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CPAD SILASQUEIROZ ODEUS QUE GOVERNA 0MUND0 E CUIDA DA EAM�LIA OsEnsinamentos Divinosnos Livros de Rutee Ester paraa nossa Geração Capítulo 2 OLIVRODE RUTE INTRODUÇÃO oivro de Rute está entre Juízes e lSamuel. Levando em consideração que o crítico quadro espiritual de Israelretratado emJuízes prolonga-se até os primeiros capítulos de 1 Samuel, o livro pode ser considerado um verdadeiro lírio no meio do deserto, ou, 'semclhante a uma linda flor numn jardim abandonado, ou a uma luz clara queaparece na escuridão da noite", como diz S. E. MacNair (1983, 95). Rute destaca-se não apenas pela sua beleza literária, mas também pela profundidade espiritual da sua mensagem. Um bálsamo para judeus e crist�os ao longo dos séculos,o livro narra uma história de amor e redenção. Trata-se de uma extraordinária demonstração de como o Todo-Poderoso trabalha em meio às crises para cumprir osseus desígnios eternos. Nas suas páginas, vêse continuamente o agir do Deus que transforma tristeza em alegriaederrotas em vitórias. Não hádúvida de que o agir providencial de Deus éo que mais marca a narrativa belemita. A providência divina é percebida ao longo de todo o livro. O Jeová,Jireh, proclamado por Abraão em Gênesis 22.14, é o Deus que tudo provê para Noemi e Rute, inclusive um remidor, Boaz, e um herdeiro, Obede, prolongador da semente de Elimeleque, da inhagem de Davi (Rt 4.13-22). O livro faz parte da chamada "trilogiade Belém", as três narrativas cujo cenário descreve o período dos juízes em relação àcidade que também é conhecida como Efrata (Merril, 2001, p. 184). São clas: Mica e o levita (Jz 17-18),o levita e aconcubina (Jz 19-21) e, por fim, a históriade Rute, num corpus literário distinto e específico. O livro apresenta uma história curta, porém de grande riqueza espiritual, pla conduta exemplar e pela fé perseverante dos seus principais personagens e, principalmente, pelo desfecho da obra, que revela o grande propósito de toda a história: a preservação da linhagem piedosa de Abraão, de onde viria (e veio) Jesus, Filho de Davi, o Salvador do mundo. I– A ORGANIZAÇÃO DOLIVRO Seja na Bíblia Hebraica, seja na Crist�, Rute aparece como um livro separado deJuízes. Há, porém, muita discussão se isso sempre foi assim. Conforme destaca Eugene H.Merril (ibid., p. 188), A antiga tradição canônica entre os judeus tradicionalmente tem incluído e consideradoo livro de Rute como livro dosJuízes, e tal raciocínio tem base nas fortes considerações literárias e históricas. Seu autor coloca os acontecimentosno tempo "quando os juízes governavam" (Rt 1.1), eo cenário ainda está envolto nas duas úlimas páginas narrativas do livro dos Juízes. (Enquanto as outras histórias sâo do princípio daquela era, Rute deve ser localizada no final do período, pois esta heroína está separada de Davi por apenas três gerações). Além disso, a acusação que comumente servia como um refrão por todo o livro dosJuízcs "Naqueles dias não havia rei em Israel:cada qual fazia o que achavamais reto" (Jz 17.6; 18.1; 19.1; 21.25) eque lançava toda aquelaera em uma espécie de caos moral e apostasia da Lei, está sem dúvida refletida nas palavras de abertura do livro de Rute Nos dias em que julgavam osjuízes", ou seja,quando não havia um rei. Ao longo dos tempos, houvemuita variação na composição e ordem dos livros do Antigo Testamento até chegar àorganização que temos hoje, com Rute sendo um livro distinto, vindo imcdiatamente após Juízes. Conforme explica Norman Geisler e Willian Nix (2006,p. 75): Os livros das Escrituras judaicasforam reagrupadosvárias vezes desde quando foram redigidos. Alguns deles, de modo especial os que fazem parte dos escritos, foram redigidos e aceitos pela comunidade judaicaséculos antes das datas que os teóricos da crítica lhes atribuem. Acerca dessa variação deposição, R.Clyde Ridall (2020,p. 160) sintetiza: Na Bíblia hebraicamoderna este livro estácolocado no Megilloth e é lido publicamente na Festa das Semanas (no tempo da colheita). Contudo, até por volta do ano 450 de nossa era, o livro de Rute era consideradouma continuaçãode Juízes. Em sua lista de livros inspirados, Joscfo aparentemente considera Juízes e Rute como um único livro. Ao que tudo indica, Jerônimo deixa implícito que os dois estavam juntos no cânon hebraico. Rute aparece na LXX e na Vulgata logo depois deJuízes (como em nossas versões atuais). Não se sabeþor que nem como o livro saiu de sua posição original junto aos "Profetas Anteriores" e foi parar no Hagiógrafo(ou Escritos), a terceira divisão do cânon hcbraico. Embora a formação do conjunto literário e a ordem dos livros tenha sofrido variação, épreciso ser dito, contudo, que os livros do Antigo Testamento, como conteúdo canônico, jamais estiveram em disputa na antiga comunidade deIsrael. 1.Na Bíblia Hebraica A Bíblia Hebraica, a Tanakh, é composta apenas dos 39 livros do Antigo Testamento da Bíblia Cristã. Nela, o livro de Rute pertence à terceira divisão ou seção chamada Ketuvim ou Hagiógrafos (Escritos Sagrados). A primeira seção é a Torah (Pentateuco ouLei), e a segunda éa Nei'im (Profetas)(Lc24.44), Dentre os Escritos,que são l1livros, estão os Megillot (cinco rolos), livros curtos que eram lidos publicamente nas festas judaicas anuais. São eles: Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester. Em função de narrar fatos ocorridos durante a colheita, a leitura litúrgica de Rute era tradicionalmente feita durante o Shavu'ot(Pentecostes), a festada colheita. 2.Na Bíblia Cristã Enquanto a Bíblia Hebraica estádividida em três seções (Pentateuco, Profetas e Escritos), o Antigo Testamento da Biblia Cristã é composto de quatro seções: Pentateuco, Poéticos, Históricos e Proféicos. Rute está categorizado como um livrO histórico, diante do seu evidente gênero narrativo, sem deixar, contudo, de apresentar uma extraordinária beleza poética. Aparece logo depois do livro de Juízes. Empregando estilo e linguagem pertencentes ao hebraico clássico, o seu autor expõe vários aspectos subjetivos da vida dospersonagens (Rt 1.12-21; 2.13,20; 3.1; 4.16). A obra está organizada em quatro capítulos,somando 85 versículosao todo. 3.Autoria e data E muito comum existirem infindáveis discussões sobre aspectos históricos, autoria e data dos livros da Bíblia. São extensas as teses que consomem longos tempos de navegação fora das Escrituras, que poderiam ser dedicados ao crescimento em edificação pelo estudo do Livro Sagrado. Os pentecostais não ignoram o mundo acadêmico e nem negamn o valor das suas pesquisas quando produzem extraordinárias descobertas a respeito da história bíblica e do seu registro canônico. Dedicam, contudo, mais tempo para o estudo das próprias Escrituras, e não para tudo o que a Alta Crítica escreve acerca dela. Cremos na inspirada, inerrante, completa e infalível Palavra de Deus. De qualquer sorte,éimportante pelo menos citar quehá uma diversidade de opiniões entre os eruditOs a respeito da autoria e data do livro de Rute. Samuel éo autor mais provávcl, embora Esdras e Ezequias também sejam citados como supostos autores (BEACON, p. 159). O Talmude, obra milenar de regulamentos e tradições judaicas, atribui a Samucl a autoria (BEP,p. 420).A forma como o autor referc-seaJessé e Davi parcce indicar contemporaneidade e familiaridade com os personagens, o que também aponta para Samuel (Rt 4.17). Além disso, as característicasgerais da obra indicam uma atmosfera própria do início do período da monarquia de Isracl, reforçando ainda mais a autoria do profeta, sacerdote e último juiz de Israel. Quanto à data, também há muito debate e imprecis�o. Contudo, considerando a provável autoria de Samuel, o livro teria sido escrito no século X a.C. Um dos principais argumentos para essa conclusão, como destaca Leon Morris (1986,p. 219, 220), diz respeito ao estilo eà linguagem presentes na obra, pertencentes ao hebraico clássico, o que indica uma época primitiva, ou seja, dos dias de Samuel, logo após os fatosnarrados no livro, bem distante do estilo visto em livros escritos no período pós-exílico (segunda metade do século V a.C.),como os livros das Crônicas dosreis de Isracl, escritosprovavelmente por Esdras. De fato,verifica-seque a narrativa de Rute encerra-se com a referência a Davi (eObede gerou a Jessé, eJessé gerou a Davi" -Rt 4.22). Seria de todo improvável que um livro escrito após a monarquia (e no período pós exílico!) não citassc qualquer outro rei de Isracl, principalmcnte Salomão. II–0CONTEXTO HISTÓRICO No capítulo anterior, apresentamos um panorama do contexto histórico do livro de Rute, os dias dos juízes(Rt 1.1), Esse periodo, que durou mais de três séculos, começou depois da morte deJosué (por volta de 1375 a.C.) e estendeu-se até o início da monarquia de Israclcom a ascensão de Saul ao trono (1050 a.C.).Os fatos narrados em Rute devem ter ocorrido mais para o fim dos dias dos juízes em função da proximidade geracional com Davi: Boaz gerou a Obede; Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi (Rt 4.21,22). Apenas três gerações, portanto, separamn Rute de Davi. 1.Notenpodosjuízes Os dias dos juízes foram marcados por uma grande anarquia e uma profunda apostasia e infidelidade do povo hebreu (Jz 1.7-19). Como já assinalado, uma frase que identificabem esse período é: "cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos Jz 17.6). A Nova Tradução da Linguagem de Hoje traduz como: "cada um faziao que bem queria". Isso demonstra o quadro anárquico que estava em Isracl, bem diferente do propósito e da ordem de Deus estabelecida por intermédio de Moisés, que previa uma unidade nacional sob aobediência da Lei (Dt 31.12,13). A sensação de estabilidade pela conquista da terra Seu estabclecimento nas cidades (Js 2.6), somado àconvivência com os povos cananeus que não foram desalojados, produziram uma drástica mudança no coração da nação israelita ao longo das gerações. Josué advertira ao povo que não se misturasse às nações que haviam ficado na terra e que sequer fizessem menção aos nomes dos seus deuses (Js 23.7). O povo deveria manter um extremo zelo de Deus e da sua Palavra, obedecendo a Ele em tudoe buscando viver isento detodos os costumes dos cananeus que permaneceram na terra, mas Israel fezo contrário de tudo 1SSO. 2.Secularismo, hedonismo eidolatria O principal marco da transiç�o da fidelidade do culto hebreu para a fricza, o declínio e a apostasia foi a morte deJosué e dos demais lideres do seu tempo. A nova geração,que não tinha uma profunda comunhão com Deus e nào conhecia o que Ele havia feito em favor do povo hebreu, desviou-se do caminho. O resultado disso foiuma rápida corrupção moral e espiritual da nação (Jz 2.7-13). Isracl cedeu ao estilo de vida pecaminoso e aos deuses dos cananeus. O pervertido culto a Baal (o deus da tempestade e da chuva) e a Astarote (a deusa do amor e da fertilidade) passou a ser praticado pela nação num degradante níveldeimoralidade e idolatria. A nação de Israel tornou-se secularista, hedonista e idólatra, entregando se aos prazeres carnais e aos ídolos dos canancus, como analisa Matthew Henry (2022,p. 97, 98): Toda essa geração em alguns anos se esfriou, suas boas instruções e exemplos morreram c foram enterrados com eles c surgiu outra geraç�o de israclitas que tinha tão pouca compreensão da religião e se preocupava tão pouco com ela que,apesarde todos os beneficios da sua educação, podemos verdadeiramente dizer que não conheciam o Senhor da forma correta, ou seja, não o conheciam como havia se revelado; completamente devotadosao mundo ou tão indulgentes com a carne no que se referia ao ócioea luxúria, que não davam a mínima importância para o verdadeiro Deus e à sua santa religião. Dessa forma,foram facilmente atraídos aos falsos deuses e às suas superstições abomináveis. [..J Quando abandonaram o único e verdadeiro Deus não setornaram ateístas, nem eram tão insensatos a ponto de dizer: Não há Deus. Mas eles seguiram outros deuses. Retinham tanto da naturezapura a ponto de dizerem que existia Deus, mas também permanecia tanto da natureza corrupta que multiplicavam os deuses. Eles estavam dispostos a aceitar qualquerdeus, e seguir a moda, não a regra, na adoração religiosa. Geralmente, ocorre assim: as gerações piedosas v�o sendo atraídas pelos costumes das sociedades mundanas, em busca de prazer e entretenimento, até serem roubadas no seu coração, abandonando a prática da verdadeira religião, o culto ao Deus Eterno. O passo seguinte é flertar com falsas práticas religiosas até assumir novos deuses. Lições para todos os Tempos Algumas liçõcs cspirituais fundamentais podem scr cxtraídas do trágico exemplo deIsraclno período pós-conquista. A primeia é sobre o quanto é importante uma liderança madura, experiente e temente a Deus, que tenha força moral e espiritual para ser cxemplo com a própria casa e conduzir o povo em serviço, obcdiência e adoração.Josué foi esse tipo de líder. Quando o povo fica sem condutores idôneos, os prejuízos são incalculáveisem toda e qualquer época. No Reino de Deus, não basta ter carisma para liderar; épreciso ter caráter aprovado (1 Tm 3.2-13; 2 Tm 2.15;Tt 2.7,8). Nesse sentido, é imperativo que, como igreja, valorizemos mais os líderes locais, quc pastorciam com zclo o rebanho do Senhor, fortalecendo os vínculos da comunidade de fé a que pertencemos (Hb 13.7,17; 1 Ts 5.12,13). A segunda é sobre como éimprescindivelo ensino das Escrituras como base norteadora de todas as nossas condutas individuais e coletivas. Como Moisés havia ordenado, o povo deveria ser reunido homens, mulheres, meninos e os estrangeros para ouvir, aprender e temer a Deus, guardando todas as suas palavras. Cumprir essa ordem hoje é ser, o tanto quanto possível, assíduo e ativo nos cultos ordinários da igreja, cspecialmente o de oração e cnsino c a Escola Dominical. A valorização mútua eo zelo congregacional são recomendados a todos (Hb l0.24,25). A terceira lição que podemos extrair do infeliz exemplo de Israelnos anos posteriores aos dias deJosué éo cuidado de que precisamos ter para não sermos seduzidos pelo cstilo de vida mundano da socicdade que nos cerca. E fato que o modo de vida fácil e os costumes aparentemente agradáveis dos grupos sociaiscom os quais convivemos têm um forte poder atrativo; afinalde contas, fazer a vontade deDeus com o zelo que nos recomendam as Escrituras pode ser visto como unm fardo muito pesado, principalmente quando se refere a aspectos culturais não recomendados pelas igrejas conservadoras. O fato é que não épossível flertarcom o mundo e os seus prazeres e, ainda assim, conservar o coração ardente pela presença de Deus. Os entretenimentos mundanos não são neutros como se imagina. Assim, embora não devamos ser radicais,não podemos também nos esquecer de que noSso modo de viver deve ser santo em tudo (1 Pe 1.13-16) e de que tudo o que fizermos deve ser para a glória de Deus, não dando escândalo nem aos judeus, nem aos gregos,nem àigreja de Deus (1 Co 10.31,32). E para isso quefomos chamados. No caso de Israel, écertoque a aproximação do estilo de vida cananeu foi ocorrendo aos poucos, como se não tivesse importância; como se prejuízo nenhum causasse, até ao ponto da apostasia total e do degradante declínio que marcou os dias dos juízes, ou seja, com muita opressão, angústias, mortes, tristezas eprofundas desolações. E como diz a ilustração da rãna chaleira: se for posta numa chaleira cheia de água fervendo, cla logo saltará para fora; mas, se a água estiver à temperatura ambiente, ela permanecerá atéque a água ferva e ela morra cozida. 3.Opressão, clamore livramento O Deus de Israelcumpriu integralmente a sua Palavra enquanto a nação foi fiel a Ele. Como escreveu Josué: “Palavra algumafalhou de todas as boas palavras quco SENHOR falaraà casa deIsracl;tudo se cumpriu" (Js21.45). Isso mostra o inestimável valor da confiança em Deus, a despeito de qualquer circunstância. Enquanto permaneceu fiel a Deus, o povo deIsrael desfrutou deproteção sobrenatural: "[.]nenhum de todos os seus inimigos ficou em pé diante deles; todos os seus inimigos o SENHOR deu na sua mão" (Js 21.44). Tudo mudou quando o povo pecou. Com a apostasia, a nação tornou-se presa fácil dos seus inimigos, cujos exércitos atacavam e saqucavam as cidades e terras de Israel, mantendo o povo sob o seu domínio opressor por longos periodos (Jz 3.7-9;12-14;4.1-3;6.1-6).Afligida, a nação clamava a Deus, e o Senhor levantava juízes para libertaro seu povo (Jz 2.18). Como já observado, essesjuízes não eram magistrados civis quejulgavam em fóruns ou tribunais,como conhecemos hoje, embora alguns estudiosos, como, por exemplo, D. A. Carson, considerem que eles também se dedicavam a dirimir conflitos entre o povo, sen indica, contudo, um Cxemplo práico desse oficio entre os juízcs mencionados cm todo o período. O que temos registrado nas Escrituras é queessesjuízes eram, em geral, lideres militares,como Otniel, Baraque e Gideão (Jz 3.9-11; 4.10-15; 7.16-25), poderosamente usados para "julgar" a causa do povo de Isracl, livrando-o dos seus opressores. Apesar dos repetidos ciclos de infidelidade de Israel,Deus ouvia o gemido do seu povo nos seus momentos de dor e aflição (Jz 2.18).O Senhor é longânimo (SI 103.8;J1 2.13;Rm 2.4), eas suas misericórdias s�o a causa de não sermos consumidos (Lm 3.22). Ele está pronto para ouvir os queclamam a Ele (Jr29.12,13; Is55.6). III– PROPÓSITOE MENSAGEM Para compreender o propósito de um livro, é preciso buscar conhecer a mente do autor a partir do conteúdo da sua obra. O hermencuta bíblico não pode atribuir o seu próprio sentido ao texto, mas dedicar-se para extrair da Escritura a intenção do autor e a mensagem contida na obra. Assim, à luz do texto de Rute, vários propósitos podem ser vistos. Gleason L. Archer Jr. (2012,p. 344) apresenta uma síntese: O propósito do livro énarrar um episódio entre os ancestrais de Davi que explicava a introdução de sangue não israclita na linhagem da sua família. Ensina também o grande alcance da graçade Deus, pronto a dar as boas-vindas, na comunhão do seu povo redimido, aos convertidos gentios. Talvezo aspecto de maior importânciadessa curta narrativa seja exibir a funçãodo go'el ou "parenteresgatador". 1.0cetrode Judá Sem dúvida, o principal e mais evidente propósito do livro éo registroda linhagem de Davi (Rt 4.18-22). Rute apresenta-o como descendente de Judá, que é a tribo real da qual viria o Messias, "...]o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi" (Ap5.5). Gênesis 49.10 diz:"Ocetro não se arredará deJudá, nem o legislador dentre seus pés, atéque venha Siló; e a cle se congregarão os povos". Embora Rúben fosse o primogênito deJacó, o seu ato de desonra ao leito do pai, deitando-se com a sua concubina, fez com que perdesse a primogenitura (a sua posição de liderança) (Gn35.22; 49.4). A promessa feita a Abraão seguia, agora, pela linhagem deJudá. Se Samuel for o autor do livro de Rute, o propósito deapresentar a genealogia de Davi ganha ainda mais sentido, já que era Saul, um benjamita, quem ocupava o trono naqucle tempo (1 Sm 9.1,2; 25.1; 26.1.2). O registro da ancestralidade de Davi funcionaria como uma legitimação para o futuro rei de Israel. 2.Amoreredenção Rute éuma peça indispensável na metanarrativa bíblica que revela o amor divino pela humanidade, manifestado através do plano de redenção, que culminou com o envio do Filho de Deus ao mundo para, uma vez encarnado, oferecesse a si mesmo como sacrificio perfeito no lugarde toda a humanidade (Jo 1.1-14; 3.16; GI 4.4,5). Esta é a mensagem principal do livro: o amor de Deus e o seu plano de redenção da humanidade sem acepção depessoas (At 10.34-44). Como representantes dejudeus e gentios, respectivamente, Boaz e Rute prenunciam a derrubada da parede de separação (Ef 2.11-16). A redenção é vista no livro nos sentidos literal e tipológico. Boaz étanto o parente remidor que perpetuou a descendència deElimcleque, como também um tipo de Cristo, nosso eterno Redentor (Is 59.20; Lc 1.68; Ef1.7; Tt 2.14). 3.Fidelidadee altruísmo Operíodo dos juízes tinha como característicaprincipal a busca egoística dos próprios interesses.Era cada um por si. Paradoxalmente, o livro de Rute éum oásis de altruísmo. Nocmi, viúva e sem filhos, prefere o bcm estar das suas noras, liberando-as para voltar para as suas respectivas famílias.Não pensou em si mesma (Rt 1.8-15). Uma jovem moabita deixa a terra dos pais para acompanhar a sua sogra, jáidosa, que não tinha nenhuma perspectiva material ou humana de trazer-lhe um futuro promissor (Rt 1.16,17). Pobre e sem filhos, Noemi não tinha realmente o que oferecer a Rute.Já em Belém, o comportamento de Rute foi voltado integralmente para a proteção e o cuidado da sogra e de forma voluntária (Rt 2.2,17,18). Rute não csboçou uma atitude sequer que lhe pudesse favorecer em primeiro lugar, como a busca de um casamento com qualquer homem belemita (Rt 3.10). Na verdade, o interesse por casar-se não surgiu dadecisão dela,mas da cspccíficaorientação da sogra (Rt 3.1-6). Esse comportamento de Noemi e Rute dáuma cloquente mensagem:o valor do altruísmo num mundo dominado pelo egoísmo. Enquanto nos dias dos juízes todos viviam segundo os seus próprios padrões e interesses (Jz 21.25), Noemi e Rute exalam abnegação, destoando dessa nmáxima individualista.Sogra enora não pensavam em si mesmas. Elas praticaram o amor quenão busca os seus pr�prios interesses(1 Co 13.5). Por todo esse cenário de benevolência, o livro de Rute permite-nos saber que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um remanescente ficl, que temia ao Senhor Deus e foi usado para cumprir os seus propósitos (Jó 42.2).Como destaca R.Clyde Ridall (2020,p. 160): Este livro revela que a nobreza e a graça não desapareceram de Israel, até mesmo naqueles dias mais rudesde agitação e anarquia.A verdadeira piedadee simplicidade do modus vivendi nunca deixaram de existir, nen mesmo no meio de um período tão rústico. Conforme descobriu Martinho Lutero (1483-1546), em um mundo de crescente iniquidade, ojustovive pela fé (Mt24.12,13;Hc 2.4). CONCLUSÃO O livro de Rute mostra-nos que o Deus da providência é soberano e continua no controle da história. Os seus propósitos eternos e tudo o que planejou nào podem ser frustrados. A despeito da incredulidade e dos pecados do homem, o Senhor trabalha para cumprir os seus desígnios. O que Ele precisa é encontrar quem esteja disposto a obedecer-lhe em tudo (Ez 22.30). Assim, sem quebrar o princípio do livre-arbítrio, Ele conduz a históriaeexecuta os seus clevados planos. O Senhor é fiel em todo o tempo. N.do E.: A AltaCríica objetiva fazer uma análise das obras literárias bíblicas e lida com questões sobrea autenticidade do texto, a autoria, a data e ascircunstâncias da obra. Já a Baixa Crítica busca achar a escrita original do texto, já que não mais possuímosos textos originais. 2 Leon Morris cita essa fonte (Talmude, Baba Bathra, 14b), porém considera ser uma tradição recente, que não parece ter base sólida para indicar com precisão a autoria do livro (1986,p.213). SA referência invocadapor D. A. Carsone que poderia atribuir aos juízeso oficio dejulgar causas civis é Rute 4.12, mas esta, além de não estar relacionada aos libertadores levantados por Deus para o livramento do seu povo nos moldes vistos no livro de,Juízes, estárelacionado a um costume negocial comum eabsolutamentedistinto.