Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

ANTROPOLOGIA E 
RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Olá, caro (a) aluno (a)! 
Na economia, como em qualquer ciência, existem diferenças teóricas 
que abrangem tanto suposições básicas quanto estratégias explicativas, 
talvez particularmente adequadas à palavra "paradigmas", usada em 
demasia. 
Neste capítulo, estudaremos as principais contribuições dos clássicos 
no aspecto da sociologia econômica. 
 
Bons estudos! 
 
 
AULA 2 - 
ANÁLISE SOCIOLÓGICA 
DOS FENÔMENOS 
ECONÔMICOS: AS 
CONTRIBUIÇÕES DOS 
CLÁSSICOS. 
 
 
 
2 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA DE JOSEPH ALOIS SCHUMPETER 
Schumpeter nasceu na Morávia, uma província austríaca que hoje faz parte da 
República Checa. Filho de um trabalhador têxtil, estudou direito e economia na 
Universidade de Viena. Sua carreira universitária começou em 1909 na Universidade 
de Czernowitz, onde permaneceu por um curto período (GENNARI, 2009). 
Ele passou um período de dois anos nos Estados Unidos em 1913-1914 como 
professor visitante na Universidade de Columbia em Nova York. Após a Primeira 
Guerra Mundial, ele voltou para a Áustria, determinado a iniciar uma carreira política. 
Graças à sua reconhecida formação teórica, foi convidado para o Ministério das 
Finanças, onde permaneceu apenas alguns meses, aposentando-se no meio de uma 
crise financeira. Apesar de seu histórico desastroso como chefe das finanças públicas, 
ele foi chamado para liderar uma importante casa bancária austríaca que faliu em 
1924 devido a inúmeras irregularidades. Com dificuldade em conciliar suas 
habilidades teóricas com a realidade negativa do pós-guerra, aproveitou para retornar 
à academia e tornou-se professor de economia na Universidade de Bonn, onde 
permaneceu até 1932 (GENNARI, 2009). 
No mesmo ano, mudou-se para os Estados Unidos, onde construiu uma 
brilhante carreira como professor de economia em Harvard. Foi presidente da 
Econometric Society (1937-1941) e o primeiro economista não americano da 
American Economic Association (1948). Destacam-se suas principais obras: Theorie 
der Wirtschaftlichen Entwicklung, de 1912; Ciclos de negócios, 1939; Capitalismo, 
Socialismo e Democracia, 1942; História da Análise Econômica, publicada 
postumamente em 1954 (GENNARI, 2009). 
Além da história clássica da análise econômica, as principais contribuições de 
Schumpeter podem ser agrupadas em duas áreas: estudos teóricos do 
desenvolvimento capitalista e sua abordagem dos ciclos econômicos. Em seus 
estudos de 1912, nos quais apresenta sua teoria do desenvolvimento capitalista, ele 
inicia sua discussão mostrando que a vida econômica sob o capitalismo funciona 
como um fluxo circular, ou seja, o sistema tende a se renovar ano após ano. É claro 
que nessa situação a população e a produção aumentam, mas o sistema econômico 
sempre funciona no sentido de buscar uma nova situação de equilíbrio, que difere da 
anterior, mas se adapta à nova apenas quantitativamente (GENNARI, 2009). 
 
 
O fenômeno que pode quebrar esse padrão de reprodução é a atividade 
empreendedora do administrador por meio da inovação. As inovações podem ser 
agrupadas em cinco categorias: fabricação de um novo produto; criação de um novo 
método de produção; acesso a novos mercados; acesso a uma nova fonte de 
matérias-primas; e uma nova forma de organização econômica, como o monopólio. 
Todavia, não só a inovação pode promover mudanças qualitativas na renovação do 
sistema. Inovação refere-se a mudanças que atendem a dois requisitos básicos: 
primeiro, são implementadas na vida econômica (invenções que não são 
implementadas não são inovações); em segundo lugar, eles devem ser apresentados 
como um grupo. Esses tipos de eventos não são comuns, mas quando uma inovação 
introduzida por um empreendedor é rapidamente replicada por outros e se difunde por 
todo o sistema, gera uma onda de otimismo e prosperidade ao aumentar o 
investimento, o emprego, a renda e o crédito (GENNARI, 2009). 
O desenvolvimento econômico consiste naquelas mudanças qualitativas no 
estado do sistema. Como você pode ver, Schumpeter faz uma clara distinção entre 
crescimento e desenvolvimento econômico. O crescimento é um fenômeno 
relacionado a fatores externos ao sistema, ocorre quando a economia é “arrastada 
pelas mudanças do mundo à sua volta” (SCHUMPETER, 1982) e se adapta às novas 
condições estabelecidas pela realidade. Desenvolvimento, por outro lado, significa 
mudanças geradas pelo próprio sistema nos fenômenos da vida econômica e 
mudanças qualitativas que criam as condições para a próxima etapa. Pode ser 
descrito por SCHUMPETER: 
[...] perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de 
equilíbrio previamente existente [...] de tal modo [...] que o novo (ponto de 
equilíbrio) não pode ser alcançado a partir do antigo mediante passos 
infinitesimais. Adicione sucessivamente quantas diligências quiser, com isso 
nunca terá́ uma estrada de ferro (SCHUMPETER, p. 84, 1982). 
Como o empresário empreendedor inevitavelmente inova, segue-se que ele é 
um ator-chave no processo de desenvolvimento econômico. A tarefa de Schumpeter 
era chamar a atenção para esse ponto crucial, que ele afirmava ter sido negligenciado 
por outros economistas. O empresário empreendedor é fundamental, não só porque 
é o criador e responsável pelas inovações, mas também porque “intui” novas 
oportunidades, novos produtos e desempenha o papel de “educador”, “mestre” do 
desejo do consumidor por novos produtos diferentes do que é normalmente 
consumido. O surgimento de novos hábitos de consumo cria mercados, elevando as 
possibilidades de repetição do sistema a um novo patamar (GENNARI, 2009). 
 
 
Essa atividade criativa, no que lhe concerne, não pode ser dissociada das 
consequências destrutivas que ela acarreta, quando inovações expulsam produtos 
antigos do mercado, eliminam empresas, processos e métodos de produção 
ultrapassados, formas tradicionais são substituídas por novas. Assim, na perspectiva 
da análise de Schumpeter, o binômio criação-destruição faz parte da natureza do 
desenvolvimento econômico. 
Entre suas observações, Schumpeter percebeu que os efeitos colaterais da 
competição incluem a criação de monopólios. No entanto, ao contrário dos 
neoclássicos, ele não os considerava prejudiciais à economia de mercado e não exigia 
a ação do Estado para coibi-los. Em sua perspectiva, a criação de grandes empresas 
monopolistas faz parte da natureza do sistema capitalista e, ao contrário do que 
imaginam os liberais ortodoxos, o surgimento dessas empresas não impediu a 
competição, mas mudou o nível em que ela ocorreu (GENNARI, 2009). 
A concorrência costuma se resumir a uma guerra de preços, mas em mercados 
onde atuam empresas monopolistas, a disputa se desloca para outras áreas, como 
inovação tecnológica e organização e gestão da produção. Além disso, como os 
preços nesses setores tendem a ser mais altos do que na livre concorrência, maiores 
margens de lucro atraem empreendedores para o setor, estimulando a inovação, cujos 
efeitos podem destruir grandes empresas na fronteira (GENNARI, 2009). 
2.1 A sociologia econômica de Werner Sombart e Max Weber 
Sombert e Weber desempenharam um papel fundamental na fundação do ramo 
da ciência social conhecido como sociologia econômica. Essa abordagem, como a 
escola histórica, reconhecia a importância do estudo compreensivo, o estudo do 
detalhe histórico, e usava analogias e comparações para elaborar suas análises e 
generalizações. Para os sociólogos supracitados, a compreensão dos fenômenos 
econômicos é a relação entre a própria vida econômica (o processo de produção, 
distribuição, mercantilização e consumo de bens úteis e escassos) e a estrutura social 
(grupos, classes sociais, instituições, etc.), significando revelar o conjunto de 
relacionamentos que eles definem. Além disso,deve-se dar grande importância aos 
aspectos culturais que orientam a atividade dos operadores econômicos, bem como 
aos valores morais e religiosos, que ultrapassavam largamente a perspectiva utilitária 
 
 
e neoclássica (GENNARI, 2009). 
Nas pesquisas de Sombart, especialmente desde 1902 no estudo do 
capitalismo moderno, é possível observar uma grande ênfase na abordagem da 
história. Ele assume uma visão abrangente dos eventos e tenta organizá-los para 
identificar etapas que permitem o surgimento de tendências de desenvolvimento. O 
alcance da investigação não se deve apenas à erudição, mas está relacionado à 
convicção do autor de que, no caso da análise e das hipóteses explicativas 
subsequentes, deve-se considerar que em um determinado tempo e lugar todos os 
fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, artísticos, religiosos estão em 
constante interação (GENNARI, 2009). 
Weber usou um registro analítico muito mais sofisticado. Ele fez importantes 
contribuições ao pensamento econômico e ficou conhecido como o fundador da 
sociologia moderna. Entre suas principais obras, destacam-se: The objectivity of the 
sociological and social-political knowledge, de 1904; The protestant ethic and the spirit 
of capitalism, de 1905; Economy and society, de 1914; Politics as a voca- tion, de 
1918; General economic history, de 1923; The methodology of the social sciences, de 
1949. Seu nome foi associado à Escola Histórica Alemã, mas seu crescente interesse 
pelos aspectos metodológicos, teóricos e científicos do conhecimento o levou a deixar 
a escola. 
Weber constatou que o relativismo da escola histórica contradizia a tendência 
irresistível da época de vincular a legitimidade do conhecimento à sua universalidade. 
Nesse contexto, o reconhecimento da cientificidade dos estudos dos fatos humanos 
tornou-se cada vez mais dependente da capacidade desses estudos de produzir 
conhecimentos que atendam a esse critério de universalidade. O conceito de tipo ideal 
é um recurso metodológico criado por Weber para atender simultaneamente ao critério 
da universalidade, atributo da ciência, a temporalidade e o atributo da história 
(GENNARI, 2009). 
Segundo Weber, o tipo ideal é uma síntese abstrata de traços universais que 
contêm os traços essenciais do objeto considerado e que, embora não existam 
realmente, constituem um meio de obtenção de verdades sociais. Essa abordagem 
pode ser ilustrada por sua análise das formas de dominação política. Ele destacou 
que o poder é exercido principalmente de três formas: carismática, legal e tradicional. 
Cada um possui características essenciais que o distinguem dos demais, podendo ser 
 
 
combinados em um conceito, em uma abstração que o represente fielmente 
(GENNARI, 2009). 
Essa abstração construída, que não existe no mundo fora do sujeito, mas 
contém alguns componentes essenciais dessa realidade externa e define o objeto de 
estudo, é um tipo ideal. Uma vez que um conceito é estabelecido com precisão e 
clareza, ele pode ser usado como chave para explicá-lo e entendê-lo ao abordar casos 
históricos. Dessa forma, foi feito um avanço no estudo da burocracia germânica, 
encarando-a como uma modalidade de poder legal e analisando-a sob essa 
perspectiva. Weber reconheceu que o tipo ideal não era uma representação precisa 
de um fenômeno social, mas esse não era o ponto. Era imperativo para ele que tais 
abstrações contribuíssem para a compreensão e interpretação desses fenômenos, 
gerando conhecimento que atendesse aos padrões científicos reconhecidos pelo 
estabelecimento da época (GENNARI, 2009). 
Entre todos os estudos de Weber, o mais conhecido é a Ética protestante e o 
espírito do capitalismo, que compreende um conjunto de artigos publicados entre 1904 
e 1905 na revista Archiv fur Sozialwissenchaft und Sozialpolitik, dirigida por Weber, 
Sombart e Edgar Jaffé. Posteriormente, em 1920, esses artigos passaram por 
correções e acréscimos para publicação na Gesammelte Aufsätze zur 
Religionssoziologie, e mais tarde foram publicados na forma de livro, pela primeira vez 
na Inglaterra, em 1930, dez anos após a morte de Weber. Nessa edição se incluiu 
uma introdução geral aos seus ensaios de 1904/05, escrita em 1920 (GENNARI, 
2009). 
De acordo com Weber, há uma relação profunda entre as prescrições 
calvinistas de trabalho e poupança (que se traduz em uma condenação da ostentação, 
do consumo de luxo e uma valorização do entesouramento), e as tendências 
econômicas e o mercantilismo que se desenvolveu desde o final da Idade Média, 
convergindo, no final do século XVIII, para o capitalismo. O trabalho de Weber causou 
grande controvérsia e mal-entendidos. Talvez a fórmula mais conhecida seja aquela 
que tenta transformar suas posições a respeito da relação de afinidade entre o 
protestantismo calvinista (e outras tendências, próximas a elas) e o desenvolvimento 
da cristandade (GENNARI, 2009). 
Segundo alguns críticos da obra de Weber, isso estabeleceria claramente que 
o fator subjetivo "supraconstrutivista" foi decisivo na mudança da realidade histórica, 
 
 
e a economia ou "infra-estrutura" desempenhou um papel crucial nessas 
transformações. Em geral, os proponentes dessa interpretação são leitores regulares 
dos escritos de Weber e Marx (GENNARI, 2009). 
Weber deixa claro em seu livro que não tem nenhuma interpretação sobre as 
origens do capitalismo. Ele reconhece que as mudanças econômicas do século XVI, 
a era da Reforma, começaram no final da Idade Média. Em sua opinião, uma "ética 
protestante" ajudaria a moldar uma nova ética de trabalho que fundamenta o espírito 
do capitalismo moderno, enfatizando a mudança e desempenhando um papel no 
aumento dos ganhos econômicos (GENNARI, 2009). 
2.2 A sociologia econômica de Vilfredo Pareto 
Pareto nasceu em Paris em 1848, filho de exilados italianos perseguidos por 
seu envolvimento em conspirações nacionalistas que afetavam o reino do Piemonte-
Sardenha. Após seu retorno, Pareto estudou matemática e engenharia em Turim entre 
1864-1870, graduando-se com uma tese sobre elasticidade de sólidos e análise de 
equilíbrio (GENNARI, 2009). 
Após 20 anos como engenheiro, Pareto passou a dedicar-se integralmente à 
economia e, em 1893, aos 45 anos, assumiu o cargo de presidente da faculdade de 
economia política de Lausanne, na Suíça, em substituição a Walras, que deixou o 
cargo em 1899 para aplicar a matemática ao estudo da economia. Durante grande 
parte de sua vida, Pareto defendeu firmemente os ideais do livre mercado e denunciou 
veementemente todas as formas de interferência. No entanto, juntou-se a Mussolini e 
ao fascismo italiano no final de sua vida, sendo nomeado senador pelo regime. 
Faleceu em 1923, aos 75 anos (GENNARI, 2009). 
A economia social neoclássica baseia-se pura e simplesmente em vieses 
hedonistas. Isso inclui tanto o hedonismo psicológico quanto o ético. No final do século 
XIX, o hedonismo psicológico era uma teoria bastante grosseira do comportamento 
humano. A utilidade era entendida como uma relação fundamentalmente mensurável 
entre uma pessoa e objetos externos de consumo. Essa relação foi tratada como se 
fosse metafisicamente fixada e não merecesse uma investigação mais aprofundada. 
Todo o comportamento humano foi então reduzido a tentativas de maximizar a 
utilidade usando ou trocando os bens e recursos produtivos disponíveis para o 
 
 
indivíduo (a fonte e a propriedade desses recursos, bem como a razão de utilidade, 
não foram consideradas na análise) (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 
No entanto, a fama do hedonismo psicológico caiu já no final do século XIX. O 
desenvolvimento e o refinamento dos pressupostos comportamentais da economia 
social durante o último meio século representam tentativas de corrigir as objeções 
dessa teoria (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 
Em relação ao hedonismo ético, o professor S.S. Alexandre (1997), o chamou 
de "princípio doporco". O "Princípio do Porco" é simplesmente “se você gosta de 
alguma coisa, o melhor é ter mais”. Hunt e Lautzenheiser (2012) complementam: 
Assim, o princípio normativo último da economia do bem-estar pode ser 
afirmado de várias maneiras: mais prazer é, eticamente, melhor do que 
menos prazer (versão de Bentham); mais utilidade é, eticamente, melhor do 
que menos utilidade (versão neoclássica de fins do século XIX); uma posição 
preferida no ordenamento de preferências de um indivíduo é, eticamente, 
melhor do que uma posição não preferida (versão neoclássica 
contemporânea). Em cada caso, o indivíduo isolado, atomizado, é o único juiz 
com capacidade de avaliar o prazer, a utilidade ou a preferência de um objeto, 
porque se presume que esses níveis de bem-estar dependam somente da 
relação entre o indivíduo e o objeto de consumo. Os desejos individuais, 
ponderados pelo poder de compra do mercado, são os critérios últimos dos 
valores sociais. Sempre que a utilidade para um indivíduo não seja uma 
questão puramente pessoal, individual, quer dizer, sempre que a utilidade 
para uma pessoa seja afetada pelo consumo de outras pessoas (ou pela 
produção das firmas), esses efeitos interpessoais são chamados de 
“externalidades” (HUNT; LAUTZENHEISER, p. 210, 2012). 
A economia do bem-estar ignora o fato que os desejos dos indivíduos são 
produto de um processo social específico e do lugar que o indivíduo ocupa neste 
processo. Se os economistas neoclássicos não ignorassem isso, teriam 
que reconhecer o fato que se podem fazer avaliações normativas de sistemas sociais 
e econômicos totalmente diferentes, bem como dos padrões de desejos individuais 
resultantes. 
Com base nesses fundamentos do hedonismo psicológico e ético, foi formulada 
a norma ótima de Pareto - o conceito básico da economia social. Essa teoria leva à 
conclusão de que um sistema de mercado competitivo e livre, inevitavelmente aloca 
recursos, distribui renda e bens de consumo, de tal forma que nenhuma redistribuição 
de recursos por meio de mudanças no consumo, troca ou produção pode aumentar 
visivelmente o valor de mercadorias produzidas e trocadas. Este é o ótimo de Pareto 
- uma norma básica da economia neoclássica. 
A regra básica da otimização de Pareto afirma que uma situação econômica é 
ótima se nenhuma mudança puder melhorar a posição de um indivíduo (conforme 
 
 
avaliado por ele mesmo) sem prejudicar ou piorar a posição de outro indivíduo 
(conforme avaliado por esse outro). Segundo Pareto, uma melhoria é uma mudança 
que afasta a sociedade de uma posição subótima e a aproxima de uma posição ótima: 
“Qualquer mudança que não prejudique quem quer que seja e que melhore a situação 
de alguém (avaliada por estas pessoas) tem que ser considerada uma melhora” 
(BAUMOL, p. 376, 1965). 
2.3 A sociologia econômica de Thorstein Bunde Veblen 
No final do século XIX, a teoria da evolução de Charles Darwin teve um impacto 
profundo e poderoso na filosofia e na teoria social. Esse efeito é visto mais claramente 
nos escritos de Veblen. Ele via a sociedade como um organismo altamente complexo 
em decadência ou crescimento, em constante mudança e adaptação (ou não) a novas 
circunstâncias. Como Marx, sua análise foi orientada historicamente em todos os 
aspectos: 
Quando – como ocorre em economia – o assunto a ser investigado é a 
conduta do homem em suas lides com os meios materiais da vida, a ciência 
é, necessariamente, uma investigação da história da vida da civilização 
material… Não que a investigação do economista isole a civilização material 
de todas as outras fases e influências da cultura humana… mas, na medida 
em que a investigação prende-se à ciência econômica, especificamente, a 
atenção se concentrará no esquema de vida material e levará em conta outras 
fases da civilização somente em sua correlação com o esquema da 
civilização material (VEBLEN, p. 241, 1961). 
Para Veblen, a história humana era a história do desenvolvimento das 
instituições sociais. O comportamento humano baseava-se em certos padrões 
observáveis comuns a todos os períodos da história. No entanto, esses padrões 
comuns foram muito gerais e especificamente manifestados de uma extraordinária 
variedade de formas, em diferentes contextos históricos, sociais e institucionais. Em 
muitas de suas obras, Veblen chamou esses padrões comuns de comportamento 
humano de "instintos". Quando a ciência do século XX rejeitou a ideia de que o 
comportamento humano era instintivo como inaceitável, muitos economistas 
acreditaram que grande parte da teoria de Veblen era, portanto, cientificamente inútil. 
Mas isso não é verdade. Quando ele usou a palavra instinto (um uso muito comum 
entre os cientistas sociais influenciados por Darwin na época), ele não quis sugerir 
que o comportamento humano é instintivo da mesma forma que o animal. Na verdade, 
toda a sua teoria é o oposto dessa ideia (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). 
 
 
Veblen explicitamente rejeitou qualquer noção de que o comportamento 
humano é instintivo, no sentido de que é geneticamente determinado: 
Na vida econômica, como em outras áreas de conduta humana, os modos 
habituais de atividade e as relações apareceram e foram, por convenção, 
transformados em uma trama de instituições. Essas instituições têm uma 
força prescritiva habitual que lhes é própria... Se o contrário fosse verdade, 
se os homens agissem, universalmente, não com base nos fundamentos e 
valores convencionais da trama das instituições, mas apenas e diretamente 
com base nos fundamentos e valores das propensões e aptidões não 
convencionais da natureza humana hereditária, não haveria instituições nem 
cultura. Mas a estrutura institucional da sociedade subsiste e os homens 
vivem dentro de seus limites (VEBLEN, p. 164, 1964). 
 
De acordo com Veblen, todos os seres humanos, como todas as espécies 
animais, tinham certas características, motivos, tendências e habilidades comuns 
geneticamente herdadas, independentemente da cultura ou época histórica em que 
viveram. 
2.4 A sociologia econômica de Émile Durkheim 
O ambiente associado a reflexão de Durkheim, a sociedade francesa do final 
do século XIX, especialmente seu último quartel, foi caracterizado por uma profunda 
mudança na realidade. De fato, pode-se dizer que foi nessa época que nasceu a 
França moderna. Somente com a instauração da terceira república (em 1870) os 
princípios de liberdade, igualdade e fraternidade foram plenamente estabelecidos. 
(BOUJU e DUBOIS, 1967, p. 21). 
A reforma escolar expressava claramente o espírito da época: por um lado, ao 
tornar o ensino público e obrigatório, criava um mecanismo que queria ser o ponto de 
partida para todas as oportunidades comuns e iguais; por outro lado, com a 
institucionalização da escola laica, tornou-se realidade a separação do Estado da 
Igreja. 
Para Durkheim, a economia nem sempre foi uma dimensão desregulada, ao 
contrário, até a Idade Média todos os aspectos eram regulados pela localização da 
atividade produtiva e pelo mercado. O problema surgiu com a expansão da produção 
e dos mercados. Naquela época não havia novos valores regulatórios em relação à 
atividade econômica, razão pela qual as crises se repetiam. A solução proposta por 
Durkheim referia-se à sociedade anterior. Não que ele quisesse levar a sociedade 
industrial de volta à Idade Média. Não era avançado nem possível. Na verdade, sua 
 
 
proposta era voltar aos pressupostos que antes faziam a atividade econômica 
funcionar de forma ordenada e estável. Para isso seria necessário realizar um 
processo de (re)moralização. Para Durkheim essa (re)moralização não aconteceria 
por mágica. Não viria natural ou automaticamente. Um determinado agente seria 
necessário para realizar a ação. Neste ponto, Durkheim fez a seguinte explicação: 
Essa regulamentação, essa moralização, não pode ser instituída nem por 
cientista em seu gabinete, nem por um homem de Estado; ela nãopode ser 
obra senão dos grupos interessados. Eis porque, como esses grupos não 
existem atualmente, nada há de mais urgente do que trazê-los à existência 
(DURKHEIM, p. 69, 1997). 
Que grupos seriam? Durkheim não os reconhece em órgãos estatais ou 
partidos políticos, muito menos em sindicatos. O primeiro ainda era impotente porque 
as funções financeiras eram muito específicas e distantes dele. O mesmo se aplica 
aos partidos políticos. Quanto aos sindicatos, sua incapacidade de levar a moralidade 
ao cerne do mundo econômico deveu-se a dois aspectos: primeiro, por serem 
associações privadas, representantes de interesses particulares, incapazes de 
promover a unidade profissional na totalidade; em segundo lugar, por não vencer, mas 
promover o estado de guerra entre diferentes segmentos sociais (DURKHEIM, p. 
VII,1967). 
Para Durkheim, o único grupo capaz de (re)moralizar a economia eram as 
firmas profissionais, e elas tinham capacidade para isso “de instituir, de fazer aceitar 
e de manter a disciplina necessária” (DURKHEIM, 1992, p. 229-230). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
ALEXANDER, S.S. “Human Value and Economists’ Values”. In: Human Values and 
Economic Policy. Nova York: New York University Press, 1967. 
 
BAUMOL WJ. Economic Theory and Operations Analysis. 2 ed. Englewood Cliffs, 
N.J: Prentice-Hall; 1965. 
 
BOUJU, Paul M. [e] DUBOIS, Henri. (1967), La Troisième Republique. Paris, PUF. 
 
DURKHEIM, Émile. (1967), De la division du travail social. Paris, PUF. 
 
GENNARI, Adilson. HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO. São Paulo: 
Editora Saraiva, 2009. E-book. ISBN 9788502117327. Disponível em: 
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502117327/. Acesso em: 17 
jan. 2023. 
 
HUNT, E K.; LAUTZENHEISER, Mark. História do Pensamento Econômico: Uma 
Perspectiva Crítica. São Paulo: Grupo GEN, 2012. E-book. ISBN 9788595159143. 
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595159143/. 
Acesso em: 17 jan. 2023. 
 
MARX, Karl. O Capital. Moscou: Foreign Languages Publishing House, 3 v., 
1:81,1961. 
 
SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico. Introdução: 
Rubens Vaz da Costa. Trad. Maria Silvia Possas. São Paulo: Abril Cultural, 1982. 
Coleção Os economistas. 
 
VEBLEN, Thorstein. Fisher’s Rate of Interest. In: Essays in Our Changing Order. 
Nova York: Augustus M. Kelley; 1964. 
 
VEBLEN, Thorstein. The Limitations of Marginal Utility. In: The Place of Science in 
Modern Civilization and Other Essays. Nova York: Russell and Russell; 1961.

Mais conteúdos dessa disciplina