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mercado, aceitando todos os que apareciam, disposto a discutir qualquer coisa com qualquer um, a qualquer hora. Essa é a tradição do café dos filósofos. Fui mediador de um Fórum de Filósofos mensal em uma livraria de Manhattan e outro em um famoso café em Greenwich Village. Há muitos freqüentadores habituais que comparecem todos os meses, mas também sempre aparece gente nova. Os freqüentadores compõem um perfil de Nova York — e, conseqüentemente, um perfil da humanidade! São, em geral, trabalhadores e estudantes. Embora seja possível estabelecer um tópico para uma sessão particular, geralmente deixo que as pessoas reunidas sugiram e que o grupo as conduza. Todos os tipos de temas são discutidos, inclusive itens importantes como o sentido, a moralidade, a fé e a justiça. Mediei debates sobre como superar a alienação, o que a tecnologia significa para a humanidade, e, até mesmo, como encontrar pessoas. Os temas abordados na Parte II deste livro muitas vezes eram mencionados em grupos, exatamente como em um aconselhamento individual. Alguns dos freqüentadores habituais tinham os seus temas preferidos, mas independentemente do tópico abordado, todos se beneficiavam ouvindo o ponto de vista do outro. Não se pode esperar um acordo universal em um debate público. Mas o que se obtém é igualmente útil: uma oportunidade de contestar as opiniões de outras pessoas, de ter as suas próprias opiniões contestadas e de aprender a harmonizar ou tolerar opiniões contrárias. Quer a contestação reforce ou subverta a sua posição, a sua postura filosófica será a mais sólida. Só há uma regra fundamental em meus grupos de discussão: civilidade. Sendo corteses, os membros do grupo também praticam outras virtudes ao mesmo tempo: paciência, atenção, tolerância. Qualquer que seja o tema em discussão, praticar essas virtudes constitui uma lição filosófica por si só. Também desestimulo a citação nomes — isto é, referência a obras filosóficas publicadas. A discussão filosófica fora do ambiente acadêmico trata do que você pensa, e do que os outros no grupo pensam — não do que pensa alguém que seguiu a carreira de pensar. Se o grupo está discutindo justiça, a matéria-prima são as experiências particulares de justiça ou injustiça dos participantes e suas idéias gerais sobre o assunto. Você não precisa de um Ph.D. em filosofia para ter experiências e pensar por si mesmo. As pessoas que simplesmente mencionam nomes, ou tentam impressionar os outros com a sua erudição, não estão percebendo a intenção do debate. "Pois o homem que pensa por si mesmo se familiariza com as autoridades por suas opiniões somente depois que as adquiriu e meramente como uma confirmação delas, enquanto o filósofo de livro começa com as suas autoridades, e dessa forma constrói suas opiniões juntando as opiniões dos outros: a sua mente, então, se compara à do primeiro como um autômato se compara a um homem vivo. " ARTHUR SCHOPENHAUER A regra da civilidade é fundamental quando tratamos de questões delicadas. E, pode acreditar, penetramos em questões mais arriscadas do que você já ouviu falar até mesmo nos programas mais chocantes da televisão ou do rádio. Não há nenhum tabu nem censura em meus debates filosóficos, contanto que as regras básicas sejam obedecidas para nos ajudar a exercitar a razão juntamente com a manifestação apaixonada. Não existem coisas como pensamentos impensáveis — tente pensar em algo que não pode ser pensado!