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Thiago Coelho (@taj_studies) CADERNO – DIREITO ADMINISTRATIVO III/ LUCIANO CHAVES (2024.1) AULA 01 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 1. Noções gerais: “Quem tem um porquê enfrenta qualquer como” – Viktor Frankl Um dos primeiros tópicos a serem trabalhados na disciplina trata-se da responsabilidade civil do Estado, de modo que fenômenos como o apagão do ano passado serão discutidos. O Direito Administrativo se faz presente no nosso dia-dia, seja no fornecimento de energia elétrica e de água, seja na aplicação de multas administrativas, seja na obediência a normas de trânsito ou no andar de ônibus/Uber/táxi/metrô. Para Luciano Chaves, parafraseando Lênio Streck, o povo brasileiro apresenta baixíssima constitucionalidade, tendo em vista que pouco se conhece sobre a Constituição. Seja pelo desinteresse ou pelo não oferecimento da disciplina de Direito Constitucional em outros cursos, ainda que fora das Ciências Humanas, a população brasileira, no geral, carece de consciência política, bem como da ciência de seus direitos e deveres. 2. Apresentação da disciplina: Avaliações: 17/04 (AV1) e 05/06 (AV2); Conteúdos: Responsabilidade Civil do Estado, Bens Públicos, Intervenção do Estado na propriedade e Controle da Adm. Pública; Referências bibliográficas: Felipe Peixoto Braga Netto, Celso Antônio Bandeira de Mello... (opcional); AULA 02 – A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO (CONSIDERAÇÕES GERAIS) 1. Considerações gerais: Ao estudar Responsabilidade Civil no semestre anterior, foram tecidos comentários acerca da Teoria Geral da Responsabilidade Civil e comentários breves acerca da Responsabilidade Civil do Estado. A Responsabilidade Civil do Estado apresenta correspondência em um capítulo da Constituição Federal, não existindo um diploma que verse especificamente sobre o tema. Thiago Coelho (@taj_studies) É um tema de ordem jurisprudencial e doutrinária, justamente por conta da carência de dispositivos legais aprofundados, e que evolui significativamente com o passar do tempo. Há autores que apontam para a necessidade de considerar o tema uma nova disciplina: “Direito dos Danos”. O Estado pode provocar danos a particulares no exercício das suas atividades, ensejando a sua responsabilidade civil. Não se pode confundir a Responsabilidade Civil contratual e extracontratual. A primeira é oriunda do descumprimento de pactos pré-concebidos pela Adm. Pública (contratos administrativos) e a segunda, a qual nos interessa, se pauta em um dano causado a indivíduos não ligados por uma relação obrigacional (contrato). Como estudado em Responsabilidade Civil, a prescrição para pleitear a RC contratual é de 10 anos, enquanto que a extracontratual, de 3 anos. O ilícito não é pressuposto da responsabilidade civil. Lógico que o ilícito pode gerar a responsabilidade civil, como no caso de um policial que realiza uma busca e apreensão sem ordem judicial ou impõe o uso indevido de algemas, entretanto, a prática de atos lícitos pode gerar danos a serem reparados. Súmula vinculante 11 – STF: Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Não se cogita, em um Estado Democrático de Direito, a não responsabilização do Estado por danos gerados a terceiros, mas houve uma longa evolução até essa constatação. 2. Evolução da Responsabilidade do Estado: A Teoria que é efetivamente aceita atualmente e implica na Responsabilidade Civil do Estado é a Teoria do Risco, mas nem sempre foi assim. Vejamos a evolução histórica: Irresponsabilidade do Estado: Durante muito tempo, sobretudo nos regimes absolutistas, o Estado não se responsabilizava por danos que pudesse causar a terceiros, de modo a não se falar em uma Responsabilidade Civil do Estado. A figura do rei se confundia com a própria figura do Estado (vide a famosa frase “O Estado sou eu”, atribuída a Luís XIV). O monarca possuía incontestável poder e autoridade sobre os súditos e a sua vontade prevalecia contra tudo e contra todos (Estado pessoal e absolutista). Acreditava-se na ideia de que o rei não errava e, consequentemente, o Estado; Responsabilidade com culpa civil do Estado: No final do século XVIII, com a consolidação de regimes democráticos, cai por terra a ideia de que o Estado não erra. A primeira teoria da Responsabilidade Civil do Estado surgiu com os mesmos ideais Thiago Coelho (@taj_studies) civilistas, lastreando-se na culpa civil, personalizada na figura do agente causador do dano. Quando o sujeito demonstrasse que o agente causador do dano agiu com vontade de causar o dano ou por negligência, imprudência ou imperícia, o Estado era responsabilizado civilmente. Em suma, RC do Estado = Identificar o sujeito causador do dano + qualificar a sua conduta; Teoria da culpa administrativa – ou culpa do serviço: O Direito Administrativo se consolidou como uma ciência autônoma no século XIX. A teoria anterior era insuficiente, sendo evidente a necessidade de outra teoria. O Brasil incorporou da França a Teoria da Culpa Administrativa, uma das teorias publicistas. Como ainda se fala em culpa, tem-se, ainda, uma responsabilidade civil subjetiva, no entanto, não é mais uma culpa civil, mas uma culpa administrativa (“culpa do serviço” ou “falha do serviço”). A vítima comprovava a culpa administrativa através das seguintes hipóteses: (I) não prestação do serviço, (II) mau funcionamento do serviço ou (III) atraso no funcionamento do serviço. A culpa do serviço é denominada pela doutrina de “culpa anônima”, devido à desnecessidade de se personificar o agente causador do dano (servidor público). Em síntese, é uma teoria ainda subjetiva, mas que facilita a demonstração da culpa. o Ex (I): A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Ninguém da prefeitura apareceu. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – não funcionamento; o Ex (II): A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Meia hora depois da notificação, agentes da prefeitura estavam isolando a área. A área foi liberada ainda com óleo na pista, em quantidade suficiente para ainda gerar colisões e danos. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – mau funcionamento; o Ex (III): A prefeitura foi notificada cinco minutos depois do derramamento de óleo na Av. Paralela (via pública). Carros começaram a derrapar e colidir, gerando danos a particulares. Os primeiros agentes só começaram a chegar duas horas depois, razão pela qual danos significativos aconteceram. Haverá a Responsabilidade Civil do Estado – funcionamento atrasado; Próxima aula: Teoria do Risco (o caso “Agnes Blanco” – 1873); Teoria do Estado como garantidor dos direitos fundamentais (nova fase); AULA 03 – A RESPONSABILIDADE DO ESTADO Thiago Coelho (@taj_studies) 1. A Responsabilidade do Estado (evolução histórica) – continuação: Nem sempre se entendeu que o Estado responde na forma que responde atualmente (teoria do risco), ainda que poucos autores já sinalizem a existência de uma nova teoria – a Teoria do Estado como garantidor dos direitos fundamentais. Durante os regimes absolutistas, vigorava a lógica de que o rei não erra e, consequentemente o Estado, afastando-se qualquer responsabilidade deste por danos causados aos civis. No final do século XVIII, incorpora-se a culpa doregime civilista para responsabilizar o Estado (responsabilidade subjetiva), de tal sorte que se identificava a conduta do agente e examinava a sua culpa. Depois emergem as teorias publicistas, com destaque para a Teoria da Culpa Administrativa ou Teoria da Falha do Serviço. Esta teoria, embora ainda subjetiva, foi importante para apontar a necessidade de se apurar a falha na gestão, seja pela não prestação do serviço, mau funcionamento ou atraso do serviço. Continuemos o recorte histórico feito na aula passada: Teoria do Risco (o caso “Agnes Blanco” – 1873): Responsabilidade objetiva do Estado. Não se discute mais culpa do Estado (agente público), restando a conduta, o dano e o nexo de causalidade como pressupostos da responsabilidade. Consolidou-se a ideia de que a atividade administrativa, por si só, gera risco, o que é explicitado na organização e realização de eventos de grande porte, como o Carnaval. A lógica da atividade estatal se relaciona com a responsabilidade objetiva do fornecedor no Direito do Consumidor. Essa teoria foi expressa no Brasil na Constituição de 1946. Foi somente no século XIX, na França, que se passou a responsabilizar o Estado, a partir do caso marcante envolvendo Agnès Blanco. Recordando... em 1871, a garota Agnès Blanco, de apenas cinco anos, foi atropelada por um vagão da Companhia Nacional da Manufatura do Tabaco, uma empresa pública, em Bordeaux (FRA). Os pais da garota levaram o caso ao Judiciário, se tornando um Leading case – como a atividade de transportar tabaco é de risco, o Estado deveria assumir os seus riscos e, por conseguinte, responsabilizado in concreto. Uma parcela da doutrina divide a Teoria do Risco em Risco Integral e o Risco Administrativo. A primeira não admite o Estado se eximir da responsabilidade alegando causas de exclusão de responsabilidade (fato exclusivo da vítima ou de terceiro, caso fortuito, força maior...). Obviamente, a mais aceita é a Teoria do Risco Administrativo, a qual admite as excludentes de responsabilidade, se coadunando com a sistemática da responsabilidade civil atual; Teoria do Estado como garantidor dos direitos fundamentais: Mesmo que o Estado não provoque um dano, pode ser responsabilizado pela inércia no que tange às garantias e aos direitos fundamentais. Embora seja importante para a garantia dos direitos fundamentais, é muito abstrata. É inimaginável – pelo menos na realidade Thiago Coelho (@taj_studies) vigente – responsabilizar o Estado quando este não consegue concretizar os direitos fundamentais dos cidadãos. AULA 04 – RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO DIREITO BRASILEIRO 1. Responsabilidade do Estado no Direito Brasileiro: O Estado Brasileiro sempre foi um Estado que se responsabilizou pelos seus atos, no entanto, a Teoria do Risco só foi recepcionada pela CF de 1946, dando início à responsabilidade objetiva. Hoje, continua vigendo a responsabilidade objetiva do Estado Brasileiro. Vejamos o art. 37, § 6º da CF/88: Art. 37, § 6º - CF: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. A partir do dispositivo supratranscrito, a doutrina e a jurisprudência sobre o tema se consolidaram. A menção ao dolo e à culpa só é feita no final do artigo, a fim de que o Estado possa se valer desse argumento para exercer o direito de regresso contra o causador do dano (geralmente o servidor público). Quanto à responsabilidade das entidades prestadoras de serviços públicos, as prestadoras de serviço público só se responsabilizavam, outrora, na relação fornecedor-usuário. Quando há interrupções abruptas do serviço de energia elétrica e se provoca danos (danifica um eletrodoméstico ou a placa de um computador, por exemplo), o cidadão tem o direito de cobrar da empresa privada o ressarcimento do dano. A COELBA geralmente paga tranquilamente, sem intervenção judicial, mas exigindo o laudo que comprove o nexo de causalidade entre a queda de energia e o dano. A jurisprudência mudou no início dos anos 2000, principalmente por meio do RE 591874 (overruling – mudança de entendimento no STF). Havia uma concessionária que realizava transporte público interestadual e, certo dia, o motorista perdeu a direção do veículo, vindo a atropelar um ciclista, pessoas em um ponto de ônibus e os pedestres. Antes se entendia haver duas responsabilidades – uma em relação aos usuários (objetiva) e aos não usuários (subjetiva), entretanto, como os danos foram ocasionados pelo mesmo fato, se entendeu que ambas as responsabilidades seriam objetivas. Consolidou-se, destarte, que a responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não usuários do serviço, segundo decorre do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. No que tange ao agente público que vier a causar dano ao cidadão, é imprescindível que o agente esteja no pleno exercício das suas funções para que o Estado se responsabilize. Um Thiago Coelho (@taj_studies) policial, de folga, em um estádio de futebol, que atira contra um civil responde pessoalmente pelos danos que ele provocou, não cabendo a responsabilidade do Estado. O Min. Ayres Britto, decidiu que se o policial autor, por exemplo, de um disparo, não se encontrava na qualidade de agente público, não poderá haver responsabilidade civil do Estado. O art. 37, § 6º da CF disciplina duas relações jurídicas de responsabilidade: Estado-vítima (responsabilidade objetiva) e agente público-Estado (responsabilidade subjetiva, pois o Estado só consegue responsabilizar o agente caso comprove que este agiu com dolo/culpa). AULA 05 – RESPONSABILIDADE POR AÇÃO E POR OMISSÃO DO ESTADO 1. A responsabilidade por ação e omissão: A vítima precisa comprovar o comportamento estatal, o dano e o nexo de causalidade – como regra, é desnecessária a demonstração de culpa do agente causador do dano. A doutrina dividiu o primeiro comportamento, classificando-o como comissivo ou omissivo. A doutrina, interpretando a legislação constituinte, entendeu que somente a conduta comissiva do Estado gera a responsabilidade objetiva. Quando o Estado se omitir, entende- se atualmente que a sua responsabilidade é subjetiva, lastreada não mais na teoria do risco, mas na teoria da culpa administrativa, também conhecida como culpa anônima (falha do serviço e não a culpa do agente causador do dano) – ou seja, o serviço não funcionou, funcionou mal ou funcionou atrasado. Ademais, a ilicitude não é pressuposto da responsabilidade civil, de modo que o Estado pode ser responsabilizado também por causar danos a civis através da prática de atos lícitos. Ainda que tenha obedecido a todas as regras de segurança em uma obra pública, é possível que o Estado gere danos a terceiros, como a desvalorização imobiliária, por exemplo. Entretanto, por um juízo lógico, é mais fácil de o Estado ser responsabilizado nos atos ilícitos, tal como uma busca e apreensão sem prévia autorização judicial ou o uso indevido de algemas. No que concerne à obra pública executada por terceiros, uma vez concluída, a responsabilidade é sempre do Estado, possível este exercer, no caso de culpa do terceiro, o direito de regresso. Não se deve conceber ao Estado, no entanto, o papel de garantidor universal. Vale ressaltar que a omissão que gera a responsabilidade do Estado é aquela omissão relevante/qualificada, tal com a omissão do Estado diante de assaltos sucessivos durante a noite em um mesmo bairro. As pessoas que dirigem alcoolizadas e causam danos a outros veículos, como regra, arcam com tal prejuízo. Na visão de um segurador universal, o Estado permitiu que pessoas dirijam Thiago Coelho (@taj_studies)bêbados ao se omitir na fiscalização do trânsito – o que não soa razoável. Se um cidadão bêbado no volante foi parado em uma blitz, mas o policial não apreendeu o veículo e o sujeito continuou a dirigir embriagado, se envolvendo em um acidente. Nessas circunstâncias, ao passar na blitz do Estado embriagado, há uma omissão qualificada/relevante, se tornando mais plausível se sustentar a responsabilidade do Estado. Nem todo buraco que abra em uma via pública gera a responsabilidade do Estado, diante da impossibilidade fática de se prever e agir de imediato na restauração do asfalto. Após um período significativo decorrido da falha no solo (anos, por exemplo), é possível cogitar a responsabilidade do Estado. Para Guilherme Castro, a omissão pode ser genérica ou específica. A omissão genérica gera responsabilidade subjetiva; a omissão específica se associa a uma não observância de determinado dever de tutela assumido pelo Estado, de modo que gera a responsabilidade objetiva. Destarte, a doutrina e a jurisprudência têm admitido a responsabilidade objetiva do Estado em atos omissivos, quando a omissão é específica. A título exemplificativo pode- se citar o dever de tutela do Estado para com a integridade física dos presos, dos pacientes e dos alunos em penitenciárias, hospitais públicos e escolas públicas. AULA 06 – HIPÓTESES DE RESPONSABILIDADE OBJETIVA CALCADA NO RISCO INTEGRAL 1. A Responsabilidade do Estado por omissão: Para Guilherme Castro, a omissão pode ser genérica ou específica. A omissão genérica gera responsabilidade subjetiva; a omissão específica se associa a uma não observância de determinado dever de tutela assumido pelo Estado, de modo que gera a responsabilidade objetiva. Destarte, a doutrina e a jurisprudência têm admitido a responsabilidade objetiva do Estado em atos omissivos, quando a omissão é específica. A título exemplificativo pode- se citar o dever de tutela do Estado para com a integridade física dos presos, dos pacientes e dos alunos em penitenciárias, hospitais públicos e escolas públicas. Quando o Estado deveria agir e não o faz, ter-se-á uma omissão genérica. Nessa hipótese, o Estado responde subjetivamente, devendo a vítima comprovar a culpa administrativa (falha do serviço), isto é, que o serviço não funcionou, que funcionou atrasado ou que funcionou mal. Ratifica-se que não é a culpa do agente causador do dano (teoria civilista), já que tal paradigma foi superado a partir do avanço das teorias publicistas. A omissão estatal – seja genérica ou específica – precisa ser relevante. A omissão estatal genérica precisa ser relevante e qualificada para gerar a responsabilidade subjetiva. A mera falta de fiscalização de motoristas dirigindo alcoolizados, por si só, não gera a Thiago Coelho (@taj_studies) responsabilidade do Estado. Por outro lado, caso acidentes ocorram reiteradamente em virtude de motoristas dirigindo alcoolizados em determinado bairro é mais fácil sustentar a responsabilidade do Estado. A periodicidade e a duração é um parâmetro objetivo interessante para qualificar a omissão – como no caso de assaltos habituais em determinada localidade ou um buraco que permanece por bastante tempo. No caso de um assalto em um bairro pouco frequentado dificilmente vai gerar a responsabilidade do Estado, diferentemente de um assalto que ocorre a poucos metros de uma guarnição policial. No que diz respeito à omissão específica, como já visto, a responsabilidade é objetiva. O Estado tem o dever, por exemplo, de preservar a saúde das pessoas em hospitais públicos, ainda que criminosos. Se um rival do paciente entra no hospital e o mata, o Estado responde objetivamente em virtude de uma omissão específica. Eis a razão pelo controle mais rigoroso e eficiente em repartições públicas. A Transalvador, se ao rebocar um veículo, vier a causar danos ao veículo do proprietário. Neste caso há uma omissão específica pois o Estado assume o dever de tutela, vindo a responder objetivamente. Imagine a seguinte situação hipotética: Eduardo recebeu um tiro e foi levado a um hospital público. Ele recebeu o socorro médico e permaneceu internado no local com quadro estável. No dia seguinte, uma pessoa não identificada – talvez a mesma que tentou ceifar sua vida no dia anterior – entrou no quarto onde Eduardo estava internado no hospital e efetuou quatro disparos contra a vítima, que faleceu no local. O homicida fugiu sem ser capturado. Regina, mãe de Eduardo, ajuizou ação de indenização contra o Estado pedindo indenização por danos morais e materiais em decorrência do homicídio de seu filho ocorrido no interior do hospital público. Argumentou que cabia ao Estado zelar pelos pacientes internos e que a morte só ocorreu em razão da inexistência de vigilância e cuidados mínimos de segurança por parte da instituição, já que não existia portaria ou funcionário responsável para observar a entrada e a saída de pessoas do hospital. Assim, segundo a requerente, estaria demonstrado o nexo causal entre a conduta do Estado e o evento danoso. O Estado contestou o pedido, alegando a inexistência de nexo causal, pois a situação era imprevisível. Argumentou que não cometeu ato ilícito e o evento se deu por fato exclusivo de terceiro, o que rompe o nexo causal. Requereu que os pedidos fossem julgados improcedentes. Para o STJ, o Estado tem responsabilidade civil neste caso? SIM. O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança, contribuindo de forma determinante e específica para homicídio praticado em suas dependências, responde objetivamente pela conduta omissiva. STJ. 2ª Turma. REsp 1.708.325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/05/2022 (Info 740) (Fonte: Dizer o Direito). Existem dois tipos de risco: o integral e o administrativo, sendo que este admite a incidência de excludentes de responsabilidade. Como regra, é adotada pelo ordenamento jurídico pátrio a Teoria do Risco Administrativo. Entretanto, por força de normas específicas, a responsabilidade objetiva será lastreada no risco integral em dois casos: Thiago Coelho (@taj_studies) Danos nucleares: A União responde, independentemente de culpa, pelos danos nucleares, tanto por comportamentos comissivos quanto por omissivos. A doutrina é pacífica ao interpretar o art. 21, XXIII, “d”, da CF em consonância com a Teoria do Risco Integral. Art. 21 – CF: Compete à União: XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006) Danos provocados por atentados terroristas (Lei nº 10.744/2003): Também não é possível alegar causas de excludente de responsabilidade nesse dano causado à população. O ataque ao WTC em 11 de setembro de 2001 alertou a sociedade mundial para a necessidade de se proteger os cidadãos. Destarte, a União responderá sempre. OBS: O dano para ser indenizável precisa ser jurídico, ou seja, quando houver lesão a direito. Pode-se até ter uma conduta, um dano e um nexo, mas se o dano não for jurídico, não haverá o dever de indenizar. Ex: A alteração do local do campus de uma universidade pode gerar danos a um restaurante devido à queda das receitas, mas isso não gera o dever de indenizar. Referências: https://www.dizerodireito.com.br/2022/08/uma-pessoa-entrou-em-um- hospital.html AULA 07 – EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO ESTADO 1. Excludentes de responsabilidade do Estado: Caso haja causa exclusiva, o Estado não responderá em relação ao evento danoso. Por outro lado, na hipótese de culpa concorrente, haverá apenas umamitigação ou redução na responsabilidade. A doutrina e a jurisprudência apontam quatro espécies de causas excludentes que o Estado pode se valer para ser isentado de responsabilidade: https://www.dizerodireito.com.br/2022/08/uma-pessoa-entrou-em-um-hospital.html https://www.dizerodireito.com.br/2022/08/uma-pessoa-entrou-em-um-hospital.html Thiago Coelho (@taj_studies) Culpa exclusiva da vítima: O dano não foi provocado por um comportamento estatal, mas por um comportamento da própria vítima. Observa-se que tal fato precisa ser exclusivo da vítima. Se o cidadão dirige na contramão ou no sinal vermelho e colide com um veículo pertencente à Administração Pública, não haverá responsabilidade estatal; caso ambos tivessem concorrido para o evento danoso (na hipótese de, por exemplo, o veículo da Adm. Pública estar em uma velocidade de 300 km/h), haverá apenas uma mitigação ou redução na responsabilidade estatal (cada um responderá de acordo com o seu quinhão); Fato de terceiros: Um terceiro é o responsável direto e responderá pelo dano causado à vítima. Assalto é um fato de terceiro que tende a excluir a responsabilidade do Estado. A depender do caso concreto pode-se lastrear a responsabilidade estatal na omissão (no caso da falta de segurança em um bairro que sofre periodicamente com assaltos). Ex: Uma pessoa oferece um alimento contendo substância entorpecente e a outra aceita, vindo a dormir no ônibus. Enquanto dormia, o ofertante furtou a bolsa do passageiro. A vítima não faz jus, consoante o STJ, à indenização pela concessionária. Caso fortuito: A guerra é comportamento humano – homens que se matam – e que pode gerar danos à população. O Estado não pode alegar guerra para excluir a sua responsabilidade. A doutrina costuma distinguir o fortuito interno e o fortuito externo. Nessa seara, somente gera a exclusão da responsabilidade do Estado o caso fortuito externo, isto é, circunstância alheia à atividade-fim do Estado. Força maior: Geralmente a doutrina aponta para a origem da natureza. O Estado, durante a pandemia da Covid-19, esteve amparado para restringir a liberdade das pessoas e dos estabelecimentos, a fim de salvaguardar a saúde da coletividade e evitar uma crise ainda maior; OBS: Concausas atribuídas ao Estado desqualificam as excludentes de responsabilidade. As concausas em questão são causas paralelas atribuídas ao Estado e que evitam a incidência das excludentes de sua responsabilidade. Imaginemos que, durante uma chuva muito forte (200mm em 1h de chuva – força maior), um volume de água se acumulou em uma única rua da cidade, vindo a causar danos a veículos. Se naquela rua os bueiros estiverem entupidos, provando os moradores esse fato, por meio de fotografias ou notificações prévias à prefeitura acerca da situação, por exemplo, é possível a configuração de uma causa paralela atribuída ao Estado que culmina na sua responsabilidade. AULA 08 – DIREITO DE REGRESSO Thiago Coelho (@taj_studies) 1. Direito de regresso: Pressupostos: A CF/88 inovou no art. 37, § 6º ao permitir ao ente administrativo cobrar ao agente causador do dano aquilo que se pagou à vítima do dano. São dois os pressupostos do direito de regresso: dolo/culpa do agente causador do dano + configuração do efetivo prejuízo (só se o Estado pagou a vítima), cumulativamente. Art. 37, § 6º - CF: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (Im)possibilidade de acionar diretamente o causador do dano: Trata-se de um tema polêmico e, em virtude de ausência de dispositivos legais, é contemplado de forma mais precisa pela doutrina e pela jurisprudência. A partir de 2006, o STF, através do Min. Ayres Britto, consolidou o entendimento de que a vítima do dano deve acionar o Estado para que este, sim, venha a exercer o seu direito de regresso, caso cabível, contra o agente causador do dano. Em síntese, predomina a impossibilidade de a vítima acionar diretamente o causador do dano. (Im)possibilidade de denunciação da lide: Predomina o entendimento doutrino-jurisprudencial da impossibilidade de denunciação à lide, tendo em vista a impossibilidade de a vítima acionar diretamente o causador do dano. Entretanto, aquele magistrado que a permite, estará amparado nos princípios da proporcionalidade, razoabilidade, celeridade e duração razoável do processo. Prazo de prescrição: Art. 37, § 5º - CPC: A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. Conforme se extrai do dispositivo acima, o direito de regresso inerente ao Estado é imprescritível. Obrigatoriedade na propositura: Thiago Coelho (@taj_studies) Trata-se de um poder-dever da Administração. Não se pode exercer o direito ou renunciar contra determinado servidor em razão de afinidade, amizade ou inimizade. Norteia tal paradigma o princípio da indisponibilidade do interesse público. 2. A responsabilidade do Estado por atos legislativos: Há situações excepcionais em que o Estado se responsabiliza por atos legislativos e judiciais. Comecemos por aqueles. O Poder Legislativo é autônomo para exercer as suas funções típicas de legislar e fiscalizar. Se determinada lei é declarada inconstitucional pelo controle concentrado de constitucionalidade (STF/TJ) e o agente público causar danos a terceiros, o Estado será responsabilizado. Ex: Lei estadual que obriga a troca de redes telefônicas faz com que muitas pessoas tenham que arcar com o ônus financeiro. Depois essa lei foi declarada inconstitucional. A vítima pode cobrar os valores pagos. 3. A responsabilidade do Estado por atos judiciais: Como regra, o Estado não se responsabiliza por atos judiciais. Em primeiro plano, o Estado se responsabilizará objetivamente caso condene um inocente por erro judiciário ou quando o sujeito ficar preso para além do tempo fixado na sentença. Art. 5º, LXXV – CF: o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; Essa responsabilidade, no entanto, só alcança a esfera penal e não se aplica às prisões provisórias, as quais visam a salvaguardar as investigações. Se o juiz fraudar um processo cível, caberá à vítima buscar responsabilizar o juiz pessoalmente mediante a comprovação de dolo/culpa – não o Estado. Referências: Caso “Marcos Mariano da Silva”. Preso injustamente por um crime que não cometeu, passou 19 anos na cadeia. Para a próxima aula: Identificação de institutos reais acerca da responsabilidade extracontratual do Estado em casos práticos. Não será permitida a consulta. MONITORIA I – DIREITO ADMINISTRATIVO III (11/04)/ ALICE NAKAGAWA DISPOSITIVO LEGAL REFERÊNCIA DA RC DO Art. 37, § 6º - CF: As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos Thiago Coelho (@taj_studies) ESTADO responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS O Estado pode responder por atos lícitos ou ilícitos, de tal modo que o ilícito não é pressuposto da responsabilidade civil. Por ato lesivo provocado pelo Estado se entende tanto os danos morais quanto os danos morais. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL X RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL A responsabilidade contratual é aquela decorrente do descumprimento de cláusulas de contratos administrativos; já a responsabilidade extracontratual se relaciona a violação a direitos, independentementeda presença de cláusula contratual. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Irresponsabilidade estatal – regimes absolutistas; Responsabilidade estatal calcada na culpa civil – a culpa do agente causador do dano (século XVIII); Teorias publicistas, com destaque para a Teoria da Culpa Administrativa ou Culpa Anônima ou Culpa do Serviço (século XIX). Torna-se desnecessário comprovar a culpa do agente causador do dano, mas apenas que o serviço não funcionou, funcionou mal ou funcionou atrasado; Hoje: Teoria do Risco Integral (ataques terroristas e acidentes nucleares) e Teoria do Risco Administrativo (adotada como regra e que admite as excludentes de responsabilidade civil); Teoria do Estado enquanto garantidor dos direitos fundamentais: Alguns autores apontam para esse estágio de evolução, de modo que o Estado seria responsabilizado por qualquer ato – comissivo ou omissivo – que viole direitos fundamentais do cidadão. Por ser muito abstrata TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO INTEGRAL Admite a incidência das excludentes de responsabilidade civil; Não admite excludentes de responsabilidade civil; Adotada no Brasil para os Thiago Coelho (@taj_studies) É a teoria adotada, como regra, pelo Brasil; danos nucleares e os decorrentes de ataques terroristas; RESPONSABILIDADE OBJETIVA DAS CONCESSIONÁRIAS As empresas privadas prestadoras de serviço público, consoante o STF, respondem objetivamente tanto nas relações com usuários quanto na relação com não usuários do serviço público. Mesmo que a obra seja realizada e finalizada por terceiros/empreiteiros, a responsabilidade recai sempre sobre o Estado. Durante o andamento das obras, o particular que sofreu o dano pode pedir a responsabilidade tanto da construtora quanto do Estado. Quando a obra estiver finalizada, a responsabilidade recairá somente sobre o Estado. EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR ATOS DOS SEUS AGENTES Não se cogitará a responsabilidade da Administração nos atos alheios à condição de agente público, de modo que a responsabilidade estatal pressupõe o pleno exercício das funções do agente. Ex: Policial que mata lutador de artes marciais durante um show. DIREITO DE REGRESSO O Estado pode exercer o seu direito de regresso em face do agente causador do dano, desde que (I) tenha havido prejuízo ao Estado (efetivo pagamento) e (II) comprovada o dolo/a culpa do agente causador do dano. Não pode a vítima do dano demandar diretamente contra o agente causador do dano ou se valer da denunciação à lide. As ações de ressarcimento são imprescritíveis (art. 37, § 5º, CF). O direito de regresso é um poder-dever da responsabilidade do Estado (indisponibilidade do interesse público). RESPONSABILIDADE POR ATOS OMISSIVOS DO ESTADO A omissão, seja genérica ou específica, precisa ser relevante. OMISSÃO GENÉRICA OMISSÃO ESPECÍFICA Inação do Estado quando deixa de cumprir suas obrigações gerais. Relaciona-se a um dever específico de tutela. Responsabilidade objetiva. Thiago Coelho (@taj_studies) Responsabilidade subjetiva (culpa administrativa ou culpa do serviço). Ex: Assalto que acontece próximo a uma viatura policial. Ex: Dever de garantir a integridade de presos nas penitenciárias, pacientes em hospitais públicos e funcionários/alunos nas escolas públicas. EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO ESTADO São excludentes de responsabilidade do Estado a culpa exclusiva da vítima, o fato exclusivo de terceiro, caso fortuito (interno) e a força maior. CONCAUSAS As concausas atribuídas ao Estado desqualificam as excludentes de responsabilidade do Estado. Se houver uma causa paralela atribuída ao Estado, ainda que haja uma força maior, mantém-se a responsabilidade do Estado. Ex: Chuva forte que inundação uma rua e causa danos aos moradores da região em virtude dos bueiros entupidos há semanas. Thiago Coelho – T7A 2024.1 @taj_studies Thiago Coelho (@taj_studies) CADERNO – 2ª UNIDADE – DIREITO ADMNISTRATIVO III/ LUCIANO CHAVES AULA 09 – INTRODUÇÃO A BENS PÚBLICOS 1. Bens públicos: Art. 98 – CC: São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. A regra passada pelo legislador civilista (primeira corrente) conceituou bens públicos como àqueles pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, sejam da Administração Pública Direta (órgãos e entes federativos), bem como das autarquias e das fundações públicas. As empresas públicas e sociedades de economia mista são pessoas jurídicas com personalidade de direito privado, em que pese integrarem a Administração Pública Indireta. Indaga-se se os bens pertencentes a tais pessoas (ex: um imóvel da Caixa Econômica Federal ou a plataforma de petróleo da Petrobrás) são públicos ou privados. Com base na disposição legal, são bens de Direito Privado. Emergiu, posteriormente, uma segunda corrente, defendendo que, pertencendo o bem a qualquer ente da Administração – seja Direta ou Indireta, seja o ente de Direito Público ou Privado – ter-se-á um bem público. Nessa perspectiva, o imóvel da Caixa Econômica Federal ou a plataforma de petróleo da Petrobrás seriam considerados bens públicos. Nos anos 90, surgiu uma nova corrente (terceira corrente), calcada nas contribuições de Celso Antônio Bandeira de Mello. Se o bem estiver afetado, vinculado à atividade-fim do proprietário, ter-se-á um bem público. O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista e apresenta sedes na cidade de Salvador. O imóvel é indispensável para que a agência bancária funcione, de modo que, pela terceira corrente, seria um bem público. Assim, consoante a jurisprudência contemporânea, bens particulares que se destinarem à função pública ou afetado por bens públicos gozam de determinadas prerrogativas. Com o advento do Código Civil de 2002, foi adotada a primeira corrente. São bens públicos os bens pertencentes às pessoas jurídicas de Direito Público Interno: Administração Pública Direta, autarquias e fundações públicas. Destarte, um bem de empresa pública ou sociedade de economia mista, qualquer que seja, será bem particular. 2. Classificação dos bens públicos: Thiago Coelho (@taj_studies) o Quanto à titularidade: Bens da União (federais), dos estados (estaduais), do Distrito Federal (distritais) e dos municípios (municipais); o Quanto à natureza: Bens móveis (viatura de polícia) ou imóveis (prédios); Bens corpóreos (imóveis, móveis, veículos) ou incorpóreos (nome social, direitos autorais...); Bens materiais (cadeiras da UFBA) e bens imateriais (hino nacional, fórmula de uma vacina, patente de medicamento); o Quanto à destinação (utilização): Bens de uso comum do povo, bens de uso especial e bens dominicais. É a classificação mais importante e que iremos detalhar a seguir. Art. 99 – CC: São bens públicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado. De uso comum do povo – bens destinados à utilização geral dos indivíduos, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças. Vejamos algumas observações: Não é necessária autorização para o seuuso, ou seja, a prévia aquiescência do poder público. Ex: Os torcedores rubro-negros podem chorar livremente no Pé do Caboclo pois nunca ganharam nada de expressão e continuam com apenas um ponto no Campeonato Brasileiro; Se for necessário, pode ser regulada a utilização, até para a preservação do patrimônio público (“poder-dever” da Administração). Ex: Os referidos torcedores não podem entrar no Pé do Caboclo de madrugada, por exemplo. Ademais, os cidadãos podem entrar em uma praia de nudismo, desde que respeitem as regras previamente fixadas. Caio, caso queira ir a uma praia de nudismo, não poderá praticar atos sexuais ou de cunho libidinoso, sob pena de praticar ato obsceno. Não há autorização, mas pode existir regulação; Pode ocorrer a cobrança para o uso do bem (art. 103, CC): O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração pertencerem. Ex: Morro de São Paulo; Thiago Coelho (@taj_studies) De uso especial, sendo estes não somente administrados, mas utilizados pelas pessoas jurídicas de direito público. São os bens vinculados à atividade administrativa, de modo que apresentam um destino especial: prestar o serviço público. Ex: Uma biblioteca pública tem uma utilização específica, assim como uma delegacia, uma escola ou hospital público. A título exemplificativo prático pode-se citar o HGE, o Aeroporto Internacional de Salvador e a UFBA. Diferentemente dos bens de uso comum do povo, o acesso é mais restrito aos bens de uso especial, de modo que não se pode marcar uma reunião em uma biblioteca ou hospital público; Dominicais: Aqueles que não são afetados, ou seja, são desprovidos de finalidade pública, tais como as denominadas terras devolutas e os terrenos baldios. São bens, portanto, que não apresentam destinação (bens desafetados), diferentemente dos dois vistos anteriormente (bens afetados/com destinação). Os bens dominicais são, portanto, bens desafetados e que constituem o patrimônio disponível das pessoas jurídicas de Direito Público Interno. Art. 100 – CC: Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Art. 101 – CC: Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. Art. 102 – CC: Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. Os bens jurídicos públicos não admitem usucapião (conforme o art. 102 do CC), uma vez que não podem ser propriedade de particulares. Os bens jurídicos públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis enquanto conservarem a sua qualificação. Relação com a inalienabilidade: os institutos são de suma importância para a caracterização do bem como alienável e inalienável, pois os bens dominicais podem ser alienados. A afetação ou a desafetação pode ocorrer por um ato (declaração expressa da vontade da Adm. Pública) ou por um fato (ex: incêndio). AULA 10 – CARACTERÍSTICAS DOS BENS PÚBLICOS 1. Características dos bens públicos: Thiago Coelho (@taj_studies) Inalienabilidade: Característica relativa. Os institutos são de suma importância para a caracterização do bem como alienável e inalienável. Como regra, os bens públicos são inalienáveis, entretanto, há a ressalva para os bens dominicais. Hoje a Lei 14.133/21 diz como se vende e como se aliena bens públicos, mais precisamente no seu art. 76. É preciso o respeito aos seguintes requisitos: que o bem esteja desafetado, que haja uma pré-avaliação do bem e, posteriormente, um leilão. O leilão (a hasta pública) é uma das modalidades de licitação, seja bem móvel ou imóvel. Na particularidade de se tratar de bens imóveis, o Estado, para vender, precisa pedir autorização legislativa. Art. 100 – CC: Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar. Art. 101 – CC: Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei. Art. 76 – Lei 14.133/21: A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I - tratando-se de bens imóveis, inclusive os pertencentes às autarquias e às fundações, exigirá autorização legislativa e dependerá de licitação na modalidade leilão, dispensada a realização de licitação nos casos de: (...) *Bens dominicais: Aqueles que não são afetados, ou seja, são desprovidos de finalidade pública, tais como as denominadas terras devolutas e os terrenos baldios. São bens, portanto, que não apresentam destinação. Os bens dominicais são, portanto, bens desafetados. A afetação ou a desafetação pode ocorrer por um ato (declaração expressa da vontade da Adm. Pública) ou por um fato (ex: incêndio). Impenhorabilidade: A penhora trata-se de um instituto de natureza constritiva que recai sobre o patrimônio do devedor para propiciar a satisfação do credor na hipótese do não-pagamento da obrigação (espécie de “alternativa dada ao credor”). O credor pode cobrar o devedor por meio da penhora de um bem equivalente ao valor da dívida. Como regra, os bens públicos são impenhoráveis. Todavia, quando houver preterição da ordem de pagamento de precatório, podem os preteridos pedir em juízo a penhora de bens públicos, principalmente o sequestro de verbas públicas, a fim de satisfazer a sua pretensão (art. 100, § 6º, CF). Assim como a anterior, trata-se de uma característica relativa. Thiago Coelho (@taj_studies) Imprescritibilidade: Característica absoluta. Os bens públicos de qualquer natureza não podem ser objeto de usucapião, de modo que terceiros não poderão adquirir a propriedade; Não-onerabilidade: Característica absoluta. Onerar significa deixar um bem em garantia para o credor no caso de inadimplemento da obrigação. São os direitos reais de garantia sobre coisa alheia, quais sejam, o penhor, a anticrese e a hipoteca. O penhor se destina a bens móveis e a hipoteca, para bens imóveis. Os bens públicos não podem ser oneráveis, sob pena de a cláusula ser nula de pleno direito. AULA 11 – FORMAS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 1. Formas de intervenção do Estado na propriedade – noções introdutórias: Com o advento da CF/88, sepultou-se de uma vez por todas a concepção da propriedade enquanto um direito absoluto do cidadão, ainda que remanescente no texto constitucional (art. 5º, XXII, CF). Fala-se, pois, em uma publicização da propriedade privada. O proprietário, dessa forma, não pode usar, gozar e dispor da propriedade como bem entender, devendo respeitar a função social, ou seja, pensar nos interesses da coletividade (art. 5º, XXIII, CF). Há dois pressupostos para a intervenção estatal na propriedade: (I) fazer com que a propriedade cumpra a sua função social e (II) o princípio implícito da supremacia do interesse público. A título exemplificativo pode-se citar a desapropriação de postos de gasolina para a construção da Linha 1 do Metrô de Salvador, cujos proprietários foram previa e justamente indenizados. “Além disto, conforme explicou a Sedur, somente a partir da conclusão do projeto básico, será possível uma estimativa mais concreta quanto à quantidade de imóveis a serem desapropriados. No trecho entre a Estação Pirajá e o viaduto de Águas Claras, de aproximadamente 5,6 quilômetros, a maior parte dos imóveis é de natureza industrial, com o postos de gasolina, galpões e terrenos anteriormente desatinados e pequenas e médias empresas de serviços. Não há residências no local” (Fonte: Licitacao.net). 2. Formas de intervenção estatal: Ordenar socialmente o uso de propriedade: Limitações e servidões administrativas; Utilizar transitoriamenteo bem particular: Ocupação temporária e requisição administrativa; Thiago Coelho (@taj_studies) Restringir propriedades em razão do seu valor histórico e cultural: Tombamento; Tomar a propriedade (subtração) e incorporar ao patrimônio público: Desapropriação (intervenção mais radical); Nas três primeiras formas, não há a perda completa do direito à propriedade, tal sorte que este continua a ser exercido, mas, obviamente, com restrições. 3. Limitações administrativas: Trata-se da modalidade de intervenção estatal em que o Estado realiza restrições gerais e abstratas às propriedades. Ex: A calçada pertence ao proprietário, mas este deve destinar parte do seu imóvel para a função social, qual seja, a livre circulação de pessoas. O recuo das propriedades para que haja a calçada trata-se de um exemplo de limitação administrativa. São exemplos de limitações administrativas a imposição de edificar até determinada altura, da metragem das calçadas, entre outros. Ressalta-se que os custos recaem sobre o proprietário. Atinge o caráter exclusivo da propriedade e gera uma obrigação negativa (obrigação de não fazer). Não há que se cogitar qualquer hipótese de indenização, diante do impacto diminuto à propriedade. 4. Servidão administrativa: São restrições parciais e concretas do Estado sobre a propriedade, as quais atingem um número pré-determinado de propriedades. Trata-se, pois, de um encargo imposto sobre um bem imóvel em proveito da utilidade pública de uma coisa. Pode-se citar a servidão de energia elétrica dentro de propriedades, assim como a servidão de aqueduto e oleoduto, como exemplos de servidão, de modo que a propriedade do particular será utilizada como instrumento para a prestação de serviços públicos. A outro título de exemplo pode-se citar a servidão de passagem, de modo que, para se chegar em determinados locais públicos, as pessoas precisam passar por uma ou mais propriedades. Ademais, relembremos que casas localizadas em esquina têm geralmente as suas faixadas utilizadas para colocar placas com o nome da rua, a fim de orientar os transeuntes. Atinge o caráter exclusivo e não absoluto da propriedade. Aqui há obrigação de deixar fazer ou de deixar que se faça – o proprietário deve disponibilizar a sua propriedade para que seja construído o poste ou colocada a placa que identifica a rua, por exemplo. Thiago Coelho (@taj_studies) Tem natureza jurídica de direito real, diante da relação jurídica entre a coisa serviente (propriedade cedida) e a coisa dominante. O caráter da servidão administrativa é permanente, prevalecendo enquanto durar a necessidade. Diferentemente das limitações administrativas, aqui, o direito à indenização pode ocorrer, desde que haja um prejuízo à propriedade (desvalorização do bem) e nem toda servidão administrativa gera essa consequência (a desvalorização do bem). Desvaloriza o imóvel a construção de postes voltados para energia elétrica em determinada fazenda (pode afastar possíveis compradores, diante do risco de se eletrocutar o gado), assim como a passagem constante de pessoas em uma propriedade, de modo a prejudicar o sossego e tranquilidade do proprietário. Não há desvalorização da propriedade no caso de fixação de uma placa no muro de um imóvel situado na esquina, de modo que o proprietário não fará jus à indenização. AULA 12 – FORMAS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE (CONT.) 1. Ocupação temporária e a requisição administrativa – noções introdutórias: O Estado utiliza temporariamente bens móveis, imóveis e serviços particulares. Essa utilização transitória pode se dar a título gratuito ou oneroso. Se a intervenção estatal incidir sobre bens imóveis ter-se-á uma ocupação temporária; caso incida sobre bens móveis ou serviços particulares, haverá requisição administrativa. 2. Ocupação temporária: Por ocupação temporária se entende o uso transitório de bens imóveis pelo Estado. Quando um imóvel é utilizado para as eleições, este é utilizado para cumprir uma função social, servindo como local para seção eleitoral. Isso também se constata na realização do Enem e de concursos públicos. A ocupação temporária nos exemplos citados é de curta duração, não fazendo jus o proprietário a qualquer indenização (ocupação temporária gratuita). Desse modo, tem-se uma ocupação temporária. Ocupações temporárias mais duradouras (como a construção de um hospital de campanha) são onerosas – e quem estabelece isso é a Adm. Pública, podendo, caso contrário, reivindicar via judicialmente. No RS algumas clínicas particulares, em virtude de ocupação temporária, disponibilizaram os seus imóveis para atender gratuitamente os cidadãos. Em suma, a ocupação temporária pode ser gratuita ou onerosa. Durante a pandemia da Covid- Thiago Coelho (@taj_studies) 19 diversos locais foram utilizados como pontos de vacinação e/ou hospital de campanha – exemplificando outras situações de ocupação temporária. É desnecessária uma concordância prévia para que a ocupação temporária ocorra. Destarte, caso o TRE pretenda utilizar a Faculdade Baiana de Direito como seção eleitoral, formalizará uma solicitação. Não pode a IES alegar que terá prova no primeiro domingo de outubro: esta será remarcada e a votação acontecerá. Art. 5º, XXV – CF: No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano. (Grifos nossos) 3. Requisição administrativa: Requisição administrativa é a forma de intervenção estatal por meio da qual o Estado utiliza transitoriamente de bens móveis ou serviços particulares. A título exemplificativo pode-se citar o uso de um veículo de particular para prestar socorro a um cidadão baleado e gravemente ferido. A requisição administrativa, ademais, também incide sobre serviços particulares. É comum que em cidades do interior haja transporte escolar (ônibus) para levar os alunos à escola municipal. Quando o veículo apresenta defeito, o Estado geralmente contrata alguém que presta serviço de transporte para levar as crianças. Obviamente que, existindo a prestação de serviço, a requisição será onerosa. Assim, a requisição administrativa pode ser gratuita ou onerosa. Caso no exemplo do veículo utilizado para prestar socorro a um cidadão o proprietário fosse um motorista de táxi/Uber, a requisição administrativa incidiria sobre a prestação do serviço. Isso também se constata com a prestação do serviço de um advogado dativo. A depender das circunstâncias, presumir-se-á a fé pública dos agentes (presunção da fé pública). Há casos em que se pode formalizar a requisição administrativa (contratar a prestação de serviços de um motorista por aplicativo), entretanto, há hipóteses em que a emergência é tão acentuada, que não é possível aguardar a formalização (vide o caso de prestar socorro a um cidadão baleado). Quanto à autorização prévia, assim como visto na ocupação temporária, essa é desnecessária. No que diz respeito ao lapso temporal, a requisição administrativa também é temporária (não é ad eternum). A indenização é possível, desde que posterior à intervenção estatal na propriedade e desde que haja dano. No caso do cidadão cujo veículo sofreu a requisição administrativa para dar socorro a um cidadão, poderá esse ser indenização devido aos custos com a lavagem do veículo, com multas de trânsito, danos materiais decorrentes de colisões, entre outros. Thiago Coelho (@taj_studies) Para a próxima aula: Tombamento e desapropriação. AULA 13 – TOMBAMENTO 1. Tombamento: Restrição estatal na propriedade que se destina especificamente à proteção do patrimônio cultural, histórico e artístico nacional. A título exemplificativo pode-se citar as ruas, as casas, entre outros objetos situados no Pelourinho, no centro da capitalbaiana. É preciso que o proprietário tome ciência que o seu bem apresenta um valor histórico- cultural, de modo que é preciso abrir procedimento administrativo aberto pela Adm. Pública (IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a nível nacional; e a Secretaria de Cultura, no caso do estado da Bahia). Nesse sentido se encontra o art. 216 da CF. No entanto, o tombamento, assim como as modalidades já estudadas, prescinde de autorização – já que é imposto, não negociado, mas devem ser assegurados a ampla defesa e o contraditório do proprietário (ele alegar que não há valor histórico, artístico ou cultural na propriedade). Ex: A casa em que Castro Alves viveu foi tombada, o que foi materializado a partir do registro no Cartório do Registro de Imóveis. O tombamento pode gerar direito à indenização – trata-se de uma potencialidade, não de uma obrigatoriedade, ficando condicionada à desvalorização do bem (seguindo-se a mesma lógica da servidão administrativa). A título exemplificativo pode-se citar a seguinte situação: A tem um terreno e parte dele, onde estava situado o imóvel X, foi objeto de tombamento. As propostas para adquirir o imóvel Y situado logo atrás, também, pertencente À, reduziram significativamente – tanto em quantidade quanto no valor das ofertas, em evidente desvalorização imobiliária. A faz jus, nesse contexto, à indenização caso efetue a venda do imóvel Y, de modo a “suplementar” e alcançar o valor de mercado do imóvel antes do tombamento. Ratifica-se, no entanto, que a indenização pressupõe desvalorização do imóvel, já que, em alguns casos, pode não acontecer ou, até, ocorrer a valorização do imóvel. Não somente bens materiais podem ser tomados, mas também bens imateriais, tais como a capoeira. Aproveitando-se a aproximação do período junino, o forró também é um bem imaterial objeto de tombamento. “Forró é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial pelo Iphan: Em transmissão via Youtube, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural reconheceu o gênero como Patrimônio Cultural do Brasil [...] Foi em 2011 que a Associação Cultural do Balaio do Nordeste, do estado da Paraíba, formalizou o registro. A partir disso, comunidades de todo país reuniram documentos relacionados e registros audiovisuais para montarem um dossiê Thiago Coelho (@taj_studies) do pedido. [...] O Instituto também declarou que o forró é um ‘super gênero’, por agrupar ritmos como xaxado, baião, arrasta-pé… [...]” (Fonte: CNN). Durante a Copa do Mundo de 2014, a FIFA conseguiu impor, por meio da colaboração do MEC, que na data do início da Copa do Mundo as aulas já tivessem terminado, a fim de melhorar o trânsito das cidades que sediaram jogos. Outro pedido da FIFA foi proibir a venda de acarajé dentro da Arena Fonte Nova e ao redor, no raio de 1km, a fim de resguardar os interesses da MC Donald’s – uma das patrocinadoras do evento. O governo do estado da Bahia não atendeu, argumentando com base no tombamento. O acarajé é um bem imaterial tombado no país, de modo que deve ser incentivado e protegido. Assim, dentro e fora do estádio – no raio de 1 km – foi vendido acarajé. São modalidades do tombamento: Quanto à constituição – de ofício (incide sobre bens públicos), voluntário (pedido do próprio proprietário do bem) ou compulsório (quando há a resistência do particular); Quanto à eficácia – provisório ou definitivo: A única diferença entre o tombamento provisório do definitivo, é que naquele não precisa da averbação do tombamento no CRI; Quanto aos destinatários – geral (incide sobre praças, ruas, casas em conjunto) ou individual (incide sobre uma propriedade – ex: de uma casa ou de um veículo onde morreu um personagem histórico); o Decreto-Lei 25/1937 (Lei do Tombamento) – recepcionado pelo texto constitucional (norma vigente). Um dos efeitos é o direito de preferência do Poder Público para adquirir imóvel objeto de tombamento. São efeitos do tombamento: Os objetos de tombamento não podem destruídos, demolidos, mutilados ou reformados sem prévia autorização do bem público – bem tombado deve ser preservado (obrigação de não fazer) e a sua reparação pressupõe a autorização do bem público; Os objetos de tombamento não podem perder a sua visibilidade – não se pode construir muros e similares nos entornos dos bens tombados de modo a comprometer a sua visibilidade; Os objetos de tombamento se sujeitam permanente à fiscalização do Poder Público, a fim de que seja preservado o valor artístico, histórico ou cultural; Referências: https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/forro-e-reconhecido-como- patrimonio-cultural-imaterial-pelo-iphan/ https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/forro-e-reconhecido-como-patrimonio-cultural-imaterial-pelo-iphan/ https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/forro-e-reconhecido-como-patrimonio-cultural-imaterial-pelo-iphan/ Thiago Coelho (@taj_studies) OBS: Na turma T7A, o professor foi até desapropriação, mas esta não cai na prova da T7C. AULA 14 – DESAPROPRIAÇÃO E CONTROLE DA ADM. PÚBLICA 1. Desapropriação: Trata-se de um procedimento administrativo por meio do qual o Poder Público subtrai do particular algum bem, mediante prévia declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social e pagamento de prévia e justa indenização. É a modalidade mais drástica de intervenção do Estado na propriedade – tomando-a do proprietário. A desapropriação tem caráter perpétuo e é irrevogável. É um direito fundamental do cidadão só perder a propriedade para o Estado após receber uma indenização justa, prévia e em dinheiro. A indenização precisa levar em consideração o valor real do bem, bem como ser paga em dinheiro, e é condição para a desapropriação. Art. 5º, XXIV – CF: a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição. A Constituição ressalvou os casos em que o pagamento não será feito na forma prevista no inciso supratranscrito. A doutrina, interpretando a Magna Carta, compreende a existência de quatro modalidades de desapropriação: Desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social (“desapropriação ordinária”); Desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária (“desapropriação extraordinária”/”desapropriação-sanção”): Sanção devido ao descumprimento da função social da propriedade. A indenização será justa, prévia e em TDA (título da dívida agrária); Desapropriação por descumprimento da função social da propriedade urbana: Também é uma desapropriação extraordinária. A indenização será paga em TDP (título da dívida pública), continuando justa e prévia; Desapropriação especial – expropriação: Não haverá indenização, sem prejuízo, também, das sanções criminais. Retira-se a função criminosa da propriedade (tráfico de drogas ou escravidão) e vincula-a a uma função social nobre – reforma agrária ou programas de habitação popular. Nesse cenário, falamos em “desapropriação- confisco”. Vejamos, pois, o art. 243 da CF: Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 243 – CF: As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravoserá confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) O procedimento da desapropriação ocorre em duas fases, de modo que é garantido o contraditório e a ampla defesa ao proprietário. Uma das fases apresenta natureza declaratória, na qual vai se indicar a necessidade, a utilidade pública ou interesse social e, em seguida, ter-se-á a fase executória, momento em que será feita a justa indenização e a transferência do bem para o Estado. 2. Controle da Administração Pública: Nasce do ideário da separação dos poderes. Se o homem não tiver limites, ele tende abusá- lo, contexto em que surge a separação dos poderes, corolário do Estado de Direito. O controle é um conjunto de instrumentos que possibilitam a fiscalização da atuação administrativa. O dinheiro precisa ser gasto de acordo com o que fora planejado. O controle administrativo é feito dentro da própria administração pública. No que tange ao controle legislativo, o TCU faz o parecer, mas quem julga as contas é o parlamento. Há, também, o controle judicial, feito pelo Judiciário. O controle, quanto à origem, pode ser interno (feito pela própria Adm. Pública – AGU, CGU e órgãos setoriais de controle) ou externo (realizado pelo TCU). O controle, também, pode ser social, de tal sorte que qualquer cidadão tem legitimidade para ajuizar ação popular. Thiago Coelho – T7A 2024.1 @taj_studies