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A Deus, que é Luz e em quem não há trevas algumas. Título Jó. Traído por Deus? Entregue ao Diabo? Autores Tassos Lycurgo, Jai Jind ISBN 978-85-93184-00-0 Supervisão editorial Tassos Lycurgo Coordenação editorial Camila Lycurgo Edição e produção gráfica MC Coelho Produção Editorial Revisão Nataly Barros Capa Jai Jind © Copyright: Defesa da Fé Editora CNPJ 24.690.470/0001-92 1ª edição 2016 Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte Sistema de Bibliotecas Biblioteca Central Zila Mamede Setor de Informação e Referência Lycurgo, Tassos Jó. Traído por Deus? Entregue ao Diabo? / Tassos Lycurgo, Jai Jind. Natal, RN: Defesa da Fé Editora, 2016, 64 p. ISBN 978-85-93184-00-0 1. Cristianismo. 2. Religião. 3. Teologia judaica. 4. Livro de Jó. 5. Filosofia cristã. I. Jind, Jai. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 27-243.62 Índices para catálogo sistemático: Igreja : Teologia : Cristianismo 262.001 editora@defesadafe.org defesadafe.org mailto:editora@defesadafe.org http://defesadafe.org A Deus, que é Luz e em quem não há treva alguma. Agradecimento A Deus, por revelar-se ao mesmo tempo de forma simples e elaborada, a ponto de ser compreendido tanto pelas crianças, como também de não se esgotar diante das investigações mais sofisticadas dos filósofos. Sumário Introdução Quem era Jó? O mundo em que Jó viveu Deus criou o homem à sua imagem e semelhança Deus deu o domínio sobre tudo o que Ele criou para o homem O homem entregou todo o domínio a Satanás O ponto central Teria Deus oferecido Jó a Satanás? Jó realmente creu como deveria? O medo é o contrário da fé O medo paralisa e o sacrifício liberta A dicotomia da fé de Jó Conclusão Oração Introdução E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem? (Mateus, 7:9-11) Você conhece alguma pessoa em quem confia? Muitos de nós confiamos em algumas pessoas e há algo comum em relação a todas elas: confiamos porque as conhecemos, porque já passamos algum tempo com elas. Todos sabemos que não descobrimos se uma pessoa é confiável antes de passar um bom tempo com ela, sem que tenhamos pelo menos convivido com ela, não é mesmo? O que estamos tentando dizer é que para sermos capazes de verdadeiramente confiar em alguém, antes devemos conhecer essa pessoa, saber muito sobre ela. Devemos saber o que ela faz, o que ela diz e, principalmente, devemos estar certos de que ela não faz nem pretende fazer qualquer mal para nós, ou seja, de que o que ela faz por nós é bom. Uma das relações de maior confiança que vemos aqui na Terra é a do filho pelo pai, principalmente nos primeiros anos de vida. Vamos pensar um pouco sobre esta relação. Se você é um bom pai ou se conhece alguma pessoa que considere ser um bom pai, você sabe do que estou falando. O filho confia inteiramente no pai, não é verdade? Mas, por que é assim? Ora, os filhos confiam inteiramente nos pais porque desde cedo identificam que, neste mundo, eles são a fonte de sua segurança, de sua provisão, do amor que vivenciam logo nos primeiros anos de vida. Vamos supor que você tem um filho. Quando ele está com fome, o que você faz? Você o alimenta. Quando está doente, o que faz? Cuida dele. E quando está em perigo? Você o protege. Por favor, seja sincero, não é exatamente assim que os pais fazem? Já pensou se fosse diferente disso? E se, em vez de alimentar o filho que estivesse com fome, o pai deixasse que ele morresse faminto? E se, quando ele estivesse doente, o pai sentisse prazer em ver o sofrimento dele? E se o filho estivesse em perigo e o pai o abandonasse? Imagine um pai assim, que entrega o filho à morte, ao perigo e ao sofrimento. Você acha que o filho desse pai chegaria à conclusão de que o pai dele seria a fonte de segurança, provisão e amor? Claro que não, concorda? Vamos supor algo ainda pior. Vamos supor que um pai fosse amigo do pior bandido da cidade e pedisse ao bandido que fosse à escola em que o filho estuda para bater nele, torturá-lo e roubar todos os seus pertences. Já pensou quando o filho descobrisse que cada vez que o bandido foi à escola bater nele e assaltá-lo, na verdade, quem estava por trás de tudo era o seu próprio pai? Seja sincero: você acha que esse filho ainda confiaria no pai? É claro que não, certo? Esse filho passaria a entender que o seu pai era, na realidade, um inimigo. Provavelmente, todos concordarão com isso. Se um pai se comportar como um pai mau, logo entendemos que há um problema, um problema sério num relacionamento que deveria ser de amor. Agora, gostaríamos de fazer uma pergunta: como você acha que é o Deus em quem muitos cristãos creem? Por incrível que pareça, muitos creem em um Deus que não seria como o pai bom, mas sim como o pai mau, que não apenas aceita, mas provoca o sofrimento nos filhos. Veja que, embora seja um pouco chocante ouvir isso, é possível identificar que é assim mesmo quando vemos que muitos, equivocadamente, criam a sua própria teologia, com base na interpretação errada do que Jó disse no verso 21 do Capítulo 1. E disse: Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor. (Jó, 1:21) Muitas pessoas, ao passarem por situações de extremo sofrimento, verdadeiramente creem que deve ser a vontade de Deus e repetem o mantra de Jó, como se fosse uma interpretação correta do que seria a vontade de Deus. Pior do que isso, em razão dessa interpretação equivocada das Escrituras, muitos cristãos têm sofrido por anos nas mãos de Satanás, crendo que, na realidade, são testados pelas mãos de Deus. Não é por acaso que alguns trechos isolados do Livro de Jó, como a passagem de Jó, 1:21, já citada, e ainda outras, por exemplo, a história do espinho na carne de Paulo (2 Coríntios, 12:7) e a do cego de nascença (João, 9) estão, na nossa opinião, entre as passagens mais mal interpretadas em toda a história da igreja. Muito pior do que o simples fato de essas passagens serem interpretadas erroneamente é elas fornecerem combustível para criações de doutrinas perversas, como a que defende que, às vezes, Deus quer o sofrimento do ser humano, de que Ele está de acordo com o tormento de certas pessoas, ou mesmo que é Ele quem, algumas vezes, coloca doenças em alguns. Sim, é isso mesmo! Tais doutrinas, tão populares entre alguns cristãos, chegam realmente a defender que a doença é dada por Deus, quer seja para testar a sua fé, como teria feito com Jó, ou para os manter humildes, conforme teria feito com Paulo. Por incrível que pareça, ainda defendem que isso seria para que a glória, a vontade e o propósito de Deus fossem alcançados. Para que possamos nos expressar de forma ainda mais clara, gostaríamos de pedir a você que pensasse novamente sobre aquele exemplo da relação do pai com o filho. Você acha que o filho ainda amaria o pai se descobrisse que era ele quem estava colocando veneno em sua comida dia após dia com o intuito de provocar uma úlcera ou um câncer em seu estômago? Da mesma forma, seria um pai considerado amoroso, caso fosse descoberto que esse mesmo pai havia contratado um bandido para bater, torturar e roubar tudo o que o filho tivesse? É exatamente em razão de a igreja ter ensinado ao mundo que é dessa forma cruel que Deus escolheu amar seus filhos que o mundo escolhe rejeitar a Deus. Afinal, como poderíamos querer estar perto de um Deus que quer o mal dos seus filhos? Alguns, deliberadamente, dizem – e com razão, diante da forma como são ensinados – que é melhor passar a eternidade no inferno do que ao lado de um Deus tão perverso. Pessoas optam por religiões diversas, enquanto outras adotam a estranha convicção de que simplesmente deixarão de existir quando morrerem. Uma coisa é certa e cremos que você já começa a concordar conosco: a razão de muitos não desejarem se aproximarde Deus nos dias de hoje não tem nada a ver com o verdadeiro Deus. As pessoas estão fugindo de uma imagem de Deus que não é a correta e, como consequência disso, acabam se distanciando do verdadeiro Deus. A razão, conforme acabamos de dizer, não está no verdadeiro Deus que a Bíblia apresenta. Não está no Deus de amor que a interpretação correta do Livro de Jó apresenta. O Deus verdadeiro não quer nos ver sofrer. O Deus que nos amou e ama tanto doou a si mesmo para sofrer e morrer na cruz em nosso lugar, para que pudéssemos ser libertos do poder do pecado e do poder de Satanás. É sobre esse Deus de amor, por incrível que isso possa lhe parecer neste momento, que o Livro de Jó nos fala. É sobre isso que aprenderemos daqui para a frente. Seja bem-vindo! Quem era Jó? Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal. (Jó, 1:1) Às vezes, as pessoas têm dificuldade em entender que o Livro de Jó demonstra o infinito amor de Deus pela humanidade. Isso se dá porque muitos pensam que Deus permitiu, sem justificativa, que Jó passasse por um grande sofrimento. Ocorre que, conforme veremos, Deus não quis que isso acontecesse. Mas você pode estar se perguntando neste momento: se Deus não quis, por que não impediu que acontecesse? Bem, não só responderemos a esta questão como também a muitas outras que aparecem em decorrência do entendimento equivocado daquele texto maravilhoso, que é o Livro de Jó. O Livro de Jó, aliás, é tão maravilhoso que não apenas fala do amor de Deus, como também pode ser considerado o principal livro da Bíblia no que diz respeito à ciência. Tanto é assim que, entre inúmeras outras coisas, ele faz referência aos dinossauros (Jó, 40:15), sem, contudo, mencionar a palavra “dinossauro”, já que foi inventada apenas em 1842, com a publicação da descrição científica dos “lagartos terríveis” pelo biólogo e paleontólogo britânico Richard Owen (1804-1892). Como o aspecto científico do livro de Jó é assunto para outra oportunidade, voltemos ao que nos interessa aqui, deixando mais uma vez claro que o nosso objetivo nesta obra é entender como o livro de Jó apresenta de forma belíssima o amor de Deus por nós. Por essa razão, um dos pontos centrais será o de desmitificar a ideia de que Deus quis ou injustificadamente permitiu que Jó passasse por um grande sofrimento. Por meio de uma análise mais meticulosa é possível constatar o quanto essa afirmação não corresponde ao que a Bíblia afirma. Antes de começarmos o estudo do livro gostaríamos de lembrar dois pontos bastante importantes a serem considerados quando estudamos as Escrituras. O primeiro é que devemos entender qualquer livro da Bíblia no contexto dos seus demais livros, e o segundo é que devemos interpretar os livros tendo em mente que todos eles devem apontar para uma só direção: Jesus Cristo. Tendo isso em mente, vamos, então, para a leitura da passagem mais importante do livro de Jó no que diz respeito ao que queremos apresentar nesta oportunidade que Deus nos deu. Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó. Era homem íntegro e reto, que temia a Deus e se desviava do mal. Nasceram-lhe sete filhos e três filhas. Possuía ele sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas, tendo também muitíssima gente ao seu serviço; de modo que este homem era o maior de todos os do Oriente. Iam seus filhos à casa uns dos outros e faziam banquetes cada um por sua vez; e mandavam convidar as suas três irmãs para comerem e beberem com eles. E sucedia que, tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó e os santificava; e, levantando- se de madrugada, oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; pois dizia Jó: Talvez meus filhos tenham pecado, e blasfemado de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente. Ora, chegado o dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. O Senhor perguntou a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, dizendo: De rodear a terra, e de passear por ela. Disse o Senhor a Satanás: Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal? Então respondeu Satanás ao Senhor, e disse: Porventura Jó teme a Deus debalde? Não o tens protegido de todo lado a ele, a sua casa e a tudo quanto tem? Tens abençoado a obra de suas mãos, e os seus bens se multiplicam na terra. Mas estende agora a tua mão, e toca-lhe em tudo quanto tem, e ele blasfemará de ti na tua face! Ao que disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo o que ele tem está no teu poder; somente contra ele não estendas a tua mão. (Jó, 1:1-12) Vamos pensar sobre o que poderíamos concluir de forma imediata a partir da leitura desses versículos? Bom, vemos que os dois primeiros versículos nos sugerem, em um primeiro momento, que Jó era um homem bom e correto, que não praticava nenhuma iniquidade aos olhos do Senhor. Além disso, também verificamos que Jó era muito rico. Embora tanto naquele tempo quanto nos tempos de hoje a riqueza seja, muitas vezes, capaz de afastar algumas pessoas de Deus (já que muitos passam a amar o dinheiro), este não era o caso de Jó. Vamos pensar um pouco mais sobre a riqueza dele. Também sabemos que, financeiramente falando, os bens que Jó possuía faziam dele um homem notável. Só para citar um aspecto, vemos que uma jumenta, naquele tempo, valia muito dinheiro mesmo. Uma pessoa, como Jó, que tinha quinhentas jumentas, além de muitos outros animais, seria considerada extremamente rica. No que se refere à postura de Jó em relação a sua própria família podemos afirmar que ele era um pai muito amoroso e que cuidava do bem-estar de cada filho. Ele se preocupava em interceder junto a Deus, caso algum de seus filhos caísse em pecado e, por isso, oferecia sacrifícios ao Senhor. Ou seja, Jó era um pai dedicado. A riqueza e o cuidado com a família são algumas das características importantes da personalidade de Jó, que nos permitem conhecê-lo melhor. Além disso, vimos até aqui que Jó era uma homem muito rico, mas principalmente aprendemos que sua riqueza não o afastou do Senhor. Um ponto também muito importante sobre Jó, a respeito do qual falaremos mais adiante, é que, segundo o consenso dos historiadores, ele não viveu em uma época posterior à dos patriarcas. Queremos dizer, ele viveu ou no período de Abraão, Isaac e Jacó ou antes disso. Aprendemos algumas informações sobre Jó. Mas para que possamos entender a sua vida, além de conhecê-lo, temos de saber como era o mundo espiritual em que ele vivia. É exatamente por isso que no próximo capítulo abordaremos a realidade espiritual da época em que Jó viveu, ou seja, entenderemos o mundo em que Jó estava, do ponto de vista espiritual. Somente assim poderemos compreender o que se passou com ele e saber como tudo o que ocorreu foi, na realidade, uma demonstração de que o Deus único e verdadeiro é um Deus de extremo amor. O mundo em que Jó viveu No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. (Romanos, 5:14) Não há como entender o que aconteceu com Jó sem que antes entendamos qual era o pano de fundo espiritual de sua época. Isso se aplica a qualquer momento da história, especialmente quando falamos de um livro da Bíblia, não é mesmo? Assim, para que possamos verdadeiramente entender o que podemos chamar de Teologia da época de Jó, vamos começar considerando três pontos fundamentais, os quais – gostaríamos de deixar bastante claro – se aplicam, inclusive, à realidade espiritual em que vivemos nos dias de hoje. Apenas após o presente capítulo é que veremos como a realidade espiritual na época de Jó se diferencia da nossa de hoje em dia, isto é, entenderemos o sentido e a forma como o mundo no qual Jó viveu se diferencia espiritualmente do mundo em que vivemos hoje. Assim, vejamosos tópicos a seguir para compreender melhor. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. (Gênesis, 1:27) O primeiro ponto que veremos é o de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus. Aliás, quando lemos o versículo do primeiro capítulo do livro de Gênesis fica evidente o quanto o homem é dependente de Deus, pois foi criado por Ele. Sendo assim, o homem jamais poderia existir se o Criador de todas as coisas não permitisse. Todo ser humano deveria levar consigo para todos os lugares aonde fosse dois versos específicos da Bíblia. Seria como se devêssemos levar em nossa carteira dois pedacinhos de papel, tendo em cada um deles escrito um dos versículos que demonstraremos. Assim, sempre estaríamos nos lembrando da Palavra de Deus. Em um dos papéis estaria escrito exatamente a mensagem de Gênesis 1:27, ou seja, a de termos valor intrínseco, pois fomos criados à imagem do Deus criador dos Céus e da Terra e de tudo mais o que existe. Assim, saberíamos que somos valiosos simplesmente pelo que somos, já que fomos criados não apenas como obra-prima do Criador, mas também à sua imagem e semelhança. No outro papel, para que nunca achemos que somos Deus, deveríamos trazer escrita a mensagem presente em Gênesis, 3:19b: “[...] és pó e em pó te tornarás”. Assim, saberíamos não apenas quão importantes somos, pois, conforme vimos, fomos criados à imagem de Deus, mas também saberíamos o quanto precisamos de Deus em nossa vida, já que não somos Deus. Não são poucas as pessoas que se afastam do propósito para o qual foram criadas por não se contentarem em terem sido criadas à imagem de Deus e, assim, querem ser como Ele. Aliás, conforme lemos lá em Gênesis, 3:5, esta foi a tentação principal de que fez uso a serpente quando sugeriu a Eva que ela seria como Deus, caso comesse do fruto, não é mesmo? Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. (Gênesis, 3:5) De toda maneira, gostaríamos de enfatizar, para o nosso aprendizado aqui, que o ser humano foi criado, originalmente, à imagem e semelhança de Deus. Este é o primeiro dos três pontos fundamentais para entendermos adequadamente a realidade espiritual da época de Jó, o mundo em que ele viveu. Vamos passar para a análise do segundo ponto, o qual diz respeito ao fato de que ao ser humano foi dado por Deus o domínio sobre tudo o que há na Terra. Vejamos. Deus deu o domínio sobre tudo o que Ele criou para o homem Dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. (Gênesis, 1:28) Além de ter criado o homem à sua imagem e semelhança, era vontade de Deus, desde sempre, que a sua criatura atuasse como uma espécie de seu mandatário, cuidando de tudo o que Ele criara na Terra. Vamos deixar bem claro aqui: de tudo o que há na Terra! Aliás, podemos mesmo considerar, como consequência de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus, a capacidade que nos foi dada no início, de dominar e reinar sobre toda a criação, pois tais características primordialmente pertencem a Deus. É neste sentido que lemos o que Davi escreveu: [...] que é o homem, para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco abaixo de Deus o fizeste; de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés. (Salmos, 8:4-6) Estes versos que acabamos de ver reforçam o entendimento sobre o fato de todas as coisas na Terra terem sido colocadas sob o domínio do ser humano. Para entender mais adequadamente o que estamos falando, vamos imaginar uma situação hipotética em que o dono de uma grande empresa confiasse ao administrador todo o seu patrimônio. Neste caso, o dono da grande empresa confiaria todo o patrimônio da empresa para o administrador, de modo que ele o administrasse e usufruísse de todos os frutos provenientes da administração. Foi exatamente o que Deus fez em razão de querer que todos os frutos extraídos da Terra fossem exclusivamente voltados para o bem- estar do próprio homem. Esta mesma ideia é apresentada em outros momentos da Bíblia, por exemplo, em uma das passagens do livro de Salmos, a qual transcrevemos a seguir. Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste. (Salmos, 8:5-6) Vimos dois dos três pontos fundamentais para que possamos entender a realidade espiritual do mundo em que Jó viveu. O primeiro é o de que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gênesis, 1:27), já o segundo é o de que Deus deu ao ser humano o domínio sobre tudo o que existe (Gênesis, 1:28). Mas ainda há um terceiro ponto, o qual diz respeito ao que o ser humano fez com o domínio dado a ele. Gostaríamos de enfatizar que esse terceiro ponto é central para o entendimento da realidade espiritual da época de Jó. O homem entregou todo o domínio a Satanás Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. (Mateus, 4:8-10) Conforme acabamos de dizer, este ponto é extremamente relevante para entendermos a Teologia da época de Jó. Aqui, começamos a compreender que o domínio sobre tudo o que existe havia sido dado ao Diabo pelo homem. Como foi que isso ocorreu? O homem, a quem Deus tinha dado o domínio sobre tudo o que existe, no uso do livre arbítrio a ele conferido por Deus, resolveu passar o domínio ao Diabo. Você pode estar perguntando a si próprio se foi isso mesmo. Pode até questionar onde pode ver isso na Bíblia. Para compreender que o domínio foi dado ao Diabo, vamos começar por estudar aquela passagem que ficou conhecida como “A tentação de Jesus”, registrada nos Evangelhos de Mateus (4:1-11), Marcos (1:12-13) e Lucas (4:1-13). Vejamos o que diz este último: O diabo o levou a um lugar alto e mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo. E lhe disse: Eu lhe darei toda a autoridade sobre eles e todo o seu esplendor, porque me foram dados e posso dá-los a quem eu quiser. (Lucas, 4:5-6) Conforme se observa na passagem do Evangelho de Lucas, o Diabo tentava a Jesus, dizendo que poderia entregar a ele o domínio e a autoridade daqueles reinos se Jesus o adorasse. A pergunta importante a se fazer agora é a seguinte: por que a proposta do Diabo a Jesus foi verdadeiramente uma tentação? A resposta é: porque o Diabo tinha realmente a possibilidade de oferecer a Jesus aqueles reinos, já que dominava sobre eles. Conforme o próprio Satanás disse, o domínio havia sido dado a ele. Em outras palavras, caso o domínio não tivesse sido dado ao Diabo, as palavras dele não seriam uma tentação, mas sim um blefe. É dizer, se o Diabo não tivesse realmente o domínio sobre tudo o que existe, as palavras dele para Jesus não passariam de um discurso vazio e jamais poderiam ser consideradas como uma tentação para Jesus. Da mesma forma, se o Diabo estivesse blefando sobre o seu domínio sobre o mundo, a Bíblia não teria em tantos momentos se referido a Satanás como alguém em posição de domínio sobre as coisas da Terra após a queda do homem. Caso você ainda não esteja convencido de que o domínio do mundo foi dado ao Diabo, pedimos o favor de abrir a sua Bíblia e analisar os versos que citaremos mais adiante. Nestas passagens que citaremos será possível verificar que a Bíblia se refere ao Diabo como o rei, o príncipe deste mundo, mostrando, assim, que a fala de Satanás no deserto a respeito de ter sido dado a ele todo o domínio encontra respaldo também em outras passagens bíblicas. Vejamos as passagens: Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, Na esperança deque também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. (Romanos, 8:20-21) A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória. (I Coríntios, 2:8) Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. (II Coríntios, 4:4) Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo. (João, 12:31) Porque o príncipe deste mundo já está julgado. (João, 16:11) Realmente, os versos apresentados comprovam o domínio do Diabo, ou seja, de Satanás, sobre as coisas da Terra após a queda do homem. Vemos, assim, que tanto o mundo em que nós vivemos como aquele no qual Jó viveu é um mundo cujo domínio era e é de Satanás. No caso do Livro de Jó aprendemos que os efeitos do domínio dado a Satanás foram tão grandes, tão amplos, que ele teve, inclusive, acesso aos Céus. Isso explica a passagem de Jó, 1:6, a qual traz problemas de entendimento para muitas pessoas, pois algumas não entendem como Satanás pôde apresentar-se perante Deus. Realmente, sem compreender o pano de fundo teológico da época de Jó fica difícil entender passagens como a que veremos a seguir. E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. (Jó, 1:6) Sugerimos, agora, a recordação dos três mais importantes pontos do assunto sobre o qual estamos tratando. É dizer, vimos, em resumo, três pontos muito importantes: i. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança; ii. Deus deu o domínio sobre tudo o que Ele criou ao homem; e iii. o homem entregou todo o domínio a Satanás. Vimos também que estes três pontos são a base para o entendimento da realidade espiritual da época de Jó, assim como da realidade espiritual do mundo em que ele viveu. Também dissemos que esses três pontos se aplicam inclusive aos dias de hoje, embora a realidade espiritual em que vivemos atualmente seja bem diferente da daquela época. A razão não é que esses pontos mudaram ou deixaram de existir, mas que hoje em dia temos algo que Jó não tinha, conforme veremos nos próximos capítulos. Também não podemos nos esquecer de que veremos como o posicionamento de Deus na realidade espiritual da época de Jó é um posicionamento de um Deus de amor e bondade. Vamos, portanto, passar para o próximo capítulo. O ponto central E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? (Jó, 1:8a) Agora, chegamos ao ponto culminante do nosso estudo. O que trataremos aqui nos proporcionará o entendimento mais completo da realidade espiritual de Jó. Mas antes vejamos os três pontos mencionados no capítulo anterior: i. a criação do homem à imagem e semelhança de Deus; ii. Deus ter dado o domínio sobre tudo ao homem; iii. o homem ter dado o domínio a Satanás. Para entender o que vamos dizer neste capítulo é preciso relembrar alguns dados históricos relevantes sobre o período em que Jó viveu. Embora possa haver algum debate sobre quando exatamente o livro de Jó foi escrito, vemos uma concordância geral entre os estudiosos em afirmar que Jó viveu antes de Moisés, ou na época dos patriarcas (Abraão, Isaac e Jacó), ou antes disso. Este dado histórico é muito importante porque nos faz entender que Jó viveu antes de a lei ter sido dada por Deus a Moisés. Mas por que isso é tão importante? Ou seja, do ponto de vista teológico, o que isso pode nos dizer? Ora, como Jó viveu antes de Moisés, ele não estava protegido pela lei mosaica, nem poderia ter tido acesso a ela como instrumento pedagógico para aprender com ela que deveria exercer a fé no poder protetivo do sangue. Não sei se você já pensou sobre isso, mas devemos ter em mente que o aspecto cerimonial da lei mosaica criou uma antecipação do que Cristo faria, uma antecipação da necessidade da fé no sacrifício de sangue. Assim, as pessoas poderiam ser capazes de ter fé no redentor que viria cerca de quinze séculos depois. Em resumo, o que estamos dizendo é que a lei de Moisés criou uma estrutura de sacrifícios que permitiu às pessoas entender pedagogicamente o poder redentivo do sangue, que se concretizaria séculos depois, com o sacrifício do cordeiro perfeito e imaculado, a saber, Jesus Cristo. A Bíblia enfatiza tanto esse detalhe que, de forma clara, estabelece que durante a época de Adão até Moisés, ou seja, a época em que Jó viveu, quem reinou no mundo foi a morte. Em outras palavras, o que a Bíblia nos diz sobre a realidade espiritual que tomou lugar no período compreendido desde a queda de Adão até Moisés, isto é, no mundo em que Jó viveu, na verdade poderia ser descrita como o reino da morte. Inclusive, isso é o que nos ensina o Apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. (Romanos, 5:14) Não sabemos se você prestou atenção nesse detalhe, mas um ponto muito relevante que a Bíblia nos traz a respeito do fato de a morte ter reinado desde Adão até Moisés é ela ter reinado até mesmo sobre aqueles que não tinham pecado algum. Isso é o que torna o tempo de Jó totalmente diferente daquele depois da lei mosaica, que funcionou como um escudo contra os ataques de Satanás, conforme nos ensina o apóstolo Paulo, segundo a carta aos Gálatas. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. (Gálatas, 3:23) É verdade que, de alguma forma preliminar, o instituto da fé no sacrifício de sangue já estava estabelecido desde o dia da queda do homem – conforme demonstraremos com maiores detalhes neste livro – e com muito mais força desde a aliança de Deus com Abraão, instrumento utilizado por Deus para, por meio daquele povo, ensinar ao mundo a saída do Reino da Morte. A questão é que Jó sequer teve acesso ao conhecimento decorrente da experiência de ter nascido e crescido como alguém pertencente à descendência de Abraão. A probabilidade maior é a de que Jó tenha sido, na realidade, um gentio. Podemos até mesmo dizer que há um consenso entre os estudiosos de que Jó era um gentio, ou seja, não pertencia ao povo de Israel. Sendo Jó um gentio, vivendo naquela época, o que podemos saber mais sobre a sua realidade espiritual? Quando lemos o que Paulo escreveu aos gentios em Efésios, 2:11- 12, se referindo à lei (lemos “alianças da promessa”), vemos que todos os que eram estranhos à lei, ou seja, os gentios, estavam mesmo sem esperança no mundo. Era o caso de Jó. Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. (Efésios, 2:11,12) Então, mais uma vez, vemos que Jó viveu a sua vida sem qualquer esperança, pois a morte reinava no mundo e Jó não estava coberto por nenhuma aliança, nem teve como aprender com nenhuma delas. Só para deixar claro, conforme você já deve ter notado, quando falamos da morte estamos nos referindo à Satanás. Muitas vezes, simplesmente tratamos os dois termos como sinônimos, ora utilizando um, ora outro. Como antes já vimos que o domínio do mundo havia sido dado a Satanás, então cremos que foi fácil para você concluir que a morte sobre a qual falamos aqui significa o Satanás. Caso você esteja buscando por mais evidências dessa correspondência, nossa sugestão é a que leia um trecho das escrituras do apóstolo João, no último dos livros da Bíblia: E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra. (Apocalipse, 6:8) A partirde agora, tudo o que foi mencionado até o momento parece fazer mais sentido! Satanás, a morte, sentado no cavalo amarelo e seguido pelo inferno, foi aquele que reinou da queda de Adão até Moisés, inclusive sobre os que não tinham pecado algum. Teria Deus oferecido Jó a Satanás? Diante de tudo o que aprendemos, o que podemos dizer sobre o que aconteceu a Jó? Será que Deus o traiu e o entregou à morte, ou seja, a Satanás? Note que já temos a compreensão de que o domínio sobre todas as coisas havia sido dado a Satanás pelo próprio homem. Sendo assim, Satanás já tinha domínio e legalidade sobre Jó, independentemente da possibilidade de Jó pecar ou não. Neste ponto, você pode questionar: “mesmo que fosse a morte que reinasse sobre todos, por que Deus havia de entregar o indefeso Jó a Satanás?”. Trata-se de uma questão muito comum. Isso ocorre porque, mesmo sabendo da realidade espiritual da época de Jó, há um verso que traz muitos problemas de entendimento, pois passa a falsa impressão de que Jó nem havia sido notado por Satanás, tendo sido o próprio Deus que o haveria oferecido às garras do mal. E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? (Jó, 1:8) Gostaríamos de pedir licença para repetir a pergunta: teria mesmo Deus oferecido Jó a Satanás? Vejamos. É importante notar que o questionamento que muitos têm provém do fato de, ao lermos o livro de Jó, identificarmos que o diálogo entre Deus e Satanás apresenta logo nas primeiras linhas uma pergunta que traz muitos problemas quanto ao correto entendimento. Vamos ver a passagem do livro de Jó à qual nos referimos. E num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor, e disse: De rodear a terra, e passear por ela. E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal. (Jó, 1:6-8) A falsa impressão se dá em razão de muitos equivocadamente entenderem que Satanás não estava sequer pensando em Jó, quando Deus, ao indagar “Observaste tu o meu servo Jó?” estaria chamando a atenção de Satanás para Jó. A correta interpretação desta passagem fica mais fácil em outras traduções. Traduções mais adequadas trazem o sentido de que Deus estava perguntando a Satanás se ele já estaria considerando Jó para lhe fazer algum mal. Conforme lemos na Bíblia, Deus pergunta a Satanás se ele estaria querendo fazer mal a Jó em razão de este ter tantas qualidades boas, de ser um homem de Deus, um homem íntegro. Assim, uma tradução mais adequada seria: “Tens tido pensamentos contra o meu servo Jó?”. Como sugestões de traduções bíblicas que trazem esta passagem de forma mais adequada, registramos a Tradução Literal Greens da Bíblia, a Tradução Literal Young’s da Bíblia, assim como a Nova Tradução Inglesa da Septuaginta, só para citar alguns exemplos. O importante é que não podemos nos esquecer de que o próprio Deus considerava Jó um homem íntegro e, desde aquele tempo, até os dias de hoje, Satanás sempre procura atacar os homens de Deus. O caso de Jó não era diferente quanto a isso. Também não é diferente a postura de Deus que podemos ver na citada passagem bíblica. Na realidade, Deus, identificando que Satanás estava com predisposição contra Jó, coloca-se em situação de interferir em favor de Jó, já que ele estava em perigo. Em outras palavras, vimos que Satanás já estava com Jó em mente para lhe fazer mal, tendo sido exatamente por isso que Deus inicou o diálogo com ele em favor de Jó. Mas, se é assim, por que, então, Deus não interferiu totalmente? Por que Deus permitiu que Satanás fizesse tudo o que fez com Jó, apenas determinando que não tocasse nele? Será que Deus foi injustamente mal com Jó? Vejamos. Vamos ler o verso que é responsável pelo incorreto entendimento de muitos de que Deus teria entregado Jó a Satanás. Falamos do que está escrito na primeira parte de Jó, 1:12. E disse o Senhor a Satanás: Eis que tudo quanto ele tem está na tua mão; somente contra ele não estendas a tua mão. (Jó, 1:12a) Nesta passagem, quando o Senhor disse a Satanás que ele poderia tocar em todos os bens de Jó, mas que não poderia tocar no próprio Jó, de forma equivocada muitos entendem que a Bíblia está dizendo que, mesmo que Deus não tivesse oferecido Jó a Satanás, pouco foi feito para protegê-lo. Recapitulando o que já aprendemos até aqui, sabemos que Deus não estava autorizando Satanás a fazer com que Jó sofresse. Na realidade, Deus apenas estava descrevendo uma realidade que Jó já vivia. Uma realidade, conforme vimos, em que o domínio do mundo havia sido dado a Satanás. Gostaríamos de deixar bastante claro este ponto, para que não reste dúvida alguma. Assim, repetimos que, quando Deus disse a Satanás, em Jó, 1:12, que tudo o que Jó tinha estava nas mãos de Satanás, a Bíblia não está descrevendo uma determinação de Deus para que isso passasse a acontecer. Na realidade, Deus estava apenas narrando a situação espiritual de Jó, que era esta mesma: tudo o que ele, ou qualquer outra pessoa naquela época tinha, pertenciam a Satanás, pois foi a morte que reinou livremente de Adão até Moisés (Romanos, 5:14), sendo ela uma alusão a Satanás (Apocalipse, 6:8). Diante de tal realidade, o que Deus fez em relação ao indefeso Jó foi limitar a ação de Satanás, quando disse que somente contra a vida dele é que Satanás não poderia estender a sua mão, conforme podemos observar em Jó, 1:12. Ou seja, Deus amava tanto a Jó que identificou a predisposição de Satanás contra ele (Jó, 1:8) e advertiu a Satanás para que não o tocasse (Jó, 1:12). Para tornar as coisas bem mais claras, vamos recapitular aqui o que aprendemos: Vimos que a realidade espiritual da época de Jó autorizava a Satanás fazer o que quisesse com ele. Apesar de Satanás ter legalidade para fazer o que quisesse com Jó, Deus identificou essa predisposição e agiu, limitando a ação de Satanás, ao dizer que a vida de Jó deveria ser poupada. É curioso as pessoas passarem a entender que Satanás tinha legalidade para fazer o que quisesse com Jó, e aí elas, às vezes, perguntam: “Se é assim, por que Satanás não teve legalidade para também matar Jó?”. Ou seja, se Satanás, diante da realidade espiritual da época, podia fazer o que quisesse com Jó, como Deus pôde validamente interferir naquele processo, limitando a ação de Satanás? Como Deus pôde interferir a favor de Jó sem que, com isso, desrespeitasse a realidade espiritual da época de Jó? Em outras palavras, será que Deus pode interferir na vida dos seus filhos? A resposta para a época de Jó, assim como para os dias atuais, é semelhante. Vejamos. Sim, Deus pode interferir na vida de seus filhos, mesmo que seus filhos tenham entregado a própria sorte nas mãos de Satanás. A questão, todavia, dependerá da abertura que os filhos derem para tal. Essa é uma realidade que ocorreu com Jó e que se aplica, inclusive, a nós hoje. Para melhor compreensão, vamos analisar o que o Apóstolo Paulo escreveu em sua Primeira Carta a Timóteo: Pois para isto trabalhamos e lutamos, porque temos posto a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, especialmente dos que creem. (I Timóteo, 4:10) Deus poderia legalmente ter interferido na vida de Jó, dependendo do quanto Jó houvesse possibilitado a Deus para que agisse. A moeda, aqui, é a fé, conforme vemos na passagem de 1 Timóteo, já que o apóstolo Paulo deixou bastante claro, ao dizer “especialmente para os que creem”, para os que têm fé. Independentemente da situação em que vivamos e da forma como aprendamos, se tivermos fé no poder do sangue conseguiremos manter Satanás afastado de nós. É isso, inclusive, o que nos diz o apóstolo Lucas, em seu Evangelho. Disse também o Senhor: Simão, Simão, eis que Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo; Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, confirma teus irmãos. (Lucas,22:31,32) Assim, embora Jó fosse gentio e mesmo que ele tivesse vivido antes da lei de Moisés, cujo aspecto cerimonial ensinava que as pessoas deviam liberar a sua fé, ou seja, no poder do sangue, ele ainda podia ter fé. Mas será que ele teve? Sabemos que para Jó ter fé não foi simples, de maneira que o importante é saber o quanto Jó creu e teve fé, mesmo diante das dificuldades decorrentes de quem ele era e do tempo em que viveu, para que possamos saber até onde Deus poderia legalmente agir. Jó realmente creu como deveria? O primeiro ponto a notar é ser indiscutível o fato de que Jó oferecia sacrifícios ao Senhor. Aliás, em Jó, 1:5 podemos observar a comprovação de que Jó oferecia holocaustos a Deus. Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente. (Jó, 1:5) Neste ponto, entramos em uma questão bastante importante: se Jó fazia sacrifícios a Deus, então é claro que ele tinha fé? A resposta é negativa, pois é preciso analisar o coração dele. Em outras palavras, a chave para entender esta delicada questão é não levar em consideração se Jó fazia ofertas ao Senhor, mas sim considerar o que se passava no coração dele enquanto fazia tais ofertas. Mas como saber isso? Ora, pelo que a Bíblia nos diz. De fato, há outra passagem do livro de Jó que nos dá uma indicação do que realmente se passava no coração de Jó. Vejamos: Aquilo que temo me sobrevém; e o que receio me acontece. (Jó, 3:25) O fato é que, apesar de Jó ter se empenhado em preparar os holocaustos para Deus, ele tinha medo. Mas o que é ter medo? No caso de Jó, ter medo é simplesmente não crer efetivamente no poder do sacrifício, que foi substituído pela cruz. Conforme já falamos, antigamente, pelo fato de Jesus ainda não ter se entregado como sacrifício perfeito na cruz para salvar a humanidade, o sacrifício de animais era o que estabelecia a ligação do homem com Deus. Hoje, os cristãos precisam acreditar veementemente no sacrifício da cruz. Da mesma forma, era importante, na época de Jó, que as pessoas cressem no poder do holocausto e do sacrifício. Porém, de acordo com o que lemos na passagem de Jó, 3:25, ele não cria genuinamente. A dúvida escondida no coração de Jó o entregou a toda sorte de padecimentos físico e material. O medo é o contrário da fé Se há algo de ruim que pode nos acontecer é sentir medo, pois o medo é o contrário da fé. Jó temia! Mas como ele poderia temer, se já havia feito holocausto e sacrifício? Crença genuína no poder redentivo do sacrifício e medo são dois sentimentos inconciliáveis. Em resumo, mesmo que Jó oferecesse sacrifícios regulares pelos seus filhos, ele negou a eficácia do sangue em razão da ausência de fé no poder protetivo deste mesmo sangue. É a mesma lógica presente até os dias de hoje, de forma belíssima explicada pelo autor de Hebreus: Visto, pois que os filhos possuem participação da carne e do sangue, deste igualmente, ele participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, E livrasse todos os que, pelo pavor da morte, estavam à escravidão por toda a vida. Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. (Hebreus 2:14-16) Para que o tema fique mais claro, gostaríamos de falar um pouco mais sobre a questão do sacrifício, pois foi o ponto principal em que Jó errou, não crendo verdadeiramente no poder da oblação. O medo paralisa e o sacrifício liberta Vejamos como a questão do sacrifício se inicia na Bíblia. Para isso, vamos lá para a história do primeiro homem: Adão. Fez o Senhor vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. (Gênesis 3:21) Deus vestiu os homens com peles de animais. Isso significa que, pela primeira vez, houve sacrifício a fim de que o homem fosse protegido. Em outras palavras, quando Deus fez vestimentas, túnicas, para Adão e Eva, Ele instituiu o sacrifício de sangue como meio de expiação do pecado e retardamento do seu julgamento, que é a morte. Antes de vir à Terra como carpinteiro, Deus passou por aqui como alfaiate para iniciar o seu plano redentivo no mesmo dia em que o homem se afastou dele. Deus nunca nos abandona, não é mesmo? O fato importante é que, para extrair a pele do animal, Deus precisou matá-lo, afinal o salário do pecado é a morte, conforme lemos em Romanos, 6:23. E, ao fazê-lo, derramou sangue. Perceba a semelhança desse tipo de sacrifício com o de Jesus na cruz. Jesus é chamado Cordeiro de Deus, foi morto, em sacrifício pela humanidade, e derramou sangue ao ser crucificado. A dicotomia da fé de Jó Tomais, pois, sete novilhos e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós. O meu servo Jó orará por vós; porque dele aceitarei intercessão, para que eu não vos trate segundo a vossa loucura; porque vós não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó. (Jó 42:8) Jó fazia sacrifícios, mas não cria, pois proferia palavras contrárias ao poder do sangue do sacrifício. Será que muitas pessoas, hoje, não estão proferindo palavras contrárias à fé que dizem professar? Sim, isso se aplica aos dias atuais. Afinal, de que adianta o sacrifício se nós não o vivenciarmos verdadeiramente? De que adianta dizermos ter fé em Cristo se nossas ações não forem correspondentes? As nossas ações, neste caso, denunciariam que não temos verdadeira fé, porque a fé deve gerar uma ação correspondente. O testemunho de Jó simplesmente destruiu o poder do sangue e da mesma forma pode acontecer conosco. Afinal, a legalidade de sacrifícios e de palavras é um tema central da Bíblia, que tem a ver com alianças. No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor. (I João 4:18) Já aprendemos que o medo é contrário à fé. Em outras palavras, ainda que Jó oferecesse regularmente sacrifícios em favor de seus filhos, ele acabou com a eficácia daquele sacrifício ao proferir palavras de medo. Também é interessante notar que Jó não está na galeria de heróis da fé de Hebreus 11. Conclusão Apesar de Jó ter fracassado na crença do poder do sacrifício, após passar pelas dificuldades ele creu em algo que era mais importante: a vinda do Redentor. Não podemos nos esquecer de que Jó sabia do Redentor, pois ele já havia sido prometido em Gênesis, 3:15 e, portanto, a sua vinda era conhecida por todos os homens de Deus, desde Adão. Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. (Gênesis 3:15) A salvação daqueles que vieram antes de Cristo se dava pela crença naquele que viria, como hoje se dá pela crença naquele que já veio. Por que me perseguis assim como Deus, e da minha carne não vos fartais? Quem me dera agora, que as minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro! E que, com pena de ferro, e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha. Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. (Jó 19:22-25) Somente após declarar que seu Redentor estava vivo, e Deus ter constatado a fé absoluta de Jó ao dizer tais palavras, é que a história de Jó foi mudada. A partir do momento em que declarou acreditar e de ter demonstrado fé em seu Redentor, Jó deu abertura para o milagre acontecer. Além disso, Deus também percebeu que, enquanto passava pelo sofrimento, o entendimento de Jó quanto à fé mudava positivamente, pois ele orava por outras pessoas, realmente acreditando que suas orações chegariam a Deus. Quando passamos a ter esse tipo de conduta, Deus age em nosso favor, e quando Ele interfere no curso da vida de seus filhos ninguém mais pode impedir a fluidez dos acontecimentos. Ninguém! Ore para que as pessoas alcancem o entendimento da mensagem do livro de Jó, poisseu conteúdo é a expressão máxima do amor de Deus pela humanidade. Deus se utiliza da legalidade do mundo para agir fortemente, vigorosamente em nossas vidas, desde que demos abertura para isso. Deus está pronto para atuar em nossas vidas e nos restituir tudo o que perdemos. Ele está pronto para propiciar a salvação, de modo que possamos vivenciar a alegria ao seu lado na eternidade. Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. (João 1:5) Basta dizer que queremos. Jesus foi crucificado ao lado de dois ladrões. Um deles declarou que queria ser salvo e, o outro, não. A crença e a declaração determinaram a salvação daquele ladrão, porque mais tarde ele foi para a glória com Jesus Cristo. Portanto, acredite que Deus é bom, e jamais duvide disso. O livro de Jó nos ensina, na realidade, que Deus nunca abandonou Jó e que agiu para que ele não fosse entregue à morte. Deus pode fazer o mesmo conosco. Basta que queiramos. Oração Poderoso Deus, Estou aqui, em sua presença, para agradecer a oportunidade de entender a sua Palavra. Por mais que as passagens bíblicas sejam difíceis de compreender, ainda assim, acredito em sua bondade. Perdoe-me se, alguma vez, levado pelo medo, duvidei de seu poder. A partir de hoje, quero ter a fé mais pura e profunda. Quero aproximar-me do Senhor, a cada dia, vivendo pela fé. Em nome de Jesus, amém! Conheça o Faith.College Quem somos O Faith.College é o órgão responsável pela área da Educação do MDFé – Ministério Internacional Defesa da Fé. Visão Treinar o ser humano em suas dimensões física, mental e espiritual para o pleno conhecimento da verdade. Missão Planejar e executar a política de ensino do Ministério Internacional Defesa da Fé, por meio do oferecimento de cursos nas modalidades presencial e online nas mais diversas áreas do conhecimento, sempre levando em consideração as interrelações dessas áreas com as razões históricas, científicas, filosóficas e espirituais para se seguir Jesus Cristo. Valores Ética e respeito, dedicação ao trabalho, excelência no estudo, qualidade de vida espiritual, priorização da família. Crenças Cremos no único e verdadeiro Deus, manifestado no Pai, no Filho e no Espírito Santo; Cremos na Bíblia como Palavra infalível de Deus; Cremos na salvação pela graça por meio da fé no nosso Senhor Jesus Cristo; Cremos na ressurreição de Jesus como fundamento histórico de nossa fé em Cristo; Cremos no crescimento pessoal em Deus como fundamento espiritual de nossa Fé; Cremos na razão como fundamento intelectual de nossa fé; Cremos na ajuda e consolação do Espírito Santo de Deus; Cremos nas conquistas para todos os cristãos obtidas pelo sacrifício de Jesus na cruz; Cremos no novo nascimento como condição necessária à vida eterna com Deus. Contato Ministério Defesa da Fé - Faith.College Rua Sgt. 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Esposa submissa nos dias de hoje? O cristão deve deixar seu filho celebrar o Halloween? O cristão pode se divorciar e, depois, se casar de novo? Quem comete suicídio vai para o inferno? Por onde e em que tradução devo começar a ler a Bíblia? Por que não há perdão para quem peca contra o Espírito Santo? Um policial, ao matar em serviço, comete pecado? Você também quer o Estado laico? Enfim, o livro é um instrumento para que o amor do cristão possa crescer em ciência e em conhecimento, sendo aplicado na prática na vida cotidiana, para que verdadeiramente possamos ser capazes de discernir o que provém de Deus, a fim de que sejamos puros, inculpáveis e sem escândalo algum, até o dia de Cristo. editora@defesadafe.org www.defesadafe.org Mantenha-se em contato conosco MDFé - Ministério Defesa da Fé WebSite - MDFé: www.defesadafe.org mailto:editora@defesadafe.org http://www.defesadafe.org http://www.defesadafe.org WebSite - Faith.College: www.faith.college Facebook: www.fb.com/defesadafe.org YouTube: www.youtube.com/defesadafeTV Tassos Lycurgo Site Acadêmico: www.lycurgo.org Facebook: www.fb.com/tassos.lycurgo Instagram: www.instagram.com/tassos.lycurgo http://www.faith.college http://www.fb.com/defesadafe.org http://www.youtube.com/defesadafeTV http://www.lycurgo.org http://www.fb.com/tassos.lycurgo http://www.instagram.com/tassos.lycurgo Introdução Quem era Jó? O mundo em que Jó viveu Deus criou o homem à sua imagem e semelhança Deus deu o domínio sobre tudo o que Ele criou para o homem O homem entregou todo o domínio a Satanás O ponto central Teria Deus oferecido Jó a Satanás? Jó realmente creu como deveria? O medo é o contrário da fé O medo paralisa e o sacrifício liberta A dicotomia da fé de Jó Conclusão Oração