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Autorizações e Planos na Atividade Portuária Vilmar José Zaccaron Autorizações e Planos na Atividade Portuária 2 Introdução Neste conteúdo destacam-se dois importantes assuntos: os órgãos fiscalizadores da atividade portuária e os planos necessários para a realização das atividades portuárias. Na primeira parte do conteúdo, são apresentados os principais órgãos fiscalizadores das atividades portuárias, sendo eles a Receita Federal, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) e a Vigilância Sanitária. Estes atuam em todo o processo que envolve as atividades de comércio exterior. A Receita Federal trabalha na formulação, execução e acompanhamento da política fiscal e aduaneira do país. A ANTAQ faz a coordenação, regulamentação e controle das operações aquaviárias e a Vigilância Sanitária, regulada pela ANVISA, promove a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços. A segunda parte do conteúdo dedica-se a mostrar os planos necessários para a realização das operações portuárias. Nesse sentido, aparecem o plano de estiva e o plano de carga e descarga. O plano de estiva descreve o fluxo de realização das atividades de movimentação de mercadorias nos conveses ou nos porões das embarcações principais ou auxiliares, visando o trabalho dos estivadores. Já os planos de carga e descarga discriminam as importantes atividades realizadas em um terminal de contêineres e que envolvem altos custos durante a sua realização. Objetivos da Aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de: • Compreender as principais funções dos órgãos fiscalizadores na atividade portuária; • Analisar os principais planos necessários na atividade portuária. 3 Órgãos da Atividade Portuária O Brasil possui uma ampla estrutura para administração do comércio exterior, com atribuições relacionadas às áreas fiscal, cambial e administrativa. O Ministério da Fazenda, o Ministério da Indústria e o Comércio Exterior e Serviços são os principais órgãos participantes nas operações de comércio internacional (SEGRE, 2018). Os demais órgãos possuem competências específicas em relação a determinados produtos, entre eles estão: a Receita Federal, a ANTAQ e a Vigilância Sanitária, os quais estudaremos nos tópicos a seguir. Receita Federal De acordo com Segre (2018), o Ministério da Fazenda tem alguns órgãos que possuem poder de intervenção nas operações de comércio internacional. Os principais órgãos são: Secretaria da Receita Federal (SRF), Comitê Brasileiro de Nomenclatura (CBN), Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central do Brasil (BCB), Secretaria Executiva da Câmara de Comércio Exterior, Secretaria de Comércio Exterior (Secex), Câmara de Comércio Exterior (Camex). Em função do conteúdo específico deste conteúdo, vamos estudar aqui a Secretaria da Receita Federal (SRF). “Compete à Secretaria da Receita Federal assessorar o Ministro de Estado da Fazenda na formulação, execução e acompanhamento da política fiscal e aduaneira” (SEGRE, 2018, p.5). Segre (2018) cita que entre as principais funções da Secretaria da Receita Federal destacam-se: • Planejar, coordenar, supervisionar, executar, controlar e avaliar as atividades de administração tributária federal. • Propor medidas de aperfeiçoamento e regulamentação e promover a consolidação da legislação tributária federal. • Interpretar e aplicar a legislação fiscal, aduaneira e correlata, editando os atos normativos e as instruções necessárias à sua execução. • Acompanhar a execução das políticas tributária e aduaneira e estudar seus efeitos na economia do país. 4 • Dirigir, supervisionar, orientar, coordenar e executar os serviços de fiscalização, lançamento, cobrança, arrecadação, recolhimento e controle dos tributos e contribuições e demais receitas da União sob sua administração. • Participar da negociação e da implementação de acordos, tratados e convênios internacionais pertinentes a matérias tributárias, com ressalvas às competências de outros órgãos que tratem desses assuntos. • Dirigir, supervisionar, orientar, coordenar e executar os serviços de administração, fiscalização e controle aduaneiros, inclusive no que diz respeito à alfândega de áreas e recintos. • Dirigir, supervisionar, orientar, coordenar e executar o controle do valor aduaneiro e de preços de transferência de mercadorias importadas ou exportadas. • Dirigir, supervisionar, orientar, coordenar e executar as atividades relacionadas com nomenclatura, classificação fiscal e origem de mercadorias, inclusive representando o país em reuniões internacionais sobre a matéria, ressalvadas as competências do Comitê Brasileiro de Nomenclatura. • Participar das atividades de repressão ao contrabando, ao descaminho e ao tráfico ilícito de entorpecentes e de drogas afins e à lavagem de dinheiro. • Administrar, controlar, avaliar e normatizar o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex). (SEGRE, 2018, p. 5) Conforme a Lei n. 11.457, de 16 de março de 2007, em seu art. 1o, a Secretaria da Receita Federal passa a ser chamada de Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB), órgão essencial ao funcionamento do Estado, de caráter permanente, estruturado de forma hierárquica e diretamente subordinado ao Ministro de Estado da Fazenda, cuja finalidade é a administração tributária e aduaneira da União (SANTOS, 2018, p. 18). Atenção 5 Santos (2018) destaca que a Receita Federal estabelece algumas diretrizes que permitem fomentar as boas condutas das empresas, que regularmente realizam operações de comércio exterior. Essas diretrizes estão declaradas no primeiro parágrafo do artigo 21 da Instrução Normativa n. 680/2006, da SRF. Segundo Brasil (2006) apud Santos (2018, p.60) está estabelecido: § 1o — A seleção de que trata este artigo será efetuada por intermédio do Siscomex, com base em análise fiscal que levará em consideração, entre outros, os seguintes elementos: I — regularidade fiscal do importador; II — habitualidade do importador; III — natureza, volume ou valor da importação; IV — valor dos impostos incidentes ou que incidiriam na importação; V — origem, procedência e destinação da mercadoria; VI — tratamento tributário; VII — características da mercadoria; VIII — capacidade operacional e econômico-financeira do importador; e IX — ocorrências verificadas em outras operações realizadas pelo importador. (BRASIL apud SANTOS, 2018, p. 60) Segundo Santos (2018, p. 60), “a análise dessas diretrizes permite concluir que quanto mais transparente e segura for a operação, menor rigor haverá na fiscalização”. De acordo com o que está definido no artigo 21, quanto aos procedimentos adotados em cada um dos canais de parametrização, após ser feito o registro, a Declaração de Importação será submetida à análise fiscal e selecionada para um dos seguintes canais de conferência aduaneira: a. canal verde, onde será feito o desembaraço automático da mercadoria pelo sistema, dispensado o exame documental e a sua verificação; 6 b. canal amarelo, neste será realizado o exame documental e na ausência de irregularidades é efetuado o desembaraço aduaneiro e dispensada a verificação da mercadoria; c. canal vermelho, onde o desembaraço da mercadoria somente acontecerá após a realização do exame documental e a verificação da mercadoria; e d. canal cinza, neste será feito o exame documental, a verificação da mercadoria e a aplicação de procedimento especial de controle aduaneiro, a fim de verificar elementos que indicam a existência de fraude, inclusive no que se refere ao preço declarado da mercadoria, de acordo com o estabelecido em norma específica (BRASIL apud SANTOS, 2018, grifo nosso). Figura 1 - Processos aduaneiros - tipos de canais de conferência aduaneira Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, temos uma pessoa que representa um trabalhador do porto. Ao fundo, temos a imagem do porto com contêineres.Nos processos aduaneiros, seja importação ou exportação de mercadorias, existe uma série de conferências que são feitas, fazendo com que cada mercadoria passe por um dos canais de parametrização. O processo de importação tem uma grande relevância para a economia de qualquer país, por isso a sua adequada administração é fundamental. A figura a seguir apresenta o fluxograma do passo a passo do despacho de uma importação. 7 Licenciamento (quando exigível) Importador/Órgãos anuentes Protuário/DepositárioTransportador/Operador Depositário Importador Sistema ATRFB/AFRFB Verde Análise fiscal (bloqueia/libera) Amarelo Vermelho Recepção de Documentos Cinza Controle informatizado da carga – Siscomex Disponibilidade de carga Registro DI Parametrização AFRFB Desembaraço aduaneiro Depositário em fronteira sem RFB Entrega da Mercadoria Supervisor Distribuição AFRFB Conferência Aduaneira Fluxograma 1 - Fluxograma dos passos de despacho do processo de importação Fonte: Receita Federal - Ministério da Fazenda apud Nogueira (2018, p.195, adaptado pelo autor). Segre (2018) continua a explicação sobre a SRF, informando que os principais sistemas de informação e controle utilizados por ela são: Radar, Siscomex e Alice. 8 Figura 2 - Uso de sistemas de informações por parte da SRF Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, temos um homem de costas, representando um profissional da área, em frente a um grande equipamento de Sistema de informações. O sistema Radar (Ambiente de Registro e Rastreamento da Atuação dos Intervenientes Aduaneiros) entrou em funcionamento em 21 de agosto de 2002 para todas as Unidades Aduaneiras da SRF. A Secretaria da Receita Federal determina os requisitos de acesso por meio de Instruções Normativas. Trata-se de uma ferramenta de consulta e análise de dados relativos ao comércio exterior, tendo como objetivo principal auxiliar no processo de seleção de mercados e produtos que se apresentam com maior potencial de crescimento para as exportações brasileiras (SEGRE, 2018). Para Segre (2018, p.38), “basicamente, é um sistema que permite ao governo habilitar ou não uma empresa a operar em comércio exterior, por meio da necessidade de habilitação do seu responsável legal”. O sistema tem como concepção geral disponibilizar, em tempo real, informações de natureza aduaneira, contábil e fiscal que gerem condições para a fiscalização poder identificar o comportamento e concluir sobre o perfil de risco dos diversos agentes relacionados ao comércio exterior, o que torna o sistema Radar uma ferramenta fundamental no combate às fraudes (SEGRE, 2018). 9 O segundo sistema de informação é o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), o qual foi criado pelo Decreto n. 660, publicado em 25 de setembro de 1992. Trata-se de um sistema informatizado que integra as atividades afins da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), da SRF e do Banco Central do Brasil (Bacen) no registro, acompanhamento e controle das diferentes etapas das operações de comércio internacional (SEGRE, 2018). Para saber mais a respeito do Siscomex, leia as páginas 11, 12 e 13 do subcapítulo 1.2 do livro: Manual Prático de Comércio Exterior, organizado por German Segre. Saiba mais Por fim, o terceiro sistema é o Alice, que faz análise das informações de Comércio Exterior via internet, também conhecido como Alice-Web. Foi desenvolvido pela Secex e pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, a fim de modernizar as formas de acesso e a sistemática de disseminação de dados estatísticos das exportações e importações brasileiras (SEGRE, 2018). Antaq Segundo Rojas (2014), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) foi instituída pela Lei n. 10.233, de 05 de junho de 2001, tendo como finalidade implementar, em sua esfera de atuação, as políticas formuladas pelo Ministério dos Transportes e pelo Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte (CONIT) segundo os princípios e as diretrizes estabelecidos na sua lei de criação. “Segundo essa lei, a ANTAQ deve regular, supervisionar e fiscalizar as atividades de prestação de serviços de transporte aquaviário e de exploração da infraestrutura portuária e aquaviária exercidas por terceiros” (ROJAS, 2014, p. 31). 10 “A Lei n. 10.233/2001 já sofreu inúmeras modificações em seu conteúdo; portanto, ao ser consultada, deve ser feita uma leitura bastante atenta para evitar equívocos em sua interpretação. O texto da Lei está disponível no portal do Governo Federal” (ROJAS, 2014, p.31) Atenção Já Alfredini e Arasaki (2014) corroboram com a explicação dizendo que a ANTAQ foi instituída no ano de 2001, pela mesma Lei, sendo uma agência reguladora vinculada administrativamente ao Ministério dos Transportes. Essa Agência foi criada com o objetivo de promover a implantação das políticas formuladas pelo MT, pela SEP e pelo CONIT, e também para regular e fiscalizar os setores portuário e aquaviário. “É particularmente atuante na regulação das concessões de instalações portuárias e elaboração de planos de outorgas dos portos marítimos” (ALFREDINI; ARASAKI, 2014, p. 837). 1. MT: Ministério dos Transportes. 2. SEP: Secretaria Especial dos Portos. Faz parte do grupo de agentes de formulação de políticas, planejamento e regulação do setor portuário marítimo. 3. CONIT: Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte. Também integra o grupo de agentes de formulação de políticas, planejamento e regulação do setor portuário marítimo. Rojas (2014) explica que a ANTAQ é uma entidade integrante da Administração Federal indireta, submetida ao regime autárquico especial, com personalidade jurídica de direito público, independência administrativa, autonomia financeira e funcional, vinculada ao Ministério dos Transportes e à Secretaria de Portos da Presidência da República, com sede e foro no Distrito Federal. 11 Segundo Rojas (2014), a ANTAQ tem por finalidade: I. Implementar, em sua esfera de atuação, as políticas formuladas pelo Ministério dos Transportes e pelo Conselho Nacional de Integração de Políticas de Transporte – CONIT, segundo os princípios e diretrizes estabelecidos na Lei n. 10.233/2001. II. Regular, supervisionar e fiscalizar as atividades de prestação de serviços de transporte aquaviário e de exploração da infraestrutura portuária e aquaviária, exercida por terceiros, com vistas a: a. garantir a movimentação de pessoas e bens, em cumprimento a padrões de eficiência, segurança, conforto, regularidade, pontualidade e modicidade nos fretes e tarifas; b. harmonizar os interesses dos usuários com os das empresas concessionárias, permissionárias, autorizadas e arrendatários, e de entidades delegadas, preservando o interesse público; c. arbitrar conflitos de interesse e impedir situações que configurem competição imperfeita ou infração contra a ordem econômica. (ROJAS, 2014, p. 120) Para Alfredini e Arasaki (2014, p. 837), “a ANTAQ é composta por uma Diretoria Colegiada a qual conta com diversos órgãos ligados a ela e as Superintendências que são responsáveis pelas atribuições técnicas da Agência”. Já “as Superintendências são: de Portos, de Navegação Marítima e de Apoio, de Navegação Interior e de Administração e Finanças”. Para Novaes (2021, p. 269), “no Brasil, a ANTAQ, com sede em Brasília, coordena, regulamenta e controla as operações aquaviárias, incluindo os portos nacionais”. Figura 3 - Atuação da ANTAQ Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, temos a vista de cima de um porto com centenas de contêineres de diversas cores. 12 Pela imagem, demonstra-se onde a Agência Nacional de Transportes Aquaviários tem uma forte atuação. Entre os grupos que compõem os agentes do setor portuário marítimo no Brasil, a ANTAQ é do Grupo A – Agentes de formulação de políticas, planejamento e regulação do setor portuário marítimo (ALFREDINI; ARASAKI, 2014). De acordo com ANTAQ (2020): A Agência dedica-sea tornar mais econômica e segura a movimentação de pessoas e bens pelas vias aquaviárias brasileiras, em cumprimento a padrões de eficiência, segurança, conforto, regularidade, pontualidade e modicidade nos fretes e tarifas. Arbitra conflitos de interesses para impedir situações que configurem competição imperfeita ou infração contra a ordem econômica, e harmoniza os interesses dos usuários com os das empresas e entidades do setor, sempre preservando o interesse público. (ANTAQ, 2020) Segundo Segre (2018), o atual marco regulatório do setor portuário (que envolve a Lei n. 12.815/2013 e o Decreto n. 8.033/2013) estabelece que é de responsabilidade da Agência Nacional de Transportes Aquaviários analisar os requerimentos dos interessados em obter a autorização para instalação portuária fora da área do porto organizado, apresentados a qualquer tempo. As responsabilidades sobre as atividades portuárias estão a cargo do Ministério dos Transportes (MT), da ANTAQ e da SEP. São responsáveis pelo planejamento e pela gestão dos equipamentos de infraestrutura o MT (responsável pela formulação de políticas para o seu âmbito de atuação como um todo), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários e a Secretaria Especial dos Portos (SEP) (ROJAS, 2014, p. 31). A SEP é responsável pela formulação de políticas (que determinam as formas de conduzir e gerir os portos brasileiros por meio da ANTAQ) e pela execução de medidas, programas e projetos de apoio que visam o desenvolvimento da infraestrutura dos portos marítimos (ROJAS, 2014). A ANTAQ (2020, p.1) cita as áreas que constituem a esfera de atuação da agência: • a navegação fluvial, lacustre e de travessia; • a navegação de apoio marítimo, de apoio portuário, de cabotagem e de longo curso; 13 • os portos organizados e as instalações portuárias neles localizadas; • os terminais de uso privado; • as estações de transbordo de carga; • as instalações portuárias públicas de pequeno porte; e • as instalações portuárias de turismo. (ANTAQ, 2020) Vigilância Sanitária Para que o processo de comércio exterior, ou seja, a exportação e a importação de mercadorias, ocorra de acordo com os padrões nacionais e internacionais, são necessárias regras e normas que regulamente esses processos, por isso existem vários órgãos responsáveis por gerir e acompanhá-los. Dentre eles, destaca-se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (NOGUEIRA, 2018). A ANVISA é um órgão regulador e operacional do comércio exterior no Brasil, o qual está diretamente subordinado ao Ministério da Saúde, conforme ilustrado pelo organograma a seguir. Ministério do Desenvolvimento Ind. e Com. Ext. Presidência da república Ministério da Fazenda Departamento de Polícia Federal Secretaria do Comércio Exterior Departamento de Operações do Comércio Exterior Secretaria da Receita federal do Brasil ANVISABanco Central do Brasil VIGIAGRO Ministério da Justiça Ministério da Agric. Pecuária e Abastecimento Ministério da Saúde Organograma 1- Organograma mostrando a relação da ANVISA ao Ministério da Saúde Fonte: Alfredini e Arasaki (2014, p. 836) Este organograma demonstra alguns ministérios do governo federal e os departamentos e/ou secretarias subordinados aos mesmos, com destaque para o Ministério da Saúde, tendo a ANVISA diretamente relacionada a ele. 14 A ANVISA foi criada pela Lei n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999, sendo uma autarquia sob regime especial, a qual tem sede e foro no Distrito Federal, estando presente em todo o território nacional por meio das coordenações de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados (NOGUEIRA, 2018). Para conhecer mais a respeito da atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), acesse o link: https://www.gov.br/ anvisa/pt-br. Saiba mais Ainda, Nogueira (2018) cita que a ANVISA: Tem por finalidade institucional promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e consumo de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos, fronteiras e recintos alfandegados. (NOGUEIRA, 2018, p. 209) Para Santos (2018, p.147), a ANVISA “é o órgão responsável pelo controle sanitário de produtos e serviços, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados”. A atividade de vigilância sanitária nos portos é exercida pelos inspetores de Vigilância Sanitária, que verificam as condições operacionais e higiênicos sanitárias a bordo dos navios e do estado sanitário de seus tripulantes e passageiros (ROJAS, 2014). Planos Necessários para as Operações Portuárias A realização das atividades portuárias requer um planejamento prévio, bem estruturado, para que a sua execução aconteça da melhor maneira possível, em termos de segurança para os profissionais que a realizam, eficiência, tempo gasto e custos envolvidos. Nesse sentido, é fundamental que sejam elaborados os planos necessários para a realização dessas operações portuárias, principalmente os planos de estiva e de carga e descarga. https://www.gov.br/anvisa/pt-br https://www.gov.br/anvisa/pt-br 15 Plano de Estiva Quando se fala em atividade de estiva a mesma refere-se à movimentação de mercadorias nos conveses ou nos porões das embarcações. Há vários trabalhos que são executados pela estiva: carregamento ou descarregamento da mercadoria do navio quando a execução do processo ocorre por equipamentos de bordo; arrumação da carga; rechego (atividade que envolve ajuntar, espalhar ou distribuir a carga a granel); peação (fixação da carga nos porões dos navios) e despeação (liberação da carga nos porões dos navios) (ROJAS, 2014). De acordo com Segre (2018, p.121), estiva é a “atividade de movimentação de mercadorias nos conveses ou nos porões das embarcações principais ou auxiliares, incluindo o transbordo, arrumação, peação e despeação, bem como o carregamento e a descarga, quando realizados com equipamentos de bordo”. Fica evidenciado nas duas definições anteriores que Rojas (2014) e Segre (2018) estão alinhados no entendimento do que se caracteriza a atividade de estiva. Para Junqueira (2019, p. 27), “a elaboração do plano de estiva está relacionada com a estrutura celular que o navio-contêiner possui”, a qual pode ser visualizada na figura a seguir. 01 ← 20 pés0305 04 ← 40 pés0812 Baia Baia nº 07091113 16 151719 Figura 4 - Estrutura do local de armazenamento de um navio-contêiner Fonte: Junqueira (2019, p.28) adaptado de Bierwirth e Meisel (2010). #PraCegoVer: A imagem representa a estrutura de um local de armazenamento de um navio-contêiner, indicando as baias e onde ficam os contêineres. Na imagem, é possível observar que o espaço da carga em um navio-contêiner é composto de células de 20 pés de comprimento. Cada coluna representa uma composição de duas pilhas de unidades equivalentes de vinte pés (TEU - Twenty foot Equivalent Unit), e por isso, os contêineres de 40 TEU ocupam duas colunas de 20 pés. As colunas de 20 pés são identificadas por números ímpares e a identificação das colunas de 40 pés corresponde a média da numeração das colunas de 20 pés relacionadas (JUNQUEIRA, 2019). 16 Monaco, Sammarra e Sorrentino (2014) apud Junqueira (2019) descrevem duas fases de planejamento do plano de estiva. A primeira fase é onde os contêineres são classificados com base em seus atributos, ou seja, os contêineres que pertencem à mesma classe são armazenados em posições próximas, respeitando restrições que visam garantir o equilíbrio estático e dinâmico do navio. Nesta etapa, considera-se que a companhia marítima busca maximizar a utilização do navio e minimizar o número de remanejamentos a bordo. Como resultado (output) dessa primeira fase tem-se um pré- plano de estiva, o qual indica o contêiner exato a ser armazenado em cada posição do navio. Na segunda fase, o pré-planode estiva é transformado em um plano operacional, onde é definida uma lista de trabalho detalhada para cada guindaste do cais operar no navio, nesta fase as restrições básicas estão relacionadas à estabilidade do navio. Diante de um pré-plano de estiva detalhado, as possibilidades do operador do terminal portuário reduzir os custos operacionais são pequenas, cabe a ele apenas aceitá-lo. Plano de Carga e Descarga As operações de carga e descarga dos navios representam uma das atividades mais importantes em um terminal de contêineres, pois para a realização delas, são empregados os insumos mais caros da operação. Por essa razão, todos os outros processos são dimensionados para acompanhá-los. A importância das atividades de carga e descarga decorre essencialmente do custo do equipamento e das instalações de movimentação entre o navio e o cais a elas vinculadas (BOGOSSIAN, 2011). Figura 5 - Planos de carga e descarga dos navios Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Temos a imagem de um porto com navio atracado, e alguns contêineres à frente. 17 A imagem demonstra um navio atracado no porto, podendo realizar as atividades de carga e descarga de mercadorias, dependendo dos planos existentes. De acordo com Fermino, Bondezan e Mantovanini (2012, grifo nosso), o plano de carga dos navios é elaborado para facilitar as operações de carregamento e descarregamento deles, visando a redução do tempo necessário para a realização das operações de carga e descarga, diminuindo, ao máximo, o número de remanejamentos das cargas nos portos posteriores. O alcance deste objetivo é fundamental quando se trata, por exemplo, de Navios Porta Contêineres, para que se consiga reduzir os custos com as operações de carga e descarga, nas ações de retirada ou adição de novos contêineres. Outro motivo também importante para a elaboração do plano de carga é garantir a estabilidade do navio ao longo da viagem, pois como os contêineres são carregados com diversos tipos de mercadorias que tem fator de estiva divergentes, para garantir que viagem será feita de maneira segura é necessário ter o equilíbrio entre o peso das cargas distribuídas ao longo do navio. Segundo Castiglioni e Pigozzo (2014, p. 107), o “fator de estiva é o espaço ocupado por uma tonelada de uma determinada mercadoria, expresso em m³ por tonelada. Uma carga volumosa e de baixo peso tem fator de estiva elevado, pois cada tonelada ocupará muito espaço, ao contrário, uma carga de peso concentrado tem fator de estiva baixo”. Para entender melhor o fator de estiva, leia das páginas 105 até a 110 do livro: Transporte e Distribuição, escrito por José Castiglioni e Linomar Pigozzo. Saiba mais Bogossian (2011) apud Fermino, Bondezan e Mantovanini (2012) afirma que: O Plano de Carga consiste na representação gráfica da distribuição dos contêineres nas bays do navio. Normalmente este plano segue o sistema bays-row-tier para determinar as coordenadas em que cada contêiner deverá ser alocado, estas coordenadas indicam o bloco na direção transversal do navio (bays) iniciando-se o sequenciamento numérico a partir da proa, sendo as células para contêineres de 20 pés números ímpares e para contêineres de 40 pés números pares, as fileiras longitudinais (row) são numeradas a partir do centro, sendo que a bombordo se localizam os números pares e a boreste os números ímpares, as camadas verticais 18 (tier) são numeradas de baixo para cima somente com números pares, no convés geralmente está numeração se inicia no número 80. (BOGOSSIAN apud FERMINO, BONDEZAN e MANTOVANINI (2012, p. 4) Para se elaborar o plano de carga, é fundamental que as informações referentes à sequência de desembarque dos contêineres sejam recebidas antecipadamente, assim pode-se fazer um melhor planejamento da alocação dos contêineres que serão embarcados no navio. Considerando a sequência dos carregamentos e descarregamentos que serão feitos posteriormente, pode-se evitar que seja necessário fazer algum remanejamento de contêineres já alocados nos navios, com isso se otimiza o tempo trabalhado nas operações de embarque e desembarque posteriores, oportunizando uma redução do número de remanejamentos efetuados em cada porto. Essa redução do tempo gasto nas operações de carregamento e descarregamento de contêineres impacta na redução dos custos do fluxo logístico do comércio exterior, pois os custos com navios ociosos são muito altos, então utilizá-los constantemente é a melhor alternativa (FERMINO; BONDEZAN; MONTOVANINI, 2012). Figura 6 - Elaboração de planos de carga e descarga Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: Na imagem, temos três setas para cima escrita a giz nas cores azul (qualidade), amarela (rapidez) e verde (resultados); e uma seta vermelha para baixo na cor vermelha (custos). Há também uma mão segurando um giz, indicando que foi uma pessoa que escreveu as setas. 19 A imagem ilustra que melhores resultados são conquistados a partir da elaboração de planos de carga e descarga adequados. Fermino, Bondezan e Mantovanini (2012) continuam a explicação dizendo que ao elaborar o plano de carga é importante verificar a necessidade de segregação (separação) dos contêineres em seus diferentes tipos de cargas, pois como cada um deles carrega mercadorias com características específicas, pode existir risco de acidentes, se for alguma carga perigosa, como produtos químicos reagentes. O plano de cargas é elaborado e decidido pelo técnico responsável da Companhia de Navegação e tem como objetivo facilitar a localização e a programação das operações, preservando também a segurança da embarcação, a estabilidade e o trim do navio. É importante levar em consideração também as características operacionais dos portos onde os navios farão escala e os equipamentos que estão disponíveis em cada local, bem como os clientes preferenciais em caso de excesso de demanda (BOGOSSIAN, 2011). De acordo com Portonave (2017): O planejamento dos contêineres que serão movimentados no navio é feito em um acordo entre três partes: o armador, representado pelo central planner; o navio, representado pelo imediato; e o Terminal, representado pelo planner. Na operação são avaliados três fatores: produtividade, segurança e eficiência. Todas as ações são pensadas e tomadas com base nestes três pilares. São levadas em conta as características do contêiner: tamanho (20 ou 40 pés), tipo (dry, HC, open top, reefer, tanque, flat rack), tipo de carga armazenada (refrigerada ou congelada, carga perigosa, carga com excesso), além do destino do contêiner que também interfere no plano. (PORTONAVE, 2017, p. 7, grifo nosso). Quanto à posição da carga no navio, cabe ao central planner decidir o tipo de contêiner que irá em cada posição, pois é ele quem tem conhecimento de toda a rota do navio e sabe em que sequência os contêineres serão descarregados. Já o planner do Terminal é o responsável por definir qual unidade será embarcada, pois sabe onde cada unidade está localizada no Terminal e qual é a melhor sequência de trabalho. Tem algumas restrições a serem consideradas com relação aos contêineres: a) máximo de toneladas por pilha; b) segregação de cargas perigosas e c) embarque de reefers onde há energia para conectá-los (PORTONAVE, 2017). 20 A operação de descarga é mais simples, consistindo em retirar os contêineres destinados ao porto em local previamente selecionado. Para as operações de programação e carregamento no navio, é preciso estudar cada situação com antecedência, antes da chegada do navio no porto. Após feita essa análise, seleciona-se a sequência na fila para cada bay a ser operada por cada contêiner, assim com as estratégias de áreas reservadas e de fluxo de movimentação das carretas a serem adotadas (BOGOSSIAN, 2011). Ainda, Bogossian (2011, p.61) descreve que “o aspecto fundamental consiste em definir uma área o mais próximo possível do navio e especificar uma ordem de empilhamento que proporcione umfluxo sequencial organizado de contêineres para embarque”. A grande dificuldade está em compor as filas de contêineres de acordo com a configuração observada no bay plan do navio, com o porto de destino, o tipo de mercadoria envolvida, a sequência de escalas dos navios e uma série de outras exigências. Tudo envolve procedimentos necessários para fazer a seleção da sequência das bays a serem operadas por cada portêiner envolvido no processo. Dessa forma, isso preserva e mantém a regularidade no fluxo operacional e a cadência de produtividade durante o período de realização da operação (BOGOSSIAN, 2011). 21 Conclusão Para finalizar o estudo de Agenciamento Portuário, este conteúdo destinou-se a explorar os conteúdos relacionados aos órgãos fiscalizadores da atividade portuária e aos planos necessários para a realização dessas atividades. Durante a primeira parte do conteúdo, destacamos os principais órgãos fiscalizadores das atividades portuárias: Receita Federal, ANTAQ e Vigilância Sanitária. Para os três órgãos foram apresentadas as suas principais atribuições, responsabilidades e forma de atuação visando a gestão do comércio exterior, com atribuições relacionadas às áreas fiscal, cambial e administrativa. Na segunda parte, o foco foi estudar sobre os planos necessários para a realização das operações portuárias, dando ênfase para os planos de estiva e de carga e descarga. No plano de estiva, descrevemos sobre o processo de realização das atividades de movimentação de mercadorias nos conveses ou nos porões das embarcações principais ou auxiliares por parte dos estivadores. Com relação aos planos de carga e descarga foram destacadas as atividades que são realizadas em um terminal de contêineres e que precisam ser bem planejadas para conseguir a máxima eficiência e uma boa administração dos altos custos envolvidos. Finalizando, ficou claro que todo processo de comércio exterior, seja para importação ou exportação de mercadorias, é regulamentado e gerenciado por diversos órgãos competentes e todo planejamento que o envolve deve ser feito de acordo com as regulamentações vigentes. 22 Referências ALFREDINI, P.; ARASAKI, E. Engenharia portuária: a técnica aliada ao enfoque logístico. São Paulo: Blucher, 2014. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/ books/9788521208129. Acesso em: 02 jul. 2021. BOGOSSIAN, M. P. Entraves operacionais portuários: plataforma de análise comparativa. Brasília (Distrito Federal). 2011. Tese de doutorado. Disponível em: https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/9315/1/2011_MarcosPauloBogossian. pdf. Acesso em: 16 jul. 2021. CASTIGLIONI, J. A. M. PIGOZZO, L. Transporte e distribuição. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536513331. Acesso em: 09.jul.2021. DAVID, P. A. Logística internacional. 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