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1 2 Este produto é protegido por direitos autorais e não pode ser comercializado sem a autorização expressa do detentor dos direitos autorais. Qualquer uso não autorizado deste produto é proibido por lei. O autor deste produto detém todos os direitos de propriedade intelectual e não autoriza a reprodução, distribuição ou exibição pública deste produto sem sua permissão por escrito. Qualquer pessoa que deseje utilizar este produto para fins comerciais deve entrar em contato com o autor para obter a autorização necessária. PSICOTERAPIA INFANTIL 3 SOBRE A PROFESSORA Juliana Ribeiro é Psicóloga e ama brincar com sua filha, por isso sua paixão pela psicologia infantil. Nasceu em Gurupi no Tocantins e é casada com Moreno Reis. Se formou em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás em 2011. Seu sonho sempre foi ajudar pessoas por todo o mundo a entenderem suas dificuldades, por isso se especializou em Avaliação Neuropsicológica em 2016 pelo Instituto Brasileiro de Neuropsicologia. Após sua formação iniciou os atendimentos clínicos com adultos e crianças. Depois de se tornar mãe, criou um amor ainda maior pelas crianças, foi nesse momento da maternidade que percebeu que havia poucos profissionais habilitados a trabalhar na clínica infantil, por isso decidiu dedicar toda sua trajetória profissional ao atendimento de crianças. Nas horas vagas gosta de estar em familia, ter experiencias gastronômicas, passear e viajar. Além de incentivar que sua filha Luíza brinque e faça amizades com diversas crianças. Tem como valores o cuidado com a familia e com a fé. 4 SUMÁRIO 1 Os processos iniciais da Psicoterapia Infantil................................................. 7 1.1 A importância da abordagem clínica .............................................................8 1.1.1 TCC......................................................................................................................10 1.1.2 Gestalt-terapia................................................................................................11 1.1.3 Psicodinâmica.................................................................................................11 1.2 Passo a passo da Psicoterapia infantil.......................................................12 1.3 Permissividade e limites na prática clínica..................................................15 1.4 Pontos ao iniciar na Psicoterapia infantil....................................................17 1.5 A alta da terapia....................................................................................................19 2 Técnicas de Psicoterapia Infantil na Clínica....................................................22 2.1 O espaço físico......................................................................................................22 2.2 Os recursos na Psicoterapia (o que não pode faltar).................................23 2.3 Significando o brincar.......................................................................................27 2.4 O desenho...............................................................................................................28 3 Questões na Psicoterapia Infantil.......................................................................31 3.1 Atendimento de irmãos....................................................................................31 3.2 A resistência dos pais.......................................................................................33 3.3 A terapia que não dá certo..............................................................................33 3.4 A terapia que dá certo......................................................................................36 3.5 Quando a criança não quer participar da sessão...................................38 3.6 Quando a criança vem de outra psicoterapia..........................................40 3.7 Mentiras....................................................................................................................41 3.8 Raiva e agressão.................................................................................................43 3.9 Uso de eletrônicos na sessão..........................................................................45 Referências Bibliográficas.......................................................................................46 5 INTRODUÇÃO A psicologia infantil é um campo científico que busca entender como as crianças se desenvolvem de forma cognitiva, emocional, social e comportamental no período que compreende desde a infância até a adolescência. Ela abrange uma ampla gama de tópicos, incluindo aquisição de linguagem, percepção, memória, resolução de problemas, desenvolvimento moral e socialização. O estudo acadêmico deste ramo baseia-se em diversas perspectivas teóricas e metodologias de pesquisa com a finalidade de obter uma compreensão abrangente dos fatores que contribuem para o desenvolvimento das crianças. Uma das áreas-chave de foco na psicologia infantil é a análise de como fatores genéticos, ambientais e culturais interagem para moldar e impactar o desenvolvimento das crianças¹. Por exemplo, pesquisas mostram que fatores genéticos podem influenciar o temperamento, a personalidade e as habilidades cognitivas de uma criança, enquanto fatores ambientais, como o estilo de parentalidade, o status socioeconômico e a exposição ao estresse, podem ter um impacto significativo no desenvolvimento emocional e social das crianças. Outro aspecto importante da psicologia infantil é o estudo das etapas e marcos do desenvolvimento. As crianças passam por diferentes estágios de desenvolvimento, cada um dos quais é caracterizado por mudanças específicas na cognição, emoção e comportamento. Por exemplo, os bebês passam por uma fase de desenvolvimento sensoriomotor, durante a qual desenvolvem habilidades perceptuais e motoras básicas, enquanto as crianças em idade pré-escolar passam por uma fase de pensamento pré-operatório, durante a qual desenvolvem pensamento simbólico e habilidades de linguagem. Os psicoterapeutas infantis utilizam uma variedade de métodos de pesquisa, incluindo estudos observacionais, experimentos e estudos longitudinais, para investigar diferentes aspectos do desenvolvimento infantil. Importante frisar que trabalham não apenas com a criança ou o adolescente que são o paciente, já que é preciso o envolvimento dos adultos que estão na vivência daquela criança, 1 BELSKY, J.; PLUESS, M. The nature (and nurture?) of plasticity in early human development. Perspectives on Psychological Science, v. 4, n. 4, p. 345-351, 2009. 6 como pais, educadores e outros profissionais, para promover um desenvolvimento saudável nas crianças e para lidar com diversos desafios do desenvolvimento, como problemas comportamentais, dificuldades de aprendizagem e questões de saúde mental, dentre outras demandas. 7 PSICOTERAPIA INFANTIL Os processos iniciais da Psicoterapia Infantil O processo de atendimento infantil é muito distinto do trabalho com adultos. Nesta seção, serão abordados os principais pontos da Psicoterapia Infantil. Desde já, é preciso pontuar que trabalhar como psicoterapeuta infantil pode ser gratificante e desafiador. Para trabalhar efetivamente com crianças, os psicólogos devem ter conhecimento sobre desenvolvimento infantil, técnicas de avaliação e intervenções baseadas em evidências e na abordagem escolhida pelo profissional. Segundo algumas pesquisas², existem alguns passos que são desejáveis aos psicólogos que desejam trabalhar com crianças. O primeiro passo é obter a educação e o treinamento necessários. Isso geralmente envolve a conclusão de cursos de desenvolvimento, avaliação e intervenção infantil. Trata-se de um ponto desejado, mas não obrigatório. O segundo passo é a experiência trabalhando com crianças. Isso pode ser feito por meio de estágios, trabalho voluntário ou posições iniciais em clínicasou escolas. Esta experiência oferece uma oportunidade para praticar técnicas de avaliação e intervenção, bem como para desenvolver habilidades importantes, como construção de relacionamento e comunicação. O terceiro passo é manter-se atualizado sobre as últimas pesquisas e práticas baseadas em evidências em psicologia infantil. Isso pode ser feito por meio 1 2 Cf. SOUTHAM-GEROW, M. R., & MAYES, T. L. Effective Child Therapy: Evidence-Based Mental Health Treatment for Children and Adolescents. American Psychologist, 69(9), 854–866, 2014.; e GLASER, D. Child development and evolutionary psychology. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 41(3), 299-312, 2002. 8 da leitura de artigos científicos, participação em conferências e workshops e networking com outros profissionais da área. Finalmente, é importante que os psicólogos que trabalham com crianças estejam cientes das considerações éticas e legais relacionadas ao trabalho com menores. Isso inclui obter o consentimento informado dos pais ou responsáveis legais, manter a confidencialidade e aderir aos padrões profissionais de prática. O atendimento infantil é muito diferente do atendimento de adultos, conforme mencionado. Por isso, é preciso estar inserido no mundo infantil para que se possa, de fato, auxiliar e compor o processo terapêutico das crianças que vão ao consultório. É preciso saber e conhecer dos desejos, necessidades e contextos infantis para que seja um processo efetivo. Por exemplo, é importantíssimo conhecer as referências feitas pela criança sobre desenhos, personagens, brinquedos e vídeos que façam parte do cotidiano infantil. Além do mais, é preciso ter conhecimento sobre teorias que envolvem a criança, como a teoria do desenvolvimento, bem como fixar uma abordagem para seguir com as crianças. No geral, tornar-se um psicólogo que trabalha com crianças requer uma sólida base educacional, experiência prática e desenvolvimento profissional contínuo. Ao dar esses primeiros passos e desenvolvê-los ao longo do tempo, os psicólogos podem fornecer atendimento eficaz e ético às crianças e suas famílias. Como mencionado, a psicologia infantil é um ramo da psicologia que se concentra no desenvolvimento psicológico de crianças desde a infância até a adolescência. Os psicólogos clínicos que trabalham com crianças usam uma variedade de abordagens para ajudar jovens pacientes a superar desafios de saúde mental e alcançar seu potencial máximo. Uma das abordagens mais comuns na psicologia infantil é a abordagem clínica, que enfatiza a importância do diagnóstico, avaliação e tratamento de problemas de saúde mental. Essa abordagem envolve o uso de técnicas baseadas em evidências para compreender o comportamento e o bem-estar emocional de uma criança e desenvolver planos de tratamento eficazes adaptados às necessidades específicas da criança. 1.1 A importância da abordagem clínica 9 Psicólogos clínicos que trabalham com crianças podem usar uma variedade de modalidades de tratamento, como terapia de jogo, terapia cognitivo- comportamental e terapia familiar, para ajudar jovens pacientes a superar uma variedade de desafios de saúde mental, incluindo ansiedade, depressão, TDAH e trauma. Em geral, a abordagem clínica na psicologia infantil é uma ferramenta essencial para ajudar crianças e adolescentes a alcançar seu potencial máximo e levar vidas satisfatórias e saudáveis. Escolher a abordagem clínica é uma parte crítica do trabalho de um psicólogo clínico que trabalha com crianças. A abordagem clínica escolhida deve ser adequada às necessidades específicas de cada paciente e levar em consideração fatores como a idade, o desenvolvimento cognitivo e emocional e a gravidade do problema de saúde mental. Além disso, é importante que o psicólogo esteja atualizado sobre as últimas pesquisas e técnicas disponíveis para cada abordagem clínica, a fim de fornecer o melhor atendimento possível para seus pacientes. Contudo, é preciso também levar em consideração que o psicoterapeuta deve ter a abordagem que segue como padrão, isto é, selecionar a abordagem deve ser um momento anterior ao atendimento. Em termos práticos, não se escolhe abordagem para cada paciente, filia-se a uma abordagem que, a partir de nuances, será utilizada em todos os pacientes. Nesse sentido, é preciso ter em mente que ser psicoterapeuta é uma construção. A abordagem terapêutica escolhida será a sua base, firme e sólida, que guiará sua prática. Quanto mais o psicólogo se aplicar em conhecer e assimilar o básico, maior a chance de expansão de uma forma enriquecedora, produtiva e colaborativa. Por isso, ter um referencial, um livro que de estudo constante e que traga muitas informações, além de grupos de estudo, professores e tutores para estar sempre aprimorando o conhecimento acerca dessa abordagem. O mais importante é ter uma fonte de informação única e unívoca, coerente, que seja o seu referencial para a abordagem; no caso dos livros, se atente para que sejam livros atualizados. Existem várias abordagens clínicas diferentes que um psicólogo clínico pode usar para ajudar crianças e adolescentes a lidar com problemas de saúde mental. A abordagem compreenderá uma noção de homem, de mundo, de saúde, de doença. Será possível, portanto, entender o que está acontecendo com aquela 10 1.1.1 TCC A Terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem orientada para o problema que se concentra em ajudar as crianças a mudar padrões de pensamento e comportamento disfuncionais que podem estar contribuindo para seus problemas de saúde mental. Durante as sessões de terapia, a criança aprende habilidades para lidar com desafios específicos e trabalhar para alcançar seus objetivos. A TCC trabalha com a criança para identificar e modificar padrões de pensamento e comportamento negativos. O terapeuta ajuda a criança a identificar pensamentos automáticos negativos e ensina técnicas para reestruturar esses pensamentos em pensamentos mais positivos e realistas. Também envolve ensinar a criança habilidades de enfrentamento para lidar com situações estressantes e desafiadoras. Esta acaba sendo uma abordagem frequentemente usada em conjunto com outras terapias, como a terapia de exposição para transtornos de ansiedade. A terapia de exposição envolve ajudar a criança a enfrentar seus medos de forma gradual e segura. Por exemplo, uma criança com um transtorno de ansiedade social pode ser exposta a situações sociais que causam ansiedade, como falar em público, para ajudá-la a superar seus medos. Em geral, a TCC é uma abordagem eficaz para tratar uma variedade de problemas de saúde mental em crianças. É importante lembrar que cada criança é única e que o tratamento deve ser adaptado às necessidades individuais da criança. Um psicólogo clínico treinado em TCC pode ajudar a determinar se essa abordagem é a melhor opção para a criança em questão. Alguns livros que podem orientar o estudo dessa abordagem são: Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica, de Aaron T. Beck, Judith S. Beck e John F. Clarkin (Artmed Editora); Terapia Cognitivo-Comportamental para Leigos, de Rhena Branch e Rob Willson (Alta Books); Terapia Cognitivo-Comportamental para Ansiedade e Depressão: Uma Abordagem Prática e Integrada, de Stefan G. Hofmann e Michael W. Otto (Editora Manole). criança e, a partir daí, utilizar as técnicas propostas. Algumas das abordagens clínicas mais comuns são a Terapia Cognitivo Comportamental, a Gestalt-terapia, a psicodinâmica, dentre outras. Aqui, serão abordadas as três mencionadas, de forma breve. 11 1.1.2 Gestalt-terapia A Gestalt-terapia é uma abordagem clínica que se concentra no momento presente e na experiência subjetiva do indivíduo, enfatizando a importância da conexão entre mente, corpo e ambiente. É uma abordagem humanista e holística que enfatiza a capacidade do indivíduo de se autoconhecer e de realizar mudanças positivas em sua vida. Tem por objetivo principalajudar o indivíduo a se tornar mais consciente de suas emoções, comportamentos e padrões de pensamento. O terapeuta trabalha com o cliente para explorar suas experiências presentes, em vez de se concentrar em eventos passados ou futuros. A Gestalt-terapia enfatiza a importância de experiências pessoais diretas e acredita que a exploração dessas experiências pode levar a uma maior autoconsciência e mudança positiva. Para tanto, utiliza várias técnicas terapêuticas, incluindo o uso de diálogo, exercícios de movimento corporal, jogos de papéis e técnicas de imaginação criativa. O terapeuta pode trabalhar com o cliente para explorar suas emoções e comportamentos por meio dessas técnicas, ajudando o cliente a se tornar mais consciente de suas experiências e a desenvolver habilidades para lidar com situações desafiadoras. A Gestalt-terapia tem sido usada com sucesso em crianças com uma variedade de problemas emocionais e comportamentais, incluindo ansiedade, depressão, transtornos alimentares e dificuldades de aprendizagem. A abordagem clínica é adaptada às necessidades individuais de cada criança e é frequentemente usada em combinação com outras abordagens terapêuticas. Alguns livros que podem orientar o estudo dessa abordagem são: Gestalt- terapia: fundamentos e práticas, de Lilian Frazão e Maria José Marinho (Editora Ágora); A Prática da Terapia Gestalt, de Dan Bloom e Carolyn Cleveland (Summus Editorial); Terapia Gestalt: Abordagem Centrada no Aqui e Agora, de Gary Yontef e Lynne Jacobs (Summus Editorial). 1.1.3 Psicodinâmica A psicodinâmica é uma abordagem clínica que se concentra em compreender a dinâmica inconsciente que influencia o comportamento e o pensamento da criança. Essa abordagem é baseada na teoria psicanalítica desenvolvida por Sigmund Freud e alguns estudiosos que seguiram sua abordagem. Nesse sentido, para esta corrente, os comportamentos e pensamentos da criança são influenciados por questões inconscientes, incluindo experiências traumáticas da 12 infância, desejos e impulsos reprimidos, e conflitos internos. Essas forças podem afetar o desenvolvimento emocional da criança e levar a problemas de saúde mental. A psicodinâmica utiliza várias técnicas terapêuticas para ajudar a criança a explorar essas forças inconscientes, incluindo a interpretação de sonhos, a análise do discurso e a livre associação. O objetivo da psicodinâmica é ajudar a criança a se tornar consciente dessas forças inconscientes e a lidar com seus efeitos em sua vida. Uma das técnicas mais comuns usadas na psicodinâmica é a terapia psicanalítica. Essa abordagem envolve sessões de terapia de longo prazo em que a criança é encorajada a explorar seus pensamentos e sentimentos mais profundos. O terapeuta ajuda a criança a identificar padrões em seu pensamento e comportamento e a desenvolver uma compreensão mais profunda de si mesma. Alguns livros que podem orientar o estudo dessa abordagem são: Teoria da Psicanálise, de Sigmund Freud (Companhia das Letras); O Ego e o Id, de Sigmund Freud (Companhia das Letras); sicodinâmica das Cores em Comunicação, de Modesto Farina, Iride Fontana e Jean Pierre Chabloz (Editora Blucher). Em resumo, cada abordagem clínica possui vantagens e desvantagens, e um psicólogo clínico deve estar atualizado sobre as últimas pesquisas e técnicas disponíveis para cada uma delas para fornecer o melhor atendimento possível para seus pacientes. É importante frisar, contudo, que a abordagem do terapeuta não é baseada no senso comum, não é baseada no achismo e não é baseada no julgamento. Toda orientação dada no âmbito do trabalho deve ter como base a teoria e a ética profissional, a partir da abordagem selecionada e sob o jugo clínico. 1.2 Passo a passo da Psicoterapia infantil Com objetivo de auxiliar ao paciente, a criança ou adolescente, a lidar com seus problemas e emoções, e melhorar sua qualidade de vida e bem-estar emocional, é preciso desenvolver um processo terapêutico. Nesta seção, será apresentado um breve passo a passo com as etapas do atendimento infantil. 13 1 Avaliação inicial: o processo terapêutico infantil começa com uma avaliação inicial do psicólogo, que pode envolver entrevistas com os pais ou responsáveis e com a criança, observação do comportamento da criança e avaliação de histórico médico e escolar. Estabelecimento de objetivos: com base na avaliação inicial, o psicólogo estabelece objetivos específicos para o tratamento e discute esses objetivos com os pais ou responsáveis. Estabelecimento de rapport: o psicólogo trabalha para estabelecer um rapport ou conexão terapêutica com a criança, criando um ambiente seguro e confortável e usando técnicas terapêuticas adequadas à idade da criança. Exploração do problema: o psicólogo ajuda a criança a identificar e explorar seus problemas e sentimentos, geralmente através de jogos, brincadeiras e outras atividades adequadas à idade. Intervenção: o psicólogo usa técnicas terapêuticas apropriadas à idade para ajudar a criança a desenvolver habilidades para lidar com seus problemas e sentimentos, incluindo técnicas cognitivo-comportamentais, terapia de jogo e outras abordagens. 2 3 É fundamental lembrar que este processo deve partir da abordagem de escolha do psicoterapeuta e pode envolver várias abordagens clínicas, incluindo a terapia cognitivo-comportamental, a psicodinâmica e a gestalt-terapia. Neste texto, portanto, será explorado o processo terapêutico infantil em mais detalhes, incluindo os passos envolvidos e as abordagens clínicas que podem ser usadas para ajudar crianças a superar seus desafios emocionais e comportamentais. 5 4 14 6 7 8 Colaboração com os pais ou responsáveis: o psicólogo trabalha em colaboração com os pais ou responsáveis da criança para ajudá-los a entender os problemas da criança e fornecer apoio e orientação. Avaliação e ajuste: o psicólogo regularmente avalia o progresso da criança e faz ajustes ao plano de tratamento conforme necessário. Conclusão do tratamento: quando a criança atinge os objetivos estabelecidos e demonstra habilidades para lidar com seus problemas, o tratamento é concluído. O psicólogo pode fornecer orientação para ajudar a prevenir recaídas e encaminhar a criança para serviços de apoio adicionais, se necessário. O processo, portanto, tem início com a avaliação dos adultos que estão envolvidos na vida da criança. É fundamental compreender que os responsáveis pela criança são um elemento integral do processo terapêutico e devem ser mantidos em contato constante com o psicoterapeuta. Portanto, a primeira sessão geralmente é realizada com os adultos responsáveis. Nesse momento, é importante identificar a demanda da família em relação à criança, que, na maioria das vezes, está associada a queixas comportamentais ou emocionais. Nesse sentido, a presença da criança não é necessária nessa primeira sessão, pois as queixas relatadas pelos adultos podem ser compreendidas pela criança como verdades absolutas, podendo prejudicar o processo terapêutico. Assim, recomenda-se que a primeira sessão seja realizada somente com os adultos, comunicando previamente a não participação da criança. No mais, destaque-se que as queixas apresentadas pelas crianças durante o processo terapêutico infantil geralmente se manifestam nas áreas do sono, alimentação e/ou controle do esfíncter, que são consideradas as grandes áreas do desenvolvimento infantil. Diante disso, é necessária uma investigação criteriosa por parte do psicoterapeuta para identificar a origem desses sintomas. É importante que se verifique se a criança já foi avaliada por um médico, como é seu desempenho na 15 escola e como se deu seu desenvolvimento nas áreas afetadas. O psicoterapeuta, por sua vez, trabalha com possibilidades de ação e propõe experimentações, cabendo aos pais a responsabilidade de engajar- se e colocar em prática as recomendações do profissional, o que pode resultar em uma reconfiguração emudança de comportamento. Destaca-se que, em muitos casos, os atendimentos direcionados a crianças menores de seis anos são prioritariamente voltados à orientação parental, resolvendo as demandas a partir de ajustes na rotina. Nesse sentido, o engajamento dos pais é crucial para o sucesso da intervenção. É importante ainda ressaltar que o psicoterapeuta precisa estar disposto a acompanhar a criança em suas brincadeiras, exploração do espaço e sensorialidade, uma vez que o espaço da terapia é um ambiente de experiências, onde a criança tem a oportunidade de vivenciar situações diferentes das que ocorrem fora da sala de terapia. 1.3 Permissividade e limites na prática clínica A permissividade e os limites são temas pertinentes ao campo da psicologia infantil, uma vez que influenciam diretamente o desenvolvimento da criança. A forma como os pais e responsáveis estabelecem limites e regras para a criança pode impactar em diversos aspectos da vida deste paciente, desde o seu comportamento até o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais. Por outro lado, a permissividade em sentido de excesso pode levar a comportamentos impulsivos, falta de disciplina e dificuldade em lidar com frustrações e limites impostos pela vida. Nesse sentido, a psicologia infantil tem como objetivo entender a dinâmica das relações entre pais e filhos, e auxiliar na construção de um ambiente saudável e equilibrado para a criança. Nesta seção, serão abordados os conceitos de permissividade e limite a partir de seus sentidos clínicos. No âmbito da psicoterapia infantil, a concepção de permissividade tem um significado específico: trata-se do desenvolvimento de um espaço de liberdade para a ação da criança. Essa é uma característica que distingue a psicoterapia infanti. O objetivo é criar um ambiente em que o paciente possa se arriscar, dar um passo à frente e comportar-se de maneira diferente do habitual. 16 No contexto clínico, a ideia é criar um espaço terapêutico onde a criança possa sentir-se à vontade para experimentar e expressar livremente seus pensamentos, emoções e comportamentos. Nesse sentido, a refere-se a um ambiente acolhedor e seguro, que propicie a exploração e o desenvolvimento emocional da criança. É importante ressaltar que permissividade não significa falta de limites ou ausência de regras. Na terapia infantil, a permissividade se refere a um ambiente que permite à criança experimentar novas formas de se comportar e se relacionar, dentro de limites estabelecidos pelo terapeuta. Esses limites são importantes para garantir a segurança da criança e para que ela possa se sentir protegida dentro do ambiente terapêutico. O objetivo da permissividade na psicoterapia infantil é permitir que a criança se sinta à vontade para experimentar comportamentos que normalmente não seriam aceitos em outros contextos sociais, sem que haja julgamento ou crítica. Dessa forma, a criança pode explorar seus sentimentos e emoções de forma mais livre e autêntica, e o terapeuta pode observar e compreender melhor as dificuldades e conflitos emocionais que a criança enfrenta. O espaço clínico deve ser um espaço no qual a criança pode reproduzir os comportamentos que apresenta em outros contextos, mas sem as normas e regras impostas nesses ambientes. Assim, ela pode ir até o limite de seus comportamentos e vivenciar o que não experimenta fora daquele ambiente terapêutico. Essa observação dos comportamentos da criança é valiosa para o psicoterapeuta e contribui para o processo terapêutico. Para que essa permissividade seja possível, é importante que o consultório esteja adequadamente adaptado e favoreça a liberdade de ação da criança. Esse ambiente deve ser propício para a experimentação e a expressão dos sentimentos e pensamentos da criança. Dessa forma, a psicoterapia infantil busca promover um espaço seguro e acolhedor para que a criança possa se expressar e se desenvolver emocionalmente. No contexto clínico, a definição de limite envolve a delimitação de regras e normas que ajudam a criança a entender o que é esperado dela e a reconhecer seus próprios limites. Fornecem uma sensação de segurança e ajudam a criança a se sentir protegida. Eles também ajudam a estabelecer expectativas claras para 17 o comportamento e ações da criança, proporcionando um ambiente previsível e organizado. Os limites na terapia infantil são essenciais para criar um ambiente seguro e controlado em que a criança possa explorar e experimentar sem medo. Eles podem incluir coisas como a definição de um horário específico para as sessões, estabelecer regras para o comportamento dentro do consultório, definir expectativas claras sobre as tarefas e atividades que serão realizadas e estabelecer limites sobre o que pode e não pode ser discutido durante a terapia. No entanto, é importante ressaltar que os limites na terapia infantil não devem ser excessivamente rígidos ou restritivos. Eles devem ser flexíveis o suficiente para permitir que a criança explore e experimente, mas firmes o suficiente para manter a criança segura e protegida. Os limites devem ser estabelecidos em conjunto com os pais ou responsáveis da criança e ser adaptados às necessidades individuais da criança e da família. Quando se aborda a questão dos limites, é comum que pais e cuidadores sintam-se confortáveis, uma vez que muitos acreditam que as crianças devem viver sob a imposição de limites. No entanto, na psicoterapia infantil, o limite é estabelecido apenas em situações em que a criança ou seu comportamento violam sua própria integridade ou a integridade do ambiente em que se encontra. Por fim, é fundamental que os limites sejam impostos com possibilidades de outros comportamentos para a ação daquela criança. O desenvolvimento cognitivo não comporta outras experiências que não as vividas, de modo que a criança prescinde que lhe sejam pontuados os novos comportamentos para agir diante do recebimento de um “não”. 1.4 Pontos ao iniciar na Psicoterapia infantil A psicologia infantil é uma área da psicologia que envolve o estudo do desenvolvimento humano desde a infância até a adolescência, com foco nas diversas mudanças e fases que uma criança passa em sua vida. Se um psicólogo deseja se especializar em psicologia infantil, é importante que ele possua 18 conhecimento e habilidades específicas para lidar com a complexidade do desenvolvimento infantil. O primeiro ponto de partida para abordagem infantil é a compreensão de que a criança é um ser em constante desenvolvimento, com necessidades e demandas específicas. É preciso ter um conhecimento aprofundado sobre o desenvolvimento infantil, que inclui aspectos biológicos, cognitivos, emocionais e sociais. É importante ter em mente que o desenvolvimento não ocorre de forma linear, e que a criança pode apresentar diferentes comportamentos em função do seu estágio de desenvolvimento. Uma das primeiras habilidades que um psicólogo deve desenvolver para trabalhar com crianças é a empatia. É essencial que o psicólogo seja capaz de se colocar no lugar da criança para entender seus sentimentos, pensamentos e comportamentos. A empatia também ajuda a construir uma relação de confiança com a criança e seus pais, que é fundamental para um tratamento bem-sucedido. Outra habilidade importante é a capacidade de observação. O psicólogo deve ser capaz de observar a criança em seu ambiente natural, em situações de jogo, escola e família. Isso permite uma compreensão mais completa do comportamento da criança e de como ela interage com o mundo ao seu redor. Além disso, um conhecimento sólido sobre as teorias de desenvolvimento infantil e seus marcos importantes é fundamental para a prática clínica. A compreensão das fases do desenvolvimento infantil, bem como de possíveis atrasos ou transtornos, é crucial para a identificação precoce e o tratamento adequado dessas questões. O psicólogo que trabalha com crianças também deverá compreender que a famíliaé um sistema que influencia diretamente o desenvolvimento da criança, e que a sua colaboração é essencial para que o processo terapêutico seja efetivo. Portanto, a habilidade de se comunicar de forma clara e empática com os pais ou cuidadores da criança é fundamental para estabelecer uma relação de confiança e colaboração. Além disso, o trabalho em equipe com a família da criança envolve o 19 compartilhamento de informações relevantes sobre o desenvolvimento da criança, a identificação de problemas e desafios, e a elaboração de estratégias para enfrentá-los. O psicólogo pode contribuir com orientações e sugestões para a família, de forma a auxiliá-los na promoção do desenvolvimento da criança. É importante que o psicólogo também esteja atento às dinâmicas familiares, identificando possíveis conflitos e problemas que possam estar afetando o desenvolvimento da criança. Nesse sentido, o trabalho em equipe com outros profissionais de saúde, como médicos e assistentes sociais, pode ser extremamente benéfico para promover uma abordagem mais integrada e eficaz. Por fim, o psicólogo deve possuir habilidades de comunicação e trabalhar com a família da criança. Os pais ou cuidadores desempenham um papel crucial na vida da criança e, portanto, é importante que o psicólogo saiba como se comunicar de forma eficaz e trabalhar em parceria com a família para alcançar os objetivos do tratamento. Em resumo, para se tornar um psicólogo especializado em psicologia infantil, é necessário desenvolver habilidades específicas, como empatia, observação, conhecimento sobre teorias de desenvolvimento infantil e habilidades de comunicação e trabalho em equipe com a família da criança. Essas habilidades são fundamentais para entender, avaliar e tratar questões relacionadas ao desenvolvimento infantil. 1.5 A alta da terapia O processo de alta terapêutica na psicoterapia infantil é um momento crucial que representa o fim da intervenção terapêutica e marca a transição da criança para a vida saudável fora do consultório. O processo de alta deve ser feito de forma cuidadosa, respeitando o paciente. Note-se: a alta é proveniente do paciente e não um plano do terapeuta. Deve-se, contudo, se assegurar de que a criança esteja pronta para enfrentar os desafios que virão pela frente. Um dos principais aspectos a serem considerados durante o processo de alta terapêutica é a avaliação do progresso da criança ao longo do tratamento. O psicólogo deve avaliar se a criança atingiu os objetivos terapêuticos estabelecidos, 20 se houve mudanças significativas em seu comportamento e se a criança adquiriu habilidades para lidar com situações desafiadoras fora do contexto terapêutico. Caso ainda haja questões não resolvidas, é importante discuti-las com o paciente e com a família e avaliar a necessidade de continuar o tratamento ou encaminhar para outros profissionais. Outro aspecto importante é a preparação da criança para a transição para a vida fora da terapia. O psicólogo deve ajudar a criança a se sentir confiante e segura para lidar com situações desafiadoras que possam surgir após a alta. Para isso, é importante que o psicólogo trabalhe com a criança e sua família na elaboração de estratégias que possam ser utilizadas em situações reais. A comunicação com a família é um aspecto crucial no processo de alta terapêutica. O psicólogo deve estar em contato próximo com os pais ou responsáveis pela criança, fornecendo informações sobre o progresso da terapia e discutindo quaisquer preocupações ou questões que possam surgir. É importante que a família também seja envolvida no processo de alta, entendendo o que foi alcançado e o que precisa ser continuado em casa. Por fim, é importante que o processo de alta terapêutica seja abordado de forma cuidadosa e sensível, permitindo que a criança compreenda o que está acontecendo e sinta-se segura em relação ao seu futuro. É essencial que a criança se sinta empoderada e confiante para lidar com as situações desafiadoras que possam surgir. É importante ressaltar que a alta terapêutica na psicoterapia infantil não deve ser definida apenas pelo julgamento do psicoterapeuta sobre o estado do paciente. De acordo com a abordagem da Gestalt Terapia, o psicoterapeuta deve acompanhar o paciente de modo a considerar a percepção dele como um fator determinante para a definição da alta. A escolha da abordagem terapêutica também é fundamental para a convenção da alta. No entanto, é importante destacar que não existe uma fórmula única ou um manual que oriente a definição do processo de alta. Cada paciente é único e, portanto, o trabalho do psicoterapeuta é caminhar lado a lado com ele, respeitando seu tempo e funcionamento. É por isso que a alta também pode ser um processo e 21 deve ser discutida em sessão, com a participação ativa do paciente. Nesse sentido, cabe ao psicólogo identificar tudo o que envolve essa alta, incluindo questões emocionais, comportamentais e sociais, a fim de garantir um encerramento adequado do processo terapêutico. Em conclusão, o processo de alta terapêutica na psicoterapia infantil é uma etapa crucial e deve ser cuidadosamente planejado e executado. O psicólogo deve avaliar o progresso da criança ao longo do tratamento, prepará-la para a transição para a vida fora da terapia e manter uma comunicação aberta com a família. O objetivo final é permitir que a criança se sinta segura e empoderada para lidar com os desafios que virão pela frente. 22 Técnicas de Psicoterapia Infantil na Clínica A psicoterapia infantil envolve a utilização de técnicas específicas que levam em consideração as particularidades do desenvolvimento infantil. O uso de recursos estruturados e não estruturados, bem como a criação de um ambiente físico adequado, são essenciais para garantir a eficácia do processo terapêutico. O espaço físico onde ocorrem as sessões de psicoterapia infantil deve ser acolhedor e agradável para a criança. É importante que o ambiente seja seguro e confortável, com elementos que favoreçam a expressão da criança e estimulem sua criatividade. A utilização de brinquedos, jogos, desenhos, pinturas e outras atividades lúdicas são exemplos de recursos não estruturados que podem ser utilizados para facilitar a comunicação e expressão da criança durante as sessões. Além disso, os recursos estruturados também podem ser aplicados na psicoterapia infantil, dependendo das necessidades e objetivos do tratamento. Essas técnicas são baseadas em uma abordagem mais estruturada e sistemática, que pode ser eficaz no tratamento de questões específicas, como transtornos de ansiedade e comportamento agressivo. Em resumo, a escolha das técnicas a serem utilizadas na psicoterapia infantil deve ser feita de forma cuidadosa e adaptada às necessidades de cada criança. A criação de um ambiente físico acolhedor e o uso de recursos estruturados e não estruturados são fundamentais para garantir a eficácia do processo terapêutico. Nesta seção, abordaremos mais sobre esses tópicos. 2 2.1 O espaço físico A escolha do espaço físico é uma das etapas mais importantes no processo de psicoterapia infantil. É preciso que o ambiente seja seguro e acolhedor para a criança se sentir à vontade e desenvolver uma relação de confiança com o terapeuta. É importante levar em consideração fatores como a privacidade, a iluminação, a ventilação e o conforto do ambiente. A sala deve ser silenciosa e livre de distrações, para que a criança possa se concentrar na terapia. A mobília deve 23 ser adequada ao tamanho e à idade da criança, e deve ser disposta de forma que permita a criação de um ambiente agradável e seguro. Um layout adequado da sala pode contribuir para a interação e comunicação entre a criança e o terapeuta. Por exemplo, a disposição de cadeiras em círculo pode facilitar o diálogo entre a criança e o terapeuta. Além disso, o uso de recursos não estruturados, como brinquedos e jogos, pode ajudar a criança a seexpressar e a se comunicar de forma lúdica e natural. A segurança também é um fator crucial na escolha do espaço físico para a psicoterapia infantil. É preciso que o ambiente seja seguro e livre de objetos que possam representar um risco para a criança. É importante verificar se todas as janelas e portas estão seguras e trancadas, e se o ambiente está livre de fios e objetos cortantes. O papel do espaço físico na psicoterapia infantil é fundamental para o desenvolvimento do vínculo entre a criança e o terapeuta. Um ambiente acolhedor e seguro permite que a criança se sinta à vontade para expressar seus pensamentos e emoções. Além disso, a escolha cuidadosa do espaço físico pode contribuir para o processo terapêutico e, como consequência, para o desenvolvimento saudável da criança. Em conclusão, a escolha do espaço físico na psicoterapia infantil é uma etapa crucial e deve ser feita com cuidado e atenção. É necessário levar em consideração fatores como a privacidade, iluminação, ventilação, conforto, mobílias, layout, segurança e papel do espaço na terapia infantil. Um ambiente acolhedor e seguro pode contribuir para o desenvolvimento saudável da criança e para o sucesso da terapia. 2.2 Os recursos na Psicoterapia (o que não pode faltar) Inicialmente, é imprescindível priorizar a segurança do paciente, especialmente no que diz respeito ao ambiente e aos recursos disponíveis. É importante ter em mente que os limites impostos à criança estão diretamente relacionados à sua integridade física, razão pela qual o consultório deve ser um espaço que garanta 24 a segurança da criança e que permita a imposição de limites factíveis. Nesse sentido, investir em materiais de qualidade é crucial, uma vez que estes não devem ser facilmente danificados ou possuir peças pequenas que possam ser engolidas. Além disso, os materiais têxteis devem ser higienizados adequadamente, a fim de evitar a transmissão de doenças ou infecções. A princípio, é fundamental que as crianças aprendam a utilizar os recursos disponíveis para criar soluções e possibilidades. É importante salientar que os recursos devem ser simples e de fácil manipulação e transformação, permitindo que as crianças expressem seus sentimentos, sensações e possibilidades de transformação. As crianças precisam estar em contato com suas sensações corporais e vivências sensoriais, conforme preconizado pela Gestalt Terapia. Os recursos não estruturados são especialmente úteis nesse sentido, já que permitem que as crianças desenvolvam essas habilidades sensoriais. É importante ressaltar que muitos dos brinquedos oferecidos atualmente às crianças, especialmente os eletrônicos, afastam-nas dessas experiências corporais e sensoriais, já que as interações são rápidas e não permitem que as crianças experimentem e sintam as sensações. Por fim, cabe destacar que não é papel do psicoterapeuta estabelecer um plano de brincadeiras para cada criança. Ao invés disso, deve-se respeitar as escolhas da criança em relação às brincadeiras que serão realizadas em cada sessão. É importante salientar que uma marca de saúde relevante é a capacidade da criança de utilizar brinquedos estruturados sem prejudicar a integridade do objeto. Os recursos utilizados na psicoterapia infantil são de extrema importância para o processo terapêutico, tendo em vista que proporcionam um ambiente seguro e adequado para que a criança possa expressar suas emoções e pensamentos. Além disso, os recursos também ajudam a desenvolver habilidades e competências necessárias para o desenvolvimento saudável da criança. A escolha dos recursos deve levar em consideração a idade e o estágio de 25 desenvolvimento dos pacientes. Existem dois tipos de recursos: estruturados, como brinquedos, jogos e materiais artísticos, ou não estruturados, como o ambiente físico e a relação com o terapeuta. Os recursos estruturados são aqueles materiais que são utilizados de forma organizada e predefinida na terapia, tendo uma função específica para o processo terapêutico. Eles ajudam a manter a organização, a facilitar a compreensão e a comunicação, além de ajudar a identificar os objetivos terapêuticos. Entre os recursos estruturados mais comuns utilizados na psicoterapia infantil, podemos citar os jogos, brinquedos, desenhos, histórias, música, objetos de arte, dentre outros. Cada recurso tem uma função específica e pode ser escolhido de acordo com a demanda e a idade da criança. Por exemplo, os jogos são muito utilizados em terapia infantil, pois permitem que a criança se expresse de forma lúdica e divertida, enquanto desenvolve habilidades sociais, emocionais e cognitivas. Já os desenhos são frequentemente utilizados como uma forma de expressão, permitindo que a criança mostre seus sentimentos e pensamentos de uma forma visual. As histórias também são uma ferramenta importante, permitindo que a criança se identifique com personagens e situações, facilitando o entendimento e a resolução de problemas. Além disso, os recursos estruturados podem ser utilizados em conjunto, criando uma sequência de atividades que ajudam a alcançar os objetivos terapêuticos. O psicoterapeuta pode selecionar e organizar os recursos de acordo com a necessidade e o perfil de cada paciente. No entanto, é importante destacar que a escolha e a utilização dos recursos estruturados devem ser realizadas com cautela, pois cada criança tem suas particularidades e necessidades específicas. O terapeuta deve estar atento às respostas e reações da criança durante o uso dos recursos, adaptando-os sempre que necessário. Em resumo, os recursos estruturados são uma ferramenta importante na psicoterapia infantil, auxiliando no processo terapêutico de forma organizada e lúdica. Cada recurso tem uma função específica e deve ser utilizado de forma 26 adequada, sempre respeitando as particularidades e necessidades de cada criança. Além dos recursos estruturados, os recursos não estruturados também desempenham um papel importante na psicoterapia infantil. Os recursos não estruturados são aqueles que não possuem uma forma definida, não possuem um manual de instruções e não têm um uso específico. Eles podem ser qualquer objeto ou material que permita à criança expressar-se livremente, explorar sua criatividade e imaginação, e estabelecer uma relação mais próxima e afetuosa com o terapeuta. Entre os recursos não estruturados mais utilizados na psicoterapia infantil, podemos citar materiais artísticos (lápis de cor, tintas, massinha de modelar, argila, papel, entre outros); fantoches e marionetes, que permitem que a criança crie personagens e histórias, e que explore emoções e conflitos através desses personagens; instrumentos musicais, dado que a música pode ser uma forma lúdica de comunicação e expressão emocional, além de estimular a coordenação motora e a percepção auditiva da criança; e, em destaque, as sucatas. As sucatas, também conhecidas como materiais recicláveis, podem ser uma excelente opção de recurso não estruturado na psicoterapia infantil. Estes materiais, que muitas vezes são descartados sem qualquer utilidade, podem se tornar ferramentas importantes para a expressão e comunicação da criança. Na terapia infantil, o uso de sucadas pode permitir que a criança experimente novas formas de criação e expressão. Ao brincar com esses materiais, ela pode explorar diferentes texturas, formas, cores e sensações, o que pode estimular a criatividade e a imaginação. Além disso, sucatas podem ser utilizadas para promover a comunicação não- verbal entre a criança e o terapeuta. Através da manipulação desses materiais, a criança pode expressar suas emoções e pensamentos sem a necessidade de falar. O terapeuta pode então interpretar e refletir sobre o que foi comunicado pela criança, criando um espaço de compreensão e empatia. O uso de sucadas na psicoterapia infantil também pode ajudar a criança a desenvolver habilidades cognitivas, motoras e sociais.27 O terapeuta deve estar preparado para lidar com os recursos não estruturados de forma adequada, permitindo à criança explorá-los livremente, sem julgamentos ou interferências desnecessárias. O terapeuta pode usar os recursos não estruturados como forma de estimular a imaginação e a criatividade da criança, e de criar um ambiente acolhedor e seguro para o desenvolvimento do processo terapêutico. Em suma, os recursos não estruturados são uma importante ferramenta na psicoterapia infantil, permitindo à criança explorar suas emoções e conflitos de forma lúdica e criativa, e estabelecer uma relação mais próxima e afetuosa com o terapeuta. O uso adequado desses recursos pode contribuir significativamente para o sucesso do processo terapêutico. O espaço físico da sala de terapia também é um recurso importante na psicoterapia infantil. O ambiente deve ser acolhedor, seguro e confortável, de forma a facilitar a expressão dos sentimentos da criança. O layout da sala também é importante, com a disposição dos móveis e materiais de forma a criar um ambiente agradável e adequado para a criança. Além disso, a segurança é um aspecto importante a ser considerado na escolha dos recursos. Os materiais utilizados devem ser seguros e apropriados para a faixa etária da criança. É importante também que o terapeuta esteja atento à segurança da criança durante o uso dos recursos, prevenindo possíveis acidentes. Por fim, é importante destacar que os recursos na psicoterapia infantil são importantes para a criação de um ambiente adequado para a expressão de emoções e pensamentos da criança. A escolha dos recursos deve ser cuidadosa e considerar o estágio de desenvolvimento e as necessidades individuais da criança. O terapeuta deve estar atento ao uso dos recursos durante o tratamento e adaptá- los às necessidades da criança ao longo do processo terapêutico. 2.3 Significando o brincar A brincadeira é uma atividade natural para as crianças e, como tal, é uma forma importante de comunicação e expressão na terapia infantil. Ao brincar, a 28 2.4 O desenho O desenho é uma das principais formas de expressão utilizadas na psicoterapia infantil. Por meio do desenho, a criança pode comunicar sentimentos, emoções e experiências que muitas vezes não consegue verbalizar. Além disso, pode ser uma forma lúdica e criativa de trabalhar questões emocionais e comportamentais. No ambiente terapêutico, é utilizado de diversas maneiras. Pode ser que a criança desenhe livremente, sem nenhum tema específico, apenas expressando o que está sentindo naquele momento, como também como uma forma de registro da evolução do tratamento, comparando desenhos feitos em diferentes momentos. Ademais, o desenho pode ser uma forma de explorar traumas, medos e situações difíceis que a criança possa estar enfrentando. Através do desenho, a criança pode representar simbolicamente suas experiências e emoções, o que muitas vezes é mais fácil do que verbalizar diretamente. Outra forma de utilizar na criança pode se comunicar com o terapeuta sem se sentir pressionada ou julgada, permitindo que sentimentos e pensamentos difíceis de expressar verbalmente sejam revelados por meio de ações e brincadeiras simbólicas. Na terapia infantil, o terapeuta utiliza a brincadeira como uma forma de compreender a perspectiva da criança e entender seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Por meio da observação atenta da brincadeira, o terapeuta pode aprender sobre o mundo interno da criança e explorar suas necessidades emocionais não atendidas, seus medos e preocupações. A abordagem escolhida pelo psicoterapeuta tem um papel crucial na interpretação e problematização da brincadeira infantil, que é um importante elemento no processo terapêutico. Nesse sentido, é imprescindível que o psicoterapeuta tenha um suporte teórico e técnico adequado para compreender o significado do ato de brincar na terapia. Algumas enfatizam a importância do psicólogo acompanhar a brincadeira, buscando dar sentido às ações da criança. Essas abordagens possuem mapeadas brincadeiras e interpretações inerentes a elas. Por outro lado, outras permitem que o significado da brincadeira seja explorado ao longo das sessões, como é o caso da Gestalt Terapia. 29 psicoterapia infantil é por meio de atividades específicas, como jogos de desenho, criação de histórias em quadrinhos ou mandalas. Essas atividades podem ser uma forma divertida e criativa de trabalhar questões específicas, como ansiedade, dificuldades de relacionamento ou problemas comportamentais. O desenho exprime as formas fazendo que a criança utilize funções que muitas vezes estavam bloqueadas/escondidas. Sabe-se que a principal linguagem da criança é a não verbal e o desenho é, também, uma forma da criança se expressar e mostrar o que nem ela viu que estava guardado dentro dela (já que pode ser que, mesmo com desenhos na escola, tenha predefinições para o desenho). No ambiente clínico, tem significado próprio, promovendo a possibilidade da projeção, a forma como o ser humano tem de colocar no mundo algo que ele experimenta, algo da sua vivência, sem necessariamente perceber que aquilo é dele. Durante o processo terapêutico, é comum que o paciente tome consciência de questões emocionais e comportamentais que estavam ocultas ou reprimidas. O uso do desenho pode ser uma forma efetiva de facilitar essa tomada de consciência, permitindo que o paciente se expresse de forma simbólica e não verbal. Uma vez que o paciente tenha tomado consciência do tema abordado, é importante avaliar se ele está preparado para lidar com essa questão de forma saudável. Nesse momento, o terapeuta pode orientar o paciente a se apropriar novamente do que foi desenhado, agora de forma mais consciente e saudável. Com o auxílio do terapeuta, o paciente pode refletir sobre o que foi desenhado, avaliando seus sentimentos, emoções e comportamentos em relação ao tema. Esse processo pode ajudar o paciente a encontrar novas formas de lidar com a questão, permitindo que ele transmita essa nova conduta saudável em suas relações fora do ambiente terapêutico. Por fim, é importante destacar que o desenho não é utilizado como uma forma de diagnóstico, mas sim como uma ferramenta terapêutica. O terapeuta infantil não busca interpretar o desenho de forma literal, mas sim entender o que ele representa simbolicamente para a criança. Como psicoterapeuta, é importante evitar fazer julgamentos sobre o que é um desenho correto ou incorreto, já que 30 essa postura pode limitar o processo terapêutico do paciente. Em vez disso, a abordagem deve ser descritiva, sem dar explicações ou interpretações antes da própria explicação do paciente. A hipótese do terapeuta pode ser diferente da intenção inicial do paciente, o que pode levar a uma compreensão inadequada do desenho e do sentido que o paciente atribuiu a ele. Durante o processo de desenho, é fundamental observar e acompanhar o paciente sem fazer inferências sobre o que ele deveria fazer ou não fazer. É possível mapear vários comportamentos nesse processo, como a tendência de uma criança a tremer, apertar o lápis com mais força ou apagar constantemente. Em resumo, o desenho é uma importante ferramenta utilizada na psicoterapia infantil, permitindo que a criança se expresse de forma lúdica e criativa. É uma forma de comunicação não verbal que pode ajudar no tratamento de questões emocionais e comportamentais. Sempre que se fala de desenho, acredita-se que eles precisam ser estruturados. Não é o caso. Os desenhos abstratos são chamados representações gráficas. Essa é uma forma riquíssima de trabalhar a imaginação, o lúdico, com a transformação do convencional. Outro tipo de contribuição é a utilização da técnica do rabisco. Durante a sessão, a criança é convidada a desenhar livremente, com olhos fechados, sem se preocupar com o resultado final ou a precisão do desenho. A partir desse momento, é incentivada a busca por padrões dentrodo que foi desenhado e desenvolvidos assuntos a partir dali. 31 Questões na Psicoterapia Infantil 3 3.1 Atendimento de irmãos Não há uma resposta objetiva quanto à possibilidade de atender a um irmão em sessões de psicoterapia. Uma família pode ter diversos motivos para solicitar atendimento a um irmão, e a resposta do psicoterapeuta deve levar em consideração as individualidades de cada situação. Uma resposta objetiva, sendo ela «sim» ou «não», poderia ignorar ou eliminar a complexidade das situações que envolvem cada irmão. Para analisar a demanda em relação à criança e entender a razão do atendimento ao outro irmão, é fundamental considerar as particularidades de cada caso. Se a solicitação for feita, por exemplo, por uma questão de comodidade com a família, talvez a resposta deva ser «não», uma vez que a questão do estresse ou do trânsito não deve ser o motivo central para o atendimento, mas sim a necessidade terapêutica da criança em questão. É importante ressaltar que, embora sejam irmãos, cada um é uma pessoa única, com vivências próprias e distintas. Assim, é necessário que a história da segunda criança seja contada novamente, mesmo que seja ao mesmo psicoterapeuta, e que não se deva tratar o atendimento do segundo irmão como um acompanhamento do primeiro. A psicoterapia não deve ser vista como uma atividade extracurricular, mas sim como um processo terapêutico individualizado, no qual se busca entender e tratar as questões específicas de cada criança. Assim, não é adequado sugerir que um filho precise fazer terapia apenas porque o outro já está fazendo. Cada criança deve ser vista como única, com necessidades e dificuldades próprias, e os pais devem compreender que o atendimento terapêutico é uma oportunidade para a criança receber ajuda em relação às suas questões específicas. Caso a individualidade dos filhos não seja respeitada, pode ser necessário que o segundo irmão seja atendido por outro psicoterapeuta. É responsabilidade do psicoterapeuta orientar os pais nesse sentido, 32 de forma a garantir a efetividade do tratamento e o respeito às particularidades de cada criança. Ao se considerar o aceite do atendimento por conforto pessoal do psicólogo, é importante levar em conta o impacto que essa decisão pode ter no processo terapêutico das crianças. Em primeiro lugar, atender irmãos juntos pode contribuir para a não diferenciação entre eles, o que pode ser prejudicial para o desenvolvimento individual de cada um. Isso pode ocorrer porque as intervenções podem ser afetadas pelos discursos dos irmãos, e pode suscitar nas crianças a insegurança sobre o que foi compartilhado ou a intenção de informações para prejudicar um ao outro. Como resultado, a confiança e o sigilo ficam afetados. Por outro lado, é possível que o comportamento dos irmãos em busca de atendimento conjunto seja uma demanda genuína. Nesses casos, o psicoterapeuta deve prestar atenção especial para garantir que o processo terapêutico de cada criança seja respeitado e que a diferenciação seja incentivada. Além disso, um critério positivo para o atendimento de irmãos é a indisponibilidade de outros profissionais na região. Se for uma questão mais restrita e não houver outro profissional disponível, pode ser justificável atender os irmãos juntos. No entanto, é preciso verificar se há outras opções de atendimento para essas crianças e avaliar o custo-benefício do atendimento conjunto em termos de saúde mental. De acordo com o Código de Ética Profissional do Psicólogo, o psicoterapeuta deve respeitar os direitos e interesses dos pacientes, bem como sua autonomia e privacidade. Portanto, é fundamental avaliar cuidadosamente as implicações do atendimento conjunto de irmãos antes de tomar uma decisão final. Para isso, é importante consultar fontes acadêmicas confiáveis e considerar as melhores práticas em relação ao atendimento de irmãos em terapia. 3.2 A resistência dos pais A decisão de levar uma criança para a psicoterapia muitas vezes é motivada por um comportamento que os pais ou outro profissional consideram inadequado. 33 No entanto, é importante ressaltar que a criança pode estar apresentando determinados comportamentos em função das relações que ela estabelece. Nesse sentido, é papel do psicoterapeuta identificar essas relações e apresentar aos pais que não se trata de um comportamento isolado, mas sim de um padrão de comportamento que reflete a dinâmica familiar. Ao realizar a psicoterapia com a criança, o psicoterapeuta deve ir além de determinado diagnóstico médico e analisar as relações que a criança nutre a partir dele. É fundamental que os pais participem ativamente do processo terapêutico, impondo limites, mudando comportamentos e engajando-se na psicoterapia. Esse processo pode ser difícil para os pais, pois muitas vezes envolve assumir responsabilidades e mudar comportamentos que estão profundamente enraizados na dinâmica familiar. Nesse contexto, é importante que o psicoterapeuta seja empático e delicado, mas também responsabilize os pais e cuidadores pelo processo terapêutico. Isso pode envolver uma resistência inicial por parte da família, mas é fundamental que o psicoterapeuta não assuma o papel de sedutor ou persuasor. Em vez disso, é preciso acolher a família e depois responsabilizá-la pela mudança de comportamento e pelo engajamento no processo terapêutico. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), a psicoterapia infantil deve ser orientada para a compreensão do comportamento da criança em seu contexto social, cultural e familiar. O CFP destaca ainda que é importante estabelecer uma relação de confiança com a criança e sua família, respeitando sua autonomia e promovendo a participação ativa dos pais no processo terapêutico. 3.3 A terapia que não dá certo A psicoterapia infantil é um processo que pode ser desafiador tanto para a criança quanto para a família. É comum que haja dificuldades e obstáculos ao longo do caminho, e é importante que o psicoterapeuta esteja preparado para lidar com eles de forma sensível e eficaz. Uma das questões mais frequentes na psicoterapia infantil é a percepção da família de que a terapia não está funcionando. Isso pode ocorrer por diversos 34 motivos, como falta de informação sobre o processo terapêutico, expectativas irrealistas ou até mesmo resistência à mudança. É importante que o psicoterapeuta esteja atento a esses sinais e saiba mediar as expectativas da família desde o primeiro contato. Além disso, é imprescindível que o psicoterapeuta tenha um contrato terapêutico claro e bem definido com a família. Esse contrato deve conter informações sobre como funciona o trabalho do psicoterapeuta, as expectativas do processo terapêutico, a importância do engajamento familiar e quaisquer outras informações relevantes para a compreensão do processo. Outro ponto importante é o engajamento familiar. Os pais e outros adultos que cercam a criança desempenham um papel crucial no processo terapêutico, e é fundamental que estejam engajados e comprometidos com o processo. O psicoterapeuta deve deixar claro para a família que a assiduidade é fundamental e que não pode haver faltas que comprometam o processo. A interrupção abrupta da psicoterapia é outro ponto comum na terapia infantil. Muitas famílias simplesmente abandonam o processo terapêutico, muitas vezes por acreditarem que a terapia não está funcionando. É importante que o psicoterapeuta esteja atento a esses sinais e saiba lidar com a situação de forma adequada, procurando entender as razões por trás da interrupção e trabalhando para retomar o processo, se possível. Além disso, é importante que o psicoterapeuta esteja sempre avaliando e autoavaliando o processo terapêutico com a criança. É possível que surjam problemas ou obstáculos no processo que precisem ser abordados de forma mais direta, e é fundamental que o psicoterapeuta esteja atento a esses sinais e saiba como lidar com eles de formaeficaz. É importante lembrar que a psicoterapia infantil pode ser um processo longo e desafiador, mas também pode trazer muitos benefícios para a criança e para a família. É importante que o psicoterapeuta esteja sempre atento às necessidades da criança e da família, e que saiba lidar com as dificuldades e obstáculos que possam surgir ao longo do caminho. 35 O processo terapêutico pode gerar mudanças de comportamento na criança, muitas vezes vistas pelos pais como piora, e é comum que o tratamento seja interrompido devido a essa percepção. No entanto, é importante que o psicoterapeuta esteja atento às demandas e queixas da família desde o primeiro contato, buscando entender as expectativas e definir os papéis de cada um. A escuta e a anamnese são fundamentais para identificar as dores da família e verificar se o psicoterapeuta poderá resolvê-las. No momento do esclarecimento sobre o processo terapêutico, o psicoterapeuta deve informar como o trabalho será conduzido e o que esperar dele, bem como a importância do engajamento familiar, que é fundamental para o sucesso do tratamento. É importante esclarecer que os pais não têm voz sobre o processo terapêutico e que tudo deve estar definido anteriormente no contrato terapêutico. O comportamento dos pais com o psicoterapeuta pode ser um reflexo do comportamento que têm com os filhos, e muitas vezes as queixas são reflexo de comportamentos dos responsáveis. Por isso, o esclarecimento sobre o papel do psicoterapeuta e da família é um momento de escolha sobre a manutenção do processo terapêutico. As famílias que não se engajam com o processo terapêutico não serão transformadas. Quando há problemas com o processo da criança, como a falta de melhora, pode ser uma questão de percepção da família ou um problema de relação com o psicoterapeuta. Por isso, é fundamental avaliar e autoavaliar o processo de psicoterapia com o paciente, verificando se foram feitas todas as intervenções necessárias e se todas as partes envolvidas foram devidamente incluídas no processo. Quanto às mudanças de comportamento da criança, como o aumento do comportamento da demanda ou novos comportamentos-problema, é importante entender e investigar o que está mantendo a família e a criança naquele sintoma. Muitas vezes, esses comportamentos são sintomas de melhora, mas podem chocar com um ecossistema disfuncional da família. É necessário interromper o ciclo doentio por completo, responsabilizando os pais e mostrando o papel de cada um. 36 3.4 A terapia que dá certo O acompanhamento das transformações do paciente, dando suporte, acolhimento e direcionamento solicitados pelo paciente é fundamental para a alta terapêutica. Por isso, é preciso refletir: quais os critérios de sucesso do atendimento? É preciso ter muita sensibilidade na hora de definir os objetivos do atendimento e as métricas de sucesso. É preciso ter em mente que os psicoterapeutas não transformam – eles escutam e acolhem para que seja dada a esta pessoa uma relação que ela não tem em nenhum outro lugar. O paciente não é colocado dentro de um modelo correto; ao contrário, ele é respeitado da forma como chega e está e encontra- se, em conjunto psicoterapeuta-paciente, uma forma para que o comportamento problema seja superado e não seja repetido. Como referência do “correto” usa-se o próprio paciente, a própria criança. O estabelecimento do propósito do processo terapêutico, de como acontecerá a transformação deste paciente, deve ser feito em conjunto; não é o psicoterapeuta que definirá o padrão para o sucesso deste processo. Quando o paciente chega na terapia com um diagnóstico, esse diagnóstico será observado na totalidade do paciente – sendo observadas as manifestações do diagnóstico nas relações e comportamentos do paciente. Em casos de queixa de não haver melhora ou piora, o psicoterapeuta deve refinar a sensibilidade do olhar para verificar o que está impedindo esse processo de melhora. É preciso estar próximo à família para, inclusive, orientar o acompanhamento de outras áreas, como escola ou profissionais de saúde. É importante salientar que o sucesso da terapia depende do engajamento da família e de um trabalho conjunto entre todos os envolvidos. Por fim, é importante ressaltar que a psicoterapia infantil deve ser conduzida por profissionais qualificados e experientes na área. É importante que o psicoterapeuta tenha formação e experiência na área da psicoterapia infantil, e que esteja sempre atualizado com as melhores práticas e técnicas disponíveis. 37 A manifestação de um diagnóstico será conforme o contexto dessa criança. O objetivo, no caso de pacientes com diagnóstico, é acompanhar a melhor forma expressa por ele de lidar com os contextos e relações por ele estabelecidas. As intervenções serão no sentido da busca por uma vivência funcional, por uma vivência harmoniza apesar do diagnóstico. Ainda dentro dos objetivos, é preciso ter a consciência de que o psicoterapeuta é, sim, um prestador de serviço – embora não sejam exclusivamente prestadores, já que não é a família que determina o que será tratado. São as particularidades que devem ser pontuadas na primeira sessão e, inclusive, no contrato. O objetivo da psicoterapia não é o psicólogo dar conta de algo e sim o cliente dar conta dele mesmo. Não deve ser avaliado se o psicoterapeuta dará conta de cessar um comportamento problema, por exemplo, mas sim o paciente dar conta dele mesmo diante do que é apresentado. Cabe ao psicoterapeuta pontuar, descrever, comportamentos saudáveis que o paciente está desenvolvendo. O paciente precisa se dar conta que não é mais a pessoa que insiste em ser, ainda que ele já haja de outra forma. Também é critério de sucesso poder descrever os comportamentos saudáveis, quebrando ciclos ou padrões de comportamento do paciente. O critério é o paciente atingir o grau de integração que facilite o seu próprio desenvolvimento. Para que o paciente possa atingir esse grau de integração, é necessário que haja um ambiente terapêutico seguro e acolhedor. O psicoterapeuta deve estar presente e atento às necessidades do paciente, sempre mantendo uma postura de respeito e empatia. É importante que o paciente se sinta ouvido e compreendido em suas demandas e angústias, para que possa estabelecer uma relação de confiança com o terapeuta. Além disso, é fundamental que o psicoterapeuta esteja preparado para lidar com a diversidade de demandas e necessidades que podem surgir durante o processo terapêutico. Cada paciente é único, e o psicólogo deve estar apto a adaptar suas abordagens e técnicas de acordo com as particularidades de cada caso. 38 3.5 Quando a criança não quer participar da sessão Em relação à situação em que a criança não quer entrar no consultório, é importante que o psicoterapeuta lide com a situação com calma e mostre- se disponível para conhecer a criança e conversar com ela sobre como será o processo terapêutico na sala. É necessário também que o psicoterapeuta mostre que a relação entre a criança e o profissional é distinta de todas as outras relações e que ele está disponível para acolhê-la e ajudá-la no que for preciso. Comportamentos como oferecer balas ou falar sobre surpresas no consultório violam a ética profissional e não são eficazes para o processo terapêutico. O profissional deve mostrar para a criança que ali existe um adulto disponível para conhecê-la e que a relação entre eles será diferente. Em alguns casos, é possível convidar o adulto a entrar com a criança na sessão. Essa pode ser uma sessão compartilhada, na qual o adulto participa ativamente da sessão e a criança é questionada sobre como se sentiria confortável em ficar sozinha com o psicoterapeuta. A participação ativa do adulto é fundamental para que a sessão seja eficaz. Já em relação à situação em que a criança não quer mais participar do processo terapêutico, o psicoterapeuta deve fazer uma autoavaliação para entender se houve algumafalha na intervenção. É necessário avaliar o contrato, a Por fim, é importante lembrar que a psicoterapia não é um processo rápido e fácil. Muitas vezes, o paciente precisará de tempo e paciência para lidar com suas questões e desafios. O psicoterapeuta deve estar preparado para acompanhar o paciente nessa jornada, oferecendo suporte e direcionamento ao longo do caminho. Em resumo, os critérios de sucesso da psicoterapia estão relacionados à capacidade do psicoterapeuta de oferecer um ambiente seguro e acolhedor, adaptar suas abordagens às particularidades de cada caso, e acompanhar o paciente ao longo de sua jornada de transformação e crescimento. Com esses elementos em mente, é possível estabelecer uma relação terapêutica eficaz e transformadora para o paciente. 39 relação com a família, a abordagem terapêutica, entre outros fatores. Em alguns casos, a recusa da criança em continuar o processo pode ser influenciada pelos pais, o que torna importante o envolvimento da família no processo terapêutico. Quando a criança quer sair do processo terapêutico e é necessário que ela continue, o psicoterapeuta pode propor uma orientação aos pais para fazer uma intervenção em casa. O foco será a demanda para a criança e a terapia dos responsáveis terá como finalidade auxiliar a criança. Quando não há mais conflito ou demandas e a brincadeira foi fluída, é hora de considerar a alta. É importante que não haja mais comprometimento do bem-estar da criança na vida, que suas reações sejam medidas e que ela tenha alcançado um nível de desenvolvimento satisfatório. Toda criança que inicia um processo terapêutico também deve finalizá-lo. É importante que o psicoterapeuta esteja preparado para lidar com essas situações de recusa da criança em entrar no consultório ou em continuar o processo terapêutico, tendo habilidade para lidar com a resistência e a ansiedade da criança e que saiba como engajá-la no processo terapêutico. A teoria do apego de Bowlby3 oferece uma compreensão fundamental da relação entre a criança e seu cuidador primário, estabelecendo que a qualidade dessa relação influencia o desenvolvimento emocional e social da criança. Dessa forma, o estabelecimento de uma relação terapêutica segura e confiável é essencial para a eficácia da psicoterapia infantil. Ao lidar com crianças que se recusam a entrar no consultório, é importante que o psicoterapeuta demonstre calma e disponibilidade para conhecer a criança e conversar sobre como a sessão será conduzida. Oferecer recompensas, como balinhas ou surpresas, viola a ética profissional, uma vez que esses comportamentos fazem parte do processo de «sedução» e não contribuem para o processo terapêutico. Em vez disso, é fundamental que a criança perceba que o psicoterapeuta está disponível para ouvi-la e que a relação entre eles é distinta de todas as outras. Em relação a crianças que não querem mais participar da terapia, o 3 BOWBLY, John. Apego e perda: A natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 40 3.6 Quando a criança vem de outra psicoterapia A sessão inicial em um atendimento psicológico infantil é um momento crucial para estabelecer a base para a relação terapêutica que será desenvolvida. Nesta etapa, o psicólogo tem como objetivo coletar informações importantes para entender o histórico da criança, incluindo se ela já fez atendimento psicológico anteriormente e por quanto tempo, assim como as razões pelas quais os pais procuraram ajuda psicológica novamente. Para uma compreensão adequada do processo terapêutico, é essencial que o psicólogo saiba a razão pela qual o atendimento anterior foi finalizado, se foi por alta ou interrupção, e o que os pais entendem como «dar certo» ou «não dar certo». Além disso, o terapeuta deve estar atento a possíveis críticas ao atendimento anterior e entender a postura dos pais em relação a ele, de modo a identificar como isso pode afetar o processo terapêutico atual. É fundamental que o psicólogo seja objetivo e não busque informações por curiosidade pessoal, mas sim para atender às necessidades da família. O entendimento das expectativas da família em relação ao atendimento e a forma como ela se engaja no processo terapêutico são questões importantes a serem psicoterapeuta deve realizar uma autoavaliação para entender se a intervenção foi além do necessário e se a criança se sentiu acolhida e ouvida. Em alguns casos, a resistência à terapia pode ser influenciada pelos pais, e é importante estar próximo da família para entender a dinâmica e buscar soluções. Quando a criança realmente quer sair e é evidente que ainda precisa continuar o processo terapêutico, o psicoterapeuta pode propor uma intervenção em casa ou uma sessão com os responsáveis, focando na demanda da criança. Por fim, é importante que a psicoterapia infantil seja finalizada de forma adequada, quando não há mais conflitos ou demandas e a brincadeira se torna fluída. A criança deve entender como ela progrediu durante o processo e como pode aplicar o que aprendeu em sua vida diária. A finalização adequada da psicoterapia infantil é fundamental para o bem-estar da criança e seu desenvolvimento emocional e social. 41 investigadas na sessão inicial. Com essas informações, o terapeuta pode explicar o processo que será seguido e a importância da participação dos pais no tratamento. Durante a sessão inicial, o terapeuta também deve apresentar a abordagem terapêutica que será utilizada, com o objetivo de alinhar as expectativas dos pais e estabelecer uma relação de confiança entre o terapeuta, a criança e a família. Em alguns casos, a criança pode estar passando por um processo de luto em relação ao profissional anterior ou a um ciclo inacabado de terapia, e é importante que o terapeuta trabalhe com esse processo antes de seguir adiante com o tratamento. É comum que os pais tragam conceitos vagos e subjetivos sobre o atendimento anterior, como «só brincar», e cabe ao terapeuta esclarecer o papel do psicólogo e mostrar como o processo terapêutico pode ajudar a criança a superar seus desafios emocionais e psicológicos. Em alguns casos, pode ser necessário explicar as diferenças entre as abordagens terapêuticas para tranquilizar os pais e fazer com que eles se sintam seguros e confiantes no processo terapêutico. Por fim, é importante destacar que a sessão inicial em um atendimento psicológico infantil é um momento valioso para estabelecer uma relação terapêutica sólida e confiável com a criança e a família. Compreender o histórico e as expectativas da família e esclarecer as informações sobre a abordagem terapêutica são passos importantes para garantir que a terapia seja efetiva e benéfica para a criança e para a família como um todo. 3.7 Mentiras A mentira é um comportamento comum na infância, e muitas vezes as crianças recorrem a ela como uma estratégia para evitar consequências negativas ou lidar com emoções difíceis. Na psicoterapia infantil, é comum que as crianças contem mentiras para o terapeuta, seja para proteger a si mesmas ou a outras pessoas, ou até mesmo para testar a reação do terapeuta. Vários estudos têm examinado a prevalência de mentiras em crianças em contextos clínicos e não clínicos. Um estudo recente realizado com crianças em idade escolar descobriu que mais de 90% das crianças relataram contar mentiras 42 4 TALWAR, V. LEE, K. Social and cognitive correlates of children’s lying behavior. Child Development, 79(4), pp. 866-881, 2020. 5 LEWIS, Clare. Children’s lies and deception in therapeutic relationships: challenges and management. Child and Adolescent Mental Health, v. 17, n. 2, p. 96-103, 2012. em algum momento da vida, com cerca de 50% relatando contar mentiras regularmente4. Outro estudo5 constatou que as crianças muitas vezes mentem para evitar punições, obter recompensas ou impressionar os outros (Lewis et al., 1989). Quando se trata de psicoterapia infantil, as mentiras podem ser particularmente problemáticas.É importante que os terapeutas possam identificar quando as crianças estão mentindo e trabalhar com elas para desenvolver habilidades de comunicação mais saudáveis e assertivas. No entanto, também é importante entender que as mentiras podem ser uma forma de defesa emocional para a criança, e que pressioná-la a contar a verdade pode fazer com que ela se sinta mais ansiosa ou envergonhada. Uma abordagem eficaz para lidar com mentiras na psicoterapia infantil é criar um ambiente seguro e acolhedor, no qual a criança possa se sentir confortável em compartilhar seus pensamentos e emoções. Isso pode ser feito através do estabelecimento de uma relação terapêutica positiva e do uso de técnicas terapêuticas adequadas à idade da criança. Por exemplo, atividades lúdicas como jogos, desenhos e dramatizações podem ser úteis para encorajar a criança a se expressar de forma mais aberta e autêntica. Além disso, os terapeutas devem ser conscientes das possíveis causas subjacentes das mentiras das crianças. Por exemplo, a criança pode estar tentando lidar com um trauma ou situação emocional difícil, ou pode estar sofrendo com problemas de autoestima ou de relacionamento. Compreender essas causas subjacentes pode ajudar o terapeuta a desenvolver um plano de tratamento mais eficaz para a criança. Em resumo, a mentira é um comportamento comum na infância, e pode ser particularmente problemática em contextos de psicoterapia infantil. Os terapeutas devem estar cientes das possíveis causas subjacentes das mentiras das crianças e trabalhar com elas para desenvolver habilidades de comunicação mais saudáveis e assertivas. A criação de um ambiente seguro e acolhedor é fundamental para encorajar a criança a se expressar de forma mais autêntica e aberta. 43 3.8 Raiva e agressão A raiva como sentimento e a agressão como comportamento são comuns em crianças e podem ser apresentados de diferentes formas, desde birras e explosões emocionais até violência física. Esses comportamentos podem ser desafiadores para os pais e cuidadores, e frequentemente resultam na busca por ajuda profissional, como a psicoterapia infantil. A agressão infantil tem sido um assunto de grande interesse entre pesquisadores em psicologia e psiquiatria. Estudos6 têm mostrado que a agressão pode ser influenciada por diversos fatores, tais como a genética, a exposição à violência na mídia, o ambiente familiar e o desenvolvimento socioemocional da criança. A teoria do aprendizado social sugere que a agressão pode ser aprendida por meio da observação e imitação de comportamentos agressivos de outros indivíduos, como pais, irmãos ou amigos. Além disso, a teoria da frustração- agressão sugere que a agressão é uma resposta a uma frustração ou impedimento de alcançar um objetivo desejado. A raiva é frequentemente considerada uma emoção negativa e muitas vezes está associada à agressão. É importante lembrar, no entanto, que a raiva em si não é um comportamento agressivo. A raiva é uma emoção natural e saudável, que pode ser expressa de maneira apropriada ou inadequada. Envolver os pais e cuidadores na terapia é uma parte fundamental do processo de tratamento quando se trata de comportamentos agressivos e de raiva em crianças. Os pais podem desempenhar um papel importante no fornecimento de um ambiente seguro e consistente para a criança, o que pode ajudar a reduzir o comportamento agressivo e melhorar a eficácia do tratamento. 6 Cf. RIMM-KAUFMAN, S. E., & PIANTA, R. C. An ecological perspective on the transition to kindergarten: A theoretical framework to guide empirical research. Journal of Applied Developmental Psychology, 21(5), 491–511, 2000; NOCK, M. K.; KAZDIN, A. E. Parent expectancies for child therapy: Assessment and relation to participation in treatment. Journal of Child and Family Studies, v. 11, n. 4, p. 435-449, 2002; EAMON, M. K. Poverty, parenting, peer, and neighborhood influences on young adolescent antisocial behavior. Journal of Social Service Research, v. 28, n. 1, p. 1-23, 2002; e GERSHOFF, E. T. Corporal punishment, physical abuse, and the burden of proof: Reply to Baumrind, Larzelere, and Cowan (2002), Holden (2002), and Parke (2002). Psychological Bulletin, v. 128, n. 4, p. 602-611, 2002. 44 Além disso, os pais também podem aprender estratégias de manejo de comportamento e habilidades de comunicação que podem ajudá-los a responder melhor aos comportamentos de raiva e agressão de seus filhos. Essas habilidades podem incluir a identificação de gatilhos e antecedentes que desencadeiam comportamentos agressivos, a implementação de técnicas de resfriamento, como respiração profunda e relaxamento muscular, e a utilização de recompensas e consequências para incentivar comportamentos mais apropriados. A terapia familiar também pode ser útil no tratamento de comportamentos agressivos e de raiva em crianças. Os terapeutas podem trabalhar com a família como um todo para identificar padrões disfuncionais de comunicação e dinâmicas familiares que podem estar contribuindo para o comportamento agressivo da criança. A terapia familiar também pode ser uma oportunidade para desenvolver habilidades de comunicação e resolver conflitos familiares. Estudos mostram que envolver os pais na terapia pode melhorar significativamente a eficácia do tratamento de comportamentos agressivos e de raiva em crianças. Em um estudo de 20097, por exemplo, os pesquisadores descobriram que a terapia cognitivo-comportamental combinada com terapia familiar era mais eficaz na redução de comportamentos agressivos em crianças do que a terapia cognitivo-comportamental sozinha. Em resumo, envolver os pais e cuidadores na terapia é um componente essencial no tratamento de comportamentos agressivos e de raiva em crianças. Eles podem desempenhar um papel importante na promoção de um ambiente seguro e consistente para a criança, bem como aprender habilidades de manejo de comportamento e comunicação que podem ajudar a reduzir o comportamento agressivo da criança. A terapia familiar também pode ser uma opção útil para identificar dinâmicas familiares disfuncionais e melhorar a comunicação e resolução de conflitos. 7 FUNG, A. L. C.; RAINE, A.; GAO, Y.; SCHUG, R. A. The developmental taxonomy of psychopathic behavior: A comparison of youth with severe conduct disorder and adult psychopaths. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 50, n. 8, p. 910-918, 2009. DOI: 10.1111/j.1469-7610.2009.02095.x. 45 3.9 Uso de eletrônicos na sessão No âmbito da psicoterapia infantil, é comum que os pacientes tragam consigo recursos eletrônicos, como tablets e smartphones, para as sessões. Diante disso, é importante destacar que esses recursos serão tratados com a mesma permissividade que é conferida ao paciente nos demais aspectos. Isso significa que, caso a criança queira utilizá-los, poderá fazê-lo e será acolhida e vista em sua escolha. A partir dessa situação, é possível transformar a experiência em um momento terapêutico, convidando a criança a dramatizar o jogo ou mimetizar um vídeo, por exemplo, ou desenhando as personagens. Dessa forma, a terapeuta pode oferecer o movimento necessário para que a criança possa experienciar, de fato, a situação de uma forma diferente e construtiva. Gradativamente, é possível desvincular a fixação com esses meios eletrônicos e estimular outras formas de interação e comunicação. É comum que muitos pais levem ao consultório a queixa de que seus filhos são hiperativos e agitados, principalmente em outros ambientes. Nesse sentido, é importante ressaltar que a criança é concreta e, portanto, é natural que tenha uma grande energia. Contudo, é fundamental que essa energia seja canalizada de forma adequada e construtiva. É a partir do acolhimento que essa energia pode ser trabalhada, de modo que a criança aprenda a lidar com suas emoções e comportamentos, sem que isso se torne uma falta de educação. Além disso, é importante que em momentos nos quais a criançaé tirada de seus meios comuns, como em uma sessão de psicoterapia, ela seja levada a vivenciar aquela experiência em sua totalidade. O uso excessivo de recursos eletrônicos pode atrapalhar, anulando a atenção da criança e impedindo que ela compreenda o que está acontecendo naquele novo momento. Por isso, é fundamental que a terapeuta trabalhe com a criança de forma consciente e adequada, ajudando-a a desenvolver habilidades de concentração e foco. 46 Referências Bibliográficas ARAÚJO, J. L. R. Desenvolvimento cognitivo e intervenção psicopedagógica: um estudo com crianças em processo de alfabetização. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. BARRETO, F. L. F. et al. 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Os processos iniciais da Psicoterapia Infantil 1.1 A importância da abordagem clínica 1.1.1 TCC 1.1.2 Gestalt-terapia 1.1.3 Psicodinâmica 1.2 Passo a passo da Psicoterapia infantil 1.3 Permissividade e limites na prática clínica 1.4 Pontos ao iniciar na Psicoterapia infantil 1.5 A alta da terapia 2.1 O espaço físico 3.1 Atendimento de irmãos 2.4 O desenho 2.3 Significando o brincar 2.2 Os recursos na Psicoterapia (o que não pode faltar) 3.9 Uso de eletrônicos na sessão Referências Bibliográficas 3.8 Raiva e agressão 3.7 Mentiras 3.6 Quando a criança vem de outra psicoterapia 3.5 Quando a criança não quer participar da sessão 3.4 A terapia que dá certo 3.3 A terapia que não dá certo 3.2 A resistência dos pais