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Grupos sanguíneos e exclusão de paternidade Os cruzamentos relativos ao sistema san- guíneo ABO são de monoibridismo, pois, apesar de estarem em jogo três alelos, cada indivíduo só apresenta um par de cromossomos homólo- gos portadores desses alelos. Veja os tipos de fecundação e os possíveis genótipos e fenótipos na tabela a seguir. Alelos dos pais A B O A AA (A) AB (AB) AO (A) � genótipo do filho � fenótipo B AB (AB) BB (B) BO (B) � genótipo do filho � fenótipo O AO (A) BO (B) OO (O) � genótipo do filho � fenótipo Com a análise dos grupos sanguíneos é pos- sível esclarecer casos de paternidade duvidosa ou de trocas de bebês em maternidade. Depen- dendo das circunstâncias, é possível provar que determinado indivíduo não pode ser o pai de uma criança. Entretanto, apenas pelos gru- pos sanguíneos do sistema ABO nunca se pode provar que um homem é de fato o pai de uma criança, mesmo que seja. É importante que o aluno tente resolver questões que combinem polialelia e di-hibridismo, como é o caso da questão 9 de Atividades, permitindo assim que ele aplique o que aprendeu em diferentes contextos. Com relação às transfusões de sangue e as restri- ções relacionadas aos tipos sanguíneos, o texto a seguir apresenta uma descoberta interessante. CAPÍTULO 4: Interação gênica e pleiotropia Como estratégia inicial, o professor pode apre- sentar o resultado do cruzamento de duas galinhas de crista noz e duplo-heterozigotas, como está des- crito nas páginas 58 e 59, perguntando, então, como os alunos explicam esse resultado. Não se deve es- perar que eles resolvam esse problema imediatamente, mas sim que sua curiosidade seja despertada. Ao longo do capítulo, eles se tornarão capazes de resolver esse problema. Ao estudar a interação gênica, o aluno pode se questionar sobre a validade das leis de Mendel. O pro- fessor pode aproveitar esse capítulo para mostrar que elas devem ser compreendidas como um modelo apro- ximado de uma situação mais complexa. Na realidade, na maioria das características deve haver influência de mais de um par de alelos. O aluno deve entender que o fato de as leis não explicarem tudo não tira o mérito do trabalho de Mendel. Em ciência, com frequência construímos mo- delos simplificados dos fenômenos e, à medida que aprendemos mais, corrigimos esses modelos tornan- do-os mais próximos dos fenômenos estudados. Essa observação vale para as classificações usadas em interação gênica (interações epistáticas, não epis- táticas, etc.): nelas também usamos modelos para representar uma situação mais complexa. À medida que conhecemos melhor as etapas bioquímicas que levam à produção de uma característica, podemos nos aproximar mais do que realmente acontece em cada interação. Pode-se chamar a atenção para o exemplo da cor do pelo em camundongos (p. 59 e 60), em que é feita uma conexão com a interpretação molecular em genética. É importante mostrar ao aluno que os problemas de interação são resolvidos de forma semelhante aos de di ou tri-hibridismo. A diferença é que, uma vez Sangue modificado Um grupo de pesquisadores liderados por Henrik Clausen, da Universidade de Copenha- gue, vem desenvolvendo uma forma de trans- formar em sangue do tipo O hemácias que continham os aglutinogênios A e B, sem dani- ficar essas células. Para isso, utilizaram enzi- mas de bactérias que removem esses agluti- nogênios da superfície das hemácias. O processo ainda terá de passar por testes clínicos para que possa ser usado para a pro- dução de hemácias universais, reduzindo os problemas de carência de sangue em caso de transfusões de emergência. Manual do Professor 321 BiologiaHoje_V3_PNLD18_MP_PE_313a384.indd 321 27/05/16 15:13 A herança da cor dos olhos, comentada no boxe Biologia e cotidiano (p. 61), costuma despertar a curiosidade do aluno. É importante o professor mos- trar que, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, não se trata de uma herança monogênica. Também é importante diferenciar essa herança do albinismo, em que faltam alelos para a produção de melanina. Por isso, no albinismo não há melanina na íris. A falta de pigmento em indivíduos albinos faz com que a luz seja refletida pelos vasos sanguíneos no fundo do olho, o que faz aparecer um tom rosado. Nas pessoas não albinas há sempre pigmento na ca- mada profunda; o que varia é a quantidade de pig- mento na camada superficial da íris. O exemplo da herança da cor da pele pode ser útil para o professor mostrar que os modelos utilizados em ciência são sempre construções hipotéticas sim- plificadas e parciais da realidade. Serve também para mostrar que em ciência existem problemas não re- solvidos, como é o caso do número de genes que atuam nessa característica. O boxe Biologia e socie- dade (p. 63 a 65) discute a herança cultural africana no Brasil, enfatizando a importância da valorização de diferentes culturas. É importante lembrar que mesmo uma característi- ca como a altura humana não é 100% determinada ge- neticamente. Nesse caso, já foram identificados 12 loci que atuam nessa característica. Um dos genes atuan- tes e recentemente identificado no cromosso mo 12 foi chamado de HMGA2 (do inglês, high mobility group AT-hook 2). descobertos os genótipos por cruzamentos que se- guem a segunda lei de Mendel, é preciso achar as proporções fenotípicas considerando as condições de interação que o problema apresenta. O aluno não precisa decorar os tipos de interação: o enunciado do problema deve dar elementos para que seja pos- sível identificá-los. Um exemplo de pesquisa relacionada à história da descoberta das interações gênicas e heranças quan- titativas é apresentado no texto a seguir. A cor da semente de trigo Logo após a redescoberta do trabalho de Mendel, muitos pesquisadores se questiona- ram se as características com variação contí- nua, como altura, peso, etc., seriam herdadas da mesma forma que as características estu- dadas por Mendel. Em 1910, o geneticista sueco Herman Nilsson- -Ehle (1873-1949) estudou uma dessas caracte- rísticas, a herança da cor da semente de trigo, e demonstrou que ela segue as leis de Mendel. Ao cruzar trigo de semente vermelho-escu- ra com trigo de semente branca, obteve descen- dentes com cor intermediária entre esses dois extremos. A segunda geração filial (F 2 ), resul- tante do cruzamento entre dois indivíduos da primeira geração filial, apresentava sementes cuja cor variava de forma contínua do verme- lho-escuro ao branco. Notou ainda que nessa F 2 os indivíduos idênticos aos do início do cruza- mento – com sementes de cores vermelho-es- cura e branca – apareciam na proporção 1/64. O denominador 64 na proporção da F 2 in- dicava que ocorreram 64 combinações entre gametas produzidos por indivíduos de F 1 . A partir daí, ele concluiu que cada um dos indi- víduos de F 1 produziu oito tipos de gametas; portanto, esses indivíduos deviam ser hetero- zigotos para três pares de alelos. Ele explicou a variação contínua no fenó- tipo desses 64 indivíduos de F 2 pelo fato de que a cor da semente seria condicionada por três genes, cada um com dois alelos, de segregação independente. Os alelos representados por letras maiúsculas (A, B, C) contribuiriam para a produção de um pigmento vermelho e so- mariam seus efeitos, de tal forma que o indi- víduo AABBCC possuiria seis doses do pigmen- to e sua semente seria vermelho-escura. Os alelos a, b e c não contribuiriam para formar o pigmento e, portanto, o indivíduo aabbcc teria semente branca. Então, a quantidade de pigmento depende- ria da quantidade de alelos A, B e C presentes no genótipo. Assim, os indivíduos AaBbCc, AAbbCc e aaBBCc, por exemplo, teriam a mes- ma quantidade de pigmento – uma média en- tre o vermelho e o branco. A proporção geno- típica em F 2 , resultante do cruzamento dedois heterozigotos, seria a mesma de um tri-hibri- dismo e a proporção fenotípica em F 2 seria 1 : 6 : 15 : 20 : 15 : 6 : 1. Manual do Professor322 BiologiaHoje_V3_PNLD18_MP_PE_313a384.indd 322 27/05/16 15:13 Para mais informações, veja os artigos abaixo (em inglês): LETTRE, G. et. al. Identification of ten loci associated with height highlights new biological pathways in human growth. Nova York: Nature Genetics, 40, p. 584- -591, 2008. WEEDON, M. N. et. al. A common variant of HMGA2 is associated with adult and childhood height in the general population. Nova York: Nature Genetics, 39, p. 1245-1250, 2007. Outra característica influenciada por diversos genes é a audição humana. Porém a deficiência auditiva não tem origem apenas genética e pode ser causada por fatores ambientais, como descrito no texto a seguir. É importante neste capítulo que o professor es- clareça ao aluno que ele não precisa decorar os casos particulares de interação gênica. O que ele tem de fazer é aplicar as leis de mono e di-hibridismo para a situação específica que determinado problema vai colocar. Para isso, o aluno deve ser incentivado a resolver questões com outras situações de interação que não foram descritas no texto. Isso acontece em várias questões da seção Atividades. Causas da surdez A surdez de origem ambiental – cerca de 25% dos casos – pode ser causada por exposi- ção a ruído intenso por tempo prolongado, por acidentes e por infecções, mesmo algumas infecções que ocorrem ainda na vida intrau- terina, como no caso de a mãe contrair o vírus da rubéola na gravidez. Na surdez de origem genética – cerca de 75% dos casos – estão envolvidos vários tipos de he- rança: dominante, recessiva, autossômica e li- gada ao sexo (genes no cromossomo sexual X). Como muitos genes contribuem para o desen- volvimento normal da audição humana, é de esperar que uma mutação em qualquer desses genes possa levar a uma deficiência auditiva. Já foram identificadas mutações genéticas que afetam a mobilidade do osso estribo na orelha média, que afetam a síntese das proteí- nas contráteis dos cílios, presentes nas células da orelha interna, e na proteína da membrana que transporta o potássio para essas células. CAPÍTULO 5: Ligação gênica As perguntas do início do capítulo ajudam a men- surar o conhecimento prévio do aluno a respeito do conteúdo que será estudado. Os alunos já sabem que a interação gênica pode modificar as proporções mendelianas do di-hibridismo. Ao estudar a ligação, eles verão mais um caso em que essa proporção se modifica e também que as leis de Mendel não valem quando dois ou mais genes estão ligados, isto é, situados no mesmo cromossomo. O professor pode começar mostrando um par de genes no mesmo cromossomo e perguntar se esses dois genes obedecem às leis de Mendel. Para facilitar o raciocínio, pode pedir aos alunos que desenhem uma meiose com os alelos desses dois genes e per- guntar se eles se separam de forma independente, isto é, se os genes situados no mesmo cromossomo podem ir para polos diferentes da célula. Se os alunos não se lembrarem da permutação ou não a conhece- rem, eles podem achar que os genes no mesmo cro- mossomo vão sempre para o mesmo polo. Nesse momento, o professor pode relembrar ou explicar a permutação, mostrando um caso em que esse fenô- meno acontece entre os genes em questão. Assim, os alunos poderão perceber que, mesmo quando dois genes estão no mesmo cromossomo, pode haver pro- dução de quatro tipos de gametas se a permutação ocorrer em algum ponto do cromossomo situado en- tre os dois genes em questão. Alguns alunos podem achar que não há diferença entre essa situação e o di-hibridismo mendeliano. É preciso mostrar que isso seria verdadeiro apenas se ocorresse sempre, em todas as células, permutação entre os dois genes em questão. Esse é o momento de explicar que a permutação é um fenômeno aleatório e que, quanto maior a distância dois genes, maior a chance de que ela ocorra entre eles. Com o conceito de taxa de permutação, os alunos poderão perceber por que as proporções mendelia- nas do di-hibridismo estão alteradas quando há li- gação entre os genes. Ao explicar que a determinação da taxa de crossing (permutação) é importante para mapear os genes nos cromossomos, é interessante lembrar que, com as técnicas atuais de engenharia genética, os genes podem ser mapeados e se- quenciados, o que vem se tornando cada vez mais Manual do Professor 323 BiologiaHoje_V3_PNLD18_MP_PE_313a384.indd 323 27/05/16 15:13