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1 Quatro a seis EDUCAÇÃO PSICOMOTORA COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia-se com a ideia visionária e da realização do sonho de um grupo de empresários na busca de atender à crescente demanda de cursos de Graduação e Pós-Graduação. E assim foi criado o Instituto, como uma entidade capaz de oferecer serviços educacionais em nível superior. O Instituto tem como objetivo formar cidadão nas diferentes áreas de co- nhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim, colaborar na sua formação continuada. Também promover a divulgação de conhecimentos científicos, técnicos e culturais, que constituem patrimônio da humanidade, transmitindo e propagando os saberes através do ensino, utilizando-se de publi- cações e/ou outras normas de comunicação. Tem como missão oferecer qualidade de ensino, conhecimento e cultura, de forma confiável e eficiente, para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética, primando sempre pela inovação tecnológica, ex- celência no atendimento e valor do serviço oferecido. E dessa forma, conquistar o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos de quali- dade. 3 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 5 2. DISTÚBIOS E ALTERAÇÕES PSICOMOTORAS .......................... 7 2.1 Distúrbios psicomotores ................................................................. 8 2.1.1 Instabilidade psicomotora ........................................................ 8 2.1.2 Debilidade psicomotora ........................................................... 9 2.1.3 Inibição psicomotora ................................................................ 9 2.1.4 Lateralidade cruzada ............................................................... 9 2.1.5 Imperícias.................................................................................. 10 2.2 Quadros nos quais podem surgir alterações psicomotoras ......... 10 2.2.1 Estupor (ou acinesia) ............................................................. 10 2.2.2 Agitação e Inibição Psicomotora ........................................... 11 2.2.3 Maneirismos .......................................................................... 11 2.2.4 Ecopraxia............................................................................... 11 2.2.5 Estereotipias .......................................................................... 11 3.2.6 Negativismo ........................................................................... 12 2.1.7 Obediência automática .......................................................... 12 2.1.8 Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea ................................ 12 2.1.9 Extravagâncias cinéticas ....................................................... 12 3. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA...................................................... 13 4. O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA.. 18 5. INCLUSÃO E PSICOMOTRICIDADE ........................................... 19 6. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL .......................... 23 7. TRABALHO PSICOMOTOR COM PESSOAS COM PARALISIA CEREBRAL 27 4 8. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA: UMA PRÁTICA POSSÍVEL? ...... 30 8.1 A Avaliação .................................................................................. 30 Avaliação Global ................................................................................ 30 Avaliação diagnóstica ........................................................................ 31 8.2 Intervenção prática para contribuição da aprendizagem da pessoa com deficiência ............................................................................................. 33 9. REFERÊNCIAS: ........................................................................... 34 5 1. INTRODUÇÃO A a Psicomotricidade é a ciência que trabalha o desenvolvimento motor das crianças, relacionando-o ao seu mundo interno e externo. Ela busca trabalhar, através do corpo e sua interação com o meio, o desenvolvimento não só motor, mas afetivo, cognitivo e social do indivíduo. Teve seu início no século XIX, fundada sob a tradição médica e balizada a partir da dicotomia cartesiana que distinguia a mente e o corpo como partes que poderiam pertencer ao mesmo corpo, mas que eram compostas de substâncias diferenciadas. Enquanto ciência, a Psicomotricidade está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas, sendo, deste modo, sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o afeto. Nunca é demais frisarmos tais entendimentos, uma vez que nosso olhar se dá em torno dos benefícios oferecidos pelo trabalho psicomotor, certo? Serão dois momentos para trabalharmos a educação e reeducação psicomotora e reflexões sobre sua aplicação em portadores de necessidades especiais. Nesse primeiro momento veremos alterações e distúrbios psicomotores que levam à educação/reeducação psicomotora. No próximo ,omento veremos uma bateria de exames e atividades para a educação/reeducação psicomotora e aplicação em outros portadores de necessidades especiais. A educação psicomotora surge com Pierre Vayer e Le Boulch. Para eles, a educação psicomotora é uma ação pedagógica e psicológica que utiliza os meios da educação física com o fim de normalizar ou melhorar o comportamento da criança, ou seja, a educação física era um meio de se trabalhar a 6 psicomotricidade no contexto educacional com o intuito, a priori, de promover na criança inadaptada uma educação motriz (coordenação, equilíbrio etc.) e psicomotriz (memória e consciência). Le Boulch (1983) propõe uma educação baseada no desenvolvimento de qualidades dos indivíduos, proporcionando uma relação melhor com seu meio, a psicocinética. Atualmente, a educação psicomotora vem sendo enfatizada em instituições escolares e pré-escolares, clubes, espaços de recreação etc. Através de variadas estratégias, os trabalhos multiplicam-se promovendo uma revisão da noção de infância e da práxis educativa. Figura: 01 Possibilidades da educação psicomotora A Educação Psicomotora pode ser entendida como uma metodologia de ensino que instrumentaliza o movimento humano enquanto meio pedagógico para favorecer o desenvolvimento da criança. É através da Educação Psicomotora que a criança descobre suas possibilidades cinestésicas, expressando-se com seu corpo e em seu corpo, 7 com os movimentos iguais aos que fazem com a escrita e a leitura. Atividades sensoriais, motoras, de equilíbrio, de agilidade, de lateralidade, de coordenação motora, jogos, memória e percepção espaço-temporal são “aspectos” trabalhados na Psicomotricidade, atuando diretamente nas áreas emocionais, psicológicas, intelectuais e sociais de cada criança. Na educação escolar, a psicomotricidade precisa ser trabalhada em um planejamento organizado e interdisciplinar com o objetivo de desenvolvimento integral da criança, observando o contexto não só escolar, mas social e familiar e tudo aquilo que se refere à vivência e à realidade na qual a criança está inserida. 2. DISTÚBIOS E ALTERAÇÕESPSICOMOTORAS É acertado dizermos que nas relações psicomotoras podemos observar um estado de vontade do ser humano, o que é correspondido pela execução dos movimentos, os quais podem ser voluntários ou involuntários, ainda subdivididos em inatos e adquiridos, chamados de automatismos elementares. Os inatos são aqueles que nascem conosco e são representados pelos reflexos, que são respostas caracterizadas pela invariabilidade qualitativa de sua produção e execução. Estes reflexos podem ser agonistas, antagonistas ou deflexos (alternantes) que são mais hierarquizados que os reflexos puros, permitindo certo grau de variabilidade, conforme a adaptabilidade individual. Refere-se a necessidades orgânicas. Influindo nestas respostas temos os instintos, responsável pela auto conservação individual. No homem ele é misturado com o afeto produzindo tendências ou inclinações (LOUREIRO FILHO, 2002). Os automatismos adquiridos são os reflexos condicionados, que ocorrem devido a aprendizagem e nos forma hábitos, que, quando bons, nos poupam tempo e esforço, porém se exagerados, eliminam nossa criatividade e nos 8 deixam embotados. Os hábitos podem ser passivos (adaptação biológica ao seu ecossistema) ou ativos (comer, andar, tocar instrumentos, etc..). Os reflexos condicionados são produzidos desde as primeiras semanas de vida. Esses reflexos condicionados geralmente começam como uma atividade voluntária e depois, por já estarem aprendidos, são mecanizados (LOUREIRO FILHO, 2002). Antes de vermos os quadros nos quais podemos encontrar alterações de psicomotricidade, é importante sabermos que qualquer distúrbio psicomotor tem ligação com problemas que envolvem o indivíduo em sua totalidade. 2.1 Distúrbios psicomotores Distúrbios psicomotores e afetivos estão intimamente associados, razão porque o diagnóstico não é fácil de ser feito. Os sintomas mais comuns desses distúrbios estão associados à área do ritmo, da atenção, do comportamento, esquema corporal, orientação espacial e temporal, lateralidade e retardos. Esses distúrbios podem ser classificados em quatro grupos, segundo Grünspun (1999 apud JOSÉ; COELHO, 2002): 2.1.1 Instabilidade psicomotora É o tipo mais complexo e causa uma série de transtornos pelas reações que o portador apresenta, com o predomínio de uma atividade muscular contínua e incessante. Essas crianças revelam: a)Instabilidade emocional e intelectual; b)Falta de atenção e concentração; c)Atividade muscular contínua (não terminam tarefas iniciadas); d)Falta de coordenação geral e coordenação motora fina; e)Hiperatividade e equilíbrio prejudicado; 9 f)Deficiência na formulação de conceitos e no processo de percepção (discriminação de tamanho, figura-fundo, orientação espaço-temporal); g)Alteração da palavra e da comunicação (atraso na linguagem e distúrbios da palavra); h)Alterações emocionais (são impulsivas, explosivas, sensíveis, frustram- se com facilidade, destruidoras); i)Alterações do sono (terror noturno, movimentos enquanto dormem); j)Alterações no processo do pensamento abstrato; k)Dificuldades de escolaridade (leitura, escrita, aritmética, lentidão nas tarefas, dificuldade de copiar da lousa, entre outras manifestações. 2.1.2 Debilidade psicomotora A debilidade psicomotora é caracterizada por PARATONIA, ou seja, limitação nas quatro extremidades do corpo (ou apenas em duas) – “deselegância” ao correr – limitações e rigidez nas mãos e nas pernas; e SINCINESIA – Participação de músculos em movimentos aos quais eles não são necessários – descontinuidade de gestos; imprecisão nos movimentos dos braços e das pernas; dificuldade de realizar os movimentos finos dos dedos, etc. 2.1.3 Inibição psicomotora Além das características da DEBILIDADE PSICOMOTORA, neste caso a ansiedade é presença constante – a criança apresenta sobrancelha franzida; cabeça baixa; problemas de coordenação motora; distúrbios de conduta, dentre outros. 2.1.4 Lateralidade cruzada A maioria dos autores acredita que existe no cérebro um hemisfério predominante responsável pela lateralidade do indivíduo – desta maneira, de acordo com a ordem enviada pelo cérebro dominante, teremos o destro ou o 10 canhoto. No entanto, segundo José e Coelho (2002), além da dominância da mão, existe também a do pé, do olho, do ouvido. Quando essas dominâncias não se apresentam do mesmo lado diz-se que o indivíduo tem lateralidade cruzada – os distúrbios psicomotores são evidentes e resultam em deformação do esquema corporal. São algumas das formas mais comuns desse distúrbio: mão direita dominante X olho esquerdo dominante; mão direita dominante X pé esquerdo dominante e o inverso. Geralmente essas crianças apresentam alto índice de fadiga; quedas frequentes; coordenação pobre; atenção instável; problemas de linguagem (dislalias, língua enrolada…). 2.1.5 Imperícias É um distúrbio de menor gravidade no qual a criança apresenta inteligência normal, apesar de uma certa frustração pela dificuldade de realizar certas tarefas que exijam apurada habilidade manual. Apresentam dificuldades na coordenação motora fina; quebra constante de objetos; letra irregular; movimentos rígidos; alto índice de fadiga (GRÜNSPUN, 1999 apud JOSÉ; COELHO, 2002). 2.2 Quadros nos quais podem surgir alterações psicomotoras Pois bem, quando há alterações de psicomotricidade, podemos encontrar os quadros abaixo: 2.2.1 Estupor (ou acinesia) É a perda da atividade espontânea englobando simultaneamente, a fala, a mímica, os gestos, a marcha etc... Vem e vai bruscamente em crises de agitação psicomotora. É o caso do estupor catatônico (nos esquizofrênicos) e o depressivo (na depressão). 11 2.2.2 Agitação e Inibição Psicomotora São graus de determinado estado psicomotor. Quando há pequeno aumento ou diminuição dos movimentos são designados como inquietação e lentificação psicomotoras, respectivamente. Quando são alterações mais acentuadas, representam a agitação e inibição motora, propriamente ditos. Podem ocorrer alterações da psicomotricidade em indivíduos normais, como por exemplo, após experimentar forte tensão emocional ou preocupações que levam a vontade de andar ou levam a imobilidade. A agitação patológica pode ocorrer com caráter uniforme e estruturado como na mania, ou desordenadamente e de forma improdutiva como na catatonia esquizofrênica, epilepsia e psicoses infecciosas e tóxicas (como no delirium tremens). A inibição ocorre, por exemplo, na depressão, estupor, estados confusionais e amenciais. Um grau ainda mais elevado de agitação é o furor, que se caracteriza por uma extrema agitação necessitando intervenção imediata para impedir danos aos outros ou ao próprio paciente. 2.2.3 Maneirismos Os maneirismos correm em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos, e são caracterizados por gestos artificiais, ou linguagem e escrita rebuscada, com uso de preciosismo verbal, floreados estilísticos e caligráficos, etc. 2.2.4 Ecopraxia A Ecopraxia também ocorre em esquizofrênicos, oligofrênicos e histéricos (principalmente nos primeiros), onde há imitação de um comportamento, sem propósito (gestos, atitudes etc.). Pode haver ecolalia (sons), ecomimia (mímica) e ecografia (escrita). 2.2.5 Estereotipias As estereotipias são as características do catatonismo onde há repetição automática de movimentos, frases e palavras (verbigeração), ou busca de posições e atitudes, sem nenhum propósito. As estereotipias cinéticas são confundidas com os tiques nervosos, porém esses são elementares, de fundo 12 neurótico. É mais difícilde distingui-las dos cerimoniais compulsivos, porém estes são atos complicados que servem para aliviar a tensão nervosa da pessoa que a realiza. Alguns acham que as estereotipias cinéticas são atos que eram compreensíveis e motivados, que perderam sua causa. 3.2.6 Negativismo Negativismo é a oposição ativa ou passiva às solicitações externas. Na passiva a pessoa simplesmente deixa de fazer o que se pede sendo característico o mutismo e a sitiofobia (medo de se comprometer, de ser internado, de ser envenenado). Na ativa, a pessoa faz tudo ao contrário do que se pediu, e às vezes quando desistimos, eles o fazem sendo isso a “reação de último momento”. O negativismo verbal pode se apresentar na forma das pararespostas (ou seja, o paciente entende a pergunta do entrevistador, porém não responde algo compatível com a pergunta, e sim algo “ao lado”, ou próximo). O negativismo faz parte da série catatônica e representa ação imotivada e não deliberada. 2.1.7 Obediência automática Obediência Automática que é o oposto ao negativismo, onde o paciente tem extrema sugestionabilidade e faz tudo o que é mandado. Ocorre na esquizofrenia e quadros demenciais. 2.1.8 Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea Catalepsia, Pseudo-Flexibilidade Cérea ocorre devido a hipertonia do tônus postural. Ocorre na histeria, esquizofrenia e parkinsonismo. A flexibilidade cérea é a conservação de uma posição, ocorrendo no parkinsonismo, enquanto que nos esquizofrênicos e histéricos há pseudo-flexibilidade cérea, devido a influência de fatores psicogênicos. 2.1.9 Extravagâncias cinéticas As extravagâncias cinéticas são comuns da conduta esquizofrênica. Pode ser descrito como a perda da gracilidade, ou seja, da naturalidade, 13 espontaneidade, proporcionalidade dos gestos e atitudes; como a rigidez facial (o pregueamento da testa em “M” é característico da catatonia); paratimias (a mímica não está em concordância com o pensamento verbalizado); focinho catatônico (protusão permanente dos lábios); interceptações cinéticas (interrupção brusca de um gesto apenas esboçado), etc. (LOUREIRO FILHO, 2002). Por fim, sobre os atos voluntários, também chamados de volitivos, relacionados e dependentes da inteligência e do afeto, eles acontecem em quatro etapas, sendo as seguintes: 1.negativismo ou propósito – inclinações e tendência que fazem com que surja interesse em determinado objeto; 2.Deliberação – onde ponderamos os motivos (razões intelectuais) e os móveis (atração ou repulsão, vindas do plano afetivo); 3.Decisão – demarca o começo da ação, inibindo os móveis e motivos vencidos; 4.Execução – há os movimentos físicos (LOUREIRO FILHO, 2002). 3. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA Abaixo estão dois conceitos muito interessantes de Psicomotricidade: A Psicomotricidade baseia-se em uma concepção unificada da pessoa, que inclui as interações cognitivas, sensório-motoras e psíquicas na compreensão das capacidades de ser e de expressar-se, a partir do movimento, em um contexto psicossocial (Costa, 2002). Ela se constitui em um conjunto de conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que permitem, utilizando o corpo como mediador, abordar o ato motor humano com o intento de favorecer a integração desse sujeito consigo e com o mundo dos objetos e outros sujeitos (Costa, 2002). 14 Figura: 02 Geralmente a educação psicomotora é dirigida às crianças consideradas “normais”, atuando como parte integrante da educação básica durante a fase pré-escolar e escolar. Inúmeros autores interessam-se pela corrente educativa da Psicomotricidade. Destacam-se entre eles o professor Jean Le Boulch, que na segunda metade da década de 1960, buscando o reconhecimento dos valores da educação psicomotora influenciou na decisão ministerial de incluí-Ia nos cursos primários da França. Algumas aquisições fundamentais que viabilizam a aprendizagem devem ser adquiridas pelas crianças. São elas: 1) até 3 anos: andar, correr, pular, falar, se expressar e jogar; 2) de 3 anos a 7 ou 8 anos: ter consciência do próprio corpo, afirmação da dominância lateral e orientação sobre si, bem como se adaptar ao ambiente (ALVES, 2008, p. 129). 15 Ainda segundo Alves (2008, p. 131-132), o movimento e a sua aprendizagem abrem um espaço para: ►Desenvolvimento de habilidades motoras que levem a criança a aprender a conhecer seu próprio corpo e a se movimentar expressivamente; ►Promoção de um saber corporal que deve incluir as dimensões do movimento, as quais indiquem estados afetivos até representações de movimentos mais elaborados e sentidos e ideias, oferecendo um caminho para troca de afetividades; ►Facilitação da comunicação e da expressão de ideias; ► Apropriação da imagem corporal; ► Percepção rítmica, por meio de jogos corporais e danças; ► Desenvolvimento de habilidades motoras finas, por meio de diversas atividades que facilitem a e scrita. Nesse sentido, a educação psicomotora deve trabalhar na escola: 1) a atividade tônica, por meio da tonicidade e do equilíbrio; 2) a atividade psicofuncional, por meio da lateralidade, do esquema corporal e da orientação espaço-temporal; e 3) a atividade de relação, por meio da memória corporal (ALVES, 2008, p. 134). O psicomotricista deve ter um olhar atento em relação ao desenvolvimento das habilidades fundamentais para a aprendizagem da criança de forma global, tanto aquelas com desempenho normal quanto as que podem possuir algum comprometimento e, devido a isso, ser mais lentas. A função é viabilizar o desenvolvimento dos aspectos socioafetivo (autoimagem positiva), cognitivo e psicomotor (esquema corporal, imagem corporal, lateralidade e relações tempo-espaço) (ALVES, 2008, p. 135). 16 Figura: 03 Educação psicomotora A Educação Psicomotora vem sendo enfatizada em várias instituições escolares e em outras que fazem trabalhos relacionados à recreação infantil. Através de uma série de atividades, principalmente exercícios e jogos, procura promover o completo desenvolvimento físico, mental, afetivo e social, evitando, segundo Lapierre e Aucouturier (1988), as desviações, demasiado neuróticas da personalidade. De acordo com Piaget (1977), a ação psicomotora é considerada como precursora do pensamento representativo e do desenvolvimento cognitivo. Ele ainda afirma que a interação da criança em ações motoras, visuais, táteis e auditivas sobre os objetivos do seu meio é essencial para o desenvolvimento integral. A atividade sensório-motora é importante para o desenvolvimento de conceitos espaciais e na habilidade de utilizar termos linguísticos. Contudo o jogo tem papel fundamental para o desenvolvimento fisio-motor, devendo ser aproveitado num trabalho integrado com outras áreas do desenvolvimento. Assim pode-se dizer que o desenvolvimento motor não acontece pela 17 padronização das ações, mas sim: pela complexidade, diversidade, variabilidade, constância e consistência dos jogos a serem trabalhados. Os argumentos usados para justificar a educação psicomotora na educação colocam em evidência seu papel na prevenção das dificuldades escolares. Mas antes de tudo deve ser uma experiência ativa de confrontamento com o meio. Portanto os exercícios corporais e as atividades despertadoras visam especialmente assegurar o desenvolvimento harmonioso dos componentes corporais, afetivo e intelectual, objetivando a conquista de uma relativa autonomia. A conscientização e domínio do corpo, a apropriaçãodo esquema corporal, a coordenação psicomotora, as noções de tempo-espaço são objetivos importantes que precisam ser trabalhados antes do aprendizado da escrita e leitura (BORGES; RUBIO, 2013). Ao profissional que atua no campo da Educação Psicomotora cabe, a partir de uma busca constante do conhecimento das necessidades e interesses das crianças, propor experiências que produzam a adequada estimulação e que venham ampliar o vivido corporal, que é o responsável pelos inúmeros esquemas que serão transferidos às situações vivenciadas no futuro. Deve-se acrescentar que a falta de adequada estimulação no decorrer da infância pode produzir inúmeras perturbações psicomotoras. Qualquer que seja a experiência proposta e o método adotado, o educador deverá levar em consideração as funções psicomotoras (coordenações globais, lateral idade, equilíbrio etc.) que pretende reforçar nas crianças com as quais está trabalhando. Mesmo levando em conta que, em qualquer exercício ou atividade proposta, uma função psicomotora sempre se encontra associada a outras, ele deverá estar consciente do que, exatamente, está almejando. O trabalho da educação psicomotora com as crianças deve prever a formação de base indispensável em seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, dando oportunidade para que por meio de jogos, de atividades lúdicas, se conscientize sobre seu corpo. Através dessas atividades lúdicas a criança desenvolve suas aptidões perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor (ROSSI, 2011). 18 4. O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA Na Educação Infantil os professores estabelecem regras de tempo, se preocupam demasiadamente com o ensino das letras e números, deixando as experiências que poderiam ser vivenciadas de forma corporal e lúdica na sala de aula muitas vezes de lado, com isso diminui o prazer da criança em aprender, o processo de ensinoaprendizagem muitas vezes torna-se repetitivo, cansativo, sem despertar na criança muitas expectativas, privando-as da vivência corporal, do movimento e das atividades lúdicas. Acredita-se que para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças ocorrerem de forma favorável é necessário que aconteça um equilíbrio entre os fatores psicoemocional, cognitivo e corporal. Desta forma, a falta do desenvolvimento dos esquemas psicomotores, vem se destancando de forma recorrente como uma das causas das dificuldades de aprendizagem das crianças. Muitos professores em geral ainda estão retidos na preocupação do desenvolvimento motor das mãos, esquecendo que é através do corpo como um todo que as crianças se deslocam, manipulam, experimentam, sentem, fazem e aprendem, uma vez que não sendo possibilitadas tais vivências corporais as crianças mal conseguirão segurar um lápis ou colocar uma letra dentro de uma linha de um caderno. O que se percebe, muitas vezes, é que muitas crianças chegam ao primeiro ano do ensino fundamental sem o conhecimento do seu próprio corpo. O conhecimento, por parte dos professores, da importância de se trabalhar o desenvolvimento psicomotor constitui-se em uma ação preventiva, que colocada em prática diminuiria de forma expressiva as intervenções remediadoras relacionadas às questões de dificuldades de aprendizagem. Desta forma a prática psicomotora se torna imprescindível dentro do cotidiano escolar, cabendo ao professor trabalhar a parte cognitiva e a psicomotricidade de maneira que estejam interligadas entre elas; atribuindo relevância as atividades que envolvam o corpo e o movimento. 19 O desenvolvimento de um esquema corporal adequado permite a criança um conhecimento adequado de seu corpo para poder então utilizá-lo, pois sem esse conhecimento não consegue realizar nenhum movimento que exija coordenação e equilíbrio. O esquema corporal, portanto, é a base para todo conhecimento que a criança tem do mundo, pois se não se conhecer dificilmente irá reconhecer o mundo que a rodeia, tal conhecimento é fundamental para que a criança tenha uma aprendizagem plena e possa se orientar no tempo e no espaço. A exploração do corpo através do movimento é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, mas para muitos professores priorizar tal encaminhamento no cotidiano pedagógico, muitas vezes significa bagunça, turbulência, sendo apenas tolerado nos momentos de recreio e das aulas de Educação Física. A atividade motora, como aspecto que influencia o desenvolvimento infantil, tem recebido pouca atenção por parte dos professores, mesmo sendo este um dos motivos visíveis relacionados à questão das dificuldades de aprendizagem, assim mesmo o movimento ainda é visto como parte desnecessária ao desenvolvimento humano. Para que ocorra a aprendizagem da criança, ou seja, para que seu desenvolvimento ocorra de forma global e harmoniosa, é necessário oferecer condições favoráveis no ambiente escolar. Cabendo, portanto, aos educadores a disponibilização desses recursos. 5. INCLUSÃO E PSICOMOTRICIDADE A Psicomotricidade é de fundamental importância na Educação Inclusiva para o desenvolvimento das crianças com deficiência, já que as áreas cognitivas, afetivas e/ou motoras podem estar afetadas e causando limitações que a deficiência implica. Trabalhar com atividades específicas que atuam diretamente nessas áreas contribui e muito no desenvolvimento psicomotor e social das crianças com deficiência. 20 A Educação Psicomotora deve ser considerada como uma educação básica para o Ensino Fundamental. A Educação Psicomotora proporciona atividades escolares que não podem ser conduzidas se a criança não tiver alcançado a consciência do seu corpo, lateralizar-se, e se não tiver adquirido habilidades e coordenação de seus gestos e movimentos (Le Boulch, 1987, p. 11). Figura: 04 Enquanto a educação socializa e permite conhecer cada etapa do mundo com finalidade de reunir conhecimento e potenciais de cada um de nós para se tornar um ser, a inclusão, acesso de pessoas com deficiência à educação e demais espaços sociais é um direito de todos, portanto, nada mais pertinente do que lançarmos algumas reflexões acerca dessa relação inclusão/psicomotricidade. Vamos fazer um recorte no tempo e nos situarmos no período pós Segunda Guerra Mundial (1945) quando, de fato, aconteceram algumas atitudes positivas em relação às Pessoas com Deficiências, onde iniciaram-se primeiramente seus atendimentos em hospitais, programas de reabilitação 21 dirigidos aos lesionados das guerras como possibilidade para reintegrá-los ao mundo. (RECHINELI; PORTO; MOREIRA,2008). A importância desses fatos é para que hoje possamos olhar essas pessoas com outros olhares, dar oportunidades e acreditar no seu desempenho, potencialidades e habilidades que vai além de suas limitações, seu desenvolvimento e crescimento na sociedade. Mas focando na criança, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor na medida em que o ato motor é responsável por propiciar as interações do sujeito com o meio. A psicomotricidade, com suas contribuições no estudo do homem em movimento e sua relação consigo, nos proporciona resultados satisfatórios nas dificuldades apresentadas no processo de ensino aprendizagem, possibilitando a criança o desenvolvimento motor, afetivo e de relacionamento, além de preparar as crianças para aprendizagem futuras, favorecendo consideravelmente a alfabetização e prevenindo distúrbio de aprendizagem. (WALLON apud BESSA, 2011, p.123). A educação psicomotora deve abarcar todos os alunos, promover a inclusão de maneira efetiva e sendo a Psicomotricidade umaciência da saúde e da educação que independente das diversas escolas, psicológica, condutista, evolutista, genética etc., ela visa à representação e a expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo. E é a partir daí que a Psicomotricidade adquire sua especificidade e autonomia, ao se diferenciar de outras disciplinas trazendo alternativas para as pessoas com deficiências, utilizando atividades lúdicas através do corpo de maneira eficiente e prazerosa, apesar das possíveis limitações e dificuldades. Sendo educação infantil a primeira experiência de educação escolar vivenciada pela criança, é de fundamental importância que esse processo educativo esteja voltado para seu desenvolvimento integral, evidenciando suas características cognitivas, sócio afetiva e psicomotora. 22 Figura: 05 Inclusão escolar O ponto de partida e de chegada de uma prática está na ação e estas se traduzem na intenção educativa de ampliar a capacidade do aluno em relação a: expressar-se através de múltiplas linguagens posicionar-se diante da informação, interagir de forma crítica e ativa com meio físico social. Busca-se alcançar com a educação psicomotora: a criança brincar com o objeto e entre si, expressar-se com o corpo, construir-se no tempo e no espaço. Nas atividades lúdicas extraclasse experiências corporais são vivenciadas brincadeiras, jogos, danças que exploram lateralidade, agilidade, atenção, memória, coordenação motora global, equilíbrio e percepção espaço-temporal. Os resultados obtidos relacionam se as descobertas que as crianças fazem com seu próprio corpo, do corpo dos outros e do meio que estão inseridos, a capacidade de execução de movimento, a construção de novos conceitos prevenindo assim dificuldades de aprendizagem e preparando os educandos para as etapas seguintes. Seja um aluno com deficiência intelectual, motora, auditiva, visual ou outras, eles também têm direito à educação motora, devendo ser estimulado de forma adequada e partindo sempre do princípio básico: a consciência corporal. Para que assim possa ter todas as oportunidades necessárias que um indivíduo precisa para construir o conhecimento. Nicola (2004) salienta que a primeira etapa do desenvolvimento motor da criança vai do nascimento aos dois anos de idade e a segunda etapa dos dois anos de idade aos cinco anos de idade, onde a preensão é cada vez mais precisa 23 e a locomoção mais coordenada, assim como o equilíbrio. Vale lembrar que a elaboração do esquema corporal prossegue até os doze anos de idade Assim o trabalho da psicomotricidade vai além da motricidade, existindo uma preocupação maior com os sentimentos da criança, na criação do vínculo afetivo entre professor e aluno, como também na formação geral (emocional, psicológica, moral e intelectual) do aluno (SILVA, 2011). O currículo deveria ser adaptado às necessidades das crianças, e não vice-versa. Escolas deveriam, portanto, prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas à criança com habilidades e interesses diferentes. Crianças com necessidades especiais deveriam receber apoio instrucional adicional no contexto do currículo regular, e não um currículo diferente (Declaração de Salamanca, 1996, 26, 27). 6. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Populações com necessidades especiais, neste caso a deficiência intelectual, são compostas de indivíduos cujas características físicas, mentais e/ou emocionais interferem no seu desenvolvimento e/ou desempenho ótimos (TRITSCHLER, 2003). No geral, uma pessoa portadora de uma deficiência, isto é, de uma diminuição de adaptabilidade provocada por uma perda, de caráter permanente, de certa(s) capacidade(s), apresenta diferentes características quanto ao desenvolvimento do seu esquema corporal, da organização espacial, do equilíbrio, da agilidade e da força, entre outras, que podem ser consideradas, em certos casos, patológicas, isto é, desenvolvendo-se com particularidades e sequências distintas do desenvolvimento considerado “normal”, e noutros simplesmente atrasadas, isto é, quando se verifica uma evolução em tudo semelhante ao desenvolvimento normal, mas defasada em relação à idade cronológica (GORLA; ARAÚJO; CARMINATO, 2004). No Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5), a deficiência intelectual (DI) está inserida no que denominam de transtornos do neurodesenvolvimento. Esta condição se caracteriza por déficits em 24 capacidades mentais genéricas e resulta em prejuízo no funcionamento adaptativo. Como consequência, há comprometimento na independência pessoal, participação social e funcionamento acadêmico e profissional. Do ponto de vista legal, indivíduos com DI devem estar incluídos no ensino regular e, paralelamente, têm o direito assegurado de participar de atividades complementares em Salas de Recursos Multifuncionais (SRM). Como regra, estas devem ter profissionais especializados que saibam lidar não só com as necessidades dos alunos, mas também que sejam capazes de utilizar procedimentos, equipamentos e materiais específicos, de modo a complementar ou suplementar as atividades desenvolvidas na sala regular (BRASIL, 2006). Nós sabemos há muito tempo que a motricidade é imprescindível para o acesso aos processos superiores de pensamento. Mediante a ação, o indivíduo se relaciona com seu ambiente (físico e social) e nesta relação desenvolve, entre outras coisas, capacidades perceptivas, estruturação espaço temporal, capacidade de simbolização e regulação da própria ação. Psicomotricidade, então, é essencial no contexto escolar (RODRIGUES et al, 2018). Como indivíduos com DI apresentam déficit concomitante em funções motoras e intelectuais, há necessidade primeiramente de se identificar o perfil psicomotor destes indivíduos, de modo que se possa elaborar programa interventivo adequado às suas necessidades. Algumas crianças encontram dificuldades em habilidades motoras tais como escrever, desenhar, manipular e construir, ao passo que outras têm dificuldades em recreação, jogos de correr, saltar, saltitar, arremessar, no equilíbrio, nas orientações espaciais e temporais, na lateralidade, nos esportes e até dificuldades na locomoção e nas atividades da vida diária Influências genéticas e ambientais têm sido consideradas por autores como Krebs (1997), Pereira, Sobral e Silva (1997), Gallahue e Ozmun (2001), entre outros, cuja preocupação se centra no atual estilo de vida das pessoas, sejam elas normais ou deficientes, e nas consequências que a falta de oportunidades de exploração dos movimentos naturais pode causar. Uma vez que a coordenação corporal é um dos componentes importantes no desenvolvimento da criança, Gorla, Araújo e Carminato (2004) desenvolveram um estudo objetivando analisar esta coordenação à luz do teste chamado teste salto monopedal (SM) que faz parte da bateria de testes de 25 coordenação motora para crianças KTK, de Kiphard e Schilling (1974), em pessoas portadoras de deficiência intelectual. O referido estudo veio reforçar as preocupações, que sempre estiveram presentes ao longo de vários anos trabalhando com população especial, mais precisamente com a deficiência mental, quanto às dúvidas por parte de alguns profissionais sobre a importância de avaliar a referida população. Outro fator importante que analisaram, também pela pouca informação, foi o desconhecimento dos instrumentos avaliativos por parte de alguns profissionais, levando-os a indagar se efetivamente as baterias de testes usuais estão disponíveis para a população com deficiência mental. Ao mesmo tempo em que as informações são relativamenteescassas, nota-se um grande problema quando se observa na literatura a compilação ou utilização de testes padronizados aplicados com populações que não apresentam características de deficiência mental, o que pode levar a uma preocupação de caráter metodológico para algumas variáveis apresentadas pelas pessoas portadoras de deficiência mental. As análises e as ponderações feitas pelos pesquisadores acima levaram à conclusão de que o assunto avaliação e intervenção é relevante, devendo ser estimulado na educação especial, pois certamente haveria benefícios às pessoas com deficiência mental e ao próprio profissional no desenvolvimento de seus planejamentos. Dada a diversidade de suas dificuldades, ponderam que não foi fácil identificar com precisão as medidas dentro do Programa de Educação Física Orientado para melhorar as habilidades motoras das pessoas com deficiência mental, bem como que tipos de testes deveriam ser aplicados. Observaram que os resultados das avaliações no pós-teste foram significativos para ambas as pernas – esquerda e direita –, o que demonstra uma interferência das atividades desenvolvidas durante o Programa de Educação Física Orientado. Entretanto, alguns sujeitos não tiveram rendimento satisfatório no pós- teste, indicando uma necessidade de mais tempo para as intervenções e análises mais profundas sobre outros comportamentos. Levando-se em conta estas limitações, e para que haja aquisição ou melhora da coordenação corporal no teste salto monopedal entre pessoas 26 portadoras de deficiência mental, torna-se necessário observar alguns princípios gerais, tais como: •Estímulo tanto quantitativo como qualitativo das atividades motoras; •Elaboração de atividades adaptadas às dificuldades específicas dos sujeitos; •Redução da influência dos problemas de comportamento (ansiedade, por exemplo) nas habilidades motoras; •Redução da influência das dificuldades no tocante às habilidades motoras sobre outras funções tais como a motivação; •Estimulação do desenvolvimento perceptivo-motor. Os autores ainda ponderaram ser necessário também estimular e desenvolver estudos dentro desse tópico geral, como, por exemplo: a verificação de quais os tipos de tarefas motoras planificadas, e de quais testes correspondam a tipos específicos de tarefas de habilidades da vida cotidiana; estudos sobre populações de crianças com problemas específicos, uma vez que são diferentes em níveis e graus de deficiência, tentando associar estes aos comportamentos adaptativos e não apenas e simplesmente à deficiência mental. Recomendaram ao final da pesquisa, também para futuros estudos semelhantes, que haja avaliações antropométricas em conjunto com a testagem, pois o peso corporal pode ter sido um fator de interferência nos resultados, não tendo sido, contudo, controlada esta variável. Em trabalho mais recente, Rodrigues et al (2018) avaliaram o perfil psicomotor de 15 escolares do ensino fundamental, em uma escola pública, com diagnóstico de DI, usando as seguintes variáveis: a) frequência (ou não) em sala de recursos multifuncional (SRM); b) classificação da DI; c) idade; c) raça/cor; d) série escolar. Para avaliação do perfil psicomotor foram utilizados os seguintes instrumentos: Teste de Proficiência Motora de Bruininks-Oseretsky (BOT-2), versão breve; Avaliação Psicomotora Os dados obtidos mostraram que a maioria dos sujeitos apresentou desempenho “muito abaixo do esperado” em todos os subtestes que compõem o BOT-2. Do mesmo modo, desempenho inferior à idade cronológica foi identificado na Avaliação Psicomotora. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nos subtestes do BOT-2 quando se analisou 27 frequência (ou não) em SRM, gênero e raça/cor. Contrariamente, melhor desempenho em algumas habilidades psicomotoras foi encontrado em função da idade, série escolar e classificação da DI. As autoras discutem a relação entre desenvolvimento psicomotor e aprendizagem e chamam a atenção para a necessidade de se utilizar os pressupostos da Psicomotricidade no contexto escolar, principalmente na SRM. Com isso, pode-se auxiliar as crianças com deficiência intelectual a maximizar as suas potencialidades e, como resultado, possibilitar melhora no seu desenvolvimento global (cognitivo, afetivo, social). Ambos os trabalhos apresentados deixam claro a importância de se conhecer a criança, os déficits, as avaliações, a SEM e como o trabalho psicomotor contribui para melhorar a aprendizagem e a interação social desses sujeitos. 7. TRABALHO PSICOMOTOR COM PESSOAS COM PARALISIA CEREBRAL Segundo Souza e Ferraretto (2001), a Paralisia Cerebral foi descrita pela primeira vez em 1843 por um ortopedista inglês chamado William John Litle como uma rigidez espástica. O termo “Paralisia Cerebral” foi introduzido por Freud para diferenciá-la da Paralisia Infantil causado pelo vírus da Poliomielite. As pessoas com paralisia cerebral, assim como qualquer outra condição de saúde, necessitam de uma rede de cuidados devidamente articulada, na perspectiva do compartilhamento do cuidado entre as equipes de Saúde e a família, e nas melhores estratégias para o desenvolvimento de um projeto terapêutico de qualidade envolvendo todos os aspetos de sua saúde, não centrado apenas nas condições atreladas à paralisia cerebral. Como a paralisia cerebral se caracteriza por lesão persistente e não progressiva cujas deficiências e habilidades mudam com o tempo, em uma mesma pessoa, pode-se observar melhora devido à maturação de regiões do sistema nervoso que permaneceram intactas, além do fenômeno da 28 neuroplasticidade associado à estimulação e ao trabalho terapêutico da fisioterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Quanto menor o tempo para iniciar a estimulação, maior será o aproveitamento da plasticidade cerebral e menor o atraso do desenvolvimento. Porém pode haver piora do quadro devido ao advento de convulsões, às vezes incontroláveis, assim como a degeneração osteoarticular decorrente de posturas anômalas (HERNÁNDEZ-MUELA et al., 2004). Para Bobath e Bobath (1978), a pessoa com paralisia cerebral, é uma sequela de uma agressão encefálica, que se caracteriza por um transtorno persistente, do tono, da postura e do movimento do sujeito, uma agressão não progressiva, mas geralmente mutável, quando nos referimos as suas sequelas. Em muitos casos a inteligência do portador é normal, a não ser que a lesão tenha afetado áreas responsáveis pelo pensamento ou pela memória. Portanto, uma pessoa com paralisia cerebral não pode ser classificado, exclusivamente, como uma pessoa com deficiência intelectual. Machado (1981) enfatiza que o sistema nervoso dá vida de relação a todas as partes do corpo, relacionando o organismo com o meio, os quais são conduzidos do cérebro por neurônios sensitivo através da medula ou tronco encefálico a todos os receptores do corpo, portanto, a coordenação de todos os movimentos do corpo é feita pelo cérebro, e no caso da pessoa com paralisia cerebral, esses estímulos foram de alguma forma bloqueados, causando aos seus portadores sequelas, como ausência de coordenação motora, dificuldades na fala, em alguns casos paraplegias, tetraplégicas, e assim sucessivamente. Acredita-se que estímulos ao SNC, aplicados de formas coerentes apresentam resultados satisfatórios, onde as células nervosas (neurônios) vizinhas a da lesão, acabam por se adaptar e assumirem, em partes, a função da célula afetada. Marchean et al (1996, p. 171) cita que através de um estudo derivado de uma lesão central do córtex, onde região afetada foi a da coordenação fina do sujeito, mais precisamente nos dedos, eapós estímulos sensoriais: “a função do tecido destruído foi assimilado pelo tecido nervoso vizinho intacto à custa de uma assimilação da sensibilidade...”. Dessa forma podemos dizer que através de estímulos adequados, pode-se ao menos minimizar sequelas na pessoa com paraliasia cerebral. 29 Mais uma vez, partiram da premissa que o desenvolvimento completo do sujeito se dá por aspectos motores, cognitivos, psicológicos e neurológicos e tendo como base, o BPM (Bateria Psicomotora) idealizada por Fonseca (1992), procurou-se identificar a influência do equilíbrio, da tonicidade, da lateralização, da noção do corpo e das praxias global e fina no resultado motor final, utilizando- se de uma abordagem transversal para analisar as alterações psicomotoras em pessoas com paralisia cerebral utilizando como instrumento o teste BPM (Bateria Psicomotora) de Vitor da Fonseca. De acordo com os resultados, puderam verificar que as tarefas de execução voluntária, tiveram respostas imperfeitas ou incompletas, sendo realizadas com dificuldade. Conforme Fonseca (1992), a pessoa com paralisia cerebral pode falhar em muitas tarefas da bateria. Encontraram maior dificuldade na realização das tarefas de equilíbrio, de praxia fina e global, pois a própria lesão cerebral já é caracterizada pelo encurtamento e atrofia dos flexores dificultando a noção de respostas motoras dos sujeitos. De acordo com o escore final, a média dos avaliados foi boa, mas com dificuldades na realização e com falta de controle. O teste não pode ser utilizado como identificação de um possível déficit da lesão cerebral, mas somente como um fator que indica uma disfunção psicomotora da aprendizagem e na coordenação motora. Os resultados mostraram a área onde o sujeito tem um maior comprometimento ou atraso psicomotor, e reconhecendo a extensão do problema, o profissional saberá onde trabalhar e como aplicar o estímulo a pessoa com paralisia cerebral, bem como fazer um desenvolvimento global de sua coordenação motora. A pessoa com paralisia cerebral depende em grande parte de um estímulo externo para conseguir desenvolver sua coordenação motora. A Educação Física desenvolve um papel importante nessa estruturação motora oferecendo recursos para tais estímulos. Os autores perceberam que a BPM pode ser utilizada como forma de identificação das capacidades motoras e psicomotoras, desde que utilizada como uma avaliação individual, pois a lesão cerebral determina a diferenciação dos afetados. Inferem que deve-se considerar a importância de estudos nessa área, pois a coordenação motora influencia diretamente no desenvolvimento 30 global da criança, como o falar, o caminhar, o físico, mental e o social, fatores importantes para um bom relacionamento dentro da sociedade. 8. EDUCAÇÃO PSICOMOTORA: UMA PRÁTICA POSSÍVEL? 8.1 A Avaliação É bastante comum que crianças em trajetória acadêmica encontrem algumas dificuldades na realização das atividades propostas pelos professores. Porém, as possibilidades que tais problemas caracterizem alguma dificuldade de aprendizagem necessitam de avaliação global para esclarecer a dúvida e orientar um trabalho de auxilio à aprendizagem da criança. Assim, destacaremos três tipos impor tantes de avaliação a serem realizadas: Avaliação Global A avaliação global tem como característica a localização precisa do estabelecimento da dificuldade de aprendizagem. Trata-se de um processo capaz de avaliar se as causas das dificuldades suspeitas podem ser encontradas ou não, pois são avaliadas especificamente. A avaliação em questão deve contar com profissionais como: • psicólogo educacional; • pediatra; • fonoaudiólogo; 31 • fisioterapeuta; • terapeuta educacional. Avaliação diagnóstica A avaliação diagnóstica é realizada por um psicólogo e o pediatra da criança. De acordo com Selikowitz (2001, p. 17), ela ocorre em quatro estágios: Figura: 06 Estagios da avaliação diagnóstica 32 Figura: 07 Como fazer uma avaliação A avaliação da criança – o papel do psicólogo Após a anamnese, o psicólogo deverá passar um tempo com a criança a fim de familiarizar-se com ela, visando a melhor eficácia do teste. Posteriormente, aplicará testes psicométricos que têm como objetivo estimar as habilidades da criança, estabelecendo comparações a partir de parâmetros com crianças da mesma faixa etária. É impor tante que a família assista ao teste da sua criança, pois, além de compreendê-lo, podem contribuir com os resultados informando ao psicólogo se o desempenho da criança está coeso ao seu padrão normal. Só se deve tomar cuidado para a família não intervir durante a aplicação do teste, comprometendo- o. 33 8.2 Intervenção prática para contribuição da aprendizagem da pessoa com deficiência Aprender não é tarefa fácil e com a aprendizagem podem aparecer dificuldades, problemas, insucessos e tantas outras coisas. Nenhum aluno está isento a dificuldades de aprendizagem, mas quando aparecem, é necessário estar preparado para lidar com elas e promover a aprendizagem. Diagnosticar se um indivíduo tem ou não, esta ou aquela dificuldade de aprendizagem não é tarefa fácil, depende de características apresentadas, de condições de aprendizagem, entre outros aspectos. A seguir, algumas causas de deficiência de aprendizagem que devem ser excluídas antes do diagnóstico de dificuldade específica, principalmente no ambiente escolar: • dano visual ou auditivo; • incapacidade intelectual; • incapacidade física, como caso de paralisia cerebral; • falta de familiaridade com a língua de instrução; • falta de apoio familiar; • falta de motivação; • ausência frequente; • dano cerebral, como traumatismo craniano ou meningite; • epilepsia de petitmal; • medicamentos e drogas que prejudiquem a aprendizagem. Quando uma dificuldade de aprendizagem é diagnosticada, é preciso que o especialista, a família e a escola contribuam na intervenção a fim de sanar o problema, mas destacaremos como é possível realizar esse trabalho dentro da escola, principalmente no que se refere a pontos específicos e passíveis de intervenção no ambiente escolar. 34 9. REFERÊNCIAS: AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM-5. Porto Alegre: Artmed; 2014. BESSA.V.H. Teorias da Aprendizagem. Curitiba: IESDE Brasil S.A, 2011 BOBATH, K.; BOBATH, B. O desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral. São Paulo: Manole, 1978. BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: Corde, 1996. BRASIL. Política Nacional de Educação Especial. Série Livro. Brasília: MEC/SEESP; 2006. CARMO, A. A. Deficiência física: a sociedade brasileira cria, “recupera” e discrimina. Brasília: Secretaria dos Desportos/PR, 1991. COLETTA, D. D. et al. Avaliação psicomotora em pessoas portadoras de paralisia cerebral da APAE de Toledo/Pr (2005). COSTA, A. C. Psicopedagogia & Psicomotricidade: Pontos de interseção nas dificuldades de aprendizagem. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002. FONSECA, V. da. Contributo para o Estudo da Génese da Psicomotricidade. Lisboa, Editorial Notícias, 1976. FONSECA, V. da. 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