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47 Observe a imagem na página anterior e esta ao lado. Que elementos presentes nelas se destacam para você? Com base no título do espetáculo, como você imagina essa dança? Em Qualquer coisa a gente muda (2011), o público entrava no tea- tro pelo palco e se deparava com uma jovem bailarina sentada em uma mesa, se preparando para entrar em cena. Em seguida, as cortinas se abriam, revelando aos espectadores as poltronas va- zias da plateia, exceto por uma ocupada pela bailarina Angel Vianna. Quando esse trabalho foi apresentado, ela estava com 83 anos e sua atuação desafiou o estereótipo de que pessoas idosas não dançam. O que você pensa sobre o fato de a bai- larina Angel Vianna se apresentar aos 83 anos? A história de vida de Angel Vianna se confunde com a his- tória da própria dança no Brasil. Ela criou, com o marido Klauss Vianna (1928-1992) e com o fi- lho Rainer Vianna (1958-1995), um método de ensinar dança que busca desenvolver a sensibilidade, a imaginação, a criativi- dade e a comunicação – esse método vem sendo modificado até hoje, segundo suas novas vivências. O título Qualquer coisa a gente muda convida a uma reflexão sobre o quanto os encontros com outras pessoas permitem aprender, gerar novas ideias e novas possibilidades de enten- dermos o mundo e de nos relacionarmos com aqueles que são diferentes de nós. 2 3 4 Resposta pessoal. QUALQUER coisa a gente muda. Direção: João Saldanha. Intérpretes: Angel Vianna e Maria Alice Poppe. Rio de Janeiro (RJ), 2011. • Para conhecer mais sobre Angel Vianna, acesse o site da artista. Disponível em: <http://www.angelvianna.art.br>. Acesso em: 15 mar. 2018. JO Ã O P A U LO A Z E V E D O Resposta pessoal. Resposta pessoal. 47 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2o BIMESTRE Klauss Vianna Foi um bailarino, coreógrafo e professor de dança nascido em Belo Horizonte (MG), que se empenhou em estudar anato- mia para favorecer o ensino de balé. Foi diretor do atual Balé da Cidade de São Paulo e atuou em escolas de formação nas ci- dades de Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA). Ele desen- volveu práticas que interessa- ram – e ainda interessam – tan- to à dança quanto ao teatro. Os conteúdos apresentados nestas páginas sobre a obra de Angel e Klauss Vianna contem- plam as habilidades (EF69AR09) e (EF69AR10) da BNCC. Sugestões para o professor Se possível, assista a uma entrevista com João Saldanha, Angel Vianna e Maria Alice Poppe sobre o espetáculo Qualquer coisa a gente muda (2011). Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=SDCVUwDd6xU>. Acesso em: 4 nov. 2018. Conheça mais sobre a artista Angel Vian- na por meio dos documentários Idança. Doc e Arte do Artista. D i spon í ve i s em: <h t tp s : / /www. youtube.com/watch?v=0KnBfbeGfvY> e < h t t p s : / / w w w . y o u t u b e . c o m / watch?v=bJ2KJIDtECc>. Acessos em: 4 nov. 2018. Atividade complementar Em conexão com a questão 4, sugerimos uma pesquisa sobre a ideia de beleza em textos filosóficos e históricos. A dis- cussão sobre a beleza e padrões estéticos relativos ao corpo humano é ampla e diversificada e precisa ser bem orientada para que os estudantes a compreendam. Por isso, sugerimos que você organize uma aula para apresentar as variações dessa ideia ao longo da história da arte ocidental e oriental. Procure aproximar essa pesquisa dos conteúdos apresenta- dos nesta seção, sobre Angel Vianna e sobre a companhia Gira Dança – suas obras podem suscitar inquietações sobre a beleza do movimento e dos corpos de pessoas idosas ou jovens e de pessoas com ou sem deficiência. http://www.angelvianna.art.br https://www.youtube.com/watch?v=SDCVUwDd6xU https://www.youtube.com/watch?v=SDCVUwDd6xU https://www.youtube.com/watch?v=0KnBfbeGfvY https://www.youtube.com/watch?v=0KnBfbeGfvY https://www.youtube.com/watch?v=bJ2KJIDtECc https://www.youtube.com/watch?v=bJ2KJIDtECc 48 A Companhia Gira Dança, de Natal (RN), foi criada em 2005 pelo bailarino carioca Anderson Leão e pelo bailarino natalen- se Roberto Morais. Em seus trabalhos, o elenco dessa compa- nhia – formado por pessoas com e sem deficiência – procura descobrir as possibilidades do corpo de cada pessoa. Eles cria- ram um espaço para explorar os potenciais e as qualidades cê- nicas da dança de cada indivíduo. Para os integrantes da Gira Dança, o nome do espetáculo Dança que ninguém quer ver (2015) é uma provocação, para eles e para o público. Os profissionais que compõem a companhia se fizeram a pergunta que dá nome ao espetáculo e descobriram que queriam ver as suas próprias danças, a dança da pessoa com deficiência, a dança da pessoa sem deficiência, a dança do en- contro entre as pessoas do grupo e a dança do encontro delas com a sociedade. E você? Quais são as danças que quer ver? Por quê? Respostas pessoais. 5 O que se quer ver? DANÇA que ninguém quer ver. Direção artística: Anderson Leão. Concepção e direção coreográfica: Alexandre Américo. Intérpretes: Companhia Gira Dança. Natal (RN), 2015. R AV A N EL I M ES Q U IT A /G IR A D A N Ç A 48 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Orientações A discussão sobre a produção de dança por pessoas com de- ficiência é ampla, porém recor- remos aqui à leitura da profes- sora doutora Lúcia Matos e do professor, mestre, bailarino e coreógrafo Edu O. Ambos en- tendem que pessoas com defi- ciências podem ter aptidão para dançar e criar de maneira autônoma, desde que a pro- dução do movimento para a dança deixe de ser idealizada. Evitar a idealização do movi- mento é um objetivo recorren- te ao longo desta coleção. Para isso, buscamos promover a dan- ça como uma possibilidade de comunicação para estudantes com histórias, hábitos e corpos diversos. É necessário portanto entender as especificidades de cada pessoa para poder estabe- lecer os parâmetros da criação artística. A partir dessa refle- xão, é possível pensar sobre a produção de artistas com defi- ciência como uma comunicação legítima que pode tratar ou não de assuntos relativos à de- ficiência – a forma de uma pro- dução artística deve dar a ver as especificidades de modos de atuar e de produzir da pessoa que a criou. O debate em tor- no desses conteúdos contempla as habilidades (EF36AR10) e (EF69AR15) da BNCC. Sugestões para o professor Para aprofundar a discussão e as práticas artísticas relativas a pessoas com deficiência, sugerimos as seguintes leituras: CARMO, Carlos Eduardo O. do. Entre lágrimas e compaixões: implicações das políticas públicas cultu- rais brasileiras (2007 a 2012), na produção de artistas com deficiência na dança. Salvador: UFBA, 2014. LAPPONI, Estela; O., Edu; SCHWARTZ, Wagner, “Você: um outro que o outro não é”. In: Mostra Internacional de Arte+Sentidos, 2014. Disponível em: <https://www.wagnerschwartz.com/ single-post/2017/01/28/Voc%C3%AA-um-outro-que-o-outro-n%C3%A3o-%C3%A9>. Acesso em: 4 nov. 2018. MATOS, Lúcia. Dança e diferença: cartografia de múltiplos corpos. Salvador: EDUFBA, 2014. https://www.wagnerschwartz.com/single-post/2017/01/28/Voc%C3%AA-um-outro-que-o-outro-n%C3%A3o-%C3%A9 https://www.wagnerschwartz.com/single-post/2017/01/28/Voc%C3%AA-um-outro-que-o-outro-n%C3%A3o-%C3%A9 49 Segundo os próprios baila- rinos, que também criaram as coreografias, a proposta desse espetáculo é descobrir-se sem negar quem se é, nem como se é. Essa descoberta envolve o questionamento dos padrões de beleza, de corpo, de movimento e de dança aceitos durante mui- to tempo – padrões que nega- vam às pessoas com deficiência a possibilidade de dançar. Por se pautar na especifici- dade de cada corpo e aceitar e acolher suas diferenças, o elen- co da Companhia Gira Dança apresenta uma ampla gama de possibilidadespara a pesquisa de movimento. Isso permite que as combinações de movimento provoquem, a cada encontro, uma nova descoberta, um novo acontecimento, uma nova pos- sibilidade de dançar. O que os motiva a mover-se são as dife- renças entre os indivíduos. Dança que ninguém quer ver é a dança que abre espaço a pes- soas nem sempre valorizadas na sociedade, que são pouco lembradas e pouco contempladas nos espaços públicos e nas discussões coletivas. A cena, nesse caso, pode operar como uma extensão do espaço público: dar visibilidade ao que é relegado à margem pode provocar transformações, mudando inclusive a relação entre o que é considerado central e o que é comumente enxergado como periférico. De que modo o encontro com uma dança fora dos padrões tradicionais pode pro- vocar novas ideias sobre o convívio em sociedade? Que reflexões esse exemplo despertou em você? 6 Respostas pessoais. DANÇA que ninguém quer ver. Direção artística: Anderson Leão. Concepção e direção coreográfica: Alexandre Américo. Intérpretes: Companhia Gira Dança. Natal (RN), 2015. • Assista a uma entrevista com os integrantes da Companhia Gira Dança. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jJFPIL6lVkU>. Acesso em: 16 mar. 2018. R AV A N EL I M ES Q U IT A /G IR A D A N Ç A 49 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2o BIMESTRE Sobre a Gira Dança A companhia, formada por bai- larinos com e sem deficiência, foi criada em 2005 em Natal (RN). Ela trabalha a partir da ideia de corpo diferenciado, na qual os bailarinos pesquisam e descobrem, a partir das espe- cificidades de cada corpo, seus próprios modos de dançar. Sugestão para o professor Conheça mais sobre a companhia e so- bre seus processos de criação: FRANÇA, Moema. “Gira Dança e a me- mória de cada corpo”. In: Revista Car- damomo, 9 jun. 2016. Disponível em: <http://www.revistacardamomo.com/ gira-danca-e-a-memoria-de-cada-corpo/>. Acesso em: 4 nov. 2018. Sobre as atividades 5. O objetivo é convidar os estudantes a pensar sobre como os encontros com o outro podem abrir caminhos para novas possibilidades de aprender e para outros modos de viver, distintos dos que cada um está acostumado. Esse encontro com a alteridade amplia possibilidades de convivência e de se pensar as relações entre as pessoas em sociedade. 6. Provoque o estudante a pensar sobre o que significa considerar algo fora do padrão. Questione também quais são os padrões que eles adotam. Sem dúvida, deve haver muita diversidade de padrões na sala. Será que algum deles deve se sobrepor ao outro? https://www.youtube.com/watch?v=jJFPIL6lVkU http://www.revistacardamomo.com/gira-danca-e-a-memoria-de-cada-corpo/ http://www.revistacardamomo.com/gira-danca-e-a-memoria-de-cada-corpo/ 50 UM ENCONTRO POR MEIO DA DANÇA Que tal fazer uma atividade em que os intérpretes transformarão a execução dos movimentos da sequência coreográfica criada por um coreógrafo? 1 Reúna-se com os colegas em um grupo de três integrantes. 2 Decidam quem será o coreógrafo e quem serão os intérpretes da sequência coreográfica. 3 O coreógrafo vai criar uma sequência coreográfica inicial com 16 tempos e vai ensiná-la aos intérpretes. 4 Em seguida, os intérpretes deverão modificar a sequência coreográfica inicial, variando a altura, a parte do corpo que realiza o movimento, a direção, a velocidade e a amplitude do movimento. Pode-se compor a sequência coreográfica inicial ou modificar os movimentos, buscando apresentar algo de seu modo de dançar. 5 Todos os integrantes do trio deverão aprender as sequências modificadas. 6 Após todos terem aprendido, as sequências coreográficas de cada grupo podem ser apresentadas à turma. 7 Para concluir, compartilhe com o professor e com os colegas as suas respostas às questões abaixo. Respostas pessoais. a) Quais especificidades suas e dos seus colegas ficaram evidentes durante a atividade? b) Quando você e seus colegas dançaram juntos, quais foram as dificuldades individuais para lidar com as habilidades do outro, diferentes das suas? Como você resolveu essas dificuldades? c) O que você aprendeu sobre convivência com esta atividade? A N D R EA E B ER T 50 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Orientações: Para experimentar O objetivo desta atividade é tra- balhar com as dinâmicas do mo- vimento e as preferências com relação ao uso do espaço, na criação de ações corporais. Ao se relacionarem com os colegas durante a dança, os estudantes poderão modular seus gestos, palavras e ideias no sentido de se encontrar com o outro e es- tabelecer relações de afinidade e de compreensão mútua. A ex- ploração dos elementos consti- tutivos do movimento dançado, a investigação de procedimen- tos de improvisação e criação, e a vivência de experiências cole- tivas em dança, propostas nesta atividade, contemplam as habi- lidades (EF69AR10), (EF69AR12) e (EF69AR15) da BNCC. Garanta um espaço amplo para a realização desta atividade, afastando mesas e cadeiras. 3. O coreógrafo vai propor uma sequência com duração de 16 pulsos ou tempos. Nesse senti- do, um movimento pode durar mais de um pulso. É possível utilizar música, se você preferir. 4. Depois de aprender a coreo- grafia, os intérpretes precisam continuar realizando as mesmas ações corporais que o coreó- grafo propôs, modificando-as segundo as sugestões apresen- tadas no enunciado. 5. Cada integrante deve apren- der as modificações propostas pelos outros. A seguir, o grupo deve encontrar os modos de passar de uma proposta para outra, formando uma nova co- reografia. 6. Esta etapa não é obrigatória, mas é importante que todos es- tudem as suas sequências core- ográficas individuais para traba- lhar com elas posteriormente. 7. As questões a, b e c visam pro- mover reflexões críticas e auto- críticas em relação às ações de cada um. A proposta desta ativi- dade é exercitar a compreensão da alteridade e possibilitar o en- contro com as diferenças. 51 De passinho em passinho, uma dança que transborda O passinho, modalidade de dança nascida na periferia do Rio de Janeiro (RJ), é apresentado no espetáculo #Passinho, que le- vou para o palco dançarinos de comunidades dessa cidade. O passinho ganhou visibilidade por meio de vídeos publi- cados na internet. O acesso às mídias digitais colaborou para a difusão e para a troca de informação entre seus praticantes. Graças a isso, o que era inicialmente uma dança de periferia passou a ter uma visibilidade global. Cena do espetáculo #Passinho. Direção: Lavínia Bizzoto e Rodrigo Vieira. Intérpretes: CL Fabulloso, DG Fabulloso, GN Fabulloso, Iguinho Imperador, Jackson Fantástico, Leony Fabulloso, Michel Quebradeira Pura, Nego e Sheick. Rio de Janeiro, 2011. D É B O R A C O S TA E S IL V A O que você sabe sobre a modalidade de dança conhecida como passinho?7 Resposta pessoal. 51 2o BIMESTRE Sugestão para o professor Para aprofundar as reflexões sobre o passinho, sugerimos a leitura de: MUNIZ, Bruno Barboza. Quem precisa de cultura? O capital existencial do funk e a conveniência da cultura. In: Sociol. Antropol., Rio de Janeiro. vol.6, n.2, 2016, pp. 447-467, ago. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2238-38752016000200447&script=sci_ abstract&tlng=pt>. Acesso em: 4 nov. 2018. Sugestão para o estudante Assista com a turma o registro do espetáculo #Passinho. Disponível em: <https://vimeo. com/147398984>. Acesso em: 4 nov. 2018. Orientações Ao apresentar o passinho como uma modalidade emergente de dança, consideramos seus contextos e modo de pen- sar o corpo e o movimento, contemplando as habilidades (EF69AR09) e (EF69AR15) da BNCC. É preciso reconhecer no passinho uma criação urbana cultural que emerge de um contexto específico. Questioneos estudantes sobre os discur- sos que estão associados a esse modo de fazer dança. Convidamos a uma reflexão pautada num encadeamen- to das seguintes perguntas: “O que conhecemos sobre os contextos onde o passinho foi criado?”; “Como nos relacio- namos com essa modalidade de dança, com seu contexto de origem e com as pessoas que o criaram?”; “Essas reflexões nos provocam algum tipo de trans- formação?”. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2238-38752016000200447&script=sci_abstract&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2238-38752016000200447&script=sci_abstract&tlng=pt https://vimeo.com/147398984 https://vimeo.com/147398984 52 Os dançarinos de passinho, em geral, são trabalhadores que atuam em diversos setores e, por isso, as horas de ensaio, as batalhas entre dançarinos e as apresentações muitas vezes são intercaladas com a busca por sustento e qualidade de vida. Nas batalhas de passinho, cada um dos participantes, de fato, está lutando para se apresentar e ganhar seu espaço. Com a visibilidade que ganharam com o passinho, alguns dos jovens dançarinos tornaram-se reconhecidos como artistas e foram convidados a dar aulas dessa modalidade de dança e a prota- gonizar filmes e documentários. A difusão do passinho trouxe notoriedade e oportunidades a grupos de artistas que tiveram a possibilidade de se relacionar com o mundo tradicional das artes, sem perder o vínculo com a sua realidade, podendo inclusive transformar a forma como o mundo a vê. Transformações como essa também fazem parte da história de outras danças urbanas, como você verá a seguir. PASSINHO, A EMERGÊNCIA DE UMA DANÇA URBANA BRASILEIRA Como dançar o passinho modificou a vida de alguns dos jovens que o praticam? 1 Pesquise em jornais, revistas e na internet o que as pessoas que dançam o passinho contam sobre sua experiência. 2 Sugerimos as questões a seguir para orientar a sua pesquisa: a) Quais são as características da dança do passinho? b) De que modo as pessoas que dançam o passinho criam uma maneira própria de serem notadas por meio dessa dança? c) Quais foram as principais transformações sociais atreladas à prática dessa dança que você encontrou em sua pesquisa? 3 Organize os resultados de sua pesquisa em forma de texto único. 4 Em uma aula posterior, compartilhe seu texto com a turma. 5 Para concluir, debata com os colegas e com o professor as seguintes questões: a) Como os dançarinos entendem o que fazem e quais são os objetivos das suas atuações com o passinho nas comunidades em que vivem? b) Você acha que dançar o passinho promove algum tipo de reflexão sobre a sociedade para a pessoa que dança? E para a pessoa que assiste? Por quê? 52 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Orientações: Para pesquisar Por meio dessa pesquisa, os estudantes poderão conversar sobre a emergência de uma cul- tura periférica potencialmente transformadora. Ao final, o de- bate deve possibilitar que os es- tudantes se posicionem diante do contexto no qual essa dança é produzida e diante dos novos contextos a que ela pode che- gar por meio de sua difusão. 2. e 3. Peça aos estudantes que, a partir das leituras e aprecia- ções de vídeos, escrevam um texto dissertativo orientado pe- las perguntas deste item. 4. e 5. No dia da entrega do texto, organize uma conversa pautada pelas questões apre- sentadas no item 5 e outras que você ache necessárias. Es- timule os estudantes a expor suas reflexões, a partir do que escreveram. Se julgar conveniente, esta pesquisa pode ser ampliada, sugerindo aos estudantes que comparem o passinho a outra dança da sua região ou comuni- dade que também exerça fun- ção agregadora e transforma- dora da realidade social onde acontece. Essa nova pesquisa pode seguir as mesmas etapas apresentadas nesta seção. A atividade contempla as habili- dades (EF69AR09), (EF69AR10), (EF69AR12) e (EF69AR15) da BNCC. 53 A dança que se espalha mundo afora The Rock Steady Crew com o co-fundador Richard “Crazy Legs” Colon (no centro) dançando break no pátio da escola Booker T. Washington em Nova York, Estados Unidos. Fotografia de 1983. A Rock Steady Crew foi fundada em 1977 no Bronx, distrito da cidade de Nova York. Ela é uma das mais antigas crews do movimento hip-hop e muitos b-boys que fizeram parte dela no seu início deixaram seu legado na forma de movimentos de dança, versos, músicas e pensamentos. Nas décadas de 1970 e 1980, junto com outras equipes, a Rock Steady Crew apareceu em filmes, programas de televi- são, jornais, revistas, além de ter suas músicas tocadas em pro- gramas de rádio. Essa difusão em diferentes mídias contribuiu para consolidar o hip-hop nos Estados Unidos e em outros paí- ses como um movimento cultural cujas manifestações artísti- cas promoviam a esperança de mudança e de transformação da realidade. Crew Nome dado às equipes de hip-hop formadas por b-boys, b-girls, DJs, rappers e grafiteiros. © 1 98 3, 2 01 0 LI N D A V A R TO O G IA N /F R O N TR O W PH O TO S/ G ET TY IM A G ES 53 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 2o BIMESTRE Atividade complementar Caso seja possível, sugerimos que você organize uma visita de artistas ligados ao movimen- to hip-hop à sua escola para que os estudantes possam co- nhecer seus trabalhos e conver- sar com eles. Procure organizar workshops de dança, grafite, discotecagem e poesia com os artistas convidados. Sobre Rock Steady Crew É um dos grupos mais antigos de b-boys, b-girls e hip-hop existentes. Esta crew formou-se junto com a configuração do hip-hop como um movimento cultural. Ela se mantém atuante e se renova desde sua criação em 1977. Muitos dos b-boys que fizeram parte desta crew, como o famoso Crazy Legs, deixaram sua marca e seu legado em forma de um amplo repertório de movimentos. 54 O INÍCIO DO MOVIMENTO HIP-HOP Na década de 1960, bairros periféricos da cidade de Nova York, nos quais faltavam escolas, hospitais e outros serviços e infraestrutura, abrigavam uma população de baixa renda constituída majoritariamente por afro-americanos e imigrantes latinos. Nessa época, os altos índices de desemprego e a precariedade do sistema de ensino público facilitaram o estabelecimento de comércios ilegais e o aumento da violência. O Bronx era um desses bairros e foi nele que nasceu um movimento artístico de grande relevância social. Encontro de hip-hop no bairro do Bronx, em Nova York, Estados Unidos. Fotografia de 1980. Desde seu surgimento, o movimento hip-hop tinha como um de seus objetivos denunciar a desigualdade social e racial. Nos Estados Unidos, ele se incorporou à luta pelos direitos civis e pelo fim da segregação racial no país. No entanto, ao longo do tempo, o movimento também se transformou e, em cada lugar onde se instalou, ganhou adeptos, propósitos e características nascidos do encontro com as culturas locais. H EN R Y C H A LF A N T/ A U TV IS , B R A SI L, 2 01 8 54 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 54 Orientações: Foco na História O surgimento da cultura hip- -hop nos Estados Unidos está ligado diretamente ao contexto vivido por habitantes da peri- feria da cidade de Nova York. A população em bairros como o Bronx era majoritariamente negra e latina, composta por descendentes dos africanos escravizados entre os séculos XVII e XIX ou por imigrantes da América Central. Nesses bairros periféricos a maior parte das pessoas encontrava-se em si- tuação de pobreza – em geral desempregadas ou subempre- gadas em vagas precárias. Alguns autores defendem que o movimento hip-hop nasceu, nos anos 1970, como alterna- tiva criativa de convíviosocial em face da situação econômica degradada, da gentrificação e da falta de recursos vividas por essas populações. O hip-hop emergiu então como alterna- tiva entre grupos rivais que frequentavam as festas de rua chamadas block parties e reali- zadas principalmente no Bronx. Posteriormente, a cultura hip- -hop se difundiu em várias partes do mundo, aparecendo de modos diferentes nos mais diversos contextos. No entanto, há elementos comuns no que se refere às expressões artísticas do hip-hop. As figuras principais desta cul- tura são: o MC, mestre de ce- rimônias, poeta e cantor; o DJ, ou disc jockey, que mantém as batidas da música; os b-boys e b-girls – dançarinos que partici- pam de batalhas virtuosísticas a fim de representar sua crew ou seu território; e, por fim, o grafiteiro, praticante do gra- fite, que envolve inscrições e desenhos nas paredes, com te- mas referentes às comunidades onde o artista vive. O conteúdo desta seção Foco na História contempla as habili- dades (EF69AR31) e (EF69AR34) da BNCC. 55 A grande mudança começou em 1971, quando 42 gangues iniciaram um movimento cujo lema era "paz, amor, união e diversão". O aspecto da diversão envolvia a participação nos bailes black e a formação de crews para dançar break. Um dos líderes desse movimento foi Kevin Donovan (1957-), que se tornou ativista social após uma viagem para a África, onde conheceu diferentes países e culturas. De volta aos Estados Unidos, Donovan adotou o nome Afrika Bambaataa e fundou a Zulu Nation, uma crew composta por homens e mulheres. Bambaataa reuniu, em um só movimento, a música, as danças e os grafites. As festas promovidas pela Zulu Nation contavam com alguns elementos que já existiam nos bailes black, como o microfone aberto ao público que quisesse improvisar acompanhando o ritmo do funk, um costume jamaicano popularizado pelos DJs Kool Herc (1955-), natural da Jamaica, e Grandmaster Flash (1958-), nascido em Barbados. Nessas festas, os dançarinos também se reuniam para dançar break e pintar com tinta spray – como no caso do jovem Lonny Wood (1958-), conhecido como Phase2, que criava grandes painéis com mensagens positivas. O hip-hop aglutina o rap, repre- sentado pelo DJ, que compõe novas músicas com fragmentos de outras, e pelo MC, responsável pelos versos rimados das canções, além do grafite e do break, fundando uma cultura urbana que amplificou a voz de comunidades das periferias de Nova York e logo se espalhou por outros países, ganhando, em cada lugar, novas características, como aconteceu no Brasil. Reflita sobre as seguintes questões e compartilhe suas respostas com os colegas e com o professor. Respostas pessoais. 1 De que modo conhecer as obras e os artistas apresentados neste Sobrevoo contribuiu para a sua compreensão da linguagem da dança como forma de reflexão sobre a sociedade? 2 Algum dos exemplos provocou em você alguma reflexão mais profunda ou o desejo de ler e conhecer mais? Qual deles? Quais foram as inquietações causadas? Baile black Festa produzida e frequentada majoritariamente por pessoas negras, na qual se veiculavam músicas de artistas negros em sua maioria. Era parte de um movimento de afirmação da comunidade negra. DJ Disc-jockey. Pessoa responsável por manipular os toca-discos nos bailes. No hip-hop, é quem altera as músicas por meio de efeitos como o scratch [riscar] e outros efeitos para dar suporte à rima do poeta [rapper] e à dança. PY M C A /U IG /G ET TY IM A G ES Break dancers na casa noturna The Roxy, Nova York, Estados Unidos. Fotografia de 1981. 55 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 552o BIMESTRE Sobre as atividades: Para refletir 1. Conhecer as obras e artistas pode promover nos estudantes a percepção de que a produção de arte está conectada à vivên- cia pessoal e social dos artistas. Os estudantes podem elabo- rar suas respostas organizando sua fala ou escrita a partir da compreensão dos elementos da dança estudados ao longo des- ta coleção. 2. Esta pergunta propõe que os estudantes exponham seu pon- to de vista diante das novas in- formações e reflexões, reorga- nizando e ressignificando seus conhecimentos e experiências prévias. 56 no... Hip-hop no Brasil Na década de 1980, a estação São Bento do metrô, na cidade de São Paulo (SP), foi um ponto de encontro importante de b-boys e b-girls, MCs, DJs e grafiteiros de todos os estados do país. Os encontros, que aconteciam espontaneamente, davam a oportunidade de trocar informações e aprender mais sobre o movimento hip-hop que, naquele momento, ainda estava come- çando no Brasil. Artistas como os b-boys Nelson Triunfo (1954-) e Marcelinho Back Spin (1966-), o rapper Thaíde (1967-), o DJ Hum (1966-) e os grafiteiros Gustavo e Otávio Pandolfo (1974-), atualmente conhecidos como OSGEMEOS, fizeram parte desse movimento. Antes de chegar à estação São Bento, as sementes do movi- mento no Brasil foram plantadas nos bailes black da década de 1970, onde foi-se formando uma consciência sobre a cultura ne- gra, viabilizada por esses encontros e pelas referências que che- gavam de outros países por meio de músicas, filmes e revistas. Os dançarinos de break na estação São Bento do metrô, em São Paulo (SP). Fotografia de 1988. B ET TI N A M U SA TT I/F O LH A PR ES S 56 R ep ro du çã o pr oi bi da . A rt. 1 84 d o C ód ig o P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . Nesta seção, apresentamos o início do movimento hip-hop no Brasil. Unidades temáticas da BNCC: Dança; Artes integradas. Objetos de conhecimento: Contextos e práticas; Processos de criação; Matrizes estéticas e culturais; Patrimônio cultural. Habilidades em foco nesta seção: (EF69AR09) Pesquisar e analisar diferentes formas de expressão, representação e encenação da dança, reconhecendo e apre- ciando composições de dança de artistas e grupos brasileiros e estrangeiros de diferentes épocas. (EF69AR15) Discutir as experi- ências pessoais e coletivas em dança vivenciadas na escola e em outros contextos, proble- matizando estereótipos e pre- conceitos. (EF69AR31) Relacionar as prá- ticas artísticas às diferentes di- mensões da vida social, cultural, política, histórica, econômica, estética e ética. (EF69AR33) Analisar aspectos históricos, sociais e políticos da produção artística, problemati- zando as narrativas eurocêntri- cas e as diversas categorizações da arte (arte, artesanato, folclo- re, design etc.). (EF69AR34) Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluin- do suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de dife- rentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e re- pertório relativos às diferentes linguagens artísticas. Sugestões para o professor Para uma maior compreensão das dinâmicas do movimento ou cultura hip-hop sugerimos algumas leituras: GOMES, Renan Lélis. Território usado e movimento hip-hop: cada canto um rap, cada rap um canto. Campinas: Unicamp, 2012. SILVA, Ana Cristina Ribeiro. Dança de Rua: do ser competitivo ao artista da cena. Campinas: Unicamp, 2014. SOUSA, Rafael Lopes de. O movimento hip-hop: a anti-cordialidade da “República dos Manos” e a Estética da Violência. Campinas: Unicamp, 2009.