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CPAD
SILASQUEIROZ
ODEUS QUE
GOVERNA 0MUND0
E CUIDA DA EAM�LIA
OsEnsinamentos Divinosnos Livros
de Rutee Ester paraa nossa Geração
Capítulo 2
OLIVRODE RUTE
INTRODUÇÃO
oivro de Rute está entre Juízes e lSamuel. Levando em consideração
que o crítico quadro espiritual de Israelretratado emJuízes prolonga-se
até os primeiros capítulos de 1 Samuel, o livro pode ser considerado um
verdadeiro lírio no meio do deserto, ou, 'semclhante a uma linda flor numn
jardim abandonado, ou a uma luz clara queaparece na escuridão da noite",
como diz S. E. MacNair (1983, 95). Rute destaca-se não apenas pela sua
beleza literária, mas também pela profundidade espiritual da sua
mensagem. Um bálsamo para judeus e crist�os ao longo dos séculos,o livro
narra uma história de amor e redenção. Trata-se de uma extraordinária
demonstração de como o Todo-Poderoso trabalha em meio às crises para
cumprir osseus desígnios eternos. Nas suas páginas, vêse continuamente o
agir do Deus que transforma tristeza em alegriaederrotas em vitórias.
Não hádúvida de que o agir providencial de Deus éo que mais marca a
narrativa belemita. A providência divina é percebida ao longo de todo o
livro. O Jeová,Jireh, proclamado por Abraão em Gênesis 22.14, é o Deus
que tudo provê para Noemi e Rute, inclusive um remidor, Boaz, e um
herdeiro, Obede, prolongador da semente de Elimeleque, da inhagem de
Davi (Rt 4.13-22).
O livro faz parte da chamada "trilogiade Belém", as três narrativas cujo
cenário descreve o período dos juízes em relação àcidade que também é
conhecida como Efrata (Merril, 2001, p. 184). São clas: Mica e o levita (Jz
17-18),o levita e aconcubina (Jz 19-21) e, por fim, a históriade Rute, num
corpus literário distinto e específico. O livro apresenta uma história curta,
porém de grande riqueza espiritual, pla conduta exemplar e pela fé
perseverante dos seus principais personagens e, principalmente, pelo
desfecho da obra, que revela o grande propósito de toda a história: a
preservação da linhagem piedosa de Abraão, de onde viria (e veio) Jesus,
Filho de Davi, o Salvador do mundo.
I– A ORGANIZAÇÃO DOLIVRO
Seja na Bíblia Hebraica, seja na Crist�, Rute aparece como um livro
separado deJuízes. Há, porém, muita discussão se isso sempre foi assim.
Conforme destaca Eugene H.Merril (ibid., p. 188),
A antiga tradição canônica entre os judeus tradicionalmente tem incluído e
consideradoo livro de Rute como livro dosJuízes, e tal raciocínio tem base nas fortes
considerações literárias e históricas. Seu autor coloca os acontecimentosno tempo
"quando os juízes governavam" (Rt 1.1), eo cenário ainda está envolto nas duas
úlimas páginas narrativas do livro dos Juízes. (Enquanto as outras histórias sâo do
princípio daquela era, Rute deve ser localizada no final do período, pois esta heroína
está separada de Davi por apenas três gerações). Além disso, a acusação que
comumente servia como um refrão por todo o livro dosJuízcs "Naqueles dias não
havia rei em Israel:cada qual fazia o que achavamais reto" (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25)
eque lançava toda aquelaera em uma espécie de caos moral e apostasia da Lei, está
sem dúvida refletida nas palavras de abertura do livro de Rute Nos dias em que
julgavam osjuízes", ou seja,quando não havia um rei.
Ao longo dos tempos, houvemuita variação na composição e ordem dos
livros do Antigo Testamento até chegar àorganização que temos hoje, com
Rute sendo um livro distinto, vindo imcdiatamente após Juízes. Conforme
explica Norman Geisler e Willian Nix (2006,p. 75):
Os livros das Escrituras judaicasforam reagrupadosvárias vezes desde quando foram
redigidos. Alguns deles, de modo especial os que fazem parte dos escritos, foram
redigidos e aceitos pela comunidade judaicaséculos antes das datas que os teóricos da
crítica lhes atribuem.
Acerca dessa variação deposição, R.Clyde Ridall (2020,p. 160) sintetiza:
Na Bíblia hebraicamoderna este livro estácolocado no Megilloth e é lido publicamente
na Festa das Semanas (no tempo da colheita). Contudo, até por volta do ano 450 de
nossa era, o livro de Rute era consideradouma continuaçãode Juízes. Em sua lista de
livros inspirados, Joscfo aparentemente considera Juízes e Rute como um único livro.
Ao que tudo indica, Jerônimo deixa implícito que os dois estavam juntos no cânon
hebraico. Rute aparece na LXX e na Vulgata logo depois deJuízes (como em nossas
versões atuais). Não se sabeþor que nem como o livro saiu de sua posição original junto
aos "Profetas Anteriores" e foi parar no Hagiógrafo(ou Escritos), a terceira divisão do
cânon hcbraico.
Embora a formação do conjunto literário e a ordem dos livros tenha
sofrido variação, épreciso ser dito, contudo, que os livros do Antigo
Testamento, como conteúdo canônico, jamais estiveram em disputa na
antiga comunidade deIsrael.
1.Na Bíblia Hebraica
A Bíblia Hebraica, a Tanakh, é composta apenas dos 39 livros do Antigo
Testamento da Bíblia Cristã. Nela, o livro de Rute pertence à terceira
divisão ou seção chamada Ketuvim ou Hagiógrafos (Escritos Sagrados). A
primeira seção é a Torah (Pentateuco ouLei), e a segunda éa Nei'im
(Profetas)(Lc24.44), Dentre os Escritos,que são l1livros, estão os Megillot
(cinco rolos), livros curtos que eram lidos publicamente nas festas judaicas
anuais. São eles: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e
Ester. Em função de narrar fatos ocorridos durante a colheita, a leitura
litúrgica de Rute era tradicionalmente feita durante o Shavu'ot(Pentecostes),
a festada colheita.
2.Na Bíblia Cristã
Enquanto a Bíblia Hebraica estádividida em três seções (Pentateuco,
Profetas e Escritos), o Antigo Testamento da Biblia Cristã é composto de
quatro seções: Pentateuco, Poéticos, Históricos e Proféicos. Rute está
categorizado como um livrO histórico, diante do seu evidente gênero
narrativo, sem deixar, contudo, de apresentar uma extraordinária beleza
poética. Aparece logo depois do livro de Juízes. Empregando estilo e
linguagem pertencentes ao hebraico clássico, o seu autor expõe vários
aspectos subjetivos da vida dospersonagens (Rt 1.12-21; 2.13,20; 3.1; 4.16).
A obra está organizada em quatro capítulos,somando 85 versículosao todo.
3.Autoria e data
E muito comum existirem infindáveis discussões sobre aspectos históricos,
autoria e data dos livros da Bíblia. São extensas as teses que consomem
longos tempos de navegação fora das Escrituras, que poderiam ser
dedicados ao crescimento em edificação pelo estudo do Livro Sagrado. Os
pentecostais não ignoram o mundo acadêmico e nem negamn o valor das
suas pesquisas quando produzem extraordinárias descobertas a respeito da
história bíblica e do seu registro canônico. Dedicam, contudo, mais tempo
para o estudo das próprias Escrituras, e não para tudo o que a Alta Crítica
escreve acerca dela. Cremos na inspirada, inerrante, completa e infalível
Palavra de Deus.
De qualquer sorte,éimportante pelo menos citar quehá uma diversidade
de opiniões entre os eruditOs a respeito da autoria e data do livro de Rute.
Samuel éo autor mais provávcl, embora Esdras e Ezequias também sejam
citados como supostos autores (BEACON, p. 159). O Talmude, obra
milenar de regulamentos e tradições judaicas, atribui a Samucl a autoria
(BEP,p. 420).A forma como o autor referc-seaJessé e Davi parcce indicar
contemporaneidade e familiaridade com os personagens, o que também
aponta para Samuel (Rt 4.17). Além disso, as característicasgerais da obra
indicam uma atmosfera própria do início do período da monarquia de
Isracl, reforçando ainda mais a autoria do profeta, sacerdote e último juiz
de Israel.
Quanto à data, também há muito debate e imprecis�o. Contudo,
considerando a provável autoria de Samuel, o livro teria sido escrito no
século X a.C. Um dos principais argumentos para essa conclusão, como
destaca Leon Morris (1986,p. 219, 220), diz respeito ao estilo eà linguagem
presentes na obra, pertencentes ao hebraico clássico, o que indica uma
época primitiva, ou seja, dos dias de Samuel, logo após os fatosnarrados no
livro, bem distante do estilo visto em livros escritos no período pós-exílico
(segunda metade do século V a.C.),como os livros das Crônicas dosreis de
Isracl, escritosprovavelmente por Esdras.
De fato,verifica-seque a narrativa de Rute encerra-se com a referência a
Davi (eObede gerou a Jessé, eJessé gerou a Davi" -Rt 4.22). Seria de
todo improvável que um livro escrito após a monarquia (e no período pós
exílico!) não citassc qualquer outro rei de Isracl, principalmcnte Salomão.
II–0CONTEXTO HISTÓRICO
No capítulo anterior, apresentamos um panorama do contexto histórico do
livro de Rute, os dias dos juízes(Rt 1.1), Esse periodo, que durou mais de
três séculos, começou depois da morte deJosué (por volta de 1375 a.C.) e
estendeu-se até o início da monarquia de Israclcom a ascensão de Saul ao
trono (1050 a.C.).Os fatos narrados em Rute devem ter ocorrido mais para
o fim dos dias dos juízes em função da proximidade geracional com Davi:
Boaz gerou a Obede; Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi (Rt
4.21,22). Apenas três gerações, portanto, separamn Rute de Davi.
1.Notenpodosjuízes
Os dias dos juízes foram marcados por uma grande anarquia e uma
profunda apostasia e infidelidade do povo hebreu (Jz 1.7-19). Como já
assinalado, uma frase que identificabem esse período é: "cada qual fazia o
que parecia direito aos seus olhos Jz 17.6). A Nova Tradução da
Linguagem de Hoje traduz como: "cada um faziao que bem queria". Isso
demonstra o quadro anárquico que estava em Isracl, bem diferente do
propósito e da ordem de Deus estabelecida por intermédio de Moisés, que
previa uma unidade nacional sob aobediência da Lei (Dt 31.12,13).
A sensação de estabilidade pela conquista da terra Seu
estabclecimento nas cidades (Js 2.6), somado àconvivência com os povos
cananeus que não foram desalojados, produziram uma drástica mudança
no coração da nação israelita ao longo das gerações. Josué advertira ao
povo que não se misturasse às nações que haviam ficado na terra e que
sequer fizessem menção aos nomes dos seus deuses (Js 23.7).
O povo deveria manter um extremo zelo de Deus e da sua Palavra,
obedecendo a Ele em tudoe buscando viver isento detodos os costumes dos
cananeus que permaneceram na terra, mas Israel fezo contrário de tudo
1SSO.
2.Secularismo, hedonismo eidolatria
O principal marco da transiç�o da fidelidade do culto hebreu para a fricza,
o declínio e a apostasia foi a morte deJosué e dos demais lideres do seu
tempo. A nova geração,que não tinha uma profunda comunhão com Deus
e nào conhecia o que Ele havia feito em favor do povo hebreu, desviou-se
do caminho. O resultado disso foiuma rápida corrupção moral e espiritual
da nação (Jz 2.7-13). Isracl cedeu ao estilo de vida pecaminoso e aos deuses
dos cananeus. O pervertido culto a Baal (o deus da tempestade e da chuva)
e a Astarote (a deusa do amor e da fertilidade) passou a ser praticado pela
nação num degradante níveldeimoralidade e idolatria.
A nação de Israel tornou-se secularista, hedonista e idólatra, entregando
se aos prazeres carnais e aos ídolos dos canancus, como analisa Matthew
Henry (2022,p. 97, 98):
Toda essa geração em alguns anos se esfriou, suas boas instruções e exemplos
morreram c foram enterrados com eles c surgiu outra geraç�o de israclitas que tinha
tão pouca compreensão da religião e se preocupava tão pouco com ela que,apesarde
todos os beneficios da sua educação, podemos verdadeiramente dizer que não
conheciam o Senhor da forma correta, ou seja, não o conheciam como havia se
revelado; completamente devotadosao mundo ou tão indulgentes com a carne no que
se referia ao ócioea luxúria, que não davam a mínima importância para o verdadeiro
Deus e à sua santa religião. Dessa forma,foram facilmente atraídos aos falsos deuses e
às suas superstições abomináveis.
[..J
Quando abandonaram o único e verdadeiro Deus não setornaram ateístas, nem eram
tão insensatos a ponto de dizer: Não há Deus. Mas eles seguiram outros deuses.
Retinham tanto da naturezapura a ponto de dizerem que existia Deus, mas também
permanecia tanto da natureza corrupta que multiplicavam os deuses. Eles estavam
dispostos a aceitar qualquerdeus, e seguir a moda, não a regra, na adoração religiosa.
Geralmente, ocorre assim: as gerações piedosas v�o sendo atraídas pelos
costumes das sociedades mundanas, em busca de prazer e entretenimento,
até serem roubadas no seu coração, abandonando a prática da verdadeira
religião, o culto ao Deus Eterno. O passo seguinte é flertar com falsas
práticas religiosas até assumir novos deuses.
Lições para todos os Tempos
Algumas liçõcs cspirituais fundamentais podem scr cxtraídas do trágico
exemplo deIsraclno período pós-conquista.
A primeia é sobre o quanto é importante uma liderança madura,
experiente e temente a Deus, que tenha força moral e espiritual para ser
cxemplo com a própria casa e conduzir o povo em serviço, obcdiência e
adoração.Josué foi esse tipo de líder. Quando o povo fica sem condutores
idôneos, os prejuízos são incalculáveisem toda e qualquer época. No Reino
de Deus, não basta ter carisma para liderar; épreciso ter caráter aprovado
(1 Tm 3.2-13; 2 Tm 2.15;Tt 2.7,8). Nesse sentido, é imperativo que, como
igreja, valorizemos mais os líderes locais, quc pastorciam com zclo o
rebanho do Senhor, fortalecendo os vínculos da comunidade de fé a que
pertencemos (Hb 13.7,17; 1 Ts 5.12,13).
A segunda é sobre como éimprescindivelo ensino das Escrituras como
base norteadora de todas as nossas condutas individuais e coletivas. Como
Moisés havia ordenado, o povo deveria ser reunido homens, mulheres,
meninos e os estrangeros para ouvir, aprender e temer a Deus,
guardando todas as suas palavras. Cumprir essa ordem hoje é ser, o tanto
quanto possível, assíduo e ativo nos cultos ordinários da igreja,
cspecialmente o de oração e cnsino c a Escola Dominical. A valorização
mútua eo zelo congregacional são recomendados a todos (Hb l0.24,25).
A terceira lição que podemos extrair do infeliz exemplo de Israelnos anos
posteriores aos dias deJosué éo cuidado de que precisamos ter para não
sermos seduzidos pelo cstilo de vida mundano da socicdade que nos cerca.
E fato que o modo de vida fácil e os costumes aparentemente agradáveis
dos grupos sociaiscom os quais convivemos têm um forte poder atrativo;
afinalde contas, fazer a vontade deDeus com o zelo que nos recomendam
as Escrituras pode ser visto como unm fardo muito pesado, principalmente
quando se refere a aspectos culturais não recomendados pelas igrejas
conservadoras.
O fato é que não épossível flertarcom o mundo e os seus prazeres e,
ainda assim, conservar o coração ardente pela presença de Deus. Os
entretenimentos mundanos não são neutros como se imagina. Assim,
embora não devamos ser radicais,não podemos também nos esquecer de
que noSso modo de viver deve ser santo em tudo (1 Pe 1.13-16) e de que
tudo o que fizermos deve ser para a glória de Deus, não dando escândalo
nem aos judeus, nem aos gregos,nem àigreja de Deus (1 Co 10.31,32). E
para isso quefomos chamados.
No caso de Israel, écertoque a aproximação do estilo de vida cananeu
foi ocorrendo aos poucos, como se não tivesse importância; como se
prejuízo nenhum causasse, até ao ponto da apostasia total e do degradante
declínio que marcou os dias dos juízes, ou seja, com muita opressão,
angústias, mortes, tristezas eprofundas desolações.
E como diz a ilustração da rãna chaleira: se for posta numa chaleira
cheia de água fervendo, cla logo saltará para fora; mas, se a água estiver à
temperatura ambiente, ela permanecerá atéque a água ferva e ela morra
cozida.
3.Opressão, clamore livramento
O Deus de Israelcumpriu integralmente a sua Palavra enquanto a nação foi
fiel a Ele. Como escreveu Josué: “Palavra algumafalhou de todas as boas
palavras quco SENHOR falaraà casa deIsracl;tudo se cumpriu" (Js21.45).
Isso mostra o inestimável valor da confiança em Deus, a despeito de
qualquer circunstância. Enquanto permaneceu fiel a Deus, o povo deIsrael
desfrutou deproteção sobrenatural: "[.]nenhum de todos os seus inimigos
ficou em pé diante deles; todos os seus inimigos o SENHOR deu na sua
mão" (Js 21.44).
Tudo mudou quando o povo pecou. Com a apostasia, a nação tornou-se
presa fácil dos seus inimigos, cujos exércitos atacavam e saqucavam as
cidades e terras de Israel, mantendo o povo sob o seu domínio opressor por
longos periodos (Jz 3.7-9;12-14;4.1-3;6.1-6).Afligida, a nação clamava a
Deus, e o Senhor levantava juízes para libertaro seu povo (Jz 2.18).
Como já observado, essesjuízes não eram magistrados civis quejulgavam
em fóruns ou tribunais,como conhecemos hoje, embora alguns estudiosos,
como, por exemplo, D. A. Carson, considerem que eles também se
dedicavam a dirimir conflitos entre o povo, sen indica, contudo, um
Cxemplo práico desse oficio entre os juízcs mencionados cm todo o
período. O que temos registrado nas Escrituras é queessesjuízes eram, em
geral, lideres militares,como Otniel, Baraque e Gideão (Jz 3.9-11; 4.10-15;
7.16-25), poderosamente usados para "julgar" a causa do povo de Isracl,
livrando-o dos seus opressores. Apesar dos repetidos ciclos de infidelidade
de Israel,Deus ouvia o gemido do seu povo nos seus momentos de dor e
aflição (Jz 2.18).O Senhor é longânimo (SI 103.8;J1 2.13;Rm 2.4), eas suas
misericórdias s�o a causa de não sermos consumidos (Lm 3.22). Ele está
pronto para ouvir os queclamam a Ele (Jr29.12,13; Is55.6).
III– PROPÓSITOE MENSAGEM
Para compreender o propósito de um livro, é preciso buscar conhecer a
mente do autor a partir do conteúdo da sua obra. O hermencuta bíblico
não pode atribuir o seu próprio sentido ao texto, mas dedicar-se para
extrair da Escritura a intenção do autor e a mensagem contida na obra.
Assim, à luz do texto de Rute, vários propósitos podem ser vistos. Gleason
L. Archer Jr. (2012,p. 344) apresenta uma síntese:
O propósito do livro énarrar um episódio entre os ancestrais de Davi que explicava a
introdução de sangue não israclita na linhagem da sua família. Ensina também o
grande alcance da graçade Deus, pronto a dar as boas-vindas, na comunhão do seu
povo redimido, aos convertidos gentios. Talvezo aspecto de maior importânciadessa
curta narrativa seja exibir a funçãodo go'el ou "parenteresgatador".
1.0cetrode Judá
Sem dúvida, o principal e mais evidente propósito do livro éo registroda
linhagem de Davi (Rt 4.18-22). Rute apresenta-o como descendente de
Judá, que é a tribo real da qual viria o Messias, "...]o Leão da tribo de
Judá, a Raiz de Davi" (Ap5.5). Gênesis 49.10 diz:"Ocetro não se arredará
deJudá, nem o legislador dentre seus pés, atéque venha Siló; e a cle se
congregarão os povos". Embora Rúben fosse o primogênito deJacó, o seu
ato de desonra ao leito do pai, deitando-se com a sua concubina, fez com
que perdesse a primogenitura (a sua posição de liderança) (Gn35.22; 49.4).
A promessa feita a Abraão seguia, agora, pela linhagem deJudá. Se Samuel
for o autor do livro de Rute, o propósito deapresentar a genealogia de Davi
ganha ainda mais sentido, já que era Saul, um benjamita, quem ocupava o
trono naqucle tempo (1 Sm 9.1,2; 25.1; 26.1.2). O registro da
ancestralidade de Davi funcionaria como uma legitimação para o futuro rei
de Israel.
2.Amoreredenção
Rute éuma peça indispensável na metanarrativa bíblica que revela o amor
divino pela humanidade, manifestado através do plano de redenção, que
culminou com o envio do Filho de Deus ao mundo para, uma vez
encarnado, oferecesse a si mesmo como sacrificio perfeito no lugarde toda
a humanidade (Jo 1.1-14; 3.16; GI 4.4,5). Esta é a mensagem principal do
livro: o amor de Deus e o seu plano de redenção da humanidade sem
acepção depessoas (At 10.34-44). Como representantes dejudeus e gentios,
respectivamente, Boaz e Rute prenunciam a derrubada da parede de
separação (Ef 2.11-16). A redenção é vista no livro nos sentidos literal e
tipológico. Boaz étanto o parente remidor que perpetuou a descendència
deElimcleque, como também um tipo de Cristo, nosso eterno Redentor (Is
59.20; Lc 1.68; Ef1.7; Tt 2.14).
3.Fidelidadee altruísmo
Operíodo dos juízes tinha como característicaprincipal a busca egoística
dos próprios interesses.Era cada um por si. Paradoxalmente, o livro de
Rute éum oásis de altruísmo. Nocmi, viúva e sem filhos, prefere o bcm
estar das suas noras, liberando-as para voltar para as suas respectivas
famílias.Não pensou em si mesma (Rt 1.8-15). Uma jovem moabita deixa a
terra dos pais para acompanhar a sua sogra, jáidosa, que não tinha
nenhuma perspectiva material ou humana de trazer-lhe um futuro
promissor (Rt 1.16,17). Pobre e sem filhos, Noemi não tinha realmente o
que oferecer a Rute.Já em Belém, o comportamento de Rute foi voltado
integralmente para a proteção e o cuidado da sogra e de forma
voluntária (Rt 2.2,17,18). Rute não csboçou uma atitude sequer que lhe
pudesse favorecer em primeiro lugar, como a busca de um casamento com
qualquer homem belemita (Rt 3.10). Na verdade, o interesse por casar-se
não surgiu dadecisão dela,mas da cspccíficaorientação da sogra (Rt 3.1-6).
Esse comportamento de Noemi e Rute dáuma cloquente mensagem:o
valor do altruísmo num mundo dominado pelo egoísmo. Enquanto nos dias
dos juízes todos viviam segundo os seus próprios padrões e interesses (Jz
21.25), Noemi e Rute exalam abnegação, destoando dessa nmáxima
individualista.Sogra enora não pensavam em si mesmas. Elas praticaram o
amor quenão busca os seus pr�prios interesses(1 Co 13.5).
Por todo esse cenário de benevolência, o livro de Rute permite-nos saber
que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um remanescente ficl,
que temia ao Senhor Deus e foi usado para cumprir os seus propósitos (Jó
42.2).Como destaca R.Clyde Ridall (2020,p. 160):
Este livro revela que a nobreza e a graça não desapareceram de Israel, até mesmo
naqueles dias mais rudesde agitação e anarquia.A verdadeira piedadee simplicidade
do modus vivendi nunca deixaram de existir, nen mesmo no meio de um período tão
rústico.
Conforme descobriu Martinho Lutero (1483-1546), em um mundo de
crescente iniquidade, ojustovive pela fé (Mt24.12,13;Hc 2.4).
CONCLUSÃO
O livro de Rute mostra-nos que o Deus da providência é soberano e
continua no controle da história. Os seus propósitos eternos e tudo o que
planejou nào podem ser frustrados. A despeito da incredulidade e dos
pecados do homem, o Senhor trabalha para cumprir os seus desígnios. O
que Ele precisa é encontrar quem esteja disposto a obedecer-lhe em tudo
(Ez 22.30). Assim, sem quebrar o princípio do livre-arbítrio, Ele conduz a
históriaeexecuta os seus clevados planos. O Senhor é fiel em todo o tempo.
N.do E.: A AltaCríica objetiva fazer uma análise das obras literárias bíblicas e lida com
questões sobrea autenticidade do texto, a autoria, a data e ascircunstâncias da obra. Já a
Baixa Crítica busca achar a escrita original do texto, já que não mais possuímosos textos
originais.
2 Leon Morris cita essa fonte (Talmude, Baba Bathra, 14b), porém considera ser uma
tradição recente, que não parece ter base sólida para indicar com precisão a autoria do
livro (1986,p.213).
SA referência invocadapor D. A. Carsone que poderia atribuir aos juízeso oficio dejulgar
causas civis é Rute 4.12, mas esta, além de não estar relacionada aos libertadores
levantados por Deus para o livramento do seu povo nos moldes vistos no livro de,Juízes,
estárelacionado a um costume negocial comum eabsolutamentedistinto.

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