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2 PROFESSORA ANA PAULA BLAZUTE MÓDULO DIREITO ADMINISTRATIVO 3 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 1. INTERVENÇÃO ESTATAL NA PROPRIEDADE Todo ato do Poder Público que, compulsoriamente, retira ou restringe direitos dominiais privados, ou sujeita o uso de bens particulares a uma destinação específica. Temos a forma de intervenção estatal na propriedade: a. Supressiva A desapropriação. b. Restritiva Todas as demais modalidades (limitação administrativa, servidão administrativa, requisição, tombamento e a ocupação temporária). 2. FUNDAMENTO Poder de Polícia – posição dominante – obrigação de não fazer (limitações impostas ao exercício da propriedade) – obrigação de fazer (dever de utilização da propriedade de acordo com sua função social). Princípio da supremacia do interesse público sobre o privado. 3. BASE CONSTITUCIONAL A CF/88 dá suporte à intervenção do Estado na propriedade. De um lado, garante o direito de propriedade (art. 5º, XXII), mas ao mesmo tempo condiciona o instituto ao atendimento da função social (art. 5º, XXIII). Aqui se encontra o primeiro embasamento constitucional. Se a propriedade precisa estar condicionada à função social, segue-se que, se não estiver atendida essa condição, poderá o Estado intervir para vê-la atendida. 4. COMPETÊNCIA A competência para legislar sobre direito de propriedade, desapropriação e requisição é da União Federal (art. 22, I, II e II, CF/88). Diferente da competência para legislar sobre essas matérias é a competência para legislar sobre as restrições e os condicionamentos ao uso da propriedade. 5. MODALIDADES 5.1. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA Determinação de caráter geral, através do qual o Poder Público impõe a proprietários 4 indeterminados obrigações positivas, negativas ou permissivas, para o fim de condicionar as propriedades ao atendimento da função social. Ex. Limpeza de terrenos, parcelamento ou edificação compulsória, proibição de construir além de determinado número de pavimentos (gabarito dos prédios), permissão de vistorias em elevadores de edifícios e ingresso de agentes para fins de vigilância sanitária. Não há indenização. 5.2. OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA É a forma de intervenção pela qual o Poder Público usa transitoriamente imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos. Ex. Utilização temporária de terrenos particulares contíguos a estradas (em construção ou em reforma), para a alocação transitória de máquinas de asfalto, equipamentos de serviço, pequenas barracas de operários etc. O uso de escolas, clubes e outros estabelecimentos privados por ocasião das eleições. Extinção: Se a ocupação visa à consecução de obras e serviços públicos, a propriedade deverá ser desocupada tão logo esteja concluída a atividade pública. Indenização: Se houver dano. 5.3. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA É o direito real público que autoriza o Poder Público a usar a propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo. Ex. instalação de redes elétricas, implantação de gasodutos e oleodutos em áreas privadas para a execução de serviços públicos. Fundamento: O fundamento geral da servidão administrativa é o mesmo que justifica a intervenção do Estado na propriedade: de um lado, a supremacia do interesse público sobre o interesse privado e, de outro, a função social da propriedade, marcada nos arts. 5º, XXIII e art. 170, III, CF: o sacrifício da propriedade cede lugar ao interesse público que inspira a atuação interventiva do Estado. Objeto: A servidão administrativa incide sobre a propriedade imóvel. Formas de instituição: 5 Acordo entre o proprietário e o Poder Público ou sentença judicial. a) Acordo: Depois de declarar a necessidade pública de instituir a servidão, o Estado consegue o assentimento do proprietário para usar a propriedade deste com o fim já especificado no decreto do Chefe do Executivo, no qual foi declarada a referida necessidade. Nesse caso, as partes devem celebrar acordo formal por escritura pública, para fins de subsequente registro do direito real. b) Sentença judicial: Não tendo havido acordo entre as partes, o Poder Público promove ação contra o proprietário, demonstrando ao juiz a existência do decreto específico, indicativo da declaração de utilidade pública. O procedimento é idêntico ao adotado para a desapropriação, estando previsto no art. 40 do Decreto-lei nº 3365/41. Extinção: A servidão administrativa é, em princípio, permanente. Poderão ocorrer alguns fatos supervenientes, contudo, que acarretam a extinção da servidão Indenização: Condicionada ao dano. O ônus da prova cabe ao proprietário, a ele cabe provar o prejuízo, não o fazendo, presume-se que a servidão não produz qualquer prejuízo. Características: Natureza jurídica de direito real; Incide sobre bem imóvel; Tem caráter de definitividade; A indenização é prévia e condicionada ao dano; Inexistência de autoexecutoriedade: só se constitui através de acordo ou de decisão judicial. 5.4 REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA É a modalidade de intervenção estatal através da qual o Estado utiliza bens móveis, imóveis e serviços particulares em situação de perigo público iminente. Ex. Numa situação de iminente calamidade pública, o Poder Público poderá requisitar o uso do imóvel, dos equipamentos e dos serviços de determinado hospital privado. Fundamento: O fundamento genérico das requisições é o mesmo das servidões administrativas: art. 5º, XXIII e o art. 170, III, CF. O dispositivo específico é o art. 5º, XXV, CF, que assim dispõe: “no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.” Objeto: abrange bens móveis, imóveis e serviços particulares. 6 Formas de instituição: Verificada a situação de perigo público iminente, a requisição pode ser de imediato decretada. Assim, o ato que formaliza é autoexecutório e não depende de qualquer decisão do Judiciário. É esse ato, portanto, que institui a atuação interventiva sob a modalidade requisição. Extinção: Se dará tão logo desapareça a situação de perigo público iminente, assim, ela é de natureza transitória. Indenização: A indenização pelo uso de bens e serviços alcançados pela requisição é condicionada, o proprietário somente fará jus à indenização se a atividade estatal lhe tiver provocado danos. Inexistindo danos, nenhuma indenização será devida. O princípio neste caso é o mesmo aplicável às servidões administrativas. Características: Direito pessoal da Administração; Seu pressuposto é o perigo público iminente; Incide sobre bens móveis, imóveis e serviços; Caracteriza-se pela transitoriedade; Indenização condicionada ao dano. 5.5 TOMBAMENTO É a forma de intervenção na propriedade pela qual o Poder Público procura proteger o patrimônio cultural brasileiro. Fundamento: Art. 5º, XXIII, art. 170, III e art. 216, § 1º, CF e Decreto-lei nº 25/1937. 3 – Objeto: O tombamento incide sobre bens móveis (ex. quadro histórico) e imóveis (Ex. igreja secular). Esse objeto consta no art. 1º, do Decreto-lei nº 25/1937, que, ao definir patrimônio histórico e artístico nacional, considera-o composto de bens móveis e imóveis existentes no país. Como o tombamento importa restrição ao uso da propriedade privada, deve esse fato ser levado a registro no Ofício de Registro de Imóveis respectivo, sendo averbado ao lado da transcrição do imóvel (art. 13, Decreto-lei nº 25/37). É vedado ao proprietário, ou ao titular de eventual direito de uso, destruir, demolir10 ou mutilar 7 o bem tombado. Da mesma forma, somente lhe é autorizado reparar, pintar ou restaurar o bem com prévia autorização especial do Poder Público. Compete ao proprietário o dever de conservar o bem tombado para mantê-lo dentro de suas características culturais. Se não dispuser de recursos para proceder a obras de conservação e reparação, deve necessariamente comunicar o fato ao órgão que decretou o tombamento, o qual mandará executá-las as suas expensas. Há restrições também para a vizinhança do prédio tombado. Sem que haja autorização do órgão competente, é vedado fazer qualquer construção que impeça ou reduza a visibilidade em relação ao prédio sob proteção, bem como nela colocar cartazes ou anúncios. Se tal ocorrer, poderá ser determinada a destruição da obra ou a retirada do cartaz ou anúncio, podendo, inclusive, ser aplicada multa pela infração cometida. Em resumo, o tombamento produz efeitos para o proprietário do bem tombado, para o Poder Público e para terceiros (arts. 11 a 22, do Decreto-lei nº 25/37). NÃO EXISTE MAIS DIREITO DE PREFERÊNCIA NO TOMBAMENTO. Indenização: Somente se o proprietário comprovar que o ato de tombamento lhe causou prejuízo, o que não é a regra, é que fará jus à indenização. 5.6 DESAPROPRIAÇÃO Regra: Art. 5º, inciso XXIV, da Constituição Federal - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; Exceção: Desapropriação Urbana Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, 8 conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (Regulamento) (Vide Lei nº 13.311, de 11 de julho de 2016) § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10257.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13311.htm 9 Este material foi produzido pela equipe do Curso VemQuePassa, razão pela qual os direitos autorais estão reservados ao curso, nos termos da Lei n. 9.610/98. Assim, é proibida a reprodução, ainda que parcial, de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização prévia e expressa do curso, a não ser em citações breves ou postagens em redes sociais de imagens, desde que, nesses dois casos, seja indicação da fonte. A violação dos direitos do autor é crime previsto na Lei n. 9.610/98. Além de violar a proteção constitucional prevista no artigo 5º, inciso XXVIII.