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Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético Fundamentos para Reabilitação TERCEIRA EDIÇÃO Donald A. Neumann, PT, PhD, FAPTA Professor Department of Physical Therapy and Exercise Science Marque�e University Milwaukee, Wisconsin Arte Principal Elisabeth Roen Kelly, BSc, BMC Arte Complementar Craig Kiefer, MAMS Kimberly Martens, MAMS Claudia M. Grosz, MFA, CMI Sumário Capa Folha de rosto Copyright Dedicatória Características distintas Sobre o autor Revisão científica e tradução Sobre os colaboradores Revisores e consultores de conteúdo Prefácio Seção I: Tópicos Essenciais da Cinesiologia kindle:embed:0006?mime=image/jpg Introdução Conexões clínicas adicionais Capítulo 1: Iniciando Que é cinesiologia? Plano geral deste livro-texto Cinemática Cinética Resumo Glossário Capítulo 2: Estrutura Básica e Função das Articulações Humanas Classificação das articulações baseada no potencial de movimento Classificação das articulações sinoviais baseada na analogia mecânica Eixo de rotação Organização histológica dos tecidos conjuntivos periarticulares Tipos de tecidos conjuntivos periarticulares Osso Alguns efeitos da imobilização sobre a resistência do tecido conjuntivo periarticular e do osso Breve visão geral das patologias articulares Breve olhar sobre alguns efeitos do envelhecimento avançado no tecido conjuntivo periarticular e no osso Resumo Capítulo 3: Músculo: O Estabilizador Primário e Motor do Sistema Esquelético Músculo como estabilizador esquelético: geração de uma quantidade apropriada de força com determinado comprimento Músculo como motor esquelético: modulação de força Introdução à eletromiografia Causas da fadiga muscular em pessoas saudáveis Mudanças no músculo com treinamento de força, uso reduzido e idade avançada Resumo Capítulo 4: Princípios Biomecânicos Leis de newton: princípios subjacentes de biomecânica Introdução à análise do movimento: configuração da etapa para análise Introdução à biomecânica: encontrando as soluções Resumo Conexões clínicas adicionais Apêndice I: Revisão da Trigonometria e Dados Antropométricos Parte A: Revisão Básica da Trigonometria do Ângulo Reto Parte B: Dados Antropométricos Seção II: Membro Superior Introdução Conexões clínicas adicionais Capítulo 5: Complexo do Ombro Osteologia Artrologia Interação entre músculos e articulações Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 6: Cotovelo e Antebraço Osteologia Artrologia Interações entre músculos e articulações Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 7: Punho Osteologia Artrologia Interação músculo e articulação Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 8: Mão Terminologia Osteologia Artrologia Interação músculo e articulação Mão como órgão efetor Deformidades das articulações tipicamente causadas por artrite reumatoide Sinopse Conexões clínicas adicionais Apêndice II: Materiais de Referência para Inserções, Inervações e Áreas de Secção Transversal Musculares, e Dermátomos da Extremidade Superior Parte A: Trajeto dos Nervos Periféricos ao Longo do Cotovelo, Punho e Mão Parte B: Inervação: Raiz Nervosa Espinal dos Músculos da Extremidade Superior Parte C: Cinco Principais Nervos e Seus Padrões de Inervação Motora ao Longo da Extremidade Superior Parte D: Músculos-Chave para Testar a Função das Raízes Nervosas Espinais (C5-T1) Parte E: Dermátomos da Extremidade Superior Parte F: Inserção e Inervação dos Músculos da Extremidade Superior Parte G: Áreas de Secção Transversal Fisiológica de Músculos Selecionados da Extremidade Superior Seção III: Esqueleto Axial Introdução Conexões clínicas adicionais Capítulo 9: Esqueleto Axial: Osteologia e Artrologia Osteologia Artrologia Anatomia regional e cinemática através da coluna vertebral Resumo da cinemática dentro da coluna vertebral Articulações sacroilíacas Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 10: Esqueleto Axial: Interações Musculares e Articulares Inervação dos músculos e das articulações dentro das regiões do tronco e craniocervical Regiões do tronco e craniocervical Problemas biomecânicos de levantamento selecionados: Um foco na redução da lesão nas costas Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 11: Cinesiologia da Mastigação e da Ventilação Parte 1: mastigação Parte 2: ventilação Apêndice III: Materiais de Referência para Cauda Equina, Inserções, Inervações e Braços de Momento de Músculos Selecionados do Esqueleto Axial Parte A: Formação da Cauda Equina Parte B: Dermátomos Torácicos Parte C: Inserções e Invervações dos Músculos do Esqueleto Axial Parte D: Dados de Braço de Momento de Músculos Craniocervicais Selecionados Seção IV: Extremidade Inferior Introdução Conexões clínicas adicionais Capítulo 12: Quadril Osteologia Artrologia Interações musculares e articulares Exemplo de patologia do quadril e intervenções terapêuticas e cirúrgicas selecionadas Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 13: Joelho Osteologia Artrologia Interação muscular e articular Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 14: Tornozelo e Pé Osteologia Artrologia Interação muscular e articular Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 15: Cinesiologia da Caminhada Perspectiva histórica da análise da marcha Descritores espacial e temporal Cinemática articular Deslocamento e controle do centro de massa corporal Gasto energético Atividade muscular Cinética Disfunções da marcha Resumo Conexões clínicas adicionais Capítulo 16: Cinesiologia da Corrida Descritores espaciais e temporais Cinemática da articulação Centro de massa Gasto de energia Atividade muscular Cinética Fatores que afetam a mecânica da corrida Resumo Conexões clínicas adicionais Apêndice IV: Materiais de Referência para Inserções e Inervações Musculares, Áreas de Secção Transversal Muscular e Dermátomos da Extremidade Inferior Inervação: Raiz Nervosa Espinhal dos Músculos da Extremidade Inferior Parte B: Músculos-Chave para o Teste da Função das Raízes Nervosas Espinhais (L2 a S3) Parte C: Dermátomos da Extremidade Inferior Parte D: Inserções e Inervação dos Músculos da Extremidade Inferior Parte E: Áreas de Secção Transversal Fisiológica de Músculos Selecionados da Extremidade Inferior Parte F: Inserções, Inervação e Ações dos Músculos do Assoalho Pélvico Índice Copyright © 2018 Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. ISBN: 978-85-352-8755-4 ISBN versão eletrônica: 978-85-352-8959-6 KINESIOLOGY OF THE MUSCULOSKELETAL SYSTEM: FOUNDATIONS FOR REHABILITATION 3rd EDITION Copyright © 2017 by Elsevier, Inc. Copyright das edições anteriores de 2010 e 2002. This translation of Kinesiology of the Musculoskeletal System: Foundations for Rehabilitation 3rd Edition, by Donald A. Neumann was undertaken by Elsevier Editora Ltda. and is published by arrangement with Elsevier Inc. Esta tradução de Kinesiology of the Musculoskeletal System: Foundations for Rehabilitation 3rd Edition, de Donald A. Neumann foi produzida por Elsevier Editora Ltda. e publicada em conjunto com Elsevier Inc. ISBN: 978-0-323-28753-1 Capa Studio Creamcrackers Editoração Eletrônica Thomson Digital Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras Rua da Assembleia, n° 100 – 6° andar – Sala 601 20011-904 – Centro – Rio de Janeiro – RJ Rua Quintana, n° 753 – 8° andar 04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP Serviço de Atendimento ao Cliente 0800 026 53 40 atendimento1@elsevier.com Consulte nosso catálogo completo, os últimos lançamentos e os serviços exclusivos no site www.elsevier.com.br Nota Esta tradução foi produzida por Elsevier Brasil Ltda. sob sua exclusiva responsabilidade. Médicos e pesquisadores devem sempre fundamentar-se em sua experiência e no próprioconhecimento para avaliar e empregar quaisquer informações, métodos, substâncias ou experimentos descritos nesta publicação. Devido ao rápido avanço nas ciências médicas, particularmente, os diagnósticos e a posologia de medicamentos precisam ser verificados de maneira independente. Para todos os efeitos legais, a Editora, os autores, os editores ou colaboradores relacionados a esta tradução não assumem responsabilidade por qualquer dano/ou prejuízo causado a pessoas ou propriedades envolvendo responsabilidade pelo produto, negligência ou outros, ou advindos de qualquer uso ou aplicação de quaisquer métodos, produtos, instruções ou ideias contidos no conteúdo aqui publicado. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO mailto:atendimento1@elsevier.com http://www.elsevier.com.br/ SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ N411c 3. ed. Neumann, Donald A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético: fundamentos para reabilitação /Donald A. Neumann; [tradução Eliseanne Nopper]. - 3. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2018. : il. Tradução de: Kinesiology of the musculoskeletal system: foundations for rehabilitation Apêndice Inclui bibliografia e índice ISBN 978-85-352-8755-4 1. Cinesiologia. I. Nopper, Eliseanne. II. Título. 18-47045 CDD: 612.76 CDU: 612.7 Dedicatória Para aqueles cujas vidas foram fortalecidas pela luta e alegria de aprender Características distintas Sobre o autor Donald A. Neumann Don nasceu na cidade de Nova Iorque, sendo o mais velho de cinco irmãos. Ele é filho de Charles J. Neumann, um meteorologista e previsor de furacões renomado no mundo inteiro, que vive com pólio há 65 anos e que contraiu esta doença voando como um “caçador de furacões” no Mar do Caribe em 1950. Don cresceu em Miami, Flórida, no departamento meteorológico dos Estados Unidos onde sua mãe (Be�y) e pai vivem ainda hoje. Logo após a graduação do colegial, Don envolveu-se em um grave acidente com motocicleta. Depois de receber uma fisioterapia extensiva, Don escolheu a fisioterapia como sua carreira para toda a vida. Em 1972, ele começou seu estudo e prática de fisioterapia ao ganhar 2 anos de graduação pelo Miami Dade Community College como assistente de fisioterapia. Em 1976, Don graduou-se em bacharelado em Fisioterapia pela Universidade da Flórida. Começou a trabalhar como fisioterapeuta no Woodrow Wilson Rehabilitation Center em Virgínia, onde se especializou em reabilitação de pacientes com lesão na medula espinhal. Em 1980, Don frequentou a Universidade de Iowa, onde fez o mestrado em Educação Científica e o PhD em Ciências do Exercício (para obter mais informações sobre a trajetória educacional de Don, consulte h�p://go.mu.edu/neumann). Em 1986, Don começou sua carreira acadêmica como professor, escritor e pesquisador no Departamento de Fisioterapia da Universidade de Marque�e. Seus esforços como professor concentraram-se em cinesiologia e suas relações com a fisioterapia. Don permaneceu clinicamente ativo como fisioterapeuta por um período de 20 anos, trabalhando primariamente na área de reabilitação de lesados medulares e ambulatórios de ortopedia e geriatria. Atualmente, ele continua sua carreira acadêmica como professor titular no Departamento de Fisoterapia do College of Health Sciences, na Universidade de Marque�e. Além de conquistar muito prestígio ensinando, pesquisando e escrevendo, assim como prêmios da American Physical Therapy Association (APTA), o Dr. Neumann recebeu o Teacher of the Year Award da Universidade de Marque�e em 1994, e em 2006 foi agraciado pela Carnegie Foundation como Wisconsin’s College Professor of the Year (consulte www.marque�e.edu/healthsciences para acessar uma lista mais completa de prêmios). Ao longo dos anos, as pesquisas e os projetos de ensino do Dr. Neumann foram financiados pela National Arthritis Foudation e pela Paralyzed Veterans of America. Frequentemente, ele tem publicado métodos para proteger o quadril artrítico ou doloroso de forças prejudiciais. Don tem extensa experiência de dissecção antômica do quadril, e recentemente contribuiu com um capítulo “O Quadril” publicado na 41ª edição inglesa do Gray’s Anatomy. http://go.mu.edu/neumann http://www.marquette.edu/healthsciences Don recebeu várias bolsas Fulbright para ensinar cinesiologia na Lituânia (2002), Hungria (2005 e 2006) e Japão (2009 e 2010). Em 2007, recebeu o Doutoramento Honoris Causa da Academia de Esportes da Lituânia, localizada em Kaunas, Lituânia. Em 2015, Don ganhou o International Service Award in Education do Word Confederation of Phisical Terapy (CMF) em Singapura. Don também serviu como Editor Associado para o Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy de 2002 a 2015. Don mora com sua esposa, Brenda, e dois cachorros em Wisconsin. Seu filho Donald Jr. (“Donnie”) e família e sua enteada Megann também vivem em Wisconsin. Fora do trabalho, Don gosta de tocar guitarra, se exercitar, estar em montanhas e observar o clima. Sobre as Ilustrações A coleção de artes desta edição vem evoluindo desde a primeira edição publicada em 2002. A grande maioria das aproximadamente 700 ilustrações é original, produzida ao longo da compilação das três edições do livro. As ilustrações foram primeiramente conceitualizadas pelo Dr. Neumann e depois, de maneira meticulosa, produzidas principalmente pelo talento único de Elisabeth Roen Kelly. O Dr. Neumann afirma: “O trabalho de arte realmente guia muitas das minhas escritas. Eu precisava entender completamente um determinado conceito cinesiológico em seu nível mais essencial para explicar eficazmente para Elisabeth o que precisava ser ilustrado. Desta forma, o trabalho de arte me manteve leal: eu escrevi apenas sobre o que eu verdadeiramente entendi.” Dr. Neumann e Ms. Kelly produziram três formas de trabalho de arte para este livro. Elisabeth retratou a anatomia dos ossos, as articulações e os músculos manualmente, criando desenhos à tinta muito detalhados (Fig. 1). Esses desenhos começaram com uma série de esboços a lápis, frequentemente baseados em espécimes anatômicos cuidadosamente dissecados por Dr. Neumann. A tinta como suporte foi escolhida para dar ao material uma sensação orgânica clássica. FIG. 1 A segunda forma de arte foi feita por meio de uma camada de mídia artística integrada com o uso de programas (Fig. 2). Neumann e Kelly começaram, com frequência, com uma fotografia que foi transformada em uma imagem simplificada de uma pessoa que executa um movimento particular. Imagens de ossos, articulações e músculos foram, então, embutidas eletronicamente dentro de um esboço humano. A sobreposição de várias imagens biomecânicas melhorou ainda mais as ilustrações resultantes. O formato final apresentava conceitos biomecânicos específicos e muitas vezes complexos de uma maneira relativamente simples, preservando a forma humana e a expressão. FIG. 2 A terceira forma de arte foi especificamente desenvolvida por Neumann e Kelly para a segunda e a terceira edições (Fig. 3). Com a ajuda de softwares, amostras anatômicas preparadas foram transformadas em uma forma tridimensional texturizada. A profundidade e a precisão anatômica dessas imagens fornecem informações importantes sobre a cinesiologia associada. Dr. Neumann afirma que “a boa arte é inspirada universalmente e transcende a linguagem – é um elemento fundamental do meu ensino”. FIG. 3 Revisão científica e tradução Revisão científica Victor Hugo Bastos (Caps. 11, 12, 15 e 16) (Coordenador) Docente do curso de Fisioterapia e dos mestrados em Ciências Biomédicas e Biotecnologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Doutorado em Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mestrado em Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco (UCB) Especialista em Neurofisiologia pelo Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR) Graduação em Fisioterapia pelo IBMR Ana Carolina Gomes (Caps. 9 e 10)Docente do curso de Graduação em Fisioterapia do Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO) Mestrado em Saúde Materno-Infantil pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Bruna Velasques (Caps. 3 e 4) Docente da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) Coordenadora do Laboratório de Neurofisiologia e Neuropsicologia da Atenção do IPUB/UFRJ Coordenadora da Pós-Graduação Lato Senso em Neurociências Aplicadas - ênfase na Aprendizagem e Reabilitação da UFRJ Coordenadora da Pós-Graduação Lato Senso em Neurociências, Esporte e Atividade Física da UFRJ Líder de Grupo de Pesquisa CNPQ - Eletrofisiologia e Neuropsicologia da Atenção Diretoria do Instituto de Neurociências Aplicadas Débora Meireles (Apêndices I a IV e Índice) Especialista em Traumato-ortopedia com ênfase em Terapia Manual pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP) Graduação em Fisioterapia pela Escola Superior de Ensino Helena Antipoff (Pestalozzi) Julio Guilherme Silva (Caps. 8 e 14) Docente no curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da UFRJ Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Ciências da Reabilitação da UNISUAM-RJ Doutorado em Sáude Mental pelo IPUB/UFRJ Coordenador do Grupo de Pesquisa em Terapias Manuais (GETEM/UFRJ) Nélio Silva de Souza (Caps. 6 e 7) Doutorando em Neurociências pela UFF Mestrado em Ciências da Reabilitação pela UNISUAM Especialização em Gerontologia e Geriatria Interdisciplinar (UFF) e Fisioterapia Neurofuncional do Adulto (ABRAFIN) Graduação em Fisioterapia pelo UNIFESO Pedro Ribeiro (Caps. 1 e 2) Docente do curso de Educação Física da UFRJ Doutorado em Controle Motor pela Universidade de Maryland (Estados Unidos) Mestrado em Educação Física pela Universidade Gama-Filho (Rio de Janeiro) Graduação em Educação Física pela Universidade Gama-Filho (Rio de Janeiro) Silmar Silva Teixeira (Caps. 5 e 13) Docente do curso de Fisioterapia e membro permanente dos Programas de Mestrado em Biotecnologia, Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e do Doutorado da Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO/UFPI) Doutorado e Pós-doutorado em Saúde Mental pela UFRJ Mestrado em Ciência da Motricidade Humana pela UCB Graduado em Fisioterapia pela Universidade Veiga de Almeida (RJ) Tradução Angela Nishikaku (Cap. 14) Doutorado em Ciências pelo Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo Graduação em Ciências Biológicas – modalidade médica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Denise Rodrigues (Caps. 3, 4, 7 e 16) Bacharelado em Tradução pela UnB Pós-graduação em Tradução pela UNIFRAN Especialista em textos da área de saúde Eliseanne Nopper (Cap. 12) Especialista em Psiquiatria Clínica pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro e Complexo Hospitalar do Mandaqui, SP Médica pela FMSA/Organização Santamarense de Educação e Cultura da Universidade de Santo Amaro, SP Flor de Letras Editorial (Caps. 10 e 13) Empresa especializada em tradução e revisão técnicas Karina Carvalho (Cap. 9) Doutora em Biologia Humana e Experimental pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Mestre em Morfologia pela Pós-Graduação em Biologia Humana e Experimental da UERJ Bióloga pela UERJ Maiza Ritomy Ide (Caps. 5 e 6) Pós-doutorado em Reumatologia pela Universidad de Cantabria, Espanha Doutorado em Reumatologia pela Faculdade de Medicina da USP Mestrado em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP Fisioterapeuta pela Universidade Estadual de Londrina Mariana Isa Poci Palumbo (Apêndices I a IV) Professora Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Mestrado e Doutorado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp, Campus de Botucatu) Residência em Clínica Médica de Pequenos Animais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp, campus de Botucatu) Marina Santiago de Mello Souza (Cap. 2) Doutoranda em Radioproteção e Dosimetria pelo IRD/CNEN Mestre em Fisiopatologia Clínica pelo HUPE/UERJ Professora Assistente da Escola de Medicina Souza Marques (FTESM) Professora Assistente da Universidade Castelo Branco (UCB) Raquel Martins (Cap. 8) Mestranda pela Fundação Oswaldo Cruz Sheila Recepute (Cap. 1) Especialista em Citologia Clínica Mestrado em Genética Sueli Toledo Basile (Cap. 11) Tradutora Inglês/Português Instituto Presbiteriano Mackenzie e CELL-LEP Tatiana Ferreira Robaina (Índice) Doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mestre em Patologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Especialista em Estomatologia pela UFRJ Cirurgiã-dentista pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Vanessa F. Bordon (Cap. 15) Médica Veterinária pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) Mestra em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública na Universidade de São Paulo (USP) Sobre os colaboradores Peter R. Blanpied, PT, PhD, OCS, FAAOMPT Professor, Physical Therapy Department, University of Rhode Island, Kingston, Rhode Island h�p://www.uri.edu/ O Dr. Blanpied recebeu seu treinamento básico no Ithaca College, graduando-se no bacharelado em Fisioterapia em 1979. Após prática clínica em reabilitação adulta aguda e desportiva, ele retornou à escola e, em 1982, completou o mestrado avançado de ciências em Fisioterapia na University of North Carolina, especializando-se em terapêutica musculoesquelética. Em 1989, ele recebeu o PhD da University of Iowa. Desde então, faz parte do corpo docente da University of Rhode Island lecionando em áreas de biomecânica, pesquisa e terapia musculoesquelética. Além da prática clínica contínua, também tem participado de pesquisas financiadas e não financiadas, é autor de muitos artigos de pesquisa de autoria pareada, e faz apresentações de pesquisas profissionais nacionais e internacionais. O Dr. Blanpied é um membro da American Academy of Orthopaedic Manual Physical Therapists. Ele mora em West Kingstone, Rhode Island, com sua esposa Carol (também fisioterapeuta) e gosta de viajar, caminhar, esquiar e pescar. http://www.uri.edu/ Bryan C. Heiderscheit, PT, PhD Professor, Department of Orthopedics and Rehabilitation, University of Wisconsin, Madison, Wisconsin h�p://www.wisc.edu O Dr. Heiderscheit é bacharel em Fisioterapia pela University of Wisconsin – La Crosse e PhD em Biomecânica pela University of Massachuse�s em Amherst. Ele tem atuado na University of Wisconsin desde 2003, onde ensina mecânica dos tecidos e articulações e cinesiologia da marcha e corrida no programa de doutorado em Fisioterapia. Como diretor do UW Sports Medicine Runners’ Clinic, o Dr. Heiderscheit tem a prática clínica ativa com foco em indivíduos com lesões relacionadas à corrida. Ele é o codiretor do Laboratório de Biomecânica Neuromuscular e diretor de pesquisas da UW Badger Athletic Performance. As pesquisas do Dr. Heiderscheit objetivam o entendimento e o aprimoramento do manejo clínico das condições ortopédicas, com foco particular nas lesões relacionadas à corrida. O apoio para as suas pesquisas vem dos institutos nacionais de saúde e das instituições médicas de caridade NFL. Ele é editor do Journal of Orthophaedic & Sports Physical Therapy e membro ativo da American Phisycal Therapy Association, servindo no Comitê Executivo da Seção de Fisioterapia do Esporte e sendo o presidente fundador do grupo de interesse especial em corrida. O Dr. Heiderscheit mora em Madison, Wisconsin, com sua esposa, Abi, e seus dois filhos. Gosta de correr, trabalhar e passar o tempo com sua família. http://www.wisc.edu/ Sandra K. Hunter, PhD, FACSM Professor, Exercise Science Program, Marque�e University, Milwaukke, Wisconsin h�p://www.marque�e.edu/ A Dra. Hunter é bacharel em Educação Física e Saúde pela University of Sidney (Austrália), tem diploma de graduação em Ciência do Movimento Humano pela Wollongong University (Áustria) e é PhD em Exercício e Ciência do Esporte (fisiologia do exercício) pela University of Sidney, onde sua pesquisa focou a função neuromuscular com o envelhecimento e treinamento deforça. A Dra Hunter mudou-se para Boulder, Colorado, em 1999 para assumir sua posição como integrante de pesquisa de pós- doutorado no Laboratório de Neurofisiologia do Movimento, dirigido pelo Dr. Roger Enoka. Sua pesquisa focou o mecanismo de fadiga neuromuscular durante as variadas condições de tarefa. Ela é membro do corpo docente do Programa de Ciência do Exercício no Departamento de Fisioterapia da Marque�e University desde 2003, onde suas áreas primárias de ensino são as fisioterapias aplicada, reabilitativa e de exercício e os métodos de pesquisa. Os programas de pesquisa atuais da Dra. Hunter abordam o entendimento dos mecanimos de fadiga neuromuscular e o comprometimento da função muscular em populações clínicas sob diferentes condições de tarefa. Ela é autora de muitos capítulos de livros e diversos artigos de pesquisa de revisão de autoria pareada, e faz apresentações de pesquisas nacionais e internacionais. A Dra. Hunter tem recebido financiamento de pesquisa dos National Institutes of Health (NIH), incluindo o National Institute of Aging e o National Institute of Occupational Safety and Health, bem como de muitas outras fontes de financiamento. Ela é membro do American College of Sports Medicine (FACSM). A Dra. Hunter tem responsabilidade editorial em muitos jornais, entre os quais Exercise and Sports Science Reviews, Medicine and Science in Sports and Exercise, e o Journal of Applied Physiology. Em seu tempo livre, Sandra gosta de viajar, acampar, caminhar, pedalar e participar ocasionalmente de provas de triatlo. Ela mora em Wisconsin com seu marido, Jeff, e sua filha, Kennedy. http://www.marquette.edu/ y Lauren K. Sara, PT, DPT, OCS Physical Therapist, Midwest Orthopaedics at Rush, Chicago, Illinois A Dra. Sara graduou-se na Universidade de Marque�e em 2010 com bacharelado em Engenharia Biomecânica. Ela obteve seu doutorado em Fisioterapia pela Universidade de Marque�e em 2012, ocasião em que também recebeu prêmios do Departamento de Fisioterapia em reconhecimento ao seu excelente desempenho acadêmico, assim como bolsa de estudos e potencial contribuição à profissão em reconhecimento à sua dedicação e esforços em pesquisa em fisioterapia. Após trabalhar na clínica por 2 anos, Lauren retornou para mais estudos, completando uma residência de pós-- doutorado em Fisioterapia Ortopédica na University of Chicago. Desde a graduação em seu programa de residência, Lauren tem trabalhado como clínica em tempo integral em ambulatórios ortopédicos. Ela gosta de correr, andar de bicicleta, cozinhar, passar o tempo com a família e viajar. Lauren mora com seu marido, Brian, em Chicago. Jonathon W. Senefeld, BS Clinical and Translational Rehabilitation Health Sciences, PhD Candidate, Department of Physical Therapy, Program in Exercise Science, Marque�e University, Milwaukee, Wisconsin Senefeld obteve bacharelado em Fisiologia do Exercício na Marque�e University e vai receber PhD em Ciência da Saúde e Reabilitação Clínica e Translacional pela mesma instituição em maio de 2018. Em 2011, Jonathon tornou-se assistente de pesquisa no Laboratório de Movimento Humano e Fisiologia Neuromuscular dirigido pela Dra. Sandra Hunter. Ele tem participado de pesquisas financiadas e não financiadas, é autor de diversos artigos de pesquisa de revisão de autoria pareada, faz apresentações de pesquisa profissionais nacionais e serve como revisor de muitos jornais científicos. O foco das pesquisas de Jonathon é a identificação dos mecanismos de fadiga neuromuscular em pacientes com diabetes tipo 2. Em seu tempo livre, Jonathon gosta de acampar, caminhar e levantar peso. Ele mora em Wisconsin com sua esposa, Carly. Guy G. Simoneau, PT, PhD, FAPTA Professor, Department of Physical Therapy, Marque�e University, Milwaukee, Wisconsin h�p://www.marque�e.edu/ O Dr. Simoneau recebeu grau de bacharel em Fisioterapia pela Université de Montréal, Canadá, mestrado em Educação Física (Medicina do Esporte) pela University of Illinois em Urbana- Champaign, Illinois, e é PhD em Exercício e Ciência do Esporte (estudo da locomoção) pela The Pennsylvania State University, State College, Pensilvânia, onde direcionou o seu trabalho para o estudo da marcha, corrida e postura. O Dr. Simoneau é membro do corpo docente no Departmento de Fisioterapia da Marque�e University desde 1992. Sua principal área de ensino é a fisioterapia ortopédica e desportiva. Tem publicado vários capítulos de livros e artigos de pesquisa sobre temas relacionados à fisioterapia ortopédica/desportiva e biomecânica. O Dr. Simoneau recebe financiamento de pesquisa dos National Institutes of Health (NIH), do National Institute of Occupational Safety and Health (NIOSH), da Arthritis Foudation, e da Foudation of Physical Therapy, entre outros. Seus esforços em pesquina e ensino têm sido reconhecidos por meio de vários prêmios nacionais da American Physical Therapy Association. Em 2007, Guy recebeu o Doutoramento Honoris Causa da Lithuanian Academy of Physical Education, localizada em Kaunas, Lituânia. O Dr. Simoneau foi editor chefe da Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy de 2002 a 2015. Em seu tempo livre, Guy gosta de viajar e caminhar. http://www.marquette.edu/ Colaboradores Anteriores Os três professores a seguir merecem forte reconhecimento por suas contribuições anteriores na Seção I deste livro. Sua inteligência e criatividade deixaram marcas nesta seção do livro. Obrigado a todos. David A. Brown, PT, PhD (Capítulo 3) Professor, Departments of Physical Therapy and Occupational Therapy, The University of Alabama at Birmingham, Birmingham, Alabama Deborah A. Nawoczenski, PT, PhD (Capítulo 4) Professor, Department of Physical Therapy, School of Health Sciences and Human Performance, Ithaca College, Rochester, New York A. Joseph Threlkeld, PT, PhD (Capítulo 2) Professor, Department of Physical Therapy, Creighton University, Omaha, Nebraska Revisores e consultores de conteúdo Paul D. Andrew, PT, PhD Ibaraki-ken, Japan Teri Bielefeld, PT, CHT Zablocki VA Medical Center Milwaukee, Wisconsin Michael J. Borst, OTD, OTR, CHT Occupational Therapy Department Concordia University Wisconsin Mequon, Wisconsin Paul-Neil Czujko, PT, DPT, OCS Stony Brook University Physical Therapy Program Stony Brook, New York Mike Danduran, MS, ACSM-RCEP Department of Physical Therapy and Program in Exercise Science and Athletic Training Marque�e University Milwaukee, Wisconsin Andrew Dentino, DDS Dental Surgical Sciences/Periodontics School of Dentistry Marque�e University Milwaukee, Wisconsin Luke Garceau, PT, DPT, MA, CSCS Rehabilitation Services Wheaton Franciscan Healthcare Racine, Wisconsin Ginny Gibson, OTD, OTR/L, CHT Department of Occupational Therapy Samuel Merri� University Oakland, California John T. Heinrich, MD Milwaukee Orthopaedic Group, Ltd. Milwaukee, Wisconsin Jeremy Karman, PT Physical Therapy Department Aurora Sports Medicine Institute Milwaukee, Wisconsin Rolandas Kesminas, MS, PT Lithuanian Sports University Applied Biology and Rehabilitation Department Kaunas, Lithuania Philip Malloy, MS, PT, SCS Clinical and Translational Rehabilitation Health Sciences PhD Candidate Department of Physical Therapy, Program in Exercise Science Marque�e University Milwaukee, Wisconsin Jon D. Marion, OTR, CHT Marshfield Clinic Marshfield, Wisconsin Brenda L. Neumann, OTR, BCB-PMD Outpatient Therapy Department ProHealthCare, Inc. Mukwonago, Wisconsin Michael O’Brien, MD Wisconsin Radiology Specialists Milwaukee, Wisconsin Ann K. Porre�o-Loehrke, DPT, CHT, COMT, CMPT Hand to Shoulder Center of Wisconsin Appleton, Wisconsin Lauren K. Sara, PT, DPT, OCS Physical Therapist, Midwest Orthopaedics at Rush Chicago, Illinois Christopher J. Simenz, PhD, CSCS Department of Physical Therapy and Program in Exercise Science and Athletic Training Marque�e University Milwaukee, Wisconsin Guy Simoneau, PT, PhD, FAPTA Department of Physical Therapy and Program in Exercise Science Marque�e University Milwaukee, Wisconsin Andrew Starsky, PT, PhDDepartment of Physical Therapy and Program in Exercise Science Marque�e University Milwaukee, Wisconsin David Williams, MPT, ATC, PhD Physical Therapy Program University of Iowa Iowa City, Iowa Prefácio Tenho o prazer de apresentar a terceira edição do Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético: Fundamentos para Reabilitação. Estou orgulhoso em dizer que a segunda edição foi publicada em sete línguas e usada extensivamente ao redor do mundo. A terceira edição continua a desenvolver o conhecimento com base no feedback global de professores e estudantes, bem como na crescente literatura de pesquisa. Cada uma das 2.500 referências citadas nesta terceira edição foi cuidadosamente selecionada para dar suporte à relevância clínica e científica por trás do material descrito ao longo deste livro. Esforços substanciais têm sido feito por mim e autores colaboradores para incluir tópicos que sirvam como fundamento para as questões mais recentes relacionadas à reabilitação física. A enorme popularidade das ilustrações criadas nas duas primeiras edições tem estimulado a criação de mais ilustrações. Assim como na primeira e na segunda edições, a arte descritiva, juntamente com o texto baseado em evidências e clinicamente relevante, impulsiona a missão educacional deste livro. Os elementos educativos usados na segunda edição (Quadros com Enfoque Especial e Conexões Clínicas Adicionais) foram expandidos. Uma amostra do material é visualisada ao final do Capítulo 5 – Complexo do Ombro. Naturalmente, eu usei as edições anteriores do texto para ensinar cinesiologia às minhas classes de estudantes na Marque�e University. A minha estreita relação de trabalho com os alunos e os livros-texto gerou muitas maneiras práticas de melhorar a escrita, a organização ou fluxo de tópicos e a clareza das imagens. Muitas melhorias, tanto no texto quanto nas ilustrações, são resultado do feedback que eu recebi dos meus próprios alunos, bem como de outros estudantes e instrutores ao redor dos Estados Unidos e em diversos outros países. Como a terceira edição está a caminho das classes das universidades, estou ansioso para receber novos feedback e sugestões para melhorar este trabalho. Antecedentes Cinesiologia é o estudo do movimento humano, normalmente estudado dentro do contexto do esporte, da arte, da medicina e da saúde. Em graus variados, Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético: Fundamentos para Reabilitação refere-se a todas as quatro áreas citadas. No entanto, este livro destina-se principalmente a promover os fundamentos da cinesiologia para a prática da reabilitação física, que se esforça para otimizar o movimento funcional do corpo humano após lesão, doença ou outro dano na mobilidade. Apesar de ser estudado no mundo inteiro, o tema cinesiologia é apresentado de diversas perspectivas. Eu e os autores colaboradores nos concentramos principalmente nas interações mecânicas e fisiológicas entre os músculos e articulações do corpo. Estas interações são descritas para o movimento normal e, no caso de doença, trauma ou outros tecidos musculoesqueléticos alterados, para movimentos anormais. Eu espero que este livro se constitua um valioso recurso educacional para uma vasta gama de profissões ligadas à saúde e à medicina, tanto para estudantes como para profissionais formados. Abordagem A obra enfatiza os detalhes anatômicos do sistema musculoesquelético. Aplicando alguns princípios da física e da fisiologia para uma boa revisão anatômica, o leitor deve ser capaz de transformar mentalmente uma imagem anatômica estática em um movimento dinâmico, tridimensional e relativamente previsível. As ilustrações criadas para a Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético foram concebidas para encorajar essa transformação mental. Esta abordagem à cinesiologia reduz a necessidade de memorização e favorece o raciocínio baseado na análise mecânica, o que pode ajudar estudantes e clínicos no desenvolvimento de avaliação, diagnóstico e tratamento adequados em relação à disfunção do sistema musculoesquelético. O livro representa a síntese de 40 anos de experiência como fisioterapeuta. Esta experiência inclui uma rica combinação de atividades clínicas, de pesquisa e de ensino relacionadas, de uma forma ou de outra, à cinesiologia. Embora eu não soubesse disso na época, a construção deste livro começou no dia em que preparei minha primeira aula de cinesiologia como professor universitário na Marque�e University em 1986. Desde então, eu tenho a sorte de estar junto de estudantes inteligentes e apaixonados. O desejo deles em aprender tem alimentado continuamente minha ambição e amor por ensinar. Como forma de encorajar meus estudantes a escutar ativamente em vez de apenas transcrever minhas palestras, eu elaborei um extensivo conjunto de notas de palestras sobre cinesiologia. Ano após ano, minhas anotações evoluíram, formando os planos da primeira edição do texto. Agora, 15 anos depois, eu, juntamente com a contribuição de vários coautores, apresento a terceira edição deste texto. Organização A organização deste livro-texto reflete o plano geral de estudo usado em dois semestres do meu curso de cinesiologia, bem como em outros cursos em nosso currículo na Marque�e University. O livro contém 16 capítulos, divididos em quatro seções principais. A Seção I fornece os tópicos essenciais da cinesiologia, incluindo uma introdução à terminologia e aos conceitos básicos, uma revisão da estrutura e das funções básicas do sistema musculoesquelético, e uma introdução aos aspectos biomecânicos e quantitativos da cinesiologia. As Seções II a IV apresentam detalhes anatômicos específicos e a cinesiologia das três maiores regiões do corpo. A Seção II foca inteiramente a extremidade superior, do ombro até a mão. A Seção III abrange a cinesiologia do esqueleto axial, que inclui a cabeça, o tronco e a coluna vertebral. Um capítulo especial está incluído nesta seção sobre a cinesiologia da mastigação e da ventilação. A Seção IV apresenta a cinesiologia da extremidade inferior, do quadril até o pé. Os dois capítulos finais nesta seção, “Cinesiologia da Marcha” e “Cinesiologia da Corrida”, integram e reforçam grande parte da cinesiologia da extremidade inferior. Este livro foi concebido especificamente com o propósito de ensinar. Com este fim, os conceitos foram apresentados em camadas, começando com a Seção I, que estabelece grande parte do fundamento científico para os capítulos contidos nas Seções II a IV. O material abordado nesses capítulos também é apresentado camada por camada, proporcionando tanto clareza quanto conhecimento profundo. A maioria dos capítulos inicia com osteologia – o estudo da morfologia e, subsequentemente, da função dos ossos. Este tópico é seguido pela artrologia – o estudo da anatomia e da função das articulações, incluindo os tecidos conectivos periarticulares associados. Foi incluída nesse estudo uma descrição completa da cinemática, tanto a partir de uma perspectiva artrocinemática quanto osteocinemática. O componente mais extenso da maioria dos capítulos nas Seções II a IV destaca as interações entre músculos e articulações. Este tópico começa com a descrição do músculo dentro da região, incluindo um resumo da inervação de ambos, músculos e estruturas articulares. Uma vez que a forma e a orientação física dos músculos estão estabelecidas, é discutida a interação mecânica entre os músculos e as articulações. Os tópicos apresentados incluem: força e potencial de movimento dos músculos; produção de forças musculares impostas às articulações; sinergismo intermuscular e interarticular; atividades funcionais importantes dos músculos em movimento, postura e estabilidade; e as relações funcionais existentes entre os músculos e as articulações subjacentes. Vários exemplos são fornecidos ao longo dos capítulos sobre como doença, trauma ou idade avançada podem causar redução da função ou de adaptação dentro do sistema musculoesquelético. Essa informação estabelece as bases para a compreensão de muitas das avaliações e tratamentosutilizados na maioria das situações clínicas de tratamento de pessoas com lesões musculoesqueléticas ou neuromusculares. Características distintas As características-chave da terceira edição incluem: • Ilustrações coloridas • Quadros de Enfoque Especial • Quadros de Visão Geral do Capítulo • Conexões Clínicas Adicionais após a maioria dos capítulos • Abordagem baseada em evidências por meio de 2.500 referências • Apêndices que contêm informações detalhadas de junções musculares, inervações, áreas de secção transversa, e muito mais Agradecimentos Aproveito esta oportunidade para agradecer a um grande número de pessoas que me deram carinhosa e atenciosa assistência ao longo da evolução desta terceira edição. Tenho certeza que eu inadivertidamente negligenciei algumas pessoas e por isso peço desculpas. A melhor maneira de começar meu agradecimento é citando minha família imediata, especialmente minha esposa Brenda que, com seu charme e estilo único, me deu suporte emocional e físico durante as três edições. Agradeço a meu filho Donnie e a minha enteada Megann, por sua paciência e compreensão. Agradeço, também, a meus atenciosos pais, Be�y e Charlie Neumann, pelas muitas oportunidades que me forneceram ao longo da minha vida. Eu não tenho certeza do que eu faria sem o senso de humor da minha mãe. Muitas pessoas influenciaram significativamente a elaboração do Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético: Fundamentos para Reabilitação. Acima de tudo, gostaria de agradecer a Elisabeth Roen Kelly, a ilustradora médica principal do livro, por seus anos de dedicação, talento incrível e alto padrão de excelência. Agradeço, também, a Craig Kiefer e seus colegas pelos cuidados e habilidade com a transição da arte em cores. Agradeço ainda aos funcionários da Elsevier e às afiliadas pela sua paciência e perseverança, em particular a Jeanne Robertson, Tracey Schriefer, Suzanne Fannin e Jolynn Gower. Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos aos Drs. Lawrence Pan e Richard Jensen, atual e último diretores, respectivamente, do Departamento de Fisioterapia da Marque�e University, bem como aos Drs. Jack Brooks e William Cullinan, último e atual diretores, respectivamente, do College of Health Sciences da Marque�e University. Esses senhores altruístas me ofereceram a oportunidade e a liberdade de realizar um sonho. Agradeço ainda aos seguintes colaboradores que contribuíram com capítulos ou trabalhos de coautoria nesta terceira edição: Peter R. Blanpied, Sandra K. Hunter, Bryan C. Heiderscheit, Guy G. Simoneau, Lauren Sara e Jonathon W. Senefeld. Esses profissionais talentosos forneceram profundidade e abrangência essenciais para este livro. Agradeço às muitas pessoas que revisaram os capítulos, e que o fizeram sem remuneração financeira. Esses revisores estão listados em outro lugar. Muitas pessoas da Marque�e University me forneceram inestimável assistência técnica e de pesquisa. Agradeço a Dan Johnson, Chefe de Fotografia, não apenas pelos 30 anos de amizade, mas por muitas das fotografias contidas neste livro. Também sou grato aos talentos de Gary Bargholz, Produtor, e de membros do Centro de Mídia Instrucional na produção de muitos dos meus vídeos e projetos de vídeo relacionado ao ensino. Gostaria de agradecer a Ljudmila (“Milly”) Mursec, Matha Gilmore Jermé e a outros bibliotecários da Livraria de Raynor pela importante ajuda em minha pesquisa. Muitas pessoas ligadas direta ou indiretamente com a Marque�e University forneceram assistência em uma gama de atividades durante a evolução do livro. Esta ajuda incluiu revisão, rastreamento de trabalhos de pesquisa, escuta, verificação de referências ou conceitos clínicos, posando ou fornecendo fotografias, fornecendo ou tirando raios X ou ressonância magnética, e outras assistências valiosas. Por esta ajuda, eu agradeço a Michael Branda, Kelly Brush, Allison Budreck, Therese Casey, Allison Czaplewski, Albojoy Deacon, Santana Deacon, Caress Dean, Kerry Donahue, Rebecca Eagleeye, Kevin Eckert, Kim Fowler, Jessica Fuentes, Gregg Fuhrman, Marybeth Geiser, Ma� Giordanelli, Barbara Haines, Douglas Heckenkamp, Lisa Hribar. Erika Jacobson, Tia Jandrin, Clare Kennedy, Michael Kiely, Davin Kimura, Kristin Kipp, Stephanie Lamon, Thomas Lechner, Jesse Lee, John Levene, Ryan Li�a, Lorna Loughran, Jessica Niles, Christopher Melkovi�, Melissa Merriman, Preston Michelson, Alicia Nowack, Ellen Perkins, Anne Pleva, Gregory Rajala, Rachel Sand, Janet Schuh, Robert Seeds, Jonathon Senefeld, Elizabeth Shanahan, Bethany Shutko, Jeff Sischo, Pamela Swiderski, Michelle Treml, Stacy Weineke, Andy Weyer e Sidney White. Estou muito grato por ter este lugar para reconhecer aqueles que tiveram um impacto significativo e positivo em minha vida profissional. Em certo sentido, o espírito destas pessoas está ligado a esta edição. Agradeço a Shep Barish por ser a primeira pessoa a me inspirar a ensinar cinesiologia; a Martha Wroe por servir como modelo para minha prática em fisioterapia; a Claude�e Finley por me fornecer rica base de anatomia humana; a Pa�y Altland por enfatizar a Darrel Benne� e a mim a importância de não limitar o potencial funcional dos nossos pacientes; a Gary Soderberg por sua orientação geral e firme dedicação ao princípio do trabalho; a Thomas Cook por me mostrar que tudo isso pode ser divertido; a Mary Pat Murray por estabelecer padrões tão elevados para a educação cinesiológica de Marque�e University; a Paul Andrew por suas continuadas lições (ou “repreensões”) sobre a importância da escrita clara e sucinta; e a Guy Simoneau por constantemente me lembrar o que uma ética de trabalho duradoura pode realizar. Gostaria de agradecer a muitas pessoas especiais que influenciaram neste projeto de algumas formas que são difíceis de descrever. Essas pessoas incluem familiares, velhos e novos amigos, colegas de profissão e, em muitos casos, uma combinação deles. Agradeço às pessoas por prosseguirem com seu senso de humor ou aventura, sua lealdade, sua dedicação intensa aos próprios objetivos e crenças, e por sua tolerância e compreensão para com as minhas. Por isso, agradeço a meus quatro irmãos, Chip, Suzan, Nancy, e Barbara; bem como a Brenda Neumann, Tad Hardee, David Eastwold, Darrell Benne�, Tony Hornung, Joseph Berman, Bob Myers, Robert e Kim Morecraft, Guy Simoneau, meus amigos especiais da WWRC, e à família Mehlos, especialmente a Harvey por sempre perguntar “Como vai o livro?”. Eu gostaria de agradecer especialmente a dois amigos, Tony Hornung e Jeremy Karman, dois fisioterapeutas que me ajudaram com o ensino de cinesiologia na Marque�e University por várias décadas. Eles ajudam a manter a classe vibrante, divertida, e clinicamente relevante. Finalmente, eu quero agradecer a todos os meus estudantes, tanto do passado quanto do presente, por tornar o meu trabalho tão recompensador. Apesar de, muitas vezes, eu parecer muito preocupado para mostrá-lo, vocês, honestamente, fazem tudo isso valer a pena. DAN SEÇÃO I Tópicos Essenciais da Cinesiologia Introdução Capítulo 1: Iniciando Capítulo 2: Estrutura Básica e Função das Articulações Humanas Capítulo 3: Músculo: O Estabilizador Primário e Motor do Sistema Esquelético Capítulo 4: Princípios Biomecânicos Apêndice I: Revisão da Trigonometria e Dados Antropométricos Introdução A Seção I é dividida em quatro capítulos, cada um dos quais descreve um tópico diferente relacionado à cinesiologia. Esta seção fornece o embasamento para as discussões cinesiológicas mais específicas das várias regiões do corpo (Seções II a IV). O Capítulo I aborda a terminologia introdutória e os conceitos biomecânicos relacionados à cinesiologia. Um glossário de termos cinesiológicos importantes, com definições, está localizado no fim do Capítulo 1. O Capítulo 2 apresenta os aspectos anatômicos, histológicos e funcionais básicos das articulações humanas — os pontos pivôs, ou melhor, os pontos de fixação para o movimento do corpo. O Capítulo 3 revisa os aspectos anatômicos e funcionais básicos do músculo esquelético— a fonte que produz movimento ativo e estabilização do sistema esquelético. Uma discussão mais detalhada e a análise quantitativa de muitos dos princípios biomecânicos introduzidos no Capítulo 1 são fornecidas no Capítulo 4. Conexões clínicas adicionais Conexões Clínicas Adicionais estão incluídas no fim do Capítulo 4. Esta seção destina-se a esclarecer ou expandir conceitos clínicos específicos associados à cinesiologia explorados no capítulo. CAPÍTULO 1 Iniciando Donald A. Neumann, PT, PhD, FAPTA VISÃO GERAL DO CAPÍTULO QUE É CINESIOLOGIA? PLANO GERAL DESTE LIVRO-TEXTO CINEMÁTICA Translação Comparada com Rotação Osteocinemática Planos de Movimento Eixo de Rotação Graus de Liberdade Osteocinemática: Uma Questão de Perspectiva Artrocinemática Morfologia Típica da Articulação Movimentos Fundamentais entre Superfícies Articulares Predição de um Padrão Artrocinemático Baseado na Morfologia Articular Posições de Bloqueio e Desbloqueio em uma Articulação CINÉTICA Forças Musculoesqueléticas Impacto das Forças no Sistema Musculoesquelético: Conceitos Introdutórios e Terminologia Forças Internas e Externas Torques Musculoesqueléticos Interação Músculo e Articulação Tipos de Ativação Muscular Ação Muscular na Articulação Alavancas Musculoesqueléticas Três Classes de Alavancas Vantagem Mecânica RESUMO GLOSSÁRIO REFERÊNCIAS Que é cinesiologia? As origens da palavra cinesiologia vêm do grego cinesis, mover, e logia, estudar. Cinesiologia do Sistema Musculoesquelético: Fundamentos para Reabilitação serve de guia para a cinesiologia mediante o enfoque das interações anatômicas e bioquímicas no sistema musculoesquelético. A beleza e a complexidade dessas interações foram capturadas por muitos grandes artistas, como Michelangelo Buonarroti (1475-1564) e Leonardo da Vinci (1452-1519). Seus trabalhos provavelmente inspiraram a criação do texto clássico Tabulae Sceleti et Musculorum Corporis Humani, publicado em 1747 pelo anatomista Bernhard Siegfried Albinus (1697-1770). Uma amostra deste trabalho é apresentada na Figura 1.1. FIGURA 1.1 Ilustração de anatomia do texto Tabulae Sceleti et Musculorum Corporis Humani (1747), por Bernhard Siegfried Albinus. A principal intenção deste livro é prover os estudantes e clínicos de uma sólida fundamentação baseada na literatura que instrumentalize a prática de muitos elementos da reabilitação física. Uma revisão detalhada da anatomia do sistema musculoesquelético, incluindo sua inervação, é apresentada como uma base para os aspectos estruturais e funcionais do movimento e suas aplicações clínicas. As discussões são apresentadas tanto em condições normais quanto anormais que resultam de doenças e traumatismos. Um entendimento detalhado da cinesiologia permite o desenvolvimento de uma avaliação racional, um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz dos distúrbios que afetam o sistema musculoesquelético. Essas habilidades representam uma sólida referência de alta qualidade para qualquer profissional de saúde envolvido na prática da reabilitação física. Este texto de cinesiologia contém primariamente três áreas do conhecimento: anatomia, biomecânica e fisiologia. A anatomia é a ciência da forma e da estrutura do corpo humano e suas partes. A biomecânica é a disciplina que utiliza os princípios da física para, quantitativamente, estudar como as forças interagem dentro de um corpo vivo. A fisiologia é o estudo biológico de organismos vivos. Este livro-texto inter-relaciona uma extensa revisão da anatomia musculoesquelética com princípios selecionados da biomecânica e da fisiologia. Tal abordagem permite que as funções cinesiológicas do sistema musculoesquelético sejam fundamentadas em vez de puramente memorizadas. Plano geral deste livro-texto Este texto é dividido em quatro seções. A Seção I: Tópicos Essenciais da Cinesiologia inclui os Capítulos 1 a 4. Para iniciar o leitor, o Capítulo 1 fornece muitos dos conceitos fundamentais e da terminologia relacionada à cinesiologia. Um glossário é fornecido no final do Capítulo 1, com definições destes conceitos e termos fundamentais. Os Capítulos 2 a 4 descrevem o embasamento necessário a respeito da mecânica das articulações e da fisiologia dos músculos e revisa a biomecânica aplicada. O material apresentado na Seção I mostra os fundamentos cinesiológicos para os capítulos com bases mais anatômicas e regionais incluídos nas Seções II a IV. A Seção II (Caps. 5 a 8) descreve a cinesiologia relacionada com a extremidade superior; a Seção III (Caps. 9 a 11) abrange a cinesiologia que envolve principalmente o esqueleto axial e o tronco; finalmente, a Seção IV (Caps. 12 a 16) apresenta a cinesiologia da extremidade inferior, incluindo dois capítulos de fechamento que focam a marcha e a corrida. Cinemática A cinemática é um ramo da mecânica que descreve o movimento de um corpo sem considerar forças ou torques que podem produzir o movimento. Na biomecânica, o termo corpo é usado de forma relativamente ampla tanto para descrever todo o corpo, quanto qualquer uma de suas partes ou segmentos, tais como ossos ou regiões individuais. Em geral, existem dois tipos de movimentos: translação e rotação. Translação Comparada com Rotação A translação descreve um movimento linear no qual todas as partes de um corpo rígido movem-se paralelas e na mesma direção que todas as outras partes do corpo. A translação pode ocorrer tanto em uma linha reta (retilínea) quanto em uma linha curva (curvilínea). Durante a caminhada, por exemplo, um ponto na cabeça se move de maneira curvilínea geral (Fig. 1.2). FIGURA 1.2 Um ponto no topo da cabeça é mostrado transladando-se para cima e para baixo, de maneira curvilínea, durante a caminhada. O eixo horizontal do gráfico mostra a porcentagem de conclusão de um ciclo inteiro de marcha (caminhada). A rotação, em contraste com a translação, descreve um movimento no qual um corpo assumidamente rígido move-se em um trajeto circular em torno de algum ponto de fixação. Como resultado, todos os pontos no corpo giram simultaneamente na mesma direção angular (p. ex., no sentido horário e no sentido anti-horário), através do mesmo número de graus. O movimento do corpo humano como um todo é, frequentemente, descrito como uma translação do centro de massa do corpo, geralmente localizado imediatamente anterior ao sacro. Embora o centro de massa de uma pessoa sofra translação através do espaço, ele é alimentado por músculos que giram os membros. O fato de os membros girarem pode ser apreciado observando-se a trajetória criada pelo punho enquanto o cotovelo é flexionado (Fig. 1.3). (É habitual, em cinesiologia, usar as frases “rotação de uma articulação” e “rotação de um osso” de forma permutável). FIGURA 1.3 Com um flash estroboscópico, uma câmara é capaz de capturar a rotação do antebraço em torno do cotovelo. Se não fosse pelas restrições anatômicas do cotovelo, o antebraço poderia, em teoria, girar 360 graus em torno de um eixo de rotação localizado no cotovelo (círculo aberto). O ponto de fixação da articulação para um movimento angular do corpo ou partes do corpo é chamado de eixo de rotação. O eixo se encontra no ponto em que o movimento de rotação do corpo é zero. Para a maioria dos movimentos dos membros ou do tronco, o eixo de rotação está localizado dentro ou muito próximo da estrutura da articulação. O movimento do corpo, independentemente da translação ou da rotação, pode ser descrito como ativo ou passivo. Movimentos ativos são causados por músculos estimulados, como quando levamos um copo de água a boca. Movimentos passivos, em contraste, são causados por fontes diferentes da estimulação muscular, como um empurrão ou um puxão de outra pessoa, a força da gravidade, a tensão nos tecidos conjuntivos estirados e assim por diante. As variáveis primárias relacionadas à cinemática são a posição, a velocidade e a aceleração. Unidades específicas de medida são necessárias para quantificar essas variáveis. As unidades de metros ou pés são usadaspara a translação e graus ou radianos são usados para rotação. Na maioria das situações, Cinesiologia do Sistema Musculoesquelético utiliza o Sistema Internacional de Unidades, adotado em 1960. Esse sistema é abreviado como SI, de Système International d’Unités, em Francês. Esse sistema de unidades é amplamente aceito em muitos periódicos relacionados a cinesiologia e reabilitação. As conversões cinemáticas entre as unidades SI mais comuns e outras unidades de medida estão listadas na Tabela 1.1. Unidades de medidas adicionais são descritas no Capítulo 4. Tabela 1.1 Conversões Comuns entre Unidades de Medidas Cinemáticas Unidades SI Unidades Inglesas 1 metro (m) = 3,28 pés (ft) 1 ft = 0,305 m 1 m = 39,37 inches (in) 1 in = 0,0254 m 1 centímetro (cm) = 0,39 in 1 in = 2,54 cm 1 m = 1,09 jarda (yd) 1 yd = 0,91 m 1 quilômetro (km) = 0,62 milha (mi) 1 mi = 1,61 km 1 grau = 0,0174 radiano (rad) 1 rad = 57,3 graus Osteocinemática Planos de movimento A osteocinemática descreve os movimentos dos ossos em relação aos três planos cardinais (principais) do corpo: sagital, frontal e horizontal. Esses planos de movimento são descritos no contexto de uma pessoa que está na posição anatômica, como na Figura 1.4. O plano sagital é paralelo à sutura sagital do crânio, dividindo o corpo nas seções direita e esquerda; o plano frontal corre paralelo à sutura coronal do crânio, dividindo o corpo nas seções anterior e posterior. O plano horizontal (ou transverso) segue paralelo ao horizonte e divide o corpo nas seções superior e inferior. Uma amostra dos termos utilizados para descrever os diferentes osteocinemáticos encontra-se na Tabela 1.2. Termos mais específicos são definidos nos capítulos que descrevem as várias regiões do corpo. FIGURA 1.4 Os três planos cardinais do corpo são mostrados enquanto uma pessoa está de pé, na posição anatômica. Tabela 1.2 Amostra de Termos Osteocinamáticos Comuns* Plano Termos Comuns Plano Sagital Flexão e extensão Dorsiflexão e flexão plantar Flexão para frente e para trás Plano Frontal Abdução e adução Flexão lateral Desvio ulnar e radial Eversão e inversão Plano Horizontal Rotação interna (medial) e externa (lateral) Rotação axial * Muitos dos termos são específicos para uma região particular do corpo. O polegar, por exemplo, usa terminologia diferente. Eixo de rotação Os ossos giram em torno de uma articulação que é perpendicular ao eixo de rotação. Numa estimativa grosseira, pode-se admitir que o eixo (ou ponto de fixação) passa através do membro convexo da articulação. O ombro, por exemplo, permite movimento em todos os três planos e, portanto, possui três eixos de rotação (Fig. 1.5). Embora os três eixos ortogonais sejam apresentados como estacionários, na realidade, como em todas as articulações, cada eixo se desloca ligeiramente ao longo da amplitude de movimento. O eixo de rotação permaneceria estacionário somente se o membro convexo de uma articulação fosse uma esfera perfeita, articulando- se com um membro côncavo com forma perfeitamente recíproca. Os membros convexos da maioria das articulações, como a cabeça do úmero no ombro, são esferas imperfeitas com uma superfície de curvatura em mudança. O tema sobre eixo de rotação em modificação é discutido mais adiante, no Capítulo 2. FIGURA 1.5 A articulação glenoumeral direita (ombro) destaca três eixos ortogonais de rotação e planos associados do movimento angular: flexão e extensão (setas curvas verdes) ocorrem em torno de um eixo de rotação medial-lateral (ML); abdução e adução (setas curvas roxas) ocorrem em torno de um eixo de rotação anteroposterior (AP); e rotação interna e rotação externa (setas curvas azuis) ocorrem em torno de um eixo vertical de rotação. Cada eixo de rotação é codificado por cores, com o seu plano de movimento associado. As setas curtas e retas mostradas paralelamente a cada eixo representam o pequeno potencial de translação do úmero em relação à escápula. Essa ilustração mostra tanto o grau de liberdade quanto o angular e translacional. (Ver o texto para descrição adicional.) Graus de liberdade Os graus de liberdade são o número de direções independentes dos movimentos permitidos em uma articulação. Uma articulação pode ter até três graus de liberdade angular, correspondendo aos três planos cardinais. Conforme ilustrado na Figura 1.5, por exemplo, o ombro possui três graus de liberdade angular, um para cada plano. O pulso permite apenas dois graus de liberdade (rotação dentro dos planos sagital e frontal) e o cotovelo permite apenas um (dentro do plano sagital). A menos que seja especificado de forma diferente ao longo deste texto, o termo graus de liberdade indica o número permitido de planos de movimento angular em uma articulação. A partir de uma perspectiva estritamente da engenharia, no entanto, os graus de liberdade se aplicam aos movimentos de translação (linear) tanto quanto aos movimentos angulares. Todas as articulações sinoviais do corpo possuem ao menos alguma translação, movida ativamente pelos músculos ou passivamente devido ao relaxamento natural da própria estrutura articular. As translações leves passivas que ocorrem na maioria das articulações são referidas como movimentos acessórios (ou joint play) e são comumente definidas em três direções lineares. A partir da posição anatômica, a orientação espacial e a direção dos movimentos acessórios podem ser descritas em relação aos três eixos de rotação. Na articulação glenoumeral relaxada, por exemplo, o úmero pode ser ligeiramente transladado passivamente: anteroposteriormente, mediolateralmente e superoinferiormente (ver setas curtas e retas perto do úmero proximal na Fig. 1.5). Em muitas articulações, a variação na quantidade de translações é usada clinicamente para testar a saúde articular. Translação excessiva de um osso em relação à articulação pode indicar lesão do ligamento ou relaxamento anormal. Em contraste, a redução significativa na translação (movimentos acessórios) pode indicar rigidez patológica dentro dos tecidos conjuntivos periarticulares vizinhos. A translação anormal dentro de uma articulação tipicamente afeta a qualidade dos movimentos ativos, potencialmente causando aumento do estresse intra-articular e microtrauma. Osteocinemática: uma questão de perspectiva Em geral, a junção de dois ou mais segmentos ósseos ou membros constitui uma articulação. O movimento em uma articulação pode, portanto, ser considerado a partir de duas perspectivas: (1) o segmento proximal pode rodar em oposição ao segmento distal relativamente fixo e (2) o segmento distal pode rodar em oposição ao segmento proximal relativamente fixo. (Na realidade, ambas as perspectivas podem ocorrer (e frequentemente ocorrem) simultaneamente; embora, para a facilidade da discussão e da análise, esta situação seja muitas vezes omitida no texto. As duas perspectivas cinemáticas são mostradas para a flexão do joelho na Figura 1.6. Um termo como flexão do joelho, por exemplo, descreve apenas o movimento relativo entre a coxa e a perna. Ele não descreve qual dos dois segmentos está, na verdade, girando. Frequentemente, para ter clareza, é necessário indicar o osso que é considerado o segmento em rotação. Na Figura 1.6, por exemplo, os termos movimento tibial-femoral e movimento femoral-tibial descrevem adequadamente os movimentos osteocinemáticos. FIGURA 1.6 A osteocinemática do plano sagital do joelho mostra um exemplo de (A) cinemática do plano distal-proximal e (B) cinemática do segmento proximal-distal. O eixo de rotação é mostrado como um círculo no joelho. A maioria dos movimentos rotineiros realizados pelas extremidades superiores envolvem cinemática do segmento distal-proximal. Isso reflete a necessidade de trazer objetos apreendidos pela mão, seja para próximo, seja para longe do corpo. O segmento proximal de uma articulação na extremidade superior é geralmente estabilizado pelos músculos, pela gravidade ou pela sua inércia, enquanto o segmento distal, relativamente irrestrito, sofre rotação. Alimentar-see jogar bola são exemplos comuns da cinemática do segmento distal-proximal empregada pelas extremidades superiores. As extremidades superiores são, certamente, capazes de realizar cinemática do segmento proximal-distal, como flexionar e estender os cotovelos enquanto se executa um puxão para cima. Os membros inferiores rotineiramente realizam cinemática do segmento proximal-distal e distal-proximal. Essas cinemáticas refletem, em parte, as duas fases primárias do caminhar: a fase de apoio, quando o membro está plantado no chão sob a carga do peso corporal, e a fase de balanço, quando o membro está avançando para a frente. Em muitas outras atividades, além do caminhar, usam-se ambas as estratégias cinemáticas. Flexionar o joelho em preparação para chutar uma bola, por exemplo, é um tipo de cinemática do segmento distal-proximal (Fig. 1.6A). Descer para uma posição de agachamento, ao contrário, é um exemplo da cinemática do segmento proximal-distal (Fig. 1.6B). Neste último exemplo, uma demanda relativamente grande é exercida no músculo quadríceps do joelho para controlar a descida gradual do corpo. Os termos cadeias cinemáticas abertas e fechadas são frequentemente utilizados na literatura e na clínica de reabilitação física para descrever o conceito de cinemática relativa do segmento. Uma cadeia cinemática refere-se à série de articulações segmentadas ligadas, como pelve, coxa, perna e pé conectados ao membro inferior. Os termos “aberto” e “fechado” são tipicamente utilizados para indicar quando o fim distal de uma extremidade (membro) está fixo à terra ou a algum outro objeto imóvel. Uma cadeia cinemática aberta descreve uma situação na qual o segmento distal de uma cadeia cinemática, como o pé no membro inferior, não está fixo à terra ou a outro objeto imóvel. O segmento distal está, portanto, livre para se movimentar (Fig. 1.6A). Uma cadeia cinemática fechada descreve uma situação na qual o segmento distal da cadeia cinemática está fixo à terra ou a outro objeto imóvel. Neste caso, o segmento proximal está livre para se mover (Fig. 1.6B). Esses termos são empregados extensivamente para descrever métodos de aplicação de exercícios de resistência para os músculos, especialmente para as articulações do membro inferior. Embora a terminologia seja muito conveniente, os termos cadeias cinemáticas aberta e fechada são, frequentemente, ambíguos. A partir de uma perspectiva estrita da engenharia, os termos se aplicam mais à interdependência cinemática de uma série de ligações rígidas conectadas, o que não é exatamente o mesmo que as definições anteriores fornecidas aqui. Da perspectiva da engenharia, a cadeia é “fechada” se ambas as extremidades estiverem fixadas a um objeto comum, mais semelhante a um circuito fechado. Neste caso, o movimento de qualquer uma das junções requer o ajustamento cinemático de uma ou mais das outras conexões dentro da cadeia. “Abrir” a cadeia desconectando uma extremidade de sua ligação fixa interrompe essa interdependência cinemática. Essa terminologia mais precisa não se aplica universalmente a todas as disciplinas da saúde relacionadas com a engenharia. A execução de um agachamento parcial de uma perna, por exemplo, é com frequência referida clinicamente como o movimento de uma cadeia cinemática fechada. Pode-se argumentar, entretanto, que este é um movimento de cadeia cinemática aberta porque a perna contralateral não está fixada ao solo (p. ex., o circuito formado pelo corpo inteiro está aberto). Para evitar confusão, este texto utiliza os termos cadeias cinemáticas aberta e fechada com prudência e a preferência é declarar explicitamente que segmento (proximal ou distal) é considerado fixado e qual é considerado livre. Artrocinemática Morfologia típica da articulação A artrocinemática descreve o movimento que ocorre entre as superfícies articulares das articulações. Conforme descrito mais adiante no Capítulo 2, as formas das superfícies articulares vão de planas a curvas. A maioria das superfícies articulares, no entanto, são, pelo menos, levemente encurvadas, com uma superfície sendo relativamente convexa e a outra relativamente côncava (Fig. 1.7). A relação côncavo-convexo da maioria das articulações melhora sua conformidade (ajuste), aumenta a área de superfície para dissipar as forças de contato e ajuda a guiar o movimento entre os ossos. FIGURA 1.7 A articulação umeroulnar no cotovelo é um exemplo de relação convexo-côncava entre duas superfícies articulares. A tróclea do úmero é convexa e a incisura troclear da ulna é côncava. Movimentos fundamentais entre superfícies articulares Existem três movimentos fundamentais entre as superfícies articulares curvas: rolar, deslizar e girar. Esses movimentos ocorrem quando uma superfície convexa se move sobre uma superfície côncava e vice-versa (Fig. 1.8). Embora outros termos sejam utilizados, estes são úteis para visualizar os movimentos relativos que ocorrem dentro de uma articulação. Os termos são formalmente definidos na Tabela 1.3. FIGURA 1.8 Três artrocinemáticas fundamentais que ocorrem entre superfícies articulares curvas: rolamento, deslizamento e giro. A, movimento convexo-côncavo. B, Movimento côncavo-convexo. Tabela 1.3 Três Propriedades Artrocinemáticas Fundamentais: Rolamento, Deslizamento e Giro Movimento Definição Analogia Rolamento* Múltiplos pontos ao longo de uma superfície articular rotativa contatam múltiplos pontos em outra superfície articular. Um pneu que roda sobre a extensão do pavimento. Deslizamento† Um único ponto de uma superfície articular rotativa contata múltiplos pontos em outra superfície articular. Um pneu não rotativo que patina sobre a extensão de um pavimento. Giro Um único ponto de uma superfície articular gira sobre um único ponto em outra superfície articular. Um peão girando em um ponto no chão. * Também denominada balanço. † Também denominada escorregamento. Movimentos de Rolamento-e-Deslizamento Uma maneira primária pela qual um osso pode rodar no espaço é por meio do rolamento de sua superfície articular contra a superfície do outro osso. O mecanismo é mostrado para um movimento de superfície convexo-côncavo na articulação glenoumeral na Figura 1.9A. A contração do músculo supraespinal rola a cabeça convexa do úmero contra a leve concavidade da fossa glenoide. O giro, essencialmente, direciona a via osteocinemática para abduzir o úmero. FIGURA 1.9 Artrocinemática na articulação glenoumeral durante abdução. A fossa glenoide é côncava e a cabeça do úmero é convexa. A, Artrocinemática de rolar e deslizar típica de uma superfície articular convexa movendo-se sobre uma superfície articular côncava relativamente estacionária. B, Consequências de um rolamento ocorrendo sem um deslizamento de compensação suficiente. Uma superfície convexa de rolamento envolve, tipicamente, uma superfície deslizante diretamente oposta. Como ilustrado na Figura 1.9A, o deslizamento dirigido inferior da cabeça do úmero compensa a maior parte do potencial de migração superior da cabeça do úmero rolante. O deslocamento cinemático rolar-e-deslizar é análogo a um pneu de um carro que está girando em uma lâmina de gelo. A possibilidade de o pneu girar para a frente no pavimento congelado é compensada por um deslizamento contínuo do pneu na direção oposta à rotação desejada. Um exemplo de patologia clássica do rolamento de uma superfície convexa sem um deslizamento de compensação é demonstrado na Figura 1.9B. A cabeça do úmero translada para cima e atrita os delicados tecidos no espaço subacromial. A migração altera a localização relativa do eixo de rotação, o que pode alterar a eficácia dos músculos que atravessam a articulação glenoumeral. Conforme mostrado na Figura 1.9A, o movimento simultâneo de rolar-e- deslizar maximiza o deslocamento angular da abdução do úmero e minimiza a rede de translação entre as superfícies articulares. Esse mecanismo é particularmente importante em articulações nas quais a área de superfície articular do membro convexo excede a do côncavo.Girar Outra maneira primária pela qual o osso gira é através do movimento giratório da sua superfície articular contra a superfície articular do outro osso. Isso ocorre quando o rádio do antebraço gira sobre o capítulo do úmero durante a pronação do antebraço (Fig. 1.10). Outros exemplos incluem a rotação interna e externa, a 90 graus, da abdução da articulação glenoumeral e a flexão e extensão do quadril. O movimento giratório é o mecanismo primário para a rotação da articulação quando o eixo longitudinal do osso em movimento cruza a superfície do seu companheiro articular em ângulos retos. FIGURA 1.10 A pronação do antebraço apresenta um exemplo de um movimento giratório entre a cabeça do rádio e o capítulo do úmero. O par de setas pretas curtas opostas indica forças de compressão entre a cabeça do rádio e o capítulo. Movimentos que Combinam os Artrocinemáticos Rolamento- Deslizamento e Giro Várias articulações ao longo do corpo combinam os artrocinemáticos rolar- deslizar com o girar. Um exemplo clássico dessa combinação ocorre durante a flexão e extensão do joelho. Como mostrado durante a extensão femoral-tibial do joelho (Fig. 1.11A), o fêmur gira internamente, ligeiramente à medida que o côndilo femoral gira e desliza em relação à tíbia fixa (estacionária). Esses artrocinemáticos também são mostrados quando a tíbia se estende em relação ao fêmur fixo na Figura 1.11B. No joelho, o movimento de girar que ocorre com a flexão e extensão se dá automaticamente e está mecanicamente ligado ao movimento primário de extensão. Conforme descrito no Capítulo 13, a rotação de giro obrigatório é baseada na forma das superfícies articulares no joelho. A rotação conjunta ajuda a travar a articulação do joelho seguramente quando totalmente estendido. FIGURA 1.11 A extensão do joelho demonstra uma combinação artrocinemática de rolar e deslizar com giro. O côndilo femoral é convexo e o platô tibial é ligeiramente côncavo. A, Extensão femoral- tibial (joelho). B, Extensão tibial-femoral (joelho). Predição de um padrão artrocinemático baseado na morfologia articular Conforme afirmado anteriormente, a maioria das superfícies articulares dos ossos são convexas ou côncavas. Dependendo do osso que está se movendo, a superfície convexa pode rotacionar sobre a superfície côncava ou vice-versa (compare-se a Fig. 1.11A com a Fig. 1.11B). Cada cenário apresenta um padrão artrocinemático de rolamento-e-deslizamento diferente. Conforme ilustrado nas Figuras 1.11A e 1.9A, para o ombro, durante um movimento convexo-côncavo, a superfície convexa rola e desliza em direções opostas. Como descrito anteriormente, o deslizamento contradirecional desloca grande parte da tendência de translação inerente à superfície convexa de rolamento. Durante o movimento côncavo-convexo, como ilustrado na Figura 1.11B, a superfície rola e desliza em direções semelhantes. Esses dois princípios são muito úteis para visualizar a artrocinemática durante um movimento. Além disso, os princípios servem de base para algumas técnicas de terapia manual.18 Forças externas podem ser aplicadas pelo clínico, auxiliando ou guiando a artrocinemática natural na articulação. Por exemplo, em certas circunstâncias, a abdução glenoumeral pode ser facilitada pela aplicação de uma força dirigida inferiormente no úmero proximal, simultaneamente com um esforço ativo de abdução. Os princípios artrocinemáticos são baseados no conhecimento da morfologia da superfície da articulação. Princípios Artrocinemáticos do Movimento • Para uma superfície de movimento convexo-côncavo, o membro convexo roda e desliza em sentidos opostos. • Para uma superfície de movimento côncavo-convexo, o membro côncavo rola e desliza em sentidos semelhantes. Posições de bloqueio e desbloqueio em uma articulação O par de superfícies articulares na maioria das articulações “se encaixa” melhor em apenas uma posição, geralmente dentro ou próximo da faixa final de um movimento. Essa posição de congruência máxima é referida como posição de bloqueio da articulação.21 Nessa posição, a maioria dos ligamentos e partes da cápsula estende-se, proporcionando um elemento de estabilidade natural à articulação. Os movimentos acessórios são tipicamente mínimos na posição de bloqueio da articulação. Para muitas articulações dos membros inferiores, a posição de bloqueio está associada a uma função habitual. No joelho, por exemplo, a posição de bloqueio inclui extensão completa — posição que é tipicamente atingida quando de pé. O efeito combinado da congruência máxima da articulação e dos ligamentos estendidos ajuda a proporcionar estabilidade transarticular ao joelho. Todas as posições que não sejam uma posição de bloqueio fechado da articulação são referidas como posição de desbloqueio. Nessas posições, os ligamentos e a cápsula estão relativamente afrouxados, permitindo um aumento nos movimentos acessórios. A articulação é geralmente menos congruente próximo de seu intervalo médio de funcionamento. Na extremidade inferior, as posições de desbloqueio das principais articulações tendem em direção à flexão. Essas posições não são geralmente utilizadas durante a posição de pé prolongada, mas frequentemente são preferidas pelo paciente durante longos períodos de imobilização, como repouso prolongado. Cinética A cinética é um ramo do estudo da mecânica que descreve o efeito das forças sobre o corpo. O tópico da cinética é introduzido aqui da maneira como se aplica ao sistema musculoesquelético. Uma abordagem mais detalhada e matemática para este tema é fornecida no Capítulo 4. Do ponto de vista da cinesiologia, uma força pode ser considerada como um impulso ou uma tração que pode produzir, deter ou modificar um movimento. As forças, portanto, fornecem o impulso final para o movimento e a estabilização do corpo. Como descrito pela segunda lei Newton, a quantidade de uma força (F) pode ser medida pelo produto da Massa (m) que recebe impulso ou tração, multiplicado pela aceleração (a) da massa. A fórmula F = ma mostra que, dada uma massa constante, uma força é diretamente proporcional à aceleração dessa massa: a medida da força produz a aceleração do corpo e vice-versa. A força total é zero quando a aceleração da massa é zero. O padrão internacional de unidade de força é o newton (N): 1 N = 1 kg x 1 m/sec2. Forças Musculoesqueléticas Impacto das forças no sistema musculoesquelético: conceitos introdutórios e terminologia Uma força que age no corpo é frequentemente referida genericamente como carga. Forças ou cargas que se movem, fixam ou, de outra forma, estabilizam o corpo também têm o potencial de deformar e prejudicar o corpo. As cargas mais frequentemente aplicadas ao sistema musculoesquelético estão ilustradas na Figura 1.12. (Veja o glossário no fim deste capítulo para as definições formais.) Tecidos saudáveis são tipicamente capazes de resistir, parcialmente, às mudanças em sua estrutura e forma. A força que estende um ligamento saudável, por exemplo, é oposta por uma tensão intrínseca gerada dentro do tecido alongado (estendido). Qualquer tecido enfraquecido por doença, trauma ou desuso prolongado pode não ser capaz de resistir adequadamente à aplicação das cargas ilustradas na Figura 1.12. O fêmur proximal enfraquecido pela osteoporose, por exemplo, pode sofrer fratura pelo impacto de uma queda secundária a compressão ou torção (flexão), cisalhamento ou dobra do colo do fêmur. A fratura também pode ocorrer em um quadril com severa osteoporose após uma contração muscular muito forte. FIGURA 1.12 Apresenta-se a maneira pela qual as forças ou cargas são mais frequentemente aplicadas ao sistema musculoesquelético. Ilustra-se também a carga de torção e de compressão combinada. Enfoque Especial 1.1 Peso Corporal Comparado com Massa Corporal O quilograma (kg) é a unidade de massa que indica o número relativo de partículas dentro de um objeto. Estritamente falando, portanto, um quilograma é uma medida de massa, não de peso. Sob influência da gravidade, no entanto, uma massa de 1kg pesa cerca de 9,8 N (1 kg). Este é o resultado da ação da gravidade na aceleração de uma massa de 1 kg em direção ao centro da terra a uma taxa de cerca de 9,8 m/seg2. Muito frequentemente, entretanto, o peso de um corpo é expresso em quilogramas. Admite-se que a aceleração resultante da gravidade agindo sobre o corpo é constante e, para fins práticos, ignorada. Tecnicamente, no entanto, o peso de uma pessoa varia inversamente ao quadrado da distância entre a massa da pessoa e o centro da terra. Uma pessoa no cume do monte Everest, a 8.852 m, por exemplo, pesa um pouco menos do que uma pessoa com uma massa idêntica ao nível do mar. A aceleração resultante da gravidade no monte Everest é de 9.782 m/s2, comparada com 9.806 m/seg2 ao nível do mar. A capacidade dos tecidos conjuntivos periarticulares para aceitar e dispersar cargas é um importante tópico de pesquisa na reabilitação física, terapia manual e medicina ortopédica.9,14 Clínicos e cientistas estão muito interessados na maneira pela qual variáveis como envelhecimento, trauma, atividade alterada ou níveis de suporte de peso ou imobilização prolongada afetam as funções de aceitação de carga dos tecidos conjuntivos periarticulares. Um método laboratorial para mensurar a capacidade de um tecido conjuntivo de tolerar uma carga é medir a força necessária para deformar um tecido extirpado.5 Esse tipo de experimento é tipicamente realizado utilizando cadáveres de humanos ou animais. A Figura 1.13 mostra um gráfico teórico da tensão gerada por um ligamento genérico (ou tendão) que foi estendido até um ponto de falha mecânica. O eixo vertical (Y) do gráfico é chamado de tensão, um termo que denota a resistência interna gerada enquanto o ligamento resiste à deformação, dividido pela sua área transversal. (As unidades de tensão são semelhantes às de pressão: N/mm2.) O eixo horizontal (X) é correspondente à distensão, a qual, neste caso, é o aumento percentual do comprimento de um tecido distendido em relação ao seu comprimento original, pré-experimental.20 (Um procedimento semelhante pode ser realizado pela compressão em vez de alongamento de um pedaço extirpado de cartilagem ou osso, por exemplo, e, em seguida, pela marcação da quantidade de tensão produzida no interior do tecido.) Observa-se, na Figura 1.13, que sob uma tensão relativamente leve (estiramento) o ligamento produz apenas uma pequena quantidade de tensão (estresse). Essa região não linear ou região toe do gráfico reflete o fato de que as fibras de colágeno dentro do tecido estão inicialmente onduladas ou franzidas e devem ser esticadas antes de medir-se a tensão significativa.14 O alongamento adicional, no entanto, mostra uma relação linear entre tensão e alongamento. A razão entre a tensão (Y) causada por um alongamento aplicado (X) no ligamento é uma medida de sua rigidez (frequentemente referida como o módulo de Young). Todos os tecidos conjuntivos normais dentro do sistema musculoesquelético apresentam algum grau de rigidez. O termo clínico “retesamento” geralmente implica uma condição patológica de rigidez anormalmente elevada. FIGURA 1.13 A relação tensão-deformação de um ligamento excisado que foi esticado até um ponto de falha mecânica (ruptura). As regiões não lineares iniciais e subsequentes áreas lineares da curva mostrada na Figura 1.13 são, frequentemente, referidas como regiões elásticas. Ligamentos, por exemplo, são alongados rotineiramente dentro dos limites inferiores de suas regiões elásticas. O ligamento cruzado anterior, por exemplo, é esticado cerca de 3-4% durante atividades comuns como subir escadas, pedalar uma bicicleta ergométrica ou agachar-se.6,7,11 É importante notar que um ligamento saudável e relativamente jovem que é distendido dentro da zona elástica retorna ao seu comprimento (ou forma) original, uma vez removida a força de deformação. A área sob a curva (em azul mais escuro) representa a energia de deformação elástica. A maior parte da energia usada para deformar o tecido é liberada quando a força é removida. Mesmo em um sentido estático, a energia elástica tem uma função importante dentro das articulações. Quando distendidos mesmo numa quantidade moderada dentro da zona elástica, os ligamentos e outros tecidos conjuntivos desempenham importantes funções de estabilização da articulação. Um tecido que é alongado para além do seu intervalo fisiológico atinge, consequentemente, seu limite de elasticidade. Neste ponto, o aumento da tensão resulta apenas num aumento marginal da tensão (estresse). Este comportamento físico de um tecido sobrecarregado (ou sobrecomprimido) é conhecido como plasticidade. O tecido sobrecarregado sofreu deformação plástica. Neste ponto, ocorreu uma falha microscópica e o tecido permanece deformado permanentemente. A área sob esta região da curva (em azul mais claro) representa a energia de deformação plástica. Diferentemente da energia de deformação elástica, a energia plástica não é recuperável na sua totalidade, mesmo quando a força de deformação é removida. À medida que o alongamento continua, o ligamento atinge finalmente seu ponto final de falha, o ponto em que o tecido se rompe parcial ou completamente e perde a sua capacidade de manter qualquer nível de tensão. A maioria dos tendões saudáveis falha a cerca de 8-13% acima do seu comprimento pré- esticado.24 O gráfico na Figura 1.13 não indica a variável tempo de aplicação de carga. Tecidos nos quais as propriedades físicas associadas à curva tensão- alongamento variam em função do tempo são considerados viscoelásticos. A maioria dos tecidos no sistema musculoesquelético demonstra pelo menos algum grau de viscoelasticidade. Um fenômeno de um material viscoelástico é a deformação. Conforme demonstrado pelo ramo da árvore na Figura 1.14, a deformação descreve um alongamento progressivo do material, quando exposto a uma carga constante ao longo do tempo. O fenômeno da deformação ajuda a explicar por que uma pessoa é mais alta de manhã do que à noite. A compressão constante causada pelo peso corporal na coluna ao longo do dia literalmente espreme uma pequena quantidade de líquido para fora dos discos intervertebrais. O fluido é reabsorvido durante a noite, enquanto a pessoa, dormindo, encontra-se numa posição de não carregar peso. FIGURA 1.14 O ramo da árvore está demonstrando uma propriedade tempo-dependente da deformação associada ao material viscoelástico. Pendurar uma carga no ramo às 8 horas cria uma deformação imediata. Às 18 horas a carga causou deformação adicional na ramificação. (De Panjabi MM, White AA: Biomechanics in the musculoskeletal system, New York, 2001, Churchill Livingstone.) A curva de tensão-alongamento de um material viscoelástico é também sensível à taxa de carga do tecido. Em geral, a inclinação de uma relação tensão-alongamento quando colocada sob tensão ou compressão aumenta ao longo de toda a sua faixa elástica à medida que a taxa de carga aumenta.20 A natureza do grau de sensibilidade dos tecidos conjuntivos viscoelásticos pode proteger as estruturas circundantes dentro do sistema musculoesquelético. A cartilagem articular no joelho, por exemplo, torna-se mais rígida à medida que aumenta a taxa de compressão,19 como durante a corrida. A rigidez aumentada proporciona maior proteção ao osso subjacente no momento em que as forças que atuam sobre a articulação são maiores. Enfoque Especial 1.2 Antagonismo Produtivo: a Capacidade do Corpo para Converter a Tensão Passiva em Trabalho Útil Um tecido esticado ou alongado dentro do corpo geralmente provoca tensão (p. ex., uma força de resistência que se opõe ao alongamento). Em casos patológicos, essa tensão pode ser anormalmente grande, interferindo portanto na mobilidade funcional. Este livro-texto apresenta vários exemplos, entretanto, que ilustram como níveis relativamente baixos de tensão, produzidos por tecidos conjuntivos esticados (incluindo o músculo) desempenham funções úteis. Esse fenômeno é chamado antagonismo produtivo e é demonstrado para um par de músculos no modelosimplificado na Figura 1.15. Como mostrado pela figura à esquerda, parte da energia produzida pela contração ativa do músculo A é transferida e armazenada como energia elástica nos tecidos conjuntivos esticados dentro do músculo B. A energia elástica é liberada quando o músculo B se contrai ativamente para conduzir o prego no quadro (ilustração à direita). Parte da energia contrátil produzida pelo músculo B é usada para esticar o músculo A e o ciclo é repetido. FIGURA 1.15 Modelo simplificado que mostra um par de músculos opostos ao redor de uma articulação. Na ilustração à esquerda, o músculo A está se contraindo para fornecer a força necessária para erguer o martelo em preparação para atingir o prego. Na ilustração à direita, o músculo B está se contraindo, dirigindo o martelo contra o prego, enquanto alonga simultaneamente o músculo A (Redesenhado de Brand PW: Clinical Biomechanics of the hand, St Louis, 1985, Mosby.) Essa transferência e esse armazenamento de energia entre os músculos opostos são úteis em termos de eficiência metabólica geral. Esse fenômeno é frequentemente expresso de maneiras diferentes por músculos multiarticulares (p. ex., músculos que cruzam várias articulações). Considere-se o músculo reto femoral, um músculo que flexiona o quadril e estende o joelho. Durante a fase ascendente do salto, por exemplo, o músculo reto femoral contrai-se para estender o joelho. Ao mesmo tempo, o quadril estendido alonga o músculo reto femoral ativo através da frente do quadril. Como consequência, o encurtamento total do músculo reto femoral é minimizado, o que ajuda a preservar a tensão passiva útil dentro do músculo. Em resumo, semelhantes aos materiais de construção, como o aço, o concreto e a fibra de vidro, os tecidos conjuntivos periarticulares dentro do corpo humano possuem propriedades físicas únicas quando sob condições de cargas ou forças. Em termos de engenharia, essas propriedades físicas são formalmente referidas como propriedades materiais. O tópico sobre as propriedades materiais dos tecidos conjuntivos periarticulares (como tensão, alongamento, rigidez, deformação plástica, ponto final de falha e deformação) tem uma literatura de base bem estabelecida.* Embora grande parte dos dados sobre este tema sejam de pesquisa com animais ou cadáveres, eles fornecem informações sobre muitos aspectos do atendimento ao paciente, incluindo a compreensão dos mecanismos de lesão, melhorando o planejamento da cirurgia ortopédica e o julgamento da potencial eficácia de certas formas de terapia física, como alongamento prologado ou aplicação de calor para induzir maior extensibilidade do tecido.† Forças internas e externas Por uma questão de conveniência, as forças que atuam sobre o sistema musculoesquelético podem ser divididas em dois conjuntos: internas e externas. Forças internas são produzidas por estruturas localizadas dentro do corpo. Essas forças podem ser “ativas” ou “passivas”. Forças ativas são geradas pela estimulação do músculo, em geral, mas não necessariamente, sob controle volitivo. Forças passivas, em contraste, são tipicamente geradas pela tensão em tecidos conjuntivos periarticulares estendidos, incluindo os tecidos conjuntivos intramusculares, os ligamentos e as cápsulas articulares. As forças ativas produzidas pelos músculos são, tipicamente, a maioria das forças internas. Forças externas são produzidas por forças que atuam fora do corpo. Essas forças geralmente se originam tanto da gravidade, que puxa a massa de um segmento do corpo, quanto de uma carga externa, como bagagem, “pesos” livres ou contato físico, como o aplicado por um terapeuta contra o membro de um paciente. A Figura 1.16A mostra um par de forças internas e externas opostas: uma força interna (músculo) puxando o antebraço e uma força externa (gravitacional) puxando no centro de massa do antebraço. Cada força é ilustrada por uma seta que representa um vetor. Por definição, um vetor é uma grandeza que é completamente especificada por sua magnitude e sentido (Quantidades como massa e velocidade são escalares, não vetores. Uma grandeza escalar é completamente especificada por sua magnitude e não tem sentido). FIGURA 1.16 Visão do plano sagital da articulação do cotovelo e ossos associados. A, Forças internas (musculares) e externas (gravitacionais) são mostradas, ambas agindo verticalmente, mas cada uma em um sentido diferente. Os dois vetores têm diferentes magnitudes e diferentes pontos de fixação ao antebraço. B, Força de reação da articulação é adicionada para impedir que o antebraço acelere para cima. (Os vetores são desenhados em escala relativa.) Para descrever completamente um vetor em uma análise biomecânica, deve-se conhecer sua magnitude, orientação espacial, sentido e ponto de aplicação. As forças ilustradas na Figura 1.16 indicam esses quatro fatores. 1. A magnitude dos vetores de força é indicada pelo comprimento do eixo da seta. 2. A orientação espacial dos vetores de força é indicada pela posição do eixo das setas. Ambas as forças são orientadas verticalmente, muitas vezes referidas como eixo Y (descrito mais adiante no Capítulo 4). A orientação de uma força também pode ser descrita pelo ângulo formado entre o eixo da seta e um sistema de coordenadas de referência. 3. O sentido dos vetores de força é indicado pela ponta da seta. No exemplo representado na Figura 1.16A, a força interna atua para cima, tipicamente descrita em um sentido Y positivo; a força externa atua para baixo, em um sentido Y negativo. Ao longo deste texto, o sentido e a orientação espacial de uma força muscular e da gravidade são referidos como linha de força e linha de gravidade, respectivamente. 4. O ponto de aplicação dos vetores é onde a base da seta do vetor entra em contato com a parte do corpo. O ponto de aplicação da força muscular é onde o músculo se insere no osso. O ângulo de inserção descreve o ângulo formado entre o tendão de um músculo e o eixo longo do osso no qual ele se insere. Na Figura 1.16A, o ângulo de inserção é de 90 graus. O ângulo de inserção muda à medida que o cotovelo gira para a flexão ou a extensão. O ponto de aplicação da força externa depende de que a força resulte da gravidade ou de uma resistência aplicada por contato físico. A gravidade atua no centro da massa do segmento do corpo (Fig. 1.16A, ponto no antebraço). O ponto de aplicação de uma resistência gerada por contato físico pode ocorrer em qualquer parte do corpo. Fatores Necessários para Descrever Completamente um Vetor na Maioria das Análises Biomecânicas Simples • Magnitude • Orientação espacial • Sentido • Ponto de aplicação Como uma tração ou um impulso, todas as forças que atuam sobre o corpo causam uma translação potencial do segmento. O sentido da translação depende do efeito total de todas as forças aplicadas. Na Figura 1.16A, como a força muscular é três vezes maior do que o peso do antebraço, o efeito total de ambas as forças iria acelerar o antebraço verticalmente para cima. Na realidade, entretanto, o antebraço é tipicamente impedido de acelerar para cima por uma força de reação articular produzida entre as superfícies da articulação. Conforme ilustrado na Figura 1.16B, a extremidade distal do úmero está empurrando para baixo com uma força de reação (mostrada em azul) contra a extremidade proximal do antebraço. A magnitude da força de reação articular é igual à diferença entre a força muscular e a força externa. Como resultado, a soma de todas as forças verticais que atuam sobre o antebraço é equilibrada e a aceleração total do antebraço na direção vertical é zero. O sistema está, portanto, em equilíbrio linear estático. Torques Musculoesqueléticos As forças exercidas no corpo podem ter dois resultados. Primeiramente, como ilustrado na Figura 1.16A, as forças podem potencialmente produzir a translação de um segmento do corpo. Em segundo lugar, as forças, se aplicadas a alguma distância perpendicular ao eixo de rotação, também podem produzir rotação da articulação. A distância perpendicular entre oeixo de rotação da articulação e a força é chamada de braço de momento (ou braço de alavanca). O produto de uma força e seu braço de momento produz um torque ou um momento. Um torque pode ser considerado como um equivalente rotatório a uma força. Uma força que atua sem um braço de momento pode puxar ou empurrar um objeto geralmente de forma linear, ao passo que um torque gira um objeto em torno de um eixo de rotação. Essa distinção é um conceito fundamental no estudo da cinesiologia. Descreve-se um torque como o que ocorre ao redor de uma articulação em um plano perpendicular a um determinado eixo de rotação. A Figura 1.17 ilustra os torques produzidos no plano sagital pelas forças internas e externas introduzidas na Figura 1.16. O torque interno é definido como o produto da força interna (músculo) e do braço de momento interno. O braço de momento interno (D na Fig. 1.17) é a distância perpendicular entre o eixo de rotação e a força interna. Como mostrado na Figura 1.17, o torque interno tem o potencial de girar o antebraço ao redor da articulação do cotovelo no sentido anti-horário ou de flexão (Outras convenções para descrever o sentido de rotação são exploradas no Capítulo 4). FIGURA 1.17 Mostra o equilíbrio dos torques internos e externos que atuam no plano sagital ao redor do eixo de rotação no cotovelo (círculo pequeno). O torque interno é o produto da força interna multiplicada pelo braço de momento interno (D). O torque interno tem o potencial de girar o antebraço em sentido anti-horário. O torque externo é o produto da força externa (gravidade) e do braço de momento externo (D1). O torque externo tem o potencial de girar o antebraço no sentido horário. Os torques interno e externo são iguais, demonstrando a condição de equilíbrio rotatório estático. (Os vetores são desenhados em escala relativa.) O torque externo é definido como o produto da força externa (como a gravidade) e o braço de momento externo. O braço de momento externo (D1 na Fig. 1.17) é a distância perpendicular entre o eixo de rotação e a força externa. O torque externo tem o potencial de girar o antebraço em torno da articulação do cotovelo no sentido horário ou da extensão. Como se admite que as magnitudes dos torques opostos internos e externos são iguais na Figura 1.17, não ocorre rotação em torno da articulação. Essa condição é referida como equilíbrio rotatório estático. O corpo humano tipicamente produz ou recebe torques repetidamente de uma forma ou de outra. Os músculos geram torques internos constantemente ao longo do dia, para desatarraxar uma tampa de um frasco, virar uma chave inglesa ou balançar um bastão de beisebol. As forças de contato manuais recebidas do ambiente, somadas à gravidade, são constantemente convertidas em torques externos através das articulações. Torques internos e externos estão constantemente “competindo” pela dominância através das articulações — o torque mais dominante é refletido pelo sentido do movimento ou pela posição das articulações em qualquer momento em todo o corpo. Os torques estão implicados na maioria das situações terapêuticas com os pacientes, especialmente quando está envolvido exercício físico ou avaliação de força. A “força” de uma pessoa é o produto da força dos seus músculos e, igualmente importante, o braço de momento interno: a distância perpendicular entre a linha de força do músculo e o eixo de rotação. A alavanca descreve o comprimento relativo do braço de momento possuído por uma força particular. Como explicado mais adiante no Capítulo 4, o comprimento do braço de momento do músculo e, portanto, a alavanca, muda constantemente ao longo de um intervalo de movimento. Isso explica parcialmente por que uma pessoa é naturalmente mais forte em certas partes da amplitude de movimento de uma articulação. Os clínicos frequentemente aplicam resistência manual contra os pacientes ou clientes como um meio de avaliar, facilitar e desafiar uma determinada atividade muscular. A força aplicada contra uma extremidade do paciente é frequentemente realizada com a intenção de produzir um torque externo contra o sistema musculoesquelético do paciente. Um clínico pode desafiar um determinado grupo muscular aplicando um torque externo por meio de uma pequena força manual exercida a uma grande distância da articulação ou uma grande força manual exercida próximo à articulação. Como o torque é produto de uma força de resistência e seu braço de momento, qualquer um dos meios pode produzir o mesmo torque externo contra o paciente. A modificação da força e das variáveis do braço de momento externo permite que diferentes estratégias sejam empregadas com base na força e habilidade do clínico. Enfoque Especial 1.3 Torques Produzidos por Músculos através da Articulação: Um Conceito Essencial em Cinesiologia A maneira pela qual os músculos produzem torques através das articulações é um dos conceitos mais importantes (e muitas vezes difícil) de se entender na cinesiologia. A compreensão desse conceito pode ser auxiliada considerando uma analogia simples entre o potencial de um músculo para produzir um torque (isto é, rotação) e a ação de uma força que tenta abrir uma porta. A mecânica essencial em ambos os cenários é surpreendentemente semelhante. Essa analogia é descrita com o auxílio da Figura 1.18A-B. FIGURA 1.18 Analogia mecânica representando a mecânica fundamental de como uma força pode ser convertida em torque. A, Indicam-se seis forças aplicadas manualmente (setas coloridas), cada uma tentando girar a porta no plano horizontal. A dobradiça vertical da porta é mostrada em azul. Os braços de momento disponíveis para duas das forças (à esquerda) são indicados por linhas pretas escuras, originadas na dobradiça. B, Representam-se três forças produzidas por músculos (setas coloridas), cada uma tentando girar o fêmur (quadril) no plano horizontal. Os eixos de rotação são mostrados em azul e o braço de momento, como uma linha preta escura. Conforme descrito no texto, por razões semelhantes, apenas um número selecionado de forças é realmente capaz de gerar um torque que pode girar a porta ou o quadril. Por causa dessa analogia, admite-se que a magnitude de todas as forças é a mesma. A Figura 1.18A mostra as vistas superior e lateral de uma porta montada numa dobradiça vertical (representada em azul). As forças aplicadas horizontalmente (C a F) representam diferentes tentativas de puxar manualmente a porta. Embora todas as forças sejam consideradas iguais, apenas as forças C e E (aplicadas na maçaneta) são realmente capazes de rodar a porta. Isso é verdade porque apenas estas forças satisfazem as exigências básicas de produzir um torque: (1) cada força é aplicada em um plano perpendicular ao determinado eixo de rotação (dobradiça, neste caso) e (2) cada força está associada a uma distância de braço de momento (linha preta escura que se origina na dobradiça). Neste exemplo, o torque é o produto da força de tração vezes seu braço de momento. A força E produzirá um torque maior do que a força C porque tem o braço de momento mais longo (ou maior alavancagem). Todavia, ambas as forças C e E satisfazem a exigência de produzir um torque no plano horizontal. As forças D e F, entretanto, não podem produzir um torque dentro do plano horizontal e, portanto, não são capazes de rodar a porta, independentemente de sua magnitude. Embora isso possa parecer intuitivamente óbvio, com base na experiência de qualquer pessoa fechando ou abrindo portas, o raciocínio mecânico real pode não ser tão claro. As forças D e F são direcionadas através do eixo de rotação (a dobradiça, neste caso) e, portanto, têm uma distância de braço de momento zero. Qualquer força multiplicada por um braço de momento zero produz torque zero ou rotação zero. Embora essas forças possam comprimir ou afastar a dobradiça, elas não rodarão a porta. As forças G e H, mostradas à direita na Figura 1.18A, também não podem rodar a porta. Qualquer força que corre paralela a um eixo de rotação não pode produzir um torque associado.Um torque pode ser gerado apenas por uma força que é aplicada perpendicular a um determinado eixo de rotação. As forças G e H, portanto, não possuem capacidade para produzir um torque no plano horizontal. Para completar essa analogia, a Figura 1.18B mostra duas vistas da articulação do quadril, juntamente com três músculos selecionados. Neste exemplo, os músculos são representados como produzindo forças na tentativa de rodar o fêmur dentro do plano horizontal. (As forças musculares nesta ilustração são análogas às forças manualmente aplicadas à porta.) O eixo de rotação no quadril, como a dobradiça na porta, está em uma direção vertical (mostrada em azul). Como será explicado, mesmo se admitindo que todos os músculos produzem uma força idêntica, apenas um é capaz de realmente rodar o fêmur (isto é, produzir um torque). Os vetores de força ilustrados do lado esquerdo da Figura 1.18B representam as linhas de força de dois músculos predominantemente alinhados horizontalmente no quadril (os músculos piriforme e obturador externo). O músculo piriforme é capaz de produzir um torque de rotação externo dentro do plano horizontal pelas mesmas razões dadas para a força C análoga aplicada à porta (Fig. 1.18A). Ambas as forças são aplicadas num plano perpendicular ao eixo de rotação e cada uma possui uma distância de braço de momento associada (representada pela linha escura). Em nítido contraste, entretanto, o músculo obturador externo não pode produzir um torque no plano horizontal. Essa força muscular (como com a força análoga D agindo sobre a porta) passa diretamente através do eixo vertical de rotação. Embora a força muscular vá comprimir as superfícies articulares, ela não irá girar a articulação, pelo menos não no plano horizontal. Como será descrito no Capítulo 12, que examina cuidadosamente o quadril, alterar a posição de rotação da articulação geralmente cria uma distância de braço de momento para um músculo. Neste caso, o músculo obturador externo pode gerar um torque de rotação externo no quadril, embora relativamente pequeno. O componente final desta analogia é ilustrado à direita, na Figura 1.18B. As fibras médias do músculo glúteo médio são mostradas tentando rodar o fêmur no plano horizontal em torno de um eixo de rotação vertical (representado como um pino azul). Como a força muscular atua essencialmente paralela ao eixo vertical de rotação (como as forças G e H atuando na porta), ela é incapaz de gerar um torque no plano horizontal. Este mesmo músculo, no entanto, é muito capaz de gerar torque em outros planos, especialmente no frontal. Resumindo, um músculo é capaz de produzir um torque (ou rotação) em uma articulação desde que (1) produza uma força em um plano perpendicular ao eixo de rotação de interesse e (2) atue com uma distância de braço de momento associada maior que zero. Dito de uma perspectiva diferente, um músculo ativo é incapaz de produzir um torque se a força atravessa ou age paralela ao eixo de rotação associado. Isso se aplica a todos os eixos de rotação que podem existir em uma articulação: vertical, anteroposterior (AP) ou mediolaterial (ML). Esses princípios serão revisados muitas vezes ao longo deste livro-texto. Interação Músculo e Articulação O termo interação músculo e articulação refere-se ao efeito global que uma força muscular pode ter em uma articulação. Uma força produzida por um músculo que tem um braço de momento provoca um torque e um potencial para girar a articulação. Uma força produzida por um músculo que não tem um braço de momento não irá causar um torque ou uma rotação. A força muscular ainda é importante, entretanto, porque geralmente fornece uma fonte de estabilidade e informações sensoriais para a articulação. Tipos de ativação muscular Um músculo é considerado ativado quando é estimulado pelo sistema nervoso. Uma vez ativado, um músculo saudável produz uma força em uma de três maneiras: isométrica, concêntrica e excêntrica. A fisiologia dos três tipos de ativação muscular é descrita em pormenores no Capítulo 3 e brevemente resumida a seguir. A ativação isométrica ocorre quando um músculo está produzindo uma força de tração enquanto mantém um comprimento constante. Esse tipo de ativação é aparente pela origem da palavra isométrica (do Grego isos, igual, e metron, medida ou comprimento). Durante uma ativação isométrica, o torque interno produzido dentro de um dado plano na articulação é igual ao torque externo; portanto, não há encurtamento muscular ou rotação na articulação (Fig. 1.19 A). FIGURA 1.19 Três tipos de ativação muscular são mostrados quando o músculo peitoral maior produz uma força de esforço máxima para girar internamente a articulação do ombro (glenoumeral). Em cada uma das três ilustrações, admite-se que o torque interno seja o mesmo: o produto da força muscular (vermelho) multiplicada pelo braço de momento interno. O torque externo é o produto da força externa aplicada através do braço (cinza) e seu braço de momento externo. Observe-se que o braço de momento externo e, portanto, o torque externo são diferentes em cada ilustração. A, Ativação isométrica é apresentada quando o torque interno corresponde ao torque externo. B, A ativação concêntrica é apresentada quando o torque interno excede o torque externo. C, Ativação excêntrica apresenta-se quando o torque externo excede o torque interno. O eixo de rotação é vertical e mostrado em azul através da cabeça do úmero. Todos os braços de momento são mostrados como linhas pretas espessas, originando-se no eixo de rotação que penetra na articulação glenoumeral. (Os valores não são desenhados em escala.) A ativação concêntrica ocorre quando um músculo produz uma força de tração ao contrair-se (encurtar-se) (Fig. 1.19B). Literalmente, concêntrico significa “vir para o centro”. Durante uma ativação concêntrica, o torque interno na articulação excede o torque externo oposto. Isso é evidente quando o músculo em contração cria uma rotação da articulação na direção da tração do músculo ativado. A ativação excêntrica, em contraste, ocorre quando um músculo produz uma força de tração enquanto é alongado por outra força mais dominante. A palavra excêntrica significa, literalmente, “longe do centro”. Durante uma ativação excêntrica, o torque externo ao redor da articulação excede o torque interno. Neste caso, a articulação gira na direção ditada pelo torque externo relativamente maior, como o produzido pela força externa manual na Figura 1.19C. Muitas atividades comuns empregam ativações excêntricas do músculo. A lenta descida de um copo de água a uma mesa, por exemplo, é causada pela força da gravidade no antebraço e na água. O bíceps ativado alonga-se lentamente para controlar a descida. O músculo tríceps, embora considerado um “extensor” do ombro, encontra-se mais provavelmente inativo durante este processo específico. O termo contração é frequentemente usado como sinônimo de ativação, independentemente de o músculo estar realmente encurtando, alongando- se ou permanecendo num comprimento constante. O termo contração significa literalmente aproximar; este termo, entretanto, pode ser confuso quando descreve uma ativação isométrica ou excêntrica. Tecnicamente, a contração de um músculo ocorre durante uma ativação concêntrica apenas. Ação muscular na articulação Uma ação muscular em uma articulação é definida como o potencial de um músculo para causar um torque em um sentido e plano de rotação particulares. A denominação atual da ação de um músculo é baseada em uma nomenclatura estabelecida, como flexão ou extensão no plano sagital, abdução ou adução no plano frontal e assim por diante. Os termos ação muscular e ação articular são usados indistintamente ao longo deste texto, dependendo do contexto da discussão. Se a ação está associada a uma ativação não isométrica do músculo, a osteocinemática resultante pode envolver cinemática do segmento distal-proximal, ou vice-versa, dependendo de qual dos segmentos que compõem a articulação é o menos forçado. O estudo da cinesiologiapode permitir que se determine a ação de um músculo sem depender puramente da memória. Suponha-se que o estudante deseja determinar as ações do deltoide posterior na articulação glenoumeral (ombro). Nesta análise particular, duas suposições são feitas. Primeiramente, admite-se que o úmero é o segmento mais livre da articulação e que a escápula é fixa, embora a hipótese inversa possa ter sido feita. Em segundo lugar, admite-se que o corpo está na posição anatômica no momento da ativação do músculo. O primeiro passo na análise é determinar os planos de movimento de rotação (graus de liberdade) permitidos na articulação. Neste caso, a articulação glenoumeral permite a rotação em todos os três planos (Fig. 1.15). Portanto, é teoricamente possível que qualquer músculo que cruze o ombro possa expressar uma ação em até três planos. A Figura 1.20A mostra o potencial para o deltoide posterior girar o úmero no plano frontal. O eixo de rotação passa na direção anteroposterior através da cabeça do úmero. Na posição anatômica, a linha de força do deltoide posterior passa inferior ao eixo de rotação. Admitindo-se que a escápula é estável, o deltoide posterior contraindo faz girar o úmero em direção à adução, com força igual ao produto da força muscular multiplicada pelo braço de momento interno (mostrado como em uma linha escura do eixo). Esta mesma lógica é, em seguida, aplicada para determinar a ação do músculo nos planos horizontal e sagital. Conforme ilustrado na Figura 1.20B-C, é evidente que o músculo é também um rotador externo (lateral) e um extensor da articulação glenoumeral. Como será descrito ao longo deste texto, é comum para um músculo que atravessa uma articulação com pelo menos dois graus de liberdade expressar múltiplas ações. Uma ação particular pode não ser possível, no entanto, se o músculo não tiver um braço de momento ou não produzir uma força no plano associado. FIGURA 1.20 As múltiplas ações do deltoide posterior são mostradas na articulação glenoumeral. A, Adução no plano frontal. B, Rotação externa no plano horizontal. C, Extensão no plano sagital. O braço de momento interno é mostrado estendendo-se do eixo de rotação (pequeno círculo através da cabeça do úmero) até a interseção perpendicular com a linha de força do músculo. A determinação da possível ação (ou ações) de um músculo é um tema central de estudo da cinesiologia. Essa habilidade é a base para um clínico ser capaz de avaliar um músculo específico para fraqueza, retesamento, proteção ou fonte de dor e responder com uma intervenção apropriada. A lógica apresentada no contexto da Figura 1.20 pode ser usada para determinar a ação de qualquer músculo no corpo, em qualquer articulação. Se disponível, um modelo de esqueleto articulado e um pedaço de corda, que imita a linha de força de um músculo, são úteis na aplicação desta lógica. Este exercício é particularmente útil quando se analisa um músculo cuja ação muda dependendo da posição da articulação. Um destes músculos é o deltoide posterior. A partir da posição anatômica, o deltoide posterior é um adutor da articulação glenoumeral (anteriormente representado na Fig. 1.20A). Se o braço é levantado (abduzido) bem acima da cabeça, entretanto, a linha de força do músculo desloca-se para o lado superior do eixo de rotação. Como consequência, o deltoide posterior abduz ativamente o ombro. O exemplo apresenta como um músculo pode ter ações opostas, dependendo da posição da articulação no momento da ativação muscular. É importante, portanto, estabelecer uma posição de referência para a articulação ao se analisarem as ações de um músculo. Uma posição de referência comum é a posição anatômica (Fig. 1.4). A menos que seja especificado de outra maneira, as ações dos músculos descritas na Seções II a IV neste texto são baseadas na suposição de que a articulação está na posição anatômica. Enfoque Especial 1.4 Um Axioma Simples, mas Útil, em Cinesiologia Tipicamente, um músculo que se contrai com alavancagem adequada causará uma rotação dos ossos ao redor de uma articulação. O sentido esperado da rotação, ou “ação muscular”, é tradicionalmente definido pelo movimento antecipado do segmento ósseo distal da articulação em relação ao segmento proximal. Considere, por exemplo, a contração do bíceps braquial quando ele flexiona o cotovelo para levar a mão até a boca. Esta definição padrão de ação muscular pressupõe que o segmento distal está menos contraído, ou menos fixo, do que o segmento proximal. Talvez uma maneira mais inclusiva de considerar o efeito de uma contração muscular seja usar o axioma de que um músculo que se contrai movimenta o segmento mais livre da articulação. Os fatores que determinam o segmento mais livre incluem alguma combinação de inércia, resistência externa, tensão passiva ou ativação dos outros músculos. Usar este axioma pode ser muito esclarecedor quando se avalia o movimento humano, especialmente quando ele parece anormal. Suponha que, por exemplo, você observe uma pessoa realizando abdução ativa do ombro e note um movimento adicional, obviamente anormal e distorcido da escápula. O movimento escapular anormal pode ser causado por uma contração do músculo deltoide médio (o qual se fixa à escápula) sem estabilização adequada promovida por um músculo escapular axial. Com a fraqueza de um músculo, como o músculo serrátil anterior, por exemplo, a contração do músculo deltoide faz com que a escápula seja o segmento mais livre da articulação glenoumeral (segmento do ombro), não o úmero. Usando a suposição tradicional de que a contração do músculo deltoide médio só abduz o braço (isto é, move o segmento distal da articulação), o diagnóstico de fraqueza do músculo escapular axial pode ter sido negligenciado. Embora um movimento de segmento distal- proximal seja tipicamente o resultado desejado da ativação do músculo deltoide, esse cenário só ocorre quando a escápula é impedida de se mover pela ativação de outros músculos, deixando o úmero como segmento “mais livre”. Embora possa parecer excessivamente simplista, este axioma pode fornecer pistas clínicas úteis para compreender a origem patomecânica de certos movimentos ou posturas anormais. Além disso, o axioma permite ao estudante de cinesiologia compreender as grandes possibilidades de ações disponíveis para os músculos, mesmo em estado saudável; qualquer segmento de articulação é igualmente suscetível de se mover após uma contração muscular. Terminologia Relacionada às Ações dos Músculos Os termos a seguir são frequentemente utilizados quando se descrevem as ações dos músculos: • O agonista é o músculo ou grupo muscular que está mais diretamente relacionado com a iniciação e a execução de um movimento específico. Por exemplo, o músculo tibial anterior é o agonista para o movimento de dorsiflexão do tornozelo. • O antagonista é o músculo ou grupo muscular que se considera ter a ação oposta de um agonista específico. Por exemplo, os músculos gastrocnêmio e sóleo são considerados os antagonistas do músculo tibial anterior. • Os músculos são considerados sinergistas quando cooperam durante a execução de um movimento específico. Na verdade, a maioria dos movimentos significativos do corpo envolve vários músculos que atuam como sinergistas. Considerem-se, por exemplo, os músculos flexor ulnar do carpo e flexor radial do carpo durante a flexão do pulso. Os músculos agem sinergicamente porque cooperam para flexionar o pulso. Cada músculo, entretanto, deve neutralizar a tendência do outro para mover o pulso de uma forma lado a lado (desvio radial e ulnar). A paralisia de um dos músculos afeta significativamente a ação global do outro. Outro exemplo de sinergia muscular é descrito como uma força muscular conjunta. Uma força muscular conjunta é formada quando dois ou mais músculos simultaneamente produzem forças em diferentes sentidos lineares, embora os torques resultantes atuem no mesmo sentido de rotação. Uma analogia familiar de uma força conjunta ocorre entre as duas mãos ao virar o volante de um carro.Girar o volante para a direita, por exemplo, ocorre pela ação da mão direita puxando para baixo e a mão esquerda puxando para cima no volante. Embora as mãos estejam produzindo forças em diferentes sentidos lineares, elas causam um torque no volante no mesmo sentido de rotação. O músculo flexor do quadril e os músculos extensores da região lombar, por exemplo, formam uma força conjunta para girar a pelve no plano sagital ao redor das articulações do quadril (Fig. 1.21). FIGURA 1.21 Vista lateral da força conjunta formada entre dois músculos flexores representativos do quadril (sartório e iliopsoas) e músculos extensores traseiros (eretor da espinha) enquanto se contraem para inclinar a pelve na direção anterior. Os braços de momento interno utilizados pelos músculos são indicados pelas linhas pretas. O eixo de rotação passa por ambas as articulações do quadril. Alavancas Musculoesqueléticas Três classes de alavancas Dentro do corpo, as forças internas e externas produzem torques por meio de um sistema de alavancas ósseas. Em termos gerais, uma alavanca é uma máquina simples constituída por uma haste rígida suspensa através de um ponto pivô, ou fixação. A gangorra é um exemplo clássico de uma alavanca de primeira classe (Fig. 1.22). Uma função de uma alavanca é converter uma força linear em um torque de rotação. Conforme mostrado na gangorra da Figura 1.22, um homem de 672 N (cerca de 68 kg) sentado a 0,91 m (cerca de 91 cm) do ponto pivô produz um torque que equilibra um menino pesando metade do seu peso, que está sentado numa distância duas vezes maior do ponto pivô. Na Figura 1.22, os torques opostos são iguais (PCh x D = PCm x D1): o sistema de alavancas está, portanto, balanceado e em equilíbrio. Como indicado, o menino tem a maior alavancagem (D1 > D). Um conceito subjacente importante da alavanca é que, com comprimentos desiguais de braço de momento, os torques opostos podem equilibrar-se mutuamente apenas se as forças opostas (ou pesos corporais na figura anterior) são de magnitudes diferentes. FIGURA 1.22 Uma gangorra mostrada como uma alavanca típica de primeira classe. O peso corporal do homem (PCh) é de 672 N (cerca de 68 kg). Ele está sentado a 0,91 m do ponto de fixação (braço de momento do homem = D). O peso corporal do menino (PCm) é de apenas 336 N (cerca de 34 kg). Ele está sentado a 1,82 m do ponto de fixação (braço de momento do menino = D1). A gangorra é equilibrada porque o torque no sentido horário produzido pelo homem é igual, em magnitude, ao torque no sentido anti-horário produzido pelo menino: 672 N x 0,91 m = 336 N x 1,82 m. A inserção compara as três classes de alavancas. Em cada alavanca, as forças opostas podem ser consideradas como uma força interna (como uma tração muscular retratada em vermelho) e uma força ou carga externa (representada em cinza). O eixo de rotação ou ponto de fixação é indicado como uma cunha (Os vetores de força são desenhados em escala.) As forças mais dominantes envolvidas com alavancas musculoesqueléticas são aquelas produzidas pelo músculo, pela gravidade e pelo contato físico dentro do ambiente. O ponto pivô da articulação, ou fulcro, está localizado na articulação. Tal como acontece com a gangorra, os torques internos e externos dentro do sistema musculoesquelético podem ser iguais, como durante uma ativação isométrica; ou, mais frequentemente, quando um dos dois torques opostos domina, resultando em movimento na articulação. As alavancas são classificadas como de primeira, segunda ou terceira classe (inserção na Fig. 1.22). Alavanca de Primeira Classe Conforme ilustrado na Figura 1.22, a alavanca de primeira classe tem o eixo de rotação posicionado entre as forças opostas. Um exemplo de alavanca de primeira classe no corpo humano são os músculos extensores de cabeça e pescoço que controlam a postura da cabeça no plano sagital (Fig. 1.23A). Como no exemplo da gangorra, a cabeça é mantida em equilíbrio quando o produto da força muscular (FM), multiplicado pelo seu braço de momento interno (BMI), é igual ao produto do peso da cabeça (PC), multiplicado pelo seu braço de momento externo (BME). Nas alavancas de primeira classe, as forças internas e externas agem tipicamente em sentidos lineares semelhantes, embora produzam torques em sentidos rotativos opostos. FIGURA 1.23 Exemplos anatômicos de alavancas de primeira classe (A), de segunda classe (B) e de terceira classe (C). (Os vetores não estão desenhados em escala.) Os dados contidos nos quadros à direita mostram como calcular a força muscular necessária para manter o equilíbrio rotatório estático. Observe-se que a vantagem mecânica é indicada em cada quadro. A ativação muscular (ilustrada em vermelho) é isométrica em cada caso, não ocorrendo movimento na articulação. Alavanca de Segunda Classe Uma alavanca de segunda classe sempre tem duas características. Primeiro, seu eixo de rotação está localizado em uma extremidade de um osso. Segundo, o músculo, ou força interna, possui maior alavancagem do que a força externa. Alavancas de segunda classe são muito raras no sistema musculoesquelético. O exemplo clássico são os músculos da panturrilha que produzem o torque necessário para manter-se na ponta dos pés (Fig. 1.23B). Parte-se do princípio de que o eixo de rotação para esta ação atue através das articulações metatarsofalângicas. Com base nessa suposição, o braço de momento interno usado pelos músculos da panturrilha excede em muito o braço de momento externo usado pelo peso corporal. Alavanca de Terceira Classe Como na alavanca de segunda classe, a alavanca de terceira classe tem seu eixo de rotação localizado na extremidade de um osso. Os músculos flexores do cotovelo usam uma alavanca de terceira classe para produzir o torque de flexão necessário para suportar um peso na mão (Fig. 1.23C). Ao contrário da alavanca de segunda classe, o peso externo suportado por uma alavanca de terceira classe sempre tem alavancagem maior do que a força muscular. A alavanca de terceira classe é a alavanca mais comum utilizada pelo sistema musculoesquelético. Vantagem mecânica A vantagem mecânica (VM) de uma alavanca musculoesquelética pode ser definida como a razão entre o braço de momento interno e o braço de momento externo. Dependendo da localização do eixo de rotação, a alavanca de primeira classe pode ter uma VM igual a, menor que ou maior que 1. As alavancas de segunda classe sempre têm uma VM maior que 1. Conforme representado nas caixas associadas à Figura 1.23A-B, sistemas de alavancas com VM maior que 1 são capazes de balancear a equação de equilíbrio de torque por meio de uma força interna (muscular) que é menor do que a força externa. As alavancas de terceira classe têm sempre uma VM inferior a 1. De acordo com a ilustração na Figura 1.23C, no intuito de balancear a equação de equilíbrio de torque, o músculo deve produzir uma força muito maior do que a força externa oposta. A maioria dos músculos em todo o sistema musculoesquelético funciona com uma VM de muito menos que 1. Considere-se, por exemplo, o músculo bíceps no cotovelo, o quadríceps no joelho e os músculos supraespinal e deltoide no ombro. Cada um desses músculos se liga ao osso relativamente próximo ao eixo de rotação da articulação. As forças externas que se opõem à ação dos músculos exercem tipicamente sua influência de forma consideravelmente distal à articulação, tal como na mão ou no pé. Considere-se a demanda de força colocada nos músculos supraespinal e deltoide para manter o ombro abduzido a 90 graus enquanto um peso externo de 35,6 N (3,5 kg) é segurado na mão. Para este exemplo, suponha- se que os músculos possuam um braço de momento interno de 2,5 cm e que o centro de massa do peso externo tem um braço de momento externo de 50 cm. (Para simplificar, o peso do membro é ignorado.) Teoricamente, a 1/20 VM requer que o músculo produza 711,7 N (72,5 kg) de força ou 20 vezes o peso da carga externa! (Matematicamente estabelecida, a relação entre a força muscular e a carga externa é baseada no inversoda VM). Como princípio geral, a maioria dos músculos esqueléticos produz forças várias vezes maiores do que as cargas externas que se opõem a eles. Dependendo da forma do músculo e da configuração da articulação, uma porcentagem tipicamente grande da força muscular produz grandes forças de compressão ou cisalhamento sobre as superfícies articulares. Essas forças miogênicas (produzidas pelos músculos) são as principais responsáveis pelo valor e sentido da força de reação da articulação. Enfoque Especial 1.5 Vantagem Mecânica: Um Olhar Mais Atento Sobre a Equação de Equilíbrio de Torque Conforme exposto, a vantagem mecânica (VM) de uma alavanca musculoesquelética pode ser definida como a razão de seus braços de momento interno e externo. • Alavancas de primeira classe podem ter uma VM inferior a 1, igual a 1 ou maior que 1. • Alavancas de segunda classe sempre têm VM maior que 1. (Eq. 1.1) (Eq. 1.2) • Alavancas de terceira classe sempre têm VM menor que 1. A expressão matemática de VM é derivada da equação de equilíbrio do torque: onde FM = Força muscular FE = Força externa BMI = Braço de momento interno BME = Braço de momento externo A Eq. 1.1 pode ser rearranjada da seguinte forma: • Em algumas alavancas de primeira classe, BMI/BME = 1; a equação de torque está equilibrada somente quando FM = FE. • Em algumas alavancas de primeira classe e de segunda classe, BMI/BME > 1; a equação de torque está equilibrada somente quando FM é menor que FE. • Em algumas alavancas de primeira classe e de terceira classe, BMI/BME < 1; a equação de torque está equilibrada somente quando FM é maior que FE. Como indicado pela Eq. 1.2, VM também pode ser expressa pela razão entre força externa e força muscular (FE/FM). Embora isso seja correto, este texto usa a convenção de definir a VM do músculo e da articulação como a relação de seus braços de momento interno-a-externo (BMI/BME). Determinando o Balanço entre a Força e a Distância Conforme descrito anteriormente, a maioria dos músculos é obrigada a produzir uma força muito maior do que a resistência aplicada pela carga externa. A princípio, esse esquema pode parecer bioquimicamente falho. O esquema é absolutamente necessário, entretanto, quando se consideram os muitos movimentos funcionais que demandam grande deslocamento e velocidade dos pontos mais distais das extremidades. O trabalho é o produto da força vezes a distância através da qual ele é aplicado. Além de converter uma força em um torque, uma alavanca musculoesquelética converte o trabalho de um músculo em contração no trabalho de um osso rotativo e uma carga externa. A VM de uma alavanca musculoesquelética específica determina como o trabalho deve ser realizado. Como o trabalho é o produto da força e da distância, ele pode ser executado tanto por uma força relativamente grande exercida sobre uma pequena distância quanto por uma força pequena exercida sobre uma grande distância. Considere-se a pequena vantagem mecânica de 1/20 descrita anteriormente para os músculos supraespinal e deltoide. Essa VM significa que o músculo deve produzir uma força 20 vezes maior do que o peso da carga externa. O que também deve ser considerado, entretanto, é que os músculos precisam contrair apenas 5% (1/20) da distância em que o centro de massa da carga seria aumentado pela ação de abdução. Uma distância de contração muito curta (excursão) dos músculos produz um deslocamento vertical muito maior da carga. Ao considerar o elemento de tempo neste exemplo, os músculos produzem uma força relativamente grande para uma velocidade de contração relativamente lenta. O benefício mecânico, no entanto, é que uma carga externa relativamente leve é levantada a uma velocidade muito mais rápida. Em resumo, a maioria dos sistemas de músculos e articulações do corpo funcionam com uma VM muito menor que 1. Sendo este o caso, a distância e a velocidade do deslocamento da carga vão sempre exceder a da contração muscular. (Essa disposição é funcionalmente vantajosa porque os músculos são apenas fisiologicamente capazes de gerar forças úteis sobre uma distância curta.) Obter uma alta velocidade linear da terminação distal das extremidades é uma necessidade para gerar grandes forças de contato contra o meio ambiente. Essas forças podem ser usadas para acelerar rapidamente objetos segurados na mão, como uma raquete de tênis, ou para acelerar os membros puramente como uma expressão de arte e atletismo, como na dança. Independentemente da natureza do movimento, os sistemas musculares e articulares que operam com uma VM menor que 1 devem pagar uma “penalidade” de força, gerando forças internas relativas, mesmo para atividades aparentemente de baixa carga. Tecidos periarticulares, como cartilagem articular, almofadas de gordura e bursa, devem absorver ou dissipar parcialmente essas grandes forças miogênicas. Na ausência dessa proteção, as articulações podem degenerar parcialmente e tornar-se dolorosas e cronicamente inflamadas. Essa apresentação é muitas vezes a marca registrada da osteoartrite. Resumo O corpo humano se move principalmente por meio das rotações de seus membros e tronco. Dois termos úteis que descrevem esses movimentos são a osteocinemática e a artrocinemática. A osteocinemática descreve o movimento dos membros ou do tronco em um dos três planos cardinais, cada um ocorrendo em torno de um eixo de rotação associado. Os descritores osteocinemáticos, como rotação interna ou extensão, facilitam o estudo desses movimentos. Os artrocinemáticos são os movimentos que ocorrem entre as superfícies articulares das articulações. A ampla aceitação de descritores artrocinemáticos, como rolar, deslizar e girar, por exemplo, melhorou a capacidade dos clínicos e estudantes de conceituar os movimentos que ocorrem nas articulações. Essa terminologia é amplamente utilizada na terapia manual — tratamento baseado amplamente nos movimentos específicos que ocorrem entre as superfícies articulares. A forte associação entre a artrocinemática e a morfologia articular tem estimulado o crescimento do tema da artrologia: o estudo da estrutura e função de articulações e seus tecidos conjuntivos circundantes. Enquanto a cinemática se refere ao movimento de ossos e articulações, a cinética se refere às forças que causam ou impedem o movimento. Os músculos produzem as forças que imprimem movimento ao corpo. Um conceito fundamental apresentado no Capítulo 1 é a valorização de como uma força muscular que atua numa direção linear produz um torque ao redor de uma articulação. Um torque interno é a expressão angular de uma força muscular, com uma magnitude que é igual ao produto da força muscular vezes seu braço de momento; ambas as variáveis são igualmente importantes quando se considera a força de uma ação muscular. Enfoque Especial 1.6 Alterando Cirurgicamente a Vantagem Mecânica de Um Músculo Um cirurgião pode realizar uma cirurgia de transferência do músculo- tendão como meio de restaurar parcialmente a perda de torque interno na articulação.2 Considere-se, por exemplo, a paralisia completa dos músculos flexores do cotovelo após a poliomielite. Tal paralisia pode ter profundas consequências funcionais, especialmente se ocorrer bilateralmente. Uma abordagem para restaurar a flexão do cotovelo é reorientar cirurgicamente o tendão do músculo tríceps totalmente inervado, para o lado anterior do cotovelo (Fig. 1.24). O músculo tríceps, agora passando anteriormente para o eixo de rotação mediolateral no cotovelo, torna-se um flexor em vez de um extensor. O comprimento do braço de momento interno para ação de flexão pode ser exagerado, se desejado, aumentando a distância perpendicular entre o tendão transferido e o eixo de rotação. Ao aumentar a vantagem mecânica (VM) do músculo, o músculo ativado produz maior torque por nível de força muscular. Esse pode ser um resultado benéfico, dependendo das circunstâncias específicas do paciente. FIGURA 1.24 Transferência anterior do tendão do tríceps após paralisia dos músculos flexores do cotovelo.O tendão do tríceps é alongado por um enxerto de fáscia. (De Bunnell S: Restoring flexion to the paralytic elbow, J Bone Joint Surg Am 33:566, 1951.) Um importante mecanismo de equilíbrio existe sempre que a VM de um músculo é cirurgicamente aumentada. Embora um torque maior seja produzido por nível de força muscular, uma determinada quantidade de encurtamento muscular resulta na redução do deslocamento angular da ç g articulação. Como resultado, uma contração muscular completa pode produzir um torque amplo, mas a articulação pode não completar toda a sua amplitude de movimento.3 Em essência, a faixa ativa de movimento “retarda” a contração muscular. O deslocamento e a velocidade reduzidos do segmento distal da articulação podem ter consequências funcionais negativas. Esse equilíbrio mecânico precisa ser considerado antes que o braço de momento interno do músculo seja cirurgicamente melhorado. Frequentemente, o maior potencial de torque ganho pelo aumento do braço de momento funcionalmente “supera” a perda da velocidade e distância do movimento. Também importante para o estudo da cinesiologia é a compreensão de como um torque externo afeta uma articulação. Um torque externo é definido como o produto de uma força externa (como a gravidade ou o contato físico) multiplicado pelo seu braço de momento associado. Por fim, movimento e postura se baseiam na interação instantânea entre torques internos e externos — cujos sentido e extensão predominantes são determinados pelo torque mais dominante. A maioria dos músculos do corpo atua por meio de um sistema de alavanca esquelética com uma vantagem mecânica de muito menos do que 1. Esse modelo favorece uma velocidade relativamente alta e o deslocamento da terminação distal das extremidades. Essa chamada “vantagem” biomecânica se dá à custa de uma força muscular que geralmente é muito maior do que o peso combinado do membro e da carga externa suportada. As grandes forças musculares obrigatórias são usualmente direcionadas através das superfícies das articulações e sobre o osso, sendo descritas com mais frequência em termos de compressão e cisalhamento. Para que essas forças sejam fisiologicamente toleradas ao longo da vida, as extremidades articulares da maioria dos ossos são relativamente grandes, aumentando assim a sua área superficial como um meio de reduzir o pico de pressão de contato. Proteção adicional é fornecida pela presença de um osso esponjoso subcondral, mais ou menos absorvente, subjacente à cartilagem articular. Essas características são essenciais para a dissipação de forças que, de outra forma, causariam degeneração, possivelmente levando à osteoartrite. O estudo da cinesiologia presta atenção estrita às ações dos músculos individuais e suas linhas de força únicas em relação aos eixos de articulação das rotações. Uma vez que isso seja compreendido, o foco de estudo normalmente muda para a compreensão de como vários músculos cooperam para controlar movimentos complexos, frequentemente por meio de múltiplas articulações. Os músculos agem sinergicamente uns com os outros por muitos motivos. As interações musculares podem servir para estabilizar locais de ligação proximais, neutralizar ações secundárias ou terciárias indesejadas, ou simplesmente ampliar o poder, a força ou o controle de um movimento particular. Quando a função muscular é perdida por doença ou lesão, a falta dessa sinergia é muitas vezes responsável pela patomecânica de um movimento. Considerem-se, por exemplo, as consequências da paralisia ou da fraqueza de alguns músculos selecionados dentro de um grupo muscular funcional. Mesmo os músculos saudáveis não afetados (quando agindo em relativo isolamento) têm um papel dominante em um padrão de movimento anormal. O desequilíbrio cinético resultante na região pode levar a certos movimentos ou posturas compensatórias, possivelmente causando deformidade e função reduzida. Compreender como os músculos interagem normalmente é um pré- requisito para compreender a patomecânica geral da região. Tal entendimento serve de base para a concepção de intervenções terapêuticas eficazes, destinadas a restaurar ou maximizar a função. A cinesiologia é o estudo do movimento humano, investigado tanto em condições saudáveis e ideais, quanto nas condições afetadas por trauma, doença ou desuso. Para facilitar esse estudo, este livro-texto concentra-se fortemente na estrutura e função do sistema musculoesquelético. Uma forte ênfase é dada à interação entre as forças e as tensões criadas pelos músculos, a gravidade e os tecidos conjuntivos que circundam as articulações. Este capítulo ajuda a estabelecer uma fundamentação de muitos dos conceitos básicos e da terminologia usados ao longo deste livro. Glossário Absorção de Impacto: ato de dissipar uma força. Ação Muscular: potencial de um músculo para produzir um torque dentro de um determinado plano de movimento e sentido de rotação (também chamado ação articular quando se refere especificamente ao potencial de um músculo para girar uma articulação). Os termos que descrevem uma ação muscular são flexão, extensão, pronação, supinação e assim por diante. Aceleração: mudança na velocidade de um corpo ao longo do tempo, expressa em termos lineares (m/seg2) e angulares (graus/seg2). Alavanca: comprimento do braço de momento relativo possuído por uma força específica. Alongamento: razão entre o comprimento do tecido deformado e o seu comprimento original. Também pode ser expresso em unidades de distância (m). Ângulo de Inserção: ângulo formado entre um tendão de um músculo e o maior eixo do osso no qual ele se insere. Antagonismo Produtivo: fenômeno no qual a tensão relativamente baixa dentro dos tecidos conjuntivos esticados desempenha uma função útil. Artrocinemática: conjunto de movimentos de rolar, deslizar e girar que ocorrem entre as superfícies articulares curvas das articulações. Ativação Concêntrica: músculo ativado que se encurta enquanto produz uma força de tração. Ativação Excêntrica: músculo ativado que está produzindo uma força de tração enquanto está sendo alongado por outra força mais dominante. Ativação Isométrica: músculo ativado que mantém um comprimento constante enquanto produz uma força de tração. Atrito: resistência ao movimento entre duas superfícies de contato. Braço de Momento: distância perpendicular entre um eixo de rotação e a linha de força. Braço de Momento Externo: distância perpendicular entre um eixo de rotação e a força externa. Braço de Momento Interno: distância perpendicular entre o eixo de rotação e a força (muscular) interna. Cadeia Cinemática: séries de segmentos articulares ligados, como pelve, coxa, perna e pé conectados da extremidade inferior. Carga: termo geral que descreve a aplicação de uma força em um corpo. Centro de Massa: ponto no centro exato da massa de um objeto (também referido como centro de gravidade quando se considera o peso da massa). Cinemática: ramo da mecânica que descreve o movimento de um corpo, sem considerar forças ou torques que podem produzir o movimento. Cinemática do Segmento Distal-Proximal: tipo de movimento no qual o segmento distal de uma articulação gira em relação a um segmento proximal fixo (também chamado de cadeia cinemática aberta). Cinemática do Segmento Proximal-Distal: tipo de movimento no qual o segmento proximal de uma articulação gira em relação a um segmento distal fixo (também chamado de cadeia cinemática fechada). Cinética: ramo da mecânica que descreve o efeito de forças e torques no corpo. Complacência: o inverso da rigidez. Compressão: uma força, aplicada perpendicularmente à superfície de contato, que empurra ou traciona um objeto diretamente contra outro. Deformação: tensão progressiva de um material quando exposto a uma carga constante ao longo do tempo. Deslizamento: termo artrocinemático que descreve o contato de um único ponto em uma superfície articular com múltiplos pontos em outra superfície articular (também chamado de escorregamento). Deslocamento: mudança na posição linearou angular de um objeto. Distração: força, aplicada perpendicularmente à superfície de contato, que empurra ou traciona um objeto diretamente afastando-o de outro. Eixo de Rotação: linha imaginária que se estende através de uma articulação em torno da qual ocorre a rotação (também chamada de ponto pivô ou centro de rotação). Eixo Longitudinal: eixo que se estende dentro e paralelo a um segmento de osso longo ou corpo. Elasticidade: propriedade de um material demonstrada pela sua capacidade de retornar ao comprimento original após a remoção de uma força de deformação. Equilíbrio Estático Linear: estado de um corpo em repouso no qual a soma de todas as forças é igual a zero. Equilíbrio Estático Rotativo: estado de um corpo em repouso no qual a soma de todos os torques é igual a zero. Escalar: quantidade, como velocidade ou temperatura, que é completamente especificada pela sua magnitude e não possui sentido. Estresse: força gerada quando um tecido resiste à deformação, dividida pela sua área transversal (também chamada de pressão). Flexão: efeito de uma força que deforma um material perpendicularmente ao seu eixo longo. Um tecido flexionado é comprimido no seu lado côncavo e colocado sob tensão no seu lado convexo. Um momento de flexão é uma medida quantitativa de uma curva. Semelhante a um torque, um momento de flexão é o produto da força de flexão e da distância perpendicular entre a força e o eixo de rotação da dobra. Força: empurrão ou tração que produz, detém ou modifica um movimento. Força Acoplada: dois ou mais músculos que atuam em diferentes sentidos lineares, mas produzindo um torque no mesmo sentido de rotação. Força Ativa: empuxo ou puxão gerado por um músculo estimulado. Força da Gravidade: aceleração potencial de um corpo em direção ao centro da terra como resultado da gravidade. Força de Cisalhamento: força produzida quando dois objetos comprimidos deslizam em direção oposta (como a ação de duas lâminas em um par de tesouras). Força de Reação Conjunta: força que existe em uma articulação, desenvolvida em reação ao efeito líquido de forças internas e externas. A força de reação conjunta inclui as forças de contato entre superfícies articulares, bem como as forças de qualquer estrutura periarticular. Força Externa: empurrão ou tração produzidos por fontes localizadas fora do corpo. Estas tipicamente incluem gravidade e contato físico aplicado contra o corpo. Força Interna: empurrão ou tração produzida por uma estrutura localizada dentro do corpo. Na maioria das vezes, a força interna refere-se à força produzida por um músculo ativo. Força Passiva: empurrão ou tração gerada por outras fontes diferentes do músculo estimulado, como tensão nos tecidos conjuntivos periarticulares estendidos, contato físico e assim por diante. Giro: termo artrocinemático que descreve o giro de um único ponto em uma superfície articular sobre um único ponto de outra superfície articular. Graus de Liberdade: número de direções independentes de movimentos permitidos em uma articulação. Uma articulação pode ter até três graus de translação e três graus de rotação. Linha de Força: sentido e orientação da força de um músculo. Linha de Gravidade: sentido e orientação da atração gravitacional sobre um corpo. Massa: quantidade de matéria em um objeto. Movimento Ativo: movimento causado por um músculo estimulado. Movimento Passivo: movimento produzido por uma fonte diferente do músculo ativado. Movimentos Acessórios: movimentos delicados, passivos, não volitivos permitidos na maioria das articulações (também chamados de jogo articular). Músculo Agonista: músculo ou grupo muscular que está mais diretamente relacionado com a iniciação e a execução de um movimento específico. Músculo Antagonista: músculo ou grupo muscular que tem a ação oposta a um músculo agonista específico. Osteocinemática: movimento dos ossos em relação aos três planos cardinais ou principais. Peso: força gravitacional que age sobre uma massa. Plasticidade: propriedade de um material demonstrada por permanecer definitivamente deformado após a remoção de uma força. Ponto Final de Falha: comprimento no qual um tecido falha estruturalmente e perde sua capacidade de segurar uma carga. Posição Anatômica: a posição de referência do corpo usada para descrever a localização e o movimento de suas partes. Nessa posição, uma pessoa está de pé, totalmente erguida e olhando para a frente, com os braços descansando ao lado do corpo, os antebraços completamente supinados e os dedos estendidos. Posição de Bloqueio: posição única da maioria das articulações do corpo onde as superfícies articulares são mais congruentes e os ligamentos esticados ao máximo. Posições de Desbloqueio: posições da maioria das articulações sinoviais do corpo nas quais as superfícies articulares são menos congruentes e os ligamentos estão afrouxados. Pressão: força dividida por uma área de superfície (também chamada de estresse). Rigidez: razão entre tensão (força) e alongamento (distensão) dentro de um material elástico ou N/m (também chamado de módulo de Young ou módulo de elasticidade). Rolamento: termo artrocinemático que descreve o contato que múltiplos pontos em uma superfície articular em rotação mantêm com múltiplos pontos de outra superfície articular. Rotação: movimento angular no qual um corpo rígido se move em um trajeto circular em torno de um ponto de fixação ou um eixo de rotação. Rotação Axial: movimento angular de um objeto em uma direção perpendicular ao seu eixo longitudinal; usada muitas vezes para descrever um movimento no plano horizontal. Segmento: qualquer parte de um corpo ou membro. Sinergistas: dois ou mais músculos que cooperam para executar um movimento específico. Tensão: aplicação de uma ou mais forças que separa ou afasta um material (também chamada força de distração). Termo usado para denotar o estresse interno dentro de um tecido enquanto resiste a ser esticado. Torção: aplicação de uma força que torce um material em torno do seu eixo longitudinal. Torque: força multiplicada pelo braço de momento; tende a rodar um corpo ou segmento em torno de um eixo de rotação. Torque Externo: produto de uma força externa e seu braço de momento externo (também chamado de momento externo). Torque Interno: produto de uma força interna e seu braço de momento interno. Translação: movimento linear no qual todas as partes de um corpo rígido se movem paralelas e no mesmo sentido que todos os outros pontos do corpo. Vantagem Mecânica: razão entre o braço de momento interno e o braço de momento externo. Velocidade: mudança na posição de um corpo ao longo do tempo, expressa em termos lineares (m/seg) e angulares (graus/seg). Vetor: quantidade, como velocidade ou força, que é completamente especificada pela sua magnitude e pelo seu sentido. Viscoelasticidade: propriedade de um material expressa por uma mudança na relação tensão-deformação ao longo do tempo. Referências 1. Barman JE, Weaver BT, Haut RC. 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Neumann, PT, PhD, FAPTA VISÃO GERAL DO CAPÍTULO CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES BASEADA NO POTENCIAL DE MOVIMENTO Sinartroses Diartroses: Articulações Sinoviais CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES SINOVIAIS BASEADA NA ANALOGIA MECÂNICA Simplificação da Classificação das Articulações Sinoviais: Articulações Ovoides e Selares EIXO DE ROTAÇÃO ORGANIZAÇÃO HISTOLÓGICA DOS TECIDOS CONJUNTIVOS PERIARTICULARES Proteínas Fibrosas Substância Fundamental Células TIPOS DE TECIDOS CONJUNTIVOS PERIARTICULARES Tecido Conjuntivo Denso Cartilagem Articular Fibrocartilagem OSSO ALGUNS EFEITOS DA IMOBILIZAÇÃO SOBRE A RESISTÊNCIA DO TECIDO CONJUNTIVO PERIARTICULAR E DO OSSO BREVE VISÃO GERAL DAS PATOLOGIAS ARTICULARES BREVE OLHAR SOBRE ALGUNS EFEITOS DO ENVELHECIMENTO AVANÇADO NO TECIDO CONJUNTIVO PERIARTICULAR E NO OSSO RESUMO REFERÊNCIAS Uma articulação é a junção ou o ponto de encontro entre dois ou mais ossos. O movimento do corpo como um todo ocorre principalmente através da rotação dos ossos em torno de articulações individuais. As articulações também transferem e dispersam as forças produzidas pela gravidade e pela ação muscular. A artrologia, o estudo da classificação, estrutura e função das articulações, é uma base importante para o estudo global da cinesiologia. Envelhecimento, imobilização prolongada, trauma e doença afetam a estrutura e a função das articulações. Esses fatores também influenciam significativamente a qualidade e a quantidade do movimento humano. Este capítulo enfoca a estrutura anatômica geral e a função das articulações. Os capítulos contidos nas Seções II a IV deste texto descrevem a anatomia específica e a função detalhada das articulações individuais do corpo inteiro. Essa informação detalhada é um pré-requisito para o entendimento das lesões das articulações, bem como para empregar um tipo de reabilitação mais eficaz em pessoas com disfunção articular. Classificação das articulações baseada no potencial de movimento Um método para classificar as articulações enfoca principalmente seu potencial de movimento. Com base neste esquema, existem dois tipos principais de articulações no corpo: as sinartroses e as diartroses (Fig. 2.1). FIGURA 2.1 Esquema de classificação para descrever dois tipos principais de articulações encontradas no sistema musculoesquelético. As articulações sinartrodiais podem ser também classificadas como fibrosas ou cartilaginosas. Sinartroses A sinartrose é uma junção entre os ossos que permite um discreto a essencialmente nenhum movimento. Com base no tipo dominante de tecido conjuntivo periarticular que reforça a articulação, as articulações sinartrodiais podem ser ainda classificadas como fibrosas ou cartilaginosas.91 As articulações fibrosas são estabilizadas por tecidos conjuntivos densos especializados, geralmente com alta concentração de colágeno. Exemplos de articulações fibrosas incluem as suturas do crânio, a articulação tibiofibular distal (frequentemente classificada como sindesmose) e outras articulações reforçadas por uma membrana interóssea. As articulações cartilaginosas são estabilizadas por variadas formas de fibrocartilagem flexível ou cartilagem hialina, muitas vezes misturada com colágeno. As articulações cartilaginosas geralmente existem na linha média do corpo, como a sínfise púbica, os discos intervertebrais da coluna vertebral e a articulação manubrioesternal. A função das articulações sinartrodiais é conectar fortemente e transferir forças entre os ossos. Essas articulações são tipicamente bem suportadas por tecidos conjuntivos periarticulares e, em geral, permitem muito pouco movimento. Diartroses: Articulações Sinoviais A diartrose é uma articulação que permite movimento moderado a amplo. Essas articulações também possuem uma cavidade articular repleta de líquido sinovial. Devido a esta característica, as articulações diartrodiais são frequentemente referidas como articulações sinoviais. As articulações sinoviais compreendem a maioria das articulações do sistema musculoesquelético. As articulações diartrodiais ou sinoviais são especializadas para movimentação e sempre apresentam sete elementos (Fig. 2.2). A cartilagem articular recobre as superfícies ósseas articulares. A articulação é fechada por tecidos conjuntivos que formam a cápsula articular. A cápsula articular é composta de duas camadas histologicamente distintas. A camada externa, ou fibrosa, é composta por tecido conjuntivo denso. Essa parte da cápsula articular proporciona apoio entre os ossos e contenção do conteúdo articular. A camada interna da cápsula articular consiste em uma membrana sinovial, que tem em média de três a 10 camadas de células de espessura. As células dentro deste tecido conjuntivo especializado produzem um líquido sinovial que é geralmente claro ou amarelo pálido, com uma consistência ligeiramente viscosa.91 O líquido sinovial contém muitas proteínas encontradas no plasma sanguíneo, incluindo o hialuronano e outras glicoproteínas lubrificantes.91,109 O líquido sinovial irriga as superfícies articulares. Esse líquido reduz o atrito entre as superfícies articulares, bem como fornece nutrição para a cartilagem articular.FIGURA 2.2 Elementos associados a uma articulação diartrodial comum (sinovial). Observe-se que um lábio periférico e uma plica sinovial não estão representados na ilustração. Os ligamentos são tecidos conjuntivos que se prendem entre os ossos, protegendo desse modo a articulação contra movimentos excessivos. A espessura dos ligamentos difere consideravelmente de acordo com as demandas funcionais postas sobre a articulação. A maioria dos ligamentos pode ser descrita como capsular ou extracapsular. Os ligamentos capsulares são geralmente espessamentos da cápsula articular, como os ligamentos glenoumerais e as partes mais profundas do ligamento colateral medial (tibial) do joelho. Os ligamentos capsulares geralmente consistem em uma lâmina larga de fibras que, quando tensionadas, resistem aos movimentos em dois ou muitas vezes três planos. A maioria dos ligamentos extracapsulares tem forma de corda e pode ser parcialmente ou completamente separada da cápsula articular. Considere-se, por exemplo, o ligamento colateral lateral (fibular) do joelho ou o ligamento alar da região craniocervical. Esses ligamentos mais discretos são geralmente orientados de forma específica para otimizar a resistência ao movimento em um ou dois planos. Pequenos vasos sanguíneos com capilares penetram na cápsula articular, geralmente tão profunda quanto a junção da camada fibrosa da cápsula articular e a membrana sinovial adjacente. Os nervos sensitivos também suprem a camada externa da cápsula e ligamentos com receptores para dor e propriocepção. Para acomodar o amplo espectro de formas articulares e demandas funcionais, outros elementos podem às vezes aparecer nas articulações sinoviais (Fig. 2.2). Os discos intra-articulares, ou meniscos, são coxins de fibrocartilagem entre as superfícies articulares. Essas estruturas aumentam a congruência articular e melhoram a dispersão da força. Os discos intra- articulares e meniscos são encontrados em várias articulações do corpo (Boxe). Discos Intra-articulares (Meniscos) Encontrados em Várias Articulações do Corpo • Tibiofemoral (joelho) • Radioulnar distal • Esternoclavicular • Acromioclavicular • Temporomandibular • Apofisário (variável) Um lábrum periférico de fibrocartilagem se estende das bordas ósseas da cavidade glenoide do ombro e do acetábulo do quadril. Estas estruturas especializadas aprofundam a concavidade destas articulações e apoiam e espessam a fixação da cápsula articular. Os corpos adiposos podem reforçar os aspectos internos da cápsula, bem como preencher os espaços não articulares vazios (isto é, recessos) formados pelos contornos ósseos incongruentes. Como resultado, os corpos adiposos reduzem o volume de líquido sinovial necessário para uma função articular adequada. Eles variam em tamanho e posicionamento dentro da substância da cápsula articular, muitas vezes interpostos entre a camada fibrosa e a membrana sinovial. Se estes corpos adiposos se tornarem aumentados ou inflamados, eles podem alterar a mecânica da articulação. Os corpos adiposos são mais proeminentes nas articulações do cotovelo e do joelho. As bolsas sinoviais muitas vezes se formam adjacentes aos corpos adiposos. A bolsa sinovial é uma extensão ou prolongamento da membrana sinovial de uma articulação diartrodial. As bolsas sinoviais são preenchidas com líquido sinovial e geralmente se localizam em áreas de potencial estresse. Como os corpos adiposos, as bolsas sinoviais ajudam a absorver o impacto e a proteger os tecidos conjuntivos periarticulares, incluindo o osso. A bolsa subacromial no ombro, por exemplo, está localizada entre a superfície inferior do acrômio da escápula e a cabeça do úmero. A bolsa sinovial pode inflamar devido à compressão repetitiva entre o úmero e o acrômio. Essa condição é frequentemente referida como bursite subacromial. As plicas sinoviais (isto é, pregas sinoviais ou franjas sinoviais) são dobras folgadas, sobrepostas, de tecido composto por camadas mais internas da cápsula articular. Ocorrem normalmente em articulações com amplas áreas de superfície capsular como o joelho e o cotovelo. A plica sinovial aumenta a área de superfície sinovial e permite o movimento articular completo sem tensão excessiva no revestimento sinovial. Se essas dobras forem muito extensas ou tornarem-se espessas ou aderentes por causa de uma inflamação, podem produzir dor e alteração da mecânica articular. As plicas sinoviais do joelho são descritas no Capítulo 13. Classificação das articulações sinoviais baseada na analogia mecânica Até agora, neste capítulo, as articulações foram classificadas em duas categorias baseadas principalmente no potencial de movimento. Por causa de a profunda compreensão das articulações sinoviais ser tão crucial para o entendimento da mecânica do movimento, elas estão aqui também classificadas segundo a analogia com objetos ou formas mecânicas familiares (Tabela 2.1). Tabela 2.1 Classificação das Articulações Sinoviais Baseada na Analogia Mecânica Movimentos Angulares Primários Analogia Mecânica Exemplos Anatômicos Articulação em dobradiça Somente flexão e extensão Dobradiça de porta Articulação umeroulnar Articulação interfalângica Articulação em pivô Rotação de um componente ao redor de um único eixo de rotação Maçaneta de porta Articulação umerorradial Articulação atlantoaxial Articulação elipsoide Movimento biplanar (flexão-extensão e abdução-adução) Elipsoide convexa achatada pareada com um cocho côncavo Articulação radiocárpica Articulação esferóidea Movimento triplanar (flexão-extensão, abdução-adução e rotação interna- externa) Superfície esférica convexa pareada com uma xícara côncava Articulação glenoumeral Articulação coxofemoral (quadril) Articulação plana Movimentos típicos incluem deslizamento (translação) ou deslizamento e rotação combinados Superfícies relativamente achatadas opostas uma à outra, como um livro sobre uma mesa Articulações intercarpais ou intertarsais dos dedos II-V (muitas vezes chamadas articulações planas modificadas) Articulação selar Movimento biplanar; a rotação entre os ossos é possível, mas pode ser limitada pela natureza da articulação Cada componente apresenta uma superfície reciprocamente curvada côncava e convexa orientada em ângulo reto uma em relação à outra, como um cavalgador e uma sela de cavalo Articulação carpometacarpiana do polegar Articulação esternoclavicular Articulação condiloide Movimento biplanar; flexão-exensão e abdução-adução ou flexão-extensão e rotação axial (rotação interna-externa) Geralmente apresenta uma superfície convexa esférica que é aumentada em uma dimensão como o nó do dedo; pareado com uma xícara côncava rasa Articulação metacarpofalângica Articulação tibiofemoral (joelho) Uma articulação em dobradiça é geralmente análoga à dobradiça de uma porta, formada por um pino central rodeado por um cilindro maior oco (Fig. 2.3A). O movimento angular nas articulações em dobradiça ocorre principalmente em um plano localizado em ângulo reto à dobradiça ou ao eixo de rotação. A articulação umeroulnar é um exemplo claro de uma articulação em dobradiça (Fig. 2.3B). Como em todas as articulações sinoviais, uma ligeira translação (isto é, deslizamento) é permitida além da rotação. Embora a similaridade mecânica seja menos completa, as articulações interfalângicas dos dedos também são classificadas como articulações em dobradiça. FIGURA 2.3 Articulação em dobradiça (A) ilustrada como análoga à articulação umeroulnar (B). O eixo de rotação (isto é, ponto de pivô) é representado pelo pino. Uma articulação em pivô é formada por um pino central rodeado por um cilindro maior. Ao contrário de uma articulação em dobradiça, a parte móvel de uma articulação em pivô está orientada paralelamente ao eixo de rotação. Essa orientação mecânica produz o movimento angular primário de giro, semelhante à rotação de uma maçaneta ao redor de um eixo central (Fig. 2.4A). Dois exemplos de articulações em pivô são a articulação umerorradial, mostrada na Figura 2.4B,e a articulação atlantoaxial na região craniocervical. FIGURA 2.4 Articulação em pivô (A) mostrada como análoga à articulação umerorradial (B). O eixo de rotação é representado pelo pino, estendendo-se pelo capítulo do úmero. Uma articulação elipsoide tem um componente com uma superfície convexa alongada em uma dimensão que está unida com uma superfície côncava alongada no segundo componente (Fig. 2.5A). A união elíptica das superfícies restringe severamente a rotação entre as duas superfícies, mas permite movimentos biaxiais, normalmente definidos como flexão- extensão e abdução-adução. A articulação radiocárpica é um exemplo de uma articulação elipsoide (Fig. 2.5B). O componente convexo da articulação (isto é, os ossos do carpo) limita significativamente a rotação no interior da concavidade correspondente (isto é, a extremidade distal do rádio). FIGURA 2.5 Articulação elipsoide (A) mostrada como análoga à articulação radiocárpica (punho) (B). Os dois eixos de rotação são mostrado pelos pinos cruzados. Uma articulação esferóidea tem uma superfície convexa esférica que se encaixa dentro de um soquete em forma de xícara (Fig. 2.6A). Essa articulação fornece movimento em três planos. Ao contrário da articulação elipsoide, a simetria das curvas das duas superfícies de encaixe da esfera e do soquete permite rotação sem deslocamento. As articulações esferóideas do corpo incluem a articulação glenoumeral e a articulação do quadril. Como descrito no Capítulo 5, a maior parte da concavidade da articulação glenoumeral é formada não só pela cavidade glenoidal, mas também pelo músculo circundante, lábio glenoidal, cápsula articular e ligamentos capsulares. FIGURA 2.6 Articulação esferóidea (A) desenhada como análoga à articulação do quadril (B). Os três eixos de rotação são representados pelos três pinos cruzados. Uma articulação plana é o pareamento de duas superfícies planas ou ligeiramente curvas. Os movimentos combinam deslizamento e alguma rotação de um componente em relação a outro, assim como um livro pode deslizar ou girar sobre um tampo de mesa (Fig. 2.7A). Como as articulações planas não possuem um eixo definido de rotação, elas não são tipicamente descritas em termos de graus de liberdade. Conforme ilustrado na Figura 2.7B, as articulações carpometacarpianas dos dedos II a V são frequentemente consideradas como planas ou articulações planas modificadas. Muitas articulações intercarpianas e intertarsianas também são consideradas articulações planas. As forças que causam ou restringem o movimento entre os ossos são fornecidas pela tensão nos músculos ou ligamentos. FIGURA 2.7 Uma articulação plana é formada pela oposição de duas superfícies retas ou ligeiramente curvadas. O livro movendo- se sobre o tampo da mesa (A) é ilustrado como análogo ao deslizamento e à rotação combinada nas articulações carpometacarpais dos dedos II-V (B). Cada componente de uma articulação selar tem duas superfícies: uma superfície é côncava e a outra, convexa. Essas superfícies estão orientadas em ângulos quase retos um ao outro e são reciprocamente curvadas. A forma de uma articulação selar é mais bem visualizada pela analogia de uma sela de cavalo e um cavalgador (Fig. 2.8A). De frente para trás, a sela apresenta uma superfície côncava que alcança a maçaneta da sela na frente para a parte de trás da sela. De lado a lado, a sela é convexa, estendendo-se a partir de um estribo na parte de trás do cavalo até o outro estribo. O cavalgador tem curvas convexas e côncavas recíprocas para complementar a forma da sela. A articulação carpometacarpiana do polegar é o exemplo mais claro de uma articulação selar (Fig. 2.8B). A natureza recíproca e interligada dessa articulação permite um movimento amplo em dois planos, mas uma rotação limitada entre o trapézio e o metacarpo I. FIGURA 2.8 Articulação selar (A) é ilustrada como análoga à articulação carpometacarpiana do polegar (B). A sela em (A) representa o osso do trapézio. O cavalgador, se presente, representaria a base do metacarpo do polegar. Os dois eixos de rotação são mostrados em (B). Uma articulação condiloide é muito parecida com uma articulação esferóidea, exceto que o componente côncavo da articulação é relativamente raso (Fig. 2.9A). As articulações condiloides geralmente permitem dois graus de liberdade. Os ligamentos ou as incongruências ósseas frequentemente restringem o terceiro grau. As articulações condiloides geralmente ocorrem em pares, como as articulações do joelho (Fig. 2.9B) e atlantoccipital (ou seja, articulação entre os côndilos occipitais e a primeira vértebra cervical). A articulação metacarpofalângica do dedo é outro exemplo de uma articulação condiloide. A raiz da palavra côndilo na verdade significa “articulação dos dedos da mão”. FIGURA 2.9 Uma articulação condiloide (A) é análoga à articulação tibiofemoral (joelho) (B). Os dois eixos de rotação são mostrados pelos pinos. O movimento potencial no plano frontal nos joelhos é bloqueado pela tensão no ligamento colateral. A cinemática nas articulações condiloides varia de acordo com a estrutura articular. No joelho, por exemplo, os côndilos femorais se encaixam dentro da concavidade rasa proporcionada pelo platô tibial e pelos meniscos. Essa articulação permite flexão-extensão e rotação axial (isto é, giro). A abdução-adução, no entanto, é restrita principalmente por ligamentos. Simplificação da Classificação das Articulações Sinoviais: Articulações Ovoides e Selares Muitas vezes é difícil classificar as articulações sinoviais com base numa analogia com a mecânica isolada. A articulação metacarpofalângica (condiloide) e a articulação glenoumeral (esferóidea), por exemplo, têm formas similares, mas diferem consideravelmente na magnitude relativa do movimento e na função geral. As articulações sempre exibem variações sutis que tornam as descrições mecânicas simples menos aplicáveis. Um bom exemplo da diferença entre classificação mecânica e função verdadeira é observado nas suaves ondulações que caracterizam as articulações intercarpianas e intertarsianas. Várias dessas articulações produzem movimentos complexos e multiplanares que são inconsistentes com sua simples classificação mecânica “planar”. Para contornar essa dificuldade, um esquema de classificação simplificado reconhece apenas duas formas articulares: a articulação ovoide e a articulação selar (Fig. 2.10). FIGURA 2.10 As duas formas fundamentais de superfícies articulares encontradas no corpo. (A) A superfície ovoide representa uma característica da maioria das articulações sinoviais do corpo (p. ex., articulação do quadril, articulação radiocárpica, articulação do joelho, articulação metacarpofalângica). O diagrama mostra apenas o componente convexo da articulação. Um componente recíproco de forma côncava completaria o par de superfícies articuladas ovoide. (B) A superfície selar é o segundo tipo básico de superfície articular, tendo uma superfície convexa que cruza uma superfície côncava. A superfície articulada pareada da outra metade da articulação seria girada de forma que a sua superfície côncava se acoplasse a uma superfície convexa da outra metade da articulação. Uma articulação ovoide possui superfícies de contato pareadas que são imperfeitamente esféricas ou em forma de ovo, com partes adjacentes possuindo uma curvatura de superfície variável. Em cada caso, a superfície articular de um osso é convexa e a do outro, côncava. A maioria das articulações do corpo encaixa-se neste esquema. Uma articulação selar foi previamente descrita. Cada componente apresenta superfícies convexas e côncavas pareadas orientadas aproximadamente a 90 graus uma da outra. Essencialmente todas as articulações sinoviais do corpo, com a notável exceção das articulações planares, podem ser categorizadas sob este esquema. Esse sistema de classificação simplificado está funcionalmente associado à artrocinemática de rolamento, deslizamento ou giro (Cap. 1). Eixo de rotação Na analogia de uma dobradiça de porta (Fig. 2.3A),o eixo de rotação (isto é, o pino que atravessa a dobradiça) é fixo porque permanece estacionário à medida que a dobradiça abre e fecha. Com o eixo de rotação fixo, todos os pontos da porta experimentam graus de rotação iguais. Nas articulações anatômicas, no entanto, o eixo de rotação está raramente, se alguma vez, fixo durante a rotação óssea. Determinar a posição exata do eixo de rotação nas articulações anatômicas não é, portanto, uma tarefa simples. Um método para estimar a posição do eixo de rotação em articulações anatômicas é mostrado na Figura 2.11A. A intersecção das duas linhas perpendiculares que bisseccionam a até a’ e b até b’ define o eixo instantâneo de rotação para o arco de 90 graus de flexão do joelho.102 A palavra instantâneo indica que a localização do eixo é verdadeira apenas para o arco de movimento especificado. Quanto menor a variação angular usada para calcular o eixo instantâneo, mais precisa é a estimativa. Se uma série de linhas desenhadas é feita para uma sequência de pequenos arcos angulares de movimento, a localização dos eixos instantâneos pode ser plotada para cada parte dentro do arco de movimento (Fig. 2.11B). O caminho das localizações seriadas dos eixos instantâneos de rotação é chamado de evoluta (centros de curvatura). O caminho da evoluta é mais longo e mais complexo quando as superfícies de contato articulares são menos congruentes ou apresentam maiores diferenças nos seus raios de curvatura, como no joelho. FIGURA 2.11 Método para determinar o eixo instantâneo de rotação para 90 graus de flexão do joelho (A). Com imagens desenhadas a partir de uma radiografia, dois pontos (a e b) estão identificados na superfície proximal da tíbia. Com a posição do fêmur mantida estacionária, os mesmos dois pontos são novamente identificados após 90 graus de flexão (a’ e b’). Linhas são desenhadas em seguida ligando a até a’ e b até b’. Depois, duas linhas perpendiculares são desenhadas a partir do ponto médio das linhas a para a’ e b para b’. O ponto de interseção dessas duas linhas perpendiculares identifica o eixo instantâneo de rotação para o arco de movimento de 90 graus. Esse mesmo método pode ser repetido para muitos arcos de movimento menores, resultando em vários eixos de rotação localizados em locais ligeiramente diferentes (B). No joelho, o eixo médio de rotação está orientado na direção medial-lateral, geralmente através do epicôndilo lateral do fêmur. Em muitas situações práticas clínicas, é necessário fazer estimativas simples da localização do eixo de rotação de uma articulação. Essas estimativas são necessárias quando se executa goniometria, mede-se o torque ao redor de uma articulação ou se constrói uma prótese ou uma órtese. Uma série de radiografias é necessária para identificar com precisão o eixo instantâneo de rotação em uma articulação. Esse método não é prático nas situações clínicas do dia a dia. Em vez disso, admite-se que um eixo de rotação médio ocorre ao longo de todo o arco de movimento. Esse eixo é localizado por um marco anatômico que atravessa o componente convexo da articulação. Organização histológica dos tecidos conjuntivos periarticulares Existem apenas quatro principais tipos de tecido encontrados no corpo: tecido conjuntivo, tecido muscular, tecido nervoso e tecido epitelial. O tecido conjuntivo, um derivado do mesoderma, forma a estrutura básica das articulações. A próxima seção fornece uma visão geral da organização histológica dos diferentes tipos de tecidos conjuntivos que formam a cápsula, o ligamento, o tendão, a cartilagem articular e a fibrocartilagem. Ao longo deste livro-texto, esses tecidos são referidos como tecidos conjuntivos periarticulares. O osso é uma forma muito especializada de tecido conjuntivo estreitamente relacionado com as articulações e é brevemente revisado mais adiante neste capítulo. De modo geral, o material fundamental que constitui todos os tecidos conjuntivos no corpo compreende proteínas fibrosas, substância fundamental e células. Mesmo estruturas que são aparentemente muito diferentes, como a cápsula do baço, um coxim adiposo, osso e cartilagem articular, são feitas destes mesmos materiais fundamentais. Cada uma dessas estruturas, no entanto, consiste numa singular composição, proporção e arranjo das proteínas fibrosas, substância fundamental e células. A combinação específica desses materiais reflete estruturas mecânicas ou fisiológicas únicas. A seção a seguir descreve os materiais biológicos básicos que formam os tecidos conjuntivos periarticulares. Materiais Biológicos Fundamentais que Formam os Tecidos Conjuntivos Periarticulares 1. Proteínas Fibrosas Colágeno (tipos I e II) Elastina 2. Substância Fundamental Glicosaminoglicanos Água Solutos 3. Células (fibroblastos e condrócitos) Proteínas Fibrosas Colágeno e elastina são proteínas fibrosas presentes em proporções variáveis em todos os tecidos conjuntivos periarticulares. O colágeno é a proteína mais abundante do corpo, representando 30% de todas as proteínas.39 Basicamente, o colágeno consiste em aminoácidos enrolados em forma de tripla hélice. Essas cadeias moleculares espiraladas, chamadas tropocolágeno, são colocadas juntas em uma fita, várias das quais são interligadas formando fibrilas. Uma fibrila de colágeno pode ter de 20 a 200 nm de diâmetro.109 Muitas fibrilas se interligam para formar feixes ou fibras. Embora até 28 tipos específicos de colágeno tenham sido descritos com base principalmente em suas sequências de aminoácidos,88 dois tipos compõem a maioria do colágeno encontrado nos tecidos conjuntivos periarticulares: tipo I e tipo II.109 O colágeno tipo I consiste em fibras espessas que se alongam pouco (isto é, esticam) quando colocadas sob tensão. Sendo relativamente rígido e forte, o colágeno tipo I é ideal para conectar e apoiar as articulações entre os ossos. O colágeno tipo I é, portanto, a principal proteína encontrada nos ligamentos e nas cápsulas articulares fibrosas. Esse tipo de colágeno também compõe os feixes paralelos fibrosos contidos nos tendões — as estruturas que transmitem forças entre o músculo e o osso. A Figura 2.12 mostra uma imagem de alta resolução e magnificada de fibrilas colágenas tipo I. FIGURA 2.12 Fibras colágenas tipo I vistas a partir de um microscópio eletrônico bidimensional (ampliação de 32.000x). As fibras são mostradas em secção longitudinal (L) e transversal (T). As fibrilas colágenas individuais exibem uma aparência de estriações transversais características (De Young B, Lowe JS, Stevens A, et al: Wheater’s functional histology: a text and colour atlas, ed 6, London, 2014, Churchill Livingstone). As fibras colágenas tipo II são tipicamente mais finas do que as fibras do tipo I e possuem uma resistência à tensão ligeiramente menor. Essas fibras fornecem uma estrutura para manter a forma geral e a consistência de estruturas mais complexas, como a cartilagem hialina. O colágeno tipo II ainda proporciona resistência interna ao tecido no qual reside. Dois Tipos de Colágenos Predominantes Encontrados no Tecido Conjuntivo Periarticular Tipo I: fibras espessas e rugosas que se alongam pouco quando esticadas; contêm ligamentos, tendões, fáscia e cápsulas articulares fibrosas. Tipo II: mais finas do que as fibras tipo I; proporcionam uma estrutura para manter a forma geral e a consistência das estruturas, como a cartilagem hialina. Além do colágeno, os tecidos conjuntivos periarticulares têm quantidades variáveis de fibras elásticas (Fig. 2.13). Essas fibras proteicas são compostas de um entrelaçamento em forma de rede de pequenas fibrilas que resistem a tensões (alongamento), mas têm mais para “esticar” quando alongadas. Os tecidos com uma elevada proporção de elastina retornam rapidamente à sua forma original depois de serem enormemente deformados. Essa propriedade é útil em estruturas como a cartilagem hialina ou elástica e certos ligamentos espinhais (como o ligamento amarelo) que ajudam a realinhar as vértebras para sua posição original após a flexão de tronco. FIGURA2.13 Observem-se as manchas escuras de fibras de elastina dentro da substância fundamental de uma amostra de tecido conjuntivo fibroso (De Gartner L, Hiatt J: Color textbook of histology, ed 3, Philadelphia, 2007, Saunders.) Substância Fundamental As fibras colágenas e elásticas no interior do tecido conjuntivo periarticular estão embebidas em uma matriz ou gel de água saturada conhecida como substância fundamental. A substância fundamental dos tecidos conjuntivos periarticulares consiste principalmente em glicosaminoglicanos (GAG), água e solutos.71,91 Os GAG são uma família de polissacarídios ou polímeros de monossacarídios repetidos, que conferem poder de recuperação à substância fundamental. A Fig. 2.14 mostra uma ilustração da substância fundamental dentro da cartilagem articular. Representada na parte inferior da Fig. 2.14 estão as cadeias de GAG individuais ligadas a uma proteína central, formando uma unidade lateral de um grande complexo proteoglicano. Estruturalmente, cada unidade lateral de proteoglicano se assemelha a uma escova de garrafa — sendo a haste de arame da escova a proteína central e as cerdas dispostas tridimensionalmente, as cadeias de GAG. Muitas unidades laterais de proteoglicano, por sua vez, são ligadas a um hialuronano central (ácido hialurônico), formando um grande complexo proteoglicano.37,39,91,109 FIGURA 2.14 Organização histológica da substância fundamental da cartilagem articular (hialina). A parte inferior direita da imagem mostra as unidades de dissacarídeos repetidas que constituem uma cadeia de glicosaminoglicano (GAG). Muitas cadeias de GAG se ligam à proteína central. A imagem superior direita mostra a estrutura básica de um grande complexo de proteoglicano composto por muitas cadeias de GAG. A imagem tridimensional no lado esquerdo da figura mostra a substância fundamental, a qual inclui grandes quantidades de complexos de proteoglicano entrelaçados com fibras colágenas. Não foram ilustradas na substância fundamental as células intercaladas (condrócitos). Nos tecidos saudáveis, a água ocupa grande parte do espaço entre os complexos de proteoglicano e fibras (De Standring S: Gray’s anatomy: the anatomical basis of clinical practice, ed 39, St Louis, 2005, Elsevier). Uma vez que os GAG são altamente carregados negativamente, as cadeias individuais (ou cerdas da escova) repelem-se mutuamente, aumentando grandemente o volume tridimensional do complexo proteoglicano. Os GAG carregados negativamente também tornam os complexos proteoglicanos extremamente hidrofílicos, capazes de capturar água equivalente a 50 vezes o seu peso.37 A água atraída fornece um ambiente fluido para a difusão de nutrientes dentro da matriz. Além disso, a água e outros íons positivos conferem uma propriedade mecânica única ao tecido. A tendência dos proteoglicanos para absorver e reter água faz com que o tecido inche. O inchaço é limitado pela rede integrada e emaranhada de fibras colágenas dentro da substância fundamental (Fig. 2.14, à esquerda). A interação entre as fibras restringentes e o inchaço dos proteoglicanos proporciona uma estrutura túrgida semifluida que resiste à compressão, como um balão ou um colchão com enchimento de água. O tecido mostrado na Figura 2.14 retrata a substância fundamental que é única para a cartilagem articular. Esse tecido importante fornece uma cobertura de superfície ideal para articulações e é capaz de dispersar milhões de forças repetitivas que parecem afetar as articulações ao longo da vida.62,97 Células As principais células dos ligamentos, tendões e outros tecidos conjuntivos periarticulares de suporte são chamadas fibroblastos. Os condrócitos, em contraste, são as células primárias da cartilagem hialina e da fibrocartilagem articular.39,91 Ambos os tipos de células são responsáveis pela síntese da substância fundamental especializada e pelas proteínas fibrosas únicas para o tecido, bem como por manutenção e reparo. Os componentes danificados ou envelhecidos do tecido conjuntivo periarticular são constantemente removidos, à medida que novos componentes são produzidos e remodelados. As células do tecido conjuntivo periarticular são geralmente esparsas e intercaladas entre os fios de fibras ou embebidas profundamente em regiões com grande quantidade de proteoglicano. Essa escassez de células juntamente com o suprimento sanguíneo limitado frequentemente resulta em má regeneração ou regeneração incompleta dos tecidos articulares danificados ou lesados. Em contraste com as células musculares, os fibroblastos e os condrócitos não conferem propriedades mecânicas significativas para o tecido. Tipos de tecidos conjuntivos periarticulares Existem três tipos de tecidos conjuntivos periarticulares que variam em grau em todas as articulações: tecido conjuntivo denso, cartilagem articular e fibrocartilagem (Tabela 2.2). Tabela 2.2 Três Principais Tipos de Tecidos Conjuntivos Periarticulares Tipo Consistência Histológica Função Primária Correlação Clínica Tecido conjuntivo denso Ligamentos Camada fibrosa da cápsula articular Tendões Alta proporção de fibra colágena tipo I paralela a ligeiramente ondulada; conteúdo de elastina relativamente baixo Esparsamente preenchido por fibroblastos Conteúdo de proteoglicano relativamente baixo a moderado Resiste à tensão Ligamentos e cápsulas articulares protegem e unem a articulação Tendões transferem forças entre o músculo e o osso Distensões repetidas do ligamento colateral lateral do tornozelo podem levar à instabilidade crônica da articulação e a potencial osteoartrite pós-traumática Cartilagem articular (cartilagem hialina especializada) Alta proporção de fibras colágenas tipo II Esparsa a moderadamente preenchida por condrócitos Conteúdo de proteoglicano relativamente alto Distribui e absorve forças articulares (compressão e cisalhamento) Reduz a fricção articular Durante os estágios iniciais da oesteoartrite, os proteoglicanos da substância fundamental são perdidos, reduzindo a capacidade do tecido para absorver água A cartilagem, portanto, perde sua propriedade de atenuação de cargas, deixando o osso subcondral mais vulnerável a estresses lesionantes Fibrocartilagem Meniscos (p. ex., joelho) Lábio periférico (p. ex., quadril) Discos (p. ex., intervertebral, articulação temporomandibular) Alta proporção de de fibras colágenas tipo I multidirecionais Esparsa a moderadamente preenchida por fibroblastos e condrócitos Conteúdo de proteoglicano relativamente moderado (dependendo da estrutura) Suporta e estabiliza mecanicamente as articulações Dissipa as cargas através de múltiplos planos Guia a artrocinemática complexa A ruptura ou degeneração do disco na articulação temporomandibular pode aumentar o estresse no osso subjacente, levando a degeneração, sons articulares anormais, movimentos mandibulares reduzidos e dor Tecido Conjuntivo Denso O tecido conjuntivo denso inclui a maior parte dos “tecidos moles” não- musculares que envolvem uma articulação: a camada fibrosa (externa) da cápsula articular, ligamentos e tendões. Esses tecidos têm poucas células (fibroblastos), proporções relativamente baixas a moderadas de proteoglicano e elastina e uma abundância de fibras colágenas tipo I. Como a maioria dos tecidos conjuntivos periarticulares, ligamentos, tendões e cápsulas possuem um suprimento sanguíneo limitado; portanto, têm um metabolismo relativamente baixo. Quando fisicamente sobrecarregado ou sob estresse, no entanto, o metabolismo desses tecidos pode aumentar, muitas vezes como um meio de adaptação funcional ao estímulo físico.56,85,100,103 Essa adaptação foi bem documentada em nível histológico nos tendões.54 Acredita-se que uma tensão colocada sobre os fibroblastos na substância fundamental estimule o aumento da síntese de colágeno e GAG, os quais podem alterar a estrutura do tecido e desse modo modificar suas propriedades materiais, como rigidez ou ponto de falha.3,40,57,105 Os tecidos conjuntivos densos têm sido classicamente descritos em dois subtipos, modeladose não modelados, com base na orientação das fibras colágenas.91,92 A camada fibrosa da cápsula articular é considerada tecido conjuntivo denso não modelado por causa da orientação irregular e frequentemente desordenada das fibras colágenas dentro da sua substância fundamental. Esse tipo de tecido é adequado para resistir a forças tensoras de múltiplas direções, como o que é exigido pela natureza espiralada da cápsula articular na região glenoumeral ou na articulação do quadril. Ligamentos e tendões são considerados tecido conjuntivo denso modelado devido à disposição mais ordenada e quase paralela de suas fibras colágenas. As fibras colágenas na maioria dos ligamentos funcionam mais eficazmente quando estão estiradas quase em paralelo ao eixo longo do ligamento. Após a tração inicial, os tecidos fornecem tensão imediata que restringe o movimento indesejável entre os ósseos. Quando trauma, distensão excessiva ou doença produzem frouxidão em cápsulas articulares ou ligamentos, os músculos assumem um papel mais dominante na retenção do movimento articular. Mas, mesmo que os músculos circunjacentes a uma articulação com estruturas de suporte frouxas sejam fortes, ainda existe a possível perda de estabilidade articular. Comparados com os ligamentos, os músculos são mais lentos para fornecer resistência devido ao tempo de reação e ao atraso eletromecânico necessário para construir a força ativa. Além disso, as forças musculares têm frequentemente um alinhamento inferior ao ideal para restringir os movimentos articulares indesejáveis e, portanto, nem sempre fornecem a melhor força estabilizadora. Os tendões são projetados para transferir grandes cargas de tensão entre um músculo ativo e o osso no qual ele se insere. As fibras colágenas tipo I dentro dos tendões proporcionam alta resistência à tensão, desde que estejam totalmente alongadas. A Figura 2.15 ilustra uma imagem microscópica de um tendão (T) enquanto ele se insere no osso (B). Observe-se o arranjo quase paralelo das fibras colágenas, muitas das quais estão se misturando com o colágeno do periósteo. Algumas fibras colágenas podem ser vistas estendendo-se mais profundamente no material ósseo, muitas vezes referidas como fibras de Sharpey (FS). FIGURA 2.15 Imagem de microscopia óptica das fibras colágenas de um tendão (T) misturando-se com o colágeno do periósteo de um osso (transição de rosa para azul). Observem-se as fibras colágenas mais profundas conhecidas como fibras de Sharpey (FS) estendendo-se profundamente para dentro do tecido ósseo (O) (Coloração hematoxilina-eosina; 280x) (De Young B, Lowe JS, Stevens A, et al: Wheater’s functional histology: a text and colour atlas, ed. 6, London, 2014, Churchill Livingstone.) Apesar de estruturalmente fortes, os tendões submetem-se a quantidades de alongamento variável quando sujeitos a uma elevada força de tração. O tendão de aquiles humano, por exemplo, alonga-se até 8% de seu comprimento em repouso após uma contração máxima do músculo tríceps sural.53 Essa propriedade elástica fornece um mecanismo para armazenar e liberar energia durante a caminhada ou o salto.43,48,49 A propriedade também permite ao tendão de aquiles tanto dissipar parcialmente a força de tração grande quanto rapidamente gerar a força de tração, o que pode oferecer alguma proteção contra lesões.54 Cartilagem Articular A cartilagem articular é um tipo especializado de cartilagem hialina que forma a superfície de suporte de carga das articulações. A cobertura de cartilagem articular nas superfícies ósseas que se articulam tem uma espessura que varia de 1 a 4 mm em áreas de baixa compressão e de 5 a 7 mm em áreas de alta compressão.44 O tecido tem sido classificado há muito tempo como avascular e aneural, embora pesquisas recentes sugiram que os componentes da cartilagem contêm terminações nervosas limitadas.93,94 Ao contrário da maioria das cartilagens hialinas no corpo inteiro, a cartilagem articular não possui um pericôndrio. Essa modificação permite que as superfícies opostas de cartilagem formem superfícies de suporte de carga ideais. Semelhante ao periósteo no osso, o pericôndrio é uma camada de tecido conjuntivo que recobre a maioria das cartilagens. O pericôndrio contém vasos sanguíneos e um suprimento pronto de células condrogênicas que mantêm e reparam o tecido subjacente. Essa é uma vantagem não disponível para a cartilagem articular. Os condrócitos de várias formas estão localizados dentro da substância fundamental em diferentes camadas ou zonas de cartilagem articular (Fig. 2.16A). Essas células são banhadas e nutridas por nutrientes contidos no líquido sinovial. A nutrição é facilitada pela ação de “bombeamento” da deformação da superfície articular durante a sobrecarga articular intermitente. Os condrócitos estão rodeados predominantemente por fibras colágenas tipo II. Essas fibras são dispostas para formar uma rede de retenção ou “andaimes” que adicionam estabilidade estrutural ao tecido (Fig. 2.16B).71 As fibras mais profundas da zona calcificada estão firmemente ancoradas ao osso subcondral. Essas fibras estão ligadas às fibras orientadas verticalmente na zona profunda adjacente, que por sua vez estão ligadas às fibras orientadas obliquamente na zona média e finalmente às fibras orientadas transversalmente na zona tangencial superficial. As séries de fibras interligadas quimicamente formam uma estrutura fibrosa semelhante a uma rede que aprisiona os grandes complexos proteoglicanos abaixo da superfície articular. As grandes quantidades de proteoglicanos, por sua vez, atraem água, o que fornece um elemento único de rigidez à cartilagem articular. A rigidez aumenta a capacidade da cartilagem para suportar adequadamente as cargas. FIGURA 2.16 Duas descrições altamente diagramáticas da cartilagem articular. (A) A distribuição das células (condrócitos) é mostrada em toda a substância fundamental da cartilagem articular. Os condrócitos achatados próximos à superfície articular estão dentro da zona tangencial superficial (ZTS) e estão orientados paralelamente à superfície articular. A ZTS compreende cerca de 10% a 20% da espessura da cartilagem articular. As células são mais arredondadas na zona média e zona profunda. Uma região de cartilagem calcificada (zona calcificada) une a zona profunda ao osso subcondral subjacente. A borda da zona calcificada que é contígua à zona profunda é conhecida como linha de marca e forma uma barreira de difusão entre a cartilagem articular e o osso subjacente. Os nutrientes e gases devem, portanto, passar do líquido sinovial para todas as camadas da cartilagem articular para nutrir os condrócitos, incluindo aqueles na zona profunda. (B) A organização das fibras colágenas na cartilagem articular é mostrada neste diagrama. Na ZTS, o colágeno é orientado quase paralelo à superfície articular, formando um grão fibroso que ajuda a resistir à abrasão da superfície articular. As fibras tornam-se menos tangenciais e obliquamente orientadas na zona média, finalmente tornando-se quase perpendiculares à superfície articular na zona profunda. As fibras mais profundas estão ancoradas na zona calcificada para ajudar a prender a cartilagem ao osso subcondral subjacente. Complexos de proteoglicano também estão presentes em toda a substância fundamental. A cartilagem articular distribui e dispersa as forças compressivas ao osso subcondral. Também reduz o atrito entre as superfícies articulares. O coeficiente de atrito entre as duas superfícies cobertas por cartilagem articular e lubrificados com o líquido sinovial é extremamente baixo, variando de 0,005 a 0,02 no joelho humano, por exemplo. Este é cinco a 20 vezes menor e mais escorregadio que o gelo no gelo, que tem um coeficiente de atrito de 0,1.63 Portanto, as forças das atividades de suporte de peso usuais são reduzidas para um nível de carga que pode ser absorvido normalmente sem danificar o sistema esquelético. A ausência de um pericôndrio na cartilagem articular tem como consequência negativa a eliminação de uma fonte defibroblastos primitivos utilizados para reparo. Embora a cartilagem articular seja capaz de manter e repor sua matriz, os danos significativos à cartilagem articular do adulto são muitas vezes mal reparados ou não reparados. Como resultado, o osso subcondral perde sua fonte primária de proteção mecânica e torna-se sujeito a um estresse elevado e prejudicial. A combinação de cartilagem articular degenerada ou descoberta e osso subcondral estressado é fator-chave na frequente condição incapacitante adequadamente denominada osteoartrite (descrita mais adiante neste capítulo). Quando severa, dolorosa e descontrolada, os componentes articulares da artrite ou de outro dano articular podem ser substituídos por cirurgia artroplástica (artroplastia provém dos radicais gregos artro “articulação” e plastia “formado ou moldado”). As reposições totais das articulações substituem tanto o componente côncavo como o convexo na articulação. Uma das articulações que mais comumente se submetem à artroplastia total é o quadril. Os materiais variam, mas normalmente envolvem alguma combinação de cerâmica, liga metálica e polietileno (plástico).82 Fibrocartilagem Como o próprio nome indica, a fibrocartilagem é uma mistura de tecido conjuntivo denso e cartilagem articular (Fig. 2.17). Como tal, fornece resistência e amortecimento à cartilagem articular e força de tração aos ligamentos e tendões. Há feixes densos de colágeno tipo I juntamente com quantidades moderadas de proteoglicanos. Dependendo do tecido, a fibrocartilagem tem variação no número de condrócitos e fibroblastos, localizados dentro de uma rede densa e muitas vezes multidirecional de colágeno.39 FIGURA 2.17 Fotografia de uma imagem microscópica óptica da fibrocartilagem (Coloração hematoxilina-eosina e Alcian blue; 320x). Notem-se as camadas alternadas de matriz de cartilagem hialina e fibras colágenas espessas. Essas camadas são orientadas na direção do estresse imposto sobre os tecidos. Observe-se o par de condrócitos (C) localizados entre uma camada de colágeno e cartilagem hialina. (De Young B, Lowe JS, Stevens A, et al: Wheater’s functional histology: a text and colour atlas, ed 6, London, 2014, Churchill Livingstone.) A fibrocartilagem forma grande parte da substância dos discos intervertebrais, dos lábios periféricos associados à articulação do quadril e do ombro e dos discos localizados dentro da sínfise púbica, da articulação temporomandibular e de algumas articulações das extremidades (p. ex., os meniscos do joelho). Essas estruturas ajudam a apoiar e estabilizar as articulações, guiam artrocinemáticas complexas e ajudam a dissipar forças. A fibrocartilagem também é encontrada em alguns ligamentos e tendões, especialmente no ponto de inserção no osso.91,109 As fibras colágenas densas e entrelaçadas da fibrocartilagem permitem que o tecido resista multidirecionalmente a forças de tração, cisalhamento e compressão. A fibrocartilagem é, portanto, um tecido ideal para dissipar cargas. Como a cartilagem articular, a fibrocartilagem normalmente não tem pericôndrio.25,39 A fibrocartilagem também é amplamente aneural. Por conseguinte, a cartilagem articular e a fibrocartilagem não produzem dor nem participam na propriocepção, embora alguns receptores neurais possam ser encontrados na periferia onde a fibrocartilagem é contígua a um ligamento ou cápsula articular. A maioria dos tecidos fibrocartilaginosos tem um suprimento sanguíneo limitado e é amplamente dependente da difusão de nutrientes a partir do líquido sinovial ou dos vasos sanguíneos adjacentes. A difusão de nutrientes e a remoção de resíduos metabólicos na maioria dos discos fibrocartilaginosos são auxiliadas pela ação de “bombeamento” da sustentação de peso intermitente. Esse princípio é facilmente perceptível nos discos intervertebrais adultos que são insuficientemente nutridos quando a espinha é mantida em posturas fixas por períodos prolongados. Sem uma nutrição adequada, os discos podem degenerar parcialmente e perder parte de sua função protetora.6,77 Um suprimento sanguíneo direto penetra na borda externa de algumas estruturas fibrocartilaginosas onde elas se ligam a cápsulas articulares ou ligamentos, como os meniscos no joelho ou os discos intervertebrais. Nas articulações de adultos, pode ocorrer algum reparo da fibrocartilagem danificada próximo à periferia vascularizada, como no terço externo dos meniscos do joelho e nas lamelas das regiões mais externas dos discos intervertebrais. As regiões mais internas das estruturas da fibrocartilagem, como na cartilagem articular, demonstram uma má ou nenhuma regeneração como resultado da falta de uma fonte pronta de fibroblastos indiferenciados.10,68,91 Enfoque especial 2.1 Breve Visão Geral da Inervação Sensorial das Articulações A propriocepção articular é a capacidade de sentir a posição estática ou dinâmica de uma articulação ou membro. Essa consciência sensorial, que é essencial ao movimento normal, é dependente de fibras nervosas sensitivas incorporadas na pele, nos músculos e nos tecidos conjuntivos periarticulares. Os sensores, ou receptores articulares “aferentes” associados a um conjunto particular de fibras nervosas, são muitas vezes referidos como mecanorreceptores com base na sua capacidade de responder a estímulos mecânicos, como estiramento ou toque. Quatro tipos primários de mecanorreceptores foram descritos no contexto da inervação articular (Tabela 2.3).23,29,81,107 Outros mecanorreceptores também foram descritos, como discos de Merkel e corpúsculos de Meissner. Os discos Merkel são encontrados na pele e nos folículos p pilosos e respondem à pressão além de transmitirem informações sobre textura e forma de um objeto. Os corpúsculos de Meissner são encontrados na pele e detectam movimento através da pele (muitas vezes referido como toque leve).111 Os discos de Merkel e os corpúsculos de Meissner podem fornecer informações indiretas em relação à posição da articulação com o movimento da pele ou dos pelos ao redor de uma articulação; entretanto, estes não são comumente incluídos como as principais terminações específicas para propriocepção articular. Existem evidências conflitantes nas maneiras de classificar os mecanorreceptores em geral e também na forma como cada um deles contribui para a propriocepção da articulação.21,29,66,79 Os avanços em técnicas de coloração de tecidos, especificamente na análise imuno-histoquímica, contudo, permitiram uma identificação mais específica dos tecidos nervosos no corpo humano — algo que antes era difícil por conta das técnicas que não tinham a capacidade de diferenciar fibras nervosas, fibras reticulares e componentes vasculares. Isso permitiu uma maior apreciação da distribuição e da importância relativa dos mecanorreceptores dentro das articulações.81 Por exemplo, os ligamentos com poucos mecanorreceptores provavelmente têm um papel maior na estabilização da articulação, enquanto aqueles com um maior número de mecanorreceptores provavelmente contribuem em maior grau para a propriocepção. Embora ainda seja necessária uma pesquisa mais detalhada, a inervação articular e o seu papel na propriocepção podem vir a ser uma consideração valiosa na prevenção e no tratamento de lesão ou instabilidade ligamentar.61 Tabela 2.3 Resumo da Nomenclatura e Informações Básicas para Receptores Sensoriais Articulares Selecionados Tipo de Receptor* Nome Localização Caracterí sticas Função Tipo I/Ruffini Cápsula articular fibrosa, especialmente camadas superficiais Adaptação lenta, limiar baixo Fornece feedback sobre a posição estática da articulação e aceleração da articulação; sensível à força de tração Tipo II/Pacini Cápsula articular fibrosa, especialmente suas camadas mais profundas e coxins adiposos articulares Adaptação rápida, limiar baixo Fornece feedback sobre a aceleração da articulação; sensível à força de compressão Tipo III/ órgão tendinos o de Golgi Ligamentos Adaptação lenta, limiar alto Ativo nos extremos do movimento articular; fornece feedback sobre a deformaçãodo tecido Tipo IV/termi nações nervosas livres Ligamentos capsulares, coxins adiposos, tecidos conjuntivos intramusculares Limiar alto Sinal de presença de estímulo nocivo, químico, mecânico e inflamatório * Observe-se que o tipo de receptor, quando originalmente desenvolvido, foi fundamentado principalmente no que então foi chamado de ”esquema estrutura- atividade“.107 Este sistema de nomenclatura é distinto do esquema de classificação frequentemente usado para outros receptores de nervos sensoriais, como para o músculo (Cap. 3), que é baseado somente no diâmetro das fibras nervosas. Osso O osso é um tecido conjuntivo especializado, que compartilha várias características histológicas fundamentais com outros tecidos conjuntivos periarticulares. O tecido ósseo é composto por colágeno de tipo I altamente intercruzado, células (como os osteoblastos) e uma substância fundamental rica em sais minerais. Os proteoglicanos da substância fundamental contêm glicoproteínas (como a osteocalcina) que se ligam fortemente aos sais minerais ricos em cálcio e fósforo — hidroxiapatita de cálcio (Ca10[PO4]6[OH]2).109 O osso dá suporte rígido ao corpo e fornece aos músculos um sistema de alavancas. O córtex externo dos ossos longos do esqueleto adulto tem uma diáfise composta por osso compacto espesso (Fig. 2.18). As extremidades dos ossos longos, no entanto, são formadas por uma fina camada de osso compacto que envolve uma rede de osso esponjoso. Os ossos do esqueleto axial adulto, como o corpo da vértebra, possuem uma camada externa de osso compacto relativamente espessa preenchida com um núcleo de suporte de osso esponjoso. Conforme descrito anteriormente, a cartilagem articular recobre as superfícies articulares diartrodiais de todos os ossos em todo o sistema musculoesquelético. FIGURA 2.18 Corte frontal mostrando a arquitetura interna do fêmur. Observem-se as áreas mais espessas de osso compacto ao redor da diáfise e osso esponjoso em forma de treliça que ocupam a maior parte da região medular. (De Neumann DA: An arthritis home study course: the synovial joint: anatomy, function, and dysfunction, LaCrosse, WI, 1998, Orthopedic Section of the American Physical Therapy Association). A subunidade estrutural do osso compacto é o osteon (sistema de Havers), que organiza as fibras colágenas e a substância fundamental mineralizada em uma única série de espirais concêntricas que forma lamelas (Fig. 2.19).91,109 Essa infraestrutura, que se torna rígida pelos cristais de fosfato de cálcio, permite que o osso aceite enormes cargas compressivas. Os osteoblastos ficam, enfim, cercados pela substância fundamental produzida por eles mesmos e tornam-se confinados dentro de lacunas estreitas (isto é, espaços) posicionadas entre as lamelas do osteon.71 (Os osteoblastos confinados são tecnicamente referidos como osteócitos). Como o osso se deforma muito pouco, os vasos sanguíneos (e algumas fibras nervosas sensoriais) podem passar para dentro de sua substância a partir da superfície periosteal externa e endosteal interna. Os vasos sanguíneos podem então curvar-se para percorrer o eixo longo do osso em um túnel no centro do canal de Havers (Fig. 2.19). Esse sistema permite que uma fonte rica de sangue alcance as células profundas dentro do córtex. Além disso, o tecido conjuntivo que forma o periósteo e o endósteo do osso também é ricamente vascularizado, bem como inervado com receptores sensoriais para pressão e dor. FIGURA 2.19 Ultraestrutura do osso compacto. Observem-se as lamelas concêntricas que compõem um único osteon (sistema de Havers). (De Ovalle WK, Nahirney PC: Netter’s essential histology, Philadelphia, 2008, Saunders). O osso é um tecido muito dinâmico. Os osteoblastos sintetizam constantemente a substância fundamental e o colágeno, bem como orquestram a deposição de sais minerais. A remodelação ocorre em resposta a forças aplicadas mediante a atividade física e em resposta às influências hormonais que regulam o equilíbrio sistêmico do cálcio. A remoção em larga escala do osso é realizada pelos osteoclastos — células especializadas que se originam da medula óssea. Os fibroblastos primitivos essenciais para o reparo do osso fraturado originam-se do periósteo e endósteo e dos tecidos perivasculares presentes nos canais vasculares ósseos. Dentre todos os tecidos envolvidos nas articulações, o osso tem a melhor capacidade para remodelação, reparação e regeneração. O osso demonstra sua maior força quando comprimido ao longo do eixo longo de sua diáfise sobrecarregando os sistemas de Havers longitudinalmente, o que é comparável à compressão de uma palha ao longo de seu eixo. As extremidades dos ossos longos recebem forças compressivas multidirecionais através das superfícies de suporte de peso da cartilagem articular. Os estresses são dissipados para o osso subcondral subjacente e então para a rede de osso esponjoso, que por sua vez atua como uma série de apoios para redirecionar as forças no eixo longo do osso (compacto da diáfise). Este arranjo estrutural redireciona as forças para absorção e transmissão, aproveitando os recursos de um modelo arquitetônico único. Em resumo, em contraste com os tecidos conjuntivos periarticulares, o osso tem um rico suprimento sanguíneo associado a um metabolismo muito dinâmico. Isso permite que o osso possa ser remodelado constantemente em resposta ao estresse físico. Um rico suprimento sanguíneo também proporciona ao osso um bom potencial para regeneração após fraturas. Enfoque especial 2.2 Lei de Wolff O osso é um tecido muito dinâmico, que altera constantemente sua forma, força e densidade em resposta a forças externas.12,24,76 Esse conceito geral é frequentemente referido como lei de Wolff, assim nomeado após os trabalhos e os ensinamentos de Julius Wolff (1839- 1902), um anatomista e cirurgião ortopédico alemão. Em tradução livre, a lei de Wolff afirma que ”o osso é depositado em áreas de alto estresse e reabsorvido em áreas de baixo estresse”. Esse simples axioma tem muitas aplicações clínicas. Um disco intervertebral deteriorado e desidratado, por exemplo, pode não ser capaz de proteger do estresse o osso subjacente. De acordo com a lei de Wolff, o osso responde ao estresse sintetizando mais osso. Os “esporões” ósseos ou osteófitos podem se formar se a resposta for excessiva. Ocasionalmente, os osteófitos podem bloquear o movimento ou comprimir uma raiz nervosa adjacente, causando dor na extremidade correspondente ou fraqueza nos músculos associados. A lei de Wolff também pode explicar a perda óssea e a redução de resistência após falta crônica de carga. Por exemplo, a densidade mineral óssea em pessoas com lesão medular diminui rapidamente, provavelmente causada pela ausência de carga decorrente da paralisia.19,20,59 A densidade óssea reduzida no indivíduo com lesão medular pode gerar um maior risco de fratura óssea. As fraturas não são incomuns e ocorrem a partir de um trauma como a queda de uma cadeira de rodas, durante as atividades diárias, como a realização de exercícios de amplitude de movimento da parte superior do corpo em direção às extremidades inferiores, ou durante uma transferência assistida entre a banheira e uma cadeira. Pesquisadores demonstraram que a perda óssea após lesão medular pode ser reduzida pelo uso apropriado de estimulação elétrica nos músculos dos membros paralisados.87 As forças produzidas pelo músculo estimulado são transferidas através do osso. Embora nem sempre seja prático, na teoria a aplicação regular e adequada da estimulação elétrica em músculos paralisados pode ajudar a prevenir a ocorrência de fraturas em indivíduos com paralisia crônica após lesão da medula espinal. Pesquisas adicionais são necessárias para determinar a viabilidade e os benefícios a longo prazo do uso da estimulação elétrica como parte regular da reabilitação para indivíduos com lesão na medula espinal.86 Alguns efeitos da imobilização sobre a resistência do tecido conjuntivo periarticular e do osso A quantidade e o arranjo das proteínasfibrosas, substância fundamental e água que constituem os tecidos conjuntivos periarticulares são influenciados pela atividade física.12,38,45,104 Em um nível normal de atividade física, a composição dos tecidos é tipicamente forte o suficiente para resistir adequadamente à variação natural de forças impostas ao sistema musculoesquelético. Uma articulação imobilizada por um período prolongado demonstra mudanças acentuadas na estrutura e na função de seus tecidos conjuntivos associados. A força mecânica do tecido é reduzida de acordo com a diminuição das forças da condição imobilizada. Essa é uma resposta normal a uma condição anormal. A colocação de uma parte do corpo em um gesso e o confinamento de um indivíduo em uma cama são exemplos em que a imobilização reduz drasticamente o nível de força imposto sobre o sistema musculoesquelético. Embora por diferentes razões, a paralisia ou a fraqueza muscular também reduzem a força sobre o sistema musculoesquelético. A taxa de declínio de força do tecido conjuntivo periarticular é um tanto dependente da atividade metabólica normal do tecido específico.8,54 A imobilização crônica produz grande diminuição da força tensora dos ligamentos do joelho em um período de semanas.67,104 Os primeiros marcadores bioquímicos dessa remodelação podem ser detectados dentro de dias após a imobilização.32,64 Mesmo depois do término da imobilização e após a conclusão de um programa prolongado de exercício pós- imobilização, os ligamentos continuam a ter uma menor força de tração do que os ligamentos nunca sujeitos a imobilização.32,104 Outros tecidos, como o osso e a cartilagem articular, também mostram perda de massa, volume e força após a imobilização.12,28,41,42 Os resultados de estudos experimentais sugerem que os tecidos perdem rapidamente a força em resposta a redução de carga. A recuperação completa da força após o restabelecimento da carga é mais lenta e muitas vezes incompleta. A imobilização de uma articulação por um período prolongado é frequentemente necessária para limitar a dor e promover a regeneração após uma lesão, como em um osso fraturado. O julgamento clínico é necessário para equilibrar os possíveis efeitos negativos da imobilização com a necessidade de recuperação. A manutenção da força tecidual máxima ao redor das articulações requer um uso criterioso da imobilização, um rápido retorno à sustentação de carga e uma intervenção precoce no processo de reabilitação. Breve visão geral das patologias articulares O trauma dos tecidos conjuntivos periarticulares pode ocorrer por um único evento avassalador (trauma agudo) ou em resposta a um acúmulo de lesões menores durante um período prolongado (trauma crônico). O trauma agudo geralmente produz uma patologia detectável. Um ligamento ou uma cápsula articular rompida ou severamente estirada causa uma reação inflamatória aguda, que envolve uma cascata de mediadores inflamatórios previsíveis. Todo esse processo depende fortemente de uma comunicação intercelular apropriada, algo que é realizado através de uma rede de moléculas de sinalização celular conhecidas como citocinas.11 As citocinas têm implicações importantes tanto na dor quanto no exercício. Além do seu papel de promover e manter a inflamação, essas moléculas de sinalização celular contribuem para processos de dor inflamatória por meio da sua ação sobre as fibras de dor. Isso é muito importante, já que envolve citocinas pró-inflamatórias na produção e preservação da dor articular em condições como a artrite,84 uma observação que pode, em última instância, inspirar o tratamento médico e farmacológico para essa condição. Curiosamente, além de seus papéis na inflamação e na dor, verificou-se que os níveis de citocinas oscilam em função do exercício. Algumas publicações descrevem-nas como citocinas anti-inflamatórias, sugerindo seu papel na limitação dos níveis inflamatórios durante o exercício. Além disso, a pesquisa atual sugere que os componentes da prescrição do exercício — ou seja, intensidade, duração e modo — são talvez mais influentes no direcionamento dos níveis de citocinas do que nos danos musculares induzidos por exercício e cascata inflamatória resultante, em si.22,35,74,75 Uma maior compreensão dessas citocinas anti-inflamatórias pode revelar-se útil na otimização da prescrição de exercício, especialmente nas fases pós-operatórias da reabilitação. Uma articulação pode tornar-se estruturalmente instável quando os tecidos conjuntivos periarticulares lesionados não são capazes de conter o movimento natural mais extremo. As articulações mais frequentemente afetadas pela instabilidade traumática aguda são tipicamente associadas ao braço de momento externo mais longo do esqueleto e, portanto, estão expostas a torques externos elevados. Por essa razão, as articulações tibiofemoral, talocrural e glenoumeral estão frequentemente sujeitas a lesão aguda de ligamentos com instabilidade resultante. Enfoque especial 2.3 Osteocondrite Dissecante: Um Exemplo de Trauma Intra- articular A osteocondrite dissecante é um exemplo de lesão intra-articular que envolve fratura através da cartilagem articular e do osso subcondral (Fig. 2.20). A osteocondrite dissecante não é uma doença, mas uma condição em que a cartilagem articular e o osso subcondral se destacam da superfície da articulação. A fonte de predisposição de certos indivíduos para esta condição não é bem compreendida, mas pensa-se ser um resultado de trauma repetitivo ou ocorrer como uma resposta secundária a uma lesão articular, especialmente no cenário de um fluxo sanguíneo insuficiente durante o processo de regeneração.69,110 Ocorre mais frequentemente em adolescentes masculinos e — como em muitas lesões articulares precoces na vida — tem sido correlacionada com o desenvolvimento de osteoartrite pós-traumática, seja decorrente de um ambiente biomecânico desfavorável, seja causada por uma regeneração articular alterada.33,34,73 O diagnóstico precoce da osteocondrite dissecante é fundamental para a otimização da regeneração e para a esperança de evitar a osteoartrite pós-traumática. As opções de tratamento incluem cuidados conservadores (incluindo a imobilização e a modificação da atividade) e intervenção cirúrgica, dependendo da maturidade esquelética individual e da estabilidade da lesão.108 FIGURA 2.20 Imagem de secção coronal de ressonância magnética na sequência T2 de um joelho esquerdo com osteocondrite dissecante. O branco brilhante na porção medial da articulação do joelho mostra o descolamento de cartilagem articular e osso subcondral na parte superior da superfície da articulação tibiofemoral. O trauma agudo também pode resultar em fraturas intra-articulares envolvendo cartilagem articular e osso subcondral. A redução cuidadosa ou o realinhamento dos fragmentos fraturados ajudam a restaurar a congruência à articulação e, assim, facilitar a suave e baixa fricção das funções de deslizamento das superfícies articulares. Isso é crítico para a recuperação máxima da função. Embora o osso adjacente a uma articulação tenha excelente capacidade de recuperação, o reparo da cartilagem articular fraturada é muitas vezes incompleto e produz áreas mecanicamente inferiores de superfície articular que são propensas a degeneração. A fim de maximizar a recuperação após lesão, várias técnicas médicas têm sido implementadas, incluindo a microfratura, o enxerto osteocondral (mosaicoplastia) e a condroplastia de abrasão. Nas duas últimas décadas, assiste-se ao advento de novas e discutivelmente mais eficazes técnicas restauradoras de cartilagem por implantação de condrócitos autólogos, implantação de células-tronco mesenquimais e transplante de condrócitos autólogos induzidos por matriz.14 Estão sendo feitos esforços para estabelecer as intervenções ótimas para a restauração da cartilagem, porque a resistência inadequada da cartilagem articular em conjunto com o aumento do estresse causado por um mau alinhamento das superfícies pode levar a condições crônicas, como a osteoartrite pós- traumática.2A reparação de estruturas articulares fibrocartilaginosas danificadas depende da proximidade e adequação do suprimento sanguíneo. Um rompimento da região mais externa do menisco do joelho adjacente aos vasos sanguíneos de dentro da cápsula articular pode ser completamente curado.83 Em contraste, os rompimentos na circunferência mais interna do menisco geralmente não se curam. Este é também o caso nas lamelas internas do disco intervertebral adulto, que não têm capacidade de recuperação após dano significativo.6,26,27 O trauma crônico é frequentemente classificado como um tipo de “síndrome dos movimentos repetitivos” e reflete um acúmulo de lesões não reparadas e relativamente pequenas. As cápsulas articulares e os ligamentos cronicamente danificados perdem gradualmente suas funções de retenção, embora a instabilidade da articulação possa ser mascarada por uma retenção muscular substituta. Neste caso, as forças articulares podem ser aumentadas devido a uma “proteção” muscular exagerada da articulação. A instabilidade torna-se aparente somente quando a articulação é desafiada de repente ou forçada por um movimento extremo. A instabilidade recorrente pode causar condições anormais de cargas sobre os tecidos articulares, o que pode levar a falha mecânica. As superfícies da cartilagem articular e da fibrocartilagem podem tornar-se fragmentadas, com perda concomitante de proteoglicanos e subsequente resistência diminuída para forças compressivas e de cisalhamento.17 Nas fases iniciais da degeneração, muitas vezes se observa uma superfície articular áspera ou “fibrilada”.4 Uma região fibrilada de cartilagem articular pode desenvolver rachaduras ou fissuras que se estendem a partir da superfície dentro das camadas médias e mais profundas do tecido. Essas alterações reduzem a qualidade de absorção de choque do tecido. Duas doenças que comumente causam disfunção articular são a osteoartrite (OA) e a artrite reumatoide (AR). A osteoartrite é caracterizada por uma erosão gradual da cartilagem articular com baixo componente inflamatório.9,31,34 Alguns médicos e pesquisadores referem-se à OA como “osteoartrose” para enfatizar a falta de um componente inflamatório distintivo.15 À medida que a erosão da cartilagem articular progride, o osso subcondral subjacente torna-se mais mineralizado e, em casos graves, torna-se a superfície de suporte de peso quando a cartilagem articular está completamente desgastada.73 Curiosamente, a relação entre o grau de degeneração da cartilagem articular e os níveis de dor relatados pelo paciente não foi bem estabelecida. À medida que a doença progride, a cápsula articular fibrosa e a membrana sinovial tornam-se distendidas e espessadas.50 A articulação gravemente comprometida pode ser completamente instável e deslocar-se ou pode fundir-se, não permitindo nenhum movimento. A frequência de OA aumenta com a idade e a doença tem várias manifestações.16 A OA idiopática ocorre na ausência de uma causa específica; ela afeta apenas uma ou algumas articulações, particularmente aquelas que são submetidas às cargas mais pesadas: quadril, joelho e coluna lombar. A OA familiar ou OA generalizada afeta as articulações da mão e é mais frequente em mulheres. A OA pós--traumática pode afetar qualquer articulação sinovial que tenha sido exposta a um trauma de gravidade suficiente. A artrite reumatoide difere marcadamente da OA porque é uma doença sistêmica, autoimune, do tecido conjuntivo com um forte componente inflamatório. Um diagnóstico preciso dessa doença está associado a envolvimento articular, resultados sorológicos e duração do sintoma, com o acometimento de múltiplas articulações como uma característica proeminente da AR.1 A disfunção articular manifesta-se por inflamação significativa da cápsula articular, membrana sinovial e líquido sinovial. A cartilagem articular é exposta a um processo enzimático que pode erodir rapidamente a superfície articular. A cápsula articular é distendida por inchaço recorrente e inflamação, muitas vezes causando instabilidade articular e dor acentuadas. Curiosamente, os níveis de fator de ativação das células B, um mediador de citocina, encontraram-se elevados na AR e em outras doenças autoimunes, influenciando as respostas imunes e oscilando com o nível de atividade da doença. Isso sugere possíveis aplicações de fatores agonistas de ativação de células B no tratamento farmacológico da AR; contudo, são necessárias mais pesquisas.101 Breve olhar sobre alguns efeitos do envelhecimento avançado no tecido conjuntivo periarticular e no osso O alcance de uma idade avançada está associado a mudanças histológicas nos tecidos conjuntivos periarticulares e ossos que, por sua vez, podem produzir alterações mecânicas na função articular.51,58 Muitas vezes não é possível distinguir em humanos os efeitos do envelhecimento dos efeitos da atividade física reduzida ou imobilização. Além disso, em um nível fundamental, os efeitos fisiológicos de todas as três variáveis são notavelmente semelhantes. A taxa e o processo pelo qual o tecido envelhece são altamente individualizados e podem ser modificados, positiva ou negativamente, pelo tipo e pela frequência de atividades e por um conjunto de fatores médicos, hormonais, genéticos e nutricionais.5,8,12,51 No sentido mais amplo, o envelhecimento é acompanhado por uma lentidão da taxa de substituição e reparo das proteínas fibrosas e de proteoglicanos em todos os tecidos conjuntivos periarticulares e ossos.5,46,55,89 Os tecidos, portanto, perdem sua capacidade de restringir e dispersar otimamente as forças produzidas na articulação. Os efeitos do microtrauma ao longo dos anos podem se acumular e produzir danos subclínicos que podem evoluir para uma falha estrutural ou uma mudança mensurável nas propriedades mecânicas. Um exemplo clínico deste fenômeno é a deterioração relacionada com a idade dos ligamentos e da cápsula articular associada à articulação glenoumeral. O suporte estrutural reduzido fornecido por esses tecidos pode eventualmente culminar em tendinite ou rompimentos nos músculos do manguito rotador. As moléculas de glicosaminoglicano (GAG) produzidas pelas células envelhecidas nos tecidos conjuntivos são menores em tamanho e em quantidade do que as produzidas por células jovens.18,46,65,78,90 Esta concentração reduzida de GAG (e, portanto, proteoglicanos) reduz a capacidade da matriz extracelular de se ligar à água. Mais especificamente, um menor conteúdo de proteoglicano reduz a capacidade central de atrair e reter água, limitando assim a capacidade de absorver e transferir cargas eficazmente do tecido conjuntivo.13 A cartilagem articular envelhecida, por exemplo, contém menos água e é menos capaz de atenuar e distribuir forças impostas ao osso subcondral. A cartilagem articular desidratada, portanto, pode servir como precursor para a osteoartrite.16,36,51 As fibras colágenas dentro de ligamentos mal hidratados carecem da capacidade de deslizar uma sobre a outra com facilidade. Como resultado, as fibras dentro dos ligamentos não se alinham com as forças impostas tão prontamente, dificultando a capacidade do tecido para resistir a uma força rapidamente aplicada. A probabilidade de formação de aderências entre planos de tecidos previamente móveis é aumentada, promovendo restrições na amplitude de movimento em articulações envelhecidas.7,95,96 Curiosamente, os tendões mostraram-se menos rígidos com o envelhecimento e com a redução crônica de sustentação de carga.52,70 Um aumento significativo da complacência, portanto, pode reduzir a eficiência mecânica e a velocidade de transferência da força muscular para o osso. Como consequência, os músculos podem ser menos capazes de estabilizar otimamente uma articulação. O osso torna-se mais fraco com o envelhecimento, em parte por causa da atividade osteoblástica diminuída e uma possível diferenciação reduzida das células-tronco da medula óssea.12,47,72 A alteração relacionada ao envelhecimento do metabolismo do tecido conjuntivo no osso contribui para uma regeneraçãomais lenta das fraturas. O metabolismo alterado também contribui para a osteoporose em pessoas com idade avançada — a osteoporose resulta em osso trabecular e compacto mais delgado em indivíduos de ambos os sexos. Felizmente, muitos dos efeitos fisiológicos potencialmente negativos do envelhecimento dos tecidos conjuntivos periarticulares e do osso podem ser reduzidos, até certo ponto, por meio da atividade física e do treinamento de resistência.* Essas respostas servem de base para muitos dos princípios da reabilitação física utilizados no tratamento de indivíduos com idade avançada. Resumo As articulações fornecem a base do movimento musculoesquelético e permitem a estabilidade e a dispersão das forças entre segmentos do corpo. Existem vários esquemas de classificação para categorizar as articulações e permitir uma discussão de suas características mecânicas e cinemáticas. Os movimentos das articulações anatômicas são frequentemente complexos como resultado das formas assimétricas e incongruentes de suas superfícies. O eixo de rotação é muitas vezes estimado para fins de medição clínica, como a goniometria. A função e a resistência das articulações são determinadas pela arquitetura e pelos tipos de tecidos que compõem as articulações. Curiosamente, todos os tecidos conjuntivos periarticulares (e osso) compartilham uma organização histológica fundamentalmente semelhante. Cada tecido contém células, uma substância fundamental ou matriz e proteínas fibrosas. A extensão e a proporção desses componentes variam consideravelmente com base na demanda funcional primária imposta ao tecido. As cápsulas articulares, os ligamentos e os tendões são projetados para resistir à tensão em direções múltiplas ou únicas. A cartilagem articular é extraordinariamente adequada para resistir a compressão e cisalhamento dentro das articulações e, na presença do líquido sinovial, fornece uma interface notavelmente suave para movimento articular. A fibrocartilagem compartilha características funcionais e estruturais dos tecidos conjuntivos densos e da cartilagem articular. Os meniscos fibrocartilaginosos no joelho, por exemplo, resistem a grandes forças de compressão dos grandes músculos circundantes e toleram a tensão de cisalhamento multidirecional criada pela artrocinemática deslizante dentro da articulação. O osso é um tecido conjuntivo altamente especializado, projetado para suportar o corpo e seus membros e para fornecer uma série de alavancas para os músculos para a movimentação do corpo. A capacidade de reparar tecidos articulares danificados está fortemente relacionada à presença de um suprimento sanguíneo direto e à disponibilidade de células progenitoras. A saúde funcional e a longevidade das articulações também são afetadas por idade, carga, imobilização, trauma e doença. Referências 1. Aletaha D, Neogi T, Silman AJ, et al. 2010 Rheumatoid arthritis classification criteria. Arthritis Rheum. 2010;62:2569–2581. 2. Anderson DD, Chubinskaya S, Guilak F, et al. Post-traumatic osteoarthritis: improved understanding and opportunities for early intervention [Review]. J Orthop Res. 2011;29(6):802–809. 3. Arnoczky SP, Lavagnino M, Whallon JH, et al. In situ cell nucleus deformation in tendons under tensile load: a morphological analysis using confocal laser microscopy. 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Neumann, PT, PhD, FAPTA VISÃO GERAL DO CAPÍTULO MÚSCULO COMO ESTABILIZADOR ESQUELÉTICO: GERAÇÃO DE UMA QUANTIDADE APROPRIADA DE FORÇA COM DETERMINADO COMPRIMENTO Introdução à Organização Estrutural do Músculo Esquelético Morfologia Muscular Arquitetura Muscular Músculo e Tendão: Geração de Força Curva comprimento-tensão passiva Curva comprimento-tensão ativa Soma da força ativa e da tensão passiva: a curva total comprimento- tensão Força Muscular Isométrica: Desenvolvimento da Curva do Torque Interno-Ângulo Articular MÚSCULO COMO MOTOR ESQUELÉTICO: MODULAÇÃO DE FORÇA Força de Modulação Através de Ativação Concêntrica ou Excêntrica: Introdução à Relação Força-Velocidade do Músculo Curva de força-velocidade Potência e trabalho: conceitos adicionais relacionados à relação entre força-velocidade do músculo Ativação do Músculo Através do Sistema Nervoso Recrutamento Codificação de taxa INTRODUÇÃO À ELETROMIOGRAFIA Registro da Eletromiografia Análise e Normalização da Eletromiografia Amplitude Eletromiográfica Durante a Ativação Muscular CAUSAS DA FADIGA MUSCULAR EM PESSOAS SAUDÁVEIS MUDANÇAS NO MÚSCULO COM TREINAMENTO DE FORÇA, USO REDUZIDO E IDADE AVANÇADA Mudanças no Músculo com Treinamento de Força Mudanças Musculares com Uso Reduzido Mudanças Musculares com Idade Avançada RESUMO REFERÊNCIAS A postura estável resulta de um equilíbrio de forças concorrentes. O movimento, em contrapartida, ocorre quando forças concorrentes estão desequilibradas. A força gerada pelos músculos é o principal meio para controlar o complexo equilíbrio entre a postura e o movimento. Este capítulo examina o papel do músculo e do tendão na geração, modulação e transmissão da força; essas funções são necessárias para estabilizar e/ou mover estruturas esqueléticas. Especificamente, este capítulo investiga o seguinte: • Como o músculo estabiliza os ossos gerando uma quantidade de força adequada em um determinado comprimento muscular. Os músculos geram força passivamente (isto é, pela resistência muscular ao alongamento) e, em uma extensão muito maior, ativamente (p.ex., por contração ativa). • As maneiras pelas quais o músculo modula ou controla a força de maneira que os ossos se movam suavemente e com força. O movimento normal é altamente regulado e refinado, independentemente das infinitas restrições do ambiente impostas a uma determinada tarefa. • O uso da eletromiografia (EMG) no estudo da cinesiologia. • Mecanismos básicos de fadiga muscular. • Adaptações do músculo atribuíveis ao treinamento de força, imobilização e idade avançada. A abordagem aqui apresentada possibilita ao estudante de cinesiologia compreender os múltiplos papéis dos músculos no controle das posturas e dos movimentos que são usados em tarefas diárias. Além disso, o médico também tem a informação necessária para formar hipóteses clínicas sobre comprometimentos musculares e adaptações que interferem ou auxiliam em atividades funcionais. Essa compreensão pode levar à aplicação rigorosa de intervenções para melhorar as habilidades funcionais da pessoa. Músculo como estabilizador esquelético: geração de uma quantidade apropriada de força com determinado comprimento Os ossos sustentam o corpo humano à medida que ele interage com o ambiente. Embora muitos tecidos que se ligam ao esqueleto sustentem o corpo, somente o músculo pode adaptar-se tanto a forças externas imediatas (agudas) como a repetidas, de longo prazo (crônicas) que podem desestabilizar o corpo. O tecido muscular é ideal para esta função, pois é acoplado tanto ao ambiente externo como aos mecanismos de controle interno fornecidos pelo sistema nervoso. Sob o controle fino do sistema nervoso, o músculo gera a força necessária para estabilizar as estruturas esqueléticas sob uma variedade de condições surpreendentemente amplas. Por exemplo, o músculo exerce um controle fino para estabilizar os dedos que manipulam um pequeno bisturi durante a cirurgiaocular. Os músculos também geram grandes forças durante os segundos finais de uma tarefa de levantamento de peso dead-lift. Compreender o papel especial do músculo na geração de forças estabilizadoras começa com a introdução da fibra muscular e o sarcômero. Este tópico é seguido pela discussão de como a morfologia muscular e a arquitetura músculo-tendão afetam a gama de forças transferidas para o osso. A função do músculo é explorada em relação à maneira como ele produz tensão passiva se for alongado (ou esticado) ou como ele gera força ativa à medida que é estimulado, ou “ativado”, pelo sistema nervoso. Examina-se então a relação entre força muscular e comprimento e como esta relação influi no torque isométrico gerado em torno de uma articulação. O Quadro 3.1 lista um resumo dos principais conceitos abordados nesta seção. Quadro 3.1 Principais Conceitos: Músculo como Estabilizador Esquelético • Introdução à organização estrutural do músculo esquelético • Tecidos conjuntivos extracelulares dentro do músculo • Morfologia muscular • Arquitetura do músculo: área transversal fisiológica e ângulo de penetração • Curva de comprimento-tensão passiva • Componentes elásticos em paralelo e em série de músculos e tendões • Propriedades elásticas e viscoelásticas do músculo • Curva de comprimento-tensão ativa • Estrutura histológica da fibra muscular • Teoria do filamento deslizante • Curva comprimento-tensão total: soma das forças ativas e passivas • Força isométrica e curva de torque interno-ângulo da articulação • Propriedades mecânicas e fisiológicas que afetam o torque interno- ângulo da articulação Introdução à Organização Estrutural do Músculo Esquelético Músculos inteiros ao longo do corpo, como o bíceps braquial ou o reto femoral, consistem em muitas fibras musculares individuais, que variam em espessura de cerca de 10 a 100 µm e em comprimento de cerca de 1 a 50 cm.142 A relação estrutural entre uma fibra muscular e o ventre muscular é mostrada na Figura 3.1. Cada fibra muscular é na verdade uma célula individual com múltiplos núcleos. A contração ou o encurtamento da fibra muscular individual é, em última análise, responsável pela contração de um músculo inteiro. FIGURA 3.1 Exibem-se os componentes básicos do músculo, do ventre às proteínas contráteis individuais, ou ativas (miofilamentos). Três conjuntos de tecidos conjuntivos também são descritos. (A) O ventre muscular é fechado pelo epimísio; os fascículos individuais (grupos de fibras) estão rodeados pelo perimísio. (B) Cada fibra muscular é circundada pelo endomísio. Cada miofibrila dentro das fibras musculares contém muitos miofilamentos. (C) Estes filamentos consistem em proteínas contráteis actina e miosina. (Modificado de Standring S: Gray’s anatomy: the anatomical basis of clinical practice, ed 41, New York, 2015, Churchill Livingstone.) A unidade fundamental dentro de cada fibra muscular é conhecida como sarcômero. Alinhados em série ao longo de cada fibra, o encurtamento de cada sarcômero gera o encurtamento da fibra. Por esta razão o sarcômero é considerado o gerador de força final no músculo. A estrutura e a função do sarcômero são descritas em mais detalhes mais adiante no capítulo. Por enquanto, é importante entender que o músculo contém proteínas que podem ser consideradas como proteínas contráteis ou não contráteis. Proteínas contráteis dentro do sarcômero, como a actina e a miosina, interagem para encurtar a fibra muscular e gerar uma força ativa. (Por essa razão, as proteínas contráteis são também chamadas de proteínas “ativas”). As proteínas não contráteis, por outro lado, constituem grande parte do citoesqueleto dentro das fibras musculares e da infraestrutura de suporte entre as fibras. Essas proteínas são frequentemente chamadas de “proteínas estruturais” devido ao seu papel no apoio à estrutura das fibras musculares. Embora as proteínas estruturais não criem diretamente contração da fibra muscular, elas ainda desempenham um papel secundário na geração e transmissão da força. Por exemplo, proteínas estruturais como a titina proporcionam tensão na fibra muscular, enquanto a desmina estabiliza o alinhamento de sarcômeros adjacentes.53,59,100,103 Em geral, as proteínas estruturais (1) geram tensão passiva quando esticadas, (2) fornecem suporte interno e externo e alinhamento da fibra muscular e (3) ajudam a transferir as forças ativas ao longo do músculo parental. Esses conceitos são explicados mais detalhadamente nas próximas seções do capítulo. Além das proteínas ativas e estruturais apresentadas no parágrafo anterior, todo o músculo consiste em um conjunto extenso de tecidos conjuntivos extracelulares, compostos principalmente de colágeno e um pouco de elastina.46 Juntamente com as proteínas estruturais, esses tecidos conjuntivos extracelulares são classificados como tecidos não contráteis, que proporcionam suporte estrutural e elasticidade ao músculo. Os tecidos conjuntivos extracelulares são separados em três divisões anatômicas: epimísio, perimísio e endomísio. A Figura 3.1 mostra esses tecidos quando circundam os vários componentes do músculo — do ventre muscular às fibras musculares individuais. O epimísio é uma estrutura resistente que circunda toda a superfície do ventre muscular e separa-a de outros músculos. Em essência, o epimísio dá forma ao ventre muscular. O epimísio contém feixes firmemente entrelaçados de fibras de colágeno que são resistentes ao estiramento. O perimísio está dentro do epimísio e divide o músculo em fascículos (isto é, grupos de fibras) que fornecem um conduto para os vasos sanguíneos e nervos. Esse tecido conjuntivo, assim como o epimísio, é firme, relativamente espesso e resistente ao estiramento. O endomísio envolve fibras musculares isoladas, imediatamente externas ao sarcolema (membrana celular). O endomísio marca a localização da troca metabólica entre fibras musculares e capilares.123 Esse tecido delicado é composto por uma malha relativamente densa de fibras de colágeno que estão parcialmente ligadas ao perimísio. Por meio das conexões laterais a partir da fibra muscular, o endomísio transfere parte da força contrátil do músculo para o tendão. As fibras musculares podem ter comprimento variável, com algumas estendendo-se de tendão a tendão e outras apenas uma fração dessa distância. Os tecidos conjuntivos extracelulares ajudam a interligar fibras musculares isoladas e, portanto, ajudam a transmitir forças contráteis em todo o comprimento do músculo.80 Embora os três conjuntos de tecidos conjuntivos sejam descritos como entidades separadas, eles são entrelaçados como uma banda contínua de tecido. Esse arranjo confere força, suporte e elasticidade ao músculo inteiro. O Quadro 3.2 fornece um resumo das funções dos tecidos conjuntivos extracelulares dentro do músculo. Quadro 3.2 Resumo das Funções de Tecidos Conjuntivos Extracelulares Dentro do Músculo • Conferem uma estrutura macroscópica e forma aos músculos • Servem de canal para vasos sanguíneos e nervos • Geram tensão passiva, principalmente quando o músculo está esticado até seu comprimento quase máximo • Auxiliam o músculo a recuperar a forma após o alongamento • Transmitem a força contrátil para o tendão e finalmente para toda a articulação Morfologia Muscular A morfologia do músculo descreve a forma básica de um músculo inteiro. Os músculos têm muitas formas, as quais influenciam sua função final (Fig. 3.2). Duas das formas mais comuns são os fusiformes e os peniformes (do latim penna, que significa pena). Músculos fusiformes, como o bíceps braquial, têm fibras paralelas umas às outras e que correm para um tendão central. Os músculos peniformes, por outro lado, possuem fibras que se aproximam obliquamente do tendão central. Pelas razões descritas na próxima seção, os músculos penados contêm um número maior de fibras dentro de uma determinada área e, portanto, geram forças relativamente grandes.1 A maioria dos músculos é considerada penada e pode ser ainda classificada como unipenada, bipenadaou multipenada, dependendo do número de conjuntos de fibras de ângulos semelhantes que se fixam no tendão central. FIGURA 3.2 Apresentam-se diferentes formas de músculo. As formas variadas são baseadas em orientações de fibra diferentes em relação ao tendão e a direção da tração. (Modificado de Standring S: Gray’s anatomy: the anatomical basis of clinical practice, ed 41, New York, 2015, Churchill Livingstone.) Arquitetura Muscular Esta seção descreve duas características arquitetônicas importantes de um músculo: área de secção transversal fisiológica e ângulo de penação. Essas características têm uma forte influência sobre a quantidade de força que é transmitida através do músculo e seu tendão e, finalmente, para o esqueleto. A área de secção transversal fisiológica de um músculo inteiro reflete a quantidade de proteínas ativas disponíveis para gerar força ativa. A área de secção transversal fisiológica de um músculo fusiforme é determinada pelo corte através de seu ventre muscular ou divisão do volume total do músculo pelo seu comprimento.98 Esse valor, tipicamente expresso em centímetros quadrados ou em milímetros, representa a soma das áreas transversais de todas as fibras musculares dentro do músculo. Supondo ativação completa, o potencial de força máximo de um músculo é proporcional à soma da área de corte transversal de todas as suas fibras. Em condições normais, portanto, um músculo mais espesso gera uma força maior do que um músculo mais fino de morfologia semelhante. Medir a área de secção transversal fisiológica de um músculo fusiforme é relativamente simples porque todas as fibras cursam essencialmente paralelas. Deve-se tomar cuidado, no entanto, quando se mede o corte transversal fisiológico dos músculos peniformes, porque as fibras correm em ângulos diferentes entre si. Para que a área de secção transversal fisiológica seja medida com precisão, o corte transversal deve ser perpendicular a cada uma das fibras musculares. Os cortes transversais de vários músculos do corpo humano estão listados nos Apêndices II e IV. O ângulo de penação refere-se ao ângulo de orientação entre as fibras musculares e tendão (Fig. 3.3). Se as fibras musculares se inserem paralelas ao tendão, o ângulo de penação é definido como 0 grau. Neste caso toda a força gerada pelas fibras musculares é transmitida para o tendão e através de uma articulação. Se, no entanto, o ângulo de penação é maior do que 0 grau (isto é, oblíquo ao tendão), então apenas uma parte da força produzida pela fibra muscular é transmitida longitudinalmente através do tendão. Teoricamente, um músculo com um ângulo de penação de 0 grau transmite 100% de sua força contrátil através do tendão, enquanto o mesmo músculo com um ângulo de penação de 30 graus transmite 86% da sua força através do tendão. (O cosseno de 30 graus é 0,86.) A maioria dos músculos humanos tem ângulos de penação que variam de 0 a 30 graus.80 FIGURA 3.3 O músculo unipenado é mostrado com suas fibras musculares orientadas em um ângulo de penação de 30 graus (θ). Em geral, os músculos peniformes produzem uma força máxima maior do que os músculos fusiformes de volume semelhante. Ao orientar as fibras obliquamente para o tendão central, um músculo penado pode ajustar mais fibras em uma determinada área do músculo. Essa estratégia de economia de espaço fornece aos músculos peniformes uma área de secção fisiológica transversal relativamente grande e, portanto, uma capacidade relativamente grande para gerar força elevada. Considere-se, por exemplo, o músculo gastrocnêmio multipenado, que deve gerar forças muito grandes durante o salto. A transferência reduzida de força da fibra penada para o tendão, por causa do ângulo de penação relativamente grande, é pequena p g p g p q comparada com o grande potencial de força adquirido na área de secção fisiológica de corte transversal. Como mostrado na Figura 3.3, um ângulo de penação de 30 graus ainda possibilita que as fibras transfiram 86% de sua força para o eixo longo do tendão. Enfoque Especial 3.1 Método para Estimar o Potencial de Força Máxima do Músculo A força específica do músculo esquelético é definida como a quantidade máxima de força ativa produzida por unidade de área de secção transversal fisiológica. Esse valor é tipicamente expresso em unidades como newtons por metro quadrado (N/m2) ou libras por polegada quadrada (lb/in2). A força específica do músculo humano é difícil de estimar, mas estudos indicam valores entre 15 e 60 N/cm2 ou, comumente, entre 30 e 45 N/cm2 (cerca de 43-65 lb/in2).31,98 Essa grande variabilidade reflete provavelmente a dificuldade técnica em medir a verdadeira área de secção transversal fisiológica de uma pessoa, além das diferenças na composição do tipo de fibras entre pessoas e músculos.51 Geralmente, um músculo com maior proporção de fibras de contração rápida terá uma força específica levemente maior do que um músculo com uma maior proporção de fibras de contração lenta. O fato de que a força máxima gerada por um músculo saudável está razoavelmente correlacionada com a sua área de secção transversal é um conceito simples, mas muito informativo. Considere-se, por exemplo, um músculo quadríceps em um homem saudável, bem desenvolvido, com uma área de corte transversal fisiológica de 180 cm2. Supondo, para fins deste exemplo, uma força específica de 30 N/cm2, seria de esperar que o músculo exercesse uma força máxima de cerca de 5.400 N (180 cm2 x 30 N/cm2) ou cerca de 1.214 lb.24 Considere-se, em contrapartida, um músculo muito menor, o adutor do polegar na mão — um músculo que tem uma classificação de força específica semelhante à do quadríceps. Pelo fato de um adutor do polegar de tamanho médio ter uma área transversal fisiológica de apenas cerca de 2,5 cm2, este músculo é capaz de produzir apenas cerca de 75 N (17 lb) de força. A diferença notável no potencial máximo de força nos dois músculos mencionados não é surpreendente, considerando seus diferentes papéis funcionais. Normalmente, as exigências sobre o quadríceps são grandes — este músculo é usado rotineiramente para levantamento de peso do corpo contra a gravidade. A arquitetura do quadríceps afeta de maneira significativa a quantidade de força que é transmitida através do seu tendão e, finalmente, para o esqueleto através do joelho. Supondo que o quadríceps tem um ângulo médio de penação de cerca de 30 graus, a força máxima que se espera que seja transmitida através do tendão e ao longo do joelho seria cerca de 4.676 N (cosseno de 30 graus x 5.400 N) ou 1.051 lb. Embora a magnitude dessa força possa parecer implausível, está na verdade dentro da razão. Expressar essa força em termos de torque pode ser mais significativo para o médico que trabalha regularmente com dispositivos de teste de resistência que medem a força de extensão do joelho. Supondo que o quadríceps tem um braço de momento extensor do joelho de 4 cm,76 a melhor estimativa do torque máximo do extensor do joelho seria de cerca de 187 Nm (0,04 m x 4.676 N) — um valor que certamente se enquadra na faixa relatada na literatura para um homem adulto saudável.24,44,142 Músculo e Tendão: Geração de Força Curva comprimento-tensão passiva Na estimulação a partir do sistema nervoso, as proteínas contráteis (ativas) nos sarcômeros causam contração ou encurtamento de todo o músculo. Essas proteínas — mais notavelmente actina e miosina — são fisicamente sustentadas por proteínas estruturais e uma rede de outros tecidos conjuntivos extracelulares não contráteis, nomeadamente o epimísio, o perimísio e o endomísio. Para fins funcionais, e não anatômicos, esses tecidos foram descritos como componentes elásticos em paralelo e em série do músculo (Fig. 3.4). Os componentes elásticos em série são tecidos anexados em série (p. ex., de extremidade a extremidade) com as proteínas ativas. Exemplos desses tecidos são o tendão e grandes proteínas estruturais, como a titina. Os componentes elásticos paralelos, em contrapartida, são tecidos que cercam ou ficam em paralelo comas proteínas ativas. Esses tecidos não contráteis incluem os tecidos conjuntivos extracelulares (como o perimísio) e uma família de outras proteínas estruturais que cercam e sustentam a fibra muscular. FIGURA 3.4 Modelo altamente diagramático de todo um músculo que se insere entre dois ossos, retratando elementos não contráteis (como tecidos conectivos extracelulares e a proteína titina) e elementos contráteis (tais como actina e miosina). O modelo diferencia os elementos não contráteis (como molas enroladas) assim como componentes elásticos em série ou paralelos. Os componentes elásticos em série (alinhados em série com os componentes contráteis) são ilustrados pelo tendão e pela proteína estrutural titina, mostrada dentro do sarcômero. Os componentes elásticos paralelos (alinhados em paralelo com os componentes contráteis) são representados por tecidos conjuntivos extracelulares (como perimísio) e outras proteínas estruturais localizadas ao longo do músculo. Esticar um músculo inteiro estendendo uma articulação alonga tanto os componentes elásticos em paralelo como os em série, gerando uma resistência, ou rigidez, dentro do músculo. A resistência é chamada tensão passiva, porque não depende de contração ativa ou volitiva. O conceito de componentes elásticos paralelos e seriados é uma descrição simplificada da anatomia; contudo, é útil explicar os níveis de resistência gerados por um músculo esticado. Quando os componentes elásticos em paralelo e em série são esticados dentro de um músculo é gerada uma curva de comprimento-tensão passiva geral (Fig. 3.5). A curva é semelhante à obtida pelo alongamento de uma faixa elástica. Aproximando a forma de uma função matemática exponencial, os elementos passivos dentro do músculo começam a gerar tensão passiva após um comprimento crítico no qual todos os tecidos relaxados (isto é, folga) foram trazidos para um nível inicial de tensão. Após esse comprimento crítico ter sido alcançado, a tensão aumenta progressivamente até que o músculo atinja níveis de rigidez muito altos. Em tensão ainda maior, o tecido em seguida se rompe ou falha. FIGURA 3.5 Exibe-se uma curva comprimento-tensão passiva generalizada. À medida que um músculo é progressivamente esticado, o tecido fica frouxo durante o comprimento inicial encurtado do músculo até atingir um comprimento crítico em que começa a gerar tensão passiva. Além desse comprimento crítico, a tensão constrói uma função exponencial. A tensão passiva em um músculo esticado saudável é atribuída às forças elásticas produzidas por elementos não contráteis, como tecidos conjuntivos extracelulares, o tendão e as proteínas estruturais. Esses tecidos apresentam diferentes características de rigidez. Quando um músculo está apenas ligeiramente ou moderadamente esticado, as proteínas estruturais (em particular a titina77) contribuem com a maior parte da tensão dentro do músculo. Quando um músculo é mais extensamente alongado, contudo, os tecidos conjuntivos extracelulares — especialmente aqueles que compõem o tendão — contribuem muito para a tensão passiva.56 A curva de comprimento-tensão passiva simples representa uma parte importante da capacidade global de geração de força da unidade musculotendínea. Essa capacidade é especialmente importante em comprimentos muito longos onde as fibras musculares começam a perder sua capacidade de geração de força ativa porque há menos sobreposição entre as proteínas ativas (ou seja, actina e miosina) que geram força. A inclinação da curva de comprimento-tensão passiva varia entre os músculos, dependendo da arquitetura muscular específica e da quantidade e do tipo de tecido conjuntivo de suporte. A tensão passiva dentro dos músculos esticados tem muitas finalidades úteis, como mover ou estabilizar uma articulação contra as forças da gravidade, contato físico ou outros músculos ativados. Considere-se, por exemplo, o alongamento passivo dos músculos da panturrilha e tendão calcâneo no final da fase de apoio do caminhar em passos rápidos, imediatamente antes do deslocamento anterior do corpo. Essa tensão passiva auxilia a transmissão da força muscular através do pé e para o chão, ajudando a iniciar a fase de propulsão da caminhada.69,83 Embora a tensão passiva dentro dos músculos esticados seja tipicamente útil, sua eficácia funcional às vezes é limitada por causa (1) da responsividade mecânica tardia do tecido a mudanças rápidas das forças externas e (2) da quantidade significativa de alongamento que deve ocorrer antes que o tecido possa gerar tensão passiva. O tecido muscular esticado exibe a propriedade de elasticidade, pois temporariamente armazena uma fração da energia que criou o alongamento. Essa energia armazenada, quando liberada, pode aumentar o potencial de força total de um músculo. Um músculo alongado também exibe propriedades viscoelásticas (Cap. 1) porque sua resistência passiva (rigidez) aumenta com o aumento da velocidade de alongamento. As propriedades tanto da elasticidade como da viscoelasticidade são componentes importantes do exercício pliométrico. Embora a energia armazenada em um músculo moderadamente alongado possa ser relativamente menor quando comparada com o potencial de força completa do músculo, a energia armazenada pode ajudar a evitar que um músculo seja danificado durante o alongamento máximo.84 Portanto, a elasticidade pode servir como um mecanismo de amortecimento que protege os componentes estruturais do músculo e o tendão. Curva de comprimento-tensão ativa Esta seção do capítulo descreve os meios pelos quais um músculo gera força ativa. A força ativa é produzida por uma fibra muscular ativada, ou seja, aquela que está sendo estimulada pelo sistema nervoso para contrair- se. Como esquematizado na Figura 3.4, tanto a força ativa como a tensão passiva são finalmente transmitidas aos ossos que constituem a articulação. As fibras musculares são compostas por muitos filamentos minúsculos chamados miofibrilas (Fig. 3.1). As miofibrilas contêm as proteínas contráteis (ativas) da fibra muscular e têm uma estrutura distintiva. Cada miofibrila tem de 1 a 2 µm de diâmetro e é composta por muitos miofilamentos. Os dois miofilamentos mais importantes dentro da miofibrila são as proteínas actina e miosina. Como será descrito, a contração muscular envolve uma complexa interação fisiológica e mecânica entre estas duas proteínas. A organização regular desses filamentos produz o aspecto em banda típico da miofibrila como observado ao microscópio (Fig. 3.6). As subunidades funcionais de repetição da miofibrila são os sarcômeros (Fig. 3.7). A faixa escura dentro de um único sarcômero, também chamada de faixa A, corresponde à presença de miosina — filamentos espessos. A miosina também contém projeções, chamadas cabeças de miosina, que são organizadas em pares (Fig. 3.8). As faixas claras, também chamadas de faixas I, contêm actina — filamentos finos (Fig. 3.7). Em uma fibra muscular de repouso, os filamentos de actina sobrepõem-se parcialmente aos filamentos de miosina. Sob um microscópio eletrônico, as faixas revelam um padrão mais complexo que consiste em uma faixa H, linha M e discos Z (definidos na Tabela 3.1). A actina e a miosina estão alinhadas dentro do sarcômero com a ajuda de proteínas estruturais (p. ex., titina), proporcionando estabilidade mecânica à fibra durante a contração e o estiramento.53,77,137 Por meio de proteínas estruturais e o endomísio, miofibrilas finalmente se conectam ao tendão. Essa sofisticada rede conectiva, formada entre proteínas e tecidos conjuntivos, possibilita que a força seja distribuída longitudinalmente e lateralmente dentro de um músculo.91 FIGURA 3.6 Micrografia eletrônica de miofibras demonstra a organização com bandas regulares de miofilamentos — actina e miosina. (De Fawcett DW: The cell, Philadelphia, 1981, Saunders.) FIGURA 3.7 Na parte de cima estão micrografias eletrônicas de dois sarcômeros completos dentro de uma miofibrila. Os desenhos abaixo mostram miofibrilas relaxadas e contraídas (estimuladas),que indicam a posição dos filamentos espessos (miosina) e finos (actina). Detalhe da organização regular de bandas de miofibrilas mostra a posição da banda A, banda I, banda H, linha M e discos Z. Estados relaxados e contraídos são mostrados para ilustrar as mudanças que ocorrem durante o encurtamento. Modificado de Standring S: Gray’s anatomy: the anatomical basis of clinical practice, ed 41, New York, 2015, Churchill Livingstone. Fotografias de Brenda Russell, Departamento de Fisiologia e Biofísica, Universidade de Illinois em Chicago. Arte original de Lesley Skeates.) FIGURA 3.8 Mais detalhes de um sarcômero mostrando a estrutura de ponte cruzada formada pelas cabeças de miosina e sua inserção nos filamentos de actina. Note-se que o filamento de actina também contém as proteínas troponina e tropomiosina. A troponina é responsável por expor o filamento de actina à cabeça de miosina, possibilitando assim a formação de ponte cruzada. (De Levy MN, Koeppen BM, Stanton BA: Berne and Levy principles of physiology, ed 4, St Louis, 2006, Mosby.) Tabela 3.1 Regiões Definidas Dentro de Um Sarcômero Região Descrição Faixa A Faixas escuras causadas pela presença de miofilamentos espessos de miosina Faixas I Faixas claras causadas pela presença de miofilamentos finos de actina Faixa H Região dentro de uma faixa A onde actina e miosina não se sobrepõem Linha M Espessamento da região média dos miofilamentos de miosina no centro da faixa H Discos Z Pontos de conexão entre sarcômeros sucessivos; discos Z ajudam a ancorar os miofilamentos finos de actina Conforme descrito anteriormente, o sarcômero é o gerador de força ativa fundamental dentro da fibra muscular. Compreender os eventos contráteis que ocorrem em um sarcômero isolado fornece a base para a compreensão do processo de contração em todo o músculo. O processo de contração é notavelmente semelhante de um sarcômero para outro e o encurtamento de muitos sarcômeros em uníssono cria movimento. O modelo de descrição da geração de força ativa dentro do sarcômero é chamado de hipótese do filamento deslizante e foi desenvolvido independentemente por Hugh Huxley68 e Andrew Huxley (sem relação).67 Neste modelo, a força ativa é gerada quando os filamentos de actina deslizam pelos filamentos de miosina, puxando os discos Z dentro de um sarcômero juntos e estreitando a faixa H. Essa ação resulta numa sobreposição progressiva dos filamentos de actina e miosina, o que, na verdade, produz um encurtamento de cada sarcômero, embora as próprias proteínas ativas em si realmente não encurtem (Fig. 3.9). Cada cabeça de miosina se liga a um filamento de actina adjacente, formando uma ponte cruzada. A quantidade de força gerada dentro de cada sarcômero depende, portanto, do número de pontes cruzadas simultaneamente formadas. Quanto maior o número de pontes cruzadas, maior a força gerada dentro do sarcômero. FIGURA 3.9 A ação do filamento deslizante mostrando as cabeças de miosina que se ligam e depois se liberam do filamento de actina. Esse processo é conhecido como ciclagem de ponte cruzada. A força contrátil é gerada durante o curso de potência de cada ciclo da ponte cruzada. (De Hall JE: Guyton & Hall textbook of medical physiology, ed 13, Philadelphia, 2016, Saunders.) Como consequência do arranjo entre a actina e a miosina dentro de um sarcômero, a quantidade de força ativa depende, em parte, do comprimento instantâneo da fibra muscular. Uma mudança no comprimento da fibra — de contração ativa ou alongamento passivo — altera a quantidade de sobreposição entre actina e miosina, e assim o número de pontes cruzadas.48 A curva de comprimento-tensão ativa para um sarcômero é apresentada na Figura 3.10. O comprimento de repouso ideal de uma fibra muscular (ou sarcômero individual) é o comprimento que possibilita o maior número de pontes cruzadas e, portanto, a maior força potencial. Como o sarcômero é alongado ou encurtado a partir de seu comprimento de repouso, o número de potenciais pontes cruzadas diminui de forma que menores quantidades de força ativa são geradas, mesmo sob condições de ativação ou esforço completo. A curva de comprimento-tensão ativa resultante é descrita por uma forma em U invertido com o seu pico no comprimento ideal de repouso. FIGURA 3.10 Curva de comprimento-tensão ativa de um sarcômero para quatro comprimentos de sarcômero especificados (superior direito, A a D). Sobreposição de filamentos de actina (A) de modo que o número de pontes cruzadas é reduzido. Em B e C, os filamentos de actina e miosina são posicionados para possibilitar um número ideal de pontes cruzadas. Em D, os filamentos de actina são posicionados fora do alcance das cabeças de miosina para que não se formem pontes cruzadas. (De Hall JE: Guyton & Hall textbook of medical physiology, ed 12, Philadelphia, 2010, Saunders.) O termo relação comprimento-força é mais apropriado para considerar a terminologia estabelecida neste texto (ver definições de força e tensão no glossário do Capítulo 1). A expressão comprimento-tensão é usada, no entanto, devido à sua ampla aceitação na literatura fisiológica. Soma da força ativa e da tensão passiva: a curva total comprimento-tensão A curva de comprimento-tensão ativa, quando combinada com a curva de comprimento-tensão passiva, produz a curva total de comprimento-tensão do músculo. A combinação de força ativa e tensão passiva possibilita uma ampla gama de forças musculares sobre uma vasta gama de comprimentos de músculos. Considere-se a curva de comprimento-tensão total para o músculo mostrada na Figura 3.11. Com comprimentos encurtados (a), abaixo do comprimento de repouso e abaixo do comprimento que gera tensão passiva, a força ativa determina a capacidade de geração de força do músculo. A capacidade de geração de força continua aumentando à medida que o músculo é alongado (esticado) em direção ao seu comprimento de repouso. À medida que a fibra muscular é alongada além do seu comprimento de repouso (b), a tensão contribui para a força muscular total, de modo que o decréscimo na força ativa é compensado pelo aumento da tensão passiva, efetivamente achatando esta parte da curva comprimento- tensão total. Essa porção característica da curva passiva de comprimento- tensão possibilita ao músculo manter níveis altos de força mesmo quando o músculo é esticado até um ponto em que a geração de força ativa é comprometida. À medida que a fibra muscular é ainda mais alongada (c), a tensão passiva domina a curva de modo que os tecidos conjuntivos estão sob estresse quase máximo. Níveis elevados de tensão passiva são mais aparentes nos músculos que são alongados ao longo de várias articulações. Por exemplo, à medida que o punho é ativamente e totalmente estendido, os dedos flexionam-se ligeiramente de maneira passiva por causa do alongamento exercido nos músculos flexores do dedo da mão quando cruzam a frente do punho. A quantidade de tensão passiva depende em parte da rigidez natural do músculo. A forma da curva de comprimento total do músculo pode, portanto, variar consideravelmente entre os músculos de diferentes estruturas e funções.8 FIGURA 3.11 Curva de comprimento-tensão total para um músculo típico. Em comprimentos encurtados (a), toda a força é gerada ativamente. À medida que a fibra muscular é esticada além do seu comprimento de repouso (b), a tensão passiva começa a contribuir para a força total. Em (c) o músculo é ainda mais esticado e a tensão passiva representa a maior parte da força total. Força Muscular Isométrica: Desenvolvimento da Curva do Torque Interno-Ângulo Articular Conforme definido no Capítulo 1, a ativação isométrica de um músculo produz força sem uma mudança significativa no seu comprimento. Isso ocorre naturalmente quando a articulação sobre a qual um músculo ativado cruza é restringida em decorrência do movimento. A restrição ocorre frequentemente de uma força produzida por um músculo antagonista ou uma fonte externa. Forças isometricamente produzidas proporcionam a estabilidade necessária para asarticulações e o corpo como um todo. A amplitude de uma força isometricamente produzida a partir de um determinado músculo reflete uma soma de força ativa dependente de comprimento e tensão passiva. Enfoque Especial 3.2 Proteínas Musculares: Uma Área de Estudo em Expansão para Fisiologistas Musculares Até agora, este capítulo concentrou-se principalmente nas proteínas ativas de actina e miosina dentro do sarcômero. Estudos mais avançados neste assunto, contudo, revelam um quadro bem mais complicado. A miosina, por exemplo, é ainda classificada em proteínas de cadeia pesada ou cadeia leve, com funções diferentes. A miosina de cadeia leve parece ter um papel mais regulador no processo de contração, assim como as proteínas tropomiosina e troponina. Além disso, outras proteínas têm um papel estrutural ou de apoio importante dentro dos sarcômeros ou entre eles. Nas últimas décadas, tem-se reconhecido a importância dessas proteínas não contráteis. As informações contidas na Tabela 3.2 destinam-se principalmente a ser material de apoio e resumem a função mais provável das proteínas musculares mais comumente estudadas. O leitor interessado pode consultar outras fontes para discussões mais detalhadas sobre este tópico.16 Tabela 3.2 Resumo das Funções de Determinadas Proteínas Musculares Proteínas Função Ativa: Contrátil Cadeia pesada de miosina (várias isoformas) Motor molecular para contração muscular — liga-se com a actina para gerar força de contração Actina Liga-se com miosina para traduzir a força e encurtar o sarcômero Ativa: Reguladora Tropomiosina Regula a interação entre actina e miosina; estabiliza o filamento de actina Troponina (várias isoformas) Influi na posição da tropomiosina; liga-se com íons cálcio Cadeia leve de miosina (várias isoformas para cadeias leves lentas e rápidas) Influi na velocidade de contração do sarcômero; modula a cinética de ciclagem de ponte cruzada Estrutural Nebulina Ancora actina aos discos Z Titina Cria tensão passiva dentro do sarcômero ativado esticado; atua como “molas” moleculares Desmina Ajuda a estabilizar o alinhamento longitudinal e lateral de sarcômeros adjacentes Vimentina Ajuda a manter a periodicidade dos discos Z Esquelemina Ajuda a estabilizar a posição das linhas M Distrofina Fornece estabilidade estrutural ao citoesqueleto e sarcolema da fibra muscular Integrinas Estabiliza o citoesqueleto da fibra muscular Adaptado de Caiozzo VJ: The muscular system: structural and functional plasticity. In Farrell PA, Joyner MJ, Caiozzo VJ, editors: ACSM’s advanced exercise physiology, ed 2, Baltimore, 2012, Lippincott Williams & Wilkins. A força isométrica máxima de um músculo é frequentemente usada como um indicador geral da força máxima de um músculo e pode indicar recuperação neuromuscular após lesão, bem como a prontidão de um atleta para retornar a um determinado nível de atividade esportiva.20,73 Em ambientes clínicos, não é possível medir diretamente o comprimento ou a força de músculo maximamente ativado. No entanto, a geração do torque interno de um músculo pode ser medida isometricamente em vários ângulos articulares. A Figura 3.12 mostra o torque interno versus a curva do ângulo da articulação (chamada “curva de torque-ângulo”) de dois grupos musculares sob condições isométricas, de esforço máximo. (A curva torque- ângulo é o análogo rotacional da curva comprimento-tensão total de um grupo muscular.) O torque interno produzido isometricamente por um grupo muscular pode ser determinado pedindo-se a um indivíduo que produza uma contração de esforço máximo contra um torque externo conhecido. Como descrito no Capítulo 4, um torque externo pode ser determinado pelo uso de um dispositivo externo de detecção de força (dinamômetro) a uma distância conhecida a partir do eixo de rotação da articulação. Pelo fato de a medição ser realizada durante uma ativação isométrica, supõe-se o valor do torque interno como igual ao do torque externo. FIGURA 3.12 Torque interno versus curva de ângulo articular de dois grupos musculares sob condições isométricas de esforço máximo. As formas das curvas são muito diferentes para cada grupo muscular. (A) O torque interno dos flexores de cotovelo é maior em um ângulo de cerca de 75 graus de flexão. (B) O torque interno dos abdutores de quadril é maior em um ângulo de plano frontal de -10 graus (isto é, 10 graus de adução). Quando um teste de força máxima é realizado em conjunto com incentivo considerável fornecido pelo testador, os adultos mais saudáveis podem conseguir a ativação quase máxima de seu músculo.3 Contudo, a ativação quase máxima nem sempre é possível em pessoas com condições patológicas ou com traumatismos que afetam seu sistema neuromuscular. A forma de uma curva de torque-ângulo de esforço máximo é muito específica para cada grupo muscular (compare-se a Fig. 3.12A com a Fig. 3.12B). A forma de cada curva pode fornecer informações importantes sobre os fatores fisiológicos e mecânicos que determinam o torque dos grupos musculares. Considerem-se os seguintes dois fatores mostrados na Figura 3.13. Primeiro, o comprimento do músculo muda à medida que o ângulo articular muda. O bíceps braquial, por exemplo, é mais longo na extensão do cotovelo do que na flexão. Conforme descrito anteriormente, a produção de força de um músculo — tanto em termos ativos como passivos — é altamente dependente do comprimento muscular. Em segundo lugar, a mudança do ângulo articular altera o comprimento do braço de momento do músculo ou alavancagem. Para uma determinada força muscular, o braço de momento maior cria um torque maior. Pelo fato de o comprimento do músculo e o braço de momento serem alterados simultaneamente por rotação da articulação, nem sempre é possível saber que fator influencia mais na determinação da forma final da curva torque-ângulo. Uma alteração em uma das variáveis — fisiológica ou mecânica — altera a expressão clínica de um torque interno produzido pelo músculo. Vários exemplos clinicamente relacionados estão listados na Tabela 3.3. FIGURA 3.13 O comprimento do músculo e o braço do momento têm um impacto sobre o torque de esforço máximo para um determinado músculo. (A) O músculo está em seu maior comprimento e o braço do momento do músculo (linha marrom) está em seu comprimento quase mais curto. (B) O comprimento do músculo é encurtado e o comprimento do braço do momento do músculo é o maior. Tabela 3.3 Exemplos Clínicos e Consequências de Alterações nas Variáveis Mecânicas ou Fisiológicas que Influenciam a Produção de Torque Interno Variável Alterada Exemplo Clínico Efeito no Torque Interno Possível Consequência Clínica Mecânica: Braço de momento interno aumentado Deslocamento cirúrgico de trocânter maior para aumentar o braço de momento interno dos músculos abdutores do quadril Diminuição da quantidade de força muscular necessária para produzir um determinado nível de torque de abdução do quadril Diminuição da força do abdutor do quadril pode reduzir a força gerada através de uma articulação de quadril instável ou dolorosa; considerado um meio de “proteger” uma articulação de forças prejudiciais Mecânica: Braço de momento interno reduzido Patelectomia após fratura grave da patela Aumento da quantidade de força do quadríceps necessária para produzir um determinado nível de torque de extensão de joelho Força aumentada necessária para estender o joelho pode aumentar o desgaste nas superfícies articulares da articulação do joelho Fisiológica: Ativação muscular reduzida Dano à porção profunda do nervo fibular Diminuição da força dos músculos dorsiflexores Redução da capacidade de andar com segurança Fisiológica: Diminuição significativa do comprimento do músculo no momento da ativação neural Dano ao nervo radial com paralisia dos músculos extensores do punho Diminuição da força nos músculos extensores do punho, fazendo os músculos flexores do dedo da mão flexionarem-se durante a preensão Preensão ineficaz por causa de músculos flexores do dedo da mão excessivamentecontraídos (encurtados) A forma da curva de torque-ângulo de um grupo muscular relaciona-se especificamente com as demandas funcionais colocadas sobre os músculos e a articulação. Cada grupo muscular, portanto, tem uma curva torque- ângulo isométrica exclusiva. Para os flexores de cotovelo, por exemplo, o potencial máximo de torque interno é maior nas amplitudes médias de movimento do cotovelo e menor próximo da extensão e flexão completas (Fig. 3.12A). Não coincidentemente, na posição vertical o torque externo causado pela gravidade que atua sobre o antebraço e objetos segurados pela mão também é maior nas amplitudes médias do movimento do cotovelo e menor nos extremos do movimento do cotovelo. Enfoque Especial 3.3 Método de Medição de Ativação Muscular Voluntária Máxima de uma Pessoa Em situações normais de teste de resistência clínica, é difícil saber se uma pessoa está realmente ativando maximamente um determinado músculo, mesmo quando se supõe esforço máximo e boa saúde. Uma medida de ativação voluntária máxima pode ser avaliada pela aplicação de um breve estímulo elétrico no nervo motor ou diretamente sobre a pele de um músculo enquanto a pessoa está tentando uma contração voluntária máxima. Qualquer aumento na força medida que imediatamente acompanha o estímulo elétrico indica que nem todas as fibras musculares foram ativadas voluntariamente. Essa técnica é conhecida como a técnica de estímulo interpolado.40,41,119 A magnitude da ativação voluntária é tipicamente expressa como uma porcentagem de um potencial de ativação máximo de um músculo (isto é, o estímulo neural). A maioria dos jovens adultos saudáveis é capaz de atingir 90% a 100% da ativação isométrica máxima dos músculos flexor do cotovelo, extensor do joelho e dorsiflexor do tornozelo, embora esses valores variem consideravelmente entre indivíduos e ensaios.40,47 O nível médio de ativação voluntária máxima também pode variar entre os músculos.40 Níveis significativamente menores de ativação voluntária máxima também foram relatados nos músculos após trauma ou doença, como no músculo quadríceps após lesão do ligamento cruzado anterior ou dor femoropatelar crônica45,139 ou no músculo diafragma em pessoas com asma.4 Pessoas com esclerose múltipla mostraram gerar apenas 86% da ativação voluntária máxima de seus músculos dorsiflexores, em comparação com 96% da ativação voluntária máxima em um grupo controle saudável.99 Para os músculos abdutores do quadril, o potencial de torque interno é maior perto do neutro (0 graus de abdução) (Fig. 3.12B). Esse ângulo articular do quadril coincide com o ângulo aproximado em que os músculos abdutores do quadril são mais necessários para a estabilidade do plano frontal na fase de apoio de membro único ao caminhar. Grandes quantidades de torque de abdução de quadril raramente são funcionalmente necessárias em uma posição de abdução máxima do quadril. A curva de torque-ângulo dos abdutores do quadril depende principalmente do comprimento muscular, como mostrado pela redução linear do torque máximo produzido em ângulos de abdução do quadril progressivamente maiores (Fig. 3.12B). Independentemente do grupo muscular, contudo, a combinação de força muscular total (com base no comprimento muscular) e grande alavancagem (com base no comprimento do braço de momento) resulta no maior torque interno. Em resumo, a magnitude do torque isométrico difere consideravelmente com base no ângulo da articulação no momento da ativação, mesmo com esforço máximo. Consequentemente, é importante que medições clínicas de torque isométrico incluam o ângulo de articulação de maneira que comparações futuras sejam válidas. O teste de resistência isométrica em diferentes ângulos articulares possibilita a caracterização do alcance funcional da força de um músculo. Essa informação pode ser necessária para determinar a adequação de uma pessoa a uma determinada tarefa no local de trabalho, especialmente se a tarefa requer um torque interno crítico para ser produzido em determinados ângulos articulares. Músculo como motor esquelético: modulação de força As seções anteriores consideraram como um músculo isometricamente ativado pode estabilizar o sistema esquelético; a próxima seção considera como os músculos classificam ativamente as forças enquanto mudam de comprimento, o que é necessário para mover o sistema esquelético de maneira altamente controlada. Força de Modulação Através de Ativação Concêntrica ou Excêntrica: Introdução à Relação Força-Velocidade do Músculo Conforme apresentado no Capítulo 1, o sistema nervoso estimula um músculo para gerar ou resistir a uma força por meio de ativação concêntrica, excêntrica ou isométrica. Durante a ativação concêntrica, o músculo encurta (contrai). Isso ocorre quando o torque interno (músculo) excede o torque externo (carga). Durante a ativação excêntrica, o torque externo excede o torque interno; o músculo é estimulado pelo sistema nervoso a contrair-se mas é alongado em resposta a uma força mais dominante, geralmente a partir de uma fonte externa ou um músculo antagonista. Durante uma ativação isométrica, o comprimento do músculo permanece quase constante, à medida que os torques internos e externos são igualmente combinados. Durante as ativações concêntricas e excêntricas, existe uma relação muito específica entre a força máxima de um músculo e sua velocidade de contração (ou alongamento). Durante a ativação concêntrica, por exemplo, o músculo contrai a uma velocidade máxima quando a carga é desprezível (Fig. 3.14). À medida que a carga aumenta, a velocidade de contração máxima do músculo diminui. Em algum ponto, uma carga muito grande resulta em uma velocidade de contração de zero (isto é, o estado isométrico). A ativação excêntrica precisa ser considerada separadamente da ativação concêntrica. Com a ativação excêntrica, uma carga que apenas excede o nível de força isométrica faz com que o músculo alongue lentamente. A velocidade de alongamento aumenta quando se aplica uma carga maior. Existe uma carga máxima à qual o músculo não consegue resistir e além deste nível de carga o músculo alonga-se incontrolavelmente. FIGURA 3.14 Relação entre carga muscular (resistência externa) e velocidade máxima de encurtamento (contração). (A velocidade é igual à inclinação das linhas tracejadas.) Sem carga externa, um músculo é capaz de encurtamento a alta velocidade. À medida que a carga sobre o músculo aumenta progressivamente, sua velocidade máxima de encurtamento diminui. Subsequentemente, em algumas cargas muito grandes, o músculo é incapaz de encurtar e a velocidade é zero. (Redesenhado de McComas AJ: Skeletal muscle: form and function, Champaign, Ill, 1996, Human Kinetics.) Curva de força-velocidade As relações entre a velocidade da variação de comprimento de um músculo e sua força máxima produzida são mais frequentemente expressadas pela curva de força-velocidade traçada na Figura 3.15. Essa curva é mostrada durante ativações concêntricas, isométricas e excêntricas, expressas com a força no eixo vertical e com a velocidade de encurtamento e alongamento do músculo no eixo horizontal. Essa curva de força-velocidade demonstra vários pontos importantes sobre a fisiologia do músculo. Durante a ativação concêntrica com máximo esforço, a quantidade de força muscular produzida é inversamente proporcional à velocidade do encurtamento muscular. Essa relação foi primeiramente descrita pelo fisiologista A. V. Hill em 1938 no músculo esquelético da rã e é semelhante à dos seres humanos.54,55 A capacidade de geração de força do músculo reduzida em velocidades de contração mais altas resulta principalmente da limitação inerente à velocidade de inserção e reinserção das pontes cruzadas. Com velocidades de contração mais elevadas, o número de pontes cruzadas anexadas em um determinado momento é menor do que quando o músculo está se contraindo lentamente. A uma velocidade de contração de zero (isto é, o estado isométrico), existe um número máximo de pontes cruzadas anexadas em um determinadosarcômero em qualquer instante. Por essa razão, um músculo produz maior força isométrica do que qualquer velocidade de encurtamento. FIGURA 3.15 Relação teórica entre força e velocidade de encurtamento ou alongamento do músculo durante a ativação muscular de esforço máximo. Ativação concêntrica (encurtamento do músculo) é mostrada à direita e ativação excêntrica (alongamento muscular), à esquerda. Ativação isométrica ocorre a uma velocidade de zero. A fisiologia subjacente à relação força-velocidade do músculo excentricamente ativo é muito diferente daquela de ativação muscular concêntrica. Durante uma ativação excêntrica de esforço máximo, a força muscular é, até certo ponto, diretamente proporcional à velocidade do alongamento do músculo. Para a maioria dos indivíduos, entretanto, a curva atinge um declive zero em menores velocidades de alongamento se comparadas com aquelas detalhadas na curva teórica da Figura 3.15. Embora a razão não seja completamente compreendida, a maioria dos seres humanos (especialmente não treinados) é incapaz de ativar maximamente os músculos de maneira excêntrica, especialmente em altas velocidades.12,26 Isso pode ser um mecanismo protetor para evitar danos musculares produzidos por forças excessivamente grandes. A expressão clínica de uma relação força-velocidade do músculo é frequentemente expressa por uma relação torque-velocidade angular da articulação. Este tipo de dados pode ser obtido por meio de dinamometria isocinética (Cap. 4). A Figura 3.16 mostra o pico de torque gerado pelos músculos extensores e flexores do joelho de homens saudáveis, em uma faixa de velocidades de encurtamento e alongamento muscular. Embora os dois conjuntos de músculos produzam amplitudes diferentes de torque máximo, cada um apresenta características semelhantes: reduções dos torques de esforço máximo com aumento da velocidade de contração muscular (encurtamento) e aumento (até um ponto) com velocidade crescente do alongamento do músculo. FIGURA 3.16 Pico de torque gerado pelos músculos extensor e flexor do joelho. As velocidades positivas denotam ativação concêntrica e as velocidades negativas denotam ativação excêntrica. Os dados são de 64 homens não treinados e saudáveis. (Dados de Horstmann T, Maschmann J, Mayer F, et al: The influence of age on isokinetic torque of the upper and lower leg musculature in sedentary men, Int J Sports Med 20:362, 1999.) A forma geral das curvas força-velocidade mostradas nas Figuras 3.15 e 3.16 reflete consistentemente o fato de que os músculos produzem maior força durante a ativação excêntrica do que durante a velocidade isométrica ou qualquer velocidade de ativação concêntrica. Embora o motivo não seja bem compreendido, as forças relativamente maiores produzidas excentricamente resultam, em parte, de (1) uma força média maior produzida por ponte cruzada, pois cada ponte cruzada é puxada para longe e separada,81 (2) uma fase de reimplantação mais rápida da formação de ponte cruzada e (3) tensão passiva produzida pelas propriedades viscoelásticas dos componentes elásticos alongados paralelos e seriados do músculo. A evidência indireta para o último fator é o fenômeno conhecido de dor muscular de início tardio, que é comum após episódios pesados de exercício excêntrico baseado em músculos, especialmente em pessoas não treinadas. Uma explicação parcial para esta dor típica baseia-se na lesão relacionada com esforço ao músculo forçosamente (e rapidamente) alongado, que inclui as miofibrilas, o citoesqueleto do sarcômero e os tecidos conjuntivos extracelulares.108 O papel funcional dos músculos excentricamente ativos é importante para a “eficiência” metabólica e neurológica do movimento. O músculo excentricamente ativado armazena energia quando alongado; a energia é liberada apenas quando o músculo alongado se contrai. Além disso, a razão de amplitude eletromiográfica e consumo de oxigênio por nível de força é menor para o músculo excentricamente ativado para cargas de trabalho absolutas semelhantes realizadas sob ativação concêntrica.28 Os mecanismos responsáveis por essa eficiência estão estreitamente relacionados com os três fatores citados no parágrafo anterior para explicar o motivo pelo qual as forças maiores são produzidas por meio da ativação excêntrica em comparação com a ativação não excêntrica. O custo metabólico e a atividade eletromiográfica são menores porque, em parte, uma tarefa comparável realizada com ativação excêntrica requer um número um pouco menor de fibras musculares. Potência e trabalho: conceitos adicionais relacionados à relação entre força-velocidade do músculo A relação inversa entre o potencial de força máxima de um músculo e sua velocidade de encurtamento está relacionada com o conceito de potência. A potência, ou taxa de trabalho, pode ser expressa como um produto de força e velocidade de contração. (A potência de uma contração muscular está portanto relacionada com a área sob o lado direito da curva mostrada anteriormente na Fig. 3.15) Uma produção constante de potência de um músculo pode ser sustentada pelo aumento da carga (resistência), enquanto diminui proporcionalmente a velocidade de contração, ou vice-versa. Isto é muito semelhante em termos de conceito à mudança de marcha enquanto se anda de bicicleta. Um músculo que realiza uma ativação concêntrica contra uma carga está fazendo um trabalho positivo na carga. Em contrapartida, um músculo submetido a ativação excêntrica contra uma carga excessiva está fazendo trabalho negativo. Neste último caso, o músculo está armazenando a energia que é fornecida pela carga. Portanto, um músculo pode atuar como acelerador de movimento contra uma carga enquanto o músculo está contraindo (isto é, através de ativação concêntrica) ou como um “freio” ou desacelerador quando uma carga é aplicada e o músculo ativado está alongando (isto é, através da ativação excêntrica). Por exemplo, os músculos do quadríceps são ativos concentricamente quando se sobem escadas e levanta-se o peso do corpo, o que é considerado trabalho positivo. O trabalho negativo, entretanto, é realizado por esses músculos quando eles abaixam o corpo ao descer as escadas de maneira controlada, durante a ativação excêntrica. Ativação do Músculo Através do Sistema Nervoso Este capítulo examinou até agora vários mecanismos importantes subjacentes à geração de força muscular. Contudo, é de extrema importância que o músculo seja excitado por impulsos gerados a partir do sistema nervoso, especificamente por neurônios motores alfa, com seus corpos celulares localizados no corno ventral (anterior) da medula espinal. Cada neurônio motor alfa tem um axônio que se estende da medula espinal e se conecta com várias fibras musculares localizadas ao longo de um músculo inteiro. O único neurônio motor alfa juntamente com toda a família de fibras musculares inervadas é chamado de unidade motora (Fig. 3.17). A excitação dos neurônios motores alfa provém de muitas fontes, incluindo neurônios corticais descendentes, interneurônios espinhais e outros neurônios aferentes (sensoriais). Cada fonte pode ativar um neurônio motor alfa recrutando primeiramente um determinado neurônio motor e, em seguida, levando-o para taxas mais elevadas de ativação sequencial — um processo chamado codificação de taxa. O processo de codificação de taxa fornece um mecanismo finamente controlado de força muscular suavemente crescente. O recrutamento e a codificação de taxa são as duas estratégias primárias empregadas pelo sistema nervoso para ativar neurônios motores. A disposição espacial das unidades motoras ao longo de um músculo e as estratégias disponíveis para ativar os neurônios possibilitam a produção de forças muito pequenas que envolvem apenas algumas unidades motoras ou forças muito grandes que envolvem a maioria das unidades motoras dentro do músculo. Pelo fato de as unidades motoras serem distribuídas por meio de um músculo inteiro, as forças das fibras ativadas somam-se em todo o músculo e são então transmitidas para o tendãoe através da articulação. FIGURA 3.17 Uma unidade motora consiste no neurônio motor (alfa) e fibras musculares que inerva. Enfoque Especial 3.4 Combinação das Relações de Comprimento-Tensão e Força- Velocidade Embora as relações comprimento-tensão e força-velocidade de um músculo sejam descritas separadamente, na realidade ambas estão ativas simultaneamente. Em qualquer momento, um músculo ativo está funcionando a um comprimento específico e a uma velocidade de contração específica, incluindo a isométrica. É útil, portanto, gerar um gráfico que represente a relação tridimensional entre força, comprimento e velocidade de contração muscular (Fig. 3.18). O gráfico, contudo, não inclui o componente comprimento-tensão passivo do músculo. O gráfico mostra, por exemplo, que um músculo contraindo a uma velocidade alta em seu comprimento encurtado produz níveis de força relativamente baixos, mesmo com esforço máximo. Em contraste, um músculo que se contraiu a uma velocidade baixa (quase isométrica) e a um comprimento mais longo (p. ex., próximo do seu comprimento ideal do músculo), teoricamente produz uma força ativa substancialmente maior. FIGURA 3.18 Um gráfico teórico representando as relações tridimensionais entre força muscular, comprimento muscular e velocidade de contração muscular durante um esforço máximo. A potência positiva está associada à ativação muscular concêntrica e a potência negativa está associada à ativação excêntrica do músculo. Potência pode ser expressa como força muscular multiplicada pela velocidade de contração muscular. (Redesenhado e modificado de Winter DA: Biomechanics and motor control of human movement, ed. 2, New York, 1990, John Wiley & Sons.) Recrutamento O recrutamento refere-se à ativação inicial de neurônios motores específicos que causam a ativação das fibras musculares associadas. O sistema nervoso recruta uma unidade motora alterando o potencial de voltagem através da membrana da célula do neurônio motor alfa. Esse processo envolve uma soma líquida de contribuições inibitórias e excitatórias concorrentes. Em uma voltagem crítica, os íons fluem através da membrana celular e produzem um sinal elétrico conhecido como potencial de ação. O potencial de ação é propagado para baixo do axônio do neurônio motor alfa até a placa terminal motora na junção neuromuscular. Após a fibra muscular ser ativada, ocorre uma contração muscular e uma pequena quantidade de força é gerada. Através do recrutamento de mais neurônios, mais fibras musculares são ativadas e, portanto, mais força é gerada dentro do músculo inteiro. As fibras musculares associadas a cada unidade motora normalmente partilham características contráteis semelhantes e são distribuídas dentro de uma região de um músculo. Embora cada músculo inteiro possa conter poucas centenas de unidades motoras, cada axônio dentro de uma determinada unidade motora pode inervar de cinco a 2.000 fibras musculares.33 Músculos que requerem controle motor fino e geram forças relativamente baixas, como aqueles que controlam o movimento do olho ou dos dígitos da mão, são geralmente associados a unidades motoras de tamanho menor. Tipicamente, essas unidades motoras têm um pequeno número de fibras musculares inervadas por axônio (isto é, possuem uma razão de inervação baixa). Em contrapartida, os músculos utilizados para controlar movimentos menos refinados que envolvem a produção de forças maiores são geralmente associados a unidades motoras de tamanho maior. Essas unidades motoras tendem a inervar um número de fibras musculares por axônio relativamente grande (isto é, possuem alta razão de inervação).33 Qualquer músculo inteiro, independentemente de seu papel funcional, possui unidades motoras com uma ampla variação de razões de inervação. Enfoque Especial 3.5 Análise da Complexidade do Termo “Inervação” do Músculo Esquelético Os músculos são estimulados a contrair-se por meio de um fluxo de saída de sinais eferentes que emanam do sistema nervoso central. Uma vez estimulados, os músculos geram força por um de dois mecanismos básicos: contraindo-se ou resistindo ao serem afastados. Essa força resultante é refinada através de uma fonte contínua de feedback aferente, ou sensorial, que ajuda a orquestrar a quantidade, o momento de ocorrência e a precisão do movimento. Este Enfoque Especial destina-se a reforçar a noção de que movimento ativo da qualidade depende tanto da inervação sensorial como da inervação motora. Como um músculo gera movimento, o sistema nervoso central recebe impulsos aferentes de uma ampla variedade de locais. Esses impulsos aferentes podem iniciar-se a partir dos olhos e dos canais semicirculares das orelhas, bem como de receptores localizados em músculos ativados e mecanorreceptores adjacentes na pele e nos tecidos conjuntivos periarticulares. A importância do feedback sensorial durante o movimento é evidente quando se observa a redução da qualidade do movimento em pessoas com patologia que envolve principalmente o sistema sensorial. No estado saudável, a inervação muscular engloba tanto os componentes aferentes como os eferentes da sinalização neurológica, do sistema nervoso central e para ele, através de múltiplos locais centrais e periféricos. A Tabela 3.4 lista uma das várias maneiras de classificar os receptores sensoriais localizados no músculo esquelético. A maioria dos receptores sinaliza o sistema nervoso sobre mudanças em alongamento e força no músculo e seu tendão. O sistema nervoso responde ajustando a excitabilidade relativa das unidades motoras nos músculos agonistas ou antagonistas. Além disso, os receptores musculares detectam alterações na pressão mecânica assim como o ambiente metabólico local, orientando então alterações no débito cardiovascular e na excitabilidade do conjunto do neurônio motor. As informações incluídas nesta tabela podem ajudar a esclarecer um sistema de nomenclatura muitas vezes confuso e sobreposto de receptores sensoriais e seus nervos em geral. Essa informação pode ser útil para estudo adicional e leitura nesta área. Tabela 3.4 Resumo da Nomenclatura e Informações Básicas de Receptores Sensoriais Selecionados no Músculo Esquelético Gr up o* Receptor Sensorial Função Estímulo Primário do Receptor Comentários Ia Fuso muscular (primário ) Aumenta a excitabilidade do músculo agonista; diminui a excitabilidade do músculo antagonista Taxa de alongament o do músculo Maior responsável pelo reflexo de percussão tendínea Ib Órgão do tendão de Golgi (GTO) Diminui a excitabilidade do músculo agonista; aumenta a excitabilidade do músculo antagonista Força músculo- tendão Estimulado em toda a gama de forças II Músculo fusiforme (secundá rio) Aumenta a excitabilidade do músculo agonista; diminui a excitabilidade do músculo antagonista Alongamento muscular Presente em quase todos os músculos, exceto a língua III Mecanorrece ptor Aumenta o débito cardiovascular e ventilatório; inibe o impulso motor central Mudança de pressão intramuscul ar Influi na excitação do agregado de neurônios motores durante o exercício IV Metaborrece ptor Como anteriormente Mudança de metabolism o muscular Como anteriormente * Os números romanos designam a classificação da fibra nervosa associada a um receptor particular. Os grupos são classificados com base no diâmetro relativo da fibra nervosa e na velocidade de condução. (O grupo I tem o maior diâmetro e a maior velocidade de condução.) O tamanho do neurônio motor influi na ordem em que ele é recrutado pelo sistema nervoso. Os neurônios menores são recrutados antes dos neurônios motores maiores (Fig. 3.19). Esse princípio é chamado de Princípio de Tamanho de Henneman, primeiramente demonstrado de modo experimental e desenvolvido por Elwood Henneman no fim dos anos 1950.52 O Princípio do Tamanho representa grande parte do recrutamento ordenado de unidades motoras, especificadas por tamanho, que possibilitam aumentos suaves e controlados do desenvolvimento de força. FIGURA 3.19 Classificação de tipos de unidademotora a partir de fibras musculares baseadas nas características de perfil histoquímico, tamanho e contração (contrátil). Um contínuo teórico de características contráteis e morfológicas diferentes é mostrado para cada um dos três tipos de unidades motoras. É importante observar que o alcance de qualquer característica pode variar consideravelmente dentro de qualquer unidade motora (seja dentro ou entre músculos inteiros). As fibras musculares inervadas pelos pequenos neurônios motores têm respostas de contração relativamente longas (“contração lenta”) e pequenas em amplitude. As unidades motoras associadas a essas fibras foram classificadas como S (para lento — slow em inglês) por causa das características contráteis das fibras musculares. As fibras associadas são chamadas de fibras SO, indicando seu perfil histoquímico lento e oxidativo. As fibras associadas a unidades motoras lentas (S) são relativamente resistentes à fadiga (isto é, apresentam pouca perda de força durante uma ativação sustentada). Consequentemente, um músculo como o sóleo (que faz ajustes contínuos e frequentemente pequenos no balanço postural do corpo sobre o pé) tem uma proporção relativamente grande de fibras SO.70 Esse tipo de fibra lenta possibilita que os “músculos posturais”, como o sóleo, mantenham níveis baixos de força em longa duração. Em contrapartida, as fibras musculares associadas a neurônios motores maiores têm respostas de contração muscular de duração relativamente breve (“contração rápida”) e maior em amplitude. Unidades motoras associadas a essas fibras são classificadas como FF (rápidas e facilmente fatigáveis). As fibras associadas são classificadas como FG, indicando seu perfil histoquímico glicolítico de contração rápida. Essas fibras são facilmente fatigáveis. As unidades motoras FF maiores são geralmente recrutadas após as unidades motoras SO menores, quando forças muito grandes são necessárias. A Figura 3.19 mostra em diagrama a existência de um espectro de unidades motoras intermediárias que possuem perfis fisiológicos e histoquímicos entre “lentos” e “rapidamente fatigáveis”. As unidades motoras mais “intermediárias” são classificadas como FR (resistente à fadiga rápida). As fibras são chamadas de fibras FOG, indicando a utilização de fontes de energia oxidativa e glicolítica. A disposição dos tipos de unidades motoras ilustrados na Figura 3.19 possibilita um amplo contínuo de respostas fisiológicas a partir do músculo esquelético. As unidades motoras menores (mais lentas) recrutadas em geral são precocemente recrutadas durante um movimento e geram forças musculares relativamente baixas que podem ser sustentadas ao longo de um tempo relativamente longo. As características contráteis associadas às fibras musculares são ideais para o controle das contrações finas ou suavemente graduadas de baixa intensidade. Unidades motoras maiores (mais rápidas) são recrutadas após as unidades motoras menores e adicionam sucessivamente forças maiores de duração mais curta. Através deste espectro, o sistema nervoso é capaz de ativar fibras musculares que mantêm posturas estáveis durante um período de tempo longo e, quando necessário, produzem grandes explosões de força de curta duração para movimentos mais impulsivos. Codificação de taxa Depois de um neurônio motor específico ter sido recrutado, a força produzida pelas fibras musculares associadas é fortemente modulada pela taxa de descarga de potenciais de ação sequenciais. Esse processo é chamado de codificação de taxa. Embora um único potencial de ação em uma fibra muscular esquelética persista por vários milissegundos (ms), a contração da fibra muscular resultante (contração isolada) pode durar de 130 ms a 300 ms numa fibra de contração lenta. Quando uma unidade motora é recrutada pela primeira vez, descarregará (ou aumentará vertiginosamente) a cerca de 10 potenciais de ação por segundo, ou 10 Hz. (A taxa média de descarga de um potencial de ação é indicada como uma frequência [Hz] ou como seu intervalo interspike recíproco; 10 Hz são equivalentes a um intervalo interspike de 100 ms.) Com excitação aumentada, a taxa de descarga pode aumentar para cerca de 50 Hz (intervalo interspike de 20 ms) durante uma contração de alta força, embora isso geralmente seja sustentado por apenas um breve período.33 Pelo fato de a duração da contração ser frequentemente mais longa do que o intervalo entre as descargas dos potenciais de ação, é possível que uma série de potenciais de ação subsequentes comece durante a contração inicial. Se uma fibra muscular pudesse relaxar completamente antes do potencial de ação subsequente, a segunda contração da fibra geraria uma força equivalente à da primeiro contração (Fig. 3.20A). Se o próximo potencial de ação chega antes que a contração anterior tenha relaxado, no entanto, as contrações musculares somam-se e geram uma força de pico ainda maior. Além disso, se o próximo potencial de ação chega mais perto do nível de força de pico da contração inicial, a força é ainda maior. FIGURA 3.20 Somatório das contrações musculares individuais (contrações) registradas em uma ampla gama de frequências de estimulação elétrica. O gráfico em (A) mostra dados teóricos de uma única fibra muscular. O gráfico em (B) mostra dados reais de sete estimulações elétricas, cada uma de uma frequência diferente aplicada ao músculo extensor do joelho em um homem saudável de 23 anos de idade. Observe-se que em baixas frequências de estimulação (< 5 Hz), a contração inicial é relaxada antes que a próxima contração possa ser somada. Em frequências progressivamente mais altas, as contrações somam para gerar níveis de força mais altos até que um tétano fundido ocorra. (Fig. A, De Hall JE: Guyton & Hall textbook of medical physiology, ed. 13, Philadelphia, 2016, Saunders.) Enfoque Especial 3.6 Princípio do Tamanho de Henneman : Há Uma Exceção? Conforme revisto neste capítulo, o Princípio de Tamanho Henneman estabelece que, com níveis crescentes de ativação muscular voluntária, unidades motoras são recrutadas de maneira ordenada e previsível especificamente de unidades motoras menores a maiores. Esse princípio baseia-se na anatomia do neurônio: unidades motoras menores têm corpos celulares proporcionalmente menores e diâmetros de axônios menores, exigindo assim menos estímulos excitatórios para gerar um potencial de ação com unidades motoras maiores. O potencial de ação gerado voluntariamente é então propagado para baixo do axônio, a fim de iniciar ou modular a força muscular. Embora raros, podem existir cenários clínicos em que a lógica acima referida parece ser violada. Considere, por exemplo, o uso terapêutico da estimulação elétrica de um músculo em um local diretamente sobre a pele do ventre muscular. Esse procedimento não requer necessariamente um esforço volitivo por parte do paciente; em vez disso, o potencial de ação é extrinsecamente induzido ao longo do axônio, bem distal ao corpo celular e próximo da junção neuromuscular. Curiosamente, seguindo a estimulação elétrica, os axônios de maior diâmetro são excitados antes dos axônios de menor diâmetro.86 Embora isso pareça estar em conflito com o Princípio do Tamanho de Henneman, na realidade não está. O Princípio do Tamanho é baseado em um esforço volitivo, tipicamente onde o corpo celular ou dendritos de neurônios motores são estimulados a partir do sistema nervoso central por outras sinapses. O uso de uma estimulação elétrica externa para levar um músculo a contrair-se tem implicações clínicas práticas. Por exemplo, este procedimento possibilita aos médicos estimular músculos paralisados em outros aspectos por lesão medular. Essa intervenção ajuda a reduzir a atrofia muscular e manter a densidade óssea.29,30 Um conjunto de potenciais de ação repetitivos em que cada um ativa a fibra muscular antes do relaxamento da contração anterior gera uma série de contrações mecânicas somadas, denominadas tétano não fundido (Fig. 3.20A). Como o intervalo de tempo entre a ativação de contrações sucessivasencurta, o tétano não fundido gera maior força até que os sucessivos picos e vales das contrações mecânicas se fundam em um único nível estável de força muscular denominado tétano fundido. O tétano fundido representa o maior nível de força que é possível para uma única fibra muscular. Unidades motoras ativadas a taxas elevadas são, portanto, capazes de gerar força total maior do que o mesmo número de unidades motoras ativadas a taxas mais baixas. A mecânica da contração muscular da fibra muscular única e do tétano fundido foi descrita anteriormente no contexto de uma única fibra muscular. Esse mesmo fenômeno, no entanto, pode ser demonstrado no nível de um músculo inteiro em uma pessoa saudável (Figura 3.20B). Embora a força de uma contração seja muito maior no nível muscular total em comparação com uma única fibra, a forma da curva entre a força (ou torque neste caso) e a frequência é semelhante. Essa curva não é específica para apenas o músculo esquelético, que, curiosamente, foi descrito pela primeira vez no músculo cardíaco de uma rã na década de 1870.109 A relação entre a força e a frequência na qual uma unidade motora é ativada tem forma curvilínea, com um aumento íngreme na força a frequências baixas a moderadas de ativação, seguidas por um platô de força a frequências elevadas (geralmente em cerca de 50 Hz para músculo humano inteiro). A forma precisa da curva, contudo, depende da duração de cada contração. Uma unidade motora lenta, por exemplo, que gera uma contração muscular de longa duração, atingirá um tétano fundido a uma frequência menor do que uma unidade motora rápida. Os mecanismos fisiológicos de recrutamento e codificação de taxas da unidade motora funcionam simultaneamente durante o aumento de uma força muscular. A estratégia prevalecente (recrutamento ou codificação de taxa) é altamente específica para as exigências particulares e a natureza de uma tarefa motora. Por exemplo, o recrutamento de unidades motoras durante a ativação excêntrica é diferente daquela durante a ativação concêntrica. Durante uma ativação excêntrica, uma força relativamente grande é gerada por ponte cruzada. Consequentemente, o número de unidades motoras recrutadas é menor do que para a mesma força produzida durante uma ativação concêntrica. Assim, uma ativação concêntrica requer o recrutamento de um maior número de unidades motoras para produzir a mesma força que uma ativação excêntrica. Além disso, a codificação da taxa é particularmente importante na produção de uma força rápida, especialmente nos estágios de uma ativação isométrica. A codificação da taxa pode levar algumas unidades motoras a descarregar potenciais de ação em rápida sucessão (descargas duplas) para aumentar ainda mais o desenvolvimento da força. Ocorrem duplas descargas quando uma unidade motora descarrega um potencial de ação dentro de cerca de 20 ms da descarga anterior — ou seja, a 50 Hz ou mais, que é o limite superior da frequência de descarga da unidade motora regular em seres humanos.33 Independentemente da estratégia específica usada para aumentar a força, o Princípio de Tamanho de Henneman (isto é, a ordem de recrutamento de unidades motoras pequenas para maiores) ainda é mantido. Introdução à eletromiografia A eletromiografia (EMG) é a ciência do registro e da interpretação da atividade elétrica que emana de músculo esquelético ativado. A EMG é um dos instrumentos de pesquisa mais importantes usados no campo da cinesiologia. Com uma análise cuidadosa e qualificada, é possível ao médico e ao pesquisador determinar o momento de ocorrência e a magnitude da ativação de vários músculos inteiros, tanto superficiais como profundos, durante movimentos funcionais simples ou relativamente complexos. Especialmente durante o último meio século, os estudos de EMG forneceram grande insight sobre as ações específicas dos músculos. Embora a EMG continue sendo o padrão-ouro para o registro da atividade muscular, outras tecnologias menos comuns estão disponíveis para registrar a atividade muscular, incluindo a mecanomiografia e a ultrassonografia. Em resumo, a mecanomiografia registra as vibrações mecânicas geradas por fibras musculares ativas ativadas por um microfone condensador eletrônico externo protegido sobre o músculo.127 A ultrassonografia utiliza uma sonda externa colocada sobre a região de um músculo ativo para registrar deformações ou deslocamentos que ocorrem dentro do músculo.15,110,138 A imagem de ultrassom é frequentemente usada para acessar indiretamente e visualizar a ativação de músculos mais profundos do tronco. Essa técnica é frequentemente utilizada como instrumento de avaliação para determinar a eficácia de determinados exercícios voltados para melhora da força e controle do músculo “núcleo” do tronco em pessoas com dor lombar.130,134,140 Embora a EMG seja também uma ferramenta importante para o diagnóstico e tratamento de determinadas condições patológicas neuromusculares ou deficiências (p. ex., neuropatia periférica e esclerose lateral amiotrófica), este capítulo enfoca seu uso no estudo da cinesiologia do sistema musculoesquelético. Estudos de EMG são citados regularmente em todo este texto, principalmente como um meio de justificar uma ação ou função sinergética do músculo durante um movimento ou uma tarefa. A pesquisa com EMG também pode ajudar a explicar ou justificar uma vasta gama de outros fenômenos cinesiológicos e patocinesiológicos, abrangendo tópicos relacionados a fadiga do músculo, aprendizagem motora, proteção de articulações lesionadas ou instáveis, locomoção, ergonomia e esporte e recreação.25,34,89 Por essa razão, o leitor precisa entender a técnica básica, o uso e as limitações da EMG na cinesiologia. Registro da Eletromiografia Quando um neurônio motor é ativado, o impulso elétrico trafega ao longo do axônio até chegar às placas terminais motoras e, em seguida, propaga-se em ambos os sentidos para longe da placa terminal motora ao longo do comprimento das fibras musculares. O sinal elétrico que se propaga ao longo de cada fibra muscular é chamado de potencial de ação da unidade motora. Os eletrodos sensíveis são capazes de medir a soma da mudança na voltagem associada a todos os potenciais de ação envolvidos com as fibras musculares ativadas.34,36 Essa voltagem é frequentemente chamada de sinal de EMG bruto ou de interferência. O sinal de EMG bruto é detectado antes da geração real de força por um músculo, comumente chamada de atraso eletromecânico. O atraso é curto, tipicamente com duração entre 40 e 60 ms.11 Os sinais de EMG brutos podem ser detectados por eletrodos internos (fios finos inseridos no músculo) ou por eletrodos de superfície (colocados sobre a pele sobrejacente ao músculo). Os eletrodos de gravação da EMG são frequentemente conectados a um cabo que se liga diretamente ao hardware de processamento de sinal. Avanços técnicos mais recentes possibilitam que os sinais de EMG sejam gravados de maneira confiável com uso de sistemas sem fio. Os sistemas sem fio em geral são desejados para monitoramento e registro da atividade muscular a partir de longas distâncias do indivíduo ou paciente ou durante atividades em que o cabeamento pode prejudicar a liberdade de movimento. Os sinais da EMG de superfície sem fio são transmitidos para um computador de gravação por ondas de radiofrequência e, portanto, são mais suscetíveis a artefatos do que quando eletrodos de cabo são utilizados. A escolha dos eletrodos depende da situação particular e do objetivo da análise da EMG. Os eletrodos de superfície são usados mais frequentemente porque são fáceis de aplicar, não são invasivos e podem detectar sinais de uma área relativamente grande sobre o músculo. Um arranjo comum envolve a colocação de dois eletrodos de superfície sobre o músculo (cada um com aproximadamente 4 a 8 mm de diâmetro), lado a lado, na pele sobre o ventre muscular de interesse. Um eletrodo de referência adicional (terra) é colocado sobre uma área óssea que não tem músculo diretamente embaixo. Para garantir amplitude máximado sinal de EMG, os eletrodos são colocados em paralelo com o eixo longo das fibras musculares. Esse arranjo típico geralmente pode detectar potenciais de ação em uma área de 2 cm dos eletrodos.35,90 Os eletrodos de arranjos lineares são um estilo recentemente desenvolvido de sensores de superfície que cobrem uma grande área de gravação grande de um músculo. Essencialmente, os eletrodos de arranjo linear são uma coleção de muitos eletrodos de superfície menores tradicionais alinhados em estreita proximidade uns com os outros em um arranjo sistemático de linhas e colunas (isto é, arranjos) para possibilitar que vários sinais de EMG sejam gravados simultaneamente. O arranjo e o tamanho podem variar de apenas oito áreas de gravação pequenas em uma linha até 128 áreas de gravação muito pequenas de registro dispostas em várias colunas e linhas. Esses arranjos podem detectar muitos potenciais de ação sobre uma grande porção do músculo. Através de uma análise matemática complexa, os sinais brutos de EMG de múltiplos pares e combinações de eletrodos de arranjos podem ser decompostos em formas de onda isoladas e extraídos para representar a atividade das únicas unidades motoras.43,87 As unidades motoras individuais podem ser rastreadas através dos eletrodos do arranjo para quantificar propriedades da unidade motora, incluindo o recrutamento da unidade motora, bem como sua velocidade de condução e taxa de descarga.34,35 Embora os eletrodos de arranjo linear sejam ideais para o estudo das unidades motoras individuais, eles são limitados a músculos superficiais como o bíceps braquial. Os eletrodos de fio fino inseridos diretamente no músculo possibilitam que uma região mais específica de um músculo seja monitorada, bem como aqueles músculos mais profundos não facilmente acessíveis através do uso de eletrodos de superfície, como o braquial, tibial posterior e transversal abdominal. Embora a área de registro seja muito menor, os eletrodos de fios finos podem também discriminar potenciais de ação únicos produzidos por uma ou poucas unidades motoras. A inserção de eletrodos de fio fino no músculo humano requer um nível relativamente alto de habilidade técnica e treinamento adequado antes de sua implementação segura. A voltagem do sinal de EMG bruto é geralmente de apenas alguns milivolts; portanto, o sinal pode ser facilmente distorcido por outras fontes elétricas causadas pelo movimento de eletrodos e cabos, músculos ativos adjacentes ou distantes e radiação eletromagnética do ambiente circundante. Várias estratégias podem ser usadas para minimizar artefatos elétricos indesejados (frequentemente chamados de “ruído”), incluindo a utilização da configuração de eletrodo bipolar e de terra previamente descrita. Esse arranjo minimiza artefatos elétricos comuns detectados pelos dois eletrodos, um método que os especialistas em eletromiografia frequentemente chamam de “rejeição de modo comum”.31,89 Outras estratégias para reduzir artefatos elétricos indesejados incluem preparação adequada da pele e blindagem elétrica adequada do ambiente de gravação. Os sinais elétricos também podem ser pré-amplificados no local do eletrodo. Esse aumento do sinal no local do eletrodo reduz o artefato produzido pelo movimento dos cabos do eletrodo, o que é uma preocupação especial quando a EMG é monitorada durante atividades dinâmicas como andar ou correr.122 A filtragem do sinal de EMG pode reduzir determinados sinais elétricos ao restringir a faixa de frequência da EMG gravada. Um filtro passa-faixa envolve a combinação de um filtro passa- alta (frequências abaixo de uma frequência especificada são bloqueadas e frequências mais altas passam) e um filtro passa-baixa (frequências acima de uma frequência especificada são bloqueadas e as frequências mais baixas podem passar). Um filtro passa-faixa típico para EMG de superfície retém sinais de 10 a 500 Hz e descarta as outras frequências.88 A filtragem de passa-faixa mais larga de cerca de 200 a 2.000 Hz ou mesmo maior é frequentemente necessária para o registro intramuscular de EMG para extrair unidades motoras simples. Se necessário, um filtro também pode ser projetado para eliminar os sinais de corrente comuns de 60 Hz (usados na América do Norte) que podem existir no ambiente de registro por causa da interferência elétrica do ambiente. Para evitar a perda de partes do sinal EMG, é essencial que a taxa de amostragem seja pelo menos o dobro da frequência mais elevada contida dentro do sinal de EMG. Por exemplo, o uso de um filtro passa-faixa configurado a 10 a 500 Hz, idealmente, requer uma taxa de amostragem de pelo menos 1.000 amostras por segundo.88 Análise e Normalização da Eletromiografia A EMG pode fornecer informações valiosas sobre as ações dos músculos, particularmente quando combinados com dados como tempo, cinemática da articulação, forças externas ou dados derivados de modelagem biomecânica.13,126 Em muitas análises cinesiológicas, o tempo e a amplitude do sinal de EMG são de interesse primordial. Considere-se, por exemplo, a relevância potencial de estudar o momento normal ou sequenciamento da ativação dos músculos associados à estabilização da coluna vertebral. Um atraso ou uma inibição da ativação de um músculo como o transverso abdominal ou multífido lombar, por exemplo, podem sugerir uma causa de instabilidade na coluna inferior. Portanto, os tratamentos podem ser direcionados ou concentrar-se em atividades que recrutam e desafiam especificamente esses músculos.57,92,101 A medição do momento de ocorrência relativo ou ordem de ativação do músculo com EMG pode ser realizada visualmente usando um osciloscópio ou uma tela de computador ou por métodos descritivos, matemáticos ou estatísticos mais quantitativos.122 A avaliação das exigências colocadas sobre um músculo é geralmente determinada pela amplitude relativa do sinal de EMG. Supõe-se que uma maior amplitude de EMG geralmente indica maior intensidade da ativação muscular e, em alguns casos, maior força muscular relativa. A Figura 3.21A-B representa uma força gerada pela ativação isométrica de um músculo flexor do cotovelo, produzindo um sinal de EMG bruto bipolar (interferência). O sinal de EMG bruto é uma voltagem que oscila em um ou outro lado do zero e, portanto, frequentemente precisa ser matematicamente manipulado para servir como uma medida quantitativa útil da ativação muscular. Um método assim é chamado de retificação de onda completa, que converte o sinal bruto em voltagens positivas, resultando no valor absoluto da EMG (Fig. 3.21C). A amplitude do sinal de EMG retificado pode ser determinada pela média de uma amostra de dados coletados durante um tempo específico de ativação. Além disso, o sinal retificado pode ser filtrado eletronicamente ou suavizado, um processo que aplaina seus “picos e vales” (Fig. 3.21D). Esse sinal suavizado frequentemente é chamado de “envelope linear”, que pode ser quantificado como uma “média em movimento”, especificado durante um certo período de tempo ou outro evento. Embora não ilustrado na Figura 3.21, o sinal suavizado também pode ser integrado, um processo matemático que calcula a área sob a curva (voltagem-tempo). Esse processo possibilita a quantificação cumulativa de EMG durante um período de tempo fixo. FIGURA 3.21 Diagrama que descreve várias maneiras de processar sinais de EMG causados por uma ativação isométrica dos músculos flexores do cotovelo em um esforço submáximo realizado por uma jovem saudável. Uma força externa produzida pela ativação dos músculos flexores do cotovelo é mantida a 80 N durante cerca de 10 segundos (A). O sinal de EMG é registrado como um sinal bruto (B), em seguida é processado por retificação de onda completa (C) e finalmente é filtrado e suavizado para apagar as frequências mais altas (D). Uma análise alternativa para representar a amplitude de EMG bruta é calcular o valor quadrático médio (RMS) sobre um período de tempo, que se correlaciona com o desvio padrão de voltagem em relação a zero.35 Essa análise matemática envolveo quadrado do sinal (para garantir um sinal completamente positivo), o cálculo da média e o cálculo da raiz quadrada. As voltagens de uma EMG tratadas matematicamente por qualquer das técnicas descritas também podem ser utilizadas em dispositivos de biofeedback, como medidores visuais ou sinais de áudio, ou acionar outros dispositivos, como estimuladores elétricos, para ativar um músculo em um limiar pré-definido de contração voluntária. Quando a magnitude de um sinal de EMG processado é comparada entre diferentes músculos, dias ou condições, é necessário que o sinal seja normalizado para algum sinal de referência comum. A expressão da amplitude da EMG em voltagem absoluta pode produzir dados sem sentido em muitos estudos cinesiológicos, especialmente quando se está tentando fazer a média de dados entre diferentes indivíduos e músculos. Isso é especialmente verdadeiro quando os dados de EMG são recolhidos em várias sessões, exigindo que os eletrodos sejam reaplicados. Mesmo com igual esforço muscular, a voltagem absoluta variará de acordo com escolha do eletrodo (incluindo tamanho), condição da pele e local exato da colocação do eletrodo. Um método comum de normalização de EMG envolve referenciar o sinal produzido por um músculo ativado com aquele produzido pelo mesmo músculo durante uma contração isométrica voluntária máxima (MVIC). Comparações significativas podem então ser feitas sobre a amplitude ou intensidade relativa ou intensidade da ativação muscular em diferentes indivíduos ou dias, expressados como uma porcentagem de MVIC.63 Alternativamente, em vez de usar um MVIC como um sinal de referência, alguns eletromiógrafos usam a resposta elétrica evocada a partir da estimulação elétrica do músculo (isto é, onda M) para análise.143 Além disso, o nível de ativação de um músculo pode ser referenciado para outra tarefa de referência significativa que não envolva esforço máximo.63,97 Amplitude Eletromiográfica Durante a Ativação Muscular Para evitar a má interpretação da EMG quando ela se relaciona com uma ação ou função geral do músculo, é essencial compreender os fatores fisiológicos e técnicos que influenciam a amplitude do sinal de EMG. A amplitude do sinal de EMG é geralmente proporcional ao número e à taxa de descarga de unidades motoras ativas dentro da área de gravação dos eletrodos de EMG. Esses mesmos fatores também contribuem para a força gerada por um músculo. Frequentemente, portanto, é tentador usar uma magnitude de EMG relativa de um músculo como uma medida de sua produção de força relativa. Embora se possa supor uma relação positiva entre essas duas variáveis durante uma ativação isométrica,63 ela não pode ser admitida durante todas as formas de ativação não isométrica.49,102 Essa ressalva é baseada em vários e frequentemente simultâneos fatores, tanto fisiológicos como técnicos. Enfoque Especial 3.7 “Tipagem da Fibra” — Uma Longa História da Nomenclatura da Classificação Conforme descrito na Figura 3.19, são reconhecidos três tipos de unidades motoras: lenta (S), rápida resistente à fadiga (FR) e rápida fatigável (FF). A maioria das fibras musculares associadas a determinada unidade motora são fisiologicamente semelhantes e, portanto, possuem características funcionais semelhantes. Ao longo dos anos, pesquisadores tentaram identificar por biópsia e análises histoquímicas ou bioquímicas fibras musculares fisiologicamente associadas a cada um dos principais tipos de unidades motoras. Esse processo é chamado de “tipagem de fibras”. Várias técnicas de tipagem de fibras surgiram nos últimos 50-60 anos, três das quais são destacadas na Tabela 3.5. O primeiro método analisou o perfil histoquímico das fibras com base em seu metabolismo oxidativo ou glicolítico relativo. Este sistema, como anteriormente descrito neste capítulo, liga convenientemente as características contráteis das fibras com a nomenclatura de classificação das unidades motoras (comparem-se as colunas linhas 1 e 2 na Tabela 3.5). Este método original foi desenvolvido a partir de estudos de unidades motoras animais por Edgerton et al. na década de 1960 e mais tarde aperfeiçoado no início dos anos 1970.104 Tabela 3.5 Comparação de Três Métodos de Tipagem de Fibra do Músculo Esquelético Tipos de Unida des Motor as Perfil Histoquímico de Fibras com Base no Metabolismo Oxidativo ou Glicolítico Relativo Perfil Histoquímico de Fibras com Base na Atividade Relativa de Miosina ATPase Perfil Molecular de Fibras Baseado na Dominância de uma Isoforma de Cadeia Pesada de Miosina (MHC) Lenta (S) Oxidativo lento (SO) Tipo I (baixa atividade) MHC I Rápida resist ente à fadig a (FR) Glicolítico oxidativo rápido (FOG) Tipo IIA (atividade elevada) MHC IIA Rápida fatig ável (FF) Glicolítico rápido (FG) Tipo IIX (alta atividade) MHC IIX Em 1970, Brooke e Kaiser14 conceberam uma técnica de tipagem de fibra dos músculos humanos. Essa técnica estudou o perfil histoquímico das fibras com base na atividade da enzima miosina ATPase (coluna 3 na Tabela 3.5). A atividade relativa desta enzima possibilitou que as fibras de contração rápida (tipo II) fossem diferenciadas das fibras de contração muscular lenta (tipo I). No músculo humano, as fibras de tipo II mais rápidas podem ser classificadas como tipo IIA e tipo IIX. (Observe-se que p p p p q o tipo IIX em seres humanos foi originalmente identificado como tipo IIB até em anos mais recentes, quando a composição molecular da miosina foi verdadeiramente identificada conforme descrito posteriormente.) Até o início da década de 1990, as técnicas histoquímicas realizadas em cortes transversais das fibras musculares foram o método dominante para tipagem de fibras de músculos humanos. A análise bioquímica de moléculas de proteínas foi desenvolvida rapidamente, possibilitando que partes de músculo ou fibras isoladas fossem analisadas com base na proporção de isoformas de miosina estruturalmente semelhantes (cadeia pesada) — uma proteína ativa primária (contrátil) no sarcômero. Pelo menos três isoformas dessa proteína de cadeia pesada de miosina (MHC) foram identificadas em seres humanos: MHC I, MHC IIA e MHC IIX (coluna 4 na Tabela 3.5). A isoforma dominante encontrada dentro de uma fibra está correlacionada com várias de suas propriedades mecânicas, incluindo a taxa máxima de encurtamento e desenvolvimento de força, bem como características de força-velocidade.115 Essa técnica, atualmente considerada o “padrão-ouro” para tipagem de fibras, está bem correlacionada com a histoquímica da miosina ATPase.115,125 Fisiologicamente, a amplitude da EMG durante um período de ativação não isométrico pode ser influenciada pelas relações comprimento-tensão e força-velocidade. Considerem-se os seguintes dois exemplos hipotéticos. O músculo A produz 30% da força máxima via ativação excêntrica de alta velocidade, ao longo de um comprimento muscular que favorece a produção de forças ativas e passivas relativamente grandes. O músculo B, ao contrário, produz uma força submáxima equivalente através de uma ativação concêntrica de alta velocidade, ao longo de um comprimento muscular que favorece a produção de forças ativas e passivas relativamente pequenas. Com base nas influências combinadas de comprimento-tensão do músculo e nas relações força-velocidade (representadas nas Fig. 3.11 e 3.15), presume-se que o músculo A funcione em uma vantagem fisiológica relativa para produzir força. Portanto, o músculo A requer menos unidades motoras a serem recrutadas do que o músculo B. Os níveis de EMG seriam assim menores para o movimento realizado pelo músculo A, embora ambos os músculos possam estar produzindo forças submáximas equivalentes. Neste exemplo extremo e hipotético, a magnitude da EMG não poderia ser usada para comparar de maneira confiável as forças relativas produzidas por esses dois músculos. Considere-se também que, quando um músculo ativado está se alongando ou encurtando, as fibras musculares (a fonte do sinal elétrico de EMG) mudam sua orientação espacial para os eletrodos de gravação.Portanto, o sinal da EMG pode representar uma compilação de vários potenciais de ação de diferentes regiões de um músculo ou mesmo de diferentes músculos durante a amplitude de movimento. Isso pode alterar o sinal de voltagem registrado pelos eletrodos com uma mudança não proporcional na força muscular. Outros fatores técnicos que potencialmente afetam a magnitude de um sinal de EMG durante o movimento estão listados no quadro a seguir. Uma discussão detalhada deste tópico pode ser encontrada em outro local.34-36,90 Fatores Técnicos que Podem Afetar a Magnitude do Sinal de EMG • Configuração e tamanho do eletrodo • Faixa e tipo de filtragem do conteúdo de frequência do sinal • Magnitude de cross-talk de músculos próximos • Localização dos eletrodos em relação às placas terminais da unidade motora • Orientação dos eletrodos em relação à fibra muscular Ao longo deste livro-texto, são citados estudos com EMG que compararam as amplitudes médias de EMG entre diferentes músculos de indivíduos diferentes. Dependendo do desenho experimental e da técnica (incluindo normalização apropriada), especificações do movimento e tipo e velocidade de ativação dos músculos, pode ser apropriado supor que uma maior amplitude relativa de um sinal de EMG de um músculo está associada a uma contração. Em geral, a confiança dessa suposição é maior quando dois músculos são comparados durante ativações isométricas. A confiança é menor, no entanto, quando os músculos são comparados ao executar o movimento que requer ativações excêntricas e concêntricas ou quando os músculos estão fatigados (ver adiante). Em conclusão, embora não seja possível prever a força relativa em todos os músculos com base na amplitude da EMG, a amplitude (ou momento oportuno) da ativação ainda fornece indícios muito úteis para o papel cinesiológico do músculo em uma determinada ação. Esses indícios são frequentemente reforçados pela análise de outras variáveis cinéticas e cinemáticas, como as fornecidas por goniômetros, acelerômetros, vídeo ou outros sensores ópticos, medidores de tensão e placas de força (Cap. 4). p p p Causas da fadiga muscular em pessoas saudáveis A fadiga muscular é classicamente definida como uma diminuição da força ou potência muscular voluntária máxima induzida por exercício, apesar do esforço máximo.32,72,74 A fadiga muscular pode definir os limites de desempenho humano durante esforços atléticos, tarefas ergonômicas, treinamento físico e reabilitação. A compreensão da fadiga muscular é muito importante para o médico porque é a base da sobrecarga e adaptação neuromuscular necessária para reabilitação e treinamento do sistema neuromuscular. Até em pessoas saudáveis, a fadiga muscular ocorre durante e após um esforço físico sustentado. Normalmente, a fadiga muscular é reversível com repouso e não deve ser confundida com estar cronicamente “cansado” ou com fraqueza muscular que persiste mesmo com amplo repouso.74 Embora a fadiga muscular seja uma resposta normal ao esforço físico sustentado, fadiga muscular excessiva, crônica ou cansaço não é normal e é frequentemente um sintoma de um distúrbio ou doença neuromuscular subjacente.74 Na pessoa saudável, a fadiga muscular pode ser sutil, especialmente durante a execução de tarefas que envolvam níveis de esforço prolongados, submáximos.121 Isso é evidente na Figura 3.22 (painel superior), quando uma pessoa saudável é instruída a executar uma série de contrações de flexão do cotovelo isométricas em um esforço submáximo de 50%, com cada sexto esforço (indicado pelas setas) sendo um esforço máximo (100%).62 Conforme observado na figura, a magnitude da força produzida pelos esforços máximos diminui gradualmente, embora a pessoa ainda possa gerar com sucesso o nível de 50% de força máxima. O desempenho contínuo desse esforço submáximo repetitivo, no entanto, resultaria, subsequentemente, em um declínio na força muscular bem abaixo do nível alvo de 50%. Assim, embora a fadiga muscular seja frequentemente medida como a redução da força ou potência máxima de um grupo muscular, também pode ser quantificada como o tempo até a falha de uma determinada tarefa submáxima.32 De interesse, como é evidente na Figura 3.22 (painel inferior), a amplitude do sinal de EMG aumenta gradualmente ao longo dos esforços submáximos repetidos mantidos a uma força constante. Esse aumento do sinal de EMG reflete o recrutamento de unidades motoras maiores adicionais à medida que as fibras musculares dentro das unidades motoras ativas perdem sua capacidade máxima de geração de força e simultaneamente cessa ou reduz suas taxas de descarga.113 Essa estratégia de recrutamento é uma tentativa de manter uma produção de força relativamente estável. FIGURA 3.22 Força isométrica dos músculos flexores do cotovelo sustentada intermitentemente (6 segundos ligada e 4 segundos desligada) a uma magnitude de 50% da força máxima inicial. Um esforço máximo (100%) é realizado a cada sexto esforço (em intervalos de 1 minuto) e é mostrado pelas pequenas setas no painel superior. O painel inferior mostra a superfície do sinal de EMG bruto registrado a partir do bíceps braquial durante a tarefa fatigante. (Dados de Hunter SK, Critchlow A, Shin IS, et al: Men are more fatigable than strength-matched women when performing intermittent submaximal contractions, J Appl Physiol 96:2125, 2004.) Em contraste com os esforços submáximos ilustrados na Figura 3.22, uma contração muscular sustentada no esforço máximo resulta em uma taxa muito mais rápida de declínio na força máxima. Neste caso, a amplitude da EMG diminui à medida que a força muscular diminui. Essa atividade reduzida da EMG reflete uma cessação ou um abrandamento da taxa de descarga das unidades motoras fatigantes. Pelo fato de todas as unidades motoras serem presumivelmente ativas durante os estágios iniciais do esforço máximo, não existem outras unidades motoras na reserva para compensar o declínio da força muscular, como é o caso com esforços submáximos prolongados. A magnitude ou taxa de fadiga muscular é específica para o desempenho da tarefa, incluindo a duração do ciclo de repouso-trabalho.32 Um músculo que é rapidamente fatigado por exercício de alta intensidade e curta duração pode recuperar-se após um descanso de apenas alguns minutos. Em contrapartida, um músculo que está fatigado por exercício de baixa intensidade e longa duração geralmente requer um tempo muito maior para recuperar sua capacidade de geração de força. Além disso, o tipo de ativação influencia a fadiga muscular. Um músculo que é ativado repetidamente de maneira excêntrica exibirá menos fadiga muscular do que quando ativado concentricamente à mesma velocidade e sob a mesma carga externa.10 A natureza resistente à fadiga relativa da ativação excêntrica reflete a maior força gerada por ponte cruzada e portanto o menor recrutamento de unidades motoras para uma determinada carga submáxima. É necessário precaução, entretanto, quando a ativação excêntrica é empregada como a ferramenta de treinamento de reabilitação em um músculo que não está acostumado a este tipo de ativação. O início tardio da dor muscular (DOMS), experimentada após ativações excêntricas repetidas, é geralmente mais grave do que após ataques de ativações concêntricas ou isométricas.107 O DOMS tende a atingir o pico de 24 a 72 horas após o episódio de exercício e é causado, em última instância, pela ruptura dos sarcômeros e lesão do citoesqueleto dentro da fibra e ao seu redor.19,108 Do ponto de vista clínico, é importante compreender que a fadiga muscular em pessoas saudáveis pode diferir com base em idade e sexo da pessoa.7,61,72 Mulheres, por exemplo, são geralmente menos fatigáveis do que os homens para exercício envolvendo ativação isométrica e concêntrica, quando a intensidade relativa é semelhante entre os sexos.61 O mecanismo para essa diferença relacionada com o sexo ocorre porque as mulheres geralmente possuem uma maior proporção de fibras do tipo I (contração lenta) do que os homens; portanto, seu músculo é mais resistenteà fadiga.61 A fadiga muscular também pode diferir acentuadamente entre adultos jovens e mais velhos,72 embora essa diferença relacionada com a idade dependa de a tarefa envolver ativação isométrica ou contrações dinâmicas rápidas. Enfoque Especial 3.8 Mudanças de Frequência do Sinal de EMG como Indicador de Fadiga Muscular Conforme descrito, durante contrações musculares de esforço submáximo prolongado ou repetido, a amplitude da EMG geralmente aumenta à medida que as unidades motoras dormentes são recrutadas para auxiliar ou compensar as unidades motoras fatigadas. Além disso, durante contrações musculares de esforço máximo prolongadas ou repetidas, a amplitude de EMG diminui à medida que a população de unidades motoras ativadas falha em estimular adequadamente o músculo. Essas respostas de EMG podem ajudar a identificar o início da fadiga muscular durante esforços prolongados. Outro método de avaliação indireta da fadiga muscular durante uma tarefa de esforço máximo é baseada na análise da frequência do conteúdo do sinal do EMG bruto. Quando um músculo se torna progressivamente fatigado, como durante um esforço prolongado, o sinal da EMG tipicamente mostra uma mudança para uma mediana (ou média) de frequência mais baixa. Essa análise pode ser realizada aplicando-se uma técnica matemática conhecida como transformação de Fourier para obter um espectro de densidade de potência do sinal de EMG. Uma queda na frequência mediana geralmente indica que os potenciais de ação que contribuem para o sinal de EMG estão aumentando em duração (velocidade de condução está diminuindo) e reduzindo em amplitude.35 O efeito líquido é uma mudança na frequência mediana do sinal de EMG para frequências mais baixas. Para os músculos ativados isometricamente, os adultos mais velhos geralmente são menos fatigáveis do que os adultos jovens, devido às diferenças relacionadas com a idade nas proporções do tipo de fibra (seção a seguir intitulada Alterações Musculares com Idade Avançada).7 Para músculo repetidamente ativado concentricamente em velocidades rápidas, os adultos mais velhos são geralmente mais fatigáveis do que os jovens adultos.21 Para o médico que prescreve exercícios de reabilitação que resultam em exercício fatigante dos músculos dos membros para homens e mulheres jovens e mais velhos, essas diferenças de tarefas e populações na fadiga muscular são considerações importantes. Existem vários mecanismos propostos para explicar as causas da fadiga muscular. Esses mecanismos podem estar localizados em todos os pontos dentro de e entre a ativação do córtex motor e o sarcômero.32,40,72 Podm ocorrer mecanismos no músculo ou na junção neuromuscular (muitas vezes referidos como mecanismos musculares ou periféricos). Alternativamente, podem ocorrer mecanismos no sistema nervoso (frequentemente chamados de mecanismos neurais ou centrais). A distinção entre os mecanismos musculares e neurais nem sempre é clara. Como exemplo, os aferentes do Grupo IV no músculo respondem aos subprodutos metabólicos locais associados à fadiga muscular. A ativação desses neurônios em um músculo fatigante pode inibir a taxa de descarga dos neurônios motores associados,5,85 paradoxalmente reduzindo ainda mais a força produzida pelo músculo fatigado. Nesse exemplo, o motivo da perda da força no músculo fatigante pode ser parcialmente explicado tanto pelos mecanismos musculares como neurais. Muitos mecanismos de fadiga muscular em pessoas saudáveis são associados ao próprio músculo. Os mecanismos que limitam a força ou potência, contudo, dependem da tarefa em si e de que região do sistema neuromuscular é mais estressada (sistema muscular ou nervoso ou ambos). Esses mecanismos podem ser investigados medindo-se a redução da força muscular produzida por estimulação elétrica, que é independente do sistema nervoso central e de esforço voluntário.40,61,72 Esses e outros testes sugerem que vários mecanismos musculares podem ser responsáveis pela fadiga muscular (ver lista no quadro a seguir).72 Possíveis Mecanismos Musculares que Contribuem para a Fadiga Muscular • Menor excitabilidade na junção neuromuscular • Menor excitabilidade no sarcolema • Mudanças no acoplamento excitação-contração devido à redução da sensibilidade e disponibilidade de cálcio intracelular • Mudanças na mecânica contrátil, incluindo desaceleração do ciclo da ponte cruzada • Redução da fonte de energia (origem metabólica) • Redução do fluxo sanguíneo e do suprimento de oxigênio Vários mecanismos de fadiga muscular foram propostos e envolvem o sistema nervoso — isto é, regiões proximais à junção neuromuscular.40,129 Esses mecanismos neurais envolvem tipicamente a entrada excitatória reduzida para os centros supraespinhais ou um declínio geral da entrada excitatória para os neurônios motores alfa.40 Como consequência, em pessoas saudáveis a ativação do pool de neurônios motores é reduzida e a força muscular diminui. Pessoas com doenças do sistema nervoso, como esclerose múltipla, podem sofrer de fadiga muscular ainda maior do que os adultos saudáveis devido a atrasos ou bloqueios na condução de impulsos neurais centrais.118 Para concluir, são necessárias pesquisas consideráveis para compreender melhor o tema da fadiga muscular. Esclarecimentos nesta área irão beneficiar praticamente qualquer procedimento de reabilitação que envolva esforço físico de um paciente ou cliente, independentemente de existir ou não um processo patológico subjacente. Mudanças no músculo com treinamento de força, uso reduzido e idade avançada Mudanças no Músculo com Treinamento de Força O sistema neuromuscular saudável apresenta uma capacidade notável de acomodar-se a diferentes demandas externas ou estímulos ambientais. Essa plasticidade é evidente na alteração robusta e quase imediata da estrutura e função do sistema neuromuscular após o treinamento de força. A força, no contexto deste capítulo, refere-se à força ou à potência máxima produzida por um músculo ou grupo muscular durante um esforço voluntário máximo. Sessões repetidas de ativação de um músculo com resistência progressivamente maior irão resultar em aumento da força e hipertrofia.58,75,135 Os ganhos de força são comumente quantificados por uma repetição máxima ou 1 RM. Por definição, 1 RM é a carga máxima que pode ser levantada uma vez quando um músculo se contrai através da amplitude de movimento completa ou quase completa da articulação. (Por segurança e razões práticas, foram desenvolvidas fórmulas que possibilitam que a força de 1 RM da pessoa seja determinada pelo levantamento de uma carga reduzida com um número maior de repetições.58) A quantidade de resistência empregada durante o treinamento de força é muitas vezes especificada como um múltiplo de 1 RM; por exemplo, o termo 3 RM é a carga máxima que pode ser levantada através de uma amplitude de movimento completa de uma articulação três vezes, e assim por diante. • O treinamento de alta resistência envolve um aumento progressivo da magnitude da carga de dentro da faixa de 3-12 RM, realizada durante três episódios por sessão de exercício. • O treinamento de baixa resistência envolve o levantamento de uma carga mais leve equivalente a pelo menos 15 RM, geralmente realizado ao longo de três episódios por sessão de exercício. Observe-se que essas diretrizes são gerais. Os detalhes do programa variam entre os pacientes e clientes e dependerão de objetivos específicos do treinamento ou reabilitação. Diretrizes mais detalhadas podem ser obtidas de outras fontes.42,75 Aumentos da força muscular em relação ao treinamento são específicas para o tipo e a intensidade do programa de exercícios. Por exemplo, o treinamento de alta resistência que envolve ativações concêntricas e excêntricas realizado três vezes por semana durante um período de 12 semanas mostrou aumentar a força de 1 RM em 30% a 40%.65 Em média, isso representa um aumento de cerca de 1% de força por dia de treinamento. O mesmo esquema de treinamento dinâmico (ativações concêntricas e excêntricas),no entanto, resultou em apenas 10% de força isométrica.65 A maioria dos programas de treinamento de força deve envolver um componente de ativação excêntrica. Pelo fato de ativações excêntricas produzirem maior força por unidade de músculo, essa forma de treinamento pode ser mais eficaz na promoção da hipertrofia muscular do que o mesmo treinamento usando ativações isométricas e concêntricas.114 Como esperado, ganhos em força de 1 RM decorrentes de treinamento de baixa resistência são menores do que aqueles para treinamento de alta resistência, mas ganhos em resistência muscular podem ser maiores. Uma das respostas mais drásticas ao treinamento de força é a hipertrofia do músculo.1,22,75,114,117 A hipertrofia resulta de síntese proteica aumentada dentro das fibras musculares e, portanto, um aumento da área transversal fisiológica do músculo inteiro. A síntese proteica resulta na adição de sarcômeros paralelamente na fibra muscular, explicando assim parcialmente a força de contração aumentada. Um aumento no número de sarcômeros em séries (isto é, de ponta a ponta) não é um mecanismo primário de hipertrofia na musculatura esquelética.116 A adição em série de sarcômeros no interior de uma fibra, em contrapartida, resulta em um aumento da velocidade de contração da fibra muscular.79 Maiores ângulos de penação em músculos hipertrofiados também foram demonstrados, talvez como uma maneira de acomodar as maiores quantidades de proteínas contráteis.1,71 O aumento da área de corte transversal do músculo humano é principalmente resultado de hipertrofia da fibra, com evidências limitadas de aumento no número real de fibras (hiperplasia). Staron et al. mostraram que a área transversal do músculo aumenta até 30% em adultos jovens após 20 semanas de treinamento de força de alta resistência, com aumentos do tamanho da fibra detectados após apenas seis semanas.125 Embora o treinamento cause hipertrofia em todas as fibras musculares exercitadas, geralmente é maior nas fibras de contração rápida (tipo II).65,124,125,141 Propôs-se que o aumento da força muscular também pode ser resultado de um aumento do filamento da proteína desmina (revisado na Tabela 3.2 no Quadro Enfoque Especial 3.2), que se acredita ajudar a transferir forças dentro das fibras musculares ou entre elas.141 Os ganhos de força decorrentes do treinamento de resistência também são causados por adaptações dentro do sistema nervoso.18,27,39,128 As influências neurais são especialmente evidentes durante as primeiras sessões de treinamento. Algumas das adaptações incluem um aumento da área de atividade no córtex cerebral durante uma tarefa motora (como mostrado por imagem de ressonância magnética), aumento do impulso motor supraespinal, aumento da excitabilidade do neurônio motor e maior frequência de descarga de unidades motoras acopladas a uma diminuição da inibição neural tanto nos níveis espinal como supraespinal.18,27,128 Talvez a evidência mais convincente de uma base neurogênica para o treinamento de força sejam os aumentos documentados na força muscular através do treinamento de imagética144,145 ou aumentos na força de músculos de controle (não exercido) localizados contralateralmente aos músculos exercitados.17,93 Em geral, os ganhos de força são frequentemente maiores do que o que pode ser atribuído apenas à hipertrofia.27 Embora a maioria das adaptações neurais causem maior ativação dos músculos agonistas, as evidências sugerem que o treinamento pode resultar em menos ativação dos músculos antagonistas.39 A força reduzida dos músculos opostos resultaria em uma força final maior produzida pelos músculos agonistas. Alguns desses conceitos podem ser usados pelo médico quando os métodos mais tradicionais de treinamento de força não são bem-sucedidos. Isso é especialmente relevante em pessoas com patologias neurológicas ou neuromusculares que não conseguem tolerar o rigor físico de um esquema de treinamento de força. O treinamento de imagética, por exemplo, pode ser eficaz em estágios muito iniciais de recuperação de um membro lesionado após um acidente vascular encefálico, quando o uso do membro acometido é de outra maneira limitado. Em última análise, o método mais eficaz de fortalecer um músculo enfraquecido envolve sobrecarga específica e progressiva adequada para evocar alterações não só no sistema nervoso, mas também na estrutura do músculo. Mudanças Musculares com Uso Reduzido Trauma que requer que o membro ou a articulação de uma pessoa seja rigidamente imobilizado durante muitas semanas reduz significativamente a utilização dos músculos associados. Períodos de uso muscular reduzido (ou desuso) também ocorrem quando uma pessoa confinada ao leito se recupera de uma doença. Esses períodos de atividade muscular reduzida levam a atrofia e geralmente reduções acentuadas de força, mesmo nas primeiras semanas de inatividade.2,106,136 A perda de força pode ocorrer precocemente, até 3% a 6% por dia apenas na primeira semana.6 Após apenas 10 dias de imobilização, indivíduos saudáveis podem experimentar uma redução de até 40% da força inicial de 1 RM.131 A redução da força após imobilização geralmente é o dobro da atrofia muscular — uma redução de 20% na área de corte transversal da fibra está associada a uma redução de 40% da força. Essas mudanças relativamente precoces sugerem alguma base neurológica para a força reduzida, além da perda das proteínas contráteis do músculo. A síntese proteica é reduzida em todos os tipos de fibras musculares dentro de um membro cronicamente imobilizado,2 mas mais notavelmente nas fibras de contração muscular lenta (tipo I).106 Como as fibras de contração lenta são usadas frequentemente durante a maioria das atividades rotineiras diárias, elas estão sujeitas a um desuso relativo maior quando o membro é imobilizado em comparação com fibras de contração rápida. Como consequência, músculos inteiros dos membros imobilizados tendem a experimentar uma transformação relativa em direção a características de contração mais rápida50 e essa mudança pode ocorrer apenas três semanas após o início da imobilização.60 As alterações neuromusculares após imobilização prolongada de um membro dependem de vários fatores. A perda de força é maior quando o músculo é mantido em sua posição encurtada.38,79 A maior folga colocada nas fibras musculares imobilizadas em um comprimento encurtado pode, especificamente, promover a degradação das proteínas contráteis. Além disso, os músculos “posturais” e alguns músculos de articulação única apresentam uma atrofia mais rápida do que outros músculos dentro de um membro cronicamente imobilizado. Esses músculos incluem o sóleo, vasto medial, vasto intermédio e multífido.79 Na extremidade inferior, os extensores do joelho geralmente demonstram maior atrofia por desuso e perda relativa de força do que os músculos flexores de joelho (isquiotibiais).96 A propensão para a atrofia de desuso no quadríceps pode ser uma preocupação quando a estabilidade do joelho parcialmente flexionado é necessária, como quando uma pessoa está transferindo-se para e de uma cadeira, cama ou vaso sanitário. O exercício resistivo é capaz de reverter ou mitigar muitas das mudanças que ocorrem com a imobilização crônica de um membro. Um programa de fortalecimento que incorpora a ativação excêntrica demonstra os maiores ganhos de força e aumentos do tamanho da fibra.60 Como as fibras associadas às unidades motoras menores são mais propensas a atrofiar, um programa de reabilitação deve incorporar ativações musculares de baixa intensidade e longa duração no início do programa de exercícios como meio de atingir essas fibras musculares. Mudanças Musculares com Idade Avançada Mesmo em pessoas saudáveis, atingir uma idade avançada associa-se à redução de força, potência e velocidade de contração muscular. Embora possam ser sutis, essas mudanças podem ser notáveis na velhice. Devido à relativa perda rápida na velocidade de contração do músculo, os idosos geralmente apresentam maior perda de potência (produto da força e davelocidade) do que na força de pico sozinha.9,120 Embora as alterações sejam altamente variáveis, em geral os idosos saudáveis apresentam uma redução de aproximadamente 10% por década no pico de força após os 60 anos de idade, com um declínio mais rápido após os 75 anos.64,94 A perda de força é geralmente mais pronunciada nos músculos do membro inferior, como o quadríceps,64,82 quando comparado com o membro superior. A fraqueza dos membros inferiores pode interferir nas funções necessárias para uma vida independente, como caminhar com segurança ou levantar-se de uma cadeira.105 Esses decréscimos relacionados com a idade frequentemente são acelerados em idosos sedentários ou naqueles com patologia subjacente.64 A principal causa de redução da força em idosos saudáveis é a sarcopenia, que é definida como uma perda de tecido muscular com idade avançada.23,95,132 A sarcopenia pode ser drástica, com uma perda acentuada de tecido muscular e infiltração de quantidades excessivas de tecido conjuntivo e gordura intramuscular (comparar os músculos na Fig. 3.23). As causas da sarcopenia não são totalmente compreendidas e podem estar associadas aos processos biológicos normais de envelhecimento (como morte celular programada — “apoptose”) ou a alterações em atividade, nutrição e níveis hormonais.96,112,132 FIGURA 3.23 Imagem tomográfica computadorizada mostrando um corte transversal dos músculos da coxa média em (A) uma mulher saudável de 28 anos e (B) uma mulher de 80 anos de idade saudável, mas sedentária. A imagem da coxa da mulher idosa mostra comparativamente menos massa muscular e mais tecido conjuntivo intramuscular. A sarcopenia ocorre por meio de uma redução no número real de fibras musculares, bem como uma diminuição do tamanho (atrofia) de todas as fibras existentes.112 A perda no número de fibras é causada por uma queda gradual dos neurônios motores alfa associados.78,133 Embora o número proporcional de fibras de tipo II e tipo I seja normalmente mantido em adultos mais velhos saudáveis, há uma maior atrofia das fibras do tipo II rápidas.65,112 O resultado dessas mudanças relacionadas à idade é um volume proporcional maior de músculo que expressa características do tipo I (contração lenta) se comparadas com os adultos jovens, o que explica em parte o motivo pelo qual os músculos inteiros em adultos idosos demoram mais tempo para contrair-se e relaxar e, finalmente, são menos fortes e potentes.23,65 Embora um estilo de vida mais sedentário acelere essas mudanças na morfologia do músculo, até mesmo o adulto mais velho ativo irá sofrer essas alterações em diferentes graus. Esse fenômeno é aparente quando cortes transversais excisados de fibras musculares coradas de uma pessoa jovem e uma relativamente mais velha são comparados (Fig. 3.24). O corte transversal do músculo mais antigo na Figura 3.24B mostra que todas as fibras são menores em comparação com o músculo jovem, especialmente as fibras do tipo II (contração muscular). A amostra muscular obtida da pessoa mais velha na Figura 3.24B demonstra um número proporcional maior de fibras do tipo I (contração lenta) do que na pessoa mais jovem, embora isto nem sempre seja típico em idosos saudáveis.65,112 O resultado final típico da sarcopenia é uma redução semelhante no número proporcional de fibras musculares dos tipos I e II e uma redução maior no tamanho relativo das fibras musculares do tipo II. FIGURA 3.24 Corte transversal de fibras musculares humanas do vasto lateral de (A) mulher saudável de 27 anos e (B) mulher saudável de 67 anos de idade. As imagens são impressas em escalas semelhantes. As fibras foram histoquimicamente coradas para atividade de miosina ATPase para mostrar a distribuição de fibras do tipo I (contração lenta), que coram claro, e de tipo II (contração rápida), que coram escuras. (Durante os procedimentos de análise histoquímica, as fibras foram pré-incubadas em pH 10,3.) Observe-se o seguinte no músculo mais velho: áreas das fibras de corte transversal reduzidas, mais notavelmente as fibras do tipo II, e maiores concentrações intramusculares de tecido conjuntivo. A sarcopenia em idosos explica a maior parte (mas não toda) da perda de força e produção de energia. A perda de força com o esforço máximo também pode envolver uma capacidade reduzida do sistema nervoso de ativar maximamente as fibras musculares disponíveis.66 Quando recebem prática suficiente, alguns adultos idosos podem aprender a ativar seu músculo disponível para um nível maior, quase equivalente ao de adultos mais jovens.66 Clinicamente, esta pode ser uma consideração importante durante a avaliação inicial da força de um indivíduo mais velho. As alterações relacionadas com a idade na morfologia muscular podem ter efeitos acentuados na capacidade de alguns adultos mais velhos de realizar efetivamente as tarefas diárias. Felizmente, entretanto, a idade em si não altera drasticamente a plasticidade do sistema neuromuscular. O treinamento de força pode teoricamente compensar uma parte, mas certamente não toda a perda de força e potência em adultos idosos.37,111 O exercício de resistência, se realizado com segurança, pode ser muito útil na manutenção do nível crítico de força muscular e potência necessária para o desempenho das atividades básicas da vida diária. Resumo O músculo esquelético fornece as forças primárias que estabilizam e movem os ossos e as articulações do corpo. Após a ativação pelo sistema nervoso via potenciais de ação, os músculos produzem força quer contraindo quer resistindo ao alongamento. As proteínas contráteis de actina e miosina desempenham um papel chave na condução desse processo ativo — chamado de hipótese do filamento deslizante. Mais recentemente, considera-se o importante papel estrutural e de sustentação das proteínas não contráteis. Proteínas como titina e desmina, por exemplo, contribuem para a tensão passiva e proporcionam elasticidade, alinhamento e estabilidade aos sarcômeros e, portanto, toda a fibra muscular. Além disso, os tecidos conjuntivos extracelulares envolvem fibras musculares isoladas e em grupo, encapsulando afinal todo o ventre muscular antes de misturarem-se com o tendão e anexarem-se ao osso. Conforme descrito no Capítulo 1, a ação de um músculo e sua função final baseiam-se na sua linha de força em relação ao eixo de rotação na articulação. O Capítulo 3 concentra-se mais nos mecanismos responsáveis pela geração da força. Em última análise, esses mecanismos são governados pelo sistema nervoso, mas também pela morfologia única (forma) e arquitetura global dos músculos individuais. Cada músculo individual do corpo tem uma forma única e, portanto, uma única função. Um músculo fusiforme pequeno como o lumbrical na mão, por exemplo, gera apenas uma pequena força por causa de sua pequena área de corte transversal. Como está bem equipado com receptores sensoriais, esse músculo se destaca em promover propriocepção ao sistema nervoso. O músculo gastrocnêmio maior, em contrapartida, produz grandes forças devido a sua maior área de corte transversal, resultando em parte do arranjo de penação de suas fibras. Uma força grande é requerida deste músculo da panturrilha para levantar ou impulsionar todo o corpo durante atividades como saltar e escalar. Independentemente da forma ou arquitetura de um músculo, as forças finalmente transferidas através do tendão e para o osso são produzidas por uma combinação de mecanismos ativos e passivos. Os mecanismos ativos estão tipicamente sob controle volitivo, principalmente com base na interação entre actina e miosina. Os mecanismos passivos, em contrapartida, baseiam-se mais nas características de rigidez inerentes do músculo, coletivamente atribuíveis às proteínas estruturais e a todos os tecidos conjuntivos, incluindo aqueles que constituem o tendão. Embora relativamente pequena dentro de uma amplitude média de movimento do músculo, a tensão passiva pode ser muito grande nos maiores extremos da amplitude, especialmente para os músculos que cruzam as múltiplas articulações.Alguma tensão passiva produzida em resposta a um alongamento muscular é normal e desempenha funções fisiológicas úteis, como estabilizar a articulação e protegê-la de lesão relacionada com o alongamento. A tensão passiva excessiva, no entanto, é anormal e pode restringir o alinhamento postural ideal do corpo como um todo, bem como reduzir a facilidade e a fluidez do movimento. A rigidez muscular aumentada pode ocorrer como resultado de traumatismo ou doença dentro do sistema musculoesquelético. Além disso, a tensão passiva excessiva (ou rigidez) dentro do músculo pode resultar de níveis anormais de ativação involuntária pelo sistema nervoso. Essa deficiência é frequentemente chamada de espasticidade ou rigidez e é tipicamente associada a lesão ou doença do sistema nervoso central. Dois dos mais importantes princípios clínicos de fisiologia muscular são as relações comprimento-tensão e força-velocidade. Esses princípios básicos, embora originalmente formulados com uso de fibras musculares isoladas no modelo animal, precisam ser aplicados clinicamente a músculos inteiros de pacientes ou clientes. A relação comprimento-tensão muito relevante de uma única fibra muscular é expressa clinicamente como uma relação de torque-ângulo da articulação de todo o músculo ou grupo muscular, onde o torque é funcionalmente análogo à força e o ângulo articular, ao comprimento. Os músculos flexores do cotovelo, por exemplo, produzem seu maior torque de flexão do cotovelo perto do ângulo de articulação do cotovelo de 90 graus. Esse ângulo articular corresponde aproximadamente ao ponto em que o bíceps braquial tem seu maior braço de momento (alavancagem) como flexor, mas também aproximadamente ao comprimento em que este músculo produz sua maior força com base na sobreposição ação-miosina das suas fibras individuais. Mesmo com esforço máximo, o torque máximo de flexão do cotovelo cai consideravelmente na extensão completa do cotovelo ou em flexão completa por causa desses mesmos fatores de alavancagem e fisiológicos. Além disso, a relação força-velocidade de um músculo precisa ser analisada clinicamente dentro do escopo da relação torque-velocidade angular da articulação do músculo. Pelas razões descritas neste capítulo, um músculo ativado a uma alta velocidade angular articular via ativação excêntrica produz maior força do que qualquer velocidade de ativação concêntrica, incluindo a isométrica. Esse princípio pode ter implicações clínicas importantes, muitas vezes fisiologicamente ligadas à relação comprimento-tensão do músculo. A paralisia dos músculos proximais, por exemplo, muitas vezes causa fraqueza funcional em músculos mais distais porém saudáveis em outros aspectos. A falha dos músculos proximais para estabilizar o esqueleto adequadamente pode causar uma situação na qual o músculo mais distal é obrigado a contrair-se até um comprimento excessivamente encurtado, a uma velocidade mais rápida do que o normal. Isso é evidente, por exemplo, por um movimento de preensão enfraquecido após paralisia dos músculos extensores do punho. Este e outros exemplos cinesiológicos são descritos em mais detalhes ao longo deste livro. O conceito de unidade motora é uma premissa importante por trás de grande parte da discussão deste capítulo. Uma unidade motora é um corpo celular único (localizado na medula espinal), seu axônio e todas as fibras musculares inervadas. Como todas as fibras dentro de determinada unidade motora contraem-se maximamente à estimulação do corpo celular, uma quantidade finita de força é gerada a partir de cada unidade motora. As forças são aumentadas ao longo de todo o músculo por meio do recrutamento de unidades motoras adicionais. Além disso, as unidades motoras podem aumentar sua produção de força descarregando a taxas mais rápidas. Os processos de recrutamento e codificação de taxas permitem que as unidades motoras controlem finamente a gradação de forças em todo o músculo. Neste capítulo, apresentaram-se considerações para coletar, processar e normalizar os dados de EMG. Quando interpretado corretamente, o sinal de EMG pode fornecer informações muito úteis sobre momento de ocorrência, nível de ativação e função final dos músculos. As informações obtidas da EMG são frequentemente analisadas com dados anatômicos, biomecânicos, cinéticos e cinemáticos; essas análises servem de base para grande parte da cinesiologia descrita ao longo deste texto. Conclui-se este capítulo com uma ampla visão geral dos tópicos que têm relevância para a prática clínica. Esses tópicos incluem causas da fadiga muscular e as mudanças que ocorrem em músculos com treinamento de força, uso reduzido e envelhecimento. A indução da fadiga dentro do músculo é frequentemente necessária para a adaptação neuromuscular efetiva durante o treinamento e a reabilitação em populações saudáveis e clínicas. Consequentemente, compreender a adaptação do músculo e sua função ao treinamento de força, e, em contraste, à utilização reduzida e ao envelhecimento, ajudará o terapeuta na prescrição de terapias ideais para a reabilitação das populações de pacientes. Referências 1. Aagaard P, Andersen JL, Dyhre-Poulsen P, et al. A mechanism for increased contractile strength of human pennate muscle in response to strength training: changes in muscle architecture. J Physiol. 2001;534:613–623. 2. Adams GR, Caiozzo VJ, Baldwin KM. Skeletal muscle unweighting: spaceflight and ground-based models. J Appl Physiol. 2003;95:218–2201. 3. Allen GM, McKenzie DK, Gandevia SC. Twitch interpolation of the elbow flexor muscles at high forces. Muscle Nerve. 1998;21:318–328. 4. Allen GM, McKenzie DK, Gandevia SC, et al. Reduced voluntary drive to breathe in asthmatic subjects. Respir Physiol. 1993;93:29–40. 5. Amann M, Sidhu SK, Weavil JC, et al. 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