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Farmacogenética: Inovação Clínica Para o Futuro da Saúde Acadêmicos¹: Cheila de Souza Fernanda de Camargo Constantino Jhulie Rafaela Dias Rafael Joaquim de Santana William da Silva Raimundo Tutor Externo²: Ana Carolina Ternes Quadros 1. INTRODUÇÃO A farmacogenética, um campo emergente na interseção entre a genética e a farmacologia, está rapidamente se tornando uma peça fundamental no quebra-cabeça da medicina personalizada. Essa disciplina revolucionária busca compreender como as variações genéticas individuais afetam a resposta dos pacientes aos medicamentos. Neste artigo, exploraremos as inovações clínicas impulsionadas pela farmacogenética e seu impacto no futuro da saúde. A farmacogenética, ao contrário da abordagem tradicional de tratamento médico, reconhece a singularidade genética de cada paciente. Em vez de adotar uma abordagem universal, essa disciplina busca adaptar os tratamentos farmacológicos de acordo com o perfil genético de cada indivíduo. Isso não só maximiza a eficácia do tratamento, mas também minimiza os efeitos colaterais indesejados. Ao compreender as variações genéticas que afetam a metabolização de medicamentos, os profissionais de saúde podem ajustar as doses e escolher os medicamentos mais adequados para cada paciente. Isso não apenas otimiza os resultados terapêuticos, mas também reduz consideravelmente os riscos associados a reações adversas. Cada pessoa responde de maneira única aos medicamentos devido às suas características genéticas exclusivas. A farmacogenética reconhece essa diversidade e fornece uma abordagem mais precisa e personalizada para o tratamento médico. Imagine um cenário em que um medicamento é escolhido especificamente para atender à resposta genética de um paciente, resultando em um tratamento mais eficaz e seguro. Os avanços tecnológicos na área da genômica têm desempenhado um papel crucial no crescimento da farmacogenética. Técnicas como sequenciamento de nova geração permitem uma análise mais aprofundada do perfil genético de um indivíduo em um curto espaço de tempo. Essa capacidade de análise rápida e precisa é fundamental para a implementação prática da farmacogenética nos cuidados clínicos. 2 Apesar dos benefícios promissores, a farmacogenética enfrenta desafios, como a necessidade de educação extensiva para profissionais de saúde e o custo associado aos testes genéticos. No entanto, as oportunidades superam os desafios, abrindo portas para uma era de tratamento médico mais eficaz, personalizado e centrado no paciente. A implementação da farmacogenética na prática clínica já está em andamento, com alguns centros médicos líderes adotando abordagens personalizadas com base no perfil genético dos pacientes. À medida que mais profissionais de saúde se familiarizam com essa abordagem inovadora, antecipamos uma transformação significativa na forma como os tratamentos médicos são prescritos e administrados. A farmacogenética representa uma virada de jogo na medicina, oferecendo uma abordagem mais inteligente e personalizada para o tratamento de doenças. Ao reconhecer e incorporar as nuances do código genético de cada paciente, os profissionais de saúde podem moldar o futuro da medicina, promovendo tratamentos mais eficazes, menos efeitos colaterais e, em última análise, uma saúde mais personalizada e voltada para o paciente. Este é apenas o começo; a jornada da farmacogenética rumo ao futuro da saúde está repleta de promessas e descobertas emocionantes. 3 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A farmacogenética surgiu como uma área científica na década de 1950, quando Arno Motulsky expôs as bases genéticas dos ataques de porfiria desencadeados por barbitúricos e das reações adversas ao uso do antimalárico Primaquina e do relaxante muscular Succinilcolina. Essa publicação levou o pesquisador Friedrich Vogel a cunhar o nome farmacogenética, afirma Brito (2015). Segundo Metzger e Costa e Santos, 2006, p. 1: “As variações na resposta ao tratamento podem ser decorrentes de vários fatores tais como doenças, diferenças na farmacocinética e farmacodinâmica dos medicamentos, fatores ambientais e fatores genéticos. Considerando que os fatores genéticos podem contribuir para a eficácia e a segurança de um medicamento, a Farmacogenética vem sendo fomentada recentemente.” Não há como negar a importância da evolução no campo da farmacogenética para potencializar o tratamento de patologias principalmente crônicas, diminuindo os efeitos adversos e proporcionando ao paciente uma melhor qualidade de vida durante o período do tratamento. Ainda para Metzger e Costa e Santos (2006), as diferenças quanto às respostas terapêuticas entre os indivíduos geralmente estão associadas com polimorfismos genéticos presentes em genes que afetam a farmacocinética ou a farmacodinâmica. Tais polimorfismos podem alterar a atividade de sítios de ligação de medicamentos e teremos como consequência uma redução ou aumento da atividade da proteína codificada. Um número considerável de evidências sugere que essas alterações poderiam determinar a eficácia dos medicamentos e sua toxicidade. “A detecção rotineira de polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNPs, sigla do inglês single nucleotide polymorphisms) pode ser conseguida em laboratórios clínicos usando a reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real.” (Pinho, 2014, p.2). Ainda segundo o autor o uso de ensaios de medicina personalizada está se ampliando e várias aplicações já foram descritas em diferentes áreas da medicina. A medicina personalizada permite que métodos terapêuticos específicos sejam usados para cada paciente e doença, conforme os resultados desses ensaios genéticos. A aplicação de tal protocolo demanda uma interação crescente entre o laboratório e a equipe clínica. Para sua implementação, é necessário contar com uma equipe coordenada, com pesquisadores de área básica e médicos altamente especializados em seus campos de estudo, com suporte de um time muito qualificado de analistas clínicos treinados, de forma específica, em ensaios de biologia molecular. Como exemplo dessa variabilidade de resultados no uso de medicamentos, podemos citar os anticoagulantes como a Varfarina que segundo Metzger e Costa e Santos, 2006, a Varfarina é um anticoagulante amplamente utilizado para a prevenção de eventos tromboembólicos. Devido à baixa faixa terapêutica e risco de complicações hemorrágicas, a terapia com Varfarina é individualizada 4 através do monitoramento do tempo de protrombina normalizado. Sabe-se que muitos pacientes são extremamente sensíveis aos efeitos anticoagulantes, mesmo com baixas doses de Varfarina, e que esses efeitos exacerbados podem resultar em episódios de sangramentos. Dessa forma, a terapia com Varfarina tem que ser ajustada devido à grande variabilidade resposta dos pacientes a este medicamento. A Varfarina é um anticoagulante usado com grande variação de doses entre indivíduos e um índice terapêutico estreito, já que uma dose insuficiente pode levar à trombose, enquanto uma dose excessiva pode ser associada a sangramentos e hemorragia. Já foi demonstrado haver um risco aumentado de sangramento para pacientes que carregam os alelos CYP2C9*2 ou CYP2C9*3 destaca Pinho e Sitnik e Mangueira, 2014. Outro exemplo de medicamentos que que sofrem essa variabilidade são os antidepressivos e ansiolíticos que a depender da genética do individuo sofrem influencia em sua ação e eficácia. Segundo Silva & Andrade, 2007 a importância clínica do polimorfismo CYP2D6 está relacionada à maior probabilidade de reações adversas entre os indivíduos PM (metabolizadores lentos), enquanto nos UM (metabolizadores ultra-rápidos) as posologias habituais são ineficazes. Imagem 1. Variantes genéticas associadas a modificações deresposta a tratamento com ISRSs. Fonte: SILVA, D. K., ANDRADE, F. M. (2007). Farmacogenética de Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina: Uma Revisão - Instituto de Ciências da Saúde, Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, RS. P. 6 5 Todos os antidepressivos são altamente lipofílicos e estão sujeitos a ações de muitas enzimas, incluindo aquelas da família do citocromo P-450 (CYP). Mais de 50 genes CYP têm sido descritos em humanos, mas somente alguns têm importância na psiquiatria. Dentre esses, o gene CYP3A4, que produz uma enzima que metaboliza aproximadamente 50% de todos os psicotrópicos, além dos genes CYP2D6, CYP2C19, CYP1A2 e CYP2C920. Entre eles, o gene CYP2D6 é o mais investigado na área. Mais de 70 variações neste gene já foram identificadas, embora apenas algumas possuam relevância clínica. Exemplos são os alelos CYP2D6*3A, CYP2D6*4B, CYP2D6*5, os quais estão relacionados com o fenótipo de metabolizadores lentos, e o alelo CYP2D6*2, relacionado com o fenótipo de metabolizadores rápidos (Silva & Andrade, 2007). O alelo CYP1A2 *1C é caracterizado por uma substituição do nucleotídeo guanina por adenina na posição -3860 da região não-traduzida 5’ flanqueadora (5’UTR, do inglês untranslated region) de CYP1A2 (-3860G>A), sendo descrito pela primeira vez em japoneses com uma frequência de 23,3%. Este alelo é associado à diminuição da atividade enzimática devido a menor capacidade de indução da expressão da enzima Brito (2015). 6 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Ao explorar as intrínsecas conexões entre genética e farmacologia, a farmacogenética emerge como uma luz brilhante no horizonte da medicina personalizada. Este campo revolucionário não apenas reconhece, mas celebra a singularidade genética de cada indivíduo, representando uma virada de jogo na abordagem tradicional ao tratamento médico. A abordagem personalizada da farmacogenética destaca-se ao adaptar os tratamentos farmacológicos de acordo com o perfil genético único de cada paciente. Este não é apenas um conceito inovador, mas uma promessa tangível de maximizar a eficácia do tratamento enquanto minimiza os efeitos colaterais indesejados. O cenário imaginado, onde um medicamento é escolhido meticulosamente para alinhar-se à resposta genética de um paciente específico, promete não apenas eficácia, mas segurança no tratamento. Os avanços tecnológicos na genômica desempenham um papel vital nesse progresso. Técnicas como o sequenciamento de nova geração capacitam uma análise aprofundada do perfil genético em tempo recorde. Essa rapidez e precisão são pilares essenciais para a aplicação prática da farmacogenética nos cuidados clínicos, pavimentando o caminho para uma medicina mais precisa e personalizada. Em última análise, a farmacogenética não é apenas uma disciplina científica; é uma promessa de transformação na forma como abordamos a saúde. Ao reconhecer e incorporar as nuances do código genético de cada paciente, os profissionais de saúde estão moldando o futuro da medicina. Este é apenas o início de uma jornada emocionante, repleta de descobertas e promessas, rumo a uma saúde mais personalizada e centrada no paciente. A farmacogenética está liderando o caminho para um futuro onde os tratamentos são não apenas eficazes, mas precisos, seguros e verdadeiramente adaptados a cada indivíduo. 7 4. REFERÊNCIAS 1. ABBOTT, R. et al. Pharmacogenetic decision support tools: a new paradigm for late-life depression?. Am J Geriatr Psychiatry. fev. 2018, v. 26, n. 2, p. 125-133; 2. BARBARINO, J. M.; WHIRL-CARRILLO, M.; ALTMAN, R. B.; KLEIN, T. E. PharmGKB: a worldwide resource for pharmacogenomic information. Wiley Interdiscip Rev Syst Biol Med. 2018. [livro digital antes de ser publicado]; 3. ILTIS-SEARCY, I. Response to the article by Bousman and colleagues: Systematic evaluation of commercial pharmacogenetic testing in psychiatry. Pharmacogenet Genomics. abr. 2018, v. 28, n. 4, p. 107-108; 4. LEFAIVRE, A.; LITINSKI, V.; VANDENHURK, M. Pharmacogenetic testing may improve drug treatments and shorten disability leaves. Benefits Q. 2017, v. 33, n. 1, p. 43-49. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov- /29465186/; 5. BRITO, R. B. (2015). Farmacogenética em Psiquiatria: Influência dos Polimorfismos cyp1a2*1f e cyp2c19*17 na refratariedade ao tratamento à Clozapina e ao Escitalopram. Universidade Federal de Goiás / Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas; 6. METZGER, I. F.; SOUZA-COSTA D. C.; TANUS-SANTOS, J. E. Farmacogenética: Princípios, Aplicações e Perspectivas, simpósio: Farmacogenética 2006. 7. PINHO, J. R. R., SITNIK, R. MANGUEIRA, C. l. p. (2014). Medicina Personalizada e o Laboratório Clínico. Einstein. 8. SILVA, D. K., ANDRADE, F. M. (2007). Farmacogenética de Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina: Uma Revisão - Instituto de Ciências da Saúde, Centro Universitário Feevale, Novo Hamburgo, RS. Acadêmicos¹: Cheila de Souza Fernanda de Camargo Constantino Jhulie Rafaela Dias William da Silva Raimundo 1. INTRODUÇÃO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES