da p. 368]). E claro que isso também cria dificuldades para nós, a saber, 
tentar discernir o que de fato procede dos coríntios e o que é uma reelaboração 
paulina da linguagem deles.
2Coloquei aspas em tom o dessa palavra, sem dúvida uma das mais difíceis de 
traduzir atualmente, porque em Paulo TtveupaxtKÓç é sempre um adjetivo asso­
ciado com a pessoa ou o ministério do Espírito Santo (cf. BDAG 2), ao passo 
que nossa palavra “espiritual” raramente, ou nunca, tem esse sentido (e.g., não 
aparece em nenhuma das oito definições do adjetivo “espiritual” na segunda 
edição do Random House dictionary of the English language, que veio a lume em 
1987, o mesmo ano da primeira edição deste comentário!). Assim, continuar 
usando esse adjetivo em uma versão contemporânea do NT, quando o referente 
de Paulo é apenas a atividade do Espírito Santo, precisa ser finalmente considerado 
erro de tradução; a ESY e.g., é especialmente falha aqui, referindo-se ao Espírito 
nos versículos 4-12 e em seguida traduzindo as últimas três ocorrências como 
“aqueles que são espirituais[!]”, “discernido espiritualmente” e “pessoa espiritual”. 
N o caso em questão, o que Paulo quer dizer é “alguém que se considera uma 
pessoa do Espírito etc.”. Aqui a ironia em tudo isso é que todos concordam que
3. A sabedoria de Deus — revelada pelo Espírito <#■ 1 Coríntios 2.6-16 113
a mensagem de Paulo, que eles consideram apenas “leite”. Com fina iro­
nia, Paulo destrói essas várias noções erradas e vanglorias infundadas. O 
evangelho do Messias crucificado é, sem dúvida, sabedoria — ele afirma 
— mas não do tipo que eles agora procuram. A verdadeira sabedoria é 
de fato para aqueles que são “espirituais”, ou seja, para aqueles que têm 
o Espírito, que revelou aquilo que Deus realmente realizou em Cristo. 
Porque de fato têm o Espírito e, portanto, a mente de Cristo, eles deveriam 
ter visto a cruz pelo que ela é — a sabedoria de Deus — e, desse modo, 
ter sido capazes de fazer juízos verdadeiros. Mas, ao buscarem a sophia, 
eles estão agindo como os que não têm o Espírito, que também buscam 
a sabedoria, mas veem a cruz como loucura. O resultado final — e a 
ironia — é que eles são “espirituais”, mas ainda assim “não espirituais”; 
estão buscando “sabedoria”, mas ainda assim deixando escapar a própria 
sabedoria de Deus.3
É possível acompanhar facilmente o argumento, que é dividido em três 
partes: (l) Paulo começa (v. 6 -10a) expondo a natureza da sabedoria de 
Deus por meio do emprego do contraste básico entre aqueles para quem foi 
destinada e aqueles que são incapazes de percebê-la. A sabedoria de Deus, 
predestinada por Deus para nos levar à glória, era, portanto, considerada 
“um mistério” (= segredo), oculto da era presente e de seus líderes. (2) Ele 
passa, então, a explicar (v. 10b-13) como os crentes vieram a conhecer o 
segredo e por que outros foram deixados sem saber. Recebemos o Espírito, 
que conhece a mente de Deus e nos revelou o que Deus está fazendo no
o objetivo da tradução é colocar o significado de uma palavra na língua original 
em um equivalente real na língua do receptor, que é justamente o que hoje 
em dia a nossa palavra “espiritual” não consegue fazer! E, por esse motivo, no 
comentário o adjetivo será sistematicamente escrito com inicial maiuscula para 
deixar isso claro, com referências sendo feitas a esta nota.
E m a ironia ainda maior (veja nota anterior) existe em cada tentativa de 
comparar o que Paulo faz aqui com sistemas filosóficos, tanto antigos quanto 
modernos, o que tende a acontecer em todos os casos em que o TtveupaTiKÓç 
de Paulo étraduzido por qualquer forma de linguagem “espiritual” que não 
inclua nem deixe implícita uma referência direta ou indireta ao Espírito Santo. 
Cf., e.g., R. B. Gaffin, “Some epistemological reflections on 1 Cor 2:6-16”, WTJ 
57 (1995), p. 103-24; e G. E. Sterling, “‘W isdom among the perfect’: Creation 
traditions in Alexandrianjudaism and Corinthian Christianity”, NovT37 (1995), 
p. 355-84. Tais idéias deturpam o uso paulino e desconsideram completamente 
suas intenções. Ainda mais extravagante é o argumento de W O. Walker de que 
a passagem inteira é uma interpolação não paulina(!) (JSNT47 [1992], p. 75-94), 
o que ignora tanto o argumento paulino em seu contexto quanto o linguajar e 
a gramática integralmente paulinos ao longo do texto; cf. M u rp h y -0 ’Connor, 
Keys, p. 257-60. Sem dúvida, essa é a ideia de “ou publica ou morre” — alardeada 
no meio acadêmico — levada ao extremo.
114
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
mundo. (3) O parágrafo final (v. 14-16) conclui reafirmando tudo isso 
ao fazer referência a pessoas “naturais” e “espirituais”, ou seja, conforme 
a NIV acertadamente traduz, pessoas sem ou com o Espírito.
As pessoas desta era, que buscam tão somente a “sabedoria” e, por 
isso, consideram a cruz uma “loucura”, não têm o Espírito; não podem, 
portanto, entender a verdadeira sabedoria (v. 14) nem fazer juízos válidos 
(v. 15), uma atividade que, a rigor, está disponível somente para aqueles 
que têm o Espírito. O parágrafo conclui com uma citação de Isaías 40.13, 
que dá base bíblica para a incapacidade de as pessoas compreenderem, 
uma situação que agora se inverteu para aqueles que têm o Espírito e, 
portanto, a “mente de Cristo”.
Apesar do que parece ser uma guinada simples — e explicável — no 
argumento, esse parágrafo já sofreu muito na igreja, tanto nas mãos de 
estudiosos quanto na pregação e leitura da Bíblia pelo povo. Os motivos 
para isso estão relacionados, em parte, com a linguagem (e.g., sabedoria, 
mistério, oculto, governantes desta era, “coisas profundas de Deus”, pessoa 
natural/espiritual, a mente de Cristo) e em parte com os vários contrastes 
elaborados tanto nesse parágrafo quanto na forma em que a próxima 
guinada no argumento começa (3.1-4). Por consequência, o parágrafo 
tem sido altemadamente visto como um exemplo de Paulo, em última 
instância, fazendo o jogo dos coríntios — ou seja, de defender de fato 
que aqueles que são verdadeiramente “espirituais” têm uma sabedoria 
“mais profunda” e que, dessa forma, ele estabelece duas classes dentro da 
igreja — uma “espiritual” e “madura”; a outra, “natural” (ou “mundana”) 
e “imatura” (ou “bebês”).4 Mas essa visão contraria não apenas o argu-
4Essas interpretações têm assumido diversas formas. A interpretação tradicional 
(e.g., Goudge, p. 16) é que Paulo está defendendo que, apesar do que disse em 
2.1-5, ainda assim ele tem uma “verdade profunda para revelar”, a qual “exige 
um caráter espiritual desenvolvido de quem quer reconhecê-la”. Para aqueles que 
continuam adotando alguma forma dessa abordagem. Paulo está se dirigindo 
a um grupo específico (“os maduros” ou “os espirituais”), e as diferenças estão 
relacionadas como esse grupo específico é entendido. Veja, e.g., Conzelmann: 
“A seção é dominada por um entusiasmo pneumático, uma distinção entre duas 
classes. Aqui os pneumáticos não abrangem todos os cristãos, mas só uma classe 
superior” (p. 57); cf. R. Bultmann, “Karl Barth. The resurrection of the deact, in: 
Faith and understanding (TI, New York, 1969), p. 70-2; e Wilckens, p. 52-96. R. 
Scroggs argumenta persuasivamente contra a posição básica de Wilckens (de que 
aqui Paulo está adotando a posição de seus adversários gnósticos e, dessa forma, 
deixa entrever sua própria teologia), mas continua promovendo a ideia de que 
Paulo “deve ter tido um ensino sapiencial esotérico totalmente separado do seu 
querigma” (“Paul”, p. 35). Por outro lado, Ellis, p. 25-6, entende que aqui Paulo 
está se dirigindo apenas aos TrveupaTtKoí, que são definidos como aqueles que, 
junto com Paulo, possuem dons espirituais. A posição defendida neste comentário
3. A sabedoria de Deus — revelada pelo Espírito <#• 1 Coríntios 2.6-16 115
mento como um todo (para não mencionar esse parágrafo), mas também 
a teologia paulina no seu todo. Com efeito, tal argumento poria por terra 
a própria razão de tudo o que foi dito até aqui.5 Aqui Paulo não está 
reconstruindo o que acabou de demolir; em vez disso, está remodelando 
a compreensão que eles têm do Espírito e da “espiritualidade” para que 
percebam a verdade daquilo que ele vem defendendo até aqui: que tudo 
se baseia no novo mundo “invertido” de Deus, onde a sabedoria do pró­
prio Deus se manifesta no sacrifício de um “Messias crucificado” como 
o remédio divino para a condição decaída do homem. Ler a passagem 
de outra maneira é tanto uma caricatura da devoção do próprio Paulo a 
seu evangelho de um “Messias crucificado”, agora ressuscitado dentre os 
mortos, quanto um desrespeito a essa devoção.
Conquanto seja verdade que boa parte da linguagem do presente 
parágrafo não é comum em Paulo, a explicação para esse fenômeno será 
encontrada, como já aconteceu antes, no fato de ele usar a linguagem deles, 
mas atribuindo-lhe conteúdo próprio e, dessa maneira, refutando-os.6 
Mas a teologia é dele mesmo e é radicalmente diferente da deles. Para 
Paulo — assim como para eles — o Espírito é a chave de tudo. Para ele, o 
Espírito é uma realidade escatológica, assinalando a mudança de era. Isso 
se torna crucial para compreender os vários contrastes na passagem. Por
concorda basicamente com Funk, “Word”, p. 275-305; cf. B. E. Gártner, “The 
Pauline and Johannine idea o f‘to know God’ against the Hellenistic background”, 
NTS 14 (1967/1968), p. 215-21; ej. Francis, ‘“As babes in Christ’ — some proposals 
regarding 1 Corinthians 3.1-3”, JSN T 7 (1980), p. 41-60.
5Tanto Wilckens quanto Conzelmann admitem isso (veja a nota anterior). En­
tendem que Paulo está usando as idéias e o linguajar de seus oponentes ou de um 
“modelo” anterior, que ele deixa de integrar a contento, assim criando tensão ou 
paradoxo. A lógica dessa posição foi finalmente adotada por M. W idm ann (“1 Kor 
2:6-16. Ein Einspruch gegen Paulus”, Z N W 70 [1979], p. 44-53), que defendeu 
que a passagem é uma glosa que, como reação a Paulo, seus adversários em C o- 
rinto inseriram na carta. Veja a resposta por M urphy -0 ’Connor, Keys, p. 257-60.
6Cf. Funk, “W ord”, p. 300, nota 107: “Paulo simplesmente virou pelo avesso 
o linguajar deles e, por conseguinte, as expectativas deles, para colocá-los frente 
a frente com a palavra da cruz”. Cf. Sterling, p. 368. N o entanto, é preciso ter 
o devido cuidado aqui — nem todos os novos termos procedentes deles estão 
necessariamente carregados de nuances estranhas —, mas parece que essa é a 
melhor explicação dos dados.
Tanto a fonte do linguajar deles quanto seu emprego por Paulo são motivo de 
acalorados debates. Wilckens, Bultmann e Conzelmann viram aí uma terminologia 
gnóstica que Paulo incorporou sem êxito, de modo que ele acaba parecendo mais 
gnóstico do que cristão (veja p. 114, nota 4). Scroggs em particular havia mostrado 
os pontos fracos dessa abordagem, especialmente na forma em que aparece em 
Wilckens. Outros entendem que os antecedentes são do helenismo judaico do tipo 
encontrado em Filo; cf. Pearson, p. 27-37, e Horsley, “Pneumatikos”.
116
II. Resposta a informações recebidas 
A. Uma igreja dividida — internamente e contra Paulo
um lado, aqueles que ainda são desta era, aqueles que não receberam o 
Espírito, não compreendem a sabedoria de Deus em Cristo crucificado; 
mas a sabedoria deles está debaixo do juízo divino e já está de partida. Por 
outro lado, os que têm o Espírito, esses têm “a mente de Cristo” e, desse 
modo, compreendem a atividade de Deus revelada a eles pelo Espírito. 
E por isso que Paulo censura duramente seus amigos de Corinto. Eles têm 
o Espírito;

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