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Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Medicina Preventiva e Social MEDICINA PREVENTIVA E SOCIAL PERFIS E INDICADORES DEMOGRÁFICOS Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos ÍNDICE 5 6 8 10 11 13 14 15 16 17 18 20 24 25 INTRODUÇÃO DIAGNÓSTICO SITUACIONAL SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE - SINAN - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO - SIM - SISTEMA DE INFORMAÇÃO SOBRE MORTALIDADE - SINASC - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE NASCIDOS VIVOS - SIH - SISTEMA DE INFORMAÇÕES HOSPITALARES DO SUS - SIA-SUS - SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SI-PNI - SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES - SISAB - SISTEMA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE PARA A ATENÇÃO BÁSICA - SISVAN - SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL INDICADORES DE SAÚDE INDICADORES DEMOGRÁFICOS - TAXA DE NATALIDADE PREV 2 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos 26 26 27 28 29 29 30 30 32 33 38 39 39 40 41 41 - TAXA DE FECUNDIDADE - ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO - TAXA DE MORTALIDADE - RAZÃO DE DEPENDÊNCIA TOTAL - TAXA DE CRESCIMENTO POPULACIONAL - CRESCIMENTO VEGETATIVO - RAZÃO DE MASCULINIDADE - ÍNDICE DE GINI - ÍNDICE DE PALMA - ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIAL (IVS) TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA - 1ª FASE: PRÉ-TRANSIÇÃO - 2ª FASE: ACELERAÇÃO OU EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA - 3ª FASE: DESACELERAÇÃO DEMOGRÁFICA - 4ª FASE: ESTABILIZAÇÃO DEMOGRÁFICA - 5ª FASE: DECRÉSCIMO POPULACIONAL PREV 3 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos 42 47 49 50 53 57 - REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA TRIPLA CARGA DE DOENÇAS TRANSIÇÃO NUTRICIONAL DETERMINANTES SOCIAIS EM SAÚDE Bibliografia PREV 4 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos INTRODUÇÃO Galera, sejam bem-vindos a mais uma apostila de Medicina Preventiva. Ao longo desta nossa caminhada, é essencial entendermos a importância de conhecer bem a população e suas características para que possamos tomar decisões mais efetivas, seja nós, enquanto profissionais da saúde, sejam os gestores em suas mais diversas esferas. Imaginem que duas equipes de saúdes de UBS diferentes decidam fazer uma campanha para diminuir os Acidentes Domésticos com Crianças durante a pandemia de Covid-19. A região da UBS A possui cerca de 30% da sua população formada por crianças menores de 10 anos, já a UBS B atende uma região em que menos de 5% da população é representada por crianças, sendo a maior parte representada por idosos. Percebam que diante dessa situação, talvez a prevenção de acidentes domésticos com crianças não seja uma prioridade para a equipe B, e os recursos seriam melhor investidos na prevenção de Quedas em Idosos. Este é um exemplo de um Diagnóstico Situacional em saúde. Essa mesma lógica se aplica a outros níveis de gestão, por isso é relevante conhecermos o perfil etário da população de um país, as doenças mais prevalentes e como se comportam. Além disso, para um melhor planejamento em saúde a longo prazo, é importante entender como essa população se comportou ao longo dos anos e qual a composição esperada para os anos seguintes. Para isso conheceremos as Transições Demográfica, Epidemiológica e Nutricional. Nesta apostila, vamos conhecer, ainda, o perfil da situação da saúde no Brasil, que atualmente, após passar por algumas transições nas últimas décadas, apresenta o que chamamos de Tripla Carga de Doenças. PREV 5 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Para medir e melhor compreender a situação das populações, precisamos lançar mão de indicadores! Vamos apresentar para vocês os indicadores de saúde, e adentrar com detalhes nos indicadores demográficos. Por fim, vamos compreender como as diferenças populacionais geram consequências na saúde das pessoas. Vamos falar sobre os Determinantes Sociais em Saúde! Parece muita coisa, mas não se preocupem, pois essa é uma apostila leve e gostosa de ler. Vamos lá! DIAGNÓSTICO SITUACIONAL Para podermos entender melhor a situação de uma população e planejarmos ações mais efetivas no processo saúde-doença de uma comunidade, cabe entendermos o conceito de Diagnóstico Situacional. Vale destacar, que o diagnóstico situacional pode ser feito em diversas situações. A depender do objetivo da pessoa que está buscando este diagnóstico. Por exemplo, podemos realizar um diagnóstico situacional PREV 6 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos de uma cidade (nível mais macro) ou de um bairro (nível mais micro). Ou mesmo, para uma família. E como esse diagnóstico é feito? Bem, dentre as estratégias utilizadas, podemos citar algumas: Podemos realizar reuniões com a comunidade, conversar com pessoas-chave, buscar em locais de participação comunitária. Ou seja, perguntar diretamente para aquela população quais são as suas necessidades e o que eles entendem como problemas de saúde. A Territorialização é uma ferramenta dentro da Medicina Preventiva em que é realizado e sumarizado o território de abrangência daquela ESF, quais os locais de impacto, quais são os problemas físicos, os aspectos sociais, a interação entre os atores, quais são as organizações e recursos daquela região e com isso permite a compreensão das necessidades do local. • • PREV 7 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Por fim, os Sistemas de Informações em Saúde contêm informações relevantes sobre incidência, prevalência, dados sobre mortalidade, morbidade que são recolhidos através das notificações e compõem uma base de dados nacional, sendo constantemente atualizada. Vamos entrar agora, mais a fundo nos Sistemas de Informação em Saúde! SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE Pessoal, é a partir desses sistemas que veremos agora que somos capazes de acessar todos os dados coletados pela Vigilância. Como são diversos sistemas nos quais armazenamos os dados, é essencial que tenhamos o mínimo de familiaridade com eles. Eles são fundamentais para gestão de recursos, elaboração de campanhas e inclusive auxiliam na prática clínica. • PREV 8 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos No SUS, a responsabilidade pelo gerenciamento e armazenamento dos dados dos SIS é do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Sendo que o DATASUS é de responsabilidade do Ministério da Saúde. E qual o caminho padrão desses dados? Primeiro o profissional de saúde preenche o documento fonte (ficha de notificação, declaração de óbito, declaração de nascido vivo, etc.). Os dados presentes nesses documentos são inseridos nos sistemas (SINAN, SIH, SIM, etc.). Depois que o DATASUS faz todo o processamento e qualificação desses dados, é hora de eles serem disponibilizados ao público. Isso é feito através do TABNET. O TABNET é basicamente um tabulador de dados. É uma página de internet que qualquer pessoa pode acessar. Lá podemos obter todos esses dados que estão nos sistemas de informação. A diferença é que no TABNET, não conseguimos estratificar os dados por indivíduo, até por uma questão de ética. Com essas informações em mente, vamos avaliar agora os principais sistemas de informação em saúde disponíveis em nosso país. Para cada um deles, é essencial saber qual o documento fonte do sistema. Ou seja, qual documento gera os dados a serem inseridos no sistema de informação. PREV 9 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos SINAN - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO Aqui temos o sistema que irá receber os dados gerados a partir das notificaçõesepidemiológicas. Devem ser notificadas à vigilância todas as doenças que constam na Lista de Agravos de Notificação Compulsória. Mas não se preocupem, pois vamos aprender mais sobre isso na apostila de Notificações. No momento foquem em compreender o que é o SINAN. Para realizar o acompanhamento desses casos, o SINAN utiliza os seguintes instrumentos: Ficha de notificação - é o principal Ficha de Investigação Planilha e boletim de acompanhamento de surtos Relatórios específicos para cada agravo/evento Esses documentos são todos numerados, cabendo às secretarias estaduais e municipais imprimir, numerar e distribuir os formulários de notificação e investigação. Por isso, não rasguem e descartem essas fichas. • • • • PREV 10 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Muita atenção! O SINAN é o sistema de informação mais cobrado nas provas. SIM - SISTEMA DE INFORMAÇÃO SOBRE MORTALIDADE Em relação a esse sistema temos como marco regulatório a Lei 6229/1975, que determinou a necessidade de obtenção de dados relacionados aos óbitos. Sendo posteriormente padronizou-se a Declaração de Óbito (DO) e definiu-se o fluxo correto para essas notificações, sendo que na década de 90 tal processo foi agilizado graças à informatização. Todos os óbitos devem desencadear o preenchimento da DO (inclusive os fetais). A impressão e distribuição das declarações é responsabilidade do MS. Toda declaração deve ser preenchida em 3 vias e deve ser numerada (mais uma vez tomem cuidado ao preencher e descartar as fichas). É graças à DO que somos capazes de avaliar o perfil de mortalidade da população. Para que esse dado seja gerado com qualidade, a DO possui 09 blocos de informações a serem preenchidos, vejamos abaixo exemplo de uma DO. PREV 11 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Vejam que no bloco V temos a necessidade de definir a causa de óbito, devendo inclusive descrever a linearidade dos eventos e fornecermos o CID de cada uma das condições. Vamos abordar a DO com mais detalhes na apostila de Ética, Bioética e Documentação. Veremos como devemos preencher da forma correta as DOs. E após o preenchimento desses dados eles serão inseridos no SIM pelas secretarias municipais de saúde. PREV 12 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos SINASC - SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE NASCIDOS VIVOS Esse sistema tem como função quantificar os nascidos vivos e gerar dados em relação à gestação, parto e condições de nascimento do RN. Esse dado é gerado graças a Declaração de Nascido Vivo (DNV). A DNV corresponde a um formulário padronizado em todo território nacional que deve ser preenchido em 3 vias, sendo todas as declarações numeradas. A impressão e distribuição das DNV fica a encargo do MS. Um aspecto interessante e que auxilia no preenchimento das DNV é o fato de que ela é necessária para realizar o registro civil do nascimento. Sendo que cada via da DNV possui uma finalidade específica sendo elas: 1ª via: deve ser encaminhada a secretaria municipal de saúde do local em que ocorreu o nascimento. 2ª Via: arquivada junto ao prontuário materno do serviço em que ocorreu o parto. 3ª via: entregue ao cartório para realizar o registro civil de nascimento. • • • PREV 13 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Como veremos na apostila de indicadores de saúde o número de nascidos vivos é essencial para o cálculo de diversos indicadores de saúde como mortalidade infantil, mortalidade materna entre outros. SIH - SISTEMA DE INFORMAÇÕES HOSPITALARES DO SUS Galera, esse sistema tem origem antes mesmo da criação do SUS. Isso porque, na década de 70, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) realizava os repasses aos hospitais por meio Instituto Nacional de Assistência Médico Previdenciária (INAMPS) que se baseava nas nas guias de internação hospitalar para tal. Essas guias de internação hospitalares posteriormente passaram a serem denominadas de Autorização de Internação Hospitalar (AIH), que vocês, com toda certeza, irão preencher ao menos uma no internato (e pelo menos agora entenderão o porquê desse "papel''). Entre os dados que devem constar na AIH temos: identificação do hospital• PREV 14 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos identificação e características do paciente internado característica da internação procedimento a ser realizado diagnóstico principal e secundário informações de alta hospitalar Algumas características são importantes de termos em mente. Primeiro é o fato de que o SIH-SUS cobre apenas as internações realizadas no SUS. Seja em hospitais do SUS, seja em hospitais conveniados de forma complementar (leitos em hospitais privados que foram pagos pelo SUS). Segundo é o fato de que a AIH deve ser gerada para toda permanência hospitalar que ultrapasse 24h. SIA-SUS - SISTEMA DE INFORMAÇÕES AMBULATORIAIS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE Tem por finalidade registrar os atendimentos ambulatoriais financiados pelo SUS. Para tal, faz uso dos formulários de “boletim de produção ambulatorial” (BPA) e “boletim de produção individualizada" (BPI). Um • • • • • PREV 15 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos componente desse sistema é a Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo, a nossa famosa APAC que quem ainda não teve oportunidade de preencher ainda no internato pode ter certeza de que o fará (várias vezes). SI-PNI - SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÕES O principal objetivo do SI-PNI é acompanhar e orientar ações do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Para tal ele é formado por 07 módulos que são: Avaliação do programa nacional de imunizações (API) Estoque e distribuição de imunobiológicos (EDI) Apuração dos imunobiológicos utilizados (AIU) Eventos adversos pós-vacinação (EAPV) Programa de avaliação do instrumento de supervisão (PAIS) Programa de avaliação do instrumento de supervisão em sala de vacinação (PAIS-SV) • • • • • • PREV 16 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Sistema de informação dos centros de referência em imunobiológicos especiais (SICRIE) Esse sistema é essencial ao PNI uma vez que permite acompanhar e avaliar desde cobertura vacinal da população. SISAB - SISTEMA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE PARA A ATENÇÃO BÁSICA O SISAB foi instituído pelo MS em 2013 como componente da estratégia do Departamento de Atenção Básica (DAB) conhecida como e-SUS AB. Anteriormente era conhecido como Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), mas foi substituído pelo SISAB em 2013. Esse sistema funciona por meio de 2 softwares que são o de Coleta de Dados Simplificada (CDS) e o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC): Em relação ao CDS ele é alimentado pelas fichas de Cadastro Individual, Cadastro Domiciliar, Ficha de Atendimento Individual, Ficha de Atendimento Odontológico Individual, Ficha de Atividade Coletiva, Ficha de Procedimentos e Ficha de Visita Domiciliar. • PREV 17 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Já o PEC é um sistema que registra dados em prontuário gerando também relatórios de produção como forma de avaliar as ações dos serviços de saúde. Porém, o PEC ainda não está disponível em todas as unidades de saúde. Resumidamente as principais funções do SISAB são: acompanhar e monitorar os serviços, integrar outros sistemas da APS e garantir a coleta de informações de forma efetiva. SISVAN - SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL A finalidade desse sistema é fornecer informações acerca do estado nutricional da população a partir de atendimentosrealizados na Atenção Primária. São realizados registros da avaliação antropométrica (peso e altura, por exemplo) e marcadores do consumo alimentar das pessoas atendidas na APS que estejam inseridas no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), no Sistema de Gestão do Programa Bolsa Família na Saúde ou no e-SUS Atenção Primária A partir desses dados, são gerados os relatórios do Sisvan, que revelam a situação alimentar e nutricional da população atendida e permitem a PREV 18 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos orientação de ações, políticas e estratégias para a atenção integral à saúde. Beleza, galera! A gente sabe que são muitos sistemas e que é fácil se perder, então, montamos um quadro para resumir tudo para vocês e tentar facilitar um pouco o entendimento. PREV 19 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Agora vamos para a próxima parte do capítulo. Vamos compreender o que são os indicadores demográficos e suas aplicabilidades. INDICADORES DE SAÚDE Ao longo dos nossos estudos vocês já devem ter percebido que o processo saúde-doença é dinâmico e multifatorial. Essa relação é complexa e composta por fatores individuais, coletivos e ambientais, é essa somatória desses fatores que vai determinar a saúde da população. PREV 20 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Dito isso, na posição de um gestor que deseja planejar suas políticas públicas, como podemos ‘medir a saúde’ de um determinado grupo de pessoas? Qual o perfil dessa população? Como saber onde agir para melhorar a qualidade de vida da população? Qual medida é mais custo- efetiva para determinado problema? Qual deve ser o foco do gestor para aquele território específico? Para isso, o gestor precisa realizar um Diagnóstico Situacional, como já explicamos no início do capítulo. Para conseguir realizar este diagnóstico, o gestor pode se apoiará em uma equipe formada por epidemiologistas e geógrafos visto que ele precisará conhecer os aspectos demográficos dessa população: Idade; Expectativa de vida; Distribuição de sexo; Principais atividades econômicas exercidas; Distribuição geográfica da população. E também necessitará de dados epidemiológicos, como: Conhecer como a doença se comporta naqueles indivíduos; Conhecer como a doença se comporta naquela população; Conhecer os fatores ambientais envolvidos. Em suma, precisará conhecer os Indicadores de Saúde e os Indicadores Demográficos. • • • • • • • • PREV 21 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Estes indicadores surgiram da necessidade de ‘quantificar’ a qualidade da saúde de uma população. Eles são instrumentos que permitem uma avaliação dessas condições de saúde, planejar e avaliar o impacto das ações em saúde, bem como prevenir e controlar doenças. Como podemos imaginar, o processo de ‘medir’ a saúde é complexo, já que além de aspectos objetivos, existem nuances subjetivas e necessitam de um grande contingente de informações para que essa medida seja próxima da realidade e gere dados confiáveis. Essas informações são geradas pelo próprio SUS em seus três níveis de gestão, em associação com diversas outras instituições como o IBGE, ONG’s, Universidades e outras associações técnico-científicas e são unificadas e analisadas pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA). A RIPSA surgiu em 1996 e tem como função fazer a captação das informações geradas por todas essas instituições já citadas (e outras, totalizando mais de 40 fontes) e servir como um banco de dados unificado, fornecendo informações catalogadas, seguras e de fácil acesso para gestores e população. A RIPSA fornece periodicamente os Indicadores de Dados Básicos (IDB), que são os resultados, em última instância, dessa análise. PREV 22 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Existem vários tipos de indicadores de saúde, como os demográficos, os socioeconômicos, os de morbimortalidade além daqueles relacionados a recursos de saúde e cobertura do sistema e dos serviços de saúde. De acordo com qual o aspecto que queremos analisar, existem vários critérios para orientar a escolha do indicador ou dos indicadores adequados. Para isso, são analisados alguns atributos, são eles: PREV 23 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Respondendo a todas essas perguntas podemos classificar este indicador como adequado e será uma ferramenta para auxiliar na tomada de decisões. Agora que já temos a base para compreender o que são indicadores de saúde, vamos aprender especificamente sobre os indicadores demográficos. INDICADORES DEMOGRÁFICOS Os Indicadores Demográficos traduzem informações da população como número de habitantes, sexo, idade, crescimento populacional, sem necessariamente inferir informações sobre a saúde da população, mas como vimos no capítulo Medidas de Saúde Coletiva - Perfis Demográficos, PREV 24 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos acaba por traduzir padrões de adoecimentos e ajudam na definição desses processos. Vamos conhecer os principais Indicadores Demográficos: TAXA DE NATALIDADE Estima a quantidade de pessoas que nasce em um determinado local ao longo do tempo, e é calculado através do número total de nascidos vivos naquele período e dividido pelo número total de habitantes daquele local, multiplicado por 1.000. A taxa de natalidade vem diminuindo no Brasil ao longo dos anos, essa diminuição foi mais acentuada e precoce nas regiões Sul e Sudeste e acompanhada pelas demais regiões. PREV 25 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos TAXA DE FECUNDIDADE Representa o número médio de filhos nascidos vivos tidos por uma mulher ao longo do seu período fértil, este estimado dos 15 aos 49 anos. Assim como a taxa de natalidade, este indicador apresentou uma redução significativa ao longo dos anos devido ao avanço dos métodos contraceptivos, políticas de planejamento familiar e inserção da mulher no mercado de trabalho. A taxa de fecundidade é um indicador importante para avaliarmos o crescimento e reposição populacional. Caso a taxa de fecundidade seja inferior a 2,1 nascimentos por mulher, a reposição populacional será insuficiente e haverá uma diminuição da população. O raciocínio é que cada mulher daria à luz a pelo menos duas crianças para repor o casal. Em 2017 esse número era de 1,74, já insuficiente para a reposição da população, com projeção de diminuir ainda mais até 2030. ÍNDICE DE ENVELHECIMENTO PREV 26 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Reflete a proporção de idosos na população (sendo considerados idosos os indivíduos com mais de 60 anos). Este índice demonstra a velocidade com que uma população envelhece e está diretamente relacionado à fase da transição epidemiológica que um país se encontra. É calculado pela fórmula abaixo: TAXA DE MORTALIDADE Demonstra o número de pessoas que morrem em uma determinada localidade em um determinado recorte do tempo. É calculada dividindo o número total de óbitos em um determinado local, pelo número total de habitantes deste mesmo local, multiplicado por 1.000. A taxa de mortalidade, tal qual a taxa de natalidade, vem diminuindo ao longo do tempo no Brasil, e não ocorreu de forma homogênea em todos os territórios. PREV 27 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos RAZÃO DE DEPENDÊNCIA TOTAL Este indicador se baseia na quantidade de idosos, crianças e adultos de uma determinada região e estabelece uma relaçãoentre a população que gera renda: população economicamente ativa e a população que não gera renda, a chamada população economicamente inativa. Os idosos e crianças são indivíduos que não são capazes de trabalhar e, portanto, gerar renda. Em suma: a população capaz de trabalhar e gerar renda, os adultos, devem suprir as necessidades financeiras da parcela populacional que não gera renda. Caso isso não aconteça e o número de crianças e idosos suplante o número de adultos, o país pode sofrer um déficit econômico. Esses dados são interpretados através da Razão da dependência total. Atualmente, o Brasil vem apresentando uma queda da razão de dependência total, pois houve uma queda acentuada no número de crianças, e apesar de um aumento no número de idosos, este vem acontecendo de forma lenta e ainda há um predomínio de adultos em detrimento da população economicamente inativa. PREV 28 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos TAXA DE CRESCIMENTO POPULACIONAL O número de pessoas que aumenta em um determinado local em um determinado intervalo de tempo, ou seja, é o incremento populacional daquela região. É calculado através da diferença das taxas de natalidade e mortalidade e dos processos migratórios. CRESCIMENTO VEGETATIVO Mostra a diferença entre os nascimentos e as mortes em uma população. Quando esse indicador é maior que zero, significa que houve um aumento na população. Guardem esse indicador, pois iremos usar ele para melhor compreender as fases de transição demográfica. PREV 29 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos RAZÃO DE MASCULINIDADE Também chamada de razão entre os sexos, determina a proporção de homens em um local em comparação ao número de mulheres. Essa taxa é influenciada pelos processos migratórios e pelas concentrações específicas de mortalidade. Uma razão igual a 100 demonstra um equilíbrio na proporção entre homens e mulheres, se maior que 100 demonstra um predomínio de homens, e se menor que 100 o predomínio é feminino. Este índice, assim como outros, guia os gestores no planejamento de políticas específicas. ÍNDICE DE GINI Também chamado de coeficiente de Gini, é uma ferramenta que mede a desigualdade de uma distribuição de renda. Varia de 0 a 1 e quanto maior o índice de Gini, mais desigual é essa distribuição: ou seja, apenas uma pessoa concentraria toda a renda daquele local. Quanto mais próximo de PREV 30 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos 0, mais próximo da igualdade, sendo 0 uma situação em que todos os indivíduos possuem a mesma renda. Observe abaixo o mapa da desigualdade calculado pelo Índice de Gini no Brasil. Imagem. Índice de Gini Municipal - Brasil, 2020. Fonte: Imagem adaptada do Mapa das Desigualdades, cidades sustentáveis. Outro Índice que nos auxilia a identificar desigualdades de renda, e indiretamente, a identificar vulnerabilidades sociais é o Índice de Palma, este último sendo considerado mais sensível que o Índice de Gini. PREV 31 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos ÍNDICE DE PALMA Mede a razão simples entre a renda dos 10% mais ricos e a dos 40% mais pobres de cada país. Diferente do Índice de Gini, nesse caso, quanto menor, melhor! Quanto menor a razão entre ricos e pobres, menor a desigualdade social. Observem esse cálculo por estado conforme o mapa abaixo: Imagem. Índice de Palma: Brasil. PREV 32 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos ÍNDICE DE VULNERABILIDADE SOCIAL (IVS) Mede a vulnerabilidade e o risco social a que as populações estão expostas. É calculado através de uma média aritmética de três subíndices: IVS Infraestrutura Urbana, IVS Capital Humano e IVS Renda e Trabalho, cada um deles entra no cálculo do IVS final com o mesmo peso. Cada um desses subíndices leva em consideração alguns fatores, no total 16, que estão demonstrados abaixo. PREV 33 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Imagem. Dimensões do IVS. Fonte: Imagem adaptada de IPEA. O Índice de Vulnerabilidade Social, após calculado, é expresso em uma faixa conforme demonstrado na imagem abaixo. Valores próximos a 1 indicam regiões de alta vulnerabilidade social, enquanto o 0 representa uma situação ideal, em que não há vulnerabilidades. Imagem. Como ler o IVS. Fonte: Imagem adaptada de IPEA. Para fecharmos este indicador, observem com atenção a diferença entre os conceitos no quadro abaixo: PREV 34 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Finalizamos nosso último indicador, mas antes de aprendermos sobre as transições, vamos entender um pouco sobre o conceito de vulnerabilidade de acordo com Ayres. De acordo com o autor, dentro da vulnerabilidade temos 3 dimensões: programática, individual e social. A dimensão individual considera o conhecimento acerca do agravo e os comportamentos que oportunizam a ocorrência da infecção. Para isso, se considera que qualquer pessoa pode adoecer, mas o ponto de partida são os modos de vida das pessoas, que podem contribuir para que se exponham a determinado patógeno, por exemplo. Ao contrário, também significa que alguns fatores podem ser protetores, como a qualidade da informação que as pessoas possuem acerca da doença (isso a um nível individual). Aqui consideramos os valores, interesses, desejos, atitudes, comportamentos, relações familiares, etc. A dimensão social foca diretamente nos fatores contextuais que definem e constrangem a vulnerabilidade individual. Aqui, são avaliações que ultrapassam o plano individual! O acesso à informação, o conteúdo e qualidade dessas informações disponíveis, os significados • • PREV 35 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos que estas adquirem ante os valores e interesses das pessoas, as possibilidades efetivas de colocá-las em prática, tudo isso remete a aspectos materiais, culturais, políticos, morais que dizem respeito à vida em sociedade. Aqui consideramos as normas sociais, as referências culturais, as relações de gênero, empregos, salários, acesso à saúde, etc. A dimensão programática (ou programada, ou institucional) busca avaliar como, em circunstâncias sociais dadas, as instituições, especialmente as de saúde, educação, bem estar social e cultura, atuam como elementos que reproduzem, quando não mesmo aprofundam as condições socialmente dadas de vulnerabilidade. O quanto nossos sistemas propiciam que esses contextos desfavoráveis sejam percebidos e superados pelos indivíduos e pelos grupos sociais. Por fim, vejam o quadro a seguir, retirado do capítulo escrito por Ayres, que resume os aspectos a serem analisados nas três dimensões da vulnerabilidade. Ayres e seus colaboradores explicam que essa lista não é nem exaustiva nem absoluta. Na prática, os aspectos a serem considerados e articulados dependerão das situações concretas em exame e das condições objetivas de que se dispõe para análises e intervenções. • PREV 36 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Imagem: As dimensões da vulnerabilidade. Imagem adaptada de: Ayres, et al. 2012. Mas para que utilizamos esses dados? Uma das possibilidades é para compreender como é a nossa população. Como vivem, do que morrem, qual a qualidade de vida, etc. Compreender as características de uma população e como se deram essas mudanças ao longo dos anos é essencial para conhecermos a população. Por isso é importante entendermos como aconteceram as PREV 37 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos transições demográfica,epidemiológica e nutricional. É neste assunto que vamos entrar, agora. TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Como podemos observar, o perfil da população brasileira mudou muito nos últimos anos e isso ocorreu devido a uma série de fatores. Com o passar do tempo, as pessoas passaram a viver mais, o número de crianças nascidas foi se reduzindo e houve certa estabilidade na forma como a população ia crescendo. Essas mudanças ocorreram de forma contínua e gradual e foram reflexo de outras mudanças que aconteceram em nossa sociedade, como a melhoria nas condições sanitárias, a inserção da mulher no mercado de trabalho e avanço tecnológico. PREV 38 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Para fins didáticos, vamos dividir a Transição Demográfica em 4 fases, acompanhem. 1ª FASE: PRÉ-TRANSIÇÃO Esta fase é marcada por taxas elevadas de natalidade e de mortalidade. Havia um crescimento populacional, porém lento e pouco expressivo, pois apesar de muitas pessoas nascerem, muitas pessoas também morriam. Isso acontecia pois não havia planejamento familiar e os métodos contraceptivos eram pouco empregados, o ambiente era predominantemente rural com um modelo de trabalho familiar. Mais filhos significava mais mão-de-obra. Além disso, as condições sanitárias precárias e o conhecimento médico limitado, associado a guerras e epidemias levava a um maior número de mortes e, consequentemente, a uma menor expectativa de vida. 2ª FASE: ACELERAÇÃO OU EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA PREV 39 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Nesta fase, como o próprio nome indica, há um crescimento rápido da população. Nesse momento, há um predomínio da urbanização, avanço tecnológico e melhorias importantes nas políticas sanitárias, repercutindo em queda abrupta das taxas de mortalidade, sem que haja uma queda tão acentuada nas taxas de natalidade. Com as pessoas vivendo por mais tempo e mantendo um elevado número de crianças nascendo, observamos o aumento do número de habitantes em um curto período de tempo. Essa fase geralmente acompanha o período de industrialização dos países, e portanto, ocorreu primeiro nos países desenvolvidos e mais tardiamente nos emergentes e em desenvolvimento. 3ª FASE: DESACELERAÇÃO DEMOGRÁFICA PREV 40 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Durante a desaceleração demográfica observamos um crescimento vegetativo positivo, porém menos acentuado que na fase anterior. Isso se dá graças a diminuição da taxa de natalidade. Essa fase é marcada pela inserção da mulher no mercado de trabalho, fortalecimento dos métodos contraceptivos e do planejamento familiar atrelado à consolidação da urbanização. Ao final desta fase, temos uma estabilização da diferença entre as taxas de natalidade e mortalidade e um grande contingente de população jovem. 4ª FASE: ESTABILIZAÇÃO DEMOGRÁFICA Atingida quando as taxas de natalidade e mortalidade se mantêm estáveis e com uma diferença média baixa. Nesse momento há um controle total do crescimento demográfico. É marcada pelo aumento do número de idosos e aumento na média de idade da população geral devido a elevada expectativa de vida e com um número pequeno de filhos por casal. 5ª FASE: DECRÉSCIMO POPULACIONAL PREV 41 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Alguns autores defendem a existência de uma 5ª fase da transição, em que aconteceria uma diminuição da população absoluta com um crescimento vegetativo negativo, ou seja, nessa fase a taxa de mortalidade superaria a taxa de natalidade e os nascimentos seriam insuficientes para repor a população. Aqui existe um risco importante de uma crise previdenciária pelo grande número de idosos com uma população economicamente ativa (PEA) cada vez menor. REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Observem a relação das taxas de natalidade e mortalidade dessas fases expressa no gráfico abaixo: Legenda: A linha roxa representa a natalidade, a linha verde representa a mortalidade e a área amarela representa o crescimento vegetativo (natalidade-mortalidade). PREV 42 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Gráfico: Fases da Transição Demográfica. Fonte: Imagem adaptada de Mendonça, Claudio. Demografia: transição demográfica e crescimento populacional. Há uma representação gráfica clássica da demografia. A pirâmide etária! Antes de entrar a fundo na representação de cada fase da transição demográfica, vamos compreender como funciona este gráfico. PREV 43 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Em resposta a essas diferentes fases da transição demográfica, observamos a distribuição da população em pirâmides etárias em cada um destes momentos. PREV 44 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Percebam, agora, como isso se refletiu no Brasil de acordo com os dados do IBGE que retratam as pirâmides etárias do Brasil nos últimos anos. PREV 45 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Imagem: Processo de transição demográfica no Brasil 1980-2060. Fonte: IBGE, 2017. Na década de 80, percebemos o predomínio da população com menos de 24 anos. Já em 2017 há um aumento importante do topo e do meio da pirâmide com predomínio da população adulta e um menor número de crianças. A pirâmide de 2060 prevê um grande número de idosos e do topo da pirâmide, com uma pequena proporção de crianças e adolescentes. Há um predomínio maior de mulheres em detrimento de homens, bem como uma expectativa de vida maior na população feminina. Isso se dá, dentre outros fatores, a uma maior exposição masculina a mortes por causas externas. Para fixarmos esses conceitos que acabamos de conhecer, analisem a tabela abaixo: PREV 46 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Imagem: Fases da transição demográfica. TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA Como podemos acompanhar acima, a transição demográfica no Brasil repercutiu no perfil da população e influenciou diretamente nos aspectos epidemiológicos. Portanto, a transição demográfica foi acompanhada também por uma transição epidemiológica. PREV 47 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Bom, pessoal, vimos que ao longo do tempo a população passou a viver mais tempo, aumentamos a proporção de idosos em nossa sociedade, reduzimos as taxas de fecundidade e natalidade, bem como houve uma melhoria nas condições higiênico-sanitárias e avanços na medicina. É justo então pensarmos que essas alterações no perfil da população mudaram a forma como as pessoas adoecem e as principais causas de morte. Por exemplo, além da diminuição do coeficiente de mortalidade geral, tivemos uma redução da mortalidade infantil e de mortes por doenças infectocontagiosas. Além disso, com o aumento da industrialização e do êxodo rural tivemos um aumento da violência urbana e as mortes por causas externas passaram a ganhar relevância. No Brasil, em 1930, as causas infecto-parasitárias representavam cerca de metade do total de óbitos. Na década de 80, esse número caiu para menos de 10%. A mesma lógica pode ser aplicada às doenças do aparelho circulatório que representavam cerca de 12% dos óbitos na década de 30 e sua proporção mais que duplicou em 1985. Além disso, com o envelhecimento da população e o avanço da medicina e melhoria das condições de vida, temos um contingente maior de PREV 48 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos doenças crônico-degenerativas, aumentando as condições de morbidade e reduzindo proporcionalmente as de mortalidade. TRIPLA CARGA DE DOENÇAS Com o avançar da transiçãodemográfica e da transição epidemiológica, o Brasil passou a apresentar doenças com características de países desenvolvidos, que completaram sua transição previamente. Porém, por ainda manter características de países em desenvolvimento, não conseguimos completar a transição epidemiológica e mantemos um contingente importante de doenças típicas desses países. A isso damos o nome de Tripla Carga de Doenças. PREV 49 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos TRANSIÇÃO NUTRICIONAL Seguindo nosso raciocínio acerca das mudanças ocorridas no Brasil nos últimos anos, acompanhamos em paralelo às transformações populacionais e no processo saúde-doença, transformações também no padrão alimentar do brasileiro. PREV 50 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Essa transição tem como característica uma redução nos déficits nutricionais da população e um aumento da incidência de sobrepeso e obesidade. Essa mudança ocorreu em resposta a algumas transformações ocorridas em nossa sociedade: A população deixa de ser predominantemente rural e passa a ser urbana, mudando os hábitos alimentares. Há um aumento do consumo por alimentos produzidos e preparados fora do domicílio. Inserção da mulher no mercado de trabalho, que desempenha cada vez menos o papel de ‘dona de casa’ e dispondo de menos tempo para o preparo das refeições, levando a um aumento do consumo de industrializados. Mudança no padrão das atividades de lazer com o avanço tecnológico e a popularização dos computadores, televisões e videogames levando a uma procura maior por atividades com pouco gasto energético. O avanço tecnológico também contribuiu para o aumento do sedentarismo através do advento de portões elétricos, escadas rolantes, vidros automáticos e uso cada vez maior de eletrodomésticos como máquina de lavar louça e roupa. Se por um lado esses avanços levaram a uma maior oferta alimentar e praticidade para o dia a dia da população, este acúmulo energético e aumento da gordura corporal levam a um aumento na incidência de sobrepeso e obesidade, visto com maior frequência em países desenvolvidos. • • • • PREV 51 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos A partir disso, é possível entender a importância de conhecer a população que estamos intervindo, em cada um de seus recortes temporais e compreendermos como as mudanças históricas influenciam no comportamento das pessoas e nos padrões de morbimortalidade de um país. Isso possibilita que as ações em saúde sejam mais efetivas, tanto em níveis estaduais e municipais, quanto em regiões e comunidades menores. Vimos como o Brasil é um país grande, complexo, e com particularidades decorrentes dos processos históricos que passou, e por isso enfrentamos uma carga de doença mais variada que outros países. Tudo isso que aprendemos sobre as transições e sobre os indicadores demográficos nos mostra que a nossa população não é homogênea. Há diferenças nas características e na qualidade de vida de populações de diferentes regiões, diferentes cores, gêneros, e assim por diante. Isso acarreta, também, em diferentes graus de saúde. Com isso em mente, vamos entrar na última parte desta apostila. Vamos falar sobre os determinantes sociais em saúde. PREV 52 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos DETERMINANTES SOCIAIS EM SAÚDE Existe uma enorme variedade de mecanismos envolvidos no processo saúde-doença que estão além da dimensão biológica e genética, são os chamados Determinantes Sociais em Saúde (DSS). Segundo a OMS: “Os determinantes sociais da saúde estão relacionados às condições em que uma pessoa vive e trabalha”. Já para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), corresponde aos “fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população”. Estamos falando desde aspectos individuais como hábitos de vida, alimentação e escolaridade até aspectos coletivos como valores culturais de determinada sociedade e fatores de natureza política de um país, sendo que os fatores mais gerais influenciam direta e indiretamente nos fatores mais individuais. Um dos modelos que busca explicar como esses determinantes atuam, é o modelo de Dahlgren e Whitehead que organiza os DSS em camadas, sendo que os fatores individuais estão centralizados na figura e à medida que as camadas se distanciam do centro os fatores se tornam mais gerais, até sua camada mais distal: os macrodeterminantes. Observem essa disposição na figura abaixo: PREV 53 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Imagem: Modelo de Dahlgreen e Whitehead - Determinantes Sociais em Saúde No centro da figura estão as características individuais como idade, sexo e fatores hereditários que marcam nossas potencialidades de adoecer ou não. A camada seguinte contempla o estilo de vida dos indivíduos e diz respeito aos aspectos comportamentais e escolhas individuais. Nessa camada percebemos o início dos DDS, pois apesar de parecer ser produto do livre arbítrio e opções pessoais, também está sujeita a influências externas como expectativas sociais, acesso a informações, influência da mídia e dos canais de comunicação. Um exemplo é o hábito de fumar, que inicialmente parece ser uma responsabilidade exclusivamente individual, mas que durante anos foi um hábito valorizado na televisão e cinema, muito associado a beleza e popularidade, agindo de forma indireta nessa escolha. PREV 54 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Em seguida, a camada das redes sociais e comunitárias, que explora a influência da sociedade nas escolhas individuais. O nível de coesão social é responsável por determinar quão intensa é essa influência. Em comunidades com grande coesão, um hábito valorizado pelo grupo tende a ser absorvido mais facilmente pelos indivíduos que o compõem. A próxima camada é dos fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação. Aqui, as diferenças econômicas e sociais evidenciam a grande desvantagem da população com menor acesso a recursos financeiros: estão mais susceptíveis ao adoecimento devido a condições habitacionais mais humildes, exposição a condições mais perigosas ou estressantes de trabalho e acesso menor aos serviços. No último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade. Ao analisar o modelo proposto por Dahlgren e Whitehead, percebemos como as diferentes camadas de DSS estão relacionadas entre si. As camadas mais externas influenciam nos determinantes presentes nas camadas mais internas, portanto podemos concluir que uma atuação exclusiva em camadas proximais, apesar de benéfico, será pouco efetivo se não for estendida para as camadas distais. Sendo assim, um modelo de promoção de saúde eficaz deve incidir sobre os diferentes níveis em que Dahlgreen e Whitehead organizaram os determinantes sociais da saúde. Na prática, deve-se estabelecer estratégias contínuas de intervenção capazes de modificar para melhor os elementos que estabelecem os nossos modos de viver, desde um nível de atuação mais próximo ao sujeito até aquele mais distante. PREV 55 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Ufa! Chegamos ao fim de mais um capítulo. Levem esses conhecimentos não só para aprova, como pra vida também! Até o próximo capítulo, pessoal. PREV 56 Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos Bibliografia Ayres, et al. Risco, Vulnerabilidade e práticas de prevenção e promoção da saúde. In: Campos et al. (Orgs), Tratado de Saúde Coletiva. 2 ed. São Paulo: Hucitec. 2012 BATISTA FILHO, M.; RISSIN, A. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e temporais. Cad. Saúde Pública, 19(Sup. 1): S181- S191, 2003. BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis, Rio de Janeiro, n. 17, v. 1, p. 77-93, abr. 2007 CNDSS. Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. Relatório Final. 2008 IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; disponível em http://www.ibge.gov.br. IPEA. Atlas da Vulnerabilidade Social. http://ivs.ipea.gov.br/index.php/ pt/ LEAVELL, H. R.; CLARK, E. G. Medicina Preventiva. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1976. MENDONÇA, C. Demografia: transição demográfica e crescimento populacional. VASCONCELOS, A. M. NOGALES. Transição Demográfica: Uma Experiência Brasileira. Universidade de Brasília, 2015. 1. 1. 1. 1. 1. 1. 1. 1. 1. PREV 57 http://www.ibge.gov.br http://www.ibge.gov.br http://ivs.ipea.gov.br/index.php/pt/ http://ivs.ipea.gov.br/index.php/pt/ Medicina Preventiva e Social Perfis e Indicadores Demográficos WONG, L, CARVALHO, J. A. M. Demographic bonuses and challenges of the age structural transition in Brazil. Paper presented at the XXV IUSSP General Population Conference. Tours, France, 18-23 July 2005. 1. PREV 58 Sobre a Medway O único preparatório 100% focado em São Paulo A Medway é o único curso preparatório para a residência médica 100% focado nas instituições de São Paulo. Preparamos nosso material com didática padrão-ouro vinda de nossos professores especialistas que já foram residentes onde você quer passar. Nosso maior objetivo é ajudar nossos alunos a conquistarem a residência dos sonhos. E para isso, nos certificamos de estarmos juntos até o final. juntos até o final! Você em 1º lugar na residência dos seus sonhos! A sua aprovação pode ser a próxima a aparecer aqui! Seu nome na lista de aprovados Henrique Bosso 2º lugar na Unifesp em Oftalmologia Beatriz Aveiro 1º lugar no HIAE em Medicina Intensiva Raphaela Bastos 3º lugar na USP-RP em Dermatologia