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DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 1 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR SUMÁRIO 1. PRINCÍPIOS ................................................................................................................. 02 2. POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR ..................................................................................... 05 3. INQUÉRITO POLICIAL MILITAR .................................................................................. 09 4. AÇÃO PENAL .............................................................................................................. 19 5. DA DENÚNCIA ............................................................................................................. 25 6. SUJEITOS NO PROCESSO ............................................................................................ 33 7. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA .................................................................................... 51 8. DA CITAÇÃO ................................................................................................................ 95 9. PROVAS ....................................................................................................................... 99 10. PRISÃO ................................................................................................................... 123 11. DOS RECURSOS (ARTS. 510 A 515 DO CPPM) ........................................................ 135 12. PROCEDIMENTOS ................................................................................................... 153 13. INSUBMISSÃO ........................................................................................................ 169 14. DESERÇÃO ............................................................................................................... 174 DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 2 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR PRINCÍPIOS 1. PRINCÍPIOS APLICADOS NO PROCESSO PENAL MILITAR a) Do devido processo legal: (CF, art. 5º, LIV) não há privação de liberdade ou perda de bens sem o devido processo legal. Devem respeitar todas as formalidades previstas na legislação para que o Estado possa aplicar a lei no caso concreto com a possibilidade de cerceamento da liberdade (sentido amplo) e para que sejam garantidos os seus direitos perante o Estado acusador e punitivo. É o princípio fundamental do ordenamento jurídico processual. Todos os outros derivam dele. b) Do juiz natural: (CF, art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; e XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção). c) Do estado de inocência: que é diferente de presunção de inocência (CF, art. 5º, LVII). Admite medidas cautelares privativas da liberdade de natureza cautelar. Enquanto não houver condenação definitiva, presume-se o réu inocente: sua prisão antes do trânsito em julgado só pode ser admitida a título de cautela. d) Do contraditório e da ampla defesa: (CF, art. 5º, LV). Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. Supõe conhecimento dos atos processuais pelo acusado e seu direito de resposta e de reação. Não se confunde com o devido processo legal, integra-o. Está previsto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José de Costa Rica). Consuetudinário lógico do sistema acusatório, em que as partes devem possuir plena igualdade. O acusado deve ter ciência da acusação para poder responder, dar a sua versão dos fatos. Decorrência audiatur et altera pars – a parte contrária deve também ser ouvida. e) Da verdade real: investigação dos fatos como se passaram na realidade (verdade material), possibilitando ao juiz determinar diligências de ofício, para melhor esclarecimento dos fatos investigados. O processo faz o “caminho do crime”, (re)constrói os fatos como se deram. Faz a história de como o crime ocorreu (realidade) para a correta aplicação da lei. f) Da publicidade: (CF, art. 5º, LX; art. 93, IX) pode ser geral – popular, ou especial – para as partes do processo. Art. 5º, LX - lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; e art. 93, IX - todos os DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 3 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e aos seus advogados, ou somente a estes. A publicidade dos atos processuais integra o devido processo legal. No Direito pátrio vigora o princípio da publicidade absoluta, como regra. As audiências, as sessões e a realização de outros atos processuais são franqueadas ao público em geral, ressalvados os casos específicos em lei. g) Da obrigatoriedade: presentes as condições da ação penal militar, o MPM é obrigado a oferecer denúncia. h) Da oficialidade: (CF, art. 129, I) o MPM é o exclusivo titular da ação penal militar, que é sempre pública, ressalvada a possibilidade da ação privada subsidiária da pública. i) Da iniciativa das partes e do impulso oficial: o juiz não pode dar início ao processo sem a provocação da parte legítima. Cabe à parte provocar a prestação jurisdicional. Há algumas situações em que este princípio é mitigado; a concessão de habeas corpus de ofício, decretação de ofício da prisão preventiva e produção de provas (verdade real). j) Da inadmissibilidade das provas ilícitas: (CF, art. 5º LVI) são ilícitas as provas obtidas mediante a prática de algum ilícito, seja penal, civil ou administrativo, da parte daquele encarregado de produzi-las. 2. LEI DE PROCESSO PENAL MILITAR E SUA APLICAÇÃO (ART. 1º A 6 º DO CPPM) O Processo Penal Militar reger-se-á pelas normas contidas no CPPM tanto em tempo de paz como em tempo de guerra, salvo legislação especial que lhe for estritamente aplicável. Assim, não há regras criadas para regime excepcional, como no caso de guerra declarada. Interessante é o regramento em relação aos tratados internacionais incorporados ao nosso ordenamento jurídico. Nos casos concretos, se houver divergência entre essas normas e as de convenção ou tratado de que o Brasil seja signatário, prevalecerão as últimas. Em relação à interpretação das normas, vai depender do caso concreto em que vai ser exigida a interpretação literal ou será aceita uma flexibilização com uma interpretação extensiva. A Lei de Processo Penal Militar deve ser interpretada no sentido literal de suas expressões. Os termos técnicos hão de ser entendidos em sua acepção especial, salvo se evidentemente empregados com outra significação. Admitir-se-á a interpretação extensiva ou a interpretação restritiva, quando for manifesto, no primeiro caso, que a expressão da lei é mais estrita e, no segundo, que é mais ampla do que sua intenção. Fica na discricionariedade do julgador ao caso concreto, sempre fundamentada a interpretação e aplicação da norma processual. Há situações que só admitem interpretação literal da lei, sem interpretação extensiva, quando: a) cercear a defesa pessoal do acusado; b) prejudicar ou alterar o curso normal do processo, ou lhe desvirtuar a natureza; c) desfigurar de plano os fundamentos da acusação que deram origem ao processo. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 4 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Pode-se pensar da seguinte forma: para beneficiar o acusado a interpretação extensiva é admitida, desde que não afronte os princípios processuais militares, que têm como princípios maiores a preservação dadisciplina e hierarquia, que foram lesionados com o cometimento do crime, e o processo vem para restaurar a ordem quebrada. Os casos omissos no CPPM serão supridos: a) pela legislação de Processo Penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do Processo Penal Militar; b) pela jurisprudência; c) pelos usos e costumes militares; d) pelos princípios gerais de Direito; e) pela analogia. A legislação comum poderá ser aplicada nos casos omissos, desde que não afronte os princípios da disciplina e hierarquia. Analogia, somente a in bona parte. Ressalta-se, somente quando ocorrer a omissão da lei. 3. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL MILITAR NO TEMPO E NO ESPAÇO Sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional, aplicam-se as normas do CPPM: I – Em tempo de paz: a) em todo o território nacional; b) fora do território nacional ou em lugar de extraterritorialidade brasileira, quando se tratar de crime que atente contra as instituições militares, ainda que seja o agente processado ou tenha sido julgado pela justiça estrangeira; c) fora do território nacional, em zona ou lugar sob administração ou vigilância da força militar brasileira, ou em ligação com esta, de força militar estrangeira no cumprimento de missão de caráter internacional ou extraterritorial; d) a bordo de navios, ou quaisquer outras embarcações, e de aeronaves, onde quer que se encontrem, ainda que de propriedade privada, desde que estejam sob comando militar ou militarmente utilizados ou ocupados por ordem de autoridade militar competente; e) a bordo de aeronaves e navios estrangeiros desde que em lugar sujeito à Administração militar, e a infração atente contra as instituições militares. II – Em tempo de guerra: a) aos mesmos casos previstos para o tempo de paz; b) em zona, espaço ou lugar onde se realizem operações de força militar brasileira, ou estrangeira que lhe seja aliada, ou cuja defesa, proteção ou vigilância interesse à segurança nacional, ou ao bom êxito daquelas operações; c) em território estrangeiro militarmente ocupado. 4. APLICAÇÃO INTERTEMPORAL DA LEI O art. 5º do CPPM refere-se ao princípio da aplicação imediata da lei ao Direito Processual. A lei processual é aplicada aos processos em curso, iniciados sob a égide da lei anterior, passando então a regulá-los daquele momento em diante. Ressalte-se que os atos processuais realizados em observância à lei anterior consideram-se válidos. Tempus regit actum. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 5 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR 1. ATRIBUIÇÃO DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR A polícia judiciária militar está prevista de forma implícita no art. 144, § 4º, da Carta Magna, quando assevera que às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração das infrações penais, exceto as militares. O regramento da polícia judiciária encontra-se nos arts. 7º e 8 º do CPPM. A polícia judiciária militar destina-se à apuração de crimes militares O art. 8º do CPPM menciona competência da polícia judiciária militar, no entanto o termo correto seria atribuição e não competência (órgão jurisdicional). Assim, as atribuições da polícia judiciária militar são: a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos à jurisdição militar, e sua autoria; b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério Público as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos, bem como realizar as diligências que por eles lhe forem requisitadas; c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar; d) representar a autoridades judiciárias militares acerca da prisão preventiva e da insanidade mental do indiciado; e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e responsabilidade; f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à elucidação das infrações penais, que estejam a seu cargo; g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e exames necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar; h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de apresentação de militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil competente, desde que legal e fundamentado o pedido. Tem atribuição de realizar as diligências requisitadas pelos órgãos e juízes da Justiça Militar ou pelos membros do Ministério Público 2. AUTORIDADE JUDICIÁRIA A polícia judiciária militar é exercida pelas seguintes autoridades, conforme as respectivas circunscrições: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 6 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR a) pelos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território nacional e fora dele, em relação às forças e órgãos que constituem seus Ministérios, bem como a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou transitória, em país estrangeiro; b) pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em relação a entidades que, por disposição legal, estejam sob sua jurisdição; c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, forças e unidades que lhes são subordinados; d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos, forças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando; e) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos e unidades dos respectivos territórios; f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados; g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços previstos nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios; Essas autoridades podem delegar o exercício da polícia judiciária militar. Obedecidas as normas regulamentares de jurisdição, hierarquia e comando, as atribuições poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins especificados e por tempo limitado. Na atividade de polícia judiciária militar, a delegação do seu exercício é feita por portaria do comandante, chefe ou diretor. Em razão da observância da disciplina e da hierarquia, a autoridade delegante pode e deve exercer fiscalização disciplinadora sobre o oficial (longas manus) a quem foi delegada a atribuição. Em se tratando de delegação para instauração de inquérito policial militar, deverá aquela recair em oficial de posto superior ao do indiciado, seja este oficial da ativa, da reserva, remunerada ou não, ou reformado. Não sendo possível a designação de oficial de posto superior ao do indiciado, poderá ser feita a de oficial do mesmo posto, desde que mais antigo. Se o indiciado é oficial da reserva ou reformado, não prevalece, para a delegação, a antiguidade de posto. Se o posto e a antiguidade de oficial da ativa excluírem, de modo absoluto, a existência de outro oficial da ativa (mesmo posto e mais antigo), caberá ao ministro competente a designação de oficial da reserva de posto mais elevado para a instauração do inquérito policial militar; e, se este estiver iniciado, avocá-lo, para tomar essa providência. Paulo Tadeu da Rosa1 menciona que as forças policiais, civil e federal, não possuem competência para apurar os crimes militares, sendo esta atribuição exercida pela polícia judiciária militar, que é constituída por autoridades militares e seus auxiliares. Ao tomar conhecimento da prática de um ilícito, o comandante da Unidade à qual pertence o militar por meio de portaria determinará a abertura de Inquérito Policial Militar (IPM),nomeando um oficial para apurar a autoria e a materialidade do fato. Caso o autor do ilícito seja conhecido, o oficial nomeado deverá possuir posto ou patente acima do indiciado. 1ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Direito Administrativo Militar Teoria e Prática. Rio de Janeiro, Editora Lumen Juris, 2003 p. 118. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 7 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR • Indiciado: denominação que se dá ao militar objeto de investigação no IPM. Antes do indiciamento é chamado de suspeito. Para clarear a questão das atribuições da polícia judiciária militar, trazemos alguns exemplos citados pelo professor Jorge César de Assis2 no caso de crime em local sob a Administração militar (vilas militares) e atribuição para investigar. a) Em caso de crime comum ocorrido no interior das vilas militares, a competência é do delegado de polícia. b) Crime militar no interior da vila militar, a competência é da polícia judiciária militar, logo da referida autoridade militar com jurisdição sobre a área. c) Em caso de fugitivo que adentra a vila militar, não há vedação para que a polícia civil adentre na área e realize a prisão; é recomendável avisar o oficial de dia que ajudará na captura. O art. 144 da CF menciona o rol das polícias e suas atribuições, por intermédio dos seguintes órgãos: I - Polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. Assim, se o crime é militar, a atribuição é da polícia judiciária militar. Ressalta-se que a autoridade policial tem atribuição e não competência. Se o crime é comum, depende de cada caso específico. Atribuição da polícia federal para apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras; exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras. A polícia civil fica com atribuição residual, ou seja, o que não estiver expresso que seja atribuição das demais polícias, é da sua alçada. EMENTA: COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - SUPREMO. A competência do Supremo para processar e julgar habeas corpus impetrado contra ato de tribunal pressupõe a abordagem da causa de pedir na origem. INVESTIGAÇÃO - ATRIBUIÇÃO - POLÍCIA CIVIL E POLÍCIA MILITAR. A simples circunstância de ter-se o envolvimento de policiais militares nas investigações não desloca a atribuição do inquérito para a Polícia Militar. Tratando-se de fatos estranhos à atividade militar, incumbe a atuação à Polícia Civil. CRIME - NATUREZA. Narrando a denúncia o cometimento de crimes não ligados à 2ASSIS, Jorge César. Direito Militar, Aspectos Penais Processuais Penais e Administrativos, 2 ed. Editora Juruá, Curitiba, 2006, p. 139/140. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 8 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR atividade militar - como é exemplo o de quadrilha visando à prática de homicídio, de tráfico de drogas e de roubo -, descabe cogitar da configuração de delito de natureza militar. (STF HC 89102, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, DJ 14-09-2007.) 2. NOTITIA CRIMINIS A notícia criminis é a informação do fato criminoso, em tese, que chega ao conhecimento da autoridade da polícia judiciária militar, de forma espontânea, provocada ou coercitiva. É a notícia do crime. A espontânea (de cognição direta ou imediata): ocorre quando a própria autoridade da polícia judiciária militar toma conhecimento do fato delituoso por meio das suas próprias atribuições. Ex: investigação em uma sindicância que ao final conclui por crime militar em tese. A notícia criminis provocada (de cognição indireta ou mediata): chega ao conhecimento por meio de um ato escrito, que pode ser feito através de requerimento pelo ofendido ou seu representante legal, ou, por representação qualquer do povo que tiver conhecimento de crime militar. A notícia criminis coercitiva: resulta de prisão em flagrante, quando da condução e apresentação do autor do fato (arts 10 e 243 do CPPM). A delação apócrifa – anônima ‒ notícia inqualificada: deve ser vista com alguma reserva, conforme entendimento dos Tribunais. Ela não é meio hábil para sustentar, por si só, a instauração de inquérito policial ou de procedimentos investigatórios. A delação anônima não isenta a autoridade que a receba de apurar sua verossimilhança ou veracidade e, em consequência, instalar o procedimento investigatório. INQUÉRITO POLICIAL E DENÚNCIA ANÔNIMA -STF A 2ª Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia o trancamento de ações penais movidas contra a paciente, sob a alegação de que estas supostamente decorreriam de investigação deflagrada por meio de denúncia anônima, em ofensa ao art. 5º, IV, da CF. Reputou-se não haver vício na ação penal iniciada por meio de denúncia anônima, desde que seguida de diligências realizadas para averiguação dos fatos nela noticiados, o que ocorrido na espécie. Considerou-se, ainda, que a interceptação telefônica, deferida pelo juízo de 1º grau, ante a existência de indícios razoáveis de autoria e demonstração de imprescindibilidade, não teria violado qualquer dispositivo legal. Concluiu-se que tanto as ações penais quanto a interceptação decorreriam de investigações levadas a efeito pela autoridade policial, e não meramente da denúncia anônima, razão pela qual não haveria qualquer nulidade. STF- HC 99490/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 23.11.2010. (HC-99490) INQUÉRITO POLICIAL E DENÚNCIA ANÔNIMA -STJ No STJ, Corte Especial voltou a se manifestar pela impossibilidade de investigação embasada em denúncia anônima. Em questão de ordem julgada em 2009, o relator, ministro Nilson Naves, citou várias decisões convergentes com esse entendimento. O STJ apenas não veda a coleta de provas dos fatos narrados em denúncia anônima. É o que ressalta o voto do ministro Teori Albino Zavascki, na Ação Penal 300, julgada em 2007. “A jurisprudência do STJ e do STF é unânime em repudiar a notícia-crime veiculada por meio de denúncia anônima, considerando que ela não é meio hábil para sustentar, por si só, a instauração de inquérito policial ou de procedimentos investigatórios no âmbito dos tribunais. A delação anônima não isenta a autoridade DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 9 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR que a receba de apurar sua verossimilhança ou veracidade e, em consequência, instalar o procedimento investigatório. Notícia Criminis = notícia do crime Espontânea (de cognição direta ou imediata) Provocada (de cognição indireta ou mediata) Coercitiva Investigações, diligências, atos de ofício. Por meio de escrito Prisão em flagrante INQUÉRITO POLICIAL MILITAR Cabe à polícia judiciária militar, exercida pela autoridade militar, a atividade destinada à apuração das infrações penais e da autoria por meio do inquérito policial militar (crime militar em geral) (IPM), instrução provisória de deserção (IPD), instrução provisória de insubmissão (IPI) e autos de prisão em flagrante (APF), preliminar ou preparatório da ação penal. À soma da atividade investigatóriacom a ação penal promovida pelo Ministério Público (autor imediato) chama-se de persecução penal. É um procedimento destinado a reunir os elementos necessários à apuração da prática do crime militar e de sua autoria. Trata-se de uma instrução provisória, preparatória e informativa, tendo como seu destinatário imediato o Ministério Público Militar para que sirva de substrato para formar sua opinio delicti para a propositura da denúncia. O destinatário mediato é o julgador (juiz- auditor, Conselho de Justiça Permanente ou Especial). Assim, o inquérito policial militar constitui-se da colheita de informações acerca do fato típico e quem tenha sido seu autor, e tem por finalidade fornecer ao titular da ação penal – o MPM – elementos seguros para o oferecimento da denúncia. O IPM é iniciado por portaria (independente das várias possibilidades de seu início, neste ponto é formal): a) de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito de jurisdição ou comando haja ocorrido a infração penal, atendida a hierarquia do infrator; b) por determinação ou delegação da autoridade militar superior, que, em caso de urgência, poderá ser feita por via telegráfica ou radiotelefônica e confirmada, posteriormente, por ofício; c) em virtude de requisição do Ministério Público;3 3 Neste caso o Ministério Público Militar pode requisitar a instauração de IPM, com base na CF, art. 129, VIII, e na LC 75, e a autoridade militar está obrigada a atender. Caso o indiciamento seja indevido ou por qualquer motivo que se possa utilizar o Habeas Corpus para o trancamento do IPM, a autoridade coatora é o membro do Ministério Público militar, pois a autoridade militar agiu como longa manus do Ministério Público obedecendo à requisição legal. O local de impetração do Habeas é no Tribunal Regional Federal. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 10 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR d) por decisão do Superior Tribunal Militar, nos termos do art. 25 do CPPM. (Procedência de correição parcial em caso de arquivamento de IPM, art. 498 do CPPM). e) a requerimento da parte ofendida ou de quem legalmente a represente, ou em virtude de representação devidamente autorizada de quem tenha conhecimento de infração penal, cuja repressão caiba à Justiça Militar; f) quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resulte indício da existência de infração penal militar. O inquérito policial militar possui as mesmas características do inquérito policial comum, dessa forma, é escrito, sigiloso, inquisitivo, informal, indisponível e obrigatório. São, porém, efetivamente instrutórios da ação penal os exames, perícias e avaliações realizados regularmente no curso do inquérito, por peritos idôneos e com obediência às formalidades legais. Na Justiça Militar o Juiz de Direito não pode requisitar a instauração de IPM. 1. PROCEDIMENTO ESCRITO Procedimento escrito, já que é destinado a fornecer elementos ao titular da ação penal, o Ministério Público Militar. Art. 11. A designação de escrivão para o inquérito caberá ao respectivo encarregado, se não tiver sido feita pela autoridade que lhe deu delegação para aquele fim, recaindo em segundo ou primeiro-tenente, se o indiciado for oficial, e em sargento, subtenente ou suboficial, nos demais casos. Não existe no código um procedimento próprio para a oitiva do indiciado, devendo-se aplicar a este os procedimentos, no que couber, relativos ao acusado, previsto nos arts. 302 a 306. 2. SIGILOSO Art. 16. O inquérito é sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele tome conhecimento o advogado do indiciado. Logicamente o sigilo não se estende ao Ministério Público Militar, que pode acompanhar os atos investigatórios (art. 15, III da LOMP, Lei Orgânica do MP, Lei Complementar 40/81), nem ao judiciário. O advogado só pode ter acesso ao inquérito policial quando possua legitimatio ad procedimentum (Procuração). O Superior Tribunal Militar, em decisão recente, entendeu em caso específico o cabimento de sigilo no IPM alegando interesse público sobre o particular. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 11 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR MANDADO DE SEGURANÇA. INQUÉRITO POLICIAL MILITAR. NATUREZA SIGILOSA. ESTATUTO DO ADVOGADO. ACESSO IRRESTRITO AOS AUTOS. INTERESSE PÚBLICO. LITISCONSÓRCIO. Por sua natureza de procedimento administrativo de investigação inquisitorial, o Inquérito Policial Militar não está sujeito ao princípio do contraditório, especialmente quando a parte impetrante não figura como indiciada. O direito do advogado de examinar autos de inquéritos ou de flagrante, findos ou em andamento (inciso XIV do art. 7º da Lei nº 8.906/94), não abrange aqueles sujeitos a sigilo (inciso XIII do mesmo dispositivo legal), preponderando, na hipótese, o interesse público sobre o particular. Inviável a admissibilidade de advogado como litisconsorte na causa que patrocina, visando a ter acesso a peças de inquérito policial que corre em sigilo. Ordem denegada. Decisão unânime. STM: Proc: MS Num: 2006.01.000686-9 UF: Data da Publicação: 12/01/2007. No entanto, o STF entende de forma diversa: EMENTA: I. Habeas corpus: inviabilidade: incidência da Súmula 691 ("Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de "habeas corpus" impetrado contra decisão do Relator que, em "habeas corpus" requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar"). II. Inquérito policial: inoponibilidade ao advogado do indiciado do direito de vista dos autos do inquérito policial. 1. Inaplicabilidade da garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa ao inquérito policial, que não é processo, porque não destinado a decidir litígio algum, ainda que na esfera administrativa; existência, não obstante, de direitos fundamentais do indiciado no curso do inquérito, entre os quais o de fazer-se assistir por advogado, o de não se incriminar e o de manter-se em silêncio. 2. Do plexo de direitos dos quais é titular o indiciado - interessado primário no procedimento administrativo do inquérito policial -, é corolário e instrumento a prerrogativa do advogado de acesso aos autos respectivos, explicitamente outorgada pelo Estatuto da Advocacia (L. 8906/94, art. 7º, XIV), da qual - ao contrário do que previu em hipóteses assemelhadas - não se excluíram os inquéritos que correm em sigilo: a irrestrita amplitude do preceito legal resolve em favor da prerrogativa do defensor o eventual conflito dela com os interesses do sigilo das investigações, de modo a fazer impertinente o apelo ao princípio da proporcionalidade. 3. A oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma garantia constitucional do indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura, quando preso, e pelo menos lhe faculta, quando solto, a assistência técnica do advogado, que este não lhe poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do inquérito sobre o objeto do qual haja o investigado de prestar declarações. 4. O direito do indiciado, por seu advogado, tem por objeto as informações já introduzidas nos autos do inquérito, não as relativas à decretação e às vicissitudes da execução de diligências em curso (cf. L. 9296, atinente às interceptações telefônicas, de possível extensão a outras diligências); dispõe, em consequência a autoridade policial de meios legítimos para obviar inconvenientes que o conhecimento pelo indiciado e seu defensor dos autos do inquérito policial possa acarretar à eficácia do procedimento investigatório. 5. Habeas corpus de ofício deferido, para que aos advogados constituídos pelo paciente se faculte a consulta aos autos do inquérito policial e a obtenção de cópias pertinentes, com as ressalvas mencionadas. STF: HC 90232 / AM – AMAZONAS, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ 02-03-2007. O encarregado não está obrigado a notificar o advogado sobre as diligências que serãorealizadas, mas poderá acompanhá-las, se tiver conhecimento, desde que não interfira no seu andamento. Não se admite contraditório. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 12 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Súmula Vinculante 14 – “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. 3. OBRIGATÓRIO A autoridade militar deverá instaurá-lo, de ofício, assim que tenha a notícia da prática da infração militar no âmbito da sua circunscrição (comando) (art. 10, “a”, do CPPM). 4. INDISPONÍVEL Uma vez instaurado regularmente, em qualquer hipótese, não poderá a autoridade militar mandar arquivar os autos, embora conclusivo da inexistência de crime ou de inimputabilidade do indiciado (art. 24 do CPPM). 5. INQUISITIVO Não comporta o contraditório. Há uma autoridade militar encarregada de executar atos investigatórios. Tecnicamente não há ainda defesa e acusação. EMENTA – CORREIÇÃO PARCIAL. Determinar o arquivamento de IPM, em atendimento a requerimento do Ministério Público, sem dar vista da referida decisão à Defesa, não corresponde a omissão inescusável por “error in procedendo”, visto que não existindo ação penal não há contraditório. Descabida a via da Correição parcial, por não estarem presentes os requisitos exigidos pelo artigo 498 do CPPM, não podendo ser o mesmo conhecido. Decisão unânime. (CORREIÇÃO PARCIAL Nº 1.495-3 - RS - Relator Ministro OLYMPIO PEREIRA DA SILVA JÚNIOR . Sessão de 02/04/1996.) 6. INCOMUNICABILIDADE DO INDICADO Art. 17. O encarregado do inquérito poderá manter incomunicável o indiciado, que estiver legalmente preso, por três dias no máximo. O artigo 17 do CPPM não foi recepcionado pela Constituição Federal, que, no capítulo destinado ao “Estado de Defesa e Estado de Sítio”, proclama: “É vedada a incomunicabilidade do preso” (art. 136, § 3°, inc. IV). Ademais, é assegurado ainda ao preso a “assistência da família e de advogado” (art. 5°, LXIII), determinando que sua prisão seja comunicada imediatamente ao “juiz competente e a família do preso ou a pessoa por ele indicada” (art. 5°, LXII). Se em situação excepcional que é o estado de defesa ou de sítio, o preso tem direito a entrevista com o advogado, com muito mais razão não haveria vedação na normalidade. Ainda, teria sido revogado pelo art. 7º, III, da Lei 8.906/94 que dispõe: “São direitos do advogado: III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis”. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 13 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 7. PRISÃO DO INDICIADO E TÉRMINO DO IPM Art. 18. Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido, durante as investigações policiais, até trinta dias, comunicando-se a detenção à autoridade judiciária competente. Esse prazo poderá ser prorrogado, por mais vinte dias, pelo comandante da Região, Distrito Naval ou Zona Aérea, mediante solicitação fundamentada do encarregado do inquérito e por via hierárquica. Só em crimes propriamente militares, com imediata comunicação ao juízo e ao MPM (art. 10 da LC075/93). Tempo de prisão: 30 + 20 = 50 dias. • Não se aplica a prisão temporária prevista na Lei 7960/89 na Justiça Militar. 8. PRAZOS DO INQUÉRITO Art 20. O inquérito deverá terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver preso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de prisão; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir da data em que se instaurar o inquérito. Este último prazo (indiciado solto) poderá ser prorrogado por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde que não estejam concluídos exames ou perícias já iniciadas, ou haja necessidade de diligência, indispensáveis à elucidação do fato. Quanto aos prazos, o IPM deve ser concluído no prazo de 20 dias se o indiciado estiver preso, contado esse prazo a partir do dia da execução da ordem de prisão; estando o indiciado solto, o prazo é de 40 dias, contado a partir da data em que se instaurar o inquérito, podendo ser prorrogado se estiver solto. O IPM não comporta prorrogação quanto ao término do prazo de indiciado preso, logo se tem que fazer a leitura conjunta dos arts. 20 e 18 do CPPM, que permite a prisão por tempo superior, comunicada a autoridade judiciária; no entanto o IPM deve terminar no prazo de 20 dias se preso. Prazos Conclusão do inquérito Oferecimento da denúncia Justiça Estadual 10 dias – réu preso 30 dias – réu solto 5 dias – réu preso 15 dias – réu solto Justiça Federal (art. 66 da Lei 5.010/66) 15 dias – réu preso (pode ser prorrogado por mais 15 dias) 30 dias – réu solto 5 dias - réu preso 15 dias - réu solto Justiça militar 20 dias – réu preso 40 dias – réu solto 5 dias – réu preso 15 dias – réu solto – Pode ser prorrogado ao dobro; ou ao triplo, em caso excepcional e se o acusado não estiver preso. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 14 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR • Prazo do inquérito: 40 + 20 = 60 dias, indiciado solto. 20 dias, indiciado preso. O regramento do art. 18 destina-se aos crimes propriamente militares, porém a autoridade militar deve remeter imediatamente à autoridade judiciária para apreciar a legalidade da detenção. Entendo que teriam que estar presentes os requisitos da prisão preventiva, sob pena de abuso de autoridade sanável por Habeas Corpus. EMENTA: Habeas corpus. Paciente indiciado em inquérito policial militar é preso preventivamente. Ultrapassado o prazo previsto no artigo 18 do código de processo penal militar, configura-se constrangimento ilegal, a teor do disposto no artigo 467, alínea 'f' do código de processo penal militar. Ordem concedida. Decisão unânime. STM Num: 1988.01.032484-4 UF: RS decisão: 17/05/1988. Art. 22. O inquérito será encerrado com minucioso relatório, em que o seu encarregado mencionará as diligências feitas, as pessoas ouvidas e os resultados obtidos, com indicação do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em conclusão, dirá se há infração disciplinar a punir ou indício de crime, pronunciando-se, neste último caso, justificadamente, sobre a conveniência da prisão preventiva do indiciado, nos termos legais. O relatório é a peça que encerra o IPM, na qual serão detalhadas todas as diligências realizadas, devendo o encarregado concluir pela existência de infração disciplinar ou de indícios de crime militar. Se as atribuições para a abertura do inquérito tiverem sido delegadas, o encarregado enviará os autos à autoridade delegante para que faça sua apreciação. Em ambos os casos, nem a Autoridade Judiciária, nem o órgão do MPM estão vinculados à conclusão da autoridade militar. Uma vez instaurado o IPM, deverá ser remetido à Auditoria, necessariamente, exceto se houver oficial-general como indiciado, hipótese em que a peça informativa será remetida ao Superior Tribunal Militar. O representante do Ministério Público Militar, ao apreciar o inquérito policial militar, pode oferecer denúncia, requerer o arquivamento, a extinção da punibilidade ou realização de novas diligências ou ainda, arguir a incompetência da Justiça Militar ou do Juízo (Auditoria). Convém ressaltar que certas diligências dependem de autorização judicial, mesmo durante o inquérito, como a quebra de sigilo bancário, a busca e apreensão domiciliar, etc. Caso as investigações contidas no auto de prisão em flagrante forem suficientes para a elucidação do fato e sua autoria, o auto de flagrante delito constituirá o inquérito,dispensando outras diligências, salvo o exame de corpo de delito no crime que deixe vestígios, a identificação da coisa e a sua avaliação, quando o seu valor influir na aplicação da pena. A remessa dos autos, com breve relatório da autoridade policial militar, far-se-á sem demora ao juiz competente. O arquivamento de inquérito não obsta a instauração de outro, se novas provas aparecerem em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado e os casos de extinção da punibilidade. Não há possibilidade de arguir suspeição do juiz-auditor, nem da autoridade militar em inquérito policial militar. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 15 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO. IPM. A exceção de suspeição é arguida pelas partes quando já existe a ação penal. O IPM é simples investigação, nele não há acusação formal do crime. Portanto, é inadmissível a arguição de suspeição de juiz-auditor durante o inquérito policial militar. Arguição de exceção de suspeição não conhecida. Decisão unânime. (STM ARG SUSP. 2002.01.000020-4, REL MIN. DOMINGOS ALFREDO SILVA, DJ 5.9.2002.) EMENTA: “HABEAS CORPUS. IPM. IMPEDIMENTO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR. DEVIDO PROCESSO LEGAL. Não há falar em impedimento ou suspeição da Autoridade policial. Precedentes do STF. Inconfundíveis o processo administrativo ou o processo administrativo disciplinar com o Inquérito Policial Militar. O processo administrativo é um conjunto de atos coordenados que se destina à solução de controvérsias no âmbito administrativo; e o processo administrativo disciplinar é o meio de apuração e punição de faltas graves dos servidores públicos. Já o Inquérito Policial Militar é procedimento policial – instrução provisória, preparatória, informativa – destinada à coleta de elementos que permitam ao MPM formar a opinio delicti para a propositura da ação penal. Os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa que informam os processos judicial e administrativos não incidem sobre o IPM (doutrina e jurisprudência). Ordem denegada por falta de amparo legal. Unânime. ” (STM HABEAS CORPUS Nº 2003.01.033828-4/AM Relator Ministro JOSÉ JULIO PEDROSA. Sessão de 26.08.03.) Uma vez arquivado regularmente o inquérito policial militar, não há possibilidade de desarquivamento, no entanto, nos termos do art. 25 do CPPM, não se veda a instauração de outro se surgirem novas provas. EMENTA. CORREIÇÃO PARCIAL. DESARQUIVAMENTO DE IPM. IMPOSSIBILIDADE. Juiz- Auditor Corregedor da Justiça Militar requer desarquivamento de IPM, sob a alegação de existência de crime de prevaricação por parte de Tenente Coronel Comandante de OM e de outro militar da mesma unidade. Depreende-se dos autos que o IPM foi instaurado por determinação do referido Comandante, objetivando a apuração de fato relacionado à agressão sofrida por um soldado dentro da OM. Apurou-se no Inquérito que realmente houve a agressão contra o soldado. Porém, como não houve qualquer testemunha a apontar os agressores, o representante do MPM pediu o arquivamento do Inquérito, o que foi atendido pelo Juiz-Auditor. Não constando do IPM nenhum fato relacionado à prevaricação dos Oficiais apontados pelo Juiz-Auditor Corregedor em sua Representação, não há como desarquivar o Inquérito, que foi regularmente arquivado pelo Juiz-Auditor, uma vez que tal pretensão não preenche os requisitos do artigo 498, alínea "b", do CPPM, e do artigo 14, inciso I, alínea "c", da Lei nº 8.457/92. Correição Parcial indeferida. Decisão unânime. (STM COR. PAR. 2002.01.001827-4, MIN REL JOSÉ LUIZ LOPES DA SILVA, DJ 13.8.2002.) DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 16 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA. Habeas Corpus. Arquivamento irregular de IPD. Juntada de novos documentos. Inexistência de coisa julgada formal. Deserção caracterizada. Ausência de constrangimento ilegal. A exclusão do militar durante o prazo de graça não exclui a tipicidade do crime de deserção, posto que este se consuma com a ausência injustificada e o prazo de graça é apenas uma condição de configuração do delito. A juntada de novos documentos corrige o erro referente à contagem do prazo, traduzindo-se em novas provas sobre o fato. Inexiste trânsito em julgado em arquivamento de inquérito, não havendo falar, portanto, em coisa julgada formal. Denegada a ordem. Decisão unânime. Proc: STM HC Num: 2005.01.034103-0 UF: RS, Data da Publicação: 01/03/2006. Deve-se observar que a decisão de arquivamento do inquérito policial no âmbito da Justiça comum, acolhendo promoção ministerial no sentido da atipicidade do fato e da incidência de causa excludente de ilicitude, impossibilita a instauração de ação penal na Justiça especializada, uma vez que o Estado-Juiz já se manifestou sobre o fato, dando-o por atípico, o que enseja coisa julgada material. Nesse sentido é o entendimento do STJ. EMENTA: DIREITO PENAL. HABEAS CORPUS. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ARQUIVAMENTO DO FEITO. RECONHECIMENTO DE ATIPICIDADE DO FATO. DECISÃO PROFERIDA POR JUÍZO ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE. PERSECUÇÃO PENAL NA JUSTIÇA MILITAR POR FATO ANALISADO NA JUSTIÇA COMUM. IMPOSSIBILIDADE: CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. INSTAURAÇÃO DE AÇÃO PENAL PERANTE O JUÍZO COMPETENTE. IMPOSSIBILIDADE. COISA JULGADA. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. A teor do entendimento pacífico desta Corte, o trancamento da ação penal pela via de habeas corpus é medida de exceção, admissível quando emerge dos autos, de forma inequívoca, entre outras hipóteses, a atipicidade do fato. 2. A decisão de arquivamento do inquérito policial no âmbito da Justiça Comum, em virtude de promoção ministerial no sentido da atipicidade do fato e da incidência de causa excludente de ilicitude, impossibilita a instauração de ação penal perante a Justiça Especializada, uma vez que o Estado-Juiz já se manifestou sobre o fato, dando-o por atípico (precedentes). Ainda que se trate de decisão proferida por juízo absolutamente incompetente, deve-se reconhecer a prevalência dos princípios do favor rei, favor libertatis e ne bis in idem, de modo a preservar a segurança jurídica que o ordenamento jurídico demanda. Precedentes. 4. Ordem concedida, acolhido o parecer ministerial, para trancar a Ação Penal n.º 484-00.2008.921.0004, em trâmite perante a Auditoria Militar de Passo Fundo⁄RS. ( STJ - Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJ 11/04/2011). Se o representante do Ministério Público Militar entender que é caso de arquivamento e o juiz-auditor entender que não é caso de arquivamento, remeterá os autos ao procurador-geral militar que decidirá, após a oitiva da câmara de coordenação e revisão do Ministério Público Militar e se for o caso designará outro integrante como longa manus para propor a ação penal militar. São duas hipóteses: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 17 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 1) o Ministério Público Militar propõe arquivamento e o Juiz discorda e remete os autos à Procuradora-Geral4 da Justiça Militar. Será ouvida a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Militar e a Procuradora-Geral da Justiça Militar decidirá. Se entender pelo arquivamento, será arquivado e a questão está resolvida. Pode entender pela deflagração da ação penal e pela necessidade de outras diligências, quando designará outro membro para tal, que agirá como longa manus da Procuradora-Geral da Justiça Militar. 2) o Ministério Público Militar propõe arquivamento e o Juiz discorda e não remete os autos à Procuradora-Geral da Justiça Militar. Cabe recurso em sentido estrito (ver art. 516 do CPPM) ao STM. Outra hipótese é quando o MPM propõe o arquivamento e o Juiz concorda. O Juiz- Corregedor pode representar ao Tribunal, mediante correição parcial. O tribunal, se der provimento, remeterá os autos à Procuradora-Geralda Justiça Militar, que se manifestará, após ouvir a Câmara de Coordenação e a Revisão do Ministério Público Militar, do mesmo modo que acima citado. EMENTA. CORREIÇÃO PARCIAL. DESARQUIVAMENTO DE IPM. IMPOSSIBILIDADE. Juiz-Auditor Corregedor da Justiça Militar requer desarquivamento de IPM, sob a alegação de existência de crime de prevaricação por parte de Tenente Coronel Comandante de OM e de outro militar da mesma unidade. Depreende-se dos autos que o IPM foi instaurado por determinação do referido Comandante, objetivando a apuração de fato relacionado à agressão sofrida por um soldado dentro da OM. Apurou-se no Inquérito que realmente houve a agressão contra o soldado. Porém, como não houve qualquer testemunha a apontar os agressores, o representante do MPM pediu o arquivamento do Inquérito, o que foi atendido pelo Juiz-Auditor. Não constando do IPM nenhum fato relacionado à prevaricação dos Oficiais apontados pelo Juiz-Auditor Corregedor em sua Representação, não há como desarquivar o Inquérito, que foi regularmente arquivado pelo Juiz-Auditor, uma vez que tal pretensão não preenche os requisitos do artigo 498, alínea "b", do CPPM, e do artigo 14, inciso I, alínea "c", da Lei nº 8.457/92.Correição Parcial indeferida. Decisão unânime.(STM COR. PAR. 2002.01.001827-4, MIN REL JOSÉ LUIZ LOPES DA SILVA, DJ 13.8.2002.) 4 Procurador-Geral ou Procuradora-Geral, Chefe do MPM. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 18 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: Habeas Corpus: Crime em tese; ausência de nulidades; presença do fumus boni iuris a permear a Denúncia. Não tendo ocorrido a prescrição da pretensão punitiva, a ação penal poderá ser proposta a qualquer tempo; descabimento da figura da preclusão. O oferecimento da Denúncia fora do prazo não gera preclusão, uma vez que se cuida, in casu, de um dever derivado do princípio da obrigatoriedade e firmemente assentado na lei; assim, tal demora constitui mera irregularidade, sujeitando apenas o representante do Parquet a eventuais penalidades. Também não acarreta preclusão o recebimento da Denúncia fora do prazo, eis que se trata, na espécie, de prazo impróprio; é que, por não ser o Magistrado parte no Processo, a sua atuação é sempre representativa do interesse superior do Estado em afirmar a Justiça, interesse este de tal grandeza que, como regra, não se curva diante do decurso do tempo. Tratando-se o Inquérito de peça de natureza administrativa e de sentido meramente informativo, a sua realização, embora sujeita às regras da lei, não impõe a observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório. Não gera impedimento a conduta do Magistrado, que, tendo rejeitado o pedido de arquivamento, remete o IPM para o Procurador-Geral da Justiça Militar, uma vez que, na hipótese, procede ex vi legis, ou seja, nada mais faz do que dar consequência prática à disposição ínsita in fine do art. 397 do CPPM. É parte legítima para oferecer a Denúncia o Promotor designado pela Procuradoria-Geral da Justiça Militar, em substituição a outro precedentemente indicado. Na via estreita do Habeas Corpus não é admissível o exame aprofundado da prova, com valoração singular e cotejo conjunto, de sorte a se decidir, de antemão e de logo, se o Paciente é culpado ou não da imputação que lhe foi feita pelo Parquet Militar; presença, in casu, do fumus boni iuris a permear e a justificar o Opinio Delicti. Habeas Corpus conhecido e denegada a Ordem, por falta de amparo legal. Unânime. STM Proc: HC Num: 2002.01.033760-1 UF: SP, Data da Publicação: 08/10/2002. Interessante é a impossibilidade de o juiz-auditor indeferir diligências requisitadas pelo MPM durante o IPM, outro caso seria a possibilidade de indeferimento de diligências após a instauração da ação penal militar, no curso do processo. Peço vênia para transcrever parte do voto da decisão na Correição Parcial nº 2003.01.001851-9/PR que explica com clareza a matéria. EMENTA: No mérito, é cediço que o juiz-auditor não pode indeferir diligências requisitadas pelo Parquet antes do oferecimento da denúncia, uma vez que é ao órgão ministerial que cabe dizer da necessidade dessas diligências para o exercício da ação penal, conforme se depreende da simples leitura do citado inciso I do art. 26 do CPPM. Não se deve confundir as diligências requisitadas pelo Ministério Público antes do oferecimento da denúncia com as diligências requeridas na fase do art. 427 do CPPM. Enquanto as primeiras não podem ser negadas, pois constituem uma prerrogativa do Parquet como titular da ação penal, as do art. 427 podem ser indeferidas pelo Juiz, quando julgá-las protelatórias, desnecessárias ou não pertinentes ao processo. É tranquila a jurisprudência nesse sentido, como mostram as decisões proferidas nos Recursos Criminais nºs 1983.01.005598-9/RJ, Relator Ministro RUY DE LIMA PESSOA, julgado em 08/03/1984; 1989.01.005870-8/AM, Relator Ministro EVERALDO DE OLIVEIRA REIS, julgado em 28/03/1989; 1989.01.005882-1/RS, Relator Ministro JORGE FREDERICO MACHADO SANT’ANNA, julgado em 29/08/1989; 1991.01.006011-7/MG, Relator Ministro PAULO CÉSAR CATALDO, julgado em 16/12/1991; e, 1993.01.006080- 0/PR, Relator Ministro ANTONIO CARLOS DE SEIXAS TELLES, julgado em 27/05/1993. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 19 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: CORREIÇÃO PARCIAL. INDEFERIMENTO DE DILIGÊNCIAS REQUISITADAS PELO MPM ANTES DO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA E ARQUIVAMENTO DOS AUTOS. Pedido ajuizado pelo MPM como recurso em sentido estrito, recebido em 1ª instância como apelação e autuado na corte como correição parcial. A teor do art. 153 do RISTM nenhum recurso poderá ser convertido de ofício em Correição Parcial. Também não há falar em Apelação, pois inexistente o processo, que se inicia com o recebimento da denúncia, não se cogita de sentença definitiva ou com força de definitiva. Hipótese prevista na alínea "b", "in fine", do art. 516 do CPPM. Pedido preliminarmente conhecido como recurso em sentido estrito. Maioria. No mérito, é cediço que o juiz- auditor não pode indeferir diligências requisitadas pelo "Parquet" antes do oferecimento da denúncia, uma vez que é ao órgão ministerial que cabe dizer da necessidade dessas diligências para o exercício da ação penal, conforme inciso I do art. 26 do CPPM. Precedentes. Recurso em sentido estrito provido para, cassando a decisão recorrida, determinar que sejam cumpridas as diligências requeridas pelo "Parquet". Unânime. (STM Correição Parcial nº 2003.01.001851-9/PR, em decisão datada de 03/04/2003, Relator Ministro José Júlio Pedrosa.) Eventual nulidade no inquérito policial militar não contamina a ação penal militar. EMENTA: PECULATO-FURTO. CABO DO EXÉRCITO. DESVIO DE DINHEIRO DA ADMINISTRAÇÃO MILITAR. UTILIZAÇÃO DE SENHA PARA ACESSO AO SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA (SIAFI). FACILIDADE PROPICIADA EM RAZÃO DA FUNÇÃO DESEMPENHADA PELO RÉU. PRELIMINAR DE NULIDADE DO IPM. REJEIÇÃO. 1. NULIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR. Não merece acolhida a preliminar de nulidade do IPM, suscitada pela Defesa. Isto, porque, a Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que, "por se tratar de peça meramente informativa da denúncia ou da queixa, eventual irregularidade no inquérito policial não contamina o processo, nem enseja sua anulação..." (HC nº 80.902-2/SP). 2.PECULATO- FURTO. É uníssono o entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que o Peculato-Furto (previsto no art. 303, § 2º, do CPM, e no art. 213, § 1º, do CPB) é um tipo penal que exige, para a sua configuração, que a subtração e/ou o desvio do dinheiro, valor ou bem móvel, esteja ligada à infringência do dever funcional a que está obrigado o réu. É o caso dos autos, uma vez que o Acusado tinha a senha de acesso ao respectivo banco de dados. Rejeitada a preliminar suscitada pela Defesa.Decisão unânime. No mérito, por maioria, provido parcialmente o recurso ministerial. (STM APELAÇÃO Nº 2002.01.049203-8 - MS - Relator Ministro ANTONIO CARLOS DE NOGUEIRA. Revisor e Relator para o Acórdão Ministro SÉRGIO XAVIER FEROLLA. Sessão de 02/12/03.) AÇÃO PENAL 1. AÇÃO PENAL MILITAR E SEU EXERCÍCIO Ação penal é o direito público subjetivo que tem o Estado de buscar a concretização do ius puniendi e tem como seu titular o Ministério Público Militar. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 20 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Para Loureiro Neto ação nada mais é do que invocar a jurisdição do juiz, a fim de que o Poder Judiciário aplique o direito objetivo a determinado caso concreto. Consiste no direito de se pedir ao Estado Juiz a aplicação do Direito Penal Militar objetivo. O Código Penal Militar e o Código de Processo Penal Militar contêm regras sobre ação penal perante a justiça militar. • A natureza jurídica da ação penal é processual. A ação penal pode ser pública, e se subdivide em: ação penal pública incondicionada e ação penal pública condicionada, por sua vez condicionada à representação do ofendido ou à requisição do Ministro da Justiça; e ação penal privada e ação penal privada subsidiária da pública. Ação penal militar é pública e somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público Militar (art. 29. do CPPM). Vale ressaltar, que há possibilidade de ação penal privada subsidiária da pública na justiça militar. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141 (hostilidade contra país estrangeiro, provocação de país estrangeiro, ato de jurisdição indevida, violação de território estrangeiro, entendimento para empenhar o Brasil à neutralidade ou à guerra, entendimento para gerar conflito ou divergência com o Brasil) do Código Penal Militar, a ação penal é pública condicionada; quando o agente for militar ou assemelhado, depende de requisição, que será feita ao procurador-geral da Justiça Militar, pelo Ministério a que o agente estiver subordinado; no caso do art. 141 do mesmo Código, quando o agente for civil e não houver coautor militar, a requisição será do Ministério da Justiça (art. 31 do CPPM). A requisição é uma condição de procedibilidade, tem natureza jurídica de um ato administrativo, discricionário e irrevogável, e não vincula a atuação do Ministério Público que é titular da ação penal. No Processo Penal Militar não se admite a ação penal privada, exceto a subsidiária da pública, consoante o disposto no art. 5º, LIX, da Constituição Federal, nem a pública condicionada à representação, ocorrendo apenas a hipótese da ação penal pública incondicionada e a da condicionada à requisição do Ministério Militar (Comandante Militar da Arma) se o agente for militar, ou do Ministério da Justiça se o agente for civil. EMENTA: CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILI-TAR. CRIME PRATICADO POR EX-CABO DA AERONÁUTICA CONTRA MI-LITAR DA ATIVA E EM LUGAR SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR: CRIME MILITAR. REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. I. - Crime de injúria praticado por ex-cabo da Aeronáutica contra militar da ativa e em lugar sujeito à administração militar: competência da Justiça Militar, na forma do art. 9º, III, "b", do CPM II. - Na Justiça Militar, a ação penal é pública incondicionada e somente pode ser instaurada por denúncia do Ministério Público Militar (CPPM, art. 29). Inexistência de nulidade. III. - recurso improvido. RHC 81341 / DF, Relator: Min. CARLOS VELLOSO. DJ 01/02/2002. • Não há ação penal exclusiva privada na Justiça Militar. Há outra possibilidade de ação penal pública condicionada: quando comandante do teatro de operações cometer crime, responderá a processo perante o Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação penal à requisição do Presidente da República (art. 95, parágrafo único, da LOJMU). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 21 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 2. Princípios da Ação Penal Pública 2.1 Da oficialidade: Os arts. 129, I, da CF e 29 do CPPM dando atribuição privativa para ação penal pública ao Ministério Público, somente o Ministério Público Militar pode promover a ação penal militar, salvo privada subsidiária da Pública. 2.2 Da obrigatoriedade: A denúncia deve ser apresentada sempre que houver prova de fato que, em tese, constitua crime e indícios de autoria (art. 30 do CPPM). Havendo crime em tese, aferindo apenas a tipicidade, prova da materialidade e indícios de autoria, o Ministério Público Militar está obrigado a ofertar a denúncia. Para o oferecimento da denúncia deve-se utilizar o in dubio pro societatis, sendo o fato típico, o Ministério Público Militar deverá oferecer a denúncia. EMENTA: DENÚNCIA. REJEIÇÃO. PROVA INDICIÁRIA. FILMAGEM. Ofendido que tendo seu patrimônio danificado instala câmera de filmagem visando identificar o autor. Não constitui prova ilícita aquela coletada nestas circunstâncias, mesmo sem autorização judicial. Para recebimento de denúncia "não se exige prova plena nem um exame aprofundado e valorativo dos elementos contidos no inquérito policial ou peças de informação, sendo suficientes elementos que tornam verossímil a acusação" (MIRABETE). Denúncia recebida. Decisão unânime. STM (RECURSO CRIMINAL Nº 2004.01.007146-1 - RS - Relator Ministro HENRIQUE MARINI E SOUZA. Sessão de 03/03/04.). 2.3 Da indisponibilidade: Apresentada a denúncia, o Ministério Público Militar não poderá desistir da ação penal (art. 32 do CPPM). A indisponibilidade é que, uma vez proposta a ação penal, mediante o oferecimento da denúncia e recebimento dessa, há uma ação penal tramitando, a partir daí o Ministério Público Militar não pode desistir da ação, não pode desistir do processo. Ressalta-se que o Promotor Militar tem independência funcional e, sopesando a prova contida nos autos, convence-se de que não é caso de condenação e postula a absolvição. Essa hipótese não é de disposição (desistência) da ação penal militar, pois o seu requerimento não vincula o órgão julgador que pode condenar, mesmo com a postulação de absolvição do titular da ação penal. O processo inicia-se com o recebimento da denúncia pelo juiz, efetiva-se com a citação do acusado e extingue-se no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível, quer resolva o mérito, quer não. A competência para decidir sobre o recebimento da denúncia é do Juiz-Auditor monocraticamente, a quem é endereçada. A partir deste momento passa a atuar o Conselho de Justiça Permanente (acusado civil ou praça) ou Conselho Especial de Justiça (acusado oficial e/ou civil ou praça em concurso com oficial). No caso de aditamento da denúncia, a competência para aferição dos critérios e recebimento é do Juiz-Auditor e não do conselho, assim decidiu o Superior Tribunal Militar: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 22 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: ADITAMENTO À DENÚNCIA. APRECIAÇÃO PELO CONSELHO DE JUSTIÇA. IMPOSSIBILIDADE. FUNÇÃO PRIVATIVA DO JUIZ-AUDITOR "EX VI LEGIS". 1. É princípio constitucional que "ninguém será processado nem sentenciado então pela autoridade competente" (art. 5º, LIII, da CF). 2. No caso específico da Justiça Militar, competente para decidir se inicia, ou não, o processo, é o Juiz-Auditor, não o Conselho de Justiça, uma vez que o artigo 35 do CPPM determina que é do primeiro a prerrogativa de apreciar a Exordial Acusatória. 3. O Aditamento à Denúncia deve receber o mesmo tratamento que se dá à denúncia, com todas as consequências processuais previstas em lei como, por exemplo, a citação do réu, seu interrogatório, oitiva de testemunhas, etc. 4. Diz a Doutrina: "Havendo, na denúncia dada, omissão do nome de mais alguém, que se ache implicado no crime, ou de fato criminoso, atribuído ao indiciado, que não tenha sido mencionado nela, far-se-á um aditamento à denúncia,para que se inclua o indiciado omitido ou para que se complete e efetive a narração do que se olvidou na primitiva ou denúncia original. É, assim, consoante expressa o próprio substantivo, o acréscimo do nome omitido ou do fato não mencionado anteriormente na denúncia..." (DE PLÁCIDO E SILVA). Deferida a Correição Parcial, para que o Juiz-Auditor aprecie, singularmente, o Aditamento à Denúncia oferecido pelo MPM. Decisão unânime. (STM COR, PAR. 2002.01.001828-2, REL MIN SERGIO XAVIER FEROLLA, DJ 22.8.2002.) EMENTA: RECURSO CRIMINAL CONTRA DECISÃO DO JUIZ-AUDITOR QUE INDEFERIU PRETENSÃO MINISTERIAL DE ADITAMENTO À DENÚNCIA (art. 516, "b", do CPPM). INDÍCIOS DE COMETIMENTO DE CRIME POR PARTE DE TESTEMUNHA. 1. O Ministério Público pode aditar a denúncia antes da sentença, desde que surjam, na fase instrutória, novos elementos de prova capazes de fundamentar seu pleito, em aplicação do art. 80 do Código de Processo Penal Militar c/c o art. 569 do Código de Processo Penal comum. 2. É de se deferir requerimento ministerial de aditamento à Denúncia desde que preenchidos os requisitos do art. 77 do CPPM e os novos fatos guardem conexão com a conduta descrita originariamente, de forma a exigir a unidade do processo. Recurso ministerial conhecido e provido. Decisão Unânime. ACÓRDÃO N° 2002.01.006965-3 UF: RS Ministro Relator JOSÉ COÊLHO FERREIRA sessão em 20/06/2002. 3. Casos de suspensão do processo O Processo Penal Militar suspende-se e extingue-se nos casos previstos no Código de Processo Penal Militar. 3.1 No caso de conflito positivo de competência, o relator do feito poderá ordenar, desde logo, que se suspenda o andamento do processo, até a decisão final. 3.2 Em questões prejudiciais, o juiz poderá suspender o processo e aguardar a solução, pelo juízo cível, de questão prejudicial que não se relacione com o estado civil das pessoas, desde que: tenha sido proposta ação civil para dirimi-la; seja ela de difícil solução e não envolva direito ou fato cuja prova a lei civil limite. 3.3 Na exceção de suspeição ou impedimento, o juiz sustará a marcha do processo, mandará juntar aos autos o requerimento do recusante com os documentos que o instruam e, por despacho, se declarará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao substituto. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 23 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 3.4 Na exceção de litispendência, se o arguente não puder apresentar a prova da alegação, o juiz poderá conceder-lhe prazo para que o faça, ficando-lhe, nesse caso, à discrição, suspender ou não o curso do processo. 3.5 Em incidente de insanidade mental, sustará o processo quanto à produção de prova em que seja indispensável a presença do acusado submetido ao exame pericial. 3.6 No caso de doença mental superveniente, caso a doença mental sobrevier ao crime, o inquérito ou o processo ficará suspenso, se já iniciados, até que o indiciado ou acusado se restabeleça, sem prejuízo das diligências que possam ser prejudicadas com o adiamento. 3.7 No incidente de falsidade de documento, o juiz poderá sustar o feito até a apuração da falsidade, se imprescindível para a condenação ou absolvição do acusado, sem prejuízo, entretanto, de outras diligências que não dependam daquela apuração. 4. Caso de extinção do processo Pelo reconhecimento das causas extintivas da punibilidade previstas no art. 123 do Código Penal Militar. 4.1 Na existência de coisa julgada, se o juiz reconhecer que o feito sob seu julgamento já foi, quanto ao fato principal, definitivamente julgado por sentença irrecorrível, mandará arquivar a nova denúncia, declarando a razão por que o faz. 5. Inaplicabilidade da Lei 9.099/95 no âmbito da Justiça Castrense A aplicabilidade dos benefícios da Lei 9.099/95 no âmbito da Justiça Militar foi vedada pela legislador com o advento da Lei 9.839/99, o qual criou o art. 90-A inserido na primeira lei (“As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar”), todavia, vem se observando que muitos Juízes têm reconhecido a inconstitucionalidade dessa vedação e continuam aplicando a mencionada Lei que disciplina o tratamento das infrações de pequeno potencial ofensivo e assim dispõe da ação penal pública condicionada para os delitos de lesão corporal dolosa leve e de lesão culposa, além da suspensão condicional do processo. Para Damásio de Jesus, no que tange aos delitos militares próprios, ainda poderia ser defensável a lei nova, uma vez que são regidos pelas regras da hierarquia e disciplina. No que diz respeito aos delitos militares impróprios, contudo, é de flagrante inconstitucionalidade, ferindo os princípios de isonomia e da proporcionalidade. O Supremo Tribunal Federal já decidiu pela inaplicabilidade dos benefícios da Lei 9.099/95 aos militares, após a Lei 9.839/99 ter nela inserido o art. 90-A para afirmar que suas disposições não se aplicam no âmbito da Justiça Militar (STF – HC 80.173). Abriu-se uma discussão no STF da possível aplicabilidade da Lei 9.099/95 aos civis que cometessem crimes militares. O Plenário denegou habeas corpus impetrado em favor de militar condenado, pela prática do crime de deserção (CPM, art. 187), à pena de 6 meses de detenção. A defesa solicitava que fosse declarada a inconstitucionalidade da Lei 9.839/99, que dispõe sobre a inaplicabilidade da Lei dos Juizados Especiais no âmbito da justiça militar. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 24 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Os Ministros Luiz Fux, Ayres Britto e Celso de Mello também denegaram o writ, em razão de o paciente ser militar, mas declararam, obter dictum, que se ele fosse civil deveria ser excluído do âmbito de incidência da lei restritiva. O Min. Luiz Fux afirmou, com ênfase no princípio da isonomia, haver casos em que particulares cometem crimes subsumidos ao CPM que possuem figuras assemelhadas no âmbito da legislação comum. Sublinhou que, na hipótese de crimes comuns, eles teriam direito ao benefício da suspensão condicional. Frisou que o fato de esse diploma proibir o sursis processual, mas, ao mesmo tempo, garantir a suspensão condicional da pena, seria um paradoxo. Consignou que a arguição de que as organizações militares são engendradas com fundamento na disciplina não seria compatível com a CF/88, visto que a ordem constitucional teria surgido para imprimir disciplina nas relações jurídicas entre os cidadãos, mas o descumprimento voluntário do Direito seria um fenômeno histórico e a razão de ser da sanção correspondente. Acrescentou que a Constituição tem a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República, bem como estabelece que o país é pacífico e que as Forças Armadas têm papel notadamente preventivo. Destacou que o mesmo raciocínio deveria ser aplicado no caso de lex mitior, que teria de incidir em crime militar. O Min. Celso de Mello lembrou que a lei impugnada teria surgido como uma reação da justiça castrense em face de decisões do STF que firmaram entendimento no sentido da plena aplicabilidade da Lei 9.099/95 ao processo penal militar, inclusive quanto aos institutos despenalizadores por ela criados. Asseverou, também, que civis, notadamente em tempos de paz, não estariam sujeitos à hierarquia e à disciplina militar. Por fim, os Ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Cezar Peluso, Presidente, denegaram a ordem, porém não se manifestaram acerca da constitucionalidade, ou não, do preceito discutido, considerado o contexto fático do processo. EMENTA: PENAL MILITAR. HABEAS CORPUS. DESERÇÃO – CPM, ART. 187. CRIME MILITAR PRÓPRIO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO - ART. 90-A, DA LEI N. 9.099/95 – LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS. INAPLICABILIDADE, NO ÂMBITO DA JUSTIÇA MILI-TAR. CONSTITUCIONALIDADE, FACE AO ART. 98, INCISO I, § 1º, DA CARTA DA REPÚBLICA. OBITER DICTUM: INCONSTITUCIONALIDADE DA NORMA EM RELAÇÃO A CIVILPROCESSADO POR CRIME MILITAR. O art. 90-A, da n. 9.099/95 - Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais -, com a redação dada pela Lei n. 9.839/99, não afronta o art. 98, inciso I, § 1º, da Carta da República no que veda a suspensão condicional do processo ao militar processado por crime militar. In casu, o pedido e a causa de pedir referem-se apenas a militar responsabilizado por crime de deserção, definido como delito militar próprio, não alcançando civil processado por crime militar. Obiter dictum: inconstitucionalidade da norma que veda a aplicação da Lei n. 9.099 ao civil processado por crime militar. Ordem denegada. HC 99743/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 6.10.2011. Já está sinalizando pela aplicabilidade apenas na Justiça Militar da União quando o réu for civil. Frisa-se, não há decisão específica sobre o tema, apenas na fundamentação do acórdão colacionado acima. Entendemos pela aplicabilidade dos institutos despenalizadores aos crimes militares impróprios cometidos por civis ou militares, pois não pode a lei dar um tratamento desigual a um determinado fato-crime, por exemplo, furto julgado na justiça comum e furto julgado na justiça militar com a possibilidade de suspensão condicional de processo em uma justiça em outra não. Ainda, pelo princípio da igualdade, deve-se tratar os desiguais de maneira desigual e nos casos autorizados pela Constituição Federal, que não é o caso. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 25 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Os Tribunais de Justiça Militar dos Estados de São Paulo e Rio Grande do Sul comungam do entendimento e também decidem pela inaplicabilidade da Lei 9.099/95 aos militares estaduais. Há decisões no TJMG pela aplicação dos institutos da transação penal e suspensão condicional do processo. Entendem que a vedação do art. 90-A refere-se apenas à Justiça Militar da União. Ressalta- se que os juízes de direito da Justiça Militar de MG aplicam os institutos e algumas decisões são reformadas pelo tribunal mineiro e outras confirmadas. DA DENÚNCIA No que tange à ação penal pública, a petição inicial, ou seja, a peça que inicia a ação penal se chama denúncia. Em algumas obras se pode encontrar a distinção da denúncia, em denúncia originária e denúncia substitutiva (queixa-crime). A denúncia é a petição inicial acusatória proposta pelo Ministério Público Militar, pela qual esse órgão exerce seu direito como titular da ação penal, visando ao processamento da ação penal militar contra sujeito que tenho cometido um crime militar. Já a chamada denúncia substitutiva ocorre na hipótese da ação penal privada subsidiária da pública, quando o Ministério Público fica inerte. Não poderá propor ação penal privada subsidiária da pública, se o Ministério Público Militar requerer diligências para embasar a sua opinio delicti ou se requerer o arquivamento. Ementa: INQUÉRITO. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA AÇÃO PENAL PÚBLICA NÃO PROPOSTA PELO MPM. A REPRESENTAÇÃO DE FLS. FOI ARQUIVADA NA PGJM SOB A ALEGAÇÃO DE PRESCRIÇÃO E, AINDA, DECADÊNCIA DE PRAZO, TENDO EM VISTA A DATA EM QUE TERIAM OCORRIDO OS FATOS. TENDO SE MANIFESTADO O MPM FUNDAMENTADAMENTE, QUANTO AO NÃO OFERECIMENTO DE DENÚNCIA, NÃO PODE PROSPERAR A INICIATIVA DO INTERESSADO, NA PROPOSITURA DE AÇÃO PENAL PRIVADA. REPRESENTAÇÃO NÃO CONHECIDA, POR FALTA DE AMPARO LEGAL. DECISÃO UNÂNIME. Proc: Inq - INQUERITO (STM), Num: 1996.01.000182-2 UF: RJ, Data da Publicação: 21/08/1996. Preferimos optar por denúncia como a peça inaugural exclusiva do Ministério Público Militar, e queixa-crime, a petição inicial em ação penal privada subsidiária da pública, com cabimento quando da inércia do representante do Ministério Público Militar. A denúncia será oferecida quando houver prova de fato que em tese constitui crime e indícios de autoria. No momento da propositura da ação penal não se exige a certeza, apenas indícios, pois se deve aplicar o in dubio pro societate. 1. SÃO REQUISITOS DA DENÚNCIA (art. 77 do CPPM): a) a designação do juiz a que se dirigir; b) o nome, idade, profissão e residência do acusado, ou esclarecimentos pelos quais possa ser qualificado; DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 26 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR A qualificação do acusado, que são os esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo. c) o tempo e o lugar do crime; Para se poder aplicar as regras de competência, prescrição e aplicação da lei penal em geral. d) a qualificação do ofendido e a designação da pessoa jurídica ou instituição prejudicada ou atingida, sempre que possível; e) a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias; A exposição do fato ou descrição do fato é a parte fundamental da denúncia. O acusado se defende do fato descrito na denúncia, razão pela qual tem que ser clara, concisa e completa. Incluir necessariamente na descrição do fato o verbo nuclear do tipo penal, uma vez que o fato delituoso em que se baseia a pretensão é que fixa o objeto da decisão do órgão judiciário, ou seja, o julgador não poderá decidir além dos limites definidos na denúncia. Ementa: EMBARGOS INFRINGENTES CONTRA ACÓRDÃO QUE MANTEVE DECISÃO DE 1º GRAU DE REJEIÇÃO DE DENÚNCIA. FALSIDADE DE DOCUMENTO (ART. 311 DO CPM). FALTA DE JUSTA CAUSA.INÉPCIA DA DENÚNCIA. AUSÊNCIA DA MATERIALIDADE. 1. Quando o falso perpetrado é grosseiro e perceptível ictu oculi, revela incapacidade objetiva de iludir a boa-fé ou causar dano, o que retira a justa causa da ação penal, mormente quando o documento apresentado é inexistente. Precedentes. 2. "É inepta a denúncia que, deixando de descrever a conduta do acusado, bem como os fatos supostamente típicos a ele imputados, inviabiliza o pleno exercício do direito constitucional da ampla defesa". Precedente do STJ (Resp 201259/SP). 3. O crime de falsidade documental deixa vestígio e, como tal, exige a produção de prova técnica para a deflagração da ação penal, ainda mais quando ausentes quaisquer outros elementos de convicção da ilicitude do fato imputado. 4. Negado provimento aos embargos. Decisão por maioria. STM EMBARGOS (FO),Num: 2003.01.007064-1 UF: RJ,Data da Publicação: 17/10/2003. f) as razões de convicção ou presunção da delinquência; g) a classificação do crime; É a capitulação legal ao tipo penal incurso. Esta classificação tem que se adequar com a descrição do fato, no entanto, capitulação errônea não é suficiente para afastar o recebimento da denúncia, pois o acusado se defende dos fatos e não da capitulação legal. EMENTA: RECURSO CRIMINAL. REJEIÇÃO DE DENÚNCIA.TIPO PENAL DESCRITO NA EXORDIAL ACUSATÓRIA. DESNECESSIDADE DE PERFEITO AJUSTAMENTO AOS FATOS ILÍCITOS, EM TESE. A indicação do preceito primário da norma penal, que à primeira vista pareça desajustada aos fatos narrados, não constitui óbice ao recebimento da denúncia sob o enfoque de impossibilidade jurídica do pedido, uma vez que o denunciado se defende dos fatos ali apontados e não do tipo penal mencionado. Prevalência do secular provérbio "narra mihi factum dabo tibi jus." Denúncia recebida DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 27 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR pela Corte, com baixa dos autos à instância de origem, para prosseguimento do feito. Decisão unânime. (RECURSO CRIMINAL Nº 2003.01.007078-3 - RJ - Relator Ministro HENRIQUE MARINI E SOUZA. Sessão de 20.05.03.) h) o rol das testemunhas, em número não superior a seis, com a indicação da sua profissão e residência; e o das informantes com a mesma indicação. O rol de testemunhas poderá ser dispensado, se o Ministério Público dispuser de prova documental suficiente para oferecer a denúncia. Como diz a lei: o rol de testemunhas poderá ser dispensado. Ou seja, podem existir circunstâncias em que ele não seja de forma alguma necessário, como,por exemplo, prova documental suficiente. 2. A DENÚNCIA SERÁ REJEITADA PELO JUIZ-AUDITOR (art. 78 do CPPM): a) se não contiver os requisitos expressos comentados anteriormente; b) se o fato narrado não constituir evidentemente crime da competência da Justiça Militar; c) se já estiver extinta a punibilidade em qualquer das hipóteses do art. 123 do CPM; d) se for manifesta a incompetência do juiz ou a ilegitimidade do acusador. EMENTA: Habeas corpus - Trancamento da ação penal. Denúncia que atribui ao paciente conduta que tipificou como "homicídio doloso qualificado em sua forma tentada" ao arrepio da prova dos autos. - Inexistência sequer de conduta culposa ou até mesmo de contravenção disciplinar. Exercício real de resgate em que só participam militares altamente qualificados. Reconhecimento pelas próprias autoridades militares de que o resultado lesivo a um dos participantes do exercício deveu-se à "imperfeição na maneira como vinha sendo executado o adestramento específico do grupo especial de retomada e resgate", determinando a revisão de todos os procedimentos técnicos e de segurança. - Denúncias desse porte devem ser de pronto repelidas sob pena de desmoralização do próprio Judiciário sem falar nas sequelas morais e profissionais que podem causar ao oficial indevidamente denunciado. Habeas corpus conhecido por unanimidade de votos e concedido o writ para trancar a ação penal por falta de justa causa. Decisão majoritária. (STM RCR. 2002.01.00693-9, REL MIN CARLOS ALBERTO MARQUES SOARES, DJ 27.6.2002.) EMENTA: HABEAS CORPUS. PACIENTE CONDENADO POR INFRAÇÃO AO ART. 235 DO CPM. ALEGADA NULIDADE DA CONDENAÇÃO, POR TER COMO ÚNICO FUNDAMENTO DEPOIMENTOS COLHIDOS NO INQUÉRITO, PRESTADOS POR OUTROS ACUSADOS NA CONDIÇÃO DE TESTEMUNHAS, SEM A RESSALVA DO ART. 5º, INCISO LXIII, DA CF. PEDIDOS ALTERNATIVOS DE INÉPCIA DA DENÚNCIA E DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO NA DOSIMETRIA DA PENA APLICADA. Caso em que o julgado da Corte castrense fez várias referências a outros elementos de convicção que teriam contribuído para validar as provas colhidas no Inquérito Policial Militar, não restando, portanto, dúvidas quanto à utilização de outras provas para respaldar a condenação, que não os depoimentos prestados na fase inquisitorial. Impossibilidade de, em sede de habeas corpus, imiscuir-se no mérito da suficiência ou não das demais provas reputadas DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 28 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR bastantes para a condenação pelo Tribunal a quo. Alegação de inépcia da denúncia que, além de manifestamente improcedente - já que a inicial preenche os requisitos do art. 77 do CPPM, atendendo perfeitamente à finalidade a que se destina -, somente foi suscitada posteriormente à condenação e ao julgamento dos embargos infringentes. Assim, é de se entender preclusa a questão, na linha da remansosa jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal. Precedentes. Prejuízo da questão relativa à ausência de fundamentação quanto à pena aplicada, diante da posterior diminuição da reprimenda, fixada em definitivo no mínimo legal previsto para a espécie. Habeas corpus indeferido. HC 84316 / MG, Relator: Min. CARLOS BRITTO,DJ 17-09-2004. EMENTA: RECURSO CRIMINAL. REJEIÇÃO DE DENÚNCIA FUNDAMENTADA EM DEPOIMENTOS E ANÁLISE DE MÉRITO. Preenchendo a denúncia os requisitos do artigo 77 do CPPM, deve o Juiz-Auditor recebê-la. Na Justiça Militar é defeso ao Magistrado analisar provas e mérito do processo para o recebimento da denúncia. Provas e mérito devem ser analisados quando do julgamento da ação penal, pelo Conselho de Justiça, que é o Órgão da Justiça Militar competente. Recurso Criminal parcialmente provido. Decisão unânime. STM (RECURSO CRIMINAL n° 2002.01.006986-6 RJ Decisão: 11/10/2002- Rel. Min. JOSÉ LUIZ LOPES DA SILVA). Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. NÃO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. ADEQUAÇÃO TÍPICA DO ART. 9º DO CPM. 1. Ofensa à dignidade de civil praticada por miliciano da ativa, de folga, em lugar não sujeito à administração militar, não encontra moldura nos critérios caracterizadores de crime militar. 2. Para a caracterização do ilícito penal militar a conduta, embora descrita na parte especial do Código Penal Militar, necessita de complementação de tipicidade de que trata o art. 9º do CPM – a denominada tipicidade indireta. 3. Não se verificando a devida adequação típica complementar, para definir uma conduta como crime militar, impõe-se o não recebimento da denúncia por não constituírem crimes militares as condutas narradas na peça incoativa estatal. 4. Recurso improvido. Decisão unânime. (TJM/RS. Recurso em Sentido Estrito n.º 1644-98.2012.9.21.0000. Relator: Juiz-Cel. Paulo Roberto Mendes Rodrigues. Sessão de 27/07/2012) Ementa: EMBARGOS INFRINGENTES. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. PROVA DA MATERIALIDADE. INDÍCIOS DE AUTORIA. EXCLUDENTES DE ILICITUDE. ESTREME DE DÚVIDAS. NÃO OCORRÊNCIA. EMBARGOS ACOLHIDOS. UNÂNIME. O recebimento da denúncia exige apenas a presença de prova da materialidade (crime material) ou da existência do fato (crime formal ou de mera conduta) e indícios de autoria, não requerendo um exame aprofundado da participação dos denunciados no fato descrito na inicial acusatória, questão a ser analisada na sentença, após a instrução do processo. O reconhecimento de causas excludentes da ilicitude, entre elas a legítima defesa, enseja o afastamento da antijuridicidade penal. Todavia, somente é cabível quando estreme de dúvidas, o que não se revela nesta fase processual. No caso em tela, tem-se que o caderno investigatório militar, meramente inquisitivo, está destituído das garantias do contraditório e da ampla defesa. Embora existam alguns indicativos de ação em legítima defesa, não há a certeza necessária capaz de autorizar o reconhecimento da excludente da antijuridicidade da conduta. Embargos acolhidos. Unanimidade. (461- 2012, Juiz Fernando Guerreiro de Lemos, Embargos Infringentes e de Nulidade) No caso de ausência de requisitos formais, o juiz, antes de rejeitar a denúncia, mandará, em despacho fundamentado, remeter o processo ao órgão do Ministério Público para que, dentro do prazo de três dias, contados da data do recebimento dos autos, sejam preenchidos os requisitos que não o tenham sido. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 29 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: Recurso Criminal. Complementação de denúncia. Não conhecimento do pedido. Recurso contra decisão que, antes de rejeitar a denúncia, devolve os autos ao 'parquet' para complementar a peça acusatória. Inviabilidade do conhecimento do pleito como recurso em sentido estrito, diante da falta de previsão legal no estatuto processual castrense quanto à possibilidade de a decisão em 'commentu' ser objeto de impugnação por meio da via eleita. Preliminarmente o tribunal não conheceu do pedido como recurso, por falta de previsão legal, determinando a devolução do feito ao juízo 'a quo' para produzir despacho delibatório. Decisão unânime STM (RECURSO CRIMINAL n° 1995.01.006236-5 - RJ Ministro Relator ANTONIO CARLOS DE NOGUEIRA sessão em 12/12/1995). No caso de ilegitimidade do acusador, a rejeição da denúncia não obstará o exercício da ação penal, desde que promovida depois por acusador legítimo, a quem o juiz determinará a apresentação dos autos. No caso de incompetência do juiz, este a declarará em despacho fundamentado, determinando a remessa do processo ao juiz competente. Ementa: RECURSO CRIMINAL. COMPETÊNCIA. FASE INQUIRITÓRIA. FUNGIBILIDADE. Recurso interposto contra Decisão que não acolhe pretensão de declinatoria fori, na fase pré-processual, quando "O juiz penal exerce, ainda, funções anômalas, tais como fiscalizar o princípio da obrigatoriedade da ação penal (CPP, art.28), requisitar a instauração de inquérito (CPP, art. 5º, II), receber a notitia criminis (CPP, art. 39) e levá- la ao Ministério Público(CPP, art. 40) etc.". (Mirabete) Incomportável na espécie o tipo de recurso utilizado. Inaplicável, in casu, o princípio da fungibilidade. Recurso não conhecido. Decisão uniforme. RECURSO CRIMINAL (FO), Num: 2006.01.007330-8 UF: MG, Data da Publicação: 19/04/2006. EMENTA: ESTELIONATO. OFICIAL TEMPORÁRIO DO EXÉRCITO. OBTENÇÃO DE VANTAGEM ILÍCITA CONTRA O PATRIMÔNIO SOB A ADMINISTRAÇÃO MILITAR. CRIME EM TESE. REFORMA DA DECISÃO RECORRIDA. RESTABELECIMENTO DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. Impõe-se o recebimento da denúncia quando os fatos atribuídos ao acusado constituem, ainda que em tese, crime previsto no Código Penal Militar, com indícios suficientes de autoria e, ainda, com materialidade comprovada. A existência de tais circunstâncias é bastante para recomendar a apuração do ocorrido, em sede de instrução criminal, onde será facultado ao denunciado utilizar-se de todos os meios de prova em direito admitidos e do contraditório em toda a sua plenitude. O que não se pode aceitar é a obstrução da busca da verdade real, razão maior que norteia o processo penal. Provido o recurso ministerial para, reformando a decisão hostilizada, restabelecer a competência da JMU e receber a denúncia, determinando a baixa dos autos à Auditoria de origem para o prosseguimento do feito. Decisão unânime. STM (RECURSO CRIMINAL Nº 2003.01.007113-5 - RS - Relator Ministro SÉRGIO XAVIER FEROLLA. Sessão de 09/09/03). Não há necessidade de inquérito policial militar para oferecimento da denúncia se o membro do Ministério Público Militar, por outros meios, formou a sua opinio delicti com a prova do fato e indícios da autoria. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 30 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: Recurso Criminal: rejeição da Denúncia. 1. Não é essencial ao oferecimento da Denúncia a instauração de IPM, desde que a peça de acusação esteja amparada em documentos suficientes à caracterização da materialidade do crime e de indícios suficientes de autoria, mormente quando se trata de Sindicância elaborada com especial esmero e suficiente alcance apuratório. 2. Hipótese em que a Denúncia, em sua face formal, atende aos requisitos exigidos no CPPM e, em seu aspecto material, se revela assentada em peça investigatória sólida, a demonstrar o suficiente "fumus boni iuris" para o desencadeamento da ação penal. 3. Provimento ao Recurso, para, cassando a decisão "a quo", receber a denúncia e determinar o prosseguimento do feito no Juízo da 4ª Auditoria da 1ª CJM. Unânime. (RECURSO CRIMINAL n° 2001.01.006835-5/ RJ Rel. Min JOSÉ ENALDO RODRIGUES DE SIQUEIRA sessão em 19/06/2001). Partindo da premissa de que não é necessário inquérito policial militar para o oferecimento da denúncia, com muito mais razão pode a denúncia ser formulada com amparo em sindicância. EMENTA: HABEAS CORPUS. DENÚNCIA. AUSÊNCIA DE IPM. PROVAS EMPRESTADAS DE SINDICÂNCIA. POSSIBILIDADE. Pedido de habeas corpus para desconstituir decisão judicial de recebimento da denúncia, sob o fundamento de inexistência de IPM que dê suporte à Acusação. I - O Inquérito é procedimento meramente administrativo e informativo para a formação da opinio delicti do titular da ação penal, sendo até mesmo dispensável nos termos do artigo 28, alínea 'a', do CPPM. II - Possibilidade de aproveitamento de provas indiciárias colhidas em diligências realizadas na Sindicância instaurada por requisição do MPM, nos termos do art. 33, § 2º, do CPPM, e convertida em IPM, em face da presença de crime militar, em tese, sendo ratificados os atos antes praticados pelo mesmo oficial investigante. III - Segundo remansosa jurisprudência de nossos Tribunais, as eventuais irregularidades do inquérito não afetam a ação penal. Habeas Corpus conhecido e ordem denegada, por falta de amparo legal. Decisão unânime. (HABEAS CORPUS n° 2002.01.033715-6 DF - Rel. Min JOSÉ COÊLHO FERREIRA sessão em 30/04/2002). • O IPM não pode ser dispensado no caso de falso testemunho ou falsa perícia. Em decisão recente o Superior Tribunal Militar, seguindo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, entendeu que não pode o Ministério Público Militar ofertar denúncia com base em procedimento investigatório presidido pelo próprio órgão do Ministério Público. A questão é interessante. O Superior Tribunal de Justiça entende que pode. EMENTA. HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. SOLICITAÇÃO DE TRANSPORTE. INQUÉRITO PENAL INICIADO E PRESIDIDO PELO PRÓPRIO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. O Ministério Público teve reconhecida sua inegável importância na Constituição Federal. Tem incontáveis poderes, mas, conforme decidiu a Corte Suprema, dentre eles não estão o de instaurar e realizar procedimento investigatório criminal, com o escopo de colecionar informações que embasem uma denúncia. Ao dar início e praticar uma investigação criminal, ele mesmo, por sua própria iniciativa, na sede da Procuradoria da Justiça Militar em Fortaleza, fazendo requisições, intimações e tomadas de depoimentos, inclusive sem possibilidade alguma de qualquer tipo de participação na investigação criminal pela Defesa ou pelo DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 31 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Indiciado, e sem nenhum motivo para a não requisição da abertura de IPM à autoridade militar competente, o Órgão do Ministério Público agiu exorbitando de suas funções institucionais, não podendo, em consequência, ser recebida a denúncia oferecida com base em tal investigação, devendo ser trancada a ação penal. O art. 7º do CPPM dispõe sobre quem exerce a polícia judiciária militar. Ordem concedida para trancar o Processo nº 16/06-0, a que responde o Paciente, em curso na Auditoria da 10ª CJM, sem prejuízo de eventual instauração de inquérito policial militar se assim requisitar o Parquet ou a autoridade militar competente, e determinar a remessa de cópia do Acórdão ao Comando da Base Aérea de Fortaleza para as providências que entender cabíveis. Maioria. STM: Num: 2006.01.034226-5 UF: CE Decisão: Proc: HC, Data da Publicação: 29/09/2006. EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PROCESSUAL PENAL. PROCEDIMENTO INTERNO NO MINISTÉRIO PÚBLICO. PRETENSÃO DE ACESSO AOS AUTOS. PREJUDICIALIDADE. PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGALIDADE. INVESTIGAÇÃO. INOCORRÊNCIA. DENEGAÇÃO. 1. Desconstituído, em parte, o objeto da impetração heroica, em razão da concessão da ordem de habeas corpus impetrada no Supremo Tribunal Federal, é de se julgar, nesse tanto, prejudicado o writ. 2. O respeito aos bens jurídicos protegidos pela norma penal é, primariamente, interesse de toda a coletividade, sendo manifesta a legitimidade do Poder do Estado para a imposição da resposta penal, cuja efetividade atende a uma necessidade social. 3. Esta, a razão pela qual a ação penal é pública e atribuída ao Ministério Público, como uma de suas causas de existência. Deve a autoridade policial agir de ofício. Qualquer do povo pode prender em flagrante. É dever de toda e qualquer autoridade comunicar o crime de que tenha ciência no exercício de suas funções. Dispõe significativamente o artigo 144 da Constituição da República que "A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio". 4. Não é, portanto, da índole do direito penal a feudalização da investigação criminal na Polícia e a sua exclusão do Ministério Público. Tal poder investigatório, independentemente de regra expressa específica, é manifestação da própria natureza do direito penal, da qual não se pode dissociar a da instituição do Ministério Público, titular da ação penal pública, a quem foi instrumentalmente ordenada a Polícia na apuração das infrações penais. 5. Diversamente do que se tem procurado sustentar, como resulta da letra do seu artigo 144, a Constituiçãoda República não fez da investigação criminal uma função exclusiva da Polícia, restringindo-se, como se restringiu, tão somente a fazer exclusivo, sim, da Polícia Federal o exercício da função de polícia judiciária da União (parágrafo 1º, inciso IV). Essa função de polícia judiciária – qual seja, a de auxiliar do Poder Judiciário –, não se identifica com a função investigatória, isto é, a de apurar infrações penais, bem distinguidas no verbo constitucional, como exsurge, entre outras disposições, do preceituado no parágrafo 4º do artigo 144 da Constituição Federal, verbis: "§ 4º às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares." Tal norma constitucional, por fim, define, é certo, as funções das polícias civis, mas sem estabelecer qualquer cláusula de exclusividade. 6. O exercício desse poder investigatório do Ministério Público não é, por óbvio, estranho ao Direito, subordinando-se, à falta de norma legal particular, no que couber, analogicamente, ao Código de Processo Penal, sobretudo na perspectiva da proteção dos direitos fundamentais e da satisfação do interesse social. 7. "A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia." (Súmula do STJ, Enunciado nº 234). 8. Em inexistindo investigação criminal promovida pelo Ministério Público Federal, tratando o DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 32 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR expediente que nele tramita de "peças de informação enviadas pelo Banco Central com a finalidade de instruir eventual procedimento investigatório", sob exame de membro do Parquet para manifestação, descabe falar em constrangimento ilegal a ser reparado na via do remédio heroico. 9. Writ parcialmente prejudicado e denegado. STJ: HC 54719 / RJ, Relator: Ministro HAMILTON CARVALHIDO, DJ 06.08.2007. 3. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA A denúncia deverá ser oferecida, se o acusado estiver preso, dentro do prazo de cinco dias, contados da data do recebimento dos autos para aquele fim; e, dentro do prazo de quinze dias, se o acusado estiver solto. O Juiz deverá manifestar-se sobre a denúncia, dentro do prazo de quinze dias. 4. PRORROGAÇÃO DE PRAZO O prazo para o oferecimento da denúncia poderá, por despacho do juiz, ser prorrogado ao dobro, ou ao triplo, em caso excepcional e se o acusado não estiver preso. EMENTA: Habeas Corpus: Crime em tese; ausência de nulidades; presença do fumus boni iuris a permear a Denúncia. Não tendo ocorrido a prescrição da pretensão punitiva, a ação penal poderá ser proposta a qualquer tempo; descabimento da figura da preclusão. O oferecimento da Denúncia fora do prazo não gera preclusão, uma vez que se cuida, in casu, de um dever derivado do princípio da obrigatoriedade e firmemente assentado na lei; assim, tal demora constitui mera irregularidade, sujeitando apenas o representante do Parquet a eventuais penalidades. Também não acarreta preclusão o recebimento da Denúncia fora do prazo, uma vez que se trata, na espécie, de prazo impróprio; é que, por não ser o Magistrado parte no Processo, a sua atuação é sempre representativa do interesse superior do Estado em afirmar a Justiça, interesse este de tal grandeza que, como regra, não se curva diante do decurso do tempo. Tratando-se o Inquérito de peça de natureza administrativa e de sentido meramente informativo, a sua realização, embora sujeita às regras da lei, não impõe a observância dos princípios da ampla defesa e do contraditório. Não gera impedimento a conduta do Magistrado, que, tendo rejeitado o pedido de arquivamento, remete o IPM para o Procurador-Geral da Justiça Militar, uma vez que, na hipótese, procede ex vi legis, ou seja, nada mais faz do que dar consequência prática à disposição ínsita in fine do art. 397 do CPPM. É parte legítima para oferecer a Denúncia o Promotor designado pela Procuradoria-Geral da Justiça Militar, em substituição a outro precedentemente indicado. Na via estreita do Habeas Corpus, não é admissível o exame aprofundado da prova, com valoração singular e cotejo conjunto, de sorte a se decidir, de antemão e de logo, se o Paciente é culpado ou não da imputação que lhe foi feita pelo Parquet Militar; presença, in casu, do fumus boni iuris a permear e a justificar o Opinio Delicti. Habeas Corpus conhecido e denegada a Ordem, por falta de amparo legal. Unânime. STM Proc: HC, Num: 2002.01.033760-1 UF: SP, Data da Publicação: 08/10/2002. O Juiz deverá manifestar-se sobre a denúncia, dentro do prazo de quinze dias, podendo o Ministério Público interpor mandado de segurança devido a sua inércia. Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. IMPETRAÇÃO POR MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. DENÚNCIA. LIQUIDEZ E CERTEZA À OBTENÇÃO DA PRESTAÇÃO DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 33 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR JURISDICIONAL. INÉRCIA DO JUIZ. O Ministério Público tem legitimidade "ad causam" para impetrar mandado de segurança nas questões processuais penais, quando inexistir recurso específico, porque é parte na relação jurídica processual. O Juiz-Auditor deverá se manifestar sobre a denúncia oferecida no prazo de quinze dias (art. 79, "in fine", do CPPM). Como titular da ação penal pública incondicionada detém o Ministério Público direito líquido e certo de ver apreciada sua pretensão deduzida na denúncia, no prazo estabelecido na legislação específica. A inércia injustificada do Juiz para se manifestar sobre o pedido constitui recusa à prestação jurisdicional. Segurança concedida. Decisão unânime. STM Proc: MS Num: 2001.01.000579-0 UF: PR, Data da Publicação: 14/05/2001. Prazos Conclusão do inquérito Oferecimento da denúncia Justiça Estadual 10 dias – réu preso 30 dias – réu solto 5 dias – réu preso 15 dias – réu solto Justiça Federal (art. 66 da Lei 5.010/66) 15 dias – réu preso (pode ser prorrogado por mais 15 dias) 30 dias – réu solto 5 dias - réu preso 15 dias - réu solto Justiça militar 20 dias – réu preso 40 dias – réu solto 5 dias – réu preso 15 dias – réu solto – Pode ser prorrogado ao dobro; ou ao triplo, em caso excepcional e se o acusado não estiver preso. Do não recebimento ou da rejeição da denúncia cabe recurso em sentido estrito e do recebimento habeas corpus. SSUUJJEEIITTOOSS NNOO PPRROOCCEESSSSOO O processo, instrumento destinado para a resolução do conflito (agente que pratica crime, fato típico antijurídico e culpável) no caso concreto, pressupõe a existência de três sujeitos: o autor, o réu e o juiz. Além desses sujeitos principais, que representam a relação processual no processo (uma vez realizada a citação válida), há os denominados sujeitos acessórios, os quais não são indispensáveis para a constituição da relação jurídica processual, tais como os auxiliares da justiça e o assistente da acusação. Veremos todos a seguir: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 34 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 1. DO JUIZ O juiz tem o poder-dever de dizer o direito (jurisdição), e a competência é a limitação deste poder-dever. A jurisdição em abstrato todos os juízes possuem, desde que legalmente investidos no cargo, e a competência é em concreto, no caso específico, que tem seu regramento no art. 9º do CPM (desenvolvido no livro Penal Militar); sua competência interna, que será estudada a seguir, regrada no CPPM e agora a competência do juiz-auditor na Lei 8.457/92. Vale lembrar, conforme a alteração pela Emenda Constitucional nº 45, nas Auditorias Militares Estaduais não existe mais a denominação juiz-auditor e sim juiz de direito, conforme o art. 124, § 3º, da Constituição Federal. O ingresso na Magistraturase fará por concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases. Os juízes possuem as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídio, em contrapartida, possuem vedações do exercício de outro cargo ou função, do recebimento de custas ou participação em processo e da dedicação à atividade político- partidária. O juiz, singular ou colegiado (conselhos permanente ou especial), no exercício de sua função, goza de independência, está subordinado à lei e à sua consciência, deve decidir de acordo com seu entendimento e a prova dos autos. A função do juiz é, portanto, substituir a vontade das partes, pondo fim ao conflito (cometimento do crime), com o objetivo de alcançar a paz social. Para que o juiz possa exercer validamente a atividade jurisdicional deve possuir capacidade funcional ou investidura (jurisdição), capacidade processual (competência) e imparcialidade. Existem três gêneros de situações que afastam o magistrado do processo, porquanto evidenciam a ausência de imparcialidade: Para que possa exercer a sua competência no caso concreto, deve-se observar, ainda, se não há suspeição, impedimento e incompatibilidade. 1.1 SUSPEIÇÃO (art. 38 do CPPM) É O VÍNCULO DO JUIZ COM AS PARTES O juiz dar-se-á por suspeito e, se o não fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: a) se for amigo íntimo ou inimigo de qualquer delas; b) se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, de um ou de outro, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; c) se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo ou afim até o segundo grau inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; d) se ele, seu cônjuge, ou parente, a que alude a alínea anterior, sustentar demanda contra qualquer das partes ou tiver sido procurador de qualquer delas; e) se tiver dado parte oficial do crime; f) se tiver aconselhado qualquer das partes; g) se ele ou seu cônjuge for herdeiro presuntivo, donatário ou usufrutuário de bens ou empregador de qualquer das partes; h) se for presidente, diretor ou administrador de sociedade interessada no processo; i) se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes. Tem regramento próprio em relação à suspeição entre adotante e adotado ou por afinidade (arts. 39 e 40). A suspeição entre adotante e adotado será considerada nos mesmos termos da resultante entre ascendente e descendente, mas não se estenderá aos respectivos parentes e cessará no caso de se dissolver o vínculo da adoção. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 35 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Já a suspeição ou impedimento decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que lhe deu causa, salvo sobrevindo descendentes. Mas, ainda que dissolvido o casamento, sem descendentes, não funcionará como juiz o parente afim em primeiro grau na linha ascendente ou descendente ou em segundo grau na linha colateral, de quem for parte do processo. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida quando a parte injuriar o juiz, ou de propósito der motivo para criá-la. EMENTA. CORREIÇÃO PARCIAL. Juiz-Auditor que, dando-se por suspeito de atuar com Defensor Público, ao invés de remeter os autos ao substituto legal, com intimação das Partes, nomeia advogado dativo para atuar no Processo. Preliminar de não conhecimento por intempestividade rejeitada, à unanimidade, uma vez que o prazo para o oferecimento de correição parcial deve ser contado a partir da ciência do ato. Preliminar de ilegitimidade do MPM rejeitada por maioria, uma vez que o Parquet Militar, como fiscal da lei, tem legitimidade para insurgir-se contra procedimento que julgue incorreto e desconforme com o direito. No mérito, pleito correicional deferido para que sejam anulados os atos decisórios praticados pelo Magistrado a partir da data em que se considerou suspeito, determinando-se a remessa dos autos, se for o caso, ao Juiz-Auditor Substituto para prosseguimento do feito. Unânime. STM Num: 2005.01.001915-9 UF: PR. Proc: Cparcfe - CORREIÇÃO PARCIAL (FE). Data da Publicação: 02/06/2006. Ementa: Suspeição de Juiz-Auditor. Exceção não conhecida. Intempestividade. No CPPM, o momento de opor Exceção de Suspeição do Juiz é após o interrogatório e dentro de quarenta e oito horas (art. 407 do Código citado). Não se conhece da Exceção de Suspeição do Juiz-Auditor, no caso, arguida após a apresentação das Alegações Escritas, se a manifestação deste, considerada como conselho ao réu, motivo da suposta suspeição, se deu por ocasião do interrogatório do acusado. Preliminar acolhida. Exceção não-conhecida por intempestiva. Decisão unânime. STM Num: 2005.01.000021- 2 UF: CE - ARGUIÇÃO DE SUSPEIÇÃO. Data da Publicação: 18/08/2005. 1.2 IMPEDIMENTO (art. 37 do CPPM) é o vínculo do juiz com o processo; são “incompatibilidades” objetivas e vedam o juiz de exercer a competência no caso específico. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: a) como advogado ou defensor, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar de justiça ou perito, tiver funcionado seu cônjuge, ou parente consanguíneo ou afim até o terceiro grau inclusive; b) ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha; c) tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; d) ele próprio ou seu cônjuge, ou parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, for parte ou diretamente interessado. Serão considerados inexistentes os atos praticados por juiz impedido. EMENTA: Apelação - peculato. Impedimento. Ministro que funcionou no caso como autoridade policial. Preliminares defensivas. Cerceamento de defesa e nulidade processual. Conduta delituosa desclassificada em sede de alegações escritas da acusação. Franqueada oportunidade de defesa e contraditório. Impossibilidade de aplicação subsidiária do artigo 384 do código de Processo Penal Comum. Ausência de omissão na lei processual castrense. Laudo pericial. Ausência de nulidade. Estrita DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 36 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR observância das formalidades legais. Pedido de nomeação de terceiro perito devidamente apreciado em julgamento pelo conselho de justiça. Autoria e materialidade provadas. Recurso do ministério público. Semi-imputabilidade comprovada. Manutenção da redução da pena. Condenação de praça a pena privativa de liberdade superior a dois anos implica aplicação de pena acessória de exclusão do serviço ativo. Artigo 102 do código penal militar. 1. Ministério Público e defesa insurgem-se contra decisão do Conselho Permanente, que condenou 2º Sargento da Aeronáutica à pena de dois anos e quatro meses de reclusão, pela prática do crime de peculato. 2. Impedimento de Ministro que atuou como autoridade policial, no início da persecução. Artigo 37, alínea "b", do Código de Processo Penal Militar. 3. Recurso defensivo. Preliminares. A desclassificação da conduta para o crime de peculato, em sede de alegações escritas do Ministério Público, não implicou cerceamento de defesa. Está fartamente demonstrado que a defesa teve inúmeras oportunidades de refutar a tese acusatória. Não há omissão da lei adjetiva militar a justificar a aplicação subsidiária do art. 384 do Código de Processo Penal comum. Aplicação do art. 437, alínea "a", do CPPM. 4. Não houve nulidade processual durante a instrução, por inobservância de formalidades legais. A pretensão da defesa, no sentido de que fosse nomeado terceiro perito, não pode ser acolhida, eis que ausente a divergência exigida pelo artigo 322 do Código de Processo Penal Militar. Os peritos que lavraram o laudo apresentaram conclusão concordante. Inocorrência,ademais, de qualquer impedimento da Juíza- Auditora. 5. Autoria e materialidade estão provadas. O recurso não merece provimento. A acusada serviu-se da função desempenhada junto à Administração Militar para cometer o ilícito penal. 6. Recurso ministerial. A redução da pena é direito da acusada, ante a prova concreta da semi-imputabilidade. Artigo 48 do Código Penal Militar. Condenação de praça a pena privativa de liberdade superior a dois anos importa exclusão das Forças Armadas. Artigo 102 do Código Penal Militar. 7. Preliminares rejeitadas. Recurso defensivo improvido, por maioria. 8. Recurso ministerial parcialmente provido, para que seja aplicada à acusada a pena acessória de exclusão das Forças Armadas. STM Num: 2003.01.049387-5 UF: SP Proc: Apelfo - APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 28/01/2005. Uma vez formado o Conselho Permanente ou Especial de Justiça, a estes competem o julgamento de arguição de impedimento suscitado pelas partes se este não se declarar de ofício. EMENTA: A competência para apreciar a arguição de impedimento dos juízes, em 1ª instância, é do Conselho Permanente de Justiça, ex vi do que dispõe o art. 28, inciso V, da Lei 8.457, de 04/09/1992. Despacho monocrático do Ministro-Relator. Competência do Plenário para determinar tal providência. Tratando-se de matéria de ordem pública, são declarados nulos o despacho do Ministro-Relator e as decisões do Juiz-Auditor e do Conselho Permanente de Justiça. Baixa dos autos para que nova decisão seja proferida pelo Conselho Permanente de Justiça. Decisão por maioria de votos. Num: 2002.01.001811-8 UF: AM. CORREIÇÃO PARCIAL (FO). Data da Publicação: 13/06/2002. Tanto a suspeição, quanto o impedimento e a incompatibilidade se aplicam ao juiz-auditor e aos juízes militares, juízes de fato. EMENTA: Correição Parcial - Nulidade de atos processuais em que teriam participado juízes impedidos que atuaram como peritos na fase provisional. Um funcionou no 1º DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 37 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR trimestre e outro no 3º trimestre. Atos meramente instrutórios. O artigo 509 da Lei Adjetiva Castrense resolve a "quaestio". Nenhuma sentença foi proferida tendo o Conselho em sua composição tais juízes. Indeferida a Correição Parcial por falta de amparo legal. Decisão unânime. STM Num: 2002.01.001837-1 UF: AM Decisão: 17/10/2002. -CORREIÇÃO PARCIAL (FO). Data da Publicação: 06/12/2002. Ementa. Petição. Redistribuição do feito. Declaração de impedimento. A rejeição da denúncia, com o argumento de que a conduta imputada é atípica, não desobriga o autor do despacho de continuar na condução do processo, caso sua decisão seja reformada, em grau de recurso, com a determinação de prosseguimento da instrução criminal no juízo de origem. Em face desse entendimento, não é razoável a redistribuição do feito. (Precedente: Correição Parcial 1.796-0/PR) Não tem amparo a declaração de impedimento com base na alínea "c" do art. 37 do CPPM, se o juiz não funcionou no processo em outra instância da Justiça Militar da União, senão a primeira, onde ainda exerce jurisdição. As causas de impedimento são taxativas, não admitindo interpretação extensiva. A convicção íntima do magistrado sobre a tipicidade penal de determinada conduta é inerente à função judicante e não compromete sua imparcialidade. (Precedente: Petição 455-2/DF) Os princípios do juiz natural e da indeclinabilidade da jurisdição não podem ser maculados por modificação de competência que aflore da incapacidade subjetiva decorrente de suspeição ou impedimento não previstos em lei. (Precedente: Petição 461-7/RJ) Petição conhecida para, cassando as decisões de fls. 39 (redistribuição) e 41/42 (declaração de impedimento), determinar a baixa dos autos à Auditoria de origem, para o imediato cumprimento do acórdão proferido no Recurso Criminal nº 6.795-2/PR, em 24/04/2001, devendo funcionar no Processo o Juiz-Auditor ao qual coube o feito por distribuição, e o Juiz-Auditor Substituto, nos casos de substituição previstos no Capítulo VII, Título V, da Lei nº 8.457/92, determinando, ainda, a remessa de cópia da presente Petição e do acórdão à Presidência do STM. Decisão unânime. Num: 2001.01.000466-8 UF: PR. - PETIÇÃO (FO) Cód. 230. Data da Publicação: 05/11/2001 Vol: 07601-06 Veículo: DJ. 1.3 INCOMPATIBILIDADES (Lei 8.457/92, art. 61) são hipóteses decorrentes de vínculo de parentesco existente entre os sujeitos processuais. Não podem servir, conjuntamente, os magistrados, membros do Ministério Público e advogados que sejam entre si cônjuges, parentes consanguíneos ou afins em linha reta, bem como em linha colateral, até o terceiro grau, e os que tenham vínculo de adoção. Vale lembrar que não pode ser arguida exceção de impedimento e suspeição da autoridade judiciária militar. EMENTA. HABEAS CORPUS. IPM. IMPEDIMENTO DE POLÍCIA JUDICIÁ-RIA MILITAR. DEVIDO PROCESSO LEGAL. Não há falar em impedimento ou suspeição da Autoridade policial. Precedentes do STF. Inconfundíveis o processo administrativo ou o processo administrativo disciplinar com o Inquérito Policial Militar. O processo administrativo é um conjunto de atos coordenados que se destina à solução de controvérsias no âmbito administrativo; e o processo administrativo disciplinar é o meio de apuração e punição de faltas graves dos servidores públicos. Já o Inquérito Policial Militar é procedimento policial - instrução provisória, preparatória, informativa - destinada à coleta de elementos que permitam ao MPM formar a opinio delicti para a propositura da ação penal. Os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa que informam os processos judicial e administrativo não incidem sobre o IPM (doutrina e jurisprudência). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 38 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Ordem denegada por falta de amparo legal. Unânime. STM Num: 2003.01.033828-4 UF: AM Decisão: 26/08/2003. Proc: HC - HABEAS CORPUS. Data da Publicação: 17/09/2003. A Competência do juiz-auditor vem disciplinada no art. 30 e incisos, da Lei 8457/92. Art. 30. Compete ao Juiz-Auditor: I - Decidir sobre recebimento de denúncia, pedido de arquivamento, de devolução de inquérito e representação; II - Relaxar, quando ilegal, em despacho fundamentado, a prisão que lhe for comunicada por autoridade encarregada de investigações policiais; III - manter ou relaxar prisão em flagrante, decretar, revogar e restabelecer a prisão preventiva de indiciado, mediante despacho fundamentado em qualquer caso; IV - Requisitar de autoridades civis e militares as providências necessárias ao andamento do feito e esclarecimento do fato; V - Determinar a realização de exames, perícias, diligências e nomear peritos; VI - Formular ao réu, ofendido ou testemunha suas perguntas e as requeridas pelos demais juízes, bem como as requeridas pelas partes para serem respondidas por ofendido ou testemunha; VII - relatar os processos nos Conselhos de Justiça e redigir, no prazo de oito dias, as sentenças e decisões; VIII - proceder ao sorteio dos conselhos, observado o disposto nos arts. 20 e 21 da Lei 8457/92; IX - Expedir alvará de soltura e mandados; X - Decidir sobre o recebimento de recursos interpostos; XI - executar as sentenças, inclusive as proferidas em processo originário do Superior Tribunal Militar, na hipótese prevista no § 3° do art. 9° desta lei; XII - renovar, de seis em seis meses, diligências junto às autoridades competentes, para captura de condenado; XIII - comunicar, à autoridade a que estiver subordinado o acusado, as decisões a ele relativas; XIV - decidir sobre livramento condicional; XV - Revogar o benefício da suspensão condicional da pena; XVI - remeter à Corregedoria da Justiça Militar, no prazo de dez dias, os autos de inquéritos arquivados e processos julgados, quando não interpostos recursos; XVII- encaminhar relatório ao Presidente do Tribunal, até o dia trinta de janeiro, dos trabalhos da Auditoria, relativos ao ano anterior; XVIII - instaurar procedimento administrativo quando tiver ciência de irregularidade praticada por servidor que lhe é subordinado; XIX - aplicar penas disciplinares aos servidores que lhe são subordinados; XX - Dar posse, conceder licenças, férias e salário-família aos servidores da Auditoria; DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 39 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR XXI - autorizar, na forma da lei, o pagamento de auxílio-funeral de magistrado e dos servidores lotados na Auditoria; XXII - distribuir alternadamente, entre si e o Juiz-Auditor Substituto e, quando houver, o Substituto de Auditor estável, os efeitos aforados na Auditoria, obedecida a ordem de entrada; XXIII - cumprir as normas legais relativas às gestões administrativa, financeira e orçamentária e ao controle de material; XXIV - praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei. Parágrafo único. Compete ao Juiz-Auditor Substituto praticar todos os atos enumerados neste artigo, com exceção dos atos previstos nos incisos VIII, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI, XXII e XXIII, que lhes são deferidos somente durante as férias e impedimentos do Juiz- Auditor. 2. DO MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. O processo penal moderno, em razão do caráter acusatório (Esta-do-Acusador, Estado-Juiz e Estado-Defesa) exige que a função de acusação seja de um órgão independente do Estado-Julgador. Uma vez ferido o preceito legal primário (cometimento de crime) surge para o Estado o dever-poder de punir, no entanto a titularidade da ação para a punição deste infrator, regra geral, é pública incondicionada, tendo como titular privativo o Ministério Público Militar. Obs. Não há ação penal privada na justiça militar, exceto a privada subsidiária da pública, quando houver inércia do Ministério Público em intentar a ação penal. A Constituição Federal, em seu art. 129, I, atribuiu ao Ministério Público a função de exercer privativamente a ação penal pública. O Ministério Público Militar é, portanto, regra geral, o titular da ação penal pública, atuando como parte e como fiscal da correta aplicação da lei. Vale lembrar que o Ministério Público Militar é integrante do Ministério Público da União e seus membros possuem foro privilegiado, nos termos do art. 108, I, “a”, da Constituição Federal, sendo processados e julgados no Tribunal Regional Federal da Região em que estiverem lotados, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral, em que serão julgados no Tribunal Regional Eleitoral do Estado em que tiverem lotados. Ex.1: Membro do Ministério Público Militar da União lotado em Porto Alegre/RS que cometer crime comum ou de responsabilidade será julgado no TRF da 4ª Região. Se cometer crime eleitoral, será julgado no TRE/RS. Ex.2: Membro do Ministério Público Militar da União lotado em Curitiba/PR que cometer crime comum ou de responsabilidade será julgado no TRF da 4ª Região. Se cometer crime eleitoral, será julgado no TRE/PR. A mesma regra vale para o juiz-auditor. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 40 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 2.1 GARANTIAS Os membros do Ministério Público Militar possuem as mesmas garantias dos magistrados: 1) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado; 2) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, por voto de dois terços de seus membros, assegurada ampla defesa; 3) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º, I. 2.2 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. A estrutura do Ministério Público Militar, além da regulamentação disposta na Constituição Federal, arts. 127 a 130, vem definida na LC nº 75/93. Trazemos apenas alguns exemplos de ATRIBUIÇÕES, do Ministério Público Militar, que não tem competência e sim atribuição. Compete ao Ministério Público Militar o exercício das seguintes atribuições nos órgãos da Justiça Militar: I - promover, privativamente, a ação penal pública; II - promover a declaração de indignidade ou de incompatibilidade para o oficialato; III - manifestar-se em qualquer fase do processo, acolhendo solicitação do juiz ou por sua iniciativa, quando entender existente interesse público que justifique a intervenção. Ainda, incumbe ao Ministério Público Militar: I - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial-militar, podendo acompanhá-los e apresentar provas; II - exercer o controle externo da atividade da polícia judiciária militar. O Ministério Público tem como prerrogativa a intimação pessoal, no entanto a jurisprudência dominante, que continua entendendo que faz jus a esta prerrogativa, menciona que a contagem inicial do prazo se dará com a carga ou remessa dos autos para a Instituição e não com a data do ciente acostado nos autos. Ex.: O processo é remetido da Auditoria Militar para o Ministério Público Militar no dia 01/ 10 e o integrante do Ministério Público Militar dá o seu “ciente” nos autos no dia 10/10. A contagem do prazo do Ministério Público Militar iniciará no dia 01/10. EMENTA: A Turma, tendo em conta que a eficácia do lançamento do “ciente” pelo representante do parquet como termo inicial do prazo recursal pressupõe a ausência de outra intimação pessoal, anterior, que, per si, baste para consumar o ato, deferiu habeas corpus para, reconhecendo a intempestividade de embargos de declaração opostos pelo Ministério Público Federal, anular o julgamento destes e, em consequência, restabelecer o acórdão embargado, que não conhecera de recurso especial. Considerou-se que, na espécie, deveria prevalecer, para efeito de contagem de início de prazo recursal, a data constante de certidão, não contestada, e lavrada pela Coordenadoria da 6ª Turma do DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 41 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR STJ, na qual certificado que o membro do MPF fora devidamente intimado, na pessoa de seu representante legal. Ademais, afirmou-se que essa intimação deveria preponderar, inclusive, em relação a que é realizada mediante entrega do processo em setor administrativo do Ministério Público, formalizada a carga pelo servidor. Precedente citado: (STF HC 83255/SP (DJU de 12.3.2004). HC 83915/SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 19.4.2005). EMENTA DIREITO INSTRUMENTAL - ORGANICIDADE. As balizas normativas instrumentais implicam segurança jurídica, liberdade em sentido maior. Previstas em textos imperativos, hão de ser respeitadas pelas partes, escapando ao critério da disposição. INTIMAÇÃO PES-SOAL - CONFIGURAÇÃO. Contrapõe-se à intimação pessoal a intimação ficta, via publicação do ato no jornal oficial, não sendo o mandado judicial a única forma de implementá-la. PROCESSO - TRATA-MENTO IGUALITÁ-RIO DAS PARTES. O tratamento igualitário das partes é a medula do devido processo legal, descabendo, na via interpretativa, afastá-lo, elastecendo prerrogativa constitucionalmente aceitável. RECURSO - PRAZO – NATUREZA. Os prazos recursais são peremptórios. RECURSO - PRAZO - TERMO INICIAL - MINISTÉRIO PÚBLI-CO. A entrega de processo em setor administrativo do Ministério Público, formalizada a carga pelo servidor, configura intimação direta, pessoal, cabendo tomar a data em que ocorrida como a da ciência da decisão judicial. Imprópriaé a prática da colocação do processo em prateleira e a retirada à livre discrição do membro do Ministério Público, oportunidade na qual, de forma juridicamente irrelevante, apõe o "ciente", com a finalidade de, somente então, considerar-se intimado e em curso o prazo recursal. Nova leitura do arcabouço normativo, revisando-se a jurisprudência predominante e observando-se princípios consagradores da paridade de armas. (STF HC 83255, Rel. Min. Marco Aurélio) A mesma regra vale para os integrantes da Defensoria Pública que têm com prerrogativa a intimação pessoal dos atos processuais. 3. DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO Por ser um livro direcionado a concursos na área militar, vamos dar maior ênfase às particularidades da Defensoria Pública da União, pois para este concurso específico o candidato vai ser cobrado e terá grande peso na sua prova o conhecimento das suas atribuições e em especial nas Auditorias Militares. Em 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil, a chamada “Constituição Cidadã”, amplia o conceito de assistência jurídica gratuita, que passa a integrar o “rol” dos direitos e garantias fundamentais do cidadão, devendo ser prestada pela Defensoria Pública, instituição essencial à função jurisdicional do Estado. A Defensoria Pública tem assento no art. 134 da Constituição da República, que, por sua vez, se refere aos incisos do art. 5o da Carta Política, assim transcritos: LXXIV - O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerentes. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 42 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Art. 134. A Defensoria pública é instituição essencial à função jurisdicional do estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV. Parágrafo único. Lei complementar organizará a Defensoria Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, em classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade, independência funcional, e irredutibilidade de vencimentos, mas sendo vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. Para dar eficácia ao preceito constitucional, a Defensoria Pública da União foi organizada pela Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994, que estabeleceu normas gerais sobre sua organização. 3.1 A DEFENSORIA PÚBLICO E SUA ESTRUTURA NA FEDERAÇÃO I - A Defensoria Pública da União; II - A Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios (atualmente não existem territórios no Brasil); III - as Defensorias Públicas dos Estados. A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, ABRANGÊNCIA E ÁREA DE ATUA-ÇÃO (arts. 18 a 24 da LC 80/94) Aos Defensores Públicos da União incumbe o desempenho das funções de orientação, postulação e defesa dos direitos e interesses dos necessitados, cabendo-lhes, especialmente: I - atender às partes e aos interessados; II - postular a concessão de gratuidade de justiça para os necessitados; III - tentar a conciliação das partes, antes de promover a ação cabível; IV - acompanhar e comparecer aos atos processuais e impulsionar os processos; V - interpor recurso para qualquer grau de jurisdição e promover revisão criminal, quando cabível; VI - sustentar, oralmente ou por memorial, os recursos interpostos e as razões apresentadas por intermédio da Defensoria Pública da União; VII - defender os acusados em processo disciplinar. A carreira, atualmente, segundo sua área de atuação, é organizada da seguinte maneira: I - Defensor Público Federal de 2ª Categoria (inicial) Os Defensores Públicos Federais de 2ª Categoria atuarão junto aos Juízos Federais, aos Juízos do Trabalho, às Juntas e aos Juízes Eleitorais, aos Juízes Militares, às Auditorias Militares, ao Tribunal Marítimo e às instâncias administrativas. II - Defensor Público Federal de 1ª Categoria (intermediária) Os Defensores Públicos Federais de 1ª Categoria atuarão nos Tribunais Regionais Federais, nas Turmas dos Juizados Especiais Federais, nos Tribunais Regionais do Trabalho e nos Tribunais Regionais Eleitorais. III - Defensor Público Federal de Categoria Especial (final). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 43 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Os Defensores Públicos Federais de Categoria Especial atuarão no Superior Tribunal de Justiça, no Tribunal Superior do Trabalho, no Tribunal Superior Eleitoral, no Superior Tribunal Militar e na Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. O Defensor Público-Geral atuará junto ao Supremo Tribunal Federal. 3.2 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS São princípios institucionais das Defensorias Públicas: a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. a) Princípio da Unidade A primeira advertência é o fato de que, em conformidade com a teoria da imputação, as manifestações dos defensores públicos, na qualidade de titulares de órgãos de atuação, são atribuídas à Defensoria Pública, na condição de órgão composto, de sorte que a Defensoria Pública atua pela vontade externa dos defensores públicos que a integram. Portanto a unidade da Defensoria Pública “não significa que qualquer de seus membros poderá praticar qualquer ato em nome da instituição, mas, sim, sendo um só organismo, os seus membros presentam (não representam) a instituição sempre que atuarem, mas a legalidade de seus atos encontra limites da divisão de atribuições e demais princípios e garantias impostas pela lei”. b) Princípio da Indivisibilidade Os defensores públicos podem ser substituídos uns pelos outros nos processos, sempre na forma prevista em lei, por ato de autoridade com atribuição para tanto e com vistas ao exercício de funções comuns, sem que isso importe qualquer alteração processual. Cumpre enfatizar que a substituição, todavia, não implica vinculação de opiniões. Neste sentido, nada impede que o defensor público que vier a atuar posteriormente tenha entendimento diverso sobre determinada questão e, em consequência, adote procedimento distinto daquele iniciado pelo defensor público que atuou antes, sem que haja prejuízo para a atuação da Instituição ou para a validade do processo. c) Independência funcional Princípio institucional maior, a independência funcional traduz-se na inocorrência de subordinação hierárquica, ou seja, no desempenho de suas funções os Defensores Públicos da União não estão adstritos, em qualquer hipótese, ao comando de quem quer que seja. Cabe acentuar que essa prerrogativa é qualificada como ilimitada, pois os membros da Defensoria Pública da União, nas suas atribuições, não se encontram sujeitos sequer a recomendações de órgãos da administração superior da instituição, pautando sua conduta somente pela lei e pela sua convicção. No entanto podem ser designados para atuar em determinados processos ou instâncias diferentes, em caráter excepcional, e, mesmo nesses casos, possuem independência funcional. 3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES As funções institucionais da Defensoria Pública, conforme a doutrina, são divididas em funções típicas e funções atípicas. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 44 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR a) Típicas são as exercidas pela Defensoria Pública na tutela de direitos e interesses de hipossuficientes econômicos, em atenção à carência patrimonial dos mesmos. b) Atípicas são as desempenhadas independentemente da situação econômico-patrimonial do destinatário da atividade institucional. Dessa maneira, entre as múltiplas satisfeitas pela DefensoriaPública sem que haja prequestionamento do estado do juridicamente necessitado exsurgem, no campo criminal, a defesa de réu revel e, na área cível, a curadoria especial. Por conseguinte, há distinção entre necessitado econômico e necessitado jurídico, de sorte que o primeiro corresponde àquele cuja situação pecuniária não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado sem prejuízo do sustento próprio ou da família, nos termos do art. 2°, parágrafo único, da Lei 1.060, de 05.02.50, ao passo que o segundo equivale àquele que, em certa situação fática, é assistido pelos órgãos institucionais sem que seja perquirida a hipossuficiência econômica, como, por exemplo, nos casos de nomeação para acusado revel. 3.4 FUNÇÕES INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO a) Defesa em ação penal - Quanto à seara penal, como peculiaridade, a atuação da Defensoria Pública não é necessariamente condicionada à miserabilidade do acusado. Cabe fixar: em decorrência das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, em determinadas hipóteses prosperam atividades institucionais de conteúdo atípico, não sendo mister o prequestionamento a respeito da condição econômica do acusado, assegurada a intervenção da instituição ainda que não haja insuficiência financeira, bastando que o acusado seja revel, não haja constituído advogado ou tenha constituído advogado, e no decorrer do procedimento, seja verificada a renúncia do advogado inicialmente constituído. Contudo, enquanto nas circunstâncias de ausência de indicação de patrono, uma vez intimada a parte para constituir advogado de sua confiança, há a intervenção imediata da Defensoria Pública. Agora, no caso de renúncia de advogado inicialmente constituído há o estabelecimento de um prazo para a indicação de novo patrono e intimação pessoal, não cabendo a intervenção da Defensoria Pública, sob pena de nulidade. Assim tem decidido o Superior Tribunal de Justiça e com analogia da Súmula 707 do Supremo Tribunal Federal: “Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo”. 3.5 PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA (art. 44 e incisos da LC 80/94) a) Conceito As prerrogativas dos membros da Defensoria Pública, como peculiaridades do regime jurídico da Instituição, são faculdades especiais conferidas aos defensores públicos na condição de “agentes políticos do Estado” (na visão de Helly Lopes), inerentes ao cargo ou à função que exercem na carreira a que pertencem, almejando a consecução das finalidades institucionais colimadas. Os componentes da Defensoria Pública da União podem figurar como impetrantes de mandado de segurança “contra ato de autoridade que tolher o desempenho de suas atribuições ou afrontar suas prerrogativas”. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 45 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR b) Ciência pessoal de todos os atos do processo I- Receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, contando-se lhe em dobro todos os prazos. Constitui prerrogativa dos membros da Defensoria Pública, a teor dos arts. 44, I, da Lei de Organização da Defensoria Pública (LC 80/94), a obrigatória intimação pessoal para todos os atos do processo, em qualquer grau de jurisdição ou instância administrativa. EMENTA: Embargos de Nulidade e Infringentes do Julgado. Ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública da União, acerca da data da Sessão de Julgamento. Vício processual insanável. Nulidade do Acórdão. Está pacificado, tanto na doutrina como na jurisprudência, o entendimento de que a falta de intimação pessoal do defensor público acarreta nulidade do acórdão prolatado. Acolhidos os Embargos de Nulidade, declarando-se nulo o acórdão prolatado para que se realize novo julgamento, observando-se a regular intimação pessoal da DPU, restando prejudicado o exame dos Embargos Infringentes. Decisão unânime. STM Num: 2006.01.000195-5 UF: DF Decisão: 07/11/2006 Proc: Embfo - EMBARGOS (FO). Data da Publicação: 05/12/2006. c) Contagem em dobro dos prazos processuais I- Receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, contando-se lhe em dobro todos os prazos; A desigualdade de tratamento se justifica em face da existência de problemas específicos, que não afetam os litigantes particulares. Com referência aos limites da prerrogativa, todos os prazos processuais, sejam eles legais, vale dizer, os fixados em lei, sejam eles judiciais, isto é, os marcados pelas autoridades judiciárias, são duplicados em favor do defensor público na esfera judicial ou administrativa, tudo nos termos do art. 44, inc. I, da LC 80/94. Ementa. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CABIMENTO. TEMPESTIVIDA-DE. APRECIAÇÃO RECURSAL. Preliminar de Ofício que suscita o cabimento do Recurso. Cabe Recurso em Sentido Estrito quando interposto contra decisão que não recebe Recurso Inominado, conforme estabelece o art. 516, "q", do CPPM. Preliminar rejeitada por maioria. Preliminar suscitada pelo Ministério Público Militar quanto à tempestividade do Recurso não prospera em face da contagem em dobro dos prazos referentes aos processos sob o patrocínio da Defensoria Pública da União. Preliminar rejeitada à Unanimidade. Cabível e Tempestivo o Recurso, a questão deve ser examinada por este Superior Tribunal Militar. Recurso provido. Decisão por maioria. STM Num: 2005.01.007280-8 UF: RJ - RECURSO CRIMINAL (FO)Data da Publicação: 28/04/2006. d) Oficiamento por cotas IX - Manifestar-se em autos administrativos ou judiciais por meio de cota. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 46 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Pela regra contida no art. 44, IX, da LC 80/94, é admitido aos defensores públicos “falar” nos autos de processos judiciais ou administrativos por meio de cotas, quer dizer, é facultada a manifestação dos defensores mediante anotações nos próprios autos. EMBARGOS INFRINGENTES. NULIDADE. PUBLICAÇÃO DA PAUTA DE JULGAMENTO. INCIDÊNCIA DA CIRCUNSTÂNCIA AGRAVANTE GENÉRICA DE ESTAR DE SERVIÇO. A publicação dos atos administrativos e judiciais nos órgãos oficiais de divulgação, como o Diário da Justiça da União, atende ao preceito constitucional da publicidade (art. 37 da CF). Somente as partes especificadas em legislação própria gozam do privilégio de intimação pessoal ou nos autos, como é o caso do Ministério Público, da Defensoria Pública da União, etc. A expressão "estar", ou "estando", de serviço, aos mais afeitos à atividade da caserna, refere-se ao militar que, em regra, cumpre escala de serviço, por tempo normalmente definido nos regulamentos específicos, ou nas normas gerais de ação (NGAs), quase sempre com duração de vinte e quatro horas, onde o militar permanece, em média, duas horas no posto ou local de serviço, com intervalos de quatro horas de descanso. Embargos rejeitados. Decisão majoritária. STM Num: 2005.01.049758-9 UF: RJ Decisão: 02/03/2006. Proc: Embfo - EM-BARGOS (FO). Data da Publicação: 20/04/2006. e) Requisição X - Requisitar de autoridade pública e de seus agentes exames, certidões, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e providências necessárias ao exercício de suas atribuições. Sem embargo, o preceito objetiva viabilizar “à parte a essencial produção de prova que efetivamente garantirá o seu direito de ação ou de defesa”, tendo sempre sob enfoque “a necessidade de proporcionar ao necessitado os mesmos meios e possibilidades que possam os poderosos obter à custa dos seus recursos financeiros”. Neste ponto faz-se necessário distinguir “requisição” de “requerimento”. Requisição é exigência legal, enquanto requerimento é solicitação de algo permitido por lei. Por conseguinte, não poderão as autoridades públicas ou seus agentesdeixar de atender às requisições dos defensores públicos, desde que lhes sejam fornecidos os dados suficientes para o fornecimento das informações requisitadas, sob pena de desobediência, sem prejuízo de eventuais sanções disciplinares, salvo quando alguma lei comine determinada penalidade administrativa ou civil sem ressalvar expressamente a cumulativa aplicação do art. 330 do Código Penal (crime de desobediência). Ao contrário, os agentes públicos detêm a faculdade jurídica de não prestar os esclarecimentos por requerimentos que lhes sejam destinados. Ex.: Para fazer prova da inocência em Processo Penal Militar, pode o Defensor Público da União requisitar documentos ou informações na organização militar que prestava serviço militar o acusado, e o comandante não poderá deixar de prestar as informações requisitadas sob pena de, em tese, cometer o delito de desobediência. f) Inexigibilidade de instrumento de mandato DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 47 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR XI - representar a parte, em feito administrativo ou judicial, independentemente de mandato, ressalvados os casos para os quais a lei exija poderes especiais. Em linha de regra, conforme o art. 44, XI, da LC 80/94, na prestação da assistência jurídica o defensor público, em sede judicial ou administrativa, independe de procuração, conquanto “o vínculo mantido entre o membro do órgão público encarregado de dinamizar a assistência judiciária e o juridicamente necessitado deflui da dicção da lei e da investidura do agente no cargo e não da outorga de mandato. É um lia-me de natureza público-estatutária, exsurgente da legislação que estabelece a estrutura do órgão, comete atribuições específicas e disciplina as atividades dos seus componentes, e não de natureza privatística-contratual”. Deve-se observar que, no caso de propor ação penal privada (não existe na legislação processual penal militar) e desistir de recursos, há necessidade de procuração com poderes especiais, nestes casos específicos, mesmo sendo Defensor Público da União; nos demais casos, é dispensável a procuração. 4. DO ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO (arts. 60 a 68 do CPPM) O ofendido, seu representante legal e seu sucessor podem habilitar-se a intervir no processo como assistentes do Ministério Público, considerando-se representante legal o ascendente ou descendente, tutor ou curador do ofendido, se menor de dezoito anos ou incapaz; e sucessor, o seu ascendente, descendente ou irmão, podendo qualquer deles, com exclusão dos demais, exercer o encargo, ou constituir advogado para esse fim, em atenção à ordem. Cabe ao juiz do processo, ouvido o Ministério Público, conceder ou negar a admissão de assistente de acusação, enquanto não passar em julgado a sentença e recebendo a causa no estado em que se achar. O ofendido que for também acusado no mesmo processo não poderá intervir como assistente, salvo se absolvido por sentença passada em julgado, e daí em diante. A atuação do assistente é restrita e complementar sendo permitido, com aquiescência do juiz e ouvido o Ministério Público, apenas atuar nos seguintes casos: a) propor meios de prova; b) requerer perguntas às testemunhas, fazendo-o depois do procurador; c) apresentar quesitos em perícia determinada pelo juiz ou requerida pelo Ministério Público; d) juntar documentos; e) arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público; f) participar do debate oral. Não poderá arrolar testemunhas, exceto requerer o depoimento das que forem referidas, nem requerer a expedição de precatória ou rogatória, ou diligência que retarde o curso do processo, salvo a critério do juiz e com audiência do Ministério Público, em se tratando de apuração de fato do qual dependa o esclarecimento do crime. Não poderá, igualmente, impetrar recursos, salvo de despacho que indeferir o pedido de assistência. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 48 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Interessante frisar que, ao contrário do previsto na legislação processual comum, no Processo Penal Militar o assistente de acusação não tem legitimidade para impetrar apelação substitutiva quando o Ministério Público Militar não interpõe apelação em caso de absolvição. Ementa: APELAÇÃO. ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. LEGITIMIDADE PARA RECORRER. No âmbito da Justiça Castrense, o Assistente de Acusação não tem legitimidade para apelar de sentença absolutória, por falta de previsão legal. A ação penal militar é exclusivamente pública incondicionada, tendo como dominus litis unicamente o Ministério Público Militar. Ao Assistente da Acusação legalmente investido é reservado o efeito residual de auxiliar a comprovação dos fatos narrados na denúncia. Preliminar de não conhecimento de recurso acolhida. Decisão unânime. STM Num: 2003.01.049490-1 UF: RJ. Proc: Apelfo - APELAÇÃO (FO) Data da Publicação: 21/06/2004. EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECLARAÇÃO "A QUO" DE ILEGITIMIDADE PARA RECORRER DE SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. IN- CONSTITUCIONALIDADES ALUDIDAS EM FACE DA LEI ADJETIVA CAS-TRENSE. NÃO PROSPERA O "WRIT" IMPETRADO. Pretensão mandamental envolvendo quadro fático relativo a atropelamento fatal de pedestre por viatura oficial conduzida por militar em serviço, que resultou absolvido na ação penal estabelecida para sopesar a ocorrência. Em tal feito, a impetrante do vertente "mandamus", filha do "de cujus", fizera-se inclusive representar-se como assistente da acusação. Inconformada com a absolvição do denunciado, apelou do decreto de 1º grau, sendo, então, declarada a sua ilegitimidade para recorrer "in casu", decisão essa que intenta cassar com "remedium juris" ora em foco. Argumenta no sentido de inconstitucionalidade que entende existir quanto aos cerceios impostos, no processo penal militar, à atuação da assistência de acusação. Inquestionavelmente correto o teor do despacho de ilegitimidade ditado "in prima instantia", tendo-se como incabível na "quaestio" o propósito da impetrante. Os ritos processuais do Foro Castrense, devido ao próprio hermetismo que caracteriza o Direito Penal Militar, se fundamentam mais restritivamente se comparados em termos do contexto processual da Justiça Comum, não significando, contudo, que as peculiaridades dos Diplomas que regem a aplicação da Justiça Militar, "id est", o CPM e o CPPM, impliquem, "in concreto", como máculas à vigente Carta Constitucional. Denegada a segurança em crivo. Decisão por unanimidade. Num: 1998.01.000430-0 UF: AM. Proc: MS - MANDADO DE SEGURANÇA Cód. 210. Data da Publicação: 13/10/1998. MANDADO DE SEGURANÇA. LEGITIMIDADE ATIVA. Impetrante que se vale do remédio heroico para fazer subir Correição Parcial requerida na instância" a quo". De outra parte, o citado pedido correicional visava afastar decisão que inadmitiu recurso em sentido estrito. Acontece que o Impetrante não havia se habilitado como Assistente da Acusação, mesmo porque sequer existia ação penal. Falta de legitimidade "ad causam'' e '''ad processum'' do Impetrante. Postulação não conhecida. Decisão unânime. STM Num: 2005.01.000669-9 UF: AM Decisão: 24/05/2005 Proc: MS - MANDADO DE SEGURANÇA. Data da Publicação: 01/07/2005. 5. DO ACUSADO (arts. 69 a 76 do CPPM) Considera-se acusado aquele a quem é imputada a prática de infração penal em denúncia recebida. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 49 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor, e sua constituição independerá de instrumento de mandado, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório ou em qualquer outra fase do processo por termo nos autos. O juiz nomeará defensor ao acusado que não o tiver, ficando a este ressalvado o direito de, a todo o tempo, constituir outro, de sua confiança, no entanto, deve-se primeiro possibilitar que oacusado constitua um de sua confiança sob pena de nulidade do feito. Nada impede que, além da defesa pessoal (exercida no interrogatório), faça a sua defesa, caso tenha habilitação, ou seja, capacidade postulatória. Regra geral, as praças (aqueles que não são oficiais) são defendidas no Processo Penal Militar pela Defensoria Pública da União. No caso de acusado incapaz, poderá ser nomeado curador o próprio defensor. Esta nomeação é feita no ato do interrogatório pelo juiz-presidente (oficial militar de maior graduação). A falta de comparecimento do defensor, justificada, adiará o ato do processo, desde que nele seja indispensável a sua presença. Marcará nova data, mas, em se repetindo a falta, o juiz nomeará substituto para efeito do ato; persistindo a ausência nomeará outro defensor para prosseguir no processo, lembrando sempre que o acusado pode, a qualquer tempo e antes de nomeado pelo juiz novo patrono, nomear um novo de sua confiança. O advogado é impedido e não poderá funcionar como defensor o cônjuge ou o parente consanguíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, do juiz, do membro do Ministério Público ou do escrivão. Mas, se, em idênticas condições, qualquer destes for superveniente no processo, tocar-lhe- á o impedimento, e não ao defensor, salvo se dativo, caso em que será substituído por outro. 6. DOS AUXILIARES (arts. 42 a 46 do CPPM) Os funcionários ou serventuários da Justiça Militar são, nos processos em que funcionam, auxiliares do juiz, a cujas determinações devem obedecer, estando sujeitos às regras disciplinares estabelecidas no Regime Jurídico Único dos Servidores Civis da União. Cabe ao escrivão providenciar para que estejam em ordem e em dia as peças e termos dos processos; ao oficial de justiça realizar as diligências que lhe atribuir a lei de organização judiciária militar e as que lhe forem ordenadas por despacho do juiz, certificando o ocorrido (fé pública), no respectivo instrumento, com designação de lugar, dia e hora. As diligências serão feitas durante o dia, entre as seis e as dezoito horas e, sempre que possível, na presença de duas testemunhas. Os auxiliares da justiça ficam sujeitos, no que for aplicável, às mesmas normas referentes a impedimento ou suspeição do juiz. 7. PERITOS E INTÉRPRETES (arts. 47 a 53 do CPPM) Os peritos e intérpretes serão de livre nomeação do juiz, sem intervenção das partes, e serão nomeados de preferência dentre oficiais da ativa, atendida a especialidade. Não poderão ser peritos os menores de 21 anos. Os peritos ou intérpretes prestarão compromisso de desempenhar a função com obediência à disciplina judiciária e de responder fielmente aos quesitos propostos pelo juiz e pelas partes. Não pode ser recusado o encargo, salvo motivo relevante que será analisado pelo juiz. Caso venham a infringir alguma dessas regras, poderão, em tese, responder pelo delito de falsa perícia (art. 346 do CPM). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 50 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Observa-se que para cada perícia será necessário o compromisso do perito. Deve-se atentar que há necessidade de que a perícia seja realizada por dois peritos compromissados, no caso de apenas um, já se decidiu que teria validade como laudo indireto. EMENTA: LESÃO CORPORAL LEVE (ARTIGO 209 DO CPM). LAUDO PERI-CIAL FIRMADO POR UM ÚNICO PERITO. CONSONÂNCIA COM OS DE-MAIS MEIOS DE PROVA. EXAME DE CORPO DE DELITO INDIRETO. AU-TORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. CONDENAÇÃO MANTIDA. DECISÃO UNÂNIME. 1. O laudo pericial, embora firmado por um único experto, quando em consenso com outros meios de prova, equivale a corpo de delito indireto, com idôneo valor probante. 2. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça (RTJ, 65/816). 3. Apelo defensivo conhecido e improvido. Decisão unânime. STM Num 2002.01.049205-4 UF: PE - APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 18/03/2003. Distinta é a situação que, com apenas um perito não compromissado, trata de ausência de perícia; aqui não há que se falar em laudo indireto. EMENTA: Apelação. Lesão corporal culposa. Exame de Corpo de Delito. Obrigatoriedade. Art. 318 do CPPM. Contrariedade. Tratando-se de delito que deixa vestígio, torna-se imprescindível a realização de exame pericial para comprovação da materialidade. Prova técnica precária, porquanto deixou de observar norma processual inscrita no art. 318 do CPPM, que exige que o exame pericial seja realizado por dois peritos. Além disso, o único perito não era compromissado, contrariando o disposto no art. 48, parágrafo único, do CPPM. Tendo como inexistente o exame de corpo de delito, não se pode afirmar que a materialidade do crime imputado ao Apelante se comprovou. Provimento do apelo defensivo. Decisão unânime. (APELAÇÃO Nº 2002.01.049193-7 - PE - Relator Ministro VALDESIO GUILHERME DE FIGUEIREDO. Revisor Ministro FLAVIO FLORES DA CUNHA BIERREN-BACH. Sessão de 11/09/03.) Não poderão ser peritos ou intérpretes aqueles que estiverem sujeitos à interdição que os inabilite para o exercício de função pública ou que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia. Possuem as mesmas vedações quanto à suspeição e ao impedimento aplicável aos juízes. A parte não é obrigada a se submeter à perícia, pois ninguém está obrigado a fazer prova contra si. Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. PERÍCIA GRAFOTÉCNICA. VISTA À DEFESA PARA REQUERER O QUE DE DIREITO. Assiste razão a defesa que argui não dispor de poder de coação para determinar alguém a se submeter a uma perícia. Entretanto, é certo que o Juiz não pode ficar a mercê de uma prova requerida que não se conseguiu implementar. O magistrado deve abrir vista para que a defesa requeira o que de direito, desista do requerimento ou insista na prova, hipótese em que deverá indicar o endereço onde possa ser encontrada a pessoa que deverá fornecer os padrões do exame grafotécnico. Não se pode simplesmente dar prosseguimento ao processo sem essa oportunidade à defesa que requereu e teve deferida a prova técnica. Decisão por maioria. STM DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 51 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 2004.01.000637-0 UF: SP Decisão: MS - MANDADO DE SEGURANÇA. Data da Publicação: 24/03/2005. No caso de divergência de laudos ou conclusões de perícia, deve-se observar aquela que mais beneficie o acusado. CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO. INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL CU-JOS LAUDOS APRESENTAM DISCREPÂNCIA ENTRE AS CONCLUSÕES DOS PERITOS JUDICIAIS E AS DO PERITO ASSISTENTE, SUSCITANDO DÚVIDAS QUANTO À HIGIDEZ DO JUSTIFICANTE. 'IN DUBIO PRO REO'. PRELIMI-NAR DE INIMPUTABILIDADE ACOLHIDA EM DECISÃO MAJORITARIA. RE-JEITADA, A UNANIMIDADE, A PRELIMINAR DE INCONSTITUCIONALIDA- DE SUSCITADA PELA DEFESA, POR FALTA DE AMPARO LEGAL. STM Num: 1989.01.000136-1 UF: DF - CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO. Data da Publicação: 13/06/1990. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA Jurisdição é a função estatal exercida com exclusividade pelo poder judiciário, consistente na aplicação de normas da ordem jurídica a um caso concreto, com a consequente solução do litígio. É o poder de julgar um caso concreto, de acordo com o ordenamento jurídico, por meio do processo. A competência é a delimitação do poder jurisdicional (fixa limites dentro dos quais o juiz pode prestar jurisdição); aponta quais os casos que podem ser julgados pelo órgão do poder judiciário. É, portanto, uma verdadeira medida da extensão do poder de julgar. 1. PRINCÍPIOS a) Juiz natural: O princípio do juiz natural está expresso nos incisos “XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção”; e LIII do art. 5º da CF - “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”; uma vedação imposta ao legislador infraconstitucional da instituição do juízo ou tribunal de exceção. b) Da investidura: A jurisdição somentepode ser exercida por juiz aprovado em concurso público de provas e títulos e que esteja no exercício de suas funções (juízes militares são sorteados e nomeados para atuar, investidos no ato para julgar). c) Devido processo legal (Nulla poena sini judicio): Art. 5º, LIV, da CF - “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo”. Não há pena sem processo. Não admite exceções. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 52 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR d) Da titularidade ou inércia (Ne procedat judex ex officio): O juiz não pode agir de ofício. Tem que ter ação para haver jurisdição. A ação exercida pelo Ministério Público Militar dá início à jurisdição e instaura o Processo Penal Militar. e) Indeclinabilidade da jurisdição: A Constituição Federal prevê expressamente este princípio quando declara que a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV). Assim, uma vez acionado, o juiz deve apreciar o pedido da parte. f) Indelegabilidade da jurisdição: Não se pode delegar a outro órgão, que não o Judiciário, o poder de julgar, salvo nas hipóteses previstas na própria Constituição Federal. g) Improrrogabilidade ou aderência da jurisdição: O juiz somente pode exercer a função jurisdicional dentro dos limites que lhe são traçados por lei. A jurisdição não se prorroga à autoridade que não tem competência delineada em lei, salvo os casos expressos de prorrogação, 2. ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA a) Ratione materiae: em razão da matéria, do crime praticado. Os crimes militares estão previstos nos arts. 9º e 10º do Código Penal Militar. Na legislação especial militar, adota-se o critério ex vis legis para saber se o crime é militar. b) Ratione personae: em razão de uma qualidade da pessoa ou da função exercida, seriam os foros por prerrogativa de função que, enquanto o sujeito estiver desempenhando alguma atividade que a lei determine que seus integrantes responderão em foro privilegiado. A prerrogativa é em razão do cargo ocupado. c) Ratione loci, que seria determinada, de modo geral, pelo lugar da infração, pela residência ou domicílio do acusado. 3. DIVISÃO JUDICIÁRIA MILITAR A delimitação da jurisdição, ou seja, a competência para facilitar a aplicação da lei penal, é delimitada em comarcas na Justiça Estadual, seção e subseção na Justiça Federal e circunscrição na Justiça Militar. A Justiça Militar divide-se em Justiça Militar da União, com competência para processar e julgar os integrantes das Forças Armadas e os civis que venham a praticar crimes militares, e Justiça Militar Estadual, com competência para processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares que venham a cometer crimes militares. 3.1 DAS CIRCUNSCRIÇÕES JUDICIÁRIAS MILITARES (Justiça Militar da União) (Art. 2º da Lei nº 8.457/92): Para efeito de administração da Justiça Militar em tempo de paz, o território nacional divide-se em doze Circunscrições Judiciárias Militares, abrangendo: a) 1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo (quatro Auditorias); b) 2ª - Estado de São Paulo (duas Auditorias); c) 3ª - Estado do Rio Grande do Sul (três Auditorias); d) 4ª - Estado de Minas Gerais; e) 5ª - Estados do Paraná e Santa Catarina; f) 6ª - Estados da Bahia e Sergipe; DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 53 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR g) 7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas; h) 8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão; i) 9ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; j) 10ª - Estados do Ceará e Piauí; l) 11ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins (duas Auditorias); m) 12ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. A Justiça Militar é dividida em Circunscrições Judiciárias, para efeito de competência. A cada Circunscrição Judiciária Militar corresponde uma Auditoria, com exceção da 1ª, que tem quatro Auditorias, da 2ª com duas Auditorias, da 3ª, com três Auditorias e da 11ª, com duas Auditorias, embora ainda não tenha sido instalada a 2ª Auditoria da 11ª CJM. Por sua vez, cada Auditoria tem um juiz-auditor e um juiz-auditor substituto, além dos funcionários constantes do quadro previsto em lei. 4. COMPETÊNCIA E SUA DETERMINAÇÃO A função jurisdicional, que é uma só, é atribuída abstratamente a todos os órgãos do Poder Judiciário, passa por um processo gradativo de concretização, até chegar-se à determinação do juiz competente para o processo,: por meio de regras constitucionais e legais que atribuem a cada órgão o exercício da jurisdição com referência a dada categoria de causa (regras de competência), e excluem os demais órgãos jurisdicionais para que só aquele deva exercê-la em concreto. (Grinover, 2004-49). Para se chegar à competência militar, pode-se fazer o seguinte caminho. No primeiro momento tem-se que saber se tratasse de crime militar (legislação especial) em razão da matéria (art. 9º do CPM). Sendo crime militar, se é crime militar estadual ou federal. Se é crime militar estadual, saber se é competência do juiz de direito ou do conselho de justiça permanente ou conselho de justiça especial (competência interna). Se é crime militar federal, saber se é o conselho permanente de justiça ou conselho especial que julga (competência interna) ou qual o órgão jurisdicional hierarquicamente competente, caso o acusado tenho foro por prerrogativa de função. Respondendo a essas questões, por fim, saber o lugar da infração ou residência ou domicílio do acusado e, não sendo possível utilizar a regra da prevenção para determinar qual a circunscrição judiciária competente, saber qual auditoria militar que irá julgar (competência ratione loci). E por fim, pela distribuição ou prevenção, saber qual o juiz competente dessa auditoria militar. 5. DO FORO MILITAR (arts. 82 a 84 do CPPM) O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz, nos crimes definidos em lei contra as instituições militares (art. 9º do CP), as seguintes pessoas: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 54 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR a) os militares em situação de atividade; b) os militares da reserva, quando convocados para o serviço ativo; c) os reservistas, quando convocados e mobilizados, em manobras, ou no desempenho de funções militares; d) os oficiais e praças das Polícias e Corpos de Bombeiros, Militares, quando incorporados às Forças Armadas; e) aos militares da reserva remunerada e os reformados que cometam crimes militares definidos em lei. f) os civis que cometam crimes militares definidos em lei, somente na Justiça Militar da União. Os civis jamais serão processados na Justiça Militar Estadual. 6. FORO MILITAR EM TEMPO DE GUERRA O foro militar, em tempo de guerra, poderá, por lei especial, abranger outros casos além dos previstos, desde que tenham previsão legal anterior, respeitando o princípio da legalidade e da vedação do julgamento por tribunal de exceção, ou seja, a previsão tem que ser anterior ao fato. 7. A COMPETÊNCIA DO FORO MILITAR SERÁ DETERMINADA a) pelo lugar da infração (arts. 88 a 92 do CPPM) (forum commissi delicti). A competência será, em regra, determinada pelo lugar da infração; e, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Para a fixação da competência pelo lugar da infração, o Código de Processo Penal Militar adotou a teoria do resultado. EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FRAUDE EM CONCURSO. ESCO-LA DE ESPECIALISTAS DA AERONÁUTICA. LOCAL EM QUE O AGENTE PERCEBE A VANTAGEM. COMPETÊNCIA DEFINIDA. O crime de estelionato consuma-se no local onde o agente obtém a vantagem. No caso, a fraude no concurso foi meio de se obter vantagem ilícita com a matrícula na Escola de Especialistasda Aeronáutica. A vantagem foi auferida quando da matrícula na EEAR, em Guaratinguetá - SP. Conflito conhecido para declarar competente para processar e julgar o feito o Juízo da 1ª Auditoria da 2ª CJM. Decisão majoritária. (STM CC 2002.01.000310-2, REL MIN SÉRGIO XAVIER FEROLLA, DJ 24.9.2002.) Não há conflito com a regra do Código Penal Militar que adota quanto ao local do crime a teoria da ubiquidade ou mista. Este regramento é utilizado para os crimes à distância, ou seja, aqueles cujo início da execução se deu em um país estrangeiro e a consumação se deu no Brasil, ou o início da execução se deu no Brasil e consumação se deu no estrangeiro. Para os crimes militares perpetrados no Brasil, utiliza-se a teoria do resultado. Na tentativa também é utilizada a teoria do resultado. Deve-se atentar para o iter criminis (caminho do crime, cogitação, preparação, execução e não chega à consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente) sendo competente o local onde foi praticado o último ato de execução. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 55 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Este critério é utilizado para facilitar a colheita da prova, bem como foi o local em que ocorreu a quebra dos princípios da disciplina e hierarquia. Por ser uma competência territorial, é competência relativa que admite prorrogação, ressaltando-se que apenas entre órgãos da Justiça Militar, tendo em vista que se trata de uma justiça especial prevista constitucionalmente, logo competência absoluta, que não se prorroga e que pode ser alegada a qualquer tempo. Assim, a competência constitucional atribuída à Justiça Militar é absoluta, não pode ser modificada, podendo ser alegada a qualquer tempo pelas partes e ser declarada de oficio pelo juiz. Já a competência territorial é relativa, admite prorrogação entre os juízos militares competentes constitucionalmente, sob pena de preclusão, isto é, se não for alegada em momento oportuno pelas partes, considera-se sanada e pode também ser declarada de ofício pelo juiz. b) A bordo de navio (art.89 do CPPM) Os crimes cometidos a bordo de navio ou embarcação sob comando militar ou militarmente ocupado em porto nacional, nos lagos e rios fronteiriços ou em águas territoriais brasileiras serão, nos dois primeiros casos, processados na Auditoria da Circunscrição Judiciária correspondente a cada um daqueles lugares; e, no último caso, na Capital Federal, Brasília, 11 ª Circunscrição Judiciária Militar. c) A bordo de aeronave (art. 90 do CPPM) Os crimes cometidos a bordo de aeronave militar ou militarmente ocupada, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados pela Auditoria da Circunscrição em cujo território se verificar o pouso após o crime; e se este se efetuar em lugar remoto ou em tal distância que torne difíceis as diligências, a competência será da Auditoria da Circunscrição de onde houver partido a aeronave, salvo se ocorrerem os mesmos óbices, caso em que a competência será da Auditoria mais próxima da 1ª, se na Circunscrição houver mais de uma. d) Crimes fora do território nacional (arts. 91 e 92 do CPPM) Os crimes militares cometidos fora do território nacional serão, em regra, processados em Auditoria da Capital da União. No caso de crime militar somente em parte cometido no território nacional, se iniciada a execução em território estrangeiro, o crime se consumar no Brasil, será competente a Auditoria da Circunscrição em que o crime tenha produzido ou devia produzir o resultado. Iniciada a execução no território nacional, o crime se consumar fora dele, será competente a Auditoria da Circunscrição em que se houver praticado o último ato ou execução. Em tempo de guerra, a competência do foro militar reger-se-á, por norma, pelo critério ratione loci cabendo o processo e julgamento do feito à auditoria existente no teatro de operações (LOJMU art. 94). Exceção se faz ao crime praticado pelo comandante do teatro de operações de guerra, cuja competência será do STM, por prerrogativa de função (LOJMU art. 95, Parágrafo único) . DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 56 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 8. RESIDÊNCIA OU DOMICÍLIO DO ACUSADO OU PELA SEDE DO LUGAR DO SERVIÇO (arts. 93 e 96 do CPPM) É critério subsidiário em relação ao local da infração. Se não for conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pela residência ou domicílio do acusado, salvo para o militar em situação de atividade. Nestes casos, o lugar da infração, quando este não puder ser determinado, será o da unidade, navio, força ou órgão onde estiver servindo, não lhe sendo aplicável o critério da prevenção, salvo entre Auditorias da mesma sede. 9. DA COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO (arts. 94 e 95 do CPPM) A competência firmar-se-á por prevenção, sempre que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com competência cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia. A competência pela prevenção pode ocorrer: a) quando incerto o lugar da infração, por ter sido praticado na divisa de duas ou mais jurisdições; b) quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições; c) quando se tratar de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições; d) quando o acusado tiver mais de uma residência ou não tiver nenhuma, ou forem vários os acusados e com diferentes residências. É um critério subsidiário de determinação da competência que vai ser utilizado quando os critérios anteriores (lugar da infração e domicílio ou residência do réu) não forem suficientes para dirimir a dúvida de qual juiz será o competente. A antecedência de algum ato no processo tem que ter cunho decisório, tais como, homologação da prisão em flagrante e seu relaxamento, a decretação da prisão preventiva e sua liberdade provisória, a concessão ou não de menagem, quebra de sigilo bancário e fiscal. Deve-se observar desta maneira se ato tem conteúdo decisório, assim, atos de investigação no inquérito policial militar em que o juiz apenas remete os autos do inquérito da autoridade judiciária militar para o Ministério Público Militar não previne o juiz. 10. DA COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO (art. 98 do CPPM) Quando, na sede de Circunscrição, houver mais de uma Auditoria com a mesma competência, esta se fixará pela distribuição. A distribuição realizada em virtude de ato anterior à fase judicial do processo prevenirá o juízo. Com a utilização dos critérios anteriores, já estará fixada a Circunscrição Judiciária Militar. Ocorre que é possível que tenha mais de um juiz igualmente competente para o caso. Se algum deles adiantar-se aos demais na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia, passa a ser o único competente mediante prevenção. Se não houver prevenção, será feita a distribuição. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 57 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 11. PRERROGATIVA DE POSTO E FUNÇÃO (art.108 do CPPM) Em face da relevância do cargo ou da função exercida por determinadas pessoas, são elas julgadas originariamente por órgãos superiores da jurisdição e não pelos órgãos comuns. A denúncia deve ser oferecida pelo órgão do Ministério Público Militar em atuação com o Superior Tribunal Militar. Estende-se a competência do Superior Tribunal Militar sobre seu jurisdicionado qualquer que tenha sido o local da prática do delito. A competência por prerrogativa do posto ou da função decorre da sua própria natureza e não da natureza da infração, e regula-se estritamente pelas normas expressas na legislação especial. Compete ao Superior Tribunal Militar processar e julgar originariamente os oficiaisgenerais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei (art. 6º, I, “a”, da Lei 8457/92), como os oficiais generais das três forças: Marinha, Exército e Aeronáutica, isto é, Almirantes, na Marinha, Brigadeiros na Aeronáutica e Generais no Exército. A lei menciona crimes militares, assim, os oficiais generais por crimes militares são julgados pelo Superior Tribunal Militar. Todavia, se um oficial general pratica qualquer outro crime comum, doloso contra a vida contra civil, de trânsito, será julgado pelo tribunal do júri ou juízo comum no lugar da infração. A prerrogativa da função dos oficiais generais é somente para os crimes militares, no Superior Tribunal Militar. O comandante do teatro de operações responderá a processo perante o Superior Tribunal Militar, condicionada a instauração da ação penal à requisição do Presidente da República (art. 95, parágrafo único, da Lei 8457/92). Nesta situação, o legislador ressalta na hipótese a função que o acusado exerce, e não o fato de ele ser oficial-general, mesmo porque tal função não será, necessariamente, privativa do oficialato máximo, ou até mesmo de militar. Condiciona-se ainda a instauração da ação penal à requisição do Presidente da República, exceção que se faz à norma geral da ação penal militar pública incondicionada. Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, que menciona competência privativa ao Senado Federal para processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles (art. 102, I, “c”, da CF). Assim, os comandantes das três forças serão julgados pelos crimes comuns e de responsabilidade (infrações político-administrativas) perante o Supremo Tribunal Federal, salvo a última, quando conexa com o Presidente e o Vice-presidente da República; neste caso serão julgados pelo Senado Federal (jurisdição política). 12. PRERROGATIVA DE POSTO E DE FUNÇÃO NA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL Os Oficiais da PM e do BM são processados e julgados pelo Conselho Especial de Justiça, competência por prerrogativa de posto. Entretanto, nos crimes militares cometidos contra civil, o militar estadual, independentemente de posto, graduação ou praça, é julgado, singularmente, pelo Juiz de Direito do Juízo Militar. A prerrogativa estende-se ao Oficial na inatividade. 13. PRERROGATIVA DE FORO E CRIME MILITAR DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 58 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR No caso de autoridades que têm foro por prerrogativa de função assegurada constitucionalmente em razão da importância do cargo que ocupam, possuem um foro originário que pode ser, dependendo do caso, os Tribunais Superiores (STF e STJ) ou Tribunais Regionais ou Estaduais (TRF, TJ e TRE). Em relação à Justiça Militar Estadual, não tem maiores problemas, pois civis não respondem perante a Justiça Militar Estadual por vedação expressa no art. 125, § 4º, da CF. No que tange à Justiça Militar da União, em que o civil pode cometer crime militar definido em lei ou em crime conexo com militar, é que pode suscitar alguma dúvida. Eugênio Pacceli menciona que, em tema de foro privativo por prerrogativa de função, a dicotomia adotada na jurisdição penal brasileira biparte-se na definição de crimes comuns e crimes de responsabilidade. E só. Assim, entre crimes comuns estão incluídas, unicamente para tais finalidades (determinação de foro privativo), todas as infrações penais que não constituam crime de responsabilidade, visto que estes estão submetidos à jurisdição política. Ronaldo João Roth analisa que a condição especial da Justiça Militar vem justificada na CF quando definiu a sua competência de julgar os crimes militares definidos em lei, resultando de uma Lei de Organização Judiciária Militar, que existe no plano federal e de maneira autônoma em cada unidade da federação, um Código Penal Militar e o Código de Processo Penal Militar, com aplicação na Justiça Militar Estadual e Federal. Célio Lobão conclui que o Direito Penal Militar é especial em razão do bem jurídico tutelado – as instituições militares – especificamente, na disciplina e hierarquia, do serviço e do dever militar, acrescido da condição de militar dos sujeitos do delito. Dessa forma, seriam delitos especiais apenas os crimes propriamente militares, enquanto os impropriamente militares, embora inseridos no Código Penal Militar, não seriam crimes especiais. Apesar de serem julgados por órgãos especiais constitucionalmente previstos, em razão de circunstâncias expressas na lei, tais delitos não se especializam e continuam sendo crimes comuns. O autor faz referência a dois crimes impropriamente militares cometidos por civil, atentatórios ao serviço militar, que são: insubmissão, que se encontra previsto nos arts. 183 a 186 do CPM e favorecimento a desertor no art. 193 do CPM. Dessa forma concluímos que o crime militar é um crime comum julgado em justiça constitucionalmente especializada. Ou melhor, um crime comum especial, pois, em contrapartida, por não ser um crime de responsabilidade e por ser processado em justiça especializada que julga apenas delitos constitucionalmente delimitados e infraconstitucional-mente tipificados. Ressaltamos que, caso seja objeto de questão em prova, deve-se responder que se trata de crime comum. Com respeito às autoridades que têm o foro por prerrogativa de função determinada expressamente na Constituição Federal nos Tribunais Superiores, sem nenhuma ressalva, entendemos que, caso sejam agentes de um crime militar, responderão em seus respectivos foros constitucionalmente previstos. Ex. A mãe de um deputado federal, viúva de militar que recebia pensão, vem a falecer e o deputado federal continua recebendo os vencimentos da pensão que era devida a sua mãe, sem comunicar o óbito à administração militar. Ele responderá pelo crime, em tese, de estelionato ou apropriação indébita (divergências na doutrina e jurisprudência) no Supremo Tribunal Federal, art. 102, I, “b”, da CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, I - processar e julgar, originariamente: b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República. O STF enfrentou esta questão em relação a deputado federal, militar da reserva remunerada, pela suposta prática do crime de publicação ou crítica indevida, previsto no art. 166 do Código Penal Militar - CPM, em razão de ter publicado, em seu jornal, matéria crítica a ato de comandante de batalhão da polícia militar. Salientou-se que o indiciado, embora no exercício de mandato de DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 59 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR deputado federal, submeter-se-ia à aplicação da lei penal militar por ser militar da reserva remunerada (art. 9º, III e 13 do CPM), e responderia ao inquérito e posterior ação penal no STF enquanto deputado federal. Já em relação às autoridades que têm a sua competência constitucionalmente prevista nos Tribunais inferiores, com a única ressalva da competência da Justiça Eleitoral, entendemos que segue a regra geral e serão processadas nos foros que a CF prevê expressamente considerando os crimes militares como crimes comuns. Como exemplo, o art. 96: “Compete privativamente: III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral”, e o art. 108: “Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os juízes federaisda área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral”. No exemplo acima, se juiz estadual cometer crime militar federal, será julgado no seu respectivo tribunal; da mesma forma, se juiz federal cometer o mesmo delito, será julgado no seu respectivo Tribunal Regional Federal. Hipótese que pode suscitar alguma celeuma é no caso dos deputados estaduais e prefeitos, que têm a regra constitucional implícita de competência em relação aos crimes militares federais prevista no art. 29, X, da CF- julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça em relação aos prefeitos e art. 27, § 1º - aos Deputados Estaduais, aplicando-se lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades c/c art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição, ambos da Carta Política. Eugênio Pacelli menciona que, em relação aos deputados estaduais e prefeitos, o foro privativo na jurisdição do Tribunal de Justiça somente se aplicará quando se tratar de crime de competência da Justiça Estadual, ficando, portando, ressalvada a competência da Justiça Federal – nos crimes federais, quando será do Tribunal Regional Federal –, da Justiça Eleitoral (nos crimes eleitorais, cuja competência desloca-se para o Tribunal Regional Eleitoral) e até mesmo da Justiça Militar da União ( na hipótese de crime militar). Concordamos com o autor, no entanto, ao fazer o seu correto raciocínio, deixou de mencionar qual seria o tribunal competente para julgar prefeito ou deputado estadual que cometam crime militar. O Superior Tribunal de Justiça se pronunciou a respeito do tema, porém sem mencionar qual seria o tribunal competente. Ementa: constitucional. Processual penal. Prefeito municipal. Foro criminal. Tribunal de justiça.- a carta magna de 1988 instituiu em favor dos prefeitos municipais o privilégio de foro, tornando imperativo o seu julgamento pelo tribunal de justiça, tanto nos crimes funcionais como nos comuns, ressalvada a competência da justiça federal, da justiça militar da união e da justiça eleitoral (art. 29, x). Tendo sido cometido o crime durante o cumprimento do mandato, prevalece a competência especial mesmo após o período de exercício funcional (SUM. 394/STF).- habeas corpus concedido. STJ HC 4697/CE; Relator Ministro Vicente Leal, DJ 24.02.1997. Esta jurisprudência deve ser lida com as regras atuais, no que tange ao período em que o ocupante do cargo irá gozar de foro privilegiado, uma vez cancelada a Súmula 392 do STF e declaração de inconstitucionalidade na ADI 2.797 e 2860 da Lei 10.628/2002, que afastou de vez a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 60 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR possibilidade de ocupante de cargo com foro por prerrogativa de função continuar a responder processo no foro privilegiado, após o afastamento do cargo. Na Justiça Militar Federal a competência funcional vertical ou em razão de recurso é do Superior Tribunal Militar. No caso dos deputados estaduais e dos prefeitos não há uma regra constitucionalmente expressa em relação aos crimes militares nem uma excepcionalidade constitucional. Fredie Didier Jr lembra que o STF admite que se reconheça a existência de competência implícita (implied power): “quando não houver regra expressa, algum órgão jurisdicional haverá de ter competência para apreciar a questão". Da mesma forma o professor Canotilho comenta que o poder implícito ou implied power é o poder não expressamente mencionado na constituição, mas adequado à prossecução dos fins e tarefas constitucionais atribuídos aos órgãos de soberania. Valendo-se desse raciocínio e de uma interpretação sistemática, entendemos que, em relação aos prefeitos e deputados estaduais que venham a cometer crime militar, a competência será implícita e em simetria com o Tribunal de Justiça, órgão jurisdicional de segundo grau que é competente para processar e julgar as autoridades em crimes estaduais; caso cometam crimes militares, deverão ser julgadas pelo Superior Tribunal Militar, órgão jurisdicional de segundo grau da Justiça Militar da União, competente implicitamente para o processo e julgamento. Assim, os prefeitos e deputados estaduais serão julgados pelo Superior Tribunal Militar. A mesma regra será utilizada pelo agente militar que vier a ocupar algum cargo com foro por prerrogativa de função. Deve ser iniciado o processo no foro militar, caso tenha início na Justiça Militar e no correr do processo venha o militar a exercer cargo civil com prerrogativa de foro, o processo deve ser remetido à justiça constitucionalmente competente, observando o regramento da súmula 451 do STF. EMENTA: - Conflito de competência. 2. Acusação de participação de cerca 2.000 integrantes da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais em fatos ocorridos entre os dias 13 a 24 de junho de 1997, em Belo Horizonte, de possível caráter delituoso. 3. Hipótese de aplicação do art. 80 do Código de Processo Penal, justificando-se o desmembramento dos processos em face do excessivo número de acusados. 4. Competência do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais para o processo e julgamento dos policiais investidos em mandato de Deputado Estadual, devendo os demais ser remetidos à Primeira Instância da Justiça Militar do Estado de Minas Gerais. Pet-QO 2020 / MG - MINAS GERAIS QUESTÃO DE ORDEM NA PETIÇÃO Relator: Min. NÉRI DA SILVEIRA, Julgamento:08/08/2001, Órgão Julgador: Tribunal Pleno 14. CONEXÃO E CONTINÊNCIA (arts. 99 a 107 do CPPM) Alguns doutrinadores entendem que a conexão e a continência são critérios para a fixação da competência; filiamo-nos à corrente majoritária que entende ser caso de prorrogação. Com efeito, quando existe algum vínculo entre duas ou mais infrações, estabelece a lei que deve existir um só processo para facilitar a colheita da prova e evitar decisões conflitantes. Uma regra básica para diferenciar a conexão da continência é que nesta necessariamente há uma conduta (ação ou omissão), mesmo que tenha mais de um resultado. Naquela há mais de uma conduta (ação ou omissão) e mais de um resultado. Em ambas pode ocorrer pluralidade de agentes. Assim, para facilitar e guardar a regra: continência, uma; conexão, duas (conduta). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 61 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR As regras do Código de Processo Penal Militar são muito parecidas com a legislação comum em relação à conexão e à continência. Para que exista conexão, deve haver um vínculo, uma ligação entre dois ou mais crimes, militares ou comuns (latu sensu). O art. 99 do Código de Processo Penal Militar enumera essas hipóteses, devendo-se salientar que só se fala em conexão quando forem praticadas duas ou mais infrações, no entanto não é o critério diferenciador com a continência que provoca a ocorrência de duas ou mais infrações. 14.1 HAVERÁ CONEXÃO (art. 99 do CPPPM): a) se, ocorridas duas ou mais infrações, tiverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; Conexão intersubjetiva: nesta, as duas ou mais infrações são praticadas por dois ou mais sujeitos (intersubjetiva), sendo que o vínculo entre os delitos reside justamente nisso. Dá-se pelas seguintes formas: a.1) intersubjetiva por simultaneidade: se, ocorrendo duas ou mais infrações penais, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas. Não há liame subjetivo ou acordo de vontade prévio. Ex. GRENAL em que a torcida do Grêmio depredou o estádio do Gigante da Beira-Rio. a.2) intersubjetiva por Concurso: se, ocorrendo duas ou mais infrações penais,houverem sido praticadas por várias pessoas em concurso, embora diverso tempo e lugar. Neste caso há liame subjetivo entre os agentes. Ex.: quadrilhas especializadas a roubo de banco na região metropolitana de Porto Alegre, no mesmo dia e horário. a.3) intersubjetiva por reciprocidade: se as infrações forem praticadas por duas ou mais pessoas, umas contra as outras. Ex.: as torcidas organizadas (bem delimitado o grupo) na saída do GRENAL. b) se, no mesmo caso, umas infrações tiverem sido praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; Conexão objetiva: são hipóteses em que o vínculo entre as infrações está na motivação de uma delas em relação à outra. Classificam-se em: b.1) objetiva teleológica: quando uma infração penal visa a assegurar a execução de outra. Ex.: matar o único vigia em uma casa para entrar e furtar objetos. b.2) objetiva consequencial: quando uma infração visa a assegurar a ocultação, a impunidade ou vantagem de outra. Depois de entrar na casa e furtar, ser surpreendido por vigia (testemunha) e o matar para assegurar a impunidade do crime. Não há um vínculo subjetivo nesta hipótese e sim, por uma questão fática (objetiva), houve a realização de um segundo crime conexo com o primeiro. EMENTA. RECURSO INOMINADO. ART. 146 DO CPPM. COMPETÊNCIA REGULADA PELA CONEXÃO. É mister que o Juiz, ao apreciar a legalidade da prisão em flagrante, adentre à análise da tipicidade do delito em tese praticado pelo preso. Mas os fundamentos da decisão, bons ou ruins, não servem para impedir o Parquet de exercer seu mister de dominus litis, nem têm o condão de rejeitar denúncia ainda não oferecida. A expressão "no mesmo caso" contida na alínea "b" do art. 99 do CPPM não se refere à expressão DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 62 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR "ao mesmo tempo" inserta na alínea "a" do mesmo artigo mas à expressão "se, ocorridas duas ou mais infrações" com a qual se inicia o referido dispositivo. "Para existir a conexão objetiva, não há necessidade de mais nada que a relação de causalidade, não se cogitando, por isso, de concomitância, pluralidade de agentes ou concerto prévio" (FREDE-RICO MARQUES). Conexão reconhecida em virtude de a infração, se havida, ter sido praticada para conseguir impunidade ou vantagem em relação a outra. Recurso parcialmente provido. Unânime. STM (RECURSO CRIMINAL N° 2001.01.006929-7 - RJ - Ministro Relator JO-SÉ JULIO PEDROSA - sessão em 11/04/2002.) c) quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Conexão instrumental ou probatória: quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Esta hipótese é o cerne de toda a conexão, pois a sua maior função é facilitar a colheita da prova e alcançar a verdade real (utopia). A reunião dos processos é um dos instrumentos para facilitar a prova de um ou ambos os crimes (instrumental probatória). 14.2 HAVERÁ CONTINÊNCIA (art. 100 do CPPM): a) quando duas ou mais pessoas forem acusadas da mesma infração; Por cumulação subjetiva: quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração (concurso de pessoas). Ementa: Concurso de agentes. Crime de natureza militar em face do critério "ratione personae". Coautor estranho à carreira militar. Irrelevância. Em se tratando de concurso de agentes, cujo crime de estelionato fora em tese praticado por um militar da ativa associado a um civil, contra outro militar, também da ativa, devem ambos os agentes, na condição de coautores, responderem pela conduta na Justiça Especializada, nos termos do artigo 9º, inciso II, alínea "a", do CPM, c/c o artigo 100, alínea "a", do CPPM. Prevalece o entendimento segundo o qual se um civil participa de um crime que só será considerado militar pelo critério "ratione personae", incide nas penas dele, apesar de ser civil, pois a qualidade militar do autor se comunica ao partícipe. Provido o recurso do MPM para, reconhecendo a competência da Justiça Militar da União, cassar a decisão recorrida e determinar a baixa dos autos à Auditoria de origem, a fim de que o MM. Juiz- Auditor se manifeste sobre o recebimento ou não da denúncia oferecida contra o civil, à luz dos demais requisitos do artigo 77 do CPPM. Decisão majoritária. (STM Recurso Criminal nº 2002.01.007039-2/RJ, decisão de 20/03/2003, Relator Ministro ANTONIO CARLOS DE NOGUEIRA.) b) na hipótese de uma única pessoa praticar várias infrações em concurso. Por cumulação objetiva: Nas hipóteses de concurso formal, inclusive na aberratio ictus e aberratio criminis. Uma única conduta com dois ou mais resultados. Ementa: Nulidade do processo. Inocorrência de conexão ou continência. Ausência de violação ao princípio do juiz natural. Cerceamento de defesa caracterizada. Prescrição DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 63 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR da pretensão punitiva. Não se tem conexão porque as infrações não foram cometidas uma para facilitar ou ocultar a outra, ou para assegurar impunidade ou vantagem em relação a quaisquer delas, e porque a prova de uma ou de quaisquer de suas circunstâncias elementares não influi na prova da outra infração. Também não há que se falar em continência, porque os dois militares não foram acusados da mesma infração, mas, sim, de infrações diferentes embora com a mesma capitulação. Em relação à substituição de um membro do Conselho, transferido para outra OM, embora irregular, tal providência não tem o condão de gerar nulidade, conforme dispõe o art. 509 do CPPM, pois para a condenação decretada em primeira instância, que foi unânime, a maioria não se constituiu com o seu voto. A disposição contida no § 2º do art. 417 do CPPM, estabelecendo o número máximo de 03 (três) testemunhas de Defesa por acusado, é incompatível com os princípios da isonomia e da ampla defesa, devendo ser assegurada a oitiva do mesmo número de testemunhas permitido à acusação. Em se tratando de nulidade do processo, como a nova sentença não poderá aplicar pena mais grave, posto que implicaria reformatio in pejus indireta, a prescrição da pretensão punitiva deve ser regulada pelo quantum da pena imposta na sentença anulada. Preliminarmente e de ofício, com base no art. 500, inc. I, do CPPM, foi declarada a nulidade do processo; rejeitada a preliminar que alegava violação ao princípio do juiz natural; acolhida a preliminar de cerceamento de defesa para declarar nulo o processo, e, ainda, de ofício, declarada a extinção da punibilidade. Decisão unânime. (STM AP. 2001.01.048869-3, REL MIN ANTONIO CARLOS DE NOGUEIRA, DJ 5.11.2002.) 14.3 REGRAS PARA DETERMINAÇÃO (art. 101 do CPPM) Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: Concurso e prevalência I - No concurso entre a jurisdição especializada e a cumulativa, preponderará aquela; Esta regra é utilizada para os crimes militares cometidos fora do território nacional, os quais serão, de regra, processados em Auditoria da Capital da União. II - No concurso de jurisdições cumulativas: a) prevalecerá a do lugar da infração, para a qual é cominada pena mais grave; Ex.: Sujeito prestando serviço militar em Bagé, RS, rouba um celular de um colega e é transferido para prestar serviço militar em Porto Alegre e lá, antes de iniciada a ação penal em Bagé, vende este celular para outro colega de farda na guarnição, sabendo ser produto de crime (receptação). Temos dois crimes militares, um de receptação – pena de reclusão até cinco anos –, e roubo – pena de reclusão de quatro a quinze anos. Utilizando-se a regra do art. 101, II, “a”, será competente para julgar e processar os dois delitos a Auditoria de Bagé/RS. ESTELIONATO. USO DE DOCUMENTO FALSO. CRIMESCONEXOS. ARGUI-ÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO FORMULADA PELO MPM. MANU-TENÇÃO DA DECISÃO "A QUO". 1. Trata a hipótese, ainda que em tese, de crimes conexos, uma vez que os fatos apurados em um processo (estelionato) e os averiguados em outro feito (uso de documento falso) estão intimamente ligados, não devendo, por isso mesmo, serem DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 64 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR julgados separadamente, considerando-se que o resultado do julgamento de um processo poderá influir, diretamente, no do outro. 2. "Havendo conexão entre dois crimes, deve preponderar a jurisdição do lugar da infração mais grave... ." (STF. RT 537/412). É o caso dos autos. Negado provimento ao recurso ministerial, mantendo-se a Decisão "a quo". Decisão unânime. (STM RCR. 2002.01.006933-5, MIN REL SERGIO XAVIER FEROLLA, DJ 12.3.2002.) b) prevalecerá a do lugar onde houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; Ex.: Militar prestando serviço militar em Bagé, RS, subtrai um aparelho celular de um colega e uma mochila de outro, no alojamento da organização militar. Transferidos para Porto Alegre, um dos colegas de farda empresta-lhe um aparelho celular, que, após receber, inverte a pôs-se e não entrega mais o aparelho para seu colega, apropriando-se do bem. Neste caso temos dois crimes de furto com pena de reclusão até seis anos e um crime de apropriação indébita com igual pena. Assim, prevalece o foro de Bagé onde foi cometido o maior número de crimes com igual apenação. c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos demais casos, salvo disposição especial (Prevenção). Não sendo possível estabelecer a competência pelas regras anteriores, vale-se da regra subsidiária da prevenção, ou seja, aquele que primeiro tiver conhecimento do processo e proferir algum despacho de cunho decisório. EMENTA. Recurso Criminal. Estelionato. Rejeição de denúncia. Arguição de incompetência. Teoria da ubiquidade. Prevenção. Fraude na realização de concurso, em que o candidato se faz substituir por pessoa diversa, logrando aprovação no certame. Prova realizada em Belém com a utilização de fraude e obtenção da vantagem ilícita em São Paulo. Incerteza quanto à competência resolvida pela regra da prevenção (CPPM, art. 94), quando um juiz (2ª CJM) se antecipa a outro (8ª CJM) por haver praticado medida no processo, mesmo an-tes do oferecimento da denúncia. Precedentes. Recurso ministerial improvido, para declarar a competência do Juízo da 2ª Auditoria da 2ª CJM. Decisão unânime. (STM RCR. 2004.01.007213-1, REL MIN VALDÉSIO GUILHERME DE FIGUEIREDO, DJ 9.11.2004.) III - no concurso de jurisdição de diversas categorias, predominará a de maior graduação. Regra utilizada em relação ao Superior Tribunal Militar e Auditorias. Prevalece o Superior Tribunal Militar. Em caso de conexão ou continência, o juízo prevalente terá a sua competência prorrogada para processar as infrações cujo conhecimento, de outro modo, não lhe competiria. Ex.: Soldado em concurso comete um crime militar com um General do Exército; ambos serão julgados no Superior Tribunal Militar. Verificada a reunião dos processos, em virtude de conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará ele competente em relação às demais infrações (art. 104 do CPPM). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 65 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR É o caso de perpetuação da jurisdição. No exemplo acima, caso o General venha ser absolvido, o Superior Tribunal Militar continuará competente para julgar o soldado. EMENTA: - Habeas Corpus. 2. Competência. 3. Justiça Militar. 4. Lei nº 8457/1992, art. 23, §§ 2º e 3º. 5. Se a acusação abranger oficial e praça, responderão todos perante o mesmo Conselho, ainda que excluído do processo o oficial. 5. Hipótese em que a competência era do Conselho Especial de Justiça para processar o oficial e praça (Lei nº 8457/1992, art. 27, I). 6. A unidade do processo era obrigatória, no caso, ut arts. 102 e 99, alínea c, do CPPM. Conexão dos fatos e sua incindibilidade. 7. Habeas Corpus deferido, acolhendo-se o parecer da Procuradoria-Geral da República, anulando-se, em consequência, o processo, por incompetência do Juízo de primeiro grau (Conselho Permanente de Justiça), devendo o feito ser renovado, no Conselho Especial de Justiça, perante o qual foi processado e julgado o oficial. HC 77972 / AM – AMAZONAS, Relator(a): Min. NÉRI DA SILVEIRA, DJ 21-05-1999. 15. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DOS PROCESSOS (art. 102 do CPPM): A conexão e a continência determinarão a unidade do processo, salvo: a) no concurso entre a jurisdição militar e a comum; No caso de civil praticar crime conexo com policial militar, por vedação expressa, o policial militar será julgado na Justiça Militar Estadual, e o civil, na Justiça comum, tendo em vista que o civil jamais cometerá crime militar estadual. Já no caso de crime militar federal, se o civil cometer crime militar conexo com militar federal, ambos serão julgados na Justiça Militar Federal. Outra situação, se o civil cometer crime comum (não crime militar) e militar, crime militar, o civil será julgado pela Justiça comum e o militar pela Justiça Militar. EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. INDEFERIMENTO DE DECLI-NATÓRIA DE FORO. DENÚNCIA SOBRE RECEPTAÇÃO E FURTO QUALIFI-CADO DE ARMAS DE FOGO. SUBTRAÇÃO DE UNIDADE MILITAR E APRE-ENSÃO EM RESIDÊNCIAS DOS DENUNCIADOS. TIPICIDADES EM FACE DO CPM E DA LEI Nº 9.437/97. COMPETÊNCIAS DISTINTAS, "IN CASU", DAS JUSTIÇAS CASTRENSE E ORDINÁRIA. Concurso de crimes tornando os agentes, de forma respectiva, objetos de sanções dos Arts. 254 e 240, § 5º, do Diploma Repressor Castrense e do Art. 10 da "Lex" supra destacada, cabendo, em processos separados, a apreciação das específicas ilicitudes pelos devidos foros competenciais, "id est", o militar e o comum. Inteligências dos arts. 100, alínea b), e 102, alínea b), do CPPM. Provimento do recurso "in tela". Desconstituição, em parte, do "decisum" de 1º grau. Encaminhamento de cópias de atinentes peças de IPM à Justiça Comum do Estado de São Paulo. Decisão por unanimidade. (STM RCR. 2001.01.006803-7, REL MIN CARLOS EDUARDO CEZAR DE ANDRADE, 26.9.2001.) PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME MILITAR. CRIME DE HOMICÍDIO. CONEXÃO. REUNIÃO DOS PROCESSOS. IMPOS-SIBILIDADE. 1.Mesmo havendo a conexão entre o crime de homicídio e de furto de armas do patrimônio sob administração militar, não é possível a reunião do processo, diante de vedação expressa. 2. Conflito conhecido para declarar competente para o julgamento do crime de furto das armas o juízo da 1ª Auditoria da 3ª CJM do Rio Grande do Sul, anulando-se a sentença e DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 66 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR a decisão do tribunal do júri relativamente ao mesmo crime. (STJ, CC nº 79.555, RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJ: 20/08/2007.) Pode acontecer de o militar cometer um crime militar e comum conexo com aquele. O fato de um crime ser cometido por militar não é suficiente para atrair a competência da Justiça Especial. Nesse caso também há separação obrigatória. Súmula 90 do STJ: “Compete à Justiça Estadual Militar processar e julgar policial militar pela prática do cri-me militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele”. EMENTA: AÇÃO PENAL. Competência. Crime de roubo. Fato praticado, com abandono de posto e arma da corporação, fora da área sujeita à administração castrense. Incompetência da Justiça Militar. Feito da competência da Justiça Comum, sem prejuízo da competência daquela para o delito de abandono de posto. HC concedido para o reconhecer.Inteligência do art. 124 da CF. Precedentes. Ação penal por delito cometido por militar, com abandono de posto e arma da corporação, fora da área sujeita à administração castrense, não tem por objeto delito militar e, pois, é da competência da Justiça Comum, sem prejuízo da competência da Justiça Militar para o delito de abandono de posto. (STF - HC 91658 / RJ - Relator: Min. CEZAR PELUSO. DJe- 22-05-2009). Um mesmo fato pode originar duas ações, por exemplo, na Justiça Federal Comum e Justiça Militar da União. É o caso, por exemplo, dos controladores de voo e sargentos da Força Aérea Brasileira responsáveis pelo monitoramento das rotas do Boeing 737 da Gol Linhas Aéreas e do Jato Legacy, da empresa americana Excel Air Service, cujo choque resultou no acidente que vitimou todos os passageiros e tripulantes do avião da Gol que continuarão a ser processados pela Justiça Federal e também pela Justiça Militar. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal rejeitou o Habeas Corpus (HC 105301) contra o acórdão do STJ assim ementado. “PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. ACIDENTE AÉREO. ATENTADO CONTRA A SEGURANÇA DE TRANSPORTE AÉREO. INOBSERVÂNCIA DE LEI, REGULAMENTO OU INSTRUÇÃO E HOMICÍDIO CULPOSO. DELITOS PRATICADOS POR MILITARES, CONTROLADORES DE VOO. CRIMES DE NATUREZA MILITAR ECOMUM. DESMEMBRAMENTO. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM. INEXISTÊNCIA DE CONFLITO. 1. Não ofende o princípio do ne bis in idem o fato dos controladores de voo estarem respondendo a processo na Justiça Militar e na Justiça comum pelo mesmo fato da vida, qual seja o acidente aéreo que ocasionou a queda do Boeing 737/800 da Gol Linhas Aéreas no Município de Peixoto de Azevedo, no Estado do Mato Grosso, com a morte de todos os seus ocupantes, uma vez que as imputações são distintas. 2. Solução que se encontra, mutatis mutandis, no enunciado da Súmula 90/STJ: "Compete à Justiça Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime militar, à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele". 3. Conflito não conhecido.” ( STJ - CC nº 91.016- MT) O Ministério Público Federal denunciou os controladores por dois crimes dolosos de atentado contra a segurança de transporte aéreo, em concurso formal, sendo um na modalidade fundamental (art. 261 do Código Penal), quanto à periclitação do jato Legacy, e outro qualificado por 154 mortes (art. 261, § 1º, c/c o art. 263, ambos do Código Penal), em relação ao avião da Gol. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 67 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Na sequência, o Ministério Público Militar ofereceu denúncia contra os mesmos profissionais pela prática do delito de inobservância de lei, regulamento ou instrução (delito previsto exclusivamente no artigo 324 do Código Penal Militar). Um dos controladores foi denunciado ainda por homicídio culposo, que tem igual definição na lei penal comum e na castrense. De acordo com o relator do HC, ministro Joaquim Barbosa, os controladores e sargentos não são processados pela prática das mesmas condutas delituosas na Justiça Federal e na Justiça Militar, muito embora tais ações penais tenham se originado de um mesmo fato. Já no tocante à alegação de bis in idem, o relator destacou que as informações prestadas pelo juiz federal de Sinop (MT) e pela 11ª Circunscrição Judiciária Militar deixam claro que as imputações que recaem sobre os denunciados “são distintas, bem delineadas e peculiares dos respectivos âmbitos de competência”. Joaquim Barbosa ressaltou que a decisão do STJ no conflito de competência (CC 91.016) acentuou que “os controladores de voo estão respondendo a processos, nas Justiças Federal do Mato Grosso e Federal Militar da Circunscrição Judiciária do Distrito Federal, pelo mesmo fato da vida, mas com imputações distintas, inexistindo bis in idem”. “Frise-se que a jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que um determinado acontecimento, em regra, pode dar origem a mais de uma ação penal, sobretudo quando envolverem delitos inerentes à competência absoluta de distintos e especializados segmentos jurisdicionais, no caso, Justiça Comum e Justiça Penal Militar”. Interessante na separação obrigatória de processos, que o trânsito em julgado da decisão do juiz absolutamente competente (militar ou comum) não impede o processamento no juízo absolutamente competente pelo delito remanescente e que importaria a hipótese de separação obrigatória. Por exemplo, um fato praticado por um policial militar, que em tese configuraria o delito de abuso de autoridade, tipificado na Lei 4898/65, e lesão corporal, tipificada no art. 209 do CPM. Deve- se atentar à Súmula 172 do STJ: “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”. A transação penal aceita e homologada no juizado especial relativamente ao crime de abuso de autoridade, de competência da justiça comum, não constitui causa de extinção da punibilidade em relação ao crime conexo de lesão corporal leve, previsto no Código Penal Militar, não sendo possível o julgamento por uma única das instâncias, diante de vedação legal expressa. EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL. TRAN-CAMENTO. ALEGAÇÃO DE DUPLICIDADE DE PROCESSOS SOBRE OS MESMOS FATOS. CRIMES DE NATUREZA COMUM E CASTRENSE. CUM-PRIMENTO DE TRANSAÇÃO PENAL E EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NA JUSTIÇA ESTADUAL. COISA JULGADA MATERIAL. PERSECUÇÃO PENAL NA JUSTIÇA MILITAR. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM: AUSÊNCIA DE PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DOS FUNDAMENTOS APRESENTADOS. HA-BEAS CORPUS INDEFERIDO. 1. Eventual reconhecimento da coisa julgada ou da extinção da punibilidade do crime de abuso de autoridade na Justiça comum não teria o condão de impedir o processamento do Paciente na Justiça Castrense pelos crimes de lesão corporal leve e violação de domicílio. 2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que, por não estar inserido no Código Penal Militar, o crime de abuso de autoridade seria da competência da Justiça comum, e os crimes de lesão corporal e de violação de domicílio, por estarem estabelecidos nos arts. 209 e 226 do Código Penal Militar, seriam da competência da Justiça Castrense. Precedentes. 3. Ausência da plausibilidade jurídica dos fundamentos apresentados na inicial. 4. Habeas corpus indeferido. (STF HC 92912, Relatora: Min. CÁRMEN LÚCIA, DJ 19-12-2007.) DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 68 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR b) no concurso entre a jurisdição militar e a do Juízo de Menores. O civil ou militar responderá na Justiça Militar e o menor na vara ou juízo da infância e juventude pelo ato infracional conexo com o cri-me militar. A separação do processo, no concurso entre a jurisdição militar e a civil, não quebra a conexão para o processo e julgamento, no seu foro, do militar da ativa, quando este, no mesmo processo, praticar em concurso crime militar e crime comum. Caso o civil e o militar tenham praticado crime militar e comum, continua havendo a reunião dos processos na Justiça comum pelo crime comum a que ambos irão responder em conexão. 16. SEPARAÇÃO FACULTATIVA (art. 106 do CPPM): O juiz poderá separar os processos: a) quando as infrações houverem sido praticadas em situações de tempo e lugar diferentes; b) quando for excessivo o número de acusados, para não lhes prolongar a prisão; c) quando ocorrer qualquer outro motivo que ele próprio repute relevante. A principal função da reunião dos processos pela conexão e continência é facilitar a colheita da prova e evitar decisões conflitantes. Acontece que, em determinadas situações como as acima, a reunião ao invés de ajudar acaba prejudicando o bom andamento do processo ou causando um grande gravame para o acusado, autorizando a cisão do processo. Da decisão do Juiz-Auditor ou de Conselho de Justiça que determinar a separação do processo,haverá recurso de ofício para o Superior Tribunal Militar. 17. SEPARAÇÃO DO PROCESSO NA ETAPA DO JULGAMENTO (art. 105 do CPPM) Separar-se-ão somente os julgamentos: a) se, de vários acusados, algum estiver foragido e não puder ser julgado à revelia; b) se os defensores de dois ou mais acusados não acordarem na suspeição de juiz de Conselho de Justiça, superveniente para compô-lo, por ocasião do julgamento. 18. AVOCAÇÃO DE PROCESSO (art. 107 do CPPM): Se, não obstante a conexão ou a continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 69 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade do processo só se dará ulteriormente, para efeito de soma ou de unificação de penas. A sentença definitiva que refere o regramento é aquela que decide o mérito e com o recurso cabível de apelação. Não há sentença com trânsito em julgado. 19. DESAFORAMENTO (arts. 109 a 110 do CPPM) O desaforamento do processo poderá ocorrer: a) no interesse da ordem pública, da Justiça ou da disciplina militar; b) em benefício da segurança pessoal do acusado; c) pela impossibilidade de se constituir o Conselho de Justiça ou quando a dificuldade de constituí-lo ou mantê-lo retarde demasiadamente o curso do processo. EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO MILITAR. IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DO SORTEIO PARA CONSTITUIR-SE O CONSELHO DE JUSTI-ÇA. DESAFORAMENTO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. SUSPENSÃO DO PROCESSO: QUESTÃO NÃO SUBMETIDA A EXAME DO TRIBUNAL A QUO. 1. Verificada a impossibilidade de realizar-se o sorteio para a constituição do Conselho Especial de Justiça, em razão da insuficiência numérica de oficiais-generais na circunscrição da respectiva Auditoria Militar, cabível é o desaforamento do feito, nos termos da norma processual pertinente. Não configura violação ao princípio do juiz natural decisão nesse sentido, dado que os acusados serão levados a julgamento pela autoridade judiciária competente. 2. Alegação de que os pacientes fazem jus à suspensão do processo com base no artigo 89 da Lei 9099/95. Inviável, neste writ, o exame da questão, já que não fora submetida à análise do Tribunal a quo. Habeas corpus conhecido em parte e, nessa parte, indeferido. HC 82578/AM – AMAZONAS, HABEAS CORPUS Relator: Min. MAURÍCIO CORRÊA, DJ 21-03-2003. 20. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR O pedido de desaforamento poderá ser feito ao Superior Tribunal Militar, pelas seguintes autoridades: a) pelos Ministros da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica; b) pelos comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, ou autoridades que lhe forem superiores, conforme a respectiva jurisdição; c) pelos Conselhos de Justiça ou pelo auditor; d) mediante representação do Ministério Público ou do acusado. Em qualquer dos casos, o pedido deverá ser justificado e sobre ele ouvido o procurador- geral, se não provier de representação deste. O Superior Tribunal Militar, se deferir o pedido, designará a Auditoria na qual deva ter curso o processo. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 70 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR O pedido de desaforamento, embora denegado, poderá ser renovado se o justificar motivo superveniente. No Estado do Rio Grande do Sul, é possível o desaforamento das Auditorias de Passo Fundo e de Santa Maria para Porto Alegre. Nos processos de competência singular do Juiz de Direito das referidas Auditorias, cabível o desaforamento no interesse da ordem pública, da disciplina militar, ou para garantia da integridade física, ou da vida do acusado, ou do defensor. Cabe ao Tribunal de Justiça Militar do RS decidir do pedido de desaforamento (art. 234, X, do COJE/RS). 21. DOS CONFLITOS DE COMPETÊNCIA (arts. 111 a 121 do CPPM) Haverá conflito positivo, quando duas ou mais autoridades judiciárias entenderem, ao mesmo tempo, que lhes cabe conhecer do processo e, negativo, quando cada uma de duas ou mais autoridades judiciárias entender, ao mesmo tempo, que cabe a outra conhecer do mesmo processo. O conflito poderá ser suscitado: a) pelo acusado; b) pelo órgão do Ministério Público; c) pela autoridade judiciária. O conflito será suscitado perante o Superior Tribunal Militar pelos auditores ou os Conselhos de Justiça, sob a forma de representação, e, pelas partes interessadas, sob a forma de requerimento, fundamentados e acompanhados dos documentos comprobatórios. Quando negativo o conflito, poderá ser suscitado nos próprios autos do processo. Tratando-se de conflito positivo, o relator do feito poderá ordenar, desde logo, que se suspenda o andamento do processo, até a decisão final. Da decisão final do conflito não caberá recurso. O Superior Tribunal Militar, mediante avocatória, restabelecerá sua competência sempre que invadida por juiz inferior. Compete ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar originariamente os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos (art. 105, I, “d”, da CF). Ex.: Conflito de competência entre Auditoria Federal e a Justiça comum. Conflito de competência entre Auditoria Federal e Auditoria Estadual. EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. CRIME MILITAR. FALSI-FICAÇÃO DE DOCUMENTO MILITAR. UTILIZAÇÃO PERANTE ÓRGÃO SU-JEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA CAS-TRENSE. 1. Comete crime militar o civil não só quando realiza ação típica prevista no Código Penal Militar e definida de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previsto, mas também quando pratica ilícito penal contra as instituições militares, que compreendem os crimes previstos de igual maneira na lei penal militar e na lei penal comum, nos casos previstos no inciso III do artigo 9º do Código Penal Militar. 2. A falsificação de Certificado de Saúde (CCF), emitido pelo Centro de Medicina Aeroespacial da Aeronáutica (CEMAL), e sua utilização perante o Departamento de Aviação Civil (DAC), ambos órgãos que compõem a estrutura básica do Ministério da Aeronáutica, constituem crimes militares. 3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Auditor da 1ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar, suscitante. STJ CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 37.893 - RJ (2002/0175850-6) RELATOR: MINISTRO HAMILTON CAR-VALHIDO, DJ, 16/08/2004. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 71 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal (art. 102, I. “o”, da CF). EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR. JURISDIÇÃO. COMPETÊNCIA. CRIME MILITAR. 1. Considera-se crime militar o doloso contra a vida, praticado por militar em situação de atividade, contra militar, na mesma situação, ainda que fora do recinto da administração militar, mesmo por razões estranhas ao serviço. 2. Por isso mesmo, compete à Justiça Militar - e não à Comum - o respectivo processo e julgamento. 3. Interpretação do art. 9°, II, "a", do Código Penal Militar. 4. Conflito conhecido pelo STF, já que envolve Tribunais Superiores (o Superior Tribunal de Justiça e o Superior Tribunal Militar) (art. 102, I, "o", da C.F.) e julgado procedente, com a declaração de competência da Justiça Militar, para prosseguir nos demais atos do processo. 5. Precedentes. STF CC 7071 / RJ - RIO DE JANEIRO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA, Relator: Min. SYDNEY SANCHES. DJ 01-08-2003. EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CON-FLITOINEXISTENTE. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. Inexiste conflito de competência quando juízo-auditor militar e Superior Tribunal Militar afirmam não ser da competência da Justiça Militar o julgamento do feito. O que existe nos autos é mero desacordo da parte com a declaração de incompetência formulada na Justiça Militar. O suscitante pretende utilizar-se do Poder Judiciário como órgão de consulta, o que é inadmissível. Agravo regimental a que se nega provimento. STF CC-AgR 7159 / DF - AG.REG.NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA, DJ 06-11-2006. Ementa: “Conflito de Jurisdição entre Tribunal Superior Militar e Juiz estadual (de 1º grau) (Justiça comum). Competência para dirimi-lo. Compete ao Supremo Tribunal Federal - e não ao Superior Tribunal de Justiça - dirimir conflito de jurisdição entre Tribunal Superior Militar e Juiz estadual de 1º grau (justiça comum). Interpretação dos artigos 102, I, "o", e 105, I, "d", da CF de 1988. Conflito conhecido nessa parte, declarada a competência do juiz estadual para o processo-crime contra civil, acusado por lesões corporais culposas em militares, resultantes de acidente de trânsito. Não conhecido, porém, no ponto em que o conflito ainda não se configurou (quanto ao acusado militar)”. (Conflito de Jurisdição Criminal nº 6895/RJ, Relator Ministro Sydney Sanches, julgado em 19/04/1989, pelo Pleno do STF.) Compete ao Superior Tribunal Militar julgar os conflitos de competência entre Conselhos de Justiça, entre Juízes-Auditores, ou entre estes e aqueles, bem como os de atribuição entre autoridades administrativa e judiciária militares (art. 6º, II, “g”, da Lei 8457/92). Assim, no conflito entre duas auditorias militares federais, a competência para dirimir o conflito é do Superior Tribunal Militar. 22. COMPETÊNCIA ABSOLUTA E JULGAMENTO POR JUSTIÇA INCOMPETENTE Vale ressaltar que é uma competência da Justiça Militar é absoluta, não necessitando demonstrar prejuízo por ser uma norma de ordem pública, logo não admite prorrogação, podendo DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 72 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR ser suscitada pelas partes a qualquer tempo e reconhecida de oficio, ressalvando a reformatio in pejus. Tratando-se de incompetência absoluta, logo nulidade absoluta, após trânsito em julgado da decisão proferida por um juiz constitucionalmente incompetente, esta decisão poderá ser reformada desde que em benefício do “réu”, nos termos da Súmula 160 do STF. Por exemplo, se um militar comete um crime de lesão corporal contra outro militar em serviço fora da unidade militar, em tese, seria da competência da justiça militar; processado e julgado por este suposto delito na justiça comum estadual e se vier a ser absolvido na justiça “constitucionalmente incompetente”, após o trânsito em julgado dessa decisão, não poderá ela ser desconstituída para ser julgado pelo juiz absolutamente competente, pois virá em prejuízo ao réu. Agora, se, neste mesmo caso, for condenado por juiz absolutamente incompetente poderá, após o trânsito em julgado, ser declarada a nulidade dessa decisão, pois será em benefício do “acusado”. Após o trânsito em julgado da decisão que declara a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral das condições estabelecidas em transação penal oferecida pelo Ministério Público sem atribuição, aceita e homologada por juiz absolutamente incompetente, opera o trânsito em julgado e produz os seus efeitos, mesmo em hipótese de nulidade absoluta. Ainda, o princípio do ne bis in idem pelo ordenamento jurídico penal complementa os direitos e garantias individuais previstos na Constituição, cuja interpretação sistemática leva à conclusão de que o direito à liberdade, com base em coisa julgada material, prevalece sobre o dever estatal de acusar. 23. COISA JULGADA E JUÍZO INCOMPETENTE O Supremo Tribunal e o Superior Tribunal Militar entendem que há eficácia da coisa julgada ainda que a sentença tenha sido proferida por juízo incompetente, pois, embora não tenha competência para o feito, tinha o poder para exercer a jurisdição. Se o crime era da competência da Justiça Militar Federal e foi proferida sentença absolutória na justiça comum, esta produz efeitos, vedada reformatio in pejus. Frisa-se, desde que em benefício do réu. 1-EMENTA: HABEAS CORPUS. ACIDENTE DE TRÂNSITO COM MOTOCI-CLETA PILOTADA POR SOLDADO DO EXÉRCITO. FATOS ANALISADOS PE-LO JUÍZO COMUM DA VARA DE ACIDENTES DE TRÂNSITO. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE. ABERTURA DE NOVO PROCESSO PERANTE A JUSTIÇA CASTRENSE. IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE CRIME MILITAR (ALÍNEA "D" DO INCISO III DO ART. 9º DO CPM). EFICÁCIA DA COISA JULGADA, AINDA QUE A DECISÃO HAJA SIDO PROFERIDA POR JUÍZO INCOMPETENTE. Não há que se falar em competência da Justiça Castrense se o acidente de trânsito se deu quando o soldado já havia encerrado a missão de escolta e retornava ao quartel, não se encontrando, assim, no desempenho de função militar (alínea "d" do inciso III do art. 9º do CPM). É de se preservar a coisa julgada quanto à decisão extintiva da punibilidade do acusado, ainda que a sentença haja sido proferida por juízo incompetente para o feito. Precedentes. Habeas corpus deferido. (STF HC 89592 REL MIN CARLOS BRITTO/SP, un., 1ªT., DJ 27.04.2007.) Ementa: DECISÃO SUJEITA A DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. COISA JULGADA. Decisão de Conselho de Justiça que reconhece exceção de coisa julgada em relação a um dos acusados que, na esfera da justiça ordinária, por haver indenizado a vítima, obteve decisão homologatória de acordo decretando a extinção de sua punibilidade. Remessa oficial recebida, "ex vi legis", como Recurso Criminal. Questões atinentes à competência, agasalhadas pelo manto da "res judi-cata", não podem ser apreciadas por esta Corte Castrense. Recurso improvido. Decisão majoritária. STM (RECURSO CRIMINAL Nº DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 73 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 2002.01.007012-0/RS, em decisão de 08/10/2002, Relator Ministro HENRIQUE MARINI E SOUZA). Diferente é a hipótese de não ter sido apreciada a questão no juízo incompetente, nestes termos, não há coisa julgada. DECISÃO SUJEITA A DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO (RECURSO DE OFÍ-CIO). COISA JULGADA. Fatos ilícitos, em tese, praticados por militar do Exército Brasileiro contra policiais militares que, pela amplitude dos bens jurídicos afetados e pluralidade de ofendidos, ultrapassa as relações interpessoais. A existência de transação penal no Juízo Cível quanto a um dos ofendidos, de validade jurídica duvidosa, ante a existência de crime de natureza militar, não configura coisa julgada em relação a outros delitos imputados na denúncia formulada na Justiça Castrense, em especial, àqueles que atentam contra a autoridade, a disciplina e a administração militar. Recurso provido. Decisão unânime. (STM RCR. 2004.01.007199-2, REL MIN HENRIQUE MARINI E SOUZA, DJ 26.10.2004.) O Superior Tribunal Militar entende que, quando não há julgamento do mérito no juízo incompetente, não surte efeito a coisa julgada, logo pode ser reapreciada a questão no foro competente. EXTINÇÃO DE PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. RECONHECI-MENTO DE COISA JULGADA. ENTENDIMENTO PAUTADO BASICAMENTE EM "LEX" NÃO APLICÁVEL NO FORO CASTRENSE. DECISÃO DESCONSTI-TUÍDA. "Error in procedendo" que se constata em face de inadequado fundamento legal pretendido na "quaestio". Em crime de competência, "stricto sensu", da Justiça Castrense, não resta com efeito de coisa julgada "decisum" de Foro Comum tomado com respaldo em dispositivos da Lei nº 9.099/95. Provimento de recurso "ex-officio". Baixa dos autos ao Juízo de origem, para prosseguimento do feito. Decisão por unanimidade. STM (RECURSO CRIMINAL 2002.01.007026-0/RJ, em decisão de 03/12/2002, Relator Ministro CARLOS EDUARDO CEZAR DE ANDRADE).O Supremo Tribunal Federal entende de forma diversa. Após o trânsito em julgado da decisão que declara a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral das condições estabelecidas em transação penal oferecida pelo Ministério Público sem atribuição, aceita e homologada por juiz absolutamente incompetente opera o trânsito em julgado e produz os seus efeitos, mesmo em hipótese de nulidade absoluta. Ainda, o princípio do ne bis in idem pelo ordenamento jurídico penal complementa os direitos e garantias individuais previstos na Constituição, cuja interpretação sistemática leva à conclusão de que o direito à liberdade, com base em coisa julgada material, prevalece sobre o dever estatal de acusar. Assim, segundo o STF não poderá ser interposta ação penal no juiz absolutamente competente, após a homologação da transação penal no absolutamente incompetente. Ementa: HABEAS CORPUS. ACIDENTE DE TRÂNSITO COM MOTOCICLETA PILOTADA POR SOLDADO DO EXÉRCITO. FATOS ANALISADOS PELO JUÍ-ZO COMUM DA VARA DE ACIDENTES DE TRÂNSITO. TRÂNSITO EM JUL-GADO DA SENTENÇA EXTINTIVA DA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 74 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR PUNIBILIDADE. ABERTURA DE NO-VO PROCESSO PERANTE A JUSTIÇA CASTRENSE. IMPOSSIBILIDADE. INE-XISTÊNCIA DE CRIME MILITAR (ALÍNEA "D" DO INCISO III DO ART. 9º DO CPM). EFICÁCIA DA COISA JULGADA, AINDA QUE A DECISÃO HA-JA SIDO PROFERIDA POR JUÍZO INCOMPETENTE. Não há que se falar em competência da Justiça Castrense se o acidente de trânsito se deu quando o soldado já havia encerrado a missão de escolta e retornava ao quartel, não se encontrando, assim, no desempenho de função militar (alínea "d" do inciso III do art. 9º do CPM). É de se preservar a coisa julgada quanto à decisão extintiva da punibilidade do acusado, ainda que a sentença haja sido proferida por juízo incompetente para o feito. Precedentes. Habeas corpus deferido. (STF HC 89592 REL MIN CARLOS BRITTO/SP, un., 1ªT., DJ 27.04.2007.) EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime militar. Causa processada perante a Justiça estadual. Suspensão condicional do processo. Aceitação. Benefício não revogado. Instauração de nova ação penal na Justiça castrense, pelo mesmo fato. Inadmissibilidade. Preclusão consumada. HC concedido. Voto vencido. Estando em curso suspensão condicional do processo penal, não pode, pelo mesmo fato, outro ser instaurado, ainda que em Justiça diversa. (STF HC 91505 / PR, Relatora: Min. Ellen Gracie. DJ. 21-08-2008.) 24. DA EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA (arts. 143 a 147 do CPPM) A exceção de incompetência poderá ser oposta verbalmente ou por escrito, logo após a qualificação do acusado. No primeiro caso, será tomada por termo nos autos. EMENTA. Exceção de incompetência. IPD. Ausência de pressupostos. Não conhecimento. O Estatuto Processual Castrense prevê, nos artigos 143 e 407, as hipóteses em que a exceção de incompetência pode ser oposta pelo Acusado. "In casu", trata-se de instrução provisória de deserção, inexistindo acusação formal e demanda instaurada contra o Suscitante, razão pela qual não pode, ainda, ser considerado "acusado". Preliminarmente, não conhecida a arguição. Decisão unânime. (STM: CC 2003.01.000312-9, REL MIN VALDESIO GUI-LHERME DE FIGUEIREDO, DJ 27/03/2003.) Se aceita a alegação, os autos serão remetidos ao juízo competente. Se rejeitada, o juiz continuará no feito. Mas, neste caso, caberá recurso, em autos apartados, para o Superior Tribunal Militar, que, se lhe der provimento, tornará nulos os atos praticados pelo juiz declarado incompetente, devendo os autos do recurso ser anexado aos do processo principal. O órgão do Ministério Público poderá alegar a incompetência do juízo, antes de oferecer a denúncia. A arguição será apreciada pelo auditor, em primeira instância; e, no Superior Tribunal Militar, pelo relator, em se tratando de processo originário. Em ambos os casos, se rejeitada a arguição, poderá, pelo órgão do Ministério Público, ser impetrado recurso, nos próprios autos, para aquele Tribunal. Em qualquer fase do processo, se o juiz reconhecer a existência de causa que o torne incompetente, declará-lo-á nos autos e os remeterá ao juízo competente. 25. COMPETÊNCIA INTERNA DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 75 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Uma vez reconhecendo a competência da Justiça Militar para processar e julgar crime militar definido em lei praticado por militar ou civil, forma-se o Conselho para o julgamento com o recebimento da denúncia, dependendo da força atingida e ou da graduação ou patente do militar. As Auditorias têm jurisdição mista, cabendo-lhes conhecer dos feitos relativos à Marinha, Exército e Aeronáutica. Dessa forma, haverá três conselhos, um para cada força atingida, quanto ao cometimento de crime por militares integrantes destas forças ou de crimes militares praticados por civis contra estas. Assim, um crime cometido por um militar do exército ou por um civil contra administração do exército, por estelionato, a formação do conselho será por oficias dessa força, exército. Agora, se em coautoria um militar do exército da marinha e aeronáutica cometam um crime militar, como ficará a composição do conselho? Não poderá ser for formado um conselho misto, ou seja, composto por oficiais de forças distintas. Nesse caso, resolve-se com a regra do art. 23 e parágrafos da Lei 8.457/2 que organiza a Justiça Militar da União. Os juízes militares que integrarem os Conselhos Especiais serão de posto superior ao do acusado, ou do mesmo posto e de maior antiguidade. No caso de pluralidade de agentes, servirá de base à constituição do Conselho Especial a patente do acusado de maior posto. Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante o mesmo conselho, ainda que excluído do processo o oficial. Assim, no caso concreto, deve-se analisar de qual força pertence o militar de maior graduação. Se pertencerem às três forças (Marinha, Exército e Aeronáutica) e o militar de maior posto for do exército, o conselho será formado por oficiais do exército. Iniciado o julgamento e mesmo que o militar do exército seja absolvido, o conselho continua competente para julgar os demais militares. A mesma sistemática é utilizada em relação à justiça militar estadual. Na maioria dos estados a polícia militar é separada dos bombeiros militares, cada um com um comando próprio. Cada um com a disciplina e hierarquia que devem ser mantidas na sua corporação. Dessa forma, nesses estados, se o crime for praticado por policial militar o conselho será formado por oficiais da polícia militar, mantendo a disciplina e hierarquia dessa corporação. Nesse caso, não pode ter composição mista do conselho. Agora, se o crime for cometido por bombeiro militar e policial militar, deve-se perquirir qual o de maior graduação para saber de qual corporação será a composição dos conselho. Se o de maior posto, capitão da polícia militar e cabo dos bombeiros, a composição será de oficiais da polícia militar. Em alguns estados, por exemplo, Paraíba, sendo o acusado do posto mais elevado na corporação policial ou do corpo de bombeiro militar, o conselho especial será composto por oficiais da respectiva corporação militar, que sejam da ativa, do mesmo posto do acusado e mais antigos que ele; não havendo na ativa oficiais mais antigos que o acusado, serão sorteados e convocados oficiais da reserva remunerada. Sendo o acusado do posto mais elevado da corporação, e nela não existindo oficial, ativo ou inativo, mais antigo que ele, o conselho especial será composto por oficiais que atendam ao requisito da hierarquia, embora pertencentes à outra instituição militar estadual. Nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, em que a polícia militar e os bombeiros militares não são separados, pode ter a composição mista dos conselhos, ou seja, em um mesmo conselho podem funcionar oficiais da políciamilitar e dos bombeiros militares. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 76 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR • Obs.: aconselha-se a ler a legislação estadual do local em que estiver prestando o concurso público, pois em alguns estados, embora com separação das corporações, admite-se a composição de um conselho misto. 26. CONSELHO DE JUSTIÇA PERMANENTE Compete ao Conselho de Justiça Permanente processar e julgar as praças (são por ordem de ascendência hierárquica soldado, cabo, terceiro-sargento, segundo-sargento, primeiro-sargento e subtenente), praças especiais (aspirante a oficial) e civis que cometam crimes militares definidos em lei. Será composto por um juiz-auditor e por quatro oficiais até o posto de capitão ou capitão- tenente; também pode ser composto por tenente e pelo seu presidente, um oficial superior. A doutrina do Direito Processual Penal Militar classifica-se como um ramo especial ou específico, por ter bens jurídicos maiores, disciplina e hierarquia das Forças Armadas, razão pela qual justificam a composição do Conselho de Justiça, órgão julgador formado por oficiais, pois estes teriam comprometimento e conhecimento para preservação de tais princípios. O sorteio dos juízes do Conselho Permanente de Justiça é feito pelo juiz-auditor, em audiência pública, na presença do procurador e diretor de secretaria. Funciona por três meses consecutivos, coincidindo com o trimestre do ano civil. Passa a atuar após o recebimento da denúncia que é ato privativo do juiz-auditor (JMU) e juiz de direito (JME). Até o recebimento da denúncia, as decisões competem ao juiz-auditor monocraticamente, como, por exemplo, prisão ou liberdade provisória; após o recebimento da denúncia, as decisões competem ao conselho, no mesmo exemplo a prisão ou liberdade provisória. 27. CONSELHO ESPECIAL DE JUSTIÇA Ao Conselho Especial de Justiça compete processar e julgar oficiais (primeiro-tenente, capitão, major, tenente-coronel, coronel) e civis que pratiquem crimes conexos com aqueles. Os oficiais generais serão julgados pelo Superior Tribunal Militar nos crimes militares definidos em lei. É composto pelo juiz-auditor e quatro juízes-militares, sob a presidência de um oficial- general ou oficial superior, de posto mais elevado que os demais juízes, ou de maior antiguidade, no caso de igualdade. É instituído para cada processo e dissolvido após o trânsito em julgado. Caso seja declarada a nulidade do processo ou julgamento, ou determinada diligência em superior instância e a remessa dos autos para o juízo a quo, novamente é composto o mesmo conselho. Verifica-se que o Conselho Especial de Justiça (CEJ) acompanha toda a instrução criminal até o julgamento. Se, por exemplo, um oficial componente do Conselho for transferido para outro estado da federação não poderá ser substituído, devendo ser convocado para cada sessão, sob pena de nulidade. Haverá substituição quando o oficial passar para a reserva ou for reformado. Pela interpretação dos artigos 18 e 31 da Lei de Organização da Justiça Militar da União (Lei 8457/92), a intervenção do Superior Tribunal Militar só é necessária quando da existência de “outro motivo” que não os “afastamentos de sede por movimentação, que decorram de requisito de carreira”. Nesse caso, deverá tal motivo ser “justificado e reconhecido pelo Superior Tribunal Militar como de relevante interesse para a administração militar”, cabendo o encaminhamento de representação ao Egrégio Superior Tribunal Militar (o que pode se dar por intermédio do Juiz-Auditor DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 77 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR – art. 168-B do Regimento Interno do Superior Tribunal Militar, na redação dada pela Emenda Regimental nº 05, de 26 de maio de 1997). Nos casos de afastamentos de sede por movimentação, que decorram de requisito de carreira, o próprio Juiz-Auditor faz novo sorteio. Deve-se analisar caso a caso e, em situações excepcionais, podem os integrantes do conselho especial serem substituídos por outros, desde que autorizado pelo Superior Tribunal Militar. EMENTA: Reclamação. 2. Justiça Militar. 3. Competência do Conselho Especial de Justiça. 4. Decisão do STF que determinou anulação de processo por incompetência do Conselho Permanente de Justiça. 5. Impossibilidade de recomposição integral do Conselho Especial de Justiça. 6. Não caracterização de descumprimento de decisão do STF. 7. Reclamação julgada improcedente. STF Rcl 1195 / AM – AMAZONAS Relator: Min. GILMAR MENDES, DJ 28-03-2003. No caso de pluralidade de agentes, servirá de base à constituição do Conselho Especial a patente do acusado de maior posto. Se a acusação abranger oficial e praça ou civil, responderão todos perante o mesmo conselho, ainda que excluído do processo o oficial. EMENTA: HABEAS CORPUS. 2. Competência. 3. Justiça Militar. 4. Lei n° 8457 1992, art. 23, §§ 2° e 3°. 5. Se a acusação abranger oficial e praça, responderão todos perante o mesmo conselho, ainda que excluído do processo o oficial. 5. Hipótese em que a competência era do Conselho Especial de Justiça para processar o oficial e praça (Lei n° 8.457 1992, art. 27). 6. A unidade do processo era obrigatória, no caso, os art. 102 e 99 alínea c do CPPM. Conexão dos fatos e sua incidibilidade. 7. Habeas Corpus deferido, acolhendo-se o parecer da Procuradoria-Geral da República, anulando-se, em consequência, o processo, por incompetência do Juízo de primeiro grau (Conselho Permanente de Justiça) devendo o feito ser renovado no Conselho Especial de Justiça, perante o qual foi processado e julgado o oficial.(HC 77.972 /AM - Relator Min. NÉRI DA SILVEIRA.) Os Conselhos Especial e Permanente de Justiça podem instalar-se e funcionar com a maioria de seus membros, sendo obrigatória a presença do juiz-auditor e do presidente. Na sessão de julgamento são obrigatórios a presença e voto de todos os juízes (auditor e militares). Nos Conselhos de Justiça, tanto o juiz-auditor como os militares apreciam as matérias relativas à existência ou não do delito, bem como a aplicação da pena. O peso do voto de cada juiz é o mesmo, significando dizer que, se o juiz-auditor e o presidente, que é militar de mais alto posto ou mais antigo, votarem pela condenação, e os demais absolverem, o réu será absolvido por maioria, não cabendo embargos infringentes. Concordo com os autores, apenas para clarear neste momento, não cabem embargos infringentes em decisão de primeiro grau. Esse assunto será visto no capítulo de recursos. Os juízes militares são sorteados entre os oficiais de carreira que estejam servindo na sede da Auditoria, com vitaliciedade assegurada quando da composição dos Conselhos, não sendo possível, entre os oficiais que estejam sobre a circunscrição judiciária militar. Os comandantes de Distrito ou Comando Naval, Região Militar e Comando Aéreo Regional elaborarão trimestralmente uma lista com todos os oficiais na ativa, com postos, antiguidade e local DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 78 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR de prestação do serviço remetendo ao juiz-auditor da circunscrição para que possa realizar o sorteio dos Conselhos. O juiz-auditor, único togado, não é vinculado a nenhum processo como acontece no Conselho de Justiça Especial; sua investidura se dá mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil tendo as garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios. Competem aos Conselhos de Justiça Permanente e Especial, após o recebimento da denúncia e consequente formação do processo, os seguintes atos (art. 28 da Lei 8457/92): I - Decretar a prisão preventiva de acusado, revogá-la ou restabelecê-la; II - Conceder menagem e liberdade provisória, bem como revogá-las; III - decretar medidas preventivas e assecuratórias,nos processos pendentes de seu julgamento; IV - Declarar a inimputabilidade de acusado nos termos da lei penal militar, quando constatada aquela condição no curso do processo, mediante exame pericial; V - Decidir as questões de direito ou de fato suscitadas durante instrução criminal ou julgamento; VI - Ouvir o representante do Ministério Público sobre as questões suscitadas durante as sessões; VII - conceder a suspensão condicional da pena, nos termos da lei; VIII - praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei. Ementa. Correição Parcial. Decisão de arquivamento de processo pelo Juiz-Auditor Substituto. Error in procedendo. Magistrado é incompetente para decidir pelo arquivamento de processo, independente de manifestação do Conselho Permanente de justiça. No processo de deserção, após o recebimento da denúncia, as questões de fato e de direito deverão ser submetidas ao Conselho Especial ou Permanente de Justiça. Decisão unânime. STM Num: 2005.01.001916-7 UF: DF Decisão: 11/05/2006 CORREIÇÃO PARCIAL (FE), Data da Publicação: 07/06/2006. Ementa: “CORREIÇÃO PARCIAL – PEDIDO DE AFASTAMENTO DO SIGILO FISCAL. COMPETÊNCIA. A instrução criminal acontece na Ação Penal, e esta inicia-se com o recebimento da Denúncia. Logo, a partir da instauração da Ação Penal, somente em conjunto, no Conselho de Justiça, podem ser decididas as questões suscitadas pelas partes, cabendo ao Juiz decidir, aí sim, monocraticamente, os despachos de mero expediente. Correição deferida. Decisão por maioria. (COR-REIÇÃO PARCIAL Nº 2003.01.001863-0 - RJ - Relator Ministro OLYM-PIO PEREIRA DA SILVA JUNIOR. Sessão de 16/09/03.) Compete aos Presidentes dos Conselhos Especial e Permanente de Justiça (art. 29 da Lei 8.457/92): I - Abrir as sessões, presidi-las, apurar e proclamar as decisões do conselho; II - Mandar proceder à leitura da ata da sessão anterior; III - nomear defensor ao acusado que não o tiver e curador ao revel ou incapaz; DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 79 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR IV - Manter a regularidade dos trabalhos da sessão, mandando retirar do recinto as pessoas que portarem armas ou perturbarem a ordem, autuando-as no caso de flagrante delito; V - Conceder a palavra ao representante do Ministério Público Militar, ou assistente, e ao defensor, pelo tempo previsto em lei, podendo cassá-la após advertência, no caso de linguagem desrespeitosa; VI - Resolver questões de ordem suscitadas pelas partes ou submetê-las à decisão do conselho, ouvido o Ministério Público; VII - mandar consignar em ata incidente ocorrido no curso da sessão. O Conselho de Justiça permanente, competente para julgar praça e civis, embora o nome mencione permanente, funciona por um trimestre; três meses, após será dissolvido e sorteado novo conselho. O Conselho de Justiça especial, competente para julgar oficiais e crimes conexos com aqueles, funciona desde o início do processo, e o recebimento da denúncia até o seu trânsito em julgado; mesmo declarando a nulidade do processo e superior instância, volta-se à composição do mesmo conselho. É especial, pois funciona em todo o processo. Temos neste caso um exemplo em nossa legislação do princípio da identidade física do juiz: aquele que colhe a prova irá julgar. Os juízes militares são substituídos em suas licenças, faltas e impedimentos, bem como nos afastamentos de sede por movimentação, que decorram de requisito de carreira, ou por outro motivo justificado e reconhecido pelo Superior Tribunal Militar como de relevante interesse para a administração militar. Em casos excepcionais, pode-se autorizar a substituição de um dos integrante do Conselho de Justiça Especial. EMENTA. Representação para Substituição de Juiz Militar. Transferência de oficial por necessidade do serviço. Hipótese que autoriza a substituição de Juiz Militar, a teor do art. 31 da Lei n.º 8457/92. Representação acolhida. Decisão unânime. STM Num: 2005.01.000013-7UF: BA, Proc: Repsjmil – REPRESENTAÇÃO PARA SUBSTITUIÇÃO DE JUIZ MILITAR, Data da Publicação: 13/05/2005. EMENTA: SUBSTITUIÇÃO DE JUÍZES MILITARES. TRANSFERÊNCIA. INTE-RESSE RELEVANTE PARA A ADMINISTRAÇÃO MILITAR. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO À ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA. Consideradas justificadas as substituições de Juízes Militares ocorridas em virtude de transferência para outra localidade ou transferência para a Reserva Remunerada, tendo em vista que nos dois primeiros casos a transferência se deu atendendo interesse da Administração Militar; no terceiro, por imposição legal, posto que de acordo com o art. 19 da LOJM, para compor o Conselho Especial de Justiça devem ser relacionados Oficiais em serviço ativo. As substituições referidas estão devidamente justificadas, à luz do art. 31 da Lei n° 8.8457/92, com a redação dada pela Lei n° 10.445/02. Pedido deferido. Decisão unânime. STM: Num. 2005.01.000012-9 UF: RS, Proc: - REPRESENTAÇÃO PARA SUBSTITUIÇÃO DE JUIZ MILITAR, Data da Publicação: 31/05/2005. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 80 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 28. JUÍZO HIERÁRQUICO Os princípios de “disciplina” e “hierarquia” constituem a base institucional das Forças Armadas, Polícias Militares e Bombeiros Militares e são seus alicerces sociais e estruturais. A legislação determina que a hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças Armadas. A autoridade e a responsabilidade crescem com o grau hierárquico. A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Aramadas. A ordenação se faz por postos ou graduações ; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento à sequência de autoridade. Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo. A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos em todas as circunstâncias da vida entre militares da ativa, da reserva remunerada e reformados. A hierarquia e disciplina estão presentes no Processo Penal Militar, devido às suas particularidades, tais como composição do órgão julgador por superiores hierárquicos, tendo em vista que os juízes militares que integrarem os Conselhos Especiais serão de posto superior ao do acusado, ou do mesmo posto e de maior antiguidade. Assim, os Juízes militares devem ser superiores hierárquicos ou se de igual posto, mais antigos que o acusado. Essa é uma questão interessante e discutida na doutrina. O juízo hierárquico na composição dos conselhos, tendo em vista que: os Juízes militares devem ser superiores hierárquicos ou se de igual posto, mais antigos que o acusado. Vejamos alguns possíveis casos: 1) Se quem está sendo processado é o coronel mais antigo na ativa: Existe discussão na doutrina quanto a sorteio de Conselho Especial no caso de pelo menos um dos acusados ser coronel (posição mais alta). Em regra, os oficiais devem ser de posto superior ao do acusado ou, caso sejam do mesmo posto, mais antigos. Em tese, se o coronel estiver na ativa, não existiria ninguém mais antigo que ele, além daqueles que possuem mais tempo de serviço. A doutrina sugere que se deve reverter tantos coronéis da reserva, desde que mais antigos que o processado. 2) Se quem está sendo processado é o coronel mais antigo na reserva: A situação é emblemática e, portanto, há discussão na doutrina e jurisprudência acerca da melhor forma de resolver, pois o Coronel que está sendo processado está na reserva e é o mais antigo, ainda, em tese, na ativa não teria Coronel mais antigo. A primeira corrente, capitaneada porVander Ferreira Andrade e pelo excelente Juiz e Doutrinador Ronaldo João Roth. Entendem que devem ser sorteados e revertidos tantos Coronéis na reserva sejam necessários, desde que tenham maior tempo de serviço no posto de Coronel. Não poderia ser julgados por Coronéis da ativa, se estes tivessem menor tempo de serviço no posto de Coronel. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 81 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR O Juiz Militar que está em atividade de menor antiguidade tem precedência, em determinados momentos, àquele que está na reserva. No entanto, isso não altera a antiguidade entre os militares, pois essa é apurada pela data de promoção ao posto e pelo tempo de serviço que detém seu titular, independentemente de estar na ativa ou não. Este foi o entendimento utilizado pelo STJ: EMENTA Justiça Militar. Conselho Especial de Justiça (incompetência). Formação (irregularidade). Juízo hierárquico (não observância do critério de antiguidade). Nulidade absoluta (caso). 1. No julgamento de coronel da reserva da Polícia Militar – último posto da hierarquia militar estadual –, todos os integrantes do Conselho Especial devem ser da mesma patente, porém mais antigos que o acusado. 2. À vista disso, não é lícito aceitar que um coronel da reserva que foi superior hierárquico possa, apenas porque se encontra na reserva, ser julgado por subordinado que o alcançou no último posto. 3. Caso em que, na composição do Conselho Especial de Justiça, quatro membros que participaram do julgamento eram mais modernos que o paciente, evidenciando-se, assim, a nulidade absoluta. 4. Ordem de habeas corpus concedida para se declarar nulo o julgamento realizado. (STJ HC nº 42.162, RELATOR: MINISTRO NILSON NAVES, - DJ: 25/08/2008.). Achamos que essa solução pode levar à impunidade, pois em estados em que o efetivo das policias ou bombeiros são pequenos, fica muito difícil ou até mesmo inviável constituir um conselho quando o acusado for Coronel antigo na reserva. A segunda corrente entende que todos os coronéis que estão na ativa são mais antigos que os coronéis que estão na inatividade, pois o militar que se encontra na inatividade deixa de contar tempo de serviço. Essa corrente é defendida por Célio Lobão. O Prof. Jorge César traz seu próprios fundamentos no sentido que o militar que está na reserva não exerce qualquer função e o art. 24 do Código Penal estabelece que o militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro de igual posto ou graduação, considera-se superior, para efeito da aplicação da Lei Penal Militar. Portanto na inatividade, independente do tempo de serviço na ativa, são mais modernos dos que estão na ativa e podem ser julgados por quaisquer desses. Outro fundamento interessante é o regramento contido no Estatuto dos Militares (Lei 6.880/80), especificamente o § 3º do art. 17. Art. 17. A precedência entre militares da ativa do mesmo grau hierárquico, ou correspondente, é assegurada pela antiguidade no posto ou graduação, salvo nos casos de precedência funcional estabelecida em lei. § 1º A antiguidade em cada posto ou graduação é contada a partir da data da assinatura do ato da respectiva promoção, nomeação, declaração ou incorporação, salvo quando estiver taxativamente fixada outra data. § 2º No caso do parágrafo anterior, havendo empate, a antiguidade será estabelecida: a) entre militares do mesmo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, pela posição nas respectivas escalas numéricas ou registros existentes em cada Força; b) nos demais casos, pela antiguidade no posto ou graduação anterior; se, ainda assim, subsistir a igualdade, recorrer-se-á, sucessivamente, aos graus hierárquicos anteriores, à DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 82 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR data de praça e à data de nascimento para definir a procedência, e, neste último caso, o de mais idade será considerado o mais antigo; c) na existência de mais de uma data de praça, inclusive de outra Força Singular, prevalece a antiguidade do militar que tiver maior tempo de efetivo serviço na praça anterior ou nas praças anteriores; e d) entre os alunos de um mesmo órgão de formação de militares, de acordo com o regulamento do respectivo órgão, se não estiverem especificamente enquadrados nas letras a , b e c. § 3º Em igualdade de posto ou de graduação, os militares da ativa tem precedência sobre os da inatividade. § 4º Em igualdade de posto ou de graduação, a precedência entre os militares de carreira na ativa e os da reserva remunerada ou não, que estejam convocados, é definida pelo tempo de efetivo serviço no posto ou graduação. No mesmo sentido é o Estatuto dos Servidores Militares da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul (LC 10.990/97), especificamente o § 3º do art. 15. Art. 15 – A precedência entre servidores militares da ativa, do mesmo grau hierárquico, é assegurada pela antiguidade no posto ou na graduação, salvo nos casos de precedência funcional do Comandante-geral, do Subcomandante-Geral e do Chefe do Estado Maior. § 1° - A antiguidade em cada posto ou graduação é contada a partir da data da publicação do ato da respectiva promoção, nomeação, ou inclusão, salvo quando estiver taxativamente fixada outra data. § 2° - No caso de igualdade na data referida no parágrafo anterior, a antiguidade é estabelecida através dos seguintes critérios: I - Entre servidores militares do mesmo quadro, pela posição nas respectivas escalas numéricas ou registro de que trata o artigo 17; II - Nos demais casos, pela antiguidade no posto ou na graduação anterior e, se, ainda assim, subsistir a igualdade de antiguidade, recorrer-se-á, sucessivamente, aos graus hierárquicos anteriores, à data de inclusão e à data de nascimento, para definir a precedência e, neste último caso, o mais velho será considerado mais antigo; III - entre os alunos de um mesmo órgão de formação de servidores militares, de acordo com o regulamento do respectivo órgão, se não estiverem especificamente enquadrados nas disposições dos incisos I e II. § 3° - Em igualdade de posto ou graduação, os servidores militares na ativa têm precedência sobre os na inatividade. O Tribunal de Justiça Militar de São Paulo decidiu sobre composição do Conselho Especial de Justiça, a partir do PROCEDIMENTO AD-MINISTRATIVO instaurado em face do Proc. nº 35.871/03. Segue a ementa: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 83 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: Conselho Especial de Justiça – Composição – Réu Cel PM – Serviço – Ativo – Inativo – Juízes Militares – Antiguidade. Réu é Cel PM do serviço inativo. Os Juízes Militares que integram o Conselho Especial de Justiça devem ser Coronéis do serviço ativo. Réu é Cel PM do serviço ativo e não há número suficiente de Coronéis mais antigos que aquele no serviço ativo para compor o Conselho Especial de Justiça. Reverte-se da reserva tantos Coronéis quantos necessários com maior antiguidade. Partilhamos do mesmo entendimento do Prof. Jorge César e materializado no julgado acima do TJM/SP. Assim, mantém o juízo hierárquico e não há risco de que ocorra impunidade pela impossibilidade de composição do conselho JUÍZO HIERÁRQUICO = Juízes militares devem ser superiores hierárquicos ou se de igual posto, mais antigos que o acusado Réu coronel mais antigo na ativa: Réu é coronel mais antigo na reserva: Reverter tantos coronéis da reserva, desde que mais antigos que o processado. Os Juízes Militares que integram O Conselho Especial de Justiça devem ser Coronéis do serviço ativo. 29. QUEM PODERÁ SER JULGADO NA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL A Lei Complementar n.º 10.990/97-RS dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Militares da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul e dá outras providências. Art. 3°. Os integrantes da Brigada Militar do Estado, em razão da destinaçãoconstitucional da Corporação e em decorrência das leis vigentes, constituem uma categoria especial de servidores públicos estaduais, sendo denominados servidores militares. § 1° - Os servidores militares encontram-se em uma das seguintes situações: I - Na ativa: a) os servidores militares de carreira; b) os servidores militares temporários; c) os componentes da reserva remunerada, quando convocados; d) os alunos de órgãos de formação de servidor militar da ativa. II - Na inatividade: a) na reserva remunerada, quando pertencem à reserva da Corporação e percebem remuneração do Estado, porém sujeitos, ainda, à prestação de serviço na ativa, mediante convocação; b) reformados, quando, tendo passado por uma das situações anteriores, estão dispensados, definitivamente, da prestação de serviço na ativa, mas continuam a perceber remuneração do Estado; c) na reserva não remunerada, na forma da legislação específica. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 84 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR A condição de militar na ativa inicia-se com a incorporação e deixa de existir com a passagem do militar para a inatividade, ou sua exclusão da instituição militar. Vale lembrar que a Justiça Militar Estadual jamais julgará civil, quando do cometimento do crime, apenas policiais militares e bombeiros militares, diversamente da Justiça Militar da União que poderá julgar militar e civil que cometam crimes militares definidos em lei. A competência da Justiça Militar Estadual de processar e julgar apenas os militares dos Estados, excluindo, portanto, o civil. Essa competência fixada em função da qualidade que o sujeito apresenta no momento do cometimento do fato (tempo do crime = teoria da atividade), não podendo ser alterada por conta de alteração fática posterior ligamento ‒ exoneração). A Justiça Militar é Justiça especializada, e a sua competência é prevista pela Constituição Federal, constituindo o juízo natural para o julgamento de crime militar cometido por militar no exercício da função. A garantia do juízo natural liga-se à ideia de anterioridade, devendo ser verificada à época do cometimento do crime, ou seja, qual o juízo que à época do cometimento do crime se mostrava competente. Dessa forma, deve-se levar em consideração a época do fato, quando ostentava a condição de militar da ativa, pouco importando o seu desligamento posterior da Polícia Militar, regra geral, salvo exceções, como no crime de deserção, em que a condição de militar é condição de procedibilidade. Vale lembrar que se o crime é cometido por militar na ativa, poderá ele responder ao processo, mesmo que tenha “dado baixa” das fileiras. Ou seja, que não ostente no momento da propositura da ação penal e no seu decorrer o status de militar. A justiça militar é para julgar os crimes militares e não apenas o militar. Se policial militar à época dos fatos, de folga sem farda, “a paisana”, juntamente com os demais militares, se identificaram como policiais com fim de cometer crimes estarão cometendo crimes da competência da Justiça Militar. • A condição de militar do estado na ativa deve ser verificada à época do delito (tempus delicti). Tempo do crime – teoria da atividade. 30. COMPETÊNCIAS INTERNAS NA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL (EC/45) A competência da Justiça Militar Estadual vem estabelecida na Constituição Federal: Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 85 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Em relação aos crimes militares estaduais, há algumas diferenças e outros pontos de encontro para a fixação da competência interna. Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. Determinado que o crime é militar estadual, passa-se para a competência interna. A competência penal militar estadual permanece a mesma, o que mudou foi a competência interna, competência processual penal militar estadual. Alteração significativa que difere da Justiça Militar Federal é a competência dos juízes de direito (não juízes-auditores) processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares. Nestas hipóteses, crime militar contra civil e punição disciplinar militar, a competência é monocrática do juiz de direito; não se instala um conselho de justiça para julgamento destes delitos e punições. Questão interessante foi a suscitada no conflito de competência nº Nº 100.682 – MG, perante o STJ. Resume-se em definir a competência ‒ Justiça Estadual Comum ou Militar ‒ para julgamento de ação civil por improbidade administrativa proposta contra policiais militares pela prática de agressões físicas e morais a menor infrator no âmbito de suas funções, na qual o Ministério Público autor requer, dentre outras sanções, a perda da função pública. Asseverou o julgado que não se pode confundir o ato disciplinar que constitui pressuposto para a competência da Justiça Militar com ato indisciplinado praticado pelos militares. Vale observar que a Justiça Militar não possui competência para aplicar sanções pela prática de infrações disciplinares, mas sim para analisar a validade jurídica de sanções que são aplicadas pela administração militar. No caso, a ação civil por ato de improbidade não se dirigiu contra a Administração Militar, nem discute a validade ou consequência de atos disciplinares militares que tenham sido concretamente aplicados. Pelo contrário, volta-se a demanda contra o próprio militar e discute ato de "indisciplina" e não ato disciplinar. Todavia, não é certo afirmar, genericamente, que a Justiça Militar Estadual não detém competência para processar e julgar ações civis públicas por ato de improbidade, pois a ação de improbidade pode direcionar-se contra o próprio ato disciplinar, buscando a sua anulação e a punição do superior hierárquico ímprobo. Assim, por exemplo, deverá ser processada na Justiça Militar Estadual a ação civil por ato de improbidadeadministrativa proposta contra o comandante militar que, por perseguição ou qualquer outro desvio de finalidade, infligiu castigo demasiado, tratamento físico desumano ou punição além dos limites legais a um subalterno. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 86 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Na espécie, a ação civil por ato de improbidade deve ser processada perante a Justiça Estadual comum, já que não se volta contra ato disciplinar, mas contra ato de indisciplina cometido por policiais militares no exercício de suas funções. Nesse sentido, decidiu o STJ conforme julgado abaixo. EMENTA CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL DE IM-PROBIDADE ADMINISTRATIVA PROPOSTA PELO MP CONTRA SERVIDO-RES MILITARES. AGRESSÕES FÍSICAS E MORAIS CONTRA MENOR INFRA-TOR NO EXERCÍCIO DA FUNÇÃO POLICIAL. EMENDA 45⁄05. ACRÉSCIMO DE JURISDIÇÃO CÍVEL À JUSTIÇA MILITAR. AÇÕES CONTRA ATOS DISCI-PLINARES MILITARES. INTERPRETAÇÃO. DESNECESSIDADE DE FRACIO- NAMENTO DA COMPETÊNCIA. INTERPRETAÇÃO DO ART. 125, § 4º, IN FINE, DA CF⁄88. PRECEDENTES DO SUPREMO. COMPETÊNCIA DA JUS-TIÇA COMUM DO ESTADO. 1. Conflito negativo suscitado para definir a competência - Justiça Estadual Comum ou Militar - para julgamento de agravo de instrumento tirado de ação civil por improbidade administrativa proposta contra policiais militares pela prática de agressões físicas e morais a menor infrator no âmbito de suas funções, na qual o Ministério Público autor requer, dentre outras sanções, a perda da função pública. 2. São três as questões a serem examinadas neste conflito: (a) competência para a causa ou competência para o recurso; (b) limites da competência cível da Justiça Militar; e (c) necessidade (ou não) de fracionar-se o julgamento da ação de improbidade. 3. Competência para a causa ou competência para o recurso: 3.1. O julgamento do conflito de competência é realizado secundum eventum litis, ou seja, com base nas partes que efetivamente integram a relação, e não aqueles que deveriam integrar. De igual modo, o conflito deve ser examinado com observância ao estágio processual da demanda, para delimitar-se, com precisão, se no incidente se discute a competência para a causa ou a competência para o recurso. 3.2. Na espécie, o juízo estadual de primeira instância concedeu em parte o requerimento de suspensão cautelar dos réus na ação de improbidade, o que gerou recurso de agravo interposto pelo MP perante a Corte Estadual que, sem anular a decisão de primeira instância, determinou a remessa dos autos ao Tribunal Militar. 3.3. Discute-se, portanto, a competência para o recurso, e não a competência para a causa. Nesses termos, como o agravo ataca decisão proferida por juiz estadual, somente o respectivo Tribunal de Justiça poderá examiná-lo, ainda que seja para anular essa decisão, encaminhando os autos para a Justiça competente. Precedentes. 4. Neste caso, excepcionalmente, dada a importância da matéria e o fato de coincidirem a competência para o recurso e a competência para a causa, passa-se ao exame das duas outras questões: especificamente, os limites da jurisdição cível da Justiça Militar e a necessidade (ou não) de fracionar-se o julgamento da ação de improbidade. 5. Limites da jurisdição cível da Justiça Militar: 5.1. O texto original da atual Constituição, mantendo a tradição inaugurada na Carta de 1946, não modificou a jurisdição exclusivamente penal da Justiça Militar dos Estados, que teve mantida a competência apenas para "processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares, definidos em lei". 5.2. A Emenda Constitucional 45⁄04, intitulada "Reforma do Judiciário", promoveu significativa alteração nesse panorama. A Justiça Militar Estadual, que até então somente detinha jurisdição criminal, passou a ser competente também para julgar ações civis propostas contra atos disciplinares militares. 5.3. Esse acréscimo na jurisdição militar deve ser DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 87 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR examinado com extrema cautela por duas razões: (a) trata-se de Justiça Especializada, o que veda a interpretação tendente a elastecer a regra de competência para abarcar situações outras que não as expressamente tratadas no texto constitucional, sob pena de invadir-se a jurisdição comum, de feição residual; e (b) não é da tradição de nossa Justiça Militar estadual o processamento de feitos de natureza civil. Cuidando-se de novidade e exceção, introduzida pela "Reforma do Judiciário", deve ser interpretada restritivamente. 5.4. Partindo dessas premissas de hermenêutica, a nova jurisdição civil da Justiça Militar Estadual abrange, tão-somente, as ações judiciais propostas contra atos disciplinares militares, vale dizer, ações propostas para examinar a validade de determinado ato disciplinar ou as consequências desses atos. 5.5. Nesse contexto, as ações judiciais a que alude a nova redação do § 4º do art. 125 da CF⁄88 serão sempre propostas contra a Administração Militar para examinar a validade ou as consequências de atos disciplinares que tenham sido aplicados a militares dos respectivos quadros. 5.6. No caso, a ação civil por ato de improbidade não se dirige contra a Administração Militar, nem discute a validade ou consequência de atos disciplinares militares que tenham sido concretamente aplicados. Pelo contrário, volta-se a demanda contra o próprio militar e discute ato de "indisciplina" e não ato disciplinar. 6. Desnecessidade de fracionar-se o julgamento da ação de improbidade: 6.1. Em face do que dispõe o art. 125, § 4º, in fine, da CF⁄88, que atribui ao Tribunal competente (de Justiça ou Militar, conforme o caso) a tarefa de "decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças", resta saber se há, ou não, necessidade de fracionar-se o julgamento desta ação de improbidade, pois o MP requereu, expressamente, fosse aplicada aos réus a pena de perdimento da função de policial militar. 6.2. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal assentou que a competência para decidir sobre perda do posto ou da patente dos oficiais ou da graduação dos praças somente será da competência do Tribunal (de Justiça ou Militar, conforme o caso) nos casos de perda da função como pena acessória do crime que à Justiça Militar couber decidir, não se aplicando à hipótese de perda por sanção administrativa, decorrente da prática de ato incompatível com a função de policial ou bombeiro militar. Precedentes do Tribunal Pleno do STF e de suas duas Turmas. 6.3. Nesse sentido, o STF editou a Súmula 673, verbis: "O art. 125, § 4º, da Constituição não impede a perda da graduação de militar mediante procedimento administrativo". 6.4. Se a parte final do art. 125, § 4º, da CF⁄88 não se aplica nem mesmo à perda da função decorrente de processo disciplinar, com muito mais razão, também não deve incidir quando a perda da patente ou graduação resultar de condenação transitada em julgado na Justiça comum em face das garantias inerentes ao processo judicial, inclusive a possibilidade de recurso até as instâncias superiores, se for o caso. 6.5. Não há dúvida, portanto, de que a perda do posto, da patente ou da graduação dos militares pode ser aplicada na Justiça Estadual comum, nos processos sob sua jurisdição, sem afronta ao que dispõe o art. 125, § 4º, da CF⁄88. 7. Conflito conhecido para declarar competente o Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, o suscitado. (STJ – Relator: MINISTRO CASTRO MEIRA CC Nº 100.682 – MG- DJ 10-06-09). • Ação civil por ato de improbidade deve ser processada perante a Justiça Estadual comum. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 88 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR A administração tem a faculdade de remover o servidor militar no interesse da administração, se a remoção se deu em decorrência das transgressões cometidaspelo autor que culminaram com sua prisão em flagrante, ou seja, tem caráter de punição. Nesse contexto, a remoção constituiu verdadeiro ato disciplinar, pelo que, nos termos do art. 125, § 4º, da Constituição Federal, com redação conferida pela Emenda Constitucional 45⁄2004, compete à Justiça Militar processar e julgar a demanda. EMENTA. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONFLITO DE COMPE-TÊNCIA. POLICIAL MILITAR. CRIMES DE DESOBEDIÊNCIA E ABANDONO DE POSTO. PRISÃO EM FLAGRANTE. REMOÇÃO. ATO DISCIPLINAR MILI-TAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. 1. Embora o servidor militar possa ser removido por interesse da administração, na hipótese dos autos evidencia-se que o ato administrativo foi motivado pelas transgressões militares cometidas pelo autor, configurando verdadeiro ato disciplinar. 2. Em regra, compete à Justiça Militar processar e julgar atos disciplinares militares, nos termos do § 4º do art. 125 da Constituição da República. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais, o suscitante. (STJ – Ministro: Arnaldo Esteves Lima. CC. Nº 99.137 – MG. DJ 25-03-09). O Supremo Tribunal Federal entende que não existe óbice à cumulação, pelo mesmo juiz de direito, das competências de juiz-auditor (juiz de direito) da Justiça Militar Estadual e de juiz criminal comum em Estado em que não há quadro isolado de juízes auditores da Justiça Militar; ao Tribunal de Justiça comum caberá o julgamento dos crimes militares. E M E N T A: "HABEAS CORPUS" - IMPETRAÇÃO POR PROMOTOR DE JUSTIÇA DE PRIMEIRA INSTÂNCIA - POSSIBILIDADE - LEI DE ORGANIZA-ÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE RONDÔNIA (LC Nº 94/93) - AMPLIA-ÇÃO DA COMPETÊNCIA DO JUIZ DE DIREITO TITULAR DE VARA DE AU-DITORIA MILITAR, PARA, NELA, INCLUIR A ATRIBUIÇÃO DE PROCESSAR E JULGAR "FEITOS CRIMINAIS GENÉRICOS" - ALEGADA OFENSA, POR REFERIDO DIPLOMA LEGISLATIVO, AO POSTULADO DO JUIZ NATURAL - INOCORRÊNCIA - PEDIDO INDEFERIDO. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem admitido a possibilidade de o representante do Ministério Público, embora com atuação no primeiro grau de jurisdição, ajuizar, em nome do "Parquet", ação originária de "habeas corpus" perante esta Suprema Corte ou junto a qualquer outro Tribunal judiciário. Precedentes. - A LC nº 94/93 do Estado de Rondônia - que instituiu, nessa unidade da Federação, a respectiva Lei de Organização Judiciária - não transgride o postulado constitucional do juiz natural, revelando-se legítima no ponto em que defere, ao juiz estadual que desempenha funções próprias da Vara de Auditoria Militar, a prática de outras atribuições jurisdicionais, inclusive o exercício da competência penal em face de réu civil acusado de suposto cometimento de crime desvestido de natureza militar. Esse diploma legislativo, na realidade, limitou-se a atribuir, ao titular da Vara de Auditoria Militar da comarca de Porto Velho/RO - que é magistrado estadual -, o exercício cumulativo tanto de funções peculiares à Justiça Militar local (CF, art. 125, § 4º) quanto de atribuições jurisdicionais próprias da Justiça Comum estadual. Precedentes. STF HC 85725 / RO – RONDÔNIA, HABEAS CORPUS,Relator: Min. CELSO DE MELLO, DJ 23-02- 2007. 31. CRIME PRATICADO POR MILITAR ESTADUAL EM SERVIÇO CONTRA CIVIL DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 89 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR O art. 125, § 5.º, da Constituição Federal determina que compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. Deve-se ter cuidado ao interpretar esse dispositivo constitucional, pois nem todos os crimes cometidos por militares contra civis serão julgados por juiz de direito singularmente. Dependendo do crime, pode ser julgado pelo conselho, senão vejamos. Por exemplo: Quem irá julgar o crime de dano cometido por praça contra particular em Porto Alegre-RS? Resposta: pelo conselho de justiça permanente da auditoria militar de Porto Alegre. Será na Auditoria da Justiça Militar de Porto Alegre-RS, lugar da consumação do crime de Dano. Art. 88 do CPPM. Lugar da infração. Art. 88 do CPPM. A competência será, de regra, determinada pelo lugar da infração; e, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. A Emenda Constitucional nº 45/04, ao introduzir modificações na competência dos órgãos de primeiro grau da JME, instituindo o juízo monocrático, atribuiu-lhes o julgamento dos crimes militares cometidos contra civis. O delito previsto no art. 259 do CP Militar é crime contra o patrimônio, e não contra civil, e a competência para processar e julgar o acusado é do Conselho Permanente de Justiça, e não do juízo singular. Como reiteradamente tem decidido o TJME-RS, a competência do Juiz de Direito do Juízo Militar está limitada ao julgamento dos crimes previstos no Título IV do Livro I da Parte Especial do Código Penal Militar – crimes contra pessoa, porque, nos demais títulos, os bens juridicamente tutelados são outros. Assim, numa interpretação lógico-sistemática do Direito Penal brasileiro, chega-se à conclusão de que quando a Constituição Federal se refere à vítima civil, trata do objeto material do crime doloso contra a vida; quando se refere a crimes cometidos contra civis, trata do bem jurídico pessoa civil. Nessas condições, a competência do Juiz de Direito do Juízo Militar estaria limitada ao julgamento dos crimes previstos no Título IV do Livro I da Parte Especial do Código Penal Militar – crimes contra pessoa, porque, nos demais títulos, os bens juridicamente tutelados são outros, mesmo que o objeto material seja pessoa civil. Exemplo: violência arbitrária – art. 333 do CPM, cujos bens juridicamente tutelados são o dever funcional e a administração militar, muito embora a vítima (objeto material) seja pessoa civil, à semelhança de como ocorre com o latrocínio. O crime de dano (art. 259, caput, do CP Militar) está inserido no Título V do CP Militar, que trata dos crimes contra o patrimônio. Neste diapasão, a competência para o julgamento é do órgão colegiado – juízo natural dos militares no pretório castrense na órbita penal. Logo, tendo sido o feito processado e julgado por juiz singular, curial a decretação de nulidade absoluta, haja vista a incompetência do juízo monocrático para apreciar crimes patrimoniais. Nesse sentido é o entendimento dos Tribunais Estaduais. Crime de furto (art. 240, caput, do CPPM). Sentença condenatória exarada monocraticamente pelo juízo a quo. A competência do Juiz de Direito do Juízo Militar, fixada no § 5º do art. 125 da Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional nº 45/2004, é para processar e julgar os crimes previstos no Título IV do Livro I do CPM, quando cometidos contra civil – pessoa, bem jurídico tutelado pela norma penal militar. Por se tratar de delito contra o patrimônio compete ao Conselho DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 90 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR julgar os autos, e não ao juízo monocrático. Precedentes desta Corte nesse sentido. Decretação de nulidade absoluta do processo por incompetência do juízo monocrático. Decisão unânime (TJM, Apelação Criminal nº 730- 05.2010.9.21.0000, julgada em 13/4/11, sitio do TJM/RS na internet).Ante o exposto, acordam os Juízes do Tribunal de Justiça Militar, à unanimidade, acolher preliminar suscitada pelo Juiz-Relator e anular o processo ab initio, por incompetência absoluta do juízo monocrático, podendo os atos instrutórios serem ratificados. APELAÇÃO CRIMINAL N.º 4.189/07 Crime de dano (art. 259 do CPM). Sentença condenatória prolatada pelo juiz singular. Preliminar de nulidade arguida pela defesa. Acolhimento. Segundo entendimentomajoritário da Corte, compete ao Juiz de Direito do Juízo Militar julgar, singularmente, tão somente os crimes previstos no Título IV do Livro I da Parte Especial do CPM – Crimes contra a Pessoa. Por conseguinte, na espécie, tratando-se de crime de dano simples atribuído ao acusado, compreendido no Título V do CPM – Crimes contra o Patrimônio, incumbe ao Conselho Permanente de Justiça o julgamento. Por maioria, acolheram a preliminar e decretaram a nulidade a partir do julgamento. TJM-RS COMPETÊNCIA INTERNA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL JUIZ DE DIREITO CONSELHO DE JUSTIÇA (Presidência Juiz de Direito) Crimes militares cometidos contra civis. Processar e julgar os demais crimes militares. Crimes contra pessoa. Crimes previstos no Título IV do Livro I da Parte Especial do Código Penal Militar. Nos demais títulos, os bens juridicamente tutelados são outros. Ex: Lesão Corporal ( art. 209 do CPM). Ex: Furto (art. 240 do CPM) ou Dano (art. 259 do CPM). 32. PROCEDIMENTO PERANTE O JUIZ DE DIREITO A alteração feita pela EC 45/04 determina que compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis. O Código de processo penal militar é de 1969 e a alteração foi em 2004 e nada foi modificado em relação ao procedimento dos crimes que serão julgados pelos juízes de direito da justiça militar estadual. No CPPM há apenas o procedimento perante os conselhos. A partir dessas alterações surgiram dúvidas de qual o procedimento a ser utilizado, o procedimento do código de processo penal comum ou do código de processo penal militar. O Prof. Célio entende que nos feitos de competência singular do Juiz de Direito do Juízo Militar, inexiste disposição na lei adjetiva processual penal militar, suprimindo alegações escritas, sustentação oral e sessão de julgamento. Logo, não há como prevalecer opiniões contrárias à sustentação oral no julgamento desses feitos. Até que se mude o CPPM, o rito a ser seguido é o mesmo dos feitos da competência dos Conselhos de Justiça. Com a devida vênia, não concordamos, pois o juiz conhece o direito e não há necessidade de uma sustentação oral para ratificar as alegações escritas que são obrigatórias. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 91 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR No procedimento do júri na justiça comum e nos procedimentos na justiça militar em que há juízes leigos (jurados e juízes militares) que não têm a obrigação de saber o direito é indispensável a sustentação oral para que se possa explicar e explorar mais detidamente as suas teses. Agora, quando o julgamento é feito exclusivamente pelo juiz de direito não há necessidade da sustentação oral. Entendemos que deve ser usado o procedimento da justiça militar até as alegações escritas sem a necessidade das alegações orais. A jurisprudência dos tribunais é no sentido de que deverá seguir o rito do CPPM, porém, sendo dispensáveis os debates orais nesses julgamentos, existindo também a possibilidade de o juiz não prolatar a sentença ao fim da audiência, chamando os autos para si para prolatar a sentença em momento posterior. Irresignação do Ministério Público, visando à correção de erro judicial relativo ao procedimento adotado, para que o Policial Militar denunciado na sanção do artigo 163, caput, do CPM, venha a ser processado nos termos dos artigos 394 a 405 do CPP. Não há erro ou ato tumultuário. Trata-se de rito regrado pelo CPPM, portanto é de ser adotado. Recurso indeferido. Decisão unânime (TJME-RS Correição Parcial nº. 2807- 84.2010.9.21.0000 - Relator: Dr. Octavio Augusto Simon de Souza). Ementa: LESÕES CORPORAIS LEVES. ART. 209, CAPUT, DO CPM. DES-NECESSIDADE DOS DEBATES ORAIS NOS JULGAMENTOS DE COMPE-TÊNCIA DO JUIZ SINGULAR. Plenamente regular a conduta do magistrado monocrático ao prescindir dos debates orais, máxime na inexistência de qualquer pronunciamento em contrário nas alegações escritas oferecidas pelas partes. Nesse sentido é a jurisprudência pacificada nesta Corte. No mérito, o simples disparo de arma de fogo pelas costas, por si só, não ilide a tese defensiva da legítima defesa. O policial que, devidamente identificado em abordagem de negociação de tráfico de drogas, se deparou com indivíduo que se evade e saca o revólver, não é obrigado a esperar que se vire em sua direção para fazer cessar a ameaça. A coerência da versão do acusado, em sendo atingida região não vital e realizados apenas os tiros necessários para por fim ao perigo vislumbrado, impõe dúvida fundada de sua culpa, devendo ser aplicado o princípio do in dúbio pro reo. Apelo do Ministerial desprovido. Decisão majoritária. (TJM/RS. Apelação Criminal nº 600- 15.2010.9.21. Relator: Juiz-Cel. Paulo Roberto Mendes Rodrigues. Sessão de 23/6/2010. DJE nº 4.401 de 13/8/2010) Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DEBATES ORAIS. NULIDADE RE-LATIVA. FRAGILIDADE DA PROVA TESTEMUNHAL. PRINCIPIOLOGIA CONSTITUCIONAL. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. INOCORRÊNCIA DE OMISSÃO. APRECIAÇÃO DE TODOS OS PONTOS CITADOS PELA DEFESA. NÃO CABIMENTO. EMBARGOS REJEITADOS. UNANIMIDADE. Conforme entendimento jurisprudencial desta Corte, a supressão dos debates orais constitui-se em nulidade relativa, e caso não arguida, no momento oportuno (art. 428 do CPPM), resta sanado pelo silêncio. A historicidade detalhada dos fatos, com apontamento do conjunto probatório, confrontando as circunstâncias e evidências existentes nos autos, afasta a apontada fragilidade da prova testemunhal, principiologia constitucional, bem como o Princípio do in dúbio pro reo. Ao julgador cabe manifestar- se sobre as questões que lhe são submetidas com o seu livre convencimento, não lhe sendo, entretanto, obrigatório analisar todos os pontos ou dispositivos citados pelas partes. Após cotejar as alegações do embargante e o acórdão atacado, verifico que os embargos de declaração não merecem acolhimento, pois inexiste qualquer omissão a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 92 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR ser suprida, contradição a ser sanada e ambiguidade a ser aclarada, consoante o disposto no artigo 542 do CPPM. Embargos rejeitados. Unanimidade. (TJME-RS - Embargos de declaração - Nro e Ano do Acórdão: 448-2011. Juiz Relator: Juiz Fernando Guerreiro de Lemos). Já nos crimes militares cometidos contra militar, compete aos Conselhos de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar. A diferença aqui está na presidência dos conselhos, enquanto na Justiça Militar da União a presidência cabe aos juízes militares, na Justiça Militar Estadual a presidência compete aos juízes de direito. Quanto à competência em relação ao posto e patente do acusado e formação dos conselhos, continuam valendo as mesmas regras, conforme visto acima na competência interna das justiças militares. Ressalta-se que, se o militar cometer crime militar em outra unidade federativa, responderá na auditoria da sua unidade. Ex.: Militar Estadual do Rio Grande do Sul cedido para uma missão no Rio de Janeiro, que comete crime militar no Rio de Janeiro, irá responder a processo na Auditoria Militar do Rio Grande do Sul (Porto Alegre). Nesses termos é a Súmula 78 do STJ: “Compete à justiça militar processar e julgar policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.” 33. CRIMES CONEXOS E CONTINENTES DA COMPETÊNCIA DO JUIZ DE DIREITO E DO CONSELHO DE JUSTIÇA Policial militar em serviço investe contra duas pessoas que se encontram conversando, ocasionando-lhes lesões corporais, sendo um superior hierárquico fardado e outro civil. Nessa situação, quem irá processar e julgar o policial militar? RESPOSTA: haverá separação de processos; a violência contra superior agravada pela lesão corporal (art. 157, § 3º, do CPM) será julgada pelo Conselho e a lesão corporal contra o civil (art. 209 do CPM)será julgada pelo juiz de direito do Juízo Militar. Segundo o nosso entendimento, pois a questão não é pacífica. Acabamos de ver no tópico anterior que se o policial militar cometer crime contra civil (crimes contra a pessoa) será julgado pelo juiz de direito monocraticamente e quando cometer os demais crimes militares será julgado pelo conselho. Problema pode surgir em relação aos crimes conexos ou continentes, ou seja, quando cometido crime contra civil e militar. O Professor Célio Lobão traz uma solução com a qual concordamos. Com a competência interna do Juízo Militar bipartida, surge o problema de crimes conexos e continentes da competência do juiz de direito e do Conselho de Justiça do mesmo ou de outro Juízo Militar. Considerando-se a competência processual penal militar constitucional do juiz de direito e do Conselho de Justiça, os processos serão separados. A constitucionalidade da competência processual penal dos órgãos internos do Juízo Militar não autoriza a prorrogação da competência de nenhum deles para conhecer do processo unificado. Acrescente-se que, se os processos forem reunidos para o julgamento por qualquer um dos órgãos judiciários internos do Juízo Militar, haverá supressão do juiz natural, do juiz constitucional. Por exemplo, policial militar em serviço investe contra duas pessoas que se encontram conversando, ocasionando-lhes lesões corporais, sendo um superior hierárquico e outro civil, haverá separação de processos; a violência contra superior agravada pela lesão corporal (art. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 93 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 157, § 3º, do CPM) será julgada pelo Conselho e a lesão corporal contra o civil (art. 209 do CPM) será julgada pelo juiz de direito do Juízo Militar. Já o professor Renato Brasileiro de Lima traz outra solução para o caso. Aplicando o princípio da economia processual poderia se fazer uma única instrução perante o conselho de justiça e, ao final da instrução, cada órgão jurisdicional deverá julgar o delito de sua competência, ou seja, ao conselho cabe julgar o crime militar praticado contra militar e ao juiz de direito, singularmente, o crime militar cometido contra o civil. O Prof. Ronaldo João Roth , entende no mesmo sentido do Professor Renato Brasileiro, que, por razões processuais de conexão ou de continência, em que a prova de um delito influirá na do outro delito ou exista coautoria na prática infracional, o processo deva ocorrer perante o Conselho de Justiça, formado pelo juiz de direito (que é o seu presidente) e pelos quatro juízes militares, devendo o julgamento do crime contra a vítima civil ocorrer perante o juiz de direito singularmente, e perante o Conselho de Justiça, os demais delitos. É que o juiz de direito integra o Conselho de Justiça como relator e presidente, logo, como afirma Célio Lobão, tem poderes de instrução, de disciplina, de impulsão, além da competência para a prática de atos decisórios em procedimentos cautelares sobre coisa (arts. 199 a 219 do CPPM), além de outros, assim, a instrução criminal conduzida, colhida e presidida pelo juiz de direito – ainda que se processe perante o Conselho de Justiça ‒ não importará desrespeito à garantia do juiz natural. Segundo esses autores, essa medida do processamento único teria como vis attractiva os crimes de competência do Conselho de Justiça, seja, como se falou, por conexão ou por continência, trazendo economia processual à instrução do fato, quando então tornaria uno o processo. O julgamento sim, como se falou, deve ser cindido (artigo 105 do CPPM), guardando-se a exclusividade imposta pela EC n. 45 e deixando os crimes contra civil para o julgamento do juiz de direito. A sessão de julgamento pode ser única, todavia, será precedida da cisão do julgamento, permitindo que os crimes processados numa mesma instrução e com base numa única denúncia fossem julgados separadamente. Com a devida vênia, não concordamos, pois o princípio constitucional do juiz natural (art. 5º, LII da CF) determina que ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. Assim, a instrução processual, colheita da prova realizada por juiz absolutamente incompetente (conselho de justiça) torna nulo todos os demais atos que dele dependam. Esse é o entendimento do Tribunal de Justiça Militar do Estado do Rio Grande do Sul. Inconformado com o despacho exarado pela Juíza, que rejeitou o pedido de exceção de incompetência para acarretar a conexão de dois processos e o julgamento pelo Conselho de Justiça, a defesa, com fulcro no art. 145 do CPPM, interpôs recurso inominado. Todavia acertada a decisão da culta juíza. O princípio do juiz natural não pode ser violado, ex vi do disposto no art. 125, § 5.º, da CF. As regras infraconstitucionais que disciplinam a atribuição da competência pela vinculação de causas não podem, em hipótese alguma, sobrepor-se às regras constitucionais. Conforme as modificações introduzidas pela Emenda Constitucional n.º 45/04, o crime do art. 319, praticado, em tese, pelo recorrente e por outro colega de farda, deve ser julgado pelo Conselho de Justiça, e o art. 209, praticado, em tese, pelos outros quatro policiais militares elencados na peça incoativa, deve ser julgado pelo juiz monocrático. A cisão processual determinada pela juíza vai ao encontro da jurisprudência dominante nesta Corte. A norma constitucional relativa à competência tem aplicação imediata; logo, recomenda-se aos juízes de primeiro grau a observância dos procedimentos DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 94 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR preconizados no diploma processual penal militar para efetuar os julgamentos, consoante dispõe o art. 36, § 1.º, do CPPM. Portanto, por imposição constitucional, deve haver cisão processual, como nos casos de concurso de crimes de competência das Justiças Comum e Militar, pois a Carta Magna ressalvou expressamente a competência do juízo monocrático, que deverá, singularmente, julgar e processar os delitos militares praticados contra o bem jurídico pessoa, quando seu titular for civil. Logo, impossível a conexão pretendida pela defesa. Recurso improvido, à unanimidade. (RECURSO INOMINADO N.º 143/06 - TJM-RS.). A mudança constitucional veio ao encontro da manutenção da disciplina e hierarquia (crimes militares contra militares, julgado por militares) e do princípio da isonomia e igualdade, crimes militares contra civil (julgado por civil). Em relação aos crimes cometidos contra militares na Justiça Militar Estadual, o procedimento a ser utilizado será o ordinário, que será visto no Capítulo XII. Agora, qual o procedimento a ser utilizado nos crimes na Justiça Militar Estadual cometido por militar contra civil com a alteração dada pela EC 45/04, que acresceu o art. 125, § 5º, da CF? Houve recente alteração na legislação processual comum, com a entrada em vigor da Lei 11.719/08, que modificou vários artigos do Processo Penal Comum, alterou alguns, revogou outros e acresceu outros tantos. No entanto, como é da tradição legislativa brasileira, nada constou expressamente a respeito da aplicação ou não na Justiça Militar, em especial, aos crimes cometidos contra civil na Justiça Militar Estadual. O Supremo Tribunal Federal, em decisão anterior à entrada em vigor da Lei 11.719/08, entendeu que, na falta de normas procedimentais no Código de Processo Penal Militar, devem ser observadas as regras do Código de Processo Penal comum. Nessa esteira entendemos que as alterações procedimentais devem ser aplicadas na Justiça Militar Estadual. Justiça Militar da União Justiça Militar dos Estados 1. Crimes militares (art. 124 da CF). 1. Crimes militares (art. 125, § 4º, da CF). 2. Ações judiciais contra atos disciplinares militares (art. 125, § 4º, da CF). 1. Militares (incorporado às Forças Armadas). 2. Civis (quando há intuito de atingir as ForçasArmadas). 1. Militares dos estados (integrante da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militares) (tempus delicti). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 95 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR DDA CITAÇÃO Citação é o chamamento do réu a juízo, dando-lhe ciência do ajuizamento da ação, imputando-lhe a prática de uma infração penal, bem como lhe oferecendo a oportunidade de se defender pessoalmente por meio de defesa técnica. É o chamamento do réu a juízo para defender-se da ação proposta pelo Ministério Público Militar. Com a citação válida está integrada a relação processual. A partir deste instante (citação válida), o réu passa a ser parte na relação processual e está sujeito a ônus processual, sendo considerado revel, se, estando solto e tendo sido regularmente citado, não atender ao chamado judicial para o início da instrução criminal, ou, sem justa causa, se previamente cientificado, deixa de comparecer a ato de processo em que sua presença seja indispensável. Espécies de citação: a citação poderá ser real ou ficta. Real quando o réu toma conhecimento pessoalmente de seu chamamento em Juízo, e ficta quando se presume que ele tenha tido esse conhecimento, feito mediante edital. 1. MODALIDADES DE CITAÇÃO A citação real pode dar-se mediante mandado, requisição e precatória. a) Mediante mandado: Ocorre quando o acusado está residindo na sede do Juízo em que se promove a ação penal (art. 277, I, do CPPM). É feita a todo aquele que não é militar em serviço ativo, por intermédio de oficial de justiça que faz sua leitura ao citando, com os requisitos do art. 278 do CPPM, entregando-lhe a cópia integral do mandado, que se chama contrafé, certificando a realização do ato, cuja certidão constituirá sua prova. b) Mediante requisição: Ocorre em duas situações; ao militar em atividade e ao acusado preso (art. 277, III, do CPPM). A citação do militar em atividade dá-se nos moldes do art. 280 do CPPM, nos seguintes termos: a citação a militar em situação de atividade far-se-á mediante requisição à autoridade sob cujo comando ou chefia estiver, a fim de que o citando se apresente para ouvir a leitura do mandado e receber a contrafé. A citação ao réu preso, art. 282 do CPPM, será feita nos termos do art. 279 do CPPM, encaminhando-se ofício ao diretor do presídio requisitando a apresentação do preso ao oficial de justiça, que no recinto da prisão, fará a ele a leitura do mandado e a entrega da contrafé. c) Por precatória: Ocorre quando o réu se encontra fora do território de jurisdição do juiz processante (art. 277, II, do CPPM). DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 96 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR O juiz deprecante encaminhará carta precatória ao juiz do lugar onde se encontra o réu para que o mande citar. O art. 284 do CPPM estabelece que a precatória será devolvida ao juiz deprecante, independentemente de translado, depois de lançado o “cumpra-se” e de feita a citação por mandado do juiz deprecado, com os requisitos do art. 279. d) Por carta citatória: O art. 285 encontra-se derrogado pela Lei 9.271/96. Estando o réu no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória e não mais por carta citatória. e) Por edital: Há uma presunção de que o réu dela tomará conhecimento. Ocorre se o réu furtar-se à ação da justiça, nos seguintes casos (art. 277, V, do CPPM): a) quando o acusado se ocultar ou opuser obstáculo para não ser citado; b) quando estiver asilado em lugar que goze de extraterritorialidade de país estrangeiro; c) quando não for encontrado; d) quando estiver em lugar incerto ou não sabido; e) quando incerta a pessoa que tiver de ser citada. Nos casos das alíneas “a”, “c” e “d”, o oficial de justiça, depois de procurar o acusado por duas vezes, em dias diferentes, certificará, cada vez, a impossibilidade da citação pessoal e o motivo. No caso da alínea “b”, o oficial de justiça certificará qual o lugar em que o acusado está asilado. O edital deve observar os prazos do art. 287 do CPPM, que são distintos, dependendo do motivo por que está sendo citado por edital, remetendo aos casos das alíneas do art. 277, inc. V, do CPPM, visto acima. O prazo do edital será conforme o art. 277, V: a) de cinco dias, nos casos das alíneas “a” e “b”; b) de quinze dias, no caso da alínea “c”; c) de vinte dias, no caso da alínea “d”; d) de vinte a noventa dias, no caso da alínea “e”. Parágrafo único. No caso da alínea “a”, bastará publicar o edital uma só vez. O edital deverá ser publicado por três vezes em jornal oficial do lugar ou, na falta deste, em jornal que tenha ali circulação diária, e afixado em lugar ostensivo, na portaria do edifício onde funciona o juízo. Pode ser publicado resumidamente, caso a denúncia seja muito longa. Vale lembrar que para usar essa forma de citação é necessário esgotar todos os meios anteriores de citação real, sob pena de nulidade do feito. Ementa: RECURSO CRIMINAL - RECURSO DE OFÍCIO. PRELIMINAR DE NULIDADE. AUSÊNCIA DE ESGOTAMENTO DAS POSSIBILIDADES DE CI-TAÇÃO PESSOAL. EXCEPCIONALIDADE DA CITAÇÃO EDITALÍCIA. IMPOS-SIBILIDADE DE APRECIAÇÃO DO MÉRITO. 1- Recurso de ofício do Conselho Especial de Justiça da 3ª Auditoria da 1ª Circunscrição Judiciária Militar, sobre decisão que determinou a suspensão do processo e do prazo prescricional em relação ao acusado civil revel. Aplicação subsidiária do artigo 366 do Código de Processo Penal comum. 2- Preliminar de nulidade. A citação real DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 97 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR é a forma de chamamento que efetivamente respeita os direitos constitucionais à ampla defesa e ao contraditório. A citação editalícia é recurso extremo, somente cabível quando exauridas todas as possibilidades de citação pessoal. Precedentes. 3- O despacho judicial ordenando diligências em dois endereços foi preterido. O juízo não atendeu à solicitação da empresa de telefonia, no sentido de enviar os dados necessários para permitir o fornecimento de informações sobre o paradeiro do réu. Tais omissões tomam nula a citação ficta. Baixa dos autos ao juízo de origem para realização das diligências necessárias. O vício prejudica a apreciação do mérito do recurso sobre a suspensão do processo e do prazo prescricional. 4. Recurso conhecido, preliminar acolhida. Decisão unânime. STM Num: 2004.01.007165-8 UF: RJ. RECURSO CRIMINAL (FO) Data da Publicação: 25/08/2004. Ementa RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - CITAÇÃO EDITALÍCIA. INOB-SERVÂNCIA DE FORMALIDADES ESSENCIAIS. ANULAÇÃO, EM PARTE, DO PROCESSO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. ARTIGO 277, INCISO V, ALINEA 'C', PARÁGRAFO UNICO DO CPPM. DIVERSOS ENDEREÇOS DO RÉU, SENDO O MESMO PROCURADO, APENAS UMA VEZ, NO ÚNICO ENDE-REÇO MENCIONADO NO MANDADO DE CITAÇÃO. NECESSIDADE DO OFICIAL DE JUSTIÇA ESGOTAR AS INDICAÇÕES REFERIDAS NOS AUTOS, PARA SUA LOCALIZAÇÃO, BEM COMO, POR DUAS VEZES EM DIAS DIFE-RENTES, PROCURAR O RÉU, CERTIFICANDO, A CADA VEZ, A IMPOSSIBI-LIDADE DA CITAÇÃO PESSOAL E O MOTIVO, SEM O QUE NÃO SE LEGI-TIMA A CITAÇÃO POR EDITAL. DENEGADO PROVIMENTO AO RECURSO DO MPM, PARA MANTER A DECISÃO 'A QUO', QUE ANULOU O PROCES-SO A PARTIR DA DILIGÊNCIA PARA CITAÇÃO. DECISÃO UNÂNIME. STM Num: 1987.01.005789-2 UF: RJ - RECURSO CRIMINAL (FO) Data da Publicação: 17/03/1988. 2. DA INTIMAÇÃO E DA NOTIFICAÇÃO Intimação é a ciência que se dá a alguém de um ato processual já realizado, como, por exemplo, a notícia de uma decisão. Notificação quer dizer cientificar, não só ao acusado, mas a qualquer pessoa que deva comparecer em juízo, como testemunha, perito, advogado, a fim de participar de algum ato processual. Em regra são feitas pelo diretor de secretaria, às partes, testemunhas e peritos, para prática de atos ou seu conhecimento no curso do processo, pormeio de carta, telegrama ou comunicação telefônica, bem como pessoalmente, se estiverem presentes em juízo, o que será certificado nos autos (art. 288 do CPPM). A regra do art. 288 do CPPM não pode ser aplicada aos integrantes do Ministério Público Militar e da Defensoria Pública da União, tendo em vista que essas autoridades têm a prerrogativa de intimação pessoal. Assim, estas modalidades de notificação ou intimação poderão ser feitas aos advogados constituídos, e não aos advogados nomeados (defensores dativos) pelo Juízo, pois estes também têm a prerrogativa de intimação pessoal, aplicando-se nesse caso omisso a regra do art. 3º, “a”, do CPPM, que autoriza a aplicação do Processo Penal Comum, regra contida no art. 370, § 4º do CPP . Interessante é a previsão de intimação por telefone na Justiça Militar. EMENTA: CALÚNIA. INJÚRIA. DIVULGAÇÃO. CORRESPONDÊNCIA. VÍ-CIOS DO INQUÉRITO. NULIDADE PROCESSUAL. INOCORRÊNCIA. NOME-AÇÃO DE CURADOR. RÉU DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 98 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR REVEL. INTIMAÇÃO POR TELEFONE. LEGALI-DADE. 1 - O Inquérito é peça meramente informativa, cujo fim é fornecer elementos para o ajuizamento de uma ação penal, eis por que os vícios dele decorrentes não causam nulidade da ação penal respectiva. No caso, o IPM foi realizado em estrita observância às normas procedimentais. 2 - Houve nomeação de curador em cada ato do processo, evitando-se qualquer prejuízo ao réu. A defesa não poderia se valer de uma nulidade que ela própria deu causa. Intimada, não compareceu em juízo. 3 - Intimação por telefone. Ato válido no âmbito da Justiça Militar da União. Previsão na legislação castrense (CPPM art. 288). 4 - Calúnia. Atipicidade. Conduta descrita na denúncia de forma vaga, sem qualquer caso específico, impossibilitando a sua tipificação à luz da lei substantiva castrense. 5 - Delito de injúria com agravante configurado nos termos ofensivos à dignidade do Ofendido, e em carta enviada à Câmara Federal, e daí ao Comando do Exército. Reforma parcial da Sentença condenatória. Absolvição pelo delito de calúnia. Condenação pela injúria. Decisão unânime. STM: Num: 2004.01.049722-6 UF: RS- APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 26/10/2006. Tratando-se de militar em situação de atividade, a intimação ou notificação será feita por intermédio da autoridade a que estiver subordinado (art. 288, par. 3º, do CPPM). As notificações, intimações e citações serão sempre feitas de dia e com antecedência de 24 horas, pelo menos, do ato a que se referirem (art. 291 do CPPM). A citação feita no início do processo é pessoal, bastando, para os demais termos, a intimação ou notificação do seu defensor, salvo se o acusado estiver preso, caso em que será, da mesma forma, intimado ou notificado (art. 293 do CPPM). O processo seguirá à revelia do acusado que, citado, intimado ou notificado para qualquer ato do processo, deixar de comparecer sem motivo justificado (art. 292 do CPPM). • No processo ordinário e nos processos especiais, é admitida a revelia de acusado preso ou solto. Se estiver preso e recusar a comparecer no ato. Se solto, notificado e não comparecer ao ato judicial. Se citado e não responder ao chamado, decreta-se a revelia e não se aplica o art. 366 do CPP. Em relação à aplicação do art. 366 do Código de Processo Comum, em recente decisão, o STF negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus em que a Defensoria Pública da União pleiteava a aplicação subsidiária, ao Processo Penal Militar, da regra do art. 366 do CPP (“Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional...). No caso, o paciente fora denunciado pela suposta prática do crime de ingresso clandestino em área de administração militar (CPM, art. 302) e tivera sua revelia decretada em virtude de diversas tentativas frustradas de citá-lo. Considerou-se ausente, no caso, fundamento legal para justificar a aplicação da suspensão prevista no Processo Penal Comum ao Processo Penal Militar. Tendo em conta o caráter excepcional e os pressupostos de interpretação analógica do CPPM, entendeu-se que não existiria omissão a ensejar a incidência da legislação comum. Ademais, salientou-se que a pretensão implicaria situação desfavorável ao paciente, quanto à interrupção do prazo prescricional, uma vez que esta hipótese não estaria prevista na legislação castrense. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 99 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR. AU-SÊNCIA DE CÓPIA DA DECISÃO IMPUGNADA. APLICAÇÃO DO ART. 366 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL AO PROCESSO PENAL MILITAR. PRE-CEDENTES. ORDEM DENEGADA. 1. Crime de mera conduta - formal e instantâneo - atribuído ao Paciente, o qual se consuma com a simples ação do agente penetrar de forma clandestina em qualquer lugar, explícita e indubitavelmente sujeito à administração castrense, onde seja defeso ou que não seja passagem regular ou, ainda, quando o agente ilude a vigilância de sentinela ou vigia (art. 302 do Código Penal Militar). 2. O trancamento da ação é medida excepcional, não sendo possível a substituição do rito ordinário da ação penal, no qual todos os elementos de convicção serão apresentados e postos à disposição das partes para eventuais questionamentos, até mesmo garantindo-se a oportunidade processual própria ao Paciente para o exercício de todos os meios de provas admitidos em direito o que não é possível de ser conferido pela via acanhada do habeas corpus, na qual não se tem a dilação própria. 3. Ordem denegada. STF: HC 90977 / MG – MINAS, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA GERAIS, DJ 08-06-2007 Da mesma forma entende o STM que não se aplica o art. 366 do CPP ao Processo Penal Militar. EMENTA: EMBARGOS. CITAÇÃO. EDITAL. NULIDADE. ART. 366, CPP. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE OMISSÃO. SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO. IMPREVISÃO LEGAL. PRINCÍPIO DA RE-SERVA LEGAL. 1. A aplicação subsidiária do Código de Processo Penal, no processo e julgamento de crimes militares, está regulada no artigo 3º, alínea "a", da lei processual penal militar. A regra exige, antes de tudo, a omissão para que se invoque a subsidiariedade. 2. A citação por edital e a revelia encontram regulamentação no Código de Processo Penal Militar, o que torna ausente a omissão necessária à invocação subsidiária. 3. O artigo 366, do Código de Processo Penal, tem natureza dúplice, já que guarda norma de processo, como a suspensão, e de direito penal, como é o caso da suspensão da prescrição. Nesse caso específico, por representar restrição ao direito do acusado, em observância ao princípio da reserva legal, apenas por expressa disposição legal, e não pela via hermenêutica, é possível suspender o curso prescricional 4. Configura omissão do legislador, e não do Poder Judiciário, a manutenção do texto do Código de Processo Penal Militar, a despeito de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, como é o caso da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 5. Embargos rejeitados. Decisão majoritária. STM Num: 2006.01.049632-0 UF: DF Decisão: 05/10/2006 Proc: Embfo - EMBARGOS (FO). Data da Publicação: 01/03/2007 Vol: Veículo: PPRROOVVAASS Em relação às provas, houve recente alteração na legislação processual penal comum pelo advento da Lei 11.690/08, e seguindo a tradição legislativa, esta nova lei silenciou em relação às DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 100 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR provas do CPPM, assim, entendemos que as alterações trazidas pela nova lei não se aplicam ao Processo Penal Militar que tem regramento próprio, como veremos a seguir, devido a sua especialidade. Para certames, provas objetivas,nas quais cobram a “letra fria da lei”, deve-se responder conforme a legislação que não contempla a aplicação dessa nova legislação na Justiça Militar. No entanto, é prudente esperar o pronunciamento dos Tribunais Superiores acerca da possibilidade ou não da aplicação desse regramento na Justiça Militar. A palavra prova traduz os elementos produzidos pelas partes ou determinados pelo juiz, visando a estabelecer, dentro do processo, a existência de certos fatos. Seu objetivo é formar a convicção do juiz sobre os elementos necessários para a decisão do processo. O sistema da livre convicção ou da verdade real ou livre convencimento foi adotado pelo CPPM no art. 297, segundo o qual o juiz formará sua convicção pela livre apreciação do conjunto das provas colhidas em juízo. As provas não são valoradas previamente pelo antigo e vedado sistema das provas tarifadas. Dessa forma, o Conselho Permanente ou Especial tem liberdade de apreciação, limitado apenas aos fatos e circunstâncias constantes nos autos. Ementa: Apelação. Receptação. Materialidade. Apreciação das provas. Para formar a sua convicção, o juiz é livre na apreciação das provas, a serem consideradas conjuntamente na aferição da verdade. O fato de não ser apreendido o objeto receptado em posse do acusado é insuficiente para um decreto absolutório sob a alegação de inexistência de crime. O confronto de elementos probatórios, harmônicos e compatíveis, leva a firmar a convicção da prática da conduta delituosa pelo acusado. Inteligência do art. 297 do CPPM. Apelo ministerial provido. Decisão majoritária. Descabe a afirmação do desconhecimento da origem ilícita de um objeto, quando, por suas características e conhecimento profissional do agente, permite-se antever sua procedência criminosa. O intermediário de uma transação de objeto procedente de crime pratica a conduta típica prevista no art. 254 do CPM. A condenação de acusado no crime de receptação não exclui a responsabilidade criminal de outros envolvidos na receptação do mesmo objeto. Apelo defensivo improvido. Decisão unânime. STM: Num: 2005.01.050015-4 UF: MG Decisão: 24/10/2006 - APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 13/03/2007. O dispositivo é claro em não aceitar as provas que foram produzidas no inquérito ou sindicância sem o crivo do contraditório. Assim, toda a prova admite a contraprova, não sendo admissível a produção de provas sem o conhecimento da outra parte que deve ter ciência do ato ou da juntada. No entanto, o STM admite a utilização de provas do inquérito militar para condenação, desde que em harmonia com os demais elementos probatórios colhidos sob o crivo do contraditório. Ementa: FURTO QUALIFICADO. TENTATIVA. ELEMENTOS INFORMATIVOS CONTIDOS NO INQUÉRITO POLICIAL MILITAR. VALIDADE COMO MEIO DE PROVA. REFORMA DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. É pacífica a Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que "os elementos informativos colhidos no inquérito, em harmonia com outros dados colhidos na instrução judicial", são válidos como meio de prova a ensejar uma condenação. Precedentes: HC 68.041/RJ, de 05.02.91; 73.360-3/SP, de 13.02.96; e 76.872-9/SP, de 02.06.98. No caso concreto, existem provas suficientes para justificar a condenação, uma vez que o conjunto probatório conduz à certeza de que o Acusado consumou o crime de furto qualificado, na forma tentada, cujo delito possui autoria, materialidade e culpabilidade comprovadas. Provido o apelo ministerial. Decisão DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 101 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR majoritária. STM: Num: 2001.01.048833-2- APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 02/07/2002. Uma vez produzida, servirá a ambos, Ministério Público Militar e defesa, pertencendo ao processo e não à parte que a requereu. Assim, a acusação pode valer-se de provas requeridas pela defesa e vice-versa. 1. ADMISSIBILIDADE DAS PROVAS A prova no juízo penal militar, salvo quanto ao estado das pessoas, não está sujeita às restrições estabelecidas na lei civil, sendo admissível qualquer espécie de prova, desde que não atente contra a moral, a saúde ou a segurança individual ou coletiva, ou contra a hierarquia ou a disciplina militar. Ainda, aplicam-se no Processo Penal Militar as provas obtidas por meios ilícitos, que constituem espécie de provas vedadas (CF, art. 5, LVI). Prova vedada é aquela produzida em contrariedade a uma norma legal e poderá classificar-se em provas ilícitas ou em provas ilegítimas. Tanto uma quanto a outra são proibidas pela Carta política. Provas ilícitas são aquelas produzidas com violação de regras de direito material, ou seja, mediante a prática de algum ilícito penal, civil ou administrativo. Exemplos clássicos: a busca e apreensão sem autorização judicial, a confissão obtida mediante tortura, a interceptação telefônica sem ordem judicial, etc. Provas ilegítimas são as obtidas mediante violação de regras de natureza processual. Há duas teorias para aceitabilidade ou não das provas vedadas. A primeira é a dos frutos da árvore envenenada ou do efeito à distância. Assim, quando uma prova for produzida por mecanismos ilícitos, tal como a escuta ilegalmente realizada, não se pode aceitar as provas que daí advenham. A segunda é a teoria da razoabilidade ou do interesse predominante, que tem por finalidade equilibrar os interesses individuais com os interesses da sociedade, não se admitindo, pois, a rejeição das provas obtidas por meios ilícitos, sendo necessário ponderar os interesses em jogo, quando se viola uma garantia qualquer. Assim, para o esclarecimento de um sequestro, libertando-se a vítima do cativeiro, prendendo-se e processando-se criminosos perigosos, por exemplo, seria admissível a violação do sigilo das comunicações, como a escuta clandestina. Vale ressaltar que esta última teoria é aceita somente pro reo, conforme doutrina e jurisprudência majoritária. Ementa: HABEAS CORPUS IMPETRADO PELA DEFENSORIA PÚBLICA CONTRA RENOVAÇÃO DE PEDIDO DE QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. ORDEM DENEGADA EM MANDADO DE SEGURANÇA AJUIZADO NA FASE INQUISITORIAL E DEFERIDA PELO CONSELHO PERMANENTE DE JUSTIÇA NO CURSO DO PROCESSO. INOCORRÊNCIA DE PRECLUSÃO. INEXISTÊN-CIA DA ALEGADA VIOLAÇÃO DE PRIVACIDADE DA FALECIDA CORREN-TISTA. 1. Impetração de Habeas Corpus com base na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que vem admitindo o remédio heroico em situações semelhantes (Precedente: HC 79191/SP, relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 09/10/1999, pp 00039); 2. A decisão de indeferimento de quebra de sigilo bancário proferida pelo Juiz-Auditor na fase do Inquérito não gera preclusão, podendo o pedido DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 102 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR ser renovado a quem interessar no curso do processo; 3. "A quebra do sigilo da conta bancária de correntista falecida não afeta sua esfera de privacidade, por corresponder ao período após seu falecimento, quando as movimentações, que são de dinheiro público, não foram feitas por ela ou sob sua responsabilidade". Precedente deste Tribunal: MS nº 2004.01.000629-0. 4. Habeas Corpus conhecido e ordem denegada. Decisão majoritária. STM: Num: 2005.01.034014-9 UF: PR: HC - HABEAS CORPUS. Data da Publicação: 02/09/2005. EMENTA: I. Decisão judicial: fundamentação: alegação de omissão de análise de teses relevantes da Defesa: recurso extraordinário: descabimento. Além da falta do indispensável prequestionamento (Súmulas 282 e 356), não há violação dos art. 5º, LIV e LV, nem do art. 93, IX, da Constituição, que não exige o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas apresentadas pelas partes, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão; exige, apenas, que a decisão esteja motivada, e a sentença e o acórdão recorrido não descumpriram esse requisito (v.g., RE 140.370, 1ª T., 20.4.93, Pertence, DJ 21.5.93; AI 242.237 - AgR, 1ª T., 27.6.00, Pertence,DJ 22.9.00). II. Quebra de sigilo bancário: prejudicadas as alegações referentes ao decreto que a determinou, dado que a sentença e o acórdão não se referiram a qualquer prova resultante da quebra do sigilo bancário, tanto mais que, dado o deferimento parcial de mandado de segurança, houve a devolução da documentação respectiva. III. Decreto de busca e apreensão: validade. 1. Decreto específico, que somente permitiu que as autoridades encarregadas da diligência selecionassem objetos, dentre aqueles especificados na decisão e na sede das duas empresas nela indicadas, e que fossem “interessantes à investigação” que, no caso, tinha pertinência com a prática do crime pelo qual foi efetivamente condenado o recorrente. 2. Ademais não se demonstrou que as instâncias de mérito tenham invocado prova não contida no objeto da medida judicial, nem tenham valorado qualquer dado resultante da extensão dos efeitos da decisão determinante da busca e apreensão, para que a Receita Federal e a “Fiscalização do INSS” também tivessem acesso aos documentos apreendidos, para fins de investigação e cooperação na persecução criminal, “observado o sigilo imposto ao feito”. IV - Proteção constitucional ao sigilo das comunicações de dados - art. 5º, XVII, da CF: ausência de violação, no caso. 1. Impertinência à hipótese da invocação da AP 307 (Pleno, 13.12.94, Galvão, DJU 13.10.95), em que a tese da inviolabilidade absoluta de dados de computador não pode ser tomada como consagrada pelo Colegiado, dada a interferência, naquele caso, de outra razão suficiente para a exclusão da prova questionada - o ter sido o microcomputador apreendido sem ordem judicial e a consequente ofensa da garantia da inviolabilidade do domicílio da empresa - este segundo fundamento bastante, sim, aceito por votação unânime, à luz do art. 5º, XI, da Lei Fundamental. 2. Na espécie, ao contrário, não se questiona que a apreensão dos computadores da empresa do recorrente se fez regularmente, na conformidade e em cumprimento de mandado judicial. 3. Não há violação do art. 5º. XII, da Constituição que, conforme se acentuou na sentença, não se aplica ao caso, pois não houve “quebra de sigilo das comunicações de dados (interceptação das comunicações), mas, sim, apreensão de base física na qual se encontravam os dados, mediante prévia e fundamentada decisão judicial”. 4. A proteção a que se refere o art. 5º, XII, da Constituição, é da comunicação ‘de dados’ e não dos ‘dados em si mesmos’, ainda quando armazenados em computador. (cf. voto no MS 21.729, Pleno, 5.10.95, red. Néri da Silveira - RTJ 179/225, 270).V - Prescrição pela pena concretizada: declaração, de ofício, da prescrição da pretensão punitiva do fato quanto ao delito de frustração de direito assegurado por lei trabalhista (C. Penal, arts. 203; 107, IV; 109, VI; 110, § 2º e 114, II; e Súmula 497 do Supremo Tribunal). STF: RE N. 418.416-SC. RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ 19-12-2006. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 103 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR O ônus da prova compete a quem alegar o fato, mas o juiz poderá, no curso da instrução criminal, ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício, diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. Realizada a diligência, sobre ela serão ouvidas as partes, para dizerem nos autos, em quarenta e oito horas, contadas da intimação, por despacho do juiz (art. 296 do CPPM). 2. INTERROGATÓRIO (arts. 302 a 306 do CPPM) O interrogatório é ato privativo do juiz. Somente este pode inquirir o acusado. No Processo Penal Militar, todos os membros do Conselho de Justiça podem fazer perguntas ao acusado, sendo o primeiro o juiz-auditor e, posteriormente, os juízes militares por ordem de hierarquia, sendo as perguntas formuladas por intermédio do juiz-auditor que poderá entender não ser pertinente e não repassar ao acusado. O acusado será qualificado e interrogado num só ato, no lugar, dia e hora designados pelo juiz, após o recebimento da denúncia; e, se presente à instrução criminal ou preso, antes de ouvidas as testemunhas, caso se apresentar ou for preso no curso do processo, serão feitos logo que ele comparecer perante o juiz. Findo o interrogatório, poderão as partes levantar questões de ordem, que o juiz resolverá de plano, fazendo-as consignar em ata com a respectiva solução, se assim lhe for requerido. No entanto, o Ministério Público e a Defesa não têm direito de formular perguntas ao réu. Não tem aplicação na justiça castrense a Lei 10.792/03 que alterou o interrogatório no Código de Processo Penal comum. EMENTA: FURTO QUALIFICADO. BEM PERTENCENTE À FAZENDA PÚBLI-CA. PRELIMINARES DE NULIDADES. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE DE-FESA TÉCNICA. AUSÊNCIA DO ACUSADO À SESSÃO DE JULGAMENTO. OMISSÃO DE FORMALIDADE ESSENCIAL – RATIFICAÇÃO DE QUESITOS PARA CARTA PRECATÓRIA. INTIMAÇÃO DE ADVOGADO DE RÉU SOLTO. 1. É válido o interrogatório realizado por meio de carta precatória na forma do CPPB, cuja disposição é idêntica ao art. 306 do CPPM; 2. A Lei nº 10.792/03, que tornou obrigatória a presença do advogado no interrogatório, não se aplica à Justiça Castrense, tanto mais quando o referido ato foi realizado antes de sua vigência; 3. Ausência de defesa técnica. Oportunizada ampla assistência jurídica ao acusado, não cabe a esta alegação de cerceamento de Defesa; 4. Não ratificação de quesitos para carta precatória pelo conselho de justiça não gera nulidade do feito se não adveio prejuízo ao acusado; 5. A intimação ou notificação do advogado supre a do acusado, salvo se este estiver preso (art. 288, § 2º, do CPPM); Preliminares rejeitadas. No mérito, autoria e materialidade cabalmente demonstradas pelo cotejo do conjunto probatório. Apelo improvido. Unânime. STM: Num: 2005.01.049843-5 UF: AM- APELAÇÃO (FO) Data da Publicação: 13/03/2007. Ementa: CORREIÇÃO PARCIAL. INTERROGATÓRIO. ATO TUMULTUÁRIO. INEXISTÊNCIA NO CASO CONCRETO. 1. O moderno processo penal assegura aos acusados ampla defesa e instrução criminal contraditória, de modo a permitir um julgamento justo. 2. Se por um lado o interrogatório é meio de prova para o julgador, para o réu é meio de defesa, motivo pelo qual deve sempre ser observado, em seu favor, o mais amplo direito de tentar provar sua inocência. 3. Não há de ser considerado "ato tumultuário", passível de ser atacado via Correição Parcial, uma decisão do Conselho que, ao final do interrogatório, mas antes de encerrá-lo, visando à busca da verdade real e em respeito ao princípio constitucional da ampla defesa, permite que as partes formulem outras DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 104 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR perguntas de seus interesses ao interrogando, desde que aferidas a pertinência e a relevância pelo juiz-auditor. É o caso dos autos. 4. Não se diga que o artigo 188 do Código de Processo Penal (com a redação dada pela Lei nº 10.792/03) tem o condão de substituir a regra do artigo 303 do Código de Processo Penal Militar. Não substitui e nem poderia fazê-lo, pois embora a legislação comum tenha aplicação subsidiária na Justiça Castrem-se, a lei específica tem autonomia e prevalência sobre a ordinária. Indeferida a Correição Parcial, mantendo-se a decisão hostilizada. Decisão majoritária. STM: Num: 2005.01.001888-6 UF: PE CORREI-ÇÃO PARCIAL (FO). Data da Publicação: 03/06/2005. Se houver mais de um acusado, cada um deles será interrogado separadamente. Há uma previsão no art. 305 do CPPM de que, antes de iniciar o interrogatório, o juiz observará ao acusado que, embora não esteja obrigado a responder às perguntas a ele formuladas, o seu silêncio poderá ser interpretado em prejuízo da própria defesa. Essa regra não foi recepcionada pela nova Constituição Federal de 1988, que garante ao acusado o direito ao silêncio, no art. 5º, inc. LXIII, da Carta Política, como um dos corolários do exercício da autodefesa. EMENTA: HABEASCORPUS PREVENTIVO. NULIDADE DE INTERROGATÓ-RIO REALIZADO EM IPM. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE ADVOGADO NO IPM. DIREITO AO SILÊNCIO. LEI Nº 10.792/2003. 1. A Constituição Federal de 1988 (art. 5º, LXIII) assegura ao preso a assistência de advogado. Para a Doutrina, essa garantia é estendida a toda pessoa submetida a interrogatório, tanto na justiça como na polícia. Todavia a presença de advogado, na polícia, não é obrigatória, nem mesmo com o advento da Lei nº 10.792/2003 que alterou dispositivos do CPP. 2. Direito ao silêncio não violado. Embora não alertado sobre o direito ao silêncio, o acusado teve liberdade para falar, calar e, inclusive, gravar o interrogatório. 3. As irregularidades do inquérito não fulminam a Ação Penal. Aquele não é processo administrativo, e sim, mero procedimento investigatório. Ordem denegada. Decisão unânime. STM: Num: 2006.01.034195-1 UF: HC - HABEAS CORPUS. Data da Publicação: 25/08/2006. Ao presidente do Conselho caberá nomear defensor ao acusado que não o tiver, e curador ao revel ou incapaz. O interrogatório é um meio de prova, no entanto, para servir de lastro a um decreto absolutório, tem que estar amparado nas demais provas produzidas; não pode o acusado apenas alegar as suas teses, deve prová-las. Ressalta-se que cabe ao Ministério Público Militar fazer prova para condenação; uma vez realizada esta, não elide simples negativa ou tese levantada pelo acusado sem posterior comprovação. Ementa: HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO - RÉU PRESO - CONDENA-ÇÃO. Alegações prestadas no interrogatório judicial desprovidas de suporte nas provas oral e documental. Materialidade configurada pela Certidão de Óbito e a autoria evidenciada na prova oral e confissão. Dinâmica do delito a demonstrar que, estando o alojamento às escuras, após carregar o fuzil, o Apelante efetuou o primeiro disparo, para baixo, em direção à cama onde estava a vítima deitada, não a atingindo. Persistiu em sua intenção maligna, fazendo outro disparo que veio a ceifar a vida de jovem colega de farda. Agiu com animus necandi. Negado provimento ao Recurso. Decisão unânime. STM: Num: 2006.01.050367-6 UF: MS - APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 19/12/2006. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 105 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Entendemos que o interrogatório, além de um meio de prova, é um meio de defesa, especificamente da autodefesa que faz parte da ampla defesa. O acusado pode trazer a sua versão, inclusive não produzir prova contra si, corolário do princípio da presunção de inocência ou não culpabilidade. Tem do direito de não ser obrigado a depor contra si mesmo, nem a confessar-se culpado - nemo tenetur se detegere. Sendo meio de defesa, deve-se observar alguns regramentos. A sua inobservância ofende o devido processo legal e a ampla defesa: 1) direito de não ser obrigado a depor contra si mesmo, nem a confessar-se culpado - nemo tenetur se detegere; 2) direito de ser informado antes do seu interrogatório o direito ao silêncio. Art. 5º, LXIII, da CRFB – “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”; 3) de estar acompanhado de advogado de sua livre escolha. Caso não tenha condições de arcar com os custos, o Estado tem o dever de proporcionar; 4) direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor. Dessa forma, para preservar o direito de defesa no interrogatório ele deve ser o último ato da instrução processual – produção probatória. Não se concebe a preservação da ampla defesa o acusado ser ouvido antes da produção da prova da acusação, como primeiro ato nos termos do art. 302 do CPPM. Art. 302. O acusado será qualificado e interrogado num só ato, no lugar, dia e hora designados pelo juiz, após o recebimento da denúncia; e, se presente à instrução criminal ou preso, antes de ouvidas as testemunhas. Parágrafo único. A qualificação e o interrogatório do acusado que se apresentar ou for preso no curso do processo, serão feitos logo que ele comparecer perante o juiz. Como visto no art. 302 acima, no CPPM o interrogatório é o primeiro ato, logo após o recebimento da denúncia em audiência específica. Vale lembrar que no Código de Processo Penal Comum, com a reforma de 2008 que trouxe nova redação ao art. 400 do CPP, determina o interrogatório como o último ato. Art. 400 do CPPP. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. A questão a ser enfrentada é se o art. 302 do CPPM continua sendo aplicado ou se deve aplicar o art. 400 do CPP no Processo Penal Militar. O Superior Tribunal Militar tem posição firme no sentido da não aplicação do regramento comum ao processo castrense, pois esse tem dispositivo específico e não há lacuna a ser suprida. O DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 106 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR entendimento é que no processo penal militar a realização do interrogatório no início da instrução criminal não viola as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, mesmo diante da superveniência da lei reformadora do Código de Processo Penal Comum, o qual, até então, possuía procedimento idêntico ao CPPM, e nem por isso se pode afirmar que as condenações ocorridas na Justiça Comum até o início da vigência da Lei nº 11.719/2008 estejam eivadas de vício de inconstitucionalidade. Nesse sentido a jurisprudência do STM: EMENTA: HABEAS CORPUS. INTERROGATÓRIO REALIZADO APÓS O RE-CEBIMENTO DA DENÚNCIA (ART. 302 DO CPPM). PEDIDO DE DECLA-RAÇÃO DE NULIDADE, DESENTRANHAMENTO E REALIZAÇÃO DE NOVO INTERROGATÓRIO, EM OBSERVÂNCIA AO ART. 400 DO CPP. IMPOSSI-BILIDADE. I - A alteração do art. 400 do CPP pela Lei nº 11.719/2008, que inaugurou a inversão do interrogatório em relação aos demais atos probatórios, foi concebida tão somente para conferir celeridade nos procedimentos penais no âmbito da Justiça penal comum, não se aplicando subsidiariamente ao Código de Processo Penal Militar. II - O disposto no art. 8º, 2, alíneas "d" e "g", do Pacto de São José da Costa Rica não revogou a disposição legal contida no art. 302 do CPPM, uma vez que esse artigo permanece dotado de plena eficácia e não viola o direito ao exercício do contraditório e da ampla defesa do Paciente. Portanto, a realização do interrogatório do Paciente, na forma preconizada pelo citado dispositivo legal, não configura constrangimento ilegal por parte do Juízo a quo, uma vez que o referido ato processual deu-se em observância ao princípio da legalidade estrita. Ordem de Habeas Corpus denegada. Decisão unânime. (HC- nº 0000053-08.2011.7.00.0000, Relator(a): Min. José Coêlho Ferreira, julgado em 23/05/2011 e publicado em 29/06/2011). EMENTA: Habeas Corpus. Interrogatório. Lei nº 11.719/2008. Inaplicabilidade. Pedido de ordem com vista a aplicação das alterações trazidas pela Lei nº 11.719/2008 do Código de Processo Penal (art. 400), que passou a considerar o interrogatório como último ato da instrução criminal. O Diploma Processual Penal Castrense não é omisso na questão sub examine, possuindo regra própria e diferenciada para regular a matéria, conforme estatuído no art. 302 do CPPM. Conhecido o writ e denegada a ordem por falta de amparo legal. Decisão unânime. 21 (HC- nº 0000060-97.2011.7.00.0000, Relator(a): Min. Francisco José da Silva Fernandes, julgado em 23/05/2011 e publicado em 25/07/2011). Assim, no STM, a questão é pacífica, inclusive, em janeiro de 2013 foi publicada a Súmula 15 referente à ordem do interrogatório.Súmula 15 do STM: A alteração do art. 400 do CPP, trazida pela Lei nº 11.719, de 20 Jun 08, que passou a considerar o interrogatório como último ato da instrução criminal, não se aplica à Justiça Militar da União. Acontece que a discussão chegou ao STF e o Pretório Excelso tem entendido que deve ser aplicado o regramento do art. 400 do CPP – interrogatório como último ato – no processo penal militar. Os julgados abaixo trazem a nova tendência, ou seja, a aplicação do interrogatório como último ato. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 107 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Vale trazer parte da fundamentação da lavra do Min. Luiz Fux: A importância da nova sistemática processual introduzida no CPP para a promoção da máxima efetividade das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CRFB, art. 5º, LV), corolários elementares do devido processo legal (CRFB, art. 5º LIV) e cânones essenciais do Estado Democrático de Direito (CRFB, art. 1º, caput). Deveras, o interrogatório realizado ao final da instrução processual é medida indispensável à plenitude de defesa, na medida em que permite ao sujeito passivo da persecução penal manifestar-se sobre todas as provas coligida e, como indicado pelo Min. Ricardo Lewandowski, “esclarecer divergências e incongruências que, não raramente, afloraram durante a edificação do conjunto probatório”. Ainda, ficou esclarecido que tal entendimento não se aplica aos casos em que o interrogatório tenha ocorrido antes da entrada em vigor da Lei nº 11.719/2008. EMENTA: PROCESSUAL PENAL. INTERROGATÓRIO NAS AÇÕES DE COM-PETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. ATO QUE DEVE PASSAR A SER REALIZA-DO AO FINAL DO PROCESSO. NOVA REDAÇÃO DO ART. 400 DO CPP. PRECEDENTE DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (AÇÃO PENAL Nº 528, PLENÁRIO). ORDEM CONCEDIDA. 1. O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. 2. A máxima efetividade das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CRFB, art. 5º, LV), dimensões elementares do devido processo legal (CRFB, art. 5º LIV) e cânones essenciais do Estado Democrático de Direito (CRFB, art. 1º, caput) impõem a incidência da regra geral do CPP também no processo penal militar, em detrimento do previsto no art. 302 do Decreto-lei nº 1.002/69. Precedente do Supremo Tribunal Federal (Ação Penal nº 528 AgR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. em 24/03/2011, DJe-109 divulg. 07-06-2011). 3. Ordem de habeas corpus concedida. ( STF - HC 115698/AM, rel. Min. Luiz Fux, 25.6.2013). EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DE USO E POSSE DE ENTORPECENTE EM LUGAR SUJEI-TO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR (CPM, ART. 290). ARGUIÇÃO DE IN-CONSTITUCIONALIDADE DA ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA PENAL MILITAR (LEI N. 8.457/92). IMPROCEDÊNCIA. EXISTÊNCIA DE GARANTIAS PRÓ-PRIAS E IDÔNEAS À IMPARCIALIDADE DO JULGADOR. SIMETRIA CONS-TITUCIONAL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE PROVA DO FATO CRIMINO-SO. COMPROVAÇÃO DO ILÍCITO POR LAUDO PERICIAL SUBSCRITO POR UM ÚNICO PERITO. VALIDADE. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 361 DO STF. PERITO OFICIAL. PRECEDENTES. INTERROGATÓRIO NAS AÇÕES DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. ATO QUE DEVE PASSAR A SER RE-ALIZADO AO FINAL DO PROCESSO. NOVA REDAÇÃO DO ART. 400 DO CPP. PRECEDENTE DO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (AÇÃO PENAL Nº 528). ORDEM CONCEDIDA. 1. A Lei nº 8.457/92, ao organizar a Justiça Militar da União criando os Conselhos de Justiça (art. 1º c/c art. 16) e confiando-lhes a missão de prestar jurisdição criminal, não viola a Constituição da República ou a Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), porquanto assegura a seus respectivos membros garantias funcionais idôneas à imparcialidade do ofício judicante, ainda que distintas daquelas atribuídas à magistratura civil. 2. O Enunciado nº 361 da Súmula da Jurisprudência Dominante do Supremo Tribunal Federal não é aplicável aos peritos oficiais, de sorte que, na espécie, exsurge válido o laudo pericial assinado por um só perito da Polícia Federal. Precedentes do Supremo Tribunal Federal: HC 95595, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 108 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 04/05/2010. HC 72921, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 21/11/1995). 3. O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal, sendo certo que tal prática, benéfica à defesa, deve prevalecer nas ações penais em trâmite perante a Justiça Militar, em detrimento do previsto no art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69, como corolário da máxima efetividade das garanti-as constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CRFB, art. 5º, LV), dimensões elementares do devido processo legal (CRFB, art. 5º LIV) e cânones essenciais do Estado Democrático de Direito (CRFB, art. 1º, caput). Precedente do Supremo Tribunal Federal (Ação Penal nº 528 AgR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, j. em 24/03/2011, DJe-109 divulg. 07-06-2011). 4. In casu, o Conselho Permanente de Justiça para o Exército (5ª CJM) rejeitou, 27/02/2012, o requerimento da defesa quanto à realização do interrogatório do paciente ao final da sessão de julgamento, negando aplicação do art. 400 do Código de Processo Penal, o que contraria a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 5. Ordem de habeas corpus concedida para anular os atos processuais praticados após o indeferimento do pleito defensivo e permitir o interrogatório do paciente antes da sessão de julgamento, com aplicação subsidiária das regras previstas na Lei nº 11.719/08 ao rito ordinário castrense. HC 115530/PR , rel. Min. Luiz Fux, 25.6.2013. (HC-115530). INTERROGATÓRIO Art. 302 do CPPM Art. 400 do CPP Primeiro ato Último ato Entendimento dos Tribunais STM STF Não se aplica o regramento do art. 400 do CPP. Aplica-se o regramento do art. 400 do CPP. 3. INTERROGATÓRIO POR VIDEOCONFERÊNCIA O art.185, § 2º, do CPP comum, prevê, excepcionalmente, que o juiz, por decisão fundamentada, de ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogatório do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde que a medida seja necessária • Não consta no CPPM autorização para videoconferência. Na Justiça Federal, a maioria das suas subseções trabalha com processos eletrônicos. A Justiça Estadual caminha no mesmo sentido e não poderia ser diferente na Justiça Militar. Não somos contra a informatização do processo ou a utilização de novas tecnologias. Somos contra a relativização de direitos do réu através de uma interpretação extensiva em seu prejuízo ou a utilização da analogia in malam partem: aquela onde adota-se lei prejudicial ao réu, valendo-se de um dispositivo de caso semelhante DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 109 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Explico: a uma, o processo castrense não é omisso em relação a formalidade exigida para a colheita do interrogatório e o art. 3º do CPPM determina que os casos omissos serão supridos: a) pela legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar. A duas, o art. 22, I, da CF estabelece a competência privativamente à União de legislar sobre processual. Portanto, qualquer alteração no procedimento do interrogatório no processo penal militar deve ser feita mediante lei ordinária federal. A três, fere o princípio da ampla defesa- especificamente – direito de audiência – o direito que o réu tem de ser ouvido pelo juiz presencialmente. Ainda, art. 8,2 “d” do Dec. 678/92 (Pacto San José da Costa Rica) assegura o direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor. O STF já enfrentou situação semelhante em que fora utilizado o sistema de videoconferência baseada em lei estadual, portanto, sem lei federal específica. Entendeu-se que a lei estadual viola flagrantemente a disciplina do artigo 22, inciso I, da Constituição da República, destacou que a hipótese não se refere à procedimento, mas à processo, ressaltando que a matéria está explicitamente regulada no artigo 185, do Código de Processo Penal. Com isso, a matéria é de processo e sendo de processo a União detém o monopólio, a exclusividade para estabelecer a disciplina legal na matéria. EMENTA Habeas corpus. Processual penal e constitucional. Interrogatório do réu. Videoconferência. Lei nº 11.819/05 do Estado de São Paulo. Inconstitucionalidade formal. Competência exclusiva da União para legislar sobre matéria processual. Art. 22, I, da Constituição Federal. 1. A Lei nº 11.819/05 do Estado de São Paulo viola, flagrantemente, a disciplina do art. 22, inciso I, da Constituição da República, que prevê a competência exclusiva da União para legislar sobre matéria processual. 2. Habeas corpus concedido. 4. DA CONFISSÃO (arts. 307 a 310 do CPPM) É a aceitação pelo réu da acusação que lhe é dirigida em um processo penal. É a declaração voluntária, feita por imputável, a respeito de fato pessoal e próprio, desfavorável e suscetível de renúncia. É um meio de prova que deixou de ser considerada a “rainha das provas”, não tendo hierarquia em relação às provas e não tendo força probatória absoluta, pois de acordo com o artigo 307 do CPPM, para que tenha valor de prova, a confissão deve ser feita perante autoridade competente; ser livre, espontânea e expressa; versar sobre o fato principal; ser verossímil; ter compatibilidade e concordância com as demais provas do processo. Ementa: furto qualificado. Exame de corpo de delito (falta). Prova ilícita. Princípio tantum devolutum quantum appellatum. No processo moderno não há hierarquia de provas nem provas específicas para casos determinados. A falta do auto de corpo de delito não sugere nulificação se o julgador, por meios probatórios hábeis, deduz seguramente comprovada a materialidade do delito (precedentes do Superior Tribunal de Justiça). A inviolabilidade do sigilo assegurada pela Carta Magna não alcança escritos outros, senão a correspondência na acepção jurídica, por isso excluído da franquia constitucional o bilhete entregue simplesmente dobrado e não envolto em sobrecarta. Os limites do apelo são fixados na petição de interposição, a teor de orientação pretoriana hoje pacificada. Apelo ministerial provido. Unânime. STM: Num: 1994.01.047274-6 UF: CE- APELAÇÃO (FO). Data da publicação: 14/06/1995. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 110 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Ementa: ROUBO QUALIFICADO. LATROCÍNIO. CONFISSÃO EXTRAJUDI-CIAL. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. 1. A acusação de que o acusado matou a vítima para assegurar a impunidade do roubo de produto da venda do veículo da vítima não restou provada. 2. Condenação fundada em confissão feita em leito hospitalar, por quem apresenta histórico de graves transtornos mentais, não corroborada por outras provas. 3. Recurso provido para cassar a sentença e absolver o acusado. Decisão majoritária. STM: Num: 2002.01.049130-9 UF: RJ - APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 26/02/2003. De acordo com o art. 309 do CPPM, a confissão é retratável e divisível, sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto. Divisível no sentido de que, no momento de julgar, o conselho pode considerar verdadeira parte da confissão e falsa outra parte. Retratável, no sentido de que pode ser suscetível de retratação, mas nesse caso caberá ao conselho confrontar a retratação com outros meios de prova para formar sua convicção. Ementa: APROPRIAÇÃO INDÉBITA I - Na hipótese dos autos, restou, cristalinamente, demonstrado que o Recorrido era cotitular, juntamente com seu irmão, da conta corrente da pensionista falecida, consoante informação da Caixa Econômica Federal. Destarte, ambos os réus tinham acesso a todas as informações necessárias para movimentar a pré-citada conta corrente, o que, considerando as confissões feitas no IPM e demais provas dos autos, permite a formação de induvidoso juízo de valor quanto à culpabilidade dos dois acusados. II - Cumpre destacar ainda que a retratação judicial de confissões em IPM é expediente, comumente, utilizado pelos acusados para lograrem a absolvição. No caso em análise, observa-se que os réus, antevendo que o conjunto probatório dos autos induziria à condenação de ambos, retrataram as respectivas confissões, feitas na fase inquisitorial, a fim de que apenas um deles fosse condenado. III - Entretanto, a retratação somente tem validade, acaso haja, nos autos, indícios ponderáveis que a confirmem. Ao contrário, se, como neste caso concreto, as demais provas corroboram com a confissão extrajudicial, esta deve prevalecer. IV - Dado provimento ao Recurso Ministerial por decisão uniforme. STM: Num: 2005.01.049997-0 UF: PE - APELAÇÃO (FO) Cód. 40 Data da Publicação: 04/07/2006. EMENTA. Apelação. Roubo qualificado. Confissão perante a autoridade policial. Validade. Ação ousada e coordenada de militares e civis, resultando em invasão à Unidade Militar e que, mediante violência e grave ameaça a vários militares, subtraíram grande quantidade de armamento e munição, tudo pertencente ao patrimônio da Administração Militar. Arguição de irregularidades processuais na fase inquisitorial, as quais não geram a nulidade da ação penal. Não comprovadas as alegações dos Acusados de que sofreram coação para confessar. Conjunto probatório harmônico com as confissões detalhadas perante a autoridade policial, suficientes para conduzir a um decreto condenatório. Retratação em Juízo, sem ressonância nas provas dos autos. Apelos defensivos improvidos. Decisão unânime. STM: Num: 2004.01.049678-5 UF: RJ Decisão- APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 08/11/2004. Ementa: ROUBO QUALIFICADO. ARMAMENTO DO EXÉRCITO. CONFIS-SÃO EXTRAJUDICIAL. RETRATAÇÃO EM JUÍZO. EXISTÊNCIA DE OUTROS ELEMENTOS DE PROVA. REFORMA DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. 1. É pacífico o entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que a confissão extrajudicial, mesmo retratada em juízo, tem validade como meio de prova, quando existem no processo outros elementos que demonstram a culpabilidade do acusado. "De acordo com a orientação do STF, a confissão feita no inquérito policial, embora retratada em juízo, DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 111 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR tem valia, desde que não elidida por quaisquer indícios ponderáveis, mas ao contrário, perfeitamente ajustável aos fatos apurados" (DAMÁSIO DE JESUS). É o caso dos autos. 2. "In casu", ao término da instrução criminal restou indubitavelmente comprovado que os ora Apelados cometeram o crime capitulado no art. 242, § 2º, incisos I e II, do CPM, considerando-se que o roubo das pistolas foi praticado com emprego de arma e em concurso de mais de duas pessoas. Provido o apelo ministerial para, reformando-se a Sentença "a quo", condenar os Apelados. Decisão majoritária. STM: Num: 2002.01.049013-2 UF: SP Decisão - APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 17/06/2003. 5. DAS PERGUNTAS AO OFENDIDO (arts. 311 a 313 do CPPM) Ofendido é o sujeito passivo do delito; é aquele que tem interesse lesado ou posto em perigo; não integra o rol de testemunhas; não presta o compromisso legal de dizer a verdade; suas declarações devem ser avaliadas em conjunto com as demais provas trazidas aos autos. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobreas circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. Se, notificado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, poderá ser conduzido à presença da autoridade, sem ficar sujeito, entretanto, a qualquer sanção. As declarações do ofendido serão feitas na presença do acusado, que poderá contraditá-las no todo ou em parte, após a sua conclusão, bem como requerer ao juiz que o ofendido esclareça ou torne mais precisa qualquer das suas declarações, não podendo, entretanto, reperguntá-lo. Ementa: CORREIÇÃO PARCIAL - PEDIDO DO MPM CONTRA DECISÃO DO CPJ QUE MANTEVE OS ATOS PROCESSUAIS EM QUE O ACUSADO CON-TRADITOU PESSOALMENTE AS DECLARAÇÕES DOS OFENDIDOS EM SEUS INTERROGATORIOS. A DECISÃO RECORRIDA SE REVESTE DE LEGALIDADE 'EX VI' DO ART. 312 DO CPPM. PREDOMINÂNCIA DO PRINCÌPIO MAIOR ESCULPIDO NO ART. 499 DO MESMO DIPLOMA LEGAL. POR UNANIMI- DADE, O TRIBUNAL INDEFERIU A CORREIÇÃO PARCIAL PARA MANTER A R. DECISÃO ATACADA. STM: Num: 1994.01.001446-5 UF: PA - COR-REIÇÃO PARCIAL (FO) Data da Publicação: 06/09/1994. Ementa: CORREIÇÃO PARCIAL. AUDIÊNCIA DE OITIVA DO OFENDIDO. PROCEDIMENTO. NADA IMPEDE QUE A AUDIÊNCIA DE OITIVA DO OFENDIDO SE PROCEDA, POR ANALOGIA, APLICANDO-SE AS REGRAS QUE DISCIPLINAM A INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS, AFASTADAS OS ÒBICES LEGAIS, COMO POR EXEMPLO, O COMPROMISSO DE DIZER A VERDADE. EM ASSIM SENDO, NÃO EXISTE VEDAÇÃO LEGAL PARA QUE O REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FORMULE PERGUNTAS AO OFENDIDO, POR INTERMÉDIO DO JUIZ. DEFERIDA A CORREIÇÃO, DE-TERMINANDO-SE A RENOVAÇÃO DO ATO DE OITIVA DO OFENDIDO, OB-SERVADAS AS PRECEITUAÇÕES LEGAIS. DECISÃO UNÂNIME. STM: Num: 1992.01.001402-3 UF: AM Decisão: 25/02/1992- CORREIÇÃO PARCI-AL (FO) Data da Publicação: 06/04/1992. O ofendido não está obrigado a responder pergunta que possa incriminá-lo, ou seja, estranha ao processo. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 112 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 6. DAS PERÍCIAS E EXAMES (arts. 314 a 346 do CPPM) A perícia é o exame de algo ou alguém realizado por técnicos ou especialistas em determinados assuntos, podendo fazer afirmações ou extrair conclusões pertinentes ao processo. A perícia pode ter por objeto os vestígios materiais deixados pelo crime ou as pessoas e coisas, que, por sua ligação com o crime, possam servir-lhe de prova. De acordo com a regra do artigo 328 do CPPM, o exame de corpo de delito direto ou indireto é indispensável para a comprovação da materialidade, nas infrações que deixam vestígios, não podendo supri-lo a confissão do acusado e podendo ser feito a qualquer dia e hora. O artigo 328, parágrafo único, do CPPM permite, na impossibilidade, havendo desaparecido os vestígios, seja essa prova suprida pela prova testemunhal, considerado neste caso exame de corpo de delito indireto. FURTO QUALIFICADO (PERÍODO NOTURNO E EMPREGO DE CHAVE FAL-SA) I - Diante da prova oral, trazida aos autos, a autoria e a materialidade do furto qualificado restaram, plenamente, comprovadas. II - Afastada a qualificadora de emprego de chave falsa, à míngua de exame direto ou indireto para aferir-se de sua eficácia, como prescreve o art. 345, do CPPM. III - Recurso Ministerial, parcialmente, provido para, reformando-se a Sentença, condenar-se o Apelado, com o afastamento da qualificadora de emprego de chave falsa. IV - Decisão majoritária. STM: Num: 2005.01.050101-0 UF: DF - APELA-ÇÃO (FO).Data da Publicação: 03/04/2007. As perícias serão, sempre que possível, feitas por dois peritos, especializados no assunto ou com habilitação técnica, nomeados de preferência dentre os oficiais da ativa, atendida a especialidade, que deverá prestar compromisso para cada nomeação. Não há um instituto de perícias na Justiça Militar. 7. DAS TESTEMUNHAS (arts. 347 a 364 do CPPM) Testemunha é a pessoa que declara ter tomado conhecimento de algo, podendo, pois, confirmar a veracidade do ocorrido, agindo sob o compromisso de estar sendo imparcial e dizendo a verdade. A testemunha enquanto ouvida como tal, tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime de falso testemunho. Todavia, até mesmo a testemunha não está obrigada a responder sobre fato que em tese possa incriminá-la. EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. FALSO TESTE-MUNHO. INOCORRÊNCIA. LEI 1.579/52, ART. 4º, II (CP, ART. 342). COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO. TESTEMUNHA. PRISÃO EM FLAGRANTE. CPP, ART. 307. I. - Não configura o crime de falso testemunho, quando a pessoa, depondo como testemunha, ainda que compromissada, deixa de revelar fatos que possam incriminá-la. II. - Nulidade do auto de prisão em flagrante lavrado por determinação do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, dado que não se consignou qual a declaração falsa feita pelo depoente e a razão pela qual assim a considerou a Comissão. III. - Auto de prisão em flagrante lavrado por quem não preenche a condições de autoridade (art. 307 do CPP). IV. - H.C. deferido DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 113 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR PENAL. PROCESSUAL. FALSO TESTEMUNHO. IRRELEVÂNCIA QUANTO AO RESULTADO DO PROCESSO PRINCIPAL E DA FORMALIDADE DO COM-PROMISSO. DELITO NÃO CARACTERIZADO POR OUTRO FUNDAMENTO. 1. A caracterização do crime de falso não está condicionada à decisão judicial condenatória no processo principal em que se verificou. Precedentes do STJ. 2. É irrelevante a formalidade do compromisso para a caracterização do crime de falso testemunho. Precedentes do STF. 3. Nos termos de recente precedente do STF, o crime de falso testemunho não se configura quando com a declaração da verdade o depoente assume o risco de ser incriminado. (HC n.º 73.035/DF, in DJ de 19.12.96, p. 51.766). 4. Habeas corpus concedido para trancar a ação penal. ( STJ - HC – 20924). As testemunhas serão notificadas em decorrência de despacho do juiz-auditor ou deliberação do Conselho de Justiça, em que será declarado o fim da notificação e o lugar, dia e hora em que devem comparecer. O comparecimento é obrigatório, nos termos da notificação, não podendo dele eximir-se a testemunha, salvo motivo de força maior, devidamente justificado. A testemunha que, notificada regularmente, deixar de comparecer sem justo motivo, será conduzida por oficial de justiça e receberá uma multa na quantia de um vigésimo a um décimo do salário mínimo vigente. Havendo recusa ou resistência à condução, o juiz poderá impor-lhe prisão de até quinze dias, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência. Qualquer pessoa poderá ser testemunha. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Excetuam-se o ascendente, o descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que separado ou divorciado, e o irmão do acusado, bem como pessoa que, com ele, tenha vínculo de adoção, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstâncias. Não se deferirá compromisso a essas pessoas, nem aos doentes e deficientes mentais e aos menores de quatorze anos. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. Ex. advogado, psicólogo, padre, etc. O militar, ou funcionário público será requisitado ao respectivo chefe, pela autoridade que ordenar a notificação. As testemunhas serão arroladas pelo Ministério Público Militar na denúncia e pela defesa, regra geral, até após a oitiva das testemunhas da acusação, que mudará o prazo para o seu oferecimento, caso de procedimento ordinário até 5 dias após (art. 428, parágrafo único, do CPPM), e em procedimentos especiais (deserção e insubmissão) até 3 dias após a oitiva das testemunhas do Ministério Público Militar que serão ouvidas noato do interrogatório do réu, (art. 457, § 4º, do CPPM). O número de testemunhas é seis, por fato, ao Ministério Público Militar, e seis, por acusado, para a defesa. Esta é a regra contida na leitura dos artigos 77, “h”, e 417, § 2º, do CPPM. No entanto, entendo que mesmo assim há uma violação ao princípio da isonomia, pois, um sujeito acusado por dois delitos em uma única denúncia, poderá o Ministério Público Militar arrolar até doze testemunhas, enquanto a sua defesa poderá arrolar apenas seis testemunhas. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 114 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR Ementa: HABEAS CORPUS. ART. 417, § 2º, DO CPPM. DESIGUALDADE ENTRE O NÚMERO DE TESTEMUNHAS DE DEFESA E O DE ACUSAÇÃO. DISPOSITIVO PROCESSUAL CASTRENSE NÃO RECEPCIONADO PELA CONSTITUIÇÃO. Impetração visando à cassação do despacho que determinou a redução, a três testemunhas, do rol apresentado pela defesa. Preliminar de não conhecimento por inadequação da via eleita suscitada, de ofício, pelo Ministro-Relator, rejeitada por maioria. No mérito, configurado o cerceamento à ampla defesa em face da decisão que indeferiu o pedido de oitiva de quatro testemunhas de defesa, limitando a três. "Writ" procedente por afrontar as disposições do art. 417, § 2º, do CPPM, o princípio constitucional da isonomia entre as partes, ao estabelecer número de testemunhas de defesa aquém das apresentadas pelo Ministério Público Militar, previsto no art. 77, letra "h", do mesmo Diploma Processual Castrense. Precedentes jurisprudenciais. Ordem concedida, à unanimidade de votos. m: 2005.01.034037-8 UF: CE: - HABEAS CORPUS. Data da Publicação: 27/06/2005. EMENTA: HABEAS CORPUS. IGUALDADE NO NÚMERO DE TESTEMU-NHAS ARROLADAS PELA DEFESA E PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. ISONO-MIA PROCESSUAL. Pleito defensorial. Com o advento da Constituição Federal de 1988, tornou-se proibido tratamento diferenciado entre Acusação e Defesa, em obediência ao princípio da igualdade entre as partes. Inaplicabilidade do art. 417, § 2°, do CPPM. Inconstitucionalidade deste artigo declarada pelo STF na apreciação do Habeas Corpus nº 80.855-7/RJ. Concedida a ordem. Maioria. STM Num: 2005.01.034029-7 UF: CE - HABEAS CORPUS. Data da Publicação: 02/06/2005. Poderá o juiz, quando julgar necessário, ouvir testemunhas suplementares, além das indicadas pelas partes. Ainda, é facultado ao juiz, se parecer conveniente, ainda que não haja requerimento das partes, ouvir testemunhas referidas nos depoimentos das testemunhas que foram ouvidas anteriormente em juízo. EMENTA: CORREIÇÃO PARCIAL - TESTEMUNHAS ARROLADAS PELA DE-FESA ACIMA DO PERMITIDO EM LEI - ACAREAÇÃO - PEDIDOS INDEFERI-DOS PELO CONSELHO JULGADOR DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. ART. 417, §§ 2º E 3º, CPPM - Dispositivo legal não recepcionado pela Carta Magna - Princípio da isonomia e da ampla defesa - Art 5º, inciso LV, da CF - MPM e Defesa - Igual número de testemunhas. Fica a critério do CPJ ouvir o número arrolado excedido, caso julgue pertinentes os respectivos depoimentos, na qualidade de referidas ou testemunhas do Juízo. Acareação - Não se trata de providência obrigatória - A sua realização também fica ao prudente arbítrio do Juízo a quo. Correição Parcial conhecida e indeferida. Decisão unânime. STM: Num: 2006.01.001932-7 UF: SP PARCIAL (FO).Data da Publicação: 27/10/2006. Ementa: Oitiva de Testemunhas Referidas. I - Segundo o Magistério de Júlio Fabbrini Mirabete: "Podem ser ouvidas outras testemunhas; são as referidas pelas que já depuseram, se ao Juiz parecer conveniente...... Pode a parte requerer a oitiva da testemunha referida, cabendo ao Juiz deferir o pedido, ou não (R 567/459)". II - No caso concreto, a Defesa arrolou, como referidas, duas testemunhas, que não foram referidas pelas que depuseram. III - Pedido de Correição Parcial indeferido para, mantido o Despacho atacado, determinar-se o prosseguimento do Feito. IV - Decisão uniforme. STM: Num: 2000.01.001717-0 UF: RJ - CORREIÇÃO PARCIAL (FO). Data da Publicação: 14/07/2000. É pacífico na jurisprudência que o juiz pode ouvir testemunhas suplementares para chegar-se à verdade real. Não concordamos, pois entendemos que fere o sistema acusatório. O MPM acusa e DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 115 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR traz as provas do crime e autoria. A defesa a prova contrária e o juiz de forma imparcial deve apenas apreciar o arcabouço probatório trazido pelas partes. Deve ficar inerte. Na dúvida deve absolver e não buscar prova para condenar por meio de testemunhas suplementares. Ementa: LESÃO CORPORAL. ART. 209, “CAPUT”, DO CÓDIGO PENAL MILITAR. ABSOLVIÇÃO. VÍTIMA E TESTEMUNHAS. AUSÊNCIA DE PROVA JUDICIALIZADA. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. CORRÉU. EFEITO EXTENSIVO. APELO PROVIDO. DECISÃO MAJORITÁRIA. In casu, é imperiosa a absolvição dos policiais militares envolvidos por insuficiência de prova, porquanto na fase judicial as testemunhas e a vítima arroladas pela acusação não foram ouvidas, mas tão somente os réus, não havendo nenhum outro indício ou prova formada sobre o resguardo do contraditório e da ampla defesa. Portanto, se impõe a absolvição, sustentada pela aplicação da máxima in dubio pro reo, posto que decorrente dos princípios da reserva legal e da presunção da inocência. A decisão teve o seu efeito estendido ao coréu, em face da especial peculiaridade da legislação penal militar prevista no parágrafo 1º do art. 125 do CPM e conforme preconiza o artigo 515 do CPPM. Apelo provido. Maioria. (551-2011, Juiz Fernando Guerreiro de Lemos, Apelação). 8. OITAVA PRECATÓRIA A testemunha que residir fora da jurisdição do juízo poderá ser inquirida pelo juiz-auditor ou por juiz da justiça comum do lugar da sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, intimadas as partes, que formularão quesitos, a fim de serem respondidos pela testemunha. A expedição da precatória não suspende a instrução criminal (art. 359, § 1º, do CPPM), no entanto, deve-se observar o regramento do art. 417, § 2º. do CPPM que é claro no sentido que as testemunhas da defesa poderão ser indicadas até cinco dias após a inquirição da última testemunha de acusação. Assim, caso a precatória seja para a oitiva das testemunhas da acusação, deve-se aguardar a sua inquirição e, a partir desta, a defesa tem ainda um prazo de cinco dias para juntar as suas no procedimento ordinário. Vale ressaltar que a defesa pode juntar o seu rol até cinco dias após a inquirição da última da acusação. Caso a defesa optar espontaneamente pela juntada antes desse prazo, não será caso de nulidade, pois, pelo princípio do interesse, “Nenhuma das partes poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse”. Agora, caso seja cerceada a possibilidade de juntada do seu rol antes da oitiva da última testemunha de acusação, mesmo que por precatória, será causa de nulidade absoluta, tendo em vista que ato processual será declarado nulo, com evidente prejuízo para uma das partes, nesse caso a defesa. Art. 499 do CPPM (pas de nullité sans grief). No curso do inquérito policial militar, pode ser expedida precatória à autoridade militar superior do local onde a testemunha estiver servindo ou residindo, a fim de notificá-la e inquiri-la, ou designar oficial que a inquira, tendo em atenção as normas de hierarquia, se a testemunha for militar. Tema tormentoso e não pacífico nos tribunais superiores é se o réu precisa estar presente na oitiva das testemunhas no juízo deprecado. Entendemos que se o réu estiver preso, sob os cuidados do Estado, este tem a obrigação de apresentar o réu no local da oitiva das testemunhas, principalmente se for da acusação. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 116 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR A garantia constitucional do due processof Law, da ampla defesa que subdivide-se no direito de audiência e o direito de presença do réu, esteja ele preso ou não, devem ser assegurados sob pena de nulidade. O acusado tem o direito de comparecer aos atos processuais a serem realizados perante o juízo processante, ainda que situado este em local diverso daquele em que esteja custodiado o réu. Dessa forma, caso esteja custodiado, o Estado deve apresentar. O acusado tem o direito de estar frente ao “juiz” no momento da oitiva das testemunhas de acusação e logicamente, se estiver preso, somente poderá, se o Estado providenciar a apresentação. Tolher esse direito de presença-audiência, viola a ampla defesa e consequentemente é causa de nulidade absoluta. Deve-se é assegurar o direito de presença e de audiência que são renunciáveis pelo próprio réu, dessa forma, caso esteja solto, não há nulidade pelo seu não comparecimento. Estará eivado de formalidade legal, caso não tenha ciência da expedição da precatória e ao interessado verificar a data do ato. Aliás, o assunto é sumulado: Súmula 155 do STF - “É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha” e Súmula 273 do STJ: “intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna -se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado”. E M E N T A: "HABEAS CORPUS" - INSTRUÇÃO PROCESSUAL - RÉU PRE-SO - PRETENDIDO COMPARECIMENTO À AUDIÊNCIA PENAL EM QUE INQUIRIDAS TESTEMUNHAS DA ACUSAÇÃO - RÉU REQUISITADO, MAS NÃO APRESENTADO AO JUÍZO DEPRECADO - INDEFERIMENTO DO PE-DIDO DE ADIAMENTO DA AUDIÊNCIA - CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO - A GARANTIA CONSTITUCIONAL DA PLENITUDE DE DEFESA: UMA DAS PROJEÇÕES CONCRETIZADORAS DA CLÁUSULA DO "DUE PROCESS OF LAW" - CARÁTER GLOBAL E ABRANGENTE DA FUN-ÇÃO DEFENSIVA: DEFESA TÉCNICA E AUTODEFESA (DIREITO DE AUDIÊN-CIA E DIREITO DE PRESENÇA) - PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS/ONU (ARTIGO 14, N. 3, "D") E CONVENÇÃO AMERI-CANA DE DIREITOS HUMANOS/OEA (ARTIGO 8º, § 2º, "D" E "F") - DE-VER DO ESTADO DE ASSEGURAR, AO RÉU PRESO, O EXERCÍCIO DESSA PRERROGATIVA ESSENCIAL, ESPECIALMENTE A DE COMPARECER À AU-DIÊNCIA DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS, AINDA MAIS QUANDO ARROLADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - RAZÕES DE CONVENIÊNCIA ADMINISTRATIVA OU GOVERNAMENTAL NÃO PODEM LEGITIMAR O DESRESPEITO NEM COMPROMETER A EFICÁCIA E A OBSERVÂNCIA DES-SA FRANQUIA CONSTITUCIONAL - NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA - PEDIDO DEFERIDO. - O acusado, embora preso, tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos processuais, notadamente aqueles que se produzem na fase de instrução do processo penal, que se realiza, sempre, sob a égide do contraditório. São irrelevantes, para esse efeito, as alegações do Poder Público concernentes à dificuldade ou inconveniência de proceder à remoção de acusados presos a outros pontos da própria comarca, do Estado ou do País, eis que razões de mera conveniência administrativa não têm - nem podem ter - precedência sobre as inafastáveis exigências de cumprimento e respeito ao que determina a Constituição. Doutrina. Jurisprudência (HC 86.634/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). - O direito de audiência, de um lado, e o direito de presença do réu, de outro, esteja ele preso ou não, traduzem prerrogativas jurídicas essenciais que derivam da garantia constitucional do "due process of law" e que asseguram, por isso mesmo, ao acusado, o direito de comparecer aos atos processuais a serem realizados perante o juízo processante, ainda que situado este em local diverso daquele em que esteja custodiado o réu. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos/ONU (Artigo 14, n. 3, "d") e Convenção Americana de Direitos Humanos/OEA (Artigo 8º, § 2º, "d" e "f"). Precedente: HC DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 117 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 86.634/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO. - Essa prerrogativa processual reveste-se de caráter fundamental, pois compõe o próprio estatuto constitucional do direito de defesa, enquanto complexo de princípios e de normas que amparam qualquer acusado em sede de persecução criminal, mesmo que se trate de réu processado por suposta prática de crimes hediondos ou de delitos a estes equiparados. Precedentes. (STF — HC 93.503). Em sentido diverso: EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. INQUIRIÇÃO DE TESTEMUNHAS NO JUÍZO DEPRECADO. REQUISIÇÃO DE RÉU PRESO. DESNECESSIDADE. A ausência de requisição de réu preso para acompanhar a oitiva de testemunha no juízo deprecado não consubstancia constrangimento ilegal. Havendo ciência da expedição da carta precatória, como no caso se deu, cabe ao paciente ou a seu defensor acompanhar o andamento do feito no juízo deprecado. Ordem denegada. (STF — HC 93.598). PRECATÓRIA • Não suspende a instrução • Réu preso – Estado tem que apresentar • Réu solto – basta intimação da expedição da precatória Deve-se observar que, caso o réu (solto) seja militar e esteja lotado em uma unidade e responda processo em outra unidade, a administração da sua unidade deve liberar o acusado e, além disso, custear o seu deslocamento. O Supremo enfrentou um caso nesse sentido e entendeu que foi desrespeitado dispositivo da legislação militar (Decreto 4.307/2002, artigo 28, inciso I) que garante o custeio do transporte do militar da ativa que tiver de efetuar deslocamento fora de sua organização militar, entre outros casos, no interesse da Justiça. No caso específico, seu deslocamento para acompanhar o interrogatório de testemunhas arroladas pela acusação (Ministério Público Militar) e pela defesa foi negado em duas ocasiões pela administração militar, sob o argumento de “falta de verbas. Entendeu o Ministro Celso de Mello, que razões de conveniência administrativa ou de eventual incapacidade financeira do Poder Público não podem desobrigar o Estado de cumprir um dever que lhe é imposto em ato normativo emanado de autoridade competente e que atende às próprias peculiaridades da organização militar, em que sendo réu ou não, o militar não pode ausentar de seu quartel sem autorização de seu comandante. E M E N T A: “HABEAS CORPUS” - RÉU MILITAR - INSTRUÇÃO PROCES-SUAL - PRETENDIDO COMPARECIMENTO À AUDIÊNCIA PENAL EM QUE INQUIRIDAS TESTEMUNHAS DA ACUSAÇÃO E DA DEFESA - AUSÊNCIA DE OFERECIMENTO DE TRANSPORTE PARA O LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ATO PROCESSUAL - CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO - A GARANTIA CONSTITUCIONAL DA PLENITUDE DE DEFESA: UMA DAS PROJEÇÕES CONCRETIZADORAS DA CLÁUSULA DO “DUE PROCESS OF LAW” - CARÁTER GLOBAL E ABRANGENTE DA FUNÇÃO DEFENSIVA: DE-FESA TÉCNICA E AUTODEFESA (DIREITO DE AUDIÊNCIA E DIREITO DE PRESENÇA) - PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTI-COS/ONU (ARTIGO 14, N. 3, “D”) DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 118 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR E CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREI-TOS HUMANOS/OEA (ARTIGO 8º, § 2º, “D” E “F”) - DEVER DO ESTADO DE ASSEGURAR, AO RÉU MILITAR, O EXERCÍCIO DESSA PRERROGATIVA ESSENCIAL, ESPECIALMENTE A DE PROPICIAR TRANSPORTE (DECRETO Nº 4.307/2002, ART. 28, INCISO I) PARA COMPARECER À AUDIÊNCIA DE INQUIRIÇÃO DAS TESTEMUNHAS, AINDA MAIS QUANDO ARROLA-DAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - RAZÕES DE CONVENIÊNCIA ADMINIS-TRATIVA OU GOVERNAMENTAL NÃO PODEM LEGITIMAR O DESRESPEI-TO NEM COMPROMETER A EFICÁCIA E A OBSERVÂNCIA DESSA FRAN-QUIA CONSTITUCIONAL - NULIDADE PROCESSUAL ABSOLUTA - PEDIDO DEFERIDO. - O acusado tem o direito de comparecer, de assistir e de presenciar, sob pena de nulidade absoluta, os atos processuais, notadamente aqueles que se produzem na fase de instrução do processo penal, que se realiza, sempre, sob a égide do contraditório. São irrelevantes, para esse efeito, as alegações do Poder Público concernentes à dificuldade ou inconveniência de proceder ao custeio de deslocamentodo réu, no interesse da Justiça, para fora da sede de sua Organização Militar, eis que razões de mera conveniência administrativa não têm - nem podem ter - precedência sobre as inafastáveis exigências de cumprimento e de respeito ao que determina a Constituição. Doutrina. Jurisprudência. - O direito de audiência, de um lado, e o direito de presença do réu, de outro, esteja ele preso ou não, traduzem prerrogativas jurídicas essenciais que derivam da garantia constitucional do “due process of law” e que asseguram, por isso mesmo, ao acusado, o direito de comparecer aos atos processuais a serem realizados perante o juízo processante, ainda que situado este em local diverso daquele da sede da Organização Militar a que o réu esteja vinculado. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos/ONU (Artigo 14, n. 3, “d”). Convenção Americana de Direitos Humanos/OEA (Artigo 8º, § 2º, “d” e “f”) e Decreto nº 4.307/2002 (art. 28, inciso I). - Essa prerrogativa processual reveste-se de caráter fundamental, pois compõe o próprio estatuto constitucional do direito de defesa, enquanto complexo de princípios e de normas que amparam qualquer acusado em sede de persecução criminal, seja perante a Justiça Comum, seja perante a Justiça Militar. Precedentes. (HC 98676 / PA - Relator: Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 07/02/2012). A testemunha deve falar sobre o fato objeto do processo, assim, o juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa do fato. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento, se qualquer testemunha tiver de ausentar-se ou, por enfermidade ou idade avançada, inspirar receio de que, ao tempo da instrução criminal, esteja impossibilitado de depor. Ementa: Homicídio qualificado - Tentativa. Provada com saciedade a materialidade e a autoria, não há que se falar em absolvição. A prova testemunhal não é medida pela quantidade e sim por sua qualidade. Sendo ela firme e em harmonia com as demais provas existentes nos autos, é suficiente para sustentar uma condenação. A jurisprudência e a doutrina nos indicam que os depoimentos são pesados e não contados. A audácia e a ousadia extrema de praticar o delito no interior de uma Unidade Militar, utilizando-se de armamento pesado, autorizam, nos termos do art.69, do CPM, a fixação de uma pena base acima do mínimo legal. Provimento parcial do Recurso. Decisão unânime. STM:Num: 1981.01.048088-9 UF: RJ - APELAÇÃO (FO) Cód. 40 Data da Publicação: 20/01/1999. DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 119 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR 9. TESTEMUNHO POR VIDEOCONFERÊNCIA O CPP comum prevê no art. 222, § 3º, a possibilidade da oitiva das testemunhas por videoconferência: “Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e julgamento”. Ainda, no art. 217 do CPP: “Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença do seu defensor”. O artigo art. 222, § 3º, foi incluído pela Lei nº 11.900, de 2009 e o art. 217 teve nova redação pela Lei nº 11.690, de 2008. Esses diplomas não alteraram o processo castrense. • Não consta no CPPM autorização para videoconferência No que tange à possibilidade da videoconferência, Jorge César de Assis entende ser possível a sua aplicação nos casos onde a presença do réu possa causar humilhação, temor ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, pois o CPPM não teve, desde a sua edição, nenhuma alteração, é necessário que se aplique, de forma analógica, as mudanças da legislação processual comum no que se compatibilizar com o procedimento da Justiça Militar. Afirma ainda que o direito processual penal brasileiro é um só, mesmo que se divida em procedimento comum e especial, diferenciando-se somente nas suas peculiaridades. Na Justiça Federal, a maioria das suas subseções trabalha com processos eletrônicos. A Justiça Estadual caminha no mesmo sentido e não poderia ser diferente na Justiça Militar. Não somos contra a informatização do processo ou a utilização de novas tecnologias. Somos contra a relativização de direitos do réu através de uma interpretação extensiva em seu prejuízo ou a utilização da analogia in malam partem: aquela onde adota-se lei prejudicial ao réu, valendo-se de um dispositivo de caso semelhante Explico: a uma, o processo castrense não é omisso em relação à formalidade exigida para a oitiva das testemunhas e o art. 3º do CPPM determina que os casos omissos serão supridos: a) pela legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar. A duas, o art. 22, I, da CF estabelece a competência privativamente à União de legislar sobre processual. Portanto, qualquer alteração no procedimento da oitiva das testemunhas no processo penal militar deve ser feita mediante lei ordinária federal. A três, fere o princípio da ampla defesa especificamente – direito de presença – o direito que o réu tem de acompanhar, ao lado de seu defensor, os atos da instrução processual. Mutatis mutandis, a STF já enfrentou situação semelhante em que fora utilizado o sistema de videoconferência baseada em lei estadual, portanto, sem lei federal específica. Entendeu-se que a lei estadual viola flagrantemente a disciplina do artigo 22, inciso I, da Constituição da República, destacou que a hipótese não se refere à procedimento, mas à processo, ressaltando que a matéria está explicitamente regulada no artigo 185 do Código de Processo Penal. Com isso, a matéria é de processo e sendo de processo a União detém o monopólio, a exclusividade para estabelecer a disciplina legal na matéria. EMENTA Habeas corpus. Processual penal e constitucional. Interrogatório do réu. Videoconferência. Lei nº 11.819/05 do Estado de São Paulo. Inconstitucionalidade DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 120 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR formal. Competência exclusiva da União para legislar sobre matéria processual. Art. 22, I, da Constituição Federal. 1. A Lei nº 11.819/05 do Estado de São Paulo viola, flagrantemente, a disciplina do art. 22, inciso I, da Constituição da República, que prevê a competência exclusiva da União para legislar sobre matéria processual. 2. Habeas corpus concedido. 10. APLICAÇÃO DO PROGRAMA DE PROTEÇÃO A VÍTIMAS E TESTEMUNHAS A Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999, estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal. As medidas de proteção requeridas por vítimas ou por testemunhas de crimes que estejam coagidas ou expostas a grave ameaça em razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal serão prestadas pela União, pelos Estados e pelo Distrito Federal, no âmbito das respectivas competências, na forma de programas especiais organizados com base nas disposições desta Lei. Entendemos que é possível a aplicação desse programa aos acusados, vítimas ou testemunhas no processo penal militar, tendo em vista que a lei não traz um regramento taxativo de qual justiça que poderia ou não ser aplicada. Assim, pode ser implementado em processos envolvendo crimes federais, estaduais, eleitorais e militares.11. DA ACAREAÇÃO (arts. 365 a 367 do CPPM) A acareação é admitida, assim na instrução criminal como no inquérito, sempre que houver divergência em declarações sobre fatos ou circunstâncias relevantes: a) entre acusados; b) entre testemunhas; c) entre acusado e testemunha; d) entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida; e) entre as pessoas ofendidas. EMENTA. Habeas Corpus. Indeferimento de diligência. Cerceamento de defesa. Inexistência. A acareação é medida facultativa, sujeitando-se ao prudente arbítrio do juiz da causa, que, a seu critério, decide a necessidade ou não da realização dessa prova complementar para o seu convencimento. O seu indeferimento não caracteriza cerceamento de defesa. Writ conhecido (art. 67, parágrafo único, I, primeira parte, do RISTM), e denegada a ordem, por unanimidade. STM: Num: 2001.01.033668-0 UF: SP - HABEAS CORPUS. Data da Publicação: 25/01/2002. 12. Do Reconhecimento de Pessoas e Coisas (arts. 368 a 370 CPPM) Quando houver necessidade de se fazer o reconhecimento de pessoa e coisa, proceder-se-á da seguinte forma: DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 121 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR a) a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; b) a pessoa cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se a apontá-la quem houver de fazer o reconhecimento; c) se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não seja vista por aquela. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de pessoa ou coisa, cada uma o fará em separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas. Se forem várias as pessoas ou coisas que tiverem de ser reconhecidas, cada uma o será por sua vez. Ementa: Lesão leve. Crime praticado por civil. Negativa de autoria. Reconhecimento isolado. Validade. acareação. 1. Restando comprovadas a autoria, a materialidade e a culpabilidade do acusado, não há que se falar em absolvição. 2. Negativa de autoria. O reconhecimento dos réus, em juízo, por testemunhas idôneas, desmoraliza a negativa dos réus, que, a prevalecer, tornariam inexplicáveis os reconhecimentos feitos' (STF - R.CRIM. NUMERO 1.312 - RTJ 88/371). 3. Reconhecimento isolado. Validade. 'Não anula o ato a circunstância de a pessoa que se pretende reconhecer não ser colocada junto a outras. Esse detalhe, como dispõe a lei, deve ser observado 'quando possível'. Trata-se de uma recomendação, não de uma exigência'. (Damásio de Jesus, 'in', código de processo penal anotado, ed. saraiva, quarta edição, 1984, São Paulo, pág. 145). 4. Acareação. Verificando o conselho que existem divergências entre os depoimentos do agressor e da vítima. STM: NUM: 1992.01.046799-8 UF: RJ- Apelação(fo). Data da publicação: 22/03/1993. 13. DOS DOCUMENTOS (arts. 371 a 381 do CPPM) Documento é o escrito que condensa graficamente o pensamento de alguém, podendo provar um fato ou realização de algum ato de relevância jurídica. É a coisa ou papel sobre o qual o homem insere, mediante qualquer expressão gráfica, um pensamento. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. O documento público tem a presunção de veracidade, quer quanto à sua formação quer quanto aos fatos que o serventuário, com fé pública, declare que ocorreram na sua presença. Deve-se atentar para o disposto no art. 373 do CPPM, que menciona que fazem a mesma prova que os respectivos originais: a) as certidões textuais de qualquer peça do processo, do protocolo das audiências ou de outro qualquer livro a cargo do escrivão, sendo extraídas por ele, ou sob sua vigilância e por ele subscritas; b) os traslados e as certidões extraídas por oficial público, de escritos lançados em suas notas; c) as fotocópias de documentos, desde que autenticadas por oficial público. Assim, no Processo Penal Militar, a simples fotocópia, sem autenticação, desacompanhada de fé-pública, não tem valor probante de documento. Ementa: falsificação de documento e falsidade ideológica. Impossibilidade material de perícia grafotécnica, pela imprestabilidade de documentos acostados aos autos por cópias xerox. Em face da inidoneidade dos papéis carreados aos autos para DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 122 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR comprovação da materialidade das imputações contidas na denúncia, a prova se enfraquece e não permite uma decisão condenatória. Absolvição operada na instância 'a quo' que se confirma. Negado provimento ao apelo do MPM. Decisão unânime. STM: NUM: 1994.01.047364-5 UF: PR – APELAÇÃO (FO). Data da publicação: 01/06/1995. Poderão os documentos ser juntados em qualquer fase do processo, até o momento dos autos conclusos para julgamento, respeitando sempre o contraditório. 14. DOS INDÍCIOS (arts. 382 e 383 do CPPM) Indício é a circunstância ou fato conhecido e provado, de que se induz a existência de outra circunstância ou fato, de que não se tem prova. Para que o indício constitua prova, é necessário: a) que a circunstância ou fato indicante tenha relação de causalidade, próxima ou remota, com a circunstância ou o fato indicado; b) que a circunstância ou fato coincida com a prova resultante de outro ou outros indícios, ou com as provas diretas colhidas no processo. EMENTA: Violação de domicílio. Apelação interposta pela defesa visando exclusivamente à reforma da sentença absolutória para alteração de seu fundamento. Dubiedade da prova produzida. Não há prova segura da existência do fato delituoso. Meros indícios contraditórios não podem servir de convicção ao julgador, quer para reconhecer a inexistência do fato, como também para acolher a autoria do mesmo. Manutenção da sentença absolutória apelada com fulcro na falta de provas (letra "e", do art. 439, do CPPM). Decisão unânime. STM: Num: 2001.01.048872-3 UF: AM Decisão:- APELAÇÃO (FO). Data da Publicação: 05/07/2002. Ementa: FURTO. PROVA INDICIÁRIA. Para o Ministério Público, como "manus longa" do Estado, provocar a "persecutio criminis" basta unicamente a prova do fato criminoso, em tese, e a existência de indícios suficientes de autoria. Todavia, para o exercício efetivo do "jus puniendi", é indispensável a comprovação do fato criminoso ventilado e a certeza de que o acusado foi o autor da ação delituosa ou que a ele seja debitada a conduta omissiva. No caso vertente, não restou comprovada, extreme de dúvida, a autoria do furto. Recurso improvido. Decisão unânime. STM: Num: 2005.01.050109-6 UF: RS - APELAÇÃO (FO).Data da Publicação: 22/11/2006. 15. PROVA EMPRESTADA É aquela colhida em um processo e trasladada para outro, podendo ser um testemunho, uma confissão, uma perícia, ou um documento. Pode-se utilizar a prova emprestada, desde que, porém, facultado o contraditório e a ampla defesa. Do contrário, ela torna-se ilícita, porquanto obtida em violação aos princípios constitucionais. Ementa: DESACATO A SUPERIOR. PROVAS EMPRESTADAS. AGENTE INIMPUTÁVEL. COISA JULGADA. ABSOLVIÇÃO. Tratando-se de réu condenado com fundamento em provas emprestadas de outro processo a que o mesmo respondeu, provas essas representadas por laudos periciais inexatos em relação à higidez mental do acusado, ora considerando- o como inimputável, ora como semi-imputável e já tendo esta Corte, em decisão transitada em julgado, reconhecido em favor do recorrente a solução que lhe era mais DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS 123 DIREITO PROCESSUAL PENAL MILITAR favorável, tendo-o por inimputável, impõe-se mais uma vez, nesta assentada, a absolvição do apelante do