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1 Características gerais Vamos estudar quatro subfilos (ainda há discus- são sobre esta classificação) de artrópodes: Crustacea (do latim crusta = crosta; crustáceos: camarão, siri, cracas, etc.); Hexapoda (do grego héx = seis; podos = pés), que contém a classe Insecta (insetos); Chelicerata (do grego chelé = pinça; keras = antena), que contém a classe Arachnida (como aranhas e es- corpiões); Myriapoda (miriápodes; “muitos pés”; do grego myria = dez mil), com as classes Chilopoda (quilópodes; centopeia) e Diplopoda (diplódes; pio- lhos-de-cobra). Os artrópodes são animais triblásticos e celoma- dos, assim como os anelídeos. Eles apresentam si- metria bilateral, com corpo segmentado, exoesque- leto e apêndices articulados. Esses apêndices são acionados por músculos de contração rápida (mús- culos estriados), inseridos no esqueleto (daí o nome do grego: arthron = articulação; podos = pé), que tornam a locomoção muito eficiente. O celoma dos artrópodes é bastante reduzido. Assim, enquanto nos anelídeos o líquido do celoma funciona como um esqueleto hidrostático, nos ar- trópodes essa função é exercida pelo exoesqueleto. Metameria Como o dos anelídeos, o corpo dos artrópodes é segmentado, mas, ao longo do desenvolvimento, vários segmentos se fundem e formam regiões dis- tintas, fenômeno denominado tagmatização (cada região funcional é chamada tagma). Nos insetos, por exemplo, há três tagmas: cabe- ça, na qual estão a boca e os órgãos sensoriais; tórax, onde estão inseridas as pernas e as asas (quando o inseto tem asas); abdome, no qual está a maior par- te dos órgãos internos (vísceras). Em alguns artrópo- des, como no camarão e na aranha, a cabeça está fundida com o tórax, formando um cefalotórax (do grego kephalé = cabeça). Em outros, como no embuá e na lacraia, há apenas a cabeça e o tronco. ◆ Que tipos de inseto você conhece? Onde é mais fácil encontrá-los? ◆ Você conhece outros grupos de artrópodes, como os crustáceos e os aracnídeos? Como eles são? ◆ Como é o corpo de uma borboleta adulta? E como ele é quando ela acaba de sair do ovo? Exoesqueleto O corpo dos artrópodes é revestido por um exo- esqueleto formado por quitina (um polissacarídeo nitrogenado) associada a proteínas. Nas formas ter- restres, principalmente, há ainda uma cobertura de cera impermeável, que impede a desidratação, sen- do uma importante adaptação à vida fora da água. Além de proteger o animal, o esqueleto propor- ciona ponto de apoio para músculos. Em certos pon- tos, o esqueleto é fino e dobrável. Examinando as pernas de um inseto, por exemplo, observamos que elas possuem articulações. Associados aos apêndices articulados, os músculos tornam a locomoção (mar- cha, natação ou voo) e os movimentos bem eficien- tes (figura 12.1). Os apêndices desempenham ainda outras funções: ajudam a pegar comida, a mastigar o alimento, a sugar o néctar, etc. No caso das ante- nas, elas funcionam como órgãos dos sentidos (ol- fato e tato). F e li p e M u rr o /A rq u iv o d a e d it o ra J o e l B u e n o /A rq u iv o d a e d it o ra Figura 12.1 Detalhe (ampliado) de músculos e articulação dos artrópodes (comprimento do gafanhoto: de 1 cm a 8 cm, dependendo da espécie; cores fantasia). músculo articulação músculo Artrópodes 153 152_167_U04_C12_Bio_Hoje_vol_2_PNLD2018.indd 153 05/05/16 08:50 Crescimento por mudas Por ser rígido e por envolver todo o corpo, o exoesqueleto limita o crescimento dos artrópodes. Por isso, o crescimento ocorre por meio de mudas ou ecdises (do grego eckdysis = despojar). Periodi- camente, ao longo do desenvolvimento e do cres- cimento, e sob o controle de um hormônio (ecdisona ou hormônio da muda), a epiderme se- creta um líquido que forma um espaço entre ela e o exoesqueleto. Depois, a epiderme produz um esqueleto novo, ainda flexível e frágil, que permi- te o crescimento do animal. Em determinado mo- mento o esqueleto velho, chamado exúvia (do latim exuviae = roupa desprezada, despojos), arre- benta, e o artrópode o abandona. Uma vez fora do esqueleto velho, o corpo do artrópode cresce, e o novo exoesqueleto endurece. Por causa dessa troca periódica, o crescimento nos artrópodes não é contínuo, como nos outros animais: há momentos da vida sem nenhum cres- cimento, alternados com outros de crescimento (figura 12.2). F a b io C o lo m b in i/ A c e rv o d o f o tó g ra fo outros animais artrópodes período sem crescimento período sem crescimento crescimento crescimento muda muda Tamanho Tempo Figura 12.2 Crescimento e muda dos artrópodes. Na foto, cigarra (cerca de 4 cm de comprimento; as espécies variam em torno de 2 cm a 6 cm de comprimento) em ecdise, abandonando o exoesqueleto. No gráfico, compare a curva descontínua de crescimento dos artrópodes (vermelha) com a curva contínua de crescimento dos outros animais (verde). Nos artrópodes o crescimento ocorre logo após a muda. 2 Insetos Os insetos formam o grupo com maior número de espécies conhecidas entre os artrópodes. Essa diversidade indica que eles foram bem-sucedidos na colonização do ambiente terrestre, onde a maior parte vive. A capacidade de voo de muitas espécies permite- -lhes alcançar com facilidade fontes de alimento dis- tantes, além de lhes dar grande poder de defesa e de dispersão. A epiderme impermeável, o tipo de excre- ção (que economiza água) e o ovo coberto por casca possibilitam sua sobrevivência em ambientes secos. Veja alguns representantes dos insetos na fi- gura 12.3. Figura 12.3 Alguns representantes do grupo dos insetos (quando a espécie não é mencionada, o tamanho indica a variação de comprimento entre as principais espécies). Formiga tocandira (Paraponera clavata; cerca de 3 cm de comprimento) atacando esperança (2 cm a 5 cm de comprimento). Parque Nacional da Serra das Confusões, Caracol, PI. Libélula (4 cm a 8 cm de comprimento). Borboleta-do-manacá (Methona themisto; de 5 cm a 7 cm da ponta de uma asa a outra) em flor, São Paulo, SP. Traça-dos-livros (12 mm a 25 mm de comprimento). F a b io C o lo m b in i/ A c e rv o d o f o tó g ra fo F a b io C o lo m b in i/ A c e rv o d o f o tó g ra fo B a n c o d e i m a g e n s /A rq u iv o d a e d it o ra S e m e n o v ig o r/ Is to k F a b io C o lo m b in i/ A c e rv o d o f o tó g ra fo 154 Capítulo 12 152_167_U04_C12_Bio_Hoje_vol_2_PNLD2018.indd 154 05/05/16 08:50 Morfologia e fisiologia O corpo de um inseto é dividido em três regiões (tagmas): cabeça, tórax e abdome. Na cabeça há um par de antenas sensoriais (que capta cheiros e é sensível ao tato), dois grandes olhos compostos e, entre eles, três ocelos (figura 12.4). Pró- ximo à boca estão os apêndices destinados à alimen- tação. As partes duras de quitina dos apêndices bucais possibilitam a esses insetos cortar e comer partes relativamente duras das plantas. Além disso, os apên- dices bucais estão modificados e adaptados aos vários tipos de alimentação dos vários grupos de insetos. No tórax se prendem as asas, que correspondem a dobras achatadas do exoesqueleto. A maioria dos in- setos (borboletas, abelhas, besouros, baratas, gafanho- tos, etc.) possui dois pares de asas. Mosquitos e moscas possuem apenas um par funcional. Os machos e as fêmeas férteis de formigas e cupins apresentam asas na época da reprodução. São poucos os insetos que não possuem asas; por exemplo, traça, pulga e piolho. per nas abdo me per nas sal ta do ras asa pos te rior asa ante rior ovo po si tor espi rá cu los (aber tu ras res pi ra tó rias) ante na olho sim ples olho com pos to cabe ça tórax In g e b o rg A s b a ch /A rq u iv o d a e d it o ra Figura 12.4 Morfologia externa de um inseto, o gafanhoto (de 1 cm a 8 cm de comprimento, conforme a espécie; coresfantasia). O tubo digestório é completo, e a digestão é ex- tracelular. Há vários tipos de aparelho bucal, que estão re- lacionados com o tipo de alimentação: sugador (ma- riposas e borboletas), picador-sugador (percevejos, mosquitos), mastigador (gafanhotos), etc. A respiração é feita por traqueias, que correspon- dem a invaginações da epiderme em forma de tubos ramificados (figura 12.5). As ramificações vão se tor- nando cada vez mais finas e os últimos ramos atingem os tecidos, de modo que não há transporte de gases (oxigênio e gás carbônico) pelo líquido circulante, a hemolinfa (do grego haîma = sangue; lympha = fluido). Na superfície de cada segmento do tórax e do abdome, há um par de espiráculos (do grego spiro = respirar), orifícios pelos quais entra o ar. Portanto, diferentemente dos anelídeos, nos insetos as trocas gasosas ocorrem no interior do corpo, o que diminui a perda de água. espiráculos traqueia sacos aéreos Detalhe ampliado da traqueia. músculo traqueia espiráculo J o e l B u e n o /A rq u iv o d a e d it o ra Figura 12.5 Respiração traqueal dos insetos (os elementos da ilustração não estão em escala; cores fantasia). O sistema circulatório possui um coração na região dorsal do abdome, que bombeia hemolinfa para um vaso (aorta) anterior ou, dependendo do artrópode, anterior e posterior. No resto do corpo, a hemolinfa circula por um sistema de lacunas, as hemoceles (do grego haîma = sangue; koîlos = ca- vidade), banhando os órgãos. A hemolinfa volta ao coração por orifícios (óstios). Durante a contração do coração, os óstios se fecham, o que permite que a hemolinfa siga apenas pela aorta. Esse tipo de sistema circulatório, presente em todos os artrópodes, não possui capilares e é chama- do de sistema circulatório aberto ou lacunar, uma vez que a hemolinfa sai dos vasos sanguíneos e ba- nha as células (figura 12.6). vaso dorsal (aorta) vasos coraçãoóstios A hemolinfa circula por cavidades do corpo. Figura 12.6 Sistema circulatório aberto dos insetos (os elementos da ilustração não estão em escala; cores fantasia). J o e l B u e n o /A rq u iv o d a e d it o ra Artrópodes 155 152_167_U04_C12_Bio_Hoje_vol_2_PNLD2018.indd 155 05/05/16 08:50