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Modelos cientí� cos podem mudar Os resultados das pesquisas de Mendel foram apre- sentados em duas conferências e publicados na forma de artigo científi co. Mais tarde, esse artigo seria a refe- rência fundamental para as “leis da hereditariedade”. Alguns anos depois, Mendel publicou outro artigo, no qual apresentou resultados de experimentos com chi- cória (Cichorium pumilum), semelhantes aos realiza- dos com as ervilhas. No entanto, os resultados foram completamente incompatíveis com o modelo que ele havia publicado anteriormente. Desacreditado por essa conclusão, Mendel abandonou os trabalhos com cruzamentos vegetais. Foi somente no fi nal do século XIX que seus estudos tiveram a importân- cia e a relevância reconhecidas pela sociedade científi ca, e ele passou a ser considerado o “descobridor das leis da hereditariedade”. Mendel faleceu em 1884, aos 62 anos, vítima de uma nefrite (infl amação de estruturas renais). Como veremos a seguir, os resultados de Mendel fo- ram importantes para os desdobramentos pós-darwi- nianos da teoria da evolução e para a Genética, que se desenvolveu muito desde então. Os princípios básicos da segregação independente continuam válidos, até mesmo em casos mais complexos de hereditariedade. Entretanto, alguns fenômenos relacionados à here- ditariedade não foram previstos pelo modelo de Men- del. Ao longo do século XX, outros padrões de he- rança foram identifi cados e tornaram o modelo mais complexo e com maior capacidade preditiva: • há casos em que não se observa a dominância de um alelo sobre outro (dominância incompleta e codominância); • na maioria dos casos, um gene não condiciona ape- nas uma característica fenotípica (pleiotropia); • um gene pode afetar a expressão fenotípica de ou- tro gene (epistasia); • a interação entre os genes pode ter efeitos cumula- tivos na determinação de certas características (he- rança quantitativa). Vamos tomar como exemplo a herança da cor dos olhos, analisada na Atividade 1. Observe a � gura 2.11: as proporções dos resultados não são aquelas previs- tas pelo modelo mendeliano (9 : 3 : 3 : 1). Isso ocorre porque esse modelo não prevê caracteres que variam de forma cumulativa. Nesse tipo de herança, vários “fatores mendelianos” têm um efeito cumulativo. É o que chamamos de herança quantitativa ou poligênica, e defi ne características como a altura, a cor dos olhos e a cor da pele em seres humanos. Na herança da cor dos olhos, há dois pares de alelos, indicados aqui como Aa e Bb. Quando todos os alelos são dominantes, a produção e a deposição de me- lanina serão altas e a pessoa terá olhos castanho-escu- ros. Quando todos os alelos são recessivos, não ocorrerá produção do pigmento e a pessoa terá olhos azuis. As cores intermediárias variam de acordo com a quantidade de melanina que está sendo expressa, regulada por um efeito cumulativo da herança de dois genes. Os alelos representados por uma letra maiúscula (dominantes) determinam a presença de melanina na íris. Já os ale- los representados pelas letras minúsculas (recessivos) não determinam a presença de melanina na íris. Perceba que esse também é um modelo explicati- vo. Assim, como ocorre em outros modelos científi cos, pode haver mudanças. Outros genes podem estar en- volvidos nessa herança e ainda não se sabe ao certo a relação que eles mantêm entre si. 5. Retome os resultados obtidos no lançamento das moedas para cor dos olhos na Atividade 1. O padrão de herança observado poderia ser explicado pelas leis de Mendel? Justifi que a resposta. 6. Você considera que um modelo científi co pode mudar? Como isso ocorre? # Figura 2.11 – Representação esquemática da herança da cor dos olhos em humanos. Os elementos não estão representados em proporção. Cores fantasia. T ia g o D o n iz e te L e m e /A rq u iv o d a e d it o ra 51GenŽtica e evolu•‹o 041a077_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap2_LA.indd 51041a077_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap2_LA.indd 51 21/09/2020 19:0121/09/2020 19:01 ARTICULAÇÃO DE IDEIAS 1. A fibrose cística é uma doença genética letal recessiva, relacionada ao gene que condiciona a expressão de uma proteína de membrana que tem a função de transpor- tar íons cloreto (CℓÐ) entre algumas células e o líquido extracelular. Indivíduos com dois alelos recessivos para esse gene têm falhas no funcionamento desses canais, o que gera concentração de cloreto no líquido extracelular. Como consequência, o muco que reveste algumas célu- las se torna espesso e pegajoso e se acumula em órgãos como pâncreas, pulmões e trato digestório. Se não tratada, a fibrose cística leva à morte em torno dos cinco anos de idade. Imagine a seguinte situação: Carlos e Fernanda são um casal que planeja ter filhos e decidem buscar acon- selhamento genético. Em um relacionamento anterior, Carlos teve um filho com fibrose cística. O único irmão de Fernanda faleceu de fibrose cística. Nem Carlos nem Fernanda têm a doença. a) Construa um heredograma para representar a família de Carlos e a de Fernanda. b) Qual é a probabilidade de Carlos e Fernanda se- rem portadores do alelo que condiciona a fibrose cística? c) Qual é a probabilidade de o casal ter um filho com fibrose cística? 2. Retome as características investigadas por Mendel e faça a previsão das proporções genotípicas e fenotípi- cas para os seguintes cruzamentos: a) uma linhagem com flores axiais heterozigótica e cor púrpura heterozigótica com uma linhagem com flores terminais e cor branca; b) uma linhagem com sementes amarelas homozigó- tica e lisas heterozigótica com uma linhagem com sementes amarelas heterozigótica e rugosas. 3. Tendo em vista os debates deste capítulo, como você definiria um gene? 4. Escreva um parágrafo explicando potencialidades e limitações do modelo mendeliano de herança. Ao longo do século XX, houve di- versas discussões para determinar o material responsável pelas informa- ções genéticas transmitidas de pais para filhos. No início, as proteínas eram as melhores candidatas para armazenar as informações genéti- cas, pois apresentam variabilidade de composição, estrutura e diversas funções. As proteínas são macromo- léculas formadas pela união de ami- noácidos (�gura 2.12). Porém, alguns cientistas passa- ram a defender que o material ge- nético, na verdade, poderia estar em substâncias ácidas encontra- das no núcleo das células, chamadas de ácidos nucleicos. Até meados do século XX (em torno de 1952), ainda não se tinha clareza sobre qual seria a estrutura dessas moléculas. Nesta investigação, você deverá analisar resultados e argumentar a partir de suas conclusões. O QUE FAZER 1. Leia o texto a seguir. No início do século XX, cientistas já tinham feito diversas des- cobertas sobre os ácidos nucleicos. Em 1912, Phoebus Levene (1869-1940) e Walter Jacobs (1883-1967) concluíram que os ácidos nucleicos eram formados pela união de estruturas que chamaram de nucleotídeos. Cada nucleotídeo era formado por três componentes: base nitrogenada 1 carboidrato (de cinco carbonos – pentose) 1 grupo fosfato (�gura 2.13). B a n c o d e i m a g e n s /A rq u iv o d a e d it o ra A molécula da hereditariedade INVESTIGAÇÃO # Figura 2.12 – Representação esquemática das estruturas das proteínas. Os elementos não estão representados em proporção. Cores fantasia. fosfato pentose base nitrogenada P # Figura 2.13 – Representação esquemática de um nucleotídeo. E m re T e ri m /S h u tt e rs to ck estrutura primária sequência de aminoácidos estrutura secundária arranjo espacial da cadeia polipeptídica estrutura terciária enovelamento da cadeia polipeptídica estrutura quarternária montagem das cadeias polipeptídicas 52 Cap’tulo 2 041a077_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap2_LA.indd 52041a077_V2_CIE_NAT_Mortimer_g21Sc_U1_Cap2_LA.indd 52 21/09/2020 19:0121/09/2020 19:01