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ACÚSTICA MUSICAL 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Alysson Siqueira 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
 A produção artística em sua totalidade demanda uma base material 
tangível para sua produção. Apesar de sua gênese repousar no reino das 
concepções, mentes e sensibilidades variadas, a manifestação artística apenas 
adquire expressão por meio de um substrato perceptível ao público, que pode 
ser apreendido por, no mínimo, um dos sentidos. Nesse contexto, o material que 
viabiliza essa produção artística no âmbito da música é o som. 
Similarmente à necessidade de um pintor em adquirir familiaridade com 
as propriedades da tinta que manipula – seus efeitos sobre a tela, tempo de 
secagem, meios de obtenção de tonalidades desejadas –, o músico deve possuir 
um entendimento profundo do som. Essa compreensão é justamente o propósito 
da área de acústica musical. 
Nesse capítulo, lançaremos os fundamentos desta empreitada, 
abordando os princípios basilares do fenômeno sonoro. 
Nossa abordagem inaugural envolverá a definição do conceito de som e 
a exploração dos parâmetros físicos que permitirão a percepção dos variados 
matizes sonoros que permeiam nosso vasto cenário acústico. Partiremos das 
delineações de frequência, intensidade e duração. Aprofundaremos, em 
seguida, a conceituação de timbre, o que irá nos direcionar a uma compreensão 
necessária dos movimentos harmônicos e, consequentemente, da série 
harmônica. A apreensão do conceito de envelope de onda se revelará imperativa 
para discernir o comportamento temporal do som. Ao final, voltaremos nossa 
atenção aos ruídos – suas categorizações, atributos distintivos e contrastes em 
relação aos sons musicais. 
TEMA 1 – SOM: A MATÉRIA PRIMA DA MÚSICA 
Todos nós reconhecemos música e somos capazes de produzi-la. No 
nosso cotidiano, não precisamos defini-la e, por essa razão, é provável que não 
tenhamos uma definição pronta para ela. Talvez, possamos nos apropriar do 
título de um dos capítulos do livro How Musical is Men? de John Blacking: “Som 
Organizado Humanamente” (Blacking, 1973, p.3), ainda assim, Schafer 
acrescentaria a intenção de ser ouvida como música (1990). 
 
 
3 
Independentemente de qual definição de música você irá formular ou 
adotar, dificilmente ela deixará de mencionar a palavra som. Isso porque ele é a 
matéria-prima da música. 
Como praticantes e educadores musicais, precisamos entender com 
profundidade o fenômeno sonoro e, para nos auxiliar nesta missão, nos valemos 
da Acústica, que integra o ramo de Movimentos Ondulatórios da disciplina de 
Física. 
Embora tenha estreita relação com as Ciências Exatas, traremos sempre 
o aspecto perceptivo sonoro para compreendermos os fenômenos físicos de 
maneira musical. 
1.1 O que é o som? 
Vivemos numa espécie de redoma repleta de ar, que chamamos de 
atmosfera. Qualquer movimento que um objeto venha a fazer dentro dela 
produzirá um deslocamento de ar. Essa massa de ar irá se deslocar comprimindo 
o ar da atmosfera. Porém, por ter um comportamento elástico, o ar irá voltar para 
o espaço que o ocupava anteriormente, o que podemos chamar de situação de 
repouso. Esse processo acontecerá diversas vezes até que a energia se dissipe 
totalmente. Em outras palavras, aquele movimento inicial provocou ciclos de 
compressão e rarefação do ar que, para os nossos ouvidos, pode ser percebido 
como som. 
O fenômeno descrito no parágrafo anterior pode ser reproduzido, em 
escala reduzida, com o auxílio de uma seringa. Utilize uma seringa transparente, 
sem agulha, puxe o êmbolo para fora e tampe o orifício onde se conecta agulha 
com um dedo. Você reservou um volume determinado de ar na seringa. Em 
seguida, empurre o êmbolo, percebendo que a dificuldade em mover o êmbolo 
aumenta progressivamente, indicando que as partículas estão se aproximando, 
tornando a massa de ar mais compacta e resistente. Por último, solte o êmbolo 
e ele voltará à posição inicial. 
Portanto, a definição que iremos adotar será: “Som é a interpretação, pelo 
cérebro, da vibração produzida pelo movimento de um corpo e transmitida por 
um meio elástico” (Siqueira, 2020). 
Entenda-se por meio elástico todo e qualquer corpo que tende a voltar a 
sua configuração inicial após sofrer deformação, sendo que o ar é apenas um 
desses meios, mas o mais recorrente quando se fala em som. 
 
 
4 
1.2 Elementos para a produção de som 
Da definição formulada na seção anterior, podemos extrair que, para 
haver som, são necessários três elementos: um que produza o movimento inicial, 
chamado de fonte emissora; um meio elástico, pelo qual essas oscilações se 
propaguem; e, por fim, um receptor, dentro do qual os ciclos de compressão e 
rarefação do meio elástico são interpretados como som. 
Figura 1 – Elementos da produção sonora 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
No caso da música, a fonte emissora, ou o emissor, seria o instrumento 
musical ou a voz. O meio elástico de propagação principal seria o ar e o receptor 
é o público que frui da obra musical. 
O silêncio absoluto, portanto, só é possível na ausência de um desses 
três elementos. Se não houver uma fonte emissora, não haverá oscilações no 
meio elástico. Se não existir um meio elástico, caso do vácuo, não há 
propagação do som. Se não houver um ser vivo que possa receber as vibrações 
e interpretá-las como som, o fenômeno não se concretiza. Os surdos, embora 
não sejam capazes de traduzir as vibrações do ar em sons da mesma maneira 
que os ouvintes, podem percebê-las pelo tato e, consequentemente, relacionar-
se com a música. 
O movimento provocado no ar, que resulta em som, é chamado pela 
Física de Movimento Harmônico, sobre o qual iremos falar a seguir. 
TEMA 2 – MOVIMENTOS HARMÔNICOS SIMPLES E COMPOSTO 
O movimento cíclico produzido no meio elástico pelo fenômeno sonoro, 
tem comportamento similar ao de um pêndulo. 
 
Fonte emissora Meio elástico Receptor
 
 
5 
Figura 2 – Movimento harmônico em um pêndulo 
 
Fonte: Siqueira, 2020, p. 19. 
Seguindo a ordem sequencial dos quadros da figura, percebemos que 
uma força externa deslocou o pêndulo até a extremidade direita (2). Depois de 
solto ele tende a voltar ao ponto de repouso, porém, devido à aceleração 
gravidade, ele passa pela sua situação inicial com a velocidade máxima (3), e 
segue em movimento, agora desacelerando, até a extremidade esquerda (4). 
Esse movimento é cíclico e segue até a energia se dissipe e o pêndulo repouse 
na posição inicial (9). 
Esse movimento que se repete em intervalos regulares, em Física, é 
chamado de movimento periódico ou movimento harmônico (Halliday; Resnick; 
Walker, 2013, p. 88). 
2.1 Movimento harmônico simples 
 O movimento do pêndulo descrito pela figura 1.2 apresenta um padrão 
que se repete regularmente ao longo do tempo, que acelera até atingir a 
velocidade máxima e desacelera até atingir a velocidade máxima, repetindo a 
mesma sequência até atingir seu ponto de partida. Esse movimento, em Física, 
 
 
6 
recebe o nome de Movimento Harmônico Simples (MHS) e pode ser 
representado segundo uma senoide1. 
Figura 3 – Senoide: representação gráfica do movimento harmônico simples 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
Tratando-se do fenômeno sonoro, podemos representá-lo por este 
mesmo gráfico entendendo que, após o impulso inicial, a produção do som, a 
velocidade de compressão do ar decresce até parar, em seguida a massa de ar 
tende a ocupar o espaço anterior, acelerada por suas propriedades elásticas, 
mas ela atinge seu estado inicial na velocidade máxima e segue se rarefazendo, 
agora desacelerando até parar novamente. A Figura 1.4 nos fornece uma 
compreensão visual do fenômeno: 
Figura 4 – Representação do ciclo de compressão e expansão do ar 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
 
1 O termo senoide se refere ao gráfico que representa a função seno da trigonometria, ramo da 
matemática. 
 
 
7 
A Figura 4 nos mostraque o ciclo do movimento sonoro inicia com 
velocidade igual a zero, portanto, a senoide representaria melhor o 
comportamento de compressão e rarefação do ar: 
Figura 5 – Representação gráfica da onda sonora 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
Já mencionamos que, no tipo de movimento que estamos estudando, 
ocorre diversas vezes até que energia se dissipe. Quando relacionamos a 
quantidade de ciclos com um determinado intervalo de tempo, falamos de uma 
grandeza chamada frequência (f). Tratando-se de som, esse intervalo de tempo 
é 1 segundo. A unidade de frequência nesse caso, quando nos referimos o 
número de ciclos por segundo, é o hertz (Hz). 
 Auditivamente, relacionamos a frequência com a altura do som. Uma 
frequência baixa é percebida como um som grave, enquanto os valores mais 
altos são percebidos como sons agudos. A frequência mais grave que o ser 
humano é capaz de ouvir é 20 Hz, ou seja, 20 ciclos de compressão e rarefação 
do ar por segundo. Sons abaixo dessa frequência são classificados como 
infrassom. Já a frequência mais aguada audível pelo ser humano é de 20.000 
Hz, e os sons acima delas são chamados de ultrassom. 
 O tempo que um ciclo leva para se realizar é chamado de período (T). 
Matematicamente, podemos deduzir que o período é o inverso da frequência: 
 
 
Outra grandeza importante para a caracterização do MHS é a amplitude, 
que nada mais é do que os extremos do movimento. No caso do pêndulo, pode 
𝑭𝒓𝒆𝒒𝒖ê𝒏𝒄𝒊𝒂 (𝒇) =
𝒏. 𝒅𝒆 𝒄𝒊𝒄𝒍𝒐𝒔
𝒔𝒆𝒈𝒖𝒏𝒅𝒐 (𝒔)
 (𝑯𝒛) 
 
𝑻 =
𝟏
𝒇
 
 
 
8 
ser entendida como a distância entre o ponto de repouso até o ponto em que 
tem seu deslocamento máximo, tanto para a esquerda quanto para a direita. 
Tratando-se de som, a amplitude pode ser entendida como a diferença de 
concentração das partículas entre a compressão ou a rarefação máximas do ar 
e seu estado de repouso. Sonoramente, percebemos a amplitude como 
intensidade, ou seja, sons fracos têm baixa amplitude e sons fortes têm altos 
valores de amplitude. A unidade de medida da intensidade sonora é o decibel 
(dB). Somos capazes de perceber sons a partir de de 0 dB, e o limiar da dor é 
considerado 120 dB, acima do qual o som se torna insuportável. 
Um Movimento Harmônico Simples apresenta uma única frequência. 
Veremos, no decurso de nossos estudos sobre acústica, que essa é uma 
situação teórica, tratando-se de som. O que observamos, na prática, é que os 
sons em nosso meio são formados por diferentes frequências que soam ao 
mesmo tempo. Vejamos como isso ocorre. 
2.2 Movimento harmônico composto 
Como o próprio nome diz, o Movimento Harmônico Composto (MHC) é 
fruto da superposição de diversos MHS. Mas para ocorrer sua percepção, é 
necessário que os parâmetros entre os Movimentos Simples, que compõem o 
Movimento Complexo, sejam diferentes em algum aspecto. Eles precisam ter 
diferentes amplitudes, frequências e/ou fases. 
A diferença de fase, muito importante para a acústica, ocorre quando as 
oscilações iniciam em diferentes momentos da linha do tempo, causando 
desencontros entre compressões e rarefações do ar, como podemos observar 
na representação a seguir. 
Figura 6 – Representação gráfica da diferença de fase 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
 
 
9 
Retomaremos este conceito de forma aplicada mais adiante. Por hora, 
tratando-se das bases da acústica aplicada à música, nos interessa os MHC 
obtidos por meio da superposição de oscilações de diferentes frequências. 
Nesse caso, a representação gráfica do fenômeno é a seguinte: 
Figura 7 – Superposição de oscilações de frequências diferentes 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
Pensando novamente no fenômeno sonoro, essas frequências não são 
percebidas separadamente. Por essa razão, faz todo sentido analisarmos em 
cada instante do tempo o quanto os dois MHS deslocam o ar em conjunto. Em 
outras palavras, é possível traçar um gráfico resultante, representado na figura 
1.8 pela linha de maior espessura. 
Figura 8 – Resultante da superposição de oscilações de frequências diferentes 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
 
 
10 
Essa concepção do som enquanto um Movimento Harmônico Composto, 
obtido a partir da superposição de Movimentos Harmônicos Simples, é de 
fundamental importância para a compreensão acústica da música. 
2.3 Ondas sonoras 
Um movimento oscilatório, como os que estudamos até aqui, que se 
propaga no tempo e no espaço, pode ser definido como onda. Isso não ocorre 
com o pêndulo que, preso à sua estrutura, oscila de um lado para outro, mas 
sem se deslocar linearmente no espaço. Já o som realiza os ciclos de 
compressão e rarefação do ar, deslocando-se por meio do espaço. 
Onda é uma perturbação em um meio capaz de transportar energia, e não 
transporta matéria. 
Existem dois tipos mais comuns de onda. As ondas mecânicas 
necessitam de um meio físico para se propagar. O som é uma onda mecânica 
que se propaga por meios elásticos, em especial o ar. As ondas 
eletromagnéticas não necessitam de meio físico e, ao contrário das mecânicas, 
elas podem se propagar no vácuo. A luz é o exemplo clássico de onda 
eletromagnética. 
Por se propagarem ao longo do tempo e do espaço, uma grandeza 
importante para sua caracterização é a velocidade de propagação. Enquanto a 
velocidade aproximada de propagação do som é de 340 metros por segundo 
(m/s), da luz é da ordem de 300 milhões de m/s. 
As ondas também podem ser classificadas de acordo com seu sentido de 
propagação. As ondas transversais se propagam em sentido transversal ao 
movimento que elas produzem no meio. O exemplo da figura 1.8 retrata esse 
tipo de onda. 
Figura 9 – Exemplo de onda transversal 
 
Fonte: Siqueira, 2020, p. 32. 
 
 
11 
As ondas longitudinais, ao contrário das transversais, se propagam no 
mesmo sentido do movimento que produzem no meio. É basicamente o que 
ocorre no exemplo que já comentamos da seringa. É o mesmo que acontece 
com o fenômeno sonoro, em que o meio elástico é comprimido no mesmo 
sentido da propagação da onda sonora. 
Portanto, podemos definir o som, do ponto de vista da Física, como uma 
onda mecânica longitudinal. Sua propagação pode ser representada de maneira 
esquemática dessa maneira: 
Figura 10 – Representação gráfica da propagação do som 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
Tratando-se do som que se propaga no ar, podemos entender como as 
cristas, os pontos onde a se verifica a maior concentração das moléculas, as 
regiões de máxima compressão do meio. Em contrapartida, os pontos onde há 
a menor concentração serão os vales. A distância entre duas cristas sucessivas 
é denominada comprimento de onda (λ). A velocidade de propagação da onda 
(v) tem relação direta com o comprimento de onda e com a frequência: 
 
 
Essa relação matemática é também principal fórmula para os cálculos que 
iremos realizar durante este estudo. É preciso atentar para as unidades de 
medida: velocidade (v) é dado em m/s, comprimento de onda(λ) em m (metros), 
e frequência em Hz. 
Para efeitos de cálculo, utiliza-se a velocidade do som de 340 m/s, mas 
na prática ela varia de acordo com o meio de propagação. Veja alguns exemplos: 
𝒗 = 𝝀. 𝒇 
 
 
12 
Tabela 1 – Velocidade do som 
Meio Velocidade (m/s) 
Ar (0oC) 331 
Ar (20oC) 343 
Hélio 965 
Hidrogênio 1284 
Água (0oC) 1402 
Água (20oC) 1482 
Água salgada 1522 
Alumínio 6420 
Aço 5941 
Granito 6000 
Fonte: Halliday; Resnick; Walker, 2013, p. 152. 
 Outras propriedades da propagação do som serão discutidas adiante. 
TEMA 3 – SÉRIE HARMÔNICA E ESPECTRO DE FREQUÊNCIAS 
Já sabemos que o caso concreto da onda sonora é tipificado como um 
Movimento Harmônico Composto. Sendo assim, quando ouvimos um som, ele 
naturalmente é resultado da superposição de diversas frequências sonoras. 
Essa complexidade do fenômeno pode ocorrer de duas maneiras que, 
perceptivamente, nos permite separar os sons entre aqueles possuem e os que 
não possuem altura definida.Neste momento iremos nos ater com aos sons com 
altura definida. 
3.1 Série harmônica 
Quando se produz uma nota musical, seja por meio de um instrumento ou 
da voz, costumamos perceber o som relativo à frequência da nota que se 
desejou tocar. Porém, já sabemos que o som é uma onda composta por diversas 
frequências que soam concomitantemente. Se treinarmos nossa escuta, 
podemos aprender a ouvir esses diferentes sons que sucedem o som principal 
e que chamamos de harmônicos. À nota musical que origina esses outros sons, 
chamaremos de som fundamental, e sua frequência será representada por f0. Os 
harmônicos que o sucedem serão representados por f1, f2, f3, e assim por diante. 
Esse conjunto de harmônicos pertencentes a um som musical específico é 
denominado série harmônica. 
Um som com altura definida, embora composto por um conjunto de sons, 
é percebido prioritariamente pela frequência principal porque os harmônicos que 
 
 
13 
soam ao mesmo tempo possuem relações matemáticas exatas com o som 
fundamental. A frequência do primeiro harmônico será o dobro da frequência do 
som fundamental, do segundo harmônico será o triplo, do terceiro será o 
quádruplo, e assim por diante. Matematicamente podemos definir como uma 
progressão aritmética e, para calcular a frequência de um harmônico qualquer 
da série, utilizar a seguinte fórmula: 
 
 
 A partir dessa fórmula e conhecendo a frequência de uma nota específica, 
por exemplo Dó3 (131 Hz), podemos obter as frequências da série harmônica: 
Figura 11 – Série Harmônica de Dó3 
 
Fonte: Siqueira, 2020, p. 42. 
 É necessário considerar que a amplitude, ou a intensidade de cada 
harmônico de uma série é variável. Iremos observar e discutir as implicações 
disso a partir de um gráfico chamado espectro de frequências. 
3.2 Espectro de frequências 
Trata-se de um gráfico cujo eixo horizontal representa a frequência, em 
hertz, com escala logarítmica, fazendo com que valor da frequência dobre a cada 
linha vertical pontilhada da grade. O eixo vertical representa a intensidade, em 
dB. Como o gráfico é gerado por softwares de edição de áudio, é preciso 
salientar que nesses casos se considera o 0 dB como o limite a partir do qual o 
som irá apresentar distorções2. 0 dB é, portanto, o limite máximo para o 
tratamento de áudio e, consequentemente, as intensidades que trabalhamos, 
todas menores que esse limite, assumem valores negativas. 
 
2 Estas distorções são chamadas de distorções harmônicas e provocam distorções na série 
harmônica, gerando ruídos indesejáveis, ou no chavão do áudio, estouros. 
𝒇n = (𝒏 + 𝟏). 𝒇0 
 
 
14 
Figura 12 – Série Harmônica representada por um espectro de frequências 
 
Fonte: Siqueira, 2020, p. 42. 
A Figura 12 traz uma possibilidade de espectro de frequência. Nele, 
observamos a representação de um som musical, nota dó de um piano, em um 
instante específico. O primeiro pico do gráfico representa o som fundamental, e 
os subsequentes são seus harmônicos. Repare que a amplitude desses 
harmônicos é totalmente variável, e sem seguir um padrão evidente. Essa 
distribuição particular de amplitudes é uma das principais variáveis na percepção 
do timbre. Uma mesma nota musical, produzida por outra fonte sonora, teria os 
mesmos harmônicos, porém cada um deles com intensidades diferentes. 
Além da distribuição de harmônicos, o comportamento da onda sonora ao 
longo do tempo também contribui para a constituição do timbre. É o que iremos 
ver a seguir. 
TEMA 4 – ENVELOPE DE DINÂMICO 
O som, por se realizar ao longo do tempo, tem um início, um período em 
que ele existe e um fim. Dentro deste roteiro, os ciclos de compressão e 
rarefação do ar se sucedem, se intensificam e perdem energia. Em música, a 
alternância entre sons fracos e fortes, é definida como dinâmica. Assim, para 
cada fase desse comportamento padrão da onda sonora há um nome específico 
e uma representação gráfica, que resultarão no envelope dinâmico. 
O Envelope dinâmico nada mais é do que a representação gráfica do 
Movimento Harmônico Composto ao longo de todo tempo em que determinado 
som acontece. 
Dois ciclos de determinado som poderiam ser representados desta 
maneira: 
 
 
15 
Figura 13 – Dois ciclos de uma onda sonora complexa 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
Agora vamos diminuir o zoom e enxergar mais ciclos ao mesmo tempo: 
Figura 14 – Diversos ciclos de uma onda sonora complexa 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
Por fim, se seguirmos reduzindo o zoom até colocarmos todos os ciclos 
do início ao fim de uma onda sonora, obteremos o chamado envelope dinâmico: 
Figura 15 – Todos os ciclos de uma onda sonora – envelope dinâmico 
 
Fonte: Alysson Siqueira. 
Embora se pareça com uma figura sólida, o envelope de onda é linear. 
Seu aspecto geral nos fornece informações sobre o comportamento da onda 
sonora ao longo do tempo, que pode ser dividido em quatro partes, de acordo 
com a Figura 16. 
 
 
16 
Figura 16 – Partes do envelope dinâmico 
 
Fonte: Siqueira, 2020, p. 47. 
O som inicia com o ataque (attack, em inglês), compreendido entre sua 
produção e seu pico inicial de intensidade. Em seguida, há um decaimento 
(decay) natural na amplitude até o ponto em que ela se estabiliza. A região com 
relativa estabilização da intensidade é chamada de sustentação (sutain). Por fim, 
a energia se dissipa mais rapidamente até a extinção do som, região chamada 
de relaxamento (release). Devido a esses nomes, a representação também pode 
ser chamada de ADSR. 
Cada instrumento musical produz um envelope dinâmico próprio. O 
violino, por exemplo, pode produzir um ataque muito mais longo do que um 
piano. Da mesma forma, a sustentação do instrumento de corda friccionada pode 
ser muito mais longa e constante que o de corda percutida. 
Associando os conceitos da série harmônica com os de envelope 
dinâmico, é possível recriar sons de maneira artificial com relativa fidelidade. 
Este é o princípio da síntese sonora, que estudaremos adiante. 
TEMA 5 – SOM MUSICAL VERSUS RUÍDO 
Em linhas gerais, podemos classificar os sons sem altura definida como 
ruídos. Houve um tempo em que se falava em sons musicais e não musicais, 
mas na música que conhecemos, produzimos e fruímos na atualidade, ruídos 
são muito comuns, bem-vindos e, em alguns casos, até mesmo necessários. 
Ruído é um som composto por várias frequências distribuídas 
desordenadamente, de maneira diferente da série harmônica. 
 
 
17 
A seguir, utilizamos um espectro de frequências tridimensional3 para 
visualizar a diferença de um som com altura definida e um ruído. 
Figura 17 – Som musical versus ruído marrom 
 
Fonte: Captura de tela do software SpectraLayers Pro, Magix, 2018. 
No gráfico da esquerda da Figura 17, podemos observar frequências 
específicas em destaque. São os harmônicos de um som com altura definida. Já 
no gráfico da direita, temos um ruído e nele não observamos frequências 
proeminentes, ou seja, é “uma mancha em que não distinguimos frequência 
constante, uma oscilação que nos soa desordenada” (Wisnik, 1989, p.27). 
No mesmo gráfico, o que observamos é ruído marrom, cuja intensidade 
decresce gradualmente das frequências mais graves para as mais agudas. 
Existem ainda, pelo menos, mais dois tipos de ruídos capazes de serem 
produzidos artificialmente por softwares de áudio: o ruído branco e o ruído rosa. 
Figura 18 – Ruídos artificiais 
 
Fonte: Siqueira, 2020, p. 54. 
 
3 Nesse tipo de gráfico, o eixo vertical representa a frequência e o horizontal representa o tempo. 
A intensidade é representada por uma escala de cores, sendo o branco igual ao limiar da dor 
(120 dB) e o preto igual a 0dB. 
 
 
18 
Por apresentar maior intensidade nas regiões baixas, o ruído marrom 
também é chamado de vermelho. Pelo mesmo motivo, soa mais grave do que o 
ruído braço e o rosa, além de ser associado ao som do mar, fato que o consagra 
nas terapias de relaxamentoque utilizam sons. 
O ruído branco é o som que contempla todas as frequências audíveis e 
na mesma intensidade. É o ruído que ouvimos quando a TV sai do ar, por 
exemplo. Uma de suas aplicações musicais é na síntese sonora, como veremos 
adiante. 
O ruído rosa é similar ao marrom, mas seus limites de intensidade estão 
distantes do mínimo audível e do limiar da dor, por esta razão ele é percebido 
como um ruído mais suave que o marrom. Uma de suas finalidades é calibrar os 
sistemas de áudio. 
Além desses ruídos produzidos artificialmente, existem os naturalmente 
produzidos, que podemos dividir em três grupos: os ruídos contínuos, que pouco 
variam a intensidade ao longo do tempo; os ruídos flutuantes, cujas variações de 
intensidade são perceptíveis; e os ruídos impulsivos ou de impacto, com alta 
intensidade em um curto intervalo de tempo. Nesse grupo temos explosões, 
raios, objetos se quebrando, passos e toda sorte de impactos, inclusive os 
produzidos em certos tipos de instrumentos de percussão sem altura definida. 
NA PRÁTICA 
Agora que você conhece os conceitos fundamentais da acústica, é 
necessário que você realize alguns experimentos práticos para começar a 
dominá-los. Faremos isso utilizando com o auxílio de um software gratuito, o 
Audacity, em três etapas: 
• 1a Etapa: baixe e instale o software Audacity em seu computador. O 
endereço é: <https://www.audacityteam.org/download/>. Acesso em site: 
20 set 2023. 
• 2a Etapa: explore o recurso de criação de ondas senoidais. Acesse o 
menu Generate (ou gerar) e escolha a opção Tone (ou tom). Abrirá uma 
janela em que você pode determinar os parâmetros desse tom: 
frequência, amplitude e duração. Ouça esse som, crie outros e compare. 
Se quiser explorar mais, é possível inserir outra faixa de áudio que irá soar 
 
 
19 
simultaneamente à primeira. Assim, será possível misturar os sons e 
perceber os diferentes resultados. 
• 3a Etapa: crie diferentes tipos de ruído. Acesse o menu Generate (ou 
gerar) e escolha a opção Noise (ou ruído). Você poderá criar os três tipos 
de ruído que estudamos até aqui. 
 Sinta-se à vontade para ir mais adiante nessa exploração. Compartilhe 
suas observações e conclusões. 
FINALIZANDO 
Considerando que durante a Educação Básica o conteúdo sobre ondas 
sonoras é previsto dentro da disciplina de Física, o início do estudo de acústica 
na graduação deveria parecer uma revisão daquilo que um dia já aprendemos, 
além de uma ligação entre aqueles conhecimentos teóricos e a nossa prática 
musical. Porém, por diversas razões, muitos de nós podemos ter a sensação de 
ter recebido o primeiro contado com estes conceitos acústicos. Não se preocupe. 
É comum esquecermos daquilo que não usamos. 
Porém, esses conceitos agora são trazidos agora a você na perspectiva 
de que sejam utilizados na prática, que no seu trabalho relacionado a música, o 
conhecimento profundo da matéria-prima que usamos faça toda diferença. 
 
 
 
20 
REFERÊNCIAS 
BLACKING, J. How Musical is Man? 5 ed. Seattle: University of Washingon 
Press, 1973. 
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: gravitação, 
ondas e termodinâmica. Tradução de Ronaldo Sérgio de Biasi. Rio de Janeiro: 
LTC, 2013. v. 2. 
SHAFER, M. O Ouvido Pensante. Trad. Marisa Trench de O. Fonterrada (e 
outros). São Paulo, SP: Unesp, 1990. 
SIQUEIRA, A. Acústica. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2020. 
WISNIK, J. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

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