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GINEAD
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Unidade 3 - Filosofi a Medieval 
 Unidade 3
 Filosofi a Medieval 
Todos os direitos reservados. 
Prezado(a) aluno(a}, este material de estudo é para seu uso pessoal, sendo 
vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, venda, 
compartilhamento e distribuição. 
3
GINEAD
Habilidades
• Examinar as características e a fundamentação da filosofia Medieval. 
Descritores de desempenho
• Identificar a presença da tradição filosófica grega nos pensadores 
medievais.
• Entender a conexão entre filosofia e religião na metafísica medie-
val em Agostinho e em Tomás de Aquino.
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GINEAD
Apresentação da unidade
Vamos tratar aqui da filosofia medieval na qual temos Deus como o principal assunto. 
Porém, é preciso delimitar primeiro o que se considera como filosofia medieval. Para 
isso, vamos tratar sobre a filosofia de Aristóteles. Vale destacar que ela não marca 
o final da filosofia grega, pois muitas concepções filosóficas surgiram concomitante 
e após ela, relacionando-se seja por continuidade, seja por refutação com a tradição 
do Liceu e da Academia. Algumas destas escolas foram o epicurismo, o estoicismo 
e o ceticismo, como também, na Antiguidade Tardia, o neoplatonismo, que introduz, 
com Plotino, a filosofia platônica no período medieval. O neoplatonismo foi uma das 
principais influências de um dos maiores pensadores medievais, Agostinho. Da mesma 
forma que, por outro lado, Aristóteles foi a maior influência de outro filósofo medieval 
fundamental, Tomás de Aquino. Em ambos, Agostinho e Aquino, a tradição grega é 
retomada com a finalidade de encontrar uma conciliação no embate entre fé e razão. 
3.1 Deus é um assunto filosófico?
Para começar, vamos tratar das visões de mundo centradas nas explicações das 
cosmogonias e teogonias. Como você já deve saber, as teogonias tematizavam a 
criação e geração dos deuses, sim, deuses, no plural, uma vez que os gregos eram 
politeístas. Já com a tradição do tronco judaico-cristão, em lugar do politeísmo há um 
monoteísmo, uma crença em um Deus único. No percurso histórico, a religião cristã 
suplanta a orientação religiosa grega e reina o cristianismo, que instaura a crença 
em um Deus único com características como onipotência, onipresença, infinitude, 
bondade e perfeição (BONJOUR; BAKER, 2010). 
Entretanto, ao lado da religião esteve a filosofia que também trilhou um caminho 
das explicações múltiplas para os sistemas que admitiam um princípio único, nas 
cosmologias monistas como as de Tales e Anaximandro. Aristóteles já se falava de 
Deus, entendido, na física, como o princípio motor de uma série de causas. Platão 
também falava de um demiurgo, o artífice ou criador. Dessa forma, a presença de um 
princípio assemelhado a Deus existia já na filosofia antiga, mas numa acepção muito 
diferente da atual. 
É comum pensarmos a filosofia como um território do ateísmo, da negação da existência 
de Deus e com isso nos perguntamos como Deus pode ser objeto da filosofia. Vale, em 
primeiro lugar, observar de que modo Deus pode ser tratado na filosofia: enquanto na 
religião a abordagem se dá pelo dogma, pela fé que, por excelência, não se pode provar, 
pois é fruto de revelação e inspiração divina. Já o tratamento científico-filosófico é 
demonstrativo, progride por refutações, admite argumentação e dúvidas e se baseia 
na análise. 
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GINEAD
Na filosofia medieval, há uma tentativa de abordar o tema Deus de acordo com os 
princípios filosóficos de investigação de modo a lidar com os dogmas, que afastariam a 
fé da razão. Ao tratar de Deus, um dos pontos centrais foi o questionamento sobre sua 
existência, a favor da qual foram utilizados raciocínios como o argumento cosmológico, 
o argumento de desígnio e o ontológico (BONJOUR; BAKER, 2010). Vamos entender 
cada um deles. O argumento cosmológico, também chamado de argumento da causa 
primeira ou da primeira causa (SWEETMAN, 2013), parte da existência sensível para, 
questionando a existência do mundo ou de um objeto qualquer, refazer a série de causas 
que culmina na existência de Deus como o incondicionado. O argumento de desígnio, 
conhecido como argumento teleológico (SWEETMAN, 2013), parte da existência 
sensível, com a diferença de que, neste caso, há identificação de algum desígnio, isto 
é, de alguma ordenação para assim refazer a série de causas que também irá chegar à 
existência de Deus como a causa da ordenação do mundo. Já o argumento ontológico 
não parte da existência sensível, mas defende que o simples fato de podermos pensar 
em tal conceito de Deus já pesa a favor de sua existência. Alguns exemplos dessas 
argumentações serão vistos em Tomás de Aquino.
Antes de adentrarmos nos principais pensadores da filosofia medieval, cabe dizer 
que outros sistemas surgiram entre Aristóteles e Agostinho. Na passagem do período 
clássico da filosofia para a Idade Média, em que surge a filosofia medieval, as ideias 
de Platão e Aristóteles reverberaram por muito tempo e na esteira delas surgiram os 
esquemas das escolas helenísticas. Uma diferença essencial reside no fato de que as 
escolas helenísticas são uma expressão mais coletiva e não se centram tanto em uma 
figura principal, como ocorreu a Platão e Aristóteles. Outra característica comum a elas 
é a preocupação ética: todas tematizam a busca pela felicidade e pelo bem viver. Dentre 
as principais escolas helenísticas, destacamos o estoicismo, o epicurismo e o ceticismo.
O estoicismo, embora não se resuma a uma só figura, pode ser remetido ao seu 
fundador, Zenão de Cítio (344-262 a.C.). Com os estoicos, a filosofia, tal como se 
conhecia, é dividida de modo tríplice em física, lógica e ética, que se relacionariam 
como numa árvore: a física é a raiz, a lógica (agora em sentido diferente da lógica 
formal aristotélica) é o tronco, e a ética são os frutos. Dessa forma, a ética tem de se 
relacionar com a física, com a filosofia natural, para ter êxito. As ações éticas, quando 
em conformidade com os princípios naturais, conduzem à ataraxia, à tranquilidade e 
ausência de perturbação. Alguns dos representantes posteriores do estoicismo foram 
Sêneca e Marco Aurélio.
O epicurismo teve como fundador Epicuro (341-271 a. C.) e retomou teorias atomistas 
como a de Demócrito de Abdera. Tratava-se de uma física materialista e atomista na 
qual há grande valorização do conhecimento sensível. O epicurismo também preza 
pela ataraxia na busca pela felicidade, mas considera que nesta busca é preciso levar 
em conta as paixões sem criar oposição à razão. Embora a doutrina epicurista seja 
vista normalmente como uma busca desenfreada e desmedida pelo prazer, o que 
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caracterizaria o hedonismo, ela busca antes um comedimento, uma moderação nos 
prazeres. É uma naturalização das paixões.
Por fim, temos o ceticismo que apresenta várias faces e fases, mas vamos nos 
concentrar aqui especialmente na tradição cética iniciada com Pirro e retomada por 
Sexto Empírico. Os céticos podem ser pensados pela diferenciação em relação a outras 
doutrinas. Enquanto alguns sistemas, denominados dogmáticos, afirmavam saber os 
caminhos para encontrar a verdade, outros afirmavam a impossibilidade de se chegar 
à verdade, numa espécie de dogmatismo ao contrário. O ceticismo representava a 
suspensão do juízo (époche) sobre a possibilidade ou impossibilidade de se chegar à 
verdade e em lugar de uma afirmação definitiva, havia a manutenção da investigação. 
Também aqui estaria presente a preocupação com a felicidade: a suspensão dos juízos 
conduziria à ataraxia, na qual seria possível encontrar a felicidade. No sentido prático, 
quanto à capacidade de decisões, ao não ter critério face à suspensão dos juízos, se 
deveria agir orientado pelo razoável. 
As escolas helenísticas perduraram até o fim da república romana e representavam, 
portanto, a passagem da filosofia clássica à filosofia da Idade Média. Lembrando que 
a Idade Média compreende o período milenar que se estende da queda do Império 
Romanodo Ocidente, em 476 d.C., até a queda de Constantinopla, capital do Império 
Romano do Oriente, em 1453.
Figura 3.1: Mapa histórico do Império Romano
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
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GINEAD
3.2 Agostinho 
Agostinho (354-480) nasceu em território africano, na cidade de Tagaste. Em sua 
formação, teve influência de Cícero, jurista e filósofo que participou da Academia no 
período já posterior a Platão e que introduziu no latim muitas obras gregas. Agostinho 
foi professor de retórica e desconhecia a língua grega, o que, a principio, limitou seu 
desenvolvimento filosófico. Relativamente tarde, já aos 33 anos, teve contato pessoal 
com a religião e entrou para a vida monástica. Sua trajetória passa pelo maniqueísmo 
até chegar ao neoplatonismo, em voga com Plotino, que naquela época fora apropriado 
pela igreja cristã. 
Em Plotino, permanecem algumas contribuições essenciais da filosofia de Platão, 
como a concepção de um mundo das formas ou das ideias. Plotino, em sua filosofia, 
divide o real em um princípio Uno, imóvel, transcendente e eterno, que dá origem a 
diversas emanações; em Nous, intelecto, correspondente ao mundo das ideias; e em 
Alma, na qual estão contidos o movimento e a diversidade. Assim, se relaciona com a 
temática já existente desde Parmênides e Heráclito sobre o ser e o movimento. 
Agostinho passa pelos maniqueístas e pela filosofia de Plotino sem, porém, encontrar 
as respostas que busca, o que só viria a ocorrer na leitura da Bíblia. Para Agostinho, a 
beatitude representava a questão central, isto é, o bem viver. Não se tratava apenas da 
epistemologia ou da ontologia, mas da ética, de como atingir a felicidade. A beatitude foi 
encontrada por Agostinho nas "Escrituras", o que motivou sua tentativa de conciliação 
entre fé e razão.
Já naquela época, a filosofia patrística, criada pelos primeiros padres, tentava conciliar 
filosofia e religião, mais especificamente conciliar os dogmas do Novo Testamento, 
que apresentavam uma doutrina simplificada, e a filosofia grega. Com Agostinho essa 
investigação toma ares mais sistemáticos. Ora, mas como é possível conciliar fé e 
razão? Não seriam modos de conhecimento distintos?
Atenção
Patrística compreende o período do pensamento 
cristão que inicia no século II e se estende até o sé-
culo VIII. Leva este nome por representar o pensa-
mento dos padres da igreja, os mestres da doutrina 
cristã, cujo esforço estava voltado para a conversão 
dos pagãos, o combate às heresias e a justificação 
da fé cristã. 
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Em Agostinho, na relação entre fé e razão, a razão precede e resulta da fé. No que toca 
à teoria do conhecimento, Agostinho se relacionava com a filosofia cética tentando 
refutá-la por meio da reabilitação dos sentidos. Para tanto, baseava-se na concepção 
do homem como ser pensante, no qual corpo e pensamento se diferenciam. Esse 
conceito viria de Platão, de uma transcendência hierárquica entre corpo e alma exposta 
no diálogo “Alcibíades” e retomada por Plotino. 
Para reabilitar os sentidos, Agostinho empreende uma investigação sobre a sensação, 
na qual a concebe não como uma paixão que o corpo sofre, mas como uma fabricação 
de imagem, por parte da alma, resultante do fato de que os corpos são afetados. Mas 
as sensações são passageiras e não fornecem conhecimento verdadeiro, que só 
estaria nos princípios imutáveis, como na matemática e nos princípios éticos, que 
seriam incorpóreos e necessários. 
Assim, haveria dois tipos de conhecimento: o dos sentidos, que seria mutável, e o 
inteligível, que seria o verdadeiro. Sua fonte seria um Deus transcendente e, de fato, 
não poderia ser o homem, pois este é mutável. Deus é imutável e transmitiria aos 
homens a verdade por meio da iluminação divina. 
Somente a iluminação divina não concede aos homens o conhecimento, uma vez 
que antes é preciso haver um trabalho intelectual. Ora, mas se a iluminação divina 
possibilita aos homens o conhecimento, eles conseguiriam conhecer a própria fonte 
desta iluminação – Deus?
A resposta é: não. Deus é uma essência imutável e inefável aos homens. Deus é o 
ser que conteria em sua unidade a multiplicidade. Basta pensarmos a Santíssima 
Trindade que compreende o Pai, o Filho e o Espírito Santo como consubstanciais. 
O Pai é a essência divina; o filho, o verbo; o Espírito Santo, o amor; expressões que 
correspondem a três faculdades do homem: a memória, a inteligência e a vontade. 
Deus seria o Pai criador de tudo, da matéria e das formas e até daquilo que não era 
visto como criatura: o tempo.
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Figura 3.2: Na santíssima trindade, o Espírito Santo é representado sob a figura de uma pomba, 
pois assim se teria apresentado aos homens, conforme consta nos relatos bíblicos
Fonte: Plataforma Deduca (2018).
“Confissões” é a obra mais conhecida de Agostinho e apresenta sua filosofia em estilo 
biográfico. O Capítulo X, porém, destoa dos demais, pois contém sua reflexão sobre 
o tempo. Ali, Agostinho se questiona sobre o que seria o tempo e sobre como seria 
possível medi-lo, desenvolvendo uma argumentação em que trata da existência e da 
medida do tempo. O ponto de partida é a refutação do questionamento habitual sobre 
o que Deus faria antes da criação. Deus, eterno, teria criado o céu e a terra e nessa 
criação se abriria a possibilidade do como e do por quê.
A resposta de Agostinho consiste em diferenciar dois planos: o da eternidade e o do 
tempo. De acordo com isso, não é possível falar em tempo na eternidade, já que a 
eternidade é justamente a ausência de tempo enquanto limitação de um início e de 
um fim em que se transcorre algo que pode ser medido. A eternidade seria como um 
eterno presente que não foi precedido de passado nem será sucedido pelo futuro, pois 
nada havia antes nem haverá depois. O próprio tempo, afirma Agostinho, é de origem 
divina, surgiu com a criação do mundo e começou a transcorrer e a se diferenciar entre 
passado, presente e futuro, de modo que não há sentido em perguntar o que Deus 
fazia antes da criação. 
Sobre esta divisão tríplice do tempo em passado, presente e futuro, coloca-se a dificuldade 
de falar de sua existência e medida, pois algo que não é mais – como o passado – não 
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tem existência, e o mesmo ocorre com aquilo que ainda não existe – o futuro. Agostinho 
defende então que o tempo se resume a uma distensão do presente. Rememoramos 
o passado neste presente e, assim, ele tem existência. Temos expectativa pelo futuro 
e, assim, ele tem existência também. Não é à toa que a memória, ao lado da vontade e 
da inteligência, tenha um papel tão importante na constituição da alma. Por fim, essa 
explicação do tempo, que oscila entre a ontologia e a psicologia, pode ser aplicada 
também à vida toda dos homens e à história da humanidade. 
Figura 3.3: Para Agostinho, a notação musical seria a representação espacial do tempo
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
Como criador, tudo o que existe – inclusive o tempo – vem de Deus. Mas se Deus, de 
acordo com a visão cristã, é essencialmente bom, como explicar a maldade? Este foi 
um problema com o qual Agostinho, no início de sua vida filosófica, se preocupou em 
parte pelo contato com a doutrina maniqueísta, em parte pela configuração do próprio 
cristianismo. Como nota Ghiraldelli Jr. (2010), a ideia de um pecado original, pelo qual 
se exprimiria o arbítrio humano enquanto vontade, não encontrava um correspondente 
na filosofia grega, e Agostinho teve de solucionar a questão da maldade sem o apoio 
desta tradição.
Se a maldade não poderia se originar do ser infinitamente bondoso de Deus, teria de vir, 
portanto, do não ser, caracterizando-se como contingente, e assim Agostinho explica a 
existência da maldade. As ações más viriam do livre-arbítrio, da vontade dos homens, 
que não são determinadas no exercício de suas ações e podem incorrer em pecado. 
Entretanto, ocorre que neste exercício do livre-arbítrio, alguns homens conseguiriam 
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GINEAD
recuperar-se mesmo depois de más ações – estes seriam os predestinados,que 
receberiam a graça divina, um privilégio resguardado apenas aos eleitos. 
Curiosidade
A doutrina da predestinação foi usada posteriormen-
te por Calvino na formulação de suas teses.
A doutrina da predestinação admitiria também um sentido mais amplo e se mostraria 
na história. Ao analisar os acontecimentos do mundo cristão em Roma, Agostinho 
formula a ideia de duas cidades, a cidade terrena, dos homens que não receberam a 
graça divina, mas só castigos, e a cidade de Deus, a ser composta pelos homens que 
receberam a graça divina e para os quais haveria a salvação. 
3.3 Tomás de Aquino
Se Agostinho expressava em sua filosofia forte influência de Platão, Tomás de Aquino 
(1225-1274) retoma a outra tradição, a aristotélica. Como veremos nas próximas 
unidades, Platão e Aristóteles são duas vertentes que guiarão o desenvolvimento 
da filosofia ocidental. Aquino, com seu sistema denominado tomismo, foi o grande 
representante da filosofia escolástica. 
Aqui vale lembrar que a escolástica designa um saber adquirido nas escolas sob a 
direção de um mestre. O pensamento escolástico alcançou seu auge entre os séculos 
XII e XIII, quando floresceram a filosofia, a literatura, as artes e a teologia.
Na época de Aquino, Aristóteles tinha sido traduzido para o latim, mas suas teses 
causaram polêmica no meio religioso, pois a física aristotélica negava a ideia de um 
Deus criador e o admitia como primeiro motor imóvel, mas não como atuante sobre a 
natureza e da imortalidade da alma. A saída foi tentar conciliar a filosofia natural de 
Aristóteles com os dogmas cristãos.
O ponto de partida do tomismo é a distinção aristotélica entre essência e existência. 
Porém, diferentemente de Aristóteles, em que esta distinção é apenas lógica e 
conceitual, para Tomás de Aquino a distinção entre essência e existência é ontológica, 
real. Assim, a essência de um ente não implica sua existência. Significa dizer que não 
existem coisas por si mesmas, e sim devido a Deus, isto é, por ele criadas. Ora, mas 
valeria essa distinção também ao próprio Deus? Saiba que a resposta é não, pois:
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em Deus não há distinção entre essência e existência. Não há em Deus qualquer potência 
ou vir-a-ser, pois Deus é pura existência sem qualquer vestígio de contingência ou finitu-
de. Outros seres finitos ganham existência por meio da realização de suas potencialida-
des; eles são o resultado da causação (GHIRALDELLI JR., 2010, p. 96). 
Dessa forma, esta distinção entre essência e existência, da qual Aquino se apropria em 
sentido ontológico, se aplica às criaturas e estará na base de suas provas da existência 
de Deus. Com influência da física aristotélica, tais provas partem, por vezes, do dado 
sensível para daí chegar à existência. Assim, o mundo e o conhecimento empírico 
adquirem seu lugar na investigação e são reconhecidos enquanto criação de Deus. 
Resumidamente, as cinco vias ou provas da existência de Deus são: 
1. o movimento que, entendido de acordo com a física aristotélica e reme-
tendo à querela entre Heráclito e Parmênides, implica a passagem de algo 
em potência ao ato, de algo que não era, mas estava contido em potência 
e que se atualiza no ato. Mas quando algo se move, é porque há algo que 
o faz se mover. Este algo é Deus; 
2. a causa eficiente que, entendida como aquilo que possibilita a existência de 
algo outro, no caso das coisas materiais, a causa eficiente primeira é Deus; 
3. as categorias do possível e do necessário, conforme as quais, se há coi-
sas que podem ou não ser, é porque há algo que é necessário e que possi-
bilita que outros o sejam, isto é, Deus; 
4. os graus aplicados a atributos, por exemplo, o mais ou o menos verdadei-
ro, nobre etc, que estão em comparação ao superlativo, aquilo que é sua 
forma máxima. Esta forma máxima é a causa de ser dos outros graus, e 
essa causa da existência só pode ser Deus; 
5. o governo das coisas, isto é, o fato de que há, mesmo nas coisas que não 
têm inteligência, ações ordenadas, não meramente ao acaso. Aquilo que 
ordena é Deus.
Vemos aqui as versões de Aquino para o argumento cosmológico, ou da causa primeira, 
e do argumento teleológico ou do desígnio. O primeiro seria, sobretudo, de grande 
contribuição para o debate entre fé e razão:
Isso nos leva ao que muitos consideram o insight mais poderoso do argumento cosmo-
lógico, envolvendo [...] um recurso a conceitos de ser necessário e contingente. A impor-
tância desses conceitos, às vezes, é ignorada ou minimizada em exposições contempo-
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GINEAD
râneas do argumento, mas a essência do argumento cosmológico está na conclusão de 
que é razoável dizer que existe um ser necessário (SWEETMAN, 2010, p. 33). 
Assim, as provas da existência de Deus aceitam, por um lado, certos dogmas 
do cristianismo, mas aplicam a eles a investigação filosófica valendo-se de uma 
argumentação que reabilita os sentidos e o mundo, mas que também consegue incluir 
o metafísico, com o uso da diferenciação entre essência e existência. 
Ademais, ao formular as vias da existência de Deus pela filosofia, Aquino consegue 
conciliar fé e razão ao apresentar com sua argumentação a razoabilidade da existência 
de um ser necessário como causa primeira. Nisso consegue superar também a ideia 
de conhecimento revelado, ainda que, no que se trata do conhecimento de Deus, o 
acesso humano seja limitado. 
Além da influência de Aristóteles, Aquino também se valeu do estudo da filosofia árabe. 
A filosofia árabe, cujos maiores representantes foram Avicena e Averrois, foi outro 
caminho de introdução da doutrina de Aristóteles, uma vez que os filósofos árabes 
dedicaram-se à leitura e ao comentário do filósofo grego. 
Figura 3.4: Avicena e Averrois pertenciam ao islamismo, cujo livro sagrado é o Alcorão
Fonte: Plataforma Deduca (2018). 
Além de Agostinho e Aquino, a filosofia medieval também contou com outros autores 
como Anselmo de Cantuária (ou Santo Anselmo), Pedro Abelardo e Guilherme de 
Ockham, que se dedicaram a outra investigação, resumida sob o nome de problema 
dos universais, na qual polarizavam o realismo, que acreditava que os universais eram 
reais, e o nominalismo, que via neles apenas a referência, isto é, os universais eram 
nomes, e o real estava no particular. Usando de um exemplo:
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O conceito não tem status que não o de ser apenas linguagem. Pode-se falar dos uni-
versais e usá-los pragmaticamente; assim, nada impede que se fale sobre “roedores que 
apreciam cenouras”, mas no mundo empírico não existem “roedores comedores de ce-
nouras” que são os “coelhos”, porque o mundo empírico não possui noções e conceitos, 
que são universais (GHIRALDELLI JR, 2003, p. 39-40). 
Não vamos nos aprofundar na querela dos universais, basta indicá-la para, desta forma, 
mostrar que não se pode resumir a filosofia medieval somente a Agostinho e Aquino, 
pois seria reduzir séculos de produção filosófica a dois autores e desconsiderar as 
outras manifestações filosóficas existentes.
Reflita
Por muito tempo o período medieval foi intensamen-
te vinculado a uma época de estagnação e de desco-
nhecimento na qual reinavam apenas os dogmas da 
Igreja. Considerando o que foi abordado aqui sobre o 
tema da filosofia, bem como o desenvolvimento de-
cisivo de técnicas como as arquitetônicas, de nave-
gação e da ciência natural, é possível ainda pensar a 
Idade Média como Idade das Trevas?
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Síntese
Nesta unidade, ampliamos nosso conhecimento sobre a filosofia, agora com foco na 
filosofia medieval. Assim, os principais pontos estudados foram:
• Anterior à filosofia medieval, desenvolveram-se outras concepções filosó-
ficas na esteira da tradição platônico-aristotélica como o ceticismo, o es-
toicismo e o epicurismo.
• A filosofia medieval trata de Deus enquanto objeto, sobretudo, no que toca 
à sua existência, valendo-se de uma investigação filosófica que se dife-
rencia do tratamento religioso por não ser revelada e sim fruto da razão 
humana, capaz de conduzir a fé. Com isso, fé e razão tornam-setópicos 
centrais da filosofia medieval.
• Agostinho, passando pelo maniqueísmo e pelo neoplatonismo, encontra 
nas "Escrituras", aliadas à filosofia platônica, a resposta para suas inda-
gações. De Platão, retém a separação entre corpo e alma, na qual a alma 
comanda o corpo. Ao corpo é atribuído o conhecimento por meio dos sen-
tidos, conhecimento que não é verdadeiro. O conhecimento verdadeiro re-
side em Deus pela iluminação divida concedida a homens escolhidos, que 
também devem fazer uso de sua razão junto à revelação. 
• A ideia de homens escolhidos, os predestinados, conduz também ao pro-
blema do mal, representado no cristianismo pelo pecado original. Agosti-
nho busca explicar a origem do mal sem contradizer a perfeição de Deus 
e chega à ideia da maldade pelo negativo, isto é, enquanto privação. Nos 
homens, ela exprimiria o arbítrio, a liberdade, que resulta no pecado. Mas 
aos homens escolhidos, está resguardada a redenção, pois foram aben-
çoados com a graça divina. Estes homens serão os que vão compor a 
cidade de Deus, enquanto os demais padecerão na terra. 
• Com Tomás de Aquino, a filosofia aristotélica fornece as bases como ao 
tomar na metafísica, a diferenciação entre essência e existência nas cria-
turas, e, na física, os conceitos de movimento e causas, que resultam na 
ideia de que os seres foram criados e de uma sequência de causas que re-
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mete a uma causa primeira, um motor imóvel, como o aristotélico. A partir 
disso, é possível a Aquino formular as provas da existência de Deus, que 
se baseiam tanto no expediente cosmológico e na experiência e remetem 
esta experiência à causa primeira, eficiente, ao princípio que é Deus; quan-
to no expediente teleológico, de um desígnio divino.
• A filosofia medieval ocupou-se também com outra ordem de questões, 
como o problema dos universais, em que antagonizaram os nominalistas 
e os realistas. 
Saiba mais
Para um tratamento detalhado sobre o tempo e a 
eternidade em Agostinho, leia o artigo “Eternidade 
em Agostinho, interioridade sem sujeito”, de Moa-
cyr Novaes, na Revista Analytica. Disponível em: 
<https://revistas.ufrj.br/index.php/analytica/article/
view/501/456>. 
https://revistas.ufrj.br/index.php/analytica/article/view/501/456
17
GINEAD
Referências
BONJOUR, L.; BAKER, A. Filosofia: Textos fundamentais comentados. Porto Alegre: 
Artmed, 2010.
GHIRALDELLI JR, P. Introdução à Filosofia, Barueri, SP: Manole, 2003. 
________. A aventura da filosofia – de Parmênides a Nietzsche. Barueri, SP: Manole, 
2010.
NOVAES, M. Eternidade em Agostinho, interioridade sem sujeito. Analytica – Revista 
de Filosofia. Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, 2005. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/
index.php/analytica/article/view/501/456>. Acesso em: 6 mar. 2018. 
SWEETMAN, B. Religião: conceitos-chave em filosofia. Tradução de Roberto Cataldo 
Costa. Porto Alegre: Penso, 2013.

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