Prévia do material em texto
Princípios e Diretrizes do SUS: os fundamentos do sistema de saúde brasileiro Mergulhar no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro é desvendar as fundações de uma política nacional de saúde que almeja garantir cuidado universal, equitativo e integral a todos os cidadãos. Conhecendo seus princípios e diretrizes, é possível compreender não apenas a base conceitual que sustenta esse sistema exemplar em âmbito global, mas também a robusta estrutura operacional que busca sua efetivação diária. O que você vai ler neste artigo · Fundamentos do SUS: princípios doutrinários e organizativos · Distinções legais: Constituição Federal e Lei Orgânica da Saúde · Os Princípios e Diretrizes do SUS nas provas de residências médica · Conclusão Fundamentos do SUS: princípios doutrinários e organizativos A saúde é um direito fundamental de todos e um sistema robusto de saúde pública é imperativo para qualquer nação que deseja promover o bem-estar de seus cidadãos. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) é a expressão máxima dessa premissa. Nesse contexto, abordaremos os fundamentos que estruturam o SUS – os princípios doutrinários e organizativos – e que são a base do sistema. Princípios doutrinários do SUS Os princípios doutrinários são os pilares ideológicos que orientam a existência e o funcionamento do SUS. Eles refletem valores essenciais para entender como o sistema de saúde opera. · Universalidade: Este princípio garante que todos os cidadãos tenham acesso aos serviços de saúde, sem discriminação ou pré-requisitos. A ideia é promover a saúde como um direito inalienável, assegurando que a assistência seja prestada a quem precisa, quando precisa. · Equidade: Indo além da igualdade formal, a equidade busca justiça social ao reconhecer que diferentes pessoas têm diferentes necessidades. Ela implica em um esforço contínuo para equalizar o acesso e a qualidade da saúde, considerando as desigualdades sociais e regionais. · Integralidade: Este princípio foca na atenção completa à saúde, abrangendo promoção, prevenção, tratamento e reabilitação, em todos os níveis de complexidade. A integralidade demanda um olhar holístico sobre o indivíduo, atentando para suas múltiplas necessidades de saúde ao longo da vida. Desdobramentos práticos dos princípios do SUS Os princípios de universalidade, equidade e integralidade se materializam no cotidiano do SUS de inúmeras formas: · Políticas específicas: Criação de programas direcionados, como o programa de vacinação, que alcança toda a população de forma gratuita, demonstrando o compromisso com a universalidade. · Acessibilidade: Unidades Básicas de Saúde (UBS) distribuídas estrategicamente visam facilitar o acesso da população aos serviços, considerando a equidade na forma de uma rede capilarizada. · Ações intersetoriais: Programas que envolvem diferentes setores, como educação e assistência social, complementam os serviços de saúde, reforçando a integralidade do cuidado. · Capacitação dos profissionais: Formação continuada em temas como diversidade cultural e social, contribuindo para que a equidade seja respeitada nas práticas de saúde. Princípios organizativos do SUS Os princípios organizativos são os alicerces operacionais que estruturam a configuração e gestão do SUS. Eles são responsáveis pela forma como os serviços são articulados e como as ações são implementadas no território nacional. · Descentralização: Este princípio preconiza a redistribuição de responsabilidades entre União, estados e municípios, com maior autonomia dos entes locais. A descentralização visa a aproximar os serviços de saúde das comunidades, potencializando a eficiência e a adequação às necessidades específicas de cada região. A descentralização se configura em diversos níveis e possui múltiplas facetas: 1. Político-administrativa: Estabelece autonomia para os entes federativos, permitindo uma gestão mais próxima das realidades locais. 2. Gestão financeira: Inclui a responsabilidade na alocação e na gestão dos recursos financeiros destinados à saúde. 3. Capacidade técnica: Implica no desenvolvimento das competências dos gestores locais, promovendo a gestão de recursos humanos e materiais de forma efetiva. · Regionalização e Hierarquização: O SUS se organiza em uma rede que contempla diferentes níveis de complexidade, do atendimento primário ao terciário. A organização dessa rede segue lógicas regionais, com definição clara das responsabilidades de cada ponto de atenção e mecanismos para a referência e contrarreferência entre eles. Tais princípios permitem um melhor planejamento e integração dos serviços, levando em conta: 1. Escalonamento: A hierarquização dos serviços em diferentes níveis de complexidade: básica, mediada e altamente especializada. 2. Fluxos de encaminhamento: Definição de fluxos claros de referência e contrarreferência entre os serviços, permitindo maior resolutividade. 3. Cobertura territorial: Consideração das características geográficas e demográficas das regiões para determinar onde e como os serviços serão ofertados. · Participação Social: A gestão democrática do SUS é uma de suas marcas, favorecendo a inclusão de usuários, trabalhadores e a sociedade civil na formulação, monitoramento e avaliação das políticas de saúde. Essa abordagem enfatiza a corresponsabilidade e o exercício da cidadania nas decisões que afetam a saúde coletiva. Ao entender esses princípios, torna-se evidente que o SUS se edifica sobre uma concepção participativa e inclusiva da saúde, permeando todos os escalões da sociedade e camadas de governo. Mais do que preceitos isolados, os princípios doutrinários e organizativos do SUS estão interligados, colaborando entre si para que a saúde alcance o status de um direito de todos e dever do Estado. Distinções legais: Constituição Federal e Lei Orgânica da Saúde Dois importantes marcos jurídicos definiram os pilares do SUS: a Constituição Federal de 1988 e, a seguir, a Lei Orgânica da Saúde, Lei nº 8.080/90. Ambos moldam o contorno jurídico e os contornos práticos sob os quais o Sistema Único de Saúde (SUS) opera, mas cada um carrega seu próprio peso e peculiaridade no contexto da saúde pública do país. Constituição Federal de 1988: A salvaguarda da saúde como direito A Constituição Federal de 1988, notoriamente apelidada de “Constituição Cidadã”, solidificou as bases para uma sociedade democrática e justa em diversos aspectos, incluindo a saúde. Dois artigos cruciais merecem destaque nesse contexto: Artigo 196 – Saúde como direito de todos e dever do estado O artigo 196 é a pedra angular desse direito, postulando que “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. Este posicionamento sublinha o compromisso soberano de fornecer acesso à saúde de forma inequívoca a cada cidadão brasileiro, sem distinção. Artigo 198 – Diretrizes para as ações e serviços de saúde Já no artigo 198, delineiam-se as estratégias para transformar esse direito em prática. Nele, a descentralização surge como a espinha dorsal para a operacionalização dos serviços, complementada pela integralidade da atenção e pela participação da comunidade. Este conjunto estabelece o trio de diretrizes que arquitetam os alicerces do SUS. Lei nº 8.080 de 1990: Lei Orgânica da Saúde Seguindo as bases criadas pela Constituição, a Lei nº 8.080/90, que compõe a Lei Orgânica da Saúde, detalha e expande as diretrizes e princípios para a execução dos serviços de saúde. A lei entra em cena para operacionalizar o SUS, desenhando os contornos mais práticos e técnicos para que o sistema ganhe vida. Artigo 7 – Princípios e Diretrizes do SUS O artigo 7 traz uma lista detalhada dos princípios e diretrizes, como a universalidade e a equidade no acesso aos serviços de saúde, a integralidade da assistência e a descentralização administrativa. Em adição, busca-se a integração das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico, evidenciando a visão multidisciplinar necessária para a promoção da saúde. A Participação Popular no SUS A Constituição Federal de 1988 e, a seguir, as Leis nº 8.080/90 e nº 8.142/90, regulamentamdois mecanismos principais de participação da comunidade no SUS:os Conselhos de Saúde e as Conferências de Saúde. Ambos os órgãos são espaços democráticos, de composição plural e paritária entre usuários, trabalhadores da saúde, representantes do governo e prestadores de serviço, vitais para o exercício da fiscalização e da deliberação sobre a política de saúde. A atuação dos Conselhos de Saúde Os Conselhos de Saúde têm papel permanente como espaços de cogestão do SUS. Operam em âmbito federal, estadual, e municipal, com a responsabilidade de: · Monitorar e avaliar a situação de saúde. · Estabelecer diretrizes para o planejamento no âmbito do SUS. · Fiscalizar as ações e os gastos governamentais. · Aprovar planos de saúde e acompanhar sua execução. Por meio dos Conselhos, a comunidade pode influenciar e decidir sobre aspectos estruturais e estratégicos do SUS, o que implica em um compromisso constante e uma responsabilidade compartilhada entre sociedade e Estado. O papel das Conferências de Saúde As Conferências de Saúde são realizadas a cada quatro anos, com a finalidade de avaliar a situação da saúde e propor diretrizes para a formulação da política de saúde nos seus respectivos níveis. · Uma característica das Conferências, que confere especial relevo à sua realização, é a ampla mobilização social. Elas constituem momentos intensos de debate público, avaliação de políticas e recomendação de ações para o futuro. Os Princípios e Diretrizes do SUS nas provas de residências médica Conhecer os princípios e diretrizes do SUS é essencial a todo cidadão brasileiro e, naturalmente, usuário do sistema público da saúde. Além disso, trata-se de um dos assuntos mais cobrados pelas provas de residência médica, Revalida e concursos públicos, que com frequência incluem questões que abordam de maneira direta tais conceitos. Observe, por exemplo, a questão da prova de residência da USP-SP de 2023: 2023: Para entender melhor o gabarito, letra C, observe o comentário presente no banco de questões do Estratégia MED: Como outro exemplo, observe a questão da USP-SP de 2018: Questão básica sobre controle social e participação social no SUS! Relembre as diferenças entre Conselhos e Conferência de Saúde, abordados neste texto, com a tabela do Extensivo do Estratégia MED: Portanto, gabarito: letra C A preparação para as provas de residência médica demandam não apenas o conhecimento teórico dos temas cobrados por elas, mas o uso de recursos que permitam a melhor absorção dos temas e, além disso, o conhecimento do modo como os temas são abordados nas provas. Conclusão Os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) constituem o alicerce sobre o qual repousam todas as operações e estratégias de saúde pública no Brasil. Compreendê-los é crucial para qualquer profissional da área ou estudante que aspire integrar o sistema de saúde do país de forma efetiva e responsável. O SUS, tal como concebido, propõe não apenas um conjunto de serviços de saúde, mas um sistema que reflete e molda o próprio entendimento de saúde, doença e cuidado na sociedade brasileira. A análise desses princípios e diretrizes revela um sistema fundamentado nas ideias de universalidade, equidade e integralidade, assegurando que cada indivíduo, independente de sua condição social ou financeira, tenha acesso ao atendimento de saúde necessário e adequado. A distinção entre “princípio” e “diretriz” é essencial, pois enquanto os primeiros são valores norteadores, os segundos traçam o caminho para alcançar os objetivos propostos. Essa estrutura se apoia em documentos chave, como a Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Saúde. Em uma perspectiva prática, os princípios do SUS traduzem-se em políticas de saúde que entendem o paciente como um ser integral e apostam em sua autonomia e informação. A equidade se faz presente não só como um princípio, mas como um compromisso de prover mais para quem mais necessita, em face das desigualdades inerentes à sociedade. Questões de gestão, como a descentralização e a regionalização, são estratégicas para que o sistema de saúde possa operar de maneira eficiente e adequada às diferentes realidades locais. De igual importância é a participação comunitária, que garante o controle social sobre as políticas e ações de saúde, assegurando que as necessidades reais da população sejam atendidas. Resumo da Legislação do SUS Bases do SUS O sistema de saúde é denominado único porque deve reger a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, sob a responsabilidade das 3 esferas de governo: federal, estadual e municipal. Este sistema se propõem a garantir assistência integral e gratuita para a totalidade da população. Os princípios do SUS podem ser divididos em: Quais os princípios Doutrinários do SUS? · universalidade: saúde para todos, direito de cidadania. · integralidade: o ser humano deve ser visto sob uma ótica holística,como um todo · equidade: é diminuir as desigualdades. Quais os princípios Organizativos do SUS? · resolutividade: o serviço de saúde deve estar capacitado para enfrentar o problema e resolver até o nível de sua complexidade. · descentralização: redistribuição das responsabilidades às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo. · regionalização e hierarquização: níveis de atenção segundo cada necessidade (nível primário, secundário e terciário). · controle social: garantia constitucional de que a população através de suas entidades representativas, poderá participar do processo de formulação das políticas de saúde e do controle de sua execução. · complementariedade do setor privado: poderá haver a contratação de serviços privados, desde que estes estejam de acordo com os princípios do SUS. Legislação do SUS : Sistema Único de Saúde Resumidamente, temos os seguintes documentos de embasamento legal: Constituição Federal de 1988: importante citar o Art.195 e Art.196: “A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”. “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.” Lei 8080/90: regulamenta o SUS e as ações e serviços de saúde com base na recuperação, promoção e prevenção da saúde, possuindo um conceito ampliado do mesmo. Enfatiza sobre a descentralização político-administrativa na forma de municipalização dos serviços e ações de saúde. O dever do Estado de garantir a saúde não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da sociedade. Lei 8142/90: dispõe sobre a participação da comunidade (mediante conferências e conselhos) e o recebimento de recursos financeiros. NOB e NOAS: Norma Operacional Básica e Norma Operacional de Atenção à Saúde – caracterizam um conjunto de normas e várias portarias que regulamentam como os municípios podem se habilitar e gerir a saúde de seu território. Principais Competências de cada esfera na Lei Orgânica da Saúde Segundo os Art. 16, 17 e 18 da Lei Orgânica da Saúde 8080, temos resumidamente as seguintes atribuições por esfera: · Municipal: planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde; participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada e hierarquizada do SUS, em articulação com sua direção estadual; executar serviços diversos de vigilância em saúde; formar consórcios administrativos intermunicipais; gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros, controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde, entre outros. · Estadual: promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde; acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do SUS; prestarapoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde; coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços; em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar e avaliar a política de insumos e equipamentos para a saúde; identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos de alta complexidade, de referência estadual e regional; · Federal: participar na formulação e na implementação de diversas políticas; definir e coordenar os sistemasde redes integradas de assistência de alta complexidade; rede de laboratórios de saúde pública; de vigilância epidemiológica e sanitária; promover articulação com os órgãos educacionais e de fiscalização do exercício profissional, bem como com entidades representativas de formação de recursos humanos na área de saúde; restar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional entre outras providências. Outros conceitos importantes SUS · Plano Municipal de Saúde: base das atividades de cada nível de gestão do SUS; é um documento de intenções, de prioridades e metas para a saúde. O Conselho Municipal de Saúde deve apreciá-lo e propor alterações que julgar necessárias. · Sistema de referência e contra referência: se um serviço não apresentar soluções para um determinado problema de saúde, deverá remeter a uma outra unidade (referenciada) com capacidade de resolução do problema e o retorno à unidade de origem (contra referência) · Tratamento Fora do Domicílio (TFD): encaminhamento de pacientes fora de seu local de domicílio, podendo ser intra ou interestadual, normalmente pedidos de alta complexidade ambulatorial e hospitalar. · Conferência de Saúde: de acordo com a Lei 8142, tem caráter consultivo com reunião a cada 4 anos e representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde; · Conselhos de saúde: caráter deliberativo e permanente devendo ser composto por 50% de usuários, 25% profissionais e 25% representantes da gestão. As Conferências e os Conselhos de Saúde terão sua organização e normas de funcionamento definidas em regimento próprio, aprovadas pelo respectivo conselho. · Conass: Conselho Nacional de Secretários da Saúde e Conasems – Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde. image1.png image2.png image3.png image4.png