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Literatura comparada e estudos culturais
Prof. Rodrigo Jorge Ribeiro Neves
Descrição
Você vai entender a ascensão dos estudos culturais e sua influência no
desenvolvimento da literatura comparada.
Propósito
O debate sobre a relação entre estudos culturais e literatura comparada
parece estar longe de acabar. Isso se deve, em especial, às mudanças
teórico-metodológicas das análises comparatistas, que passaram a
considerar não apenas o texto literário, mas também outros aspectos
culturais. Por isso, a compreensão dessa influência é fundamental para
refletir sobre as perspectivas dos estudos comparatistas, especialmente
por futuros profissionais da área de letras e literatura.
Objetivos
Módulo 1
Estudos culturais e estudos literários
10/06/2024, 09:26 Literatura comparada e estudos culturais
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/39930/index.html?brand=estacio# 1/38
Analisar as relações entre estudos culturais e estudos literários.
Módulo 2
Estudos culturais e crítica literária no Brasil
Analisar as relações entre estudos culturais e crítica literária no
Brasil.
Introdução
A literatura é uma forma de expressão da natureza humana, uma
maneira de entender a realidade na qual estamos inseridos.
Nesse sentido, ela é um elemento da nossa cultura, ou seja, ela
nos constitui e dá sentido à nossa existência. Não por acaso a
etimologia da palavra texto é tecido. Quais são os textos que nos
tecem e de que maneira cada um deles se relaciona entre si?
De origem britânica, os estudos culturais surgem como disciplina
e luta política. Em um contexto de lutas e resistências ao redor do
mundo, esse campo do saber foi ampliando suas áreas de
atuação e diálogo, sendo acolhido em alguns grupos, mas
também sofrendo resistência de outros.
Afinal, qual a contribuição dos estudos culturais na compreensão
da literatura e de seu papel no mundo? De que modo a literatura
pode ser instrumento de investigação eficiente para os críticos
culturais?
Aqui examinaremos alguns dos principais conceitos de cultura,
por meio de um breve panorama do surgimento dos estudos
culturais como campo do saber, discutindo questões do diálogo
entre literatura e cultura. Também investigaremos relações e
tensões dos estudos culturais e da crítica literária no Brasil,
conhecendo alguns dos nomes mais representativos dessa
perspectiva teórica e crítica, que exerce bastante influência nos
estudos literários contemporâneos.

10/06/2024, 09:26 Literatura comparada e estudos culturais
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/39930/index.html?brand=estacio# 2/38
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1 - Estudos culturais e estudos literários
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as relações entre estudos culturais e
estudos literários.
O conceito de cultura
“Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em flô
Mas assum preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)
Talvez por ignorança
Ou mardade das pió
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Furaro os óio do assum preto
Pra ele assim, ai, cantá mió
Pra ele assim, ai, cantá mió
Assum preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
Assum preto, o meu cantar
É tão triste quanto o teu
Também robaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óio meu
Também robaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óio meu”
(Assum preto, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, 1988)
O que é cultura para você? O que vem na sua mente
quando alguém menciona essa palavra?
É comum ouvirmos que determinada pessoa não tem cultura quando se
quer destacar a falta de instrução ou conhecimentos gerais dela. Nesse
caso, o conceito de cultura está atrelado a um aspecto social e
econômico. Ora, um operário que não teve acesso à educação formal,
morador de uma cidade do interior do Nordeste, é, por acaso, alguém
“sem cultura”? Ou o texto da canção Assum preto também é “sem
cultura”?
Claro que não! No entanto, esse conceito de cultura como sinal de
distinção é, na verdade, uma maneira de excluir um determinado
segmento social e demonstrar a superioridade de um grupo sobre outro.
Por muito tempo, buscou-se separar a cultura popular da cultura erudita,
mas, em especial depois do modernismo, percebeu-se que elas estão
ligadas de várias maneiras. A literatura de cordel um exemplo disso!
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Literatura de cordel em Olinda, Pernambuco.
A�nal, o que é cultura?
Há várias autoras e autores que se debruçaram sobre esse tema. Vamos
começar pela definição do dicionário! Segundo o Houaiss, há dez
definições para a palavra “cultura”. Esse dicionário destaca algumas
delas, veja a seguir.
“[...] conjunto de padrões de comportamento, crenças,
conhecimentos, costumes etc. que distinguem um grupo
social.”
“[...] transferência de traços comportamentais entre
indivíduos, não por herança genética.”
“[...] complexo de atividades, instituições, padrões sociais
ligados à criação e difusão das belas-artes, ciências
humanas e afins.” (HOUAISS; SALLES, 2001, p. 888)
“[...] forma ou etapa evolutiva das tradições e valores intelectuais,
morais, espirituais (de um lugar ou período específico);
civilização.” (HOUAISS; SALLES, 2001, p. 888)
· “[...] ação, processo ou efeito de cultivar a terra; lavra, cultivo.”
(HOUAISS; SALLES, 2001, p. 888).
Notou o quanto essa palavra pode assumir diversos sentidos? Isso
acaba tendo implicações na maneira como algumas pessoas enxergam
o conceito de cultura. O importante é buscar fundamentação teórica que
nos ajude a compreendê-lo e perceber sua complexidade.
Âmbito da antropologia 
Âmbito da sociologia/história 
Âmbito da agricultura 
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Eu me lembro que meu padrasto me batia
com extensões elétricas, cabides, pedaços de
pau; um monte de coisa. Sempre me dizia:
‘Dói mais em mim que em você. Só fiz isso
porque te amo’. Ele me transmitiu uma ideia
errada do que era o amor. Durante muitos
anos, achei que o amor tinha de fazer mal. Eu
fazia mal a todo mundo que eu amava. Eu
media o amor em relação à dor que alguém
pudesse suportar. Foi só quando vim para a
cadeia, este ambiente desprovido de amor,
que comecei a entender melhor o que era o
amor e o que não era. Conheci uma pessoa.
Ela me mostrou o que era o amor, porque ela
viu além de minha condição; condenado à
prisão perpétua pelo pior tipo de assassinato:
o de uma mulher e de uma criança. Foi
Agnes, mãe e avó de Patrícia e Chris, minhas
vítimas, quem melhor me deu lição de amor.
Ela tinha todo o direito de me odiar. Mas não
me odiava. Ela me ensinou o que era amor.
(HUMAN, 2015)
Saiba mais
Confira em nosso Explore + a indicação deste importante documentário
de Yann Arthus-Bertrand, chamado Human (2015)!
Algumas fontes do conceito de
cultura
Neste vídeo, destacamos o conceito de cultura e suas fontes,
exemplificando a compreensão de cultura no Brasil e as contribuições
de Roque Laraia. Assista!
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Por muito tempo, acreditava-se que a biologia seria determinante para o
desenvolvimento de uma cultura; como se fosse algo inato, do qual não
há como escapar. Isso serviu de base para teorias racistas que
vigoraram no mundo por muito tempo e, de certo modo, contribuíram
para justificar capítulos perversos da nossa história, como a escravidão.
No século XIX, no Brasil, autores como Nina Rodriguese Silvio Romero,
influenciados pelo darwinismo social e outras correntes do tipo, viram a
presença do negro na composição social como um problema, pois o
consideravam inferior ao branco. A inquietação em tentar entender a
identidade nacional levou muitos pensadores, em especial na virada do
século XIX para o XX, a buscar compreender o papel da população negra
na nossa formação, detendo-se, sobretudo, em aspectos biológicos e
racistas que apenas acentuavam o caráter supremacista branco de suas
proposições.
O antropólogo Roque de Barros Laraia tem um livro interessante para
uma introdução ao conceito de cultura e seu desenvolvimento pelas
teorias sociais modernas: Cultura, um conceito antropológico. Para ele,
os determinismos biológico e geográfico não foram capazes de
solucionar o dilema já apresentado há décadas por Clifford Geertz: “a
conciliação da unidade biológica e a grande diversidade cultural da
espécie humana [...] apesar de Confúcio ter, quatro séculos antes de
Cristo, enunciado que ‘a natureza dos homens é a mesma, são os seus
hábitos que os mantém separados’.” (LARAIA, 2001, p. 10).
A cultura pode, sim, interferir na dimensão biológica, não o contrário.
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Capa do livro Cultura, um conceito antropológico.
O autor também sugere outras formas de interferência: condiciona a
visão do homem; tem participação dos indivíduos de jeitos diferentes;
tem uma lógica própria; e é dinâmica.
Uma conhecida nossa perguntou a um caipira
paulista como é que o sol morre todos os
dias no Oeste e nasce no Leste. ‘Ele volta
apagado durante a noite’, foi a resposta que
obteve. Menos que um pensamento absurdo,
trata-se de uma outra concepção a respeito
do universo, obviamente diferente da nossa,
que dispomos das informações obtidas por
sofisticados observatórios astronômicos...
Nem sempre as relações de causa e efeito
são percebidas da mesma maneira por
homens de culturas diferentes. E hoje todos
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sabem que o homem só pode compreender o
mistério da vida quando dispõe de
instrumentos que lhe permitam desvendar o
mundo do infinitamente pequeno.
(LARAIA, 2001, p. 88-89)
Portanto, a cultura é diversa e está em permanente transformação. Não
é um bloco de mármore, mas um rio caudaloso em que vários animais
mergulham e percorrem em profundidades e ritmos diferentes. Outro
antropólogo fundamental para pensarmos no conceito de cultura, já
pontuado por Laraia, foi Clifford Geertz. Confira o que ele afirma em sua
obra A interpretação das culturas!
A cultura não seria apenas aquilo que nos move, mas também o sentido
que atribuímos a esse movimento. É o que nos faz acordar, mas
também o que nos leva a decidir permanecer ou sair da cama. E a
literatura é apenas um desses sentidos que, em diálogo com outros fios,
compõe a trama complexa e infinita da aventura humana sobre a Terra.
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Origem dos estudos culturais
Há uma tendência, cada vez mais dominante nos cursos de literatura, de
pensar a produção artística em uma perspectiva cultural, que reúna não
apenas uma expressão, mas várias, de maneira que elas contemplem a
diversidade cultural de determinado povo. Não se trata tão somente de
um diálogo entre as artes, mas, também, entre campos do saber.
Com o avanço dos movimentos sociais e, consequentemente, de
determinadas pautas políticas em defesa de grupos minoritários, como
o movimento negro e o feminista, alguns conceitos até então
consolidados passaram a ser questionados. A cultura passou a ser mais
efetiva como perspectiva crítica e expressão de engajamento político.
Como surge a ideia de pensar a produção artística em uma
perspectiva cultural?
Os estudos culturais surgem nos países de língua inglesa. Veja os
principais nomes desse campo de estudo!
Raymond Williams
Crítico literário marxista que, em sua obra Cultura e sociedade,
publicada em 1958, busca compreender os diferentes usos do
conceito de cultura ao longo da história, e como ele pode ser
aplicado à situação vivenciada pelos ingleses.
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E. P. Thompson
Historiador que, por meio de seu livro A formação da classe
operária, de 1963, analisa o desenvolvimento dessa classe no
período da Revolução Industrial, na virada do século XVIII para o
XIX.
Richard Hoggart
Acadêmico que estabelece um diálogo com a sociologia e a
literatura em seu livro Os usos da cultura, de 1958, no qual discute
os impactos da cultura de massa na vida da classe operária,
principalmente no pós-Guerra.
Esses foram os principais responsáveis pelo surgimento dos estudos
culturais como disciplina. Você notou algo em comum entre eles? De
fato, os três são britânicos, oriundos do país da Revolução Industrial, ou
seja, que sentiu as consequências nefastas da industrialização.
Além disso, todos abordam grupos excluídos do desenvolvimento social
e econômico, ou seja, indivíduos que tiveram suas vidas prejudicadas
para que alguns poucos mantivessem seus privilégios. Isso mostra a
natureza engajada que, no início, orientou o surgimento dos estudos
culturais. As ideias que nortearam a escrita dessas obras partiram da
experiência de Raymond Williams e E. P. Thompson como professores
de uma turma de trabalhadores no turno da noite.
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A criação do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos, no âmbito
da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, em 1964, foi passo
decisivo para que esse campo de estudos se tornasse uma disciplina de
grande influência na academia. Seus fundadores foram Richard Hoggart
(também o primeiro diretor) e o sociólogo Stuart Hall, nome
incontornável dos estudos culturais para pensar na relação entre cultura
e identidade.
Universidade de Birmingham.
Hall era um intelectual britânico de origem jamaicana, o que já inscreve
em sua própria trajetória algumas das questões que são caras ao seu
pensamento e trabalho.
Stuart Hall.
Ele amplia as discussões propostas pelos estudos culturais, inserindo
questões de gênero e raça, além de trazer contribuições dos pós-
estruturalistas franceses, como Michel Foucault, Jacques Derrida e
Roland Barthes. Segundo alguns críticos, como Jonathan Culler (1999),
os teóricos franceses do pós-estruturalismo seriam responsáveis por
uma das origens dos estudos culturais, pois passaram a considerar os
aspectos culturais em suas análises.
Com a consolidação dos estudos culturais como disciplina, outras
instituições europeias passaram a adotar essa perspectiva crítica de
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análise da realidade social e política. Nos Estados Unidos, os estudos
culturais também exerceram alguma influência, em especial com o
advento do pós-modernismo e dos estudos pós-coloniais. Contudo,
tanto nos EUA quanto em outros países das Américas, os estudos em
torno dos conceitos de cultura e identidade se deram em perspectivas
distintas, levando em conta a realidade pós-colonial dessas regiões.
Diálogos entre literatura e cultura
Confira neste vídeo a importância da relação entre a literatura e a cultura
a partir da ótica dos estudos culturais.
Uma das principais características dos estudos culturais é a
interdisciplinaridade. Ou seja, trata-se de uma disciplina que encontra
sentido ao estabelecer diálogocom outras disciplinas ou campos do
saber. Essa característica, porém, embora clara no âmbito dos estudos
culturais, não se apresenta de forma simples.
Assim, propomos uma leitura interdisciplinar
que visa a interpretações ideológicas em que
os espaços vazios do texto também são
usados como opções estéticas. Por esse
viés, sabemos que o ensino de literatura pode
se tornar um espaço de reflexão social capaz
de desenvolver uma consciência crítica do
leitor. No processo interdisciplinar, o leitor
precisa fazer diversas inter-relações entre: o
texto e a sociedade, o presente e o passado,
o imaginário individual e o coletivo.
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(GOMES, 2009, p. 1-2)
Esse diálogo — conversa com outros campos do saber — exigirá uma
leitura interdisciplinar: não uma conversa pela conversa, mas pela
afinidade! Um diálogo interdisciplinar não é o diálogo pelo diálogo; por
haver pontos em comum, quando confrontados, podem enriquecer
ainda mais a leitura do mundo.
A literatura, assim como outras artes, é uma expressão humana,
portanto, reflete questões relativas de um indivíduo ou de um grupo de
pessoas. A literatura é também cultura, afinal, ela não apenas faz parte
dessa teia de significados, mas também nos ajuda a interpretar cada um
dos fios que a compõe.
A Feira de Livros é uma ótima forma de divulgar a Literatura.
No entanto, há uma resistência em adotar os estudos culturais na
análise de obras literárias, considerando a abertura que esse campo
acaba conferindo. Para alguns autores, isso pode comprometer a
autonomia literária. Mas nem todos enxergam um problema ao
aproximar estudos culturais dos estudos literários!
Particularmente importante, portanto, é o
estudo das culturas e identidades culturais
instáveis que se colocam para grupos —
minorias étnicas, imigrantes e mulheres —
que podem ter problemas em identificar-se
com a cultura mais ampla na qual se
encontram — uma cultura que é ela própria
uma construção ideológica que sofre
mudanças. Os estudos culturais surgiram
como a aplicação de técnicas de análise
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literária a outros materiais culturais. Tratam
os artefatos culturais como ‘textos’ a ser
lidos e não como objetos que estão ali
simplesmente para serem contados. E,
inversamente, os estudos literários podem
ganhar quando a literatura é estudada como
uma prática cultural específica e as obras são
relacionadas a outros discursos. Em
princípio, os estudos culturais, com sua
insistência no estudo da literatura como uma
prática de sentido entre outras, e no exame
dos papéis culturais dos quais a literatura foi
investida, podem intensificar o estudo da
literatura como um fenômeno intertextual
complexo.
(CULLER, 1999, p. 52-53)
Para Jonathan Culler, em sua Teoria literária, a literatura pode ser
estudada pela perspectiva da cultura, isso não é uma questão. O
problema está nos métodos de análise empregados, não no valor dos
objetos em si.
Exemplo
O estudo de Shakespeare ou de uma novela não confere
necessariamente uma determinada importância apenas pelo objeto. Ler
o dramaturgo inglês não torna ninguém superior a quem apenas assiste
a novelas. Aliás, não podemos esquecer que Shakespeare era um artista
popular, ou seja, suas peças divertiam as pessoas comuns de seu
tempo.
É preciso ter atenção aos métodos de interpretação e análise das obras,
segundo Culler. Isso vai depender da perspectiva de análise adotada,
que deve considerar a especificidade da linguagem do objeto analisado.
Uma peça de teatro não foi concebida como uma novela de TV, mas
ambas vêm da mesma matriz: o gênero dramático.
Questionando o cânone da literatura
Neste vídeo, abordamos a relação entres os estudos culturais e os
cânones da literatura, destacando como exemplo a obra Quarto de
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despejo, de Carolina Maria de Jesus. Veja!
Os estudos culturais deram enorme contribuição aos estudos literários
ao questionar o cânone. Havia (e ainda há) uma preocupação muito
grande de o interesse pelos clássicos acabar sendo comprometido pelo
“vale-tudo” promovido pelos estudos culturais.
O que será do cânone literário se os estudos
culturais engolirem os estudos literários?
Será que as novelas substituíram
Shakespeare e, se isso ocorreu, a culpa é dos
estudos culturais? Os estudos culturais não
irão matar a literatura por meio do estímulo
ao estudo de filmes, televisão e outras
formas culturais populares, em lugar dos
clássicos da literatura mundial?
(CULLER, 1999, p. 52-53)
Seria, portanto, a morte da literatura? Ora, precisamos entender que
literatura é essa e a quem ela serve. Seria uma literatura excludente,
classista, voltada apenas para o deleite dos privilegiados socialmente?
Sim, mas a literatura não morreu.
Para compreendermos, basta lembrar que (CULLER, 1999) o objeto a ser
estudado em literatura nunca foi — ou nunca deveria ter sido! — mera
escolha do professor.
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Aula de literatura.
Tal opção, dentro do cânone literário, era dada por conta de determinado
destaque que seria necessário: seja porque o enfoque estaria em um
período histórico literário, ou em uma forma literária, por exemplo. A
grande transformação está no fato de se ampliar a gama de produção
literária (experiências culturais) e, ao mesmo tempo, a gama de formas
literárias.
Assim, os estudos culturais passaram a acompanhar mudanças
ocorridas no próprio conceito de cânone, que passou a abarcar obras
historicamente invisibilizadas, como as escritas por mulheres, pessoas
negras e indígenas. Os estudos da cultura não “inventaram” esses
autores, incorporados à lista de leituras indispensáveis, mas passaram,
sim, a acompanhar essas transformações.
A própria noção de excelência literária foi
submetida à discussão: ela cultua interesses
e propósitos culturais particulares como se
fossem o único padrão de avaliação literária?
A discussão sobre o que conta como
literatura digna de ser estudada e sobre como
as ideias de excelência funcionam nas
instituições é uma vertente dos estudos
culturais extremamente pertinente aos
estudos literários.
(CULLER, 1999, p. 52-53)
Autoras como Carolina Maria de Jesus em seu Quarto de despejo, por
exemplo, passaram a ter lugar de destaque. No entanto, outras
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expressões artísticas, como a música, também conquistaram espaço
nos estudos literários, como o álbum Sobrevivendo no inferno, dos
Racionais MC’s.
“Favela, o quarto de despejo de uma cidade. O cotidiano da
favela já foi contado por diversos autores, de diferentes
maneiras. Neste livro, a perspectiva é outra: é a de quem vive na
favela, mais especificamente a de uma catadora de papel que só
pôde chegar até o segundo ano do ensino fundamental. Quarto
de despejo é uma edição dos diários de Carolina Maria de Jesus,
migrante de Sacramento, Minas Gerais, mãe solteira e moradora
da primeira grande favela de São Paulo, a Canindé, que foi
desocupada em meados dos anos 1960 para a construção da
Marginal do Tietê. O livro relata a amarga realidade dos
favelados na década de 1950: os costumes de seus habitantes, a
violência, a miséria, a fome e as dificuldades para se obter
comida. O tempo passou, a cidade cresceu, mas a realidade de
quem vive na miséria não mudou muito. Isso faz do relato de
Carolina uma obra atemporal, sempre emocionante. Best-sellertraduzido para 13 línguas, Quarto de despejo também é um
referencial importante para estudos culturais e sociais, tanto no
Brasil como no exterior.” (JESUS, 1993, Apresentação).
Carolina Maria de Jesus.
“Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário do vigia
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma
HK
Metralhadora alemã ou de Israel
Estraçalha ladrão que nem papel
Quarto de despejo 
Sobrevivendo no inferno 
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Na muralha, em pé, mais um cidadão José
Servindo o Estado, um PM bom
Passa fome, metido a Charles Bronson
Ele sabe o que eu desejo
Sabe o que eu penso
O dia tá chuvoso, o clima tá tenso.” (Diário de um detento,
Racionais MC’s, 1997)
Racionais MCs.
O estudo de outros campos do saber (sociologia, antropologia, filosofia
e psicanálise) ressaltou ainda mais a importância dessas obras e novas
possibilidades analíticas de abordagem. Isso é facilmente perceptível
nos grupos e linhas de pesquisa de pós-graduação (lato ou stricto
sensu).
Exemplo
Linha de pesquisa Cultura e ciência (Pós-graduação em Literatura
Comparada/USP), com ênfase em hibridismo, descentramento,
multiculturalismo, história e sociologia.
Grupo de pesquisa Crítica literária e psicanálise (Pós-graduação
em Estudos Culturais /USP), com linha de pesquisa sobre literatura
e outros saberes.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Como se chama a instituição inglesa precursora dos estudos
culturais como disciplina?
A
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Parabéns! A alternativa D está correta.
Criado em 1964 pelos intelectuais Richard Hoggart e Stuart Hall, o
Centro de Estudos Culturais Contemporâneos surgiu como
instituição de pesquisa voltada para examinar diversos aspectos da
cultura, bem como sua influência em uma sociedade marcada por
desigualdades sociais, econômicas, raciais e de gênero.
Questão 2
O conceito de cultura como teia de significados foi formulado por
Associação de Literatura Comparada
B Faculdade de Estudos Culturais
C Associação Inglesa de Estudos Culturais
D Centro de Estudos Culturais Contemporâneos
E Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Cultura
A Stuart Hall.
B Raymond Williams.
C Clifford Geertz.
D Alfredo Bosi.
E Antonio Candido.
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Parabéns! A alternativa C está correta.
Segundo o antropólogo Clifford Geertz, em A interpretação das
culturas, o ser humano está ligado a uma teia de significados que
ele mesmo teceu. Essa teia é a cultura e sua busca por
interpretação desses significados.
2 - Estudos culturais e crítica literária no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as relações entre estudos culturais e crítica
literária no Brasil.
Os estudos culturais no Brasil
O contexto da origem dos estudos culturais é político; portanto, os
espaços em que as questões político-ideológicas estavam em evidência,
de certo modo, foram mais influenciados pelos pressupostos lançados
por eles. Entretanto, uma ideia que funciona em um lugar não
necessariamente vai funcionar em outro, não apenas pelas diferenças
geográficas, mas sobretudo pelas diferenças sociais, econômicas e...
culturais!
Exemplo
O Barroco europeu na Itália, na Espanha ou em Portugal não é o mesmo
que ocorreu aqui no Brasil ou no México, pois a realidade das colônias
era totalmente diversa da vivida pela metrópole dos colonizadores. O
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acesso aos materiais, as questões que moviam os artistas e a recepção
eram completamente distintos.
No contexto latino-americano, os estudos culturais contaram com
intelectuais que refletiram sobre o papel da cultura em uma sociedade
marcada pela colonialidade, o subdesenvolvimento e a dimensão
periférica em relação a uma concepção eurocêntrica do mundo, como a
argentina Beatriz Sarlo e o uruguaio Ángel Rama. Para esses dois
críticos literários, a cultura é elemento fundamental para compreender a
sociedade, relacionando literatura com outras expressões artísticas e
campos do saber.
Ángel Rama.
Ángel Rama é autor de diversas obras, entre as quais se destaca A
transculturação narrativa na América Latina. Ele também se
correspondeu bastante com um de nossos mais importantes críticos
literários: Antonio Candido. As cartas entre os dois estão no livro
Conversa cortada, publicado em 2018.
Mas Antonio Candido não foi o único brasileiro a ter contato com o
pensador uruguaio, cuja obra está impregnada de sua relação com o
antropólogo Darcy Ribeiro, que confessaria, não só essa relação com
Ángel Rama, mas também com Eduardo Galeano, objetivando uma
produção cultural genuinamente latino-americana.
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Antonio Candido.
Darcy Ribeiro.
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Eduardo Galeano.
Já Beatriz Sarlo, além de sua famosa obra Uma modernidade periférica,
é conhecida pelos estudos sobre questões de identidade, memória,
política e poder, a partir da análise da produção literária em uma
perspectiva interdisciplinar.
E o Brasil nessa história? É fundamental entendermos antes a influência
dos intelectuais de outros países da América Latina na chegada dos
estudos culturais por aqui, considerando as semelhanças entre nós.
Segundo Beatriz Resende, professora de literatura comparada da
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Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os estudos culturais
possibilitaram uma abertura maior dos estudos de áreas diferentes,
dada a amplitude de seus objetos.
O que me interessa, sobretudo, nos Estudos
Culturais como interlocução sugerida aos
estudos de área, é a possibilidade de
politização — no sentido grandioso que a
palavra deve ter — da investigação intelectual
proposta. É na pluralidade cultural, no
reconhecimento das diversas subjetividades,
nas múltiplas identidades e na certeza de
que, por exemplo, existem na literatura
brasileira, muitas literaturas brasileiras, no
Brasil, muitos Brasis, que está a possibilidade
de se reconhecer o complexo, o diferente, o
outro. Talvez por esta direção, ou outra
similar, possamos superar a esquizofrenia
diária vivida por nós intelectuais latino-
americanos e de outras periferias. É neste
sentido que os estudos culturais podem
iluminar os Estudos Brasileiros contribuindo
para enriquecer o sentido político que o
debate deve ter.
(RESENDE, 2004)
A pesquisadora concretiza sua percepção e importância dos estudos
culturais quando cita outro grande brasileiro, Milton Santos, professor
emérito da Universidade de São Paulo (USP), que provém de outra área
— a geografia — endossando sua posição. Segundo ele (SANTOS apud
RESENDE, 2004), a globalização permite outras e novas visões de
mundo, sendo a mais importante delas a nossa visão, de nosso lugar!
Apenas assim, efetivamente, pode-se validar e dar sentido ao
conhecimento do mundo.
Estudos culturais e crítica literária
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Entenda neste vídeo a importância dos estudos culturais no Brasil e a
sua relevante relação com a crítica literária.
Embora críticos literárioscomo Antonio Candido e Roberto Schwarz não
sejam considerados intelectuais ligados aos estudos culturais, é
interessante ressaltar que muitas de suas análises críticas guardam
relações com os princípios lançados por Raymond Williams, ao tratar
seus objetos de investigação de crítica literária pelo viés materialista,
tomando como ponto de partida os aspectos das condições materiais e
dialéticas em que as obras literárias foram produzidas.
O Brasil conta com um crítico como Antonio
Candido, que vê a literatura como
instrumento de descoberta e interpretação da
realidade sócio-histórica, e essa é a melhor
tradição dos estudos culturais. Os melhores
exemplos de estudos culturais feitos no
Brasil? Antonio Candido e Roberto Schwarz.
Um dos melhores trabalhos em estudos
culturais no mundo é o ‘Duas meninas’, de
Schwarz, embora ele nunca admitisse que o
que está fazendo é estudos culturais. Ele
prefere dizer que está fazendo estudo
literário, temendo ser confundido com o
[Lawrence] Grossberg. Nunca passaria pela
cabeça dele estar fazendo estudos culturais,
mas é isso que ele faz. Ao comparar
Machado de Assis com Helena Morley, ele
entra num campo canônico dos estudos
culturais. Além disso ele pensa a forma
cultural em relação dialética com a formação
sócio-histórica. Candido também acharia
estranhíssimo ser incluído aí. No entanto ele
escreveu um livro sobre o caipira [‘Os
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parceiros do Rio Bonito’]. E o que é a
‘Dialética da malandragem’? Portanto ele fez
estudos culturais.
(CEVASCO, 2003)
A ligação desses críticos com esse campo de estudos ocorre pela
afinidade com seus métodos de análise, de natureza sociológica, mas
não por uma adesão a todos os seus pressupostos. Os estudos
culturais no Brasil tiveram grande penetração nos cursos de
comunicação social, educação, antropologia e outros campos das
humanidades.
A existência de uma tradição em estudos voltados para a relação entre
cultura e sociedade, desde o início do século XX, contribuiu para que
essa proposta de análise crítica da realidade social encontrasse espaço
por aqui. Estamos falando, em especial, dos chamados clássicos da
interpretação do Brasil, de autores como Sérgio Buarque de Holanda,
Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior.
Dentre os mais conceituados ensaios do
pensamento social e político brasileiro que
apareceram entre os anos 1930 e início da
década de 1940, ‘Raízes do Brasil’ [Sergio B.
Holanda], ‘Casa-grande & senzala’ [Gilberto
Freyre] e ‘Formação do Brasil contemporâneo’
[Caio Prado Jr.], ao lado de ‘Sobrados e
mucambos’ [Gilberto Freyre] e ‘História
econômica do Brasil’ [Caio Prado Jr.], figuram
entre aqueles que, mesmo ao cabo de tantas
polêmicas, continuam a suscitar imenso
interesse de pesquisa. Nessa variada
constelação de ideias, é patente o zelo
devotado à conjunção de fatores e às
dinâmicas que desaguariam na formação
nacional; mas também às transformações
que, posteriormente, precipitaram a
aproximação dessa experiência aos termos
políticos, sociais e culturais da modernidade -
destaque feito ao ordenamento político
democrático-liberal, à economia urbano-
industrial e à racionalização cognitiva e ético-
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moral. Para os propósitos deste artigo,
importa sobremaneira o fato de tais obras
partilharem uma agenda intelectual conexa a
certa problemática cara à teoria social
contemporânea, a saber, a questão da
temporalidade distintiva da vida moderna.
(TAVOLARO, 2022, p. 1)
Nesse sentido, apesar de certa resistência de segmentos mais
disciplinares das ciências humanas, os estudos culturais puderam se
desenvolver na academia brasileira.
Abordagens teóricas e suas
contribuições
Confira neste vídeo a importância da articulação entre cultura e
literatura no Brasil, com destaque para as contribuições de Eneida Maria
de Souza e Heloisa Buarque de Holanda.
A chegada dos estudos culturais no Brasil não ocorreu sem alarde.
Muitos viam nessa influência um risco no que se refere às disciplinas,
como a teoria literária e a literatura comparada.
Tudo começou com a aplicação do método comparatista entre
literaturas produzidas em idiomas diferentes. A França, no século XIX,
foi a principal responsável pela origem desse método de estudos, pois
sua cultura era a dominante até então. Com o tempo, outras literaturas
dos países colonizados passaram a ser lidas, não mais em uma
perspectiva de dependência, mas de diferença em relação ao que foi
imposto culturalmente pelo colonizador.
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Pensar em literatura nos países historicamente
excluídos do desenvolvimento social e econômico é
pensar também em cultura, em outras formas de
expressão humana.
A interdisciplinaridade ensejada pelos estudos culturais permite que,
nos estudos literários, se considere não apenas a comparação entre
obras consagradas de autores canônicos (insuficientes para explicar as
condições sociais e econômicas em que elas foram produzidas), mas,
especialmente, obras realizadas por pessoas de grupos socialmente
invisibilizados e de gêneros artísticos distintos, incluindo trabalhos da
cultura popular de massa, como novelas de TV, música, seriados e
filmes.
Alguns nomes se destacam nessas abordagens teóricas. Um deles é o
de Eneida Maria de Souza, professora emérita de teoria da literatura e
literatura comparada da Universidade Federal de Minas Gerais, falecida
em 2022. Além de ter sido, ao lado de Tânia Carvalhal, uma das
idealizadoras da Associação Brasileira de Literatura Comparada, a
Abralic, Eneida foi uma das principais críticas literárias do país e
referência nos estudos comparatistas, em especial em torno do
Modernismo brasileiro.
Eneida Maria de Souza.
Grande estudiosa da obra de Mário de Andrade, Eneida incorporou em
suas análises aspectos da cultura popular na formação da cultura, ou
das culturas brasileiras. Uma das obras mais importantes da imensa
bibliografia da estudiosa mineira é Crítica cult, em que ela reúne ensaios
que ampliam o debate em torno não apenas do diálogo da crítica
literária brasileira com a latino-americana, mas também dos objetos de
investigação dessa mesma crítica.
No ensaio A teoria em crise, Eneida discute os problemas relativos ao
surgimento dos estudos culturais e sua influência nos estudos literários.
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A pesquisadora mineira realiza uma importante reconstituição histórica
da teoria literária, desde os gregos até os dias atuais, e aponta as razões
que têm levado à resistência de determinados grupos contrários ao
diálogo com os estudos culturais.
“Por trás da discussão do gosto estético se acham
inseridos problemas mais substantivos quanto à
diferença de classe, à democratização da cultura e à
perda do privilégio de um saber que pertencia a
poucos” (SOUZA, 2019, p. 80). Assim, a discussão gira
em torno da relação entre literatura, cultura e poder,
que norteia as discussões sobre a presença dessa
nova perspectiva de análise crítica.
Outra intelectual que deve ser destacada nesse cenário é a crítica
literária e ensaísta Heloísa Buarque de Hollanda, professora emérita de
teoria da cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro que, em
2023, foi eleita imortal da Academia Brasileira de Letras.
Heloísa Buarque de Hollanda.
Uma das principais referências nos estudos sobre feminismo no Brasil e
atenta às questões de seu tempo, Heloísa mapeou a produção poética
da chamada geração mimeógrafo, ou da poesia marginal, em seu livro
26 poetas hoje,de 1975. Na década de 1990, publicou um de seus
estudos mais importantes, Impasses e caminhos, no qual analisa o
feminismo na perspectiva da crítica cultural.
Na atualidade, Heloísa tem se dedicado ao estudo das culturas
periféricas, coordenando o Laboratório de Tecnologias Sociais, do
projeto Universidade das Quebradas, e o Laboratório da Palavra,
desenvolvidos no âmbito do Programa Avançado de Cultura
Contemporânea (PACC-Letras/UFRJ). No PACC, há ainda um programa
de pós-doutorado voltado para estudos culturais com foco nas
manifestações da cultura contemporânea. O trabalho de Heloísa vai
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além da publicação de livros: ela é uma incansável ativista das questões
que atravessam suas pesquisas.
Temas e questões literárias e
culturais contemporâneas
Acompanhe neste vídeo como os estudos culturais se apresentam na
realidade brasileira contemporânea, por meio de exemplos do
documentário AmarElo do rapper Emicida e dos Racionais MC’s no
vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Após uma breve exposição de alguns aspectos históricos e críticos
sobre estudos culturais e sua influência nos estudos literários, vale a
pena analisar e discutir alguns exemplos de temas e questões. Afinal,
como é possível analisar criticamente uma obra literária em uma
perspectiva cultural? Ou, ainda, como refletir sobre um determinado
produto cultural fazendo uso de instrumentos próprios da crítica
literária? Quais as condições e os limites dessas abordagens, pensando
na realidade social e cultural brasileira? E, consequentemente, quais
seriam os problemas envolvidos nessas proposições? Há alguma saída
possível, ou seriam várias?
Vimos que há certa resistência de alguns grupos em aceitarem a
incorporação dos estudos culturais nas análises literárias, como se isso,
de algum modo, fosse comprometer a especificidade da própria
literatura. Ora, se “as fronteiras disciplinares não mais se sustentam em
termos absolutos, a defesa de posições radicais só irá comprovar a
dificuldade de se conviver com os lugares indefinidos do próprio saber
contemporâneo.” (SOUZA, 2019, p. 90)
De acordo com Eneida Maria de Souza, a
interdisciplinaridade, em vez de ser vista como “vilã”
da história, poderia ser mais bem recebida por sua
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“força de aglutinação de diferenças e de pulverização
dos limites fechados dos campos teóricos” (SOUZA,
2019, p. 91).
Observe o caso do documentário AmarElo – É tudo pra ontem, dirigido
por Fred Ouro Preto, sobre o show do rapper Emicida no Theatro
Municipal de São Paulo. O filme suscita diálogos fundamentais para se
pensar na formação da cultura brasileira, seus contrastes e conflitos.
Em um palco historicamente reservado à elite branca paulistana,
Emicida, negro de origem periférica, reivindica o espaço do qual ele e
outros negros foram afastados. Nesse palco ocorreu, há mais de 100
anos, a Semana de Arte Moderna, com figuras ligadas à elite industrial, a
barões do café e a intelectuais de um modo geral.
Emicida no palco em documentário AmarElo – É tudo pra ontem.
AmarElo – É tudo pra ontem se transforma em aula de história ao
apresentar uma perspectiva, até então invisibilizada, excluída e negada,
da participação decisiva das culturas de matriz africana e da população
negra na formação das culturas brasileiras. Apesar de consciente do
caráter elitista do evento realizado por aqueles modernistas e
simpatizantes do movimento de 1922, Emicida faz uma releitura do
Modernismo sem colocá-lo em caixas de mocinhos e vilões. A
interdisciplinaridade com o qual conduz a narrativa apresenta também
os impasses e nuances dessa história.
O principal nome do Modernismo paulista, Mário de Andrade, é
chamado de “nosso modernista favorito” pelo rapper, reconhecendo sua
importância na discussão das pautas de sua trajetória artística.
Literatura, música, história, artes visuais, sociologia e até mesmo
botânica entram em cena para recontar a narrativa, não mais pelo olhar
da classe dominante.
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Cena do documentário AmarElo – É tudo pra ontem.
A inclusão das letras do álbum Sobrevivendo no inferno, dos Racionais
MC’s, no vestibular da Unicamp, como referência da área de literatura
brasileira, é outro exemplo que deve ser destacado. Não é nova a
discussão em torno da relação entre música e poesia; aliás, é bem
antiga. Desde a Grécia Antiga, no século IV AEC, na Poética, de
Aristóteles, esse diálogo é mais do que ressaltado.
Portanto, não há nenhuma surpresa. Contudo, a resistência em admitir
diálogo entre essa duas expressões permanece. E não apenas por
razões disciplinares, mas, principalmente, por motivos de classe e raça.
Afinal, é absurdo, para determinados segmentos da sociedade,
considerar um trabalho feito por um grupo de homens negros e
periféricos como poesia, considerada uma forma elevada de expressão
da subjetividade e dos sentimentos.
Racionais MC’s na Unicamp. Da esquerda para a direita: Ice Blue, Mano Brown e KL Jay.
Se há, de fato, quem se sinta atingido pelas mensagens do grupo, então
ela alcançou seu alvo. E, assim, aprendemos que fazer literatura, em
uma perspectiva cultural, também significa assumir riscos: o risco da
palavra escrita ou cantada, ou, ainda, o risco de transformar a realidade
ao redor.
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Os estudos culturais, embora tenham se originado no Reino Unido,
tiveram largo alcance em outros cantos do mundo, em especial na
América Latina. Marque a alternativa que apresenta o nome de dois
críticos literários latino-americanos influenciados por esses
estudos.
Parabéns! A alternativa A está correta.
O crítico literário uruguaio Ángel Rama e a crítica literária argentina
Beatriz Sarlo são dois nomes fundamentais dos estudos literários
na América Latina. Ambos foram bastante influenciados pela
chegada dos estudos culturais na região.
Questão 2
Qual das alternativas apresenta o nome de importante crítica
literária brasileira que utilizou pressupostos teóricos e
A Ángel Rama e Beatriz Sarlo.
B Antonio Candido e Silvio Romero.
C Clarice Lispector e Ángel Rama.
D Jorge Luis Borges e Edgar Allan Poe.
E Alfredo Bosi e Darcy Ribeiro.
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metodológicos dos estudos culturais em suas pesquisas sobre
literatura?
Parabéns! A alternativa E está correta.
A ensaísta, crítica literária e professora de literatura comparada da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eneida Maria de
Souza, foi uma das mais notáveis intelectuais brasileiras, sobretudo
por suas pesquisas sobre literatura e as relações com a cultura
popular.
Considerações �nais
Os estudos culturais chegaram abalando dogmas e virtudes
supostamente consolidados. Assim como o mundo mudou, as formas
de compreensão dessas mudanças também se transformariam. Em um
tempo de questionamento das desigualdades e das estruturas que as
mantêm, os estudos culturais surgiram como um sopro avassalador.
A literatura comparada, como disciplina, deixou de ser apenas pautada
pela análise comparatista de línguas vernáculas, inserindo outros traços
culturais em seu cálculo, o que nos leva a rever seus métodos e
tendências teórico-críticas. Os textos de autoras e autores
A Clarice Lispector
B Lúcia Miguel Pereira
C Rachel de Queiroz
D Ana MariaMachado
E Eneida Maria de Souza
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historicamente excluídos passaram a ter espaço. O cânone foi revirado
do avesso.
No Brasil, como em outros países da América Latina, os estudos
culturais foram incorporados nas leituras em torno do nosso passado
colonial, abrindo perspectivas teóricas e críticas, provocando
inquietações e debates sem fim, e revelando o potencial do diálogo
entre literatura e cultura, em nossa tentativa de expressão e
compreensão do mundo que nos cerca.
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Leia publicações do jornal Estado de Minas, periódicos literários e
culturais Quatro Cinco Um, Suplemento Pernambuco e o Caderno
“Pensar”. Há tanto a versão impressa quanto a virtual. 
Assista no YouTube ao documentário Human, de Yann Arthus-Bertrand
(2016), e aprofunde seu conhecimento sobre o que estudamos aqui. 
O livro Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de
Jesus, é uma importante obra no contexto dos estudos culturais. Vale a
pena conferir!
Veja como o rapper Emicida dialoga com o Modernismo no
documentário AmarElo.
Confira o pensamento vivo da ensaísta argentina Beatriz Sarlo na
Entrevista Roda Viva, no YouTube.
Referências
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Literatura e sociedade. São Paulo: T. A. Queiroz, 2000. p. 109-138.
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GOMES, C. Leitura interdisciplinar e estudos culturais. In: Simpósio
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de Janeiro: Objetiva, 2001. 
HUMAN. Direção: Yann Arthus-Bertrand. França: Humankind Production;
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JESUS, C. M. de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo:
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LARAIA, R. B. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge
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SARLO, B. Tempo passado. São Paulo: Cia das Letras, 2007.
SOUZA, E. M. Crítica cult. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2019.
TAVOLARO, S. A vida social brasileira e suas dissonâncias
temporais: afinidades de Buarque de Holanda, Prado Jr. e Freyre. Revista
Brasileira de Ciência Política, n. 38, p. 1-27, 2022. 
WILLIAMS, R. Cultura e sociedade. São Paulo: Nacional, 1969.
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