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63 PARA IR MAIS LONGE A improvisação sempre fez parte do fazer musical das mais diversas culturas. Muitos artistas da música popular passaram a gravar discos no decorrer do século XX, quando se desenvolveu a indústria fonográfica. A convivência com as gravadoras, o crescimento do rádio e as apresentações em shows que percorriam diversas localidades possibilitaram a troca de saberes entre esses artistas populares e outros músicos que tinham uma formação mais ligada às escolas de música e conservatórios. O jazz é um exemplo importante de improvisação em música porque ele influenciou diversas de suas práticas na música popular ao longo do século XX, além de ter possibilitado a valorização da música negra estadunidense e de seus artistas, como Miles Davis e Nina Simone (1933-2003), entre outros. Por conta da popularidade alcançada, o jazz também exerceu uma forte influência em diversos gêneros musicais que surgiram depois, como o rock e o rap. No Brasil, essa influência está presente na Bossa Nova e em gerações de artistas como Hermeto Pascoal, que, além de utilizar improvisações à maneira do jazz, usa o improviso em suas criações como uma constante pesquisa sonora, explorando a sonoridade de objetos, de falas e até de sons emitidos por animais. Hermeto é um dos muitos representantes daquilo que chamamos de música popular brasileira, que engloba artistas de diferentes trajetórias, com diversos procedimentos e influências vindas da oralidade, da escrita musical e da improvisação. Assim, surgiram notáveis figuras, como a cirandeira pernambucana Lia de Itamaracá (1944-) e o cantor e instrumentista mineiro Tião Carreiro (1934-1993), importante nome da música sertaneja de raiz, entre muitos outros. IMPROVISAÇÃO E MÚSICA POPULAR Nina Simone em apresentação para uma emissora de TV em Londres, Reino Unido, 1966. R e d fe rn s D a v id R e d fe rn /R e d fe rn s / G e tt y I m a g e s EXPERIMENTAÇÃO IMPROVISANDO COM OBJETOS Agora, você vai realizar um exercício de improviso em grupo, pesquisando sonoridades de obje- tos que não foram feitos para serem utilizados como instrumentos musicais. Se acharem interessan- te, essa criação poderá ser incorporada como uma das apresentações artísticas do sarau da turma. 1 Para começar, busquem os objetos da sala de aula que produzam algum som quando percutidos, como carteiras, cadeiras, canetas, etc. 2 Experimentem a sonoridade desses objetos e escolham o que acharem mais interessante. 3 Continuem a explorar as diferentes maneiras de fazer som com os objetos escolhidos e tentem observar alguns aspectos importantes: É possível fazer um som suave? Um som muito forte? Um som longo? Um som curto? 4 Quando cada grupo escolher o seu som, façam uma roda. 5 Determinem um andamento comum para todos seguirem e comecem a improvisar. Marquem o ritmo batendo os pés. Se possível, registrem a atividade em vídeo para que possam avaliar o desempenho de cada um. 6 Agora, um de cada vez, seguindo o ritmo das batidas de pé da roda, cada integrante vai improvisar sons com o objeto que escolheu. Explorem o que acharam mais interessante na pesquisa sonora que fizeram. 7 Ao final, reúnam-se para uma conversa e compartilhem impressões sobre essa experiência. Procurem refletir sobre a forma como cada um explorou os sons dos objetos escolhidos. Pensem também no momento de improvisação coletiva e em como os diferentes sons “se comportaram” ao serem executados simultaneamente. Lia de Itamaracá em apresentação de roda de ciranda em Guarulhos (SP), 2019. C e s a r B o rg e s /F o to a re n a V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 63V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 63 02/09/2020 10:3502/09/2020 10:35 64 Improvisação no teatro Muitas vezes, o ato de improvisar está presente também na vida cotidiana, até mesmo na escola. Você já percebeu isso? No livro Natureza e sentido da improvisação teatral (São Paulo: Perspectiva, 1991), a autora Sandra Chacra propõe reflexões a esse respeito. Leia um trecho a seguir. A improvisação tem uma história longa, tão antiga como a do homem. Ela vem desde as épocas primiti- vas, perdurando como manifestação até o presente. Todas as formas de arte tiveram uma de suas origens na improvisação. O canto, a dança e os rituais primitivos assumiram formas dramáticas num jogo em que um dos polos é a atualidade improvisada. CHACRA, Sandra. Natureza e sentido da improvisa•‹o teatral. São Paulo: Perspectiva, 1991. p. 24. Como afirma a autora, as improvisações têm raízes na própria história dos rituais primitivos da humanidade e foram importantes para a origem de diferentes manifestações da arte. Mas você já imaginou de que forma a improvisação pode contribuir para as criações teatrais? A improvisação é compo- nente fundamental tanto em apresentações teatrais popu- lares, nas ruas e praças, em feiras livres, etc., quanto em produções com orçamentos milionários, como no caso dos grandes musicais. Em cada uma dessas categorias do fazer teatral a improvisa- ção tem um papel diferente, mas sua essência é a mesma. 3 Observe a fotografia acima. a. Você já assistiu a um espetáculo desse tipo? Em caso positivo, compartilhe com os colegas essa experiência. Resposta pessoal. b. O que você acha que um artista de teatro precisa saber para improvisar? Resposta pessoal. c. Como você acha que a improvisação pode estar presente no teatro de rua? E em uma apre- sentação realizada em uma casa de espetáculos? Respostas pessoais. É possível pensar a improvisação a partir de um fluxo que vai do estímulo à ação. Veja, por exemplo, a expressão em latim Ex nihilo nihil fit, atribuída ao filósofo grego Parmênides (530 a.C.- -460 a.C.), que significa “nada surge do nada”. A ideia é que as coisas são criadas a partir de algo, de uma referência ou de um estímulo. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) escreveu um texto que dialoga com essa expressão, chamado “De nada, nada virá”. A improvisação teatral funciona da forma que ambos indicam: é preciso algo que provoque a imaginação e desafie a colocá-la em ação de maneira espontânea por meio do corpo e da voz. 4 Para compreender melhor a ideia de improvisação e do fluxo gerador da ação, você e os colegas vão apreciar seis exemplos de estímulos. Cinco deles estão apresentados a seguir; o sexto será proposto pelo professor. Na sua opinião, como eles poderiam ser usados como fontes para a criação de improvisações teatrais? Converse com os colegas e o professor e registre as ideias que achar interessantes no diário de bordo. Resposta pessoal. E v e rs o n B re s s a n /F u tu ra P re s s Apresentação de teatro de rua do 28º Festival de Teatro, em Curitiba (PR), 2019. NÃO ESCREVA NESTE LIVRO. V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 64V1_LINGUAGENS_Faraco_g21Sa_Cap2_054a087_LA.indd 64 02/09/2020 10:3502/09/2020 10:35