Prévia do material em texto
Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 85 Análise Ergonômica da atividade de Jardinagem e Paisagismo Ergonomic Analysis of the activity of Gardening and Landscaping Lizandra Garcia Lupi Vergara (lizandra@deps.ufsc.br) • Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima Trindade, Florianópolis, 88040-900. UFSC, Santa Catarina, Brasil Igor Mateus de Lima Nunes (igorlnunes@gmail.com, UFSC, Santa Catarina, Brasil) Igor Nunes Rodrigues (igorrodrigues90@gmail.com, UFSC, Santa Catarina, Brasil) Luiz Carlos da Silva Correia (luiz.clscr@gmail.com, UFSC, Santa Catarina, Brasil) Vinicius da Silva (vinisilva.vds@gmail.com, UFSC, Santa Catarina, Brasil) Resumo: O objetivo deste trabalho é demonstrar as condições de trabalho da atividade de jardinagem e paisagismo de uma empresa localizada em Florianópolis-SC, um setor de serviços ainda pouco explorado em pesquisas nacionais. Para tanto, utilizou-se como ferramenta metodológica a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), aplicada em dois trabalhadores da empresa de paisagismo e jardinagem analisada. Pode-se verificar que o ambiente de trabalho característico deste tipo de atividade, que se difere a cada serviço prestado, bem como os equipamentos utilizados, são fatores que podem contribuir e comprometer a saúde destes trabalhadores. Assim sendo, buscou-se não somente identificar e diagnosticar os problemas ergonômicos através da análise da tarefa e das atividades destes profissionais como também propor recomendações quem venham a prevenir possíveis riscos ocupacionais ou acidentes de trabalho com consequentes afastamentos da atividade laboral. Palavras-chave: Ergonomia; Metodologia AET; Jardinagem; Análise Postural. Abstract: The objective of this work is to demonstrate the working conditions of the activity of gardening and landscaping company located in Florianópolis-SC, a service sector still little explored in national surveys. Therefore, it was used as a methodological tool to Ergonomic Work Analysis (AET), applied in two company employees of landscaping and gardening analyzed. It was verified that the work environment characteristic of this type of activity, which differs for each service, as well as the equipment used, are factors that can contribute and compromise the health of these workers. Therefore, it was identified and diagnosed problems through ergonomic task analysis and activities of these professionals as well would made recommendations to prevent possible occupational hazards or accidents with consequent absences from work activity. Keywords: Ergonomics; AET Methodology; Gardening; Postural Analysis. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 86 1. Introdução As lesões musculoesqueléticas situam-se entre os problemas de saúde mais comuns relacionados com o trabalho, afetando milhões de trabalhadores em todos os setores de atividade. Iida (2005) ressalta que os maiores problemas no trabalho geralmente são decorrentes dos traumas por esforços excessivos, responsáveis pela maior parte de afastamento dos trabalhadores, em consequência das doenças e lesões no sistema músculo-esquelético. Segundo Sato e Coury (2005) apud Moccellin et al. (2007), as lesões atingem o trabalhador no auge de sua produtividade e experiência profissional, sendo um problema com magnitude em diversos países do mundo, o que reforça a importância de se identificar os fatores de risco que desencadeiam e/ou agravam essas lesões. A sobrecarga sobre os músculos e articulações, oriundos de trabalhos estáticos, assim como trabalhos que exigem muita força ou ainda os que exigem posturas desfavoráveis, como o tronco inclinado e torcido, podem levar à fadiga muscular, dores, como também provocar lesões musculares. Fatores estes responsáveis pelo aumento da prevalência de doenças relacionadas ao trabalho, como as Lesões por Esforços Repetitivos (LER), também denominadas de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), que caracterizam-se por sintomas como dor, fadiga nos membros superiores, pescoço e coluna lombar e resultam de postura inadequada e falta de pausas durante a jornada de trabalho (IIDA, 2005; MOCCELLIN et al., 2007; KROEMER E GRANDJEAN, 2005). Nos últimos anos aumentaram-se os esforços para investigar e prevenir as causas de LER/DORT, levando a um maior reconhecimento pelos trabalhadores e chefias de que existe uma forte relação entre os fatores de risco dentro do ambiente de trabalho e o desenvolvimento de LER/DORT, resultante de faltas do trabalho por doenças e redução da produtividade, com altos custos sobre a sociedade (BUCKLE, 2005). Tokars (2012) salianta a necessidade de se compreender que os custos de prevenção podem ser menores que os custos resultantes de acidentes, devido às consequências financeiras para violações jurídicas de leis e normas de segurança e saúde no trabalho, e ainda Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 87 se concientizar de que a saúde dos trabalhadores é patrimônio da empresa. Esses princípios podem evitar afastamentos e incapacidades para o trabalho, minimizar os custos com a saúde e com a alta rotatividade. Para Fernandes e Monteiro (2006), a promoção da saúde envolve tanto atitudes que implicam em diminuição de risco de adoecimento, como também na melhoria da qualidade de vida. No local de trabalho propõe uma abordagem mais ampla no estudo do ser humano no trabalho, com uma estratégia nova e integrada: a relação pessoas saudáveis em organizações saudáveis. Por isso é primordial realizar uma avaliação ergonômica minuciosa para que se possam implantar programas de prevenção a esses distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. A demanda atualmente no Brasil por serviços e atividades do setor de jardinagem e paisagismo, os quais oferecem um maior conforto por parte dos contratantes, cresce ano após ano. Esses trabalhos são realizados muitas vezes em residências, apartamentos e condomínios de grandes cidades, por profissionais que são contratadas por essas empresas prestadoras de serviços. Dentre as diversas áreas de prestação de serviços, têm-se como destaque neste artigo as empresas de jardinagem e paisagismo, que são responsáveis por realizar atividades de: planejamento, execução de projetos, ornamentos, paisagismo e manutenção de jardins, trabalho que exige da empresa um planejamento e um quadro de funcionários que atenda a essa demanda de serviços diária. Pode-se constatar certa dificuldade das empresas especializadas em encontrar mão-de-obra especializada e com experiência na área de jardinagem. Pois, em muitos casos, o trabalho em jardinagem e paisagismo exige do empregado talento, quase que artístico, para manipular e podar o jardim do cliente. Por isso, a relação empresa-empregado necessita de constantes mudanças e esclarecimentos que equilibre essa relação. Um dos fatores que desequilibra essa relação é o fato da exposição dos trabalhadores a riscos e problemas ergonômicos decorrentes do seu serviço. Ao analisar os fatores de exposição ao risco, nas atividades de poda e levantamento de vasos de um jardineiro de Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 88 Ribeirão Preto, Moccellin et al. (2007) evidenciam alto risco ocupacional, destacando a fadiga, nas posturas de flexão e extensão da coluna, dos tornozelos, do quadril e no movimento de abdução e adução de ombros. Uma avaliação ergonômica tem comofunção melhorar a situação do empregado em seu ambiente laboral e, segundo Dul (2004), tem como princípio contribuir para a prevenção de erros, melhorando o desempenho, sendo assim um importante fator para a redução de erros operacionais. A ergonomia propõe elaborar um corpo de conhecimentos científicos, que dentro de uma perspectiva visa a melhor interação homem, meios tecnológicos e ambiente de trabalho. Aplicando os conceitos e princípios da ergonomia especificamente para o setor de jardinagem e paisagismo, pode-se obter uma melhor qualidade de vida desses trabalhadores e um aumento de produtividade. E uma ferramenta importante nessa melhoria contínua é a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), que visa gerar um diagnóstico claro para conduzir e orientar modificações objetivando a melhoria das condições de trabalho. Na prática, a Análise Ergonômica do Trabalho destaca-se pela característica de ser uma metodologia capaz de evidenciar e diagnosticar reais problemas ergonômicos. Em muitas atividades, como é o caso da jardinagem, há uma insalubridade inerente ao ofício dos trabalhadores, como por exemplo, vibrações e temperaturas elevadas, na qual segundo Alonço (2006), o desconforto térmico e as vibrações são os principais fatores que afetam o comportamento normal das pessoas, visto que existe uma taxa aceitável de exposição tolerável pelo ser humano. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de acordo com a Norma Regulamentadora NR17, o empregador deve realizar a Análise Ergonômica do Trabalho, abordando no mínimo, as condições de trabalho, o que incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga individual de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos, às condições ambientais do posto de trabalho, a área de trabalho, e a própria organização do trabalho. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 89 Sendo assim, este trabalho tem como objetivo principal analisar as condições de trabalho da atividade de jardinagem e paisagismo de uma empresa localizada em Florianópolis-SC, um setor de serviços ainda pouco explorado em pesquisas nacionais. Para tanto, utilizou-se como ferramenta metodológica a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), aplicada para dois trabalhadores da empresa de paisagismo e jardinagem. 1.1 Justificativa Os DORT resultam da combinação da sobrecarga do sistema osteomuscular, seja pela utilização excessiva de determinados grupos musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de esforço localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo em determinadas posições por tempo prolongado com a falta de tempo para a sua recuperação (LUCCA et al., 2011). Conforme Couto (2000) os impactos para as organizações decorrentes dos LER/DORT atingem diversas áreas, tanto no que se refere à redução da produtividade, ao aumento dos custos, aumento no absenteísmo médico, com comprometimento da capacidade produtiva das áreas operacionais, menor qualidade de vida ao trabalhador, aposentadorias precoces e indenizações. A falta de orientação e a displicência no carregamento e levantamento de cargas pesadas conduzem ao absenteísmo, tendo um forte impacto sobre o Sistema de Previdência Social (INSS), que em 2004, registrou dentre outras causas, um volume de 70% dos requerimentos correspondentes à benefícios por incapacidade para o trabalho, conforme INSS/DATAPREV (2004) citado por Trezub (2012). Particularmente na agricultura, conforme destaca Campos (2008), considerando que o trabalho do campo continua a ser realizado em posturas adversas, os trabalhadores transportam cargas pesadas em posições antinaturais, ajoelham-se frequentemente, trabalham com os braços por cima do nível dos ombros, movem as mãos e os pulsos repetidamente e por vezes todo o corpo está sujeito às vibrações produzidas pelas máquinas agrícolas. A partir de uma análise ergonômica das posturas e exigências físicas de jardineiros durante a realização do trabalho, o autor analisou dez atividades utilizando o método RULA – Rapid Upper Limb Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 90 Assessment, através de 73 posturas individuais, o que permitiu concluir que estas tarefas envolvem um risco elevado de ocorrência de lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho. Ainda, o setor de serviços de jardinagem e paisagismo é pouco explorado em pesquisas nacionais, o que justifica a realização da presente pesquisa, que ao analisar as condições de trabalho, espera ao menos conscientizar o trabalhador e o empregador sobre a importância da aplicação dos preceitos da ergonomia, para que seja possível obter uma diminuição de problemas osteomusculares, resultantes de LER/DORT, bem como a diminuição dos afastamentos por parte dos trabalhadores, consequentes do diagnóstico deste tipo de doença ocupacional. 2. Caracterização da empresa A empresa referente ao estudo atua na área de prestação de serviços, voltada para a manutenção e criação de jardins, se enquadrando no setor de jardinagem e paisagismo. De porte pequeno, a empresa localizada na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, possui de 9 a 12 funcionários, considerando que o efetivo é variável, já que depende da demanda de serviços. A empresa não possui um espaço físico fixo, sendo que o atendimento aos clientes ocorre, primeiramente, ao telefone e depois o gerente vai ao local para avaliar a situação e orçar o pedido. De origem familiar a empresa está no mercado há cerca de 20 anos, conforme organograma funcional demonstrado pela Figura 1. Possui um grande número de clientes que realizam pedidos de manutenção quase que mensalmente, tendo como objetivo maior deixar o jardim de acordo com as especificações e exigências desses clientes. Figura 1. Organograma funcional da empresa Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 91 3. Procedimentos Metodológicos A realização desse trabalho pode ser definida, em relação aos procedimentos técnicos, com características tanto de estudo de caso quanto de levantamento, visto que conforme Gil (1991), um estudo de caso envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento, já um levantamento acontece quando a pesquisa envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Sendo que os métodos que caracterizam e favorecem a compreensão do assunto são o descritivo e o interpretativo. Isto porque se procura, num primeiro momento, descrever a realidade da empresa para, num segundo, interpretar as informações coletadas, visando alcançar os objetivos propostos. Na primeira fase da pesquisa, foram identificadas e observadas, através de fotografias e filmagens, todas as tarefas das diferentes etapas do processo de jardinagem, bem como as posturas, os gestos, os movimentos, repetitividade e carga física, relacionadas às situações de risco de LER/DORT. Entre as tarefas executadas pelos funcionários da empresa estão: paisagismo, cuidados com canteiro, poda, cortes com moto serra, corte de grama e limpeza com o soprador de folhas (blower). Para a análise das atividades de trabalho do profissional de jardinagem e paisagismo, optou-se por avaliar dois trabalhadores exercendo tarefas distintas, características da atividade, e comuns a todos os trabalhadores, já que a população considerada se restringia a 6 funcionários, sendo que apenas 4 realizavam as atividades de jardinagem e paisagismo, resultandoem uma amostra de 50% de funcionários desta empresa. Portanto, para a aplicação da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) foram observadas e selecionadas as atividades que exigiam maiores esforços do trabalhador, no que diz respeito à sobrecarga sobre os músculos e articulações, característica de trabalhos estáticos, como atividades que exigiam aplicação de força ou ainda posturas desfavoráveis, como o tronco inclinado e torcido. Sendo assim foram consideradas as seguintes tarefas: corte de grama (CG), cuidados com canteiro (CC) e limpeza com o soprador de folhas (blower) Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 92 (LL), descrita através das 4 etapas da AET, quais sejam: análise da demanda, análise ergonômica da tarefa, análise das atividades de jardinagem e paisagismo e diagnóstico e recomendações ergonômicas, apresentadas na sequência. 3.1 Análise Ergonômica do Trabalho (AET) Com a finalidade de analisar a atividade de trabalho de jardinagem, através da aplicação da metodologia proposta neste estudo, foi realizado uma série de entrevistas com todos os atores envolvidos, desde o diretor administrativo, gerente e dois dos trabalhadores, para o levantamento de dados e informações relevantes à pesquisa. Assim, utilizou-se como ferramenta metodológica a Análise Ergonômica do Trabalho, que segundo Iida (2005), visa aplicar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma condição de trabalho. A AET é uma metodologia dividida em etapas, que consistem em: • análise da demanda – Permite delimitar o(s) problema(s) a serem abordados em uma análise ergonômica; • análise da tarefa – compreende as condições técnicas de trabalho, condições ambientais e organizacionais de trabalho, ou seja, consiste no trabalho prescrito; • análise das atividades – trata-se da mobilização das funções fisiológicas e psicológicas do indivíduo, em um determinado momento. Corresponde ao comportamento real do trabalho para cumprimento das tarefas estabelecidas. Aplicação das ferramentas para análise biomecânica OWAS e RULA; • diagnóstico – é uma síntese da análise ergonômica, baseia-se diretamente nas hipóteses formuladas; • recomendações – consiste em sugestões de melhoria dos postos analisados visando aumento do rendimento e satisfação do empregado. 3.2 Ferramentas de avaliação da ergonomia física A análise das posturas assumidas pelos trabalhadores durante sua jornada de trabalho, considerando o mesmo tipo de carga de trabalho, foi realizada utilizando as ferramentas RULA e OWAS, ambas utilizadas para análise biomecânica com comprometimentos maior dos membros superiores, conforme verificado na atividade em questão. Optou-se por utilizar Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 93 duas ferramentas de avaliação física para efeito de complementação dos resultados e melhor constatação dos problemas osteomusculares relacionados ao trabalho, já que a ferramenta RULA, tem como foco principal de avaliação, os membros superiores, e o método OWAS aborda ainda uma maior diversidade de classificação para as pernas, além de costas, braços e força exigida para realização da ação, conforme descrição abaixo. 3.2.1 RULA (Rappid Upper Limb Assessments) Para identificar e quantificar os principais fatores de riscos devido à sobrecarga biomecânica dos membros superiores foi aplicado o método Rapid Upper Limb Assessment (RULA), que corresponde a uma ferramenta de avaliação dos membros superiores, desenvolvida em 1993 por Lynn McAntammey e E. Nigel Corlet. Para utilização do protocolo RULA, foram analisadas as filmagens das posturas assumidas pelos funcionários durante a realização da atividade de trabalho, classificando-as de acordo com o método de avaliação postural aplicado. O método RULA classifica as posturas por partes do corpo (braço, punho, pescoço, pernas, antebraço, rotação de punho, tronco) e a atividade, em relação à postura estática, ações repetitivas e carga. Para a classificação dos principais fatores de riscos devido à sobrecarga biomecânica dos membros superiores são considerados valores de 1 a 7, sendo 1 a melhor condição e 7 a pior situação de trabalho. 3.2.2 OWAS - (Ovako Working Posture Analysing System) O método Ovako Working Posture Analysing System (OWAS) foi criado com o objetivo de analisar posturas de trabalho na indústria do aço, pela empresa OVAKO OY em conjunto com o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional. Baseado na análise das atividades desenvolvidas pelos funcionários, através de fotos e/ou vídeos, considerando a frequência e o tempo. O método OWAS é mais simplificado que o RULA para membros superiores, apresentando uma maior diversidade de classificação para as pernas, sendo analisados os grupos: costas, braços, pernas e força exigida para realização da ação. Os resultados são classificados em quatro categorias de recomendações para ações corretivas, diferenciadas pelo prazo para correção. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 94 4. Análise da demanda A partir da análise da demanda, pôde-se constatar que durante a entrevista com o gerente da empresa não havia diferenciação entre as tarefas dadas aos funcionários, apenas quando algum novo funcionário integra-se à equipe, já que o mesmo passa por um período de adaptação e avaliação de seus conhecimentos na área. O índice de absenteísmo da empresa é baixo, e o fato de todos os funcionários exercerem as mesmas funções, dificulta a classificação de atividades que são predecessoras destes casos de afastamentos. Como demanda inicial, pode-se observar uma série de inadequações na atividade de trabalho dos funcionários analisados, desde o uso inapropriado das vestimentas e EPI´s utilizados, característica de atividades em empresas de pequeno porte. O trabalhador 1, por exemplo, ao realizar a atividade CG, apesar de utilizar EPI, no caso protetor auricular, não utilizava calça nem botas. Já o trabalhador 2, ao executar a tarefa CC, não estava usando nenhum tipo de EPI, pois se encontrava a uma distância de aproximadamente 4m, e ainda usava chinelo de dedo, bermuda e camiseta escura, vestimenta completamente imprópria para o trabalho realizado, devido aos materiais jogados pela roçadeira. Através de observações, questionários e entrevistas realizadas com os dois funcionários avaliados, gerente e dono da empresa, possibilitou-se verificar e avaliar problemas ergonômicos que futuramente poderiam causar algum tipo de dano físico aos trabalhadores, conforme descrito abaixo nas demais etapas da ferramenta metodológica AET. 5. Análise ergonômica da tarefa No caso do estudo analisado, por se tratar de um serviço personalizado e efetuado no local de demanda, o posto de trabalho muda constantemente em dimensões e demais elementos como iluminação, temperatura e etc. Porém, existem fatores que sempre estão presentes, como o trabalho é realizado em ambiente externo, sendo submetido à temperatura, iluminação, umidade ambiente, apresenta também tarefas comuns como poda e limpeza, variando estas, na sua forma de realização e tempo. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 95 Os equipamentos utilizados pelos trabalhadores são levados até o local de trabalho juntamente com estes, uma vez no local de trabalho, os equipamentos são depositados em local que os trabalhadores melhor entendem como adequado à realização das tarefas. Como objetode estudo, foi analisados dois trabalhadores, que serão denominados como Trabalhador 1 e Trabalhador 2, tendo como características pessoais os dados da Tabela 1 abaixo. Tabela 1. Características pessoais dos trabalhadores Características Trabalhador 1 Trabalhador 2 Sexo Masculino Masculino Idade 39 (anos) 25 (anos) Altura 1,69(m) 1,73 (m) Peso 65 (kg) 73 (Kg) Tempo de atividade + de 20 (anos) 5 (anos) Fonte: Os Autores (2012) As atividades desenvolvidas pelos trabalhadores são variadas e podem se repetir se os mesmos atenderem mais de um cliente no dia de trabalho. As ações desenvolvidas durante as atividades englobam a movimentação dos membros superiores e inferiores, praticando a postura em pé e agachado, além do deslocamento constante. Algumas atividades exigem mais do trabalhador no quesito de estrutura osteomuscular como, por exemplo, o corte de um gramado ou a poda de uma árvore, em ambas as atividades o trabalhador utiliza maquinário pesado, e podendo, como no caso de poda de uma árvore, ter que subir em uma escada com o equipamento em mãos. Comparado ao trabalho desenvolvido em uma linha de produção, pode-se dizer que no processo produtivo desenvolvido as entradas ou inputs é o próprio jardim/terreno a ser modificado e gerando como saída ou output o jardim/terreno modificado, segundo as exigências do cliente. Como já abordado, o trabalho desenvolve-se em ambiente externo, tornando como características ambientais do posto de trabalho as correspondentes ao dia no qual o mesmo for executado, podendo variar ainda pelo próprio trabalhador, como por exemplo, através do uso Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 96 de roupagem de cor escura em dias de intensidade solar elevada, ou na combinação de temperatura e umidade elevadas, o que torna o trabalho muito desgastante. No dia de observação, foram tomados os seguintes dados dispostos nas Tabelas 2 e 3 abaixo. Tabela 2: Classificação dos fatores ambientais (temperatura e iluminação) do ambiente analisado Classificação Fatores ambientais Iluminação Temperatura Ar livre 1200 (lux) 29,6 (°C) Fonte: Os Autores (2012) Tabela 3: Classificação dos fatores ambientais (ruído) do ambiente analisado Classificação Roçadeira Soprador Intensidade sonora a 3 m de distância 93,9 (dB) 84,3 (dB) Intensidade sonora no trabalhador 104,2 (dB) 95,6 (dB) Peso do maquinário 7 (kg) 10,4 (Kg) Fonte: Os Autores (2012) Com relação à temperatura ambiente, não há a possibilidade do controle no local de trabalho pelos motivos já citados, e considerando que o trabalho é realizado muitas vezes sem pausas expressivas, a atividade estaria em desacordo com o recomendado pela NR-17, que delimita para trabalhos contínuos moderados o máximo permitido seria de até 26,7°C, para adequação à norma sugere-se a implementação do seguinte regime de trabalho para o dia, 15 minutos de trabalho e 45 de descanso, porém se fosse adotado este regime provavelmente a execução do serviço seria prejudicada. A iluminação medida também não é o recomendado para atividade segundo Iida (2005), o nível medido seria aplicado a tarefas manuais precisas. Ficando a recomendação de que a faixa de iluminamento fosse de 400-600 lux, o que é uma marca de difícil obtenção, uma vez que o controle sobre a fonte luminosa é impossível, porém a empresa poderia disponibilizar óculos solares como um EPI. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 97 Os níveis de ruídos medidos (ver Tabela 3) permitiriam aos trabalhadores o máximo de exposição ao ruído por volta de 35 minutos no pior caso e 1hora e 45 minutos no melhor, o que pode não acontecer dependendo do local, no qual a tarefa está sendo realizada. Nas observações de campo, notou-se que o operador do maquinário utilizava protetores auriculares, protegendo-se assim do ruído, porém o outro trabalhador, que muitas vezes está em um raio de distância muito próximo não usa o equipamento de proteção. Outro fator importante, que não foi possível medir, por falta de equipamento específico, é o índice de incidência de raios ultravioleta, uma vez que não foi constatado nem o uso e nem o fornecimento de protetor solar aos trabalhadores. 5.1 Prescrição da tarefa de corte de grama (CG) A atividade de corte de grama é realizada por apenas um funcionário. E sua tarefa, conforme Figura 2 consiste em: • abastecer a máquina de corta (roçadeira); • limpar o terreno, retirando pedras e outros objetos que poderiam causar traumas ao trabalhador bem como eventuais danos à máquina; • cortar toda a área grama, tomando o cuidado o patrimônio do cliente. Figura 2. Corte de grama 5.2 Prescrição da tarefa de cuidados com o canteiro (CC) A atividade de cuidados com o canteiro é feito novamente por apenas um funcionário. Sua tarefa, ilustrada pela Figura 3, resume-se em: Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 98 • limpar o canteiro com auxílio de ferramentas próprias, tomando o cuidado com as plantas que já se encontram plantadas; • retirar as ervas daninhas, que causam algum dano às plantas. Figura 3. Cuidados com canteiro 5.3 Prescrição da tarefa com o soprador de folhas (LL) Com o soprador de folhas (blower) o funcionário tem que exercer as seguintes tarefas, como demonstrado através da Figura 4: • abastecer o equipamento caso houver necessidade; • realizar a limpeza com o soprador, retirando todas as palhas. Figura 4. Soprador de folhas Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 99 6. Análise das atividades de jardinagem e paisagismo A análise das atividades descreve os comportamentos dos funcionários no trabalho, a maneira como os resultados são obtidos e como os meios são utilizados. Com a análise ergonômica do trabalho é possível verificar as condicionantes de tempo e suas consequências sobre a atividade, às posturas e gestos durante a realização do trabalho, o comportamento cognitivo do trabalhador, se há a presença de “vícios”, como também o comportamento osteomuscular e psicológico durante o turno de trabalho. Com relação às atividades de trabalho, como já citado acima, elas se dividem em: jardinagem e paisagismo, cuidados com canteiro, poda, cortes com motoserra, corte de grama e limpeza com o soprador de folhas (blower). No caso desse estudo foram analisados, Trabalhador 1 e Trabalhador 2, realizando apenas as tarefas de corte de grama (CG), cuidados com o canteiro (CC) e limpeza (LL). O corte de grama é realizado com o auxílio de uma roçadeira, com o qual o funcionário percorre todo o terreno a ser cortado, parando apenas para reabastecer a máquina e para uma eventual pausa. O trabalhador encarregado a cuidar do canteiro tem que limpar, retirando ervas-daninhas e demais sujeiras no canteiro. No dia de levantamento de dados observado, o Trabalhador 2, que realizou a limpeza do canteiro, também utilizou o soprador de folhas para limpar o terreno no qual o Trabalhador 1 cortou a grama. Como o trabalhador 1 (T1) exerce a função a mais de 20 anos, algumas atitudes são tomadas para acelerar a atividade. Essas atitudes podem ser compreendidas como vícios. Esses vícios, mesmo que para o T1 seja inocente e útil, poderão gerar sérios danos a sua saúde física. Um vício logo identificado e confirmado em entrevista foi de retirada de parte da proteção do equipamento. O que pode provocar acidentes muito graves. A seguir são mostradasas atividades realmente efetuadas por T1 durante a realização da atividade CG, através das quais serão apresentadas as devidas considerações e diagnóstico ergonômico: • retirar equipamentos do veículo e levar até local onde a atividade será executada; Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 100 • verificar existência de dejetos de animais, lixo, pedras pequenas e objetos maiores que venham a atrapalhar a execução da atividade; • verificar quantidade de nylon na máquina; • abastecer a máquina com combustível. Com relação aos movimentos e forças corporais executadas pelo trabalhador 1 durante a atividade CG pode-se classificá-la como pouco dinâmica, ou seja, na maior parte do tempo o trabalhador executa movimentos repetitivos e com força constante. Por meio de entrevista com o trabalhador e observações foi possível classificar os movimentos corporais do trabalhador para realizar uma análise. A partir de análise feita sobre a postura exercida pelo trabalhador 1 durante a execução da atividade, foi utilizado o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment), para concluir a análise postural. Dentro dos parâmetros do método RULA, a pontuação da atividade executada pelo trabalhador 1 foi de 6, o que indica que “deve-se fazer investigação e que mudanças terão que ser introduzidas” no ambiente de trabalho. Quanto a demanda cognitiva da atividade pode ser dita como baixa. Em conversa com trabalhador 1, fica evidenciado que apesar do cansaço físico, se sentem a vontade no trabalho, pois podem descansar, conversar com colegas e lanchar. Na atividade de CG não ocorre muita pressão por parte de cliente, apenas pelos patrões e pelos riscos de acidentes com os bens materiais dos clientes. Na atividade 2, CC, cuidado de canteiros, executada pelo trabalhador 2 (T2) que está a mais de 5 anos exercendo a jardinagem e diz possuir grande experiência sobre a atividade, foi observado que o trabalhador assume posturas que podem causar lesões osteomusculares, além de usar roupas inadequadas. Abaixo são mostradas as atividades realizadas por T2 durante a execução da atividade CC, através da qual serão apresentadas as devidas considerações e diagnóstico ergonômico: • levar as ferramentas que serão utilizadas; • retirada de ervas - daninha que estejam entre as plantas; • podas em algumas plantas; Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 101 • colocação de adubo. Tendo como base os movimentos musculares e forças exercidas por T2 durante a realização da atividade CC pôde-se classificar a atividade como não dinâmica uma vez que o trabalhador não executa força e fica praticamente todo o tempo da atividade na mesma posição. A partir de análise feita das posturas assumidas pelo trabalhador 2 durante a realização da atividade, utilizou-se o método OWAS para concluir a análise postural, seguindo a seguinte classificação (Tabela 4): Tabela 4: Classificação das posturas assumidas pelo trabalhador 2 Postura coluna Postura braços Postura pernas Esforço Classificação Inclinado Dois braços para baixo Ajoelhado em ambos joelhos Menor ou igual que 10kg Fonte: Os Autores (2012) O resultado de aplicação do método OWAS apresentou a categoria de ação classificada como “são necessárias correções em um futuro próximo”, o que indica que a postura assumida durante esta atividade pode vir a causar danos à saúde do T2. Em relação aos aspectos cognitivos desta atividade, pode-se afirmar que a exigência é baixa, que pode ser confirmado em conversa com T2 e no questionário realizado. Quanto à pressão por serviço executado nesta atividade, existe um pouco por parte dos clientes, uma vez que no geral esses canteiros possuem hortaliças, ervas e temperos. O cultivo destas plantas em casa se dá grande parte como um hobby para os clientes, o que a partir desse ponto de vista exige mais cuidado. Há ainda mais uma atividade desempenhada pelo trabalhador 2, que é a limpeza do terreno após o corte de grama, classificada neste estudo como LL. A atividade é desempenhada com ajuda de um aparelho chamado de soprador de folhas, como demonstrado pela Figura 4. Com relação aos movimentos e forças corporais executadas pelo trabalhador 2 durante a atividade de limpeza pode ser classificada como pouco dinâmica, ou seja, na maior parte do tempo o trabalhador executa movimentos repetitivos e com força constante. Por meio de Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 102 entrevista com o trabalhador e observações foi possível classificar os movimentos corporais do trabalhador. A partir da análise feita sobre a postura exercida pelo trabalhador 2 durante a execução da atividade, foi utilizado o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment), para concluir a análise postural. Dentro dos parâmetros do método RULA a pontuação da atividade executada pelo trabalhador 2 foi de 6, indicando que “deve-se fazer investigação e mudanças devem ser introduzidas”. Quanto à demanda cognitiva da atividade, pode ser classificada como baixa. Em entrevista com o trabalhador 2, pode-se registrar que o mesmo sente dores nos ombros após o uso do aparelho, uma vez que o aparelho é fixado junto ao corpo por meio de alças tipo mochila. 7. Diagnóstico e recomendações ergonômicas Considerando os aspectos da ergonomia física dos trabalhadores analisados, pode-se constatar diversos erros posturais e “vícios” de comportamento durante a atividade laboral dos funcionários da empresa analisada. Dentre eles, um de maior significância foi o fato da vestimenta inadequada dos trabalhadores contribuía com o aumento de seu desconforto térmico, como o próprio mencionou em entrevista. E que segundo Kroemer (2005), o desconforto térmico pode gerar alterações funcionais, e no caso do estudo, o superaquecimento, gera cansaço e sonolência, redução do desempenho físico e aumento de erros. Uma maneira de diminuir o desconforto térmico dos jardineiros em dias de muito calor é utilização de roupas claras de forma a refletir em grande parte a radiação dos raios solares. Contudo, tomando cuidado com a espessura, pois deve-se oferecer uma segurança contra eventuais objetos que possam ser lançados pela roçadeira no trabalhador. Outra forma de diminuir o desconforto térmico dos trabalhadores, é a utilização de chapéu, para proteção de cabeça e ombros dos raios solares, bem como o fornecimento de protetores solares, por parte da empresa, para os funcionários envolvimentos em trabalhos externos e sujeitos a luz solar. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 103 Apesar do trabalhador de corte de grama utilizar proteção auricular e óculos, há uma displicência no que diz respeito a sua vestimenta, pois falta uma máscara que proteja o seu rosto inteiro, bem como caneleiras externas para protegê-lo de objetos lançados pela roçadeira operada. Outra preocupação evidenciada foi o fato do trabalhador na maior parte de sua tarefa de cortar grama, inclinar o pescoço. Esse fato, segundo próprio relato do funcionário, causava dores no ombro e principalmente no pescoço no final do turno de trabalho. Essa inclinação, durante certo período de tempo intermitente pode causar fadigas musculares, as quais irão impedi-lo de realizar alguns movimentos com o pescoço sem que sinta algum tipo de dor. No caso das dores no ombro e no pescoço, a principal medida corretiva, seria o ajuste da máquina, roçadeira,para melhor se adaptar a estatura do trabalhador, como também um melhora na cinta que sustenta a máquina junto ao trabalhador, pondo acolchoados nos ombros. Portanto, dentre todas as observações citadas acima, procurou-se aplicar os princípios da Ergonomia, que tem como objetivo de melhorar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Contudo verificou-se uma resistência por parte dos funcionários em usar equipamentos de proteção individual e não exigir melhorias de condições de trabalho aos gerentes. Os trabalhadores não estavam conscientes da importância do uso de EPI’s e o melhoramento de sua postura. E muitas vezes desistiam de usar novos equipamentos de proteção, por simplesmente não serem confortáveis. Para reverter essa situação atual, os funcionários devem passar por algum tipo de treinamento e conscientização, sobre a importância dos EPI’s, para futuras melhorias da qualidade de vida e de sua atividade laboral. 8. Considerações finais Com a aplicação da metodologia de Análise Ergonômica do Trabalho (AET) foi possível diagnosticar uma série de problemas ergonômicos na atividade dos trabalhadores em seu ambiente de trabalho no qual, poderá futuramente gerar como consequência principal, acidentes de trabalho com afastamentos. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 104 Outro fato importante que deve-se salientar é a baixa consciência dos trabalhadores com relação a sua própria segurança, principalmente no que se refere a utilização de EPI’s e outros equipamentos de segurança, pois muitas vezes os trabalhadores sentem-se desconfortáveis com a uso de novos equipamentos. Pode-se citar ainda um potencial aparecimento de fadigas musculares nos trabalhadores, relacionados às posturas assumidas durante a atividade laboral. Em entrevistas com os dois trabalhadores analisados, verificou-se o surgimento de dores lombares leves e em outras situações demasiadamente elevadas, no final do turno de trabalho, dependendo da demanda de trabalho do dia. Assim no decorrer da análise ainda observaram-se outras demandas ergonômicas e “vícios” praticados pelos trabalhadores, que em um futuro próximo, poderiam vir a causar problemas graves à sua saúde. A atividade de jardinagem, bem como demais trabalhos, no qual há necessidade de uma grande frequência de levantamento e carregamentos de materiais pesados, exigem muito da região lombar dos trabalhadores. A ocorrência de fadigas musculares está ligada ao sobrecarregamento muscular que permanece localizada em um determinado músculo. E ainda causando uma redução de desempenho do músculo fadigado, não apenas pela redução da força, mas também pela redução da velocidade de movimento. Isso explica os problemas de coordenação e aumento de erros e acidentes. Pode-se salientar ainda que a fadiga muscular não tratada pode ocasionar disfunções osteomusculares que comprometem a funcionalidade, além da produtividade do trabalhador. Portanto, a saúde do trabalhador é um requisito de suma importância ao sistema produtivo e a ergonomia tem um papel vital dentro das empresas, que visa estabelecer uma relação mútua com a qualidade dos serviços prestados com um aumento de produtividade e melhoria das condições do trabalho aos trabalhadores. Referências ALONÇO, A. dos S.; MEDEIROS, C. A.; MEDEIROS, C. A.; WERNER, V. Análise Ergonômica do Trabalho em Atividades Desenvolvidas com uma Roçadeira Motorizada. Ciência Rural, Santa Maria-RS: set-out, 2006. BUCKLE P. Ergonomics and Musculoskeletal disorders: overview. Occupational Medicine: 55, 164-167, 2005. Instituto Superior Tupy – IST/SOCIESC Joinville, Santa Catarina, Brasil ISSN 2237-5163 / v. 02, n. 01: p. 85-105, ano 2012 Recebido 31/08/2012; Aceito 06/11/2012 105 CAMPOS, R. H. A. D. Percepção do risco de desenvolvimento de lesões músculo-esqueléticas em jardinagem. Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, Portugal, 2008. COUTO, H. A. Novas perspectivas na abordagem das LER/DORT. Belo Horizonte: Ergo, 2000. DUL, J. e WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. 2ª Ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. FERNANDES, A. C. P. e MONTEIRO, M. I. Capacidade para o trabalho entre trabalhadores de um condomínio de empresas de alta tecnologia. Revista Brasileira de Enfermagem: nov-dez; 59(6): 752-6, 2006. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991. ITIRO, I. Ergonomia: Projeto e Produção. 2 ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. KROEMER K. H. E. e GRANDJEAN E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. Editora Porto Alegre: Bookman, 2005. LUCCA, S. R.; CORTEZ, M. Z.; TOSETTO, T. A percepção dos trabalhadores sobre os riscos de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho na produção de rosas. REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão, Araraquara, v. 4, n. 1, jul/dez, 2011. MOCCELLIN, A.S.; BERNARDI, L.; AGUIAR, R. G.; ITO, E. I.; NOVAIS-SHIMANO, S. G.; FONSECA, C. R. Avaliação ergonômica de um trabalhador da área de jardinagem: relato de caso. CBB: USP Ribeirão Preto, 2007. TOKARS, E. Abordagem ergonômica do afastamento por adoecimento de trabalhadores da indústria de processamento de frango e suíno. Pós-Graduação em Engenharia de Produção (Tese de doutorado), Universidade Federal de Santa Catarina, 2012. TREZUB, C. Benefícios da previdência social. Disponível em: http://www.mpas.gov.br/conteudoDinamico.php?id=18 Acesso em agosto de 2012.