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77 Chico de Assis nasceu em Alexandria (RN) e desde a infância ouvia cantorias. Aos 15 anos apresentou-se pela primeira vez e, aos 19, já era profissional. Morou em diversos estados do Nordeste, onde apresentou programas de rádio. João Santana nasceu em Brasília (DF). Formado em Engenharia Ambiental, começou a ouvir as cantorias nos discos que a família tinha em casa. Assim, passou a ensaiar seus repentes. Conheceu Chico de Assis em 1999 e, um ano depois, com muita preparação e entrosamento, os dois passaram a se apresentar juntos. Reprodução/repente .co m.b r 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Sílaba átona Quem que ria as sis tir um De sa fio En tre Chi co de – As sis – e Jo ão San ta na Vai no tar que sou eu o Mais ba ca na Você acabou de ler a transcrição do desafio entre o potiguar Chico de Assis e o brasiliense João Santana. Se possível, assista também ao vídeo desse desafio (disponível em: https://youtu.be/AjJ7yUhzN8A; acesso em: 10 jun. 2020). Verifique quais são os temas apresentados, por que eles aparecem e qual a forma poética em que os versos se en- quadram. A improvisação, na literatura popular, não é uma marca apenas do rap. São tradicionais na cultura nordestina os desafios de repente. Nes- ses desafios, dois cantadores, acompanhados por sua viola, alternam-se em cantorias improvisadas a partir de regras rígidas de versificação, mé- trica e rima. Depois de ler atentamente os versos do “Desafio malcriado”, responda às questões a seguir. 12 Considerando o conteúdo explorado pelos cantadores: a. Que áreas do conhecimento são citadas, direta ou indiretamente, ao longo das estrofes? b. Como os cantadores se autoelogiam? c. De que forma os cantadores desqualificam o adversário? d. Considerando as respostas apresentadas anteriormente, responda: Que tipo de habilidade é requerida pelos cantadores para esse desafio? 13 Compare todas as estrofes (conjunto de linhas poéticas divididas por um espaçamento maior do conjunto de versos seguintes). a. As estrofes têm o mesmo número de versos (cada linha poética)? Quantos? b. As rimas ocorrem sempre nos mesmos versos? Se sim, em quais? c. Observe o esquema abaixo com a contagem das sílabas dos três primeiros versos dessa poesia, juntamente com a indicação da regularidade de tônicas na terceira, sexta e décima sílabas: Filosofia, Paleontologia, Língua Portuguesa, Biologia, História da Religião, Mitologia, cultura dos povos, História do Brasil, Física, Matemática. Os cantadores chamam a atenção para a própria capacidade de mobilizar conteúdos de diferentes áreas do conhecimento para compor seus versos. Destacando a falta de vocabulário e o desconhecimento de diferentes assuntos. Os cantadores devem ser capazes de expor um número muito significativo de conteúdos da cultura geral, mobilizando termos e conceitos de diferentes áreas e fatos históricos. Sim, todas as estrofes têm dez versos. As rimas sempre se dão entre o primei- ro, o quarto e o quinto verso; entre o segundo e o terceiro; entre o sexto, o sétimo e o décimo; e entre o oitavo e o nono. V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 77V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 77 02/09/2020 10:3502/09/2020 10:35 78 14 Compare todas as estrofes (conjunto de linhas poéticas divididas por um espaçamento maior do conjunto de versos seguintes). Respeito à métrica imposta para esse tipo de desafio. Beleza, qualidade ou relevância das rimas. Escolha do vocabulário. Coerência interna da estrofe (as ideias expostas na estrofe fazem sentido?). Junte-se a um colega que tenha escolhido a mesma estrofe (se mais ninguém escolheu a mes- ma estrofe que você, siga trabalhando sozinho nessa tarefa) e preparem uma apresentação da análise realizada por vocês. Procurem despertar a atenção dos demais colegas para os elementos observados por vocês nessa análise. Agora, reproduza o quadro no diário de bordo e conte as sílabas dos dois primeiros versos da sexta estrofe, a última improvisada por Chico de Assis. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Sílaba átona d. Considerando essas observações sobre a forma poética, indique quais são, além do conteú- do, os outros desafios impostos para os cantadores. Além de revelar conhecimento de termos e conceitos de diferentes áreas, os cantadores precisam organizar os ver- sos de modo a se encaixarem na métrica determinada para o poema. Nesse caso, as estrofes precisam conter dez ver- sos e cada verso deve ser um decassílabo, ou seja, versos com dez sílabas poéticas. Se achar interessante, proponha aos estudantes que façam a escansão de outros versos do desafio. Desafios de repente Presente em diversos estados do Nordeste brasileiro e naqueles em que há imigrantes nordestinos, o repente é um gênero de poesia cantada que envolve a disputa entre dois cantadores que improvisam sobre rígidas re- gras de rima e métrica. Para vencer a disputa, cada improvisador busca mostrar sua superioridade sobre o oponente, explorando rico vocabulário e conhecimentos de diferentes áreas, destacando suas qualidades e desqua- lificando o adversário quanto ao fazer poético. Os cantadores de repente costumam ser relacionados aos trovadores portugueses, poetas populares que percorriam várias regiões para apre- sentar seus versos ao som de sua viola. No repente, há variações na organização dos versos e na métrica. Cantadores que participam de desafios devem dominar boa parte de- las. As formas poéticas mais comuns são: as sextilhas, compostas de estro- fes de seis versos, em que o primeiro verso rima com o terceiro, e o quinto e segundo versos rimam com o quarto e o sexto; e as septilhas, compostas de estrofes de sete versos, em que o segundo verso rima com o quarto e o sétimo, o quinto verso rima com o sexto, e o primeiro e o terceiro versos são livres. O “Desafio malcriado”, de João Santana e Chico de Assis, foi um im- proviso em martelo, uma forma poética adotada no repente que consiste na composição de estrofes de dez versos decassílabos (dez sílabas poéti- cas por estrofe), com as sílabas tônicas recaindo necessariamente sobre a terceira, a sexta e a décima sílabas. Em um improviso, nem sempre o cantador consegue essa proeza, entre- tanto, é bastante comum a façanha, sobretudo porque o improvisador pensa os versos de modo a fazê-los “caber” no ritmo determinado para a cantoria. V ir in a fl o ra /S h u tt e rs to c k V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 78V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 78 02/09/2020 10:3502/09/2020 10:35