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Introdução às teorias e técnicas psicoterápicas Prof.ª Stella Rabello Kappler Descrição As origens do desenvolvimento das abordagens teóricas e técnicas psicológicas voltadas para o exercício da psicoterapia. Propósito O conhecimento das teorias que embasam as técnicas, métodos e estratégias de condução do processo psicoterápico se justifica como ponto basilar da clínica psicológica, uma vez que as intervenções realizadas pela(o) psicóloga(o) terão efeito direto na saúde e bem-estar do seu paciente, bem como no seu processo terapêutico. Objetivos Módulo 1 História da psicoterapia Identificar os pontos centrais que contribuíram para o desenvolvimento das terapias psicológicas. Módulo 2 Os processos psicoterapêuticos na atualidade Relacionar as bases teóricas da psicoterapia com as práticas contemporâneas. Módulo 3 Classi�cação das abordagens psicoterápicas segundo o método Analisar as diferentes abordagens na psicoterapia, relacionando seus pontos de tangência e divergência. Módulo 4 Classi�cação das abordagens psicoterápicas segundo a prática Identificar as abordagens na psicoterapia de acordo com as práticas. Introdução Mesmo os mais importantes autores, que se destacaram na terapia psicológica, como Freud e Adler, precisaram lançar mão de obras, materiais e escritos elaborados por outros autores. Assim também vamos seguir para que você possa elaborar e construir seu pensamento pouco a pouco. Podemos considerar que a psicoterapia é um tipo de terapia psicológica. Vamos entender quais são os fatores que contribuem para que ela se diferencie de outras áreas da Psicologia. Também é importante que se compreenda que a psicoterapia tem alguns pontos-chave em comum independentemente de sua “abordagem teórica”, ou seja, um psicólogo que se baseia numa abordagem psicanalítica exerce algumas práticas similares a um psicólogo que se baseia numa abordagem cognitivo-comportamental, por exemplo. Dentre elas, podemos destacar a questão do vínculo terapêutico. O vínculo estabelecido entre o psicólogo e seu paciente trará repercussões positivas ou poderá criar limitações na condução do caso, a depender da maneira como for estabelecido. Por isso, o vínculo terapêutico é fundamental em todos os processos psicoterápicos, independentemente da abordagem teórica assumida pelo profissional psicólogo. Esse e outros pontos serão discutidos a partir deste momento, mas devemos começar nossa caminhada entendendo melhor os pontos centrais que contribuíram para o desenvolvimento das teorias e das suas técnicas psicoterápicas que, por sua vez, podemos também considerar como parte da construção da ciência psicológica como um todo. 1 - História da psicoterapia Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os pontos centrais que contribuíram para o desenvolvimento das terapias psicológicas. Epistemologia da psicoterapia Bases para o desenvolvimento da psicoterapia Diversas são as hipóteses que tentam explicar a origem da psicoterapia. Contudo, podemos refletir sobre a costura que a Psicologia, de modo geral, faz com a Filosofia. Encontramos em textos filosóficos algumas indicações de diálogos que levavam à reflexão, a partir da crítica e do questionamento. No entanto, vamos encontrar pistas de diálogos em diversos contextos entre uma pessoa que necessita de ajuda e uma pessoa que possui uma formação ou experiência para ajudá-la, como, por exemplo, a confissão de uma pessoa com o padre e a própria relação médico-paciente. Em ambos os casos, precisamos destacar a importância do vínculo entre esses dois indivíduos. Segundo Castanheira, Grevet e Cordioli (2013), contudo, é preciso se concentrar no desenvolvimento do caminho epistemológico, com explicações mais racionais e científicas para considerar a origem do processo psicoterápico. Nesse caso, a Filosofia tem muito a contribuir para ampliar a nossa perspectiva do todo. A seguir, conheça algumas das grandes influências no desenvolvimento da psicoterapia: Considerado um método socrático que consiste na multiplicação das perguntas, promovendo no indivíduo maior consciência daquilo que já sabe, revisando suas próprias opiniões. Esse é um método amplamente utilizado pela Terapia Cognitivo-Comportamental, nomeado de questionamento socrático. Maiêutica Filósofos estoicos Trouxeram pontos relevantes para a análise, como a ideia de que não é o evento em si o estressor, mas sim a percepção das pessoas de tal evento que pode lhes causar dor e sofrimento. Você vai encontrar essas e outras noções sendo utilizadas fortemente pelas abordagens cognitivas. Epicteto, por exemplo, partia do princípio dos erros de avaliação de um evento e como estes eram capazes de gerar uma emoção negativa, o que causaria crenças disfuncionais nos indivíduos (CASTANHEIRA; GREVET; CORDIOLI, 2013). Freud: O “pai da psicanálise” Um dos principais expoentes para o desenvolvimento de uma Psicologia voltada a atender às demandas de uma pessoa, auxiliando-a a lidar com suas dificuldades, limitações e entraves psicológicos e emocionais foi Sigmund Freud. Freud é conhecido como o “pai da psicanálise” e era um médico de formação muito interessado pela área de Neurologia. Ao longo de suas observações, Freud se interessou fortemente por casos de histeria e passou a considerar que estes poderiam ter outras questões envolvidas, até então não valorizadas pelos outros médicos. O autor considerou que apenas os processos neurológicos não seriam capazes de explicar manifestações histéricas de pacientes, concluindo que havia processos dinâmicos que precisavam ser estudados. Freud começou a perceber a importância de considerar o histórico do quadro clínico. Percebeu que havia uma mudança de comportamento do paciente ao tomarem consciência de lembranças até então esquecidas. Para acessar tais memórias, no inconsciente – uma de suas mais importantes descobertas –, Freud passou a promover um espaço em que o paciente se sentia relaxado e podia falar tudo o que lhe viesse à mente, sem restrições, o que foi denominado de associação livre de ideias. Os pacientes que passavam por esses atendimentos passaram a relatar sensação de alívio (RIBEIRO, 2013). Estudaremos sobre a técnica psicanalítica de Freud mais adiante. Psicoterapia e teorias psicodinâmicas O que é psicoterapia? A psicoterapia é uma área para atendimento ao outro em sua singularidade. Ouvi-lo, orientá-lo, mostrar caminhos a fim de lhe proporcionar o encontro do sujeito consigo mesmo. A escuta clínica, que integra essa área, é de extrema importância, e é o que diferencia a Psicologia Clínica das demais áreas da Psicologia. É um espaço em que o paciente expressa seus medos, conflitos e desejos. É necessário compreendermos sua definição e como esse campo se relaciona com a Psicologia. De acordo com o Dicionário de Psicologia (2010), a psicoterapia pode ser definida como um conjunto de técnicas baseadas em teorias psicológicas que são utilizadas por psicólogos com a finalidade de tratar questões psicoemocionais e/ou transtornos mentais de pessoas que procuram por tratamento. A palavra psicoterapia tem sua definição etimológica ligada à “cura da alma”. A ideia de cura psicológica pode ser bastante abstrata se comparada à cura do corpo físico. Repare no exemplo? Ribeiro (2013) nos ajuda a entender que a psicoterapia surgiu como uma forma de tratamento para questões psicológicas, mas que, ao longo do tempo, foi se transformando também em uma maneira das pessoas conseguirem ampliar o conhecimento sobre si mesmas. Teorias psicodinâmicas Se você vai ao médico e diz a ele que está com o pé quebrado, é visível por meio da observação que seu pé está fora do lugar. O médico ortopedista pode ainda pedir um exame de imagem para verificar em que posição o osso está e qual a melhor maneira de conduzir o tratamento para que o seu pé volte para a posição que se encontrava anteriormente, antes de se mover. Contudo, se você chega ao médico e diz que está cansado, sentindo-se triste, sem motivaçãopara trabalhar ou estudar, pode até ser que ele lhe peça exames de sangue, hormônios e outras baterias para investigar se há alguma causa orgânica ou física. No entanto, a sua tristeza não aparecerá na radiografia do seu coração. Diante desse grande desafio, estudiosos do campo da Psicologia trataram de desenvolver maneiras de acessar conteúdos que estivessem relacionados a sintomas, como a tristeza, descrita anteriormente, de forma a compreender como ocorrem tais processos e, consequentemente, intervir sobre eles, de maneira a trazer “cura” àqueles que sofriam dos males psicológicos e emocionais. Podemos considerar que as teorias psicodinâmicas são aquelas que tomam por base conceitos psicanalíticos cunhados por Freud e desenvolvidos, ao longo das décadas, por seus seguidores. Dessa maneira, você perceberá que, independentemente da terapia psicodinâmica adotada pelo profissional, diversos aspectos vão se repetir em todas elas. O fator basilar, nesse caso, é dividido por estas duas ideias: Consciente Incosciente Ademais, podemos considerar que o paciente será convidado a falar utilizando-se dos critérios da associação livre, a fim de buscar uma mudança por meio dos insights e da relação terapêutica. Mas você pode estar pensando: baseado nesses conceitos, qualquer pessoa pode procurar uma terapia psicodinâmica? A resposta é ambígua, pois cada um pode ter a sua própria interpretação e buscar descobrir a psicoterapia que mais lhe convém e interessa. No entanto, baseada na ideia de Cordioli (2008), são necessários alguns pré-requisitos para integrar um processo de análise. São eles: Ser capaz de se comunicar de forma aberta com o terapeuta; Ter conflitos internos; Capacidade de introspecção; Capacidade de experimentar afetos intensos sem que isso interfira em sua conduta; Capacidade para desenvolver um vínculo com o psicoterapeuta; Ser capaz de estabelecer metas para o tratamento. As psicoterapias psicodinâmicas não são indicadas para pessoas com transtornos mentais graves, como psicóticos, pessoas com transtorno de personalidade, dependentes químicos, problemas que exijam solução em curto prazo, ansiedade, humor, alimentares e depressão; transtornos mentais com déficits cognitivos graves e ausência de motivação e interesse. Devemos considerar que, neste último caso, quando a pessoa não demonstra interesse, todas as abordagens psicológicas hão de convir que não há muito que possa ser feito. Atenção! O paciente é o principal responsável pela sua evolução dentro de um processo psicoterápico. Se ele não tiver interesse ou desejo em desenvolver suas habilidades ou de se dedicar a encontrar os motivos pelos quais sua saúde psicológica e emocional está abalada, o processo terapêutico não encontrará sucesso. Técnica psicanalítica de Freud Psicanálise A psicanálise atual ainda segue os conceitos elaborados por Freud de associação livre, em que o paciente é orientado a verbalizar os conteúdos que vêm à sua mente. Para os psicólogos ou analistas, deve-se manter a atenção flutuante, destacando ao profissional que não se prenda a pontos específicos do que o paciente relatar, mas que mantenha tudo no mesmo patamar de valor. É importante que você entenda que nós, embora psicólogos, também temos as nossas próprias questões, crenças, costumes, gostos, desejos, formas de pensar etc. Não é porque você está no seu ambiente de trabalho atendendo a um paciente que você deixa de ser quem você é. Com essa ressalva em mente, a atenção plena, assinalada por Freud, considera que automaticamente o psicoterapeuta irá querer selecionar conteúdos que “façam mais sentido” para ele, assim, algumas informações importantes podem acabar sendo desprezadas pelo profissional, que acabou se retendo em apenas uma informação. “Mas eu vou esquecer tudo! Preciso fazer notas? Gravar em áudio o que o paciente fala? Como farei para lembrar de tudo que o paciente falou?” Na psicanálise, o foco do processo não é se preocupar em lembrar de tudo exatamente como foi falado pelo paciente. A psicanálise é diferente de outras abordagens. Também se considera que o psicanalista não deve tentar prever o curso do tratamento, orientando- se de acordo com as mudanças à medida que se apresentam. Há três funções para as entrevistas preliminares e todas são importantes para o processo de análise. São elas: No início de uma análise, de acordo com Quinet (2009), Freud apontou que a principal meta é ligar o paciente ao tratamento e ao analista e estabelecer o diagnóstico. Nesse momento inicial, quando o paciente traz sua queixa, o analista explica como se dará o processo de análise, dirá ao paciente que ele deve falar tudo que ocorre com ele sem fazer uma seleção de material, o que é chamado de associação livre. O analista, por outro lado e como já visto, não pode guiar o paciente, ele ficará com a atenção suspensa, também não selecionará o material, não ficará preso a determinada parte do relato que o paciente trouxer, manterá a atenção flutuante. 1ª função Sintomal Identificar os sintomas que o paciente traz e analisar se realmente se trata de uma demanda de psicanálise. Há três estruturas clínicas para a psicanálise. São elas: Nesta estrutura, o mecanismo para se livrar do complexo de Édipo é o recalque. A pessoa não recorda o que aconteceu na sua infância, ela nega o elemento, mas o conserva no inconsciente. A neurose divide-se em três tipos clínicos: obsessiva, em que há um desvio pelo pensamento; de histeria, quando há um desvio para alguma parte do corpo; e, por último, a fobia, quando há o deslocamento para um objeto. Nesta estrutura, tem-se a foraclusão, que é um modo de negação que não deixa vestígios, não conserva e expressa-se por meio de alucinações. Nesta estrutura, tem-se o desmentido que nega o elemento e o conserva no fetiche. O perverso não segue as regras da sociedade, pois ele não consegue admitir o que é moral. Essas três estruturas clínicas foram estabelecidas por Freud para que fossem utilizadas como diagnóstico. O diagnóstico, então, servirá para dar direção ao tratamento depois de estabelecida a transferência. Psicoterapia breve psicodinâmica e TCC 2ª função Diagnóstica Tem uma função diagnóstica estrutural. 3ª função Transferencial Faz-se necessário o estabelecimento da transferência que precisa ocorrer entre paciente e analista, o analisante deve identificar em seu analista uma pessoa que tenha o suposto saber. Neurose Psicose Perversão Psicoterapia breve psicodinâmica Sándor Ferenczi e Otto Rank desenvolveram a psicoterapia breve psicodinâmica, baseando-se em conceitos já amplamente trabalhados por Freud, como os processos inconscientes, mecanismos de defesa e a relação terapêutica. No entanto, o próprio nome dessa abordagem sugere seu maior ponto de distanciamento da psicanálise tradicional: o tempo. Nessa releitura, os autores apontam para o foco no “aqui e agora”, com o convite para que os pacientes voltem seu discurso para acontecimentos recentes e experiências atuais. Do lado dos terapeutas, estes tendem a ser mais participativos do atendimento, diferentemente de um processo psicanalítico tradicional. Os principais conceitos dessa abordagem são: Teorias cognitivo-comportamentais A abordagem da TCC desenvolvida por Aaron T. Beck e Judith S. Beck tem como objetivo identificar como os pensamentos e ideias sobre determinadas situações influenciam emoções, sentimentos e comportamentos. Essa é uma abordagem psicoeducativa, orientada em meta e focalizada em problemas. Enfatiza-se a colaboração entre terapeuta e paciente e sua participação ativa no processo, com a finalidade de que o paciente aprenda a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais ao longo dos atendimentos. Essa abordagem utiliza técnicas do modelo comportamental e do modelo cognitivista. Um ponto em comum com a psicoterapia breve será o foco nos problemas e queixas atuais do paciente. A TCC se concentra no motivo peloqual o paciente buscou o tratamento e, embora, possa analisar questões de vivências passadas, se voltará para como algo afeta o paciente no dia a dia. 1 O foco em um período específico da vida do paciente, em que a terapia será localizada. 2 Aliança terapêutica, que se define como a capacidade do estabelecimento de um vínculo entre paciente e psicoterapeuta. 3 Plano terapêutico em que são descritos os objetivos e condições para o desenvolvimento do trabalho. 4 Experiência emocional corretiva, considerada a possibilidade de o paciente reviver experiências passadas que encontravam-se recalcadas. Muitas das contraindicações relacionadas às terapias psicodinâmicas serão absorvidas pela TCC, como depressão, transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, abuso de substâncias, esquizofrenia, transtorno bipolar, TDAH e dor crônica. Porém, ela é considerada contraindicada nos casos de demência, retardo mental, psicose aguda, transtornos borderline ou antissocial e ausência de motivação. O tratamento da maioria dos pacientes envolve um forte foco sobre problemas atuais e sobre situações específicas que são aflitivas para o paciente. Com o auxílio da tarefa de casa, planejada sob medida para o paciente em questão, ele poderá continuar o processo desenvolvido com seu terapeuta também ao longo da sua semana. Segundo Beck (1997), o terapeuta tenta estender as oportunidades para a mudança cognitiva e comportamental ao longo da semana do paciente, fazendo com que os mesmos tenham oportunidade de se “educarem”, colherem dados e testar seus pensamentos e crenças, para assim poder experimentar comportamentos novos. Terapias psicológicas Assista agora a uma reflexão sobre as terapias psicológicas, com exemplos de abordagens terapêuticas. Exemplo Vamos supor que você procura o psicoterapeuta, pois tem dificuldade para fazer solicitações ao seu chefe. Mesmo que aquilo lhe cause algum prejuízo, você não vai pedir de jeito algum para sair mais cedo. No atendimento, você descreverá o que você sente para o seu psicoterapeuta, como ansiedade, mão gelada, voz trêmula, dor de barriga etc. Nesse caso, o foco seria sobre essa relação específica e em como você pode trabalhar para, aos poucos, conseguir aquilo que você deseja: pedir para sair mais cedo do trabalho, quando precisar ir ao médico. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Freud: O “pai da psicanálise” Módulo 1 - Vem que eu te explico! O que é psicoterapia? Questão 1 Podemos considerar que a psicoterapia tem suas origens distribuídas em diferentes campos do saber, desde os primeiros questionamentos a respeito de como o ser humano lida com suas próprias questões. No entanto, Freud desenvolveu um método que ganhou destaque nessa área, conhecido como: Vamos praticar alguns conceitos? Falta pouco para atingir seus objetivos. A Filosofia. B A “cura da alma”. C Terapia cognitivo-comportamental. D Psicanálise. Questão 2 Na Psicologia Clínica existem alguns fatores que auxiliam na sua diferenciação de outras áreas da Psicologia, em especial, um fator recebe destaque por promover a expressão dos medos, conflitos e desejos do paciente. Assinale a seguir a opção em que esse fator é destacado. E Maiêutica. Responder A Orientação psicológica B Acompanhamento C Aconselhamento D Processo terapêutico E Escuta clínica Responder 2 - Os processos psicoterapêuticos na atualidade Ao �nal deste módulo, você será capaz de relacionar as bases teóricas da psicoterapia com as práticas contemporâneas. Processo psicoterapêutico Vínculo terapêutico O vínculo terapêutico destaca-se no processo psicoterapêutico, pois ele está diretamente relacionado aos efeitos que as intervenções realizadas pelo psicólogo terão sobre o tratamento do paciente. O mesmo se repete em qualquer experiência que você venha a ter no seu dia a dia, pode ser de um simples documento que você precisa tirar até uma emergência médica, passando pelo seu professor na faculdade. Se você for mal recebido ou tiver uma experiência ruim, a probabilidade de você retornar àquele atendimento ou até mesmo ouvir o que aquele profissional tem a dizer, vai ser muito mais difícil. Quando você se identifica com o profissional, quando ele é sensível às suas queixas, trata você com respeito, lhe acolhe, a experiência pode ser muito mais positiva. Re�exão Suponhamos que você esteja com uma gripe muito forte e precise ir ao médico. Chegando lá, o médico não lhe dá muita atenção, não lhe examina e vai logo prescrevendo um remédio antigripal. Quando você faz perguntas para ele, ele não olha nos seus olhos e lhe responde de maneira ríspida e desinteressada. Nessa situação, como você se sentiria? Feliz? Respeitado? Será que se você voltar a se sentir mal, retornará a esse mesmo médico ou procurará outro? Provavelmente, você não gostaria de ser atendido dessa forma novamente. Estar em um momento de dor e dificuldade e se deparar com uma pessoa, que é aquela que pode te auxiliar, mas que não se apresenta receptível e sensível às suas demandas, pode causar ainda mais estresse. É nessa linha que devemos pensar o vínculo terapêutico, como sendo um laço entre psicólogo e paciente que perpassa todo o processo de psicoterapia. Enquanto o paciente estiver em tratamento, é importante continuar alimentando um bom vínculo, e nós, como psicólogos, devemos manter isso sempre em mente. Sendo assim, o paciente buscará alguém em quem possa confiar, alguém que se apresente como uma pessoa interessada em lhe ajudar e, dessa forma, se sentirá à vontade para compartilhar o que deseja. É por meio desse diálogo que o paciente vai elaborando a sua situação de vida, vai percebendo os eventos de maneiras diferentes e aprende a lidar com as situações de dificuldade de modos diversos. Ambiente acolhedor A fim de estabelecer um ambiente acolhedor, o psicólogo deve pensar não só no seu comportamento diante do paciente, como mencionamos anteriormente, mas também deve se preocupar com o ambiente físico ou on-line que oferece. Quando se trata de um ambiente físico, podemos pensar em um lugar confortável para sentar, se a temperatura da sala está adequada – nem muito fria nem muito quente –, se há água e banheiro disponíveis, se o lugar é à prova de sons ou ruídos. Pense o quão desagradável será para o paciente ouvir o que outras pessoas estão falando na sala ao lado. É muito provável que ele pensará que, da mesma forma que ele pode ouvir outras pessoas, elas também podem ouvir que ele está pensando em se separar da sua esposa. E se alguém contar para ela antes? Questões como essas influenciarão diretamente tanto na adesão ao tratamento quanto na disponibilidade do paciente em continuar na terapia. Exemplo Uma psicóloga precisou sublocar a sala de uma colega. O espaço era muito bom, mas a sala não tinha janelas. Além disso, por se tratar de uma construção em madeira, o ambiente tinha um cheiro muito forte, por ficar muitas horas fechado. Aquilo a incomodava muito, nunca nenhum paciente reclamou, mas por a incomodar, às vezes, ela ficava pensando nisso e desviava a atenção do seu principal objetivo, a escuta. Na primeira oportunidade, ela mudou de consultório. Esse exemplo pode mostrar também o outro lado da moeda: quando o ambiente físico, on-line ou o próprio paciente despertam algum desconforto no próprio psicólogo. Manejo clínico Transferência e contratransferência Os conceitos de transferência e contratransferência são muito discutidos na psicanálise, mas vamos encontrá-los de maneiras distintas em outras abordagens. O psicoterapeuta deve se apresentar de maneira verdadeira e genuína ao seu paciente, demonstrar empatia e sensibilidade e demonstrar empenho em desenvolver um trabalho sério. Podemos considerar que a relação terapêutica é composta pelas seguintes manifestações: Transferência É entendida pela correspondênciade percepções, pensamentos e reações emocionais do paciente. Contratransferência É entendida pela correspondência de percepções, pensamentos e reações emocionais do terapeuta. Ambas se baseiam em esquemas pessoais sobre si mesmo, esquemas interpessoais sobre os outros e esquemas de relacionamento, juntamente com processos intrapsíquicos e estratégias interpessoais. Abordagem psicanalítica Em séries e filmes, você já pode ter visto psicólogos e psiquiatras se envolvendo amorosamente com seus pacientes, mas essa ideia não é apenas restrita ao entretenimento. Há casos reais, compartilhados pela mídia, em que situações como essa ocorreram. Porém, cabe aqui uma grande Recomendação Por se tratar de uma relação interpessoal, tanto o paciente quanto o psicoterapeuta estarão envolvidos de alguma maneira e podem aparecer percepções distorcidas acerca dessa interação, por isso, na psicanálise, recomenda-se a neutralidade. Nesse sentido, como psicoterapeuta, deve-se evitar a intimidade e o compartilhamento de informações de cunho pessoal e privado. É importante sempre se concentrar no que o paciente tem a trazer e compartilhar, e não o inverso. Caso o psicoterapeuta sinta a necessidade de também compartilhar seus conteúdos com outra pessoa, é aconselhável que ele procure a terapia ou uma supervisão clínica para seus casos. ressalva. Quando estamos desenvolvendo um trabalho, um tratamento para alguém, é sempre aconselhável guardar um distanciamento dessa pessoa. Mas qual decisão tomar nesses casos? De acordo com a literatura, abandonar a psicoterapia porque o paciente está envolvido emocionalmente com o psicoterapeuta pode não ser a solução. Cria-se como hipótese de que esse amor não seja real. Quanto mais claramente o psicoterapeuta faça com que o paciente perceba que ele está neutro na situação, melhor será. Se o psicoterapeuta não estiver neutro no trabalho, mais fácil é o paciente se aproximar dele. A transferência negativa, por outro lado, quando o paciente demonstra indiferença ou questiona as intervenções realizadas pelo psicoterapeuta, pode não ser só agressividade, pode ser também um amor. A função transferencial refere-se à ligação do paciente com o analista. A transferência é necessária para que o tratamento se inicie. Enquanto o paciente não estabelecer essa relação, as interpretações realizadas pelo analista não serão ouvidas pelo paciente, por isso o analista intervém apenas depois do estabelecimento da transferência. A transferência parte do paciente e o analista a maneja. A posição do analista não é a de saber, nem tampouco a de compreender o paciente, pois se há algo que ele deve saber é que a comunicação é baseada no mal-entendido. (QUINET, 2009, p. 26) Existem dois tipos de transferência: a transferência positiva, que é a transferência de sentimentos amistosos ou afetuosos, e a transferência negativa, que transfere sentimentos hostis. A origem do conceito de contratransferência proveio de uma abordagem psicodinâmica e bastante explorada por Freud e seus precursores. Juntamente com a supervalorização das técnicas cognitivo-comportamentais, por parte de seus usuários que, por vezes, negligenciam sua importância ou a remetem a um conceito fundamental e unicamente psicanalítico, assim como discutido por Rocha et al. (2017) e, por isso, pouco explorado por outras abordagens. Relação terapêutica Abordagem cognitivista Na TCC, a contratransferência não é entendida como um elemento que recupera conteúdos inconscientes do terapeuta, como nas abordagens psicodinâmicas, pois, nesse caso, a relação terapêutica é tida como fundamental para a implementação das técnicas cognitivo-comportamentais que serão implementadas e, portanto, não é considerada o foco principal do trabalho psicoterápico. Dica Para o bom manejo da transferência e da contratransferência, é preciso manter a atenção flutuante e deve-se evitar intervenções, pois você mudará o curso do discurso do paciente e impedirá o processo da associação livre. A transferência é de um conteúdo inconsciente. Alguns teóricos são mais enfáticos ao reportar a responsabilidade da contratransferência somente à figura do terapeuta. Contudo, na visão de autores mais contemporâneos, a contratransferência pode ser entendida como um processo desencadeado e construído em conjunto, ou seja, por paciente e terapeuta. De maneira geral, poderá ser manifestada por terapeutas de diferentes graus de experiência e não se restringe somente àqueles considerados iniciantes. Dessa maneira, compreende-se que a contratransferência também deve ser considerada uma técnica que, assim como outras, deve ser estudada, aprendida e observada em todas as sessões de terapia, na medida em que seu manejo influenciará diretamente no curso do tratamento. Em diversos momentos durante a sessão, o paciente pode trazer conteúdos que despertam pensamentos, emoções e sentimentos no terapeuta. O terapeuta, por sua vez, deve estar atento a situações como essas para que não interfira em sua devolutiva, fazendo isso de forma mais consciente, e não intuitiva. Nesse sentido, ressalta-se a importância de o terapeuta também estar em terapia para trabalhar esses conteúdos que são difíceis de se lidar de maneira individual. As reações do terapeuta poderão se dar de diferentes maneiras, a depender do diagnóstico do paciente, conforme esses exemplos: O terapeuta pode se perceber assumindo a crença do paciente de que nada poderá ajudá-lo a sair da situação em que se encontra. Podendo, ainda, despertar sentimentos de abandono e solidão. Já outros teóricos são mais enfáticos ao reportar a responsabilidade da contratransferência somente à figura do terapeuta. Contudo, na visão de autores mais contemporâneos, a contratransferência pode ser entendida como um processo desencadeado e construído em conjunto, ou seja, por paciente e terapeuta. Esse posicionamento mais atual parece ser compatível com as pesquisas mencionadas com relação às diferentes reações dos terapeutas quando confrontados com um diagnóstico específico. Espera-se que pacientes com transtornos alimentares despertem emoções e sentimentos como raiva, ódio, desesperança, pena, tristeza e amor por parte de seus terapeutas. Constatou-se em pacientes com transtornos alimentares que tinham diagnóstico de anorexia nervosa e outros transtornos alimentares não especificados, despertavam reações terapêuticas ressentidas, desengajadas, inadequadas, excessivamente envolvidas e sobrecarregadas. Os pacientes com bulimia nervosa evocam sentimentos de desorganização e sentimentos de proteção positivos por parte dos terapeutas. Alguns pacientes depressivos despertam nos terapeutas uma atitude positiva que pode se modificar e entrar em conflito com sentimento de insegurança e inadequação. Pacientes com ideação suicida podem despertar sentimentos de desesperança no terapeuta. Comentário A transferência e a contratransferência possuem contribuições de paciente e terapeuta, pois são elementos integrantes da relação terapêutica. Frequentemente, os pacientes iniciam a terapia com expectativas relacionais negativas que podem ser maximizadas pelas reações terapêuticas negativas. Essas questões devem ser enfrentadas pelo terapeuta como uma parte inerente do processo psicoterápico e cabe a ele manejar de forma adequada para um bom andamento do tratamento. A construção do vínculo terapêutico em diferentes abordagens Neste vídeo, é apresentada uma reflexão sobre como é construído o vínculo terapêutico em diferentes abordagens e sua importância para a prática em psicoterapia. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! Ambiente acolhedor Módulo 2 - Vem que eu te explico! Transferência e contratransferência Questão 1 Um trabalho de psicoterapia pode demorar meses ou até mesmo anos. Nesse sentido, a relação estabelecida entre esses dois atores é algo basilar para o bom andamentodo tratamento. Podemos dizer que o psicoterapeuta está refletindo seus desejos e sentimentos no paciente quando estamos tratando de qual tipo de conceito? Vamos praticar alguns conceitos? Falta pouco para atingir seus objetivos. A Contratransferência B Transferência C Vínculo terapêutico Questão 2 A relação terapêutica, estabelecida entre psicoterapeuta e paciente, é considerada um ponto central do tratamento psicológico, independentemente da abordagem teórica utilizada. Considerando esse conceito, podemos dizer que tal relação é composta por diversos elementos, sendo que dentre eles, destacam-se D Rapport E Relação terapêutica Responder A análise positiva dos sentimentos do psicoterapeuta, por parte do paciente. B acolhimento e reciprocidade por parte do psicoterapeuta. C correspondência de percepções, pensamentos e reações emocionais. D troca de sentimentos afetivos, amorosos e de cumplicidade. E demonstração de empatia e afeto amoroso em relação ao paciente. Responder 3 - Classi�cação das abordagens psicoterápicas segundo o método Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar as diferentes abordagens na psicoterapia, relacionando seus pontos de tangência e divergência. Psicoterapeuta: pro�ssional habilitado e capacitado Processo de tornar-se terapeuta Falamos do surgimento da psicoterapia e sua definição, mas algo importantíssimo e que não pode passar desapercebido é o processo de tornar-se psicoterapeuta. De fato, isso não será aplicável a todos aqueles que se tornarem bacharéis em Psicologia. É preciso que, além de uma formação na área, o indivíduo tenha aptidão e desejo em se dedicar a essa área. Embora tenhamos diversos protocolos, códigos e resoluções a seguir, nenhum paciente se apresentará da mesma forma que o outro, e uma intervenção ou técnica utilizada com uma pessoa pode não funcionar da mesma forma com outra. A psicoterapia prediz a atuação de um psicoterapeuta que, por sua vez, é um profissional habilitado e capacitado para utilizar recursos psicológicos a fim de trabalhar a queixa do paciente. Ribeiro (2013) discute que: O psicoterapeuta conduz com responsabilidade e saber o processo terapêutico direcionado às necessidades do seu paciente. O paciente confia no psicoterapeuta para que este cuide da sua queixa e o conduza a um caminho que solucione suas dificuldades existenciais e operacionais. Será preciso ter interesse científico e continuar se atualizando e desenvolvendo novas habilidades constantemente. Algumas abordagens vão ressaltar a questão da supervisão de um outro profissional para que o psicoterapeuta possa discutir seus casos e pensar novas formas de intervenção, bem como ter a oportunidade de falar com outro especialista sobre suas dúvidas, anseios e dificuldades. Como também somos pessoas, temos limitações. Vamos pensar juntos agora: Em algum momento da sua vida você já teve certeza de estar fazendo a coisa certa? Em algum momento da sua vida você já teve dúvidas sobre estar fazendo a coisa certa? Ousamos dizer que você já passou por situações de incerteza e já foi confrontado com as suas limitações. Da mesma forma, sua atuação profissional também pode gerar desconforto, às vezes, e isso não se deve – necessariamente – ao fato de você ser um profissional ruim ou incapacitado, mas porque isso é natural de acontecer. A literatura indica (RIBEIRO, 2013) que um conhecimento amplo, dedicação aos estudos e constante atualização podem deixar o psicoterapeuta mais seguro da sua prática, uma vez que ele estará mais bem preparado, munido de teoria e práticas embasadas que serão fundamentais para a escuta terapêutica e intervenções que se mostrarem necessárias. Também é necessário a visão “mente aberta”. Mas o que isso significa? O psicoterapeuta tem sua própria religião, suas crenças, seus preconceitos e seu time favorito, mas, como torcedores de um time, não podemos julgar alguém que torce por outro, certo? Em nossa vida cotidiana, temos maior liberdade para brincadeiras com os nossos amigos, mas, no ambiente profissional, essas preferências devem ser colocadas de lado. No ambiente terapêutico, o que será trabalho é o paciente, e não o psicólogo. Recomendação A psicoterapia e o atendimento às dores e sofrimentos de outros pode causar muito estresse e ansiedade nos psicoterapeutas, que são vistos como figuras de ajuda – aqueles que vão conduzir o indivíduo em sofrimento no caminho até a “cura”. Ao mesmo tempo, o psicoterapeuta também precisa de cuidados; por isso, ter sua fonte de escape, lazer e atividades prazerosas são práticas importantes. Ribeiro (2013) explica que o psicoterapeuta deve se apresentar como uma figura mais neutra com o objetivo de entrar em contato com outra pessoa e conduzi-la no seu caminho de mudança, aceitando e compreendendo, sem julgar ou apontar “defeitos” e limitações. O paciente deve encontrar um espaço de conforto, empatia, aceitação, para que possa se sentir livre para expor seus conteúdos mais íntimos. Dividir com uma pessoa que você nunca viu um segredo íntimo que você nunca contou para ninguém é um ato de grande coragem e é necessário estar muito à vontade para fazê-lo, não acha? Carl Gustav Jung, um grande psicólogo clínico, certa vez disse: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Técnicas para atendimento Psicoterapia individual e de grupo A psicoterapia pode ser individual quando consideramos apenas uma pessoa que busca pelo atendimento e a única a receber seu tratamento. No entanto, é possível que você já tenha ouvido falar da psicoterapia em grupo, que é considerada dentro de algumas das abordagens psicológicas, mas não todas. É muito comum esse tipo de método ser utilizado com pessoas alcoolistas ou drogaditos, pessoas que estão vivenciando o luto, e demonstrando dificuldade para lidar com a perda de uma pessoa querida, tanto por morte ou em uma situação de divórcio também, por exemplo, e nós podemos chamá-los de grupos operatórios. Um dos grupos mais conhecidos e que oferece esse tipo de terapia é o Alcoólicos Anônimos (AA). No AA existe uma pessoa que maneja a reunião e todos os que ali estão presentes podem se manifestar e colocar suas inseguranças, medos, incertezas e discutir com outras pessoas, em situação similar à sua, como seu vício influencia na sua vida social e familiar. É importante ressaltar que o AA não necessariamente é conduzido por um psicólogo e, nesse caso, podemos destacar o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS. Esses locais são dispositivos qualificados para o atendimento especializado para as situações dos grupos operatórios. Os CAPS oferecem diversas oficinas em que seus usuários podem se colocar e se expressar sendo acompanhados de perto por um profissional competente. A psicoterapia de grupo, no geral, poderá caminhar lado a lado com a realizada de maneira individual, sendo que ambas podem compor o plano de tratamento do indivíduo, assim como a terapia medicamentosa e outras que se mostrarem pertinentes. Uma das mais conhecidas terapias de grupo na Psicologia é o Psicodrama. Desenvolvido por Jacob Levy Moreno, essa terapia propõe a utilização de dramatizações esquematizadas pelos próprios integrantes do grupo, a fim de trabalhar as emoções dos envolvidos no processo. Existe uma estruturação da encenação e algumas técnicas são utilizadas, como: Espelho Uma pessoa reproduz o comportamento de outro integrante, com o objetivo de que este outro veja de fora, como expectador, o comportamento. Duplo Uma pessoa imita a postura de outro integrante de forma a se conectar emocionalmente com o mesmo e dizer e fazer coisas ainda não feitas, com o objetivo de expressar aquilo que o outro pode não ter consciência. Inversão de papéis Invertem-se os papéis das pessoas envolvidas na dramatização. Solilóquio A pessoa é solicitada a falar em voz alta o que está passando pela sua cabeça. Tais técnicas são usadas durante a dramatização quandosão eleitos o protagonista e seus egos auxiliares. O Psicodrama é uma psicoterapia na qual os clientes adquirem um novo insight (compreensão) e alteram padrões de comportamento indesejado por meio da interpretação de papéis ou incidentes. Pode ser utilizado como psicoterapia psicodramática ou como técnica, usada por outras psicoterapias como a Gestalt. Psicoterapia por meio do brincar Ludoterapia A criança experimenta na vida muita coisa que ainda é incapaz de expressar verbalmente, e, desse modo, utiliza a brincadeira para formular e assimilar aquilo que experimenta. O lúdico serve como linguagem para a criança – um simbolismo que substitui as palavras. Brincar é divertido para a criança e ajuda a promover a afinidade necessária entre o terapeuta e a criança. O medo e resistências iniciais por parte desta muitas vezes são drasticamente reduzidos quando ela se defronta com uma sala cheia de brinquedos atraentes. Para Oaklander (1980) brincar pode ser um bom instrumento de diagnóstico. Podemos observar muita coisa a respeito da maturidade, inteligência, imaginação e criatividade, organização cognitiva, orientação da realidade, estilo, campo de atenção, capacidade de resolução de problemas, habilidades de contato e assim por diante. É importante perceber que a criança também pode usar a brincadeira para evitar a expressão de sentimentos e pensamentos. Podemos considerar que a ludoterapia se define como: (...) a aplicação de procedimentos de psicoterapia por meio da ação do brincar, mais especi�camente, é o processo psicoterapêutico, que lançando mão do brinquedo, vai, por meio da brincadeira, constituir-se na estratégia utilizada pelo psicoterapeuta, a �m de que se possa rumar no sentido da autenticidade. (FEIJOO, 1997, p. 4) Nesse sentido, podemos pensar que o trabalho com crianças necessita de objetos que ela reconhece e que usa no seu dia a dia para interpretar e conhecer o mundo em que vive. Assim, como recurso de aprendizagem, os brinquedos e brincadeiras também ajudarão a criança a expressar suas emoções e situações que esteja vivenciando de uma maneira mais adaptativa. A criança transporta para a brincadeira uma dificuldade, uma alegria, uma dúvida, enfim, tudo o que ela sente que precisa digerir ou repetir. Psicoterapia com adultos No que concerne ao atendimento com adultos, precisamos entender que o paciente é o principal responsável pela sua evolução dentro de um processo psicoterápico, se ele não tiver interesse ou desejo em desenvolver suas habilidades ou de se dedicar a encontrar os motivos pelos quais sua saúde psicológica e emocional está abalada, o processo terapêutico não encontrará sucesso. De acordo com Ribeiro (2013), a psicoterapia se realizaria no quadripé: Cliente Sintoma/problema Psicoterapeuta Mundo O autor adiciona ainda o que ele chama de quinto elemento, que seria a intencionalidade, pois, em sua visão, é preciso que isso tenha um sentido. Na psicoterapia com adultos, encontraremos os mais diversos tipos de demandas: de orientação profissional até mesmo problemas conjugais. O leque é amplo e sempre podem chegar demandas novas que você não tinha estudado – ainda. Psicoterapia: Método de tratamento psicológico Neste vídeo, é realizada uma reflexão sobre a psicoterapia como um método de tratamento psicológico que se destina a oferecer cuidado para indivíduos, casais, famílias ou grupos com diversas demandas, utilizando exemplos de técnicas para cada um desses públicos. Dica Estudar os temas à medida que os casos cheguem até você. Do que adianta estudar a fundo desenvolvimento infantil de crianças com autismo se você não trabalha com esse público? Se você não tem perspectiva de atender nenhuma criança com esse diagnóstico? Precisamos ter como ressalva que precisamos possuir uma base sólida de conhecimentos, porém, à medida que se inicia a prática, é possível aumentar nosso repertório de conhecimentos. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Processo de tornar-se terapeuta Módulo 3 - Vem que eu te explico! Ludoterapia Questão 1 Encontramos várias técnicas do Psicodrama nas intervenções de grupo. Marque (V) para verdadeira ou (F) para falsa nas opções de terapias de grupo no campo da Psicologia. Em seguida, escolha a única opção correta. ( ) Ego auxiliar ( ) Solilóquio ( ) Duplo ( ) Espelho ( ) Inversão de papéis Vamos praticar alguns conceitos? Falta pouco para atingir seus objetivos. A F – V – V – V – V B F – F – F – V – V C V – V – V – V – V Questão 2 Uma das áreas que mais se desenvolveu nos últimos anos é a psicoterapia realizada com crianças. Nesses casos, são utilizados diversos objetos, bonecos e jogos que auxiliam a criança a expressar suas vivências ao longo do atendimento. Qual é o nome usado para indicar esse tipo de trabalho? D F – V – V – F – V E V – F – F – F – V Responder A Terapia infantil B Brinquedoterapia C Terapia comportamental infantil D Psicodrama E Ludoterapia Responder 4 - Classi�cação das abordagens psicoterápicas segundo a prática Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as abordagens na psicoterapia de acordo com as práticas. Práticas em avaliação psicológica Entrevista psicológica A entrevista psicológica é indicada na literatura como um instrumento muito importante que compõe o processo psicoterapêutico e parte do psicólogo em relação ao seu paciente. Para que um atendimento seja fluido e bem construído, algumas informações sobre desenvolvimento, questões emocionais, fatores sociais e outras dimensões que fazem parte da vida do paciente devem ser relatadas por ele ao terapeuta. Nesse caso, o que não queremos é que o paciente pense que está apenas respondendo a questões de maneira rígida, em que se prioriza o sim e não. Quanto mais informações e detalhes o paciente conseguir trazer, melhor para seu tratamento. Com cuidado e atenção, o psicoterapeuta deve guiar a entrevista, realizando as perguntas de maneira clara e curiosa, sem que haja uma sugestão ou indução de resposta. A neutralidade também é algo importante, pois o paciente pode esperar que o terapeuta tenha uma resposta esperada. Isso faz parte do nosso próprio processo de aprendizagem e carreira escolar-acadêmica. Protocolo para as entrevistas Por sempre estarmos envolvidos em avaliações, testes e provas, achamos que tudo na vida tem uma resposta certa e que, se respondermos de maneira incorreta, não seremos bons o suficiente. Com isso em mente, muitos testes psicológicos já trazem essa informação em sua capa: “Este questionário não tem respostas certas ou erradas”. Tome isso como protocolo para as entrevistas que você desenvolverá a partir daqui. Procure deixar o paciente confortável para responder às perguntas sem que ele sinta que está sendo avaliado por você e que, ao final, você dará uma nota 0 ou 10 para ele. Esse é um processo que a literatura indica como complexo e com um certo traço de dificuldade, pois você nunca poderá prever exatamente o comportamento que o paciente terá diante de algumas perguntas e, para você, isso também poderá ser difícil no sentido de que pode haver alguma questão que você não se sente confortável em fazer. Daí a importância de ter uma boa familiaridade com o instrumento que você está utilizando. É importante ter lido a sua lista de questões na íntegra, saber qual o objetivo de cada uma delas. Alguns autores da Psicologia destacarão a importância da relação estabelecida entre psicólogo e paciente, independentemente da abordagem psicológica utilizada pelo psicólogo, para o sucesso do tratamento (FALCONE, 2011; ROCHA; OLIVEIRA; KAPPLER, 2017). Veja alguns destes destaques: Para Ribeiro (2013), na relação psicoterapeuta-paciente, diversas são as percepções, fantasias e expectativas de ambas as partes sobre esse relacionamento que está tendo início e isso interferirá na natureza do que se considera comouma entrevista psicológica. Para Cordioli (2008), o diálogo e a relação terapêutica auxiliarão na modificação e transformação das questões psicoemocionais que levaram o indivíduo a procurar o tratamento psicológico. Uma pessoa busca pela psicoterapia, na maior parte das vezes, quando está com alguma questão difícil e sozinha e já não consegue resolver, necessitando de um profissional que a auxilie a lidar com a queixa. Porém, quando falamos de atendimento psicológico, partimos do princípio de que aquela pessoa compartilhará conosco – psicólogo – conteúdos íntimos da sua vida, como a relação que ela tem com sua família, os eventos que acontecem no seu ambiente de trabalho, as desavenças ou dificuldades enfrentadas por ela em um relacionamento amoroso, por exemplo. Psicodiagnóstico clínico Fundamentos do psicodiagnóstico Exemplo Por que você precisaria saber se o paciente toma algum remédio controlado? Bom, se ele faz o uso de alguma medicação, seu comportamento, suas respostas ou percepção de eventos podem estar alterados por causa da substância que ele ingere, e isso influenciará na sua avaliação ao longo do processo psicoterapêutico. O psicodiagnóstico pode ser entendido como uma forma de medição da personalidade (RIBEIRO, 2013) e pode ser diferenciado da entrevista psicológica em si. Embora pareça que o psicólogo está sendo um entrevistador, pois constantemente faz perguntas para seus pacientes, esse é um instrumento que integra um processo psicodiagnóstico que, por sua vez, envolve outros elementos. Ribeiro (2013) relata que o psicodiagnóstico dependerá de orientação, formação e da escola (abordagem teórica) que o psicoterapeuta segue. Ainda que seja um processo que inclui avaliações, utilização de testes psicológicos, escalas, questionários, observação, uso de objetos e dinâmicas, cada psicodiagnóstico é único, pois considera o paciente que está envolvido ali. Certamente você já viu algum post nas redes sociais ou já ouviu alguém dizendo que a “minha terapia é o café” ou “minha terapia é Deus”. De fato, tomar um café, correr, apreciar o pôr do sol e ir à igreja são práticas que podem trazer sensação de conforto e bem-estar às pessoas. No entanto, seria um equívoco pensar que por si só essas práticas podem ser consideradas como psicoterapia. De outro modo, podemos pensá-las como um complemento ao processo psicoterapêutico. Este não traz consigo apenas a prática em si, mas uma abordagem teórica embasada e validada, com objetivo delimitado, há um profissional treinado e capacitado para manejar todo o processo e em um contexto voltado para as reais necessidades do paciente. Habilidade do psicoterapeuta Como já vimos, cada pessoa tem suas próprias crenças, valores, percepções e formas de experienciar o mundo. Nesse sentido, alguns instrumentos que funcionam para uma pessoa podem não funcionar para outra e o que está em questão aqui não é, necessariamente, se aquele instrumento é bom ou ruim, mas sim se ele se adequa àquela pessoa em especial. Desde a preparação do psicoterapeuta, sua formação, estudo contínuo até mesmo a forma como ele organiza seu ambiente físico. De outro modo, seu comportamento em relação ao paciente fará grande diferença. É necessário ser: Empático; Receptivo; Acolhedor; Demonstrar confiança. Para que o paciente compartilhe conteúdos íntimos e problemas ou vivências que nunca contou para ninguém ou que tem dificuldade para responder, é preciso que ele se sinta aceito pelo outro. Diferença entre psicodiagnóstico e avaliação psicológica Neste vídeo, será apresentada uma reflexão sobre a diferença entre psicodiagnóstico e avaliação psicológica, com exemplos da prática profissional do psicólogo. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 4 - Vem que eu te explico! Protocolo para as entrevistas Módulo 4 - Vem que eu te explico! Habilidade do psicoterapeuta Questão 1 A literatura indica que um processo de psicodiagnóstico poderá variar consideravelmente, a depender de alguns fatores. Escolha a opção a seguir que descreve alguns desses fatores. Vamos praticar alguns conceitos? Falta pouco para atingir seus objetivos. A Orientação, formação, abordagem teórica do psicoterapeuta. B Abordagem teórica, formação e escola em que se graduou. Questão 2 Em um processo de psicodiagnóstico, podem ser utilizadas diversas técnicas e recursos para compor a avalição como um todo, investigando, de acordo com a necessidade, qual o melhor procedimento ou instrumento para responder ao objetivo traçado. Assinale a opção em que todos os elementos descritos podem integrar um processo de psicodiagnóstico. C Orientação, supervisão e psicoterapia individual. D Análise, entrevista psicológica e abordagem teórica. E Orientação, supervisão teórica e abordagem do psicoterapeuta. Responder A Testes – escalas – questionários – listas de atividades – tarefa de casa B Testes psicoterápicos – listas de atividades – questionários – brinquedos C Questionários – testes psicológicos – entrevistas – escalas D Escalas sociais – tarefa de casa – entrevistas – testes psicológicos E Testes – escalas sociais – questionários – tarefa de casa Responder Considerações �nais O processo psicoterapêutico, de modo geral, pode ser entendido como um caminho trilhado por uma pessoa que está em sofrimento psíquico e procura outra pessoa que possui conhecimentos científicos e experiência prática para conduzi-la até seu estado de bem-estar – ou até a “cura da sua alma”. Nós vimos, ao longo do nosso estudo, que diversos são os fatores que influenciam esse trabalho. Sabemos que em nossa sociedade a psicoterapia ainda encontra muitos preconceitos, pois ainda é vista por uma parte menos esclarecida da população como um tratamento para “pessoas loucas”, com o entendimento de que apenas pessoas com transtornos mentais severos ou muito graves são passíveis de receber acompanhamento psicológico e, como discutimos, isso não é bem verdade. É nosso papel como psicólogos e estudantes de Psicologia quebrarmos esses tabus e mostrarmos para as outras pessoas como o processo psicoterápico pode favorecer nosso autoconhecimento, e auxiliar, de forma psicoeducativa, as pessoas a lidarem de maneira mais adaptativa com os seus desafios cotidianos. Podcast Neste podcast, serão apresentadas as teorias e técnicas que são utilizadas pelo psicólogo, bem como os desafios do processo psicoterapêutico na atualidade, com exemplos da clínica psicológica. 00:00 14:15 1x Referências AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Dicionário de Psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2010. BECK, J. S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997. CASTANHEIRA, N. P.; GREVET, E. H.; CORDIOLI, A. V. Aspectos conceituais e raízes históricas das psicoterapias. In: CORDIOLI, A. V.; GREVET, E. H. (Org.). Psicoterapias: Abordagens Atuais. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018, v. 01, p. 3-24. CORDIOLI, A. V. As principais psicoterapias: fundamentos teóricos, técnicas, indicações e contraindicações. In: CORDIOLI, A. V. & cols. (Eds.). Psicoterapias: Abordagens Atuais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 19-41. FALCONE, E. M. O. Relação terapêutica como ingrediente ativo de mudança. In: RANGÉ, B. (Ed.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 145-154. FEIJOO, A. M. L. C. de. Aspectos teórico-práticos na Ludoterapia. Fenômeno Psi, p. 4, 1997. OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. São Paulo: Summus editorial, 1980. QUINET, A. As 4+1 condições da análise. 12. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009. RIBEIRO, J. P. Psicoterapia: teorias e técnicas psicoterápicas. São Paulo: Summus Editorial, 2013. https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212sa/04268/index.html ROCHA, L. F. D. da; OLIVEIRA, E. R.; KAPPLER, S. R. A contratransferência na Terapia Cognitivo-Comportamental: uma revisão da literatura brasileira.Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, p. 104-112, 2017. Explore + Um ponto essencial para a psicoterapia é a relação terapêutica. Sugerimos a leitura do artigo A contratransferência na Terapia Cognitivo- Comportamental: uma revisão da literatura brasileira (2017), a fim de complementar seu aprendizado. Se você gosta de filmes e séries, eis a seguir alguns títulos que podem auxiliar na compreensão da história da psicoterapia e no conhecimento de alguns de seus autores mais relevantes: Freud: além da alma (filme/1962), Um método perigoso (filme/2011) e Freud (série/Netflix – 2020). Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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