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ANTROPOLOGIA E RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS Olá, caro (a) aluno (a)! Na economia, como em qualquer ciência, existem diferenças teóricas que abrangem tanto suposições básicas quanto estratégias explicativas, talvez particularmente adequadas à palavra "paradigmas", usada em demasia. Neste capítulo, estudaremos as principais contribuições dos clássicos no aspecto da sociologia econômica. Bons estudos! AULA 2 - ANÁLISE SOCIOLÓGICA DOS FENÔMENOS ECONÔMICOS: AS CONTRIBUIÇÕES DOS CLÁSSICOS. 2 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA DE JOSEPH ALOIS SCHUMPETER Schumpeter nasceu na Morávia, uma província austríaca que hoje faz parte da República Checa. Filho de um trabalhador têxtil, estudou direito e economia na Universidade de Viena. Sua carreira universitária começou em 1909 na Universidade de Czernowitz, onde permaneceu por um curto período (GENNARI, 2009). Ele passou um período de dois anos nos Estados Unidos em 1913-1914 como professor visitante na Universidade de Columbia em Nova York. Após a Primeira Guerra Mundial, ele voltou para a Áustria, determinado a iniciar uma carreira política. Graças à sua reconhecida formação teórica, foi convidado para o Ministério das Finanças, onde permaneceu apenas alguns meses, aposentando-se no meio de uma crise financeira. Apesar de seu histórico desastroso como chefe das finanças públicas, ele foi chamado para liderar uma importante casa bancária austríaca que faliu em 1924 devido a inúmeras irregularidades. Com dificuldade em conciliar suas habilidades teóricas com a realidade negativa do pós-guerra, aproveitou para retornar à academia e tornou-se professor de economia na Universidade de Bonn, onde permaneceu até 1932 (GENNARI, 2009). No mesmo ano, mudou-se para os Estados Unidos, onde construiu uma brilhante carreira como professor de economia em Harvard. Foi presidente da Econometric Society (1937-1941) e o primeiro economista não americano da American Economic Association (1948). Destacam-se suas principais obras: Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung, de 1912; Ciclos de negócios, 1939; Capitalismo, Socialismo e Democracia, 1942; História da Análise Econômica, publicada postumamente em 1954 (GENNARI, 2009). Além da história clássica da análise econômica, as principais contribuições de Schumpeter podem ser agrupadas em duas áreas: estudos teóricos do desenvolvimento capitalista e sua abordagem dos ciclos econômicos. Em seus estudos de 1912, nos quais apresenta sua teoria do desenvolvimento capitalista, ele inicia sua discussão mostrando que a vida econômica sob o capitalismo funciona como um fluxo circular, ou seja, o sistema tende a se renovar ano após ano. É claro que nessa situação a população e a produção aumentam, mas o sistema econômico sempre funciona no sentido de buscar uma nova situação de equilíbrio, que difere da anterior, mas se adapta à nova apenas quantitativamente (GENNARI, 2009). O fenômeno que pode quebrar esse padrão de reprodução é a atividade empreendedora do administrador por meio da inovação. As inovações podem ser agrupadas em cinco categorias: fabricação de um novo produto; criação de um novo método de produção; acesso a novos mercados; acesso a uma nova fonte de matérias-primas; e uma nova forma de organização econômica, como o monopólio. Todavia, não só a inovação pode promover mudanças qualitativas na renovação do sistema. Inovação refere-se a mudanças que atendem a dois requisitos básicos: primeiro, são implementadas na vida econômica (invenções que não são implementadas não são inovações); em segundo lugar, eles devem ser apresentados como um grupo. Esses tipos de eventos não são comuns, mas quando uma inovação introduzida por um empreendedor é rapidamente replicada por outros e se difunde por todo o sistema, gera uma onda de otimismo e prosperidade ao aumentar o investimento, o emprego, a renda e o crédito (GENNARI, 2009). O desenvolvimento econômico consiste naquelas mudanças qualitativas no estado do sistema. Como você pode ver, Schumpeter faz uma clara distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico. O crescimento é um fenômeno relacionado a fatores externos ao sistema, ocorre quando a economia é “arrastada pelas mudanças do mundo à sua volta” (SCHUMPETER, 1982) e se adapta às novas condições estabelecidas pela realidade. Desenvolvimento, por outro lado, significa mudanças geradas pelo próprio sistema nos fenômenos da vida econômica e mudanças qualitativas que criam as condições para a próxima etapa. Pode ser descrito por SCHUMPETER: [...] perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente [...] de tal modo [...] que o novo (ponto de equilíbrio) não pode ser alcançado a partir do antigo mediante passos infinitesimais. Adicione sucessivamente quantas diligências quiser, com isso nunca terá́ uma estrada de ferro (SCHUMPETER, p. 84, 1982). Como o empresário empreendedor inevitavelmente inova, segue-se que ele é um ator-chave no processo de desenvolvimento econômico. A tarefa de Schumpeter era chamar a atenção para esse ponto crucial, que ele afirmava ter sido negligenciado por outros economistas. O empresário empreendedor é fundamental, não só porque é o criador e responsável pelas inovações, mas também porque “intui” novas oportunidades, novos produtos e desempenha o papel de “educador”, “mestre” do desejo do consumidor por novos produtos diferentes do que é normalmente consumido. O surgimento de novos hábitos de consumo cria mercados, elevando as possibilidades de repetição do sistema a um novo patamar (GENNARI, 2009). Essa atividade criativa, no que lhe concerne, não pode ser dissociada das consequências destrutivas que ela acarreta, quando inovações expulsam produtos antigos do mercado, eliminam empresas, processos e métodos de produção ultrapassados, formas tradicionais são substituídas por novas. Assim, na perspectiva da análise de Schumpeter, o binômio criação-destruição faz parte da natureza do desenvolvimento econômico. Entre suas observações, Schumpeter percebeu que os efeitos colaterais da competição incluem a criação de monopólios. No entanto, ao contrário dos neoclássicos, ele não os considerava prejudiciais à economia de mercado e não exigia a ação do Estado para coibi-los. Em sua perspectiva, a criação de grandes empresas monopolistas faz parte da natureza do sistema capitalista e, ao contrário do que imaginam os liberais ortodoxos, o surgimento dessas empresas não impediu a competição, mas mudou o nível em que ela ocorreu (GENNARI, 2009). A concorrência costuma se resumir a uma guerra de preços, mas em mercados onde atuam empresas monopolistas, a disputa se desloca para outras áreas, como inovação tecnológica e organização e gestão da produção. Além disso, como os preços nesses setores tendem a ser mais altos do que na livre concorrência, maiores margens de lucro atraem empreendedores para o setor, estimulando a inovação, cujos efeitos podem destruir grandes empresas na fronteira (GENNARI, 2009). 2.1 A sociologia econômica de Werner Sombart e Max Weber Sombert e Weber desempenharam um papel fundamental na fundação do ramo da ciência social conhecido como sociologia econômica. Essa abordagem, como a escola histórica, reconhecia a importância do estudo compreensivo, o estudo do detalhe histórico, e usava analogias e comparações para elaborar suas análises e generalizações. Para os sociólogos supracitados, a compreensão dos fenômenos econômicos é a relação entre a própria vida econômica (o processo de produção, distribuição, mercantilização e consumo de bens úteis e escassos) e a estrutura social (grupos, classes sociais, instituições, etc.), significando revelar o conjunto de relacionamentos que eles definem. Além disso,deve-se dar grande importância aos aspectos culturais que orientam a atividade dos operadores econômicos, bem como aos valores morais e religiosos, que ultrapassavam largamente a perspectiva utilitária e neoclássica (GENNARI, 2009). Nas pesquisas de Sombart, especialmente desde 1902 no estudo do capitalismo moderno, é possível observar uma grande ênfase na abordagem da história. Ele assume uma visão abrangente dos eventos e tenta organizá-los para identificar etapas que permitem o surgimento de tendências de desenvolvimento. O alcance da investigação não se deve apenas à erudição, mas está relacionado à convicção do autor de que, no caso da análise e das hipóteses explicativas subsequentes, deve-se considerar que em um determinado tempo e lugar todos os fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, artísticos, religiosos estão em constante interação (GENNARI, 2009). Weber usou um registro analítico muito mais sofisticado. Ele fez importantes contribuições ao pensamento econômico e ficou conhecido como o fundador da sociologia moderna. Entre suas principais obras, destacam-se: The objectivity of the sociological and social-political knowledge, de 1904; The protestant ethic and the spirit of capitalism, de 1905; Economy and society, de 1914; Politics as a voca- tion, de 1918; General economic history, de 1923; The methodology of the social sciences, de 1949. Seu nome foi associado à Escola Histórica Alemã, mas seu crescente interesse pelos aspectos metodológicos, teóricos e científicos do conhecimento o levou a deixar a escola. Weber constatou que o relativismo da escola histórica contradizia a tendência irresistível da época de vincular a legitimidade do conhecimento à sua universalidade. Nesse contexto, o reconhecimento da cientificidade dos estudos dos fatos humanos tornou-se cada vez mais dependente da capacidade desses estudos de produzir conhecimentos que atendam a esse critério de universalidade. O conceito de tipo ideal é um recurso metodológico criado por Weber para atender simultaneamente ao critério da universalidade, atributo da ciência, a temporalidade e o atributo da história (GENNARI, 2009). Segundo Weber, o tipo ideal é uma síntese abstrata de traços universais que contêm os traços essenciais do objeto considerado e que, embora não existam realmente, constituem um meio de obtenção de verdades sociais. Essa abordagem pode ser ilustrada por sua análise das formas de dominação política. Ele destacou que o poder é exercido principalmente de três formas: carismática, legal e tradicional. Cada um possui características essenciais que o distinguem dos demais, podendo ser combinados em um conceito, em uma abstração que o represente fielmente (GENNARI, 2009). Essa abstração construída, que não existe no mundo fora do sujeito, mas contém alguns componentes essenciais dessa realidade externa e define o objeto de estudo, é um tipo ideal. Uma vez que um conceito é estabelecido com precisão e clareza, ele pode ser usado como chave para explicá-lo e entendê-lo ao abordar casos históricos. Dessa forma, foi feito um avanço no estudo da burocracia germânica, encarando-a como uma modalidade de poder legal e analisando-a sob essa perspectiva. Weber reconheceu que o tipo ideal não era uma representação precisa de um fenômeno social, mas esse não era o ponto. Era imperativo para ele que tais abstrações contribuíssem para a compreensão e interpretação desses fenômenos, gerando conhecimento que atendesse aos padrões científicos reconhecidos pelo estabelecimento da época (GENNARI, 2009). Entre todos os estudos de Weber, o mais conhecido é a Ética protestante e o espírito do capitalismo, que compreende um conjunto de artigos publicados entre 1904 e 1905 na revista Archiv fur Sozialwissenchaft und Sozialpolitik, dirigida por Weber, Sombart e Edgar Jaffé. Posteriormente, em 1920, esses artigos passaram por correções e acréscimos para publicação na Gesammelte Aufsätze zur Religionssoziologie, e mais tarde foram publicados na forma de livro, pela primeira vez na Inglaterra, em 1930, dez anos após a morte de Weber. Nessa edição se incluiu uma introdução geral aos seus ensaios de 1904/05, escrita em 1920 (GENNARI, 2009). De acordo com Weber, há uma relação profunda entre as prescrições calvinistas de trabalho e poupança (que se traduz em uma condenação da ostentação, do consumo de luxo e uma valorização do entesouramento), e as tendências econômicas e o mercantilismo que se desenvolveu desde o final da Idade Média, convergindo, no final do século XVIII, para o capitalismo. O trabalho de Weber causou grande controvérsia e mal-entendidos. Talvez a fórmula mais conhecida seja aquela que tenta transformar suas posições a respeito da relação de afinidade entre o protestantismo calvinista (e outras tendências, próximas a elas) e o desenvolvimento da cristandade (GENNARI, 2009). Segundo alguns críticos da obra de Weber, isso estabeleceria claramente que o fator subjetivo "supraconstrutivista" foi decisivo na mudança da realidade histórica, e a economia ou "infra-estrutura" desempenhou um papel crucial nessas transformações. Em geral, os proponentes dessa interpretação são leitores regulares dos escritos de Weber e Marx (GENNARI, 2009). Weber deixa claro em seu livro que não tem nenhuma interpretação sobre as origens do capitalismo. Ele reconhece que as mudanças econômicas do século XVI, a era da Reforma, começaram no final da Idade Média. Em sua opinião, uma "ética protestante" ajudaria a moldar uma nova ética de trabalho que fundamenta o espírito do capitalismo moderno, enfatizando a mudança e desempenhando um papel no aumento dos ganhos econômicos (GENNARI, 2009). 2.2 A sociologia econômica de Vilfredo Pareto Pareto nasceu em Paris em 1848, filho de exilados italianos perseguidos por seu envolvimento em conspirações nacionalistas que afetavam o reino do Piemonte- Sardenha. Após seu retorno, Pareto estudou matemática e engenharia em Turim entre 1864-1870, graduando-se com uma tese sobre elasticidade de sólidos e análise de equilíbrio (GENNARI, 2009). Após 20 anos como engenheiro, Pareto passou a dedicar-se integralmente à economia e, em 1893, aos 45 anos, assumiu o cargo de presidente da faculdade de economia política de Lausanne, na Suíça, em substituição a Walras, que deixou o cargo em 1899 para aplicar a matemática ao estudo da economia. Durante grande parte de sua vida, Pareto defendeu firmemente os ideais do livre mercado e denunciou veementemente todas as formas de interferência. No entanto, juntou-se a Mussolini e ao fascismo italiano no final de sua vida, sendo nomeado senador pelo regime. Faleceu em 1923, aos 75 anos (GENNARI, 2009). A economia social neoclássica baseia-se pura e simplesmente em vieses hedonistas. Isso inclui tanto o hedonismo psicológico quanto o ético. No final do século XIX, o hedonismo psicológico era uma teoria bastante grosseira do comportamento humano. A utilidade era entendida como uma relação fundamentalmente mensurável entre uma pessoa e objetos externos de consumo. Essa relação foi tratada como se fosse metafisicamente fixada e não merecesse uma investigação mais aprofundada. Todo o comportamento humano foi então reduzido a tentativas de maximizar a utilidade usando ou trocando os bens e recursos produtivos disponíveis para o indivíduo (a fonte e a propriedade desses recursos, bem como a razão de utilidade, não foram consideradas na análise) (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). No entanto, a fama do hedonismo psicológico caiu já no final do século XIX. O desenvolvimento e o refinamento dos pressupostos comportamentais da economia social durante o último meio século representam tentativas de corrigir as objeções dessa teoria (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). Em relação ao hedonismo ético, o professor S.S. Alexandre (1997), o chamou de "princípio doporco". O "Princípio do Porco" é simplesmente “se você gosta de alguma coisa, o melhor é ter mais”. Hunt e Lautzenheiser (2012) complementam: Assim, o princípio normativo último da economia do bem-estar pode ser afirmado de várias maneiras: mais prazer é, eticamente, melhor do que menos prazer (versão de Bentham); mais utilidade é, eticamente, melhor do que menos utilidade (versão neoclássica de fins do século XIX); uma posição preferida no ordenamento de preferências de um indivíduo é, eticamente, melhor do que uma posição não preferida (versão neoclássica contemporânea). Em cada caso, o indivíduo isolado, atomizado, é o único juiz com capacidade de avaliar o prazer, a utilidade ou a preferência de um objeto, porque se presume que esses níveis de bem-estar dependam somente da relação entre o indivíduo e o objeto de consumo. Os desejos individuais, ponderados pelo poder de compra do mercado, são os critérios últimos dos valores sociais. Sempre que a utilidade para um indivíduo não seja uma questão puramente pessoal, individual, quer dizer, sempre que a utilidade para uma pessoa seja afetada pelo consumo de outras pessoas (ou pela produção das firmas), esses efeitos interpessoais são chamados de “externalidades” (HUNT; LAUTZENHEISER, p. 210, 2012). A economia do bem-estar ignora o fato que os desejos dos indivíduos são produto de um processo social específico e do lugar que o indivíduo ocupa neste processo. Se os economistas neoclássicos não ignorassem isso, teriam que reconhecer o fato que se podem fazer avaliações normativas de sistemas sociais e econômicos totalmente diferentes, bem como dos padrões de desejos individuais resultantes. Com base nesses fundamentos do hedonismo psicológico e ético, foi formulada a norma ótima de Pareto - o conceito básico da economia social. Essa teoria leva à conclusão de que um sistema de mercado competitivo e livre, inevitavelmente aloca recursos, distribui renda e bens de consumo, de tal forma que nenhuma redistribuição de recursos por meio de mudanças no consumo, troca ou produção pode aumentar visivelmente o valor de mercadorias produzidas e trocadas. Este é o ótimo de Pareto - uma norma básica da economia neoclássica. A regra básica da otimização de Pareto afirma que uma situação econômica é ótima se nenhuma mudança puder melhorar a posição de um indivíduo (conforme avaliado por ele mesmo) sem prejudicar ou piorar a posição de outro indivíduo (conforme avaliado por esse outro). Segundo Pareto, uma melhoria é uma mudança que afasta a sociedade de uma posição subótima e a aproxima de uma posição ótima: “Qualquer mudança que não prejudique quem quer que seja e que melhore a situação de alguém (avaliada por estas pessoas) tem que ser considerada uma melhora” (BAUMOL, p. 376, 1965). 2.3 A sociologia econômica de Thorstein Bunde Veblen No final do século XIX, a teoria da evolução de Charles Darwin teve um impacto profundo e poderoso na filosofia e na teoria social. Esse efeito é visto mais claramente nos escritos de Veblen. Ele via a sociedade como um organismo altamente complexo em decadência ou crescimento, em constante mudança e adaptação (ou não) a novas circunstâncias. Como Marx, sua análise foi orientada historicamente em todos os aspectos: Quando – como ocorre em economia – o assunto a ser investigado é a conduta do homem em suas lides com os meios materiais da vida, a ciência é, necessariamente, uma investigação da história da vida da civilização material… Não que a investigação do economista isole a civilização material de todas as outras fases e influências da cultura humana… mas, na medida em que a investigação prende-se à ciência econômica, especificamente, a atenção se concentrará no esquema de vida material e levará em conta outras fases da civilização somente em sua correlação com o esquema da civilização material (VEBLEN, p. 241, 1961). Para Veblen, a história humana era a história do desenvolvimento das instituições sociais. O comportamento humano baseava-se em certos padrões observáveis comuns a todos os períodos da história. No entanto, esses padrões comuns foram muito gerais e especificamente manifestados de uma extraordinária variedade de formas, em diferentes contextos históricos, sociais e institucionais. Em muitas de suas obras, Veblen chamou esses padrões comuns de comportamento humano de "instintos". Quando a ciência do século XX rejeitou a ideia de que o comportamento humano era instintivo como inaceitável, muitos economistas acreditaram que grande parte da teoria de Veblen era, portanto, cientificamente inútil. Mas isso não é verdade. Quando ele usou a palavra instinto (um uso muito comum entre os cientistas sociais influenciados por Darwin na época), ele não quis sugerir que o comportamento humano é instintivo da mesma forma que o animal. Na verdade, toda a sua teoria é o oposto dessa ideia (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012). Veblen explicitamente rejeitou qualquer noção de que o comportamento humano é instintivo, no sentido de que é geneticamente determinado: Na vida econômica, como em outras áreas de conduta humana, os modos habituais de atividade e as relações apareceram e foram, por convenção, transformados em uma trama de instituições. Essas instituições têm uma força prescritiva habitual que lhes é própria... Se o contrário fosse verdade, se os homens agissem, universalmente, não com base nos fundamentos e valores convencionais da trama das instituições, mas apenas e diretamente com base nos fundamentos e valores das propensões e aptidões não convencionais da natureza humana hereditária, não haveria instituições nem cultura. Mas a estrutura institucional da sociedade subsiste e os homens vivem dentro de seus limites (VEBLEN, p. 164, 1964). De acordo com Veblen, todos os seres humanos, como todas as espécies animais, tinham certas características, motivos, tendências e habilidades comuns geneticamente herdadas, independentemente da cultura ou época histórica em que viveram. 2.4 A sociologia econômica de Émile Durkheim O ambiente associado a reflexão de Durkheim, a sociedade francesa do final do século XIX, especialmente seu último quartel, foi caracterizado por uma profunda mudança na realidade. De fato, pode-se dizer que foi nessa época que nasceu a França moderna. Somente com a instauração da terceira república (em 1870) os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade foram plenamente estabelecidos. (BOUJU e DUBOIS, 1967, p. 21). A reforma escolar expressava claramente o espírito da época: por um lado, ao tornar o ensino público e obrigatório, criava um mecanismo que queria ser o ponto de partida para todas as oportunidades comuns e iguais; por outro lado, com a institucionalização da escola laica, tornou-se realidade a separação do Estado da Igreja. Para Durkheim, a economia nem sempre foi uma dimensão desregulada, ao contrário, até a Idade Média todos os aspectos eram regulados pela localização da atividade produtiva e pelo mercado. O problema surgiu com a expansão da produção e dos mercados. Naquela época não havia novos valores regulatórios em relação à atividade econômica, razão pela qual as crises se repetiam. A solução proposta por Durkheim referia-se à sociedade anterior. Não que ele quisesse levar a sociedade industrial de volta à Idade Média. Não era avançado nem possível. Na verdade, sua proposta era voltar aos pressupostos que antes faziam a atividade econômica funcionar de forma ordenada e estável. Para isso seria necessário realizar um processo de (re)moralização. Para Durkheim essa (re)moralização não aconteceria por mágica. Não viria natural ou automaticamente. Um determinado agente seria necessário para realizar a ação. Neste ponto, Durkheim fez a seguinte explicação: Essa regulamentação, essa moralização, não pode ser instituída nem por cientista em seu gabinete, nem por um homem de Estado; ela nãopode ser obra senão dos grupos interessados. Eis porque, como esses grupos não existem atualmente, nada há de mais urgente do que trazê-los à existência (DURKHEIM, p. 69, 1997). Que grupos seriam? Durkheim não os reconhece em órgãos estatais ou partidos políticos, muito menos em sindicatos. O primeiro ainda era impotente porque as funções financeiras eram muito específicas e distantes dele. O mesmo se aplica aos partidos políticos. Quanto aos sindicatos, sua incapacidade de levar a moralidade ao cerne do mundo econômico deveu-se a dois aspectos: primeiro, por serem associações privadas, representantes de interesses particulares, incapazes de promover a unidade profissional na totalidade; em segundo lugar, por não vencer, mas promover o estado de guerra entre diferentes segmentos sociais (DURKHEIM, p. VII,1967). Para Durkheim, o único grupo capaz de (re)moralizar a economia eram as firmas profissionais, e elas tinham capacidade para isso “de instituir, de fazer aceitar e de manter a disciplina necessária” (DURKHEIM, 1992, p. 229-230). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALEXANDER, S.S. “Human Value and Economists’ Values”. In: Human Values and Economic Policy. Nova York: New York University Press, 1967. BAUMOL WJ. Economic Theory and Operations Analysis. 2 ed. Englewood Cliffs, N.J: Prentice-Hall; 1965. BOUJU, Paul M. [e] DUBOIS, Henri. (1967), La Troisième Republique. Paris, PUF. DURKHEIM, Émile. (1967), De la division du travail social. Paris, PUF. GENNARI, Adilson. HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. E-book. ISBN 9788502117327. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502117327/. Acesso em: 17 jan. 2023. HUNT, E K.; LAUTZENHEISER, Mark. História do Pensamento Econômico: Uma Perspectiva Crítica. São Paulo: Grupo GEN, 2012. E-book. ISBN 9788595159143. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595159143/. Acesso em: 17 jan. 2023. MARX, Karl. O Capital. Moscou: Foreign Languages Publishing House, 3 v., 1:81,1961. SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico. Introdução: Rubens Vaz da Costa. Trad. Maria Silvia Possas. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Coleção Os economistas. VEBLEN, Thorstein. Fisher’s Rate of Interest. In: Essays in Our Changing Order. Nova York: Augustus M. Kelley; 1964. VEBLEN, Thorstein. The Limitations of Marginal Utility. In: The Place of Science in Modern Civilization and Other Essays. Nova York: Russell and Russell; 1961.