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Pentateuco Professor Esp. Érlon Migliozzi EduFatecie E D I T O R A CENTRO UNIVERSITÁRIO EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Profa. Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Profa. Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográfica e Gramatical Profa. Esp. Bruna Tavares Fernandes Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação Thassiane da Silva Jacinto www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação Thassiane da Silva Jacinto 2021 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2021 Os autores Copyright C Edição 2021 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permi- tidoo download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP M634p Érlon, Migliozzi Pentateuco / Érlon Migliozzi. Paranavaí: EduFatecie, 2021. 110 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-77-9 1. Teologia - História. 2. Teologia. 3. Hermenêutica - Religião. I. Centro Universitário Unifatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD : 23 ed. 222.1 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 EduFatecie E D I T O R A UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 4 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 CENTRO UNIVERSITÁRIO AUTOR Professor Esp. Érlon Migliozzi • Especialista em Empreendimentos Educacionais (UCB/RJ). • Bacharel em Teologia (UniFil). • Bacharel em Ciências Econômicas (FAFICOP). • MBA em Liderança (UniFil). • Mestrado Livre em Liderança Pastoral Urbana (STF/UniFil) • Docente do curso de Teologia EaD (UniFatecie). • Consultor Educacional da UniFatecie. Palestrante e ministrante de cursos teológicos livres na área do Velho Testamento e Escatologia. Ministro do Evangelho na Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Consultor empresarial pelo Conselho Regional de Economia de Curitiba/Pr. Professor de Matemática e Sistema de Informações Gerenciais e Ensino Religioso na Rede Estadual do Paraná. Além de possuir experiência em sala de aula, tem conhecimento na área administrativa de instituições de ensino, onde, assessorou Pro-Reitoria de Extensão e Pós-Graduação e de- partamentos comerciais. É Consultor e Perito Judicial pelo Conselho Regional de Economia de Curitiba/PR. http://lattes.cnpq.br/8601941430171375 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), é muito bom ter você junto conosco. Estudar sobre o Penta- teuco é fundamental para todo Teólogo e o ponto alto desta disciplina é saber que muito do que você vai aprender o acompanhará como recurso em várias outras disciplinas. É informação que fascina e forma o entendimento teológico. Convido, você, para juntos abordarmos e analisarmos os conceitos fundamentais da disciplina, que fala das “Origens” da humanidade e do povo judeu, não somente com uma concepção religiosa, mas, de todo um contexto que envolve o início de princípios socioculturais. Na unidade I vamos iniciar demonstrando porque a disciplina é tão importante, o que ela constitui e sua influência ao longo da história até os dias atuais. Esta unidade também tem o objetivo de ampliar sua cosmovisão a respeito dos fatos, mostrando que a teologia influi muito no pensamento e ações globais, ela não está somente restrita à Igreja. Já na unidade II vamos conhecer as teorias e filosofias que tentaram desconstruir a visão divina sobre o Pentateuco e como influenciaram a evolução sociocultural da huma- nidade, sendo o Pentateuco como um dos assuntos principais. Depois, nas unidades III e IV vamos entrar de fato nos textos e trabalhar com a sua interpretação. Analisando os fatos históricos e pontos para entendimento dos relatos ocorridos em cada Livro, vamos dar corpo ao nosso estudo, aplicando a teologia para a compreensão de textos especificamente. Reitero o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conheci- mento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e ministerial. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Introdução ao Pentateuco UNIDADE II ................................................................................................... 30 O Início da Humanidade e das Tribos UNIDADE III .................................................................................................. 57 História de Israel UNIDADE IV .................................................................................................. 82 Título da Unidade: a Lei, a Prática e Adoração à Deus 3 Plano de Estudo: • A Formação do Pentateuco e sua História; • Autoria Mosaica x Teoria Documental de Wellhausen; • Panorama do Mundo Bíblico no Período Patriarcal; • O Pentateuco para Israel e para a Igreja Cristã Contemporânea. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar a influência das Leis do Pentateuco nas diversas culturas; • Compreender os tipos de protecionismo e codificação existentes nas Leis Mosaicas; • Estabelecer e demonstrar a relação entre Religião e Estado através do Pentateuco. UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Professor Especialista Érlon Migliozzi 4UNIDADE I Introdução ao Pentateuco INTRODUÇÃO Você já deve ter ouvido falar sobre direitos, deveres e obrigações, afinal, são as bases de uma sociedade organizada, mas, como essa organização ocorreu na nação de Israel, a nação escolhida por Deus? Nesta disciplina vamos entender como se originaram o conjunto moral de regras e os acontecimentos que levaram Israel a permanecer até os dias de hoje como uma nação organizada e modelo. Nossa maneira de estudar e observar os acontecimentos não tem como intuito principal uma visão social ou antropológica, mas, também, uma visão espiritualizada dos acontecimentos, assim, compreendemos os fun- damentos estabelecidos para indivíduos, povos e nações, através da Divindade de Deus. Diante disto, podemos nos questionar: Até onde, os cinco primeiros livros da Bíblia são li- vros religiosos (mandamentos dados por Deus) ou livros de leis sociais escritos para o povo judeu, e onde se aplica aos cristãos? O estudo do Pentateucoconstitui matéria obrigatória para a Teologia e também para a área do Direito, o seu estudo é algo fascinante, porque amplia nossa cosmovisão e também demonstra o resultado da obediência a Deus. Formam um conjunto de Leis que vigora até os dias atuais e aplicou-se aos não judeus também. No globalismo atual, a cultura judaica exerce forte influência porque influencia países cristãos e não-cristãos, servem como base para códigos jurídicos e éticos de nações árabes, inclusive. Os acontecimentos descritos nos cinco Livros do Pentateuco são pontos que influenciam várias áreas, sociais, culturais, ciência e religião. Enfim, para que você possa ter a correta interpretação dos acontecimentos contidos nos Livros de Gênesis, Êxodo, Levíticos, Núme- ros e Deuteronômio, vamos iniciar com a visão global do Pentateuco, depois, a influência no comportamento religioso e social das nações e o aspecto legislativo que ele exerce, como isto se concilia com o aspecto religioso e como estes acontecimentos influenciaram e estão influenciando a história atual. Quero deixar claro a você aluno(a), que, esta unidade tem um caráter introdutório e se você quiser alcançar uma profundidade maior, será preciso você valer-se dos recursos extras que deixamos como orientação. Ótimo estudo!!!! 5UNIDADE I Introdução ao Pentateuco 1. A FORMAÇÃO DO PENTATEUCO E SUA HISTÓRIA 1.1. Fatores Arqueológicos. Primeiramente vamos fazer uma explicação do nome Pentateuco: Pentateuco (do grego pentateukhos) quer dizer “cinco livros” ou “cinco volumes”. Os volumes ou livros que compõem a Torá são os mesmos no Pentateuco. A Torá, segundo a Tradição Judaica, são as Leis que Deus entregou a Moisés no Monte Sinai. São todos os mandamentos e preceitos os quais Deus passou para Moisés para poder conduzir o povo no deserto. Além destas Leis divinas, Moisés escreveu o relato dos acontecimentos durante o período do Êxodo, inclusive, transformou em escritos as informações orais, que o povo tradicional- mente tinha como certo, sobre as origens de todas as coisas, informações, estas, passadas de geração em geração. Estes manuscritos foram posteriormente multiplicados e ficavam nas sinagogas desde o Séc. II, porém, somente alguns fragmentos foram encontrados com data destes séculos. O exemplar completo mais antigo da Torá, está na Universidade de Bolonha e é datado do Séc. XII. Para entendermos melhor como a Torá judaica passou a integrar a Bíblia Cristã e ser nominado como Pentateuco para os cristãos, precisamos entender um pouco sobre a palavra “Cânone”, uma palavra de origem grega que quer dizer “régua” ou “vara de medir”. O Cânone Bíblico é um conjunto de livros religiosos que uma determinada comunidade vai aceitar como sendo livros divinos ou inspirados por Deus, com conteúdo fechado, que não pode ser mais modificado. 6UNIDADE I Introdução ao Pentateuco No final do Séc. I d.C., o Concílio Judaico de Jamnia, realizou a primeira compilação de livros que comporiam o Antigo Testamento, assim, os cinco volumes da Torá passam a ser oficialmente reconhecidos como inspirados por Deus e posteriormente reconhecidos pelos cristãos também. Esta primeira seção da Bíblia recebe o nome de Pentateuco, que ocupa esta posição devido a sua cronologia. Sabe-se, que este concílio judaico, teve mo- tivação para frear os ensinamentos dos Apóstolos de Cristo, na época, conhecidos como Nazarenos, monopolizando e impedindo novos escritos de entrarem no meio dos judeus. Atualmente, precisamos entender como o homem estuda a história de forma a con- seguir compreender o tempo já decorrido. Através de artefatos, objetos, relatos registrados no passado e que se fazem conhecer no presente e estão altamente relacionados a um fato ou acontecimento registrado. A esse conjunto que formam ou constituem “provas” de um registro passado, damos o nome de “fontes históricas”. Note, que, para ser considerado uma fonte histórica, precisa haver relação com registros históricos da mesma época ou em tempos pertinentes ao estudo proposto. Quando falamos de arqueologia, queremos dizer que é uma ciência que se ocupa da investigação dos indícios ou vestígios de civilizações passadas e possui várias ramifi- cações; no nosso caso, por exemplo, vamos falar sobre um ramo chamado “Arqueologia Bíblica”. Este ramo da arqueologia, busca objetos, fragmentos de civilizações que atuaram direta ou indiretamente no mundo nos tempos bíblicos, buscando a relação entre os mate- riais encontrados com os relatos bíblicos. Caracteriza-se principalmente pelas escavações do solo em regiões específicas. Com a Alta Crítica, movimento desencadeado no Séc. XVII pelo Iluminismo, houve uma intensificação maior das escavações, buscando compreender melhor os relatos bíblicos e aproximá-los o máximo possível do contexto. Não constitui uma prática para acreditar ou desacreditar na Bíblia, mas, um ceticismo para atestar os fatos e acontecimentos bíblicos. Os resultados arqueológicos têm contribuído para: 1) Fornecer dados que prestam uma ajuda fundamental aos estudos exegéticos. 2) Aumentar o conhecimento sobre alguns dados históricos descritos nos relatos bíblicos envolvendo governantes, personagens, batalhas e cidades. 3) Descrever alguns detalhes concretos referidos nos livros bíblicos. (WIKIPÉDIA, 2021). Entre as descobertas mais significativas da arqueologia, citamos de início o “Papiro 52 ou Rylands P52” que é parte do capítulo 18 do Evangelho de João e, embora não haja consenso em sua datação, estima-se que tenha sido escrito entre 100 d.C. e 160 d.C. e é 7UNIDADE I Introdução ao Pentateuco o manuscrito mais antigo de um Evangelho Canônico que fala de Jesus, ele foi encontrado em 1920 e estudado em 1934, no Oriente Médio, no Egito. Em 1947, foram encontrados os famosos papiros de Qumran, também conhecidos como “Manuscritos do Mar Morto”, que constituem um dos documentos mais antigos do Antigo Testamento, porém, há muitos outros pergaminhos e fragmentos que dão ênfase a veracidade da história bíblica. Figura 1: QUMRAN, ISRAEL - 14 de dezembro de 2008: Mulher judia olha os manuscritos do mar morto em exibição nas cavernas de Qumran. Os manuscritos do mar morto foram descobertos nas cavernas de Qumran entre os anos 1947 e 1956. Font:https://www.shutterstock.com/image-photo/qumran-israel-dec-14-2008jewish-woman-137730320 Ainda hoje são realizadas descobertas significativas, em 2007, por exemplo, foi encontrado o túmulo de Herodes. Outro fator muito importante da arqueologia bíblica é a verificação de falsificações que poderiam levar a história a rumos tortuosos, como, por exemplo, no ano de 2002, acre- ditou-se haver encontrado os restos mortais de Thiago, irmão de Jesus. Posteriormente se descobriu tratar-se de uma falsificação que havia sido montada nos últimos vinte anos. Ao aluno é importante saber que atualmente a arqueologia tem trabalhado cons- tantemente através de sítios arqueológicos existentes em várias regiões e o irrelevante é que as descobertas reforçam cada vez mais os relatos do Pentateuco e da Bíblia como 8UNIDADE I Introdução ao Pentateuco verídicos, ao contrário do que a visão racionalista pode causar no Teólogo Tradicional, a ciência tem confirmado muito da autenticidade dos relatos Bíblicos. Sugiro ao aluno buscar saber mais sobre os descobrimentos arqueológicos, eles trazem importantes revelações e demonstram, muitas vezes, que os acontecimentos bíblicos foram determinantes na vida do mundo antigo. 1.2. Fatores Políticos ou Religiosos. O que faz o Pentateuco atrair tanto a atenção, a ponto, de serem utilizados como base em muitos códigos jurídicos? Será a sua eficiência ou será por imposição religiosa? O Pentateuco é um instrumento que gera fé e também princípios para a governan- ça. Pode ser referência por causa dos seguintes motivos: 1) Sua competência. 2) Por ter vindo de Deus. O conteúdo do Pentateuco pode ser uma opção ouuma imposição na sociedade. Vamos tratar mais adiante, nesta mesma unidade introdutória, o porquê citamos os fatores políticos e religiosos acerca do Pentateuco. Precisamos iniciar este estudo dizendo que, por muitos séculos, o instrumento político e jurídico foi nitidamente determinado pela religião, por exemplo, a religião colocava e destituía os Reis da época, era base moral para o procedimento da governança, regulamentava a questão do lucro e da cobrança de impos- tos, para tudo isto, o Pentateuco era a base principal. O conceito de Estado-Religião veio a ser questionado somente no Séc. XVII e podemos observar que as análises dos textos bíblicos foram fortemente influenciadas por linhas conservadoras, ora, por linhas liberais. Na prática, precisamos saber que o entendimento pode estar influenciado por fundamentos que tragam uma tendência de interpretação. Este tópico demonstra que para avançar em um estudo proveitoso e correto, você precisa entender que mesmo que você interprete determinadas leis no Pentateuco acreditando que são “leis não espirituais”, ou seja, não relacionadas ao mundo eclesiástico, elas fazem parte do agir de Deus no meio do seu povo. Seria a religião um meio político para governar? 1.3. Leis Divinas para um Povo Rebelde e Oprimido. Quando estive em Israel e Egito, fiz uma pergunta a um judeu messiânico, pergun- tei como um povo que via tantos milagres acontecerem poderia deixar Deus descontente, serem tão rebeldes como foram? A resposta dele me surpreendeu, pois, não havia visto o povo que seguia Moisés naquela ótica ainda. Ele me disse: como eu esperaria um povo ser fiel a uma liderança, compreender serem donos de algo, sendo, que, eles eram frutos de várias gerações de escravos e durante muito tempo, eles não viam nada na vida deles como 9UNIDADE I Introdução ao Pentateuco benefício, principalmente como dado por Deus, o qual, os tinha permitido serem escravos. Eles nunca tiveram liberdade e liderança, eles só aprenderam a obedecer a ordens diante de castigo e não seria diferente nos primeiros anos. Somente com leis educativas, preven- tivas e punitivas em seu mais alto grau, o povo aprenderia a ser o que Deus queria que fossem. Mesmo assim, a geração antiga dos que deixaram o Egito, ficou toda no caminho. As palavras daquele judeu ficaram gravadas em minha mente. Lembro constante- mente do momento que ele me falou e onde eu estava, eu estava diante de uma maravilha tecnológica, uma usina de dessalinização de água, algo, que mostrava para mim naquele momento que um povo incapaz, mas, com Deus, pode se tornar mais poderoso que um povo capacitado mas que não tem um auxílio divino. Via a diferença entre Egito e Jerusalém e, digo para você que estudar e entender o Pentateuco, acrescenta mais que fé à vida. O Pentateuco vai nos mostrar que o Povo de Deus sempre precisou ser conduzido por regras rígidas. Deus escreveu regras, até, mesmo, para orientar o descanso do povo e da terra, quando fala do guardar o sábado e os anos sabáticos da terra, quinquênio, entre outras datas. Até mesmo o Rei, era instruído a ter um rolo da Lei ao seu lado, para consulta-lo constantemente. 10UNIDADE I Introdução ao Pentateuco 2. AUTORIA MOSAICA X TEORIA DOCUMENTAL DE WELLHAUSEN. 2.1. A Autoria Mosaica do Pentateuco. Vamos primeiramente considerar a ideia da autoria Mosaica, ideia que nasce e é defendida pelos seus detentores e povo originário, o Povo Judeu. A esta visão, adota-se a nomenclatura de “Visão Tradicional”, a qual vamos nos referir. A Visão Tradicional tem por certo que o Pentateuco foi escrito por Moisés entre os anos de 1446 a.C. e 1406 a.C. aproximadamente. A primeira pergunta que deve ser respondida para que esta ideia prevaleça é: Como Moisés relatou sua própria morte em Deuteronômio Capítulo 34, dando detalhes de seu funeral e dizendo que depois não houve outro profeta como ele? Há uma corrente rabínica que adota a interpretação onde Deus revelou a Moisés até mesmo a sua morte e seu funeral e lhe disse que não haveria outro igual a ele. Outra corrente, mais expressiva, diz que Josué foi o escritor do capítulo 34, isto, não tiraria a autoria de Moisés sobre o Pentateuco. Outro texto polêmico é o texto de Gênesis 14:14, “Ouvindo, pois, Abrão que o seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã.”. Este texto, ou melhor, versículo está em contradição com o relatado em Juízes 18:27 ao 29, onde, diz, que a cidade de Dã, na época de Abraão, se chamava “Lais” ou “Lesém”. Em Josué 19:47, o nome de “Dã” só veio a ser adotado depois que a tribo de Dã conquistou a cidade, por volta de 1405 a.C. 11UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Quanto a isto há uma resposta que diz que: como os originais haviam sidos espa- lhados na época do exílio, Esdras, realizou cópias para, assim, multiplicando o acervo, não houvesse perda dos escritos e nessa ação, ocorreu a atualização da palavra Laís para Dã. Vemos que embora o manuscrito não seja o escrito original de Moisés, a autoria é dada exclusivamente a ele na Visão Tradicional. E quais são os argumentos pró autoria mosaica? Os próprios relatos bíblicos apontam as qualificações de Moisés para Redigir os es- critos. Em Atos 7:22 “E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras.” Versículos Bíblicos do Novo Testamento também afirmam a autoria a Moisés, como o próprio Jesus em Marcos 7.10 “Porque “Moisés” disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e quem maldisser, ou o pai ou a mãe, certamente morrerá.”; Lucas 20.37 “E que os mortos hão de ressuscitar também o mostrou “Moisés” junto da sarça, quando chama ao Senhor Deus de Abraão, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó.”; João 5.45 - 47 “Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras. Muitos textos bíblicos do Antigo Testamentos atribuem a autoria do Pentateuco a Moisés: Êxodo 17.14; 24.4; 34.27; Deuteronômio 31.9; 31.19; Josué 1.7,8; Juízes 3.4; Esdras 6.18; Daniel 9.11 e Malaquias 4.4. Além do próprio Moisés dar certeza de ser ele mesmo o autor, Josué, Esdras, Daniel e Malaquias dão esta certeza. 2.2. Questionamentos da Teoria Mosaica no Pentateuco. Veja, até o Séc. XVII com o domínio amplo da Igreja como instituição, a autoria de Moisés não havia sido questionada por nenhuma corrente expressiva teologicamente. Não haviam surgido argumentos fortes para contradizer algo que já era consenso estabelecido pela tradição, embora, lembramos que a oposição não era algo fácil também de manifesta- ção naqueles séculos. Hoje, há pelo menos três ideias de quem ou como seria a autoria do Pentateuco: 1) Moisés como autor único. 2) Esdras, na época do exílio na Babilônia, seria o compilador das histórias orais e escritas e não Moisés. 3) O Livro foi escrito por Moisés, mas, houveram inserções de escribas tempos depois. Também você precisa saber que existiram duas linhas de estudos dos textos bíbli- cos que prevalecem desde o Séc. XIX: a Alta Crítica e Baixa Crítica. 12UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Fruto dos pós iluminismo, o racionalismo veio nos Séc. XVII e XVIII, contribuir com a crítica bíblica, tratando os escritos bíblicos como artefatos naturais e não espirituais, assim dividiu-se os estudos da composição e história dos textos bíblicos, denominado Alta Crítica. A Baixa Crítica é a análise crítica dos textos visando estabelecer sua leitura correta ou original. Estes termos não estão mais tão em uso, atualmente, a crítica contemporânea tem visto novas formas de entendimento de textos, através de abordagens sociológicas e literárias para o entendimento correto dos textos. Mesmo caindo em desuso, estes termos influenciaram ainda maispensadores a se dedicarem ao “desvendar” das autorias e autenticidade do Pentateuco. 2.3. Teoria Documental e Suas Ramificações. Julius Wellhausen, alemão, nascido no Séc XVIII, era um estudioso bíblico e orien- talista, acadêmico dedicado sobre a origem do Pentateuco, ou Torá. Ele é considerado o principal formador da “Hipótese Documental, que ficou conhecido como Teoria Documental de Wellhausen”. Esta teoria é a consolidação de movimentos anteriores no mesmo século, e é na verdade uma teoria que sugeria que o Pentateuco é formado por uma derivação de fontes independentes, narrativas completas e paralelas, que foram ordenadamente combi- nadas por uma série de redatores ou escritores. Essas fontes foram determinadas sendo quatro, mas essa não é a parte essencial da hipótese. O intuito desta teoria, foi demonstrar e elencar a inconsistência do texto bíblico, tirando a divindade de sua formação. Somente no século seguinte (Séc. XIX) que a hipótese assume sua forma consistente de teoria e são apresentadas quatro fontes como sendo as “origens literárias” do Pentateuco. A primeira é a Fonte Javista (J), que contém escritos de cerca de 950 a.C., e são originados no Sul do Reino de Judá. A segunda é a Fonte Eloísta (E), também escrita em Israel, mas, no Norte, cerca de 850 a.C. A Fonte Deuteronomista (D), escrita em Jerusalém, durante o período de reforma religiosa, cerca de 600 a.C. E a Fonte Sacerdotal (P), escrita no exílio Babilônico, em 500 a.C. pelos Sacerdotes Judeus. A grande contribuição de Julius Wellhausen, foi conseguir ter ordenando estas fontes cronologicamente como “J-E-D-P”, ajustando-as coerentemente na evolução da história Israelita, que ele entendia como em “ordem crescente” com o aumento do poder e prestígio sacerdotal, aliás, o “P” de Sacerdotal é Priester = sacerdote em alemão, e Priest = sacerdote em inglês. Como professor de teologia, abandonou sua carreira com uma carta que entre seus ditos, trazia o seguinte texto: 13UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Tornei-me um teólogo porque me interessava por uma abordagem científica da Bíblia. Só com o passar do tempo fui compreender que um professor de teologia também possui o dever de preparar os estudantes para o ministério pastoral na igreja protestante de forma prática. Compreendi também que eu não era o mais indicado para tal incumbência, mas que, ao contrário, apesar de toda a cautela da minha parte, acabava desqualificando meus ouvintes para seu futuro ofício. Desde então, meu magistério teológico me pesava a consciência. (JULIUS WELLHAUSEN,1882, p. 1). Até hoje, estas ideias e filosofias influenciam no estudo exegético da Bíblia. É necessário entender que ainda existem divisões no meio acadêmico. Algumas academias vão adotar a Visão Tradicional, outras uma visão moderna. Precisamos saber como somos influenciados e estamos influenciando, entender por qual processo estamos optando e até onde podemos conciliar os modelos, filosofias e pensamentos teológicos. 14UNIDADE I Introdução ao Pentateuco 3. PANORAMA DO MUNDO BÍBLICO NO PERÍODO PATRIARCAL. 3.1. Linha do Tempo até o Mundo Patriarcal. Muitas descobertas arqueológicas sobre o Mundo Antigo ou Mundo Bíblico Pa- triarcal ainda ocorrem, portanto, a história dos povos ainda não é algo absoluto. Algumas descobertas provocam a necessidade de repensar a sociedade e o que já se conhece sobre os acontecimentos antigos. Abraão, por ser o primeiro patriarca, é nosso primeiro ponto de chegada nesta linha do tempo. O que podemos afirmar, na Visão Tradicional, é que a humanidade se inicia em Adão (o primeiro homem). Segundo a Bíblia (Almeida Revista e Atualizada, Gn. 1:24 - 31), Adão foi criado no sexto dia do primeiro mês do primeiro ano da criação. A respeito do dia em que ocorreu a criação de Eva, o texto de Gênesis 1:27 vai nos mostrar que Eva foi criada logo após Adão, no mesmo dia, porém o detalhe da criação de Eva será descrito em Gênesis 2:21. Em 1947, foram encontrados “Os Manuscritos dos Mar Morto”. Dentre os rolos há um que se refere ao Pentateuco, o Livro de Gênesis. É conhecido como o Gênesis Apócrifo, porque possui algumas diferenças entre o que temos. Esta diferença não abala a credibilidade de ambos, mas, relata que Noé haveria erguido o altar do sacrifício ainda dentro da arca, já o que conhecemos é que este foi o primeiro ato ao sair da arca com sua família. Outro ponto é que o Gênesis Apócrifo não está narrado na terceira pessoa, é o próprio Noé quem está narrando os acontecimentos. 15UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Abraão, o primeiro patriarca, surge 20 gerações após Adão, sendo 10 depois de Noé. Ele é descendente da linhagem do terceiro filho de Adão, “Sete”, linhagem que passa por Noé e Sem filho de Noé. O que precisamos saber sobre o tempo entre a criação de Adão e Abraão, é que a linha do tempo entre a criação do homem e o patriarca Abraão também é registrada, não há lacuna na sua genealogia, e isto, nos mostra que o Pentateuco é um escrito de critério e conhecimento do passado e não deixa dúvida de que são relatos autênticos sobre os principais personagens e povos. Contempla os principais fatos e princípios estabelecidos por Deus sem ter deixado períodos não relatados. 3.2. Os Paradigmas na Sociedade de Abraão. A narrativa sobre a vida de Abraão ocupa 14 capítulos da Bíblia e se inicia com ele já adulto, na terra de Ur, juntamente com seu pai Terá e Sara sua esposa. Não tinha filhos porque Sara era estéril. Sendo uma tribo seminômade seu pai decidiu ir para Canaã, mas, no caminho, na cidade de Harã (Hoje atual cidade da Turquia), Terá vem a falecer e Abraão ouve de Deus, pela primeira vez, o seu chamado. Na história de Abraão descrita na Bíblia, não sabemos muito sobre a região onde ele está, mas, esta região, tem uma história que a torna muito importante. Era um local que ligava importantes centros culturais e políticos daquela época. Tínhamos ao sul e oriente a Babilônia, ao norte o império hitita, ao sudoeste o Egito e ao nordeste o império assírio. A maioria dos historiadores acreditam que esta região também foi o berço da civilização suméria, a qual, já em 2800 a.C. já haviam constituído cidades com o conceito de “cidades-Estados”. É a civilização que aperfeiçoou o sistema escrito com a chamada escrita cuneiforme. O Egito estava se desenvolvendo brilhantemente, já haviam pirâmides com cerca de 500 anos. 16UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Figura 2: O Mundo dos Patriarcas Fonte: Disponível em: http://www.compartilhandonaweb.com.br/imagens/mapa/omundodospatrar- cas.jpg, acesso em 20 jan. 2021. Este mapa nos mostra o caminho de Abraão e nos mostra a crescente fértil e o berço de importantes culturas da época. É o local que ficou conhecido como “crescente fértil” por ser um território que tinha uma forma semicircular e estendia-se entre o Golfo Pérsico e o mar Mediterrâneo até o sul da Palestina. É um território que recebe grandes volumes de chuva e possui rios de grande volume, como o Eufrates, Nilo, Tigre e o Orontes, assim, é um local que possibilita a agricultura de forma privilegiada das demais regiões. No interior deste semicírculo existe o deserto da Arábia, com pouca população e baixo índice pluviométrico. Enfim, o mundo onde surgiu o Patriarca Abraão é um mundo onde surgiram os impérios dos amorreus, assírios, babilônios e persas. A chamada Canaã, é uma região que equivale a sétima parte do Uruguai, ou um terço do Panamá, mas, foi a região que Deus operou maravilhas e realizou o plano de redenção da raça humana. Certamente, estes aspectos influenciaram a vida de Abraão. 3.3. Os Paradigmas na Sociedade de Moisés. Primeiramente precisamos entender que ao falarmos de Moisés, estamos falando de uma personalidade a qual não há nenhuma prova arqueológica de sua existência. Diante deste fato, o Pentateuco torna-se mais importante ainda, pois traz todos os acontecimentos da vida de Moisés,do nascimento até a sua morte. O judaísmo também atribui 120 anos de vida a Moisés, falecendo em 7 de Adar, seu aniversário de 120 anos. Ele morreu contemplando Canaã, de cima do Monte Nebo. Os acadêmicos modernos cogitam que Moisés é uma figura mítica, tendo existido sim, mas, não teria sido o líder que o Pentateuco relata. O Alcorão também cita Moisés como um profeta, com atitudes mais espiritualizadas que o Moisés do Pentateuco. http://www.compartilhandonaweb.com.br/imagens/mapa/omundodospatrarcas.jpg http://www.compartilhandonaweb.com.br/imagens/mapa/omundodospatrarcas.jpg 17UNIDADE I Introdução ao Pentateuco O judaísmo calcula o período de vida de Moisés sendo nos anos 1391–1271 a.C., porém, James Ussher, Arcebispo Irlandês, escreveu sua obra chamada “The Annals of the World” no ano de 1658, que é uma cronologia mundial baseada na Bíblia e conclui que Moisés tenha nascido no ano de 1571 a.C., portanto, não podemos precisar o ano de seu nascimento, mas, é certo que, diante de fatos e estudos mais apurados, atualmente cremos que ele tenha vivido no final do Séc. XVI a.C. James Ussher, foi um bispo irlandês. Conhecido por ter calculado a data da criação do mundo, sendo, a noite que antecedeu o dia 23 de outubro de 4004 a.C., ele utilizou como base os dados dos historiadores gregos antigos e da Bíblia. A definição do período em que Moisés viveu, nos dá a dimensão de como seria o panorama político e social da época, assim, podemos entender que o Egito, o principal referencial do período, era o centro mundial da engenharia, matemática e astronomia. O modelo que Moisés viu de sociedade era um modelo de empreendedorismo e muita prática da ciência exata, era uma sociedade já antiga e que possuía um modelo de governo definido, tendo a figura de Faraó como principal governante e também como sendo Deus, não havendo nada acima dele no governo do Egito. 3.4. Os Paradigmas na Sociedade de Josué. Agora vamos falar de outro líder e figurante principal na história do Pentateuco, vamos nos referir a Josué, filho de Num. Josué assume a liderança do povo logo após a morte de Moisés e tem em vista as seguintes circunstâncias para exercer sua liderança: 1) O povo liberto era um povo que não havia conhecido outro líder além de Moisés. 2) Era uma geração que cresceu no deserto. 3) Era um povo, ainda, em transformação e com ideias não empreendedoras. 4) O primeiro ato de Josué seria o ato pelo qual o povo foi preparado por quarenta anos (entrar na Terra Prometida). 5) Após a saída do povo hebreu do Egito, a potência da Época, o Egito não representava mais uma nação de poderio tão acima dos outros povos. Josué pode ser considerado como sendo o “consolidador” da posse da terra pro- metida. Abraão e Moisés tiveram o papel de conduzir o povo em busca de uma terra, mas Josué, teve sua liderança exercida dentro da terra conquistada, dentro do território prome- tido. A atitude dos líderes anteriores era uma atitude de sobrevivência e defesa, Abraão andou para sobreviver às mudanças políticas e econômicas. Moisés, peregrinou com o povo em meio a inimigos e os conduziu em meio aos ataques. Josué, vai ao encontro dos povos que estão situados e estabelecidos na terra que era dada por Deus a Abraão e a toda a sua descendência, o paradigma do povo de Deus muda; de um povo oprimido e viajante, para um povo expansivo, guerreiro, conquistador e desejoso de se estabelecer em uma única terra. Entender esta mudança é vital para o entendimento do progresso, exigido por Deus, ao seu povo, o princípio de um povo dependente de Deus e expansivo, desde o início, com o chamado de Abraão. 18UNIDADE I Introdução ao Pentateuco 4. O PENTATEUCO PARA ISRAEL E PARA A IGREJA CRISTÃ CONTEMPO- RÂNEA 4.1. A Origem das Leis no Brasil e em Diversos Países. Eu costumo iniciar os estudos com meus alunos, partindo do contexto em que eles atualmente vivem, desta forma, criamos um ambiente onde realizamos os estudos de uma forma muito mais produtiva e lúdica porque ressaltamos o sentido de “causa efeito” nas relações e comparando-as com nossas necessidades no tempo em que vivemos. Por exemplo: é muito mais fácil ensinar sobre Leis para um estudante de advocacia ou para um profissional de outra área? Talvez a facilidade do ensino seja a mesma, mas, o aproveita- mento de um poderá ser maior que o do outro. Será satisfatório fazer você entender com propriedade estes contextos e ter a possibilidade de desenvolver novos raciocínios dentro do estudo proposto, talvez seu trabalho de conclusão de curso possa sair desta disciplina. A Bíblia pode ser interpretada sob vários aspectos: religioso, mitológico, moral, ético, histórico e jurídico, inclusive. Adquirindo o máximo de conhecimento sob a maior quantidade possível em diferentes aspectos, formamos um campo de visão ao qual co- nhecemos como “Cosmovisão”. Quanto maior nossa cosmovisão, mais assertiva nossas conclusões e definições. Para nós cristãos, os cinco primeiros livros da Bíblia compõem uma subdivisão do Antigo Testamento, a qual é chamada de Pentateuco. Para os judeus, esses mesmos cinco livros compõem um único manuscrito, a Torá, ou melhor dizendo “rolo”, porém, por 19UNIDADE I Introdução ao Pentateuco ficar muito volumoso, foi dividido em cinco rolos (a necessidade contribuindo com os acon- tecimentos). O conteúdo é o mesmo. A importância toma rumos diferentes para cristãos e para judeus. Para os judeus, a Torá é a história de seus antepassados é a história de sua nação, é divina e preciosa porque foi Deus quem a deu, ela vem de uma tradição oral e faz parte do mundo. Para os cristãos, o Pentateuco explica a origens das coisas e é a história de “um povo escolhido por Deus”, mas não relata a história cristã. A história cristã é contada nos Evangelhos, porém o próprio Evangelho não invalida o Pentateuco, pelo contrário, o tem como referência em muitos aspectos implícitos, sendo, assim, a Torá traz a história do nascimento do povo judeu, os evangelhos, a história do nascimento do povo cristão. Vamos entender como o Pentateuco influencia nosso dia-a-dia e como ele está frente à Igreja Contemporânea, lembrando como iniciamos a nossa história: Iniciaremos nossos estudos sobre o Pentateuco com uma introdução sobre um quesito muito importante a saber: O contexto, cenário ou o “pano de fundo” para os acon- tecimentos que estamos tendo contato ao estudarmos. Quero fazer um breve comentário sobre o descobrimento do Brasil, para ampliar a sua cosmovisão e você entender o Pentateuco com uma informação mais apurada, uma ótica maior dos fatos. Nestes próximos parágrafos, convido você a fazer uma leitura minu- ciosa, pausada, buscando a cada instante trazer a sua mente mais informações sobre o que você está lendo. O Brasil foi descoberto em 1500 d.C. e foi colonizado por Europeus, mais precisa- mente, os portugueses, uma nação exploradora, com prática de implantação de Colônias, um país que iniciava seu auge comercial marítimo, mas não tinha experiências anteriores de domínio além fronteira. O povo que eles encontraram nas novas terras não eram vistos como um povo ou nação com história própria, pelo contrário, não haveria tolerância a uma organização social nas terras que os portugueses queriam domínio, então inicia-se o processo de socialização cultural e domínio em terras brasileiras e a primeira ação é controlar o povo e ensinar o caminho correto que só aconteceria através do que os colonizadores poderiam oferecer, inicia-se um processo de formação social através da religião, uma forma questionável, mas, era a forma praticada na época, pois, Portugal trazia costumes romanos que vinham desde os tempos do Império, na época de Jesus inclusive, onde, o povo ou nação conquistada incorporava a cultura do conquistador, aliás, uma prática que era até mais antiga e que existe ainda hoje. 20UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Figura 3: Belém, Lisboa, Portugal - O Monumento dos Descobrimentosna margem do Rio Tejo, que celebra a era portuguesa das explorações. Fonte:https://www.shutterstock.com/image-photo/belem-lisbon-portugal-october-15th-2019-1588829173 Observe na imagem que a bandeira que Portugal trazia é a Bandeira da Ordem de Cristo de 1319 d.C., ou seja, foi a primeira bandeira hasteada em nosso solo. Aqui temos uma informação muito importante para o futuro teólogo: Nossas Leis vieram de fora, impostas. Nos adaptamos a uma sociedade que não tínhamos contato e que tinha uma visão totalmente unilateral, com intenção de domínio. Não nos deram opções de escolha durante o processo de colonização. Mas, quando estudamos o Pentateuco, principalmente os textos que falam da passagem do povo pelo deserto, vemos nitidamente um povo “receber” Leis Divinas, dentro da realidade e o contexto que eles tinham e com a intenção de prepará-los para serem melhores e terem o melhor, dar liberdade e conquistas, disciplina e recompensa. Com o povo no deserto, não haveria prática de extorsão, porque o homem não poderia oferecer vantagens a Deus, que já é soberano em todas as coisas, tudo é dele. Sabemos, então, que nossa nação recebeu uma influência de Leis Portuguesas, mas, de onde originam estas leis? Com o início do Império Romano no primeiro século da era cristã, o Direito Romano prevaleceu na história do Direito Português e a Igreja, era Roma. Você já ouviu falar sobre Direito Canônico? Este conjunto de Leis originou-se https://www.shutterstock.com/image-photo/belem-lisbon-portugal-october-15th-2019-1588829173 21UNIDADE I Introdução ao Pentateuco também no Séc. II e foi sendo estruturado para reger e regular a vida na comunidade eclesial, baseava-se nas resoluções de um Conselho Eclesiástico para assuntos onde a Igreja se fazia presente, por isso, onde houvesse representação da Igreja, também haveria organização e regulação canônica. Já entendemos então que as Leis que recebemos no início de nossa organização social foram importadas de um país, o qual, tinha uma raiz eclesiástica definida e influen- ciada pelo Império Romano, e estas leis moldaram nossa sociedade no início, mas, o que sabemos é que com o passar dos tempos e os eventos de libertação e estruturação da então Primeira Colônia de Portugal, fizeram com que novas necessidades surgissem e as leis do país fossem alteradas, inovadas e ampliadas constantemente, até os dias de hoje, tomando várias direções, inclusive, a desvinculação da Igreja e do Estado. Hoje, a Igreja não influencia diretamente no Estado, mas, há algo que também é muito pertinente ao estudo: a Igreja ainda é detentora de princípios e os indivíduos que fazem as atuais leis são influenciados por estes mesmos princípios. Possivelmente, você esteja me questionando e dizendo que hoje a Igreja está vivenciando a escolha de um caminho diferente por grande parte sociedade, diferente daquilo que seriam os princípios da Igreja, e de fato eu digo: você está certo! Por que preciso dizer tudo isto antes de nos aprofundarmos no estudo de fato? Porque a igreja contemporânea tem sido fortemente conclamada a se posicionar e tem sofrido questionamentos por manter suas regras e princípios, ora, inegociáveis, mas, que constantemente são postos como retrocesso e tem sua veracidade questionada. Como a Igreja passará diante das mudanças da contemporaneidade e como poderá preservar as suas convicções, diante dos tempos vindouros? Esse é um questionamento que você ajudará a responder. 4.2. A Origem das Leis em Israel. Com a leitura do capítulo anterior, podemos entender que para o homem viver em grupo, faz-se necessário a adoção de um conjunto de normas e regras de convivência, subordinando cada indivíduo a coletividade. Que essas normas e regras se desenvolvem de acordo com a necessidade de cada grupo, portanto, viram lei, uma codificação escrita para o grupo. Na antiguidade, nos tempos de Israel, muitos outros povos também escreveram seus códigos, baseando-se em fatos e acontecimentos que acreditavam ser divinos ou inspirados por um deus. Muitos destes povos antigos viviam em meio à hostilidade e com- 22UNIDADE I Introdução ao Pentateuco petitividade, assim, criavam muitas de suas leis, de forma a proteger sua crença e também para exercer o protecionismo de suas convicções. Muitas vezes a razão entre as leis tomava rumos contraditórios entre si, não havia uma linha clara e razoável de princípios. O que nos chama a atenção é: o povo que faz a sua história no pentateuco é um povo nômade, escravos de gerações, não tinha uma experiência de liderança própria e, mesmo com quase todas as desfavoráveis atribuições sociais e econômicas, formou um código único e oposto a todos os códigos que se sabe da época, principalmente por ter um Deus único, incorpóreo, que não se representava por imagem, mas se manifestava de forma organizada dentro do seu povo eficazmente. Características, princípios distintos e muito dos aspectos do Pentateuco, foram a base para o cristianismo, o islã e para a legislação contemporânea. O atual “princípio da igualdade de todos perante a lei”, o qual está inserido em todas as constituições democráticas contemporâneas, surgiu do princípio das leis adotadas no Pentateuco, que tratavam todos, governantes e governados, livres, escravos, estrangei- ros, sem distinção perante a lei. Isso favorecia a incorporação dos povos sucumbidos por Israel e, assim, podemos entender que na nossa colonização, quando os portugueses nos apresentaram o “Deus da Igreja”, havia influência do Pentateuco implícita nesta ação e em outras ações que ocorreram. A contribuição, ao meu ponto de vista, que as leis contidas no Pentateuco trazem é que: pela existência de um “Deus único” nada mais, coisas, animais, homens, podem ser divinizados ou serem semideuses. Isso já nos dá um princípio fundamental para a observação das regras as quais teremos contato no mundo eclesiástico de hoje. Podemos observar a soberania de Deus, através do Pentateuco até mesmo na escolha de um Rei, através de textos como Deuteronômio 17:14-20, onde, os princípios que um Rei deveria possuir, foram claramente mencionados, antes, mesmo de haver a súplica do povo para ter um Rei. As leis dadas por Deus antecipam claramente a posse de uma terra (para um povo nômade) e a certeza que existiria um Rei no comando, mas, o mais impressionante é que estas regras que se aplicam aos governantes, são atuais e práticas. Mario Robert Mannheimer, diz: Não se encontra nas disposições legais contidas no Pentateuco a sistemática dos modernos códigos, não há uma sequência organizada, as normas de conduta se apresentam entremeadas com preceitos – religiosos, morais, éti- cos e ritualísticos – sem qualquer distinção hierárquica entre eles. Entretanto, examinando o seu texto, podem-se identificar facilmente princípios dos direi- tos Constitucional, Penal, Civil, Comercial, Trabalhista e Processual, muitos dos quais se incorporaram à legislação laica atual. (MANNHEIMER, 2013, p. 1) 23UNIDADE I Introdução ao Pentateuco Pelo que conheço em termos de legislação, todas as leis que originaram com um contexto religioso tiveram a necessidade de alteração, revisão e complemento. O Penta- teuco não podia sofrer mudanças, dado, o princípio jurídico da imutabilidade, que é base para a estabilidade social, então, como resolver este dilema? Foi aí que a religião judaica compilou os ensinamentos “orais” que eram praticados pelo povo e apresentou o livro cha- mado “Talmud”, uma coletânea de livros que continham registros e discussões dos rabinos acerca de assuntos morais, éticos, religiosos e sociais. Bem, nosso intuito neste tópico é mostrar para você a origem das leis judaicas para você poder saber onde se encaixa o Pentateuco na história do povo que o originou, acredito que você recebeu a introdução correta para poder avançar no estudo sobre o Pentateuco e através da leitura e material complementarvocê poderá se aprofundar mais no tema, que, terá uma conotação mais jurídica, o que não é nosso objetivo nesta disciplina. 4.3. O Pentateuco como Palavra de Deus. Faz-se necessário tratar sobre este assunto “O Pentateuco como Palavra de Deus” de forma destacada, pois, até o momento, estamos falando de necessidades, intenções e história humana. Não podemos esquecer que é uma porção da Bíblia Sagrada e, também, de um livro que traz em si mesmo algumas considerações que o colocam como diferenciado entre as bibliografias existentes da época: 1) Traz relatos históricos que são comprovados pela arqueologia. 2) Possuem uma organização muito elaborada para o entendimento da época. 3) Também tendo origem na tradição oral, manteve-se imutável ao longo do tempo (Visão Tradicional). Além de aspectos lógicos, temos por fé que a Bíblia é a Palavra de Deus, porque cremos que ela é “Inspirada” por Deus, assim, escrita por mãos humanas, mas, dadas por Deus, conforme nos diz o apóstolo Paulo em 2ª Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça,”, no caso do Pentateuco temos um diferencial, Deus entregou a Moisés, face a face, as Leis, o “Decálogo” os Dez Mandamentos que são as primícias ou preceitos das leis que seriam desenvolvidas no meio do povo. Creio que estudar o Pentateuco como uma cosmovisão bem ampla, nos leva a crer cada vez mais, sobre o Plano Divino de Deus para o Homem e da sua presença constante na história da humanidade. Sempre que busco mais sobre o estudo das Sagradas Escri- turas, Pentateuco, Profetas, Antigo e Novo Testamento, fico mais convicto que o homem é 24UNIDADE I Introdução ao Pentateuco muito mais assertivo em suas decisões, quando se dispõem a crer e obedecer aos ditos das Santas e Sagradas Escrituras. 4.4. Estado e Religião. Nesta introdução, até o momento, você recebeu algumas informações valiosas para entender e compreender o “cenário” para o acontecimento e o surgimento do Pentateuco, porém, vamos tratar de um assunto que marcou a nossa história e que provocou mudanças profundas no pensamento social, e precisamos saber o essencial sobre este acontecimen- to, para que a nossa linha de estudo seja bem formada até o final e você possa possuir uma base sólida e convicta do que aprendeu. Vamos falar do movimento chamado “Iluminismo”. O Iluminismo foi um movimento, portanto, provocado por um grupo de pessoas socialmente representativas na Europa, mais precisamente na França, com cunho intelec- tual, no Séc. XVII. Sua principal característica era defender o uso da razão sobre o uso da fé, para a resolução dos questionamentos e problemas da sociedade moderna. No século XVIII, as ideias iluministas foram tão influentes que o período ficou conhecido como “Século das Luzes”. Foram os iluministas que rejeitaram toda a herança da época medieval e a denominaram de “Idade da Trevas”, afirmando que nada de bom ocorreu nesta época. Como estamos realizando apenas uma introdução do nosso estudo, não vamos nos aprofundar sobre o tema, vamos trazer aquilo que nos é pertinente: a influência na Religião. O Iluminismo veio com o ideal de limitar a influência da Igreja como instituição, assim, em sua tentativa de arregimentar fatos e argumentos, não somente visíveis e atuais ao momento em que viviam, paralelamente, surgiram vários pensadores, historiadores e filósofos procurando desconstruir princípios que a Igreja defendia como absolutos, assim, indo em auxílio a visão iluminista que a Igreja já não tinha fidelidade ao correto e usava de manipulação para defesa de interesses próprios. Isto tem muito a ver com o estudo desta disciplina, porque, um dos maiores ques- tionamentos realizado sobre as Escrituras Sagradas ocorreu nesta época e justamente questionando a veracidade do Pentateuco. 25UNIDADE I Introdução ao Pentateuco SAIBA MAIS Os judeus acreditam que a Torá foi criada “antes da formação do mundo” e é uma sabe- doria que rege a humanidade e o povo israelita. Já a Torá, ou o Pentateuco, que conhe- cemos, é dada por Deus a Moisés, para o povo de Israel, após sair do cativeiro no Egito. Os saberes contidos na Torá formam o contexto da nação de Israel. De acordo com a tradição israelita, Moisés é o autor da Torá, e até mesmo a parte que discorre sobre sua morte (Deuteronômio 32:50-52) teria sido fruto de uma visão anteci- pada dada por Deus. Fonte:TORÁ. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Tor%C3%A1&oldid=60397726. Acesso em: 7 fev. 2021. REFLITA A Torá, que foi dada por Deus, é uma obra de sabedoria revelada com tal perfeição, que, dessa forma, não poderemos esperar nenhuma outra nova revelação, pois tudo já está revelado.” Essa afirmação defendida pelos eruditos judeus nos força a buscar mais contato com estes escritos e nos aprofundar cada vez mais em suas revelações. Lembre-se: A Palavra é viva. Fonte: o autor. https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Tor%C3%A1&oldid=60397726 26UNIDADE I Introdução ao Pentateuco CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredito que você tenha compreendido que estudar o Pentateuco envolve mais que a interpretação dos textos que ele contém. Nesta introdução, quis mostrar a você as polêmicas em torno deste manuscrito, a importância que ele tem para o mundo judaico e cristão. Também mostramos sua atualidade, pois é um escrito que provoca mudanças ainda hoje. Move pessoas, impulsiona estudos, a ciência, ou seja, desde sua criação, ele continua sendo assunto atual. Estudá-lo, sem compreender sua influência é como não provar do melhor. Você pode observar o quanto ele é importante para a Igreja, para a Nação escolhi- da por Deus, para o meio jurídico, para algumas ciências, para a compreensão de nossa formação cristã e, também, como ponto de apoio de fé dos cristãos na atual sociedade globalizada. Poderemos aceitar as ideias racionalistas acerca do Pentateuco? Compreendemos que a ciência tem contribuído para provar a veracidade deste manuscrito? Podemos dizer que é um escrito eficiente, por ter conseguido regimentar um povo desprovido de uma coletividade organizada? O conteúdo desta introdução nos permitirá estudar o conteúdo de cada livro do Pentateuco de forma a atingir a melhor compreensão possível, com uma cosmovisão de todos as influências que ajudaram a concebê-lo. Precisamos estar dispostos a confrontar nossas crenças e continuarmos firmes naquilo que acreditamos, mas, com a visão aberta para aprender mais, filtrando todas as informações. O filtro dependerá do seu método de análise, se tradicional, racional, você precisará adotar um método que não o faça entrar em contradição. Espero tê-lo encorajado a se dedicar mais ainda aos estudos, reconhecendo que precisamos de convicção, princípios, um pensamento organizado e coerente com aquilo que estamos se propondo a estudar. Nossa missão é fazer de você um teólogo bem informado e preparado para contri- buir com o estudo teológico contemporâneo. Até a próxima Unidade de Estudo!!!! 27UNIDADE I Introdução ao Pentateuco LEITURA COMPLEMENTAR A Tóra Vista Pelos Árabes Ainda em viagem pelo Egito, observei que em todos os veículos públicos havia um exemplar do Alcorão. Tentei pegar um para ver, mas, fui impedido e advertido. Não tinha visto a Torá tão exposta em Jerusalém. No Brasil seria normal vermos a Bíblia em muitos lugares. Aquele ato de impedimento de tocar no Alcorão me levou a perguntar, lá mesmo no Egito, por que tanta rispidez comigo. A resposta veio da mesma forma ríspida: Porque os judeus nos impediram de ler o Livro deles e este é nosso e do nosso povo. Procurei um judeu messiânico que estava em meu grupo e falava português, e ele me respondeu que mesmo que observamos a Torá (e os cristãos o Pentateuco) como um livro que traz leis de igualdade, os demais povosdo Oriente Médio, não veem dessa forma, eles vem os judeus como um povo excludente, onde, para se estar debaixo das leis tem que ser judeu e professar a fé em Deus do modo deles. Ainda, ele completou, que os judeus em sinal de rivalidade e descrédito aos árabes, não os deixavam ter acesso a Torá, assim colocaram a Torá dentro das sinagogas. Essa atitude judaica, que realmente acontecia, fez com que o povo árabe buscasse seu próprio livro divino. Segundo o judeu que estava comigo, ele disse que o povo árabe diz que Deus viu esta carência do povo árabe e usou o profeta Maomé para trazer o ensino ao povo, dando o Alcorão (se é verdade ou não, não vou discutir). Ele continuou me falando, disse que cerca de cinquenta personagens da Torá e da nossa Bíblia estão citados no Alcorão, Moisés, o Pai Abraão, Noé e até Maria e Jesus. Inclusive, Jesus é mais citado no Alcorão que o próprio profeta Maomé. O que ocorre é que há uma mudança de nomes do Hebraico para o Árabe, por exemplo, na Torá e no Pentateuco conhecemos por Moisés e no exemplar árabe ouvimos o nome Ibraim e assim outros nomes também. O importante neste acontecimento que tive é que descobri que o Alcorão dá testemunho da Torá e que para os povos árabes do Islã, Moisés teria sido um homem com atitudes diferentes do que a história judaica conta, dizem, que o profeta Moisés foi mais justo e voltado para as vontades espirituais. Outro fato importante é que para estes povos de oposição ao judaísmo, existe respeito quanto a Torá, para eles é o Livro de Moisés, mas, eles dizem que é um livro modificado pelos judeus e é fraco em relação ao Alcorão, mas, é livro divino, dado por Deus. Os muçulmanos são ensinados que Deus deu outros livros aos homens, além do Alcorão, o Livro de Abraão, que se perdeu, a Torá de Moisés, O Livro de Salmos, dado a Davi e por fim, o Evangelho de Jesus. Sabendo 28UNIDADE I Introdução ao Pentateuco que há uma certa rivalidade entre os povos, podemos concluir que ambos defendem seus interesses, mas, nisso tudo, nos certificamos que a Torá é observada, às vezes desejada, objeto de respeito e estudo entre os povos antigos e monoteístas. Esta minha experiência que ocorreu lá no Egito no ano de 2011, me confirmou que podendo visitar os locais que estudamos, pode nos acrescentar experiências além do que vemos nos livros e ajudar na formação do nosso pensamento a respeito dos fatos. Fonte: o autor. 29UNIDADE I Introdução ao Pentateuco MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Manual do Pentateuco – Segunda Edição Autor: Victor P. Hamilton Editora: CPAD Sinopse: Em Manual Do Pentateuco, Victor P. Hamilton faz um exame preciso e aprofundado dos cinco primeiros livros da Pa- lavra de Deus, relacionando suas informações com o contexto sócio-cultural da época. Excelente para pesquisas, cada capítulo possui bibliografia para enriquecer ainda mais seus estudos. Uma obra que, por mais de vinte anos, oferece conhecimento acerca do Pentateuco. FILME/VÍDEO Título: Êxodo: Deuses E Reis Título Original: Exodus: Gods And Kings Ano: 2014 Sinopse: Resgatado ainda bebê pela irmã do faraó, Moisés (Christian Bale) passa a viver com a família real sem saber da sua origem hebraica. Quando adulto, é escolhido por Deus para libertar os hebreus da opressão de Ramsés. No caminho, ele pre- cisa enfrentar a fúria dos egípcios e atravessar o Mar Vermelho. Dirigido por Ridley Scott. Link do vídeo: https://www.telecineplay.com.br/filme/Exodo_Deu- ses_E_Reis_8063?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_ campaign=search%7cdsa%7caquisicao%7cmid&utm_conten- t=vazio%7cvazio%7ceta%7ckw_filme%7cvazio&gclid=Cj0KC- QiA3smABhCjARIsAKtrg6LmOhow0xKlZ1Ig6vmA5mazyPwe- 8naZu4BMmpruQmW1aR1WjYVTc5MaAtDrEALw_wcB&gclsr- c=aw.ds WEB A Torah como fonte de legislação – sua influência até os dias de hoje no Direito brasileiro Mario Robert Mannheimer, Desembar- gador do TJERJ, escreveu este artigo para a Revista Justiça & Cidadania. Link do site: https://www.editorajc.com.br/torah-fonte-legislacao-influencia- -ate-dias-hoje-direito-brasileiro/#:~:text=Ainda%20no%20campo%20do%20 Direito,vers%C3%ADculo%2018%20do%20mesmo%20cap%C3%ADtulo Artefatos que importam: a estela de Merneptah Link do site: https://www.blogs.unicamp.br/carbono14/2010/02/26/artefa- tos_que_importam_a_estel_1/ https://www.editorajc.com.br/torah-fonte-legislacao-influencia-ate-dias-hoje-direito-brasileiro/#:~:text=Ainda%20no%20campo%20do%20Direito,vers%C3%ADculo%2018%20do%20mesmo%20cap%C3%ADtulo https://www.editorajc.com.br/torah-fonte-legislacao-influencia-ate-dias-hoje-direito-brasileiro/#:~:text=Ainda%20no%20campo%20do%20Direito,vers%C3%ADculo%2018%20do%20mesmo%20cap%C3%ADtulo https://www.editorajc.com.br/torah-fonte-legislacao-influencia-ate-dias-hoje-direito-brasileiro/#:~:text=Ainda%20no%20campo%20do%20Direito,vers%C3%ADculo%2018%20do%20mesmo%20cap%C3%ADtulo https://www.blogs.unicamp.br/carbono14/2010/02/26/artefatos_que_importam_a_estel_1/ https://www.blogs.unicamp.br/carbono14/2010/02/26/artefatos_que_importam_a_estel_1/ 30 Plano de Estudo: • O Livro do Gênesis; • A Criação, queda, Dilúvio e Nações; • História Patriarcal; • José e o início das 12 Tribos de Israel. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar as mensagens contidas no Livro de Gênesis; • Compreender os tipos de origens descritas no Livro de Gênesis; • Estabelecer a importância dos acontecimentos contidos no Livro de Gênesis. UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos Professor Especialista Érlon Migliozzi 31UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos INTRODUÇÃO Caro(a) Aluno(a), Você já recebeu na unidade anterior, informações do contexto da formação do Pen- tateuco, quais seus componentes, importância, discussões em torno de sua autoria, e muito sobre sua irrelevância para várias esferas da sociedade. Entendeu que é preciso uma visão mais ampla dos fatos. Agora, vamos entrar em uma nova busca de conhecimento, desta vez, vamos buscar entender o conteúdo de cada livro do Pentateuco, trabalhando seu conteúdo próprio. Estaremos iniciando com o Livro Gênesis. Identificaremos um propósito comum no seu conteúdo e algo que o relacione, também, com os outros quatro livros que virão a seguir. Vamos estabelecer como nosso ponto de referência em Gênesis o “Plano de Deus para a Redenção Humana”. Já no primeiro capítulo de Gênesis, observamos que Deus cria o homem para possuir o melhor, para ser o melhor e para viver em harmonia com Deus, porém, no capítulo 3, vamos ler sobre a queda do homem. Como Deus não é pego de surpresa, no mesmo capítulo, bem no versículo 15, Deus apresenta o que poderíamos dizer de o “primeiro lampejo” ou início do processo de redenção e como ele se consiste. O Plano de Salvação é o assunto central de toda a Bíblia, nunca foi um plano alternativo, ou um segundo plano. Deus criou o homem para viver como “coroa” da criação, mas, o homem não entendeu a liberdade que tinha e trocou sua inocência pelo conhecimento do bem e do mal. Isso o fará ter uma jornada diferente do que Deus propôs, mas, se o homem optou por uma jornada árdua e difícil também era previsto no “Plano Original”. Devido ao conteúdo extenso que podemos obter na análise de cada evento, vamos nos atentar aos eventos que nos acrescentam recursos teológicos. É imprescindível saber que a Bíblia não omite fatos, que é exata para as nossas necessidades e no seu conteúdo. Também, que os personagens que estão no ponto central das narrativas, estão lá porque são importantes e os acontecimentos devem ocorrer com referência a eles. Aproveite e, Shalom!!! 32UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos 1. O LIVRO DO GÊNESIS 1.1. Apresentação O primeiro livro do Pentateuco é o livro do Gênesis. Gênesis é uma palavra de origem grega e seu significado é: princípio, criação, nascimento, origem. Este nome foi adotado pela tradução dos setenta, a Septuaginta. No hebraico o título original do livro de Gênesis é “Bereshit”, que temo significado de “No princípio” ou “Na cabeça”, designando, assim, ser o primeiro livro da Torá. Como as próprias nomenclaturas definem, este livro torna-se a introdução para a Bíblia toda. Todo o início está descrito nos seus primeiros capítulos. Ao decorrer de todo o seu conteúdo, o princípio das raízes hebraicas vai sendo apresentados também. Um termo conhecido entre os leitores cristão para o livro de Gênesis é “viveiro ou sementeiro da Bíblia”, por conter as sementes de todas as grandes doutrinas. A compreensão da Bíblia necessita do conteúdo de Gênesis. O conteúdo dos 50 capítulos de Gênesis ocorre em um período muito longo, do início da humanidade até Israel se estabelecendo no Egito e seu pano de fundo tem dois atos distintos, sendo, o primeiro o início histórico primitivo e o segundo ato, a redenção e o período patriarcal. Embora, olhamos para este livro como sendo do Antigo Testamento e estar ligado aos demais livros, precisamos observar com uma amplitude maior o estreitamento com o 33UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos Novo Testamento, pois, temas como: Queda do homem, juízo, dilúvio, casamento, justiça de Deus, são tratados e interpretados no Novo Testamento. Em Apocalipse, temas que foram iniciados em Gênesis, recebem a sua conclusão, a derrota da “antiga serpente” que enganou o mundo, será derrotada. Babilônia (antes Babel) é derrotada e os redimidos são levados novamente ao paraíso e poderão ter acesso à árvore da vida. É importante observar que o narrador de Gênesis narra toda a constituição de um “povo” e mais forte ainda “um povo de Deus”, destacando personagens chaves em sua narrativa. Entendemos, assim, que os demais personagens, não possuíram feitos ou impor- tância para serem mencionados, este entendimento evita acreditarmos em fábulas judaicas ou especulativas, que tentam incluir personagens na história da criação. Neste aspecto, já deixamos claro a inexistência de personagens, como, por exemplo, Lilith, provavelmente a maior heresia conhecida dentro do livro e merece seu conhecimento sobre o assunto, o qual, vamos falar mais adiante no tópico de Leitura Complementar. O assunto maior que está implícito no livro de Gênesis pode ser descrito como sendo: “Através da escolha de um povo, Deus inicia o seu plano redenção.” 1.2. As Origens da Escrita e da Tradição Judaica Oral. É sempre bom lembrar que estamos adotando, como principal, a Visão Tradicional dos fatos bíblicos, ou seja, referindo-se a Gênesis com uma ótica literal, baseando-se na tradição, ou melhor dizendo, contando aquilo que nos falaram e considerando aquilo que está escrito. Não podemos anular ou ignorar os fatos questionados pela Alta Crítica, mas, não são pontos determinantes para todas as nossas conclusões. A espiritualização dos acontecimentos, também, precisa ser tratada de maneira cuidadosa. Tudo isto, deve estar na nossa cosmovisão sobre o Gênesis, de maneira a acrescentar nossa fé. Parece que o assunto do parágrafo anterior é algo que só nos dias atuais merecem atenção, mas, podemos perceber que são observações que navegam pelos séculos que os pergaminhos tem atravessado. Lembre-se que aparentemente algumas passagens não estão em ordem crono- lógica. Como exemplo claro disto, temos o capítulo 11 falando da Torre de Babel, porém, o capítulo 10 fala da dispersão dos povos. É bem provável que a dispersão ocorreu pelo acontecimento em Babel, assim, temos a consequência sendo narrada antes de narrar o fato gerador ocorrido. Mesmo que isso seja um fato concreto, não afeta a veracidade das escrituras e faz parte de uma técnica de escrita, usual, inclusive, nos dias de hoje, onde, 34UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos o escritor narra o acontecimento geral e posteriormente narra um detalhe do episódio de forma mais detalhada, com o intuito de dar um enfoque ao ocorrido. Isto explica o caso que já comentamos lá atrás, na introdução, quando se discute o dia em que Eva foi criada. Pri- meiramente o narrador de Gênesis diz que “a imagem de Deus os criou, homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27) e posteriormente fala de forma mais detalhada a criação da mulher em Gênesis 2:21. Podemos entender que a Tradição Oral é nada mais que a transmissão de geração para geração de informações, costumes e rotinas, que se perpetuam por várias gerações e permanecem quase imutáveis. O povo judeu foi um povo que soube trabalhar bem sua comunicação ao longo dos tempos. Vemos em Moisés, uma forma de comunicação muito ágil e que nos mostra que a cultura de passagem dos acontecimentos ocorridos na época do Êxodo, por exemplo, são eficientes e possíveis, pois, Moisés criou líderes de grupos, os quais, replicavam sua informação o mais rápido possível e, podemos entender que era eficaz pelo fato da notícia chegar a todos os cantos do acampamento em pouquíssimo tempo. Sabemos que o Hebreu Clássico, idioma que foi escrito a Torá, cobre um período de 4.000 anos a.C. e que esta língua tem sua origem precisa desconhecida, mas, com um consenso que aponta para a região do Norte-Africano, entre a Etiópia e o Egito ou próxima ao Mar Vermelho. A escrita do Hebraico Clássico ou Primitivo, ao que tudo indica, era algo restrito. Os eruditos da época, precisava de habilidades em madeira, pedra, couro e posteriormente o papiro, para realizar a impressão dos caracteres, isto, explica o pouco material escrito na época e porque a tradição oral dominou por tanto tempo entre os judeus, um povo seminômade, habituado a troca de informações em grupo. 35UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos 2. A CRIAÇÃO, QUEDA, DILÚVIO E NAÇÕES 2.1. A Formação do Mundo – Criacionismo. Antes de falar da criação, temos que falar do CRIADOR. Uma distinção fundamen- tal do monoteísmo está no princípio, sim, inserido no contexto da palavra “No Princípio”, porque Ele cria todas as coisas, não foi criado por uma criatura ou outro Deus. Em Gênesis, Deus é revelado acima, superior à sua criação, o que é uma resposta aos erros do politeísmo, dualismo, panteísmo e materialismo, “Deus é um ser soberano, superior, eterno e independente de sua criação, existe antes de tudo. Nas demais culturas isto não é respondido convincentemente. O Criacionismo é uma crença bíblica que tem Deus como criador de todas as coi- sas, o único que pode criar “ex-nihilo” (termo que vem do latim, e que quer dizer “do nada”). O homem não cria, somente recria ou realiza cópia. Temos no livro de Gênesis, uma descrição do Criador, um ser que através dos seus atributos, criar algo não existente. Um Deus de ordem, desígnio e progresso. Um Deus que pega algo sem forma, um completo caos, e com progressão ordenada cria e expõe seus propósitos na sua criação. Um Deus que determina, delega, transmite parte de seus atributos a sua criação, um Deus incomparavelmente transcendente. A CRIAÇÃO DO MUNDO – Algo que é irrelevante no estudo de Gênesis é enten- dermos que no relato da criação do mundo, e tudo o que nele existe, nos versículos do capítulo 1, versículos 1, 21 e 27, há algo diferenciado no ato da criação. O Versículo de 36UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos Gênesis 1:1 diz: “Bereshit bará Elohim et hashamáyim veet haarets“, ou seja, “no princípio criou Deus o céu e a terra“, note o verbo “bará” empregado neste versículo, traduzido por “criou”. Só há o emprego deste verbo na criação da matéria (Gn 1:1), vida animal (Gn 1:21) e do homem (Gn 1:27), nas demais criações, utiliza-se o verbo “asa”, que se traduz por “fez”. Entendemos que o verbo “bará” é a real expressão de criar do nada; sem precedente. Entendemos, também, que no poder da Palavra de Deus, há algo que produz superioridade a estas três criações. No relato da criação está também o descanso sabático. O sétimo dia na criação, demonstra entre todas as possíveis colocações, a completude de Deus, um atributo de rea- lização, um prêmio, algo atípicoaos dias anteriores, mas, necessário existir. É importante entender que este ato, o descanso sabático, também é comunicado ao homem como regra de obediência e adoração a Deus e expressa o “completar” de um período, um elo entre o fim e o início. A finalidade da criação do mundo consiste em criar o habitat humano, a morada do homem, tudo foi colocado à sua disposição, sob o seu domínio, o homem é o centro da criação. A CRIAÇÃO DO HOMEM – Deus criou o homem através de um ato transcendente, ou seja, além do normal e sem nenhuma anterioridade, criado, pela união da Trindade. O homem é a coroa da criação. É um ser projetado para ser, tanto terreno, como espiritual. É feito à imagem e semelhança do seu criador. É fruto do mesmo material dos outros seres animais, porém, com sua posição diferenciadamente acima de toda a criação, recebeu o “bará” de Deus. Quando Deus diz aos demais integrantes da Trindade, “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, precisamos entender que os aspectos dados ao homem por essa imagem e semelhança, esta sublimidade, produz os seguintes aspectos: 1) sendo seme- lhança de Deus tem o domínio sobre a natureza. 2) É um ser pensante e racional, não somente lógico, mas, formador de pensamentos. 3) É um ser “moral” que não age pelos seus instintos, tem poder de decisão e consciência dos seus atos. 4) Tem comunhão com Deus porque possui um espírito imortal, dado pelo sopro da vida. 2.2. A Queda No capítulo 2 de Gênesis vimos como Deus preparou o homem para um ambiente diferenciado, como Deus proporcionou ao homem o melhor da criação. Deus cria todas as coisas para servir ao homem, direta e indiretamente, o mundo gira para proporcionar ao 37UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos homem todo condições no seu habitat. Deus o coloca no melhor, dentro do Jardim do Éden, o capacita a reger, a trabalhar, realiza uma obra inédita. Cria a mulher como companheira idônea. Também, Deus capacita o homem com a mais alta inteligência sobre a face da terra. Por fim, Deus mantém comunhão diária com o homem, participa de sua trajetória. Em tudo isso, Deus demonstra sua solicitude ao homem. Ao dar a oportunidade de demonstrar a fidelidade do homem, Deus o apresenta à árvore do conhecimento do bem e do mal, assim, cabe ao homem dar sequência aos seus diferenciais, desenvolver seu caráter e santidade. Eles precisavam manter sua santidade, acima da inocência que tinham, eles precisavam passar por uma prova, uma tentação. No Capítulo 3 e 4, vamos ver como ocorre a queda do homem, suas consequências, e como isto afeta as gerações futuras. Até o capítulo 2, o homem só conheceu o “bem”, agora, com a queda, ele tem um novo entendimento do seu ambiente, um período diferente de tudo o que tinha vivido anteriormente. No capítulo 3, entendemos como o mal entrou no cotidiano da humanidade, através do pecado que o homem produziu, quando cede a tentação de comer o fruto proibido, quan- do se inicia uma sequência de erros do homem, tentando transferir sua responsabilidade e recebendo o castigo por tais atos. Há um ponto de vista que acredita que o pecado de Adão foi tentar transferir sua culpa e não reconhecer a necessidade de perdão, mas, no capítulo 3, versículo 17, Deus condena Adão por ter comido do fruto proibido. Vemos que depois de todo o incidente trágico, Adão é posto para fora do seu am- biente e dá início a uma trajetória humana dissimulada, onde, não há mais harmonia, não há mais comunhão íntima e contínua com Deus. Uma trajetória que não depende somente do homem, onde o habitat também exerce vontade, assim, entendemos que o homem perdeu sua totalidade sobre a criação. Ainda neste capítulo, vemos como Deus age com os seus. Indo em busca do ho- mem decaído. No versículo 15, ele vai declarar ao Diabo, que colocaria inimizade entre a sua descendência e a descendência de Eva, esse seria o primeiro sinal da redenção da humanidade. Agora, temos um exemplo de como o Novo Testamento explica em muito as narrações do livro de Gênesis. Observe que ao falar da descendência do Diabo e da mulher, o assunto para o leitor, pede um complemento. Será em João 8:44 que vamos encontrar este esclarecimento: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois 38UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira.” Entendemos que aqueles que fazem o desejo de Satanás e se opõem a Cristo, são a descendência de Satanás e a descendência piedosa de Eva é o próprio Cristo e todos aqueles que fazem a sua vontade, até a sua segunda vinda. A redenção prometida neste versículo, passa a ser o assunto da Bíblia. Não há certezas da salvação de Adão e Eva, mas, as condenações dadas por Deus, exclusivamente terrenas e a atitude do casal em prosseguir com a presença de Deus em seu acampamento, oferecendo sacrifícios, comunicando as gerações os relatos da criação, nos dão uma positividade com relação a salvação do casal. De Adão até Noé, observamos gerações transtornadas, sem integridade e em ritmo contrário ao caminho de Deus. É um período de deturpação dos princípios que Deus deixou para a humanidade. Para concluir o assunto “queda do homem”, vamos observar que o pecado se desenvolveu na face da terra, a descendência de Adão, que passa por Caim, desenvolve a primeira civilização. Na descendência de Caim, Jabal é o pai da agricultura e da criação de gado. Jubal é o pai das belas artes, pois inventou instrumentos musicais. Tubalcaim inven- tou armas e ferramentas, é o pai da indústria. Uma geração que procurava não depender de Deus, não ter relacionamento com o criador. Lameque foi o primeiro polígamo. Uma geração que desapareceu da face da terra, rejeitaram o plano divino. Abel foi morto e Caim não tem uma descendência voltada para Deus, assim, Deus dá outro filho a Eva, Sete, o qual, continua a linhagem da mulher e traz a invocação ao nome do Senhor Novamente. 2.3. O Novo Começo, O Dilúvio. Chamamos o povo que viveu antes do dilúvio de “antediluviano”. Esse povo era um povo que se caracterizava pela longevidade, viviam entre 365 e 969 anos. Também, conforme observa-se na genealogia em Gênesis, vemos um povo que vive uma vida sem diferenciais, monótona, parecem viver a consequência do pecado, sem grandes realiza- ções. O comentário em suas descendências limita-se a “Viver – gerar – morrer”, um ciclo pobre de vida para quem viveu séculos. É em Gênesis que vamos ouvir falar de Enoque. O texto bíblico diz que Enoque andou com Deus e, por isso, Deus o tomou para si. É o primeiro arrebatamento que temos registro. É Enoque quem viveu menos entre os homens descritos na genealogia, 365 anos. 39UNIDADE II O Início da Humanidade e das Tribos Vamos ver no capítulo 6 de Gênesis que em determinado momento, a linhagem de Sete e Caim se misturam, através do casamento entre seus descendentes. O resultado foram verdadeiros homens extraordinários, homens perversos e com longevidade, que faziam o que queriam e não tinham temor de Deus, homens cheios de anseio por poder e domínio. Deus se mostra triste com a situação da sua criação e resolve intervir, realizando um novo começo da humanidade. Somente a família de Noé era cumpridora dos preceitos morais e espirituais do Deus Criador. Deus usa Noé e sua família para continuar a descendência da mulher e caminhar na redenção do homem caído. Noé quer dizer “descanso, consolo”, era homem íntegro e seu sucesso consistia em andar diariamente com Deus. Ele pode ser chamado de “o segundo pai da raça humana”. Deus deu a Noé o projeto para salvação da humanidade, passou os detalhes que culmina- ram na construção da “Arca”. Através de um dilúvio, toda a vida na terra seria eliminada, exceto, Noé e sua família. Neste ponto da história humana, a redenção
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