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Todos	os	Direitos	Reservados.	Copyright	©	1995	para	a	língua	portuguesa	da
Casa	Publicadora	das	Assembleias	de	Deus.
Segunda	edição	-	Rio	de	Janeiro:	Casa	Publicadora	das	Assembleias	de	Deus,
2020.
Autor:	Myer	Pearlman
Capa:	Fábio	Longo
Conversão	para	ebook:	Cumbuca	Studio
CDD:	220	-	Bíblia
e-ISBN:	978-65-86146-00-4
As	citações	bíblicas	foram	extraídas	da	versão	Almeida	Revista	e	Corrigida,
edição	de	1995,	da	Sociedade	Bíblica	do	Brasil,	salvo	indicação	em	contrário.
Para	maiores	informações	sobre	livros,	revistas,	periódicos	e	os	últimos
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SAC	—	Serviço	de	Atendimento	ao	Cliente:	0800-021-7373
Casa	Publicadora	das	Assembleias	de	Deus
Av.	Brasil,	34.401	-	Bangu,	Rio	de	Janeiro	-	RJ
CEP:	21.852-002
2a	edição	-	2020
Índice
Capa
Folha	de	Rosto
Créditos
Índice
1.	Jesus,	Filho	de	Deus	e	Criador
2.	Os	Primeiros	Discípulos
3.	O	Primeiro	Milagre	de	Cristo
4.	Jesus	e	Nicodemos
5.	Jesus	e	a	Mulher	Samaritana
6.	O	Paralítico	do	Tanque	de	Betesda
7.	Jesus,	o	Juiz	que	Há	de	Vir
8.	Jesus,	o	Pão	da	Vida
9.	Jesus	na	Festa	dos	Tabernáculos
10.	Jesus,	o	Libertador
11.	O	Cego	de	Nascença
12.	Jesus,	o	Bom	Pastor
13.	A	Ressurreição	de	Lázaro
14.	Jesus	é	Ungido	por	Maria
15.	Jesus,	o	Rei	dos	Reis
16.	Jesus,	o	Servo
17.	Jesus	nos	Dá	o	Consolador
18.	Jesus	É	a	Videira
19.	Jesus,	o	Intercessor
20.	A	Crucificação
21.	Jesus,	o	Ressurreto
22.	Jesus	Dissipa	as	Dúvidas
23.	Jesus	Aparece	a	Sete	Discípulos	na	Galiléia
Landmarks
Capa
Folha	de	Rosto
Página	de	Créditos
Sumário
Início
1
Jesus,	Filho	de	Deus	e	Criador
Texto:	João	1.1-14
Introdução
Em	João	20.31,	o	evangelista	declara	o	seu	propósito,	que	é	oferecer	uma	série
de	evidências	que	comprovem	a	natureza	e	a	missão	divinas	de	Jesus.	Os
primeiros	18	versículos	do	livro	são	um	prefácio	em	que	anuncia	o	seu	tema:
“Como	o	Filho	de	Deus	foi	manifestado	ao	mundo”.	Este	prefácio	apresenta	as
três	grandes	idéias	que	percorrem	o	evangelho	inteiro:
1.	A	revelação	do	Verbo,	v.	1-4.
2.	A	rejeição	do	Verbo,	v.	5-11.
3.	A	aceitação	do	Verbo,	v.	12-14.
I	–	A	Revelação	do	Verbo	(Jo	1.1-4)
1.	Seu	relacionamento	com	Deus.	“No	princípio	era	o	Verbo”.	Esta	expressão
nos	leva	de	volta	a	Gênesis	1.1,	onde	se	lê:	“No	princípio	criou	Deus	os	céus	e	a
terra.”	João	nos	informa	que,	na	época	da	criação,	o	Verbo	já
existia:	“E	o	Verbo	estava	com	Deus”,	existia	em	relacionamento	com	Deus,	o
que	sugere	a	eterna	comunhão	entre	o	Pai	e	o	Filho.	“E	o	Verbo	era	Deus”	não
significa	que	o	Verbo	é	o	Pai,	porque	o	Pai	e	o	Filho,	sendo	um	quanto	à	sua
natureza,	são,	porém,	distintos	quanto	às	suas	personalidades.	O	Verbo	é	da
mesma	natureza	do	Pai,	ou	seja,	divino.
A	palavra	do	homem	é	o	modo	de	ele	se	exprimir,	de	se	comunicar	com	outras
pessoas.	Pela	sua	palavra,	faz	conhecidos	seus	pensamentos	e	sentimentos;	pela
sua	palavra,	dá	ordens	e	efetua	a	sua	vontade.	A	palavra	que	ele	fala	transmite	o
impacto	do	seu	pensamento	e	caráter.	Um	homem	pode	ser	conhecido	de	modo
completo	pela	sua	palavra,	e	até	um	cego	pode	conhecê-lo	perfeitamente	assim.
Ver	a	pessoa	não	daria	muitas	informações	quanto	à	sua	personalidade	a	alguém
que	não	a	tivesse	ouvido	falar.	A	palavra	da	pessoa	é	seu	caráter	recebendo
expressão.	Da	mesma	forma,	a	“Palavra	de	Deus”	(ou	“Verbo	de	Deus”,
expressão	que	a	tradução	bíblica	em	português	emprega	quando	se	trata	de	uma
referência	direta	a	Jesus	Cristo	na	sua	vida	terrena)	é	sua	maneira	de	exprimir
sua	inteligência,	vontade	e	poder.	Cristo	é	aquele	Verbo,	porque	Deus	revelou
sua	atividade,	vontade	e	propósito	através	dele,	e	porque	é	por	meio	dele	que
Deus	entra	em	contato	com	o	mundo.	Nós	nos	exprimimos	por	meio	de	palavras;
o	Deus	eterno	se	exprime	através	de	seu	Filho,	que	é	“a	expressa	imagem	da	sua
pessoa”	(Hb	1.3).	Cristo	é	o	Verbo	de	Deus	porque	revela	Deus,	demonstrando-o
pessoalmente.	Ele	não	somente	traz	a	mensagem	de	Deus	-	Ele	é,	pessoalmente,
a	mensagem	de	Deus.
Deus	se	revelara	mediante	a	palavra	dos	profetas,	e	através	de	sonhos,	visões	e
manifestações	temporárias.	Os	homens,	porém,	ansiavam	por	uma	resposta	ainda
mais	compreensível	à	sua	pergunta:	Como	é	Deus?	Como	resposta	a	esta
pergunta,	ocorreu	o	evento	mais	estupendo	da	história	do	mundo:	“E	o	Verbo	se
fez	carne”	(Jo	1.14).	O	eterno	Verbo	de	Deus	tomou	sobre	si	a	natureza	humana
e	se	fez	homem,	a	fim	de	revelar	o	Deus	eterno	através	de	uma	personalidade
humana	(Hb	1.1,2).	Assim	sendo,	diante	da	pergunta	“Como	é	Deus?”,	o	cristão
responde:	Deus	é	como	Cristo,	porque	Cristo	é	o	Verbo	-	a	expressão	do	conceito
que	o	próprio	Deus	faz	de	si	mesmo.
2.	Seu	relacionamento	com	a	criação.	“Todas	as	coisas	foram	feitas	por	ele,	e
sem	ele	nada	do	que	foi	feito	se	fez”.	“Ele	estava	no	princípio	com	Deus”,	ou
seja,	já	na	época	em	que	o	Universo	estava	para	ser	criado	(cf.	Hb	1.2;	Cl	1.16;	1
Co	8.6).	A	quem	falou	Deus	em	Gênesis	1.26?
3.	Seu	relacionamento	com	os	homens.	“Nele	estava	a	vida”.	Ele	dá	vida	a	todos
os	organismos	vivos,	e	guia	todas	as	operações	da	natureza.	O	Pai	é	fonte
original	da	vida;	e	toda	a	vida	está	reservada	nEle,	como	numa	cisterna	de
armazenamento.	O	universo	de	coisas	vivas	veio	a	existir	por	meio	do	Verbo,	e	é
sustentado	pelo	seu	poder.	A	cura	do	paralítico	(Jo	5.1-9)	e	a	ressurreição	de
Lázaro	são	ilustrações	do	poder	do	Verbo.
“E	a	vida	era	a	luz	dos	homens”.	Toda	a	luz	que	já	veio	aos	homens	mediante	a
consciência,	a	razão	ou	a	profecia,	foi	irradiada	pelo	Verbo	de	Deus,	mesmo
antes	dele	entrar	no	mundo.
II	–	A	Rejeição	do	Verbo	(Jo	1.5-11)
1.	Rejeitado	como	a	luz	dos	homens.	“E	a	luz	resplandece	nas	trevas,	e	as	trevas
não	a	compreenderam.”	A	luz	era	derivada	do	Verbo,	e	pela	capacidade	recebida
da	parte	dEle	podiam	reconhecer	o	que	era	útil	à	sua	natureza	espiritual.	Mesmo
assim,	fecharam	os	olhos	à	Fonte	da	luz,	como	o	olho	doentio	que	rejeita	a	luz
natural,	embora	aquela	fosse	a	vida	deles.	A	queda	foi	um	obstáculo,	na	história
da	humanidade,	ao	entendimento	da	Palavra	de	Deus,	porque	envolveu	o	mundo
em	trevas	morais	e	espirituais,	de	tal	modo	que	os	homens,	criados	por	Deus,
não	podiam	mais	entender	as	instruções	de	seu	Criador,	tendo	sido	obscure-
cidas	as	suas	mentes	pelo	efeito	do	pecado	e	da	ignorância.
O	pensamento	básico	do	trecho	é	interrompido	pelos	versículos	6-8,	que
enfatizam	a	posição	de	João	Batista	como	testemunha	e	refletor	da	luz,	e	não
como	Messias.	Alguns	dos	seus	discípulos	se	apegaram	tanto	a	ele	que,	a
despeito	da	advertência	contida	no	testemunho	que	deu	de	si	mesmo	em	João
3.25-30,	teimaram	em	sustentar	ser	João	Batista	o	Messias,	e,	posteriormente,
formaram	a	seita	dos	mandeus,	da	qual	existem	ainda	seguidores	no	Oriente.
Voltando	ao	pensamento	básico:	“Estava	no	mundo,	e	o	mundo	foi	feito	por	ele,
e	o	mundo	não	o	conheceu”.	Os	homens	tinham	tão	pouco	entendimento	da
origem	do	seu	ser,	aprenderam	tão	pouco	acerca	da	razão	da	sua	existência,	que
não	reconheceram	seu	Criador	quando	Ele	surgiu	no	meio	deles.	A	civilização
romana	registrou	seu	nascimento,	lançou-o	no	cadastro	de	pessoas	físicas	para
finalidades	de	impostos,	mas	não	tomou	o	mínimo	conhecimento	dEle	como
sendo	o	próprio	Deus	revelado	em	seu	meio.
2.	Rejeitado	como	Messias	de	Israel.	“Veio	para	o	que	era	seu,	e	os	seus	não	o
receberam”.	Jesus	ensinou	esta	verdade	na	parábola	dos	lavradores	maus	(Mt
21.3343).	Que	tragédia!	A	nação	que	aguardava	a	vinda	do	Messias,	orando
ardentemente	por	este	acontecimento,	cantando	e	profetizando	acerca	da	sua
vinda,	não	quis	recebê-lo	quando	chegou!	(Cf	Is	53.2,3;	Lc	19.14;	At	7.51,52).
III	–	A	Aceitação	do	Verbo	(Jo	1.12-14)
1.	O	dom	da	filiação.	“Mas,	a	todos	quantos	o	receberam,	deu-lhes	o	poder	de
serem	feitos	filhos	de	Deus;	a	saber:	aos	que	crêem	no	seu	nome”.	Estes	vieram
a	ser	filhos	de	Deus,	não	por	serem	descendentes	de	Abraão	(“não	nasceram	do
sangue”),	nem	por	geração	natural	(“nem	da	vontade	da	carne”),	nem	pelos	seus
próprios	esforços	(“nem	da	vontade	do	varão”).	Sua	adoção	na	família	divina	foi
um	dom	gratuito	e	sobrenaturalda	parte	de	Deus,	mediante	uma	nova	vida
implantada	neles	pelo	Espírito	Santo,	como	será	explicado	adiante	na	entrevista
de	Jesus	com	Nicodemos,	no	capítulo	3.
2.	A	visão	da	glória.	“E	o	Verbo	se	fez	carne,	e	habitou	entre	nós”.	Literalmente:
“E	o	Verbo	foi	feito	carne,	e	ta-	bernáculo	entre	nós”.	O	Filho	de	Deus	habitou
num	taber-	náculo	(“tenda”)	entre	nós,	o	tabernáculo	sendo	seu	próprio	corpo
(cf.	Jo	2.19;	2	Co	5.1,4;	2	Pe	1.13,14).	Assim	como	a	glória	de	Deus	habitava	no
Tabernáculo	antigo,	assim	também,	quando	Cristo	nasceu	neste	mundo,	sua
divina	natureza	habitava	no	seu	corpo	como	num	templo.
“E	vimos	a	sua	glória”	(caráter	divino),	não	meramente	a	glória	externa	revelada
na	transfiguração	(2Pe	1.16,17),	mas,	também,	o	esplendor	do	seu	divino	caráter.
Não	era	uma	glória	refletida,	como	a	glória	de	um	santo,	e	sim	a	“glória	do
unigênito	do	Pai”.	Um	filho	participa	da	mesma	natureza	do	pai;	Cristo,	como
Filho	de	Deus,	tem	a	própria	natureza	de	Deus.	Este	divino	caráter	estava	“cheio
de	graça	e	de	verdade”.	A	graça	é	o	favor	divino,	o	amor	inabalável	de	Deus,	a
misericórdia	divina,	e	a	verdade	não	somente	é	a	fala	leal,	sincera	e	veraz,	como
também	a	conduta	à	altura.
Por	qual	ato,	ou	meio,	o	Filho	de	Deus	veio	a	ser	Filho	do	homem?	Qual	milagre
poderia	trazer	ao	mundo	“o	segundo	homem”,	que	é	o	Senhor	do	Céu	(1	Co
15.47)?	A	resposta	é	que	o	Filho	de	Deus	entrou	no	mundo,	como	Filho	do
homem,	por	meio	da	concepção	no	ventre	de	Maria	mediante	o	Espírito	Santo,
independentemente	de	pai	humano.	No	fato	do	nascimento	virginal	baseia-se	a
doutrina	da	encarnação	(Jo	1.14).
IV	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Cristo,	a	nossa	Vida.	“Nele	estava	a	vida”.	Cristo	é	a	verdadeira	fonte	de	vida
espiritual.	“Eu	vim	para	que	tenham	vida,	e	a	tenham	em	abundância”	(Jo
10.10).	Para	esta	finalidade	o	Filho	de	Deus	tornou-se	Filho	do	homem:	a	fim	de
que	os	filhos	dos	homens	possam	ser	feitos	filhos	de	Deus.	“Quem	tem	o	Filho,
tem	a	vida”.
Esta	vida	de	Cristo	em	nós	precisa	tomar	a	primazia;	enquanto	subjugamos	pela
Fonte	a	vida	do	próprio-eu,	sustentamos	a	vida	de	Cristo	em	nós;	quanto	mais
alimentamos	em	nossa	vida	a	de	Cristo,	a	vida	do	próprio-eu	vai	passando	fome.
Miguelângelo,	o	grande	escultor,	dizia	das	lascas	de	mármore	que	iam	caindo	em
grandes	quantidades	no	chão	do	seu	estúdio:	“Enquanto	o	mármore	vai	se
desgastando,	a	estátua	vai	crescendo.”	Enquanto	nós,	mediante	a	abnegação,
tiramos	lascas	da	nossa	velha	natureza,	a	vida	de	Cristo	se	torna	manifesta	em
nossos	corpos	mortais.
Cristo,	para	ilustrar	esta	verdade,	fez	alusão	à	prática	da	poda:	“Toda	vara	em
mim	que	não	dá	fruto,	a	tira;	e	limpa	toda	aquela	que	dá	fruto,	para	que	dê	mais
fruto”	(Jo	15.2).	O	objetivo	da	poda	é	canalizar	a	vida	de	partes	inúteis	para
partes	úteis.	A	parte	da	planta	que	antes	monopolizava	o	vigor	da	planta	sem	dar
resultados,	de	repente	é	cortada,	a	fim	de	que	a	seiva	vital	passe	de	modo	ativo
às	partes	frutíferas.	A	abnegação	é	um	tipo	de	poda	espiritual	mediante	a	qual	as
energias	antes	malbaratadas	em	atividades	pecaminosas	ou	sem	proveito	são
postas	a	serviço	da	vida	espiritual.
Enquanto	conservarmos	nosso	contato	com	Cristo,	que	é	a	nossa	vida,	temos	a
vida	abundante.	Se	deliberadamen-	te	nos	separamos	dele,	perdemos	esta	vida.	A
árvore	não	se	afasta	da	folha;	é	a	folha	que	cai	da	árvore.	Cristo	não	abandona
ninguém;	são	os	homens	que	o	abandonam.
Como	nutrir	a	vida	divina	que	há	em	nós?	Pela	leitura	da	Palavra,	pela	oração,
observando	diligentemente	todos	os	meios	da	graça.
2.	Cristo,	nossa	Luz.	“Ali	estava	a	luz	verdadeira,	que	alumia	a	todo	o	homem
que	vem	ao	mundo”	(Jo	1.9).	Por	que	Jesus	é	comparado	à	luz?
2.1.	A	luz	épura.	Brilha	nos	lugares	mais	imundos	sem	perder	sua	pureza.	Cristo
foi	chamado	“o	amigo	dos	pecadores”,	sem	que	a	mínima	mancha	de	pecado	lhe
tenha	maculado	o	caráter.	A	luz	brilhou	nas	trevas,	sem	nunca	por	elas	ser
vencida,	obscurecida.	Longe	de	afastá-lo	dos	pecadores,	sua	pureza	fez	com	que
sentisse	simpatia	por	eles.	Os	verdadeiros	homens	de	Deus	sempre	demonstram
ternura	pelas	pessoas	que	caíram	em	erros.
2.2.	A	luz	é	meiga.	A	luz	pode	tocar	numa	teia	de	aranha	sem	fazer	tremer	um
único	fio.	Cristo	sempre	demonstrava	meiguice	ao	tocar	vidas	quebradas,	para
sarar	e	não	para	esmagar	(cf.	Mt	12.20).	Todos	os	verdadeiros	cristãos	são
pessoas	meigas,	pacíficas	(Tg	3.17).	Muitas	vezes	o	conceito	de	poder	se
confunde	com	o	da	violência;	a	mei-	guice,	porém,	é	um	poder	construtivo.
2.3.	A	luz	revela.	Quão	grande	é	o	alívio	para	o	viajante	tateando	na	noite	escura,
quando	rompe	a	aurora!	Quão	grande	a	alegria	para	o	peregrino	nas	sendas	desta
vida	quando	a	luz	da	revelação	divina	esclarece	os	problemas	da	vida!	“Eu	sou	a
luz	do	mundo;	quem	me	segue	não	andará	em	trevas,	mas	terá	a	luz	da	vida”	(Jo
8.12).
3.	“O	homem,	este	desconhecido”.	Foi	este	o	título	que	o	cirurgião	e	cientista	Dr.
Alexis	Carrel,	de	renome	mundial,	deu	a	um	livro	seu	que	teve	enorme
aceitação.	Nele,	indica	que	as	dificuldades	pelas	quais	a	humanidade	passa	são
devidas	ao	fato	de	que	o	homem,	sábio	quando	se	trata	de	invenções,	é
proporcionalmente	ignorante	quanto	à	natureza	do	seu	próprio	ser.	Há	algum
tempo,	um	notável	biólogo	fez	uma	declaração	semelhante.	Expressou	o	receio
de	que	a	nossa	civilização	esteja	caminhando	para	a	ruína	porque	o	homem,	com
tantos	conhecimentos	quanto	ao	emprego	dos	objetos	materiais,	ainda	permanece
sendo	um	“mistério	biológico”.
A	razão	por	que	o	homem	não	conhece	a	si	mesmo	é	não	conhecer	o	seu	Criador.
Assim	como	João	escreveu:	“Estava	no	mundo,	e	o	mundo	foi	feito	por	ele,	e	o
mundo	não	o	conheceu”	(Jo	1.10).	Jesus	“sabia	o	que	havia	no	homem”	(Jo
2.25).	Sabe,	também,	o	que	é	melhor	para	o	homem.	Seu	jugo	é	suave	porque,
diferentemente	do	jugo	do	pecado,	se	adapta	à	alma.
4.	Deus	manifestado	na	carne.	Narra-se	a	história	de	um	culto	hindu,	que,
passeando	despreocupadamente,	foi	olhar	de	perto	um	formigueiro.	Quando	se
abaixou,	sua	sombra	assustou	as	formigas	e	elas	correram	em	todas	as	direções.
Tendo	uma	natureza	simpática,	o	hindu	pensou	consigo	mesmo:	“Gostaria	de
poder	conversar	com	estas	pequenas	criaturas,	para	dizer-lhes	que	não	quero	lhes
fazer	nenhum	mal”.	Mais	uma	vez,	aproximou-se	delas,	e	elas,	como	da	primeira
vez,	se	amedrontaram.	Quando	ele	recuou	um	pouco,	recomeçaram	as	atividades
do	formigueiro.	Sua	mente,	como	que	brincava	com	o	incidente:	“Gostaria	de
poder	falar	àquelas	criaturinhas”,	voltou	a	pensar.	Então	ocorreu-lhe	o
pensamento:	“Não	poderia	falar	com	elas	mesmo	se	possuíssem	inteligência;
ainda	que	possuíssem	uma	língua,	e	que	eu	pudesse	aprender	tal	língua,	não
conseguiria	me	comunicar	com	elas,	porque	os	meus	pensamentos	não	são	os
pensamentos	delas.	Meus	termos	de	expressão	não	seriam	compreensíveis	a
elas.”	Sua	imaginação	continuou	trabalhando:	“Se	eu	pudesse	vir	a	ser	uma
formiga	como	elas,	e	ainda	reter	minha	própria	personalidade	e	consciência,
então,	vivendo	entre	elas,	conseguiria	comunicar-me,	e	elas	entenderiam	pelo
menos	alguma	coisa	dos	meus	pensamentos”.	O	seguinte	pensamento	raiou-	lhe
de	súbito:	“É	exatamente	isto	que	estes	ensinadores	cristãos	querem	nos	dizer:
que	Deus	se	fez	homem	a	fim	de	revelar-se	a	nós	e	salvar-nos”.	E,	assim,	sob	a
influência	da	própria	ilustração	que	ele	mesmo	viu,	o	hindu	veio	a	aceitar	a	fé
cristã.
A	encarnação	é	um	mistério	que	desafia	a	lógica.	Para	nossa	fé,	porém,	basta
sabermos	que	Deus	se	revelou	por	meio	de	Cristo,	a	fim	de	abrir-nos	o	caminho
da	salvação.
2
Os	Primeiros	Discípulos
Texto:	João	1.35-42
Introdução
O	apóstolo	João	declara	o	propósito	de	escrever	seu	evangelho:	“Estes,	porém,
foram	registrados	para	que	creiais	que	Jesus	é	o	Cristo,	o	Filho	de	Deus,	e	para
que,	crendo,	tenhais	vida	em	seu	nome”	(Jo	20.31).	João	transmite-nos	todo	o
volume	de	testemunho	que	o	convenceu,	e	a	outros	da	sua	geração,	quanto	à
divindade	de	Cristo,	e	tem	confiança	de	que	outros,	igualmente,	serão	inspirados
com	a	mesma	convicção.
O	apóstolo	apresenta	três	séries	de	testemunhos:	1)	Os	milagres	de	Cristo,que
chama	de	“sinais”,	porque	demonstram	a	divindade	de	quem	os	opera.	Quantos
milagres	operados	antes	da	crucificação	João	registra	no	seu	livro?	2)	As
asseverações	de	Jesus	quanto	à	sua	natureza	e	missão.	Note	quantas	vezes	João
registra	as	reivindicações	de	Jesus,	que	começam	com	as	palavras	“eu	sou”.	3)
João	registra	os	testemunhos	de	outras	pessoas	-	de	João	Batista,	dos	primeiros
discípulos	e	daqueles	que	receberam	a	cura	da	parte	de	Jesus.
Este	trecho	é	um	exemplo	da	terceira	série	de	evidências.	Citam-se	aqui	os
testemunhos	de	João	Batista	e	André,	irmão	de	Pedro.
Quando	Jesus	emergiu	da	vida	particular	para	entrar	no	ministério	público,	não
tinha	nenhum	adepto	ou	seguidor.	Deus,	porém,	enviara	um	profeta	para	preparar
o	caminho	diante	dele	-	João	Batista,	para	“preparar	ao	Senhor	um	povo	bem
disposto”	(Lc	1.17).	Foi	no	meio	dos	convertidos	de	João	Batista	que	Jesus
recebeu	seus	primeiros	discípulos.	Nosso	trecho	bíblico	conta	como	três	desses
discípulos	(inclusive	o	discípulo	não	mencionado	pelo	nome)	deixaram	a	escola
preparatória	de	João	Batista	para	se	tornarem	estudantes	da	escola	superior	de
Jesus.
I	–	Uma	Declaração	Que	Chama	a	Atenção	(Jo	1.35,36)
“No	dia	seguinte	João	estava	outra	vez	ali,	e	dois	dos	seus	discípulos	[André	e
João];	e,	vendo	passar	a	Jesus,	disse:	Eis	aqui	o	Cordeiro	de	Deus”.	Estudemos	o
significado	desta	proclamação,	examinando	as	palavras,	uma	por	uma.
1.	“EIS	aqui	o	Cordeiro	de	Deus”.	Literalmente,	“veja”.	O	evangelista	apela	ao
pecador	que	veja	o	Crucificado	e,	contemplando-o,	lamente	os	pecados	que
causaram	sua	morte.
2.	“	Eis	O	Cordeiro	de	Deus”.	Os	sacrifícios	de	animais	não	operavam	a	perfeita
redenção,	haja	vista	que	sempre	tinham	de	ser	repetidos.	Nenhum	sacerdote	de
Israel,	cansado	por	causa	do	serviço	ao	redor	do	altar,	poderia	voltar	para	casa,
dizendo:	“Minha	esposa,	finalmente	ofereci	o	sacrifício	final;	o	povo	está
completamente	perdoado	e	purificado”.	No	entanto,	qualquer	um	dentre	os
sacerdotes	que	obedeciam	à	fé	(At	6.7)	poderia	ter	dito	isso,	porque	o	Cordeiro
perfeito,	do	qual	os	demais	eram	apenas	símbolos,	já	fora	oferecido	(cf.	Hb
10.11,12).
3.	“Eis	o	CORDEIRO	de	Deus”.	O	cordeiro	era	um	animal	sacrifical;	João,
portanto,	identificava	Jesus	com	o	Sacrifício	enviado	da	parte	de	Deus,	“que	tira
o	pecado	do	mundo”.	Leia	Isaías	53,	que	é	um	ponto	alto	na	doutrina	do
sacrifício,	por	profetizar	que	o	próprio	Messias	em	pessoa	haveria	de	se	tornar	a
expiação	pela	raça	humana.	Compare	com	Atos	8.32-35.	Talvez	João	também	se
referisse	ao	cordeiro	da	Páscoa	(cf.1	Co	5.7).	No	início	do	período	da	Lei,	há	o
cordeiro	da	Páscoa,	cuja	aceitação	por	parte	da	nação	de	Israel	redimiu-a	do
meio	da	nação	gentia;	quase	no	fim	do	período	da	Lei,	há	outro	Cordeiro,
rejeitado	pelos	israelitas	-	e,	por	causa	deste	pecado,	foram	espalhados	entre	os
gentios.
4.	“Eis	o	Cordeiro	de	DEUS”.	Uma	das	mais	marcantes	diferenças	entre	a	fé
cristã	e	o	paganismo	é	que	os	adoradores	pagãos	trazem	sacrifícios	na	tentativa
de	se	reconciliarem	com	os	seus	deuses,	enquanto	a	mensagem	do	Evangelho
declara	que	o	próprio	Deus	enviou	um	sacrifício	em	nosso	favor	a	fim	de	nos
reconciliar	consigo	(Rm	8.32;	2	Co	5.19).	Deus	trouxe	a	nós	o	sacrifício	que	nos
coloca	mais	perto	de	Deus,	e	até	o	Antigo	Testamento	apresenta	a	expiação
como	sendo	a	dádiva	da	graça	divina:	“Porque	a	alma	da	carne	está	no	sangue;
pelo	que	vo-lo	tenho	dado	sobre	o	altar,	para	fazer	expiação	pelas	vossas	almas”
(Lv	17.11).
II	–	Uma	Apresentação	Inesquecível	(Jo	1.37-39)
1.	Os	discípulos	que	procuram.	“E	os	dois	discípulos	ouviram-no	dizer	isto,	e
seguiram	a	Jesus.”	A	congregação	de	João	começou	a	deixá-lo;	ele,	no	entanto,
não	sentiu	ciúmes	porque,	afinal,	foi	justamente	esta	obra	de	apontar	às	pessoas
o	Messias	que	viera	fazer:	“É	necessário	que	ele	cresça	e	que	eu	diminua”	(cf.	Jo
3.25-30).	O	fiel	obreiro	cristão	conduz	as	pessoas	a	Cristo,	e	não	a	si	mesmo.
2.	A	pergunta	perscrutadora.	“E	Jesus,	voltando-se	e	vendo	que	eles	o	seguiam,
disse-lhes:	Que	buscais?”	O	Senhor	não	deixa	que	ninguém	o	siga	em	vão;
mostrará	o	seu	rosto	àqueles	que	o	seguem	em	sinceridade.	Note	que	as	palavras
“que	buscais?”	são	um	gracioso	convite	aos	que	o	procuram,	para	que	abram	o
seu	coração	a	Ele.	Ele	a	todos	pergunta:	“Que	buscais?”	Estão	procurando
verdade,	poder,	perdão,	amor,	paz,	vitória,	esperança,	forças?	Ele	pode	nos
oferecer	tudo	quanto	buscamos	e	de	que	necessitamos.	Além	disso,	a	pergunta	é
um	desafio,	no	sentido	de	ver	se	estamos	procurando	as	coisas	certas,	porque	ele
procura	discípulos	sinceros	e	que	entendam	o	que	estão	fazendo.
3.	A	pergunta	tímida.	“E	eles	disseram-lhe:	Rabi	(que,	traduzido	quer	dizer,
Mestre),	onde	moras?”	Apesar	de	se	sentirem	um	pouco	acanhados	na	sua
presença,	os	jovens	ficaram	tão	impressionados	em	seu	primeiro	contato	com
Jesus	que	desejavam	saber	mais	acerca	dele;	queriam	saber	o	seu	endereço,
visando	a	uma	visita	mais	prolongada.	Lição:	não	devemos	nos	limitar	a	uma
olhada	passageira	em	Cristo;	devemos	saber	onde	Ele	habita,	para	que	nos
receba	como	hóspedes.
4.	O	convite	gracioso.	“E	ele	lhes	disse:	Vinde,	e	vede.”	Este	convite	é	a	melhor
resposta	aos	que	duvidam	e	aos	interessados	-	é	o	apelo	à	experiência.	Podemos
dar	às	pessoas	uma	excelente	receita	culinária,	e	fazer	grande	esforço	de
descrever	quão	delicioso	é	certo	prato,	mas	nada	se	compara	com	levar	o	próprio
ouvinte	a	experimentar	a	comida	por	si	mesmo.	“Provai,	e	vede	que	o	Senhor	é
bom”	(Sl	34.8)
III	–	Uma	Entrevista	Que	Transforma	a	Vida	(Jo	1.39)
“Foram,	e	viram	onde	morava,	e	ficaram	com	ele	aquele	dia”.	O	escritor
inspirado	não	nos	conta	os	detalhes	daquela	inesquecível	visita;	sabemos,	no
entanto,	que	o	contato	com	o	radiante	Mestre	contribuiu	com	algo	de	vital	à	vida
de	André.	Nunca	mais	foi	o	mesmo	depois	daquela	entrevista.	“Senti	um	calor
estranho	no	meu	coração”,	disse	João	Wesley,	descrevendo	seu	primeiro	contato
vivo	com	Cristo,	e	certamente	André	sentiu-se	assim	durante	a	sua	festa
espiritual	com	o	Mestre.	Quem	aceitar	o	convite	de	Jesus	(“Venha	ver”)	receberá
outro	convite	(“Venha	cear”).	O	primeiro	é	para	os	que	ainda	não	são	do	seu
rebanho;	o	segundo	é	para	os	que	já	entraram	no	seu	aprisco.
IV	–	Uma	Grande	Descoberta	(Jo	1.40)
André	saiu	daquela	casa	transbordando	com	uma	poderosa	convicção	e,
enlevado	pela	descoberta	que	tanto	o	emocionara,	foi	correndo	falar	com	o	seu
irmão	Pedro,	anunciando	as	novas	que	fariam	palpitar	o	coração	de	qualquer
verdadeiro	israelita:	“Achamos	o	Messias”.	Muitos	judeus	podem	dizer,	até	hoje:
“Cremos	na	vinda	do	Messias,	oramos	e	ansiamos	por	aquele	acontecimento”,
mas	nenhum	judeu	que	não	crê	em	Jesus	pode	dizer,	juntamente	com	André:
“Achamos	o	Messias”.
Note	que	André	veio	a	ser	testemunha	de	Cristo	no	dia	da	sua	conversão.	As
coisas	maravilhosas	que	Cristo	sussurra	nos	ouvidos	do	homem,	em	segredo,
ficam	ardendo	no	seu	íntimo	até	que	ele	conte	aos	outros.
V	–	Um	Serviço	de	Amor	(Jo	1.42)
André	não	se	restringiu	a	contar	as	novas:	queria	que	seu	irmão	as
experimentasse	por	si	mesmo.	Lemos,	portanto:	“E	levou-o	a	Jesus”	-	o	serviço
mais	gentil	que	uma	pessoa	pode	fazer	a	outra.	Não	é	necessário	que	alguém	seja
grande	pregador	ou	gênio	espiritual	para	assim	fazer.
André	começou	o	trabalho	em	seu	próprio	lar:	“Este	achou	primeiro	a	seu
irmão”.	O	melhor	preparo	a	um	missionário	é	começar	em	casa;	se	não
conseguimos	levar	outras	pessoas	a	Cristo	em	nossa	própria	terra,	como	o
faremos	em	outras	terras?	Quando	o	endemoninhado	liberto	por	Jesus	quis
seguir	viagem	com	Ele,	o	Mestre	respondeu:	“Vai	para	tua	casa,	para	os	teus,	e
anuncia-lhes	quão	grandes	coisas	o	Senhor	te	fez,	e	como	teve	misericórdia	de
ti”	(Mc	5.19).
VI	–	Uma	Recepção	Graciosa	(Jo	1.42)
“E,	olhando	Jesus	para	ele,	disse:	Tu	és	Simão,	filho	de	Jonas;	tu	serás	chamado
Cefas	(que	quer	dizer	Pedro).”	Cefas,	em	hebraico,	quer	dizer	“pedra”	ou
“rocha”.	O	que	Cristo	quis	dizer	com	isto?
1.	Na	Bíblia,	a	mudança	de	nome	freqüentemente	significava	mudança	da
natureza	da	pessoa,	da	sua	situaçãoou	experiência	(Gn	32.28).	Este	encontro
com	Jesus	se	constituiu	em	ponto	crítico	na	vida	de	Pedro	-	a	hora	em	que	ele
passou	a	ser	de	Cristo.
Dan	Crawford	conta	acerca	do	valor	que	os	congoleses	dão	a	nomes:
“O	homem	que	se	transforma	muda	também	de	nome.	Um	jovem	perto	de	mim
recebeu	um	aumento	salarial,	e	tomou	dinheiro	adiantado	para	comprar	um
nome.	Para	ele,	o	nome	era	um	patrimônio	tão	valioso	como	um	imóvel,
pertencendo-lhe	como	se	fosse	seu	cachorro	ou	sua	arma.	O	jovem	queria
comprá-lo	solenemente,	à	vista.	Naturalmente	que	possuía	nome,	mas	achava
seu	nome	de	nascimento	por	demais	infantil:	não	é	verdade	que	para	dado	por
conjectura,	e	sem	o	consentimento	dele?	Não	é	verdade	que	o	nome	deve	ser	um
legítimo	reflexo	do	caráter	da	pessoa?...	Não	é	de	se	estranhar,	portanto,	que
quando	você	diz	ao	africano	que	no	céu	teremos	uma	nova	natureza,	este
responde:	‘Devemos,	portanto,	receber	um	nome	novo”’	(ver	Ap	2.17).
2.	A	mudança	de	nome	foi,	neste	caso,	uma	promessa	de	poder	transformador.
Talvez	Pedro	pensasse,	consigo	mesmo,	na	presença	do	Mestre:	“Como	poderei
eu,	homem	de	caráter	fraco	e	instável,	ser	digno	de	entrar	no	reino	do	Messias?”
(cf.	Lc	5.7,8).	O	Senhor,	percebendo	os	temores	íntimos	de	Pedro,	queria	dizer:
“Sei	que	o	homem	chamado	Simão	é	conhecidamente	impulsivo,	impetuoso	e
instável.	Tenha,	porém,	bom	ânimo.	Assim	como	sei	quem	é	você,	assim
também	sei	o	que	você	será.	Venha	a	mim	assim	como	você	é,	e	eu	o	farei	uma
pedra	firme	no	meu	Reino.	Como	sinal	desta	promessa,	seu	nome	será	Cefas.”
O	Senhor	sempre	é	o	mesmo:	recebe-nos	em	nossa	fraqueza,	sabendo	que	poderá
nos	tornar	fortes.
3.	O	novo	nome	foi	sinal	da	autoridade	de	Cristo	exercida	sobre	Pedro,	assim
como	um	rei	pode	alterar	o	nome	de	alguém	que	levou	cativo	(cf.	Dn	1.7).
Daquele	momento	em	diante,	Pedro	ficou	pertencendo	a	Cristo	e,	com	todo
amor,	chamava-o	de	Mestre.
VII	–	Ensinamentos	Práticos
1.	A	maior	necessidade	do	homem.	Sacrifícios,	altares	e	templos	em	todas	as
terras	e	época	testificam	esta	verdade:	os	homens	sempre	sentiram	o	fato	de	as
coisas	andarem	erradas	no	seu	relacionamento	com	o	poder	superior,	e	que	a
apresentação	de	um	sacrifício	com	derramamento	de	sangue	é	necessária	para
retificar	a	situação.	Cada	pessoa	que	honestamente	examinar	o	seu	próprio
coração	sentir-se-á	constrangida	a	dizer	“Amém!”	à	declaração	bíblica:	“Pois
todos	pecaram	e	destituídos	estão	da	glória	de	Deus”	(Rm	3.23).	Muitos
remédios	têm	sido	oferecidos	para	curar	a	falta	de	harmonia	que	há	na	alma
humana;	João	Batista,	porém,	apontou	o	remédio	divino:	“Eis	o	Cordeiro	de
Deus,	que	tira	o	pecado	do	mundo!”
2.	Uma	pergunta	perscrutadora.	“Que	buscais?”	Esta	pergunta	sugere	duas
lições.	1)	A	necessidade	de	termos	nítida	consciência	de	qual	é	o	nosso	objetivo
na	vida.	Muitas	pessoas	são	levadas	à	deriva	pela	vida,	impulsionadas	pelas
circunstâncias;	sabem	quais	as	suas	necessidades	imediatas;	não	podem,	porém,
apontar	um	objetivo	supremo	para	atingir,	nem	mencionar	um	grande	propósito
que	controle	a	sua	vida.	Jesus,	para	despertar	nas	pessoas	o	reconhecimento	de
quão	fútil	é	a	vida	que	vão	levam,	pergunta-lhes:	“Que	buscais?”	2)	A	pergunta
desafia	as	pessoas	a	se	tornarem	discípulos	sérios.	Marcos	Dods	escreve:
“Cristo	deseja	ser	seguido	com	toda	a	seriedade.	Tantos	o	seguem	porque	uma
multidão	está	indo	atrás	dele,	levando	outras	pessoas	consigo;	tantos	o	seguem
porque	está	na	moda,	sem	possuírem	opinião	própria;	muitos	o	seguem	como	por
experiência,	e	vão	ficando	para	trás	quando	surge	a	primeira	dificuldade;	muitos
seguem	com	idéias	errôneas	quanto	àquilo	que	esperam	da	parte	dEle...	Cristo
não	manda	ninguém	embora	simplesmente	pela	sua	lentidão	em	entender	quem	é
Ele	e	o	que	Ele	tem	feito	pelos	pecadores.	Com	esta	pergunta,	no	entanto,	nos
faz	entender	que	aquela	atração	vaga	e	misteriosa	que,	qual	ímã	escondido,	atrai
a	ele	as	pessoas,	deve	ser	trocada	por	uma	compreensão	nítida	quanto	ao	que	nós
mesmos	esperamos	receber	dEle	para	suprir	as	nossas	necessidades.	Ele	não
rejeitará	pessoa	alguma	que	responda,	com	sinceridade:	“Buscamos	a	Deus,
buscamos	a	santidade,	buscamos	serviço	contigo,	buscamos	a	ti.”
3.	“Vinde,	e	vede”.	É	um	desafio	aos	que	duvidam	e	questionam.	Certo	cristão
aceitou	o	desafio	de	um	não-crente	para	debater	com	ele	em	público.	Depois	do
discurso	do	não-crente,	o	cristão,	sem	falar	uma	palavra,	tirou	uma	laranja	do
bolso,	descascou-a,	comeu-a	e	depois	perguntou:	“Bem,	como	estava	a	laranja?”
“Como	vou	saber?”,	retrucou	o	não-crente.	“Nem	sequer	provei	dela”.
Respondeu	o	crente:	“Como	o	senhor	pode	conhecer	o	Cristianismo	quando	não
o	experimentou?”
Um	interessado	pode	ouvir	e	ler	acerca	de	Cristo;	o	melhor	caminho,	no	entanto,
é	chegar	diretamente	a	Ele	para	experimentar	seu	poder.	Para	se	explicar	aos
índios	da	floresta	tropical	o	que	é	o	gelo,	mais	valeria	um	pedaço	para
examinarem	do	que	uma	hora	de	preleções	sobre	o	assunto.
4.	Testemunho	de	Cristo.	O	testemunho	de	André	sugere	três	lições:	1)	“Este
achou	primeiro	a	seu	irmão”.	Quanto	mais	estreitos	os	laços	de	parentesco	entre
quem	testemunha	e	quem	ouve,	mais	enfático	será	o	testemunho.	Há	mais	força
de	convicção	entre	os	que	se	conhecem	intimamente	do	que	na	mensagem	falada
em	público.	Quando	alguém	encontra	Cristo	de	forma	tão	real	que	sua	alegria	é
tão	óbvia	como	quando	encontra	um	excelente	emprego	ou	vaga	universitária,
seu	testemunho	não	deixará	de	convencer	aos	que	o	conhecem.	2)	O	testemunho
pessoal	é	prova	da	convicção	pessoal;	quando	alguém	tem	profunda	convicção,
não	pode	ficar	tran-	qüilo	até	compartilhá-la	com	outra	pessoa.	3)	O	testemunho
pessoal	faz	parte	do	plano	de	Deus	para	a	evan-	gelização	do	mundo.	No	século
que	se	seguiu	à	era	apostólica,	não	houve	notícia	de	“grandes”	evangelistas	e
missionários;	não	há	registro	de	campanhas	evangelísticas	abrangendo	cidades
inteiras.	A	Igreja,	no	entanto,	cresceu	com	ritmo	veloz.	A	explicação	é	que	cada
cristão	considerou	ser	dever	e	privilégio	testemunhar	de	Cristo.	O	escravo
testemunhava	perante	seu	dono;	o	operário,	ao	seu	companheiro;	o	vendedor,	aos
seus	fregueses;	o	filho,	aos	pais.	Os	pastores,	evangelistas	e	missionários	se
destacam	na	liderança	da	obra	de	ganhar	almas	para	Cristo,	mas	não	podem	ficar
sem	a	colaboração	dos	membros	das	suas	congregações.
3
O	Primeiro	Milagre	de	Cristo
Texto:	João	2.1-11
Introdução
O	milagre	da	transformação	da	água	em	vinho	ilustra	o	propósito	do	Evangelho
de	João,	a	saber:	despertar	a	fé	na	divindade	de	Cristo	e	em	Cristo,	como	o
Messias.	João	nos	conta	como	este	milagre	o	convenceu,	juntamente	com	os
demais	discípulos,	da	natureza	divina	de	Cristo	(2.11),	e	registra	o	incidente	para
que	a	nossa	fé	também	possa	ser	despertada	e	aumentada.
I	-	A	Feliz	Ocasião	(Jo	2.1,2)
“E,	ao	terceiro	dia	(do	incidente	em	1.51),	fizeram-se	umas	bodas	em	Caná	da
Galiléia,	e	estava	ali	a	mãe	de	Jesus.	E	foi	também	convidado	Jesus	e	os	seus
discípulos	(ver	capítulo	1)	para	as	bodas.”	A	presença	do	nosso	Senhor	no
casamento	sugere	as	seguintes	lições:
1.	Jesus	aprova	a	vida	social.	Jesus	não	era	um	religioso	sombrio	com	rosto
desagradável	que	se	esquivava	do	contato	com	as	pessoas.	Comia	juntamente
com	fariseus	e
publicanos	com	sociabilidade	imparcial.	Não	consta	ter	recusado	a	hospitalidade
de	quem	quer	que	seja,	a	ponto	de	os	formalistas	levantarem	a	acusação	de	ser
ele	“glutão	e	bebedor	de	vinho,	amigo	de	publicanos	e	pecadores”.	Não	era
verdadeira	a	acusação,	mas	pelo	menos	ressaltou	a	verdade	de	que	Cristo	não
aborrecia	o	convívio	de	grupos	sociais,	e	que	gostava	de	estar	com	pessoas.
Procurava	a	companhia	das	pessoas	a	fim	de	espalhar	a	sua	influência	e	doutrina,
e	para	deixar	que	as	pessoas	o	conhecessem	e,	por	meio	dele,	à	graça	de	Deus.	O
Senhor	Jesus	acreditava	em	“separação”	tão	profundamente	como	os	próprios
fariseus	(que	formavam	o	partido	“da	separação”);	mas,	enquanto	estes	se
afastavam	dos	pecadores	e	continuavam	a	dar	guarida	ao	pecado	no	coração	(Mt
23.25-28),	Jesus	se	conservava	separado	do	pecado	e	dava	as	boas-vindas	aospecadores,	a	fim	de	salvá-los.	Noutras	palavras,	ele	estava	interiormente
separado	dos	pecadores,	enquanto	mantinha	com	eles	contato	exterior.	Devemos
seguir	seu	exemplo	nesta	matéria.	Somos	o	sal	da	terra,	mas,	a	fim	de	sermos
eficazes,	precisamos	entrar	em	contato	com	aquilo	que	precisa	ser	salgado;	para
sermos	pescadores	dos	homens,	devemos	ir	para	onde	estão	os	peixes;	para
sermos	luz	do	mundo,	devemos	aparecer	e	brilhar.
2.	Cristo	aprova	o	casamento.	Nenhum	relacionamento	humano	tipifica	um
mistério	espiritual	tão	profundo	(ver	Jo	3.29;	Mt	9.15;	22.1-14;	25.10;	Ap	19.7;
22.17;	2	Co	11.2).	É	digno,	portanto,	da	mais	elevada	honra.	Cristo	previu,
também,	que	surgiriam	na	igreja	aqueles	que	menosprezariam	o	casamento	(1
Tm	4.3),	ou	que	não	perceberiam	toda	a	dignidade	e	honra	da	família	cristã.
Lição	prática:	a	presença	de	Cristo	é	essencial	ao	casamento	feliz.
3.	Cristo	aprova	a	alegria	inocente.	Embora	nosso	Senhor	fosse	homem	de	dores,
carregando,	lá	no	íntimo,	o	fardo	do	pecado	e	da	tristeza	do	mundo	inteiro,
parece	que	era	o	lado	alegre	da	sua	natureza	que	ele	apresentava	às	pessoas.	Seu
nascimento	foi	anunciado	como	boas-novas	de	grande	alegria.	Uma	das	suas
exortações	favoritas	era:	“Tende	bom	ânimo”;	a	palavra	“alegria”	ocupava	um
lugar	de	honra	no	seu	vocabulário.	Não	há	dúvida	de	que	Ele	dirigia	os
pensamentos	dos	homens	às	realidades	solenes	da	vida,	mas,	ao	mesmo	tempo,
oferecia-lhes	gozo	inefável	e	cheio	de	glória.	Uma	ilustração	do	Reino	dos	Céus
que	Ele	freqüentemente	citava	era	a	de	um	banquete	de	casamento,	e	quando	os
discípulos	de	João	queriam	saber	por	que	os	de	Jesus	não	jejuavam,	empregou	a
mesma	ilustração:	“Então	chegaram	ao	pé	dele	os	discípulos	de	João,	dizendo:
Por	que	jejuamos	nós	e	os	fariseus	muitas	vezes,	e	os	teus	discípulos	não
jejuam?	E	disse-lhes	Jesus:	Podem	porventura	andar	tristes	os	filhos	das	bodas,
enquanto	o	esposo	está	com	eles?	Dias,	porém,	virão	em	que	lhes	será	tirado	o
esposo,	e	então	jejuarão”	(Mt	9.14,15).
II	–	A	Falta	Embaraçosa	(Jo	2.3-5)
“E,	faltando	o	vinho,	a	mãe	de	Jesus	lhe	disse:	Não	têm	vinho.”	O	esgotamento
do	suprimento	de	vinho	pode	ter	surgido	por	três	razões:	o	número	inesperado
dos	discípulos	de	Cristo,	o	prolongamento	da	festa	por	sete	dias,	segundo	o
costume	ou	as	dificuldades	financeiras	do	noivo	e	da	noiva.
1.	A	sugestão	ansiosa.	Maria,	decerto,	tem	íntima	conexão	com	a	família	que
celebrava	o	casamento,	como	se	percebe	do	seu	conhecimento	da	falta	de	vinho
e	das	ordens	que	deu	aos	serventes.	A	falta	de	vinho	em	tal	ocasião	seria	uma
desonra	para	o	hospedeiro	e	para	o	casamento	que	estava	sendo	festejado.
Assim,	Maria	sussurrou,	ansiosamente,	a	informação:	“Não	têm	vinho”.
Lembrando-se	das	declarações	proféticas	feitas	acerca	da	grandeza	do	seu	Filho
(Lc	1.30-35),	ela	acreditava	ter	ele	poderes	suficientes	para	suprir	a	necessidade
e	tirar	o	hospedeiro	do	embaraço.	Maria,	vendo	o	seu	Filho	cercado	pelos	seus
discípulos,	sente	a	esperança	secreta	que	nutria	em	silêncio	durante	tantos	anos
irromper	em	ardor	flamejante,	e	volta-se	a	ele,	demonstrando	uma	bela	fé	em	seu
poder	para	ajudar,	mesmo	na	pequena	necessidade	do	momento.	Será	que	ela	já
presenciara	alguma	manifestação	do	seu	poder	miraculoso?	Leia	o	versículo	11.
2.	A	firme	ressalva.	“Disse-lhe	Jesus:	Mulher,	que	tenho	eu	contigo?	ainda	não	é
chegada	a	minha	hora”.	Tal	linguagem	não	dá	a	entender	nenhuma	falta	de
respeito	porque	a	palavra	“mulher”,	equivalente	a	“senhora”,	foi	a	mesma	que
Jesus	dirigiu	a	ela	nos	momentos	finais	de	sua	vida	terrestre:	“Mulher,	eis	aí	o
teu	filho”	(Jo	19.26).	Era	um	termo	de	respeito	que	se	empregava	até	quando	se
dirigia	a	uma	rainha.
Mesmo	assim,	a	linguagem	dá	a	entender	uma	mudança	de	relacionamento	entre
Jesus	e	Maria.	Ela	já	não	era	“mãe”,	e	sim	“mulher”.	O	período	de	sujeição	a
Maria	chegou	ao	fim.	Ele	agora	é	o	Messias,	o	Servo	do	Senhor,	e	seu
relacionamento	é	o	de	Messias	e	discípulo	(cf.	At	1.14).
Jesus,	por	assim	dizer,	indicava:	“É	verdade	que	o	relacionamento	natural	entre
nós	é	o	de	mãe	e	filho;	lembre-se,	porém,	de	que	a	minha	vida	é	vivida	na	esfera
de	um	relacionamento	mais	alto	(cf.	Lc	2.48,49).	Como	Filho	de	Deus,	devo
doravante	agir	e	trabalhar	segundo	o	tempo	e	a	maneira	que	meu	Pai	manda.	O
tempo	e	a	maneira	do	meu	ministério	dependem	de	considerações	mais	altas	do
que	as	de	carne	e	sangue”	(cf.	Mt	12.46-50).
Muitas	vezes	acontece	que	uma	mãe	chega	ao	reconhecimento,	talvez	doloroso,
de	que	quem	foi	seu	“menino”	entrou	numa	esfera	de	vida	mais	ampla,	além	de
influência	e	controle,	da	qual	ela	não	pode	participar.
3.	A	humilde	aquiescência.	Maria	rapidamente	entendeu	a	situação	e	aceitou-a
com	doçura	e	humildade;	em	seguida,	disse	aos	serventes:	“Fazei	tudo	quanto
ele	vos	disser”.	Sua	fé	lançou	mão	daquela	pequena	centelha	de	esperança	-
“ainda	não”	(v.	4)	-	e	fê-la	transformar-se	em	chama	viva.	Com	firme	confiança,
apesar	da	suave	chamada	de	atenção	recebida,	Maria	deixou	tudo	nas	mãos	de
Jesus.	Nós	também	devemos	nos	submeter	a	Ele,	confiando	que	atenderá	às
nossas	petições,	e	isto	como	e	quando	lhe	convier.
III	–	O	Suprimento	Milagroso	(João	2.6-10)
“E	estavam	ali	postas	seis	talhas	de	pedra,	para	as	purificações	dos	judeus	(para
lavarem-se	cerimonialmente)	e	em	cada	uma	cabiam	dois	ou	três	almudes	(ou
metretas,	medida	correspondente	a	38	litros).	Disse-lhes	Jesus:	Enchei	d’água
essas	talhas.	E	encheram-nas	totalmente.”
1.	A	realidade.	As	circunstâncias	do	milagre	dissipam	qualquer	dúvida	quanto	à
sua	realidade:	as	talhas	eram	especificamente	para	água,	não	havendo	a
possibilidade	de	se	sugerir	a	presença	de	sedimentos	no	fundo	que	emprestassem
o	gosto	de	vinho	à	água;	sua	presença	ali	era	normal,	e	não	premeditada,	de
acordo	com	o	costume	dos	judeus	de	lavagem	(Mt	15.2;	Mc	7.2-4;	Lc	11.38);	a
quantidade	era	enorme,	muito	mais	do	que	se	poderia	ter	trazido	secretamente;
as	talhas	estavam	vazias,	e	os	empregados	sabiam	que	foi	com	água	que
passaram	a	enchê-las.
2.	O	mistério.	O	processo	pelo	qual	a	água	foi	transformada	em	vinho	era	divino;
nenhuma	palavra	foi	escrita	sobre	o	método	da	operação	do	milagre,	nem	sequer
se	menciona	que	o	milagre	foi	operado;	simplesmente	nos	é	informado	o	que
aconteceu	antes	e	depois	do	milagre.	Jesus	não	enunciou	qualquer	palavra	de
ordem,	nem	empregou	qualquer	meio:	bastava	o	silencioso	exercício	da	sua
vontade	para	que	a	matéria	se	transformasse	segundo	o	seu	beneplácito.	A
operação	do	poder	criador	do	Senhor	Jesus	foi	feita	mediante	sua	simples
vontade	íntima.
3.	A	admiração.	“E,	logo	que	o	mestre-sala	provou	a	água	feita	vinho	[não
sabendo	donde	viera,	se	bem	que	o	sabiam	os	serventes	que	tinham	tirado	a
água],	chamou	o	mestre-sala	ao	esposo,	e	disse-lhe:	Todo	homem	põe	primeiro	o
vinho	bom	e,	quando	já	têm	bebido	bem,	então	o	inferior;	mas	tu	guardaste	até
agora	o	bom	vinho”.	O	mes-	tre-sala,	dirigindo	o	andamento	da	festa,	não	aludia
a	qualquer	excesso	da	parte	das	pessoas	presentes	naquela	festa	específica,
porque	Jesus	não	teria	abençoado	com	sua	presença	qualquer	bebedice.
Simplesmente	faz	alusão	ao	costume	normal,	mediante	o	qual	os	hóspedes,
depois	de	uma	suficiência	de	vinho	superior,	já	não	poderiam	discernir	a
inferioridade	do	vinho	oferecido	no	fim	da	festa.
IV	–	O	Propósito	Superior	(Jo	2.11)
O	propósito	imediato	de	Jesus	em	operar	o	milagre	era	libertar	um	jovem	casal
do	embaraço	e	da	vergonha.	O	versículo	11	sugere	o	propósito	superior	do
milagre:	a	revelação	da	glória	de	Cristo.	“Jesus	principiou	assim	os	seus	sinais
em	Caná	da	Galiléia,	e	manifestou	a	sua	glória;	e	os	seus	discípulos	creram
nele”.	Foi	esta	a	primeira	demonstração	do	poder	milagroso	de	Jesus,	revelando
a	sua	natureza	divina.	Irromperam-se	agora,	visivelmente,	a	divina	natureza	e	a
glória	que	antes	se	escondiam	sob	o	véu	de	carne,	e	os	discípulos	viram	“a	sua
glória,	como	a	glória	do	unigênito	do	Pai”	(1.14).	O	milagre	revelou	a	operação
do	poder	criador,	cuja	origem	somente	poderia	ter	sido	de	Deus.
1.	Aumentou-se	a	fé	dos	discípulos.	“E	os	seus	discípulos	creram	nele”.	Játinham	crido;	senão,	não	seriam	discípulos	(1.50).	Agora,	porém,	sua	fé	ficou
mais	profunda	e	mais	forte.	Acreditavam	em	Jesus,	porém	agora	mais	do	que
nunca.	Nossa	fé	é	aumentada	(Lc	17.5)	ao	ver	o	Senhor	operando	em	poder
milagroso.
V	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Poder	através	da	obediência.	Quando	Jesus	mandou	os	serventes	encherem	as
talhas	d’água	e	levarem-nas	ate	o	mestre-sala	para	suprir	a	falta	de	vinho,	estes
teriam	motivos	justos	para	se	recusar	a	fazê-lo,	ou	para	exigir	alguma	explicação
ou	garantia	de	que	Jesus	enfrentaria	as	conseqüências.	Obedeceram	assim
mesmo,	e	sua	fé	obediente	fez	com	que	se	tornassem	colaboradores	de	um
milagre;	ficaram	sabendo	que	nenhuma	ordem	de	Cristo	é	inútil	ou	sem
propósito.
Nós	também	temos	que	passar	por	experiências	semelhantes	para	aprendermos	a
mesma	lição.	A	Palavra	de	Deus	ordena	que	façamos	coisas	aparentemente
desarrazoadas	e	além	das	nossas	possibilidades.	Por	exemplo,	temos	de	ser
santos,	embora	saibamos	que	assim	como	o	leopardo	não	pode	mudar	suas
manchas,	não	podemos,	por	nós	mesmos,	purificar	a	nossa	alma.	Quase	temos
vontade	de	dizer:	Como	pode	a	substância	da	natureza	humana,	que	é	como	a
água,	ser	transformada	em	vinho	digno	de	ser	derramado	como	oferta	no	altar	de
Deus?
Nosso	papel	é	obedecer	sem	questionar	ou	exigir	explicações.	Os	servos	tiraram
a	água,	levaram-na	ao	mes-	tre-sala,	e	o	Senhor	fez	o	resto.	Assim	como	a
vontade	de	Cristo	permeou	a	água,	até	imbuí-la	de	novas	qualidades,	também	é
sua	vontade	permear	a	nossa	alma,	conformando-a	ao	seu	propósito.	“Fazei	tudo
quanto	ele	vos	disser”	-	é	este	o	segredo	da	operação	de	milagres.	Faça-o,
embora	possa	dar	a	impressão	de	estar	gastando	em	vão	as	suas	energias,	ou	vir
ser	objeto	de	escárnio.	Faça-o,	embora	você	não	tenha	em	si	mesmo	a
capacidade	de	realizar	o	seu	propósito.	Faça-o	totalmente,	como	se	fosse	você	o
único	obreiro,	como	se	Deus	não	viesse	suprir	as	suas	faltas,	de	modo	que
qualquer	falha	da	sua	parte	fosse	fatal	à	obra.	Não	fique	esperando	que	Deus	o
faça,	porque	é	em	você	e	através	de	você	que	Ele	faz	a	sua	obra	entre	os	homens.
Não	podemos	fazer	a	obra	de	Deus,	e	não	é	plano	de	Deus	fazer	a	parte	que
destinou	a	nós.
Excelente	lema	para	o	cristão	encontra-se	nestas	palavras:	“Fazei	tudo	quanto	ele
vos	disser!”
2.	A	santificação	da	vida	diária.	É	significativo	que	Cristo	revelasse	a	glória	do
seu	poder	criador	num	banquete	de	casamento,	ocasião	festiva	vinculada	a	um
relacionamento	humano	comum.	Assim	ficamos	sabendo	que	Ele	não	veio
esmagar	os	sentimentos	humanos:	veio	elevá-los	ao	compartilhar	deles;	não	veio
destruir	relações	humanas:	veio	enobrecê-las	mediante	a	sua	presença;	não	veio
acabar	com	os	afazeres	e	convívios	da	vida	coletiva:	veio	purificá-los;	não	veio
abolir	inocentes	alegrias	e	recreios:	veio	santificá-los	segundo	os	princípios	do
Reino	de	Deus.
Não	podemos	dividir	nossas	atividades	em	duas	classes:	a	“espiritual”	e	a
“secular”.	Cada	esfera	da	vida	pode	e	deve	ser	consagrada	a	Cristo.	Se	houver
qualquer	atividade	ou	aspecto	da	nossa	vida	sobre	a	qual	não	possamos	invocar	a
sua	bênção	(Cl	3.17),	tal	atividade	ou	é	totalmente	errada,	ou	contém	elementos
que	precisam	de	ser	removidos.	Já	convidamos	nosso	Senhor	para	nossa	próxima
reunião	de	amigos?	Ou	será	que	a	sua	presença	estragaria	nossos	planos?
3.	O	melhor	ainda	está	por	vir.	Chegaremos	um	dia	a	falar	ao	Mestre	aquilo	que
o	mestre-sala	falou	ao	noivo:	“Guardaste	até	agora	o	bom	vinho”	(cf.	Pv	4.18).
Por	mais	cheios	de	gozo	espiritual	que	tenham	sido	os	anos	passados	de
experiência	cristã,	o	melhor	ainda	está	no	porvir.	Jesus	guarda	seu	melhor	vinho
até	ao	fim;	muitas	almas	tristes	e	desiludidas	vão	sempre	descobrindo	que	o
mundo	faz	exatamente	o	oposto,	seduzindo	as	pessoas	para	que	sejam	escravas
do	mundo,	vítimas	do	mundo,	mediante	promessas	deslumbrantes	e	deleites	de
curta	duração	que,	mais	cedo	ou	mais	tarde,	perdem	seu	brilho	traiçoeiro	e	se
tornam	insossos	-	e	muitas	vezes	bem	amargos!	“Até	no	riso	terá	dor	o	coração,
e	o	fim	da	alegria	é	tristeza”	(Pv	14.13).	A	coisa	mais	melancólica	do	mundo	é	a
velhice	e	vivida	longe	de	Deus,	e	uma	das	coisas	mais	belas,	o	calmo	pôr-do-sol
que	tantas	vezes	glorifica	uma	vida	piedosa	que	foi	repleta	de	coisas	feitas	para
Jesus,	e	de	provações	suportadas	com	paciência,	como	tendo	sido	enviadas	por
Ele...	Em	tal	carreira,	o	fim	é	melhor	do	que	o	começo.	E	quando	a	vida	chegar
ao	fim,	e	passarmos	à	nossa	morada	celestial,	esta	mesma	palavra	brotará	de
nossos	lábios,	com	surpresa	e	gratidão,	quando	descobrirmos	que	tudo	é
muitíssimo	melhor	do	que	o	melhor	em	nossa	imaginação:	“Guardaste	até	agora
o	bom	vinho”.
4.	A	transformação	de	coisas	comuns.	O	mesmo	Cristo	que	transformou	a	água
em	vinho	vermelho	e	cintilante	pode	transformar	as	coisasda	vida	em	bênçãos
gloriosas.	Ele	pode	transformar	a	água	da	alegria	terrestre	no	vinho	da	bem-
aventurança	celestial.	Ele	pode	transformar	a	água	amarga	da	tristeza	no	vinho
de	alegria.	Pode	lançar	mão	de	uma	série	de	circunstâncias	da	vida	que	nos
perturbam,	transformando-as	em	brilhantes	oportunidades.
Os	deveres	que	cabem	a	nós,	dia	após	dia,	nos	parecem	cansativos	e	monótonos?
Levemo-los	a	Jesus,	e	Ele	os	transfigurará	mediante	a	sua	presença.	Onde	está
Jesus,	ali	há	alegria.
4
Jesus	e	Nicodemos
Texto:	João	3.1-21
Esboço	e	Exposição
Um	dos	propósitos	que	guiaram	o	escritor	do	quarto	evangelho	foi	o	de	registrar
as	impressões	que	o	Senhor	Jesus	deixou	nas	pessoas	com	quem	teve	contato.
Em	nosso	segundo	estudo,	vimos	como	Jesus	impressionou	seus	discípulos	com
sua	natureza	e	missão	divinas;	no	terceiro	estudo,	examinamos	o	milagre	que	os
convenceu	do	seu	poder	criador.
A	conclusão	do	segundo	capítulo,	no	entanto,	refere-se	a	outro	tipo	de	impressão
que	produziu	um	tipo	de	fé	de	Cristo	não	julgava	satisfatório:	“E,	estando	ele	em
Jerusalém	pela	Páscoa,	durante	a	festa,	muitos,	vendo	os	sinais	que	fazia,	creram
no	seu	nome.	Mas	o	mesmo	Jesus	não	confiava	neles,	porque	a	todos	conhecia”
(Jo	2.23,24).	Por	que	o	Senhor	não	encorajava	a	fé	desse	homens	de	Jerusalém?
Viu	que	eles	não	o	entendiam;	reconheceu	o	mundanismo	nos	seus	corações	e
propósitos,	e	não	permitiu	que	entrassem	na	mesma	intimidade	que	já
estabelecera	com	os	cinco	galileus	de	coração	singelo.	Os	judeus	de	Jerusalém
estavam	dispostos	a	ficar	de	acordo	com	qualquer	pessoa	que	demonstrasse	a
probabilidade	de	trazer	honra	à	sua	nação,	e	sua	crença	nEle	era	o	crédito	que	os
homens	dão	a	um	estadista	cuja	política	apóiam.	Se	nosso	Senhor	tivesse
encorajado	tais	homens,	mais	tarde	teriam	se	decepcionado	com	Ele;	foi	melhor,
portanto,	que	os	tivesse	recebido	de	modo	um	pouco	mais	frio,	dando-lhes	uma
pausa	para	meditação.	Realmente,	os	próprios	milagres	de	Jesus	estavam	sendo
um	embaraço	por	atraírem	o	tipo	errado	de	pessoas	-	os	homens	superficiais	e
mundanos	(cf.	Jo	4.48;	6.14-27,66).
Na	pessoa	de	Nicodemos	temos	um	exemplo	de	fé	imperfeita,	pois	o	discipulado
que	produziu	era	secreto	(cf.	Jo	19.38).	Mesmo	assim,	esta	fé	da	parte	de
Nicodemos	é	uma	resposta	antiga	à	objeção	que	os	judeus	dos	nossos	dias
levantam:	“Se	Jesus	foi	realmente	o	Messias,	como	é	que	nenhum	dos	nossos
estudiosos	e	sábios	teve	o	bom	senso	suficiente	para	perceber	este	fato?”	A
resposta	está	no	Evangelho	de	João,	no	relatório	da	entrevista	de	Cristo	com
Nicodemos	e	na	declaração:	“Apesar	de	tudo,	até	muitos	dos	principais	creram
nele,	mas	não	o	confessavam	por	causa	dos	fariseus,	para	não	serem	expulsos	da
sinagoga”	(Jo	12.42).
I	–	Contato	Pessoal:	o	Pesquisador	Distinto	(Jo	3.1,2)
“E	havia	entre	os	fariseus	um	homem,	chamado	Nicodemos,	príncipe	dos
judeus.”
1.	Um	líder	religioso.	Nicodemos	era	um	fariseu,	membro	da	fraternidade
religiosa	organizada	sob	juramento	solene	para	observar	escrupulosamente	a	lei
e	as	tradições	dos	antigos.	Era	membro	do	“partido	ortodoxo”	entre	os	judeus.
Era	um	“principal”,	um	membro	do	Sinédrio,	da	corte	eclesiástica	do	mundo
judaico.	Foi	esta	corte	que	condenou	Jesus	à	morte,	e	da	qual	Saulo	de	Tarso	era,
mui	provavelmente,	membro.2.	Um	inquiridor	secreto.	“Este	foi	ter	de	noite	com	Jesus”.	Fala-se	da	covardia
de	Nicodemos	em	vir	à	noite.	Devemos,	no	entanto,	dar	valor	ao	fato	de	ele	ter
procurado	a	Jesus,	mesmo	daquele	modo.	Mais	tarde,	foi	ele	quem	tomou	sobre
si	a	defesa	de	Jesus	perante	o	Sinédrio	(Jo	7.50,51)	e	ajudou	a	enterrar	o	seu
corpo	(Jo	19.39).	Em	ambos	os	trechos,	João	volta	a	se	referir	ao	fato	de
Nicodemos	ter	vindo	a	Jesus,	da	primeira	vez,	à	noite.	Mostra,	assim,	que
Nicodemos	estava	ficando	mais	firme	na	fé,	chegando	a	demonstrar	mais
devoção	do	que	os	próprios	discípulos	que	fugiram,	quando	veio	ajudar	a
sepultar	o	corpo	de	Cristo.
3.	Um	inquiridor	representativo.	“Rabi,	bem	sabemos	que	és	Mestre,	vindo	de
Deus;	porque	ninguém	pode	fazer	estes	sinais	que	tu	fazes,	se	Deus	não	for	com
ele”.	O	plural	“sabemos”	permite-nos	imaginar	que	talvez	vários	líderes
religiosos,	impressionados	com	os	ensinamentos	de	Jesus	e	querendo	saber	mais
acerca	dEle	sem,	no	entanto,	criar	uma	sensação	pública	nem	tomar	partido
publicamente,	tivessem	nomeado	Nicodemos	para	ser	uma	“comissão	de
inquérito”	de	um	só	membro,	de	modo	sigiloso	(cf.	Jo	12.42).
4.	Uma	alma	necessitada.	As	palavras	iniciais	de	Nicodemos	revelam	várias
emoções	lutando	no	seu	íntimo,	e	a	declaração	repentina	de	Jesus	(v.	3),	longe	de
ser	uma	mudança	de	assunto,	foi	uma	resposta	-	não	às	palavras,	mas	sim	ao
coração	de	Nicodemos.	Tais	palavras	revelam:	1)	Fome	espiritual:	canseira	com
os	cultos	da	sinagoga,	sem	vida	espiritual,	aos	quais	freqüentava	sem	achar
satisfação	para	a	sua	fome.	Sente	que	a	glória	se	afastou	de	Israel;	que	há	falta	de
visão;	que	o	povo	perece	e	que,	por	menos	que	Nicodemos	saiba	sobre	Jesus,
seus	ensinos	lhe	penetraram	o	coração,	e	ele	acha	que	os	milagres	de	Jesus
comprovam	ser	Ele	Mestre	vindo	da	parte	de	Deus.	2)	Falta	de	profunda	de
convicção.	Nicodemos	sente	sua	necessidade,	mas	procura	um	mestre,	mais	do
que	um	Salvador.	À	semelhança	da	mulher	samaritana,	quer	a	água	da	vida	(Jo
4.15),	mas	precisa	igualmente	ficar	sabendo	que	é	um	pecador	e	que	necessita
ser	purificado	e	transformado	(Jo	4.1618).	3)	Certa	complacência	quanto	à	sua
própria	pessoa,	como	se	dissesse	a	Jesus:	“Creio	que	foste	enviado	para	restaurar
o	reino	a	Israel,	e	vim	oferecer	conselhos	quanto	ao	plano	de	ação	e	sugerir
certas	operações”.	Provavelmente	considerava	que	ser	israelita	e	filho	de	Abraão
eram	qualificações	suficientes	para	ser	considerado	membro	do	Reino	de	Deus.
II	–	Explicação:	o	Novo	Nascimento	(Jo	3.3-10)
1.	O	fato	do	novo	nascimento.	“Jesus	respondeu,	e	disse-lhe:	Na	verdade,	na
verdade	te	digo	que	aquele	que	não	nascer	de	novo,	não	pode	ver	o	reino	de
Deus”.	Jesus	explica	que	Nicodemos	não	pode	filiar-	se	ao	grupo	dEle	assim
como	uma	pessoa	filia-se	a	uma	organização	qualquer.	Ser	discípulo	de	Jesus
depende	do	tipo	de	vida	que	se	leva.	A	causa	de	Cristo	é	a	do	Reino	de	Deus,
onde	não	se	pode	entrar	sem	passar	por	uma	transformação	espiritual.	O	Reino
de	Deus	era	bem	diferente	daquilo	que	Nicodemos	imaginava,	e	o	modo	de
estabelecê-lo	e	de	chamar	pessoas	a	serem	seus	cidadãos	também
Jesus	salientou	a	necessidade	mais	profunda	e	universal	do	homem:	uma
mudança	radical	e	completa	da	totalidade	da	natureza	e	do	caráter.	A	natureza
total	do	homem	foi	torcida	pelo	pecado,	em	decorrência	da	queda,	e	esta
perversão	se	reflete	na	sua	conduta	individual	e	nos	seus	vários	relacionamentos.
Antes	de	poder	viver	uma	vida	que	agrade	a	Deus,	sua	natureza	precisa	passar
por	uma	mudança	tão	radical	que	é	nada	menos	do	que	um	segundo	nascimento.
O	homem	não	pode	efetuar	semelhante	mudança	por	si	mesmo.	A	transformação
deve	vir	de	cima.
“Disse-lhe	Nicodemos:	Como	pode	um	homem	nascer,	sendo	velho?	porventura
pode	tornar	a	entrar	no	ventre	de	sua	mãe,	e	nascer?”	Nicodemos	tem	razão	ao
tirar	a	conclusão	de	que	é	necessário	um	milagre	para	alguém	entrar	no	Reino	de
Deus,	mas	não	entende	como	isso	se	faz.	Pensava,	decerto:	“Sou	um	homem
com	muitos	anos	de	vida,	com	hábitos	de	pensar	e	viver	bem	arraigados	em
mim,	bem	como	muitas	ligações	sociais	e	costumes	e	idéias	antigos	que	nossos
antepassados	nos	legaram.	O	nascimento	tal	como	tu	falas	é	tão	impossível
quanto	o	nascimento	físico	de	um	homem	de	idade,	tão	prepóstero	quanto	seria	a
idéia	de	entrar	segunda	vez	no	ventre	da	mãe	para	nascer	de	novo.	A	natureza
humana	não	pode	ser	mudada	desta	forma.	Jeremias,	afinal,	declarou:	‘Pode
acaso	o	etíope	mudar	a	sua	pele,	ou	o	leopardo	as	suas	manchas?’	Se	é	esta	a	tua
exigência	para	que	se	possa	entrar	no	teu	Reino,	quem	poderá	ser	considerado
candidato	aceitável?”
2.	Os	meios	do	novo	nascimento.	“Jesus	respondeu:	Na	verdade,	na	verdade	te
digo	que	aquele	que	não	nascer	da	água	e	do	Espírito,	não	pode	entrar	no	reino
de	Deus.”	Nascer	da	água	significa	passar	por	uma	profunda	experiência	de
purificação	(cf.	Ef	5.26).	Nascer	do	Espírito	significa	passar	por	uma	profunda
experiência	de	receber	a	vida	divina.	A	alma	humana	precisa	ser	lavada	de	toda
impureza	e	vivificada	pela	vida	celestial,	antes	de	estar	pronta	para	o	Céu.	Deus
nos	salvou:	1)	pela	“lavagem	da	regeneração	e	2)	da	renovação	do	Espírito
Santo”	(Tt	3.5).
O	ensino	era	novo	e,	ao	mesmo	tempo,	antigo.	“Não	te	maravilhes	de	te	ter	dito:
Necessário	vos	é	nascer	de	novo.	Nicodemos	respondeu,	e	disse-lhe:	Como	pode
ser	isso?	Jesus	respondeu,	e	disse-lhe:	Tu	és	mestre	de	Israel,	e	não	sabes	isto?”
(v.	7,9,10).	Jesus	queria	dizer:	“Como	você	fica	surpreso,	como	se	eu	pregasse
alguma	estranha	doutrina?	Certamente,	como	ensinador	da	Lei	e	dos	Profetas,
deve	ter	lido	da	promessa	de	Deus	anunciada	por	Ezequiel:	‘Então	espalharei
água	pura	sobre	vós,	e	ficareis	purificados...	porei	dentro	de	vós	o	meu	Espírito,
e	farei	que	andeis	nos	meus	estatutos’,	(Ez	36.25-27).	Você	sabe	muito	bem	que,
embora	Israel	se	tenha	jactado	de	ser	o	povo	de	Deus,	filhos	de	Abraão,	os
membros	da	nação	são	impuros	e,	portanto,	indignos	do	Reino	de	Deus.	O
profeta	declara	que	os	israelitas,	antes	de	poderem	entrar	no	Reino	de	Deus,
precisam	‘nascer	da	água’	e	‘nascer	do	Espírito’,	precisam	ser	purificados	e
receber	vida	nova.	O	que	é	verdade	no	que	diz	respeito	a	Israel,	é	verdade	para
você,	individualmente.	Você	deve	nascer	de	novo”.
3.	A	razão	do	novo	nascimento.	Jesus	não	procurou	explicar	o	como	do	novo
nascimento;	explicou	o	porquê:	“O	que	é	nascido	da	carne	é	carne,	e	o	que	é
nascido	do	Espírito	é	espírito.”	A	carne	e	o	Espírito	pertencem	a	campos
diferentes,	e	um	não	pode	produzir	o	outro.	A	natureza	humana	pode	gerar	mais
natureza	humana,	mas	é	somente	o	Espírito	Santo	que	pode	produzir	uma
natureza	espiritual.	A	natureza	humana	nada	poderá	produzir	além	de	natureza
humana,	e	nenhuma	criatura	pode	se	erguer	acima	da	natureza	que	lhe	é	própria.
A	vida	espiritual	não	pode	ser	transmitida	de	pai	para	filho	através	da	procriação
natural;	é	transmitida	da	parte	de	Deus	para	os	homens	mediante	o	novo
nascimento	espiritual.
A	natureza	humana	não	pode	se	erguer	acima	daquilo	que	ela	é.	Cada	criatura
tem	certa	natureza	conforme	sua	espécie,	determinada	por	sua	descendência.
Esta	natureza	que	o	animal	recebe	dos	pais	determina,	logo	de	início,	as
capacidades	e	a	esfera	da	vida	dele.	A	toupeira	não	pode	levantar	majestoso	vôo
na	direção	do	sol	como	se	fosse	águia,	e	a	ave	que	sai	do	ovo	da	águia	não	pode
escavar	debaixo	da	terra	como	faz	a	toupeira.	Nenhum	curso	de	treinamento
poderá	fazer	com	que	a	tartaruga	corra	tão	velozmente	quanto	a	corça,	nem	com
que	a	corça	tenha	a	força	do	leão.	Nenhum	animal	poderá	agir	de	forma	superior
a	sua	própria	natureza.
O	mesmo	princípio	aplica-se	ao	homem.	O	destino	supremo	do	homem	é	viver
com	Deus	para	sempre;	a	natureza	humana,	no	entanto,	não	possui	em	si	as
condições	necessárias	para	viver	no	Reino	celestial;	assim	sendo,	a	vida	celestial
tem	de	ser	trazida	do	Céu	para	transformar	a	vida	humana	na	terra,	preparando-a
para	o	Reino	de	Deus.
4.	O	mistério	do	novo	nascimento.	Embora	o	como	do	novo	nascimento	esteja
além	do	alcance	do	raciocínio	humano,	este	mistério	não	precisa	ser	motivo	detropeço	para	Nicodemos:	“O	vento	assopra	onde	quer,	e	ouves	a	sua	voz,	mas
não	sabes	donde	vem,	nem	para	onde	vai;	assim	é	todo	aquele	que	é	nascido	do
Espírito.”	Noutras	palavras,	o	movimento	do	vento	é	algo	muito	real	para	nós,
mas	é	misterioso	e	além	de	nosso	controle;	assim	também	é	a	atuação	do	Espírito
sobre	a	natureza	humana.	Primeiro,	o	novo	nascimento	é	misterioso	quanto	à	sua
origem:	“não	sabes	donde	vem”;	e,	em	segundo	lugar,	há	mistério	quanto	à	sua
consumação:	“não	sabes...	para	onde	vai”.	Assim	sendo,	João	escreve:	“Amados,
agora	somos	filhos	de	Deus,	e	ainda	não	é	manifestado	o	que	havemos	de	ser”	(1
Jo	3.2).	Mesmo	assim,	a	atuação	do	Espírito	é	real:	“Ouves	a	sua	voz”	(cf.	At
2.3,4;	1	Co	12.7;	Gl	5.22,23).
III	–	Confirmação:	a	Base	do	Novo	Nascimento	(Jo	3.11-15)
Duas	perguntas	devem	ter	naturalmente	ocorrido	a	Nicodemos:	Como	Jesus	sabe
destas	coisas?	O	que	Ele	faz	para	levar	as	pessoas	a	experimentarem	o	novo
nascimento?
1.	A	experiência	espiritual	de	Cristo.	“Na	verdade,	na	verdade	te	digo	que	nós
dizemos	o	que	sabemos	e	testificamos	o	que	vimos;	e	não	aceitais	o	nosso
testemunho”	(o	plural	“nós”	talvez	indique	a	presença	de	alguns	discípulos).
Jesus,	concebido	mediante	o	Espírito	Santo,	batizado	no	Espírito,	cheio	do	poder
do	Espírito,	continuamente	movido	pelo	Espírito,	podia	falar	com	autoridade	em
matéria	de	Espírito.	Que	pena	que	tantos	que	professam	ser	seus	seguidores
tenham	dogmatizado	o	assunto	sem	desfrutar	das	operações	do	Espírito	em	seu
íntimo!
“Se	vos	falei	de	coisas	terrestres,	e	não	crestes,	como	crereis,	se	vos	falar	das
celestiais?”	Jesus	explica	a	Nicodemos	que,	se	ele	se	preocupa	apenas	com	a
forma	e	a	matéria	do	novo	nascimento,	só	poderia	conversar	sobre	coisas
terrestres	porque,	embora	o	nascimento	espiritual	venha	de	cima,	ocorre	na	terra
e	faz	parte	dos	fatos	da	vida.	A	explicação	do	“como”	deste	assunto	tem	a	ver
com	os	eternos	propósitos	de	Deus	(coisas	celestiais),	e	Nicodemos	não	está
pronto	para	tais	ensinos,	porque	ainda	não	aceitou	o	fato	da	necessidade	do	novo
nascimento	(coisas	terrenas).
2.	A	origem	celestial	de	Cristo.	“Ora	ninguém	subiu	ao	céu,	senão	o	que	desceu
do	céu,	o	Filho	do	homem,	que	está	no	céu”.	Cristo	tinha	estado	no	Céu	antes	de
sua	missão	na	terra,	podendo,	portanto,	falar	acerca	de	coisas	celestiais	a	partir
de	uma	experiência	pessoal.
Embora	“o	Filho	do	homem,	que	está	no	céu”,	estivesse	na	terra,	seu	lar	real
sempre	foi	o	Céu,	e	são	celestiais	sua	origem	e	natureza.
3.	A	obra	expiatória	de	Cristo.	Jesus	já	tratara	de	um	erro	fundamental	de
Nicodemos	e	dos	seus	companheiros:	imaginavam	que,	pela	sua	conexão	natural
com	o	o	povo	escolhido,	teriam	de	se	filiar	ao	Reino	de	Deus;	o	Senhor	Jesus,	no
entanto,	declarou	que	devem	entrar	no	Reino	mediante	o	novo	nascimento.
Agora	dissipa	o	segundo	erro:	Nicodemos	acreditava	que	o	Messias,	na	sua
vinda,	seria	“levantado”	ou	exaltado	num	trono,	para	salvar	Israel	da	total
derrota	política.	Jesus,	no	entanto,	ensinou	que,	em	primeiro	lugar,	o	Messias
teria	que	ser	levantado	de	modo	bem	diferente:	“E,	como	Moisés	levantou	a
serpente	no	deserto,	assim	importa	que	o	filho	do	homem	seja	levantado;	para
que	todo	aquele	que	nele	crê	não	pereça,	mas	tenha	a	vida	eterna.”	O	Messias
teria	de	ser	levantado	numa	cruz	para	salvar	a	nação	do	perecimento	espiritual.
Qual	a	conexão	entre	a	crucificação	do	Filho	do	homem	e	a	regeneração	dos
filhos	dos	homens?	Quando	Deus	criou	o	homem	e	lhe	soprou	nas	narinas	o
fôlego	da	vida,	transmitiu	a	este	não	somente	a	vida	mental	e	física,	como
também	o	Espírito	Santo.	Adão	foi	criado	perfeito,	e	certamente	deve	ter
recebido	o	Espírito	Santo,	pois	sem	ele	a	personalidade	humana	é	incompleta
diante	de	Deus.	Quando	pecaram	nossos	primeiros	pais,	iniciou-se	a	morte
espiritual	e	deixou	de	habitar	neles	o	Espírito	Santo.	Quando,	portanto,	veio	o
Redentor,	sua	missão	era	restaurar	à	humanidade	a	presença	do	Espírito.	“Cristo
nos	resgatou	da	maldição	da	lei,	fazendo-se	maldição	por	nós;	porque	está
escrito:	Maldito	todo	aquele	que	for	pendurado	no	madeiro.	Para	que	a	bênção
de	Abraão	chegasse	aos	gentios	por	Jesus	Cristo,	e	para	que	pela	fé	nós
recebamos	a	promessa	do	Espírito”	(Gl	3.13,14).	Cristo	morreu	na	cruz	a	fim	de
remover	o	obstáculo	que	não	permitia	que	a	vida	humana	recebesse	a	presença
de	Deus.	Este	obstáculo	era	o	pecado.
V	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Pregando	o	novo	nascimento.	Segue-se	um	esboço	de	como	se	pode	aplicar,
de	modo	prático,	a	doutrina	do	novo	nascimento.
1.1.	Uma	vez	que	você	reconhece	a	seriedade	e	a	degradação	dos	seus	pecados	e
o	poder	que	exercem	sobre	você,	sua	situação	de	impotência	dos	seus	pecados,	e
que	lhe	aguarda	a	eternidade	no	inferno,	se	você	morrer	no	seu	atual	estado	de
pecado;
1.2.	E	quando,	com	genuíno	arrependimento,	você	aceita	a	expiação	mediante	o
sangue	de	Jesus	Cristo	como	sua	única	esperança,	recebendo	Cristo	de	modo
permanente	e	sem	reserva,	como	seu	Salvador	e	Senhor,	que	pagou	a	penalidade
dos	seus	pecados,	sofrendo	em	seu	lugar;
1.3.	Então	ocorre	dentro	de	você	um	tríplice	milagre:	1)	Você	é	purificado	de
todos	os	seus	pecados;	liberto	do	poder	deles	sobre	você;	revestido	da	justiça	de
Cristo.	Você	recebe	esperança,	paz,	gozo	e	um	novo	propósito	na	vida	-	o	de
viver	e	trabalhar	para	ele,	comissionado	para	ser	seu	embaixador	e	testemunha
por	onde	quer	que	você	vá,	de	tal	modo	que	sua	vida	se	torna	útil,	necessária	e
cheia	de	esperança.	Você	recebe	forças	para	vencer	o	“velho	homem”	no	seu
íntimo,	para	viver	a	vida	cristã	e	crescer	na	graça.	Por	suas	próprias	forças,	você
fracassaria,	mas,	mediante	este	milagre,	pode	ter	absoluta	certeza	de	que,
enquanto	ele	precisar	de	você	nesta	terra,	ele	o	preservará,	sustentará,
fortalecerá,	guiará	e	protegerá.
2)	Jesus	Cristo	vive	em	você,	de	modo	real	e	literal.
3)	Você	é	regenerado.	Na	realidade,	torna-se	nova	criatura.	Literalmente,	nasceu
de	novo	para	entrar	no	Reino	de	Cristo.	Você	se	torna	santo,	um	filho	de	Deus,
membro	da	igreja	verdadeira.
1.4.	Como	resultado	deste	tríplice	milagre,	você	é	salvo,	de	modo	literal	e
definitivo.	Você	tem	a	vida	eterna,	e	pertence	ao	Senhor.	Agora,	poderá	começar
a	viver	a	vida	cristã	-	a	vida	“oculta	juntamente	com	Cristo”	-	em	Deus.
2.	Cristianismo,	a	religião	do	novo	nascimento.	Nas	religiões	pagãs,	declara-se
universalmente	que	o	caráter	humano	é	imutável.	Embora	tais	religiões
determinem	penitências	e	rituais	que	oferecem	ao	homem	a	esperança	de
compensar	os	seus	pecados,	não	existe	nenhuma	promessa	de	haver	vida	e	graça
para	transformar	a	sua	natureza.	Somente	a	religião	de	Jesus	Cristo	toma	a
natureza	decaída	do	homem,	regenerando-a	mediante	a	vida	de	Deus,	que	passa
a	habitar	nele	porque	o	seu	Fundador	é	Pessoa	divina	e	viva,	que	salva
totalmente	os	que	por	Ele	chegam	a	Deus.
Não	há	analogia	entre	a	religião	cristã	e,	o	budismo	e	o	maometismo,	no	sentido
de	dizer:	“Quem	tem	Buda	tem	a	vida”.	Os	líderes	destas	religiões	podem
exortar	à	moralidade,	estimular,	impressionar,	ensinar	e	orientar,	mas	nada	de
novo	é	acrescentado	à	alma	de	quem	professa	suas	doutrinas,	que	são
desenvolvidas	pelo	homem	natural	e	moral.	O	Cristianismo	é	tudo	isso	mais	a
divina	Pessoa.
A	missão	do	Senhor	Jesus	pode	ser	resumida	na	breve	proposição:	Jesus	Cristo
veio	ao	mundo	romper	o	poderio	do	pecado	e	introduzir	na	raça	humana	uma
nova	fonte	de	vida	espiritual	(cf.	Gn	2.7;	1	Co	15.45;	Jo	20.22;	Ef	2.1).	E	isto
nos	leva	a	pensar	na	missão	dominante	dos	discípulos	de	Jesus	-	fazer	com	que
homens	pecaminosos	sejam	transformados	pelo	poder	de	Deus.
5
Jesus	e	a	Mulher	Samaritana
Texto:	João	4.4-30
Introdução
Jesus	deixou	Jerusalém	porque	seus	milagres	estavam	atraindo	as	pessoas	do
tipo	errado	-	espectadores	curiosos	que	tinham	do	Reino	um	conceito	errado.
Foi,	portanto,	para	os	distritos	rurais,	onde	o	povo	tinha	mais	simplicidade	e
seriedade	de	coração.	Ali	ganhou	muitos,	que	se	converteram	a	Ele	e	aceitaram	o
batismo.	Mais	uma	vez,	porém,	seu	próprio	sucesso	fez	periclitar	o	propósito	do
seu	ministério.	Os	fariseus,	ouvindoa	notícia	de	que	grandes	multidões	acorriam
ao	seu	batismo,	ficaram	com	inveja	e	alimentaram	uma	discussão	entre	os
discípulos	de	Jesus	e	os	de	João	Batista	(cf.	Jo	3.25;	4.1,2).	Jesus,	desejando
evitar	uma	contenda	com	os	fariseus,	deixou	a	Judéia.	Não	havia	finalidade	em
que	ele	se	revelasse	como	Messias	diante	dos	fariseus,	porque,	com	suas	mentes
cheias	de	idéias	preconcebidas,	teriam	entendido	os	seus	ensinos	de	maneira
errada.	Era	diante	de	pessoas	de	mente	sincera	e	coração	faminto	como	a	mulher
samaritana	que	Jesus	se	sentia	livre	para	revelar-se,	em	vez	de	entrar	em
controvérsias	teológicas	com	os	fariseus.
Este	trecho,	bem	como	o	que	estudamos	no	capítulo	anterior,	são	exemplos	dos
ensinamentos	de	Cristo	sobre	o	poder	regenerador	do	Espírito	Santo.	No	capítulo
anterior,	ouvimos	Jesus	instruindo	Nicodemos	com	respeito	ao	novo	nascimento;
agora,	estudaremos	a	sua	entrevista	com	uma	mulher	samaritana.	Ele	era	um
membro	da	sociedade	que	desfrutava	de	grande	respeito;	ela,	uma	mulher
proscrita.	Ela,	era	um	homem	da	mais	severa	moralidade;	ela,	uma	mulher
vivendo	no	pecado.	Ele	era	um	culto	ensinador	de	Israel;	ela,	uma	analfabeta	das
classes	inferiores.	Ambos	têm	a	mesma	necessidade	-	a	transformação	espiritual
para	entrar	no	Reino	de	Deus.
Este	trecho	descreve	os	passos	mediante	os	quais	o	supremo	Conquistador	de
almas	conseguiu	a	conversão	da	mulher	samaritana.
I	–	Conseguindo	a	Atenção	(Jo	4.5-9)
“Foi	pois	a	uma	cidade,	de	Samaria,	chamada	Sicar,	junto	da	herdade	que	Jacó
tinha	dado	a	seu	filho	José.	E	estava	ali	a	fonte	de	Jacó.	Jesus,	pois,	cansado	do
caminho,	assentou-se	assim	junto	da	fonte.	Era	isto	quase	a	hora	sexta”.	Esta
menção	do	cansaço	de	Jesus	é	a	evidência	de	que,	quando	compartilhou	da
natureza	humana,	o	fez	com	toda	seriedade:	realmente	tomou	sobre	si	nossa
natureza,	e	experimentou	todas	as	limitações	e	fraquezas	a	que	a	carne	humana
está	sujeita	(menos	as	que	são	fruto	direto	do	nosso	pecado).	“Vinde	a	mim,
todos	os	que	estais	cansados	e	oprimidos,	e	eu	vos	aliviarei”	(Mt	11.28)	foi	dito
por	aquEle	que	sabia	como	é	a	dor	de	músculos	cansados	e	latejantes.
“Veio	uma	mulher	de	Samaria	tirar	água;	disse-lhe	Jesus:	Dá-me	de	beber”.	O
propósito	do	Senhor	era	levar	a	mulher	necessitada	à	água	espiritual	que	satisfaz
a	sede	da	alma;	assim,	fez	seu	primeiro	contato	com	ela	ao	pedir	água.	Ele	de
que	tomar	a	iniciativa,	porque	a	mulher,	de	si	mesma,	não	teria	falado	com	Ele
primeiro.	Existiam	quatro	barreiras	que	impediriam	semelhante	conversação,	e
que	o	Senhor	primeiramente	teria	de	romper.	1)	A	barreira	do	sexo.	Os	próprios
discípulos	ficaram	atônitos	ao	ver	Cristo	agir	contrariamente	às	bem	conhecidas
atitudes	de	sua	época,	falando	assim	a	uma	mulher	em	público	(v.	27).
Geralmente,	os	preconceitos	dos	rabinos	proibiam	que	as	mulheres	recebessem
educação	superior.	2)	A	barreira	da	nacionalidade.	Não	havia	comunicação	entre
os	judeus	e	os	samaritanos.	3)	A	barreira	do	caráter	moral.	A	mulher	samaritana
sabia	que	nenhum	rabino	judeu	chegaria	perto	de	uma	pecadora	como	ela.	4)	A
barreira	da	ignorância.
No	decurso	da	conversação,	foram	rompidas	todas	as	barreiras.	A	mulher
recebeu	novos	horizontes	para	a	sua	vida,	seu	caráter	foi	transformado,	e	sua
alma,	iluminada.
Note	a	habilidade	do	Senhor	em	abrir	caminho	para	esta	conversação.	Pediu	um
favor	da	parte	dela,	fazendo-a	sentir-	se,	por	um	momento,	em	condições	de
superioridade.	Mediante	um	apelo	à	simpatia	da	mulher,	criou	ambiente
apropriado	para	conversar	sobre	assuntos	espirituais.
Foi	uma	grande	surpresa	para	a	mulher	quando	a	pessoa	junto	à	fonte	-	que	ela
reconheceu	como	sendo	um	judeu	-	,	fez	um	pedido	a	uma	mulher	samaritana	de
sua	condição.	“Como,	sendo	tu	judeu,	me	pedes	de	beber	a	mim,	que	sou
samaritana?	(porque	os	judeus	não	se	comunicam	com	os	samaritanos)”.	Embora
Jesus,	como	Messias,	viesse	da	tribo	de	Judá,	nunca	se	chamou	“Filho	de	Israel”;
sempre	é	chamado	de	“Filho	do	homem”,	da	humanidade	inteira.	Não	havia
lugar	em	sua	mente	e	em	seu	coração	para	o	preconceito.
II	–	Despertando	o	Interesse	(Jo	4.10-14)
1.	O	desafio	surpreendente.	A	mulher	samaritana	aproveitou	para	se	rir	um
pouco	daquele	judeu	que,	segundo	pensava,	fora	forçado	a	mostrar	franqueza	e
amabilidade	por	causa	da	intensa	sede	que	sentia,	e	de	não	ter	condições	de
conseguir	água.	Surpreendeu-se,	no	entanto,	por	Ele	não	se	mostrar	embaraçado;
pelo	contrário,	suas	palavras	é	que	a	deixaram	intrigada:	“Se	tu	conheceras	o
dom	de	Deus,	e	quem	é	o	que	te	diz:	Dá-me	de	beber,	tu	lhe	pedirias,	e	ele	te
daria	água	viva.”
“Se	tu	conheceras”.	Há	pessoas	que	não	percebem	quantos	poderes	e
oportunidades	jazem	escondidos	ao	nosso	redor.	Por	não	reconhecermos	quantas
bênçãos	se	nos	oferecem,	perdemos	milhares	delas!	“O	meu	povo	foi	destruído,
porque	lhe	faltou	o	conhecimento”	(Os	4.6).	A	mulher	samaritana	estava	falando
face	a	face	com	aquEle	que	satisfaria	a	todos	os	seus	anseios	de	paz	e	de	vida	-	e
não	o	sabia.	Há	muitas	pessoas	que	passam	pela	vida	bem	perto	daquilo	que
poderia	revolucionar	sua	existência,	e	ficam	alheias	à	verdadeira	bem-
aventurança	por	falta	de	saber	e	de	considerar.	Em	dois	assuntos,
especificamente,	faltava	conhecimento	à	mulher.
1.1.	Não	conhecia	o	dom	de	Deus,	aquilo	que	Deus	queria	graciosamente	dar	a
ela.	A	pobre	mulher	nem	esperava	bênçãos	da	parte	de	Deus.	Desiludida,
esgotada,	sem	caráter,	sem	alegria,	praticava	a	enfadonha	rotina	dos	serviços
diários.	Ouvira	falar	sobre	Deus,	mas	nem	sequer	sonhava	que	Ele	estivesse
disposto	a	entrar	na	sua	vida,	fazendo	com	que	sua	existência	valesse	a	pena.
A	água	“viva”	é	a	que	flui	ou	que	jorra	de	uma	fonte	-	a	água	em	movimento,	em
contraste	com	a	água	parada	(cf.	Gn	26.19;	Zc	14.8).	Simboliza	a	vida	divina	que
flui	mediante	o	contato	com	Deus	(Jr	2.13;	Ap	7.17;	21.6;	22.1).	Assim	como	a
água	natural	satisfaz	a	sede	física,	o	Espírito	Santo	satisfaz	a	alma	que	anseia	por
Deus	(cf.	Sl	42.1,2).
1.2.	A	mulher	não	conhecia	a	identidade	daquele	que	disse:	“Dá-me	de	beber”.	A
vinda	do	Messias	era	a	esperança	dos	samaritanos,	e	não	somente	dos	judeus,	e
ambas	as	nações	tiraram	encorajamento	e	forças	desta	promessa:	suportavam	os
males	do	presente,	sustentados	pela	visão	do	futuro,	que	se	centralizava	ao	redor
da	Pessoa	do	Messias.	Agora,	o	Messias	estava	falando	com	esta	mulher	sem
que	ela	o	percebesse.	Muitos	são	os	que	têm	familiaridade	com	as	palavras	de
Jesus,	ouvindo-as	como	se	escutassem	uma	canção.	Não	são	transformados,
porém,	porque	não	se	apercebem	realmente	de	que	as	palavras	que	ouvem	não
são	as	de	um	mestre	humano,	e	sim	as	do	próprio	Filho	de	Deus.	Oxalá
soubessem	quem	é	o	que	lhes	fala!
2.	A	pergunta	feita	com	surpresa.	Refutando	a	sugestão	de	ela	ser	ignorante
quanto	ao	dom	de	Deus,	a	mulher	responde:	“Senhor,	tu	não	tens	com	que	a	tirar,
e	o	poço	é	fundo;	onde,	pois,	tens	a	água	da	vida?”	A	resposta	a	esta	pergunta	se
encontra	nos	versículos	13	e	14.	Quanto	a	ser	acusada	de	ignorância	sobre	a
Pessoa	que	fala	com	ela,	a	mulher	responde:	“És	tu	maior	do	que	o	nosso	pai
Jacó,	que	nos	deu	o	poço,	bebendo	ele	próprio	dele,	e	os	seus	filhos,	e	o	seu
gado?”	Os	versículos	25	e	26	respondem	à	objeção	da	mulher.	Como
Nicodemos,	objeta:	“Como	pode	suceder	isto?”	Quando	se	trata	das	coisas	de
Deus,	os	que	possuem	boa	educação	não	têm	vantagem	sobre	os	iletrados.
Todos,	igualmente,	precisam	do	“Espírito	que	provém	de	Deus,	para	que
pudéssemos	conhecer	o	que	nos	é	dado	gratuitamente	por	Deus”	(1	Co	2.12).
3.	A	comparação	que	ilumina.	Jesus	lança	mão	de	uma	comparação	para
esclarecer	o	significado	das	suas	palavras:	“Qualquer	que	beber	desta	água
tornará	a	ter	sede;	mas	aquele	que	beber	da	água	que	eu	lhe	der	nunca	terá	sede,
porque	a	água	que	eu	lhe	der	se	fará	nele	uma	fonte	d’água	que	salte	para	a	vida
eterna”.	A	água	natural	é	mencionada	aqui	como	símbolo	das	fontes	de	prazer
que	há	aqui	na	terra,	e	que	só	proporcionam	satisfação	momentânea.	A	totalidade
da	vida	humana	se	compõe	de	desejos	intermitentes	que	recebem	apenas	parcial
satisfação:	anseios	e	saciedade,enfado	e	novos	desejos	fortes	se	seguem	num
círculo	vicioso.	Realmente,	nunca	houve	verdadeira	satisfação	para	os	desejos
humanos;	a	alma	humana	nunca	se	aquieta,	senão	em	Deus.	As	fontes	da	terra
podem	oferecer	satisfação	temporária,	mas	é	somente	depois	de	o	homem	ter
achado	a	Deus	que	ele	pode	declarar	ter	satisfação	completa	e	eterna.	Jesus
ensina	à	mulher	que	a	água	no	poço	de	Jacó	jaz	sem	vida	ou	movimento	nas
profundidades,	enquanto	a	água	celestial	que	ele	oferece,	embora	fique	nas
profundezas	da	personalidade	humana,	não	fica	parada	ali;	vem	brotando	à
superfície,	revelando	sua	presença	aos	outros,	fluindo	com	mais	e	mais	força	até
que,	na	vida	do	porvir,	o	indivíduo	recebe	a	plenitude	desta	bênção.
A	fonte	fica	no	indivíduo.	O	prazer	do	mundano	depende	das	coisas	externas;	a
Fonte	da	satisfação	do	cristão	está	dentro	dele,	independe	das	circunstâncias.	A
vida	eterna,	no	Evangelho	de	João,	é	vinculada	à	fé	em	Jesus	(Jo	3);	provém	da
ação	de	comer	da	sua	carne	e	beber	do	seu	sangue	(Jo	6);	é	dádiva	direta	da	parte
dEle	(Jo	10;	17).	Neste	capítulo,	é	considerada	como	resultado	da	vida	do
Espírito	no	homem,	o	fruto	da	vida	espiritual,	que	é	diferente	da	vida	humana	em
qualidade,	permanência	e	maturidade.
III	–	A	Consciência	da	Necessidade	(Jo	4.15-18)
1.	O	pedido	urgente.	“Disse-lhe	a	mulher:	Senhor,	dá-	me	dessa	água,	para	que
eu	não	mais	tenha	sede,	e	não	venha	aqui	tirá-la.”	A	mulher	ainda	não	havia
percebido	o	âmago	do	ensino	de	Jesus.	Nem	sequer	sonhava	que	Ele,	falando
sobre	“água”,	queria	dizer	algo	diferente	daquilo	que	ela	carregava	no	seu
cântaro.	Ela	ainda	não	percebera	nada	além	dos	seus	desejos	físicos	e	de	suas
necessidades	diárias.	Começou	a	sentir	a	convicção	de	que	aquele	estranho
talvez	a	pudesse	livrar	da	sua	vida	exaustiva	de	ter	de	caminhar	até	o	poço	com
seu	cântaro	pesado.	Seria	um	alívio	ter	a	água	bem	à	mão!	Embora	não	tivesse
compreendido	o	inteiro	significado	do	dom	prometido,	entendeu,	pelo	menos,
que	se	lhe	oferecia	uma	grande	vantagem	-	e	seu	desejo	foi	despertado.
2.	Uma	declaração	perscrutadora.	Agora,	Jesus	leva	a	mulher	a	dar	um	passo
adiante,	despertando	seu	sentimento	de	necessidade	espiritual.	Faz	com	que	ela
se	recorde	de	sua	vergonhosa	vida	de	pecados	para	que,	esquecendo-	se	da	água
do	poço	de	Jacó,	tenha	sede	daquilo	que	a	aliviaria	da	sua	vergonha	e	miséria.
“Disse-lhe	Jesus:	Vai,	chama	o	teu	marido,	e	vem	cá.	A	mulher	respondeu,	e
disse:	Não	tenho	marido;	porque	tiveste	cinco	maridos,	e	o	que	agora	tens	não	é
teu	marido;	isto	disseste	com	verdade”.
Jesus	trata	do	assunto	do	pecado	a	fim	de	que	a	mulher	veja	a	causa	da	sua
infelicidade.	A	nova	vida	deve	começar	com	base	na	veracidade	e	na
honestidade.	O	passado	tem	que	ser	enfrentado,	por	mais	desagradável	que	seja,
e	o	lixo	da	vida	anterior	deve	ser	varrido	para	longe.
IV	–	Cristo	Revela	a	Si	Mesmo	(Jo	4.19-29)
1.	A	expressão	de	perplexidade.	A	mulher,	atônita	diante	do	discernimento	de
Jesus,	exclama:	“Senhor,	vejo	que	és	profeta”,	e	passa	a	levantar	um	problema
religioso,	da	controvérsia	entre	os	samaritanos	e	judeus:	“Nossos	pais	adoravam
neste	monte	[Gerizim]	e	vós	dizeis	que	é	em	Jerusalém	o	lugar	onde	se	deve
adorar.”	A	pergunta	surgiu	não	somente	do	desejo	de	desviar	o	problema	do
pecado	dela	para	o	campo	de	generalidades	teológicas,	como	também	de	um	real
desejo	de	saber	como	procurar	comunhão	com	Deus	e	se	erguer	acima	da	sua
baixa	situação	moral.	Aproveitou	a	presença	de	um	profeta	para	esclarecer	suas
dúvidas.	Jesus,	em	resposta,	mostrou	que	a	verdadeira	adoração	é	matéria	de
atitudes	certas,	e	não	do	lugar	certo;	não	se	trata	de	onde,	e	sim	de	como.
2.	Cristo	revelado.	Cheia	de	alegria	pelas	verdades	que	ouve,	a	mulher	se	lembra
do	que	se	lhe	contou	acerca	de	um	grande	Mestre	que	haveria	de	vir,	enviado	da
parte	de	Deus:	“Eu	sei	que	o	Messias	(que	se	chama	o	Cristo)	vem;	quando	ele
vier,	nos	anunciará	tudo.	Jesus	disse-lhe:	Eu	o	sou,	eu	que	falo	contigo”.	Jesus
não	podia	se	revelar	abertamente	aos	fariseus	porque	estes	não	percebiam	as
próprias	carências	espirituais.	No	entanto,	sempre	estava	disposto	a	se	fazer
conhecido	a	todos	aqueles	que	sentissem	necessidade	dEle	(cf.	Mt	11.25-27).
Cristo	sempre	se	revela	àqueles	que	amam	a	sua	vinda.	Foi	assim	que	revelou-se
aos	primeiros	discípulos	(Jo	1),	e	a	Nicodemos	(Jo	3.13;	9.35-38).
3.	Começa	o	serviço	cristão.	A	mulher	imediatamente	tornou-se	missionária	do
Profeta	e	Messias	que	acabara	de	descobrir.	“Deixou	pois	a	mulher	o	seu
cântaro”	-	mostrando	que,	na	alegria	de	descobrir	a	Água	Viva,	esquecera-se	da
sua	procura	pela	água	natural	_	“e	foi	à	cidade,	e	disse	àqueles	homens:	Vinde,
vede	um	homem	que	me	disse	tudo	quanto	tenho	feito;	porventura	não	é	este	o
Cristo?”	(cf.	Jo	1.41).	Nada	mais	natural	do	que	alguém	que	recebeu	a	Água
Viva	para	beber	levar	outros	à	mesma	Fonte.
V	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Fontes	escondidas.	A	mulher	samaritana	não	sabia	que	falava	ao	Messias,	e
que	a	poucos	passos	dela	estava	a	Fonte	de	Água	Viva;	mas	sua	ignorância	não
alterava	a	realidade	dos	fatos.	As	águas	do	Rio	Amazonas	entram	oceano
adentro	com	tanta	força	que	ainda	há	água	doce	a	grande	distância	da	praia.
Certo	navio	não	tinha	mais	água	potável	a	bordo,	e	os	tripulantes,	longe	da	terra
firme,	fizeram	sinal	a	outro	navio,	pedindo	água.	Demoraram	muito	tempo	para
acreditarem	na	resposta:	“Desçam	os	baldes	no	oceano,	porque	é	de	água	doce”.
Finalmente	experimentaram	fazer	isto	e	descobriram	que	realmente	estavam
cercados	por	água	doce.	Nós	também	estamos	cercados	em	todos	os	lados	por
Deus,	sustentados	por	Ele	e	vivendo	nEle,	e	tantas	vezes	não	tomamos
conhecimento	deste	fato,	deixando	de	lançar	nossos	baldes	para	recebermos	a
plenitude	da	sua	graça.	O	Senhor	Jesus	abriu	os	olhos	da	mulher	samaritana	para
que	ela	enxergasse	a	fonte	das	águas	vivas,	e	fará	o	mesmo	por	nós.	No	cansaço,
Ele	nos	mostrará	uma	fonte	de	refrigério;	na	tristeza,	uma	fonte	de	consolação;
na	enfermidade,	uma	fonte	de	cura;	no	desencorajamento,	uma	fonte	de
esperança	(cf.	Gn	21.1619;	Ex	17.1-6;	Nm	20.9-11;	Is	43.19).
2.	Sede	da	alma.	“Qualquer	que	beber	desta	água	tornará	a	ter	sede”.	Se	nos
colocássemos	de	vigia	numa	esquina,	examinando	o	rosto	de	cada	um	dos
inúmeros	transeuntes,	veríamos	escrito	nos	semblantes	da	maioria	desassossego,
descontentamento	insatisfação.	A	maioria	das	pessoas	segundo	parece,	sofre	a
dor	das	ânsias	não	satisfeitas.	Procurando	a	satisfação	que	seus	corações	tanto
reclamam,	uns	vão	ao	cinema,	outros	procuram	as	drogas,	outros	procuram	se
esquecer	dos	problemas	mediante	vários	tipos	de	atividades	febris.	Se	realmente
soubessem	ler	seu	próprio	coração,	diriam,	juntamente	com	o	salmista:	“A	minha
alma	tem	sede	de	Deus,	do	Deus	vivo”	(Sl	42.2).	O	Espírito	Santo	é	a	Água	Viva
que	satisfaz	a	alma,	e	Jesus	Cristo	veio	a	este	mundo	para	nos	levar	“para	as
fontes	das	águas	da	vida”	(Ap	7.17).
3.	O	Espírito	que	habita	em	nós.	Spurgeon	escreveu:
“O	poder	do	Espírito	Santo	que	habita	em	nós	é	superior	a	todos	os	reveses,
como	um	rio	que	não	pode	ser	forçado	a	ficar	debaixo	da	terra,	por	mais	que
procuremos	represá-lo...	Quando	o	Senhor	dá	de	beber	a	nossas	almas,	das	fontes
que	brotam	da	grande	profundidade	do	seu	próprio	amor	eterno,	quando	nos	dá	a
bênção	de	possuirmos	em	nosso	íntimo	um	princípio	vital	de	graça,	nosso	ermo
se	regozija,	e	desabrocha	em	flores	como	a	roseira,	e	o	deserto	ao	nosso	redor
não	pode	murchar	o	nosso	crescimento	verdejante;	nossa	alma	fica	sendo	um
oásis,	mesmo	quando	tudo	ao	nosso	redor	é	secura	infrutífera.
6
O	Paralítico	do	Tanque	de	Betesda
Texto:	João	5.1-14
Introdução
Como	já	notamos	num	estudo	anterior,	João	chama	os	milagres	de	Cristo	de
“sinais”	porque	são	indicadores	da	divindade	do	Senhor.	Sete	deles	(antes	da
crucificação)	são	selecionados	pelo	evangelista:	a	transformação	da	água	em
vinho;	a	cura	do	filho	de	um	oficial	do	rei;	a	cura	do	paralítico;	a	multiplicação
dos	pães	para	alimentar	a	multidão;	Jesus	andando	sobre	o	mar;	a	cura	do	cego;	e
a	ressurreição	de	Lázaro.
Este	nosso	estudo	tratado	terceiro	destes	milagres,	que	nos	oferece	as	seguintes
lições	acerca	de	Cristo:	Ele	é	o	doador	da	vida,	e,	como	o	paralítico	ouviu	a	voz
de	Cristo	e	foi	restaurado,	assim,	no	fim	dos	tempos,	os	mortos	ouvirão	a	voz	do
Filho	de	Deus,	e	viverão	(Jo	5.25).
I	-	O	Sinal	(Jo	5.1-9)
1.	A	cena	que	entristece	o	coração.	“Ora,	em	Jerusalém	há,	próximo	à	porta	das
ovelhas,	um	tanque,	chamado	em	hebreu	Betesda,	o	qual	tem	cinco	alpendres.
Nestes	jazia	uma	multidão	de	enfermos;	cegos,	mancos	e	ressicados,	esperando	o
movimento	das	águas.	Porquanto	um	anjo	descia	em	certo	tempo	ao	tanque,	e
agitava	a	água,	e	o	primeiro	que	ali	descia,	depois	do	movimento	da	água,	sarava
de	qualquer	enfermidade	que	tivesse”.	Trata-se	de	uma	fonte	intermitente,	que
possuía	-	ou	cria-se	que	possuía	-	poderes	de	cura,	ao	redor	da	qual	alguma
pessoa	benevolente	edificara	cinco	pórticos	para	servirem	de	abrigo	à	multidão
de	enfermos	que	aguardava	o	movimento	da	água.
A	multidão	ao	redor	do	tanque	faz	lembrar	que	o	mundo	está	cheio	de	pessoas
que	sofrem	das	mais	variadas	enfermidades,	sendo,	porém,	todas	elas	doentes;
simboliza	o	mundo	que	se	aglomera,	com	uma	ansiedade	que	é	quase	desespero,
ao	redor	de	qualquer	coisa	que	prometa	solução,	por	mais	vaga	que	seja,	no
sentido	de	ajudar	e	de	curar.
2.	A	pergunta	que	desperta	a	esperança.	Num	dia	de	festa	religiosa,	Jesus	se
encaminhou	para	este	“hospital	natural”.	Assim	como	o	olhar	experiente	do
cirurgião	rapidamente	seleciona	o	pior	caso	na	sala	de	espera	da	sua	clínica,
Jesus	logo	fixou	seus	olhos	em	“um	homem	que,	havia	trinta	e	oito	anos,	se
achava	enfermo”.	Era	um	aleijado,	provavelmente	um	paralítico.	Passara	todo
esse	tempo	esperando,	ouvindo	a	conversa	monótona	dos	outros	enfermos,
descrevendo	detalhes	dos	seus	sofrimentos	que	ninguém	mais	queria	ouvir.
Jesus,	chegando	a	este	homem,	aborda-o	com	a	pergunta	emocionante:	“Queres
ficar	são?”	A	pergunta	parece	estranha	porque,	após	trinta	e	oito	anos	de
sofrimento	e	espera,	nada	mais	natural	do	que	pensar	que	era	a	única	coisa	que	o
homem	desejava.	A	pergunta,	no	entanto,	tinha	várias	razões	para	ser	feita:
2.1.	Para	despertar	a	esperança.	O	coitado	esperara	tanto	tempo	e	sofrera	tantas
decepções,	que	a	esperança	mirrara	dentro	dele,	assim	como	era	mirrado	o	seu
corpo.	Era	necessário,	portanto,	que	Jesus	despertasse	nele	novas	esperanças,
ajudando-o	a	ter	a	fé	necessária	para	receber	a	cura.
2.2.	Para	despertar	a	fé.	Cristo	não	era	como	certos	milagreiros	que	operam	suas
maravilhas	mediante	um	preço,	sem	levar	em	conta	a	atitude	ou	condição	moral
da	pessoa.	Quando	possível,	Jesus	exigia	que	a	pessoa	a	ser	curada	tivesse	fé.	O
propósito	principal	de	Jesus	em	curar	o	corpo	era	transformar	a	alma,	porque
mesmo	quando	vivia	na	terra	era	o	Salvador	e,	como	tal,	requeria	a	fé	como	elo
espiritual	que	vinculasse	o	paciente	à	sua	Pessoa.	Note	como	a	cura	neste	caso
foi	acompanhada	por	uma	advertência	ao	homem,	que	deixasse	de	levar	a	vida
de	pecado	que	fora	a	causa	de	sua	aflição	(v.	14).
2.3.	Para	testar	a	sinceridade	do	desejo.	Quando	Jesus	perguntou	ao	paralítico	se
queria	ser	curado,	a	pergunta	era	sincera	e	real	porque	existem	enfermos	que	não
desejam	ser	curados.	Os	médicos	se	oferecem	para	curar	gratuitamente	as	feridas
do	mendigo,	como	ato	de	caridade,	e	são	rejeitadas	as	suas	ofertas;	mesmo	o
enfermo	que	não	usa	sua	enfermidade	como	fonte	de	renda,	mediante	a
mendicância,	tende	a	tirar	vantagem	da	simpatia	e	indulgência	dos	amigos,	a
ponto	de	o	caráter	ficar	tão	fraco,	que	ele	começa	esquivar-se	do	trabalho.	Há,
portanto,	muitos	que,	por	uma	ou	outra	razão,	preferem	ter	saúde	fraca.
A	pergunta	de	Cristo	significava:	“Você	está	disposto	a	ser	restaurado	a	uma
condição	que	o	capacitará	a	assumir	as	tarefas	e	responsabilidades	da	vida?”
3.	O	mandamento	que	dá	vida.	Enquanto	o	homem	responde,	relembrando	os
anos	de	sofrimento	e	o	fato	de	não	ter	escolhido	aquela	situação,	as	palavras	de
Jesus	soam	nos	seus	ouvidos:	“Levanta-te,	toma	a	tua	cama,	e	anda”.	À	primeira
vista,	pode-se	imaginar	ser	uma	zombaria	mandar	um	paralítico	levantar-se	e
andar;	devemos,	no	entanto,	levar	em	conta	que	quem	falou	estas	palavras	tinha
poder	para	curar	o	homem,	e	que	o	homem	tinha	fé	em	quem	falou	com	ele.	O
homem	creu,	e	manifestou	a	sua	fé	mediante	um	ato	de	obediência	a	um
mandamento	que	parecia	impossível	cumprir.	Se	Deus	nos	mandasse	passar
através	de	um	muro	de	pedra,	nossa	obediência	fiel	nos	levaria	a	traspassá-lo
como	se	fosse	uma	folha	de	papel	de	seda,	sempre	na	condição	de	termos	a
certeza	de	que	a	ordem	partiu	de	Deus!	A	fé	é	crer	e	obedecer	em	tudo	o	que	diz
respeito	àquilo	que	sabemos	ser	a	Palavra	de	Deus.	O	paralítico	obedeceu	e
“logo	aquele	homem	ficou	são;	e	tomou	a	sua	cama,	e	partiu”.	A	fé	é	o	elo	entre
a	incapacidade	humana	e	a	onipotência	divina.
II	-	A	Seqüela	(Jo	5.10,11)
1.	A	condenação.	Os	milagres	de	Jesus	eram	sinais,	mas	nem	sempre	estes	sinais
foram	entendidos.	Ele	alimentou	as	multidões	e	sentia-se	decepcionado	porque
poucos	perceberam	ser	Ele	o	Pão	enviado	do	céu	para	nutrir	as	almas	humanas
(Jo	6).	Curou	o	cego,	demonstrando	assim	ser	a	Luz	do	Mundo,	mas	os	fariseus
hostis	queriam	apagar	aquela	Luz	(Jo	9).	Ressuscitou	Lázaro	dentre	os	mortos,
mostrando	ser	a	Ressurreição	e	a	Vida,	e	este	milagre	provocou	no	Sinédrio	o
desejo	de	matar	o	Autor	da	Vida.	Na	ocasião	aqui	estudada,	Jesus	operou	um
milagre	que	demonstrou	ser	Ele	o	que	opera	a	vontade	divina	em	restaurar	a	vida
e	a	saúde,	e	os	judeus	queriam	matá-lo	por	operar	uma	cura	no	sábado!	(v.	16).
“E	aquele	dia	era	sábado.	Então	os	judeus	disseram	àquele	que	tinha	curado:	É
sábado,	não	te	é	lícito	levar	a	cama”.	Estes	judeus	tinham	apoio	nas	Escrituras,
nas	palavras	de	Jeremias:	“Guardai	as	vossas	almas,	e	não	tragais	cargas	no	dia
de	sábado”	(Jr	17.21).	Naturalmente,	a	proibição	dizia	respeito	a	cargas	que
faziam	parte	de	empreendimentos	comerciais,	mas	os	judeus,	no	seu	exagerado
literalismo,	levaram	o	mandamento	ao	extremo.
2.	A	vindicação.	O	homem	lançou	a	responsabilidade	sobre	Jesus,	e	respondeu:
“Aquele	que	me	curou,	ele	próprio	disse:	Toma	a	tua	cama,	e	anda.”	Noutras
palavras:	“Foi	aquele	que	me	deu	as	minhas	forças	o	mesmo	que	me	mandou
como	empregá-las.”	Que	lógica	magnífica!	Na	sua	simplicidade,	o	homem
acabou	enunciando	uma	regra	do	discipulado	cristão:	aquEle	que	nos	sarou	e
salvou	tem	o	direito	de	dirigir	a	nossa	vida.	Se	Cristo	é	a	fonte	da	nossa	vida,	é
também	a	fonte	da	nossa	lei.
Ensinamentos	Práticos
1.	Consolação	no	vale	de	lágrimas.	Betesda,	com	os	seus	pavilhões	cheios	de
enfermos	de	toda	espécie,	onde	ecoam	os	suspiros	e	gemidos	de	dor	e	desespero,
é	um	exemplo	deste	vale	de	lágrimas	em	que	vivemos.	No	meio	da	vida,	somos
cercados	pela	morte;	no	meio	da	segurança,	podemos	ser	atingidos	pela
calamidade;	no	meio	da	fartura,	podemos	ser	apanhados	pela	miséria.	“Mas	o
homem	nasce	para	o	trabalho,	como	as	faíscas	das	brasas	se	levantam	para	voar”
(Jó	5.7).
Um	provérbio	de	origem	sérvia	diz,	com	acerto:	“Quem	quisesse	chorar	todos	os
males	do	mundo	logo	ficaria	sem	olhos”.
Neste	quadro	triste,	no	entanto,	brilha	um	raio	de	luz:	há	alguém	passando	no
meio	dos	doentes,	perguntando	a	cada	um:	“Queres	ser	curado?”	Deus	enviou
Cristo	a	este	mundo	para	sarar	nossos	pecados	e	enfermidades,	e	para	nos
mostrar	o	caminho	de	libertação,	de	vida	e	de	paz!	Assim	como	o	anjo	agitava	as
águas	para	lhes	dar	poder	para	curar,	também	o	Filho	de	Deus	oferece	a	fonte
que	foi	aberta	para	a	casa	de	Davi	para	remover	o	pecado	e	a	impureza	(Zc	13.1).
Estas	águas	se	moviam	somente	em	certos	momentos,	mas	a	expiação	de	Cristo
está	disponível	todo	o	tempo.	Quanto	às	águas	agitadas	pelo	anjo,	somente	a
pessoa	que	chegou	primeiro	teve	a	boa	fortuna;	na	expi-	ação	de	Cristo,	porém,	o
mundo	inteiro	está	convidado	a	entrar	de	uma	só	vez.
2.	A	voz	que	transforma.	O	paralítico	freqüentava	o	tanque	de	Betesda	havia
muitos	anos,	e	viu	muitas	pessoas	receberem	a	cura	enquanto	ele	permanecia	tão
doente	como	no	dia	em	que	chegou	pela	primeira	vez.	Esta	situaçãoé	típica	de
milhares	de	pessoas	que	freqüentam	as	igrejas	sem	receberem	bênçãos:	ainda
estão	tão	fracas	espiritualmente	como	no	dia	em	que	começaram	a	ir	à	igreja.	Na
teoria,	crêem	no	poder	da	graça	divina;	na	prática,	não	têm	fé	em	Deus	suficiente
para	receberem	milagres	de	transformação	que	fariam	delas	obreiros	fortes	e
vigorosos	na	causa	de	Deus.
Este	milagre	demonstra	que	há	caminho	mais	curto	para	a	saúde	do	que	a	mera
freqüência	às	cerimônias	da	igreja.	É	a	voz	de	Cristo	que	precisam	ouvir.	Muitos
têm	esperado	por	muito	tempo	ao	lado	da	fonte	chamada	Batismo	no	Espírito
Santo.	Vêem	as	águas	se	agitarem	e	outras	pessoas	entrarem	para	receberem	a
bênção,	enquanto	outros	se	sentem	secos	e	sem	poder.	Depois,	certo	dia,	ouvem
a	voz	do	próprio	Filho	de	Deus	e	são	imediatamente	libertados	daquela
interminável	espera!	O	que	importa	na	vida	cristã	é	ouvir	a	voz	do	Filho	de
Deus.	Temos	ouvido	a	sua	voz	ultimamente?
3.	A	chamada	à	benevolência.	“Senhor,	não	tenho	homem	algum	que,	quando	a
água	é	agitada,	me	meta	no	tanque;	mas,	enquanto	eu	vou,	desce	outro	antes	de
mim.”	“Não	tenho	ninguém”	-	estas	palavras	exprimem	quanta	solidão	e
egoísmo	existem	no	mundo.	De	todos	aqueles	já	curados	por	meio	daquela	fonte,
não	sobrou	nenhum	que	emprestasse	ao	seu	antigo	companheiro	de	dores	um
pouco
da	sua	força	recém-adquirida,	para	colocá-lo	na	água	na	hora	certa.	Quão	triste
seria	este	mundo	se	não	existisse	ninguém	que	sentisse	prazer	em	ajudar	ao
próximo!	O	egoísmo	faz	com	que	o	mundo	seja	um	lugar	muito	pequeno,	um
cantinho	muito	frio,	infrutífero	e	escuro.	Não	há	dúvida	de	que	este	mundo	é
lugar	de	egoísmo,	mas	ainda	há	boa	quantidade	de	genuína	bondade	entre	os
homens.
Jesus	Cristo	veio	ao	mundo	para	lançar	o	saneamento	que	é	o	amor	nas	águas
amargas	do	egoísmo,	sendo	que	“andou	fazendo	bem,	e	curando	a	todos	os
oprimidos	do	diabo”	(At	10.38).	Os	seguidores	de	Jesus	seguem	o	seu	exemplo,
e	têm	compaixão	do	homem	sozinho	e	abandonado	que	não	tem	ninguém	para
ajudá-lo	a	chegar	às	águas	que	o	saram.	“Quando	te	converteres,	fortalece	os
teus	irmãos”.	Quem	já	foi	curado	por	Cristo	se	preocupará	em	cuidar	para	que
outras	pessoas	se	dirijam	à	mesma	fonte	de	bênçãos;	não	havendo	esta	vontade,	é
porque	lhe	falta	a	energia	sobrenatural	que	aquece	e	comove	o	coração	com	o
divinal	amor	que	tem	longo	alcance.
4.	“Queres	ficar	são?”	É	surpreendente	o	número	de	pessoas	que	não	se
interessam	em	obter	saúde,	por	falta	de	desejo	de	assumir	as	responsabilidades
que	a	vida	acarreta.	Existem	muitos	cristãos,	também,	que	estão	dispostos	a
permanecer	espiritualmente	paralíticos	porque	recuam	diante	do	serviço	cristão
árduo	que	se	requer	dos	seguidores	de	Cristo.	Muitos	há	que	não	querem	ser
feitos	espiritualmente	sãos,	porque	se	esquivam	das	obrigações	da	vida	cristã;
outros	hesitam	em	buscar	uma	experiência	mais	profunda	por	medo	de	surgirem,
juntamente	com	ela,	novas	exigências	morais.	Outros,	ainda,	não	aceitam	para	si
a	consagração	total,	receando	que	o	Senhor	os	mande	para	o	campo	missionário.
“Queres	ficar	são?”	é	uma	pergunta	que	nos	perscruta,	e	que	significa:	“Queres
ser	capacitado	para	o	que	há	de	mais	puro	e	nobre	na	vida?”	O	Mestre	continua
falando	ao	nosso	coração:	“Queres	ser	santificado?”	“Queres	ser	espiritualmente
forte?”	“Queres	ser	plenamente	consagrado?”	O	que	é	que	nos	impede	de
responder	com	um	eterno	“sim”?
5.	Quando	Deus	manda,	ele	capacita.	O	homem	junto	ao	tanque	era	totalmente
incapacitado.	Porém,	quando	Jesus	disse:	“Levanta-te,	toma	a	tua	cama,	e	anda”,
ele	obedeceu	e	andou.	A	explicação	é	que	ele	tinha	fé	em	Jesus,	e	o	ponto	de
vista	que	a	fé	adota	é	que,	por	mais	difícil	ou	mesmo	impossível	que	seja	a
tarefa,	o	Senhor	nos	capacitará	a	cumprir	sua	vontade.	Quando	procuramos	fazer
aquilo	que	sabemos	com	certeza	ser	a	vontade	do	Mestre,	descobrimos	que	nossa
capacidade	está	à	altura	deste	desejo,	e	que	nossas	forças	bastam	para	o
cumprimento	do	dever.	“Dá	o	que	tu	determinas,	e	manda	o	que	tu	desejas”,
disse	um	antigo	pensador	cristão.
Obedeça	a	Cristo,	e	você	achará	forças	suficientes	para	isso.	Creia	que	Ele	tem
poder	para	lhe	dar	vida	nova,	e	você	a	receberá.	Mas	não	hesite,	não	questione,
não	protele.
6.	“Toma	a	tua	cama”.	Talvez	o	paralítico	curado	possa	ter	pensado:	“Agora	me
sinto	bem,	mas	não	sei	por	quanto	tempo	vou	me	sentir	assim;	seria	melhor
deixar	o	leito	aqui,	caso	venha	a	precisar	dele	mais	tarde”.	Seja	como	for,	tal
pensamento	foi	rapidamente	expulso	mediante	a	ordem:	“Toma	a	tua	cama”,	que
significa	que	o	homem	não	deveria	prevenir-se	contra	uma	possível	recaída!	O
Senhor,	para	dar	mais	força	e	clareza	a	esta	instrução,	disse-	lhe,	mais	tarde,	ao
encontrá-lo	no	templo:	“Eis	que	já	estás	são;	não	peques	mais,	para	que	não	te
suceda	alguma	coisa	pior”.
Muitas	pessoas	ficam	afastadas	da	graça	e	da	misericórdia	de	Deus	porque	não
vão	se	afastando	da	cena	das	suas	antigas	derrotas	e	enfermidades.	Em	vez	de
avançarem,	ficam	olhando	para	trás,	prevendo	fracassos	e	tomando	as
respectivas	providências,	e	isto	por	falta	de	confiança	total	no	poder	de	Cristo.
Na	vida	cristã,	fazer	os	preparativos	para	o	fracasso	é	convidar	o	fracasso.	“Não
tenhais	cuidado	da	carne”	(Rm	13.14).	Há	aqueles	que	se	levantam	do	seu	leito
de	fraqueza	espiritual,	avançam	alguns	passos	na	vida	cristã,	e	então	voltam	para
preparar	a	sua	cama	no	meio	da	vida	diária	normal	do	mundo.	Já	levamos	para
longe	o	nosso	leito	de	dores?
7.	O	nosso	Redentor	é	o	nosso	Soberano.	Quando	os	judeus	protestaram	que	não
era	lícito	àquele	homem	carregar	seu	leito	no	sábado,	ele	respondeu:	“Aquele
que	me	curou,	ele	próprio	disse:	Toma	a	tua	cama,	e	anda.”	Quem	nos	salvou	e
nos	deu	vida	e	força	tem	autoridade	para	nos	dizer	como	empregar	a	vida	que
veio	da	parte	dele.	Tem	absoluta	autoridade	de	fazer	o	que	deseja	com	os	nossos
poderes	espirituais	restaurados,	pois	que	foi	Ele	quem	no-	los	concedeu.	Seu
domínio	decorre	de	seus	benefícios;	é	nosso	Rei	porque	é	nosso	Salvador.	Rege
aqueles	que	redimiu.	Quando	o	cristão	recebe	as	críticas	dos	mundanos	por	ser
tão	consciencioso,	por	recusar-se	a	participar	das	coisas	do	mundo	e	por	agir	de
modo	contrário	às	tradições	e	aos	costumes	da	sociedade,	sua	defesa	deve	ser:
“Aquele	que	me	curou,	ele	próprio	disse”.	Para	o	cristão,	a	palavra	de	Cristo	é	o
argumento	único	e	conclusivo.
7
Jesus,	o	Juiz	que	Há	de	Vir
Texto:	João	5.19-47
Introdução
No	capítulo	cinco,	temos	um	sinal	(v.	1-14)	e	um	sermão	(v.	19-47)	que	se
explicam	e	ilustram	mutuamente.	O	milagre	registrado	na	primeira	parte	do
capítulo	mostra	dois	aspectos	de	Cristo:	primeiro,	como	Doador	da	Vida.	O
homem	que	fora	paralítico	ouve	a	voz	do	Filho	de	Deus	e	recebe	a	vida	(v.	25).
Segundo,	como	Juiz.	O	homem	curado	fica	diante	do	Juiz,	e	recebe	a	absolvição:
“Eis	que	já	estás	são;	não	peques	mais,	para	que	não	te	suceda	alguma	coisa
pior”.
Quando	os	judeus	objetavam	que	Jesus	tinha	violado	o	sábado	ao	curar	o
paralítico,	ele	pregou	um	sermão	explicando	o	significado	do	milagre	e
asseverando	a	sua	autoridade	para	operá-lo.
I	–	As	Bases	da	Autoridade	de	Cristo	(Jo	5.15-20)
Quando	o	homem	que	fora	paralítico	soube	quem	o	curara,	contou	o	fato	às
autoridades	dos	judeus,	que,	por	sua	vez,	queriam	prender	Jesus	sob	a	acusação
de	ter	violado	o	sábado.	Na	sua	defesa,	Jesus	levanta	os	seguintes	argumentos:
1.	Sua	unidade	com	o	Pai.	“E	Jesus	lhes	respondeu:	Meu	Pai	trabalha	até	agora,	e
eu	trabalho	também”.	Noutras	palavras:	Deus	trabalha	no	sábado,	sustentando	o
Universo,	comunicando	vida,	abençoando	os	homens,	respondendo	às	orações.
Perguntou	um	zombador,	em	conversa	com	um	rabino	judeu:	“Por	que	Deus	não
guarda	o	sábado?”	Respondeu	o	rabino:	“Não	é	permitido	que	um	homem	se
locomova	dentro	do	seu	próprio	lar?	O	lar	de	Deus	é	o	universo	inteiro,	de	alto	a
baixo.	Deus	não	precisa	do	sábado;	é	uma	bênção	que	ele	concede	às	suas
criaturas,	para	a	felicidade	delas”.	É	esta	superioridade	sobre	o	sábado	que	Jesus
também	considerou	privilégio	seu.	Sua	atividade	é	tão	necessária	para	o	mundo
como	a	de	Deus	Pai;	realmente,	ao	efetuara	cura	no	sábado,	estava	meramente
agindo	em	nome	do	Pai.
Os	judeus	entenderam,	corretamente,	que	Jesus	estava	declarando	sua	própria
divindade	mediante	tal	resposta.	Se	estivesse	simplesmente	argumentando	que,
já	que	Deus	trabalha	no	sábado,	ele	também,	como	judeu	piedoso,	podia
trabalhar	no	sábado,	sua	defesa	teria	sido	absurda.	A	declaração	da	sua	própria
deidade,	no	entanto,	deu	conteúdo	real	à	sua	defesa.
Jesus	declarou,	portanto,	que	a	cura	do	paralítico	era	uma	obra	do	Pai,	e	que	os
judeus,	ao	acusá-lo	da	quebra	do	sábado,	estavam	realmente	fazendo	a	acusação
contra	o	Pai.
2.	Sua	comunhão	com	o	Pai.	“Na	verdade,	na	verdade	vos	digo	que	o	Filho	por
si	mesmo	não	pode	fazer	coisa	alguma,	se	o	não	vir	fazer	o	Pai;	porque	tudo
quanto	ele	faz,	o	Filho	faz	igualmente”.	Cristo	vivia	em	tão	perfeita	harmonia
com	o	Pai	que	lhe	era	impossível	operar	qualquer	milagre	por	sua	própria
iniciativa,	ou	do	seu	próprio	desejo.	Ele	estava	tão	acostumado	a	submeter-se	ao
propósito	divino	que	estava	fora	de	cogitação	a	idéia	de	Ele	entender	mal	a
vontade	de	Deus	ou	se	opor	a	ela.	O	Filho	nada	pode	fazer	de	si	mesmo,	não	por
lhe	faltar	poder,	e	sim	porque	lhe	falta	o	desejo	de	agir	independentemente	de
Deus.	A	sua	expressão	é	semelhante	à	de	um	homem	consciencioso	que,	quando
alguém	insiste	com	ele	para	que	faça	algo	errado,	responde:	“Não	posso	fazê-lo”.
Poderia,	se	desejasse,	mas	seu	caráter	reto	e	justo	lhe	proíbe	tal	coisa.
A	atitude	filial	de	Cristo	é	correspondida	pelo	amor	do	Pai:	“Porque	o	Pai	ama	o
Filho,	e	mostra-lhe	tudo	o	que	faz”.	O	Filho	tem	sido	um	espectador	contínuo
das	obras	do	Pai	nos	corações	e	vidas	dos	homens.	Estava	tão	profundamente
enfronhado	nos	conselhos	do	Pai	que	sabia	ins-	tintivamente	qual	era	a	vontade
do	Pai	em	todos	os	casos.	Assim,	uma	só	olhada	na	direção	do	homem	paralítico
bastava	para	convencê-lo	de	que	era	da	vontade	do	Pai	a	realização	da	cura,
apesar	de	ser	no	dia	de	sábado.
II	–	O	Alcance	da	Autoridade	de	Cristo	(Jo	5.21-30)
“E	ele	lhe	mostrará	maiores	obras	do	que	estas,	para	que	vos	maravilheis”.	A
nova	vida	comunicada	ao	paralítico	era	um	sinal	que	indicava	o	poder	de	Jesus
para	comunicar	a	vida	eterna	a	quem	ele	quisesse.	A	vida	física	assim
transmitida	apontava	para	sua	capacidade	de	transmitir	a	vida	espiritual	também.
As	“obras	maiores”	de	Cristo	se	manifestam	em	duas	esferas:
1.	Na	vivificação	dos	mortos.	Dois	tipos	de	ressurreição	se	mencionam	nestes
versículos	-	a	espiritual	e	a	física.	O	pecado	causa	a	morte	espiritual,	bem	como
a	morte	física;	Cristo,	Salvador	dos	pecadores,	dá	a	vida	eterna	à	alma	(v.	24)	e	a
imortalidade	na	ressurreição	(v.	25).	Os	versículos	21	a	25	aplicam-se	à
ressurreição	física	e	à	espiritual.	O	Filho	de	Deus	exerce	estas	prerrogativas
porque	“assim	como	o	Pai	tem	vida	em	si	mesmo,	também	concedeu	ao	Filho	ter
vida	em	si	mesmo”.
2.	No	exercício	do	julgamento.“E	também	o	Pai	a	ninguém	julga,	mas	deu	ao
Filho	todo	o	juízo”.	Isto	inclui	o	julgamento	que	os	homens	pronunciam	contra	si
mesmos	quando	rejeitam	a	Cristo,	bem	como	o	juízo	que	será	realizado	no	dia
final.	O	propósito	desta	atribuição	é	“para	que	todos	honrem	o	Filho,	como
honram	o	Pai”.	Quando	consideramos	as	declarações	de	Cristo	acerca	de	si
mesmo,	não	podemos	fugir	do	mistério	da	Trindade.	Dizer	que	o	Filho	deve	ser
honrado	como	o	Pai,	é	dizer	que	o	Filho	e	o	Pai	são	um,	com	os	mesmos	poderes
e	honras,	muito	embora	Jesus,	nos	dias	em	que	viveu	na	terra,	estivesse	sujeito
ao	Pai	de	acordo	com	o	plano	divino.
Há	aqueles	que	pensam	da	seguinte	forma:	sou	um	homem,	com	as	fraquezas
humanas,	passando	por	uma	vida	cheia	de	dificuldades.	Deus,	lá	no	Céu,	é
perfeito	e	livre	de	qualquer	tentação.	Como	poderia	Ele	simpatizar	com	meu
ponto	de	vista?	A	resposta	de	Cristo	é:	“E	deu-lhe	o	poder	de	exercer	o	juízo,
porque	é	o	Filho	do	homem”.	Noutras	palavras:	no	dia	do	juízo	os	homens
comparecerão	diante	de	quem	já	viveu	na	natureza	deles,	experimentou	as
tristezas	deles,	enfrentou	as	tentações	deles,	e	que	sabe	por	experiência	o	que	é	a
vida	humana.
“Eu	não	posso	de	mim	mesmo	fazer	coisa	alguma”,	por	causa	do	perfeito
vínculo	de	comunhão	entre	Jesus	e	o	Pai.	Desejando	que	haja	a	mesma
comunhão	entre	ele	mesmo	e	os	seus	discípulos,	Jesus	disse:	“Sem	mim	nada
podeis	fazer”	(Jo	15.5).
Talvez	alguns	dos	ouvintes	se	queixassem,	dizendo	que	Cristo	era	muito	severo
ou	dogmático	ao	julgar	as	pessoas,	assim	como	há	aqueles	que	levantam	a
objeção	de	serem	as	palavras	de	Jesus	em	Mateus	23	muito	duras	para	aquEle
que	veio	salvar,	e	não	condenar.	A	resposta	de	Cristo	foi	e	continua	sendo:
“Como	ouço,	assim	julgo;	e	o	meu	juízo	é	justo,	porque	não	busco	a	minha
vontade,	mas	a	vontade	do	Pai	que	me	enviou”.	Cristo	se	refere	às	suas
declarações	de	aprovação	e	de	condenação,	definindo	o	que	é	certo	e	o	que	é
errado.	Tinha,	por	exemplo,	autoridade	para	dizer:	“Estão	perdoados	os	teus
pecados”;	“A	tua	fé	te	salvou”;	“Melhor	seria	para	tal	homem	não	ter	nascido”;
“Vinde	a	mim”;	“Apartai-vos	de	mim,	malditos,	para	o	fogo	eterno”.	Estes	e
outros	julgamentos	pronunciados,	no	que	diz	respeito	aos	fariseus,	aos
hipócritas,	a	Pilatos	e	Herodes,	a	Jerusalém,	ao	mundo,	aos	demônios,	são
expressões	da	vontade	do	Pai,	e	não	de	ressentimento	pessoal.	São	a	verdadeira	e
infalível	expressão	da	vontade	divina.
III	–	Ensinamentos	Práticos
1.	A	divindade	de	Cristo.	No	trecho	aqui	estudado,	temos	um	exemplo	das
tremendas	asseverações	feitas	por	Cristo	com	respeito	a	si	mesmo,	declarações
que	somente	Deus	pode	fazer	com	razão.	No	entanto,	as	afirmações	foram	tão
singelas	e	naturais	como,	por	exemplo,	quando	Paulo	dizia:	“Eu	sou	judeu”.	Para
chegar-se	à	conclusão	de	que	Cristo	é	divino,	basta	reconhecer	duas	coisas:
primeiro,	que	Jesus	não	era	um	homem	mau.	Segundo,	que	Jesus	não	era	louco.
Se	alegasse	sua	própria	divindade,	enquanto	soubesse	não	ser	Deus,	não	poderia
ser	um	homem	bom;	se	falsamente	imaginasse	ser	Deus,	sem	que	isso
correspondesse	à	realidade,	não	poderia	ser	um	homem	mentalmente	são.	Posto
que	nenhuma	pessoa	séria	pode	duvidar	da	perfeição	do	caráter	de	Jesus,	nem	da
superioridade	da	sua	sanidade,	não	nos	resta	outra	conclusão	senão	a	de	que	ele
era	o	que	declarava	ser	-	o	Filho	de	Deus,	no	sentido	especial	e	reservado	da
palavra.
2.	O	atual	juízo	de	Cristo.	No	plano	da	salvação,	há	íntima	relação	entre	o
presente	e	o	futuro.	A	plenitude	da	vida	eterna	é	a	possessão	que	receberemos	no
futuro,	embora	comece	aqui	e	agora.	Aquele	que	crê	em	Cristo	“tem	a	vida
eterna”.	A	condenação	final	ainda	aguarda	os	pecadores	não	arrependidos,	mas
começa	aqui	e	agora.	No	entanto,	agora,	a	ira	de	Deus	permanece	sobre	o
descrente	(Jo	3.36).
Esta	verdade	foi	ilustrada	na	vida	terrestre	de	nosso	Senhor.	Toda	pessoa	que
apareceu	na	sua	presença	foi	julgada	-	ou	recebeu	aprovação,	ou	foi	condenada.
Lemos	que	os	fariseus,	cheios	de	suspeita,	queriam	submeter	Jesus	ao	escrutínio;
mas,	na	realidade,	eles	é	que	foram	submetidos	ao	julgamento.	Lemos	que	Jesus
foi	levado	perante	Herodes,	mas,	na	realidade,	tratava-se	de	Herodes
comparecendo	perante	Jesus!	(Lc	23.8-11).	Jesus	foi	levado	a	Pilatos,	mas,	na
realidade,	Pilatos	é	que	foi	julgado	por	Jesus.	Lemos	sobre	o	processo	de	Jesus
perante	o	Sinédrio,	mas,	realmente,	julgava-se	a	autoridade	moral	do	Sinédrio.
Em	todos	os	casos,	foram	invertidos	os	papéis,	porque	é	Ele	agora	o	Exaltado,	e
eles,	os	condenados.
Na	presença	de	Jesus,	portanto,	os	homens	são	julgados	de	acordo	com	a	sua
atitude	para	com	Ele.	E	Ele	ainda	é	a	pedra	de	toque	das	nossas	vidas.	Certo
visitante	altivo	e	crítico	estava	examinando	uma	coletânea	de	obras-primas	de
pintura	numa	galeria	de	arte.	“Não	vejo	nada	de	especial	nesses	quadros”,	disse,
com	ar	de	desprezo.	O	curador	respondeu,	tranqüilamente:	“Senhor,	aqui	não
está	em	causa	a	qualidade	dos	quadros,	e	sim	a	dos	observadores”.	Os	críticos
procuram	submeter	o	caráter	divino	ao	microscópio,	mas	são	realmente	eles	o
objeto	de	escrutínio.	Uma	boa	pergunta	a	dirigir	a	um	cético	seria:	“O	que	você
pensa	de	Cristo?”	Mas	a	pergunta	maisimportante	é:	“O	que	Cristo	pensa	de
você?”
3.	“Vindo,	depois	disso,	o	juízo”	(Hb	9.27).	Lemos	em	João	3.17:	“Porquanto
Deus	enviou	o	seu	Filho	ao	mundo,	não	para	que	condenasse	o	mundo,	mas	para
que	o	mundo	fosse	salvo	por	ele”.	Em	João	5.22,	lemos:	“E	também	o	Pai	a
ninguém	julga,	mas	deu	ao	Filho	todo	o	juízo”.	Não	há	nenhuma	contradição
aqui.	É	da	vontade	de	Deus	que	todos	sejam	salvos,	e	Jesus	provou	a	morte	em
prol	de	todos	os	homens.	Quando,	porém,	os	homens	rejeitam	a	cura	do	pecado,
têm	de	sofrer	a	sua	penalidade;	quando	zombam	da	oferta	da	misericórdia
divina,	não	há	escape	da	condenação	divina.
Pessoas	há,	hoje,	que	duvidam	do	juízo	vindouro	tanto	quanto	os	homens	da
época	de	Noé,	mas	nem	por	isso	deixou	de	vir	o	dilúvio,	nem	deixará	de	vir	o	dia
do	juízo	final.
4.	“Da	morte	para	a	vida”	(v.	24).	Assim	como	um	cadáver	pode	ser	cercado	por
flores	e	enlutados,	sem	com	eles	ter	o	mínimo	contato,	assim	também	uma	alma
morta	pode	ter	coisas	espirituais	ao	seu	alcance,	sem,	porém,	tomar	a	mínima
consciência	da	sua	presença.	“Mas	a	que	vive	em	deleites,	vivendo	está	morta”
(1Tm	5.6).	“E	vos	vivificou,	estando	vós	mortos	em	ofensas	e	pecados”	(Ef	2.1).
Assim	como	um	mineral	está	morto	no	que	diz	respeito	ao	reino	vegetal,	também
o	homem	não	convertido	está	morto	com	respeito	ao	Reino	de	Deus.
Cristo	veio	possibilitar	a	transição	do	homem	da	morte	para	a	vida:	“Aquele	que
crê	no	Filho	tem	a	vida	eterna”	(Jo	3.36).	É	esta	verdade	que	faz	a	distinção	entre
o	Cristianismo	e	todas	as	demais	religiões.	É	o	homem	mental	e	moral	mais	a
pessoa	de	Cristo;	é	a	nova	vida	transmitida	ao	homem	espiritual,	uma	qualidade
bem	diferente	do	que	qualquer	outra	coisa	existente	no	mundo	(cf.	Jo	14.20-23;
15.5;	1	Co	6.15;	2	Co	13.5;	Gl	2.20).	Cristo	é	a	fonte	da	nossa	vida.	Nenhum
homem	espiritual	alega,	em	hipótese	alguma,	que	a	sua	espiritualidade	é	dele
mesmo.	“E	vivo	não	mais	eu,	mas	Cristo	vive	em	mim”	(Gl	2.20).	Quando
alguém	verdadeira	e	sinceramente	se	volta	do	pecado	para	Cristo,	passa	da	morte
para	a	vida.
5.	A	certeza	da	vida	eterna.	Na	data	desta	tradução,	noticia-se	a	morte	de	um
russo	que	viveu	168	anos.	É	um	período	muito	grande	de	tempo,	em	que	houve
profundas	modificações	em	todas	as	nações	da	terra,	mas	não	passa	de	alguns
poucos	segundos	em	comparação	à	vida	eterna,	que	é	o	presente	recebido	por
todos	os	que	têm	fé	em	Cristo.	Muitos	rejeitam	a	vida	eterna,	não	por	não	crerem
que	ela	seja	boa,	mas	porque	a	acham	boa	demais	para	ser	verdadeira.	Outros
gostariam	que	fosse	verdadeira,	mas	não	têm	base	sólida	para	fundamentar	as
suas	esperanças.	Roberto	E.	Ingersoll,	destacado	inimigo	da	Bíblia	e	do
Cristianismo,	na	ocasião	do	enterro	do	seu	irmão,	fez	um	discurso	declarando
não	existir	nada	que	apóie	o	conceito	da	vida	além-túmulo.	Depois,	disse:
“Aquele	que	aqui	jaz	confundiu	a	aproximação	da	morte	com	a	volta	da	saúde,	e
sussurrou,	com	seu	derradeiro	alento:	‘Já	sarei’.	Oxalá	possamos	crer,	a	despeito
das	dúvidas	e	dogmas,	das	lágrimas	e	temores,	que	sejam	verdadeiras	estas
preciosas	palavras,	no	que	diz	respeito	a	todos	os	incontáveis	mortos”.	Este
desejo	de	ter	alguma	esperança,	da	parte	de	quem	rejeitou	as	Escrituras,	é	a
sólida	segurança	de	quem	conhece	a	Cristo:	“Porque	eu	vivo,	e	vós	vivereis”	(Jo
14.19).
6.	O	coração	sem	nuvens.	“O	meu	juízo	é	justo	porque	não	procuro	a	minha
própria	vontade,	e	sim	a	daquele	que	me	enviou”.	Com	estas	palavras,	Jesus
revelou	a	inexistência	de	motivos	errados	em	seus	julgamentos.	Tudo	quanto
dizia	e	fazia	era	isento	da	influência	do	egoísmo	que	distorce	todas	as	coisas.
Assim	como	a	poluição	do	ar	vai	obscurecendo	a	nossa	vista	ao	derredor,
também	o	egoísmo,	o	medo	e	a	ambição	formam	uma	nuvem	que	obscurece	o
raciocínio	e	perverte	o	juízo.	Não	havendo	qualquer	defeito	ou	lesão	específica,
sempre	terão	sanidade	mental	as	pessoas	que	têm	pureza	de	coração.
Feliz	o	homem	que	nega-se	a	si	mesmo	e	que	pode	dizer:	“Não	busco	a	minha
própria	vontade,	mas	a	vontade	do	Pai	que	me	enviou”.	Tal	consagração
desanuviará	nosso	discernimento	e	julgamento	e	alimentará	o	espírito	(Jo	4.34),
iluminando	o	entendimento	(Jo	7.17)	e	dando	descanso	ao	coração	(Mt	11.29).
8
Jesus,	o	Pão	da	Vida
Texto:	João	6
Introdução
A	leitura	completa	do	sexto	capítulo	de	João	nos	ajudará	a	colocar	o	sermão	de
Jesus	(v.	26-37),	que	receberá	nossa	atenção	especial	neste	estudo,	no	seu	exato
contexto.	O	capítulo	registra	muitas	coisas	grandiosas:
1.	Um	grande	milagre.	Depois	de	os	apóstolos	voltarem	da	sua	breve	viagem
evangelística,	Jesus	os	levou	para	o	ermo,	a	fim	de	passarem	juntos	uns	breves
períodos	de	descanso	e	comunhão	espiritual.	Não	havia,	no	entanto,	nenhum
descanso	para	os	cansados;	seus	movimentos	foram	observados,	e	o	povo
acorreu	ao	lugar	onde	desembarcaram,	correndo	pela	praia	ao	redor	do	mar	da
Galiléia,	como	se	temesse	que	eles	escapassem.	Havia	ao	todo	cinco	mil
homens.	Cerca	de	15	mil	pessoas,	contando-se	também	as	mulheres	e	as
crianças.	E	aquEle	que	revelou	seu	poder	criador,	transformando	a	água	em
vinho,	exerceu	este	mesmo	poder,	alimentando	aquela	multidão	com	uns	poucos
pães	e	peixes.
2.	O	grande	entusiasmo.	Até	esta	altura,	a	popularidade	do	Senhor	tinha	crescido
com	velocidade	sempre	maior.	Depois	de	o	povo	ver	este	milagre,	seu
entusiasmo	ficou	até	febril.	Chegaram	à	conclusão	de	que	Ele,	ao	repetir	o
milagre	da	alimentação	sobrenatural	de	Israel	no	deserto,	revelou-se	como	o
Messias.	Saudaram-no	como	Rei,	e	se	prontificaram	a	escoltá-lo	a	Jerusalém
para	sua	coroação,	esperando	que	Ele	expulsasse	os	romanos	da	Palestina	e
exaltasse	Israel	acima	das	nações.
3.	A	grande	tempestade.	Jesus	imediatamente	reconheceu	o	incidente	como
sendo	mais	uma	artimanha	da	parte	de	Satanás,	para	tentá-lo	a	tomar	o	trono	sem
aceitar	a	cruz.	Rapidamente	mandou	embora	a	multidão,	ordenou	aos	discípulos
que	se	afastassem	num	barco	e	depois	subiu	a	uma	montanha	para	orar.	Nesse
ínterim,	levantou-se	uma	tempestade	que	impedia	os	discípulos	de	remar	e
ameaçava	virar	o	barco.	A	tempestade	prenunciava	a	experiência	que	estava	para
lhes	sobrevir.	Dentro	em	breve,	rajadas	de	impopularidade	soprariam	contra	o
Mestre	e	seu	grupo,	ameaçando	sossobrar-lhes	a	fé.	Logo	teriam	de	resistir	aos
ventos	e	às	ondas,	para	não	serem	levados	em	debandada	à	ruína,	pelo	furacão	da
apostasia.	No	entanto,	o	Mestre	não	se	esquecera	dos	discípulos;	seu	olhar
vigiava	o	barco,	e,	no	momento	da	necessidade,	interveio	em	prol	deles.	Jesus
nunca	se	descuida	dos	seus	fiéis,	quando	estão	passando	pelas	águas	de
tribulação.
4.	Um	grande	sermão.	Cristo	estava	no	auge	da	popularidade,	era	o	“homem	do
momento”.	Certamente,	segundo	o	pensamento	popular,	quem	tinha	poderes	para
alimentar	milagrosamente	cinco	mil	pessoas	seria	ideal	para	restaurar	a
prosperidade	da	nação	e	oferecer	ao	povo	tudo	quanto	necessitava.	Satanás
conhecia	muito	bem	os	sentimentos	do	povo	quando	sugeriu	que	Jesus	lançasse
mão	de	seus	poderes	para	transformar	pedras	em	pão.	Naquela	ocasião,	como
também	no	incidente	aqui	registrado,	Jesus	declarou	que	o	homem	não	obterá
mediante	a	comida	natural	a	sua	verdadeira	vida,	que	é	espiritual	(Mt	4.3,4;	Jo
6.27).
O	Senhor	não	queria	que	alguém	o	seguisse	sem	ter	o	conceito	correto	quanto	à
sua	pessoa;	todos	deviam	saber	com	certeza	que	tipo	de	Messias	era	Ele.	Em
vista	disto,	pregou	um	sermão	muito	claro	para	estabelecer	qual	era	a	sua
posição.	Não	veio	como	Messias	político	para	dar	nova	vida	à	política	da	nação,
e	sim	como	Messias	espiritual,	para	oferecer	vida	espiritual	ao	seu	povo.	Quando
Jesus	alimentou	o	povo	com	pão	físico,	demonstrava,	simbolicamente,	seu
desejo	de	alimentá-lo	com	o	Pão	espiritual	que	produz	a	vida	eterna.
5.	A	grande	triagem.	A	mensagem	que	Cristo	pregou	foi	um	golpe	mortal	contra
a	sua	popularidade;	deliberadamente,	destruiu	o	apoio	de	uma	grande	parte	da
população:	“Desde	então	muitos	dos	seus	discípulos	tornaram	para	trás,	e	já	não
andavam	com	ele”	(6.66).	Seus	ensinamentos	estavam	além	do	alcance	deles,	e
suas	ações	não	se	harmonizavam	com	a	idéia	que	tinhamde	como	deveria	se
comportar	o	Messias.	Muitas	pessoas	pensavam:	“Se	é	assim	o	Messias,	não
queremos	saber	dele”.	Isto	não	se	constituiu	em	surpresa	para	o	Senhor:	afinal	de
contas,	planejara	semelhante	crise	deliberadamente,	porque,	apesar	dos	seus
anseios	pela	salvação	de	todos	os	homens,	desejando	que	todos	chegassem	a	Ele
para	receber	a	vida,	não	aceitaria	pessoa	alguma	que	não	se	consagrasse	ao
Senhor.	Procurava	aqueles	que	lhe	eram	dados	por	Deus	(6.37),	ensinados	por
Deus	(6.45)	e	trazidos	por	Deus	(6.44),	sabendo	que	somente	os	tais
permaneceriam	na	sua	Palavra.
6.	Uma	grande	prova	de	fé.	O	Mestre	estava	sendo	abandonado	por	muitos
seguidores	decepcionados.	Será	que	os	apóstolos	também	seriam	levados	pela
onda	de	apostasia?	Jesus	coloca	diante	deles	a	questão:	“Quereis	vós	também
retirar-vos?”	Três	âncoras	seguravam	os	discípulos,	firmes,	durante	esta
tempestade	de	apostasia:	primeiro,	sua	sinceridade	real	-	verdadeiramente
queriam	o	melhor	que	Deus	tinha	para	eles;	segundo,	a	consideração	das
alternativas	-	“Para	quem	iremos	nós?	Tu	tens	as	palavras	da	vida	eterna”;
terceiro,	sua	convicção	de	que	Jesus	era	tudo	o	que	dizia	ser	-	“E	nós	temos	crido
e	conhecido	que	tu	és	o	Cristo,	o	Filho	de	Deus”.
I	–	Jesus	Corrige	um	Conceito	Falso	(Jo	6.26-29)
Veja	os	versículos	22-25.	A	multidão	alimentada	permaneceu	no	local	durante
toda	a	noite.	Logo	de	manhã,	percebeu,	surpresa,	que	Jesus	tinha	ido	embora.
Logo	chegou	uma	flotilha	de	barcos	(talvez	para	vender	mantimentos)	e,
embarcando	neles,	foram	procurar	Jesus.	Achando-	o	finalmente,	perguntaram:
“Rabi,	quando	chegaste	aqui?”,	querendo	saber	como	viajara	tal	distância	em	tão
pequeno	espaço	de	tempo.	Tinham	visto	Jesus	subir	sozinho	o	monte,	enquanto
os	discípulos	partiram	sem	Ele.	Não	compreenderam	como	Ele	poderia	ter
atravessado	o	mar,	pois	nenhum	barco	ficara	disponível	depois	da	partida	dos
discípulos.	Imaginavam	que,	por	certo,	o	operador	do	milagre	dos	pães	fizera	a
travessia	de	modo	milagroso,	sem,	porém,	terem	tomado	conhecimento	do	fato
de	Ele	ter	andado	por	sobre	o	mar.
1.	Condenação.	“Jesus	respondeu-lhes,	e	disse:	Na	verdade,	na	verdade	vos	digo
que	me	buscais,	não	pelos	sinais	que	vistes,	mas	porque	comestes	do	pão	e	vos
saciastes”.	Estes	homens,	em	vez	de	perceberem	no	milagre	um	sinal	da
divindade	de	Cristo,	encararam-no	simplesmente	como	uma	maneira	de
receberem	alimentos	para	seu	corpo	físico.	Souberam	ver	os	pães	no	sinal,	e	não
o	sinal	nos	pães.	Seguiam	a	Jesus	visando	propósitos	mundanos	e	motivos
egoístas.	Jesus	conhecia	o	coração	humano,	não	se	deixando	iludir	com	o
entusiasmo	popular.	Percebia	as	suas	aspirações	sem	espiritualidade,
comparáveis	às	atitudes	daqueles	que	desejam	o	milagre	da	cura	divina	sem
almejarem	a	salvação	da	alma.
Os	versículos	26	e	27	servem	como	comentário	do	texto:	“Não	só	de	pão	viverá
o	homem”.	Precisa	de	pão,	mas	precisa	também	de	outras	coisas;	é-lhe
necessário	ter	víveres,	como	também	ter	visão.	Se	o	homem	fosse	apenas	corpo,
bastar-lhe-ia	o	pão;	sendo	também	alma,	ele	precisa	de	Deus.
2.	Exortação.	“Trabalhai,	não	pela	comida	que	perece,	mas	pela	comida	que
permanece	para	a	vida	eterna,	a	qual	o	Filho	do	homem	vos	dará;	porque	a	este	o
Pai,	Deus,	o	selou”.	Os	ouvintes	tinham	corrido	uma	distância	tão	grande	por
causa	da	comida	que	perece	e	que,	portanto,	não	pode	produzir	a	imortalidade;
deveriam	ter	mostrado	igual	interesse	em	procurar	a	comida	que	nutre	a	alma
para	a	vida	eterna.	Jesus	não	quer	dizer	que	não	se	deve	trabalhar	para	ganhar	a
vida,	inclusive	a	comida	diária,	mas	não	quer	que	as	coisas	naturais	sejam	o	alvo
principal	do	homem.	Assim	como	existe	uma	fonte	de	água	que	jorra	para	a	vida
eterna	(Jo	4.14),	assim	também	existe	uma	comida	que,	ao	ser	assimilada,
transmite	à	alma	a	vida	divinal.	Sabemos	que	Cristo	nos	oferece	tal	comida,
porquanto	“o	Pai,	Deus,	o	selou”.	Este	selo	é	o	sinal	da	aprovação	daquilo	que	é
genuíno,	e	da	exclusão	daquilo	que	é	errado.	Através	do	milagre	da
multiplicação	dos	pães,	Deus	dá	seu	carimbo	de	aprovação	que	comprova	ser
Jesus	o	Doador	do	Pão	da	Vida.	A	descida	do	Espírito	Santo,	a	voz	do	céu	e	a
operação	de	poderosos	milagres	eram	evidências	que	provavam	que	o	Pai
dedicara	Cristo	para	ser	Salvador	do	mundo.
3.	Interrogação.	“Disseram-lhe,	pois:	Que	faremos,	para	executarmos	as	obras	de
Deus?”	(Ou	seja,	obras	aprovadas	por	Deus,	e	que	nos	aproximam	de	Deus.)	A
pergunta	surgia	com	naturalidade	entre	os	judeus,	cujo	conceito	da	salvação	era
que	a	escrupulosa	observância	de	um	currículo	inteiro	de	deveres,	cerimônias	e
outras	obras	lhes	daria	o	direito	a	ela.	Mesmo	assim,	a	pergunta	demonstrava
algum	interesse	na	questão,	e	queriam	esforçar-se	neste	sentido.	Semelhante
pergunta	vem	irrompendo	do	fundo	do	coração	de	todos	aqueles	que,	tendo
começado	com	uma	atitude	de	total	indiferença,	já	fizeram	algum	progresso	na
direção	de	procurarem	uma	vida	santa	que	agrade	a	Deus.
4.	Explicação.	“Jesus	respondeu,	e	disse-lhes:	A	obra	de	Deus	é	esta:	Que	creiais
naquele	que	ele	enviou”.	A	fé	é	a	obra	de	Deus	porque	é	Deus	quem	a	exige	e
aprova.	Sem	fé,	é	impossível	agradar-lhe.	Note	que	Jesus	disse	que	crer	é	“a
obra”	-	e	não	uma	das	obras	-	de	Deus.	A	fé	é	aquela	única	obra	de	onde
procedem	todas	as	demais	obras	genuínas.	E	a	própria	fé	não	é	mérito	nosso;	é
dom	de	Deus.	A	fé	é	a	mais	sublime	qualidade	de	obra,	porque	por	ela	o	homem
se	entrega	a	Deus,	e	não	há	nada	mais	nobre	para	um	ser	livre	fazer	do	que	dar-
se	a	si	mesmo.	Tiago	ressalta	que	“a	fé,	se	não	tiver	as	obras,	é	morta	em	si
mesma”	(Tg	2.20).	Paulo	ressalta	que	as	obras,	sem	a	fé,	estão	mortas	(Rm	3.20;
cf.	Hb	3.20).	São	verdadeiras	ambas	as	proposições.	A	fé	viva	produzirá	obras
vivas;	e	obras	vivas,	aceitáveis	diante	de	Deus,	devem	proceder	de	uma	fé	que
realmente	vive.	Disse	Martinho	Lutero:	“Ficar	confiando	na	Palavra	de	Deus,	de
tal	forma	que	o	coração	não	fique	aterrorizado	diante	do	pecado	e	da	morte,	mas,
pelo	contrário,	confie	e	creia	em	Deus,	é	algo	mais	severo	e	difícil	do	que	todas
as	exigências	das	ordens	monásticas.”
Note	que	o	supremo	objeto	da	fé	é	Jesus	Cristo,	o	Filho	de	Deus.	O	judeu
ortodoxo	afirma	que,	enquanto	agrada	a	Deus,	não	tem	necessidade	de	Cristo.
Como,	no	entanto,	poderá	agradar	a	Deus	se	rejeita	o	seu	Mensageiro?	(cf.	Dt
18.18,19).
II	–	Jesus	Desperta	o	Verdadeiro	Desejo	(Jo	6.30-34)
1.	Um	desafio.	“Disseram-lhe	pois:	Que	sinal	pois	fazes	tu,	para	que	o	vejamos,
e	creiamos	em	ti?	Que	operas	tu?	Nossos	pais	comeram	o	maná	no	deserto,
como	está	escrito:	Deu-lhes	a	comer	o	pão	do	céu”	(cf.	Ex	16.4;	Sl	78.24).
Queriam	provas	da	parte	de	Jesus	quanto	à	veracidade	das	suas	palavras	e	à
certeza	de	que	valeria	a	pena	eles	se	entregarem	totalmente	a	ele.	Os	judeus,
através	de	toda	a	sua	história,	sempre	tiveram	a	tendência	de	procurar	um	sinal
sobrenatural,	desejando	alguma	irresistível	prova	que	despertaria	neles	a	fé
invencível,	assim	como	o	grego	sempre	procurava	o	raciocínio	irrefutável	(1	Co
1.22).
Embora	tivessem	visto	a	multiplicação	dos	pães,	queriam	um	sinal	ainda	mais
espetacular,	menosprezando	o	milagre	operado	por	Jesus	e	dando	a	entender	que,
se	Jesus	quisesse	que	eles	o	seguissem	como	sendo	maior	do	que	Moisés,	teria
de	fazer	algo	comparável	ao	milagre	de	alimentar	uma	nação	inteira	durante	40
anos,	considerado	o	maior	milagre	da	história	dos	judeus,	o	qual	o	Messias
deveria	repetir.
2.	Uma	correção.	“Disse-lhes	pois	Jesus:	Na	verdade,	na	verdade	vos	digo:
Moisés	não	vos	deu	o	pão	do	céu;	mas	meu	Pai	vos	dá	o	verdadeiro	pão	do	céu.
Porque	o	pão	de	Deus	é	aquele	que	desce	do	céu	e	dá	vida	ao	mundo.”	Jesus	faz
as	seguintes	ressalvas:	1)	Não	foi	Moisés	quem	lhes	deu	pão	do	Céu	-	dom	de
Deus,	e	não	de	Moisés.	2)	O	maná	não	era	pão	celestial,	pois	que	sustentava
apenas	o	corpo,	e	não	a	alma.	O	verdadeiro	pão	celestial	é	o	Salvador,	que
desceu	do	céu	para	a	terra,	para	salvar	as	almas	humanas	(Jo	3.16).	O	maná	era
apenas	um	outro	tipo	de	pão:	como	o	maná,	desce	do	Céu;	diferentemente	do
maná,	dá	a	vida	-	não	a	uma	nação,	e	sim	ao	mundo	inteiro;	nãopor	poucos	anos
de	vida	humana,	e	sim	pela	eternidade	(v.	49,50).
3.	Uma	oração.	Esta	declaração,	como	a	que	a	mulher	samaritana	ouviu	(Jo
4.15),	despertou	o	desejo	nos	corações	dos	ouvintes,	que	exclamaram:	“Senhor,
dá-nos	sempre	desse	pão”.	Queriam	este	pão,	de	quantidade	ilimitada,	que	é
fonte	de	vida,	alimento	da	vida	eterna,	que	satisfaz	toda	a	fome,	abolindo	toda	a
pobreza	e	vencendo	o	temor	da	morte.
III	–	Jesus	Oferece	a	Verdadeira	Vida	(Jo	6.35)
“E	Jesus	lhes	disse:	Eu	sou	o	pão	da	vida;	aquele	que	vem	a	mim	não	terá	fome;
e	quem	crê	em	mim	nunca	terá	sede.”
Jesus	descreve	sua	obra	de	salvação	mediante	a	expressão	figurada	de	Pão
celestial	entrando	no	mundo	para	alimentar	almas	humanas,	dando-lhes	a	vida
eterna.
1.	A	descida	do	Pão	celestial.	“E	Jesus	lhes	disse:	Eu	sou	o	pão	da	vida;	aquele
que	vem	a	mim	não	terá	fome	”.	Jesus	ensina	aqui	a	doutrina	da	encarnação:	que
o	eterno	Filho	de	Deus	assumiu	a	natureza	humana	a	fim	de	viver	entre	os
homens.	O	Filho	de	Deus	se	tornou	Filho	do	homem,	a	fim	de	que	os	filhos	dos
homens	pudessem	ser	feitos	filhos	de	Deus	(cf.	Jo	1.12-14).
2.	O	Pão	celestial	é	partido.	O	pão	tem	de	ser	partido	quando	alguém	o	come.	O
Filho	de	Deus	Encarnado	tem	de	oferecer	sua	vida	em	sacrifício	antes	de	os
homens	verdadeiramente	se	alimentarem	dele.	O	Verbo	de	Deus,	que	se	fez
carne	e	foi	crucificado	na	carne,	é	a	vida	do	mundo.	Na	Ceia	do	Senhor,
comemoramos	aquele	ato	mediante	o	qual	foi	quebrado	o	corpo	de	Cristo	para,
assim,	dar	vida	ao	mundo.
3.	A	eficácia	do	Pão.	Cristo	é	o	Pão	da	vida	porque	veio	do	céu	trazer	ao	mundo
uma	nova	fonte	de	vida;	o	pão,	ao	sustentar	a	vida,	cumpre	sua	finalidade,	e	o
que	há	de	especial	neste	Pão	é	que	sustenta	a	vida	eterna.	Os	que	comem	do	Pão
da	vida	perdem	o	pavor	da	morte.
4.	A	apropriação	do	Pão.	O	pão	só	pode	sustentar	a	nossa	vida	física	quando	o
comemos;	Cristo	nos	dá	a	vida	eterna	quando	cremos	nele.	“Aquele	que	vem	a
mim	não	terá	fome;	e	quem	crê	em	mim	nunca	terá	sede”.	“Comer	a	carne	do
Filho	do	homem	e	beber	o	seu	sangue”	(v.	53)	é	crer	na	eficácia	da	sua	morte
expiatória.
5.	A	ascensão	do	Pão	da	Vida.	Veja	o	versículo	62.	O	Pão	que	desceu	do	céu
deve	subir	de	volta	para	lá,	para	ser,	em	escala	muito	maior,	o	Pão	da	vida
eterna;	Jesus	derrama	sobre	todas	as	almas	famintas	no	ermo	espiritual,	que	é	o
nosso	mundo,	o	maná	celestial	para	alimentar	a	todos.
IV	–	Jesus	Censura	a	Descrença	(Jo	6.36,37)
1.	A	acusação.	“Mas	já	vos	disse	que	também	vós	me	vistes,	e	contudo	não
credes”	(cf.	v.	26).	A	multiplicação	dos	pães	era	milagre	suficiente	para
satisfazer	a	exigência	de	um	sinal	da	parte	dEle;	mesmo	assim,	recusaram-se	a
crer.	A	situação	é	que	viram	sem	perceber.	O	pecado	e	o	preconceito	cegaram	os
olhos	deles,	distorcendo	seu	discernimento.
2.	A	certeza.	“Todo	o	que	o	Pai	me	dá	virá	a	mim”.	Todos	os	que	se	chegam	a
Cristo,	aceitando-o	como	Mestre,	fazem-no	porque	o	Espírito	Santo	os	atraiu	a
ele,	e,	assim	sendo,	foram-lhe	“dados”	por	Deus.	Todos	os	que	realmente	estão
sendo	guiados	pelo	Espírito	de	Deus	for-	çosamente	terão	que	aceitar	a	Cristo
como	seu	único	Salvador:	se	estes	homens	não	estavam	chegando	a	Ele	é	porque
havia	algum	empecilho	nas	suas	vidas	que	os	impedia	se	entregarem	a	Deus	(Jo
5.38;	6.44,45;	8.42,47).
3.	A	promessa.	“E	o	que	vem	a	mim	de	maneira	nenhuma	o	lançarei	fora”.	O	Pai
e	o	Filho	trabalham	em	conjunto	na	salvação	das	almas:	o	Pai	as	atrai,	e	o	Filho
as	recebe.	Note	que	estas	palavras	também	dão	a	entender	que	Cristo	tem	poder
para	excluir	da	sua	comunhão	e	do	seu	Reino	(Mt	8.12;	22.13).	No	entanto,	não
rejeitará	pessoa	alguma	cujo	coração	tenha	sido	comovido	ao	arrependimento
pela	atração	do	Espírito	de	Deus.
V	–	Ensinamentos	Práticos
1.	O	dom	e	o	Doador.	Os	judeus	estavam	procurando	as	dádivas,	ou	seja,	os
pães,	mas	as	palavras	dirigidas	a	eles	por	Jesus	revelam	que	não	procuravam	o
Doador.	Nós	também	cometemos	semelhante	erro?	Procuramos	a	bênção,	ou
aquele	que	abençoa?	Procuramos	o	dom,	ou	o	Doador	do	Espírito?	Procuramos	a
cura,	ou	aquEle	que	cura?	Procuramos	uma	coisa,	ou	a	pessoa?	Oxalá	que
possamos	procurar	Cristo	por	amor	a	Ele	mesmo.
2.	A	suprema	busca	da	vida.	“Trabalhai,	não	pela	comida	que	perece...”.	Há
milhares	de	anos,	Isaías,	profetizando	acerca	da	tentação	que	o	luxo	e	a
magnificência	de	Babilônia	viriam	a	ser	para	os	exilados,	fez	a	seguinte
advertência:	“Por	que	gastais	o	dinheiro	naquilo	que	não	é	pão?	e	o	produto	do
vosso	trabalho	naquilo	que	não	pode	satisfazer?”	(Is	55.1,2).	Aqui	se	levanta	a
eterna	questão:	em	prol	de	que	deve	viver	o	homem?	Qual	deve	ser	o	alvo	dos
seus	mais	sublimes	esforços?	Uma	vez	que	o	homem	é	destinado	para	a
eternidade,	logo,	a	atividade	mais	sublime	da	sua	vida	tem	de	ser	a	busca	daquilo
que	é	celestial	e	eterno.	Nada	menos	do	que	isto	satisfará	completamente	a	sua
alma.	Infelizmente,	existem	muitos	cometendo	o	mesmo	erro	do	rico	fazendeiro
que	considerou	seu	corpo	como	se	fosse	a	alma,	dizendo:	“Alma,	tens	em
depósito	muitos	bens	para	muitos	anos”.	O	epitáfio	que	Deus	lhe	preparou	dizia:
“Louco”!
Como	cristãos,	devemos	renovar	a	nossa	consagração	e	freqüentemente
perguntar	a	nós	mesmos	se	estamos	vivendo	à	altura	daquilo	que	Jesus	ordenou
em	Mateus	6.33.
3.	Satisfeitos,	porém	famintos.	No	deserto	central	da	Austrália	há	uma	planta
estranha	chamada	nardoo,	que	tem	folhas	parecidas	com	as	do	trevo.	Dois
ingleses,	Burke	e	Willis,	fazendo	pesquisas	na	região,	seguiram	o	exemplo	dos
nativos	quando	lhes	faltou	comida,	comendo	as	raízes	e	as	folhas	daquela	planta.
Parecia	saciar-lhes	a	fome,	enchendo-os	com	a	sensação	de	bem-estar	e
satisfação.	Não	sentiam	mais	fome,	mas,	mesmo	assim,	começaram	a	surgir	os
efeitos	da	inanição.	Seus	corpos	foram	ficando	debilitados	e	suas	forças	foram
diminuindo	até	que	pouco	mais	energia	tinham	do	que	um	recém-nascido.
Finalmente,	um	morreu,	e	o	outro	foi	resgatado	no	último	instante,	o	que	ilustra
os	resultados	fatais	da	tentativa	de	alimentar	a	alma	com	coisas	mundanas!
Com	que	se	alimenta	o	homem	não	convertido?	Em	Oséias,	apascenta	o	vento
(Os	12.1);	em	Provérbios,	se	apascenta	de	estultícia	(Pv	15.14);	em	Lucas	15,
quer	se	fartar	das	alfarrobas;	e,	em	Isaías	44.20,	se	apascenta	de	cinza.	A	tais
pessoas	Cristo	se	oferece	como	o	Pão	da	Vida.
4.	Nossa	religião	nos	satisfaz?	A	festa	espiritual	que	recebemos	na	igreja	deve
nos	satisfazer	a	alma,	transformando-nos	de	tal	maneira	que	outras	pessoas
também	queiram	participar	das	bênçãos.	“Provai	e	vede	que	o	Senhor	é	bom”	(Sl
34.8).	Chegue-se	a	Ele	com	seu	coração	faminto.	Ele	o	alimentará,	e	você	sairá
satisfeito.
5.	A	obra	de	Deus.	Quando	os	judeus	perguntaram	o	que	deveriam	fazer	para
agradar	a	Deus,	Jesus	disse	que	deveriam	crer.	Eles	perguntaram	sobre	as	obras;
Jesus	indicou	a	única	obra	-	confiar.	Isto	simplifica	a	religião.	Se	a	salvação
depender	das	obras,	quem	poderá	saber	que	já	fez	o	suficiente?	Por	outro	lado,	a
pessoa	sabe	muito	bem	quando	está	confiando	em	Cristo.	Esta	fé,	sendo	genuína,
produzirá	por	si	mesma	as	necessárias	obras.
O	homem	é	mais	importante	do	que	a	obra;	a	motivação	é	mais	importante	do
que	a	ação;	o	caráter	é	mais	profundo	do	que	a	conduta.	Temos	de	estar	certos
antes	de	fazer	o	certo;	e,	para	ficarmos	certos	com	Deus,	temos	de	entregar	a	Ele
o	nosso	coração:	“Visto	que	com	o	coração	se	crê	para	a	justiça”	(Rm	10.10).
O	Cristianismo	é,	fundamentalmente,	o	relacionamento	pessoal	com	Deus,
possibilitado	por	Cristo	e	transformado	em	realidade	mediante	a	fé.
6.	O	significado	da	predestinação.	As	palavras:	“Todo	o	que	o	Pai	me	dá	virá	a
mim”	significam	que	Deus	destinou	para	a	salvação	não	este	ou	aquele
indivíduo,	e	sim	todo	aquele	que	crê	no	seu	Filho.	Isto	poderia	incluir	todas	as
pessoas,	no	mundo	inteiro,	pois	Deus	quer	que	seja	assim:	todos	os	que	crêem,
são	salvos.	Portanto,	Deus	elege	não	os	indivíduos,	e	sim	os	meios,	de	maneira
que	todos	os	que	lançam	mão	dos	meios	oferecidos	por	Deus	são	salvos.	Deus
predestinou	todo	aquele	que	quiser	aceitar,	e	a	própria	aceitação	é	dom	de	Deus
(Ef	2.8).
9
Jesusna	Festa	dos	Tabernáculos
Texto:	João	7.1-53
Introdução
No	capítulo	nove,	João	descreveu	a	crise	na	Galiléia,	mostrando	como	a
pregação	simples	e	declarada	de	Cristo	fez	uma	triagem	entre	os	discípulos.	No
capítulo	sete,	João	procede	à	descrição	do	sentimento	para	com	Jesus	existente
em	Jerusalém,	onde	as	nuvens	de	descrença	se	amontoaram	até	desencadearem
uma	tempestade	de	violência	e	ultraje.	Este	capítulo	nos	ajuda	a	atingir	o	ponto
de	vista	certo,	mediante	a	demonstração	das	várias	estimativas	que	se	faziam	da
obra	e	da	pessoa	de	Jesus,	bem	como	das	opiniões	que	se	podiam	ouvir	com
respeito	a	Ele	em	toda	a	Jerusalém.
O	propósito	de	João	é	mostrar	como	Jesus	se	revelou	de	todas	as	maneiras
apropriadas	para	que	a	fé	fosse	despertada	naqueles	homens,	e	o	resultado	foi
que	alguns	creram	e	outros	não.	Dê	uma	rápida	olhada	na	narrativa	do
Evangelho	para	perceber	como	o	apóstolo,	inspirado,	registra	os	resultados	dos
milagres	de	Cristo,	bem	como	dos	seus	discursos.	Os	primeiros	versículos	deste
capítulo	nos	mostram	a	impressão	que	Jesus	originalmente	causava	aos	seus
próprios	familiares.
I	-	O	Desafio	Carnal	(Jo	7.2-10)
1.	O	desafio.	Veja	os	versículos	3	e	4.	Os	irmãos	de	Cristo,	que	deveriam	ter	sido
os	primeiros	a	entender	o	seu	caráter,	demoraram	a	crer	nEle.	Souberam	apenas
ficar	irritados	pelas	diferenças	que	havia	entre	Jesus	e	eles.	Ao	mesmo	tempo,
pensavam	eles,	se	porventura	fossem	verdadeiras	as	reivindicações	dEle,	seria
agradável	a	situação	de	irmãos	do	Messias.	Desta	forma,	sentem	preocupação
em	obter	um	pronunciamento	oficial	sobre	o	caso,	querendo	que	Jesus	fosse
diretamente	à	autoridade	central,	em	Jerusalém,	em	vez	de	fazer	um	trabalho
local	na	Galiléia,	que	tão	poucos	resultados	demonstrou.	Não	conseguiram
aceitar	a	idéia	de	o	irmão	deles	ser	o	Rei	tão	esperado,	mas,	tendo	em	vista	os
relatos	fidedignos	acerca	de	tudo	quanto	fizera	de	extraordinário,	sentiram	que
havia	nEle	algo	de	misterioso,	e	queriam	pôr	fim	ao	suspense,	persuadindo-o	a	ir
a	Jerusalém.	Para	tanto,	zombavam	dele,	dizendo	que	quem	realmente	acha
merecer	a	atenção	do	grande	público	deve	ir	com	os	discípulos	aos	lugares	onde
as	grandes	multidões	possam	publicamente	aclamá-lo.
“Porque	nem	mesmo	os	seus	irmãos	criam	nele”	foi	o	triste	comentário	de	João,
admissão	esta	que	testifica	a	sinceridade	dos	escritores	dos	Evangelhos.	Quando
é	que	finalmente	chegaram	a	crer?	(cf.	At	1.14;	1	Co	9.5;	Gl	1.19).	Medite	neste
fato	profundo	e	significativo:	os	próprios	familiares	de	Jesus,	criados	com	Ele,
que	o	viram	na	plenitude	da	sua	humanidade,	e	inicialmente	não	criam	nEle,	só
depois	chegaram	a	adorá-lo,	reconhecendo-o	como	Senhor	e	Mestre.	Qual	é	a
explicação	desta	mudança?	Veja	Atos	2.32,33.
2.	A	resposta.	Jesus	deu	a	entender	o	seguinte:	“O	tempo	não	está	pronto	para	a
minha	entrada	em	Jerusalém	como	Messias.	Tal	ato	daria	vazão	à	hostilidade	dos
líderes	que	me	matariam	antes	da	hora	planejada.	Vocês	podem	subir,	porque
estão	em	perfeito	acordo	com	o	espírito,	alvo	e	padrões	da	época.	Vocês	estão
tão	enfronhados	com	o	mundo,	que	podem	falar	o	que	quiserem	e	quando
quiserem.	Vocês	não	estão	indo	contra	nenhum	dos	conceitos	mundanos,	não
estão	derrubando	nenhum	ídolo.	Eu,	porém,	preciso	suportar	a	hostilidade	e	a
antipatia	que	são	o	quinhão	de	qualquer	profeta	que	desmascare	a	maldade	e	a
hipocrisia	de	sua	época.	Vão,	e	participem	das	cerimônias	do	templo.	Cheguem	a
Tempo	para	fazer	os	tabernáculos.	Vocês,	afinal,	não	têm	nenhuma	mensagem	a
pregar	contra	a	corrupção	do	santíssimo	culto	ou	a	hipocrisia	do	ritual”.
“E,	havendo-lhes	dito	isto,	ficou	na	Galiléia.	Mas,	quando	seus	irmãos	já	tinham
subido	à	festa,	então	subiu	ele	também,	não	manifestamente,	mas	como	em
oculto”.	Jesus	não	fez	a	“subida”	ou	viagem	oficial	com	o	grupo	de	peregrinos
da	Galiléia;	foi	para	lá	de	modo	tranqüilo,	abençoando	os	leprosos,	consolando
almas	e	ensinando	aos	espiritualmente	ignorantes.	Chegou	com	atraso	deliberado
e	não	apareceu	no	templo	até	que	a	festa	já	havia	começado,	quando,	então,	com
a	autoridade	e	destemor	de	um	profeta,	surgiu	de	repente	e	começou	a	ensinar.
Seus	ensinamentos	tratavam	da	sua	própria	missão	e	a	atitude	dos	judeus	para
com	ela	(Jo	7.14-36).
II	-	O	Convite	Espiritual	(Jo	7.37-39)
1.	A	ocasião.	O	convite	do	nosso	Senhor	é	ainda	mais	marcante	quando	o
examinamos	à	luz	de	um	dos	atos	mais	marcantes	da	Festa	dos	Tabernáculos,	a
saber,	quando	a	água	era	tirada	do	tanque	de	Siloé	com	uma	bacia	de	ouro	e
levada	em	procissão	para	o	Templo,	onde	era	derramada	ao	som	das	trombetas
tocando	em	triunfo	e	das	exclamações	de	“Aleluia!”	da	parte	dos	assistentes.	O
regozijo	nesta	altura	da	cerimônia	era	tão	grande	que	os	judeus	tinham	um
ditado:	“Quem	não	sentiu	júbilo	no	momento	de	ser	derramada	a	água	tirada	do
tanque	de	Siloé,	nunca	na	sua	vida	sentiu	júbilo”.	O	derramamento	da	água	tinha
um	significado	tríplice:	1)	Reconhecimento	e	agradecimento	pelas	bênçãos
divinas	reveladas	nas	chuvas	da	sementeira	e	da	colheita.	2)	Comemoração	do
milagroso	suprimento	de	água	que	os	israelitas	receberam	no	deserto.	3)	Era	o
símbolo	profético	do	futuro	derramamento	do	Espírito	sobre	o	povo	de	Deus,
que,	segundo	os	israelitas	espirituais,	seria	o	cumprimento	das	palavras	cantadas
pelos	sacerdotes	enquanto	tiravam	a	água	do	tanque:	“E	vós	com	alegria	tirareis
águas	das	fontes	da	salvação”	(Is	12.3).
No	último	dia	da	festa,	a	bacia	voltara	vazia,	comemorando-se	assim	a	entrada
de	Israel	numa	terra	de	fontes	de	água;	provavelmente	foi	àquela	altura	que
“Jesus	pôs-se	em	pé,	e	clamou,	dizendo:	Se	alguém	tem	sede,	venha	a	mim,	e
beba”	(v.	37).
Enquanto	o	Senhor	falava	tais	palavras,	por	certo	deve	ter	olhado	entre	a
multidão	os	rostos	de	israelitas	sinceros	que,	pelo	seu	semblante,	revelavam	ter
uma	sede	espiritual	que	não	fora	dessedentada.	Israelitas	havia,	com	seriedade	de
pensamento,	que	reconheciam	que	no	Templo,	apesar	de	todo	o	seu	esplendor	e
do	aparatoso	equipamento	para	os	sacrifícios,	não	havia	fonte	para	aliviar-lhes	a
sede	-	falta	esta	simbolizada	pelo	fato	de	os	sacerdotes	terem	de	sair	do	Templo	a
fim	de	trazer	a	água.	Queriam	saber	quando	se	cumpririam	as	palavras	dos
profetas,	tais	como:	“Sairá	uma	fonte	da	casa	do	Senhor”	(Jl	3.18);	e	que	um
grande	e	profundo	rio	sairia	debaixo	do	limiar	do	templo	(Ez	47.1-5).
Decepcionados	com	a	mera	forma	exterior,	tinham	sede	da	realidade.	Qual	não
deve	ter	sido	o	efeito	sobre	eles	da	voz	autoritária	que,	como	em	resposta	aos
seus	desejos	não	pronunciados,	exclamou:	“Se	alguém	tem	sede,	venha	a	mim,	e
beba.	Quem	crê	em	mim,	como	diz	a	Escritura,	rios	d’água	viva	correrão	do	seu
ventre”	(v.	37,38).
2.	O	convite.	Jesus,	neste	convite,	demonstrou	ser	ele	o	verdadeiro	Templo	de
Deus,	e	o	Espírito	Santo	que	dEle	procede,	a	fonte	da	vida	eterna.	O	próprio
Jesus	é	o	Siloé	espiritual	(Jo	9.7),	o	Enviado	de	Deus,	e	convida	a	todos	quantos
quiserem	a	se	aproximar	dEle	para	tirar	água	viva.	Os	que	assim	fazem	não
somente	recebem	o	suficiente	para	sua	própria	sede,	como	também	ficam	sendo
uma	fonte	de	vida	para	seu	próximo;	não	somente	a	água	dada	por	Cristo	se
torna	neles	fonte	que	jorra	para	a	vida	eterna,	como	também	transforma	as
pessoas	em	rochas	de	onde	brotam	águas	vivas	para	o	refrigério	dos	outros	(cf.	Is
55.1;	43.1920;	Jr	2.13;	Jo	4.10;	1	Co	10.4,21;	Ef	5.18).
Com	esta	ilustração,	Jesus	declara	ser	aquEle	que	satisfaz	a	todos	os	anseios	da
alma	que	deseja	a	vida,	o	gozo,	a	paz,	o	poder,	a	sabedoria	e	a	comunhão	com
Deus.	Cristo	revela	seu	poder	para	suprir	cada	aspiração,	cada	desejo	piedoso,
cada	necessidade	espiritual	de	nossa	complexa	natureza	humana.	Esta	declaração
corajosa	da	parte	de	Jesus,	oferecendo-se	como	a	adequada	solução	a	todos	os
problemas	humanos	e	a	satisfação	a	toda	sede	dos	homens,	tem	sido	testada	e
comprovada	como	verídica	através	das	experiências	de	20	séculos	de	história
humana.	Hoje,	pelo	mundo	inteiro,	há	inúmeras	pessoas	que	podem	testificar	que
Cristo	é	verdadeiro,	e	que	supre	totalmente	todos	os	anseios	da	alma.
3.	A	promessa.	“Quem	crê	em	mim,	comodiz	a	Escritura	(o	consenso	dos
ensinos	bíblicos	contidos	em	trechos,	tais	como:	Salmo	78.16;	105.41;	Zacarias
14.8	e	Isaías	43.19,20),	rios	d’água	viva	correrão	do	seu	ventre.”
Quem	confia	em	Cristo	se	torna	semelhante	àquEle	em	quem	confia.	Quem
recorre	àquela	Fonte,	recebe,	mediante	o	Divino	Espírito	da	parte	de	Cristo,	a
vida	no	seu	íntimo,	que	se	transforma	em	“fonte	que	jorra	para	a	vida	eterna”.
Provérbios	14.14	diz	que	o	homem	de	bem	se	satisfaz	com	seu	próprio	proceder,
mas	isto	acontece	somente	quando	ele	tem	Cristo	no	seu	coração,	quando,	então,
pode	dizer:	“E	vivo	não	mais	eu,	mas	Cristo	vive	em	mim”.	Todo	aquele	que
recebe	de	Cristo	o	Espírito	Santo	fica	sendo,	por	sua	vez,	e	de	modo	limitado,
uma	fonte	de	vida	espiritual,	trazendo	refrigério	a	outras	almas	sedentas.
4.	A	explicação.	“E	isto	disse	ele	do	Espírito	que	haviam	de	receber	os	que	nele
cressem;	porque	o	Espírito	Santo	ainda	não	fora	dado,	por	ainda	Jesus	não	ter
sido	glo-	rificado.”	(cf.	Jo	16.7;	Lc	24.49;	At	1.4,5).	Já	que	a	Bíblia	registra	que
o	Espírito	Santo	veio	sobre	Moisés,	Davi	e	os	profetas,	e	que	João	Batista	foi
cheio	do	Espírito	Santo	já	no	ventre	materno,	examinemos	as	palavras	“o
Espírito	Santo	ainda	não	fora	dado”.	Assim	como	o	Filho	de	Deus	existiu	no	céu
e	se	manifestava	na	terra	de	certas	maneiras	antes	de	nascer	na	manjedoura,	e,
quando	da	encarnação,	entrou	no	mundo	de	modo	novo	e	diferente	para	travar
novas	relações	com	a	raça	humana,	com	seu	novo	nome	-	Jesus	-,	também	o
Espírito	Santo	estava	operando	no	mundo,	inspirando	muitas	pessoas,	antes	do
dia	de	Pentecostes,	antes	de	vir	ao	mundo	de	modo	novo	e	diferente	após	a
ascensão	de	Jesus,	com	seu	novo	aspecto	de	Espírito	do	Cristo	vivo	-	o	Espírito
que	se	revela	em	conexão	com	aquEle	que	sofreu,	morreu,	ressuscitou	e	subiu	de
volta	ao	Céu.	Assim,	Ele	também	recebeu	um	novo	nome	-	“o	Consolador”,	o
“Espírito	de	Cristo”.
Da	mesma	forma,	torna-se	claro	o	significado	da	declaração	de	João	quando
consideramos	que	se	ressalta	a	palavra	“dado”.	Antes	da	ressurreição	de	Cristo,	o
Espírito	Santo
Jesus	na	Festa	dos	Tabernáculos	91
ainda	não	era	dado	para	ser	perpétua	possessão	do	indivíduo.	Na	época	da
Antigo	Testamento,	o	Espírito	era,	por	assim	dizer,	“emprestado”	por	Deus	a
membros	do	seu	povo,	mediante	operações	intermitentes;	vinha	sobre	as	pessoas
para	equipá-las	para	alguma	tarefa	específica,	deixando-as	em	seguida,	ou
voltando	a	visitá-las	em	outras	ocasiões	necessárias.	Depois	do	dia	de
Pentecostes,	porém,	Cristo	derramou	o	Espírito	Santo	como	dádiva	permanente
para	ser	possuída	e	desfrutada:	“E	eu	rogarei	ao	Pai,	e	ele	vos	dará	outro
Consolador,	para	que	fique	convosco	para	sempre”	(Jo	14.16).
III	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Irmãos,	mas	não	crentes.	“Porque	nem	mesmo	seus	irmãos	criam	nele”.	À
primeira	vista,	parece	surpreendente	não	terem	os	próprios	familiares	de	Cristo
lhe	oferecido	sua	fé;	decerto	que	foi	motivo	de	tristeza	para	o	Senhor,	e	um
mistério	para	seus	discípulos.	O	registro	deste	fato	doloroso,	no	entanto,	poderá
dar	alguma	consolação	àqueles	que	têm	parentes	não	salvos	que	fazem	com	que
sua	vida	cristã	em	casa	seja	muito	difícil.	O	próprio	Jesus	suportou	dúvidas,	mal-
entendidos	e	talvez	oposição	da	parte	dos	seus	entes	queridos	no	próprio	lar:
“Um	que,	como	nós,	em	tudo	foi	tentado,	mas	sem	pecado”	(Hb	4.15).	Mesmo
assim,	nosso	Senhor	colocou	a	vontade	de	Deus	em	primeiro	lugar	na	sua	vida
(Mt	12.47-50)	e,	mais	tarde,	seus	irmãos	vieram	a	ser	discípulos	muito	fiéis.
2.	Há	tempo	para	tudo.	“Ainda	não	é	chegado	o	meu	tempo”.	A	vida	do	Mestre
sempre	era	dirigida	pela	vontade	do	Pai,	de	tal	forma	que	sempre	fazia	a	coisa
certa,	da	maneira	certa	e	no	tempo	certo.	Uma	coisa	certa	pode	tornar-se	errada,
quando	feita	no	tempo	errado.	Às	vezes	erramos	devido	à	nossa	pressa;	às	vezes
a	falha	está	em	nosso	atraso.	Nada	havia	de	errado	na	tentativa	dos	israelitas	de
entrar	em	Canaã	(Nm	14.40-45),	porém	a	tentativa	foi	feita	tarde	demais	e
resultou	em	fracasso	(Nm	14.1-10).	Nada	havia	de	errado	quando	as	virgens
néscias	bateram	na	porta	pedindo	entrada	(Mt	25.11),	só	que	chegaram	tarde
demais.	Nada	mais	recomendável	do	que	anunciar	que	Cristo	é	o	Messias	e
contar	sobre	a	sua	transfiguração;	mas,	se	os	discípulos	tivessem	feito	assim
antes	da	ressurreição,	o	resultado	poderia	ter	sido	desastroso	(Mt	16.20;	17.9).
Ficaria	fora	da	programação	de	Cristo.	O	fracasso	de	muitos	empreendimentos
pode	ser	explicado	pelas	palavras:	“Não	reconheceste	a	oportunidade”	(Lc
19.44).
3.	Uma	tarefa	ingrata.	“Mas	ele	[o	mundo]	me	aborrece	a	mim,	porquanto	dele
testifico	que	as	suas	obras	são	más”.	É	uma	experiência	familiar	a	de	que	os	que
consistentemente	contam	a	verdade	acerca	dos	pecados	das	pessoas	são	mal
recebidos	e	até	encontram	ódio	e	violência.	A	consciência	ferida	quer	ferir	o
mensageiro.	Quando	os	pecadores	são	levados	a	odiarem	a	si	mesmos,	podem
começar	a	odiar	o	pregador.	Quando	a	Palavra	de	Deus	revela	quão	ridículo	é	o
mundano,	ele,	por	sua	vez,	procurará	fazer	com	que	seja	considerado	ridículo	o
próprio	Cristianismo.	O	pregador	que	fala	com	clareza	não	será	o	pregador	mais
popular,	mas	a	culpa	não	será	dele:	“Ai	de	vós	quando	todos	os	homens	de	vós
disserem	bem,	porque	assim	faziam	seus	pais	aos	falsos	profetas”	(Lc	6.26).	Se	a
verdade	dói,	também	cura;	porém	deve	ser	dita	com	amor	(Ef	4.15),	e	não	com
maldade,	irritação	ou	mau	humor.
“De	graça	lhe	darei	da	fonte	da	água	da	vida”	(Ap	21.6);	“Jesus	pôs-se	em	pé,	e
clamou,	dizendo:	Se	alguém	tem	sede,	venha	a	mim,	e	beba”.	O	convite	tinha	os
seguintes	aspectos:
3.1.	Foi	oferecido	com	grande	fervor.	É	comum	o	caso	de	alguém	que	se	afoga
gritar	com	angústia,	enquanto	os	que	querem	ajudá-lo	estão	calmos	e	quietos.
Aqui,	a	situação	é	bem	diferente:	é	o	Libertador	quem	clama,	enquanto	os	que
dEle	precisam	não	se	manifestam.	Agem	como	se	tivessem	tudo,	e	Ele,	como	se
passasse	necessidades.	Jesus	clamou,	exprimindo	o	forte	desejo	da	sua	alma:	dar
a	redenção.	Ele	tem	mais	disposição	para	perdoar	do	que	o	pecador	para	receber
o	perdão.	Quando	a	Divindade	estende	as	mãos	para	implorar	à	humanidade,	é
para	salvá-la	da	terrível	condenação;	grande	será	a	ruína	daqueles	que	desprezam
semelhante	apelo	(Pv	1.24-28).
3.2.	É	universal.	“Se	alguém	tem	sede”.	“Alguém”	pode	ser	um	ateu,	um	cético,
um	idólatra,	um	descrente;	pode	ser	alguém	que	está	abatido	porque	estão
esgotadas	as	suas	cisternas;	pode	ser	alguém	que	se	desiludiu	com	as	fontes	às
quais	recorria;	pode	ser	um	proscrito	da	sociedade,	proibido	de	se	aproximar	dos
bebedouros	dos	homens,	ou	um	desviado	que	deixou	a	fonte	das	águas	vivas	-	o
convite	de	Jesus	é	dirigido	a	todos:	“Venha	a	mim”.
3.3.	É	uma	pessoa	que	chama,	e	não	uma	cerimônia.	Depois	de	cumprido	o
ritual,	Jesus	chama	a	atenção	para	a	sua	própria	pessoa:	“Venha	a	mim”.	Aos
pagãos,	com	seus	sacrifícios;	aos	ritualistas,	cumprindo	sua	rotina	de	cerimônias;
aos	ascetas,	procurando	merecer	a	salvação	mediante	flagelos	dolorosos	e
prolongados	jejuns,	Jesus	diz:	“Venha	a	mim”.
Quem	tem	sede	deve	ir	pessoalmente	a	Cristo;	não	basta	ir	à	igreja,	às	suas
ordenanças,	às	reuniões	para	oração	e	louvor.	É	preciso	ir	mais	à	frente,	mais
para	o	alto,	para	entrar	em	comunhão	pessoal	com	o	Cristo.	Isto	porque,	sem	Ele,
tudo	o	mais	na	religião	cristã	não	tem	valor	algum.	A	mão	humana	pode	tirar	a
pedra	do	túmulo,	revelando	a	presença	do	defunto,	mas	somente	Jesus	pode
dizer:	“Saia	e	viva”.	É	diretamente	com	Cristo	que	teremos	de	nos	haver.
4.	É	um	convite	à	ação.	“Venha”,	não	para	olhar	a	água,	nem	analisar	a	água,
nem	admirar	a	água,	nem	conversar	acerca	da	água,	nem	para	criticar	a	água	-
mas	para	beber!	Muitos	ouvem	falar	acerca	de	Cristo,	lêem	a	respeito	de	Cristo,
mas	não	chegam	a	Cristo.
Quando	o	Senhor	Jesus	falou	da	água	viva	fluindo	do	interior	dos	crentes,	queria
dizer	que	não	somente	os	crentes	deveriam	receber	a	bênção,	como	também
teriam	de	se	transformar	em	bênção	para	outras	pessoas.	A	plenitude	e
abundância	do	Espírito	Santo	se	revelam	na	pessoa	quando	ela	transborda	uma
quantidadesuficiente	para	levar	refri-	gério	a	outras	pessoas.	A	Fonte	sempre
está	fluindo.	Será	que	nós	sempre	estamos	sentindo	sede	e	bebendo?	Se	não,	a
verdade	é	que,	além	de	furtar-nos	a	nós	mesmos,	estamos	privando	nosso
próximo	das	bênçãos	que	receberia	por	nosso	intermédio.
10
Jesus,	o	Libertador
Texto:	João	8.31-59
Introdução
O	incidente	da	mulher	surpreendida	em	adultério	(Jo	8.1-11)	parece	ilustrar	de
maneira	comovente	o	tema	do	trecho	agora	estudado,	ou	seja,	a	liberdade
espiritual.	Os	líderes	religiosos,	orgulhando-se	da	sua	liberdade	como	filhos	de
Abraão,	trazem	a	Jesus	uma	mulher	que	consideram	completamente	escravizada
pelo	pecado.	Quando,	porém,	Jesus	lhes	ensina	uma	lição,	retiram-se	do	cenário,
presos	pelas	correntes	de	uma	consciência	culpada,	enquanto	a	mulher	fica	ali,
transbordando	de	felicidade	na	liberdade	que	Cristo	lhe	concedeu.
Semelhantemente,	o	presente	trecho	(Jo	8.31-59)	começa	com	o	quadro	de	um
grupo	de	judeus	que	se	consideravam	livres,	mas	que	logo	revelam-	se	escravos
do	pecado.
A	conversação	registrada	nos	versículos	31-59	revela	as	diferenças	essenciais
entre	os	que	queriam	se	apegar	à	Antiga	Aliança,	e	Cristo,	que	veio	cumpri-la.
Enfatizavam	o	lado	histórico	da	religião;	Jesus	exalta	o	lado	espiritual.	Apelam
aos	privilégios	externos	da	religião;	Jesus	ressalta	as	qualificações	morais.	Dão
muito	valor	à	liberdade	política;	Cristo	oferece	a	liberdade	espiritual.	Quando
estes	semicrentes	descobrem	que	Jesus	exige	uma	completa	transformação	do
seu	coração,	o	rompimento	com	o	judaísmo	ortodoxo	e	a	fé	pessoal	nEle	como
Filho	eterno	de	Deus,	o	sentimento	deles	para	com	Jesus	setransforma-se	em
ódio	violento.
Jesus,	para	corrigir	o	ponto	de	vista	errôneo	deste	grupo,	ensina-lhes	lições	-
sobre	o	verdadeiro	discipulado,	a	verdadeira	liberdade	e	o	verdadeiro	caráter.
I	–	O	Verdadeiro	Discipulado	(Jo	8.31,32)
“Jesus	dizia	pois	aos	judeus	que	criam	nele”.	Estas	pessoas	reconheceram	a
veracidade	das	declarações	de	Jesus	quanto	a	ser	Ele	o	Messias,	mas
interpretavam	suas	promessas	segundo	os	preconceitos	nacionalistas.	Jesus,
desejando	aprofundar	e	purificar	a	fé	dos	seus	ouvintes,	disse:	“Se	vós
permanecerdes	na	minha	palavra,	verdadeiramente	sereis	meus	discípulos.	E
conhecereis	a	verdade,	e	a	verdade	vos	libertará.”	Jesus	já	lhes	dissera	que
morreriam	nos	seus	pecados	se	não	tivessem	fé	nEle	(v.	24).	Agora,	explica-lhes
que	se	não	permanecerem	firmemente	na	sua	Palavra,	nos	seus	ensinos,	não
poderão	escapar	da	escravidão	que	para	Ele	está	bem	patente,	mesmo	que	eles
não	a	reconheçam.
Somente	a	verdade	pode	libertar	a	mente	da	ignorância,	do	preconceito	e	dos
maus	hábitos.	Quando	a	Luz	do	mundo	brilha	nos	lugares	tenebrosos	do	coração,
não	apenas	são	reveladas	as	correntes	que	amarram	a	alma;	tais	correntes	são
rompidas	pela	mesma	luz.	Ver	o	pecado	conforme	ele	realmente	é,	pode	ser	o
suficiente	para	que	o	pecador	fique	com	nojo	dele.
As	palavras	de	Jesus	ofenderam	estes	seus	ouvintes,	porque	ele	deu	a	entender:
1)	que	teriam	de	consertar	suas	vidas	se	quisessem	permanecer	na	doutrina	dEle,
enquanto	consideravam-se	impecáveis	em	sua	conduta;	2)	que	eram	ignorantes
quanto	às	verdades	da	salvação,	enquanto	imaginavam	dominá-las	totalmente;	3)
que	não	tinham	liberdade	religiosa,	porque	estavam	supersticiosamente	presos	à
letra	da	Lei	mosaica.
II	–	A	Verdadeira	Liberdade	(Jo	8.33-36)
Os	orgulhosos	judeus	replicaram:	“Somos	descendência	de	Abraão”.
Orgulhavam-se	desta	descendência,	como	se	sua	certidão	de	nascimento	fosse
passaporte	para	o	Céu	(cf.	Mt	3.9).	Certa	lenda	judaica	descreve	Abraão	sentado
junto	ao	portão	do	inferno	para	impedir	que	qualquer	judeu	desgarrado	pudesse
chegar	até	lá,	e	o	livro	de	orações	da	sinagoga	declara:	“A	totalidade	de	Israel
tem	um	quinhão	no	mundo	do	porvir.”
Protestaram	que	nunca	estiveram	escravizados	a	ninguém:	“Como	dizes	tu:
Sereis	livres?”	Os	judeus,	no	entanto,	já	tinham	sido	subjugados	pelos	egípcios,
babilônios,	sírios,	e	naquele	momento	histórico	estavam	sob	o	domínio	de	Roma.
O	que	queriam	dizer	é	que,	mesmo	com	seu	país	subjugado	por	nações
gentílicas,	nunca	aceitaram	tal	situação,	recusando-se	a	curvar	seu	espírito	diante
delas.	Os	judeus	sempre	se	sentiram	superiores	aos	seus	opressores.
Respondendo	a	esta	jactância	nacionalista,	Jesus	afirma	o	verdadeiro	significado
da	liberdade:	“Todo	aquele	que	comete	pecado	é	servo	do	pecado”.	Atos
pecaminosos	revelam	que	quem	os	comete	está	sob	o	jugo	do	pecado.	Cada
pecado	fabrica	mais	um	grilhão	para	a	alma;	os	pecadores	são	escravos.	O
pecado,	e	não	Roma,	era	o	verdadeiro	inimigo	de	Israel.
Nos	versículos	35	e	36,	Jesus	explica	aos	judeus	que	um	escravo,	diferentemente
de	um	filho,	não	faz	parte	da	família,	podendo	ser	vendido	à	vontade.	Seus
ouvintes,	escravos	do	pecado	e	da	letra	morta	da	Lei,	não	eram	verdadeiros
membros	do	Reino	do	Messias,	e	dele	seriam	expulsos.	Somente	o	Filho	de	Deus
pode	lhes	dar	a	liberdade,	transformando-os	em	membros	da	família	divina.
Então,	passariam	a	ser	verdadeiramente	livres.
Paulo	ensina	a	mesma	lição	com	respeito	a	Ismael	e	Isaque.	Aquele,	nascido	de
forma	natural,	tipifica	os	que	se	amarram	à	letra	e	às	cerimônias	da	Lei	mosaica;
Isaque,	nascido	de	forma	milagrosa,	tipifica	o	povo	espiritual	que	recebeu	da
parte	de	Cristo	a	libertação	do	pecado	e	do	formalismo	(Gl	4.21-31).
III	-	O	Verdadeiro	Caráter	(Jo	8.37-44,	56-59)
Neste	trecho,	é	como	se	Jesus	estivesse	dizendo:	“Vocês	se	jactam	da	sua
descendência	de	Abraão,	sem	levar	em	consideração	que	a	descendência	física
não	traz	consigo	a	semelhança	espiritual.	Somente	os	que	agem	como	Abraão
são	a	sua	descendência	espiritual,	enquanto	sua	atitude	para	comigo	e	com	meus
ensinos	demonstra	que	vocês	não	têm	o	mesmo	espírito	que	tinha	o	seu
ancestral.	Pelo	contrário,	vocês	expressam	aquele	espírito	de	ódio	à	verdade	e	de
violência	que	é	próprio	do	diabo”	(cf.	Jo	8.44;	Gn	3.3-7;	Tg	4.1-7;	1	Pe	5.8;	Ap
2.10;	9.11;	12.9;	13.6-8;	20.7-9;	2	Pe	2.4;	Jd	6;	2	Ts	2.9-11;	2	Co	11.3,13-15).
Desenvolvendo	estas	verdades,	Jesus	disse:	“Abraão,	vosso	pai,	exultou	por	ver
o	meu	dia,	e	viu-o,	e	alegrou-se”	(cf.	Gn	12.1-3;	Gl	3.7-9;	Hb	11.13,39).	Se	os
judeus	não	gostavam	que	Jesus	se	exaltasse	acima	de	Abraão,	teriam	de
reconhecer,	mesmo	assim,	que	Abraão	olhava	para	Jesus	como	sendo	o
cumprimento	de	todas	as	promessas	divinas,	enquanto	eles,	alegando	serem	fiéis
descendentes	de	Abraão,	pensavam	honrar	a	este	em	detrimento	de	Jesus.
Os	judeus,	tomando	as	palavras	de	Jesus	no	sentido	literal,	disseram-lhe:	“Ainda
não	tens	cinqüenta	anos,	e	viste	Abraão?”	Entre	os	judeus,	ninguém	era
considerado	maduro	-	com	capacidade	intelectual	e	discernimento	-	antes	de
atingir	a	idade	de	cinqüenta	anos.	“Ainda	não	tens	cinqüenta	anos”	é	o	modo
oriental	de	dizer:	“Você	ainda	é	jovem”.
“Disse-lhes	Jesus:	Em	verdade,	em	verdade	vos	digo	que	antes	que	Abraão
existisse,	eu	sou”.	A	expressão	“Eu	sou”	significa	uma	existência	que	ultrapassa
o	tempo,	e	nesta	declaração	Jesus	declarou	ter	a	mesma	divindade	do	grande	“Eu
Sou”,	o	Senhor,	cujo	nome	significava	“aquele	que	existe	eternamente”.
Os	judeus	teriam	saudado	com	júbilo	a	notícia	de	ser	Jesus	o	Messias,	mas	sua
pretensão	à	deidade	deixou-os	dispostos	a	apedrejá-lo	por	blasfêmia.	No	entanto,
sua	hora	ainda	não	chegara,	e	a	fúria	deles	nada	podia	fazer;	diante	da	sua
majestosa	presença,	os	guardas	do	templo	recuaram,	envergonhados.
IV	–	Ensinamentos	Práticos
1.	A	perseverança,	um	teste	do	discipulado.	A	perseverança	é	o	segredo	de
vencer	qualquer	dificuldade,	e	o	segredo	da	perseverança	é	permanecer	naquilo
que	se	faz.	“Se	vós	permanecerdes	na	minha	palavra,	verdadeiramente	sereis
meus	discípulos”.	A	constância	é	um	profundo	teste	de	caráter.	Abraão,	Davi,
Pedro	e	outros	santos	podem	ser	culpados	de	fracassos;	no	entanto,	levantaram-
se	após	sua	queda	e	continuaram	a	seguir	ao	Senhor.	Muitos	deslizes	na	vida
cristã	se	devem	ao	fato	de	os	convertidos	não	prosseguirem	na	consagração,
afastando-se	mais	e	mais	da	beira	do	poço	de	onde	foram	retirados	por	Jesus.
Avançaré	a	melhor	garantia	contra	as	recaídas.
2.	A	liberdade	encara	com	coragem	os	fatos.	“Somos	descendência	de	Abraão,	e
nunca	servimos	a	ninguém”.	Estes	judeus	eram	cegos	demais	para	verem	a
escravidão	e	a	necessidade	espiritual	em	que	jaziam.	Quanto	a	isso,
assemelhavam-	se	à	maioria	das	pessoas;	cada	pessoa	tem	o	amor-próprio	que
tende	a	torná-la	cega	diante	de	suas	próprias	fraquezas.
Al	Capone	tinha	fama	de	criminoso	implacável,	mas	sua	própria	análise	de	si
mesmo	era:	“Dediquei	os	melhores	anos	da	minha	vida	oferecendo	às	pessoas	os
prazeres	mais	alegres,	ajudando-as	a	se	divertirem”.	Poucos	criminosos	nas
prisões	se	consideram	pessoas	más.	O	desejo	se	justificarem	de	se	justificar	é
enorme!
Por	que	tantas	pessoas	não	têm	a	mínima	consciência	da	sua	escravidão	ao
pecado?	Pode	ser	que	nunca	tenham	compreendido	o	que	é	desfrutar	da
liberdade	espiritual,	ou	que	tanto	tempo	tenha	passado	desde	a	época	em	que	se
sentiam	mais	limpas	de	consciência,	que	a	escravidão	já	lhes	pareça	algo	natural;
podem	também	sentir,	lá	no	fundo	do	coração,	uma	falta	de	disposição	para
enfrentar	as	responsabilidades	que	a	liberdade	acarreta	consigo.	Narra-se	a
história	de	certo	santo	que	andava	pela	Itália,	pregando	e	curando	os	cegos,
aleijados	e	mudos.	Certo	dia,	o	povo	de	uma	aldeia	viu	dois	coxos	fugindo
apressadamente.	Quando	alguém	lhes	perguntou	qual	o	motivo	de	tal	pressa,
responderam:	“O	santo	vai	passar	nesta	aldeia,	e	dizem	que	ele	tem	poder	para
curar	os	coxos.	Se	ele	nos	curasse,	o	que	seria	do	nosso	meio	de	vida?”
Tempo	houve	na	vida	do	Filho	Pródigo	em	que	ele	teria	repudiado	com
ressentimento	a	mínima	sugestão	de	ser	um	escravo;	afinal	de	contas,	não	tinha
saído	de	casa	para	ganhar	a	liberdade?	Mas,	certo	dia,	caiu	em	si	e	percebeu	sua
verdadeira	situação.	Foi	este	o	começo	da	sua	libertação.
Quando	alguém	se	dispõe	a	enfrentar	a	verdade	acerca	de	si	mesmo,	a	verdade	o
libertará.
3.	A	declaração	de	independência	do	cristão.	“Se	pois	o	Filho	vos	libertar,
verdadeiramente	sereis	livres”.	Muitas	nações	fazem	comemorações	anuais	da
libertação	de	alguma	tirania	externa,	como	o	nosso	Sete	de	Setembro,	mas	o
Novo	Testamento	vai	mais	fundo,	ao	declarar	que	a	pessoa	que	peca	é	escrava	do
pecado.	Esta	verdade	se	percebe	facilmente	no	caso	dos	pecados	mais	grosseiros
da	carne,	pois	por	eles	a	alma	fica	presa	em	grilhões	de	aço	até	nunca	mais
desejar	a	liberdade.	Até	os	antigos	gregos,	sem	a	Bíblia,	reconheciam	esta
verdade,	a	qual	exprimiram	na	lenda	de	Circe.	Esta,	após	atrair	os	homens
mediante	seus	encantos,	para	desfrutarem	dos	prazeres	que	oferecia,
transformava-os	em	porcos	e	lobos.	Qualquer	pecado,	no	entanto,	tem	este	poder
de	escravizar,	especialmente	os	menos	visíveis	e	mais	profundos,	a	saber,	os
pecados	secretos	da	alma.
Compare	Paulo,	o	apóstolo,	com	o	imperador	Nero.	Qual	deles	era
verdadeiramente	livre:	o	apóstolo	na	prisão,	com	sua	alma	livre	dos	grilhões	do
pecado,	ou	o	imperador	no	seu	trono,	escravo	das	suas	paixões?	Com	toda	a	sua
liberdade,	o	imperador	nunca	foi	um	homem	livre;	com	todas	as	suas	prisões,	o
apóstolo	nunca	foi	realmente	um	prisioneiro.	Para	todos	nós,	deixou	registrada	a
seguinte	declaração	de	independência:	“Estai	pois	firmes	na	liberdade	com	que
Cristo	nos	libertou,	e	não	torneis	a	meter-vos	debaixo	do	jugo	da	servidão”	(Gl
5.1).
A	liberdade	é	a	prerrogativa	de	todo	aquele	que	pertence	a	Deus.	O	que	foi
escrito	com	respeito	a	Israel	é	verdadeiro	com	respeito	a	cada	crente:	“Assim	diz
o	Senhor:	Israel	é	meu	filho,	meu	primogênito.	E	eu	te	tenho	dito:	Deixa	ir	o
meu	filho,	para	que	me	sirva”	(Êx	4.22,23).	Estamos	desfrutando	desta
liberdade,	ou	continuamos	a	carregar	fardos,	quando	temos	direito	a	viajar	na
condução	celestial?
4.	A	graça	não	é	hereditária.	Certo	pastor	protestante	na	Itália,	cansado	de	ouvir
os	membros	da	sua	congregação	ufanarem-se	das	glórias	dos	seus	antepassados,
disse	finalmente:	“Vocês	são	como	batatas:	a	melhor	parte	de	vocês	está	debaixo
da	terra”.	Era	esta	a	situação	dos	judeus	mencionados	neste	trecho	bíblico:
queriam	aquecer-se	no	calor	irradiado	pelo	seu	pai	Abraão,	sem	levar	em	conta
que	ser	um	filho	de	Abraão	incluía	a	responsabilidade	de	viver	como	ele.
Deviam	ter	levado	em	conta	que	Ismael	também	era	filho	de	Abraão,	sem,
porém,	fazer	parte	do	povo	escolhido.	A	estirpe	moral	vale	mais	diante	de	Deus
do	que	a	estirpe	natural.
Muitas	pessoas	se	jactam	do	seu	parentesco,	sem	se	lembrarem	que	é	o	caráter
que	revela	quem	são	os	filhos	de	Deus,	irmãos	de	Cristo.	Você	demonstra	os
traços	e	as	feições	de	qual	família?	(cf.	1	Jo	3.10).
11
O	Cego	de	Nascença
Texto:	João	9
Introdução
Chegamos	agora	ao	sexto	“sinal”	descrito	pelo	Evangelho	de	João	-	a	cura	do
cego	de	nascença.	A	interpretação	do	sinal	é	declarada	pelo	Senhor:	“Eu	sou	a
luz	do	mundo”.	Aquele	que	abriu	os	olhos	ao	homem	que	sofria	de	cegueira
física	pode	também	abrir	os	olhos	aos	que	são	espiritualmente	cegos.	O	mesmo
Cristo	que	abriu	os	olhos	deste	homem	para	que	contemplasse	o	sol,	mais	tarde
concedeu-lhe	visão	espiritual	para	ver	a	“Luz	do	mundo”	(9.35-38).
I	–	A	Preparação	Para	o	Sinal	(Jo	9.1-5)
1.	O	doloroso	quadro.	“E,	passando	Jesus,	viu	um	homem	cego	de	nascença”.
Obviamente,	era	um	bem	conhecido	mendigo	que	havia	muito	proclamava	a
todos	que	era	cego	de	nascença	(v.	8).	Ficava	ali,	como	que	um	símbolo	da	nação
a	que	Jesus	ministrava	e	da	raça	humana	em	geral,	cuja	cegueira	é	patente	aos
olhos	de	Jesus,	e	que	nem	sequer	pode	ser	iluminada,	revelando	quão	profundos
foram	os	danos	feitos	à	humanidade.	Evocava	de	Jesus	o	seu	poder	curador.	A
cegueira	física	faz	pensar	nas	outras	formas	de	cegueira	que	há	no	mundo:	a
vaidade	esconde	defeitos	e	fraquezas	radicais;	o	orgulho	faz	o	pecador	cego	às
suas	próprias	transgressões;	a	cegueira	temporária	quanto	a	enormes	pecados	é
um	dos	sintomas	de	uma	transgressão	grosseira,	como	fora	a	de	Davi,	e	todos
sabem	quão	cego	e	surdo	é	o	preconceito.
2.	A	pergunta	dos	curiosos.	“E	os	seus	discípulos	lhe	perguntaram,	dizendo:
Rabi,	quem	pecou,	este	ou	seus	pais,	para	que	nascesse	cego?”	Os	discípulos,
vendo	um	caso	tão	digno	de	dó,	imediatamente	começaram	a	pensar	o	que
poderia	ter	causado	tamanha	desgraça,	e,	sabendo	que	há	uma	conexão	nas
Escrituras	entre	o	pecado	e	a	calamidade,	chegaram	à	conclusão	apressada	de
que	a	aflição	deste	homem	fora	causada	por	algum	pecado	específico	cometido
por	ele	ou	pelos	seus	pais.	Não	há	dúvida	quanto	ao	vínculo	que	há	entre	a
prática	do	mal	e	o	sofrimento;	é	verdade,	também,	que	os	filhos	muitas	vezes
sofrem	por	causa	dos	pecados	dos	pais.	Não	ocorre	sempre,	porém,	o	caso	de
doenças	e	calamidades	serem	conseqüências	imediatas	de	algum	pecado
específico.	Freqüentemente,	os	grandes	pecadores	passam	pela	vida	com	um
mínimo	de	sofrimentos,	enquanto	os	grandes	santos	sofrem	mais.	Jó	sofreu	a
perda	dos	filhos,	das	propriedades	e	da	sua	própria	saúde	-	no	entanto,	segundo	o
testemunho	do	próprio	Deus	com	respeito	a	ele,	era	homem	de	conduta
inculpável.	A	sua	experiência	nos	deixa	entender	que	o	sofrimento	nem	sempre	é
o	resultado	do	pecado:	pode	até	ser	enviado	por	Deus	para	nos	refinar,	testar	a	fé
e	ensinar	algumas	das	mais	profundas	lições	da	vida.
Note	que	os	discípulos	cometeram	dois	erros:	1)	O	erro	intelectual	de	atribuir
este	caso	de	sofrimento	a	algum	pecado	específico.	2)	O	erro	prático	de	levantar
o	debate
O	Cego	de	Nascença	111
teológico,	em	vez	de	terem	compaixão	do	homem.	Quantas	vezes	falamos
quando	deveríamos	ajudar!
3.	A	resposta	com	autoridade.	“Jesus	respondeu:	Nem	ele	pecou	nem	seus	pais;
mas	foi	assim	para	que	se	manifestem	nele	as	obras	de	Deus.”	A	cegueira	deste
homem	não	era	resultado	de	algum	pecado	específico;	bastava	aos	discípulos
saberem	que	a	sua	aflição	serviria	de	oportunidade	para	a	manifestação	da
operação	milagrosa	de	Deus.	Eles	não	precisavam	indagar	por	que	Deus	permitiu
tanto	sofrimento:	mais	importante	seria	testemunhar	como	Deus	transformaria	o
mal	em	bem.	Em	poucos	instantes,	não	somente	estariam	abertos	os	olhos	físicos
deste	homem,	como	também,pelos	olhos	da	alma,	ele	estaria	contemplando	o
Filho	de	Deus.
Os	sofredores	não	devem	ser	alvo	de	debate	teológico;	devem	ser	considerados
objetos	merecedores	da	benevolência	cristã.
4.	A	declaração	solene.	“Convém	que	eu	faça	as	obras	daquele	que	me	enviou,
enquanto	é	dia;	a	noite	vem,	quando	ninguém	pode	trabalhar.”	Aqui,	o	“dia”	é	a
parte	da	vida	do	homem	em	que	ele	está	capacitado	para	o	serviço;	a	“noite”	se
refere	à	morte,	que	põe	fim	à	obra	do	homem	na	terra.	Devemos	fazer	o	bem
sempre	que	surge	uma	oportunidade.	Embora	Cristo	tivesse	diante	dele,	além	da
cruz	e	da	sepultura,	toda	uma	eternidade	para	que	derramasse	bênçãos	sobre	o
mundo,	tinha	os	dias	contados	para	o	trabalho	específico	que	realizaria	enquanto
vivesse	na	terra.	Nós,	labutando	sob	as	limitações	da	mortalidade,	devemos
reconhecer,	na	brevidade	da	vida,	mais	um	motivo	para	o	serviço	dedicado	e
contínuo.
“Enquanto	estou	no	mundo,	sou	a	luz	do	mundo”.	O	ministério	de	Cristo	aqui	no
mundo	chegaria	ao	fim.	Ele	procurava,	portanto,	todas	as	oportunidades	de
brilhar	visivelmente	entre	os	homens,	deixando-os	ver	Deus	.
II	–	A	Operação	do	Sinal	(Jo	9.6,7)
1.	Uma	ajuda	à	fé.	O	cego,	com	a	capacidade	de	escutar	própria	dos	cegos,	deve
ter	prestado	atenção	a	esta	conversação	acerca	de	Jesus,	de	tal	modo	que	a	fé
nasceu	no	seu	coração.	E	o	Senhor	passou	a	fortalecer	esta	fé	inicial:	“Tendo	dito
isto,	cuspiu	na	terra,	e	com	a	saliva	fez	lodo,	e	untou	com	o	lodo	os	olhos	do
cego”.	Certamente	que	o	barro	assim	umedecido	não	foi	aplicado	como	remédio
para	curar	um	cego	de	nascença.	Então	por	que	foi	aplicado?	O	ser	humano	tem
corpo	e	alma,	e	o	Senhor,	para	operar	na	alma,	às	vezes	lança	mão	de	meios	que
operam	através	dos	sentidos	físicos	(cf.	Is	38.21;	Mc	7.33).	É	por	esta	mesma
razão	que	devemos	ungir	com	óleo	os	doentes	quando	por	eles	oramos	(Tg	5.14),
ou	impor-lhes	as	mãos.	O	Senhor,	ao	ordenar	o	batismo	e	a	Ceia	do	Senhor,	faz
uso	de	meios	materiais	para	aprofundar	as	impressões	espirituais.	Os	meios
externos	nenhum	poder	têm	em	si	mesmos:	são	como	que	escadas	para	nos
ajudar	a	ter	mais	fé	e	subir	ao	Cristo	vivo.
2.	Um	teste	da	fé.	“E	disse-lhe:	Vai,	lava-te	no	tanque	de	Siloé	(que	significa	o
Enviado)”.	O	milagre	não	ficou	completo	no	mesmo	instante.	O	paciente	ainda
tinha	que	ir	lavar-se	no	tanque	de	Siloé.	João	nos	informa	o	significado	do	nome
“Siloé”,	por	ver	em	Jesus	o	Enviado	de	Deus,	a	quem	devemos	recorrer	em	todas
as	necessidades.	O	homem	foi	mandado	ao	tanque	para	testar:
2.1.	Sua	obediência.	Ouvira	a	voz	de	Jesus,	e	sentira	seu	toque;	mas	a	luz	não	lhe
chegou	até	que	obedecesse	aos	mandamentos	de	Jesus.
2.2.	Sua	fé.	Talvez	duvidasse	que	este	tanque,	que	conhecia	desde	seus	dias	de
menino,	pudesse	possuir	poderes	tão	maravilhosos;	decerto	pensaria	que	as
pessoas	zombariam	dele	se	fosse	para	lá,	como	se	isto	o	curasse.	Da	mesma
forma,	os	que	conheciam	a	Jesus	desde	sua	infância,	tinham	dificuldade	em	ver
nEle	o	Enviado	de	Deus:	“Conhecemos	este	homem,	de	onde	ele	é.	“Não	é	este	o
filho	do	carpinteiro?	Como,	pois,	agora	diz:	Desci	do	céu?”	Os	judeus	o
conheciam	como	menino,	e	tinham	dificuldade	em	reconhecer	a	divindade	que
se	escondera	sob	a	forma	tranqüila	e	meiga	de	um	jovem.	Desta	mesma	maneira,
seus	pais	desprezavam	“as	águas	de	Siloé	que	correm	brandamente”	(Is	8.6)
porque	não	havia	estrondos	e	inundações	para	impressioná-los.
2.3.	Sua	perseverança.	Imagine	o	homem,	os	olhos	cobertos	de	lodo,	tateando
em	meio	à	zombaria	do	poviléu,	para	chegar	ao	tanque.	Estava,	porém,
independente	da	opinião	dos	homens,	e	não	cuidava	da	zombaria.	Leia	os
versículos	24-33	para	perceber	quão	firmemente	tomou	posição	diante	dos
fariseus	que	queriam	intimidá-lo.
3.	O	galardão	da	fé.	Diferentemente	de	Naamã	2	Rs	5.11,13),	este	homem	não
desprezava	os	meios	simples	determinados	por	Jesus.	Obedeceu	imediatamente:
“Foi,	pois,	e	lavou-se,	e	voltou	vendo”.	É	um	exemplo	de	cura	que	Jesus	operou
à	distância.
III	–	O	Resultado	do	Sinal	(Jo	9.8-11)
1.	Comoção.	“Então	os	vizinhos,	e	aqueles	que	dantes	tinham	visto	que	era	cego,
diziam:	Não	é	este	aquele	que	estava	assentado	e	mendigava?	Uns	diziam:	É
este.	E	outros:	Parece-se	com	ele.	Ele	dizia:	Sou	eu”.	O	verdadeiro	convertido
sempre	despertará	a	emoção	e	a	curiosidade	dos	que	o	conheciam	antes;	se	sua
profissão	de	Cristo	não	o	transformou,	de	modo	tão	facilmente	notado	por	todos,
decerto	ainda	falta	muita	coisa.
2.	O	interrogatório.	“Diziam-lhe	pois:	Como	se	te	abriram	os	olhos?	Ele
respondeu,	e	disse:	O	homem,	chamado	Jesus,	fez	lodo,	e	untou-me	os	olhos,	e
disse-me:	Vai	ao	tanque	de	Siloé,	e	lava-te.	Então	fui,	e	lavei-me,	e	vi”.	Note
quão	direta	e	singela	foi	esta	resposta.	Aquele	homem	passou	por	uma
experiência	real	e	definida,	e	sabia	do	que	falava	porque	estava	no	meio	do
acontecido!	Muitas	coisas	havia	que	não	sabia	-	teologia,	astronomia,	história	e
de	outras	ciências	-	e,	por	enquanto,	pouca	coisa	sabia	acerca	de	Jesus.	Mesmo
assim,	face	aos	eclesiásticos	que	queriam	intimidá-lo,	soube	testificar:	“Uma
coisa	sei,	e	é	que,	havendo	eu	sido	cego,	agora	vejo”.	Estava	com	os	fatos!
3.	A	perseguição.	Disseram	os	fariseus:	“Dá	glória	a	Deus;	nós	sabemos	que	esse
homem	é	pecador”.	O	conhecimento	deles	era	ignorância;	a	luz	deles	era
escuridão.	Jactavam-se	de	possuírem	iluminação	espiritual,	quando	na	realidade
eram	espiritualmente	cegos.	A	primeira	parte	do	capítulo	narra	como	foram
abertos	os	olhos	de	quem	bem	sabia	que	era	cego;	a	parte	final	mostra	como	se
cerravam	mais	e	mais	os	olhos	daqueles	que	pensavam	que	possuíam
discernimento	(v.	39-41).	Os	cegos	não	podem	ver,	mas,	às	vezes,	os	que	têm
olhos	nem	querem	olhar.	É	melhor	reconhecer	nossos	defeitos	e	receber	de	Jesus
a	solução	do	que	encobri-los	e	ficar	sem	a	bênção.
O	homem	foi	excomungado,	ou	seja,	expulso	da	comunhão	da	sinagoga.
Rejeitado	pelos	judeus,	foi	recebido	por	Cristo.
IV	–	Ensinamentos	Práticos
1.	A	compaixão	vale	mais	do	que	a	especulação.	Jesus	mostrou	que	debater	a
origem	do	sofrimento	é	menos	importante	do	que	sua	remoção.	O	mal	existe	no
mundo	e	se	constitui	em	problema	teológico;	para	os	seguidores	de	Cristo,	no
entanto,	deve	ser	sua	oportunidade	de	realizar	as	obras	de	Deus	que	destroem	as
obras	do	diabo.	A	presença	do	mal,	do	pecado	e	do	sofrimento	no	mundo	nos
conclama	à	dedicação	da	nossa	vocação:	seja	qual	for	a	sua	origem,	deve
despertar	em	nós	o	melhor	que	possamos	oferecer	ao	O	Cego	de	Nascença	115
sofredor	-	simpatia,	dedicação,	ternura,	compaixão,	perdão.	Uns	poucos
momentos	de	genuína	simpatia	valem	mais	do	que	um	dia	de	debate	filosófico
acerca	do	mistério	do	sofrimento.	Um	testemunho	pessoal	sobre	o	poder	de	Deus
para	perdoar	o	pecado	e	curar	a	aflição	vale	muito	mais	do	que	qualquer	debate
acerca	da	origem	e	da	natureza	do	pecado.
2.	O	limite	humano	é	nossa	oportunidade.	“Convém	que	eu	faça	as	obras	daquele
que	me	enviou”	(Jo	9.4).	Esta	deve	ser	nossa	atitude	quando	surge	alguém	que
precisa	da	nossa	ajuda.	Fazemos	as	obras	de	Deus	quando,	com	a	sua	ajuda,
evangelizamos	os	pobres,	proclamamos	a	libertação	aos	cativos	e	a	restauração
da	vista	aos	cegos,	e	colocamos	em	liberdade	os	oprimidos	(Lc	4.18).	Tomando
pela	mão,	com	toda	a	sinceridade,	os	que	estão	em	situação	difícil,	poderemos,
enquanto	os	ajudamos,	levá-los	a	ter	gratos	pensamentos	para	com	Deus;	e,
mesmo	não	conseguindo	tal	resultado,	podemos	saber	que	não	há	melhor
maneira	de	fazê-los	pensar	em	Deus,	porque	foi	este	o	método	de	Cristo,	que,
sem	dar	explicações	detalhadas	das	suas	obras	de	misericórdia,	deixava-as	falar
por	si	mesmas,	de	tal	modo	que	o	povo	glorificava	a	Deus.	Demonstrando	a
plenitude	do	amor	cristão,	podemos	inspirar	pessoas	a	crerem	no	amor	de	Deus.
Boa	pergunta	para	examinarmos	a	nós	mesmos	em	qualquer	situação	seria:	estou
realizando	as	obras	de	Deus?
3.	“Remindo	o	tempo”	(Ef	5.16).	“A	noite	vem,	quando	ninguém	pode
trabalhar”.	Famoso	moralista	inglês	mandou	gravar	no	mostrador	do	seu	relógio
de	pulso	as	palavras	“a	noite	vem”,	a	fim	de	que,	cada	vez	que	olhasse	para	saber
as	horas,	se	lembrassede	como	era	limitado	o	tempo	de	vida;	já	que	a	morte
pode	terminar	de	modo	súbito	com	as	nossas	atividades,	importa	fazer	tudo	que
pudermos	de	real	valor.	“Tudo	quanto	te	vier	à	mão	para	fazer,	faze-o	conforme
as	tuas	forças,	porque	na	sepultura,	para	onde	tu	vais,	não	há	obra,	nem	indústria,
nem	ciência,	nem	sabedoria	alguma”	(Ec	9.10).	Quando	amigos	do	piedoso
missionário	João	G.	Paton	insistiam	com	ele	para	que	diminuísse	seus
extenuantes	trabalhos,	este	respondeu:	“Vocês	dizem	que	trabalho	demais,	mas
não	me	sobra	muito	mais	vida	para	servir	a	Jesus.	Gostaria	de	conseguir	forças
para,	a	cada	dia,	fazer	três	vezes	mais	da	sua	obra,	mediante	a	fé	na	sua
promessa	quanto	às	forças	necessárias:	‘E	eis	que	estou	convosco	todos	os	dias
até	à	consumação	dos	séculos’’’.
Uma	boa	oração	para	nós	seria	a	seguinte:	“Ó	Deus,	dá-	me	um	trabalho	teu	até
o	fim	da	minha	vida,	e	dá-me	vida	até	completar	este	trabalho’’’.
4.	Conhecimento	através	da	obediência.	O	cego	foi	curado	mediante	a	fé	em
Cristo,	e	tal	fé	foi	demonstrada	pela	sua	obediência.	Sabia	pouco	acerca	de
Cristo,	e	quase	nada	acerca	da	religião	e	de	coisas	espirituais,	mas	ouvira	as
palavras	de	Cristo	e	recebera	a	sua	ordem;	e,	agindo	à	altura,	estava	em
condições	de	receber	mais.	Note	quão	rápida	e	sistematicamente	cresceu	o	seu
conhecimento	de	Cristo:	“O	homem,	chamado	Jesus”	(v.	11);	“é	profeta”	(v.	17);
“é	de	Deus”	(v.	33);	“é	o	Filho	de	Deus”	(v.	35-37).
Este	incidente	contém	uma	mensagem	para	todos	os	que	tateiam	nas	trevas,
cercados	por	problemas	teológicos	e	dúvidas	religiosas.	Existem	tantas	coisas
que	não	sabem,	mas	o	segredo	é	aceitar	e	seguir	o	que	sabem	e	entendem,	e
assim	receberão	mais	luzes.	Não	nos	será	revelada	mais	luz	se	deixarmos	de
andar	na	luz	que	já	recebemos.
5.	A	certeza	da	experiência.	Temos	aqui	um	exemplo	de	quem	recebeu	uma
experiência,	e	que	muito	bem	o	sabe.	Quando	a	pessoa	sabe,	e	sabe	que	sabe,	é	a
certeza	que	possui.	Primeiro,	quando	os	vizinhos	levantaram	perguntas	quanto	à
sua	identidade,	o	cego	curado	respondeu:	“Sou	eu”.	Sabia	muito	bem	a	condição
anterior	em	que	vivera	tanto	tempo,	como	cego	incurável.	Segundo,	tinha	plena
certeza	da	mudança	que	sobreviera	à	sua	vida:	“Havendo	eu	sido	cego,	agora
vejo”.	Terceiro,	tinha	certeza	de	que	quem	operou	um	milagre	era	de	Deus:
“Desde	que	há	mundo,	jamais	se	ouviu	que	alguém	tenha	aberto	os	olhos	a	um
cego	de	nascença”.	Quarta	certeza:	“Preciso	aceitá-lo	como	meu	Senhor”.	As
certezas	deste	homem	podem	também	ser	as	nossas	certezas.
Justino	Mártir,	filósofo	cristão	do	segundo	século,	foi	lançado	no	cárcere	pelo
seu	destemido	testemunho	de	Cristo,	quando	um	ministro	do	imperador
perguntou-lhe,	ironizando:	“Tu	imaginas	que	após	ter	sido	decepada	a	tua
cabeça,	irás	diretamente	ao	Céu?”	Justino	replicou:	“Se	eu	imagino	isso?	Eu	o
sei!”	Todos	os	que	receberam	a	experiência	do	poder	transformador	de	Cristo
podem	dizer:	“Eu	sei	em	quem	tenho	crido”.
12
Jesus,	o	Bom	Pastor
Texto:	João	10
Introdução
A	cura	do	cego,	descrita	no	capítulo	anterior,	serve	como	pano	de	fundo	ao
discurso	de	Jesus	registrado	aqui.	Os	líderes	religiosos	já	haviam	determinado
que	qualquer	pessoa	que	confessasse	ser	Jesus	o	Messias	fosse	excomungada,
expulsa	da	sinagoga	(Jo	9.22).	Quando	o	cego	curado	persistiu	na	sua	lealdade	a
Jesus,	“expulsaram-no”	(9.34).	Existiam	vários	graus	de	excomunhão;	a	forma
mais	severa,	chamada	quérem,	fazia	com	que	o	excomungado	fosse	contado
como	virtualmente	morto:	não	tinha	licença	de	estudar	com	outras	pessoas,	e
ninguém	devia	lhe	oferecer	convívio	-	nem	sequer	indicar-lhe	a	direção	a	seguir
quando	viajava.	Embora	lhe	fosse	permitido	comprar	os	mantimentos	para	a
sobrevivência,	proibia-se	que	outras	pessoas	comessem	ou	bebessem	com	ele.	O
cego	curado	fizera	a	escolha	certa,	embora	possa	ter	sentido	pesar	por	ser
rejeitado	pelos	líderes	religiosos,	repudiado	por	todos	que	o	viam	passando	pela
rua	e	sem	o	direito	ao	convívio	com	homens	bons,	o	que	o	ajudaria	em	sua	nova
vida.
O	Mestre,	no	entanto,	não	o	deixou	desamparado.	Quando	os	falsos	pastores	o
colocaram	fora	do	aprisco	deles,	Jesus,	o	Bom	Pastor,	procurou-o	para	abrigá-lo
no	seu	aprisco.	Fechou-se	a	porta	da	sinagoga;	abriu-se	a	porta	do	reino	dos
céus.	É	em	face	a	tal	situação	que	Jesus	declara:	“Eu	sou	a	porta	das	ovelhas...
Eu	sou	o	bom	Pastor”.	O	próprio	Messias,	o	Pastor	de	Israel,	ofereceu	acesso	à
segurança	e	ao	gozo	espiritual,	cancelando	a	sentença	injusta	dos	falsos
dominadores	do	rebanho,	que	nenhuma	autoridade	tinham	para	admitir	ou
demitir	pessoas	na	vida	espiritual	e	na	verdadeira	comunhão.	Jesus	é	a	suprema
autoridade	em	assuntos	espirituais,	e	quem	nEle	crê	está	livre	da	tirania	de	falsos
líderes	religiosos.
Jesus,	revelando	tais	verdades,	aplica	a	si	mesmo	duas	expressões	figuradas:	Ele
é	a	porta	do	aprisco	das	ovelhas	e	o	Pastor	das	ovelhas.	Trataremos	das	duas
figuras	individualmente.
I	–	A	Porta	do	Aprisco	das	Ovelhas
1.	A	porta	ao	ministério.	“Na	verdade,	na	verdade	vos	digo	que	aquele	que	não
entra	pela	porta	do	curral	das	ovelhas,	mas	sobe	por	outra	parte,	é	ladrão	e
salteador.	Aquele,	porém,	que	entra	pela	porta	é	o	pastor	das	ovelhas.	A	este	o
porteiro	abre”.	Jesus	sempre	usava	como	ilustrações	assuntos	que	seus	ouvintes
pudessem	entender.
1.1.	A	ilustração.	A	cena	pertence	à	vida	diária	da	Palestina.	À	noite,	as	ovelhas
são	levadas	para	o	aprisco,	um	abrigo	com	altos	muros	e	portão	bem	protegido
com	ferro-	lhos,	onde	descansam	sob	a	vigilância	de	um	porteiro.	De	manhã,
cada	pastor	chega	e	é	admitido	pelo	porteiro	mediante	um	sinal	combinado;
então,	cada	um	chama	suas	próprias	ovelhas.	As	ovelhas	seguem-no	ao
reconhecer	a	sua	voz;	não	reconhecem	a	voz	de	um	estranho,	e	o	próprio	porteiro
não	admitiria	um	estranho.	Deste	modo,	qualquer	falso	pastor,	querendo	furtar	as
ovelhas,	teria	de	pular	o	muro.
1.2.	A	interpretação.	O	Senhor	indica	as	características	da	liderança	espiritual:	há
modos	lícitos	e	ilícitos	de	se	obter	acesso	às	pessoas	e	assumir	autoridade	sobre
elas.	Há	o	caminho	certo,	divino,	para	entrar	no	ministério	cristão,	e	há	o
caminho	errado	e	humano.	Quem	quiser	ministrar	às	almas	dos	homens	deve
passar	por	Cristo,	a	Porta,	sendo	vocacionado	e	enviado	por	ele,	comovido	pelo
seu	espírito	de	compaixão.	É	através	dele	que	os	pastores	assistentes	têm	acesso
ao	rebanho.	O	ministério	de	Paulo	deu	frutos	porque	ele	entrou	pela	Porta,
mediante	a	chamada	de	Cristo;	por	outro	lado,	os	filhos	de	Ceva	“tentaram
invocar	o	nome	de	Jesus”	sem	serem	servos	de	Cristo,	e	fracassaram	(At	19.13-
16).
Jesus	chama	de	ladrão	e	salteador	o	pastor	falso	que	entra	no	ministério	por
motivos	egoístas	-	não	para	fazer	o	bem	às	ovelhas,	e	sim	para	tirar	vantagens
delas,	visando	seus	próprios	propósitos	(Mt	7.15;	At	20.29,30).	O	Senhor	dá	a
entender	que	muitos	queriam	assumir	a	condição	de	pastor	diante	do	rebanho	de
Deus	sem	ter	vocação	na	alma.	Eles	insistiam	nos	seus	próprios	privilégios	e
direitos,	pensavam	que	as	estreitas	tradições	que	representavam	eram	os
mandamentos	de	Deus,	afligiam	as	almas	famintas	e	angustiadas	com	suas
próprias	interpretações	da	Palavra	de	Deus	e	demonstravam,	de	modo	geral,	não
possuir	acesso	algum	aos	corações	humanos.	As	palavras	de	Jesus	se	referem
imediatamente	aos	líderes	religiosos	dos	seus	dias,	que	excomungaram	um	pobre
cego	pela	sua	corajosa	lealdade	àquEle	que	lhe	abrira	os	olhos,	mas	suas
advertências	devem	ser	aplicadas	aos	eclesiásticos	tirânicos	de	todos	os	tempos	e
lugares.	Ninguém	pode	cuidar	do	seu	próximo	como	verdadeiro	pastor	se	não
possuir	real	simpatia	por	ele.
“Todos	quantos	vieram	antes	de	mim	são	ladrões	e	salteadores;	mas	as	ovelhas
não	os	ouviram”	(v.	8).	Certamente	não	há	aqui	nenhuma	palavra	contra	os
profetas	e	outros	homens	de	Deus	que	vieram	ao	povo	antes	de	Cristo.	Jesus	se
refere,	em	primeiro	lugar,	aos	falsos	profetas	e	falsos	messias	que	arrogavam
direitos	que	pertencem	somente	a	Cristo;	em	segundo	lugar,	refere-se	a	líderes
religiosos	sedentos	pelo	poder,	que	alegam	ter	o	domínio	sobre	as	almas
humanas	que	só	a	Cristopode	pertencer;	em	terceiro	lugar,	há	alusão	aos
sacerdotes	e	fariseus	dos	seus	dias,	que	usurpavam	o	direito	de	expulsar	do
aprisco	os	que	reconhecessem	ser	Jesus	o	Cristo.	Isto	foi	por	causa	do	seu	santo
zelo	e	da	sua	paixão	pelas	almas?	Não.	Segundo	o	próprio	Cristo,	foi	por	ciúmes
da	sua	própria	autoridade	e	prestígio	(cf.	Mt	23.1-33;	Jo	11.47-53;	12.10,11).
Quem	é	representado	pela	figura	do	“porteiro”?	Talvez	seja	o	Espírito	Santo,
supervisionando	a	obra	de	vocacionar	homens	para	o	ministério	cristão	(cf.	Jo
16.14;	At	20.28;	13.2).
2.	A	porta	para	a	salvação.	“Eu	sou	a	porta;	se	alguém	entrar	por	mim,	salvar-se-
á,	e	entrará,	e	sairá,	e	achará	pastagens”	(cf.	Jo	14.6).	O	cego	curado	deve	ter
pensado:	“Graças	a	Deus!	Os	anciãos	da	sinagoga	nenhum	dano	me	podem
fazer;	não	podem	admitir	ou	excluir	ninguém	do	Reino	de	Deus.	Porém	este
personagem,	tão	compassivo,	tão	semelhante	a	Deus,	tão	poderoso	-	Ele	é	a
Porta.”	Note	as	três	bênçãos	que	decorrem	do	ato	de	passar	pela	Porta	para
desfrutar	da	viva	comunhão	com	Cristo:
2.1.	A	segurança.	“Salvar-se-á”.	No	contexto	da	vida	na	terra,	“salvo”	significa
seguro,	são,	protegido	por	Cristo	e	em	Cristo,	até	que	nossa	comunhão	com	Ele,
além	dos	limites	da	morte,	se	revele	na	forma	de	salvação	eterna.	Pela	sua
contínua	proteção,	“o	Senhor	me	livrará	de	toda	a	má	obra,	e	guardar-me-á	para
o	seu	reino	celestial”	(2	Tm	4.18).
2.	A	liberdade.	“Entrar	e	sair”	é	frase	freqüentemente	empregada	para	expressar
o	livre	uso	da	moradia	por	parte	de	quem	habita	no	seu	lar.	O	crente	que	entra
em	comunhão	com	Deus,	recebendo	a	salvação,	não	“entra	e	sai”	com	respeito
àquele	relacionamento,	e	sim,	como	filho	de	Deus,	desfruta	da	familiaridade	da
comunhão	com	Deus.
3.	O	sustento.	“Achará	pastagens”.	Acham-se	em	Cristo	todas	as	coisas	de	que	a
alma	necessita	para	seu	crescimento	espiritual.	A	idéia	de	“pastagens”	pode	ser
aplicada	também	aos	“meios	da	graça”	-	a	oração,	a	Palavra,	a	comunhão	com	o
povo	de	Deus	nos	cultos	públicos.
II	–	Cristo,	o	Pastor	das	Ovelhas
O	relacionamento	das	almas	com	Cristo	é	comparado	ao	da	ovelha	com	o	pastor.
Tal	ilustração	é	corriqueira	nas	Escrituras	(Sl	23;	80.1;	Is	40.11;	Ez	34;	Mq	5.4;
Zc	13.7;	Hb	13.20;	1	Pe	2.25).	A	ilustração	fala	muitas	coisas	ao	nosso	coração,
especialmente	quando	levamos	em	conta	certas	semelhanças	entre	as	ovelhas	e
os	homens.	Os	homens	tendem	a	seguir	um	líder;	facilmente	se	extraviam
(espiritualmente);	precisam	de	proteção;	necessitam	de	sustento.	Notemos	o	que
o	Pastor	faz	em	prol	das	suas	ovelhas.
1.	Conduz	suas	ovelhas.	“E,	quando	tira	para	fora	as	suas	ovelhas,	vai	adiante
delas,	e	as	ovelhas	o	seguem,	porque	conhecem	a	sua	voz”	(v.	4).	Como	disse
Davi:	“	Guia-me	mansamente	a	águas	tranqüilas...	guia-me	pelas	veredas	da
justiça	por	amor	do	seu	nome”	(Sl	23.2,3).
1.1.	Ele	guia	e	conduz	mediante	o	seu	exemplo.	Esta	a	mais	sublime	forma	de
liderança	(Jo	13.15;	1	Pe	2.21;	1	Jo	2.6).
1.2.	Diferentemente	dos	falsos	pastores	que	buscam	a	popularidade,	Ele	conduz
as	ovelhas,	vai	adiante	delas,	e	não	as	segue.	O	falso	pastor	dá	às	ovelhas	o	que
elas	querem;	o	verdadeiro	pastor	dá-lhes	aquilo	de	que	necessitam	Arão	era	um
verdadeiro	sacerdote,	mas	caiu	em	grave	erro	quando	seguiu	as	vontades	do
povo	(Êx	32.1-5).
1.3.	Conduz,	e	não	impele.	Uma	das	características	do	Messias	é	sua	ternura	e
mansidão	(Is	40.11;	cf.	1Pe	5.2).
2.	Conhece	suas	ovelhas.	“As	ovelhas	ouvem	a	sua	voz,	e	chama	pelos	nomes	às
suas	ovelhas...	e	as	ovelhas	o	seguem,	porque	conhecem	a	sua	voz.	Mas	de	modo
nenhum	seguirão	o	estranho,	antes	fugirão	dele,	porque	não	conhecem	a	voz	dos
estranhos”	(v.	3,4,5).	Como	disse	Davi:	“O	Senhor	é	o	meu	pastor”.
2.1.	As	almas	sequiosas	imediatamente	reconhecem	seu	Pastor	(1	Pe	2.25).	Certo
hindu	que	confessou	a	Cristo	como	Salvador,	logo	ao	ouvir	o	primeiro	sermão,
disse	que	havia	quatro	anos	estava	procurando	a	vida	eterna:	“Minha	vida	estava
repleta	de	imperfeições	e	pecados.	Minha	consciência	de	culpa	me
sobrecarregava.	Durante	dias	e	noites	eu	derramava	lágrimas	amargas.
Finalmente,	numa	agonia	de	desespero,	lancei-me	ao	chão	e	clamei	ao	Poder	que
me	deu	a	existência,	pedindo	que	enviasse	alguém	para	me	salvar.	Clamei	por
misericórdia	e	confessei	o	meu	pecado.	Naquele	instante,	deixei	tudo	por	conta
daquele	Poder.	Muitas	vezes	tenho	imaginado	como	seria	aquEle	que	o	Poder
Sublime	enviaria	a	mim.	Reconheci-o,	portanto,	imediatamente,	ao	ouvir	o
sermão.	Faz	alguns	anos	que	já	estava	confiando	em	Jesus,	sem,	porém,	saber
por	qual	nome	deveria	chamá-lo”.
O	homem	ouviu	a	voz	do	Pastor	através	do	sermão,	reconhecendo-o
imediatamente.
2.2.	Ele	nos	conhece	pelo	nome	(Is	43.1;	45.3;	49.1;	Ap	3.5;	Ap	2.17).
Temístocles	gabava-se	de	conhecer	os	nomes	dos	vinte	mil	cidadãos	de	Atenas.
O	Pastor	Divino	conhece	os	nomes	dos	seus	milhões	de	ovelhas,	bem	como	cada
aspecto	de	suas	personalidades.	Várias	pessoas	na	Bíblia	tiveram	a	íntima
experiência	de	serem	chamadas	pelo	nome	em	conversa	com	o	Senhor:	Abraão,
Moisés,	Saulo	de	Tarso,	Ananias	(At	9)	e	Pedro,	Maria	(Jo	20)	e	Samuel,	entre
outras.
2.3.	As	ovelhas	o	conhecem	e	o	seguem.	Viajantes	no	Oriente	Próximo	têm
comprovado	muitas	vezes	que	nenhum	disfarce	de	roupas,	voz,	gestos,	de	saber
os	nomes	das	ovelhas,	faz	com	que	as	ovelhas	se	confundam	quanto	ao	seu
verdadeiro	pastor.	Naquelas	regiões,	há	profundos	laços	de	simpatia,	afeição	e
reconhecimento	entre	o	pastor	e	suas	ovelhas;	o	pastor	reconhece	cada	uma	das
ovelhas,	que	parecem	idênticas	ao	olhar	do	estranho,	e	elas,	apesar	da	sua	pouca
inteligência,	reconhecem	o	pastor.
3.	Ele	dá	vida	às	ovelhas.	“O	ladrão	não	vem	senão	a	roubar,	a	matar	e	a	destruir;
eu	vim	para	que	tenham	vida,	e	a	tenham	em	abundância”.	O	Senhor	ainda	tem
em	mente	o	falso	pastor,	o	ladrão	das	almas	-	o	homem	que,	sem	real	amor	pela
causa,	se	estabelece	como	líder	religioso	baseado	no	seu	próprio	egoísmo,	o
homem	que	não	deseja	que	as	ovelhas	tenham	livre	acesso	ao	Reino	dos	Céus
(Mt	23.13).
No	sentido	mais	amplo,	a	palavra	“ladrão”	pode	representar	Satanás,	o	inimigo
das	nossas	almas,	que	quer	nos	despojar	da	nossa	paz	e	alegria,	e	dar	o	golpe
derradeiro	em	nossa	vida	espiritual.
Em	contraste	com	a	obra	dos	falsos	pastores,	Jesus	declara:	“Eu	vim	para	que
tenham	vida,	e	a	tenham	em	abundância”.	Jesus	oferece	a	plenitude	da	vida.	O
melhor	comentário	acerca	destas	palavras	encontra-se	no	Salmo	23,	o	Salmo	do
Bom	Pastor.	Não	fomos	vocacionados	para	viver	uma	vida	de	fraqueza	e
incapacidade;	e	sim	para	que	tenhamos	a	vida	abundante,	a	vida	vitoriosa.
Muitas	pessoas	simplesmente	existem;	Cristo	quer	que	vivam.
4.	O	Pastor	morre	pelas	ovelhas.	“Eu	sou	o	bom	Pastor;	o	bom	Pastor	dá	a	vida
pelas	ovelhas.”	Jesus	assim	se	destaca	do	mercenário	(v.	12),	que	pensa	ser	o
pastorado	uma	profissão,	como	a	de	porqueiro,	vinhateiro,	pedreiro,	advogado,
médico	ou	negociante.	O	mercenário	não	se	preocupa	com	as	ovelhas;	procura
apenas	salário.	Sua	disposição	não	é	ver	o	quanto	pode	dar	de	si	às	ovelhas,	e
sim	o	quanto	pode	arrancar	delas.	É	natural	que	fuja	quando	se	aproxima	o
perigo,	porque	o	motivo	dominante	no	seu	trabalho	é	a	autopreservação.	Em
contraste	com	tal	atitude,	o	objetivo	do	verdadeiro	pastor	é	procurar	para	suas
ovelhas	uma	vida	mais	abundante.	Na	Palestina,	a	devoção	dos	pastores	às	suas
ovelhas	muitas	vezes	tem	levado	alguns	deles	a	morrer	na	luta	contra	feras	ou
salteadores.
O	Senhor	Jesus	considera	a	raça	humana	necessitada	como	rebanho	seu	(Mt
9.36),	fazendo	pelas	suas	ovelhas	o	supremo	sacrifício.	Não	somente	morreu	em
prol	delas,	como	também	ressuscitou	para	lhes	dar	a	vida	(Hb	13.20)	-	voltou
para	o	Céu	com	a	intenção	de	levá-las	consigo.	Removeu	a	peçonha	da	taça	da
morte,	para	transformá-la	em	simples	soporífico	visando	o	despertar	saudável,	de
modo	que	seus	seguidores	possam	dizer,	como	Davi:	“Ainda	que	eu	ande	pelo
vale	da	sombra	da	morte,	não	temerei	mal	nenhum,	porque	tu	estás	comigo”.
II	-	Ensinamentos	Práticos
1.	“Eu	sou	a	porta”.	O	cego	curado	foi	expulso	da	igreja	oficial,	mas	sua
excomunhão	o	promoveu,porque	passou	da	sinagoga	para	o	Salvador.	Podiam
excluí-lo	de	uma	instituição,	mas	não	do	Céu.	“Eu	sou	a	porta”,	disse	Jesus.
Muitas	pessoas	piedosas	e	tementes	a	Deus	têm	sido	excluídas	das	igrejas
durante	a	história	da	cristandade,	e	isto	não	é	de	se	estranhar,	porque	o	próprio
Senhor	tem	sido	excluído	de	tantas	delas!	Veja	Apocalipse	3.20.	Certas	igrejas,
como	a	de	Laodicéia,	que	deixam	Cristo	fora	da	porta,	são	mais	clubes	religiosos
do	que	igrejas	de	Cristo,	e	há	mais	vantagem	espiritual	em	ficar	fora	delas.
Ao	longo	dos	séculos,	a	igreja	mundana	tem	excomungado	e	destruído	a	muitos,
denunciando-os	como	“hereges”,	por	terem	deixado	a	consciência,	iluminada
pela	Palavra	de	Deus,	ser	o	árbitro	das	suas	vidas.	Líderes	eclesiásticos,
pensando	possuir	as	“chaves	do	reino	do	Céu”,	imaginam	que	podem	excluir
pessoas	do	céu.	Não	podem,	no	entanto,	separar	de	Cristo	estas	nobres	almas,
nem	afastá-las	daquele	que	é	“santo,	o	que	é	verdadeiro,	o	que	tem	a	chave	de
Davi;	o	que	abre,	e	ninguém	fecha;	e	fecha,	e	ninguém	abre”	(Ap	3.7).
O	Senhor	Jesus	se	opõe	a	qualquer	forma	de	exclusão	injusta:	repreendeu	os
discípulos	quando	queriam	afastar	as	crianças	dos	seus	ternos	cuidados	e	quando
queriam	excluir	um	obreiro	desconhecido	do	privilégio	do	serviço	(Lc	9.49,50).
2.	Profissionalismo	religioso.	Por	que	os	fariseus	excomungaram	o	cego	curado
por	sua	lealdade	a	Cristo?	Seja	qual	tenha	sido	a	explicação	deles,	Jesus
mostrou,	no	seu	discurso,	que	o	motivo	real	foi	o	profissionalismo.	Os	líderes
religiosos	haviam	caído	no	erro	que	prende	os	potentados	eclesiásticos,	a	saber,
que	o	povo	existe	em	prol	deles,	e	não	eles	para	servir	ao	povo.	Quando,
portanto,	o	cego	curado	não	se	dobrou	diante	das	vontades	deles,	quando	não
aceitou	suas	opiniões,	quando	refutou	os	seus	argumentos,	então	deram	vazão	à
sua	ira,	com	ultrajes	e	exclusão	de	privilégios	religiosos.
O	profissionalismo	surge	quando	o	pastor	usa	sua	posição	e	as	pessoas	como
trampolim	para	sua	autopromoção,	realização	profissional	em	posição	e	salário.
Passa	a	ser	o	“mercenário”	que	vive	às	custas	das	pessoas,	e	não	em	prol	delas.
Não	entra	no	ministério	através	da	porta	que	é	Cristo;	força	caminhos	por	meios
humanos.	O	obreiro	cristão	é	dominado	pelos	únicos	motivos	aceitáveis:	amor	a
Cristo	e	paixão	pelas	almas.
3.	Ovelhas	doentes	são	logradas.	Pastores	no	Oriente	dizem	que	em	caso	de
doença	as	ovelhas	podem	ser	induzidas	a	seguir	um	falso	pastor.	O	mesmo	se
pode	dizer	da	vida	espiritual.	Embora	seja	possível	crentes	sinceros	serem
levados	a	seguir	um	falso	mestre	disfarçado	em	manto	de	piedade	e	fidelidade	à
sã	doutrina,	é	geralmente	quando	as	pessoas	ficam	longe	da	comunhão	com
Deus	e	espiritualmente	frias	que	se	tornam	presas	fáceis	de	falsas	seitas	e
invencionices	religiosas	(cf.	1	Tm	1.5,6;	2	Tm	3.5,6).	Paulo	deseja	ardentemente
que	cada	crente	seja	edificado:	“Até	que	todos	cheguemos	à	unidade	da	fé,	e	ao
conhecimento	do	Filho	de	Deus,	a	varão	perfeito,	à	medida	da	estatura	completa
de	Cristo.	Para	que	não	sejamos	mais	meninos	inconstantes,	levados	em	roda	por
todo	vento	de	doutrina,	pelo	engano	dos	homens	que	com	astúcia	enganam
fraudulosamente”	(Ef	4.13,14).
4.	As	ovelhas	ouvem	a	sua	voz.	Estas	palavras	sugerem	o	teste	do	discipulado;	a
palavra	“ouvir”	significa	ter	atenção	e	obediência.	Se	somos	ovelhas	de	Cristo,
obedecemos	e	seguimos	a	Ele.	Se	somos	ovelhas	de	Cristo,	o	Pastor	nos
procurará	e	chamará	mesmo	quando	andamos	desgarrados	e	desobedientes.	Às
vezes	Ele	nos	acha	em	situações	vergonhosas:	dias	passados	sem	oração,	com
coração	endurecido,	pensamentos	cínicos,	pecando	por	comissão	ou	por
omissão.	Quantas	vezes	a	sua	voz	já	nos	despertou	para	uma	renovação
espiritual,	em	vida	e	obediência!
5.	Comunhão	e	serviço.	“Entrará,	e	sairá”.	Há	dois	lados	na	vida	espiritual.	Para
termos	um	ministério	bem	equilibrado,	precisamos	“entrar”	em	momentos	de
profunda	comunhão	com	Deus	e	“sair”	para	nossa	obra	cristã	entre	nossos
semelhantes.	Existe	a	tendência	aos	extremos:	alguns	“entram”,	mas	não	“saem”
em	serviço	ativo;	outros	sempre	estão	“saindo”	em	atividades	enérgicas,	mas	não
“entram”	para	receberem	a	renovação	das	forças	e	inspiração.	O	Senhor	Jesus	é
nosso	exemplo	quanto	a	isto:	antes	do	raiar	do	sol,	estava	a	sós,	em	comunhão
com	Deus;	durante	as	horas	úteis	do	restante	do	dia,	servia	aos	homens.
6.	A	vida	mais	abundante.	Como	cristãos,	possuímos	a	vida;	será,	porém,	que	já
possuímos	toda	a	sua	plenitude	e	abundância?	Temos	a	verdadeira	alegria	de
viver?	Estamos	tendo	sucesso	em	nos	sobrepujar	às	provações?	Estamos
servindo	ao	Senhor	segundo	o	nosso	próprio	e	fraco	modo,	ou	na	força	do	seu
poder?	Cristo	nos	oferece	a	vida	mais	abundante.	Podemos	assumir	os	deveres
da	nossa	vocação	em	Cristo,	sabendo	que	Ele	não	nos	lançará	em	rosto	as	nossas
fraquezas,	porque	prometeu:	“Recebereis	poder”.
13
A	Ressurreição	de	Lazaro
Texto:	João	11
Introdução
A	série	de	milagres	de	Cristo,	realizados	antes	da	crucificação	e	registrados	no
Evangelho	de	João,	chega	ao	seu	ponto	alto	com	o	sétimo	milagre	-	o	da
ressurreição	de	Lázaro.	Coroa	os	demais	milagres	de	modo	triste,	e	de	modo
alegre.
É	o	milagre	culminante,	no	sentido	triste.	Os	dez	capítulos	anteriores	indicam	de
que	maneira	Jesus	se	revelou	aos	judeus,	de	todos	os	modos	diferentes	que
pudessem	inspirar	a	verdadeira	fé,	e	narram	como	cada	nova	revelação	só	servia
para	enchê-los	de	amargura	e	dureza,	até	que	a	hostilidade	deles	chegasse	a	um
ponto	desesperador.	Jesus	se	manifestou	como	Doador	da	vida,	mas	não	queriam
chegar	a	Ele	a	fim	de	receberem	esta	vida;	Jesus	declarou-lhes	ser	o	Pão	da	Vida,
mas	não	tinham	apetite	por	comida	espiritual;	Jesus	proclamou	ser	a	Luz	do
mundo,	mas	eles	preferiram	andar	nas	trevas;	Jesus	disse	que	era	o	Bom	Pastor;
eles,	porém,	não	queriam	ouvir	a	sua	voz	nem	ser	guiados	por	Ele.	Agora,
finalmente,	comprova	ser	Ressurreição	e	a	Vida,	e	planejam	condená-lo	à	morte.
Crime	dos	crimes:	mataram	o	Autor	da	vida!	(At	3.15).
A	ressurreição	de	Lázaro	é	o	milagre	culminante,	no	sentido	alegre:	é	o	sinal
externamente	visível	de	que	o	Cristo	de	Deus	já	venceu	a	morte	e	a	sepultura.
Depois	da	operação	deste	milagre,	bem	podemos	exclamar:	“Onde	está,	ó	morte,
o	teu	aguilhão?	Onde	está,	ó	inferno,	a	tua	vitória?”	(1	Co	15.55).
I	-	Jesus	e	o	Sofrimento	(Jo	11.1-16)
1.	O	recado.	“Senhor,	eis	que	está	enfermo	aquele	que	tu	amas”.	Foi	este	o
recado	que	Marta	e	Maria	enviaram	para	seu	Mestre	e	amigo,	enquanto	Ele
estava	na	região	além	do	Jordão.
2.	O	atraso.	“Ouvindo	pois	que	estava	enfermo,	ficou	ainda	dois	dias	no	lugar
onde	estava”.	Parece	estranho	este	deliberado	atraso,	em	vez	da	pressa	para
chegar	ao	lado	do	leito	de	dores	daquele	a	quem	amava.	Imagine	os	sentimentos
das	irmãs	enquanto	as	longas	horas	foram	se	passando	sem	que	Jesus	aparecesse,
enquanto	a	vida	do	irmão	estava	regredindo.	Talvez	tenham	ficado	sujeitas	à
tentação	de	levantar	a	dúvida:	“Será	que	ele	realmente	se	importa?”	O	Senhor,
porém,	tinha	um	propósito	específico	nesta	demora:	o	poder	e	a	glória	de	Deus
estavam	para	ser	revelados	mediante	a	ressurreição	de	um	homem	que	morrera
havia	quatro	dias.	Foi	atraso	apenas	segundo	as	aparências	humanas;	segundo	o
horário	planejado	por	Deus,	Jesus	chegou	na	hora	combinada.
3.	O	apelo.	Quando,	depois	de	dois	dias,	o	Senhor	anunciou	seu	propósito	de	ir
para	a	Judéia,	os	discípulos	fizeram-lhe	um	apelo	no	sentido	de	que	evitasse
colocar	em	risco	a	sua	vida.	A	resposta	de	Jesus	dá	a	entender	o	seguinte:	“O
tempo	determinado	para	o	exercício	do	meu	ministério	não	se	esgotou;	portanto,
estarei	seguro	na	Judéia,	e	vocês	também;	esgotado	este	prazo,	então	correrei
perigo	de	morte”	(v.	9,10).
4.	A	notificação.	Jesus	proclamou	seu	propósito	de	ressuscitar	Lázaro	da	morte.
“Lázaro	está	morto;	e	folgo,	por	amor	de	vós,	de	que	eu	lá	não	estivesse,	para
que	acrediteis”.	O	leitor	também	está	alegre	porque	Jesus	não	estava	ali	quando
Lázaro	morreu?	Por	quê?
II	-	Jesus	e	os	Que	Sofrem	(Jo	11.17-28)
Jesus,	chegando	ali,	encontrou	a	seguinte	situação:	Lázarojá	estava	na	sepultura,
e	Maria	e	Marta	estavam	enlutadas	na	casa	de	amigas.	Quando	chegou	a	elas	a
notícia	de	que	Jesus	se	aproximava,	“ouvindo	pois	Marta	que	Jesus	vinha,	saiu-
lhe	ao	encontro;	Maria,	porém,	ficou	assentada	em	casa”	(v.	20).
1.	A	delicada	censura.	“Disse	pois	Marta	a	Jesus:	Senhor,	se	tu	estiveras	aqui,
meu	irmão	não	teria	morrido”	(v.	21).	Provavelmente,	havia	no	íntimo	de	Marta
uma	luta	entre	a	confiança	e	a	dúvida.	A	resposta	de	Jesus,	ao	receber	a	notícia
da	enfermidade	de	Lázaro,	fora:	“Esta	enfermidade	não	é	para	morte,	mas	para	a
glória	de	Deus;	para	que	o	Filho	de	Deus	seja	glorificado	por	ela”	(v.	4).	Agora,
porém,	o	irmão	dela	estava	morto.	Como	harmonizar	a	promessa	de	Jesus	com
as	condições	reais?
Marta	viu	sua	fé	submetida	a	três	provas.	A	primeira:	a	ausência	de	Jesus.	Todos
poderiam	ter	faltado,	mas	a	presença	dEle	ao	lado	do	irmão	era	indispensável.	A
segunda:	a	demora	de	Jesus.	Esperava-se	que	ele	comparecesse	juntamente	com
o	mensageiro	que	fora	procurá-lo;	Ele,	porém,	adiou	a	viagem.	A	terceira:	a
perda	do	ente	querido.	O	irmão	estava	morto,	mas	poderia	estar	com	vida	se
Jesus	estivesse	presente.	A	noite	era	escura,	sem	nenhuma	luz	a	não	ser	a	da
futura	ressurreição,	que	parecia	tão	perdida	na	distância.	Ela	não	tinha	percebido
quão	perto	estava	a	Ressurreição!
2.	A	gloriosa	promessa.	“Disse-lhe	Jesus:	Teu	irmão	há	de	ressuscitar”	(v.	23).
Jesus	se	referia	ao	milagre	que	estava	para	operar;	Marta,	no	entanto,	não
compreendeu,	e	replicou:	“Eu	sei	que	há	de	ressuscitar	na	ressurreição	do	último
dia”.	Então	declarou	Jesus:	“Eu	sou	a	ressurreição	e	a	vida;	quem	crê	em	mim,
ainda	que	morra,	viverá”.	Marta	acreditava	que	Jesus	poderia	ter	sido	a
Ressurreição	(v.	21),	e	que,	no	fim	do	mundo,	seria	a	Ressurreição.	O	Senhor
Jesus	Cristo,	em	virtude	da	sua	natureza	divina,	diz:	Eu	sou.	Não	é	tarde	demais
para	ressuscitar	Lázaro,	nem	é	cedo	demais	para	a	ressurreição;	hoje	mesmo,	Eu
sou	a	ressurreição	deste	irmão	(cf.	Hb	13.8).	Note	que	“a	ressurreição	e	a	vida”
representam	causa	e	efeito:	Jesus	é	a	ressurreição	porque	é	a	vida.	É	a	vida	que
produz	a	ressurreição.
Jesus	é	a	ressurreição;	segue-se,	portanto,	que	“quem	crê	em	mim,	ainda	que
esteja	morto,	viverá”.	Os	que	morrem	no	Senhor	continuam	a	viver,	a	despeito
da	desintegração	do	corpo,	e	passarão	a	ter	um	corpo	espiritual	(Fp	1.23;	2	Co
5.1-6;	1	Ts	4.13,14).	Jesus	é	a	vida;	segue-se,	portanto,	que	“todo	aquele	que
vive,	e	crê	em	mim,	nunca	morrerá”.	Os	crentes	em	Cristo	nunca	morrem	no
sentido	comum	do	conceito	da	morte;	para	eles,	a	morte	não	é	o	fim;	é	o	passar
de	um	estado	de	vida	para	um	estado	mais	sublime.	Não	há	nenhum	instante	de
interrupção	da	sua	vida	de	fé	e	de	comunhão	com	Deus;	o	crente	adormece	no
que	diz	respeito	a	esta	vida	e,	neste	mesmo	instante,	já	está	despertado	na	vida
eterna,	além	do	túmulo.
3.	O	testemunho	da	fé.	“Crês	tu	isto?”	pergunta	Jesus.	Marta	crê	que	Jesus	é	o
Senhor	da	vida	e	da	morte?	A	sua	fé	nas	verdades	divinas	da	ressurreição	e	da
vida	eterna	após	a	morte	está	centralizada	na	pessoa	de	Cristo?	Marta	respondeu:
“Sim,	Senhor,	creio	que	tu	és	o	Cristo,	o	Filho	de	Deus,	que	havia	de	vir	ao
mundo”.	Note	que	Marta	estava	aprendendo	a	crer	-	não	tanto	em	fatos,	mas	sim
na	pessoa	de	Jesus	Cristo.	Quem	tem	o	próprio	Cristo,	possui	todas	as	coisas	que
Ele	oferece;	quem	tem	o	próprio	Doador,	recebe	todas	as	dádivas.
Marta	se	sentia	satisfeita	e	plena	de	certeza	ao	ouvir	as	graciosas	palavras	do
Mestre,	e	o	testemunho	que	deu	de	sua	fé	completou-lhe	a	paz	e	alegria:	“E,	dito
isto,	partiu”	(v.	28).	Tão	logo	chegou	em	casa,	chamou	sua	irmã,	Maria.	Sentia
fogo	celestial	na	alma,	e	sua	taça	de	alegria	transbordava.	Por	isso	sentiu	forte
desejo	de	compartilhar	com	alguém	a	sua	felicidade.	A	genuína	fé	em	Cristo	é
comunicativa	(cf.	Jo	1.36-42;	4.28-30).	“Partiu,	e	chamou	em	segredo	(havia
outras	pessoas	na	casa)	a	Maria,	sua	irmã,	dizendo:	O	Mestre	está	cá,	e	te
chama”.	Aquele	recado	é	o	que	a	igreja	de	Cristo	transmite	a	todos	os	que	estão
vivendo	no	meio	do	pecado,	da	tristeza	ou	das	trevas	espirituais:	“O	Mestre	está
cá,	e	te	chama”	(cf.	Mc	10.49).
III	-	Jesus	e	a	Morte	(Jo	11.38-44)
1.	A	emoção.	Enquanto	Jesus	contemplava	a	profunda	tristeza	de	Maria	e	dos
amigos	enlutados,	duas	emoções	lhe	perturbavam	o	espírito.	A	primeira,	uma
mistura	de	tristeza	e	simpatia:	“Jesus	chorou”	(v.	35).	A	segunda	era	uma	mistura
de	indignação	e	perturbação:	Jesus	“moveu-se	muito	em	espírito,	e	perturbou-se”
(v.	33,38).	Aqui,	a	palavra	“moveu-se”	contém	o	significado	de	“indignar-se”,
segundo	o	grego	bíblico	original.	Sua	indignação	se	dirigia	contra	a	origem	da
morte,	da	doença	e	do	sofrimento	-	contra	o	próprio	pecado.	Contemplava	os
horrores	da	morte	como	salário	do	pecado,	as	angústias	do	mundo,	das	quais
tinha	diante	de	si	uma	pequena	amostra.	Pensava	em	todos	os	enlutados	do
mundo.	Sim,	estava	para	enxugar	as	lágrimas	das	pessoas	ali	presentes.	Estava
para	lhes	oferecer	alegria	em	lugar	de	tristeza,	mas	isto	não	alterava	a	situação	de
modo	permanente:	Lázaro	ressurgiria,	mas	voltaria	a	provar	a	amargura	da
morte.	As	lágrimas	voltariam	a	correr	-	e	quantos	choram	sem	ter	o	Salvador	por
perto	para	enxugá-	las,	ainda	que	só	uma	vez?	Jesus	sentiu	assim	grande
indignação	contra	o	causador	de	todos	estes	males	e	quis	imediatamente	entrar
na	luta	contra	o	diabo	e	seus	poderes	nefastos	revelados	na	desgraça	humana.
Começa	a	saquear	os	despojos	do	maligno,	como	prova	de	que	chegou	o	mais
forte	(Mt	12.29).
As	lágrimas	de	Jesus	revelam	sua	compaixão	pelas	nossas	aflições,	e	sua
comoção	revela	indignação	contra	o	pecado,	que	causa	todas	as	desgraças.
2.	A	ordem.	“Jesus	pois,	movendo-se	outra	vez	muito	em	si	mesmo,	veio	ao
sepulcro;	e	era	uma	caverna,	e	tinha	uma	pedra	posta	sobre	ela.	Disse	Jesus:	Tirai
a	pedra”	(v.	38,39).	Jesus	muito	facilmente	poderia	ter	mandado	Lázaro	passar
direto	pela	porta	de	pedra,	mas	não	fará	aquilo	que	podemos	fazer	por	nós
mesmos;	é	nosso	privilégio	cooperar	com	Cristo	em	sua	obra;	é	nosso	exercício
para	nosso	crescimento	espiritual;	é	nossa	oportunidade	de	ter	mais	íntima
comunhão	com	Ele.
3.	A	ressalva.	“Marta,	irmã	do	defunto,	disse-lhe:	Senhor,	já	cheira	mal,	porque	é
já	de	quatro	dias”	(v.	39).	Conhecendo	a	rápida	decomposição	dos	cadáveres	em
países	quentes,	Marta	estremece	ao	pensar	como	estaria	o	corpo	do	seu	irmão;
não	podia	crer	que	Jesus	já	tinha	tomado	sobre	si	o	zelo	pelo	cadáver	no	túmulo,
protegendo-	o	da	corrupção.
Jesus	põe	fim	a	tal	descrença	com	a	suave	censura:	“Não	te	hei	dito	que,	se
creres,	verás	a	glória	de	Deus?”	(v.	4,25,26).	Logo	passou	a	demonstrar	que	tinha
poderes	para	destruir	o	poder	da	morte,	tirando-lhe	o	aguilhão,	proclamando	que
a	morte	é	um	inimigo	derrotado.	Note-se	que	a	admoestação	de	Jesus	era:	“Se
creres,	verás”,	o	exato	oposto	do	ditado	popular:	“É	preciso	ver	para	crer.”
4.	A	oração.	“E	Jesus,	levantando	os	olhos	para	o	céu,	disse:	Pai,	graças	te	dou,
por	me	haveres	ouvido.	Eu	bem	sei	que	sempre	me	ouves,	mas	eu	disse	isto	por
causa	da	multidão	que	está	em	redor,	para	que	creiam	que	tu	me	enviaste”	(v.
41,42).	Esta	não	era	uma	petição,	e	sim	ação	de	graças	pela	petição	respondida.
Jesus,	na	sua	inabalável	certeza,	já	agradece	o	milagre,	como	se	este	já	tivesse
sido	operado	(cf.	1	Jo	5.14).	A	oração	proferida	em	público	deu	aos	presentes	a
oportunidade	de	averiguar	se	Jesus	seria	um	impostor	a	ser	rejeitado	ou	o
Messias	a	ser	aceito	e	adorado	(cf.	v.	45;	1	Rs	18.36,37).
5.	O	milagre.	“E,	tendo	dito	isto,	clamou	com	grande	voz:	Lázaro,	sai	para	fora”.
Era	a	voz	da	Divindade	chamando	coisas	que	não	são,	como	se	já	existissem	(cf.
Jo	5.28,29;	1	Co	15.51,52;	1	Ts	4.16).	A	voz	do	Senhor,	re-	verberando	pelo
túmulo,	profetiza	que	um	dia	a	voz	do	Criador	há	de	ser	ouvida	ecoando	no	meio
de	todo	o	reinado	da	morte.
“E	o	defunto	saiu,	tendo	as	mãos	e	os	pés	ligados	com	faixas,	e	o	seu	rosto
envolto	num	lenço.	Disse-lhe	Jesus:	Desligai-o,	e	deixai-o	ir”	(v.	44).	Lázaro
conseguiu	sair	do	seu	túmulo,	mas	não	das	mortalhas	-	tipificandocertos	novos
convertidos	que	foram	alvos	da	poderosa	atuação	do	Espírito	de	Deus,	sem,
porém,	ter	entrado	na	plenitude	do	gozo	da	liberdade	cristã.	O	Senhor,	após
despertar	tais	pessoas	da	morte	espiritual,	envia-as	ao	pastor	da	igreja,	com	a
ordem:	“Desata-os”.	Quais	são	os	laços	que	os	prendem,	quais	as	ataduras?	A
ignorância,	que	devemos	esclarecer;	a	tristeza,	que	devemos	consolar;	as
dúvidas,	que	devemos	dissipar;	os	maus	hábitos,	que	devem	ser	desarraigados.
Se	todos	os	crentes	que	têm	coisas	amarrando	a	sua	vida	fossem	libertos	das	suas
mortalhas,	o	mundo	inteiro	se	despertaria	de	súbito	para	prestar	atenção.	Você	é
um	crente	amarrado?	Aquele	que	nos	libertou	da	morte	pode	também	libertar	do
pecado	e	da	frieza	espiritual.
IV	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Cristo	vale	mais	do	que	o	credo.	Quando	Jesus	declarou:	“Teu	irmão	há	de
ressuscitar”,	Marta	recitou,	de	modo	muito	triste,	um	artigo	do	credo	judaico:
“Eu	sei	que	há	de	ressuscitar	na	ressurreição	do	último	dia”.	O	único	alívio	que
sentia	era	uma	esperança	para	o	futuro	distante,	baseada	numa	doutrina.	Jesus,
no	entanto,	fez	com	que	ela	desviasse	sua	atenção	do	artigo	do	credo	para	fixá-la
nEle:	“Eu	sou	a	ressurreição	e	a	vida”,	o	que	nos	faz	entender	que	o	Cristianismo
consiste	mais	em	confiar	numa	Pessoa	divina	do	que	assentir	a	proposições
teológicas.	Não	há	proveito	em	procurar	assenhorear-se	da	teologia	sem	primeiro
aceitar	Cristo	como	Senhor.	Podemos	crer	numa	doutrina	sem	entregar	nossa
vida	a	ela	em	plena	confiança;	podemos	entendê-la	sem	que	ela	nos	transforme	o
coração;	como	Marta,	podemos	crer	na	ressurreição	sem	ter	verdadeira	fé
naquEle	que	é	a	Ressurreição	e	a	Vida.
2.	Viveremos,	porque	Ele	vive.	“Eu	sou	a	ressurreição	e	a	vida;	quem	crê	em
mim,	ainda	que	esteja	morto,	viverá”.	Com	tais	palavras,	Jesus	assegurou	a
Marta	e	Maria	que	seu	irmão	não	tinha	realmente	perecido,	que	estava	seguro.	O
mesmo	Jesus	que	tivera	doce	comunhão	com	Lázaro	durante	a	vida,	e	que	tem
poder	sobre	a	morte,	não	toleraria	que	a	morte	destruísse	o	doce	e	espiritual
convívio	cristão.
Existem	muitos	argumentos	formais	que	comprovam	a	doutrina	da	imortalidade;
o	que,	porém,	nos	dá	mais	certeza	do	que	a	fria	lógica	é	sabermos	que	estamos
em	profunda	comunhão	com	Deus	e	com	Cristo.	Imaginemos	o	servo	de	Cristo
que	andou	com	Ele	durante	muitos	anos	de	fervorosa	comunhão	espiritual,
chegando	finalmente	ao	seu	leito	de	morte.	Como	seria	possível	que	Cristo	de
repente	declarasse	rompidos	os	laços	de	amor?	Muito	pelo	contrário:	os	que
estão	“em	Cristo”	(1	Ts	4.14-17)	não	podem	ser	separados	dEle,	nem	pela	vida,
nem	pela	morte	(Rm	8.38).	É	impossível	a	idéia	de	que	quem	desfrutou	da
presença	de	Cristo	neste	mundo	tão	alheio	às	coisas	espirituais	possa	ser
separado	dEle	na	gloriosa	eternidade,	que	o	amor	de	Deus	que	nos	sustenta	no
tempo	possa	ser	cancelado	na	eternidade.
Se	alguém	pertence	a	Cristo,	tudo	quanto	é	dEle	será	operante	também	na	sua
vida:	se	Cristo	é	a	Ressurreição	e	a	Vida,	esta	realidade	será	transmitida	ao
crente.	Estamos	vinculados	a	Jesus	Cristo	mediante	o	Espírito,	a	vida	eterna	já
raiou	em	nossa	alma,	e	estamos	caminhando	para	a	vida	eterna,	no	Céu.
3.	As	lágrimas	de	Jesus.	“Jesus	chorou”.	Consideraremos:
3.1.	A	causa	das	lágrimas	de	Jesus.	Tais	lágrimas	fazem	parte	da	humanidade	de
Jesus.	Apesar	de	ser	Filho	de	Deus,	Ele	sofreu	todas	as	aflições	dos	homens,
embora	sem	a	prática	do	pecado.	“E	o	Verbo	se	fez	carne”.	Sua	humanidade	não
era	fictícia;	participou	realmente	da	nossa	natureza.	As	lágrimas	brotaram	de	real
compaixão,	foram	a	resposta	do	coração	de	Jesus	ao	apelo	da	tristeza.	Suas
lágrimas	também	foram	causadas	pela	tristeza	-	tristeza	pelos	danos	causados
pelo	pecado	e	pela	morte.	Na	criação,	viu	que	tudo	quanto	fizera	era	muito	bom;
como,	portanto,	o	bom	se	transformou	em	maldade?	“Um	inimigo	fez	isso”	(Mt
13.28).
3.2.	A	natureza	das	lágrimas	de	Cristo.	Jesus	chorou	com	calma,	e	não	com
amarga	e	desesperada	angústia.	Podemos	chorar	nossos	entes	queridos,	sem,
porém,	dar	vazão	ao	desespero	que	é	característica	dos	pagãos.	Jesus	chorou	de
modo	reservado:	deu	clara	vazão	à	simpatia,	sem	participar	de	lamentações
ostensivas.	Jesus	chorou	sem	sentir	que	seria	algo	vergonhoso.	Podia	ter
escondido	as	lágrimas	e	a	tristeza,	mas	não	é	da	sua	doutrina	reprimir	a
personalidade	humana,	estrangulando	os	sentimentos	de	amor	e	compaixão.	O
estoicismo,	que	esconde	a	ternura,	pertence	ao	orgulho	carnal;	e	a	insensibilidade
ao	sofrimento	não	faz	parte	do	heroísmo.
3.3.	As	lições	tiradas	das	lágrimas	de	Jesus.	São	uma	amostra	da	eterna	natureza
de	Cristo,	da	sua	compaixão,	graça	e	misericórdia,	que	continua	derramando
sobre	nós	(Hb	4.15,16).	São	nosso	exemplo.	As	lágrimas	de	Jesus	nos	ensinam	a
demostrar	simpatia	aos	corações	tristes,	oferecendo	o	nosso	consolo;	nosso	amor
é	nada	comparado	ao	do	Filho	de	Deus,	mas	não	deixa	de	ajudar
maravilhosamente.
4.	Crer	é	ver.	“Não	te	hei	dito	que,	se	creres,	verás	a	glória	de	Deus?”	A	vida
microscópica	existe	invisível	ao	olho	humano,	e	o	mesmo	se	dá	com	incontáveis
estrelas.	Usando	o	microscópio	e	o	telescópio,	podemos	contemplar	esses
aspectos	do	Universo,	e	ninguém	ousaria	negar	sua	existência	por	não	ter	ao
alcance	tais	instrumentos.	As	eternas	coisas	de	Deus,	no	entanto,	precisam	ser
examinadas	através	da	lente	da	visão	espiritual	chamada	fé.	Como,	pois,	os
homens	do	mundo,	que	alegam	só	aceitar	o	testemunho	dos	“fatos	averiguáveis”,
ousam	negar	a	existência	das	coisas	espirituais,	quando	nunca	experimentaram
os	instrumentos	da	fé?	Querendo	entender	mais	de	Deus,	devemos	rogar	a	Ele:
“Senhor,	aumenta-nos	a	fé!”
14
Jesus	é	Ungido	por	Maria
Texto:	João	12.1-9;	Mateus	26.13
Introdução
Depois	da	ressurreição	de	Lázaro,	parecia	que	todos	os	habitantes	de	Betânia	e
de	Jerusalém	chegariam	a	crer	no	Senhor	Jesus,	e	muitos	creram	mesmo.	Outros,
porém,	foram	levar	relatório	aos	fariseus,	e	estes	convocaram	um	concí-	lio	que
determinou	matar	Jesus.	O	que	o	Mestre	dissera	com	respeito	a	um	outro	Lázaro
certamente	se	aplica	à	situação	retratada	aqui:	“Se	não	ouvem	a	Moisés	e	aos
profetas,	tampouco	acreditarão,	ainda	que	algum	dos	mortos	ressuscite”	(Lc
16.31).
Jesus,	no	entanto,	tinha	muitos	amigos	entre	o	povo	de	Betânia,	e	eles	lhe
ofereceram	uma	ceia,	talvez	de	gratidão	e	solidariedade.	Naquela	ceia,	Marta,
tipicamente	dentro	do	seu	papel,	servia,	enquanto	Maria,	caracteristicamente,
estava	aos	pés	de	Jesus	(cf.	Lc	10.38-42).	E	Lázaro,	embora	não	tenha	falado
nada	durante	o	incidente,	estava	presente	e	com	vida,	testemunha	visível	do
poder	e	virtudes	de	Jesus.
I	-	O	Ato	de	Devoção	(Jo	12.1-3)
1.	A	realização	do	ato.	Enquanto	Marta	está	ocupada	com	o	assunto	de	que
melhor	entende,	servindo	os	pratos,	Maria,	quieta	e	retraída,	medita	sobre	como
ela	também	pode	expressar	sua	devoção	ao	Mestre.	“Então	Maria,	tomando	um
arratel	de	ungüento	de	nardo	puro,	de	muito	preço,	ungiu	os	pés	de	Jesus,	e
enxugou-lhe	os	pés	com	os	seus	cabelos;	e	encheu-se	a	casa	do	cheiro	do
ungüento”.	O	ato	de	ungir	a	cabeça	era	uma	forma	de	homenagem	a	pessoas
ilustres	que	se	praticava	muito	no	Oriente.	Aqui,	no	entanto,	havia	aspectos	que,
à	primeira	vista,	pareciam	exagerados.	O	valor	do	perfume	era	muito	elevado.	A
natureza	do	frasco:	feito	de	precioso	alabastro	(um	tipo	de	mármore),	o	gargalo
tinha	que	ser	quebrado	para	liberar	o	seu	precioso	conteúdo,	que	então	tinha	que
ser	usado	de	uma	só	vez.	O	modo	da	unção:	ungir	os	pés,	além	da	cabeça,	ia
muito	além	das	mais	altas	exigências	da	hospitalidade;	além	disto,	soltou	os
cabelos	(considerado	um	ato	impróprio	para	uma	mulher	judia	fazer	em	público),
enxugando	com	eles	os	pés	de	Jesus	(facilmente	acessíveis	a	ela	enquanto	ficava
em	pé	atrás	dele,	pois	tomava-se	as	refeições	reclinando-	se	em	divãs).
2.	A	natureza	do	ato.	O	ato	de	Maria	não	era	uma	ostentação,	não	era	vaidade
para	chamar	a	atenção	para	si	mesma;	era	o	transbordar	de	dedicação	ao	Mestre,
prestes	a	ser	removido	para	longe	dela,	pela	morte.	Maria,	desta	forma,
demonstrou	as	seguintes	emoções:
2.1.	Afeiçãobaseada	não	em	sentimentalismo	efusivo,	e	sim	decorrente	do
maravilhoso	toque	dos	ensinos	de	Jesus	nas	cordas	de	seu	coração.	Os	discípulos
também	tinham	sentido	aquele	toque	maravilhoso	quando	disseram:	“Senhor,
para	quem	iremos	nós?	Tu	tens	as	palavras	da	vida	eterna”	(6.68).
2.2.	Gratidão.	Agradecia	todos	os	bondosos	atos	de	Jesus,	inclusive	a
ressurreição	de	Lázaro,	e	queria	demonstrar	sua	gratidão	de	maneira
inconfundível.
2.3.	Inteira	consagração.	Longe	de	procurar	contar	umas	poucas	gotas	com
sovina	restrição,	derramou	a	totalidade	do	conteúdo	do	frasco	-	todo	o	precioso
perfume.	Foi	sua	maneira	de	simbolizar	a	totalidade	da	sua	alma	a	derramar-se
diante	de	Cristo	em	inteira	consagração.
2.4.	A	renúncia	das	posses.	Por	mais	valioso	que	fosse	o	perfume,	Maria
considerava	que	nada	poderia	ser	bom	demais	para	seu	Senhor.
II	-	A	Crítica	Vil	(Jo	12.4-6)
O	egoísmo	mal-humorado	e	sinistro	de	Judas	forma	um	pano	de	fundo	escuro
para	o	brilho	da	pureza	do	ato	de	Maria.	A	bondade	sempre	provoca	o	mal	a	se
revelar;	atos	de	dedicação	sempre	despertaram	críticas	dos	sábios	e	dos	que
procuram	os	bens	deste	mundo.	A	crítica	de	Judas	era:
1.	Aparentemente	razoável.	“Então	um	dos	seus	discípulos,	Judas	Iscariotes,
filho	de	Simão,	o	que	havia	de	traí-lo,	disse:	Por	que	não	se	vendeu	este
ungüento	por	trezentos	dinheiros	e	não	se	deu	aos	pobres?	Mateus	e	Marcos
mencionam	que	esta	objeção	surgiu	da	parte	dos	discípulos.	João,	porém,
esclarece	quem	deu	origem	ao	murmúrio	deles.	À	primeira	vista,	parece	haver
alguma	lógica.	Jesus	vivia	na	terra	sem	ter	bens,	e	talvez	alguém	pudesse	dizer
que	necessitaria	de	um	lar	para	morar	e	do	valor	em	dinheiro	do	perfume,	e	que
demonstrações	como	aquela	eram	reservadas	exclusivamente	para	príncipes	e
pessoas	da	mais	destacada	importância,	não	sendo	cabíveis	no	caso	de	quem	era
tão	humilde	de	atitudes	e	aparência.	Além	disso,	reinava	grande	pobreza	em	toda
a	Palestina.
2.	Fundamentalmente	insincera.	A	insinceridade	da	objeção	é	explicada	por	João
e	pelas	palavras	que	Jesus	falou	em	defesa	de	Maria.	O	único	“pobre”	com	que
se	preocupava	Judas	era	ele	mesmo!	A	maior	parte	dos	críticos	que	resmungam
quando	se	gasta	dinheiro	na	construção	de	templos	e	em	campanhas	de
reavivamento,	pouca	coisa	fazem	em	prol	dos	pobres,	às	custas	deles	mesmos.
“Ora	ele	disse	isto,	não	pelo	cuidado	que	tivesse	dos	pobres,	mas	porque	era
ladrão,	e	tinha	a	bolsa,	e	tirava	o	que	ali	se	lançava.”	O	mesmo	homem	que	tinha
obje-	ções	contra	o	mau	emprego	de	300	moedas	estava	para	vender	Jesus	por
apenas	30.	Judas	revelou	sua	irritação.	Decerto	pensava	ser	tesoureiro	rico	e
poderoso	no	reino	messiânico,	e	ficou	amargurado	quando	Jesus	rejeitou	a
possibilidade	de	ser	coroado	rei	após	o	milagre	da	multiplicação	dos	pães.	Sentiu
que	seria	melhor	salvar	a	sua	situação	diante	das	autoridades	e	ainda	tirar	um
pequeno	lucro.	Tais	pensamentos	fizeram	com	que	Judas	se	irritasse	com	o
“desperdício”	de	dinheiro	que	poderia	ter	passado	para	o	bolso	dele,	e	deram	ao
diabo	oportunidade	de	manipulá-lo.
III	-	A	Vigorosa	Defesa	(Jo	12.7,8)
Maria	não	foi	deixada	à	mercê	de	um	desalmado	traidor	e	dos	discípulos	sem
discernimento.	O	Mestre	tomou	a	palavra:
1.	Repreendeu	os	críticos.	“Deixai-a”.	Não	era	a	primeira	vez	que	Maria	se
tornava	alvo	de	críticas,	Marta	se	queixava	do	desperdício	de	tempo	de	Maria
(Lc	10.38-	42).	Agora,	Judas	a	acusava	de	desperdiçar	dinheiro.	Os	que	querem
seguir	fielmente	ao	Senhor	não	devem	se	sentir	surpresos	quando	se	tornam
alvos	de	críticas,	porque	“o	homem	vê	o	exterior;	porém	o	Senhor,	o	coração”.
2.	Elogiou	o	ato.	“Ela	fez-me	boa	obra”	(Mc	14.6).	Cristo	viu	a	preciosidade	do
ato,	e	não	a	do	perfume;	viu	o	incomparável	preço	de	uma	vida	consagrada;	viu
o	espírito	de	quem	ofereceu	a	homenagem.
3.	Explicou	o	propósito.	“Antecipou-se	a	ungir	o	meu	corpo	para	a	sepultura”
(Mc	14.8).	Maria,	com	discernimento	espiritual,	sentia	que	seria	esta	a	última
oportunidade	de	se	prestar	homenagem	ao	Senhor	durante	a	sua	vida	na	terra,
revestido	de	carne	mortal.	Jesus,	em	sua	resposta,	deixou	transparecer	que	só	ela
chegou	em	tempo	de	lhe	oferecer	o	carinho	final,	o	que	outros	não	conseguiriam
fazer	(Lc	23.56;	24.3).
4.	Reformulou	a	sugestão.	“Porque	os	pobres	sempre	os	tendes	convosco,	mas	a
mim	nem	sempre	me	tendes”.	A	sugestão	era	boa,	e	os	discípulos	ainda	teriam
muitas	oportunidades	para	fazer	o	bem	aos	pobres,	não	devendo	se	esquivar
deste	mister;	naquele	momento,	porém,	estavam	se	esgotando	as	oportunidades
de	dar	algo	ao	Filho	do	homem,	antes	da	crucificação.	Maria	corria	menos
perigo	de	se	esquecer	dos	pobres	do	que	os	discípulos;	quem	demonstra	amor	e
carinho	com	o	Senhor	não	deixará	de	ser	generoso	para	com	o	seu	próximo.
IV	–	O	Glorioso	Galardão	(Mt	26.13)
“Em	verdade	vos	digo	que,	onde	quer	que	este	evangelho	for	pregado,	em	todo	o
mundo,	também	será	referido	o	que	ela	fez,	para	memória	sua”.	Maria,	no
cumprimento	daquele	gesto	de	amor,	nem	de	longe	sonhava	que	haveria	de
receber	o	galardão	da	fama	universal	por	toda	a	história	humana.	Não	tinha	a
mínima	intenção	de	ser	retribuída.	Estava	apenas	pensando	no	Senhor.	Ele,
porém,	não	deixa	nenhum	gesto	de	bondade	passar	sem	a	devida	recompensa
(Mt	10.42).
Por	que	o	registro	do	ato	de	dedicação	e	altruísmo	da	parte	de	Maria	tinha	que
acompanhar	a	pregação	do	Evangelho	em	todo	o	mundo?	Porque	é	um	exemplo
do	espírito	que	é	a	essência	do	Evangelho	-	o	espírito	de	abnegação,	altruísmo,
dedicação.
Há	também	alguma	semelhança	entre	o	espírito	do	ato	de	Maria	e	o	que	levou
Jesus	a	morrer	na	cruz.
1.	Semelhança	de	motivo.	Assim	como	o	mais	puro	amor	levou	Maria	a
derramar	o	perfume,	assim	também	o	amor	divino	levou	Jesus	a	derramar	sua
vida	em	sacrifício	na	cruz.
2.	Semelhança	de	abnegação.	O	valor	do	perfume	é	ressaltado	por	três
evangelistas;	era	o	equivalente	ao	salário	de	um	ano,	uma	soma	vultosa	em	si
mesma	e	uma	despesa	enorme	para	Maria.	Não	foi	à	toa	que	Jesus	disse:	“Esta
fez	o	que	podia”	(Mc	14.8).	Compreendia	e	dava	valor	à	abnegação	dela,	porque
Ele	também	fez	o	que	pôde,	derramando	tudo	quanto	era	e	tinha	para	remir	a
humanidade.	Esvaziou-se	a	si	mesmo;	fez-se	pobre;	tornou-se	em	todos	os
aspectos	semelhante	aos	filhos	dos	homens	a	fim	de	redimi-los.
3.	Semelhança	de	magnificência.	O	que	os	discípulos	consideravam	desperdício,
era	a	grande	e	generosa	magnificência	do	amor.	Cristo	não	mediu	seu	sangue	em
gotas	na	proporção	do	número	de	pessoas	que	aceitariam	seu	sacrifício,	nem
limitou	o	alcance	da	salvação	obtida	na	cruz;	ofereceu	uma	expiação	suficiente
para	dar	cobertura	aos	pecados	do	mundo	inteiro.	O	Evangelho	proclama	seu	ato
de	amor	ao	morrer	pelos	pecadores,	é	a	boa-nova	para	o	mundo	inteiro.	Assim
como	o	perfume	de	Maria,	não	medido	em	gotas,	expandia-se	pelo	ambiente
inteiro,	Jesus	quis	que	o	suave	aroma	do	seu	sacrifício	fosse	espalhado	por	todas
as	nações,	produzindo	uma	atmosfera	de	salvação.
V	–	Ensinamentos	Práticos
1.	A	crítica	e	a	consagração	cristã.	As	críticas	provocadas	pelo	ato	de	devoção	de
Maria	nos	ensinam	que	todos	aqueles	que	se	consagram	plenamente	ao	Senhor	e
vivem	à	altura	dessa	dedicação	podem	saber	que	os	conhecidos,	sem
discernimento	espiritual,	lhes	perguntarão:	“Por	que	tanto	desperdício?”
Ninguém	fala	em	desperdício	quando	se	arriscam	vidas	e	se	gastam	fábulas	em
viagens	espaciais.	Quando,	porém,	pessoas	dedicam	e	dão	suas	vidas	pela	causa
de	Cristo,	há	fortes	clamores	de	indignação	contra	tal	“desperdício”.	Qualquer
pessoa	que	já	fez	algo	de	especial	para	o	Senhor,	que	tenha	lhe	custado	tempo,
dinheiro	ou	esforço	penoso,	pode	testificar	que	houve	quem	protestasse.	Não
sigamos	a	religião	de	Judas.	Se	nossa	ação	tem	a	aprovação	do	Mestre,	não	nos
importa	o	que	o	mundo	disser.
2.	Homenagem	póstuma.	Alguns	discípulos	foram	ungir	Jesus	depois	da	sua
morte.	Jesus	defendeu	a	ação	de	Maria	explicando	que	ela	queria	ungi-lo
enquanto	Ele	ainda	estivesse	com	vida,	a	fim	de	que	pudesse	tirar	alento	do
gesto.	Devemos	mostrar	nosso	apreço	aos	nossos	entes	queridos	enquanto	estão
com	vida,precisando	da	nossa	afeição	e	apreciação.	As	flores	enviadas	depois	da
morte	não	poderão	encobrir	nossos	remorsos	por	não	termos	mostrado	o	nosso
carinho	quando	a	pessoa	estava	em	condições	de	recebê-lo.
3.	Originalidade	no	amor.	Judas,	seguido	pelos	demais	discípulos,	só	conhecia
uma	maneira	de	aplicar	dinheiro	na	prática	do	bem.	Maria,	com	a	originalidade
do	verdadeiro	amor,	achou	nova	maneira	de	honrar	o	Mestre.	O	amor	sempre
descobre	novas	maneiras	de	servir;	o	amor	que	o	general	Booth	sentia	levou-o	a
descobrir	meios	de	atingir	os	favelados	em	nome	de	Cristo;	o	amor	que	Wesley
sentia	levou-o	a	penetrar	com	avivamento	espiritual	nas	classes	operárias	da
Inglaterra;	como	Maria,	não	deixaram	de	ser	alvos	de	críticas.
O	povo	de	Deus	precisa	de	mais	originalidade	e	sinceridade	em	pregar,
contribuir	e	ajudar	em	todos	os	aspectos	da	obra	de	Cristo.	E	isto	será	alcançado,
não	com	mais	treinamento,	mais	oportunidades	e	cérebro,	e	sim	com	mais
coração.	Quando	o	amor	de	Deus	é	derramado	ricamente	sobre	a	igreja,	esta
começa	a	transbordar	com	bênçãos	espirituais	que	atingem	muitas	pessoas	em
derredor.
4.	Procurando	as	oportunidades.	A	oportunidade	perdida	dificilmente	volta.	Os
discípulos	se	queixaram	do	que	pensavam	ser	desperdício	de	Maria,	quando
realmente	a	oportunidade	de	homenagear	Jesus	estava	chegando	ao	fim	-
enquanto	a	de	ajudar	aos	pobres,	que	eles	achavam	mais	importante,	estaria	no
meio	deles	dia	após	dia,	por	toda	a	sua	vida.	Maria,	portanto,	aproveitou	a
oportunidade	sem	igual,	e	recebeu	um	galardão	sem	igual.
As	oportunidades	diferem	quanto	ao	seu	valor	e	à	sua	importância.	Sábio	é	quem
consegue	interpretar	seu	valor	relativo,	rapidamente	escolhendo	aquela	que	nem
sempre	se	nos	oferece.	Algumas	oportunidades	se	oferecem	a	cada	dia;	outras
aparecem	uma	única	vez	na	vida,	e	desaparecem	para	sempre.	O	rei	Saul	tinha	a
oportunidade	de	oferecer	sacrifícios	diante	de	Deus	dia	após	dia,	mas	somente
uma	única	oportunidade	se	lhe	ofereceu	para	deixar	de	oferecer	sacrifícios,	para
obedecer	à	Palavra	de	Deus.	Perdeu	a	oportunidade,	fazendo	o	que	poderia	ter
feito	em	qualquer	outra	ocasião	(1	Sm	13.8-14).	Há	coisas	que	podem	ser	feitas	a
qualquer	hora;	outras	têm	de	ser	feitas	agora	ou	nunca.	As	atividades	que	temos
a	oportunidade	de	fazer	a	cada	dia	não	devem	nos	impedir	de	desenvolver
alguma	coisa	especial,	quando	surge	a	oportunidade	que	nunca	mais	voltará.
15
Jesus,	o	Rei	dos	Reis
Texto:	João	12.12-19
Introdução
O	capítulo	doze	é	o	ponto	crítico	do	Evangelho	de	João.	Os	primeiros	onze
capítulos	narram	como	Jesus	se	revelou	aos	homens	de	todas	as	maneiras,	para
lhes	despertar	a	fé.	Essas	manifestações	levaram	muitas	pessoas	a	terem	fé	nEle;
outras,	porém,	ficaram	endurecidas	e	hostis.	O	milagre	supremo	—	a
ressurreição	de	Lázaro	—	deu	novos	impulsos	à	popularidade	de	Jesus	entre	os
habitantes	de	Jerusalém,	mas	também	levou	os	líderes	dos	judeus	a	tomar	a
resolução	de	matá-lo.
Três	incidentes	registrados	no	capítulo	doze	ilustram	esta	culminação	de	amor	e
de	hostilidade:	1)	A	história	de	Maria	ungindo	Jesus	demonstra	que	havia	um
grupo	de	discípulos	a	cujos	corações	Jesus	era	muito	querido,	e	que
perpetuariam	a	sua	memória	e	obra.	A	própria	presença	de	Lázaro,	cuja
ressurreição	aprofundou	a	lealdade	dos	discípulos,	também	levou	ao	ponto
culminante	a	inimizade	dos	líderes	judaicos	(Jo	12.1-11).	2)	A	história	da	entrada
triunfante	demonstra	a	impressão	que	Jesus	causara	em	grande	parte	do	povo
judeu,	além	de	revelar	o	desalento	que	isto	causou	aos	fariseus	(Jo	12.12-19).	3)
No	terceiro	incidente,	a	influência	de	Jesus	é	ilustrada	pelo	pedido	dos	gregos
que	queriam	vê-lo	(Jo	12.20-26).
I	-	O	Programa	do	Rei
1.	A	necessária	proclamação.	Embora	a	primeira	vinda	de	Jesus,	dentro	do	plano
divino	da	salvação,	fosse	em	humilhação	e	sofrimento,	mesmo	assim	ele	era	Rei,
e	Rei	para	todos	os	que	o	aceitam	como	tal.	Era	necessário	que	publicamente
proclamasse	sua	soberania,	para	dar	aos	judeus	a	oportunidade	de	aceitá-lo.	Não
podiam	ter	a	desculpa	de	não	saber	ser	Ele	o	Messias	e	Filho	de	Deus.
2.	A	mudança	de	programa.	Antes	do	momento	aqui	descrito,	Jesus	ainda	não
tinha	proclamado	à	nação	em	geral	sua	própria	soberania.	Pelo	contrário,	até	se
afastara	quando	as	multidões	queriam	forçá-lo	a	aceitar	o	trono,	e,	depois	de
Pedro	confessá-lo	como	Messias,	proibiu	seus	discípulos	de	pregar	publicamente
ser	Ele	o	Rei	de	Israel	tão	esperado	(Mt	16.20).	Por	quê?	É	que	o	povo	tinha	um
conceito	errôneo	da	natureza	do	seu	Reino.	A	pública	proclamação	de	Cristo
como	Messias	teria	dado	origem	a	uma	revolta	contra	Roma,	que	terminaria	na
matança	de	boa	parte	do	povo	judeu.	Agora,	porém,	já	não	havia	mais	perigo	de
tumulto,	porque	Cristo	chegara	ao	fim	do	seu	ministério,	e,	já	por	esta	altura,
tanto	os	judeus	como	os	romanos	sabiam	que	Ele	não	era	nenhum	líder	de
revolta,	e	sim	de	um	reino	espiritual	(Jo	18.33-37).
3.	O	plano	divino.	Talvez	pareça	estranho,	mas	a	verdade	é	que	Jesus	tomou	esse
passo	visando	apressar	a	sua	própria	morte.	Sabia	que	sua	entrada	espetacular	na
Cidade	Santa	e	a	subseqüente	purificação	do	Templo	aguçaria	a
hostilidade	dos	líderes	judaicos	até	o	ponto	do	assassinato.	Uma	pessoa	que
assim	fizesse	seria	considerada	desprevenida	e	insensata;	no	caso	de	Cristo,
porém,	entendemos	a	sua	conduta	à	luz	do	fato	de	ter	Ele	vindo	ao	mundo	a	fim
de	morrer	pelos	homens;	que	sua	morte	já	fora	planejada	antes	da	sua	vinda	ao
mundo;	que	Ele	mesmo	já	profetizara	o	fato	e	a	necessidade	da	sua	morte;	que
estava	cumprindo	um	programa	definido	e	planejado	em	toda	a	sua	cronologia	lá
no	Céu.	Havia	a	“hora	certa”	da	sua	morte,	segundo	a	cronologia	divina	(Jo
13.1).	Sabendo	que	a	hora	estava	próxima,	o	Senhor	Jesus	agiu	à	altura,	de
acordo	com	as	instruções	de	Deus	e	as	profecias	registradas.
4.	O	último	apelo.	A	entrada	triunfal	pode	ser	considerada	o	último	apelo	de
Jesus.	Era	a	última	manifestação	visando	despertar	a	fé,	e,	tendo	sido	rejeitadas
as	demais	pela	nação	como	um	todo,	esta	foi	a	derradeira	tentativa	de	conquistar
os	corações	obstinados.	Mesmo	sabendo	por	divina	presciência	que	haveria
rejeição,	Ele	não	deixou	de	fazer	tudo	quanto	lhe	era	possível.	Desejando	de
todo	coração	salvar	quantos	pudesse,	Jesus	foi	até	as	últimas	nas	suas	tentativas
de	levar	os	homens	ao	arrependimento.
II	-	A	Entrada	do	Rei	(Jo	12.12-16)
João	nos	informa	que	a	entrada	triunfante	realmente	começou	em	Jerusalém,	e
que	foi	resultado	direto	do	entusiasmo	despertado	pela	ressurreição	de	Lázaro.
Pessoas	vinham	em	grande	número	de	Jerusalém	a	Betânia	para	ver	o	homem
que	Jesus	ressuscitara	dentre	os	mortos.	Depois	elas,	juntamente	com	outras
pessoas	que	estiveram	em	Betânia	e	que	presenciaram	o	milagre,	voltaram	a
Jerusalém	e	espalharam	a	notícia	de	que	Jesus	estaria	chegando	no	dia	seguinte,
vindo	de	Betânia,	e	assim	foi	organizada	a	procissão	de	boas-vindas.
A	multidão	demonstrou	seu	reconhecimento	à	soberania	de	Jesus,	primeiramente
ao	abanar	ramos	de	palmeiras	—	símbolo	de	vitória	e	regozijo	—	e	também	ao
cantar:	“Hosana!	Bendito	o	rei	de	Israel	que	vem	em	nome	do	Senhor”.	Jesus
nada	fez	para	refrear	o	entusiasmo	popular,	sabendo	serem	corretas	as	suas
manifestações.	Ao	mesmo	tempo,	sabia	que	não	se	podia	fiar	em	demonstrações
populares,	que	sempre	são	levadas	a	extremos,	reunindo	pessoas	que	gritam	e
aclamam	sem	saber	do	que	se	trata.	Ele	bem	sabia	que	muitos	havia	naquela
multidão	que,	decepcionados	quanto	à	sua	esperança	de	libertação	política	do
jugo	de	Roma,	clamariam	mais	tarde:	“Crucifica-o!”	É	por	isso	que	chorou	à
vista	de	Jerusalém,	sabendo	que	seus	habitantes	rejeitariam	a	oferta	da	salvação
(Lc	19.41-44).	“Alegra-te	muito,	ó	filha	de	Sião;	exulta,	ó	filha	de	Jerusalém;	eis
que	o	teu	Rei	virá	a	ti,	justo	e	Salvador,	pobre,	e	montado	sobre	um	jumento,
sobre	um	asninho,	filho	de	jumenta”	(Zc	9.9).	O	profeta	queria	dizer	que	o	Rei
não	dominaria	seus	súditos	de	modo	tirânico	e	cruel.	Ele	é	“humilde”,	ou	seja,
livre	da	arrogante	asseveração	de	prepotência	e	orgulhosa	jactância,	comum	ao
discursodos	tiranos.	Os	judeus	deveriam	ter	sabido	que,	ao	ver	um	rei	se
proclamar	e	chegar	a	eles	do	modo	descrito	acima,	deveriam	aceitá-lo.	Só
queriam	saber	de	um	rei	temporal,	no	entanto,	e	desprezavam	os	aspectos	das
profecias	que	tratavam	dos	sofrimentos	do	Messias.	Cristo	não	entrou	em
Jerusalém	cavalgando	um	cavalo	(símbolo	de	um	reino	beligerante),	e	sim	um
jumento	(símbolo	de	um	líder	pacífico).	Contraste-se	à	entrada	triunfal	dos
generais	romanos;	atrás	deles	sempre	havia	uma	esteira	de	sangue	e	de	terras	e
lares	destruídos,	de	opressão	e	extorsão.	Atrás	da	entrada	triunfal	de	Cristo	havia
todo	um	histórico	de	restauração	de	almas,	de	consolação	a	corações
quebrantados,	de	cura	a	sofredores.	Sua	entrada	era	condizente	com	sua	obra	de
humilde	dedicação	e	abnegação.
III	-	O	Triunfo	do	Rei	(Jo	12.17-26)
João	registra	o	efeito	da	entrada	triunfal	teve	sobre	vários	grupos	de	pessoas.
1.	Sobre	os	discípulos.	“Os	seus	discípulos,	porém,	não	entenderam	isto	no
princípio;	mas,	quando	Jesus	foi	glori-	ficado,	então	se	lembraram	de	que	isto
estava	escrito	dele,	e	que	isto	lhe	fizeram”.	Os	discípulos	estavam	tão	envolvidos
com	os	eventos,	que	não	tinham	a	perspectiva	necessária	para	aquilatá-los	em
seu	contexto	total.	Depois	da	ascensão,	no	entanto,	já	estavam	em	condições	de
olhar	no	conjunto	todos	os	eventos	passados	e	perceber	como	cada	aspecto	da
entrada	triunfal	se	enquadrara	perfeitamente	no	programa	profetizado	desde	a
Antiguidade.	E	regozijaram-	se	ao	saber	que	também	haviam	tido	alguma
participação	naquele	programa.
2.	Sobre	as	multidões.	Leia	os	versículos	17	e	18.	As	testemunhas	da
ressurreição	de	Lázaro	começaram	a	testificar	às	multidões,	contando	o	que
Jesus	fizera,	e	estas	logo	foram	entusiasticamente	ao	seu	encontro.	Nota-se	que
foi	João	quem	contou	o	papel	desempenhado	pela	ressurreição	nestes	eventos.
Decerto,	antes	de	escrito	este	Evangelho,	Lázaro	já	havia	morrido,	estando	fora
do	alcance	da	vingança	dos	judeus,	pois	certamente	lembrariam	seu	papel	vital
nos	eventos.
3.	Sobre	os	fariseus	(v.	19).	Os	fariseus	se	dilaceravam	em	raiva	e	desespero.
Fracassaram	todas	as	suas	tentativas	de	desacreditar	a	influência	de	Jesus	sobre	o
povo,	e	agora	só	lhes	restava	o	desígnio	sem	escrúpulos	dos	principais
sacerdotes	(Jo	11.47-53).
4.	Sobre	os	gentios.	A	entrada	de	Jesus	montado	num	jumento	era	uma
declaração	de	que	o	seu	domínio	não	dependia	de	conquistas,	e	sim	de	mansidão.
No	incidente	que	se	segue,	ensina	que	sua	soberania	sobre	os	homens	baseia-se
no	seu	auto-sacrifício,	e	que	seus	súditos	devem	palmilhar	o	mesmo	caminho
para	atingir	a	glória.
“Ora	havia	alguns	gregos,	entre	os	que	tinham	subido	a	adorar	no	dia	da	festa”
(v.	20).	Provavelmente	eram	convertidos	ao	judaísmo;	escolheram	Filipe	para
esta	abordagem	por	ser	ele	de	Decápolis,	de	civilização	grega,	tendo	um	nome
tipicamente	grego.
“Estes,	pois,	dirigiram-se	a	Filipe,	que	era	de	Betsaida	da	Galiléia,	e	rogaram-
lhe:	Senhor,	queríamos	ver	a	Jesus”	(v.	21).	Filipe	consultou	André,	conterrâneo
seu,	talvez	por	hesitar	quanto	à	atitude	de	Jesus	diante	de	tal	pedido	sem
precedentes	da	parte	de	gentios	(cf.	Mt	15.21-23).	E	realmente	o	que	Jesus	disse
foi	mesmo	algo	diferente	do	que	Filipe	poderia	ter	imaginado.	André	pode	não
ter	sido	um	estudioso	brilhante	ou	um	grande	pregador,	mas	sabia	levar	pessoas	a
Cristo	(cf.	Jo	1.40,41;	6.8,9).
Assim	como	a	declaração	de	fé	do	centurião	abriu	diante	de	Jesus	a	vista	das
multidões	de	gentios	que	haveriam	de	crer	nEle	(Mt	8.10,11),	também	o	pedido
dos	gregos	era	como	uma	janela	estreita	através	da	qual	Jesus	via	miríades	de
gentios	chegando	com	o	pedido:	“Senhor,	queríamos	ver	a	Jesus”.	Neste	grupo
de	interessados	sinceros,	viu	Ele	as	primícias	de	uma	grande	colheita.
Com	a	chegada	dos	gregos,	Jesus	disse:	“É	chegada	a	hora	em	que	o	Filho	do
homem	há	de	ser	glorificado.”	Ou	seja,	aproximava-se	a	hora	em	que,	por	meio
da	cruz,	atrairia	a	si	todos	os	homens	(v.	32),	quando	sua	morte	dolorosa	e
humilhante	fosse	seguida	pela	gloriosa	ressurreição.	O	que	parecia	ser	uma
vergonhosa	derrota	era	realmente	a	vitória	sobre	os	poderes	do	mal.
Os	fariseus	tinham	se	queixado:	“Eis	aí	vai	o	mundo	após	ele”.	Realmente,
conforme	João	registra,	a	obra	de	Cristo	estava	se	estendendo	até	limites	nem
imaginados	por	eles.	Nações	distantes	começavam	a	perguntar	por	aquele	que	os
fariseus	rejeitavam.
A	esta	altura,	esses	gentios	decerto	se	constituiriam	em	encorajamento	para	o
Mestre.	Os	fariseus,	os	saduceus,	a	ignorância,	a	inconstância,	a	covardia	e	a
indiferença	rejeitavam-no.	E	agora	estes	gregos,	sem	convite	ou	combinação
prévia,	imploram	o	privilégio	de	serem	apresentados	a	Ele.	Seria	como	uma
fonte	de	água	cristalina	no	caminho	de	um	viajante	num	deserto	de	areia	quente.
A	visita	dos	gregos	traz	à	mente	do	Mestre	a	plena	lembrança	do	preço	que	teria
de	pagar	pela	salvação	do	mundo	(v.	24).	Assim	como	um	grão	de	trigo	precisa
ser	desfeito	na	terra	antes	de	produzir	fruto,	também	o	Filho	do	homem	precisa
morrer	e	ser	sepultado	antes	de	as	almas	crescerem,	amadurecem	e	serem
ceifadas.	A	vida	divina	em	Jesus	foi	liberada	em	proveito	dos	pecadores
mediante	a	sua	morte.
Semelhantemente,	os	seguidores	do	Senhor,	para	serem	frutíferos	os	seus
esforços	em	prol	da	conversão	do	mundo,	não	devem	se	apegar	à	sua	própria
vida	(v.	25;	cf.	Mt	16.21-28).	A	comunhão	com	Cristo	inclui	“a	comunhão	com
seus	sofrimentos”	(cf.	1	Pe	2.21-25;	4.1;	Cl	1.24).
Leia	o	versículo	26.	Ser	discípulo	de	Jesus	significa	seguir	a	Jesus,	e	segui-lo
significa	andar	pelo	caminho	da	cruz.	Este	caminho,	no	entanto,	leva	à	glória.	Os
que	carregam	sua	cruz	receberão	a	coroa.
Ensinamentos	Práticos
1.	Uma	visita	real.	Há	dezenove	séculos,	a	cidade	de	Jerusalém	recebeu	a	visita
do	Rei	dos	reis.	Enquanto	Jesus	foi	atravessando	as	ruas,	encontrou-se	com
várias	categorias	de	pessoas,	representando	o	povo	todo	—	os	discípulos	que
ficaram	com	Ele	até	o	Calvário;	os	discípulos	que	lhe	deram	vivas,	mas	que
depois	o	abandonaram;	a	multidão	que	saudava:	“Hosana!”	e,	depois,	“Crucifica-
o!”;	no	Templo,	havia	pessoas	dedicadas	a	negócios	que	não	mereceri-	am	a
aprovação	de	Jesus;	e	os	oponentes,	procurando	levantar	controvérsias.
Enquanto	Jesus	anda	em	triunfo	por	este	mundo,	no	meio	de	que	classe	de
pessoas	Ele	nos	achará?
2.	O	fracasso	dos	ímpios.	“Vede	que	nada	aproveitais!	Eis	aí	vai	o	mundo	após
ele”.	Há	uma	profecia	inconsciente	escondida	nestas	palavras,	assim	como
ocorre	na	inscrição	de	Pilatos	e	no	conselho	de	Caifás	(Jo	11.51).	A	verdade
expressa	nas	palavras	dos	fariseus	pode	muito	bem	ter	sido	dirigida	a
perseguidores	e	descrentes	de	todos	os	tempos.	Antes	do	reavivamento
wesleyano,	muitos	homens	cultos	anunciavam	a	morte	do	Cristianismo,
descrevendo-	o	como	uma	religião	do	passado.	O	reavivamento,	no	entanto,
despertou	a	Igreja	da	sua	frieza	mortal,	derrotando	as	vãs	esperanças	dos	ímpios.
Voltaire	predisse,	certa	vez,	que	a	Bíblia	logo	cairia	em	descrédito;	hoje,	porém,
no	mesmo	lugar	onde	os	escritos	deste	filósofo	eram	impressos,	grandes
quantidades	de	Bíblias	estão	sendo	produzidas.	Antes	da	segunda	vinda	do
Senhor,	podemos	ter	a	certeza	de	que	os	ímpios	farão	um	ataque	violento	contra
Cristo	e	sua	religião,	e,	depois	de	tudo,	ouvirão	uma	voz	dizendo:	“Vede	que
nada	aproveitais!	Eis	aí	vai	o	mundo	após	ele”.
3.	Morrendo	para	si	mesmo	e	vivendo	para	Deus.	Durante	a	sua	vida	na	terra,	o
Filho	de	Deus	exerceu	influência	espiritual	de	grande	alcance	porque	era
poderoso	em	palavras	e	obras.	Mas	isto	não	foi	nada	comparado	‘a	extensão	do
seu	Reino	a	partir	da	sua	morte	e	ressurreição.	Os	resultados	da	sua	obra
surgiram	não	tanto	do	seu	fazer,	e	sim	do	morrer.
Talvez	não	tenhamos	a	oportunidade	de	selar	o	nosso	testemunho	com	o	nosso
sangue;	mesmo	assim,	há	o	morrer	para	o	pecado,	o	próprio-eu	e	o	mundo,	que	é
essencial	à	fruição	espiritual.	Pensar	em	morrer	talvez	não	seja	agradável,	mas
devemos	também	pensar	na	recompensa.
3.1.	A	morte	é	o	caminho	da	glorificação.	Foi	assim	na	carreira	de	Jesus.
Carregou	a	cruz	antes	de	vestira	coroa.	É	verdade	que	o	Filho	de	Deus	sempre
era	glorioso,	mas,	ao	aceitar	a	natureza	humana	para	sofrer	a	morte	expiatória,
recebeu	nova	glória	diante	dos	olhos	de	todos,	no	Céu	e	na	terra.
Em	certo	sentido,	temos	de	morrer	a	cada	dia,	a	fim	de	que	a	beleza	e	o	poder	de
Cristo	sejam	revelados	em	nós.	Respeitamos	aqueles	que	fizeram	grandes	coisas
na	causa	de	Deus,	e	às	vezes	desejamos	saber	o	segredo	do	seu	poder.	Lendo
suas	biografias,	ficamos	sabendo	que	a	explicação	da	sua	exemplar	vida	com
Cristo	foi	atingida	mediante	o	morrer	para	si	mesmo	(cf.	2	Co	4.10-12).
3.2.	A	morte	é	a	cura	da	solidão.	O	grão	de	trigo,	se	não	morrer,	“fica	ele	só”.	Há
pessoas	que	se	queixam	da	solidão,	e	atribuem	o	fato	a	várias	causas.	Em	muitos
casos	é	devido	ao	fato	de	terem	elas	vivido	para	si	mesmas,	e	não	para	seu
próximo.	Não	se	semeou	na	sepultura	da	abnegação	diária.
3.3.	A	morte	é	o	caminho	para	a	fruição.	“Mas	se	morrer,	dá	muito	fruto”.	A
fruição	na	vida	espiritual	vem	como	resultado	do	negar-se	a	si	mesmo.	Se
queremos	salvar	aos	outros,	não	devemos	procurar	salvar-nos	a	nós	mesmos.	Se
queremos	fazer	o	precioso	perfume	de	Cristo	espalhar-se	pelo	mundo,	devemos
aceitar	o	papel	de	vasos	quebrados.	Os	galhos	mais	frutíferos	são	aqueles	dos
quais	foram	retirados	os	brotos	desnecessários	pela	mão	firme	do	podador,	para
que	a	seiva	se	acumulasse	nas	gemas	vegetativas	que	depois	produziriam	frutos.
3.4.	A	morte	é	a	porta	para	a	vida.	“Quem	ama	a	sua	vida	perdê-la-á,	e	quem
neste	mundo	aborrece	a	sua	vida,	guardá-la-á	para	a	vida	eterna.”	A	vida	não	é
errada,	não	é	pecado;	mas	o	apego	à	vida	pode	se	constituir	em	pecado.	É	um
desperdício,	uma	perda,	dedicar	nosso	amor	só	a	esta	vida,	porque	ela	se	perde;
cada	pessoa	tem	certa	quantidade	de	tempo,	energia,	saúde,	e	somente	a	parte
dedicada	às	coisas	espirituais	tem	valor	eterno;	preservar	a	vida	terrestre,	a	troco
de	negar	ideais	eternos,	de	nada	vale;	nosso	amor	não	deve	ser	desviado	das
coisas	eternas	para	a	vida	terrestre.
4.	O	dever	e	o	destino.	No	versículo	26,	Cristo	dá	um	resumo	facilmente
assimilável	do	dever	e	destino	da	vida.
4.1.	O	dever	da	vida.	“Se	alguém	me	serve,	siga-me”.	Não	há	dúvida	na	mente
de	ninguém	quanto	a	seguir	Cristo	no	sentido	de	praticar	as	virtudes	que	Ele
ensinou.	Aqui,	porém,	Cristo	tem	em	vista	o	segui-lo	pelo	caminho	da	cruz.	O
essencial	no	discipulado	é	negar-se	a	si	mesmo	em	total	consagração	a	Deus,	e
em	prol	do	seu	próximo.	A	cruz	é	a	expiação	pelos	nossos	pecados	e	exemplo
para	nossas	vidas.	Não	pregamos	um	Evangelho	completo	se	não	incluímos
ambos	os	aspectos.
Como,	porém,	a	frágil	natureza	humana	atingirá	as	alturas	para	onde	o	Filho	de
Deus	quer	nos	levar?	Jesus	disse:	“Siga-me”.	O	poder	de	obedecer	à	lei	de	Cristo
provém	de	amá-lo.	Cristo	nos	ajuda	a	fazer	aquilo	que	nos	mandou	fazer.
“Se	alguém	me	serve”.	O	Senhor	se	refere	à	oração	e	ao	culto?	Refere-se	aos
atos	de	benevolência	para	com	os	que	têm	necessidades	espirituais	ou	materiais?
Estas	coisas	estão	incluídas,	porém	mais	profundo	e	fundamental	é	conformar
nosso	caráter	ao	dEle.	Enquanto	crescermos	segundo	a	sua	semelhança,	não
faltaremos	em	nenhum	ato	de	culto	ou	benevolência.
4.2.	O	destino	da	vida.	“Onde	eu	estiver,	ali	estará	também	o	meu	servo”.	Quem
segue	a	Cristo,	mais	tarde	passará	a	ficar	para	sempre	com	Ele;	quem	anda	no
mesmo	caminho,	chegará	ao	mesmo	destino.	Cristo	é	a	recompensa	por	todas	as
tristezas,	todos	os	esforços,	todas	as	dores,	toda	a	nossa	vida	de	peregrinos	(Fp
1.21,23).
16
Jesus,	o	Servo
Texto:	João	13.1-20
Introdução
Leia	Filipenses	2.1-11.	Havia	algumas	pequenas	dis-	sensões	na	igreja	de
Filipos.	Alguns	dos	seus	membros	estavam	fazendo	as	coisas	por	inveja	e	porfia,
por	discórdia,	insinceramente.	Faltava-lhes	uma	atitude	mental	humilde,	pois	não
estavam	sabendo	considerar	“os	outros	superiores	a	si	mesmo”.	Para	corrigir	esta
condição,	Paulo	colocou	diante	deles	o	exemplo	de	Jesus,	que	“sendo	em	forma
de	Deus	não	teve	por	usurpação	o	ser	igual	a	Deus,	mas	aniquilou-se	a	si	mesmo,
tomando	a	forma	de	servo”.
As	palavras	de	Paulo	são	o	comentário	inspirado	do	incidente	descrito	no	texto
em	pauta.	Estamos	vendo	Jesus,	Senhor	e	Mestre,	fazendo	com	condescendência
a	tarefa	mais	servil,	dando	assim	exemplo	de	serviço	humilde	e	amoroso	a	todos
os	seus	seguidores,	em	todos	os	séculos.	Ao	narrar	este	incidente,	o	apóstolo
João	está	dizendo	a	cada	um	de	nós:	“De	sorte	que	haja	em	vós	o	mesmo
sentimento	que	houve	também	em	Cristo	Jesus”.
I	-	Preparando-se	para	a	Ação	(Jo	13.1,2)
1.	A	ocasião.	1)	“Ora,	antes	da	festa	da	páscoa”.	Logo	a	seguir,	milhares	de
cordeiros	estariam	sendo	sacrificados,	em	comemoração	ao	dia	em	que	a
aspersão	do	sangue	nas	vergas	e	nas	ombreiras	das	portas	redimiu	o	povo	de
Deus	do	castigo	que	caiu	sobre	o	Egito	-	uma	noite	que	marcou	a	sua	redenção	e
o	começo	da	sua	existência	como	nação.	Foi	uma	ocasião	apropriada	para	o
sacrifício	do	Cordeiro	de	Deus	que	tais	sacrifícios	profetizavam.	2)	“Sabendo
Jesus	que	já	era	chegada	a	sua	hora	de	passar	deste	mundo	para	o	Pai”.	A	leitura
dos	Evangelhos	nos	leva	a	perceber	que	a	vida	do	Senhor	foi	regulada	de	acordo
com	um	programa	divino,	de	tal	modo	que	muitas	vezes	a	ira	dos	seus	inimigos
nada	podia	contra	ele,	porque	“ainda	não	era	chegada	a	sua	hora”	(Jo	7.30;	cf.	Jo
2.4;	Lc	22.14).	3)	“E,	acabada	a	ceia”.	A	lavagem	dos	pés,	um	dever	comum	da
hospitalidade	naqueles	tempos,	era	feita	no	início	das	refeições.	Por	causa	do
grande	calor,	usavam-se	sandálias	abertas,	e	a	poeira	das	estradas	sujava	os	pés
dos	viajantes.	Quando	a	pessoa	chegava	de	visita,	o	hospedeiro	mandava	um
escravo	remover	as	sandálias	do	visitante,	lavando-lhe	os	pés,	eliminando	assim
a	sensação	desagradável	da	poeira	quente.
2.	A	negra	traição.	“Tendo	já	o	diabo	posto	no	coração	de	Judas	Iscariotes,	filho
de	Simão,	que	o	traísse”.	Cristo	sabia	disto,	mas,	mesmo	assim,	não	o	denunciou
aos	outros.	sua	única	arma	era	o	amor.	Na	pessoa	de	Judas,	a	expressão	máxima
do	ódio	do	mundo	vem	contra	Ele,	e	sua	resposta	é	a	bondade.	Lava	os	pés	de
Judas	juntamente	com	os	dos	outros	discípulos,	e,	no	jardim,	quando	Jesus
recebe	dele	o	beijo	traiçoeiro,	o	chama	de	“amigo”.	Cristo	tem	compaixão	pelo
miserável	traidor	que	vendeu,	não	a	Ele,	e	sim	a	sua	própria	alma!	Neste
contexto,	o	relato	da	traição	serve	como	pano	de	fundo	para	o	inefável	amor	de
Cristo.
3.	O	amor	constante.	“Tendo	amado	os	seus	que	estavam	no	mundo,	amou-os	até
ao	fim”.	Se	já	existiu	um	homem	no	mundo	com	justos	motivos	para	preocupar-
se	com	seus	próprios	assuntos,	este	era	o	Senhor	Jesus.	A	sombra	negra	da
traição,	da	fuga	dos	discípulos,	da	condenação	e	da	crucificação	eram	um	peso
para	a	sua	alma;	ele,	porém,	preocupava-se	apenas	com	o	bem-estar	dos	seus
discípulos.	Desconsiderava	seus	próprios	fardos	a	fim	de	encorajar	os	discípulos
e	prepará-los	para	as	provações	dos	próximos	dias.
4.	O	pano	de	fundo	desalentador.	A	atitude	dos	apóstolos	nesta	ocasião	ajuda	a
ressaltar	e	explicar	a	ação	de	Cristo	em	lavar	os	pés	dos	seus	seguidores,	assim
como	o	veludo	preto	dá	realce	à	beleza	de	um	brilhante.	Por	que	ninguém	tinha
se	oferecido	para	fazer	este	trabalho?	Lucas	nos	informa	que,	justamente	na
época	da	Última	Ceia,	“houve	também	entre	eles	contenda,	sobre	qual	deles
parecia	ser	o	maior”	(Lc	22.24).	Se	qualquer	um	deles	se	tivesse	oferecido	para
lavar	os	pés	dos	demais,	teria	se	colocado	na	posição	de	servidor	dos	outros	—
exatamente	o	oposto	do	que	cada	um	deles	queria!	Estavam	procurando	um
servo	—	e	acharam!	(cf.	Jo	13.4,5;	Mc	10.45).	O	Senhor	viu	que	seus	mais
íntimos	seguidores	não	estavam	em	condições	de	participar	da	Santa	Ceia	e	de
escutar	suas	últimas	palavras	solenes	antes	de	ser	levado	para	a	cruz;	o	espírito
de	cada	um	deles	estava	cheio	de	vis	ambições	e	ciúmes.	Algo	de	drástico	devia
ser	feito	para	limpar	seus	corações	tão	manchados.	É	aí	que	passa	a	lavar-lhes	os
pés.
II	-	A	Ação	Levada	a	Efeito	(Jo	13.4-11)
1.	A	condescendência	de	Cristo.	“Levantou-se	da	ceia,	tirou	os	vestidos,	e,
tomando	uma	toalha,	cingiu-se.Depois	deitou	água	numa	bacia,	e	passou	a	lavar
os	pés	aos	discípulos,	e	a	enxugar-lhos	com	a	toalha	com	que	estava	cin-	gido”.
O	Senhor	levou	a	efeito	esta	tarefa	servil	em	plena	consciência	da	sua	majestade
divina	—	“Sabendo	que	o	Pai	tinha	depositado	nas	suas	mãos	todas	as	coisas,	e
que	ele	havia	saído	de	Deus	e	ia	para	Deus”.	Este	incidente	exemplifica	a	obra
redentora	de	Cristo.	Tirou	a	vestimenta,	assim	como	já	se	despojara	da	sua	glória
celestial;	sua	condescendência	em	lavar	os	pés	aos	discípulos	é	uma	ilustração	da
humilhação	de	si	mesmo	a	fim	de	purificar	os	homens	pecadores;	a	ação	de
tomar	as	vestes	de	novo	representa	a	sua	volta	à	sua	glória	celestial.
2.	A	surpresa	de	Pedro.	Pedro	ficou	olhando	boquiaberto	enquanto	seu	Senhor	e
Mestre	abaixava-se	para	lavar-	lhe	os	pés	sujos.	Finalmente,	recuando	os	seus
pés,	conseguiu	exclamar:	“Senhor,	tu	lavas-me	os	pés	a	mim?”	Estas	palavras
demonstram	a	reverência	dos	discípulos	para	com	o	Mestre.	Não	podiam
suportar	a	idéia	da	troca	da	posição	entre	Mestre	e	servo.	Foi	um	choque	para
eles	—	e	era	o	que	Jesus	queria,	pois	pretendia	ensinar-lhes	uma	lição
inesquecível.
3.	A	explicação	de	Cristo.	“O	que	eu	faço	não	o	sabes	tu	agora,	mas	tu	o	saberás
depois.”	A	hesitação	de	Pedro	foi	tratada	como	a	de	João	Batista:	“Eu	é	que
preciso	ser	batizado	por	ti,	e	tu	vens	a	mim?”,	disse	o	Batista.	“Mas	Jesus	lhe
respondeu:	Deixa	por	enquanto,	porque	assim	nos	convém	cumprir	toda	a
justiça”	(Mt	3.14,15).	Jesus	dará	as	explicações	depois;	o	importante	é	deixá-lo
fazer	a	sua	obra.
4.	A	presunção	de	Pedro.	Com	típica	impulsividade,	Pedro	exclamou,	sem
pensar:	“Nunca	me	lavarás	os	pés”	(cf.	Mt	16.22).	Esta	expressão	de	obstinação,
orgulho	e	justiça	própria	era	um	duplo	golpe	contra	Cristo:	1)	Era	contrária	ao
espírito	da	obra	expiadora	de	Cristo.	Pedro	não	queria	saber	de	nada	que	não
estivesse	à	altura	da	dignidade	pessoal	de	Cristo;	se,	porém,	achava	que	Jesus
não	devia	se	abaixar	para	limpar-lhe	os	pés,	teria	também	de	achar	que	Jesus	não
devia	passar	pela	ignomínia	da	cruz	para	limpar-lhe	a	alma.	2)	Era	contrária	ao
senhorio	de	Cristo:	Cristo	não	pode	ser	Senhor,	se	seu	discípulo	ousa	dizer-lhe:
“Tu	nunca	farás	assim”.	O	requisito	primário	do	discípulo	é	a	entrega	de	si
mesmo	ao	seu	Mestre.	Na	prática,	Pedro	dizia	ao	seu	Senhor:	“Seja	feita	não	a
tua	vontade,	mas	a	minha”.
5.	A	advertência	de	Cristo.	“Se	eu	te	não	lavar,	não	tens	parte	comigo”.	Os	que
não	querem	se	entregar	ao	Mestre	em	atitude	de	amorosa	obediência	não	podem
pertencer	à	companhia	dos	seus.	Pedro	não	poderia	participar	da	Última	Ceia
antes	de	passar	por	aquela	experiência	que	lhe	ensinaria	a	humildade.
6.	Pedro	se	entrega.	“Senhor,	não	só	os	meus	pés,	mas	também	as	mãos	e	a
cabeça”.	Pedro,	alarmado	com	esta	ameaça	de	exclusão,	vai	rapidamente	ao
outro	extremo	e,	com	a	mesma	impulsividade	de	antes,	oferece-se	para	uma
lavagem	inteira,	como	se	dissesse:	“Se	o	discipulado	depende	da	lavagem,	podes
me	lavar	o	quanto	quiseres”.	Pedro,	com	suas	emoções	e	impulsividade,	sempre
deixava	sua	língua	colocá-lo	em	situações	difíceis.	Se	tivesse	sabido	ficar	quieto,
deixando	Cristo	levar	a	sua	obra	adiante,	sem	interferências	e	sugestões	suas,
feitas	como	se	tivesse	sabedoria	superior,	a	situação	teria	sido	bem	melhor.	A
Pedro	faltava	ainda	a	lição	de	meiguice	e	humildade;	havia,	no	entanto,	por
detrás	da	impulsividade	de	Pedro,	fer-	vente	amor	pelo	seu	Mestre	—	e	Jesus
bem	sabia	disto.
7.	Cristo	tranqüiliza	os	discípulos.	“Aquele	que	já	está	lavado	não	necessita	de
lavar	senão	os	pés,	pois	no	mais	todo	está	limpo.	Ora	vós	estais	limpos,	mas	não
todos.”
7.1.	A	ilustração.	Quem	saísse	de	casa	para	visitar	alguém,	tendo	se	banhado	e
vestido	da	melhor	maneira	possível,	sujaria	os	pés	pelo	caminho,	mas,	ao	chegar
à	casa
do	hospedeiro,	somente	precisaria	lavar	os	pés,	e	não	de	um	banho	completo.
7.2.	A	explicação.	Jesus	sabia	que	seus	discípulos	estavam	espiritualmente
limpos	mediante	seu	ministério	(Jo	15.3)	e	que,	nos	seus	corações,	amavam-no.
No	entanto,	a	ambição	apegara-se	a	eles	pelo	caminho,	e	Cristo,	tomando	a	bacia
e	a	toalha,	estava	mais	interessado	em	limpar	os	sentimentos	de	orgulho,	que
estragariam	a	espiritualidade	da	reunião	de	despedida,	do	que	em	lavar	os	pés.
Não	se	recusava	a	comer	com	os	que	não	se	lavavam	devidamente	(Mt	15.1,2),
mas	não	podia	aceitar	cear	no	meio	dos	discípulos	enquanto	estes	olhavam	com
ódio	uns	para	os	outros,	recusando-se	a	conversar	e	demonstrando	de	todos	os
modos	possíveis	maldade	e	amargura	de	espírito.	A	lavagem	dos	pés	redundou
na	lavagem	dos	corações;	o	grupo	de	homens	orgulhosos	e	ressentidos	voltou	a
ser	a	companhia	de	discípulos	humildes	e	amorosos.	É	assim	que	o	Espírito	de
Cristo	continua	operando	nos	corações	humanos!
7.3.	A	aplicação.	Pessoas	salvas	(“limpas”)	podem	colher	várias	formas	de
imundícias	do	mundo	por	onde	vão	passando;	portanto,	precisam	da	lavagem
diária	dos	pés,	ou	seja,	precisam	do	perdão	de	Cristo	pelas	atitudes	e	ações
mundanas	que	praticam	no	ambiente	do	maligno.
Quando	Cristo	fez	a	ressalva:	“Nem	todos	estais	limpos”,	era	porque	Judas,	por
mais	limpos	que	seus	pés	estivessem	após	a	lavagem,	não	tinha	deixado	Cristo
limpar	seu	coração.
III	-	O	Significado	da	Ação	(Jo	13.12-17)
1.	Devemos	considerar	sua	ação.	“Depois	que	lhes	lavou	os	pés,	e	tomou	os	seus
vestidos,	e	se	assentou	outra	vez	à	mesa,	disse-lhes:	Entendeis	o	que	vos	tenho
feito?	Vós	me	chamais	Mestre	e	Senhor,	e	dizeis	bem,	porque	eu	o	sou”.	Com
estas	palavras	Jesus	prepara	o	caminho	para	inculcar	o	sentido	espiritual	da	lição
prática	que	acabara	de	dar;	faz	os	discípulos	cônscios	de	que	sua	ação	não	fora
um	esquecimento	da	dignidade	da	sua	posição,	e	sim	uma	demonstração	real	da
sua	natureza	de	Filho	de	Deus	e	Salvador.
2.	Devemos	seguir	o	seu	exemplo.	“Ora	se	eu,	Senhor	e	Mestre,	vos	lavei	os	pés,
vós	deveis	também	lavar	os	pés	uns	aos	outros.	Porque	eu	vos	dei	o	exemplo,
para	que,	como	eu	vos	fiz,	façais	vós	também.	Na	verdade,	na	verdade	vos	digo
que	não	é	o	servo	maior	do	que	seu	senhor,	nem	o	enviado	maior	do	que	aquele
que	o	enviou”.	Com	estas	palavras	Jesus	tira	as	desculpas	de	qualquer	discípulo
que	imagina	ser	importante	demais	para	fazer	qualquer	humilde	serviço.	Se	o
Senhor	e	Mestre	deixou	de	lado	sua	posição	de	dignidade	e	honra	para	servir
humildemente,	qual	servo	que	poderá	recusar-se	a	tomar	a	mesma	atitude?
Assim	como	ele	disse	a	Pedro:	“Se	eu	te	não	lavar,	não	tens	parte	comigo”,
também	queria	que	os	discípulos	entendessem	que,	recusando-se	a	lavar	os	pés
uns	aos	outros,	recusando-se	a	servir	uns	aos	outros	em	amor,	não	teriam	parte
com	ele.
Lavar	os	pés	aos	irmãos	significa	servi-los	em	humildade	e	amor	(cf.	At	20.35;
Rm	12.10;	15.1-3;	1	Co	9.22;	Gl	5.13;	6.1,2).	Jesus	quer	dizer	que	devemos	estar
dispostos,	como	nosso	Mestre,	a	deixar	de	lado	os	nossos	direitos	e	privilégios	e
nossa	preocupação	com	as	honras	que	queremos	receber	dos	outros,	e,	vestindo	a
humildade	e	o	amor,	trabalhar	para	tirar	nosso	próximo	do	lamaçal	de	infortúnios
em	que	o	pecado	o	mergulhou.
Pedro,	nas	suas	Epístolas,	faz	freqüentes	alusões	a	algumas	das	suas	experiências
narradas	nos	Evangelhos.	Por	exemplo,	compare	1	Pedro	5.8	com	Lucas
22.31,32	e	1	Pedro	5.2	com	João	21.15-17.	É	muito	provável	que	Pedro	tivesse
em	mente	o	incidente	da	lavagem	dos	pés	quando	escreveu	aos	cristãos:
“Semelhantemente	vós,	mancebos,	sede	sujeitos	aos	anciãos;	e	sede	todos
sujeitos	uns	aos	outros,	e	revesti-vos	de	humildade,	porque	Deus	resiste	aos
soberbos,	mas	dá	graça	aos	humildes”	(1	Pe	5.5).	No	grego	original,	a	palavra
traduzida	por	“cingir”	provém	de	um	termo	que	descreve	o	avental	usado	pelos
escravos	em	serviço,	de	modo	que	se	pode	interpretar	assim	a	expressão:
“Vistam	o	avental	da	humildade	para	servir	uns	aos	outros”.	Foi	exatamente	isto
que	o	Senhor	Jesus	fez	quando	lavou	os	pés	aos	discípulos.
3.	O	galardão	de	quem	segue	o	seu	exemplo.	“Se	sabeis	estas	coisas,	bem-
aventurados	sois	se	as	fizerdes”	(v.	17).	Uma	coisa	é	ficar	emocionado	com	a
história	do	evangelho,ser	tomado	de	admiração	pelo	exemplo	consistente	de
Cristo	e	pela	sublimidade	dos	seus	ensinos;	outra	coisa,	e	bem	mais	difícil,	é	sair
no	meio	do	mundo	ímpio	e	materialista	e	fazer	tudo	quanto	aprendemos	de
Jesus.	A	maioria	das	pessoas	sabe	mais	do	que	realmente	põe	em	prática;
devemos,	portanto,	transformar	nossa	admiração	por	Cristo	em	imitação	de
Cristo.	A	verdade	brilha	mais	quando	é	vivida	do	que	quando	apenas	formulada
em	palavras.	Somente	à	medida	que	vivemos	a	verdade	é	que	podemos
transformá-la	em	realidade	para	nós	mesmos	e	para	os	outros.
IV	-	Ensinamentos	Práticos
1.	Respeitando	Cristo	como	Senhor.	Pedro,	ao	exclamar:	“Nunca	me	lavarás	os
pés”,	estava	fazendo	do	seu	próprio	raciocínio	e	consciência	a	regra	suprema	da
sua	conduta,	violando	assim	o	princípio	de	obediência	que	requer	que	a	vontade
do	Senhor,	uma	vez	conhecida	a	nós,	seja	suprema	em	nossas	vidas,	quer
compreendamos	sua	razão	de	ser	e	seus	motivos	justos,	quer	não.	O	princípio	da
disciplina	militar	-	“Obedeçam	às	ordens	e	façam	as	perguntas	depois”	-	também
pode	ser	aplicado	à	vida	cristã.	Há	muitas	coisas	nos	ensinos	de	Cristo	que
parecem,	à
primeira	vista,	contrárias	à	razão	e	impossíveis	de	ser	praticadas.	Se	fôssemos
tomar	a	atitude	de	Pedro,	diríamos	a	Cristo	que	Ele	não	deveria	ensinar	doutrinas
tão	místicas	ou	fixar	padrões	de	conduta	tão	idealistas.	Quando	Pedro	recebeu,
em	época	posterior,	uma	ordem	divina	que,	segundo	lhe	parecia,	contrariava	a
Lei	de	Moisés,	respondeu:	“De	modo	nenhum,	Senhor”	(At	10.14),	sem	perceber
que	a	expressão	“de	modo	nenhum”	não	condiz	com	a	palavra	“Senhor”.	Cristo	é
nosso	Senhor	exatamente	até	onde	lhe	obedecemos	implicitamente;	desobedecer-
lhe	é	deixar	de	considerá-lo	Senhor.	Não	devemos	temer:	se	obedecermos	às
suas	ordens,	Ele	tomará	a	responsabilidade	pelos	resultados,	e	nós	não
perderemos	o	galardão.
2.	A	humilhação	de	Cristo	-	pedra	de	tropeço	para	muitos.	Assim	como	Pedro
achava	que	a	exaltada	posição	de	Cristo	não	condizia	com	o	humilde	serviço	de
lavar	os	pés,	há	muitas	pessoas	que	acham	inaceitável	Deus	ter	chegado	a	nós	na
Pessoa	de	seu	Filho	para	sofrer	humilhação,	rejeição	e	morte	a	fim	de	salvar	a
raça	humana.	Tal	conduta,	pensam,	não	condiz	com	a	majestade	divina.	A
resposta	para	tais	é	a	mesma	que	Pedro	recebeu:	“Se	eu	te	não	lavar,	não	tens
parte	comigo”.	Se	não	aceitamos	a	obra	expiatória	de	Cristo,	que	inclui	sua
humilhação,	seus	sofrimentos	e	a	sua	morte,	não	há	nenhuma	lavagem	de
regeneração	para	nossa	salvação.
3.	A	purificação	é	essencial	à	comunhão.	“Se	eu	te	não	lavar,	não	tens	parte
comigo”.	Somente	ao	reconhecer	que	precisamos	ser	purificados,	e	ao	permitir
que	Ele	nos	purifique,	é	que	conseguimos	ter	comunhão	com	Cristo	e	uns	com
os	outros:	“Mas,	se	andarmos	na	luz,	como	ele	na	luz	está,	temos	comunhão	uns
com	os	outros,	e	o	sangue	de	Jesus,	seu	Filho,	nos	purifica	de	todo	o	pecado”	(1
Jo	1.7).	Quem	quiser	sentar-se	à	mesa	com	Cristo	precisa	ser	limpo.	Como	os
discípulos,	entra	no	cenáculo	com	a	poeira	do	mundo,	mas	deve	permitir	que
Jesus	purifique	a	sua	alma	de	toda	mancha.
4.	O	gracioso	julgamento	de	Cristo.	“Vós	estais	limpos”,	disse	Cristo	a	um	grupo
de	homens	imperfeitos,	que	momentos	antes	tinham	sobre	si	a	imundícia	da
ambição	e	dos	motivos	indignos,	e	que	continuavam	com	as	manchas	das
imperfeições.	Cristo	não	confunde	as	manchas	momentâneas	com	a	habitual
impureza,	nem	a	mancha	parcial	com	a	impureza	total.	Entende	a	diferença	entre
a	verdadeira	apostasia	e	um	sentimento	passageiro	que	por	uns	momentos
perturba	a	comunhão.	Não	sentencia	que	caímos	da	sua	graça	porque	cometemos
um	pecado,	expulsando-nos	da	sua	presença.	Não!	conhecendo	o	nosso	coração,
e	reconhecendo	que	fomos	completamente	limpos	pela	regeneração,	leva-nos	a
entender	que	os	nossos	pés	—	que	representam	o	nosso	caminhar	diário	—
precisam	ser	lavados.	O	que	mais	tarde	aconteceu	a	Pedro,	que	tornou	necessário
que	Cristo	lhe	lavasse	os	pés,	de	modo	espiritual?	(cf.	Mt	26.69-75).
17
Jesus	nos	Dá	o	Consolador
Texto:	João	14
Introdução
No	fim	da	Última	Ceia,	Jesus	disse	aos	discípulos	que	a	hora	da	sua	partida
estava	próxima,	que	estava	para	ir	a	um	lugar	que,	por	enquanto,	estaria	fora	do
alcance	deles.	Tristeza	e	desespero	tomaram	seus	corações,	enquanto
imaginavam	quão	indefesos	e	solitários	ficariam	sem	Ele.	Nos	capítulos	14	a	16,
vemos	Jesus,	o	Médico	das	almas,	receitando	a	cura	para	sua	condição
desoladora.	A	cura	para	os	corações	perturbados	é	receitada	em	João	14.1-3.	A
cura	para	a	sensação	de	desamparo	e	solidão	é	definida	nos	seus	ensinos	a
respeito	do	Consolador,	que	nos	demonstra	a	vida	de	Jesus	e	que	é	a	força	que
empresta	capacidade	à	nossa	vida.
I	-	O	Ajudador	Vindouro	(Jo	14.16,17)
Os	discípulos	temem	ser	abandonados	com	a	ausência	de	Cristo;	temem	ficar
sem	condições	para	enfrentar	o	mundo,	mas	ele	os	tranqüiliza	com	a	promessa
da	vinda	do	Espírito,	para	ficar	com	eles	durante	a	sua	ausência.
1.	O	Espírito	e	o	Pai.	“E	eu	rogarei	ao	Pai,	e	ele	vos	dará	outro	Consolador”.	A
palavra	original	traduzida	por	“rogar”	dá	a	entender	a	apresentação	de	um	desejo
ou	pedido	de	igual	para	igual;	a	palavra	denota	o	sentido	de	aproximação	e
presença,	e	descreve	a	obra	mediadora	de	Cristo	na	presença	do	Pai.	Sugerem-se,
incidentalmente,	três	lições:	1)	A	divindade	de	Cristo.	Pede	a	Deus,	em	termos
de	condição	de	igualdade,	que	o	Espírito	Santo	seja	doado	à	humanidade.	2)	A
Trindade.	Trata-se	aqui	das	três	Pessoas	Divinas:	Cristo	roga	ao	Pai,	e	Ele	envia
o	Consolador	Divino.	3)	O	Espírito	é	uma	dádiva,	ou	doação:	“Ele	vos	dará”.	O
Espírito	é	oferecido	como	dom,	e	não	como	privilégio	que	pode	ser	merecido	por
meio	de	obras	ou	méritos.	A	obediente	fé	é	a	mão	vazia	estendida	que	aceita	o
presente.
2.	O	Espírito	e	Cristo.	O	Espírito	é	chamado	de	“Consolador”	que,	no	original,
tem	o	seguinte	significado:	“alguém	chamado	para	ficar	ao	lado	de	uma	pessoa
para	ajudá-la	de	qualquer	modo,	mormente	em	processos	civis	e	penais”.	O
Espírito,	portanto,	vem	como	Ajudador	e	Advogado,	preenchendo	as
necessidades	dos	apóstolos,	que	se	sentiam	fracos	e	indefesos	ao	pensar	na
partida	de	Cristo.	É	chamado	de	“outro”	Consolador	porque	seria,	de	modo
invisível	e	espiritual,	aquilo	que	Cristo	tinha	sido	para	eles	de	modo	visível	e
literal	durante	três	anos	e	meio	de	convívio.	Hoje,	o	Espírito	é	para	os	crentes	o
que	Jesus	de	Nazaré	era	para	os	apóstolos.
3.	O	Espírito	e	os	discípulos.	Qual	o	relacionamento	do	Espírito	com	os
discípulos?	1)	Permaneceria	para	sempre	com	eles,	em	contraste	com	a	breve
vida	de	Cristo	na	terra,	entre	eles.	2)	“Vós	o	conheceis,	porque	ele	habita
convosco”.	A	preposição	“com”	tem	o	sentido	de	comunhão.	Os	discípulos,
mediante	o	contato	pessoal	com	Cristo	e	o	recebimento	do	poder	milagroso	(Mt
10.1),	conheciam	as	manifestações	do	Espírito	Santo.	A	partir
do	dia	de	Pentecostes,	o	Espírito	habitava	neles	em	toda	a	sua	plenitude,	de	um
modo	que	nunca	haviam	experimentado.	“E	estará	em	vós”	(cf.	Jo	7.39).	O
Espírito	de	Cristo	não	podia	estar	neles	enquanto	estivesse	em	pessoa	com	eles.
Foi	por	isso	que	Jesus	disse:	“Convém	que	eu	vá”	(16.7),	muito	embora
enquanto	Cristo,	cheio	do	Espírito,	podia-se	dizer	que	o	Espírito	também	estava
vivendo	“com	eles”.
4.	O	Espírito	e	o	mundo.	Os	nomes	dados	ao	Espírito	revelam	os	seus	vários
ofícios.	Por	exemplo,	quando	é	chamado	de	Espírito	“Santo”,	há	especial
referência	à	sua	obra	santificadora;	quando	é	chamado	o	Espírito	“de	Deus”,
refere-se	ao	fato	de	ter	vindo	da	parte	de	Deus;	quando	é	chamado	o
“Consolador”,	pensamos	no	seu	papel	de	Representante	de	Cristo.	No	versículo
17,	é	chamado	o	“Espírito	da	verdade”,	ou	seja,	aquele	que	nos	ensina	a	verdade
acerca	de	Deus.	Ele	está	pronto	a	ensinar	a	todos.	No	caso	daqueles	que
deliberadamente	fecham	os	olhos	e	endurecem	os	seus	corações,	aplicam-se	as
palavras:	“que	o	mundo	não	pode	receber,	porque	não	o	vê	nem	o	conhece”.
Homens	mundanos,	que	consideram	as	coisas	visíveis	a	única	realidade,	não
discernem	nem	entendem	as	operações	do	Espírito	(cf.	1	Co	2.14).
II	-	O	SenhorPresente	(Jo	14.18-24)
1.	A	promessa	da	manifestação	espiritual.
1.1.	A	volta	espiritual.	“Não	vos	deixarei	órfãos”.	Nos	seus	discursos	de
despedida,	o	Senhor	trata	os	discípulos	como	um	pai	trata	seus	filhinhos	(Jo
13.33).	Vendo	seus	rostos	tristes	(Jo	16.6),	promete-lhes	que	não	ficarão	sem	os
seus	cuidados	paternais.	Tranqüiliza-os,	dizendo:	“Voltarei	para	vós”.	Neste
contexto,	as	palavras	de	Cristo	referem-se	principalmente	à	sua	manifestação
espiritual	entre	eles	e	à	comunhão	através	do	Consolador	(cf.	v.	21).
1.2.	A	visão	espiritual:	“Ainda	um	pouco,	e	o	mundo	não	me	verá	mais,	mas	vós
me	vereis”;	o	primeiro	cumprimento	destas	palavras	deu-se	quando	Jesus
apareceu	aos	discípulos,	depois	da	ressurreição	(At	10.41),	e	o	cumprimento
mais	profundo	refere-se	à	revelação	de	Jesus	aos	seus	em	manifestação	espiritual
(cf.	Gl	1.16).
1.3.	A	vida	espiritual.	“Porque	eu	vivo,	e	vós	vivereis”.	Mediante	a	manifestação
do	Espírito	Santo,	terão	plena	certeza	de	que	Ele	vive	no	Céu,	e	esta	certeza	lhes
servirá	de	garantia	de	que,	agora	e	para	todo	o	sempre,	gozarão	a	vida	eterna.	A
certeza	da	imortalidade	não	provém	de	argumentos	abstratos,	e	sim	do	contato
vital	com	o	Espírito	de	Cristo.	O	especialista	em	lógica	pode	dizer:	“Minha
conclusão	é	a	de	que	certamente	deve	existir	a	vida	futura”;	mas	aquele	que	tem
o	Espírito	pode	dizer:	“Tenho	a	verdadeira	sensação	da	vida	eterna”.
1.4.	O	conhecimento	espiritual.	“Naquele	dia	conhecereis	que	eu	estou	em	meu
Pai,	e	vós	em	mim,	e	eu	em	vós”.	Os	discípulos	tinham	sentido	dificuldade	para
entender	as	referências	quanto	ao	relacionamento	de	Cristo	com	o	Pai,	e	ao
relacionamento	deles	com	Cristo;	depois	da	vinda	do	Espírito	da	Verdade,	no
entanto,	compreenderiam	tudo,	como	se	vê	no	testemunho	nítido	de	Pedro,	no
Dia	de	Pen-	tecostes	(At	2.33,36),	dia	que	Jesus	profetizara	com	a	seguinte
expressão:	“Naquele	dia”.	O	derramamento	do	Espírito	foi	como	um	grande
holofote	que	iluminou	com	clareza	meridiana	o	terreno	que	tinha	estado	escuro
aos	olhos.
2.	A	condição	prévia	de	tal	manifestação	espiritual.
2.1.	A	declaração.	“Aquele	que	tem	os	meus	mandamentos	e	os	guarda,	esse	é	o
que	me	ama;	e	aquele	que	me	ama	será	amado	de	meu	Pai,	e	eu	o	amarei,	e	me
manifestarei	a	ele”.	À	medida	que	os	discípulos	demonstram	seu	amor	por	meio
da	obediência,	Cristo	revela-se	a	eles,	no	íntimo	da	sua	consciência	(cf.	Ap
3.20).
2.2.	A	pergunta.	“Disse-lhe	Judas	(não	o	Iscariotes):	Senhor,	donde	vem	que	te
hás	de	manifestar	a	nós,	e	não	ao	mundo?”	Judas,	como	os	demais,	demorou	a
entender	o	sentido	espiritual	das	palavras	de	Cristo.	Sabia	que	Jesus	era	o
Messias,	e	que	profecias	anunciavam	que	ele	viria	de	modo	visível	aos	homens,
mas	não	entendia	a	revelação	de	Jesus	a	apenas	algumas	poucas	pessoas.
2.3.	A	resposta.	“Jesus	respondeu,	e	disse-lhe:	Se	alguém	me	ama,	guardará	a
minha	palavra,	e	meu	Pai	o	amará,	e	viremos	para	ele,	e	faremos	nele	morada.
Quem	me	não	ama	não	guarda	as	minhas	palavras;	ora,	a	palavra	que	ouvistes
não	é	minha,	mas	do	Pai	que	me	enviou”.	Judas	não	conseguia	entender	que	o
Mestre	estava	falando	de	uma	manifestação	espiritual,	e	não	da	sua	imediata
manifestação	pessoal	e	física.	Somente	as	pessoas	que	ficassem	“em	harmonia”
com	Ele,	mediante	a	obediência,	estariam	em	condições	de	receber	tal
manifestação.	Desta	forma,	o	mundo	em	geral	seria	excluído	(cf.	v.	17).
III	–	O	Ensinador	Divino	(Jo	14.25,26)
Cristo	poderia	ter	dado	mais	explicações,	mas	os	discípulos	não	estavam
espiritualmente	em	condições	de	entender	tudo	quanto	Jesus	queria	ensinar-lhes
no	pouco	tempo	que	ainda	sobrava.	Para	explicações	adicionais,	fez	referência
ao	Ensinador	que	estava	por	vir	—	o	Espírito	Santo,	que	daria	um	testemunho
inspirado	das	palavras	de	Jesus:	“Tenho-vos	dito	isto,	estando	convosco.	Mas
aquele	Consolador,	o	Espírito	Santo,	que	o	Pai	enviará	em	meu	nome,	esse	vos
ensinará	todas	as	cousas	[o	que	levou	à	escrita	das	Epístolas],	e	vos	fará	lembrar
de	tudo	quanto	vos	tenho	dito	[o	que	levou	à	escrita	dos	Evangelhos]”.
IV	–	A	Paz	Que	Permanece	(Jo	14.27,28)
1.	A	bênção	prometida.	“Deixo-vos	a	paz,	a	minha	paz	vos	dou:	não	vo-la	dou
como	o	mundo	a	dá”.	A	paz	é	a	íntima	segurança	da	alma,	baseada	na
reconciliação	com	Deus.	Cristo	já	obteve	para	nós	esta	paz.	Note	que	Ele	disse:
“minha	paz”.	Apesar	das	tristezas,	tentações	e	perseguições	que	enfrentou	neste
mundo,	para	o	nosso	eterno	bem,	Ele	sempre	levava	consigo	a	sua	própria	paz.
Nossa	experiência	neste	mundo	pode	ser	assim,	também.
2.	A	bênção	dada.	Foi	deixada	como	herança	de	Cristo	na	sua	partida,	no	seu
último	testamento,	assinado	e	selado	com	o	seu	próprio	sangue.	É	uma	dádiva,	e
não	algo	como	o	salário	do	nosso	trabalho,	fruto	do	nosso	esforço.	Desfrutamos
dessa	herança	à	medida	que	a	aceitamos	pela	fé.
3.	A	bênção	comparada.	“Não	vo-la	dou	como	o	mundo	a	dá”.	A	saudação
comum	daqueles	dias	era:	“Paz	seja	contigo”.	O	Senhor,	no	entanto,	realmente
estava	dando	a	paz,	e	não	apenas	a	desejando	para	alguém.	Era	a	paz	que	o
mundo	não	pode	entender	nem	oferecer,	pois	a	única	paz	que	o	mundo	conhece	é
a	que	se	vincula	à	prosperidade	financeira,	que	qualquer	reviravolta	pode
destruir.	A	paz	de	Deus,	entretanto,	independe	de	circunstâncias	exteriores;
conserva	o	coração	livre	das	preocupações	mesmo	em	meio	às	dificuldades.
4.	A	bênção	aplicada.	Essas	últimas	palavras	talvez	tenham	feito	com	que	os
discípulos	mostrassem	tristeza,	pensando	na	separação;	então,	o	Senhor	disse:
“Não	se	turbe	o	vosso	coração,	nem	se	atemorize.	Ouvistes	que	eu	vos	disse:
Vou,	e	volto	para	vós.	Se	me	amásseis,	certamente	exultaríeis	por	ter	dito:	Vou
para	o	Pai;	porque	o	Pai	é	maior	do	que	eu”.	Estas	palavras	não	diminuem	a
verdade	sobre	divindade	de	Cristo;	realmente	a	ensinam,	porque	nenhum	homem
teria	a	necessidade	de	declarar	que	o	Deus	Onipotente	é	maior	do	que	ele.	Por
exemplo,	um	filho	adulto	pode	ser	considerado	igual	a	seu	pai,	sendo
participante	da	mesma	natureza;	da	mesma	forma,	Cristo	é	igual	ao	Pai	por
participar	da	perfeita	natureza	divina.	No	entanto,	por	ser	Filho,	ocupava	uma
posição	de	subordinação	enquanto	vivia	na	terra	(cf.	1	Co	15.28).	O	propósito
prático	das	palavras	de	Jesus	era	oferecer	aos	discípulos	a	certeza	de	que	a
partida	de	Cristo	redundaria	na	extensão	da	sua	obra	redentora,	porque,	no	Céu,
Ele	participaria	da	onipotência	do	Pai.
V	–	Ensinamentos	Práticos
1.	O	Cristo	Vivo.	Pessoas	há	que	reconhecem	perfeito	o	caráter	de	Cristo,
admiram	a	moralidade	ensinada	por	Ele	e	desejam	seguir	os	seus	passos.
Algumas,	no	entanto,	têm	dificuldade	em	crer	no	Cristo	realmente	vivo	aqui	e
agora,	pronto	a	socorrê-las	espiritualmente.	Aceitam-no	como	Ensinador,	como
aquEle	que	mostra	o	caminho	para	Deus;	precisam,	no	entanto,	aceitá-lo	como
Salvador,	como	aquEle	que	lhes	dá	as	forças	necessárias	para	trilhar	aquele
caminho.	Para	ser	verdadeiramente	salvo,	o	homem	deve	achar	a	conexão	entre
si	mesmo	e	Deus.
Sem	dúvida,	o	formalismo	que	impera	em	muitas	partes	da	cristandade	tem
levado	muitos	a	duvidarem	do	real	poder	do	Cristianismo.	As	igrejas	precisam
de	um	poderoso	batismo	de	força	espiritual	que	fará	com	que	Cristo	seja
recebido	como	viva	realidade	nas	almas	humanas.	Então,	as	igrejas	voltarão	a	ter
o	fulgor	perdido	do	Cristianismo.
2.	Experimentando	a	divindade	de	Cristo.	Muitas	obras	teológicas	têm	sido
escritas	para	comprovar	a	divindade	de	Cristo,	e	estas	têm	certa	utilidade;	mas,
apesar	de	tudo,	é	a	experiência	cristã	que	melhor	nos	ensina	a	doutrina	cristã.	O
relacionamento	que	existe	entre	o	Cristo	e	o	Pai	é	algo	de	que	podemos	tomar
consciência:	“Naquele	dia	conhecereis	que	estou	em	meu	Pai,	e	vós	em	mim,	e
eu	em	vós”.
Um	pregador	simples,	morador	de	uma	zona	rural,	compareceu	diante	da
comissão	de	ordenação,	e	perguntaram-	lhe:	“Como	sabes	que	Cristo	é	divino?”
Respondeu	ele:	“Que	dúvida!	Ele	me	salvou	a	alma!”	E	a	resposta	valeu	tanto
quanto	a	melhor	definição	que	um	teólogo	poderia	dar.	O	que	Cristo	faz	é	a
melhor	indicação	de	quem	Ele	é.
3.	A	amorosa	obediência	é	o	caminho	da	experiência	espiritual.“Se	alguém	me
ama,	guardará	a	minha	palavra,	e	meu	Pai	o	amará,	e	viremos	para	ele,	e	faremos
nele	morada”.	Esta	foi	a	resposta	à	pergunta	de	Judas,	que	queria	saber	como
Jesus	podia	ser	visível	aos	seus	discípulos,	sem	ser	visível	ao	mundo	em	geral.
Jesus	estaria	presente	espiritualmente	após	a	sua	ressurreição,	mas	somente	o
magnetismo	de	um	coração	amoroso	poderia	atrair	tal	presença.	Quando	se	trata
de	ver	e	entender	a	Cristo,	um	ato	de	amorosa	obediência	vale	mais	do	que
muitas	horas	de	especulação	e	considerações	filosóficas:	“Se	alguém	quiser	fazer
a	vontade	dele,	pela	mesma	doutrina	conhecerá	se	ela	é	de	Deus,	ou	se	eu	falo	de
mim	mesmo”	(Jo	7.17).
4.	“Que	o	mundo	não	pode	receber”.	O	mundo	pode	receber	e	dar	valor	a	muitas
coisas	boas	—	na	natureza,	na	arte,	na	literatura,	na	conduta	humana	—,	mas,
mesmo	assim,	não	reconhece	o	Espírito	Santo.	Jesus	explica	de	duas	maneiras
esta	conduta	estranha:
4.1.	“Porque	não	o	vê”.	Esta	é	a	principal	objeção	do	homem	natural	aos	ensinos
acerca	do	Espírito	Santo.	“Não	posso	ver	o	Espírito	Santo”,	diz.	O	vento,	porém,
apesar	de	não	ter	corpo	sólido	e	de	ser	invisível,	não	deixa	de	ser	real.	“É
verdade”,	responde	o	interlocutor,	“mas	podemos	sentir	o	vento,	ver	seus
movimentos	nas	folhas	e	escutá-lo	assobiando	entre	as	árvores”.	Exatamente	da
mesma	maneira	a	presença	do	Espírito	Santo	é	reconhecida	quando	faz	vibrar	os
corações	dos	homens	(Gl	5.22,23).
Quando	a	Sra.	Catherina	Booth-Clibborn	fazia	reuniões	evangelísticas	em	Paris,
um	francês	cético	aproximou-se	dela	e	disse:	“Indique	qual	é	o	fruto	que	a
natureza	e	a	educação	não	podem	produzir,	e	eu	crerei”.	A	evangelista	citou	as
palavras	de	Lucas	6.27-29:	“Amai	a	vossos	inimigos,	fazei	o	bem	aos	que	vos
aborrecem.	Bendizei	os	que	vos	maldizem,	e	orai	pelos	que	vos	caluniam.	Ao
que	te	ferir	numa	face,	oferece-lhe	também	a	outra”.	O	francês,	com	uma	mesura
de	cortesia,	disse:	“A	senhora	tem	razão;	tais	coisas	não	existem	na	natureza
humana.”
4.2.	“Nem	o	conhece”.	O	homem	do	mundo	não	passou	por	qualquer	experiência
com	o	Espírito	Santo	e,	portanto,	nada	conhece	dEle.	É	um	desperdício	de
palavras	procurar	descrever	a	música	a	um	surdo,	sem	que	ele	possa	ouvi-la	por
si	mesmo,	e	nunca	poderemos	explicar	as	cores	a	uma	pessoa	cega	de	nascença.
Para	conhecer	e	dar	valor	a	coisas	espirituais,	faz-se	necessária	uma	mudança	de
coração	(1	Co	2.14).
5.	Para	a	obra	espiritual,	precisamos	de	poder	espiritual.	Quando	D.	L.	Moody
fazia	reuniões	em	Birmingham,	Inglaterra,	certo	líder	denominacional	ficou
espantado	com	os	tremendos	resultados,	e	disse	a	Moody	que	a	obra	certamente
procedia	de	Deus,	porque	nenhuma	relação	havia	entre	a	capacidade	pessoal	de
Moody	e	a	obra	realizada.	Foi	esta	uma	prova	da	realidade	do	Ajudador
prometido	por	Cristo.	Se	procurarmos	produzir	resultados	naturais,	bastarão	as
forças	que	o	mundo	fornece;	se	desejarmos	resultados	espirituais,	nada
poderemos	fazer	sem	o	Espírito	Santo.
Há	bem	mais	de	um	século,	o	missionário	Roberto	Morrison	embarcou	no	navio
que	o	levaria	à	China,	a	fim	de	iniciar	uma	tarefa	que,	para	muitos,	parecia
desesperadora.	“Você	imagina”,	disse-lhe	o	capitão	do	navio,	“que	vai	converter
a	China?”	“Não”,	respondeu	Morrison,	“mas	creio	que	Deus	o	fará”.	Assim
falou	quem	se	sentiu	incapacitado	sem	o	Ajudador!	Qualquer	pessoa,	juntamente
com	a	presença	do	Espírito	Santo,	pode	ser	um	obreiro	espiritual!
18
Jesus	É	a	Videira
Texto:	João	15
Introdução
Cristo	e	seus	discípulos	haviam	acabado	de	participar	da	Ceia.	Ele	anunciara	que
era	mister	a	sua	partida,	e	prometeu	que	enviaria	o	Consolador	para	ser	a
invisível	representação	da	sua	presença.	As	expressões	de	incompreensão	e
tristeza	nos	rostos	dos	discípulos	levaram	Cristo	a	dar-lhes	a	mais	simples
ilustração	da	promessa	do	Consolador	e	da	sua	contínua	presença	entre	eles,
removendo	o	temor	da	total	separação	com	as	palavras:	“Eu	sou	a	videira,	vós	as
varas”.
A	ilustração	também	serviu	para	ensinar-lhes	que	seu	sucesso	como	obreiros
cristãos	dependia	de	sua	união	com	Ele.
I	-	A	Natureza	da	Comunhão	com	Cristo	(Jo	15.1-3)
A	comunhão	com	Cristo,	em	toda	a	sua	abrangência,	é	explicada	pelas	três
seguintes	ilustrações:	1)	A	Videira,	2)	o	Agricultor	e	3)	os	ramos.
1.	A	Videira:	Cristo.	“Eu	sou	a	videira	verdadeira”.	O	que	o	Senhor	tinha	em
mente	ao	dizer	estas	palavras?	Talvez	pensasse	nas	vinhas	do	monte	das
Oliveiras	e	na	quantidade	de	galhos	podados	que	ali	se	queimavam;	ou	na
videira	de	ouro,	símbolo	de	Israel,	que	ornamentava	um	dos	portões	do	templo;
ou,	ainda,	talvez	meditasse	sobre	o	produto	da	videira,	o	vinho,	que	naquela	Ceia
veio	a	ser	símbolo	da	sua	morte	sacrifical.
Por	que	Jesus	afirmou	ser	a	“videira	verdadeira”?	Foi	porque	as	coisas	boas
desta	terra	não	passam	de	sombras	das	realidades	eternas.	O	pão	natural	que
alimenta	o	corpo	não	passa	de	um	imperfeito	símbolo	de	Cristo,	o	verdadeiro
Pão	que	alimenta	a	alma.	A	água	natural,	que	satisfaz	a	sede	do	corpo,	é	apenas
uma	leve	sugestão	de	Cristo,	a	Água	Viva,	que	satisfaz	a	sede	da	alma.	O
Senhor,	dizendo	ser	a	Videira	verdadeira,	ensinou	que,	assim	como	a	videira
natural	é	a	fonte	de	vida	e	fruição	para	seus	ramos,	também	era	Ele	a	verdadeira
fonte	da	vida	frutífera	dos	seus	seguidores.
2.	O	Agricultor:	Deus	Pai.	“Meu	Pai	é	o	lavrador”.	Nestas	palavras,	Deus	é
descrito	como	sendo	Dono	e	Cultivador	da	vinha,	com	o	exercício	das	seguintes
funções:	1)	Ele	plantou	a	videira,	ou	seja,	foi	Ele	quem	enviou	seu	Filho	a	este
mundo	para	ser	fonte	de	vida.	2)	Ele	corta	os	ramos	infrutíferos:	“Toda	a	vara,
em	mim,	que	não	dá	fruto,	a	tira”.	Assim	como	se	remove	os	ramos	inúteis,
também	são	removidos	os	cristãos	professos	que	não	têm	vida	espiritual.	Foi	este
o	juízo	divino	pronunciado	contra	a	nação	de	Israel	(Lc	13.6-10;	Rm	11.17-21).
Judas	Iscariotes	é	exemplo	destacado	de	alguém	que	foi	cortado	do	convívio
com	Cristo	(At	1.16-20).	A	aplicação	se	vê	em	1	Coríntios	5.1-5;	11.29,30;	1
Timóteo	1.20;	Mateus	18.34,35;	25.24-30;	e	2	Pedro	1.8-10	(cf.	Rm	8.9;	Gl
5.22,23).	3)	Ele	limpa	(poda)	o	ramo	frutífero:	“E	limpa	toda	aquela	que	dá
fruto,	para	que	dê	mais	fruto”.	Poderí-
amos	supor	que	os	ramos	frutíferos	ficariam	livres	da	severidade,	por	serem
motivos	de	satisfação	para	o	Agricultor.	No	entanto,	assim	como	videiras	boas
são	podadas	sem	hesitação,	a	fim	de	concentrarem	a	seiva	nos	cachos,	também
os	filhos	de	Deus	muitas	vezes	recebem	severas	disciplinas	a	fim	de	se	tornarem
mais	eficazes	na	obra	cristã.	Mediante	a	aplicação	da	disciplina,	o	Pai	remove	da
alma	humana	os	empecilhos	à	vida	e	ao	crescimento	—	as	ambições	desta	vida,
a	traiçoeira	influência	das	riquezas,	as	concupiscências	da	carne	e	as	paixões	da
alma	(Hb	12.611).	4)	Neste	ponto,	Cristo	tranqüiliza	seus	discípulos:	“Vós	já
estais	limpos,	pela	palavra	que	vos	tenho	falado”.	Tinham	seguido	os	seus
ensinos,	estavam	em	comunhão	com	Ele	(Jo	13.8-11).
3.	Os	ramos.	“Vós	sois	os	ramos”.	Os	discípulos	são	os	meios	através	dos	quais
o	próprio	Cristo	produz	o	seu	fruto	neste	mundo,	sendo	para	Ele	o	que	os	ramos
são	para	a	videira.	Sua	obra	pessoal	tinha	sido	treiná-los	e,	por	assim	dizer,
transmitir-lhes	a	seiva	da	divina	vida	e	verdade,	e	a	parte	que	lhes	cabia	era
transformar	a	seiva	em	uvas.	O	Pai	enviara	o	Filho	ao	mundo	a	fim	de	dar	vida,	e
o	Filho	já	a	transmitira	aos	seus	discípulos;	agora,	na	sua	ausência,	a	obra	deles
seria	ceder	ao	Espírito	e	produzir	fruto.	Esta	união	de	Cristo	com	seus	discípulos
é	espiritual,	a	união	da	vida	divina	com	a	vida	humana;	é	real	e	vital,	não	sendo
um	assunto	de	meramente	se	afiliar	a	alguma	organização;	é	mútua,	porque
devemos	consentir	em	aceitar	a	união	com	ele;	é	muito	estreita,	não	podendo
haver	união	mais	estreita	do	que	a	união	entre	a	videira	e	seus	ramos.
II	-	A	Importância	da	Comunhão	com	Cristo	(Jo	15.4,6)
“Estai	em	mim,	e	eu	em	vós;	como	a	vara	de	si	mesma	não	pode	dar	fruto,	se	não
estiver	na	videira,	assim	nem	vós,	se	não	estiverdes	em	mim”.	Naquele
momento,	os	discípulos	estavam	em	estreito	contato	com	Cristo,	mas	deviam
permanecer	sempreassim	para	cumprir	a	sua	obra	espiritual	no	mundo.
1.	A	razão.	“Quem	está	em	mim,	e	eu	nele,	esse	dá	muito	fruto”	(v.	5).	O	fruto	é
a	propagação	do	Evangelho	e	a	conquista	de	almas.	Inclui-se	a	santidade	pessoal
(Gl	5.22,23),	que	é	um	dos	meios	de	produzir	frutos,	conservar	e	desenvolver	a
obra	de	Deus.	Dar	fruto,	ou	seja,	produzir	reais	resultados	espirituais,	é	o
propósito	da	religião	de	Cristo	e,	portanto,	o	teste	prático	da	sinceridade	e
capacidade	espiritual	dos	que	dizem	ser	seus	discípulos.	Quando	o	“fazer”	quer
tomar	o	lugar	do	“crer”,	é	errado	e	mau;	quando,	porém,	é	o	efeito	da	fé	em
ação,	é	bom	e	precioso.	Qual	a	prova	real	da	qualidade	de	uma	árvore	frutífera?
É	o	fruto	que	produz.	“Porque	sem	mim	nada	podeis	fazer”.	Indiretamente,	estas
palavras	ensinam	a	divindade	de	Cristo,	o	Onipotente.	Diretamente,	ensinam
que,	fora	do	contato	com	Cristo,	não	temos	vida,	apoio,	inspiração	ou	resultado
espirituais	e	verdadeiros	no	ministério	cristão.
2.	A	advertência.	“Se	alguém	não	estiver	em	mim,	será	lançado	fora,	como	a
vara,	e	secará;	e	os	colhem	e	lançam	no	fogo,	e	ardem”.	Tal	é	a	penalidade	de
afastar-se	de	Cristo.	É	uma	lei	que	se	percebe	em	toda	a	natureza	—	que	a
faculdade	que	não	é	exercitada	fica	paralisada,	atrofiada.	Conservamos	as	nossas
faculdades	ao	empregá-las,	e,	deixando	de	exercê-las,	perdemo-las.
Note	quão	gradual	e	progressivo	é	este	processo:	falta	de	fruto,	secar,	ser	lançado
fora,	ser	apanhado,	ser	queimado.	O	que	simboliza	o	queimar	neste	versículo?
Refere-se	aos	ensinos	de	Mateus	18.34,35	e	25.30,	e	Lucas	12.45,46?	Ou
explica-se	nas	seguinte	passagens	bíblicas	-	1	Coríntios	3.12-15;	5.4,5;	11.29-32;
Hebreus	12.5-11;	Lucas	12.47,48?	Seja	qual	for	a	conclusão,	não	pode	haver
dúvida	quanto	às	graves	conseqüências	de	se	ficar	de	fora	de	comunhão	com
Cristo.
III	–	Os	Resultados	da	Comunhão	com	Cristo	(Jo	15.5,7,8)
1.	Quanto	aos	discípulos.	1)	Os	que	permanecem	em	Cristo	dão	fruto	genuíno	e
abundante.	A	vida	de	Cristo	na	alma	do	crente	produz	resultados	marcantes	e
reais.	2)	Sucesso	na	oração.	“Se	vós	estiverdes	em	mim	[conservando	a
comunhão	com	Cristo],	e	as	minhas	palavras	estiverem	em	vós	[se	os
ensinamentos	de	Cristo	controlam	nossos	pensamentos	e	idéias	até	se
transformarem	em	nossa	orientação	e	inspiração],	pedireis	tudo	o	que	quiserdes,
e	vos	será	feito”.	Unidos	com	Cristo,	pedimos	em	nome	dele,	ou	seja,	de	acordo
com	a	sua	vontade,	e	conforme	os	melhores	interesses	do	seu	Reino	e	do	nosso
bem	espiritual.	3)	O	discipulado	completo.	“E	assim	sereis	meus	discípulos”.
Discípulos,	não	meramente	em	palavras,	mas	na	realidade.
2.	Quanto	ao	Pai.	“Nisto	é	glorificado	meu	Pai,	que	deis	muito	fruto”.	O
agricultor	é	respeitado,	e	sente-se	satisfeito	quando	a	lavoura	dá	bons	frutos.
Quando	os	crentes	vivem	e	colaboram	como	devem,	são	testemunhas	vivas	da
realidade	e	do	poder	de	Deus	e	de	Cristo.	O	que	acontece	quando	os	crentes
fracassam?	Veja	2	Samuel	12.14.
IV	–	O	Padrão	da	Comunhão	(Jo	15.9,10)
1.	O	padrão	do	amor.	“Como	o	Pai	me	amou,	também	eu	vos	amei	a	vós;
permanecei	no	meu	amor”.	É	como	se	Jesus	dissesse:	“Vocês	observaram	como
o	Pai	tem	ficado	comigo	durante	meu	ministério	na	terra,	e	como	seu	amor	me
tem	acompanhado	desde	o	Céu	até	à	terra.	Assim	também	é	grande	e	terno	o
meu	amor	por	vocês.	Vivam	de
modo	que	nada	venha	impedir	a	continuação	deste	derramamento	de	amor
celestial	em	suas	vidas”.
2.	O	padrão	da	obediência.	“Se	guardardes	os	meus	mandamentos,
permanecereis	no	meu	amor;	do	mesmo	modo	que	eu	tenho	guardado	os
mandamentos	de	meu	Pai,	e	permaneço	no	seu	amor”.	A	obediência	é	o	segredo
de	permanecer	no	amor	de	Cristo.	O	Senhor	nunca	incumbiu	os	discípulos	de
qualquer	dever	que	Ele	mesmo	não	se	dispusesse	a	cumprir.	Portanto,	aponta
para	o	exemplo	da	sua	própria	obediência	aos	mandamentos	do	Pai.
V	–	Os	Frutos	da	Comunhão	com	Cristo
Certas	coisas	decorrem	da	comunhão	com	Cristo:
1.	A	plenitude	da	alegria.	No	versículo	11	explica-se	o	duplo	motivo	dos	ensinos
de	Cristo	quanto	à	frutificação:	1)	“Tenho-vos	dito	isto,	para	que	o	meu	gozo
permaneça	em	vós”.	A	continuação	do	júbilo	cristão	no	coração	do	crente
depende	de	uma	vida	frutífera.	Mesmo	naquela	hora,	Cristo	sentia	júbilo	por
seus	discípulos,	embora	espiritualmente	imaturos,	assim	como	o	agricultor	se
sente	satisfeito	com	os	cachos	de	uvas	quando	ainda	são	pequenos,	verdes	e	sem
valor	comestível,	vendo	neles	a	promessa	das	uvas	maduras.	Cristo	transmite	sua
alegria	aos	discípulos:	a	alegria	da	comunhão	com	Deus,	da	perfeita	obediência,
do	perfeito	amor,	da	abnegação	e	da	dedicação.	2)	“E	o	vosso	gozo	seja
completo”.	A	perfeita	alegria	é	dada	àquele	que	frutifica	para	Cristo.	É	o	servo
fiel	que	ouvirá	as	palavras:	“Entra	no	gozo	do	teu	Senhor”.
2.	O	mandamento	do	amor.	“O	meu	mandamento	é	este:	Que	vos	ameis	uns	aos
outros,	assim	como	eu	vos	amei”.	O	Senhor	quer	ensinar	a	seus	discípulos	que
permanecer	no	amor	uns	dos	outros	é	quase	tão	necessário	ao	seu	bem	espiritual
como	o	fato	de	cada	um	deles	permanecer	nEle	pela	fé.	As	divisões,
partidarismos	e	ciúmes	teriam	efeitos	fatais	na	sua	obra.	O	padrão:	“assim	como
eu	vos	amei”.	Cristo	amou	seus	discípulos	com	amor	forte,	terno,	paciente,
perseverante	e	sacrifical,	ao	ponto	assim	descrito:	“Ninguém	tem	maior	amor	do
que	este:	de	dar	alguém	a	sua	vida	pelos	seus	amigos”.
3.	A	amizade	de	Cristo.	“Vós	sereis	meus	amigos”.	Segundo	a	Lei,	o
relacionamento	entre	Deus	e	seu	povo	era	o	de	senhor	para	com	os	seus	servos.
O	Senhor	Jesus	passou	a	estabelecer	um	novo	relacionamento,	que	acrescenta
divinal	dignidade	àqueles	que	trabalham	por	Ele:	“Se	fizerdes	o	que	eu	vos
mando”.	Geralmente	o	senhor	dá	ordem	aos	servos,	e	não	aos	amigos;	Cristo,
porém,	não	pode	ser	despojado	da	sua	autoridade:	Ele	é	nosso	Amigo,	e	também
o	nosso	Rei.	O	resultado	da	amizade:	“Já	não	vos	chamarei	servos,	porque	o
servo	não	sabe	o	que	faz	o	seu	senhor,	mas	tenho-vos	chamado	amigos,	porque
tudo	quanto	ouvi	de	meu	Pai	vos	tenho	feito	conhecer”.	A	intimidade	da
conversação	é	sinal	da	amizade.	Cristo	tinha	revelado	seu	coração	aos
discípulos,	contando-lhes	algumas	das	coisas	mais	profundas	dos	planos	divinos
(cf.	Ex	33.11).
4.	O	conhecimento	da	eleição	divina.	“Não	me	escolhestes	a	mim,	mas	eu	vos
escolhi	a	vós”.	A	eleição	refere-se	ao	fato	de	ser	escolhido	por	Deus.	Cristo
chamou	seus	discípulos	de	amigos,	mas	longe	estava	de	colocá-los	em	pé	de
igualdade	com	Ele.	Suas	palavras	aqui	mostram	que	sua	posição	de	amigos	não
decorre	de	qualquer	merecimento	da	parte	deles,	e	sim	dos	graciosos	propósitos
de	Cristo.	Tudo	quanto	são	e	serão,	devem-no	ao	seu	Senhor.	Note	os	propósitos
da	eleição:	“E	vos	nomeei,	para	que	vades”.	Foi	seu	plano	que	fossem	pregar	o
Evangelho,	saindo	por	toda	parte	(Mt	28.19,20).	“E	deis	fruto”,	o	que	se	refere
principalmente	a	ganhar	almas	e	aos	efeitos	do	seu	ministério.	“E	o	vosso	fruto
permaneça”.	Seu	ministério	deve	produzir	resultados	permanentes.	Por	exemplo,
a	conversão	de	D.	L.	Moody	foi	o	fruto	permanente	de	certo	jovem	pregador	que
estava	achando	acanhados	os	frutos	do	seu	ministério.	O	Peregrino	foi	o	fruto
das	meditações	de	John	Bunyan	enquanto	estava	encarcerado	pela	sua	fé,	fruto
este	que	tem	perdurado	até	agora,	e	que	decerto	será	apreciado	enquanto
existirem	cristãos	neste	mundo.	“A	fim	de	que	tudo	quanto	em	meu	nome
pedirdes	ao	Pai	ele	vo-	lo	conceda”.	Os	crentes	podem	ter	a	certeza	de	que	tudo
quanto	precisam	para	produzir	frutos	espirituais	está	ao	seu	alcance	mediante	a
oração.	Pedir	em	nome	de	Cristo	significa	pedir	de	acordo	com	a	sua	vontade,
dependendo	da	sua	intercessão	em	nosso	favor,	e	em	prol	dos	mais	altos
interesses	do	seu	Reino.
VI	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Somos	a	vinha	de	Deus.	Em	cada	etapa	do	crescimento,	e	a	cada	estação	do
ano,	o	viticultor	tem	algo	a	fazer	com	suas	videiras.	E	qual	o	seu	propósito?
Tudo	é	feito	na	esperança	de	virem	os	frutos.	Não	havendo	frutos,	seu	interesse
entra	em	colapso,	e	todos	os	cuidados	se	transformam	em	desperdício	de	tempo.
Na	realidade,	os	ramos	vazios	podem	até	ser	motivo	paraos	vizinhos	zombarem
do	viticultor.
Deus	é	como	o	viticultor.	Não	criou	o	mundo	e	os	homens	como	vão
passatempo.	Criou-nos	a	fim	de	que	venhamos	a	produzir	caráter	e	atos	de	seu
agrado.	É	este	o	fruto	que	justifica	o	trabalho	e	cuidados	que	Ele	dedicou	a	nós.
Caso	contrário,	a	decepção	de	Deus	será	a	que	se	expressa	em	Isaías	5.4:	“Que
mais	se	podia	fazer	à	minha	vinha,	que	eu	lhe	não	tenha	feito?	e	como,
esperando	eu	que	desse	uvas,	veio	a	produzir	uvas	bravas?”
Nossas	vidas	e	ações	estão	dando	ao	nosso	Criador	os	frutos	que	Ele	merece,
depois	de	tudo	o	que	fez	por	nós?
2.	“Porque	nenhum	de	nós	vive	para	si”	(Rm	14.7).	Os	crentes,	comparados	aos
ramos	da	videira,	não	somente	dependem	de	Cristo,	como	também	uns	dos
outros.	Devemos	aceitar	nossa	situação	de	ramos	porque	não	podemos	nos
separar	e	formar	nossas	próprias	raízes.	O	braço	cortado	fora	do	corpo,	o	ramo
cortado	fora	da	videira	—	é	assim	o	homem	que	quer	viver	para	si	mesmo.	Será
deixado	em	frio	isolamento.	Nossa	vida	só	pode	ser	vivida	plenamente	quando
reconhecemos	que	fazemos	parte	de	um	todo,	e	que	não	existimos	na	terra	para
levar	adiante	os	nossos	próprios	planos	nem	para	acumular	bens	para	nós
mesmos,	mas	para	promover	causas	que	beneficiem	a	todos	e	agradem	a	Deus.
3.	Limpos	pela	palavra.	Veja	João	15.3	e	Salmo	119.9.	Os	ensinamentos
administrados	aos	apóstolos,	quando	Cristo	repreendia	seus	erros,	corrigia	as
suas	falhas	e	purificava	os	seus	motivos,	tinham	poder	para	santificá-los.
Nós	também	podemos	sentir	o	poder	santificador	da	Palavra.	Por	exemplo,
estamos	perturbados,	com	preocupações	e	temores?	Então,	um	“banho”	em
Mateus	6.19-34	nos	fará	bem.	Estamos	carregados	com	descrença	e	dúvidas?
Devemos,	então,	tomar	um	bom	“banho”	em	Hebreus	11,	para	nos	sentirmos
cheios	de	fé	e	esperança.	Certo	homem	leu	1	Coríntios	13	uma	vez	por	semana
durante	três	meses,	e	isso	transformou-lhe	a	vida.	É	um	dos	muitos	exemplos	de
quão	real	e	prática	é	a	experiência	expressa	nas	palavras:	“Vós	já	estais	limpos,
pela	palavra	que	vos	tenho	falado”.
4.	Condições	para	produzir	fruto.	Fomos,	por	natureza,	ramos	de	uma	videira
degenerada;	pela	regeneração,	fomos	separados	do	antigo	tronco	e	enxertados	na
Videira	verdadeira.	Mesmo	assim,	precisamos	dos	contínuos	cuidados	do
Agricultor,	por	causa	dos	seguintes	perigos:
4.1.	O	ramo	pode	soltar-se;	daí	a	admoestação:	“Estai	em	mim”.	O	enxerto	não
somente	é	amarrado	ao	tronco,	como	também	coberto,	no	ponto	de	junção,	com
cera	ou	algo	semelhante,	para	excluir	qualquer	elemento	estranho.	Assim
também	na	vida	espiritual.	Nada	deverá	perturbar	a	nossa	firmeza	em	Cristo.
4.2.	O	segundo	perigo	é	que	o	ramo	pode	voltar	a	ser	um	galho	silvestre,
correndo	pelo	chão	na	forma	de	cipó,	que	produz	madeira	e	folhas	sem	fruto.
Quem	desconhece	as	videiras	poderia	considerar	um	desperdício	a	quantidade	de
sarmentos	e	folhas	que	se	corta	e	lança	fora	em	monturos.	A	poda,	no	entanto,
leva	a	videira	a	ganhar	muito	mais	do	que	perde	porque	é	feita	para	aumentar	o
produto.	Semelhantemente,	os	sofrimentos	e	a	disciplina	que	os	crentes	precisam
enfrentar	geralmente	têm	efeito	depurati-	vo,	como	se	fossem	resultado	da	divina
faca	de	poda,	cortando	os	brotos	da	vida	egoísta,	a	fim	de	que	todas	as	energias
da	alma	possam	manifestar	a	vida	de	Jesus	(cf.	Fp	3.10;	Hb	2.10;	12.5-12).
5.	A	perseverança	dos	santos.	“Se	alguém	não	estiver	em	mim,	será	lançado	fora,
como	a	vara”.	Existe	a	possibilidade	de	alguém	ter	conexão	com	Cristo	e	depois
ser	separado	dEle.	É	a	experiência	religiosa	abortiva,	que	não	é	verdadeira
conversão.	A	culpa	é	do	discípulo,	e	não	do	Mestre;	o	Mestre	não	abandona
ninguém;	seja	qual	for	a	nossa	fraqueza,	ou	desvantagens	naturais,	Deus	nos
levará	à	vitória	final,	se	nossa	vontade	for	entregue	a	Ele.
6.	“Sem	mim...	nada”.	Havia	um	costume	em	Munique,	Alemanha,	de	se	levar	a
uma	instituição	de	caridade	qualquer	criança	achada	na	rua	esmolando.	Fazia-se
um	retrato	da	criança	na	condição	em	que	foi	achada	e,	uma	vez	completada	a
sua	educação,	era	solta,	com	a	condição	de	levar	consigo,	e	guardar	para	sempre,
o	retrato	daquilo	que	era	antes	de	ser	alvo	da	misericórdia.	Aqui	há	uma	lição
para	todo	crente.	Muitos	crentes	chegam	a	ter	grande	sucesso	mediante	a	graça	e
poder	de	Cristo,	e	então	começam	a	gloriar-se	nas	suas	próprias	realizações.
Precisam	lembrar-	se	de	quem	os	transformou,	voltando-se	para	Ele	antes	que	as
vitórias	sejam	transformadas	em	fracassos.
7.	Condições	para	a	oração	respondida.	Leia	o	versículo	7.	A	disposição	de	Deus
quanto	a	responder	às	nossas	orações	é	um	convite	a	pedir.	Sugerem-se	as
seguintes	condições,	para	que	a	oração	possa	ser	atendida	por	Deus:
7.1.	A	glória	do	Pai	(Jo	14.13).	Nenhuma	oração	tem	possibilidade	de	chegar	à
fruição	se	não	for	inspirada	pelo	desejo	de	fazer	com	que	o	Pai	seja	conhecido,
amado	e	adorado;	Deus	honra	aos	que	o	honram.
7.2.	Em	nome	de	Cristo	(Jo	14.13).	Nas	Escrituras,	o	“nome”	representa	a
“natureza”.	Orar	em	nome	de	Cristo	é	orar	conforme	nos	inspira	nossa	natureza
cristã,	e	não	nosso	próprio-eu	carnal.	Orar	em	nome	de	Cristo	é	orar	no	Espírito
de	Cristo.
7.3.	Permanecendo	em	Cristo	(Jo	15.7).	Quando	permanecemos	com	Cristo	em
comunhão	diária,	a	unção	(“seiva”)	do	Espírito	Santo,	aprofundando	nossa
comunhão	com	o	Senhor	invisível,	produzirá	em	nós	desejos	e	petições
semelhantes	aos	que	Ele	incessantemente	apresenta	ao	Pai.	Ele	nunca	poderá
pedir	coisas	que	não	seriam	apropriadas	ao	Pai	conceder.
7.4.	A	conformidade	com	os	ensinos	de	Cristo.	“Se...	as	minhas	palavras
estiverem	em	vós”.	Os	ensinos	de	Cristo	são	como	juízes,	examinando	cada
petição	antes	que	cheguem	ao	Mestre.	Por	exemplo,	uma	petição	egoísta	seria
devolvida	com	o	pronunciamento:	“Mas	buscai	primeiro	o	reino	de	Deus,	e	a	sua
justiça”.	Uma	oração	manchada	por	sentimentos	de	má	vontade	pode	ser
retificada	com	a	injunção:	“Amai	os	vossos	inimigos	e	orai	pelos	que	vos
perseguem”.	A	oração	em	nome	de	Cristo	deve	conformar-	se	aos	seus	ensinos.
7.5.	A	oração	deve	relacionar-se	com	nosso	serviço	cristão	(v.	16).	A	oração
atinge	o	nível	mais	alto	quando	tem	a	finalidade	de	nos	ajudar	a	servir	aos	outros
na	propagação	do	Reino	de	Deus.
8.	A	perseverança	produz	o	gozo	perfeito.	“Tenho-vos	dito	isto,	para	que	o	meu
gozo	permaneça	em	vós,	e	o	vosso	gozo	seja	completo”.	Estas	exigências	quanto
à	vida	frutífera	visam	transformar	o	júbilo	de	um	recém-convertido	no	gozo
estável,	pleno	e	completo	do	espiritualmente	maduro.	A	perfeita	felicidade	é	para
quem	venceu	a	luta,	para	o	ceifeiro	depois	de	completa	a	colheita,	para	o	atleta
que	ganhou	o	prêmio	da	força,	da	perícia	e	da	velocidade.
Perseverando	em	fazer	o	bem,	ouviremos	a	voz	do	Senhor,	dizendo:	“Entra	no
gozo	do	teu	Senhor”.
9.	A	perfeita	amizade.	Note	como	Jesus	nos	oferece	todos	os	elementos	da
perfeita	amizade.
9.1.	Mantém	a	casa	aberta	para	nós.	Muitas	casas	têm	o	aviso:	“Não	se	recebem
mendigos	ou	vendedores”.	Este	Amigo,	porém,	avisa:	“Pedi,	e	dar-se-vos-á”.
9.2.	Jesus	sempre	olhava	o	lado	melhor	da	conduta	dos	seus	discípulos.	Havia
muitas	ocasiões	de	fracasso	entre	os	discípulos,	como	no	Getsêmani,	mas	Jesus,
em	vez	de	acusá-	los,	reconheceu	suas	limitações:	“O	espírito	está	disposto,	mas
a	carne	é	fraca”.
9.3.	Jesus	entende	as	alegrias	e	as	tristezas	dos	seus	amigos.	Seu	recado:	“Mas
ide,	dizei	a	seus	discípulos,	e	a	Pedro”	(Mc	16.7)	mostra	como	entendeu	os
sentimentos	do	seu	apóstolo	desencorajado.
9.4.	Jesus	tem	plena	confiança	nos	seus	amigos,	e	este	é	um	teste
importantíssimo	de	amizade.	Disse	o	Senhor	com	respeito	a	Abraão,	seu
“amigo”:	“Ocultarei	a	Abraão	o	que	estou	para	fazer?”	Os	que	entram	no
recôndito	da	sua	presença	sabem	que	o	segredo	do	Senhor	está	com	os	que	o
temem.
9.5.	Jesus	é	um	Amigo	que	nunca	abandona	os	que	o	amam.	“Como	havia
amado	os	seus,	que	estavam	no	mundo,	amou-os	até	ao	fim”	(Jo	13.1).	Podemos
saber	que,	também	neste	ponto,	Ele	é	o	mesmo	ontem,	hoje	e	para	sempre.
19
Jesus,	o	Intercessor
Texto:	João	17
Introdução
Cristo	acabara	de	tomar	a	Última	Ceia	com	os	discípulos,	e,	agora,prega	sua
última	mensagem	na	terra.	Chega	o	momento	mais	solene,	em	que	os	leva	à
presença	de	Deus,	proferindo	em	prol	deles	sua	última	oração	na	terra.	É
verdadeiramente	uma	oração	sacerdotal,	em	que	ora,	não	somente	por	eles,	como
também	por	todos	os	membros	futuros	da	sua	Igreja.	Já	ouvimos,	neste
evangelho,	Jesus	falando	ao	povo,	aos	inimigos	e	aos	discípulos;	agora,	o
ouvimos	falando	ao	Pai.
Por	certo,	a	oração	foi	pronunciada	de	modo	audível	(v.	13),	e	havia	motivo	para
isto.	Embora	se	tratasse	de	momentos	de	íntima	comunhão	entre	o	Filho	e	o	Pai,
era,	ao	mesmo	tempo,	uma	lição	solene	que	o	Mestre	ensinava	aos	discípulos.
Na	crise	suprema	da	obra	do	Senhor,	tinham	licença	de	escutar	o	significado
mais	profundo	da	sua	missão,	e	de	ficar	sabendo	o	papel	que	lhes	era	reservado.
A	oração	revela,	com	naturalidade,	três	divisões:	1)	a	oração	de	Jesus	por	si
mesmo	(v.	1-5);	2)	a	oração	de	Jesus	pelos	seus	discípulos	(v.	6-19);	3)	a	oração
de	Jesus	pela	Igreja	(v.	20-23).
I	-	A	Oração	de	Jesus	por	Si	Mesmo	(Jo	17.1-5)
“Pai,	é	chegada	a	hora	[da	glorificação	pela	morte];	glorifica	a	teu	Filho,	para
que	também	o	teu	Filho	te	glorifi-	que	a	ti”.	Cristo	pede	ao	Pai	que	o	glorifique
por	meio	da	aceitação	do	sacrifício	representado	pela	sua	morte	e	da	sua
ressurreição	dentre	os	mortos.	Feito	isto,	o	Filho	glo-	rificará	o	Pai,	mediante	a
conversão	de	pessoas	de	todas	as	nações.
Deus	glorificou	a	Cristo	ao	conceder-lhe	autoridade	para	poder	morrer	em	prol
dos	pecados	do	mundo	e	proclamar	à	humanidade	a	graciosa	oferta	de	salvação
da	parte	do	Pai:	“Assim	como	lhe	deste	poder	sobre	toda	a	carne	[a	humanidade
em	sua	fraqueza	e	mortalidade],	para	que	dê	a	vida	eterna	a	todos	quantos	lhe
deste”.	Embora	Cristo	tenha	recebido	autoridade	para	salvar	todos	os	homens,
nem	todos	aceitam	a	salvação.
“E	a	vida	eterna	é	esta:	que	te	conheçam	[não	intelectualmente,	mas	por
experiência	espiritual],	a	ti	só,	por	único	Deus	verdadeiro,	e	a	Jesus	Cristo,	a
quem	enviaste”.	A	vida	física	é	resultado	do	contato	vital	com	o	ambiente	físico;
com	o	dano	de	algum	órgão	vital,	rompe-se	tal	contato,	e	segue-se	a	morte.	A
vida	eterna	provém	do	contato	com	o	ambiente	espiritual.	Noutras	palavras,
decorre	da	comunhão	com	Deus	e	com	Cristo.
A	distinção	entre	a	imortalidade	e	a	vida	eterna:	a	imortalidade	refere-se	ao
corpo	e	significa	“não	estar	sujeito	à	morte”;	neste	sentido,	somos	todos	mortais;
porém,	na	ressurreição,	nossos	corpos	serão	mudados	e	seremos	imortais	—	não
sujeitos	à	morte.	A	vida	eterna	diz	respeito	primariamente	à	alma,	e	passa	a
pertencer	à	pessoa	do	momento	da	conversão	em	diante.	Agora	mesmo,	nós,	que
somos	filhos	de	Deus,	temos	a	vida	eterna;	na	vinda	do	Senhor,	teremos
imortalidade.
“Eu	glorifiquei-te	na	terra,	tendo	consumado	a	obra	que	me	deste	a	fazer”.
Mediante	uma	vida	de	absoluta	obediência,	Jesus	revelou	o	Pai,	glorificando-o,
portanto.
No	versículo	5,	Jesus	ora	para	que,	tendo	completado	sua	missão,	o	Pai	o
transporte	de	volta	deste	mundo	de	pecado	e	tristezas	para	o	estado	glorioso	que
deixou	para	trás	quando	se	tornou	homem	(cf.	Fp	2.5-11).
II	-	Jesus	Ora	Pelos	Discípulos	(Jo	17.6-19)
A	oração	pelos	discípulos	baseia-se	na	tríplice	declaração	do	que	eles	eram	em
relação	a	Cristo	(“Manifestei	o	teu	nome	aos	homens”),	em	relação	ao	Pai
(“eram	teus”)	e	em	relação	a	si	mesmos	(“eles	têm	guardado	a	tua	palavra”)	(v.
6).
O	versículo	9	não	sugere	que	haja	limitação	quanto	ao	amor	de	Cristo;	trata-se,
simplesmente,	de	uma	petição	que	somente	pode	ser	aplicada	aos	discípulos	—
para	o	mundo,	pode-se	pedir	a	conversão;	somente	para	os	discípulos	é	que	se
pode	rogar	que	sejam	santificados	e	guardados.
Note	como	Jesus	exalta	o	caráter	dos	discípulos;	testifica	que	eram	homens
piedosos,	dados	por	Deus,	com	a	chamada	divina.	“Eram	teus,	e	tu	mos	deste”.
Este	caráter	dá	testemunho	da	sua	perseverança	na	santidade	e	da	sua
obediência.	E	este	elogio	é	feito	apesar	das	suas	muitas	falhas.
A	petição	diz	respeito	à	sua	santificação:	primeiro,	no	sentido	negativo	de
separação	do	mal	(v.	11-16);	segundo,	no	sentido	positivo	de	dedicação	ao
serviço	de	Deus	(v.	17-19).
1.	A	preservação	do	mal.	Jesus,	enquanto	estava	com	os	discípulos,	exercia	sobre
eles	uma	influência	santificadora.	Agora,	está	para	sair	do	mundo	e	entrar	numa
nova	esfera,	e	pede	que	Deus	os	guarde	do	mal	que	há	no	mundo.	Chama	Deus
de	“Pai	Santo”,	porque	é	o	Santificador	dos	homens;	pede	que	Deus	os	conserve
em	seu	nome,	ou	seja,	na	sua	própria	natureza	e	força	(cf.	Sl	79.9;	Pv	18.10;	Is
64.2;	Jr	14.7,21;	Ez	20.9,22;	Mt	6.9).	Um	grupo	de	homens	preservados	assim
pelo	poder	de	Deus	também	participaria	da	natureza	divina	(cf.	2	Pe	1.4),
atingindo	assim	a	unidade	de	amor,	vontade	e	experiência.	Assim	ora	Jesus:
“Que	também	eles	sejam	um	em	nós”.	Assim	como	as	Pessoas	da	Trindade	são
uma,	apesar	de	distintas,	assim	deve	ser	a	situação	dos	membros	do	Corpo	de
Cristo.
Jesus	conservara	todos	os	apóstolos,	menos	um	—	Judas	Iscariotes.	Judas	foi
chamado	para	ser	apóstolo,	mas	se	tornou	apóstata.	Quanto	aos	demais
discípulos,	o	Senhor	sabia	que	teriam	de	enfrentar	um	mundo	corrupto	e	hostil,
mas	não	pediu	que	Deus	os	tirasse	do	mundo	porque,	caso	contrário,	perderiam	a
oportunidade	de	anunciar	aos	perdidos	a	salvação.	O	que	pede	é	que	Deus	os
guarde	do	mal	que	há	no	mundo	(v.	14-16;	cf.	1	Co	5.9-11).
2.	Dedicação	ao	serviço.	“Santifica-os	na	verdade;	a	tua	palavra	é	a	verdade”.
Apesar	de	sua	sinceridade,	os	apóstolos	ainda	precisavam	ser	aperfeiçoados;
assim	sendo,	Jesus	orou	para	que	fossem	santificados	na	verdade,	tendo	em
mente	aqui	não	tanto	o	seu	crescimento	espiritual	como	crentes	individuais,	mas
especialmente	seu	equipamento	espiritual	para	a	obra	missionária,	conforme	se
percebe	nas	palavras	seguintes:	“Assim	como	tu	me	enviaste	ao	mundo,	também
eu	os	enviei	ao	mundo”.
A	santificação	dos	apóstolos	é	vinculada	não	somente	à	sua	obra	para	Cristo,
mas	também	àquilo	que	Cristo	opera	neles:	“E	por	eles	me	santifico	a	mim
mesmo,	para	que	também	eles	sejam	santificados	na	verdade”.	Jesus	descreve
aqui	sua	missão	como	sendo	um	ato	de	total	sacrifício	de	si	mesmo,	visando	o
bem	eterno	de	outros.
III	–	Jesus	Ora	pela	Igreja	(Jo	17.20-23)
O	Senhor	parece	ter	uma	visão	das	multidões	de	todas	as	eras	históricas	que
chegariam	a	crer	através	do	testemunho	dos	apóstolos.	Faz	duas	petições	em
favor	delas.
1.	A	união	na	terra.	A	natureza	da	unidade:	“Que	também	eles	sejam	um	em
nós”.	Os	membros	da	Trindade	têm	um	só	propósito	e	desejo,	visando,	na	sua
obra,	a	salvação	da	raça	humana;	cada	Pessoa	da	Trindade	tem	seu	ofício
distinto;	porém,	onde	um	opera,	os	demais	colaboram	também.	É	este	o	alto
ideal	colocado	diante	da	Igreja	—	muitos	membros	vinculados	pelo	único
Espírito	e	cooperando	para	a	mesma	finalidade.
Note	especialmente	o	propósito	e	o	efeito	práticos	desta	união:	“Para	que	o
mundo	creia	que	tu	me	enviaste”.	As	divisões	são	empecilhos	à	obra	de	Cristo;	a
união	a	promove.
2.	A	união	no	Céu.	Leia	o	versículo	24.	Estas	palavras	têm	dupla	aplicação:	1)
Descrevem	a	presença	com	Cristo,	que	é	o	destino	dos	crentes	que	partiram	deste
mundo	(2	Co	5.8).	2)	Descrevem	a	reunião	final,	na	vinda	de	Cristo,	quando	toda
a	família	dos	crentes	estará	reunida	no	Céu	(1	Ts	4.17).
IV	–	Ensinamentos	Práticos
1.	A	vida	eterna.	“E	a	vida	eterna	é	esta:	que	te	conheçam,	a	ti	só,	por	único	Deus
verdadeiro,	e	a	Jesus	Cristo,	a	quem	enviaste”.	Quando	as	Escrituras	falam	em
vida	como	galardão	da	justiça,	isto	significa	algo	muito	mais	importante	do	que	a
continuada	existência,	porque	até	os	ímpios	existirão,	mas	no	inferno.	A	vida
verdadeira	significa	viver	em	comunhão	com	Deus,	uma	comunhão	que	a	morte
não	poderá	interromper	ou	destruir.
Certo	homem	mundano	disse	a	um	pregador:	“Por	que	vocês	pregadores	nunca
têm	mensagem	para	nós,	os	que	tememos	a	imortalidade?	O	mero	pensamento
de	nossa	existência	ter	continuidade	não	consola	ninguém;	até	nos	horroriza.
Não	se	trata	de	não	crer	na	imortalidade	e	desejar	crer;	trata-se	de	quase	crer	na
imortalidade	e	preferirnão	crer”.	Realmente,	para	muitas	pessoas,	a	idéia	de
meramente	existir	para	sempre	é	terrível.	Realmente,	viver	para	sempre,	sem
Deus,	é	a	vida	no	inferno.	Viver	para	sempre	em	comunhão	com	Deus,
entretanto,	é	a	bem-aventurança	sem	fim;	é	o	Céu;	é	a	vida	eterna.	A	comunhão
consciente	com	Deus,	já	aqui	na	terra,	por	si	só	é	uma	garantia	e	um	antegozo	da
vida	eterna:	“E	todo	aquele	que	vive,	e	crê	em	mim,	nunca	morrerá”	(Jo	11.26).
2.	“Eu	glorifiquei-te	na	terra”.	Aqui	na	terra,	na	Palestina,	Jesus	vivia	em	meio
ao	calor,	pobreza,	doença	e	egoísmo	dos	homens.	Até	os	discípulos	escolhidos
revelavam	muitas	falhas	e	limitações.	No	seu	ministério,	enfrentava
preconceitos,	ódio	e	oposição.	Verdadeiramente,	eram	longe	de	ser	ideais	as
condições	em	que	vivia;	mesmo	assim,	no	fim	de	seu	ministério,	tinha	o	direito
de	dizer:	“Eu	glo-	rifiquei-te	na	terra”.
Será	bastante	fácil	glorificar	a	Deus	no	Céu.	A	questão	importante	é:	sabemos
glorificá-lo	no	ambiente	em	que	nos	encontramos	agora?	Estamos	conseguindo
glorificá-lo	no	lar,	na	loja,	no	escritório?
3.	Refletindo	a	imagem	do	Mestre.	“E	nisso	sou	glori-	ficado”	(v.	10).	Certo
ministro	piedoso	disse	a	um	grupo	de	pregadores:	“Não	é	suficiente	pregar	sobre
Jesus	Cristo;	é	dever	dos	discípulos	demonstrar	o	espírito	do	Mestre”.
Certo	missionário	pregava	numa	vila	da	Índia,	descrevendo	a	vida	e	o	caráter	de
Cristo,	seu	amor	e	sua	terna	compaixão	pelos	sofredores.	Alguns	ouvintes
alegavam	conhecê-lo	de	um	colégio	cristão	em	outra	cidade;	é	que	certo	servo	de
Deus	estava	vivendo	tão	bem	a	vida	cristã	que,	para	aqueles	ouvintes	que	nada
sabiam	sobre	a	história	de	Cristo,	era	a	mesma	coisa	que	ter	Cristo	em	pessoa
entre	eles.	Será	que	o	mundo	pode	ver	Cristo	em	cada	um	de	nós?
4.	O	ministério	da	intercessão.	A	descrição	de	Jesus	intercedendo	pelos
discípulos	nos	faz	lembrar	quão	grande	é	o	privilégio	e	o	poder	da	intercessão.
Certo	missionário	veterano,	voltando	para	a	China	depois	de	longa	ausência,
recebeu	a	visita	de	um	chinês	que	fora	convertido	durante	seu	ministério.	Este
homem	trouxe	consigo	seis	novos	convertidos,	que	levara	a	Cristo,	tirando-os	do
lamaçal	da	degradação	-	eram	viciados	em	ópio.	“Que	remédio	você	conseguiu
dar	a	eles?”	perguntou	o	velho	missionário.	A	única	resposta	do	chinês	foi
indicar,	de	modo	significante,	os	seus	próprios	joelhos.	A	intercessão	é	um	dos
mais	importantes	recursos	da	Igreja.
5.	Desapego	do	mundo.	“Não	peço	que	os	tires	do	mundo,	mas	que	os	livres	do
mal”.	A	idéia	do	monasticismo	era	que	a	fuga	do	mundo,	entrando-se	num
mosteiro,	seria	o	escape	das	tentações	que	talvez	viessem	a	impedir	que	a	pessoa
recebesse	a	salvação.	Cristo,	no	entanto,	ensinou	que	o	mundo	em	geral,	com	sua
estranha	mistura	de	bem	e	mal,	é,	afinal	de	contas,	objeto	do	amor	de	Deus,	e
que	a	missão	dos	seus	discípulos	é	ser	sal	da	terra	e	luz	do	mundo.	Isto	exige
contato	com	o	mundo,	e	não	temê-lo	ou	fugir	dele.	Cristo,	portanto,	não	orou
para	que	os	discípulos	fossem	tirados	do	mundo,	e	sim	preservados	do	mal	que
nele	há	(cf.	1	Jo	2.15-17).
Enquanto	o	crente	mantiver	uma	vida	espiritual	sadia,	poderá	vencer	o	espírito
do	mundanismo:	“Maior	é	o	que	está	em	vós	do	que	o	que	está	no	mundo”	(1	Jo
4.4).
6.	Santificação	e	serviço.	“E	por	eles	me	santifico	a	mim	mesmo,	para	que
também	eles	sejam	santificados	na	verdade”	(v.	19).	Jesus	viveu	toda	a	sua	vida
em	obediência	deliberada	à	vontade	do	seu	Pai,	e	agora	esta	obediência	coloca-o
frente	a	frente	com	a	morte.	As	palavras	aqui	citadas	revelam	o	motivo	que
dominou	o	seu	coração	na	hora	da	crise:	“Por	eles”.	Quanto	amor	e	dedicação!
Foi	a	favor	dos	homens	que	Cristo	viveu	aqui	na	terra,	e	que	finalmente	foi	para
o	Calvário.
Não	podemos	usar	esta	expressão	do	mesmo	modo	que	Jesus	a	empregou,	mas,
repetindo	a	sua	atitude,	pela	sua	graça,	podemos	dizer:	“A	favor	do	mundo,	a
favor	dos	meus	irmãos,	consagro-me	a	uma	vida	de	retidão,	utilidade	e
abnegação”.	O	General	Booth,	fundador	do	Exército	de	Salvação,	disse	que,
quando	se	entregou	a	Deus	para	fazer	aquela	obra,	visava	a	salvação	dos	outros,
e	não	a	sua	própria.	Semelhante	é	o	caso	do	oculista	que	gostava	muito	de
esportes	pesados,	mas,	vendo	que	causariam	a	perda	da	delicada	sensibilidade
dos	seus	dedos,	separou-se	de	tais	atividades	a	fim	de	dedicar-se	ao	bom
atendimento	dos	que	sofriam	da	vista.
A	verdadeira	abnegação	não	é	autoflagelar-se;	é	ficar	sempre	em	boas	condições
morais	e	espirituais	para	ser	uma	bênção	espiritual	a	outras	pessoas.	A
santificação	é	muito	necessária	para	a	eficácia	de	nosso	serviço	cristão;	se
queremos	oferecer	a	nossa	vida	em	dedicado	serviço,	surge	a	pergunta:	“Que
tipo	de	vida	vais	oferecer?”
7.	A	santidade	e	a	verdade.	Estas	duas	palavras	se	vinculam	no	versículo	17.	Até
certo	ponto,	é	verdade	que	o	Cristianismo	é	mais	um	modo	de	vida	do	que	um
credo;	mas	esta	vida	brota	da	verdade	eterna.	Deus	nos	deu	uma	revelação,	e	esta
revelação	nos	é	dada	na	Bíblia	em	forma	de	doutrinas.	Nenhuma	santidade	será
produzida	em	nós	mediante	a	crença	em	mentiras	piegas.	As	boas	obras	brotam
da	verdadeira	fé,	e	a	verdadeira	fé	é	inspirada	pela	verdade	de	Deus	(cf.	Sl
119.11).
Um	pregador	francês	declarou:	“A	pureza	do	coração	e	da	vida	importa	mais	do
que	ter	a	opinião	correta”,	ao	que	respondeu	outro	pregador	francês:	“A	cura	é
mais	importante	do	que	o	remédio,	mas,	sem	o	remédio,	não	haveria	a	cura”.
Certamente	é	mais	importante	viver	a	vida	cristã	do	que	conhecer	as	doutrinas
cristãs,	mas	não	haveria	nenhuma	experiência	prática	e	espiritual	sem	a	fé,	em
primeiro	lugar,	nas	verdades	do	Cristianismo.
8.	A	unidade	cristã.	Jesus	orou	para	que	todos	os	seus	discípulos	fossem	um.
Referia-se	a	uma	unidade	espiritual	produzida	quando	as	pessoas	participam	da
mesma	experiência	espiritual.	Não	bastaria	levar	a	efeito	uma	amalgamação	de
igrejas.	A	unidade	em	Cristo	vale	mais	do	que	a	união	e	a	uniformidade
eclesiástica.	Mesmo	nos	cemitérios	há	união,	mas	é	a	união	da	morte.	A
verdadeira	unidade	é	uma	coisa	viva.
20
Texto:	João	19.16-37
Introdução
A	crucificação	pode	ser	encarada	sob	dois	pontos	de	vista:	o	humano	e	o	divino.
Considerando-a	pelo	lado	humano,	podemos	dizer	que	o	Senhor	Jesus	foi
condenado	a	sofrer	e	morrer	por	causa	da	lealdade	à	sua	condição	de	Filho	de
Deus,	o	Messias.	Já	na	idade	de	doze	anos	tinha	consciência	disso	(Lc	2.49),	e	a
narrativa	do	evangelho	não	deixa	dúvidas	quanto	a	Jesus	saber	que	era	o	Filho	de
Deus	e	o	Rei	de	Israel	(cf.	Mt	16.16,17).	Quando	o	sumo	sacerdote	perguntou-
lhe,	sob	juramento,	se	era	o	Filho	de	Deus,	Jesus	selou	sua	própria	sorte,
respondendo	afirmativamente	(Mt	26.63,64;	Mc	14.61,62).	Quando	estava	sendo
interrogado	por	Pilatos,	uma	simples	negação	teria	lhe	assegurado	a	soltura,	mas
Ele	não	poderia	negar	aquilo	de	que	tinha	consciência:	“Tu	dizes	que	eu	sou	rei.
Eu	para	isso	nasci”,	foi	seu	testemunho	corajoso	(Jo	18.33-37).	“Cristo	Jesus...
diante	de	Pôncio	Pilatos	deu	o	testemunho	de	boa	confissão”	(1	Tm	6.13).
No	meio	dos	angustiosos	detalhes	dos	interrogatórios	e	da	crucificação,	porém,
não	devemos	perder	de	vista	a	verdade	de	que	este	evento	fazia	parte	do	plano	de
Deus	para	a	redenção.	Judas	o	traiu,	Pedro	o	negou,	os	apóstolos	abandonaram-
no,	o	Sinédrio	condenou-o,	Pilatos	pronunciou	a	sua	sentença,	os	soldados
romanos	crucificaram-no,	os	líderes	zombaram	dele	—	mas	Deus,	que	vê	o	fim
desde	o	início,	já	providenciara	todos	estes	detalhes,	colocando-	os	no	seu	plano
de	redenção.	Foi	assim	que	Pedro	explicou	esta	verdade	aos	seus	compatriotas
no	Dia	de	Pentecostes:	“A	este	que	vos	foi	entregue	pelo	determinado	conselho	e
presciência	de	Deus,	tomando-o	vós,	o	crucificastes	e	matastes	pelas	mãos	de
injustos”	(At	2.23;	cf.	Gn	50.20).
I	–	A	Agonia	de	Cristo	(Jo	19.16,17)
O	lugar	da	crucificação	era	a	colina	chamada	Gólgota	(“Calvário”),	nome	que
significa	“lugar	do	crânio”,	por	ser	redonda	e	lisa.	Situava-se	fora	dos	limites	da
cidade	(cf.	Hb	13.11-13).	Era	o	lugar	regular	para	execuções,	e	este	também
pode	ter	sido	o	motivo	do	nome	que	recebeu.	Quando	Jesus	ali	chegou,certas
senhoras	benevolentes	lhe	ofereceram	bebida	com	uma	droga	analgésica,	para
aliviar	a	dor	da	crucificação,	mas	ele	não	a	aceitou;	estava	resoluto	quanto	a
beber	até	às	últimas	escórias	a	taça	do	sofrimento	humano.	Seu	último	ato	antes
de	ser	pregado	à	cruz	foi	recusar	meios	de	escapar	à	dor.
Não	se	deve	demorar	muito	tempo	nos	cruéis	detalhes	dos	sofrimentos	físicos	da
cruz,	despertando	compaixão	meramente	humana	pelo	Filho	de	Deus	—	e,
afinal,	seus	maiores	sofrimentos	eram	mentais	e	espirituais.
II	–	A	Humilhação	de	Cristo	(Jo	19.18-24)
1.	Os	dois	ladrões.	“Onde	o	crucificaram,	e	com	ele	outros	dois,	um	de	cada
lado,	e	Jesus	no	meio”.	A	posição
de	nosso	Senhor	—	no	meio	—	parece	ter	sido	uma	deliberada	tentativa	de
humilhá-lo,	mas,	como	outros	aspectos	humilhantes	da	crucificação,	redundou
em	glória	para	Ele.	A	posição	de	nosso	Senhor	no	meio	dos	pecadores	é	uma
bela	ilustração	de	seu	ministério;	enquanto	vivia,	era	o	“amigo	dos	pecadores”;
na	morte,	estava	lá,	no	meio	deles.	E	ainda	aproveitou	para	salvar	um	dos	dois
antes	de	morrer	(Lc	23.39-43).
Assim	como	uns	o	aceitaram,	recebendo	a	vida,	e	outros	o	rejeitaram,
condenando-se	a	si	mesmos,	também	ocorreu	o	mesmo	neste	incidente:	um
ladrão	reconheceu-o	como	Rei,	e	morreu	para	o	pecado,	enquanto	o	outro	o
repreendeu,	e	morreu	em	pecado	—	o	destino	de	ambos	sendo	determinado	pela
sua	atitude	para	com	aquEle	que	morria	em	prol	de	pecadores.
2.	A	inscrição	problemática.	“JESUS	NAZARENO,	REI	DOS	JUDEUS”.	Os
judeus	tinham	razão	em	queixar-se	de	que	esta	era	uma	proclamação,	e	não	uma
acusação.	Segundo	eles,	Pilatos	deveria	ter	escrito:	“Este	é	Jesus	Nazareno,	que
alegou	ser	rei	dos	judeus”.	Mesmo	na	hora	da	morte,	Jesus	foi	proclamado	Rei
pelo	governo!	Pilatos	respondeu,	diante	da	queixa	dos	judeus:	“O	que	escrevi,
escrevi”,	porque	a	lei	romana	proibia	a	alteração	da	inscrição	de	acusação,	uma
vez	colocada.	Tivesse	Pilatos	sabido	o	plano	de	Deus,	poderia	ter	dito:	“O	que
escrevi,	Deus	escreveu”.	A	cruz	era,	na	realidade,	o	trono	de	Cristo.	Ele	tornou-
se	Rei	dos	homens	ao	morrer	na	cruz	para	salvá-	los,	e	esta	cruz	se	tornou	o
caminho	de	entrada	aos	corações	de	milhões	de	pessoas.
3.	As	vestes	repartidas.	“Tendo	pois	os	soldados	crucificado	a	Jesus,	tomaram	os
seus	vestidos,	e	fizeram	quatro	partes,	para	cada	soldado	uma	parte”.	Jesus
submeteu-se	ao	extremo	da	humilhação,	pendurado,	sem	roupas,	na	frente	de
uma	multidão	de	zombadores.	Já	começara	a	dar	a	lição	de	humilde	dedicação
quando	tirou	a	vestimenta	de	cima	para	lavar	os	pés	aos	discípulos	(Jo	13.1-17),
e	agora	despoja-se	de	tudo.	Deus,	porém,	o	vestiu	com	as	vestimentas	da	glória
eterna	e	celestial.
“A	túnica,	porém,	tecida	toda	de	alto	a	baixo,	não	tinha	costura.	Disseram	pois
uns	aos	outros:	Não	a	rasguemos,	mas	lancemos	sortes	sobre	ela,	para	ver	de
quem	será”.	Os	soldados	perceberam	que	a	peça	de	roupa	pouco	valor	teria	se
fosse	cortada,	e	apelaram	à	“sorte”	—	sem	a	mínima	idéia	de	que	eles,	cujos
corações	só	conheciam	crueldade	e	ganância	naquele	momento,	estavam
cumprindo	mais	uma	profecia	dentro	do	plano	divino	para	a	salvação	da
humanidade:	“Repartem	entre	si	os	meus	vestidos,	e	lançam	sortes	sobre	a	minha
túnica”	(Sl	22.18).
III	-	A	Compaixão	de	Cristo	(Jo	19.25-27)
“E	junto	à	cruz	de	Jesus	estava	sua	mãe,	e	a	irmã	de	sua	mãe,	Maria	de	Cleofas,
e	Maria	Madalena.	Ora,	Jesus,	vendo	ali	sua	mãe,	e	que	o	discípulo	a	quem	ele
amava	[João]	estava	presente,	disse	a	sua	mãe:	Mulher,	eis	aí	o	teu	filho.”	Maria
já	estava	entendendo	o	que	Simeão	queria	dizer	quando	profetizou:	“Uma	espada
traspassa-	rá	também	a	tua	própria	alma”	(Lc	2.35).	Passando-se	as	horas,	e	o
povo	começando	a	dispersar-se,	Maria	e	as	outras	mulheres	conseguiram
aproximar-se	mais	da	cruz,	e	a	espada	da	aflição	lhe	atravessava	o	coração
enquanto	ficava	tão	perto	do	filho	crucificado,	sem	haver	nada	que	pudesse	fazer
para	aliviar	os	seus	sofrimentos.	Longe,	porém,	de	o	Sofredor	desejar	para	si
qualquer	ajuda	ou	simpatia,	Ele	queria	cuidar	do	bem-estar	da	sua	mãe.	Em	meio
a	todas	as	agonias	da	crucificação,	não	se	esqueceu	da	sua	divina	natureza	e
missão,	e	tomou	o	cuidado	de	praticar	(e,	portanto,	de	ensinar)	um	dos	deveres
primários:	o	cuidado	para	com	os	pais.	Jesus	já	estava	se	despedindo	do	mundo,
e	só	restou	mais	um	detalhe:	cuidar	da	mãe,	agora	viúva.	Jesus,	então,	chama	o
apóstolo	João,	que	entendera	o	seu	amor	melhor	do	que	qualquer	outro,	e
entrega-a	aos	cuidados	deste.
“Depois	disse	ao	discípulo:	Eis	aí	tua	mãe.	E	desde	aquela	hora	o	discípulo	a
recebeu	em	sua	casa”.	Por	que	não	a	entregou	aos	cuidados	dos	próprios	filhos,
irmãos	de	Jesus?	Ainda	não	eram	crentes,	e	sua	incompreensão	teria	amargurado
os	dias	finais	de	Maria.	João	tinha	condições	de	oferecer-lhe	um	lar	confortável	e
independente,	e	só	ele	saberia	preencher	a	vaga	deixada	no	coração	dela,	sendo
quase	um	retrato	de	Jesus.
IV	-	O	Triunfo	de	Cristo	(Jo	19.28-30)
A	morte	de	Cristo	às	vezes	é	substituída	pela	expressão	“ser	levantado”	(Jo	3.14;
12.32),	o	que	sugere	que,	mesmo	na	morte,	Cristo	é	triunfante.	Sua	morte	foi	um
triunfo	sobre	o	pecado,	a	morte	e	o	diabo.
1.	O	cumprimento	das	Escrituras.	“Depois,	sabendo	Jesus	que	já	todas	as	coisas
estavam	terminadas,	para	que	a	Escritura	se	cumprisse,	disse:	Tenho	sede.	Estava
ali	um	vaso	cheio	de	vinagre.	E	encheram	de	vinagre	uma	esponja,	e,	pondo-a
num	hissopo,	lha	chegaram	à	boca”.	João	ressalta	esse	fato	do	cumprimento	de
todas	as	profecias	messiânicas	no	que	diz	respeito	aos	sofrimentos	do	Messias	na
sua	primeira	vinda,	inclusive	esta	última	profecia	(Sl	69.21),	que	se	cumpriu
quando	Ele	disse:	“Tenho	sede”.	Na	chegada	à	cruz,	o	Senhor	já	recusara	a
bebida	analgésica	(Mt	27.34);	não	tinha	o	desejo	de	fugir	do	sofrimento	físico,	e
não	queria	entrar	na	morte	através	do	sono	induzido	por	drogas.	Pelo	contrário,
tinha	de	suportar	tudo	com	a	mente	bem	desperta,	seus	sentidos	ativos,
enfrentando	a	morte	como	vitorioso	Conquistador	e	não	como	pobre	vítima,	sob
efeito	de	drogas.	O	grito:	“Tenho	sede!”	foi	arrancado	dele	pelos	sofrimentos,	e
recebeu	um	pouco	do	vinho	azedo	dos	soldados,	que	satisfez	a	sua	sede	física	e
deixou	lúcido	o	seu	cérebro	até	o	fim	(cf.	Jo	19.28;	7.37;	Mt	27.42;	2	Co	8.9).
2.	Cumpridos	todos	os	sofrimentos.	“E,	quando	Jesus	tomou	vinagre,	disse:	Está
consumado”.	Estava	cumprida	a	obra	de	Jesus	na	terra,	inclusive	a	redenção	da
humanidade.	Isto	significa:	1)	que	todas	as	profecias	tinham	recebido	nEle	o	seu
pleno	cumprimento;	2)	que	estava	completa	a	obra	que	Jesus	veio	realizar;	sua
primeira	declaração,	registrada	nas	Escrituras,	foi:	“Não	sabíeis	que	me	convém
tratar	dos	negócios	de	meu	Pai?”	(Lc	2.49);	e	sua	última	declaração	foi:	“Está
consumado”.	Bem-aventurado	o	homem	que	pode	dizer,	ao	final	da	caminhada
da	vida:	“Está	consumado”;	3)	que	Jesus,	na	cruz,	completou	a	revelação	de
Deus	que	veio	oferecer	ao	mundo	(Jo	3.16;	1Jo	3.16).	Tudo	fora	feito	para
revelar	Deus	aos	homens.
“E,	inclinando	a	cabeça,	entregou	o	espírito”.	A	expressão	empregada	aqui
sugere	o	fato	de	que	sua	morte	foi	por	sua	própria	vontade.	Jesus	dissera:
“Ninguém	a	tira	de	mim,	mas	eu	de	mim	mesmo	a	dou”	(Jo	10.18).
Ensinamentos	Práticos
1.	O	dever	não	tem	férias.	Jesus,	sofrendo	a	mais	excruciante	agonia,	dando	sua
vida	em	prol	dos	pecados	do	mundo,	ainda	se	dispunha	a	cumprir	o	dever
simples	e	prático	de	cuidar	da	sua	mãe,	o	que	nos	faz	lembrar	que,	por	mais
importantes	que	sejam	as	nossas	tarefas,	nada	nos	desculpa	de	descuidar
daqueles	que	dependem	de	nós.	Enganam-se	muito	os	que	gastam	longe	da	sua
casa	toda	a	sua	bondade	e	doçura,	ganhando	uma	reputação	de	piedade,	tomando
a	liderança	de	alguma	obra	cristã,	se	em	seu	lar	todos	estão	mal-humorados,
irados	ou	indiferentes.	Se	Jesus,	no	meio	da	sua	obra	de	salvar	o	mundo,	achou
tempo	para	cuidar	da	mãe,	não	há	dever	algum	que	seja	tão	importante	que	não
permita	a	um	homem	mostrar	consideração	e	cuidado	no	lar.
2.	“Tenho	sede”.	Em	certo	sentido,	o	Salvador	ainda	tem	sede	—	sede	pela
obediência	e	lealdade	dos	homens.	“E	quandoo	Filho	do	homem	vier	em	sua
glória...	Então	dirá	o	Rei	aos	que	estiverem	à	sua	direita:	Vinde,	benditos	de	meu
Pai,	possuí	por	herança	o	reino	que	vos	está	preparado	desde	a	fundação	do
mundo...	porque...	tive	sede	e	me	destes	de	beber”	(Mt	25.31-35).	Pensando	na
infidelidade	e	desobediência	de	muitos	daqueles	que	professam	ser	seguidores	de
Cristo,	podemos	perguntar	por	que,	quando	Jesus	tem	sede,	tantos	lhe	oferecem
vinagre	e	fel,	em	vez	de	amor,	obediência	e	dedicação.
3.	O	mistério	da	expiação.	Muitos	têm	dificuldade	em	aceitar	a	doutrina	da
expiação,	porque	o	seu	raciocínio	não	consegue	definir	exatamente	em	que
sentido	Cristo	poderia	morrer	em	nosso	lugar.	Devemos	reconhecer	que	quando
o	Deus	onisciente	e	infinito	entra	em	contato	com	o	homem	finito,	haverá
mistérios.	Sem	entender	os	detalhes	da	lei	da	gravidade,	muitas	pessoas	evitam
jogar-se	de	um	precipício;	obedecem	à	lei	que	não	compreendem	totalmente,	e
ficam	em	segurança.	Embora	a	expiação	contenha	elementos	além	da	nossa
compreensão,	podemos	aceitá-la	e	receber	a	salvação.	É	estranho	que	os	mesmos
críticos	que	comem	tantas	coisas	no	jantar,	sem	antes	procurar	saber	sua	origem,
querem	passar	fome	espiritual	por	exigirem	da	fé	cristã	explicações	que	estão
além	da	compreensão	humana.
4.	Cristo	morreu	pelos	nossos	pecados.	O	grande	problema	de	muitas	vidas	é
como	ver-se	livre	de	uma	consciência	sobrecarregada	de	pecados.	Deus	já
providenciou	os	meios	mediante	os	quais	pode	ser	removida	a	culpa	de	uma
consciência	assim	aflita:	“[Cristo]	levando	ele	mesmo	em	seu	corpo	os	nossos
pecados	sobre	o	madeiro,	para	que,	mortos	para	os	pecados,	pudéssemos	viver
para	a	justiça”	(1	Pe	2.24).	A	verdade	já	existe	—	que,	há	muito	tempo,	Cristo
carregou	os	pecados	da	humanidade;	nós,	porém,	temos	que	fazer	com	que	esta
verdade	seja	nossa,	mediante	a	fé	neste	fato	e	a	confissão,	nas	palavras	de	Paulo:
“Vivo-	a	na	fé	no	Filho	de	Deus,	o	qual	me	amou,	e	se	entregou	a	si	mesmo	por
mim”	(Gl	2.20).
5.	“Porque	Deus	amou	o	mundo	de	tal	maneira”.	A	cruz	de	Cristo	ensina	e
demonstra,	entre	muitas	outras	verdades,	o	amor	de	Deus:	“Nisto	conhecemos	o
amor,	em	que	Cristo	deu	a	sua	vida	por	nós,	e	devemos	dar	nossa	vida	pelos
irmãos”	(1	Jo	3.16).	O	amor	de	Deus,	na	Pessoa	de	Jesus	Cristo,	foi	levado	até	o
lugar	onde	impera	o	pecado,	a	grande	desgraça	da	vida	humana	e	a	causa	de
todos	os	nossos	males;	enfrentou	o	maligno	no	território	que	ele	conquistara,
derramando	o	seu	amor	até	às	últimas	conse-	qüências;	venceu,	em	nosso	lugar,
a	morte	e	o	pecado.
21
Jesus,	o	Ressurreto
Texto:	João	20.1-18
Introdução
Aqui	temos	uma	“reportagem”	diretamente	do	túmulo	vazio,	feita	pelo	apóstolo
João,	testemunha	ocular	naquela	primeira	manhã	de	Páscoa.	Enquanto	lemos	o
seu	relatório,	os	séculos	parecem	desvanecer-se,	e	é	como	se	nós	também
estivéssemos	presentes	no	túmulo.	A	intenção	do	apóstolo	é	dar-nos	esta	viva
impressão	porque	seu	evangelho	foi	escrito	para	inspirar	e	confirmar	a	fé	em
Jesus	como	Filho	de	Deus.
I	-	O	Túmulo	Vazio	(Jo	20.1-10)
1.	Maria	no	sepulcro.	A	ressurreição	de	Jesus	realizou-se	antes	da	aurora,	talvez
bem	no	meio	da	noite.	AquEle	que	havia	de	dissipar	as	trevas	da	morte
ressuscitou	enquanto	as	trevas	ainda	cobriam	a	terra.	O	ato	da	ressurreição	foi
acompanhado	pela	descida	de	anjos	e	a	remoção	da	pedra.
“E	no	primeiro	dia	da	semana,	Maria	Madalena	foi	ao	sepulcro	de	madrugada,
sendo	ainda	escuro,	e	viu	a	pedra	tirada	do	sepulcro”.	Parece	que	Maria	chegara
com	um	grupo	de	mulheres	(note	o	plural	no	versículo	2)	e,	vendo	o	sepulcro
vazio,	foi	correndo	avisar	a	Pedro	e	João.
“Correu,	pois,	e	foi	a	Simão	Pedro,	e	ao	outro	discípulo,	a	quem	Jesus	amava,	e
disse-lhes:	Levaram	o	Senhor	do	sepulcro,	e	não	sabemos	onde	o	puseram”.
Maria	e	as	demais	mulheres	vieram	ao	túmulo	para	embalsamar	o	corpo	de
Jesus,	o	que,	segundo	o	costume	daqueles	tempos,	significava	espalhar
especiarias	perfumadas	no	meio	das	roupas	de	sepultamento.	Esta	intenção
demonstrou	tanto	a	ignorância	como	a	devoção	destas	mulheres.	Os	horrores	da
crucificação	lhes	tinham	anuviado	a	fé,	e	não	estavam	realmente	esperando	a
ressurreição.	Parecia-lhes	que	a	missão	de	Jesus	fracassara.	Mesmo	assim,
desejavam	prestar-lhe	as	últimas	homenagens.	Estas	mulheres	foram	fiéis	até	o
fim.	Tinha	sido	fácil	seguir	a	Cristo	nos	dias	da	sua	popularidade,	mas	agora	elas
estavam	passando	o	profundo	teste	da	verdadeira	devoção.
Note	que	Maria	continua	chamando	Jesus	de	“Senhor”.	Talvez	pensasse	que	o
sepulcro	de	José	haveria	de	servir-	lhe	de	abrigo	temporário	(v.	15;	cf.	Jo	19.42)
e	que	alguém	teria	removido	o	corpo	de	Jesus	para	outro	lugar.	Certo	é	que	a
ausência	do	corpo	não	lhe	parecia	motivo	de	esperança,	e	sim	de	desespero.
Quão	freqüentemente	nós	também	interpretamos	erroneamente	como	sendo
escuros	e	tristes	determinados	fatos	que	realmente	brilham	com	luz	celestial,
cegamente	atribuindo	a	causas	desconhecidas	as	maravilhosas	coisas	que	Jesus
faz!
2.	João	e	Pedro	no	sepulcro.	Note	a	corrida	entre	o	Zelo	(representado	por	Pedro)
e	o	Amor	(representado	por	João)!	Ambos	começaram	juntos;	Amor	chegou
primeiro	ao	sepulcro,	e	parou;	Zelo	entrou	no	sepulcro	e	olhou	para	o	que	ali
havia.	Então	Amor	o	seguiu.	A	reverência	fez	João	hesitar	na	entrada;	o	amor
prático	e	impulsivo	levou	Pedro	a	entrar.	E	assim,	sua	destemida	ação	o
encorajou.	João	registra	no	seu	evangelho:	“E	viu	no	chão	os	lençóis.	E	que	o
lenço,	que	tinha	estado	sobre	a	sua	cabeça,	não	estava	com	os	lençóis,	mas
enrolado	num	lugar	à	parte”	e,	quando	João	entrou	para	olhar	mais	de	perto,
“viu,	e	creu”.	Por	que	João	creu?	Porque	as	mortalhas	deixadas	no	túmulo
convenceram-no	de	que	Jesus	não	fora	levado,	como	supunha	Maria,	nem
roubado,	como	mais	tarde	diriam	falsamente	os	principais	sacerdotes	(Mt
28.12,13).	Pessoas	que	assim	faziam	não	teriam	perdido	tempo	em	desembrulhar
os	lençóis,	que	eram	como	intermináveis	ataduras	do	tipo	que	se	vê	nas	múmias.
João,	portanto,	chegou	à	conclusão	de	que	Jesus	milagrosamente	passara	pelas
mortalhas,	deixando-as	intactas	e	vazias,	caídas	na	forma	em	que	tinham	sido
cuidadosamente	embrulhadas	ao	redor	do	corpo	de	Jesus,	sem	a	mínima
perturbação	ou	desordem.	Entendeu,	portanto,	que	Jesus	já	assumira	seu	corpo
glorificado,	não	sujeito	a	leis	terrestres,	e	que	Jesus	ressuscitara	para	nunca	mais
morrer.
Os	discípulos	deveriam	ter	deixado	que	o	Salmo	22	os	convencesse	de	que	o
Messias	sofredor	seria	finalmente	exaltado,	e	que	o	Cordeiro	de	Deus	veria	sua
descendência	e	prolongaria	os	seus	dias.	Além	disso,	por	certo,	ficou	na	mente
deles	alguma	lembrança	das	palavras	de	Jesus	prenunciando	a	sua	própria
ressurreição.	Somente	depois	de	os	discípulos	terem	visto	de	perto	o	sepulcro
vazio	foi	que	esses	trechos	bíblicos	e	as	palavras	de	Jesus	tomaram	novo
significado	(v.	9).
Embora	fosse	Pedro	o	primeiro	a	entrar	no	sepulcro,	foi	João	o	primeiro	a
realmente	crer.	Enquanto	Pedro	pensava	sobre	o	que	significaria	aquilo,	raiou	em
João	a	fé	na	ressurreição,	assim	como	foi	ele	o	primeiro	a	reconhecer	o	Cristo
ressurreto	na	praia	do	mar	da	Galiléia.
II	-	O	Senhor	Ressurreto	(Jo	20.11-16)
1.	O	Cristo	ausente.	Enquanto	os	dois	discípulos	voltavam	para	casa,	Maria
permanecia	junto	à	entrada	do	túmulo,	demonstrando	profunda	tristeza	e
verdadeiro	amor.	Continua	enlutada	pela	sua	perda.	Talvez	sentisse	remorsos	por
não	ter	ficado	a	noite	inteira	vigiando	a	entrada	do	sepulcro.	Estava	tão	absorta
em	seus	pensamentos	que	a	presença	de	anjos	lhe	parecia	um	incidente	de
somenos	importância,	e	a	pergunta	deles	só	fez	com	que	ela	desse	vazão	à
tristeza	que	lhe	magoava	o	coração.
2.	O	Cristo	que	se	aproxima.	“E,	tendo	dito	isto,	voltou-se	para	trás,	e	viu	Jesus
em	pé,	mas	não	sabia	que	era	Jesus”.	Seus	olhos	marejados	de	lágrimas	só
conseguiram	ver,	obscuramente,	uma	forma	humana,	que	julgou	ser	o	jardineiro.
Como	no	caso	dos	dois	discípulos	que	caminhavam	para	Emaús,	“seus	olhos
estavam	como	que	impedidos	de	o	reconhecer”.	O	coração	sobrecarregado	com
mágoa	às	vezes	perde	a	consciência	da	presença	de	Cristo	e	serecusa	a	ser
consolado,	por	não	conseguir	ver	a	Cristo	no	meio	da	tristeza.
Note	o	oferecimento	de	Maria	para	levar	embora	o	corpo	de	Jesus.	Seus	braços
fracos	não	poderiam	sustentar	o	peso,	mas	o	amor	não	leva	em	conta	o	peso	do
fardo!
3.	O	Cristo	que	se	revela.	“Disse-lhe	Jesus:	Maria!”	Pronunciou	o	nome	familiar,
com	o	mesmo	tom	de	voz	e	ênfase	já	conhecidos	a	ela	(cf.	Jo	10.3,14).	Ela
respondeu	na	língua	materna	que	ambos	conheciam	e	amavam:	“Rabboni!”	—	o
mais	alto	dos	títulos	que	os	judeus	davam	a	um	mestre,	significando	“Meu
grande	Mestre”,	e	raríssimas	vezes	falado	em	público.
A	expressão	no	versículo	17	—	“Não	me	detenhas;	porque	ainda	não	subi	para
meu	Pai”	—	tem	sido	entendida	de	várias	maneiras:	1)	Maria	tinha	sabido	da
promessa	de	Jesus	quanto	à	sua	partida	e	futura	volta,	e	Jesus	agora	tinha	de
explicar	que	ainda	haveria	a	ascensão	antes	da	Segunda	Vinda.	2)	Jesus
explicava	que	a	antiga	amizade	não	permaneceria	na	antiga	base,	e	que	Ele
estava	para	voltar	ao	trono	celestial.	Então	ela	poderia	sempre	tocá-lo,	não	com	o
toque	físico	das	mãos,	e	sim	com	o	toque	espiritual	da	fé	viva.	3)	Maria,
empregando	a	antiga	saudação,	“Rabboni”,	estava	mantendo	a	antiga	atitude
para	com	Jesus,	mas	agora	o	Mestre	só	poderia	aceitar	a	saudação:	“Senhor	meu,
e	Deus	meu!”	(Jo	20.28).	Maria	agora	só	poderia	conhecê-lo	como	Senhor
ressurreto	e	glorificado.
III	–	Ensinamentos	Práticos
1.	Nossa	necessidade	atrai	a	graça	de	Cristo.	Nenhum	olho	mortal	testemunhou	o
ato	da	ressurreição.	Para	quem	Cristo	deveria	aparecer	primeiro	a	fim	de	fazer
conhecidas	as	boas-novas?	Deveria	ir	ao	palácio	do	sumo	sacerdote	ou	ao
pretório	de	Pilatos	para	triunfar	sobre	os	inimigos	boquiabertos?	Ou	deveria
primeiramente	revelar-se	a	alguns	de	seus	seguidores?	Sua	primeira	aparição	foi
revelada	a	uma	pobre	mulher	que	nada	poderia	fazer	para	celebrar	publicamente
o	triunfo	dEle.	Por	que	ela?	Porque	era	a	que	mais	sentia	necessidade	dEle,	e
esta	sensação	de	dependência	é	o	ponto	magnético	que	atrai	a	sua	presença	até
hoje.	Buscar	a	Cristo	é	sentir	como	Maria	sentia,	reconhecer	com	clareza	que	Ele
é	o	bem	mais	precioso	que	existe	no	Universo,	e	ter	a	convicção	de	que	ser	como
Ele,	pela	sua	graça,	é	a	coisa	mais	importante	da	vida.
2.	Lamentando	a	perda	de	uma	bênção.	Cristo	apareceu	a	Maria	enquanto	ela
estava	ali,	chorando	a	sua	ausência.	Nisto	há	uma	lição	importante.	Repetidas
vezes	a	raça	humana	tem	permitido	que	Cristo	desapareça	da	sua	vida,	ficando
como	se	fosse	uma	vaga	sombra	distante.	Graças	a	Deus,	porém,	sua	presença
pode	ser	restaurada	como	viva	e	visível	influência	no	mundo,	sempre	que	há
pessoas	cons
cientes	da	sua	ausência,	e	que	oram	com	fé	até	ter	a	visão	de	Jesus	na	sua	glória.
Há	nisto	uma	lição	bem	pessoal	para	cada	um	de	nós.	Às	vezes	descuidamos	da
nossa	comunhão	com	o	Senhor,	e	sentimos	falta	da	sua	presença.	Quando,
porém,	reconhecemos	e	lamentamos	que	sua	presença	não	está	sendo	para	nós	a
vibrante	realidade	de	antes,	já	estamos	no	caminho	da	restauração.	Lamentar	a
sua	ausência	é	o	primeiro	passo	para	a	restauração	porque	serve	como	convite	a
Ele	para	que	volte	a	nós,	e	este	convite	sempre	será	atendido	pela	sua	presença.
“Por	que	choras?”	A	pergunta	dá	a	entender	que	Maria	estava	chorando	por
causa	de	uma	perda	existente	apenas	na	sua	imaginação.	Imaginava	que	seu
Senhor	morrera,	e	que	seu	corpo	tivesse	sido	removido,	quando,	na	realidade,
Ele	já	passara	por	uma	gloriosíssima	ressurreição.	Foi	assim	que	Jacó	exclamou,
ao	ouvir	o	relatório	trazido	pelos	seus	filhos:	“Tendes-me	desfilhado;	José	já	não
existe,	e	Simeão	não	está	aqui;	agora	levareis	a	Benjamim!	Todas	estas	coisas
vieram	sobre	mim”	(Gn	42.36).	Na	realidade,	porém,	todas	as	coisas	estavam
concorrendo	para	o	bem	de	Jacó.	José,	a	quem	ele	considerava	morto,	estava
com	vida,	preparando	para	ele,	num	país	distante,	uma	morada	feliz	para	o
restante	da	sua	vida.
O	Senhor	não	nos	condena	por	causa	das	nossas	lágrimas	vertidas	no	meio	das
tristezas	e	decepções,	tão	comuns	nesta	vida.	Somos	humanos,	afinal	de	contas,	e
é	um	alívio	abrir	as	comportas	para	dar	expressão	à	nossa	mágoa.	Há	momentos,
no	entanto,	em	que	erroneamente	imaginamos	o	pior,	e	choramos	na	hora	errada
pelo	motivo	errado.	É	nesse	momento,	então,	que	Jesus	pergunta:	“Por	que
choras?”	Mesmo	quando	temos	motivos	de	sobra	para	chorar,	devemos	levar	o
assunto	diretamente	a	Jesus,	para	evitar	que	a	mágoa	danifique	a	nossa
espiritualidade,	e	para	não	dependermos	das	falsas	e	traiçoeiras	consolações	de
pessoas	que	não	amam	a	Cristo.
22
Jesus	Dissipa	as	Dúvidas
Texto:	João	20.19-31
Introdução
Ao	examinarmos	a	narrativa	da	ressurreição,	notamos	quão	marcantemente	as
aparições	do	Senhor	atendiam	às	necessidades	várias	pessoas.	Maria,	com	seu
coração	cheio	de	lealdade,	recebeu	consolação;	Pedro,	o	arrependido,	foi
perdoado	e	restaurado;	os	dois	pensadores	no	caminho	de	Emaús	receberam	a
convicção;	e	os	dez	discípulos	amedrontados	receberam	confiança	e	forças,
enquanto	Tomé	foi	transformado	de	duvidoso	em	crente	firme.	Para	todas	estas
pessoas,	a	presença	do	Cristo	vivo	mostrou-se	suficiente.
I	-	Consolados	os	Discípulos	Amedrontados	(Jo	20.19,20)
O	dia	da	ressurreição	tinha	sido	emocionante,	com	muitos	rumores	e	crescentes
emoções.	Ao	fim	da	tarde,	reuniram-se	os	discípulos.	Trancaram	tudo,	com
medo	dos	judeus,	pensando	que	a	qualquer	momento	soldados	romanos
poderiam	ser	enviados	contra	eles,	para	levá-los	presos	como	cúmplices	de	Jesus
Nazareno.	Certamente	tais	homens	nunca	teriam	pregado	a	ressurreição,	a	não
ser	que	tivessem	absoluta	certeza	de	que	Jesus	realmente	ressuscitara.
Jesus,	de	súbito,	estava	no	meio	deles,	falando:	“Paz	seja	convosco”.	O	Senhor
já	tinha	um	corpo	espiritual,	glorificado,	e	não	estava	sujeito	a	limitações
naturais,	tais	como	portas	trancadas.	As	palavras	“paz	seja	convosco”	tinham
mais	força	do	que	quando	empregadas	no	cumprimento	tradicional,	pois
realmente	aquietaram	os	corações	perturbados.	Os	discípulos	sentiam	medo
antes	da	vinda	de	Jesus	(cf.	Lc	24.37),	mas,	agora,	sua	presença	anunciava
confiança	e	vitória.	O	aspecto	de	Cristo	era	o	mesmo,	e,	ao	mesmo	tempo,
diferente,	de	tal	forma	que	o	imediato	reconhecimento	da	sua	pessoa	nem
sempre	acompanhava	a	sua	manifestação.	Era	necessário	alguma	coisa	a	mais
para	completar	a	identificação:	“E,	dizendo	isto,	mostrou-lhes	as	mãos	e	o	lado”
(e	os	pés	também	—	Lc	24.40).	Estava	completa	a	identificação.	Era	realmente	o
Crucificado,	que	voltara	à	vida.	“De	sorte	que	os	discípulos	se	alegraram,	vendo
o	Senhor”.	Não	pode	haver	maior	alegria	do	que	esta!	No	começo,	a	notícia
parecia	boa	demais	para	ser	verdadeira	(Lc	24.41),	e	talvez	os	discípulos	se
sentissem	como	os	que	sonham	(cf.	Sl	126.1).	A	alegria	da	esperança	despertada,
no	entanto,	transformou-se	em	alegria	da	plena	convicção.
II	-	A	Comissão	Dada	aos	Discípulos	Jubilosos	(Jo	20.21-23)
Uma	vez	dissipados	os	temores	e	dúvidas	dos	discípulos,	estes	estão	em
condições	de	receber	instruções.	A	primeira	“paz”	foi	para	restaurar-lhes	a
confiança	(v.	19);	a	segunda	“paz”	foi	para	o	serviço	(v.	21).	Os	discípulos
foram:
1.	Enviados.	“Assim	como	o	Pai	me	enviou,	também	eu	vos	envio	a	vós”.	Foram
enviados	para	cumprir	o	mesmo	propósito,	para	completar	a	obra	iniciada	e
ocupar	o	mesmo	relacionamento	que	Ele	assumira	com	o	Pai.	O	livro	de	Atos
registra	como	Jesus,	mediante	o	Espírito	Santo,	continuou	a	sua	obra	nas	pessoas
dos	discípulos.
2.	Inspirados.	“E,	havendo	dito	isto,	assoprou	sobre	eles	e	disse-lhes:	Recebei	o
Espírito	Santo.”	O	sopro	divino	é	um	ato	criador	(Gn	2.7;	cf.	1	Co	15.45).	Nessa
ocasião,	portanto,	os	discípulos	receberam	do	Senhor	da	vida	um	tipo	de
vivificação	espiritual.	O	“Dom	da	Páscoa”	foi	um	toque	da	vida	celestial	do
Cristo	ressurreto,	e	o	“Dom	de	Pentecostes”	foi	o	revestimento	de	poder	da	parte
do	Senhor	ressurreto.	Na	primeira	instância,	receberam	a	vida	espiritual;	na
segunda,	o	poder	espiritual.
3.	Autorizados.	“Àqueles	a	quem	perdoardes	os	pecados,	lhes	serão	perdoados;	e
àqueles	a	quem	os	retiverdes	lhessão	retidos”.	Os	apóstolos	nunca	assumiram	a
autoridade	de	perdoar,	no	lugar	de	Deus,	os	pecados	específicos	de	indivíduos.	O
próprio	Pedro	mandou	Simão	recorrer	a	Deus	para	pedir	perdão	(At	2.22).	Estas
palavras	por	certo	referem-se	a	ofensas	contra	a	disciplina	da	igreja,	e	não	a
pecados	íntimos	e	pessoais	contra	Deus.	Tal	conclusão	se	obtém	da	seguinte
maneira:	João	20.23	e	Mateus	18.18	tratam	do	mesmo	assunto,	e	Mateus	18.17
indica	que	a	questão	em	pauta	não	é	a	das	ofensas	pessoais,	que	podem	ser
solucionadas	sem	recurso	ao	ministro	(Mt	18.15),	e	sim	à	recusa	do	crente	em
submeter-se	à	disciplina	da	igreja.	Tal	crente	tem	de	ser	expulso	da	igreja.	Ao
arrepender-se,	é	recebido	de	volta	à	igreja;	seus	pecados	são	“perdoados”	(cf.	1
Co	5.5	e	2	Co	2.10).
Não	há	base	para	a	doutrina	da	“sucessão	apostólica”	aqui,	nada	que	sugira
terem	passado	os	apóstolos	esta	autoridade	a	bispos	que	se	seguiam	a	eles,	e	que
os	bispos	pudessem	passá-la	a	sacerdotes.	Pelo	contrário,	entende-se	que	havia
outras	pessoas	presentes	quando	esta	comissão	foi	dada	(cf.	Lc	24.35),	e	que	as
palavras	supra	examinadas	se	aplicam	à	igreja	como	um	todo.	O	“perdão”	dado
na	terra	só	pode	referir-se	a	transgressões	contra	a	jurisdição	e	o	aspecto
administrativo	da	igreja.
III	-	A	Convicção	Dada	ao	Apóstolo	Duvidosos	(Jo	20.24-29)
1.	O	desafio	do	duvidoso.	“Ora,	Tomé,	um	dos	doze,	chamado	Dídimo,	não
estava	com	eles	quando	veio	Jesus.”	Tomé,	ou	Dídimo	(que	significa	“gêmeo”),
era	de	temperamento	sombrio	e	pessimista	(Jo	11.8,16;	14.5).	Deixou-	se	abalar
com	a	tragédia	do	Calvário,	e	estava	se	ressentindo	da	perda.	Por	enquanto,	sua
fé	estava	em	maré	baixa,	e	sua	esperança,	morta.	Mesmo	assim,	não	abandonara
a	sua	lealdade	nem	o	convívio	com	os	apóstolos.
Ouvindo	os	testemunhos	dos	demais	discípulos,	disse	enfaticamente:	“Se	eu	não
vir	o	sinal	dos	cravos	em	suas	mãos	e	não	meter	o	dedo	no	lugar	dos	cravos,	e
não	meter	a	minha	mão	no	seu	lado,	de	maneira	nenhuma	o	crerei”.	Exigiu	a
evidência	mais	positiva	da	visão	e	do	tato.	Queria	crer,	mas	a	tragédia	do
Calvário	abalara	a	sua	fé.	Suas	palavras	indicam	o	quanto	ainda	estava	a	sua
memória	fixada	nos	terríveis	acontecimentos	da	crucificação.	Para	ele,	as	chagas
do	Senhor	ainda	estão	abertas	e	sangrando.	Sente	necessidade	de	evidências
positivas	de	feridas	tão	mortais	terem	sido	saradas	pela	Vida.	Tomé,	por	mais
que	mereça	nossa	simpatia,	não	deixa	também	de	merecer	a	nossa	censura	pela
teimosa	recusa	em	crer	na	palavra	de	dez	testemunhas	oculares	de	indubitável
reputação	e	qualificação.
Que	Jesus	considerou	sinceras	as	dúvidas	de	Tomé	se	vê	na	maneira	de	encará-
las:	o	Senhor	ressurreto	aparece	novamente,	para	oferecer	as	provas	pedidas	pelo
discípulo	que	estivera	ausente	na	primeira	ocasião.	Quanto	aos	zom-	badores,
Jesus	encarava-os	de	modo	bem	diferente	(cf.	Mt	16.4).	Jesus	aqui	fala	a	um
discípulo	sincero,	cuja	fé	era	fraca,	e	não	a	alguém	de	coração	descrente.
2.	A	resposta	ao	duvidoso.	Note-se	que,	em	ambas	as	ocasiões,	Jesus	apareceu
no	primeiro	dia	da	semana,	como	se	o	dia	em	que	ressurgiu	dentre	os	mortos
tivesse	sido	escolhido	para	ser	honrado	de	modo	especial.	A	expressão	original
traduzida	como	“dia	do	Senhor”,	em	Apocalipse	1.10,	foi	o	nome	que	os
primeiros	cristãos	deram	ao	domingo.
Jesus,	quase	repetindo	as	palavras	empregadas	por	Tomé	para	definir	os	termos
do	teste	físico	que	pedia,	oferece-se	à	inspeção	do	discípulo.	Bastou	um	único
vislumbre	do	amado	Mestre	para	Tomé	se	prostrar	em	terra	com	a	ardente
confissão:	“Senhor	meu,	e	Deus	meu!”	Sua	felicidade	era	por	demais	grande
para	que	pensasse	em	fazer	testes	científicos!	Suas	dúvidas	evaporaram	diante	da
revelação	da	presença	de	Jesus,	como	se	dissipam	as	névoas	da	madrugada	ao
raiar	o	sol.
Note-se	que	a	confissão	de	fé	feita	por	Tomé	é	a	mais	avançada	entre	as	de	todos
os	outros	apóstolos	durante	o	seu	convívio	com	Jesus.	Pela	graça	de	Deus,
aquele	que	sentira	mais	dúvidas	chega	à	crença	mais	completa	e	firme.
“Disse-lhe	Jesus:	Porque	me	viste,	Tomé,	creste;	Bem-	aventurados	os	que	não
viram	e	creram.”	Jesus	não	quer	com	isso	louvar	a	falta	de	indagações	e	exame;
isto	seria	a	credulidade,	e	não	a	fé.	O	evangelho	convida	a	um	exame	das	suas
verdades	fundamentais,	porque	“isto	não	se	fez	em	qualquer	canto”	(At	26.26).
O	que	Jesus	louva	é	a	disposição	de	aceitar	a	fidedignidade	da	evidência	dos
discípulos	que	o	conheciam,	sem	exigirmos	a	evidência	dos	nossos	próprios
sentidos.
As	palavras	de	Jesus	a	Tomé	realmente	se	dirigem	às	pessoas	de	todas	as	eras,
que	não	tiveram	o	privilégio	de	ver	a	Jesus.	Ele	quer	que	entendamos	que
nenhum	motivo	de	inveja	temos	daqueles	que	tiveram	a	oportunidade	de	vê-lo,	e
que	somente	creram	depois	de	terem	visto.
Ensinamentos	Práticos
1.	A	missão	de	Cristo	e	a	nossa.	“Assim	como	o	Pai	me	enviou,	também	eu	vos
envio	a	vós”.	A	quem	foram	ditas	estas	palavras?	A	homens	que	já	tinham	visto
o	Senhor,	que	haviam	sentido	o	toque	das	suas	mãos	e	experimentado	a	paz	que
excede	todo	o	entendimento.	Aquelas	eram	as	qualificações	para	serem	enviados
em	nome	de	Cristo,	e	também	são	as	nossas,	embora	em	nosso	caso	o	contato
com	Cristo	seja	espiritual.
Algumas	igrejas	consideram	apenas	os	sacerdotes,	pastores	ou	anciãos	como
representantes	oficiais	“enviados”	por	Cristo,	conceito	que	é	estranho	ao	ensino
do	Novo	Testamento	no	que	diz	respeito	ao	serviço	cristão.	É	indispensável	um
ministério	de	dedicação	integral,	mas,	afinal,	uma	das	suas	funções	principais	é
levar	os	crentes	à	maturidade	espiritual,	a	fim	de	que	possam	ser	preparados	para
o	serviço.	“Também	eu	vos	envio	a	vós”,	disse	Jesus,	e	suas	palavras	referem-se
a	todos	aqueles	que	tiveram	uma	visão	do	Senhor,	se	alegraram	com	a	sua
presença	e	receberam	a	sua	bênção	nos	seus	corações.
Para	que	propósito	somos	enviados	ao	mundo?	Para	produzir	em	nossas	vidas
uma	cópia	fiel	da	atitude	que	Cristo	revela	para	com	Deus	e	o	mundo.	Certo
homem	piedoso	declarou	que	era	seu	desejo	supremo	viver	de	tal	modo	que	a
sua	própria	vida	provasse	a	veracidade	do	Evangelho.
A	atitude	de	Cristo	demonstrada	na	vida	diária	do	crente	é	um	argumento
irrefutável	em	prol	do	Cristianismo.
2.	O	Cristo	vivo	e	as	portas	trancadas.	Reflitamos	primeiro	sobre	este	fato:	foram
os	amigos	de	Cristo,	e	não	os	seus	inimigos,	os	primeiros	a	trancarem	as	portas
para	o	Ressurreto.	Não	somente	estavam	trancados	entre	as	quatro	paredes	de
um	quarto,	como	também	nas	cadeias	do	medo,	da	aflição	e	da	decepção.
Lemos,	no	entanto:	“Cerradas	as	portas...	chegou	Jesus”.
Repetidas	vezes	a	Igreja,	com	zelo	falso	ou	em	ignorância	do	plano	do	Senhor,
tem	trancado	as	portas	para	Ele.	Mediante	avivamentos	espirituais,	porém,	as
portas	de	preconceitos	têm	sido	arrombadas.	“Cerradas	as	portas...	chegou
Jesus”.
Certo	negociante,	que	durante	anos	vivera	como	agnóstico,	disse	que	sentiu	o
toque	do	Senhor	exatamente	como	se	alguém	lhe	tomasse	a	mão	enquanto
andava	na	rua,	para	falar	intimamente	a	ele.	Daquele	momento	em	diante,	sua
vida	foi	completamente	transformada.	“Cerradas	as	portas...	chegou	Jesus”.
Muitos	entre	nós,	cedendo	à	depressão,	excluem	o	Senhor	sem	se	aperceber;	Ele,
porém,	chega	para	nos	elevar	do	nosso	abatimento.	E	podemos	testificar:	“Então
Jesus	veio	a	mim,	mesmo	estando	as	portas	trancadas”.
3.	Poder	espiritual	para	a	obra	espiritual.	Quando	Cristo	soprou	sobre	os
discípulos,	estava	querendo	dizer:	“Pessoas	espiritualmente	mortas	não	podem
trazer	a	outros	a	vida	espiritual.	Assim	sendo,	eu	vivifico	vocês	espiritualmente”.
Todos	os	que	se	dedicam	em	ganhar	almas	para	Cristo	reconhecem	a	verdade	das
palavras	do	Senhor:	“Sem	mim	nada	podeis	fazer”.	Ninguém	procurou
honestamente	transformar-se	em	tudo	aquilo	que	Cristo	quer	que	ele	seja,	sem
ter	chegado	a	gemer,	quase	desesperado:	“Quem	é	suficiente	para	estas	coisas?”
Embora	esta	atitude	faça	mal	ao	orgulho	próprio,	é	benéfica	à	nossa	alma.	É
como	clamar:	“Senhor,	o	meu	cântaro	está	vazio;	por	favor,	encha-o	para	mim.”
Sua	resposta	vem	sem	demora:	“Bem-aventurados	os	pobres	de	espírito,	porque
deles	é	o	reinodos	céus...	Bem-aventurados	os	que	têm	fome	e	sede	de	justiça,
porque	eles	serão	fartos”	(Mt	5.3,6).
Jesus	disse:	“Recebei	o	Espírito	Santo”.	Como?	Segundo	as	palavras	de	Isaías:
“Os	que	esperam	no	Senhor	renovarão	as	suas	forças”.
4.	Proclamando	o	perdão	aos	arrependidos.	Um	dos	possíveis	sentidos	do
versículo	23:	é	direito	e	também	dever	de	todo	cristão	proclamar	ao	mundo	que
Cristo	foi	manifestado	para	tirar	o	pecado,	que	aquele	que	crê	será	salvo	(“os
pecados	lhes	são	perdoados”),	e	que	quem	não	crer	será	condenado	(são
“retidos”	os	pecados).
Que	pensamento	solene	—	saber	que	temos	autoridade	para	dizer	ao	pior	dos
pecadores:	“Eis	o	Cordeiro	de	Deus,	que	tira	o	pecado	do	mundo”!
5.	O	faltoso.	“Ora,	Tomé,	um	dos	doze,	chamado	Dídimo,	não	estava	com	eles
quando	veio	Jesus”.	Que	hora	para	faltar	à	reunião!	Decerto	Tomé	nem
imaginava	quão	maravilhoso	haveria	de	ser	o	culto!	Talvez	pensasse	que	os
demais	discípulos	falariam	sobre	o	Cristo	morto.	Existem	hoje,	nas	igrejas,
pessoas	para	as	quais	Cristo	não	é	uma	realidade	viva,	e	imaginam,	portanto,	não
haver	vida	espiritual	na	igreja.	Faltam,	não	por	indiferença,	nem	por	se	sentirem
satisfeitas	espiritualmente,	mas	por	falta	de	esperança.
Contrariamente	às	expectativas	de	Tomé,	no	entanto,	os	discípulos	tiveram	uma
reunião	maravilhosa,	porque	Jesus	estava	ali.	Tomé	perdeu	muita	coisa:	uma
demonstração	da	certeza	da	vida	futura,	o	gozo	de	grande	enlevo	espiritual,	a
dádiva	da	paz,	a	vocação	ao	ministério	da	pregação	e	o	sopro	do	Espírito	Santo.
É	triste	para	a	igreja	quando	os	crentes	começam	a	faltar	aos	cultos.
6.	Crer	é	ver.	A	incapacidade	de	ver	pode	ser	explicada	por	um	dos	dois	motivos
seguintes:	ou	nossa	visão	é	boa	e	o	objeto	a	ser	visto	é	obscuro;	ou	é	claro	o
objeto,	e	inferior	a	nossa	visão.
Qual	foi	o	caso	de	Tomé?	A	evidência	era	suficientemente	clara	porque	tinha	o
testemunho	unânime	de	dez	homens	que	conhecia	há	anos,	e	isto	não	somente
pelas	palavras	deles,	como	também	pelos	seus	rostos	transformados	de	júbilo
espiritual.	A	dificuldade,	portanto,	não	estava	na	evidência,	e	sim	na	atitude	de
Tomé.	Jesus,	portanto,	disse:	“Não	sejas	incrédulo,	mas	crente”.
As	pessoas	talvez	digam	que	não	podem	crer	nisto	ou	naquilo,	e	talvez	estejam
sendo	sinceras.	A	pergunta	mais	importante,	em	tal	caso,	é:	“Você	realmente
quer	saber	se	isto	é	verdade?	E	estaria	disposto	a	conformar	sua	conduta	com	os
fatos,	uma	vez	averiguados?”
O	olho	sadio	verá	a	luz.	O	coração	sadio	perceberá	a	verdade.
7.	Impondo	condições	a	Deus.	Tomé	errou	grandemente	em	querer	estipular
condições	em	que	Cristo	teria	de	vir	a	ele.	“Se	eu	não...	de	maneira	nenhuma
crerei”.	Definiu	o	caminho	pelo	qual	Jesus	teria	de	vir	a	ele,	e	não	quis	perceber
a	presença	do	Senhor,	a	não	ser	que	fosse	por	aquele	caminho.	É	certo	que	Cristo
se	adaptou	às	fraquezas	do	melancólico	discípulo,	mas	nem	por	isso	devemos
repetir	tal	erro.	Não	podemos	ditar	ao	Senhor	os	métodos	que	deverá	empregar
para	tratar	conosco.	O	papel	da	criatura	é	confiar	no	Criador,	e	não	procurar
limitar	o	Onipotente.
8.	A	vista	nem	sempre	é	a	visão.	Leia	o	versículo	29.	Esta	época	materialista
exige	fatos	concretos,	mas,	mesmo	na	vida	cotidiana,	há	diferença	entre	ver	e
perceber.	Muitas	pessoas	passam	nas	galerias	de	arte	sem	perceber	nada	de
especial	nas	obras-primas,	não	reconhecendo	nelas	qualquer	significado	ou
valor.
Milhares	de	pessoas	viram	Jesus	enquanto	estava	aqui	na	terra,	mas	nem	todas
perceberam	ser	Ele	o	Filho	de	Deus.	Em	contraste,	milhares	de	pessoas	hoje,	que
nunca	viram	a	Jesus	fisicamente,	reconhecem-no	pelos	olhos	da	fé,	de	forma	que
Ele	lhes	é	tão	real	como	um	amigo	na	terra
“Não	posso	crer”,	disse	um	jovem	descrente	a	D.	L.	Moody.	“Em	quem	você	não
pode	crer?”	perguntou	o	evangelista.	Respondeu	bem!	O	Cristianismo	apresenta,
em	primeiro	lugar,	uma	Pessoa	que	merece	nossa	confiança,	e	não	tanto	uma
série	de	proposições	abstratas	a	serem	aceitas.	Quando	um	amigo	telefona
dizendo	que	chegará	a	tal	hora,	vamos	para	a	estação	nos	encontrar	com	ele.
Cristo	nos	avisou	que	se	encontrará	conosco	no	local	chamado	Fé,	e	ali	o
acharemos.
23
Jesus	Aparece	a	Sete	Discípulos	na	Galiléia
Texto:	João	21.1-24
Introdução
Nós,	que	pertencemos	ao	Jesus	ressurreto,	podemos	ter	certeza	de	que,	enquanto
labutamos	nos	mares	desta	vida,	Ele	está	nos	olhando	da	praia	além,	pronto	a	dar
as	instruções	que	nos	garantirão	o	sucesso.	Talvez	não	cheguemos	a	ver	os
resultados	até	o	raiar	da	aurora	final,	quando	mãos	angelicais	recolherão	o	fruto
ao	Celeiro	eterno.	Estêvão	viu	Jesus	à	mão	direita	de	Deus,	e	Ele	se	revela	a
todos	que	buscam	a	sua	face.	Nosso	Senhor,	entronizado,	dirige	de	lá	a	batalha
cuja	vitória	final	já	é	garantida;	é	a	partir	desta	vitória	que	podemos	proclamar	o
Evangelho:	“Ora,	o	Senhor,	depois	de	lhes	ter	falado,	foi	recebido	no	céu,	e
assentou-se	à	direita	de	Deus.	E	eles,	tendo	partido,	pregaram	por	toda	parte”.	O
mesmo	Senhor	vitorioso	que	está	nas	alturas,	também	está	lutando	ao	lado	dos
seus	fiéis,	“cooperando	com	eles	o	Senhor,	e	confirmando	a	palavra	com	sinais
que	se	seguiram”	(Mc	16.19,20).	Embora	estejamos	no	meio	do	mar	bravio,	e
Ele	no	Céu,	há	entre	o	Senhor	e	nós	a	plenitude	da	união	e	da	comunhão,	e
receberemos	da	parte	dEle	ilimitados	suprimentos	de	forças,	graça	e	bênçãos,	se
reconhecermos	a	sua	presença,	confessarmos	a	nossa	insuficiência,	obedecermos
a	Ele	e	esperarmos	a	sua	bênção.
I	-	A	Festa	Inesperada	(Jo	21.1-14)
1.	Uma	expedição	infrutífera.	Os	apóstolos,	obedecendo	as	ordens	do	Mestre,
foram	para	a	Galiléia,	onde	Ele	prometera	encontrá-los.	Durante	a	espera,	Pedro,
sempre	impaciente,	falou,	com	característica	impulsividade:	“Vou	pescar”.	Se	ele
achava	que,	enquanto	esperava	o	Mestre,	deveria	aproveitar	o	tempo	para	cuidar
dos	negócios,	fazer	um	pouco	de	exercício	e	tomar	o	ar	fresco	do	mar,	então
conseguiu	bastante	exercício	e	ar	fresco,	mas	nenhum	resultado	no	negócio	da
sua	especialidade,	a	pesca:	“Naquela	noite	nada	apanharam”.	Achamos	que
talvez	o	Senhor	tivesse	algo	a	ver	com	aquelas	redes	vazias;	não	queria	que	seus
futuros	missionários	se	dedicassem	demais	às	antigas	ocupações.
2.	O	alegre	encontro.	“Filhos	[literalmente,	‘rapazes’],	tendes	alguma	coisa	de
comer?”	perguntou	o	desconhecido,	em	pé,	na	praia.	Recebendo	resposta
negativa,	fez	a	seguinte	sugestão:	“Lançai	a	rede	para	a	banda	direita	do	barco,	e
achareis”.	De	fato,	fizeram	uma	pesca	de	cento	e	cinqüenta	e	três	grandes	peixes.
João,	com	seu	discernimento	e	sensibilidade	espiritual,	olhou	bem	para	o
desconhecido	na	praia	e	reconheceu-o,	exclamando:	“É	o	Senhor”!	Pedro	não
parou	para	duvidar,	debater	ou	investigar:	impulsionado	pelo	seu	amor	ao
Mestre,	saiu	do	barco	de	um	só	salto	para	dentro	da	água,	e	logo	chegou	à	praia.
Não	se	importava	mais	com	a	pesca	ou	os	peixes	—	queria	Cristo!
Muitas	vezes,	em	nossas	viagens	pelo	oceano	da	vida,	nosso	labor	torna-se
infrutífero;	então,	quando	alguém	nos	dirige	aos	frutos,	exclamamos	com	júbilo:
“É	o	Senhor!”
3.	O	gracioso	convite.	Pedro,	chegando	à	praia,	viu	que	havia	um	fogo	aceso
(“umas	brasas”)	em	que	Jesus	preparava	uma	refeição,	bem	diferente	do	fogo
(“braseiro”)	ao	lado	do	qual	Pedro	queria	se	aquecer	no	pátio	do	sumo	sacerdote.
Aquela	ocasião	fora	palco	de	tristeza,	tentação	e	negação	de	Jesus;	agora,	havia
glória,	segurança	e	a	restauração	da	comunhão	com	Cristo.	Pedro	sentia-se	muito
mais	confortável	aqui,	à	beira-mar,	ao	lado	do	milagre	da	condescendência
divina.	O	eterno	Filho	de	Deus,	Criador	do	Universo,	entende	tão	bem	nossa
fraca	situação	humana,	prepara	uma	refeição	e	diz,	sorridente:	“Vinde,	jantai”.	O
Senhor	gostava	de	cuidar	dos	seus,	segundo	suas	próprias	palavras:	“Pois	o
próprio	Filho	do	homem	não	veio	para	ser	servido,	mas	para	servir,	e	dar	a	sua
vida	em	resgate	por	muitos”.	Nosso	Senhor,	no	Céu,	continua	com	a	mesma
disposição	em	nos	atender,	conforme	Ele	mesmo	declarou:	“Bem-aventurados
aqueles	servos,	os	quais,	quando	o	Senhor	vier,	achar	vigiando!	Em	verdade	vos
digo	que	se	cingirá,	e	os	fará	assentar-se	à	mesa,	e,chegando-se,	os	servirá”	(Lc
12.37).
II	-	O	Culto	da	Ordenação	(Jo	21.15-17)
A	refeição	que	Pedro	tomou	ao	lado	de	Cristo	talvez	simbolize	aquela	profunda	e
contínua	comunhão	que	seria	necessária	ao	seu	futuro	ministério.	Nós	também
devemos	aceitar	o	alimento	que	Cristo	nos	prepara	se	quisermos	ter	condições	de
alimentar	as	suas	ovelhas.
Estudaremos	a	restauração	pública	de	Pedro	no	seu	ofício,	posição	que	ele
mesmo	considerava	sacrificada	pela	sua	tríplice	negação	de	Cristo.	A	restauração
em	público	era	tão	necessária	como	a	que	recebeu	em	particular	(Lc	24.34),	a
fim	de	os	demais	apóstolos	reconhecerem-no	em	sua	posição	de	autoridade
espiritual.
1.	O	interrogatório.	A	Bíblia	contém	perguntas	bem	diretas	e	profundas,	como
por	exemplo:	“Onde	estás?”	“Onde	está	Abel,	teu	irmão?”	“Que	fazes	aqui,
Elias?”	Aqui	temos	o	tríplice	interrogatório,	com	Jesus	perguntando	três	vezes:
“Simão,	filho	de	João,	amas-me?”	Esta	pergunta	era:
1.1.	Uma	lembrança.	Jesus,	deixando	de	lado	o	nome	de	Pedro	(que	representa	a
força	espiritual	que	seria	ao	edificar-se	firmemente	na	rocha,	que	é	Cristo),	que
Ele	mesmo	lhe	dera,	voltou	a	empregar	o	nome	de	“Simão”,	como	que	o
lembrando	das	suas	antigas	fraquezas,	e	perguntando	se	está	disposto	a	ser
Pedro,	a	rocha	—	não	pelas	suas	próprias	forças,	e	sim	mediante	a	firmeza	que
apenas	Cristo	lhe	pode	dar.	As	três	reiterações	da	pergunta	seriam	a	retratação	da
tríplice	negação,	e	as	palavras	“amas-me	mais	do	que	estes?”	serviriam	de
lembrança	a	Pedro,	de	que	não	devia	jactar-se	da	sua	própria	lealdade:	“Ainda
que	todos	se	escandalizem	em	ti,	eu	nunca	me	escandalizarei”	(Mt	26.33).	E:
“Ainda	que	todos	se	escandalizem,	nunca,	porém,	eu”	(Mc	14.29).
1.2.	Um	teste	Antes	de	Pedro	ser	enviado	em	nome	de	Jesus	para	cuidar	das
ovelhas,	precisava	ter	certeza	de	estar	em	harmonia	com	o	Sumo	Pastor.	O	amor
tem	de	ser	o	vínculo	entre	Cristo	e	seus	obreiros.	Amor,	e	não	imaginação
apenas.	Amor,	e	não	somente	um	rígido	senso	do	dever.	Amor,	e	não	um
sentimento	romântico.	Paulo	descreve	assim	a	essência	do	Cristianismo:	“A	fé
que	atua	pelo	amor”	(Gl	5.6).	O	teste	supremo	da	nossa	experiência	cristã	é
nosso	real	amor	por	Cristo.
2.	O	examinando.	Jesus	emprega	a	palavra	amar,	que	tem,	na	língua	original,
vinculação	com	o	amor	divinal	e	puro,	e	Pedro,	na	sua	resposta,	emprega	a
palavra	amar	mais	comum,	que	representa	a	amizade.	Aquela	terrível	noite	no
pátio	do	sumo	sacerdote,	quando	Pedro,	aconchegando-se	aos	confortos	dos
inimigos	de	Cristo,	negou-o	quando	menos	o	imaginava,	já	o	havia	curado	da
confiança	em	si	mesmo.	Na	terceira	pergunta,	Jesus	volta	à	palavra	mais	comum,
como	se	para	testar	a	autoconfiança	de	Pedro	até	no	tocante	à	sua	simples	e	leal
amizade.	Pedro	ficou	triste,	mas	respondeu	apenas:	“Senhor,	tu	sabes	tudo;	tu
sabes	que	eu	te	amo”.	Pedro	já	não	depende	da	confiança	que	tem	em	si	mesmo;
fora	de	Cristo,	ele	nada	pode;	seu	amor	se	alicerça	no	amor	que	Ele	lhe	deu,	e
seu	caráter	depende	daquele	aspecto	melhor	do	seu	íntimo	que	Cristo	conhece,
podendo	ensiná-lo	a	amar	devidamente.	Aqui	há	consolação	para	nós:	quando	as
pessoas	criticam	nossas	atitudes,	como	se	estivessem	dizendo	que	não	é	assim
que	o	servo	de	Cristo	deve	agir,	é	uma	bênção	podermos	dizer,	em	oração:	“Tu
sabes	que	eu	te	amo”.
3.	A	obra.	Pedro,	recuperado	quanto	às	suas	forças	espirituais,	deve	dedicá-las	ao
serviço	da	Igreja	de	Cristo.	Antes	da	negação,	Cristo	admoestou-o:	“Tu,	quando
te	converteres,	confirma	os	teus	irmãos”	(Lc	22.32);	depois	da	negação,	a
admoestação	é:	“Apascenta	as	minhas	ovelhas”.	Pedro,	lembrando-se	das
próprias	fraquezas,	cheio	de	gratidão	pelo	amor	de	Cristo,	que	o	perdoou,	e
sentindo	as	necessidades	dos	seus	companheiros	mediante	a	compreensão	de	que
suas	próprias	falhas	lhe	ensinaram	a	encará-	las	com	simpatia,	animado	pelo
amor	de	Cristo,	teria	agora	de	ser	um	herói,	a	fim	de	fortalecer	os	demais.
Muitos	anos	mais	tarde,	Pedro	transmitiu	este	mesmo	recado,	esta	mesma
incumbência,	aos	líderes	das	muitas	igrejas	que	existiam:	“Aos	presbíteros,	que
estão	entre	vós,	admoesto	eu,	que	sou	também	presbítero	com	eles...	Apascentai
o	rebanho	de	Deus,	que	há	entre	vós...	E,	quando	aparecer	o	Sumo	Pastor,
alcançareis	a	incorruptível	coroa	da	glória”	(1	Pe	5.1-4).
Há,	nas	três	incumbências,	certa	progressão	de	pensamento:	1)	“Apascenta	as
minhas	ovelhas”.	Isto	refere-se	especialmente	a	crentes	jovens	e	imaturos,	que
devem	ser	guiados	mansamente	e	alimentados	com	o	genuíno	leite	espiritual,
que	é	a	Palavra	(1	Pe	2.2).	2)	“Apascenta	as	minhas	ovelhas”.	Guiar,	dirigir,
proteger	de	inimigos	os	discípulos	mais	maduros	que	saem	a	enfrentar	o	mundo,
conservando	também	a	disciplina	do	rebanho.	3)	“Apascenta	as	minhas	ovelhas”.
Às	vezes	há	crentes	antigos	que	têm	tantas	fraquezas	ou	tentações,	que	exigem
mais	atenção	pastoral	que	os	próprios	cordeirinhos.
Ensinamentos	Práticos
1.	Trabalhando	durante	a	noite.	Os	infrutíferos	esforços	dos	discípulos	durante	a
noite	inteira	lembram-nos	que	os	obreiros	cristãos	mais	bem-sucedidos	têm
muitas	experiências	de	fracassos	e	decepções.	Mesmo	quando	estamos	lutando
contra	a	maré,	no	meio	das	ondas	e	na	noite	escura,	Jesus	está	nos	olhando,	e	de
um	momento	para	o	outro	pode	nos	revelar	sua	presença	e	mostrar-nos	que,
enquanto	perseveramos	com	paciência	e	esperança,	nossa	obra	feita	para	o
Senhor	não	é	em	vão.
2.	A	consideração	de	Cristo.	Os	Evangelhos	trazem	todos	os	sinais	da
veracidade:	nenhuma	imaginação	piegas,	nenhum	inventor	de	lendas	teria
pensado	em	pintar	um	quadro	do	Senhor	ressurreto	preocupando-se	com	algo	tão
comum	e	insignificante	como	cozinhar	peixe	para	seus	seguidores.	Não	há,
entretanto,	nada	de	artificial,	forçado	ou	desnaturado	em	nosso	Senhor
glorificado;	o	que	é	do	nosso	interesse,	interessa	a	Ele.	O	que	é	suficientemente
importante	para	ocupar	a	nossa	séria	reflexão	é	suficientemente	importante	para
Ele.	O	Senhor	tem	compaixão	das	nossas	enfermidades,	dos	nossos	sentimentos,
por	mais	triviais	que	pareçam	ser.	Isto	nos	incentiva	a	orar	sobre	todo	e	qualquer
assunto	—	lançando	sobre	Ele	os	nossos	fardos!
3.	A	necessidade	humana	—	a	oportunidade	do	Senhor.	Quando	Jesus	perguntou:
“Filhos,	tendes	alguma	coisa	de	comer?”,	já	sabia	que	a	resposta	teria	que	ser
negativa;	sua	pergunta	visava	despertar	neles	o	reconhecimento	do	seu	próprio
fracasso.	Muitas	vezes,	o	Senhor	tem	que	desferir	um	golpe	mortal	em	nosso
orgulho	e	autoconfiança,	a	fim	de	nos	preparar	para	receber	da	parte	dEle	as	suas
forças.	Quando	nosso	eu	chega	ao	fim,	Ele	pode	começar.	Nosso	limite	é	a
oportunidade	do	Senhor.	“Sendo	tu	pequeno	aos	teus	olhos...	o	Senhor	te	ungiu”
(1	Sm	15.17)
4.	“Lançai	a	rede	à	destra	do	barco”.	Se,	após	sofrer-	mos	algum	fracasso,	nos
dispusermos	a	escutar	a	voz	do	Senhor,	Ele	nos	mostrará	o	modo	certo	de	servi-
lo.	Ele	não	quer	repreender,	denunciar,	criticar;	deseja,	sobretudo,	nos	orientar.
“E,	se	algum	de	vós	tem	falta	de	sabedoria,	peça-	a	a	Deus,	que	a	todos	dá
liberalmente,	e	o	não	lança	em	rosto,	e	ser-lhe-á	dada”	(Tg	1.5).	Certa
missionária	descobriu	que,	a	despeito	do	seu	muito	esforço	na	organização,
pregação	e	ensino,	seu	ministério	era	um	fracasso.	Sentiu-	se,	então,	levada	a
deixar	de	lado	algumas	atividades	para	dedicar	algumas	horas	à	oração.	Houve,
como	resultado,	uma	revolução	total	no	seu	ministério.	Fora	levada	a	lançar	a
sua	rede	no	lado	certo!	Quando	surgem	os	fracassos,	como	às	vezes	acontece,
devemos	levá-los	ao	Senhor	(cf.	Mc	9.28,29).
5.	Após	a	tempestade,	a	bonança.	As	incertezas	do	mar	tempestuoso	seguidas
pela	segurança	da	praia	firme;	a	noite	de	labuta	seguida	pelo	brilho	da	aurora;	a
ausência	de	Cristo	seguida	pela	sua	presença	pessoal;	a	dolorosa	fome	seguida
pela	refeição	que	satisfaz	—	todos	estes	aspectos	fazem	com	que	a	narrativa	seja
uma	bela	figura	da	nossa	chegada	ao	Céu,	após	a	tempestuosa	viagem	pela	vida.
6.	O	amor,	motivação	suprema	da	vida	cristã.	“Simão,	filho	de	Jonas,	amas-me?”
Jesus	poderia	ter	perguntado:	“Simão,	já	te	arrependeste?”;	ou:	“Simão,
finalmente	te	humilhaste?”;	ou:	“Simão,tens	certeza	de	ter	o	conceito	correto
quanto	à	minha	pessoa?”;	ou:	“Simão,	prometes	que	nunca	mais	me	negarás?”;
ou:	“Simão,	sempre	me	obede
cerás?”	Ao	contrário,	simplesmente	pergunta:	“Simão,	amas-me?”	No	entanto,
aquela	pergunta	tão	singela	atinge	o	próprio	coração	da	vida	cristã.	Cristo	busca
em	primeiro	lugar	o	nosso	coração,	a	entrega	de	nossos	afetos,	pois,	uma	vez	que
assim	acontece,	seguir-se-ão	naturalmente	o	arrependimento,	a	lealdade,	a
obediência	e	o	serviço.
Quantos	deveres	cristãos	são	deixados	de	lado	quando	se	diminui	a	freqüência	à
igreja	ou	quando	as	ofertas	vão	escasseando.	Podemos	achar	uma	centena	de
desculpas	para	explicar	o	descuido.	Muitas	vezes,	porém,	a	verdadeira	razão
pode	ser	definida	nas	seguintes	palavras:	“Deixaste	o	teu	primeiro	amor”	(Ap
2.4).	Mesmo	assim,	a	consciência	de	nossa	falta	de	amor	não	deve	nos
desencorajar	a	buscar	o	Senhor;	temos	plena	consciência	das	nossas	falhas
passadas;	hesitamos	quanto	a	oferecer	ao	Senhor	os	nossos	afetos	tão
minguados.	Jesus	Cristo,	no	entanto,	aceita	nossos	minguados	recursos	de	amor,
porque	Ele	pode	transformá-	los	em	plenitude	de	abundância.
7.	Reconhecendo	o	Senhor.	Qual	foi	a	demonstração	concreta	da	verdade	de	ser
o	Senhor	a	pessoa	que	estava	na	praia?	Resposta:	“Chegou	pois	Jesus...	e	deu-
lho”.	Jesus	é	sobretudo	o	grande	Doador.	Neste	mesmo	evangelho,	Ele	diz	com
respeito	ao	seu	Pai:	“Porque	Deus	amou	o	mundo	de	tal	maneira	que	deu”.	Este	é
um	sinal	da	divindade	de	Cristo,	que	“a	todos	dá	liberalmente,	e	o	não	lança	em
rosto”.	Dá	aos	homens	em	suas	necessidades;	quando	os	sedentos	estão
desmaiando,	Ele	faz	brotar	as	águas,	mesmo	no	meio	do	deserto	ou	das	duras
rochas.	Muitos	cristãos,	recebendo	uma	bênção	espiritual	inesperada	ou	uma
expressão	da	divina	providência	na	sua	vida,	podem	exclamar:	“É	o	Senhor”!
Apêndice
O	Evangelho	de	Jesus	Cristo	segundo	João	é	o	mais	conhecido,	o	mais	amado
livro	do	mundo.	Essa	obra	tem	induzido	mais	pessoas	a	seguirem	a	Cristo	e
inspirado	mais	crentes	a	servirem	ao	Senhor	que	qualquer	outra,	através	dos
séculos.	Se	se	considera	Lucas	“a	mais	bela	obra	literária	do	mundo”,	João	é
ainda	mais	elevada,	mais	sublime.	Ao	passo	que	suas	histórias	cativam	as
crianças,	suas	lições	são	insondáveis	aos	filósofos.	João	é	o	Evangelho	Eterno,	o
Evangelho	de	Deus.
O	autor	do	quarto	Evangelho
O	escritor	deste	livro	foi	o	apóstolo	João,	que,	com	Pedro	e	Tiago,	era	um	dos
três	valentes	e	mais	ilustres	do	Filho	de	Davi	(Mc	5.37;	Mt	17.1;	26.37;	ver	1	Cr
11.10-47).	Seu	pai,	Zebedeu,	um	pescador	no	mar	da	Galiléia,	parece	homem
abastado;	possuía,	talvez,	casa	em	Betsaida	e	tinha	servos	(Mc	1.20).	Salomé,	a
mãe	de	João	(Mt	27.56;	Mc	15.40;	16.1),	foi	uma	das	mulheres	que
acompanhavam	a	Cristo	e	seus	discípulos	e	o	serviam	com	suas	fazendas	(Lc
8.3;	Mc	15.40,41).	Foi	esta	mesma	mulher,	santa	e	querida,	que,	com	outras,	na
manhã	da	ressurreição,	levou	aromas	para	embalsamar	o	corpo	de	Cristo	(Mc
16.1).	João	era,	sem	dúvida,	no	início,	um	discípulo	de	João	Batista.	Depois	foi
escolhido	para	ser	um	dos	12	apóstolos	(Mt	10.2).	AquEle	que	conhece	os
corações	dos	homens,	deu	a	João	e	seu	irmão,	Tiago,	o	nome	de	Filhos	do	trovão
(Mc	3.17).	Foram	assim	chamados,talvez,	por	causa	do	poder	com	que
testificavam	do	Cristo,	o	Trovão	entre	os	hebreus,	dignificando	a	voz	do	Pai.
João	foi	conhecido	como	aquele	que	Jesus	amava	(Jo	13.23;	19.26;	20.2;
21.7,20).	Foi	a	ele	que	o	Mestre	confiou	o	cuidado	de	sua	querida	mãe	antes	de
morrer	(Jo	19.26,27).	Foi	um	dos	discípulos	que	perse-	veravam	unanimemente
em	Jerusalém	em	oração	e	súplicas	(At
1.	13,14).	Foi,	com	os	outros,	no	dia	de	Pentecoste,	batizado	no	Espírito	Santo
(At	2.4).	Continuava	na	constante	companhia	de	Pedro	(At	3.4;	4.13;	8.14,17).	A
história	da	Igreja	concorda	em	que	João	residia	em	Éfeso,	de	onde	dirigia	a	obra
das	igrejas.	Foi	de	lá	banido	à	solitária	ilha	de	Patmos,	“por	causa	da	palavra	de
Deus,	e	pelo	testemunho	de	Jesus	Cristo”	(Ap	1.9).	Sobreviveu	a	todos	os	outros
apóstolos,	por	muitos	anos,	sendo	o	único	deles	que	não	morreu	mártir.
A	data	do	livro	de	João
João	escreveu	seu	evangelho,	provavelmente,	nos	anos	85	a	90	a.D.,	quando
todo	o	Novo	Testamento	estava	completo,	a	não	ser	a	parte	que	ele	mesmo
escreveu.	De	maneira	extraordinária,	seu	evangelho	leva	todos	os	quatro
evangelhos	ao	maior	grau	de	glória	e	de	instrução	prática.	Sua	primeira	epístola
é	o	ponto	culminante	das	epístolas.	O	Apocalipse	é	o	selo	e	o	apogeu	de	toda	a
Bíblia.	João,	com	meio	século	de	experiência	como	pastor	e	evangelista,	depois
da	crucificação,	ficou	melhor	preparado	para	escrever	sua	obra	acerca	do	Mestre.
Suas	palavras	nos	estimulam	ainda	mais,	se	nos	lembramos	do	que	ele	tinha
experimentado	quando	escrevia.	Reclinara	a	cabeça	no	seio	do	Senhor	e
compartilhava	intimamente	os	sentimentos	de	seu	coração	amoroso.	Seguira	o
Senhor	ao	seu	julgamento,	quando	todos	os	outros	discípulos	tinham	fugido	(Jo
18.15).	Fora	o	único	a	ficar	ao	pé	da	cruz	para	receber	a	mensagem	do	Salvador,
antes	de	Ele	expirar.	Presenciara	a	ascensão.	Fora	um	dos	120	discípulos
maravilhosamente	batizados	no	Espírito	Santo,	no	glorioso	derramamento	do
Pentecoste.	Acolhera	a	mãe	do	Senhor	em	casa,	até	ela	morrer.	Vira	a
dispensação	judaica	findar	e	a	destruição	da	cidade	santa.	E,	não	muito	depois	de
escrever	seu	evangelho,	foram-lhe	concedidas	as	visões	vibrantes	e
preciosíssimas	do	Apocalipse.	Verdadeiramente,	se	estudarmos,	lembrando	do
que	João	tinha	visto,	do	que	sentia	no	coração	quando	escrevia,	desfrutaremos
muitas	vezes	mais	das	bênçãos	e	da	alegria	do	Espírito	Santo.
O	versículo-chave	do	livro
Para	se	desfrutar	das	riquezas	de	qualquer	livro	da	Bíblia	é	necessário	possuir,
primeiramente,	a	chave	própria	do	livro.	Às	vezes	a	chave	está	na	fechadura	da
porta,	na	frente,	como	no	livro	de	Atos,	esperando	que	abramos	a	porta	para
entrar.	A	chave	do	livro	de	João,	contudo,	está	bem	no	fundo:	“Estes	porém,
foram	escritos	para	que	creias	que	Jesus	é	o	Cristo,	o	Filho	de	Deus,	e	para	que,
crendo,	tenhais	vida	em	seu	nome”	(Jo	20.31).
Não	é,	todavia,	somente	no	fim	do	livro	de	João	que	se	encontra	o	propósito	da
obra.	No	primeiro	capítulo	está	registrado	que	“Deus	nunca	foi	visto	por	alguém.
O	Filho	unigênito	que	está	no	seio	do	Pai,	esse	o	fez	conhecer”	(v.	18).	O	alvo,
portanto,	dos	sublimes	“retratos”	do	Filho	unigênito	que	se	encontram	no	livro
de	João,	é	que	os	homens	conheçam	o	Pai	do	Filho	unigênito,	Deus.
No	Fragmento	Muratoriano	consta	como	o	apóstolo	João	escreveu	seu	evangelho
“solicitado	pelos	bispos	e	colaboradores”	e	somente	depois	de	um	tempo	de
jejum	e	oração.	Não	ambicionava	lugar	entre	os	literatos	de	renome,	mas	antes
um	lugar	para	Cristo	no	coração	dos	homens.	Escrevia,	não	para	divertir	os
homens,	mas	para	levá-los	à	convicção,	mesmo	como	Lucas	escrevera	para	levá-
los	à	confirmação	(Lc	1.3,4).	Queria	que	ficássemos	convictos	do	ofício	divino	e
da	natureza	divina	de	Jesus.	Estes	foram	escritos	para	que	creiais	que	Jesus	é	o
Cristo,	o	Filho	de	Deus.
A	divisões	do	livro
João,	como	Lucas,	divide-se,	naturalmente,	em	sete	partes	principais:
I.	Prólogo	ou	prefácio:	Jesus,	o	Cristo,	é	o	Verbo	eterno	feito	em	carne	(Jo	1.1-
14).
II.	O	testemunho	de	João	Batista	(Jo	1.15-34).
III.	O	ministério	público	de	Cristo	(Jo	1.35-12.50).
IV.	O	ministério	oculto	de	Cristo	entre	os	discípulos	(Jo	13.1-17.26).
V.	O	sacrifício	de	Cristo	(Jo	18.1-19.42).
VI.	Cristo	se	manifesta	ressuscitado	(Jo	20.1-31).
VII.	O	epílogo	ou	fecho	do	livro:	Cristo	se	manifesta	como	o	Mestre	da	vida	e
do	serviço	(Jo	21.1-25).
João	e	os	Sinóticos
Sinótico	quer	dizer:	O	que	dá	uma	vista	geral	de	tudo,	ou	da	parte	principal.	Os
evangelhos	sinóticos	(Mateus,	Marcos	e	Lucas)	são	assim	chamados	porque	nos
fornecem	uma	vista	geral	-	ou	resumo	-	da	vida	de	Cristo.	Esses	três	livros
narram	a	vida	de	Cristo	no	mesmo	esboço	geral.	Cada	um	dos	três	salienta	seu
ministério	na	Galiléia	e	conta	resumidamente	a	sua	obra	na	Judéia	e	na	Peréia.	O
Evangelho	de	João,	ao	contrário,	dá	ênfase	ao	que	Ele	fez	na	Judéiae	na	Peréia,
e	abrevia	seu	relato	do	que	fez	na	Galiléia.	Os	pontos	de	contraste	principais
entre	João	e	os	sinóticos	são:
Os	Sinóticos
Todos	escritos	antes	de	70	a.D.
Salientam	biografia
Relatam	muitas	parábolas
Narram	23	milagres
Enfatizam	discursos	públicos
Contam	o	que	Jesus	fez
Um	panorama	de	Jesus,	servindo
João
Escrito	cerca	de	90	a.D.
Salienta	doutrina
Não	relata	nenhuma	parábola
Narra	apenas	7	milagres
Enfatiza	entrevistas	ocultas
Conta	por	que	o	fez
Uma	radiografia	da	pessoa	de	Jesus
Que	é	o	livro	de	João	para	nós?
Cremos	realmente	que	Jesus	Cristo	é	o	Filho	de	Deus?	Temos	vida	em	seu
nome?	(Jo	20.31).	Temos	essa	vida	em	abundância?	(Jo	10.10).	Transbordamos
até	produzir	muito	fruto?	(Jo	15.2).	O	propósito	de	João	é	sobremaneira	prático.
Quer	não	somente	produzir	fé	em	nós,	mas	demonstrar	a	vida	que	essa	fé	deve
produzir.	Os	sete	ou	oito	milagres	registrados	são	verdadeiros	“sinais”	(Jo	2.11).
Ainda	mais,	são	símbolos	da	vida	transmitida	por	Cristo.	O	primeiro	milagre	foi
feito	nas	bodas	em	Caná	para	enfatizar	a	alegria	da	vida	cristã	e	como	Cristo	nos
transforma.	Temos	essa	alegria?	Nossa	vida	está	transformada?	A	cura	do
paralítico	de	Betesda	(Jo	5)	nos	fala	não	somente	do	poder	a	nós	concedido	sobre
a	mais	grave	enfermidade,	mas	também	do	poder	concedido	aos	caídos,	para	que
se	levantem	e	andem	espiritualmente.	Temos	esse	poder,	sobre	o	físico	e	o
espiritual?	Ou	ficamos	paralisados	espiritualmente,	escravizados	pelo	temor,
pelo	desalento,	pelo	ódio?	Que	significam,	para	nós,	os	sublimes	retratos	do
Filho	de	Deus,	nesse	livro?	Formam	apenas	uma	obra	literária,	de	extraordinária
fama?	Ou	são,	para	nós,	um	desafio	a	pôr	em	ação	esse	mesmo	poder,	tanto	na
parte	física	quanto	na	espiritual,	em	nosso	serviço?
O	que	também	aprendestes,	e	recebestes,	e	ouvistes,	e	vistes	em	Cristo,	isso
fazei;	e	o	Deus	de	paz	será	convosco.
	Cover Page
	João, o Evangelho do Filho de Deus
	1. Jesus, Filho de Deus e Criador
	2. Os Primeiros Discípulos
	3. O Primeiro Milagre de Cristo
	4. Jesus e Nicodemos
	5. Jesus e a Mulher Samaritana
	6. O Paralítico do Tanque de Betesda
	7. Jesus, o Juiz que Há de Vir
	8. Jesus, o Pão da Vida
	9. Jesus na Festa dos Tabernáculos
	10. Jesus, o Libertador
	11. O Cego de Nascença
	12. Jesus, o Bom Pastor
	13. A Ressurreição de Lázaro
	14. Jesus é Ungido por Maria
	15. Jesus, o Rei dos Reis
	16. Jesus, o Servo
	17. Jesus nos Dá o Consolador
	18. Jesus É a Videira
	19. Jesus, o Intercessor
	20. A Crucificação
	21. Jesus, o Ressurreto
	22. Jesus Dissipa as Dúvidas
	23. Jesus Aparece a Sete Discípulos na Galiléia

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