Prévia do material em texto
As etapas do capitalismo Podemos dividir a história do sistema capitalista em fases, de acordo com ca- racterísticas predominantes em cada período. A fase entre os séculos XV e XVIII é denominada capitalismo comercial ou mercantilista, uma vez que a Expansão Marítima, que se iniciou no século XV, permitiu a ampliação mercantil da Euro- pa. As estruturas de comércio, o poderio da burguesia e a capacitação financei- ra foram fortalecidos em empreendimentos comerciais cada vez maiores. Esse processo, que estabeleceu as bases para o capitalismo moderno, foi deno minado pelo filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) “acumulação primitiva” de capitais. A partir do final do século XVIII, teve início a fase denominada capitalismo industrial, que impulsionou a concentração de capitais e o completo amadure- cimento do sistema capitalista, desdobrando-se em disputas por mercados in- ternacionais e atuações na corrida imperialista do século XIX até 1914, início da Primeira Guerra Mundial. A estruturação capitalista industrial, com a formação de grandes empresas e tendo à frente industriais, banqueiros e comerciantes, deu origem ao denominado capitalismo monopolista, que perpassa tanto sua etapa industrial quanto a financeira e, em certa medida, se estende até hoje. Em continuidade à fase anterior, a imensa concentração de capitais nos grandes bancos e nas empresas com ações nas Bolsas de Valores deu for- ma, ao longo do século XX, ao denominado capitalismo financeiro, etapa que segue até os dias atuais. Considera-se, ainda, que, com o impacto das tec- nologias da informação e da eletrônica no mercado, o capitalismo financeiro interliga-se a uma nova etapa, o capitalismo informacional. As transformações ocorridas desde o período de acumulação primitiva de capitais até a atualidade consolidaram o eixo constitutivo do sistema capita- lista na busca do lucro e na acumulação da riqueza monetária. Cada etapa do capitalismo esteve articulada com políticas econômicas que fo- ram conduzidas pelo poder estatal. Em diferentes momentos, os Estados tiveram atuações políticas que permitiram a implementação das etapas do capitalismo. Entre essas atuações, estão: o mercantilismo intervencionista e colonialista da época do capitalismo comercial; os ensaios liberais da época do início da indus- trialização e as medidas protecionistas da época do capitalismo monopolista; o liberalismo da época pós-Primeira Guerra Mundial; o keynesianismo após os anos 1930; o neoliberalismo do final do século XX e do início do século XXI. Dois dos mais importantes teóricos que abordaram o capitalismo foram os alemães Karl Marx e Max Weber. Marx descreve-o como um modo de produção, com seu conjunto de relações sociais, econômicas e políticas que ampliavam as formas de exploração, rivalizando capital com trabalho e aguçando confron- tos que resultariam no fim do próprio capitalismo. Já Weber define o capitalis- mo como uma forma de organização racional, com a produção de bens voltada para o lucro, fundada no trabalho livre, que, na contemporaneidade, distancia- -se das formas de exploração de períodos anteriores. Desde a consolidação do sistema capitalista, a partir da Revolução In- dustrial (1760-1840) e reafirmado pelas fases seguintes até sua hegemo- nia mundial, houve um entrelaçamento desse sistema econômico com as inovações tecnológicas e o conhecimento científico. Capital: de forma simplificada, é o conjunto dos meios de produção criados pelo trabalho e utilizados para a produção de outros bens. Revolução Originalmente, o termo revolução referia-se ao movimento de um astro em torno de outro (como o da Terra em torno do Sol), retornando sempre ao mesmo ponto, em uma repetição interminável. No final do século XVIII, porém, esse termo ganhou novos sentidos e passou a indicar ruptura, transformações profundas nas estruturas de uma ordem instituída. De modo geral, revolução refere-se a uma mudança política, técnica, cultural ou econômica brusca e profunda, como a Revolução Francesa, a Revolução Neolítica (cerca de 10 000 a.C.) – com a passagem do nomadismo ao sedentarismo –, ou até mesmo a chamada Revolução Sexual, ou Revolução Comportamental, que transformou as concepções sobre sexualidade, gênero e relacionamento afetivo no Ocidente, entre as décadas de 1960 e 1970. Conceitos 101 V2_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap3_084a121.indd 101V2_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap3_084a121.indd 101 9/8/20 5:53 PM9/8/20 5:53 PM Evolução do capitalismo Thomas Mun (1571-1641). Economista inglês, um dos principais teóricos da doutrina mercantilista. Adam Smith (1723-1790). Economista escocês, um dos mais importantes teóricos do liberalismo clássico e um de seus formuladores. John Keynes (1883- -1946). Economista inglês, um dos mais importantes teóricos até meados do século XX. Influenciou as políticas de recuperação da crise iniciada em 1929. Jean-Baptiste Colbert (1619-1683). Ministro das Finanças de Luís XIV, responsável pela aplicação das políticas mercantilistas na França. David Ricardo (1772-1823). Economista inglês, tido como sucessor de Smith, contribuiu ativamente para a formulação da teoria econômica. Joan Robinson (1903-1983). Economista inglesa, seguiu as propostas keynesianas e aperfeiçoou algumas delas. COMERCIAL Mercantilismo Surgiu com os Estados nacionais absolutistas e vigorou durante o capitalismo comercial. Foi a denominação dada ao conjunto de práticas econômicas europeias fundadas no protecionismo e na intervenção do Estado na economia. De forma geral, buscavam fortalecer o Estado e aumentar a riqueza nacional por meio do acúmulo de metais preciosos (ouro e prata) e da obtenção de superavit comerciais. INDUSTRIAL Liberalismo Os adeptos dessa doutrina criticavam o absolutismo e o mercantilismo; no plano político, defendiam a democracia representativa, a independência dos três poderes e a liberdade do indivíduo; e, no econômico, o direito à propriedade, a livre- -iniciativa e a concorrência. Eram contrários à intervenção do Estado na economia e favoráveis à livre ação das forças do mercado. Para seus teóricos, a riqueza era gerada pela indústria (produção). FINANCEIRO Keynesianismo Os adeptos dessa doutrina criticavam o pensamento econômico clássico e o princípio da “mão invisível”, do suposto equilíbrio espontâneo do mercado; por isso, defendiam a intervenção do Estado na economia para evitar crises de superprodução, como a que ocorreu em 1929, após a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. Propunham o aumento dos gastos públicos como mecanismo para estimular o crescimento econômico e a geração de empregos. W ik ip e d ia /W ik im e d ia C o m m o n s A lb u m /F o to a re n a W ik ip e d ia /W ik im e d ia C o m m o n s /N a ti o n a l P o rt ra it G a lle ry L o n d o n A lb u m /F o to a re n a P e te r L o ft s P h o to g ra p h y /N a ti o n a l P o rt ra it G a lle ry , L o n d o n . Friedrich Hayek. Economista austríaco, organizador do grupo Mont Pèlerin Society, conjuntos de intelectuais alinhados aos princípios liberais em todo o mundo, como Ludwig von Mises (1881- -1973) e Milton Friedman. Milton Friedman (1912-2006). Economista estadunidense, ganhador do prêmio Nobel de Economia (1976) e um dos continuadores das propostas neoliberais. Assessorou os governos de Ronald Reagan (1911-2004) e de Margaret Thatcher (1925-2013). INFORMACIONAL Neoliberalismo Os adeptos dessa doutrina buscam aplicar os princípios do liberalismo clássico ao capitalismo atual. Diferentemente dos anteriores, os teóricos neoliberais não creem na regulação espontânea do sistema. Visando disciplinar a economia de mercado, aceitam uma intervenção mínima do Estado para assegurar a estabilidade monetária e a livre concorrência. Também defendem as aberturas econômica e financeira e a privatização deempresas estatais. W ik ip e d ia /W ik im e d ia C o m m o n s A la m y /F o to a re n a T ia g g o G o m e s /A rq u iv o d a e d it o ra 102 V2_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap3_084a121.indd 102V2_CIE_HUM_Claudio_g21Sa_Cap3_084a121.indd 102 9/8/20 5:53 PM9/8/20 5:53 PM